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A Montanha  Da Água Lilás Fábula para todas as idades Pepetela
Ficha Técnica Autor(a):Pepetela Editora:Colecção Bis Local de edição: Barcelona, Espanha  Ano de edição:Janeiro de 2009 Ano de publicação:Janeiro de 2000
Pepetela Pepetela na década de 70 Pepetela na década de 80 Pepetela actualmente
Pepetela 1941	         1958           1963	 1975      1997    Actualidade Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos nasce em Benguela, Angola, em 29 de Outubro Parte para Lisboa, onde ingressa no Instituto Superior Técnico de Engenharia Torna-se militante do MPLA Indepen-dência de Angola. Nomeado Vice-Ministro da Educação Ganha o Prémio Camões pelo conjunto da sua obra Professor Sociologia Faculdade de Arqui-tectura de Luanda
A  História
O narrador conta-nos uma das muitas histórias que seu avô lhe contava à volta da fogueira que dizia que, em determinado local, existiu um povo chamado "lupis". Tinham na pele o traço da diferença dos outros povos por serem cor de abóbora e eram divididos entre lupis, pequenos e ágeis, e lupões, maiores em estatura mas sem a agilidade e disposição dos menores, apesar de extremamente eficazes nas operações matemáticas.
Com o passar do tempo deu-se, por razões desconhecidas, o surgimento de uma nova categoria de lupis, os jacalupis, que tinham este nome por serem bem maiores, lerdos e extremamente irritáveis. Lupis, lupões e jacalupis tentavam conviver pacificamente, apesar das dificuldades trazidas pelas suas diferenças. Certo dia, descobriu-se uma fonte de água diferente. Sua cor era lilás, seu perfume inebriante. Os lupis cientistas começaram a pesquisar seus efeitos e descobriram ser excelente cicatrizante e amaciador da pele e dos pelos. A notícia da água lilás espalhou-se pela floresta e todos quiseram ter acesso a esta nova maravilha que brotou repentinamente do solo.
O comércio da água lilás não custou a aparecer e cabaças e mais cabaças dela era vendida aos animais. Dadas as habilidades dos lupis, estes passaram a ser responsáveis directos por encher os recipientes de água e levarem-nos ao pé da montanha para o escambo com os demais animais. Lupões e jacalupis, por serem maiores e menos dispostos ao trabalho, ficaram responsáveis por receber o pagamento da água mágica e a inventar novas formas de trocas. Ao cabo de algum tempo os lupis não aguentavam mais o peso do trabalho, enquanto os demais membros de sua sociedade vestiam flores, se adornavam com ossos e se abanavam com folhas que lhes eram vendidos como o mais moderno e sofisticado da floresta.
Neste processo apenas os lupi poeta e o pensador reagiram contra o comercialismo e o distanciamento que o comércio da água lilás trouxe à montanha. Seu posicionamento fez com que fossem condenados ao exílio, não podendo mais banhar-se na piscina construída para armazenamento da água lilás, nem tampouco descer das árvores onde ainda moravam.  Um dia a fonte da água lilás subitamente secou. Todos cavaram, esburacaram a montanha mas nenhuma gota verteu da terra. Lupis, lupões e jacalupis, endividados pelos gastos feitos por conta da venda da água, viram-se escravizados por aqueles a quem haviam vendido a água antecipadamente. Uma tarde, o lupi poeta e o pensador, únicos moradores que restaram no alto da montanha, desceram ao chão e sentiram, debaixo de uma outra pedra, o cheiro agradável da água lilás.
E ao cheirar a água lilás os dois combinaram que nenhum deles iria “fazer sair” aquela água e assim de vez enquanto iam lá ao mesmo sitio sentir aquele cheiro. “O lupi-poeta fez então muitos poemas. Contavam a estória dos lupis e da água lilás. Também da desgraça que se abateu sobre eles e o seu destino.”  Foram talvez esses poemas que chegaram ao conhecimento dos avós dos nossos avós, quando eles compreendiam a linguagem dos lupis. E nos contaram à noite, na fogueira, para transmitirmos às gerações vindouras.
“Os jacalupis adormeciam ao sol e como tinham memória de jacaré, quando acordavam já tinham esquecido o mambo e tinham masé fome” “Os odores de todas as flores estavam reunidos naquele cheiro único que logo encheu de enorme alegria, ele que momentos antes quase explodia de irritação” Citações

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  • 1. A Montanha Da Água Lilás Fábula para todas as idades Pepetela
  • 2. Ficha Técnica Autor(a):Pepetela Editora:Colecção Bis Local de edição: Barcelona, Espanha Ano de edição:Janeiro de 2009 Ano de publicação:Janeiro de 2000
  • 3. Pepetela Pepetela na década de 70 Pepetela na década de 80 Pepetela actualmente
  • 4. Pepetela 1941 1958 1963 1975 1997 Actualidade Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos nasce em Benguela, Angola, em 29 de Outubro Parte para Lisboa, onde ingressa no Instituto Superior Técnico de Engenharia Torna-se militante do MPLA Indepen-dência de Angola. Nomeado Vice-Ministro da Educação Ganha o Prémio Camões pelo conjunto da sua obra Professor Sociologia Faculdade de Arqui-tectura de Luanda
  • 6. O narrador conta-nos uma das muitas histórias que seu avô lhe contava à volta da fogueira que dizia que, em determinado local, existiu um povo chamado "lupis". Tinham na pele o traço da diferença dos outros povos por serem cor de abóbora e eram divididos entre lupis, pequenos e ágeis, e lupões, maiores em estatura mas sem a agilidade e disposição dos menores, apesar de extremamente eficazes nas operações matemáticas.
  • 7. Com o passar do tempo deu-se, por razões desconhecidas, o surgimento de uma nova categoria de lupis, os jacalupis, que tinham este nome por serem bem maiores, lerdos e extremamente irritáveis. Lupis, lupões e jacalupis tentavam conviver pacificamente, apesar das dificuldades trazidas pelas suas diferenças. Certo dia, descobriu-se uma fonte de água diferente. Sua cor era lilás, seu perfume inebriante. Os lupis cientistas começaram a pesquisar seus efeitos e descobriram ser excelente cicatrizante e amaciador da pele e dos pelos. A notícia da água lilás espalhou-se pela floresta e todos quiseram ter acesso a esta nova maravilha que brotou repentinamente do solo.
  • 8. O comércio da água lilás não custou a aparecer e cabaças e mais cabaças dela era vendida aos animais. Dadas as habilidades dos lupis, estes passaram a ser responsáveis directos por encher os recipientes de água e levarem-nos ao pé da montanha para o escambo com os demais animais. Lupões e jacalupis, por serem maiores e menos dispostos ao trabalho, ficaram responsáveis por receber o pagamento da água mágica e a inventar novas formas de trocas. Ao cabo de algum tempo os lupis não aguentavam mais o peso do trabalho, enquanto os demais membros de sua sociedade vestiam flores, se adornavam com ossos e se abanavam com folhas que lhes eram vendidos como o mais moderno e sofisticado da floresta.
  • 9. Neste processo apenas os lupi poeta e o pensador reagiram contra o comercialismo e o distanciamento que o comércio da água lilás trouxe à montanha. Seu posicionamento fez com que fossem condenados ao exílio, não podendo mais banhar-se na piscina construída para armazenamento da água lilás, nem tampouco descer das árvores onde ainda moravam. Um dia a fonte da água lilás subitamente secou. Todos cavaram, esburacaram a montanha mas nenhuma gota verteu da terra. Lupis, lupões e jacalupis, endividados pelos gastos feitos por conta da venda da água, viram-se escravizados por aqueles a quem haviam vendido a água antecipadamente. Uma tarde, o lupi poeta e o pensador, únicos moradores que restaram no alto da montanha, desceram ao chão e sentiram, debaixo de uma outra pedra, o cheiro agradável da água lilás.
  • 10. E ao cheirar a água lilás os dois combinaram que nenhum deles iria “fazer sair” aquela água e assim de vez enquanto iam lá ao mesmo sitio sentir aquele cheiro. “O lupi-poeta fez então muitos poemas. Contavam a estória dos lupis e da água lilás. Também da desgraça que se abateu sobre eles e o seu destino.”  Foram talvez esses poemas que chegaram ao conhecimento dos avós dos nossos avós, quando eles compreendiam a linguagem dos lupis. E nos contaram à noite, na fogueira, para transmitirmos às gerações vindouras.
  • 11. “Os jacalupis adormeciam ao sol e como tinham memória de jacaré, quando acordavam já tinham esquecido o mambo e tinham masé fome” “Os odores de todas as flores estavam reunidos naquele cheiro único que logo encheu de enorme alegria, ele que momentos antes quase explodia de irritação” Citações