SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  6
Télécharger pour lire hors ligne
1


Universidade Nove de Julho – Uninove
Curso: História
Disciplina: História do Brasil III (2012-1)
Professor responsável: Geraldo José Alves
Fernanda Monique Lopes Pacheco – R.A. 911119269
TEMÁTICA: HISTÓRIA E LITERATURA NA PRIMEIRA REPÚBLICA

  As transformações do cenário urbano da cidade do Rio de Janeiro na Primeira República nas crônicas de
                                         João do Rio (1881-1921)
INTRODUÇÃO


A República herdou do Império um crescimento populacional impactante após a abolição da escravidão em
1888 e a chegada dos imigrantes acompanhada do êxodo rural para trabalhar nas zonas cafeeiras do estado
do Rio de Janeiro (CARVALHO, 2004:16). Tal crescimento demográfico implicou numa crise habitacional
levando a camada popular a viver em condições precárias de saneamento básico, tendo como
consequências problemas graves de saúde pública que resultariam em episódios como a Revolta da Vacina
(1904).
Enquanto a população mais humilde amontoava-se pelas beiradas da cidade, a elite vivia do arrivismo
social, “o estabelecimento da nova ordem desencadeou simultaneamente uma permutação em larga
amplitude dos grupos econômicos, ao promover a queima de fortunas seculares com o encilhamento,
transferidas para as mãos de um mundo de desconhecidos por meio de negociatas e excusas”. (SEVCENKO:
1983:25-26). Gerado durante o encilhamento, crise financeira que desvalorizava o valor monetário na
tentativa de obter investimento industrial causando uma constante especulação bancária e instabilidade
inflacionária nos produtos comercializados. O autor José Murilo de Carvalho no livro “Os Bestializados – O
Rio de Janeiro e República que não foi” afirma que “por dois anos, o novo regime pareceu uma autêntica
república de banqueiros, onde a lei era enriquecer a todo custo com o dinheiro de especulação”
(CARVALHO, 2004:20).
A chegada da República passava por grande instabilidade social em todo o país. A República da Espada
(1889 – 1894) vivenciou diversas revoltas que ameaçavam a unificação territorial brasileira, além da crise
financeira. Para isso a solução era “tirar os militares do poder e reduzir o nível de participação popular”
(CARVALHO, 2004:32). Foi durante o governo do presidente Rodrigues Alves (1902 – 1906) que se deu a
chamada regeneração da cidade que era “por si só esclarecedora do espírito que presidiu esse movimento
de destruição da velha cidade, para complementar a dissolução da velha sociedade imperial e de
montagem da nova estrutura urbana” (SEVCENKO, 1983:31).
Com a camada popular isolada, o centro do Rio de Janeiro passou a se espelhar nas cidades europeias em
busca de uma belle époque tropical. O então prefeito Pereira Passos tratou de ampliar a Avenida Central,
importou a decoração tipicamente francesa e promulgou leis como a proibição da transição de pessoas
2


descalças, a caça aos mendigos e a vacina obrigatória, além de condenar hábitos tradicionais como as
serenatas e a boêmia. Havia um interesse em valorizar o conforto burguês, independente da interferência
negativa que isso causaria no cotidiano da população mais humilde. “A América Latina, neste período sob
estudo, tomou o caminho da ocidentalização na sua forma burguesa liberal” ( HOBSBAWM, 2008:139). No
caso do Brasil, os valores burgueses passaram a ser as referências das relações sociais e a justificação para
o isolamento da camada popular.
No que diz respeito à participação política nesse cenário transitório da Primeira República, a grande parcela
da população ficava de fora por conta das restrições impostas aos analfabetos, mendigos e mulheres. Com
isso, é evidente que só restava à elite as decisões políticas, impossibilitando que houvesse de fato uma
cidadania já que os direitos não eram iguais para todos nem na teoria e nem na prática. O povo, por sua
vez, não era resignado. A primeira década da República mostrou que o país sofreu várias ameaças de
fragmentação territorial e mesmo com o fim do poder dos militares, ainda houve revoltas, manifestações e
motins que não buscavam a participação política do povo, mas sim a paralisação da interferência daqueles
que possuíam condições de ter uma vida política ativa na vida da camada popular:


      “Assistia-se à transformação do espaço público, do modo de vida e da mentalidade carioca,
      segundo padrões totalmente originais; e não havia quem lhe pudesse opor. Quatro princípios
      fundamentais regeram o transcurso da metamorfose, conforme veremos adiante: a
      condenação dos hábitos e costumes ligados pela memória à sociedade tradicional; a negação
      de todo e qualquer elemento de cultura popular que pudesse macular a imagem civilizada da
      sociedade dominante; uma política rigorosa de expulsão dos grupos populares da área central
      da cidade, que será praticamente isolada para o desfrute exclusivo das camadas aburguesadas;
      e um cosmopolitismo agressivo, profundamente identificado com a vida parisiense.”
      (SEVCENKO,1983:30)


OS EFEITOS DA BELLE ÉPOQUE CARIOCA NAS CRÔNICAS DE JOÃO DO RIO (1881 – 1921)


Foi a partir das transformações sociais e políticas da Primeira República que o meio jornalístico sentiu a
necessidade de se especializar por ser o principal veículo de comunicação social. Entre essa especialização,
a crônica passou a ter maior destaque por ser o gênero que mais alcançava todas as camadas sociais. Seria
“a literatura mais próxima da vida cotidiana” (ASPERTI, 2009:208). No regime anterior a crônica era apenas
nota de rodapé dos jornais, desenvolvida ao longo do tempo por nomes como José de Alencar e Machado
de Assis. Possuía flexibilidade para se adaptar ao leitor através dos seus diversos subgêneros e podia se
encaixar tanto no jornalismo quanto na literatura. Era através dela que o leitor podia “tomar conhecimento
dos fatos, informar-se do que acontecia em sua atualidade e, ao mesmo tempo, receber uma leitura de
3


mundo; um posicionamento explícito de como o autor da crônica compreendia e relatava tais fatos.”
(TUZINO, 2009:15).
Segundo José Murilo de Carvalho, o cronista João do Rio (1881 – 1921) soube como ninguém relatar o que
se passava na vida subterrânea do Rio de Janeiro mesmo sendo um habitante elitizado da cidade
(CARVALHO, 2004:77-79). O escritor Capistrano de Abreu já dizia que “a crítica sintética, impessoal e
positiva, só parece possível fundada em dois princípios: o primeiro é que a literatura é a expressão da
sociedade; o segundo é que o estilo é o homem” (ABREU, 1931:11). É a partir da coletânea de crônicas do
autor reunidas no livro A Alma Encantadora das Ruas que analisaremos o alto (elite influenciada pelo
espírito belle époque) e o baixo (camada popular) da sociedade carioca durante a Primeira República.
Paulo Barreto, criador do pseudônimo João do Rio, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 5 de agosto de
1881. Ingressou no jornalismo cedo, aos 18 anos, colaborando com o jornalista abolicionista José do
Patrocínio no periódico A Cidade do Rio. Passou a assinar seus textos como João do Rio a partir de 1903
quando escrevia a coluna A Cidade para o jornal Gazeta de Notícias. Foi nesse período que começou a
relatar o que via na transfiguração da capital carioca: “Ah! Se a miséria dos fracos, contrastando com a
fortuna dos fortes é uma prova de civilização, podemos dizer com um orgulho para louvável, que estamos
civilizados.” Ao reunir suas crônicas jornalísticas do período de 1904 até 1907, publica o livro A Alma
Encantadora das Ruas.
Em suas crônicas, João do Rio mergulha no espaço urbano como um flâneur refletindo sobre o que via,
retratando aspectos do cotidiano da maioria da população que eram negados pela elite da belle époque
carioca.


      “Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor e o lirismo
      do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo
      desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos de flâneur e praticar o mais interessante
      dos esportes – a arte de flanar(...) Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o
      vírus da observação ligado ao da vadiagem.” (RIO, 2011 [1908]: 31)


A clareza da substituição dos antigos hábitos coloniais pelos republicanos é justificada nas crônicas do
escritor porque “ele transita pelos dois mundos e por estar inserido enquanto colunista nas rodas da alta
sociedade e enquanto flâneur, na rua e no submundo, sentimos que esse antagonismo antigo/novo e
colonial/moderno o atingiu de maneira avassaladora a ponto de influenciar sobremaneira sua literatura.”
(OLIVEIRA, 2006:100). É partindo dessa aproximação com o povo que João do Rio consegue autenticar seus
escritos, retratando fatores sociais como a economia, cultura e política, “a literatura se torna
acentuadamente social, no sentido mundano da palavra... Manifesta-se na atividade dos profissionais
liberais, nas revistas, nos jornais, nos salões que então aparecem.” (CANDIDO, 2000: 142)
4


O escritor João do Rio trata em cada crônica um aspecto diferente do cotidiano popular. Descreve as
profissões apresentando a rotina dos trabalhadores, aborda mendicidade feminina e o trabalho infantil, ou
seja, relata o que o submundo carioca fazia em busca do mínimo para sobreviver.


      “É quanto basta como moral. Não sejamos excessivos para os humildes. O Rio tem também as suas
      pequenas profissões exóticas, produto da miséria ligada às fábricas importantes, aos adelos, ao baixo
      comércio; o Rio, como todas as outras grandes cidades, esmiúça no próprio monturo a vida dos
      desgraçados” (RIO, 2011 [1908]: 55-56)


Na crônica “Sono Calmo”, João do Rio acompanha a polícia em uma ronda pela cidade e vai parar em um
cortiço, deparando-se com pessoas amontadas sem o mínimo de higiene e saúde, sendo obrigadas a
sobreviver dia após dia diante da miséria, chamando a situação de “chaga lamentável da cidade” já que
naquele contexto os cortiços eram onde moravam os remanescentes da escravidão. É nessa mesma crônica
que se evidencia a ironia do escritor, principal elemento utilizado para tirar do leitor uma reflexão crítica a
respeito do assunto: “Os delegados da polícia são de vez em quando uns homens amáveis. Esses
cavalheiros chegam mesmo, ao cabo de certo tempo, a conhecer um pouco da sua profissão e um pouco do
trágico horror que a miséria tece na sombra da noite por essa misteriosa cidade”. (RIO, 2011 [1908]:174).
Entre os aspectos culturais, ele torna-se transeunte dos Cordões 1 definindo-os como “núcleos irredutíveis
da folia carioca que brotam como um fulgor mais vivo e são antes de tudo bem do povo, bem da terra, bem
da alma encantadora e bárbara do Rio”(RIO, 2011 [1908]:143) opondo-se ao carnaval da elite que era
tipicamente europeu, apelando para o Pierrô e a Colombina e fala também das várias religiões que
cercavam a cidade desde as cristãs até as africanas, dizendo “enquanto existir na terra um farrapo de
humanidade, esse farrapo será um moinho de orações” (RIO, 2011 [1908]:79). A religião representava para
a camada popular do Rio de Janeiro um suporte para sua miséria e dava sentido a tudo aquilo que envolvia
as relações sociais Nas crônicas “A Rua” e “A Musa das Ruas”, o autor humaniza as ruas cariocas, mas fica
claro que o que justifica o encanto delas são as ações sociais determinadas através das características de
cada grupo que ali vivia: “Qual de vós já passou a noite em claro ouvindo o segredo de cada rua? Qual de
vós já sentiu o mistério, o sono, o vício, as ideias de cada bairro?” (RIO, 2011 [1908]: 37). Ao transitar por
elas como um flâneur, o escritor conclui na crônica “A Musa das Ruas” o porquê de haver algum encanto no
cotidiano da camada popular:
      “Vagabundo sim! A Musa da cidade, a Musa constante e anônima, que tange todas as cordas da vida e é
      como a alma da multidão, a Musa triste é vagabunda, é livre, é pobre, é humilde. E por isso todos lhe
      sofrem a ingente fascinação, por isso a voz de um vagabundo, nas noites de luar, enche de lágrimas os
      olhos dos mais frios, por isso ninguém há que não a ame – flor de ideal nascida nas sarjetas, sonho


1
 “O cordão é o Carnaval, o cordão é vida delirante, o cordão é o último elo das religiões pagãs.” – Festa de origem
africana.
5


         perpétuo da cidade à margem da poesia, riso e lágrima, poesia da encantadora alma das ruas!” (RIO,
         2011 [1908]:252).


As crônicas de João do Rio, que eram aparentemente apenas literárias, traziam uma forte crítica ao descaso
do governo e da elite com relação à miséria em que vivia o povo. A crônica no geral desempenhou um
papel fundamental na construção histórica do Rio de Janeiro durante a Primeira República, relatando os
mínimos detalhes que originavam as glórias e as misérias da capital republicana que vivia obcecada em
busca de uma sociedade paralela a parisiense. É a partir da Primeira República que a crônica passa a ser
uma intersecção entre o Jornalismo e a Literatura. João do Rio nos permite compreendê-lo partindo da
relação entre o uso dos fatos do cotidiano social e dos elementos literários. Sua visão atual do contexto
vivido permitiu que captássemos diversas percepções a respeito das transformações que o Rio de Janeiro
vivia: “Nesse sentido, a narrativa do cotidiano das ruas tecidas a partir do olhar do flâneur deixa-nos
entrever a consciência de João do Rio do seu papel social enquanto escritor”. (CALADO, 2008:11)


CONCLUSÃO
O alto da sociedade carioca que desfrutava, de fato, o chamado “progresso” republicano olhava para o
baixo social como se fosse selvagem segundo Nicolau Sevcenko 2. Havia um desejo de ser estrangeiro 3 que
contrastava com as tradições populares da cidade do Rio de Janeiro. A relação da República com a
população só as distanciou mais ainda uma da outra, provando que a cidadania nunca foi posta em prática
na capital federal. O que possibilitou o reconhecimento da camada popular como, de fato, habitante e
participante da transição do Império para a República foram as tradições que mesmo sofrendo intensas
censuras da elite da belle époque, sobreviveram em meio aos padrões europeus incorporados pelo
presidente Rodrigues Alves e pelo prefeito Pereira Passos no período de 1903 até 1906. A mudança urbana
frenética que ocorreu no Rio de Janeiro estimulou a vergonha de ser brasileiro e o desejo de ser
estrangeiro. Através das crônicas de João do Rio podemos verificar que a junção da literatura com o
jornalismo serviu como denúncia de uma realidade. A essência literária na obra A Alma Encantadora das
Ruas é baseada na experiência do autor diante dos episódios escritos. É autêntica e isso permite que haja
uma interpretação reflexiva em suas crônicas que, de certa forma, persuadiam o leitor através do bom uso
da palavra e da ironia.




2
    “E por isso, quando o selvagem aparece, é como um parente que nos envergonha”. (SEVCENKO, 1983:35)
3
6


BIBLIOGRAFIA


ABREU, Capistrano de. Estudos e Ensaios. São Paulo. Sociedade Capistrano de Abreu, 1931.
AIMÉE, Aline. A crônica em foco: revisão da crítica e análise das características do gênero, in: Anais do XII
       Congresso Nacional de Linguistica e Filologia (Cadernos do CNLF), RJ: Círculo Fluminense de Estudos
       Filológicos e Linguísticos (CiFEFiL) / UERJ, XII (7): 22-27, 2008
ALVES, Geraldo José. Decifra-me ou devoro-te. Uma reflexão sobre a percepção e instrumentalização das
       noções de texto e contexto no ensino de História e Literatura, in: SP: Dialogia, 1: 55-64, 2002
ASPERTI. Claro Miguel. Crônica: A suave ironia Bilaquiana na Gazeta de Notícias. SP: UNESP, 4 (2): 206-224,
       2009
CALADO, Luciana Eleonora de Freitas. A Belle Époque nas crônicas de João do Rio: o olhar de um flâneur. in:
       Ninth International Congress of the Brazilian Studies Association, New Orleans, 01: 31-39, 2008
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. SP: T. A. Queiroz/Publifolha, 2000
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo. 1987.
       Editora Companhia das Letras. 216p
OLIVEIRA, Cristiane de Jesus. Nas Entrelinhas da Cidade. A Reforma Urbana do Rio de Janeiro no Início do
       Século XX e sua Imagem na Literatura de Paulo Barreto. Juiz de Fora (MG): Universidade Federal de
       Juiz de Fora, 2006 [Dissertação de Mestrado]
RIBERIO, Darcy. O Povo Brasileiro. São Paulo. Cia de Bolso, 2006.
RIO, João do. A Alma Encantadora das Ruas. SP: Cia. das Letras, 2011 [1908]
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão – Tensões Sociais e Criação Cultural na Primeira República. São
       Paulo. 1983. Editora Brasiliense.
TUZINO, Yolanda Maria Muniz. Crônica: uma intersecção entre o jornalismo e literatura, in: Biblioteca on-
       line de ciências da comunicação, 2009

Contenu connexe

Tendances

“Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
 “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç... “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
“Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...Emerson Mathias
 
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...Vanessa Faria
 
1 fase comentada 2011
1 fase comentada 20111 fase comentada 2011
1 fase comentada 2011Whistoriapi
 
Pré-modernismo
Pré-modernismoPré-modernismo
Pré-modernismoJosé Levy
 
A segunda geração do modernismo brasileiro
A segunda geração do modernismo brasileiroA segunda geração do modernismo brasileiro
A segunda geração do modernismo brasileiroma.no.el.ne.ves
 
O Remexido E A Resist+¬ncia Miguelista No Algarve
O  Remexido E A Resist+¬ncia Miguelista No  AlgarveO  Remexido E A Resist+¬ncia Miguelista No  Algarve
O Remexido E A Resist+¬ncia Miguelista No AlgarveJoão Marinho
 
Contexto historico romantismo
Contexto historico romantismoContexto historico romantismo
Contexto historico romantismoDanielle Almeida
 
Análise Iconográfica e Iconológica das Cédulas: fim do Império e formação da ...
Análise Iconográfica e Iconológica das Cédulas: fim do Império e formação da ...Análise Iconográfica e Iconológica das Cédulas: fim do Império e formação da ...
Análise Iconográfica e Iconológica das Cédulas: fim do Império e formação da ...Igor Guedes
 
Pre Modernismo by trabalho da hora
Pre Modernismo by trabalho da horaPre Modernismo by trabalho da hora
Pre Modernismo by trabalho da horaDouglas Maga
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismoJosi Motta
 
Enem república velha (2) (1)
Enem  república velha (2) (1)Enem  república velha (2) (1)
Enem república velha (2) (1)jacoanderle
 

Tendances (20)

Representação da multidão
Representação da multidãoRepresentação da multidão
Representação da multidão
 
Tcc
TccTcc
Tcc
 
“Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
 “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç... “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
“Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
 
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
 
1 fase comentada 2011
1 fase comentada 20111 fase comentada 2011
1 fase comentada 2011
 
1 pré-modernismo
1   pré-modernismo1   pré-modernismo
1 pré-modernismo
 
Pré-modernismo
Pré-modernismoPré-modernismo
Pré-modernismo
 
Questoeshist3
Questoeshist3Questoeshist3
Questoeshist3
 
A segunda geração do modernismo brasileiro
A segunda geração do modernismo brasileiroA segunda geração do modernismo brasileiro
A segunda geração do modernismo brasileiro
 
O Remexido E A Resist+¬ncia Miguelista No Algarve
O  Remexido E A Resist+¬ncia Miguelista No  AlgarveO  Remexido E A Resist+¬ncia Miguelista No  Algarve
O Remexido E A Resist+¬ncia Miguelista No Algarve
 
Contexto historico romantismo
Contexto historico romantismoContexto historico romantismo
Contexto historico romantismo
 
Análise Iconográfica e Iconológica das Cédulas: fim do Império e formação da ...
Análise Iconográfica e Iconológica das Cédulas: fim do Império e formação da ...Análise Iconográfica e Iconológica das Cédulas: fim do Império e formação da ...
Análise Iconográfica e Iconológica das Cédulas: fim do Império e formação da ...
 
Pré modernismo 3º ano
Pré modernismo 3º anoPré modernismo 3º ano
Pré modernismo 3º ano
 
Modernismo no Brasil (Tabelas)
Modernismo no Brasil (Tabelas)Modernismo no Brasil (Tabelas)
Modernismo no Brasil (Tabelas)
 
Pre Modernismo by trabalho da hora
Pre Modernismo by trabalho da horaPre Modernismo by trabalho da hora
Pre Modernismo by trabalho da hora
 
Prémoderismo
PrémoderismoPrémoderismo
Prémoderismo
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Enem república velha (2) (1)
Enem  república velha (2) (1)Enem  república velha (2) (1)
Enem república velha (2) (1)
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Pr modernismo-Profª Lisandra
Pr modernismo-Profª LisandraPr modernismo-Profª Lisandra
Pr modernismo-Profª Lisandra
 

En vedette

LOS PROYECTOS TECNOLÓGICOS
LOS PROYECTOS TECNOLÓGICOSLOS PROYECTOS TECNOLÓGICOS
LOS PROYECTOS TECNOLÓGICOSfernandacure20
 
Ferramentas da web 2
Ferramentas da web 2Ferramentas da web 2
Ferramentas da web 2José Rosa
 
¿Puede deporte apostando dinero en efectivo en el auge del juego Social?
¿Puede deporte apostando dinero en efectivo en el auge del juego Social?
¿Puede deporte apostando dinero en efectivo en el auge del juego Social?
¿Puede deporte apostando dinero en efectivo en el auge del juego Social? jessie8blake07
 
Roxania A. Aton - Resume
Roxania A. Aton - ResumeRoxania A. Aton - Resume
Roxania A. Aton - ResumeRoxania Aton
 
Marketing and opera
Marketing and operaMarketing and opera
Marketing and operaDena Walker
 
Dignidade humana no Alto Tietê
Dignidade humana  no Alto TietêDignidade humana  no Alto Tietê
Dignidade humana no Alto TietêLuci Bonini
 
¿Qué son los grupos y semilleros de investigación? - Taller de la Ciudad Espa...
¿Qué son los grupos y semilleros de investigación? - Taller de la Ciudad Espa...¿Qué son los grupos y semilleros de investigación? - Taller de la Ciudad Espa...
¿Qué son los grupos y semilleros de investigación? - Taller de la Ciudad Espa...Independiente
 
“COMPARACION DE MÉTODO METCOFF Y PESO PARA EDAD GESTACIONAL POR CAPURRO COMO ...
“COMPARACION DE MÉTODO METCOFF Y PESO PARA EDAD GESTACIONAL POR CAPURRO COMO ...“COMPARACION DE MÉTODO METCOFF Y PESO PARA EDAD GESTACIONAL POR CAPURRO COMO ...
“COMPARACION DE MÉTODO METCOFF Y PESO PARA EDAD GESTACIONAL POR CAPURRO COMO ...Jorge Luis Salazar Alarcon
 
Especializacion juan de castellanos
Especializacion juan de castellanosEspecializacion juan de castellanos
Especializacion juan de castellanosYeison Castaño
 
Body language julius fast
Body language   julius fastBody language   julius fast
Body language julius fastChristina G.
 
Diagrama de flujos del proceso productivo del maíz para la harina
Diagrama de flujos del proceso productivo del maíz para la harinaDiagrama de flujos del proceso productivo del maíz para la harina
Diagrama de flujos del proceso productivo del maíz para la harinaanibal0193
 
Simple determination of Physical and Thermal Properties as a basis for the De...
Simple determination of Physical and Thermal Properties as a basis for the De...Simple determination of Physical and Thermal Properties as a basis for the De...
Simple determination of Physical and Thermal Properties as a basis for the De...Enrique Posada
 
About the ASEAN MRA
About the ASEAN MRAAbout the ASEAN MRA
About the ASEAN MRATIBFI
 
ZF Básico - 1. Introdução
ZF Básico - 1. IntroduçãoZF Básico - 1. Introdução
ZF Básico - 1. IntroduçãoMarcos Bezerra
 
Viabilizando Negocios na Web (Senac Tito)
Viabilizando Negocios na Web (Senac Tito)Viabilizando Negocios na Web (Senac Tito)
Viabilizando Negocios na Web (Senac Tito)Ana Laura Gomes
 

En vedette (20)

LOS PROYECTOS TECNOLÓGICOS
LOS PROYECTOS TECNOLÓGICOSLOS PROYECTOS TECNOLÓGICOS
LOS PROYECTOS TECNOLÓGICOS
 
Ferramentas da web 2
Ferramentas da web 2Ferramentas da web 2
Ferramentas da web 2
 
¿Puede deporte apostando dinero en efectivo en el auge del juego Social?
¿Puede deporte apostando dinero en efectivo en el auge del juego Social?
¿Puede deporte apostando dinero en efectivo en el auge del juego Social?
¿Puede deporte apostando dinero en efectivo en el auge del juego Social?
 
Roxania A. Aton - Resume
Roxania A. Aton - ResumeRoxania A. Aton - Resume
Roxania A. Aton - Resume
 
Marketing Mix
Marketing MixMarketing Mix
Marketing Mix
 
Marketing and opera
Marketing and operaMarketing and opera
Marketing and opera
 
Dignidade humana no Alto Tietê
Dignidade humana  no Alto TietêDignidade humana  no Alto Tietê
Dignidade humana no Alto Tietê
 
¿Qué son los grupos y semilleros de investigación? - Taller de la Ciudad Espa...
¿Qué son los grupos y semilleros de investigación? - Taller de la Ciudad Espa...¿Qué son los grupos y semilleros de investigación? - Taller de la Ciudad Espa...
¿Qué son los grupos y semilleros de investigación? - Taller de la Ciudad Espa...
 
“COMPARACION DE MÉTODO METCOFF Y PESO PARA EDAD GESTACIONAL POR CAPURRO COMO ...
“COMPARACION DE MÉTODO METCOFF Y PESO PARA EDAD GESTACIONAL POR CAPURRO COMO ...“COMPARACION DE MÉTODO METCOFF Y PESO PARA EDAD GESTACIONAL POR CAPURRO COMO ...
“COMPARACION DE MÉTODO METCOFF Y PESO PARA EDAD GESTACIONAL POR CAPURRO COMO ...
 
Especializacion juan de castellanos
Especializacion juan de castellanosEspecializacion juan de castellanos
Especializacion juan de castellanos
 
002 webdesign
002 webdesign002 webdesign
002 webdesign
 
Music of africa
Music of africaMusic of africa
Music of africa
 
Body language julius fast
Body language   julius fastBody language   julius fast
Body language julius fast
 
Basilica san pedro pdf
Basilica san pedro pdfBasilica san pedro pdf
Basilica san pedro pdf
 
Diagrama de flujos del proceso productivo del maíz para la harina
Diagrama de flujos del proceso productivo del maíz para la harinaDiagrama de flujos del proceso productivo del maíz para la harina
Diagrama de flujos del proceso productivo del maíz para la harina
 
Simple determination of Physical and Thermal Properties as a basis for the De...
Simple determination of Physical and Thermal Properties as a basis for the De...Simple determination of Physical and Thermal Properties as a basis for the De...
Simple determination of Physical and Thermal Properties as a basis for the De...
 
Las Brigadas Internacionales en la guerra civil española
Las Brigadas Internacionales en la guerra civil españolaLas Brigadas Internacionales en la guerra civil española
Las Brigadas Internacionales en la guerra civil española
 
About the ASEAN MRA
About the ASEAN MRAAbout the ASEAN MRA
About the ASEAN MRA
 
ZF Básico - 1. Introdução
ZF Básico - 1. IntroduçãoZF Básico - 1. Introdução
ZF Básico - 1. Introdução
 
Viabilizando Negocios na Web (Senac Tito)
Viabilizando Negocios na Web (Senac Tito)Viabilizando Negocios na Web (Senac Tito)
Viabilizando Negocios na Web (Senac Tito)
 

Similaire à História e Literatura na Primeira República: As transformações urbanas do Rio de Janeiro nas crônicas de João do Rio

O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiroO projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiroPaulo Konzen
 
Quevedo; ruan pina humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digital
Quevedo; ruan pina   humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digitalQuevedo; ruan pina   humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digital
Quevedo; ruan pina humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digitalAcervo_DAC
 
Pré modernismo
Pré  modernismoPré  modernismo
Pré modernismoYana Sofia
 
Pré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karinPré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karinprofessorakarin2013
 
Pre-modernismo.pptx
Pre-modernismo.pptxPre-modernismo.pptx
Pre-modernismo.pptxNunaMedeiros
 
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo MariaPiedadeSILVA
 
República velha questões
República velha questõesRepública velha questões
República velha questõescida0159
 
República velha questões
República velha questõesRepública velha questões
República velha questõescida0159
 
Modernismo Segunda Fase Brasil
Modernismo Segunda Fase BrasilModernismo Segunda Fase Brasil
Modernismo Segunda Fase Brasilggmota93
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismoterceirob
 
Cultura e modernidade no basil prof oliven
Cultura e modernidade no basil  prof olivenCultura e modernidade no basil  prof oliven
Cultura e modernidade no basil prof oliveninformingus
 
Segunda fase-modernismo
Segunda fase-modernismoSegunda fase-modernismo
Segunda fase-modernismoNádia França
 
romantismo-resumo-101114134202-phpapp02 (1).pdf
romantismo-resumo-101114134202-phpapp02 (1).pdfromantismo-resumo-101114134202-phpapp02 (1).pdf
romantismo-resumo-101114134202-phpapp02 (1).pdfGANHADODINHEIRO
 
Português - A estética romântica: idealização e arrebatamento.
Português - A estética romântica: idealização e arrebatamento.Português - A estética romântica: idealização e arrebatamento.
Português - A estética romântica: idealização e arrebatamento.Viviane Dilkin Endler
 

Similaire à História e Literatura na Primeira República: As transformações urbanas do Rio de Janeiro nas crônicas de João do Rio (20)

Apontamentos sobre livros da fuvest
Apontamentos sobre livros da fuvestApontamentos sobre livros da fuvest
Apontamentos sobre livros da fuvest
 
O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiroO projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
O projeto estético e ideológico do modernismo brasileiro
 
Quevedo; ruan pina humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digital
Quevedo; ruan pina   humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digitalQuevedo; ruan pina   humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digital
Quevedo; ruan pina humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digital
 
Pré modernismo
Pré  modernismoPré  modernismo
Pré modernismo
 
2º fase-do-modernismo-no-brasil
2º fase-do-modernismo-no-brasil2º fase-do-modernismo-no-brasil
2º fase-do-modernismo-no-brasil
 
Pré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karinPré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karin
 
Pre-modernismo.pptx
Pre-modernismo.pptxPre-modernismo.pptx
Pre-modernismo.pptx
 
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
Apresentação sobre modernismo e pós modernismo
 
República velha questões
República velha questõesRepública velha questões
República velha questões
 
República velha questões
República velha questõesRepública velha questões
República velha questões
 
Modernismo Segunda Fase Brasil
Modernismo Segunda Fase BrasilModernismo Segunda Fase Brasil
Modernismo Segunda Fase Brasil
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Cultura e modernidade no basil prof oliven
Cultura e modernidade no basil  prof olivenCultura e modernidade no basil  prof oliven
Cultura e modernidade no basil prof oliven
 
Pre modernismo
Pre modernismoPre modernismo
Pre modernismo
 
Segunda fase-modernismo
Segunda fase-modernismoSegunda fase-modernismo
Segunda fase-modernismo
 
Pré-modernismo
Pré-modernismoPré-modernismo
Pré-modernismo
 
romantismo-resumo-101114134202-phpapp02 (1).pdf
romantismo-resumo-101114134202-phpapp02 (1).pdfromantismo-resumo-101114134202-phpapp02 (1).pdf
romantismo-resumo-101114134202-phpapp02 (1).pdf
 
Romantismo resumo
Romantismo resumoRomantismo resumo
Romantismo resumo
 
Português - A estética romântica: idealização e arrebatamento.
Português - A estética romântica: idealização e arrebatamento.Português - A estética romântica: idealização e arrebatamento.
Português - A estética romântica: idealização e arrebatamento.
 
Literatura do pré modernismo
Literatura do pré modernismoLiteratura do pré modernismo
Literatura do pré modernismo
 

Plus de Emerson Mathias

Novembro Preto A consciência tardia e o racismo no Brasil contemporâneo
Novembro Preto  A consciência tardia e o racismo no Brasil contemporâneo Novembro Preto  A consciência tardia e o racismo no Brasil contemporâneo
Novembro Preto A consciência tardia e o racismo no Brasil contemporâneo Emerson Mathias
 
A transformação político econômica do capitalismo no final do século xx
A transformação político econômica do capitalismo no final do século xxA transformação político econômica do capitalismo no final do século xx
A transformação político econômica do capitalismo no final do século xxEmerson Mathias
 
Cordel: Uma proposta para o ensino de História
Cordel: Uma proposta para o ensino de HistóriaCordel: Uma proposta para o ensino de História
Cordel: Uma proposta para o ensino de HistóriaEmerson Mathias
 
ENFILEIRAMENTO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DA AUTONOMIA E CRITICI...
ENFILEIRAMENTO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DA AUTONOMIA E CRITICI...ENFILEIRAMENTO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DA AUTONOMIA E CRITICI...
ENFILEIRAMENTO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DA AUTONOMIA E CRITICI...Emerson Mathias
 
Gênero feminino no século XXI: Os feminismos e as múltiplas formas de coexist...
Gênero feminino no século XXI: Os feminismos e as múltiplas formas de coexist...Gênero feminino no século XXI: Os feminismos e as múltiplas formas de coexist...
Gênero feminino no século XXI: Os feminismos e as múltiplas formas de coexist...Emerson Mathias
 
Do Cais para a Esquina: Uma In(con)fluência “beatle” na obra do Clube da Esqu...
Do Cais para a Esquina: Uma In(con)fluência “beatle” na obra do Clube da Esqu...Do Cais para a Esquina: Uma In(con)fluência “beatle” na obra do Clube da Esqu...
Do Cais para a Esquina: Uma In(con)fluência “beatle” na obra do Clube da Esqu...Emerson Mathias
 
O SEGREDO É SER ESPORTÂNEO: UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTORIA DO CIRCO
O SEGREDO É SER ESPORTÂNEO: UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTORIA DO CIRCOO SEGREDO É SER ESPORTÂNEO: UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTORIA DO CIRCO
O SEGREDO É SER ESPORTÂNEO: UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTORIA DO CIRCOEmerson Mathias
 
A influência do cinema hollywoodiano no processo de emancipação da mulher bra...
A influência do cinema hollywoodiano no processo de emancipação da mulher bra...A influência do cinema hollywoodiano no processo de emancipação da mulher bra...
A influência do cinema hollywoodiano no processo de emancipação da mulher bra...Emerson Mathias
 
UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO.
UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO.UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO.
UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO.Emerson Mathias
 
A crise da indústria fonográfica no início dos anos 1980 vista pela mídia esp...
A crise da indústria fonográfica no início dos anos 1980 vista pela mídia esp...A crise da indústria fonográfica no início dos anos 1980 vista pela mídia esp...
A crise da indústria fonográfica no início dos anos 1980 vista pela mídia esp...Emerson Mathias
 
OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)
OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)
OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)Emerson Mathias
 
A clio negra paulista atuaãção dos intelectuais (1910-1930)
A clio negra paulista   atuaãção dos intelectuais  (1910-1930)A clio negra paulista   atuaãção dos intelectuais  (1910-1930)
A clio negra paulista atuaãção dos intelectuais (1910-1930)Emerson Mathias
 
Educação do Negro na Primeira República-1889 á 1930.
Educação do Negro na Primeira República-1889 á 1930.Educação do Negro na Primeira República-1889 á 1930.
Educação do Negro na Primeira República-1889 á 1930.Emerson Mathias
 
Machado de Assis, um diálogo entre histórias
Machado de Assis, um diálogo entre históriasMachado de Assis, um diálogo entre histórias
Machado de Assis, um diálogo entre históriasEmerson Mathias
 
Machado de Assis, um diálogo entre histórias
Machado de Assis, um diálogo entre históriasMachado de Assis, um diálogo entre histórias
Machado de Assis, um diálogo entre históriasEmerson Mathias
 
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impressoA enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impressoEmerson Mathias
 
Aula Mesopotâmia e Egito
Aula Mesopotâmia e EgitoAula Mesopotâmia e Egito
Aula Mesopotâmia e EgitoEmerson Mathias
 
África - Reino do Congo e do Ndongo
África - Reino do Congo e do NdongoÁfrica - Reino do Congo e do Ndongo
África - Reino do Congo e do NdongoEmerson Mathias
 

Plus de Emerson Mathias (20)

Novembro Preto A consciência tardia e o racismo no Brasil contemporâneo
Novembro Preto  A consciência tardia e o racismo no Brasil contemporâneo Novembro Preto  A consciência tardia e o racismo no Brasil contemporâneo
Novembro Preto A consciência tardia e o racismo no Brasil contemporâneo
 
A transformação político econômica do capitalismo no final do século xx
A transformação político econômica do capitalismo no final do século xxA transformação político econômica do capitalismo no final do século xx
A transformação político econômica do capitalismo no final do século xx
 
Cordel: Uma proposta para o ensino de História
Cordel: Uma proposta para o ensino de HistóriaCordel: Uma proposta para o ensino de História
Cordel: Uma proposta para o ensino de História
 
ENFILEIRAMENTO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DA AUTONOMIA E CRITICI...
ENFILEIRAMENTO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DA AUTONOMIA E CRITICI...ENFILEIRAMENTO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DA AUTONOMIA E CRITICI...
ENFILEIRAMENTO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DA AUTONOMIA E CRITICI...
 
Gênero feminino no século XXI: Os feminismos e as múltiplas formas de coexist...
Gênero feminino no século XXI: Os feminismos e as múltiplas formas de coexist...Gênero feminino no século XXI: Os feminismos e as múltiplas formas de coexist...
Gênero feminino no século XXI: Os feminismos e as múltiplas formas de coexist...
 
Do Cais para a Esquina: Uma In(con)fluência “beatle” na obra do Clube da Esqu...
Do Cais para a Esquina: Uma In(con)fluência “beatle” na obra do Clube da Esqu...Do Cais para a Esquina: Uma In(con)fluência “beatle” na obra do Clube da Esqu...
Do Cais para a Esquina: Uma In(con)fluência “beatle” na obra do Clube da Esqu...
 
O SEGREDO É SER ESPORTÂNEO: UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTORIA DO CIRCO
O SEGREDO É SER ESPORTÂNEO: UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTORIA DO CIRCOO SEGREDO É SER ESPORTÂNEO: UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTORIA DO CIRCO
O SEGREDO É SER ESPORTÂNEO: UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTORIA DO CIRCO
 
A influência do cinema hollywoodiano no processo de emancipação da mulher bra...
A influência do cinema hollywoodiano no processo de emancipação da mulher bra...A influência do cinema hollywoodiano no processo de emancipação da mulher bra...
A influência do cinema hollywoodiano no processo de emancipação da mulher bra...
 
Os condenados da lepra
Os condenados da lepraOs condenados da lepra
Os condenados da lepra
 
Os condenados da lepra
Os condenados da lepraOs condenados da lepra
Os condenados da lepra
 
UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO.
UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO.UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO.
UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO.
 
A crise da indústria fonográfica no início dos anos 1980 vista pela mídia esp...
A crise da indústria fonográfica no início dos anos 1980 vista pela mídia esp...A crise da indústria fonográfica no início dos anos 1980 vista pela mídia esp...
A crise da indústria fonográfica no início dos anos 1980 vista pela mídia esp...
 
OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)
OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)
OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)
 
A clio negra paulista atuaãção dos intelectuais (1910-1930)
A clio negra paulista   atuaãção dos intelectuais  (1910-1930)A clio negra paulista   atuaãção dos intelectuais  (1910-1930)
A clio negra paulista atuaãção dos intelectuais (1910-1930)
 
Educação do Negro na Primeira República-1889 á 1930.
Educação do Negro na Primeira República-1889 á 1930.Educação do Negro na Primeira República-1889 á 1930.
Educação do Negro na Primeira República-1889 á 1930.
 
Machado de Assis, um diálogo entre histórias
Machado de Assis, um diálogo entre históriasMachado de Assis, um diálogo entre histórias
Machado de Assis, um diálogo entre histórias
 
Machado de Assis, um diálogo entre histórias
Machado de Assis, um diálogo entre históriasMachado de Assis, um diálogo entre histórias
Machado de Assis, um diálogo entre histórias
 
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impressoA enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
 
Aula Mesopotâmia e Egito
Aula Mesopotâmia e EgitoAula Mesopotâmia e Egito
Aula Mesopotâmia e Egito
 
África - Reino do Congo e do Ndongo
África - Reino do Congo e do NdongoÁfrica - Reino do Congo e do Ndongo
África - Reino do Congo e do Ndongo
 

História e Literatura na Primeira República: As transformações urbanas do Rio de Janeiro nas crônicas de João do Rio

  • 1. 1 Universidade Nove de Julho – Uninove Curso: História Disciplina: História do Brasil III (2012-1) Professor responsável: Geraldo José Alves Fernanda Monique Lopes Pacheco – R.A. 911119269 TEMÁTICA: HISTÓRIA E LITERATURA NA PRIMEIRA REPÚBLICA As transformações do cenário urbano da cidade do Rio de Janeiro na Primeira República nas crônicas de João do Rio (1881-1921) INTRODUÇÃO A República herdou do Império um crescimento populacional impactante após a abolição da escravidão em 1888 e a chegada dos imigrantes acompanhada do êxodo rural para trabalhar nas zonas cafeeiras do estado do Rio de Janeiro (CARVALHO, 2004:16). Tal crescimento demográfico implicou numa crise habitacional levando a camada popular a viver em condições precárias de saneamento básico, tendo como consequências problemas graves de saúde pública que resultariam em episódios como a Revolta da Vacina (1904). Enquanto a população mais humilde amontoava-se pelas beiradas da cidade, a elite vivia do arrivismo social, “o estabelecimento da nova ordem desencadeou simultaneamente uma permutação em larga amplitude dos grupos econômicos, ao promover a queima de fortunas seculares com o encilhamento, transferidas para as mãos de um mundo de desconhecidos por meio de negociatas e excusas”. (SEVCENKO: 1983:25-26). Gerado durante o encilhamento, crise financeira que desvalorizava o valor monetário na tentativa de obter investimento industrial causando uma constante especulação bancária e instabilidade inflacionária nos produtos comercializados. O autor José Murilo de Carvalho no livro “Os Bestializados – O Rio de Janeiro e República que não foi” afirma que “por dois anos, o novo regime pareceu uma autêntica república de banqueiros, onde a lei era enriquecer a todo custo com o dinheiro de especulação” (CARVALHO, 2004:20). A chegada da República passava por grande instabilidade social em todo o país. A República da Espada (1889 – 1894) vivenciou diversas revoltas que ameaçavam a unificação territorial brasileira, além da crise financeira. Para isso a solução era “tirar os militares do poder e reduzir o nível de participação popular” (CARVALHO, 2004:32). Foi durante o governo do presidente Rodrigues Alves (1902 – 1906) que se deu a chamada regeneração da cidade que era “por si só esclarecedora do espírito que presidiu esse movimento de destruição da velha cidade, para complementar a dissolução da velha sociedade imperial e de montagem da nova estrutura urbana” (SEVCENKO, 1983:31). Com a camada popular isolada, o centro do Rio de Janeiro passou a se espelhar nas cidades europeias em busca de uma belle époque tropical. O então prefeito Pereira Passos tratou de ampliar a Avenida Central, importou a decoração tipicamente francesa e promulgou leis como a proibição da transição de pessoas
  • 2. 2 descalças, a caça aos mendigos e a vacina obrigatória, além de condenar hábitos tradicionais como as serenatas e a boêmia. Havia um interesse em valorizar o conforto burguês, independente da interferência negativa que isso causaria no cotidiano da população mais humilde. “A América Latina, neste período sob estudo, tomou o caminho da ocidentalização na sua forma burguesa liberal” ( HOBSBAWM, 2008:139). No caso do Brasil, os valores burgueses passaram a ser as referências das relações sociais e a justificação para o isolamento da camada popular. No que diz respeito à participação política nesse cenário transitório da Primeira República, a grande parcela da população ficava de fora por conta das restrições impostas aos analfabetos, mendigos e mulheres. Com isso, é evidente que só restava à elite as decisões políticas, impossibilitando que houvesse de fato uma cidadania já que os direitos não eram iguais para todos nem na teoria e nem na prática. O povo, por sua vez, não era resignado. A primeira década da República mostrou que o país sofreu várias ameaças de fragmentação territorial e mesmo com o fim do poder dos militares, ainda houve revoltas, manifestações e motins que não buscavam a participação política do povo, mas sim a paralisação da interferência daqueles que possuíam condições de ter uma vida política ativa na vida da camada popular: “Assistia-se à transformação do espaço público, do modo de vida e da mentalidade carioca, segundo padrões totalmente originais; e não havia quem lhe pudesse opor. Quatro princípios fundamentais regeram o transcurso da metamorfose, conforme veremos adiante: a condenação dos hábitos e costumes ligados pela memória à sociedade tradicional; a negação de todo e qualquer elemento de cultura popular que pudesse macular a imagem civilizada da sociedade dominante; uma política rigorosa de expulsão dos grupos populares da área central da cidade, que será praticamente isolada para o desfrute exclusivo das camadas aburguesadas; e um cosmopolitismo agressivo, profundamente identificado com a vida parisiense.” (SEVCENKO,1983:30) OS EFEITOS DA BELLE ÉPOQUE CARIOCA NAS CRÔNICAS DE JOÃO DO RIO (1881 – 1921) Foi a partir das transformações sociais e políticas da Primeira República que o meio jornalístico sentiu a necessidade de se especializar por ser o principal veículo de comunicação social. Entre essa especialização, a crônica passou a ter maior destaque por ser o gênero que mais alcançava todas as camadas sociais. Seria “a literatura mais próxima da vida cotidiana” (ASPERTI, 2009:208). No regime anterior a crônica era apenas nota de rodapé dos jornais, desenvolvida ao longo do tempo por nomes como José de Alencar e Machado de Assis. Possuía flexibilidade para se adaptar ao leitor através dos seus diversos subgêneros e podia se encaixar tanto no jornalismo quanto na literatura. Era através dela que o leitor podia “tomar conhecimento dos fatos, informar-se do que acontecia em sua atualidade e, ao mesmo tempo, receber uma leitura de
  • 3. 3 mundo; um posicionamento explícito de como o autor da crônica compreendia e relatava tais fatos.” (TUZINO, 2009:15). Segundo José Murilo de Carvalho, o cronista João do Rio (1881 – 1921) soube como ninguém relatar o que se passava na vida subterrânea do Rio de Janeiro mesmo sendo um habitante elitizado da cidade (CARVALHO, 2004:77-79). O escritor Capistrano de Abreu já dizia que “a crítica sintética, impessoal e positiva, só parece possível fundada em dois princípios: o primeiro é que a literatura é a expressão da sociedade; o segundo é que o estilo é o homem” (ABREU, 1931:11). É a partir da coletânea de crônicas do autor reunidas no livro A Alma Encantadora das Ruas que analisaremos o alto (elite influenciada pelo espírito belle époque) e o baixo (camada popular) da sociedade carioca durante a Primeira República. Paulo Barreto, criador do pseudônimo João do Rio, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 5 de agosto de 1881. Ingressou no jornalismo cedo, aos 18 anos, colaborando com o jornalista abolicionista José do Patrocínio no periódico A Cidade do Rio. Passou a assinar seus textos como João do Rio a partir de 1903 quando escrevia a coluna A Cidade para o jornal Gazeta de Notícias. Foi nesse período que começou a relatar o que via na transfiguração da capital carioca: “Ah! Se a miséria dos fracos, contrastando com a fortuna dos fortes é uma prova de civilização, podemos dizer com um orgulho para louvável, que estamos civilizados.” Ao reunir suas crônicas jornalísticas do período de 1904 até 1907, publica o livro A Alma Encantadora das Ruas. Em suas crônicas, João do Rio mergulha no espaço urbano como um flâneur refletindo sobre o que via, retratando aspectos do cotidiano da maioria da população que eram negados pela elite da belle époque carioca. “Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos de flâneur e praticar o mais interessante dos esportes – a arte de flanar(...) Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem.” (RIO, 2011 [1908]: 31) A clareza da substituição dos antigos hábitos coloniais pelos republicanos é justificada nas crônicas do escritor porque “ele transita pelos dois mundos e por estar inserido enquanto colunista nas rodas da alta sociedade e enquanto flâneur, na rua e no submundo, sentimos que esse antagonismo antigo/novo e colonial/moderno o atingiu de maneira avassaladora a ponto de influenciar sobremaneira sua literatura.” (OLIVEIRA, 2006:100). É partindo dessa aproximação com o povo que João do Rio consegue autenticar seus escritos, retratando fatores sociais como a economia, cultura e política, “a literatura se torna acentuadamente social, no sentido mundano da palavra... Manifesta-se na atividade dos profissionais liberais, nas revistas, nos jornais, nos salões que então aparecem.” (CANDIDO, 2000: 142)
  • 4. 4 O escritor João do Rio trata em cada crônica um aspecto diferente do cotidiano popular. Descreve as profissões apresentando a rotina dos trabalhadores, aborda mendicidade feminina e o trabalho infantil, ou seja, relata o que o submundo carioca fazia em busca do mínimo para sobreviver. “É quanto basta como moral. Não sejamos excessivos para os humildes. O Rio tem também as suas pequenas profissões exóticas, produto da miséria ligada às fábricas importantes, aos adelos, ao baixo comércio; o Rio, como todas as outras grandes cidades, esmiúça no próprio monturo a vida dos desgraçados” (RIO, 2011 [1908]: 55-56) Na crônica “Sono Calmo”, João do Rio acompanha a polícia em uma ronda pela cidade e vai parar em um cortiço, deparando-se com pessoas amontadas sem o mínimo de higiene e saúde, sendo obrigadas a sobreviver dia após dia diante da miséria, chamando a situação de “chaga lamentável da cidade” já que naquele contexto os cortiços eram onde moravam os remanescentes da escravidão. É nessa mesma crônica que se evidencia a ironia do escritor, principal elemento utilizado para tirar do leitor uma reflexão crítica a respeito do assunto: “Os delegados da polícia são de vez em quando uns homens amáveis. Esses cavalheiros chegam mesmo, ao cabo de certo tempo, a conhecer um pouco da sua profissão e um pouco do trágico horror que a miséria tece na sombra da noite por essa misteriosa cidade”. (RIO, 2011 [1908]:174). Entre os aspectos culturais, ele torna-se transeunte dos Cordões 1 definindo-os como “núcleos irredutíveis da folia carioca que brotam como um fulgor mais vivo e são antes de tudo bem do povo, bem da terra, bem da alma encantadora e bárbara do Rio”(RIO, 2011 [1908]:143) opondo-se ao carnaval da elite que era tipicamente europeu, apelando para o Pierrô e a Colombina e fala também das várias religiões que cercavam a cidade desde as cristãs até as africanas, dizendo “enquanto existir na terra um farrapo de humanidade, esse farrapo será um moinho de orações” (RIO, 2011 [1908]:79). A religião representava para a camada popular do Rio de Janeiro um suporte para sua miséria e dava sentido a tudo aquilo que envolvia as relações sociais Nas crônicas “A Rua” e “A Musa das Ruas”, o autor humaniza as ruas cariocas, mas fica claro que o que justifica o encanto delas são as ações sociais determinadas através das características de cada grupo que ali vivia: “Qual de vós já passou a noite em claro ouvindo o segredo de cada rua? Qual de vós já sentiu o mistério, o sono, o vício, as ideias de cada bairro?” (RIO, 2011 [1908]: 37). Ao transitar por elas como um flâneur, o escritor conclui na crônica “A Musa das Ruas” o porquê de haver algum encanto no cotidiano da camada popular: “Vagabundo sim! A Musa da cidade, a Musa constante e anônima, que tange todas as cordas da vida e é como a alma da multidão, a Musa triste é vagabunda, é livre, é pobre, é humilde. E por isso todos lhe sofrem a ingente fascinação, por isso a voz de um vagabundo, nas noites de luar, enche de lágrimas os olhos dos mais frios, por isso ninguém há que não a ame – flor de ideal nascida nas sarjetas, sonho 1 “O cordão é o Carnaval, o cordão é vida delirante, o cordão é o último elo das religiões pagãs.” – Festa de origem africana.
  • 5. 5 perpétuo da cidade à margem da poesia, riso e lágrima, poesia da encantadora alma das ruas!” (RIO, 2011 [1908]:252). As crônicas de João do Rio, que eram aparentemente apenas literárias, traziam uma forte crítica ao descaso do governo e da elite com relação à miséria em que vivia o povo. A crônica no geral desempenhou um papel fundamental na construção histórica do Rio de Janeiro durante a Primeira República, relatando os mínimos detalhes que originavam as glórias e as misérias da capital republicana que vivia obcecada em busca de uma sociedade paralela a parisiense. É a partir da Primeira República que a crônica passa a ser uma intersecção entre o Jornalismo e a Literatura. João do Rio nos permite compreendê-lo partindo da relação entre o uso dos fatos do cotidiano social e dos elementos literários. Sua visão atual do contexto vivido permitiu que captássemos diversas percepções a respeito das transformações que o Rio de Janeiro vivia: “Nesse sentido, a narrativa do cotidiano das ruas tecidas a partir do olhar do flâneur deixa-nos entrever a consciência de João do Rio do seu papel social enquanto escritor”. (CALADO, 2008:11) CONCLUSÃO O alto da sociedade carioca que desfrutava, de fato, o chamado “progresso” republicano olhava para o baixo social como se fosse selvagem segundo Nicolau Sevcenko 2. Havia um desejo de ser estrangeiro 3 que contrastava com as tradições populares da cidade do Rio de Janeiro. A relação da República com a população só as distanciou mais ainda uma da outra, provando que a cidadania nunca foi posta em prática na capital federal. O que possibilitou o reconhecimento da camada popular como, de fato, habitante e participante da transição do Império para a República foram as tradições que mesmo sofrendo intensas censuras da elite da belle époque, sobreviveram em meio aos padrões europeus incorporados pelo presidente Rodrigues Alves e pelo prefeito Pereira Passos no período de 1903 até 1906. A mudança urbana frenética que ocorreu no Rio de Janeiro estimulou a vergonha de ser brasileiro e o desejo de ser estrangeiro. Através das crônicas de João do Rio podemos verificar que a junção da literatura com o jornalismo serviu como denúncia de uma realidade. A essência literária na obra A Alma Encantadora das Ruas é baseada na experiência do autor diante dos episódios escritos. É autêntica e isso permite que haja uma interpretação reflexiva em suas crônicas que, de certa forma, persuadiam o leitor através do bom uso da palavra e da ironia. 2 “E por isso, quando o selvagem aparece, é como um parente que nos envergonha”. (SEVCENKO, 1983:35) 3
  • 6. 6 BIBLIOGRAFIA ABREU, Capistrano de. Estudos e Ensaios. São Paulo. Sociedade Capistrano de Abreu, 1931. AIMÉE, Aline. A crônica em foco: revisão da crítica e análise das características do gênero, in: Anais do XII Congresso Nacional de Linguistica e Filologia (Cadernos do CNLF), RJ: Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos (CiFEFiL) / UERJ, XII (7): 22-27, 2008 ALVES, Geraldo José. Decifra-me ou devoro-te. Uma reflexão sobre a percepção e instrumentalização das noções de texto e contexto no ensino de História e Literatura, in: SP: Dialogia, 1: 55-64, 2002 ASPERTI. Claro Miguel. Crônica: A suave ironia Bilaquiana na Gazeta de Notícias. SP: UNESP, 4 (2): 206-224, 2009 CALADO, Luciana Eleonora de Freitas. A Belle Époque nas crônicas de João do Rio: o olhar de um flâneur. in: Ninth International Congress of the Brazilian Studies Association, New Orleans, 01: 31-39, 2008 CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. SP: T. A. Queiroz/Publifolha, 2000 CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo. 1987. Editora Companhia das Letras. 216p OLIVEIRA, Cristiane de Jesus. Nas Entrelinhas da Cidade. A Reforma Urbana do Rio de Janeiro no Início do Século XX e sua Imagem na Literatura de Paulo Barreto. Juiz de Fora (MG): Universidade Federal de Juiz de Fora, 2006 [Dissertação de Mestrado] RIBERIO, Darcy. O Povo Brasileiro. São Paulo. Cia de Bolso, 2006. RIO, João do. A Alma Encantadora das Ruas. SP: Cia. das Letras, 2011 [1908] SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão – Tensões Sociais e Criação Cultural na Primeira República. São Paulo. 1983. Editora Brasiliense. TUZINO, Yolanda Maria Muniz. Crônica: uma intersecção entre o jornalismo e literatura, in: Biblioteca on- line de ciências da comunicação, 2009