1. A CRIAÇÃO - OLODUMARÉ
SEMINÁRIO – RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
2. O Todo
No mundo sagrado, a experiência religiosa era parte
integrante de cada um, da mesma forma como o sexo, a
cor da pele, os membros, a linguagem. Uma pessoa sem
religião era uma anomalia. Assim como HAMPATÉ BÁ
afirma através da tradição oral da história africana, o
espiritual e o material não estão dissociados. Se liga ao
comportamento e ao cotidiano do homem e da
comunidade. A cultura africana não é, portanto, algo
abstrato que possa ser isolado da vida. Ela envolve uma
visão particular do mundo, ou, melhor dizendo, uma
presença particular no mundo – um mundo concebido
como um Todo onde todas as coisas se religam e
interagem.
3. Deus nos Cultos Afro-brasileiros
Olodumaré é um dos nomes pelos quais os seguidores do Candomblé de
tradição Iorubá (Yorubá) e os da Umbanda nomeiam o Ser Supremo. Ele é o
Único Deus, Todopoderoso, o Criador de todo o Universo, o Autor de tudo o
que existe, existiu e existirá. O Supremo Arquiteto e Criador do céu, da terra,
das águas e da vida.
Tão sublime, Ele é a Divindade Suprema que reconhece toda e qualquer forma
de adoração a Ele, pois é O mesmo Deus Todo-poderoso adorado pelos
seguidores de outras religiões, pois Ele se manifestou aos seres humanos de
diversas maneiras, em lugares e épocas distintas – apesar do exclusivismo de
alguns movimentos religiosos que O querem só para eles –, utilizando-se para
isso da eterna e sensível linguagem da Natureza, expressa principalmente nos
Orixás e nos espíritos ancestrais, sendo ela a mais direta via de comunicação
com os seres humanos, quando quis nos transmitir suas mensagens sagradas,
dotando os seres humanos de capacidades sensoriais muito sofisticadas, de
forma que pudessem perceber a clara evidência de sua presença em tudo o que
existe ao nosso redor.
5. Rituais, oferendas e sacrifícios
Os ritos de sacrifício animal são destinados aos Orixás. O Ser Supremo, Olodumaré, não
solicita sacrifício com derramamento de sangue nem oferenda, pois Ele está acima das
contingências. A comunicação Homem-Deus é feita por pensamento e a palavra por
excelência é Axé, que significa “que assim seja”, ou “que Deus permita que isto
aconteça”, da qual os Orixás são seus intermediários e encaminhadores dos pedidos.
A magia dos trabalhos que se realizam no corpo físico tem por objetivo penetrar o
mundo metafísico, alcançar a matriz para modificar ou restabelecer o equilíbrio da
cópia, através das energias mineral, vegetal e animal. Orientado pela intenção, o desejo
atinge o alvo, liberando as propriedades necessárias:
Kò má ìkú — nada de morte
Kò má’run — nada de doenças
Kò má sè jó — nada de problemas
Kò má èpè — nada de maldades
À arin dede wa — entre todos nós.
6. O orixá Exu, na cosmologia
iorubá, possui funções bem
definidas. Por ser o
mensageiro e responsável
pela ligação entre os homens
e os demais Orixás, é a ele
que se destina a primeira
oferenda, antes de todos os
outros orixás, pois, sem ele,
não há a comunicação com os
outros, é como se eles não
escutassem o chamado dos
homens. (OLIVA, 2005).
7. Para os sacerdotes e pessoas comuns
entre os iorubás a função principal de Exu
é de representar a oposição à criação,
sendo o infrator das regras e da ordem.
(...) Incumbido por Olodumaré3 da tarefa
de mudar o que está parado, Exu recebe o
Adô, uma cabaça na qual se encontra a
força da transformação. (...) Exu destrói
para recriar. É o principio da desordem,
inseparável da estrutura da ordem; um
depende do outro. (...) Uma outra
característica de Exu, que se alia à idéia da
modificação e da recriação da ordem, é
seu aspecto fálico: (...) ele é o senhor dos
cruzamentos e dos caminhos, o que abre,
penetra e liga os mundos que formam o
universo religioso iorubá. (OLIVA, 2005, p.
19).
8. Deve-se ter em mente que, de maneira geral, todas as tradições africanas
postulam uma visão religiosa do mundo. (...) Na Europa, a palavra
“magia” é sempre tomada no mal sentido, enquanto que na África
designa unicamente o controle das forças, em si uma coisa neutra que
pode se tornar benéfica ou maléfica, conforme a direção que se lhe dê.
Como se diz: “Nem a magia nem o destino são maus em si. A utilização
que dele fazemos os torna bons ou maus”.
Hampaté-Bá
9. Candomblé X Umbanda
As consultas são as principais diferenças, visto que as outras são mais
pertinentes à atuação das “entidades guias” em seus trabalhos na Umbanda
e aos rituais internos do Candomblé.
• No Candomblé são feitas • Consultas são feitas através
através do “jogo de búzios” dos espíritos de Caboclos,
ou “Ifá”, não aceitando a Pretos-Velhos, Baianos,
comunicação de espíritos Exus, etc.
(eguns), sendo portanto
vetada sua incorporação.
10. Material X Espiritual
No mundo dessacralizado as coisas se
inverteram. Menos entre os homens comuns,
externos aos círculos acadêmicos, mas de
forma intensa entre aqueles que pretendem já
haver passado pela iluminação científica, o
embaraço frente à experiência religiosa
pessoal é inegável. Por razões óbvias.
Confessar-se religioso equivale a confessar-se
como habitante do mundo encantado e
mágico do passado, ainda que apenas
parcialmente. E o embaraço vai crescendo na
medida em que nos aproximamos das ciências
humanas, justamente aquelas que estudam a
religião.
11. Para a religiosidade africana, a natureza é
dotada de sacralidade. Nas religiões
monoteístas existe uma separação entre o que é
sagrado e o que não é. (Influência Capitalista)
Texto: Marina de Mello e Souza (em aula de
Lúcio Menezes)
13. Quando se fala em candomblé, geralmente a referência é o
candomblé queto, ou da chamada “nação queto, da Bahia,
vertente em que predominam os orixás e ritos de iniciação
de origem iorubá. Seus antigos terreiros são os mais
conhecidos e prestigiados do Brasil: a Casa Branca do
Engenho Velho, o candomblé do Alaketo, o Axé Opô Afonjá e
o Gantois.
As mães-de-santo que alcançaram grande prestígio e
visibilidade na sociedade local têm sido dessas casas, como
Pulquéria e Menininha, sua sobrinha-neta e sucessora no
candomblé do Gantois; Olga, do terreiro do Alaketo; e
Aninha, Senhora e Stella do candomblé Opô Afonjá.
19. Macumba no Rio de Janeiro
Gisele Omindarewa, de origem francesa, é hoje mãe de santo. Mudou-se para Santa
Cruz da Serra, na Baixada Fluminense, estado do Rio de Janeiro, e lá fundou um
terreiro de candomblé.
20. Música e Dança – os Ogans
• Toque de Candomblé é o mesmo que festa, pois se refere às batidas
dos atabaques, que possuem uma variedade significativa de ritmos
identificados com a necessidade do momento. São mais de 15
ritmos diferentes, acompanhados de cântico ou não. Esses toques
têm o poder de entrar em sintonia com o Orixá, pois fornecem
elementos como gestos e movimentos do corpo que entram em
afinidade de forma irresistível.
• As celebrações de barracão, os toques, consistem numa seqüência
de danças, em que, um por um, são honrados todos os Orixás, cada
um se manifestando no corpo de seus filhos e filhas, sendo vestidos
com roupas de cores específicas, usando nas mãos ferramentas e
objetos particulares a cada um deles, expressando-se em gestos e
passos que reproduzem simbolicamente cenas de suas biografias
míticas. Essa seqüência de música e dança, sempre ao som dos
tambores (chamados rum, rumpi e lé) é designada sirè, que em
iorubá significa "vamos dançar". O lado público do candomblé é
sempre festivo, bonito, esplendoroso, esteticamente exagerado e
extrovertido para os padrões europeus.
22. Música e Dança - Ogans
• Os atabaques são tocados
por Ogans confirmados
da Casa ou por visitantes
importantes,
merecedores de
homenagens especiais.
• Os atabaques são
instrumentos sagrados
que passam por rituais de
iniciação e recebem
obrigações como
verdadeiras divindades.
24. No dia 09 de dezembro foi veiculado pela imprensa nacional o caso do menino que tinha agulhas pelo corpo. Ficamos
consternados com o fato e, lógico, torcendo pelo seu pronto restabelecimento. Porém um pensamento grassou em nossa
mente: só falta dizerem, agora, que se trata de feitiçaria ou algo do gênero. Pensamos: "não, não é possível que isso tenha
sido feito em nome de algo tão belo como a Umbanda ou Candomblé". Infelizmente estávamos errados. Era possível!
Domingo, 20 de dezembro, assistimos à entrevista do padrasto da criança, Roberto Carlos Magalhães, ao Fantástico e
vimos que as entidades do universo religioso afro-brasileiro, mais uma vez, estavam sendo usadas. Mais uma vez, pessoas
sem nenhum escrúpulo ou moral, utilizavam-se das religiões afro-brasileiras para justificar ou perpetrar um ato vil e cruel.
Parte da entrevista, que pode ser vista em http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,MUL1422008-5598,00.html, nos mostra a
frieza de como os fatos aconteceram. Embebedavam a criança, Roberto Carlos e mais duas mulheres, e, em seguida,
enfiavam-lhe as agulhas no corpo. Roberto afirma que tudo era feito na casa de Angelina, uma pretensa "benzedeira",
sendo Bia, que, segundo Roberto era sua amásia, "trabalhava com os caboclos, com os orixás, para poder fazer isso", "era
ela que preparava o vinho para dopar o menino". Tudo isso para afetar a mãe da criança, que convivia com Roberto há
cerca de seis meses, às turras.
É triste vermos o ponto em que a loucura transforma alguns seres humanos! É triste vermos que, mais uma vez, as
entidades espirituais, que não tem nada a ver com isso, são feitas de bode expiatório para as sandices de malucos e
ignorantes (no pior sentido da palavra).
Caboclos e Orixás, parte indissociável das religiões afro-brasileiras, nunca poderão ser utilizados para justificar ou servirem
de muleta para perpetração de atos ignomiosos como esse, feito contra uma criança de dois anos, com o objetivo de matá-
la.
As religiões afro-brasileiras, especialmente os dirigentes de casas de Candomblé e Umbanda, precisam agir; precisam
orientar melhor seus seguidores e praticantes, para que coisas desse tipo não voltem a acontecer. Nossos amigos
espirituais não merecem a pecha de demônios diabólicos!
Mário Filho
Bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, com Especialização em Políticas Públicas de Gestão em
Segurança Pública e Ciências da Religião, Mestrando em Ciências da Religião (todos pela PUC/SP)
25.
26. “Se queres saber quem sou,
Se queres que te ensine o que sei,
Deixa um pouco de ser o que tu és
E esquece o que sabes”.
Tierno Bokar (o sábio de Bandiagara)
27. Bibliografia
• PRANDI, Reginaldo. As religiões negras do Brasil. Para uma sociologia
• dos cultos afro-brasileiros.
• BÂ, Hampaté. A tradição viva.
• MELLO E SOUZA, Marina de. África e Brasil africano.
• OLIVA, Anderson. As faces de Exu: representações européias acerca da cosmologia dos
• Orixás na África Ocidental (Séculos XIX e XX). In Revista Múltipla, Brasília: junho/2005.
(p. 9-37).
• SARACENI, Rubens. Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada: a religião dos mistérios,
um hino de amor a vida. São Paulo, ed. Madras, 2008.
• http://www.alagoas24horas.com.br
• http://afinsophia.com
• http://cafehistoria.ning.com
• http://www.casadeoxumare.com
28. SEMINÁRIO: RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
• DISCIPLINA: CULTURA AFRO-BRASILEIRA
• CURSO: LICENCIATUTA EM HISTÓRIA – 4º semestre
• PROFº. LÚCIO MENEZES
• Data: 28/11/2012 – Universidade Nove de Julho
• Autores: Emerson Mathias, Priscila Cassanti, Elaine
Aprígio e Carolina Fioravanti.