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Vontade e inconsciente
Uma impossibilidade é sempre a abertura de uma brecha, em que novas oportunidades
podem surgir mesmo que o sujeito não as possa observar nem perceber que elas possam
existir, porque ocultas não se dão a conhecer.
De inicio a aceitamos como desafio, nos rebelamos contra ela, mas de seguida podemos ficar
passivos, embora a aceitando, parece existir um desejo de a qualquer momento transformar
essa impossibilidade em possibilidade.
Sabemos bem, que agarrados a uma forma de estar na vida, tentamos recusar outro modo de
entender as coisas, relacionar com as pessoas e o mundo á nossa volta, como se fosse essa a
única maneira de o fazer.
De entre milhares de pessoas escolhemos uma para nos relacionar,nos apegamos como se
fosse a única criatura ao cimo da terra, como Adão e Eva. Esse elo, pura energia, que
designamos por afeto, ou amor, que une as pessoas, por vezes é tão grudento, que o indivíduo
prefere morrer do quedesprender-se de tal obsessão.
Desapegado à força do ventre materno, a criança desce a este mundo desconhecido para ela,
para de imediato se prender ao leite materno e ao corpo da mãe, que mais tarde não deseja
perder, pelo que a mãe deve desempenhar o papel de seguir a própria natureza deixando livre
a criança para começar a ter novas experiências, o que nem sempre acontece.
O desapego ao ventre materno, o desamparo, provoca em simultâneo a procura do amparo,
que mais tarde perante a morte só a terá através da visibilidade ilusória de algo que se
encontra para além dela.
O que antes era real, a mãe e o pai, já não existe mais, pelo que deverá imaginar uma outra
figura que possa desempenhar o papel do amparo, e essa sensação será mais intensa, quanto
mais for sentido o amparo, ou encontrar-se desamparada.
Acreditamos que o amparo e o desamparo sentidos, de forma mais ou menos intensa, pouco
terá de relação com a velha teoria de precisarmos uns dos outros, mas antes de não ser
permitido uma dose de autonomia bastante para não necessitarmos de bengalas.
Porque elas já não existem mais, a sensação de desamparo tende a evidenciar-se.
É a partir desta sensação de desamparo que o indivíduo procura algo, ou alguma coisa para
recuperar a sensação de amparo, e será a partir desse momento que as experiências
acontecem, que podem colidir, ou não, com o princípio de satisfação e prazer.
A impossibilidade de viver um grande amor devido a uma ruptura, cria a possibilidade da
procura na pessoa de outro, como a tentativa de o substituir nessa missão de sentir o amparo
anterior, em que percebemos a dependência relativamente a pessoas e coisas, que sem elas
parece ser impossível viver.
Dizemos que são pessoas frágeis e sensíveis a rupturas, a frustrações, mas nos esquecemos,
que alguém nos fez frágeis, por nos tornar dependentes, negando o caminho de outras
experiências de forma autônoma.
A vida, em sua natureza é um constante apego  desapego, basta reconhecer que do ventre
materno a criança passa para o exterior, cuja única ligação com o corpo da mãe, é seu leite
jorrado de seu corpo, em que sente o calor e o aconchego, mas de uma outra forma.
Segue-se a libertação da intimidade do corpo da criança com a mãe, que retirada do peito
senta-se à mesa para comer, num rumo natural até que consiga ter uma vida autônoma
constituindo-se seu próprio lar.
Quando interrompida esta forma natural, o adulto, embora o seja no corpo, não o será na
alma, porquanto apresenta grandes dificuldades em se apresentar sozinho perante a vida,
mesmo acompanhado que esteja, em que qualquer frustração o pode derrubar.
A nossa formação infantil que deveria seguir o rumo da própria natureza, tende a seguir
modelos artificiais urdidos pela própria sociedade, em que os conceitos de estética parecem
tomar a dianteira.
Entre o apego e desapego encontra-se pelo meio uma mãe em primeiro lugar, e o pai de
seguida, que desempenham um papel importante na tentativa de equilíbrio dessas duas
sensações, que embora possam subsistir sempre serão sentidas de forma menos intensa,
através do campo das experiências adquiridas como alternativa.
Sem esse caminho alternativo empurrado pelos pais para que a criança possa ser autônoma,
terá grandes dificuldades em o percorrer, porque nunca lhe fora dado a conhecer, daí a
resistência, por isso não o reconhece como válido, nem sabe como fazer.
O perverso sabe bem o caminho alternativo, o neurótico não, em virtude de seu sistema
psíquico estar invadido por duas leis distintas acerca da mesma coisa, ou assunto, ele se torna,
por isso, dissimulado por medo da punição, mas transgressor quando pressente que não possa
ser apanhado.
No neurótico prevalece a ideia da transgressão, como desejo por realizar, mas, na maioria das
vezes, realiza os desejos do outro, tornando-se num falso ativo, que damos conta de sua
reclamação mas não da atividade que possa levar à realização de seus desejos.
A semelhança entre perversão e neurose será a existência de dois desejos, com a diferença
que na perversão lhe foi permitidotransgredir em determinadas condições, que a este lhe foi
sempre negado, o que nos remete ao problema da formação infantil.
Devo acrescentar que não estamos objetivamente perante a problemática da repressão, mas
sim da não permissão, no que se refere ao indivíduo perverso, o que parece configurar um
dado novo quanto ao entendimento que devemos ter desse processo formativo, que não
conduz necessariamente à repressão.
Assim, o que depende da vontade de um corpo nele se encontra virgem, decerto sujeito a
outras vontades que lhe são alheias, tende a incorporar como processo secundário, em que o
grau de valorização depende do processo formativo, pelo que aquilo que era inconsciente se
tornou em consciência (sentido) do próprio corpo.
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  • 2. Entre o apego e desapego encontra-se pelo meio uma mãe em primeiro lugar, e o pai de seguida, que desempenham um papel importante na tentativa de equilíbrio dessas duas sensações, que embora possam subsistir sempre serão sentidas de forma menos intensa, através do campo das experiências adquiridas como alternativa. Sem esse caminho alternativo empurrado pelos pais para que a criança possa ser autônoma, terá grandes dificuldades em o percorrer, porque nunca lhe fora dado a conhecer, daí a resistência, por isso não o reconhece como válido, nem sabe como fazer. O perverso sabe bem o caminho alternativo, o neurótico não, em virtude de seu sistema psíquico estar invadido por duas leis distintas acerca da mesma coisa, ou assunto, ele se torna, por isso, dissimulado por medo da punição, mas transgressor quando pressente que não possa ser apanhado. No neurótico prevalece a ideia da transgressão, como desejo por realizar, mas, na maioria das vezes, realiza os desejos do outro, tornando-se num falso ativo, que damos conta de sua reclamação mas não da atividade que possa levar à realização de seus desejos. A semelhança entre perversão e neurose será a existência de dois desejos, com a diferença que na perversão lhe foi permitidotransgredir em determinadas condições, que a este lhe foi sempre negado, o que nos remete ao problema da formação infantil. Devo acrescentar que não estamos objetivamente perante a problemática da repressão, mas sim da não permissão, no que se refere ao indivíduo perverso, o que parece configurar um dado novo quanto ao entendimento que devemos ter desse processo formativo, que não conduz necessariamente à repressão. Assim, o que depende da vontade de um corpo nele se encontra virgem, decerto sujeito a outras vontades que lhe são alheias, tende a incorporar como processo secundário, em que o grau de valorização depende do processo formativo, pelo que aquilo que era inconsciente se tornou em consciência (sentido) do próprio corpo. De que vontade desejamos falar ?