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ANÁLISE DAS RESPOSTAS DA LOCALIDADE AO PROCESSO DE
GLOBALIZAÇÃO E DAS POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL: O
CASO DE BIRIGUI – SP
Andréia de Alcântara Cerizza1
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp Marília
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo campus Birigui
andreiadealcantara@ig.com.br
RESUMO
A partir da abertura econômica ocorrida no início dos anos 90, o Brasil enfrenta a concorrência global,
no mercado externo e interno, no setor calçadista. O maior produtor de calçados do mundo é a China
com 9 bilhões de pares anuais, em segundo lugar está a Índia, com 900 milhões e em terceiro o Brasil,
com 800 milhões. O estudo desenvolvido contempla as modificações ocorridas na indústria calçadista,
observadas num processo sócio-histórico, no enfrentamento de sucessivas crises do capitalismo e as
mudanças inerentes ao processo de globalização. Partindo dos estudos críticos sobre globalização,
globalidade e globalismo desenvolvidos por Ianni, e outros autores tais como Santos, Giddens, o
trabalho se configura especificamente sobre a cidade de Birigui-SP, identificando as mudanças do
sistema sócio-histórico capitalista, vivenciadas na localidade, pelo processo de industrialização
(fordismo, reestruturação produtiva) embasadas em Boltansky e Chiapello, Chesnais, Harvey, Sennet,
entre outros. Com mais de 100 anos de história, a cidade conta com 110 mil habitantes e o título de
Capital Nacional do Calçado Infantil. A partir de 1958, com o surgimento da primeira fábrica de
calçados, dos irmãos Assumpção, com 10 empregados e fabricando 20 pares/dia, inicia-se um processo
de crescimento vertiginoso nesse setor específico, produzindo atualmente 10% do calçado nacional
(ano), com mais de 21 mil trabalhadores. Nos últimos 20 anos, a localidade tem efetuado respostas ao
processo de globalização. O desdobramento do trabalho tem como objetivo analisar essas respostas,
verificando se são somente constituintes do processo de globalização e ou constitutivas de
Desenvolvimento Local.
Palavras - chave: Desenvolvimento Local, Globalização, Sociologia do Desenvolvimento, Brasil-
China, Competitividade dos Calçados Chineses.
1
Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico; Coordenadora de Pesquisa e Inovação –
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, campus Birigui.
Doutorado em Ciências Sociais Unesp Marília - linha de pesquisa: Relações Internacionais e
Desenvolvimento (em andamento); Mestre em Desenvolvimento Local UCDB, Especialista em
Administração Empresarial, Especialista em Educação Ambiental, Bacharel em Administração e
Licenciada em Formação Pedagógica.
Pesquisadora - Grupo de Pesquisas do BRIC - UNESP (Brasil; BRIC; China; Índia; Modelo de
Desenvolvimento; Rússia).
INTRODUÇÃO
Como discutir os efeitos da mundialização do capital no âmbito local? Como analisar
tais efeitos? Que tipologia de desenvolvimento se caracteriza como tal em uma realidade
global? E o desenvolvimento no local, é local? O local e o global se relacionam numa (in)
constância e diversidade de relações, fixos e fluxos, de redes sobre redes, de desigualdades
sociais e econômicas e proporcionam uma infinidade de indagações e estudos sobre o tema.
Na interconexão entre global e local, estudar as singularidades do local, objetivo desse
trabalho, num processo histórico simultaneamente global, se caracteriza, no aspecto
sociológico, como reflexão desafiadora, com múltiplas perspectivas, propostas teóricas, diante
de um contexto social complexo e transitório.
Atrela-se à discussão, outra dimensão complexa - desenvolvimento, observada pelo
prisma local, como bem-estar/qualidade de vida, caracterizado e protagonizado em âmbito
local, de acordo com o conceito de desenvolvimento valorizado pela localidade e de caráter
emancipatório2
. O estudo sobre desenvolvimento local que foi iniciado no mestrado3
e cuja
dissertação versou sobre as estruturas de governanças evidenciadas na cidade de Birigui-SP,
na perspectiva dos Arranjos e Sistemas Produtivos Locais; é retomado tendo como objetivo
geral analisar criticamente, numa perspectiva histórica, as respostas/reações da localidade ao
processo de globalização, desde a abertura econômica no início da década de 90 a atualidade;
e verificar se constituem exemplos de desenvolvimento local.
Partindo dos estudos críticos sobre globalização, globalidade e globalismo
desenvolvidos por Octavio Ianni, e outros autores tais como Milton Santos, Antony Giddens,
o trabalho se configura no processo de industrialização da cidade de Birigui-SP, identificando
as mudanças do sistema sócio-histórico capitalista, observados na localidade pela
industrialização ocorrida (fordismo, toyotismo, flexibilização - reestruturação produtiva)
(Boltansky e Chiapello, Chesnais, Harvey, Giddens, Sennet). O pressuposto do estudo é que
os efeitos do processo de globalização provocam o local a produzir respostas, observadas em
iniciativas de ações sócio-históricas de participação coletiva. Ao absorver a dinâmica global, o
local apresenta um modo próprio de exercer sua temporalidade e territorialidade, premissa
básica do desenvolvimento local.
BIRIGUI– RESPOSTAS DA LOCALIDADE AO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO A
PARTIR DAABERTURA ECONÔMICA DA DÉCADA DE 90
Em 1958, os irmãos Assumpção iniciaram a produção de calçado infantil em Birigui,
contando com 10 empregados e fabricando 20 pares por dia (SOUZA, 2006; VEDOVOTTO,
1996). Segundo Zampiere (1976), a escolha pela fabricação de calçado infantil se deu em
razão do conhecimento sobre a fabricação desse tipo de calçados e do mercado consumidor,
adquirido em São Paulo pelos irmãos Assumpção. Os irmãos Assumpção sabiam da existência
2
Conceito desenvolvido por Ávila (2000), Doutor em Política e Programação do Desenvolvimento/(enfoque
em)Educação e Emprego pela Université de Paris-I/Panthéon-Sorbonne (França). Professor aposentado da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul- UFMS. Foi docente das disciplinas Teoria do Desenvolvimento
Local e Desenvolvimento-Local, Comunidade e Comunitarização no Programa de Mestrado Acadêmico em
Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco -UCDB.
3
CERIZZA, A. A. Governanças do Arranjo Produtivo Local Calçadista Infantil de Birigui, São Paulo.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Local) – UCDB – Campo Grande, 2009.
das atividades de produção de calçados masculinos em Franca e feminino em Jaú, a pouca
concorrência no segmento infantil e a necessidade de menor investimento em relação aos
sapatos masculino e feminino.
Dentre os vários problemas enfrentados pelo pioneirismo, destaca-se a falta de mão de
obra especializada. Este problema foi contornado por meio da manutenção de uma banca
particular na capital (São Paulo), que cortava e pespontava o cabedal (parte superior do
calçado), restando então a montagem e o acabamento efetuados em Birigui (VEDOVOTTO,
1996). De acordo com Souza (2006) até a metade da década de 60 a cidade tinha quatro
empresas produtoras de calçados. Em 1965, as empresas produziram 316.000 pares e
contavam com 211 empregados. Na década sequente, 35 fábricas se instalaram e o elevado
número de novas empresas suscitou o aparecimento de empresas fornecedoras de insumos,
componentes e máquinas, num total de 12 empresas (SOUZA, 2006).
O crescimento nos anos setenta foi contínuo. Foi instalado um centro de treinamento
para a formação de trabalhadores especializados, pela necessidade e pelas frequentes
discórdias entre os empresários em virtude de mão de obra especializada escassa. Os
confrontos entre os empresários se davam pelo recrutamento desleal, onde eram oferecidos
vários benefícios para os empregados especializados em produção, para mudarem de empresa.
As fábricas de calçados de Birigui empregavam 347 trabalhadores em 1966, aumentando para
1.575, em 1972 e chegando a empregar no final da década de setenta 3.500 pessoas. A partir
desse período Birigui se tornou referência nacional em produção de calçados infantis, fato
percebido por meio de divulgação do Jornal Exclusivo (SOUZA, 2006).
Souza (2006) salienta que no começo dos anos 80, as empresas locais buscavam uma
inserção no mercado internacional. O intuito era desenvolver uma marca (uma característica)
que chamasse a atenção dos compradores internacionais e projetasse a especialidade das
empresas locais. Em 1989, havia 211 empresas, contra 49 em 1981. No mesmo período foram
instaladas 41 empresas, entre fornecedoras e representantes. Outro fator determinante para o
crescimento do arranjo, segundo Souza (2006), foi à utilização de materiais alternativos na
fabricação de calçados, em detrimento da utilização do couro. O encarecimento do couro, os
ganhos de produção decorrentes das facilidades em usar os materiais alternativos e a
consequente diminuição dos custos são considerados alguns motivos da substituição desta
matéria-prima, que tem expressiva representatividade junto ao custo total do calçado.
Na década de 90, o setor vivenciou uma crise decorrente do Plano Collor (1990) e do
Plano Real (1994). Neste processo de liberalização comercial nacional, observado por uma
nova política industrial e de comércio exterior, caracterizado fortemente entre 1988 e 1995,
pela diminuição de barreiras não tarifárias e consequentemente diminuição da proteção da
indústria local. O impacto no setor calçadista, particularmente o calçado infantil, foi
evidenciado principalmente pelo aumento das importações de calçados advindos da China.
Muitas empresas locais fecharam, outras se tornaram subcontratadas. Ocorreram demissões
em massa e nesse contexto foi observada a atuação do SINBI. O sindicato entregou um
manifesto à FIESP em 1995, expressando a maior dificuldade já enfrentada pelo arranjo até o
momento. Neste mesmo ano, a igreja católica se prontificou a ceder um salão da matriz para
que os empresários, juntamente com a Prefeitura, pudessem realizar duas feiras, intituladas
Feirão das Indústrias do Calçado de Birigui (I e II FIBI).
Em 1996, o sindicato desenvolveu junto aos empresários o “Programa Biriguiense de
Qualidade Total”, considerado pelos associados o gatilho motivador para estratégias conjuntas
do APL. Uma parceria entre o sindicato, o SEBRAE e a prefeitura viabilizou a realização de
uma palestra com um consultor renomado. 32 empresas participaram durante 2 anos de um
programa oferecido pela Fundação Christiano Ottoni (RIZZO, 2005). Em 1999 foi organizado
um consórcio para exportação. Algumas MPEs aderiram à ideia e desenvolveram uma
associação, nomeada APEMEBI, que obteve apoio da APEX – Agência de Promoção de
Exportação, órgão do governo instituído com o intuito de estimular as exportações (SOUZA,
2006).
Verifica-se, por algumas ações articuladas e desenvolvidas pelos agentes locais, que a
concepção de arranjo produtivo se materializa segundo a definição da REDESIST, em que os
Sistemas Produtivos Locais, ou SPLs, são conjuntos de agentes econômicos, políticos e
sociais que se constituem num dado território, desenvolvendo atividades similares e
congruentes, que apresentam articulações de produção, cooperação e aprendizagem. Os
APL(s) diferem dos SPL(s) pelo fato de não serem solidificados e não apresentarem
significativo vínculo entre os agentes (LASTRES e CASSIOLATO, 2005). No caso específico
da territorialidade observada pelas empresas em arranjos produtivos, para Albagli & Maciel
(2002) essas constituem o meio pelo qual as relações sociais, a cultura e os códigos da
população incidem diretamente sobre a atividade produtiva.
Os autores acrescentam que na concepção do desenvolvimento endógeno, “as relações
entre empresas constituem ainda um mecanismo fundamental de dinamismo das economias
locais e regionais” e reforçam, numa observação sistêmica, que esses arranjos envolvem
empresas e agentes locais, citando os organismos de pesquisa, educação e treinamento
(ALBAGLI & MACIEL, 2002, p. 16). O Arranjo Produtivo Local de Birigui destaca-se em
tamanho e importância, sendo considerado o maior produtor de calçados infantis do Brasil e
da América latina. Em 2012, segundo dados levantados pelo sindicato patronal local, o arranjo
possuía mais de 350 empresas que produziam 59.108 milhões de pares de calçados por ano.
As micro e pequenas empresas representam juntas, segundo o SINBI, mais de 70% das
empresas locais do setor calçadista. Comumente, são micro e pequenas empresas
independentes, que criam seus negócios mediante necessidade ou oportunidade de negócios,
ou são vinculadas às médias e grandes empresas, por meio de subcontratação. A participação
da produção de calçados infantis de Birigui frente ao cenário nacional representa 52%. O APL
possui uma produção significativa com relação ao calçado feminino, evidenciado pelo SINBI.
Segundo o sindicato patronal, em 2012, 17,4% da produção diária de calçados correspondeu a
calçados femininos.
A cidade recebe diariamente trabalhadores de vários municípios vizinhos, que fazem
parte do arranjo: Bilac, Braúna, Buritama, Clementina, Coroados, Gabriel Monteiro, Glicério,
Penápolis, Rinópolis, Brejo Alegre, entre outros e emprega 21.986 pessoas na atividade
econômica em destaque (SINBI, 2013). A estrutura produtiva local conta com uma gama de
empresas fornecedoras de matérias-primas, insumos, componentes, máquinas e equipamentos
e com um conjunto de agentes formalizados tais como sindicatos, centro de capacitação
técnica, juntamente com instituições informais tecem uma rede de relações, ditando
estratégias para o crescimento e competitividade do arranjo, conforme Figura 01.
Figura 01. Relações entre os agentes produtivos e organismos de apoio.
Representantes
Empresas Fornecedoras:
matrizarias, formas, facas,
fivelas, alta-frequência,
Escritórios de
Representação
Comercial
Lojas de Fábrica
Representantes
Autônomos
Bordados manuais/à
máquina
Bancas
Micro – pequenas
subcontratadas
Matérias-primas
Representantes
Empresas Fornecedoras:
embalagens, injetados, etiquetas
Médias - Grandes
Máquinas e
equipament
os
Organizações de apoio:
ABICALÇADOS, ASSINTECAL, SINBI, SEBRAE, SENAI, SESI, ETEC, IFSP
Prestação de Serviço
Comunicação Visual, Sistemas de Informatização, Manutenção de Máquinas/equipamentos;
Modelagem, Transportadoras Agências de Trabalho Temporário, Higiene e Segurança do Trabalho
Pesquisa de
Mercado
Micro – pequenas
independentes
Limites APL
Além da ascensão do calçado feminino, que está reorganizando o território do calçado
infantil, e que demonstra a versatilidade do APL em absorver novos focos dentro do setor,
outros destaques locais verificados foram governanças territoriais, as alianças regionais,
nacionais e internacionais. A análise dos sistemas de governança encontrados no arranjo
produtivo local de Birigui permitiu o desenho das redes de transação e de poder existentes no
APL, como também a identificação do papel do sindicato patronal denominado SINBI nessas
governanças. Nessa complexa teia de relações, três fatores cruciais foram apurados no tocante
as governanças estabelecidas.
A primeira constatação é que existem diferentes modos de governança estabelecidos
entre as empresas, tendo como fundamentação e comparativo os estudos de Storper &
Harrison (1991), apud Suzigan et al. (2002) e Humphrey & Schmitz (2000), apud Suzigan
(2002). Existem empresas de pequeno porte que possuem independência com as grandes
empresas, dispõem de seu próprio estilo e competem no mercado com as grandes de forma
igualitária. Já nas chamadas bancas, relações de quase hierarquia foram identificadas em
relação às empresas contratantes, que podem ser MPEs não subcontratadas, MPEs
subcontratadas e as médias e grandes empresas. Nas empresas subcontratadas com as grandes
empresas ocorre também uma relação de quase hierarquia, mas é possível encontrar uma
dependência mútua entre as subcontratadas e as contratantes.
As ações do APL são desenvolvidas e executadas coletivamente através dos órgãos de
apoio e da comunidade empresarial. A quantidade de projetos e as intensas manifestações de
cooperação entre os organismos de apoio e a comunidade empresarial, que compreendem
melhorias efetivas para a comunidade, são alicerçadas no sentimento de pertença da
comunidade empresarial que se identifica com as necessidades da população, não
negligenciando ou negando suas raízes. O SINBI destaca-se pelas ações em diferentes esferas,
atuando como articulador e parceiro de muitas atividades executadas e principalmente como
provedor de um sistema de governança equilibrado para o arranjo. As relações entre os
agentes foram fortalecidas no decorrer das décadas, passando por acréscimos significativos
em cenários de extrema dificuldade econômica para o setor, por meio de mobilização e
coordenação do SINBI.
Outro ponto a ser valorizado é a tecnologia no âmbito calçadista, traduzidos em
sistemas de tecnologia da informação e automação. O setor de serviços de informática cresceu
significativamente. A parte de automação é uma realidade vivenciada pelas grandes empresas,
porém em algumas etapas do processo produtivo. As iniciativas de capacitação tecnológica
são notadas principalmente no desenvolvimento de produtos. As grandes empresas do APL de
Birigui detêm o acesso rápido às tendências e as pesquisas de mercado e influenciam
empresas de menor porte sobre os modelos que efetivamente serão utilizados na próxima
estação.
Apesar da influencia das grandes empresas sobre algumas de porte menor, muitas
empresas obtêm também acesso às tendências de moda pelo Fórum de Design e Tecnologia,
da Assintecal e do SEBRAE, pelo Caderno de Tendências do SENAI. Essas organizações
trabalham unificadas no evento Fórum de Inspirações, realizado no SINBI anualmente. Outro
meio de acesso às tendências efetua-se por uma empresa prestadora de serviço, a Pesquisa e
Produto, que realiza pesquisas do mercado e das tendências da moda. Esses canais de
informações são importantes para as pequenas empresas, pois permitem diminuir suas
dependências para com as grandes empresas.
Houve também o fortalecimento de outros setores tais como comércio, inclusive lojas
de fábrica (em torno de 25), serviços, setor sucroalcooleiro, moveleiro, metalúrgico, têxtil
(confecções, mais de 80 empresas). A cidade tem participação significativa no setor agrícola,
responsável pela produção de 37,5% do milho, 30,8% do arroz, 30% da soja, 28% do sorgo
entre outras culturas (PREFEITURA MUNICIPAL DE BIRIGUI, 2013). Muitos desses
setores estão se mobilizando institucionalmente para obter representatividade no APL.
Diante da perspectiva sócio-histórica, foi possível verificar os diversos grupos
empresariais, sobretudo o calçadista infantil, representado por meio do SINBI, com
formatação em forma de rizoma, demonstram uma forte autonomia do arranjo na condução de
sua territorialidade, expressando sua cidadania de acordo com seus anseios e necessidades,
utilizando-se da interação e coesão para a resolução de problemas relacionados à vida em
comunidade. Nesse caso, o exercício autônomo da comunidade empresarial manifestou-se em
todos os âmbitos do arranjo através da articulação do sindicato, que extrapolou sua dimensão
setorial atuando em várias esferas, convergindo em exemplo de processo de desenvolvimento
local.
Porém, ao analisar as mudanças ocorridas, quanto de global, no sentido capitalista,
como novo espírito, modo libertário de fazer lucro (capitalismo de esquerda) possuem essas respostas?
(BOLTANSKI & CHIAPELLO, 2009). O maior produtor mundial de calçados atualmente é a
China com 9 bilhões de pares anuais, em segundo lugar está a Índia, com 900 milhões e em
terceiro o Brasil, com 800 milhões. Como competir com essa realidade global, onde os outros
setores locais em ascensão – moveleiro, metalúrgico e confecção são dominados também pela
China? Quais as possibilidades de sobrevivência e manutenção dessa localidade? O que
qualifica uma localidade – sua tradição, seu modo de exercer o poder, sua territorialidade? Em
que medida essas qualificações são notadamente locais e ou globais?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos resultados parciais, foi identificada a consolidação do Arranjo Produtivo Local
de Birigui na década de 90, paradoxalmente pelo enfrentamento de sucessivas crises advindas
principalmente da abertura econômica, forçando a localidade a responder mediante uma
reestruturação produtiva (terceirização, movimento pela qualidade total entre outros) e
empresarial, criação de associações de aporte, como exemplo a Associação de Pequenas e
Médias Empresas Exportadoras de Birigui - APEMEBI. No que tange aos trabalhadores –
intensa profissionalização e contratação de mão de obra especializada em outras cidades e
regiões, Demanda de novos agentes na rede de empresas, cooperação entre empresas,
crescimento do setor de serviços, falta de mão de obra, reivindicações trabalhistas.
A partir de 2000, outras respostas foram evidenciadas pelo arranjo produtivo local
diante da competitividade global: fortalecimento das governanças territoriais, formação de
alianças regionais, nacionais e internacionais, maiores investimentos em tecnologia:
informática e automação, fortalecimento de outros setores: comércio, serviços, setor
sucroalcooleiro, moveleiro, metalúrgico, confecção, agrícola; ascensão da produção de
calçados femininos; intensa escassez de mão de obra na indústria, fortalecendo as políticas de
recursos humanos das grandes empresas, no sentido de manter e angariar novos
colaboradores. O enfrentamento da crise capitalista mundial de 2008, com crescimento de
quase 3% no ano respectivo. O equilíbrio alcançado pela alíquota antidumping, aplicada nas
importações chinesas.
Diante de duas décadas de respostas ao processo de abertura econômica, a pesquisa se
confronta com a dialética local/global, as questionando se são somente constituintes do
processo de globalização e ou constitutivas de Desenvolvimento Local. Giddens (2011)
categoriza a globalização como um processo antagônico, pois ao mesmo tempo em que retira
poder ou influência das comunidades locais, cria novas demandas por autonomia local e
denota a globalização como causa do ressurgimento de identidades culturais locais em várias
partes do mundo.
O pressuposto do estudo é que os efeitos do processo de globalização provocam o
local a produzir respostas, observadas em iniciativas de ações sócio-históricas de participação
coletiva. Ao absorver a dinâmica global, o local apresenta um modo próprio de exercer sua
temporalidade e territorialidade, premissa básica do desenvolvimento local. Porém, no local,
verifica-se reduzida possibilidade de contrapor-se às problemáticas condicionantes da
globalização/globalidade. Outro fator a ser investigado é a dimensão hegemônica que o
conceitual sobre desenvolvimento geralmente se qualifica. A hipótese é de que existem
dimensões locais consideradas na perspectiva do desenvolvimento, como exemplo, poder e a
e a cultura local, mas atrelados à realidade global capitalista.
Ianni (2011) dimensiona a globalização como categoria nova de estudo, e não se trata
de reproduzir o que se compreende sobre a sociedade nacional e o indivíduo, e ressalta que
esses novos modos de verificação/compreensão podem modificar inclusive a modo atual das
categorias já existentes, pelas perspectivas múltiplas concernentes ao estudo do global.
Propriamente a observação, e estudo do local, exigem diversificadas propostas teóricas.
Refletir sobre o local/global na contemporaneidade exige uma pesquisa alargada, de absorção
de várias correntes e leituras concepções e seus duplos, se posicionar no sentido do
“também”, das possibilidades, no argumento, no debate, na coletividade. Diante da
continuidade da pesquisa, revela-se, entre tantas análises possíveis dos fenômenos
observados, a importância de extensão do objeto – não somente no processo de
industrialização, mas no contexto geral vivido da cidade, cidade aqui entendida como recorte
local-geográfico estabelecido para o estudo.
Ao estudar o local e seu duplo, percebe-se a necessidade de outras propostas teóricas,
inclusive da ação social como possibilidade. O estudo de DL e suas potencialidades,
embasado principalmente nas concepções de Ávila, responsável pela incursão da pesquisadora
nesse debate (ao ler seu artigo na revista Interações: “Pressuposto para a Formação
Educacional em Desenvolvimento Local”, sobre sua experiência no distrito de Pratinhas, a
pesquisadora sentiu o chamado) requer também uma observação de agência: “O que conta
mesmo é o tempo das possibilidades efetivamente criadas, o que, à sua época, cada geração
encontra disponível, isso a que chamamos de tempo empírico, cujas mudanças são marcadas
pela irrupção de novos objetos, de novas ações e relações e de novas ideias” (SANTOS, 2000,
p. 173).
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Política, Lua Nova no.46 São Paulo 1999. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
64451999000100007&script=sci_arttext. Acesso em 05/04/2013.
VALE, G. M. V. APLs de calçados – reestruturação produtiva e desafios no mercado global.
In:Terceira Conferência Brasileira de Arranjos Produtivos Locais, 2007. Disponível em
http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1199979448.pdf. Acesso em 05/04/2013.
VEDOVOTTO, N. M. Birigui: a revolução que começou pelos pés. São Paulo: Saga, 1996.
ZAMPIERE, H. Birigui, cidade industrial do Oeste Paulista. São Paulo, Dissertação de Mestrado,
USP-FFLCH, 1976.

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Análise das respostas da localidade de Birigui ao processo de globalização

  • 1. ANÁLISE DAS RESPOSTAS DA LOCALIDADE AO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO E DAS POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO DE BIRIGUI – SP Andréia de Alcântara Cerizza1 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp Marília Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo campus Birigui andreiadealcantara@ig.com.br RESUMO A partir da abertura econômica ocorrida no início dos anos 90, o Brasil enfrenta a concorrência global, no mercado externo e interno, no setor calçadista. O maior produtor de calçados do mundo é a China com 9 bilhões de pares anuais, em segundo lugar está a Índia, com 900 milhões e em terceiro o Brasil, com 800 milhões. O estudo desenvolvido contempla as modificações ocorridas na indústria calçadista, observadas num processo sócio-histórico, no enfrentamento de sucessivas crises do capitalismo e as mudanças inerentes ao processo de globalização. Partindo dos estudos críticos sobre globalização, globalidade e globalismo desenvolvidos por Ianni, e outros autores tais como Santos, Giddens, o trabalho se configura especificamente sobre a cidade de Birigui-SP, identificando as mudanças do sistema sócio-histórico capitalista, vivenciadas na localidade, pelo processo de industrialização (fordismo, reestruturação produtiva) embasadas em Boltansky e Chiapello, Chesnais, Harvey, Sennet, entre outros. Com mais de 100 anos de história, a cidade conta com 110 mil habitantes e o título de Capital Nacional do Calçado Infantil. A partir de 1958, com o surgimento da primeira fábrica de calçados, dos irmãos Assumpção, com 10 empregados e fabricando 20 pares/dia, inicia-se um processo de crescimento vertiginoso nesse setor específico, produzindo atualmente 10% do calçado nacional (ano), com mais de 21 mil trabalhadores. Nos últimos 20 anos, a localidade tem efetuado respostas ao processo de globalização. O desdobramento do trabalho tem como objetivo analisar essas respostas, verificando se são somente constituintes do processo de globalização e ou constitutivas de Desenvolvimento Local. Palavras - chave: Desenvolvimento Local, Globalização, Sociologia do Desenvolvimento, Brasil- China, Competitividade dos Calçados Chineses. 1 Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico; Coordenadora de Pesquisa e Inovação – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, campus Birigui. Doutorado em Ciências Sociais Unesp Marília - linha de pesquisa: Relações Internacionais e Desenvolvimento (em andamento); Mestre em Desenvolvimento Local UCDB, Especialista em Administração Empresarial, Especialista em Educação Ambiental, Bacharel em Administração e Licenciada em Formação Pedagógica. Pesquisadora - Grupo de Pesquisas do BRIC - UNESP (Brasil; BRIC; China; Índia; Modelo de Desenvolvimento; Rússia).
  • 2. INTRODUÇÃO Como discutir os efeitos da mundialização do capital no âmbito local? Como analisar tais efeitos? Que tipologia de desenvolvimento se caracteriza como tal em uma realidade global? E o desenvolvimento no local, é local? O local e o global se relacionam numa (in) constância e diversidade de relações, fixos e fluxos, de redes sobre redes, de desigualdades sociais e econômicas e proporcionam uma infinidade de indagações e estudos sobre o tema. Na interconexão entre global e local, estudar as singularidades do local, objetivo desse trabalho, num processo histórico simultaneamente global, se caracteriza, no aspecto sociológico, como reflexão desafiadora, com múltiplas perspectivas, propostas teóricas, diante de um contexto social complexo e transitório. Atrela-se à discussão, outra dimensão complexa - desenvolvimento, observada pelo prisma local, como bem-estar/qualidade de vida, caracterizado e protagonizado em âmbito local, de acordo com o conceito de desenvolvimento valorizado pela localidade e de caráter emancipatório2 . O estudo sobre desenvolvimento local que foi iniciado no mestrado3 e cuja dissertação versou sobre as estruturas de governanças evidenciadas na cidade de Birigui-SP, na perspectiva dos Arranjos e Sistemas Produtivos Locais; é retomado tendo como objetivo geral analisar criticamente, numa perspectiva histórica, as respostas/reações da localidade ao processo de globalização, desde a abertura econômica no início da década de 90 a atualidade; e verificar se constituem exemplos de desenvolvimento local. Partindo dos estudos críticos sobre globalização, globalidade e globalismo desenvolvidos por Octavio Ianni, e outros autores tais como Milton Santos, Antony Giddens, o trabalho se configura no processo de industrialização da cidade de Birigui-SP, identificando as mudanças do sistema sócio-histórico capitalista, observados na localidade pela industrialização ocorrida (fordismo, toyotismo, flexibilização - reestruturação produtiva) (Boltansky e Chiapello, Chesnais, Harvey, Giddens, Sennet). O pressuposto do estudo é que os efeitos do processo de globalização provocam o local a produzir respostas, observadas em iniciativas de ações sócio-históricas de participação coletiva. Ao absorver a dinâmica global, o local apresenta um modo próprio de exercer sua temporalidade e territorialidade, premissa básica do desenvolvimento local. BIRIGUI– RESPOSTAS DA LOCALIDADE AO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO A PARTIR DAABERTURA ECONÔMICA DA DÉCADA DE 90 Em 1958, os irmãos Assumpção iniciaram a produção de calçado infantil em Birigui, contando com 10 empregados e fabricando 20 pares por dia (SOUZA, 2006; VEDOVOTTO, 1996). Segundo Zampiere (1976), a escolha pela fabricação de calçado infantil se deu em razão do conhecimento sobre a fabricação desse tipo de calçados e do mercado consumidor, adquirido em São Paulo pelos irmãos Assumpção. Os irmãos Assumpção sabiam da existência 2 Conceito desenvolvido por Ávila (2000), Doutor em Política e Programação do Desenvolvimento/(enfoque em)Educação e Emprego pela Université de Paris-I/Panthéon-Sorbonne (França). Professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul- UFMS. Foi docente das disciplinas Teoria do Desenvolvimento Local e Desenvolvimento-Local, Comunidade e Comunitarização no Programa de Mestrado Acadêmico em Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco -UCDB. 3 CERIZZA, A. A. Governanças do Arranjo Produtivo Local Calçadista Infantil de Birigui, São Paulo. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Local) – UCDB – Campo Grande, 2009.
  • 3. das atividades de produção de calçados masculinos em Franca e feminino em Jaú, a pouca concorrência no segmento infantil e a necessidade de menor investimento em relação aos sapatos masculino e feminino. Dentre os vários problemas enfrentados pelo pioneirismo, destaca-se a falta de mão de obra especializada. Este problema foi contornado por meio da manutenção de uma banca particular na capital (São Paulo), que cortava e pespontava o cabedal (parte superior do calçado), restando então a montagem e o acabamento efetuados em Birigui (VEDOVOTTO, 1996). De acordo com Souza (2006) até a metade da década de 60 a cidade tinha quatro empresas produtoras de calçados. Em 1965, as empresas produziram 316.000 pares e contavam com 211 empregados. Na década sequente, 35 fábricas se instalaram e o elevado número de novas empresas suscitou o aparecimento de empresas fornecedoras de insumos, componentes e máquinas, num total de 12 empresas (SOUZA, 2006). O crescimento nos anos setenta foi contínuo. Foi instalado um centro de treinamento para a formação de trabalhadores especializados, pela necessidade e pelas frequentes discórdias entre os empresários em virtude de mão de obra especializada escassa. Os confrontos entre os empresários se davam pelo recrutamento desleal, onde eram oferecidos vários benefícios para os empregados especializados em produção, para mudarem de empresa. As fábricas de calçados de Birigui empregavam 347 trabalhadores em 1966, aumentando para 1.575, em 1972 e chegando a empregar no final da década de setenta 3.500 pessoas. A partir desse período Birigui se tornou referência nacional em produção de calçados infantis, fato percebido por meio de divulgação do Jornal Exclusivo (SOUZA, 2006). Souza (2006) salienta que no começo dos anos 80, as empresas locais buscavam uma inserção no mercado internacional. O intuito era desenvolver uma marca (uma característica) que chamasse a atenção dos compradores internacionais e projetasse a especialidade das empresas locais. Em 1989, havia 211 empresas, contra 49 em 1981. No mesmo período foram instaladas 41 empresas, entre fornecedoras e representantes. Outro fator determinante para o crescimento do arranjo, segundo Souza (2006), foi à utilização de materiais alternativos na fabricação de calçados, em detrimento da utilização do couro. O encarecimento do couro, os ganhos de produção decorrentes das facilidades em usar os materiais alternativos e a consequente diminuição dos custos são considerados alguns motivos da substituição desta matéria-prima, que tem expressiva representatividade junto ao custo total do calçado. Na década de 90, o setor vivenciou uma crise decorrente do Plano Collor (1990) e do Plano Real (1994). Neste processo de liberalização comercial nacional, observado por uma nova política industrial e de comércio exterior, caracterizado fortemente entre 1988 e 1995, pela diminuição de barreiras não tarifárias e consequentemente diminuição da proteção da indústria local. O impacto no setor calçadista, particularmente o calçado infantil, foi evidenciado principalmente pelo aumento das importações de calçados advindos da China. Muitas empresas locais fecharam, outras se tornaram subcontratadas. Ocorreram demissões em massa e nesse contexto foi observada a atuação do SINBI. O sindicato entregou um manifesto à FIESP em 1995, expressando a maior dificuldade já enfrentada pelo arranjo até o momento. Neste mesmo ano, a igreja católica se prontificou a ceder um salão da matriz para que os empresários, juntamente com a Prefeitura, pudessem realizar duas feiras, intituladas Feirão das Indústrias do Calçado de Birigui (I e II FIBI). Em 1996, o sindicato desenvolveu junto aos empresários o “Programa Biriguiense de Qualidade Total”, considerado pelos associados o gatilho motivador para estratégias conjuntas do APL. Uma parceria entre o sindicato, o SEBRAE e a prefeitura viabilizou a realização de uma palestra com um consultor renomado. 32 empresas participaram durante 2 anos de um
  • 4. programa oferecido pela Fundação Christiano Ottoni (RIZZO, 2005). Em 1999 foi organizado um consórcio para exportação. Algumas MPEs aderiram à ideia e desenvolveram uma associação, nomeada APEMEBI, que obteve apoio da APEX – Agência de Promoção de Exportação, órgão do governo instituído com o intuito de estimular as exportações (SOUZA, 2006). Verifica-se, por algumas ações articuladas e desenvolvidas pelos agentes locais, que a concepção de arranjo produtivo se materializa segundo a definição da REDESIST, em que os Sistemas Produtivos Locais, ou SPLs, são conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais que se constituem num dado território, desenvolvendo atividades similares e congruentes, que apresentam articulações de produção, cooperação e aprendizagem. Os APL(s) diferem dos SPL(s) pelo fato de não serem solidificados e não apresentarem significativo vínculo entre os agentes (LASTRES e CASSIOLATO, 2005). No caso específico da territorialidade observada pelas empresas em arranjos produtivos, para Albagli & Maciel (2002) essas constituem o meio pelo qual as relações sociais, a cultura e os códigos da população incidem diretamente sobre a atividade produtiva. Os autores acrescentam que na concepção do desenvolvimento endógeno, “as relações entre empresas constituem ainda um mecanismo fundamental de dinamismo das economias locais e regionais” e reforçam, numa observação sistêmica, que esses arranjos envolvem empresas e agentes locais, citando os organismos de pesquisa, educação e treinamento (ALBAGLI & MACIEL, 2002, p. 16). O Arranjo Produtivo Local de Birigui destaca-se em tamanho e importância, sendo considerado o maior produtor de calçados infantis do Brasil e da América latina. Em 2012, segundo dados levantados pelo sindicato patronal local, o arranjo possuía mais de 350 empresas que produziam 59.108 milhões de pares de calçados por ano. As micro e pequenas empresas representam juntas, segundo o SINBI, mais de 70% das empresas locais do setor calçadista. Comumente, são micro e pequenas empresas independentes, que criam seus negócios mediante necessidade ou oportunidade de negócios, ou são vinculadas às médias e grandes empresas, por meio de subcontratação. A participação da produção de calçados infantis de Birigui frente ao cenário nacional representa 52%. O APL possui uma produção significativa com relação ao calçado feminino, evidenciado pelo SINBI. Segundo o sindicato patronal, em 2012, 17,4% da produção diária de calçados correspondeu a calçados femininos. A cidade recebe diariamente trabalhadores de vários municípios vizinhos, que fazem parte do arranjo: Bilac, Braúna, Buritama, Clementina, Coroados, Gabriel Monteiro, Glicério, Penápolis, Rinópolis, Brejo Alegre, entre outros e emprega 21.986 pessoas na atividade econômica em destaque (SINBI, 2013). A estrutura produtiva local conta com uma gama de empresas fornecedoras de matérias-primas, insumos, componentes, máquinas e equipamentos e com um conjunto de agentes formalizados tais como sindicatos, centro de capacitação técnica, juntamente com instituições informais tecem uma rede de relações, ditando estratégias para o crescimento e competitividade do arranjo, conforme Figura 01.
  • 5. Figura 01. Relações entre os agentes produtivos e organismos de apoio. Representantes Empresas Fornecedoras: matrizarias, formas, facas, fivelas, alta-frequência, Escritórios de Representação Comercial Lojas de Fábrica Representantes Autônomos Bordados manuais/à máquina Bancas Micro – pequenas subcontratadas Matérias-primas Representantes Empresas Fornecedoras: embalagens, injetados, etiquetas Médias - Grandes Máquinas e equipament os Organizações de apoio: ABICALÇADOS, ASSINTECAL, SINBI, SEBRAE, SENAI, SESI, ETEC, IFSP Prestação de Serviço Comunicação Visual, Sistemas de Informatização, Manutenção de Máquinas/equipamentos; Modelagem, Transportadoras Agências de Trabalho Temporário, Higiene e Segurança do Trabalho Pesquisa de Mercado Micro – pequenas independentes Limites APL
  • 6. Além da ascensão do calçado feminino, que está reorganizando o território do calçado infantil, e que demonstra a versatilidade do APL em absorver novos focos dentro do setor, outros destaques locais verificados foram governanças territoriais, as alianças regionais, nacionais e internacionais. A análise dos sistemas de governança encontrados no arranjo produtivo local de Birigui permitiu o desenho das redes de transação e de poder existentes no APL, como também a identificação do papel do sindicato patronal denominado SINBI nessas governanças. Nessa complexa teia de relações, três fatores cruciais foram apurados no tocante as governanças estabelecidas. A primeira constatação é que existem diferentes modos de governança estabelecidos entre as empresas, tendo como fundamentação e comparativo os estudos de Storper & Harrison (1991), apud Suzigan et al. (2002) e Humphrey & Schmitz (2000), apud Suzigan (2002). Existem empresas de pequeno porte que possuem independência com as grandes empresas, dispõem de seu próprio estilo e competem no mercado com as grandes de forma igualitária. Já nas chamadas bancas, relações de quase hierarquia foram identificadas em relação às empresas contratantes, que podem ser MPEs não subcontratadas, MPEs subcontratadas e as médias e grandes empresas. Nas empresas subcontratadas com as grandes empresas ocorre também uma relação de quase hierarquia, mas é possível encontrar uma dependência mútua entre as subcontratadas e as contratantes. As ações do APL são desenvolvidas e executadas coletivamente através dos órgãos de apoio e da comunidade empresarial. A quantidade de projetos e as intensas manifestações de cooperação entre os organismos de apoio e a comunidade empresarial, que compreendem melhorias efetivas para a comunidade, são alicerçadas no sentimento de pertença da comunidade empresarial que se identifica com as necessidades da população, não negligenciando ou negando suas raízes. O SINBI destaca-se pelas ações em diferentes esferas, atuando como articulador e parceiro de muitas atividades executadas e principalmente como provedor de um sistema de governança equilibrado para o arranjo. As relações entre os agentes foram fortalecidas no decorrer das décadas, passando por acréscimos significativos em cenários de extrema dificuldade econômica para o setor, por meio de mobilização e coordenação do SINBI. Outro ponto a ser valorizado é a tecnologia no âmbito calçadista, traduzidos em sistemas de tecnologia da informação e automação. O setor de serviços de informática cresceu significativamente. A parte de automação é uma realidade vivenciada pelas grandes empresas, porém em algumas etapas do processo produtivo. As iniciativas de capacitação tecnológica são notadas principalmente no desenvolvimento de produtos. As grandes empresas do APL de Birigui detêm o acesso rápido às tendências e as pesquisas de mercado e influenciam empresas de menor porte sobre os modelos que efetivamente serão utilizados na próxima estação. Apesar da influencia das grandes empresas sobre algumas de porte menor, muitas empresas obtêm também acesso às tendências de moda pelo Fórum de Design e Tecnologia, da Assintecal e do SEBRAE, pelo Caderno de Tendências do SENAI. Essas organizações trabalham unificadas no evento Fórum de Inspirações, realizado no SINBI anualmente. Outro meio de acesso às tendências efetua-se por uma empresa prestadora de serviço, a Pesquisa e Produto, que realiza pesquisas do mercado e das tendências da moda. Esses canais de informações são importantes para as pequenas empresas, pois permitem diminuir suas dependências para com as grandes empresas. Houve também o fortalecimento de outros setores tais como comércio, inclusive lojas de fábrica (em torno de 25), serviços, setor sucroalcooleiro, moveleiro, metalúrgico, têxtil (confecções, mais de 80 empresas). A cidade tem participação significativa no setor agrícola,
  • 7. responsável pela produção de 37,5% do milho, 30,8% do arroz, 30% da soja, 28% do sorgo entre outras culturas (PREFEITURA MUNICIPAL DE BIRIGUI, 2013). Muitos desses setores estão se mobilizando institucionalmente para obter representatividade no APL. Diante da perspectiva sócio-histórica, foi possível verificar os diversos grupos empresariais, sobretudo o calçadista infantil, representado por meio do SINBI, com formatação em forma de rizoma, demonstram uma forte autonomia do arranjo na condução de sua territorialidade, expressando sua cidadania de acordo com seus anseios e necessidades, utilizando-se da interação e coesão para a resolução de problemas relacionados à vida em comunidade. Nesse caso, o exercício autônomo da comunidade empresarial manifestou-se em todos os âmbitos do arranjo através da articulação do sindicato, que extrapolou sua dimensão setorial atuando em várias esferas, convergindo em exemplo de processo de desenvolvimento local. Porém, ao analisar as mudanças ocorridas, quanto de global, no sentido capitalista, como novo espírito, modo libertário de fazer lucro (capitalismo de esquerda) possuem essas respostas? (BOLTANSKI & CHIAPELLO, 2009). O maior produtor mundial de calçados atualmente é a China com 9 bilhões de pares anuais, em segundo lugar está a Índia, com 900 milhões e em terceiro o Brasil, com 800 milhões. Como competir com essa realidade global, onde os outros setores locais em ascensão – moveleiro, metalúrgico e confecção são dominados também pela China? Quais as possibilidades de sobrevivência e manutenção dessa localidade? O que qualifica uma localidade – sua tradição, seu modo de exercer o poder, sua territorialidade? Em que medida essas qualificações são notadamente locais e ou globais? CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelos resultados parciais, foi identificada a consolidação do Arranjo Produtivo Local de Birigui na década de 90, paradoxalmente pelo enfrentamento de sucessivas crises advindas principalmente da abertura econômica, forçando a localidade a responder mediante uma reestruturação produtiva (terceirização, movimento pela qualidade total entre outros) e empresarial, criação de associações de aporte, como exemplo a Associação de Pequenas e Médias Empresas Exportadoras de Birigui - APEMEBI. No que tange aos trabalhadores – intensa profissionalização e contratação de mão de obra especializada em outras cidades e regiões, Demanda de novos agentes na rede de empresas, cooperação entre empresas, crescimento do setor de serviços, falta de mão de obra, reivindicações trabalhistas. A partir de 2000, outras respostas foram evidenciadas pelo arranjo produtivo local diante da competitividade global: fortalecimento das governanças territoriais, formação de alianças regionais, nacionais e internacionais, maiores investimentos em tecnologia: informática e automação, fortalecimento de outros setores: comércio, serviços, setor sucroalcooleiro, moveleiro, metalúrgico, confecção, agrícola; ascensão da produção de calçados femininos; intensa escassez de mão de obra na indústria, fortalecendo as políticas de recursos humanos das grandes empresas, no sentido de manter e angariar novos colaboradores. O enfrentamento da crise capitalista mundial de 2008, com crescimento de quase 3% no ano respectivo. O equilíbrio alcançado pela alíquota antidumping, aplicada nas importações chinesas. Diante de duas décadas de respostas ao processo de abertura econômica, a pesquisa se confronta com a dialética local/global, as questionando se são somente constituintes do
  • 8. processo de globalização e ou constitutivas de Desenvolvimento Local. Giddens (2011) categoriza a globalização como um processo antagônico, pois ao mesmo tempo em que retira poder ou influência das comunidades locais, cria novas demandas por autonomia local e denota a globalização como causa do ressurgimento de identidades culturais locais em várias partes do mundo. O pressuposto do estudo é que os efeitos do processo de globalização provocam o local a produzir respostas, observadas em iniciativas de ações sócio-históricas de participação coletiva. Ao absorver a dinâmica global, o local apresenta um modo próprio de exercer sua temporalidade e territorialidade, premissa básica do desenvolvimento local. Porém, no local, verifica-se reduzida possibilidade de contrapor-se às problemáticas condicionantes da globalização/globalidade. Outro fator a ser investigado é a dimensão hegemônica que o conceitual sobre desenvolvimento geralmente se qualifica. A hipótese é de que existem dimensões locais consideradas na perspectiva do desenvolvimento, como exemplo, poder e a e a cultura local, mas atrelados à realidade global capitalista. Ianni (2011) dimensiona a globalização como categoria nova de estudo, e não se trata de reproduzir o que se compreende sobre a sociedade nacional e o indivíduo, e ressalta que esses novos modos de verificação/compreensão podem modificar inclusive a modo atual das categorias já existentes, pelas perspectivas múltiplas concernentes ao estudo do global. Propriamente a observação, e estudo do local, exigem diversificadas propostas teóricas. Refletir sobre o local/global na contemporaneidade exige uma pesquisa alargada, de absorção de várias correntes e leituras concepções e seus duplos, se posicionar no sentido do “também”, das possibilidades, no argumento, no debate, na coletividade. Diante da continuidade da pesquisa, revela-se, entre tantas análises possíveis dos fenômenos observados, a importância de extensão do objeto – não somente no processo de industrialização, mas no contexto geral vivido da cidade, cidade aqui entendida como recorte local-geográfico estabelecido para o estudo. Ao estudar o local e seu duplo, percebe-se a necessidade de outras propostas teóricas, inclusive da ação social como possibilidade. O estudo de DL e suas potencialidades, embasado principalmente nas concepções de Ávila, responsável pela incursão da pesquisadora nesse debate (ao ler seu artigo na revista Interações: “Pressuposto para a Formação Educacional em Desenvolvimento Local”, sobre sua experiência no distrito de Pratinhas, a pesquisadora sentiu o chamado) requer também uma observação de agência: “O que conta mesmo é o tempo das possibilidades efetivamente criadas, o que, à sua época, cada geração encontra disponível, isso a que chamamos de tempo empírico, cujas mudanças são marcadas pela irrupção de novos objetos, de novas ações e relações e de novas ideias” (SANTOS, 2000, p. 173). BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALBAGLI, S; MACIEL, M.L. Capital Social e Empreendedorismo Local. in: LASTRES et al. (coord.)Proposição de políticas para a promoção de sistemas produtivos locais de micro, pequenas e médias empresas, 2002. Disponível em http://www.redesist.ie.ufrj.br. Acesso em 20/07/13.
  • 9. ALBAGLI, S. Território e Territorialidade. in: LAGES, V; BRAGA, C; MORELLI, G. (org). Territórios em movimento: Cultura e Identidade com Estratégia de Inserção Competitiva. Rio de Janeiro: Relume Dumará/ Brasília, DF: SEBRAE, 2004. Disponível em http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/BDS.nsf/304869CC2D5D5FBF0325713F004CC682 /$File/NT000A61AE.pdf. Acesso em 20/07/13. ÁVILA, V. F.. Pressupostos para formação educacional em desenvolvimento local. In: Interações - Revista Internacional de Desenvolvimento Local (1), set. 2000, p.63 a 75. BNDES. Indústria calçadista e estratégias de fortalecimento da competitividade. Disponível em http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/b nset/set3104.pdf.Acesso em 20/07/2013. BNDES, Arranjos Produtivos Locais e Desenvolvimento. Versão Preliminar. 2004. BOISIER, S. ¿Hay espacio para el desarrollo local en la globalización ? Revista de la CEPAL, Santiago do Chile, n. 86, p. 47-62, agosto de 2005. Disponível em http://www.cepal.org/publicaciones/xml/1/22211/G2282eBoisier.pdf. Acesso em 20/05/13. BOLTANSKI, L.; CHIAPELLO, È. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. BORJA, J. El espacio público, ciudad y ciudadanía. Zaida Muxí. Barcelona, 2000. CASSAROTTO FILHO, N; PIRES, L. H. Redes de Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento Local. 2ed. São Paulo: Atlas, 2001. CASTELLS, M. e BORJA, J. As cidades como atores políticos. Novos Estudos - CEBRAP, N.º 45, julho 1996. CERIZZA, A. A. Governanças do Arranjo Produtivo Local Calçadista Infantil de Birigui, São Paulo. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Local) – UCDB – Campo Grande, 2009. GIDDENS, A. Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós. Rio de Janeiro: Record, 2011. IANNI, O. A sociologia e o mundo moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E.Arranjos Produtivos Locais: Uma Nova Estratégia de Ação para o SEBRAE. Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos Locais- 5ª Revisão, 2005. Disponível em: Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais, em www.ie.ufrj.br/redesist. Acesso em 20/01/2013. MARSHALL, A. Concentração de Indústrias Especializadas. In Princípios de economia: tratado introdutório. Capítulo X. São Paulo: Abril Cultural, 1982. PREFEITURA MUNICIPAL DE BIRIGÜI, Birigui: a história. Disponível em: http://www.birigüi.sp.gov.br/cidade/historia1.html. Acesso em: 08/07/2013. RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ed. Ática, 1994. RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
  • 10. RIZZO, R. M. A Evolução da Indústria Calçadista de Birigui: um estudo sobre a capital brasileira do calçado infantil. São Paulo: Boreal, 2005. SANTOS, M. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. São Pauto: Record, 2000. SASSEN, S. As cidades na economia mundial. São Paulo: Estúdio Nobel, 1998. SCHUMPETER, J. A. A teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural (Coleção Os economistas), 1982. SENNETT, R. A cultura do novo capitalismo. Tradução Clóvis Marques. Rio de Janeiro: São Paulo: Record, 2006. SEN, A.;KLIKSBERG, B. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. SILVESTRIN, L. E.; TRICHES, D. Análise do setor calçadista brasileiro no período de 1994 a 2004. Disponível em http://www.proppi.uff.br/revistaeconomica/sites/default/files/V.10_N.1_Luisiane_Evelise__Divanildo_ Triches.pdf. Acesso em 26/01/2013. SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DE CALÇADOS E VESTUÁRIO DE BIRIGÜI (SINBI), Disponível em http://www.sindicato.org.br/cpub/pt/site/index.php. Acesso em: 05/01/2013. SOBEET. Internacionalização das empresas brasileiras. São Paulo: Clio Editora, 2007. SOUZA, M. A . B. Aglomeração calçadista de Birigüi: origem e desenvolvimento (1958-2004). Editora do Escritor, 2006. SUZIGAN, W. Estruturas de Governança e Cooperação em APLs. Seminário BNDES: APLs como instrumento de desenvolvimento, set/2004. SUZIGAN, W.; GARCIA, R.; FURTADO, J.; SAMPAIO, S.E. K. Coeficientes de Gini locacionais – GL: aplicação à indústria de calçados do Estado de São Paulo. Nova Economia_Belo Horizonte_13 (2)_39-60_julho-dezembro de 2003. SZAPIRO, M. ; ANDRADE, M. Internacionalização em Arranjos e Sistemas de MPME – NT1.8. Disponível em http://www.ie.ufrj.br/redesist/NTF1/NT%2008%20-%20Internacionalizacao.pdf. Acesso em 24/01/2013. TEIXEIRA, E. C. T. Participação cidadã na sociedade civil global. In: Lua Nova: Revista de Cultura e Política, Lua Nova no.46 São Paulo 1999. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102- 64451999000100007&script=sci_arttext. Acesso em 05/04/2013. VALE, G. M. V. APLs de calçados – reestruturação produtiva e desafios no mercado global. In:Terceira Conferência Brasileira de Arranjos Produtivos Locais, 2007. Disponível em http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1199979448.pdf. Acesso em 05/04/2013. VEDOVOTTO, N. M. Birigui: a revolução que começou pelos pés. São Paulo: Saga, 1996. ZAMPIERE, H. Birigui, cidade industrial do Oeste Paulista. São Paulo, Dissertação de Mestrado, USP-FFLCH, 1976.