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Pine Flash Note: Câmbio – O sucesso da “Linha Maginot Tupiniquim”
24 de maio de 2012


       O Banco Central divulgou ontem à tarde os números do fluxo cambial referentes à terceira
       semana de maio, encerrada no último dia 18. Em comparação com as duas primeiras
       semanas, destacamos:
          • O fluxo comercial líquido (exportação menos importação) permanece positivo (USD
              1,9bi), com números robustos frente à média histórica e à média observada desde o
              início do ano; mais interessante, a melhora do saldo comercial líquido se deu tanto
              pela ampliação das exportações (de USD 5,1bi para USD 5,7bi) quanto pela redução
              das importações (de USD 4bi para USD 3,8bi). No mês, contudo, o fluxo comercial
              acumulado (USD 3,7bi) perde força frente a abril (USD 7,5bi) e março (USD 6bi).
              Provavelmente, a desvalorização do real no mês passado frente a março e
              fevereiro, os IOFs (de outrora) sobre as posições vendidas em moeda estrangeira
              e, principalmente, as expectativas de desvalorização mais significativa do real
              frente ao dólar levaram os exportadores a postergarem as vendas da moeda norte-
              americana.
          • O fluxo financeiro líquido (compra menos venda de ativos financeiros) permanece
              negativo, com aceleração de sua queda para -USD 2,8bi; de fato, esta linha é
              responsável pelo recuo preliminar, observável no gráfico abaixo, do saldo líquido total
              de maio (comercial líquido decrescido do fluxo financeiro líquido). Para efeitos de
              comparação mensal, fizemos as respectivas médias diárias (já que maio ainda não
              acabou) que confirmam a forte influência da saída líquida de fluxos financeiros sobre
              desvalorização do real rumo a 2,0/USD (em média). Não há dúvida que a combinação
              de IOFs sobre posições vendidas em dólares com o acirramento da crise europeia
              responde pela saída líquida de dólares via segmento financeiro, pela queda da
              liquidez no mercado spot e futuro de câmbio e pela forte desvalorização do real
              no curto prazo.

                   Fluxo líquido de dólares (comercial e financeiro) – média mensal diária

                         775                                                média diária (USD mln)


                         575

                         375

                         175

                         (25)

                        (225)

                        (425)
                                                       jul-11
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                                                                                    jan-12
                                           abr-11




                                                                                               abr-12
                                                                   out-11




                                         (X-M)            Financeiro líquido                 Saldo

                                          Fonte: BC; elaboração: Pine Research

          •   Levando em consideração apenas o enfraquecimento do fluxo, entendemos a queda
              do apetite do BC nas compras de dólares, o qual não havia feito nenhuma intervenção
              no câmbio ao longo de maio (até o dia 18) em função das baixíssimas liquidez e



                                                                                                        1
volatilidade de mercado. O inverso ocorreu em março e abril, quando o BC mais do
       que enxugou o saldo líquido de entrada de dólares (ver gráfico abaixo), apesar de o
       nível de volatilidade ter permanecido relativamente baixo nos dois meses anteriores,
       indicando o claro objetivo do BC de desvalorizar o real.

            Fluxo líquido de dólares x intervenções do BC no mercado de câmbio


               15.000
               12.500
               10.000
                7.500
                5.000
                2.500
                    0
               -2.500
               -5.000
                           jan-11




                                                                                                         jan-12
                                                 abr-11




                                                                                                                      abr-12
                                                                   jul-11



                                                                                     out-11


                                      Saldo                                                            Intervenções BC
                                      (Comercial+Financeiro)                                           (+ compra)

                                        Fonte: BC; elaboração: Pine Research

Para termos uma ideia mais ampla da oferta de dólares no país, ou seja, não restrita apenas
ao mercado spot de divisas estrangeiras, nós acompanhamos a posição líquida dos
estrangeiros tanto no dólar futuro quanto no mercado de cupom cambial (DDI). Estas têm
pouco oscilado em torno de zero (sem direção clara pró-real ou pró-dólar) desde meados de
abril. Entretanto, desde a segunda semana de maio, as posições líquidas vendidas em reais,
ou pró-dólar, têm sido caracterizadas por um pouco mais de tração. O gráfico abaixo também
ilustra a força das medidas do governo para conter as apostas no real apreciado no mercado
futuro.

                                    Posições líquidas dos bancos estrangeiros

                17.000

                12.000                                                                                  Vendido
                                                                                                          BRL
                 7.000

                 2.000

                -3.000

                -8.000

               -13.000              Comprado
                                      BRL
               -18.000

               -23.000
                         jan-09




                                                          jan-10




                                                                                              jan-11




                                                                                                                    jan-12
                                        jul-09




                                                                            jul-10




                                                                                                           jul-11




                                                              Estrangeiros BMF
                                       Fonte: BM&F; elaboração: Pine Research




                                                                                                                               2
Logo, de olho apenas nos fluxos e nos derivativos, percebemos três fatores pressionando a
desvalorização do real: (i) enfraquecimento do fluxo líquido de dólares, especialmente pela
via financeira, (ii) posição total liquida vendida em real por parte dos estrangeiros no
mercado de derivativos e, (iii) até o final de abril, as compras de dólares por parte do BC.

                 Fluxo líquido total de dólares + saldo de derivativos x R$/USD




                          jan-07


                                             jan-08


                                                               jan-09


                                                                                 jan-10


                                                                                                   jan-11


                                                                                                                     jan-12
                                    jul-07


                                                      jul-08


                                                                        jul-09


                                                                                          jul-10


                                                                                                            jul-11
                -15.000                                                                                                       2,5
                -10.000                                                                                                       2,4

                 -5.000                                                                                                       2,3
                                                                                                                              2,2
                      0
                                                                                                                              2,1
                  5.000
                                                                                                                              2,0
                 10.000
                                                                                                                              1,9
                 15.000
                                                                                                                              1,8
                 20.000                                                                                                       1,7
                 25.000                                                                                                       1,6
                 30.000                                                                                                       1,5
                                              FLUXO TOTAL (saldos + derivativos)
                                              BRL médio
                                   Fonte: BC e BM&F; elaboração: Pine Research

Esses três movimentos combinados com o acirramento da crise externa, o que aumenta a
volatilidade da taxa de câmbio em relação à sua tendência estrutural, levariam o real médio
mensal para o intervalo entre 1,95/USD e 2,02/USD no curto prazo (entre junho e setembro).
Essas duas curvas estão representadas pelas duas linhas inferiores da região hachurada no
gráfico a seguir. A linha inferior mostra a tendência que calculamos para o real, em torno de
1,75/USD, se não houvesse tanto crise (portanto, com volatilidade muito baixa) quanto
distorções de impostos e contribuições. A linha imediatamente superior à tendência mostra o
câmbio médio mensal contaminado por crises externas, volatilidade mais alta e distorções
advindas dos IOFs da vida. Logo, o teto do real no gráfico abaixo (ver a linha Sup mensal_vol)
descreve o eventual caminho extremo (superior) do câmbio no curto prazo (de maio a
agosto), entre 2,11/USD e 2,20/USD, caso o BC não interviesse no mercado por meio da venda
de dólares via derivativos. Logo, o BC deve vender dólares no mercado a fim de manter o
teto do real entre 2,05/USD e 2,11/USD entre maio e agosto, o que está representado no
gráfico por meio da linha Câmbio_BC.

Os nossos cálculos para as intervenções do BC levam em consideração muito mais os efeitos
disruptivos do aumento da desvalorização cambial e da abrupta elevação de sua volatilidade
sobre o ambiente de negócios e sobre os investimentos corporativos do que o repasse da
desvalorização do real para a inflação. Em outras palavras, caso o BC deixe a depreciação do
real escorregar para níveis superiores a 2,10/USD, assumindo (é claro) elevada volatilidade, a
nossa projeção para taxa de crescimento do PIB em 2012 seria revisada para um patamar
inferior aos 2,3% que estimamos atualmente.




                                                                                                                                    3
Modelo Pine de câmbio: tendência e vol x extremos e intervenções do BC


                          BRL: tendência (modelo estrutural) x vol
                2,5
                2,4
                2,3
                2,2
                2,1
                2,0
                1,9
                1,8
                1,7
                1,6
                1,5
                      jan/08




                                                 jan/09




                                                                            jan/10




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                                 Média mensal_vol                                                         Câmbio_BC

                                                 Fonte: Bloomberg; elaboração: Pine Research




Marco Antonio Maciel                                                                                   Marco Antonio Caruso
Economista-chefe                                                                                       Economista
Banco Pine                                                                                             Banco Pine




Disclaimer: Esta matéria é de caráter estritamente informativo. O Pine não se responsabiliza por
quaisquer decisões tomadas tendo como base os dados e comentários contidos neste material.




                                                                                                                                                             4

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  • 1. Pine Flash Note: Câmbio – O sucesso da “Linha Maginot Tupiniquim” 24 de maio de 2012 O Banco Central divulgou ontem à tarde os números do fluxo cambial referentes à terceira semana de maio, encerrada no último dia 18. Em comparação com as duas primeiras semanas, destacamos: • O fluxo comercial líquido (exportação menos importação) permanece positivo (USD 1,9bi), com números robustos frente à média histórica e à média observada desde o início do ano; mais interessante, a melhora do saldo comercial líquido se deu tanto pela ampliação das exportações (de USD 5,1bi para USD 5,7bi) quanto pela redução das importações (de USD 4bi para USD 3,8bi). No mês, contudo, o fluxo comercial acumulado (USD 3,7bi) perde força frente a abril (USD 7,5bi) e março (USD 6bi). Provavelmente, a desvalorização do real no mês passado frente a março e fevereiro, os IOFs (de outrora) sobre as posições vendidas em moeda estrangeira e, principalmente, as expectativas de desvalorização mais significativa do real frente ao dólar levaram os exportadores a postergarem as vendas da moeda norte- americana. • O fluxo financeiro líquido (compra menos venda de ativos financeiros) permanece negativo, com aceleração de sua queda para -USD 2,8bi; de fato, esta linha é responsável pelo recuo preliminar, observável no gráfico abaixo, do saldo líquido total de maio (comercial líquido decrescido do fluxo financeiro líquido). Para efeitos de comparação mensal, fizemos as respectivas médias diárias (já que maio ainda não acabou) que confirmam a forte influência da saída líquida de fluxos financeiros sobre desvalorização do real rumo a 2,0/USD (em média). Não há dúvida que a combinação de IOFs sobre posições vendidas em dólares com o acirramento da crise europeia responde pela saída líquida de dólares via segmento financeiro, pela queda da liquidez no mercado spot e futuro de câmbio e pela forte desvalorização do real no curto prazo. Fluxo líquido de dólares (comercial e financeiro) – média mensal diária 775 média diária (USD mln) 575 375 175 (25) (225) (425) jul-11 jan-11 jan-12 abr-11 abr-12 out-11 (X-M) Financeiro líquido Saldo Fonte: BC; elaboração: Pine Research • Levando em consideração apenas o enfraquecimento do fluxo, entendemos a queda do apetite do BC nas compras de dólares, o qual não havia feito nenhuma intervenção no câmbio ao longo de maio (até o dia 18) em função das baixíssimas liquidez e 1
  • 2. volatilidade de mercado. O inverso ocorreu em março e abril, quando o BC mais do que enxugou o saldo líquido de entrada de dólares (ver gráfico abaixo), apesar de o nível de volatilidade ter permanecido relativamente baixo nos dois meses anteriores, indicando o claro objetivo do BC de desvalorizar o real. Fluxo líquido de dólares x intervenções do BC no mercado de câmbio 15.000 12.500 10.000 7.500 5.000 2.500 0 -2.500 -5.000 jan-11 jan-12 abr-11 abr-12 jul-11 out-11 Saldo Intervenções BC (Comercial+Financeiro) (+ compra) Fonte: BC; elaboração: Pine Research Para termos uma ideia mais ampla da oferta de dólares no país, ou seja, não restrita apenas ao mercado spot de divisas estrangeiras, nós acompanhamos a posição líquida dos estrangeiros tanto no dólar futuro quanto no mercado de cupom cambial (DDI). Estas têm pouco oscilado em torno de zero (sem direção clara pró-real ou pró-dólar) desde meados de abril. Entretanto, desde a segunda semana de maio, as posições líquidas vendidas em reais, ou pró-dólar, têm sido caracterizadas por um pouco mais de tração. O gráfico abaixo também ilustra a força das medidas do governo para conter as apostas no real apreciado no mercado futuro. Posições líquidas dos bancos estrangeiros 17.000 12.000 Vendido BRL 7.000 2.000 -3.000 -8.000 -13.000 Comprado BRL -18.000 -23.000 jan-09 jan-10 jan-11 jan-12 jul-09 jul-10 jul-11 Estrangeiros BMF Fonte: BM&F; elaboração: Pine Research 2
  • 3. Logo, de olho apenas nos fluxos e nos derivativos, percebemos três fatores pressionando a desvalorização do real: (i) enfraquecimento do fluxo líquido de dólares, especialmente pela via financeira, (ii) posição total liquida vendida em real por parte dos estrangeiros no mercado de derivativos e, (iii) até o final de abril, as compras de dólares por parte do BC. Fluxo líquido total de dólares + saldo de derivativos x R$/USD jan-07 jan-08 jan-09 jan-10 jan-11 jan-12 jul-07 jul-08 jul-09 jul-10 jul-11 -15.000 2,5 -10.000 2,4 -5.000 2,3 2,2 0 2,1 5.000 2,0 10.000 1,9 15.000 1,8 20.000 1,7 25.000 1,6 30.000 1,5 FLUXO TOTAL (saldos + derivativos) BRL médio Fonte: BC e BM&F; elaboração: Pine Research Esses três movimentos combinados com o acirramento da crise externa, o que aumenta a volatilidade da taxa de câmbio em relação à sua tendência estrutural, levariam o real médio mensal para o intervalo entre 1,95/USD e 2,02/USD no curto prazo (entre junho e setembro). Essas duas curvas estão representadas pelas duas linhas inferiores da região hachurada no gráfico a seguir. A linha inferior mostra a tendência que calculamos para o real, em torno de 1,75/USD, se não houvesse tanto crise (portanto, com volatilidade muito baixa) quanto distorções de impostos e contribuições. A linha imediatamente superior à tendência mostra o câmbio médio mensal contaminado por crises externas, volatilidade mais alta e distorções advindas dos IOFs da vida. Logo, o teto do real no gráfico abaixo (ver a linha Sup mensal_vol) descreve o eventual caminho extremo (superior) do câmbio no curto prazo (de maio a agosto), entre 2,11/USD e 2,20/USD, caso o BC não interviesse no mercado por meio da venda de dólares via derivativos. Logo, o BC deve vender dólares no mercado a fim de manter o teto do real entre 2,05/USD e 2,11/USD entre maio e agosto, o que está representado no gráfico por meio da linha Câmbio_BC. Os nossos cálculos para as intervenções do BC levam em consideração muito mais os efeitos disruptivos do aumento da desvalorização cambial e da abrupta elevação de sua volatilidade sobre o ambiente de negócios e sobre os investimentos corporativos do que o repasse da desvalorização do real para a inflação. Em outras palavras, caso o BC deixe a depreciação do real escorregar para níveis superiores a 2,10/USD, assumindo (é claro) elevada volatilidade, a nossa projeção para taxa de crescimento do PIB em 2012 seria revisada para um patamar inferior aos 2,3% que estimamos atualmente. 3
  • 4. Modelo Pine de câmbio: tendência e vol x extremos e intervenções do BC BRL: tendência (modelo estrutural) x vol 2,5 2,4 2,3 2,2 2,1 2,0 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 jan/08 jan/09 jan/10 jan/11 jan/12 mai/08 mai/09 mai/10 mai/11 mai/12 set/08 set/09 set/10 set/11 set/12 Sup mensal_vol Média mensal_tendência Média mensal_vol Câmbio_BC Fonte: Bloomberg; elaboração: Pine Research Marco Antonio Maciel Marco Antonio Caruso Economista-chefe Economista Banco Pine Banco Pine Disclaimer: Esta matéria é de caráter estritamente informativo. O Pine não se responsabiliza por quaisquer decisões tomadas tendo como base os dados e comentários contidos neste material. 4