O documento discute o uso de geotecnologias e aulas de campo no ensino de Geografia, destacando a importância dessas ferramentas para análise espacial, mas também as limitações de acesso a elas, especialmente nas escolas públicas. Defende que, mesmo sem recursos tecnológicos, é possível realizar aulas de campo proveitosas usando recursos alternativos.
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
Geotecnologias, aulas de campo e desafios na educação pública
1. Henrique Gomes de Lima 1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GEOGRAFIA
DISCIPLINA: METODOLOGIA DE AULA DE CAMPO
PROFº JOÃO SÍLVIO
ALUNO: HENRIQUE GOMES DE LIMA
Geotecnologias, aulas de campo e a realidade nas escolas públicas.
*Henrique Gomes de Lima.
“Dados de unidades geográficas
são conectados entre si,
como cachos de uvas,
não separados,
como bolas em uma urna”
Stephan (1934)
“Primeira lei da geografia:
tudo se relaciona com tudo, mas coisas
próximas são mais relacionadas do que
coisas distantes”
Tobler (1970)
A análise do espaço geográfico é sem dúvida uma das maiores
ferramentas para otimizar a compreensão da realidade um dado lugar. Muitas são
as inferências que podem ser utilizadas para realizar tais análises. Os
procedimentos vão desde análises bibliográficas em gabinete até o
reconhecimento in locu do respectivo lugar.
É exatamente esse reconhecimento que requer todo um arcabouço
teórico-metodológico. Seja em nível superior ou ainda na prática do ensino médio
e fundamental, faz-se necessário que uma aula realizada em campo tenha
passado por todo um processo de maturação. Acreditamos que essa maturação
possa ser individualmente desenvolvida pelo professor ou construída
coletivamente pelos participantes da ação.
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Algo que obrigatoriamente não pode deixar de ser discutido e teorizado é
o que diz respeito aos objetivos buscados e bem como a fundamentação
metodológica que será utilizada.
Aulas de campo estão para a Geografia assim como a Matemática está
para a Astronomia. Não é possível desenvolver uma análise geográfica
competente sem um profundo conhecimento sensitivo dos diversos fatores que se
embricam sobre uma determinada área. Uma das regras básicas para uma análise
geográfica é eleger como embasamento, as categorias que serão utilizadas como
referencial.
Em Geografia o Lugar, a Paisagem e o Território são premissas
indissociáveis para qualquer análise. E tais categorias têm que ser
exaustivamente trabalhadas para que uma vez em campo, o estudante, seja ele
de qualquer nível escolar, possa coletar dados mais concisos e por sua vez saber
filtrá-los no momento de dar seu parecer.
Em se tratando do estudo da paisagem é importante estar sensível às
várias visões em que ela pode se apresentar. Segundo Donald W. Meinig, o olho
pode observar dez visões de uma mesma cena. É por isso que ao se propor uma
aula de campo para um determinado grupo de aprendizes, deve-se definir por qual
olho ou olhos devemos observar. Ainda quanto a paisagem devemos estar atentos
às várias impressões captadas por nossos sentidos, pois a paisagem além de
vista, ela pode ser cheirada, ouvida, provada e ainda sentida. Todos esses
detalhes não podem passar desapercebidos em uma aula de campo. E cabe ao
professor orientar seus alunos nesses momentos.
Uma vez em campo, pode o professor de Geografia aproveitar a
oportunidade para trabalhar o conceito de Território. Ao conhecer a história do
lugar, ouvir depoimentos da comunidade (se for o caso), diagnosticar a paisagem
modificada através do uso e da ocupação e representada pela situação sócio-
econômica, é possível entender as relações de poder que se configuram no objeto
real que é o território.
E como sistematizar essas informações? Acreditamos que nesse
momento uma Ficha de Campo é uma ferramenta pedagógica muito importante.
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Chamo de ferramenta pedagógica porque no ato em que o professor a apresenta
aos alunos e orienta seu preenchimento (ainda em sala) muitos conceitos,
fundamentações e metodologias são entendidos. Caso o professor não queira
apresentar uma ficha já elaborada, esta pode ser criada e desenvolvida pelos
próprios alunos, sob a orientação do professor.
Aulas de campo é um momento privilegiado para o aluno aprender
observar, experimentar e selecionar informações. Uma aula de campo ajuda o
aprendente a se organizar. Um dos momentos que reflete essa organização é a
escolha e seleção do material a ser levado para auxiliar na coleta de informações.
Atualmente em virtude do desenvolvimento da informática e, por
conseguinte, dos meios de comunicação a coleta de dados para as análises
geográficas está muito facilitada. Tradicionalmente e porque não dizer
remotamente, o globo terrestre, os planisférios, mapas e cartas eram os recursos
materiais mais comuns para uma primeira apreensão espacial de um lugar. Os
pantógrafos, os escalímetros e até mesmo as simples réguas, também faziam
parte dos recursos cartográficos e que alguns geógrafos utilizavam para produzir
seus croquis. Não esqueçamos da saudosa bússula.
Hoje com a cartografia digital o Sistema de Informação Geográfica(SIG),
informações colhidas em campo podem ser trabalhadas em tempo real e um
esboço espacial georeferenciado pode ser produzido instantaneamente. Não se
imagina mais um geógrafo, perdido no meio do mundo com uma pilha de mapas
gigantescos e uma bússolazinha.
O mundo evoluiu, as técnicas cartográficas evoluíram, a Geografia
evoluiu, e claro, as aulas de campo em um curso de Geografia ou mesmo no
ensino fundamental também devem evoluir. Miras, teodolitos, altímetros, GPS,
câmeras digitais, nootboks... são alguns dos recursos que estão aí disponívies
para ajudar o geógrafo a realizar suas inferências sobre o espaço geográfico.
O Sistema de Informações Geográficas constituí-se hoje, a menina dos
olhos, no trabalho do geógrafo. O termo SIG, segundo SEMEÃO (1999) denota o
conjunto de conhecimentos que utiliza técnicas matemáticas e computacionais
para o tratamento da informação geográfica. Dentre suas características e
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atribuições está o ato de inserir e integrar, numa única base de dados,
informações espaciais provenientes de dados cartográficos, dados censitários,
cadastro urbano e rural, imagens de satélite, redes e modelos numéricos de
terreno; Oferecer mecanismos para combinar as várias informações, através de
algoritmos de manipulação e análise, bem como para consultar, recuperar,
visualizar e plotar o conteúdo da base de dados georreferenciados.
Reconhecemos que todas essas técnicas são extremamente relevantes
para a coleta de dados, mas também acreditamos que independente de ser
geógrafo ou não, qualquer profissional pode aprender a manusear esses
equipamentos. A diferença está na interpretação desses dados. É nesse momento
que o olhar do geógrafo é indispensável.
Voltando para a nossa aula de campo, na universidade ou na escola
básica, defendemos sim, o acesso e o uso coletivo desses recursos tecnológicos.
Até mesmo como um atrativo a mais para as aulas de Geografia.
Mas o problema está exatamente no acesso. Nem mesmo na
universidade com um curso específico para a formação de geógrafos,
encontramos esses equipamentos em quantidade mínima para o uso por parte
dos acadêmicos, quanto mais nas escolas públicas municipais e estaduais, onde
até mesmo um simples mapa é difícil de ser encontrado.
É nesse contexto que se encontra o professor de Geografia. E diante
dessa realidade ele precisa encontrar recursos para que sua aula de campo seja
proveitosa e interessante, mesmo sem ter esses recursos tecnológicos a sua
disposição. Um altímetro, emprestado da universidade, uma bússola e alguns
mapas temáticos já dão para fazer uma festa.
*Henrique Gomes de Lima é professor
de Geografia da rede pública municipal de Fortaleza.