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Medicina, Ribeirão Preto,                                                              Simpósio: SEMIOLOGIA ESPECIALIZADA
29: 80-87, jan./mar. 1996                                                                        Capítulo VIII




                               SEMIOLOGIA GINECOLÓGICA


                                                GYNECOLOGIC SEMIOLOGY




                  Helio Humberto Angotti Carrara, Geraldo Duarte, Paulo Meyer de Paula Philbert


Docentes do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
CORRESPONDÊNCIA : Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Campus Universitá-
rio - CEP: 14.048-900 - Ribeirão Preto - SP - FONE: (016) 633-0216 - FAX: (016) 633-0946.




           CARRARA HH A; DUARTE G & PHILBERT PMP. Semiologia ginecológica. Medicina, Ribeirão Preto, 29: 80-87,
              jan./mar. 1996.

               RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de servir de roteiro aos alunos que estão iniciando o
           curso de Ginecologia, através da Semiologia Tocoginecológica e, como roteiro, não tem a pretensão
           de ser completo. Algumas aulas poderão ter abordagem ou seqüência diferente daquela aqui apre-
           sentada, porém, o conteúdo principal será respeitado. A leitura das obras citadas ampliará e
           solidificará os conhecimentos aqui auferidos, lembrando que a complementação com aulas práticas
           é fundamental.

               UNITERMOS:     Ginecologia. Anamnese. Exame Físico.




                     INTRODUÇÃO                                  1. PROPEDÊUTICA GINECOLÓGICA E EXA-
                                                                    ME A FRESCO
       A união da Ginecologia e da Obstetrícia, como
disciplina única, proporciona a oportunidade de en-              1.1. Anamnese
tender as alterações funcionais e orgânicas, patoló-                    A consulta ginecológica começa, como em ou-
gicas ou não, que possam ocorrer no organismo femi-              tras áreas da medicina, pela anamnese, tempo dos mais
nino. Assim, os fatores reprodutivos, endócrinos, de-            importantes. Marca o primeiro contato do médico com a
generativos, psíquicos e emocionais inerentes à mu-              paciente e deve ser o início de uma relação de confiança
lher podem ser melhor entendidos e estudados, uma                mútua. Algumas etapas importantes da anamnese são:
vez que a paciente é vista como um todo, e não de                       IDENTIFICAÇÃO: a identificação da paciente
forma fragmentada.                                               deve ser feita da forma mais precisa possível, evitan-
       Os iniciantes na tocoginecologia devem sem-               do-se erros e confusões que podem ter conseqüências
pre estar atentos à intimidade da paciente e, neste sen-         irreparáveis.
tido, o observador deve ser um ouvinte atencioso,                       IDADE: permite situar a paciente em uma das
interessado, compreensivo e conservar uma atitude                diversas fases da vida da mulher, quais sejam infân-
tranqüila e até mesmo indulgente, pois parcela consi-            cia, puberdade, maturidade, climatério e senilidade.
derável das queixas clínicas, relatadas pelas pacien-            Sabe-se que certas patologias são mais freqüentes em
tes, relaciona-se a assuntos ou partes do corpo que              determinadas faixas etárias, facilitando assim o racio-
elas preferem não abordar.                                       cínio diagnóstico.


80
Semiologia ginecologica.




         COR: tem importância visto que certas patolo-   esclarecidas. Assim o passado de doença pulmonar
gias são mais constantes em determinadas raças. Como     tal como tuberculose, bronquite crônica e surtos de
exemplo, temos que mulheres negras tendem a apre-        eczema podem ser a causa de incontinência urinária
sentar leiomioma uterino mais freqüentemente que         de esforço, pelo fato de provocarem tosse crônica. As
mulheres brancas.                                        alterações cardiovasculares devem ser meticulosa-
                                                         mente anotadas, principalmente em pacientes jovens,
       NATURALIDADE E PROCEDÊNCIA: sua impor-
                                                         no período reprodutivo e desejosas de gravidez, visto
tância reside no fato que certas doenças são mais co-
                                                         a sobrecarga que a gravidez acarreta ao sistema circu-
muns em determinadas regiões, como o câncer da
                                                         latório. Da mesma forma, o aparelho digestivo me-
mama, que é mais freqüente em mulheres proceden-
                                                         rece atenção especial, visto que muitas vezes algu-
tes dos Estados Unidos.
                                                         mas alterações digestivas podem ser confundidas com
      PROFISSÃO: deve ser bem definida, porquanto        queixa ginecológica, tais como a diverticulite ou a
em algumas situações assumem importância capital,        apendicite, pela semelhança das manifestações clíni-
como no caso de mulheres grávidas que lidam com          cas. Queixas do aparelho urinário são, frequente-
materiais tóxicos (gráficos).                            mente, motivo de consulta ao ginecologista. Entre as
         ESTADO CIVIL: deve ser registrado, juntamen-    mais freqüentes encontram-se as cistites e as litíases
te, com o nome do parceiro para possível contato e       renais. As mamas, a nosso ver, merece consideração
informações sobre o estado de saúde da paciente.         especial. A dor, se relatada, deve ser bem caracte-
                                                         rizada quanto à intensidade, ritmo, característica e
       RELIGIÃO: justifica-se pelo fato que pode for-    local. Da mesma forma, a queixa de nódulo implica
necer informações sobre costumes, práticas e hábitos     em determinar o número, local, tempo de aparecimen-
de vida da mulher.                                       to, consistência, mobilidade, crescimento rápido ou
       Uma vez feita a identificação da paciente, pas-   não, presença de nódulos axilares e regularidade de
sa-se à etapa seguinte da anamnese:                      sua superfície. Interrogar sobre a possibilidade de saída
                                                         de secreção pelo mamilo e, se presente, caracterizar
       QUEIXA PRINCIPAL E DURAÇÃO: Deve-se fazer
                                                         coloração, quantidade, saída espontânea, se é uni ou
a transcrição fiel das expressões usadas pelas pacien-
                                                         bilateral, se por um ou mais ductos.
tes, pois, geralmente, a queixa e o tempo dos sintomas
já permitem formular hipóteses diagnósticas.                   ANTECEDENTES       FAMILIARES:   Sabe-se que al-
                                                         gumas ginecopatias tendem a se repetir entre mem-
         HISTÓRIA DA MOLÉSTIA ATUAL: faz-se um his-
                                                         bros de uma mesma família como, por exemplo, os
tórico da evolução das manifestações clínicas, desde
                                                         leiomiomas. Doenças como diabetes, hipertensão, cân-
seu início até o momento da consulta. Todas as parti-
                                                         cer, alergias e doenças infecto-contagiosas devem ser,
cularidades devem ser minudenciadas, tais como pe-
                                                         rigorosamente, anotadas.
ríodos de melhora espontânea, medicação utilizada,
exames laboratoriais e possíveis tratamentos clínicos           ANTECEDENTES PESSOAIS: O passado de do-
e/ou cirúrgicos realizados. O conhecimento destes da-    enças contagiosas da infância deve ser esclarecido, pois
dos facilitam o raciocínio diagnóstico.                  doenças como rubéola, toxoplasmose, sarampo, ca-
                                                         xumba e outras assumem importância capital, du-
         INTERROGATÓRIO SOBRE OS DIVERSOS APARE-
                                                         rante o período reprodutivo da mulher. A história de
LHOS: É de real importância porque muitas vezes uma
                                                         infecção urinária de repetição nos fornece subsídio
queixa que a paciente pensava ser de origem gineco-
                                                         para a hipótese de má formação do aparelho renal.
lógica, pode ter, na realidade, outra origem, tal como
                                                         O passado de doença sexualmente transmitida deve
o trato intestinal ou, ainda, o aparelho urinário. Co-
                                                         ser investigado e esclarecido, pois pode ser causa de
meça-se o interrogatório pelo segmento cefálico,
                                                         infertilidade.
questionando sobre cefaléias, acuidade visual, audi-
tiva, olfativa e gustativa. Questiona-se, também, a             HÁBITOS: investigar tabagismo e se presente,
presença de nódulos cervicais e tireoidianos, pois al-   questionar número de cigarros fumados por dia. Igual-
terações nesta glândula podem ter repercussões tanto     mente, o hábito de etilismo deve ser determinado. Fun-
sobre a função ovariana quanto sobre a gravidez. Re-     damental buscar informações sobre utilização de dro-
ferências ao aparelho respiratório devem ser bem         gas ilícitas, por via inalatória ou venosa.


                                                                                                               81
HHA Carrara; G Duarte & PM de P Philbert




      OPERAÇÕES: esclarecer quantas e quais cirur-        quando a rotura do folículo ovulatório se acompanha
gias foram feitas, as datas em que elas foram realiza-    de sangramento, o que provoca irritação peritoneal. A
das, as razões das indicações cirúrgicas e os resul-      algomenorréia, que é a menstruação acompanhada
tados anátomo-patológicos das peças cirúrgicas. Os        de dor, é sintoma menstrual comum e causa frequente
tipos de anestesias utilizadas e a duração das mes-       de consulta ao ginecologista. Por este motivo, deve
mas, também, deve ser anotado. Se durante alguma          ser bem caracterizada quanto ao tipo, se em cólica,
das cirurgias realizadas houve necessidade de trans-      em peso ou contínua, quanto à intensidade, se é leve,
fusão sanguínea, devido à possibilidade de isoimuni-      moderada ou forte e quanto ao período de apareci-
zação materna e risco de viroses emergentes, todas        mento, se pré-menstrual, menstrual ou pós-menstrual.
situações de extrema gravidade no período reprodutivo     Também, deve ser anotado se houve modificações do
da mulher. A alergia a algum tipo de medicamento          ciclo e de que tipo foram. Após o interrogatório dos
deve ser anotada com destaque. Terminada esta parte       antecedentes ginecológicos, devemos questionar os:
da anamnese, passamos ao interrogatório dos:              Antecedentes Sexuais: Neste tópico, são abordados
                                                          problemas íntimos da paciente e o médico deve ter
       ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS: O interroga-
                                                          uma postura neutra e serena ao lidar com possíveis
tório deve começar pela idade da menarca (primeiro
                                                          desajustes conjugais. Se há atividade sexual, deve-se
episódio menstrual da vida da mulher). Espera-se que
                                                          anotar o ritmo, se freqüente ou esporádico, se a libido
este fato ocorra entre os 11 e 13 anos da vida da mu-
                                                          está presente e normal, se ocorre orgasmo nas rela-
lher, porém desvios para menos (10 anos) ou para mais
                                                          ções, se há dispareunia (dor às relações), se há sinu-
(16 anos) podem ser normais. Se a menarca ocorre
                                                          sorragia (sangramento às relações), e práticas se-
antes dos 10 anos de vida, este fato deve ser investi-
                                                          xuais variadas, tais como sexo anal e oral. É impor-
gado. Da mesma forma, se não ocorre até aos 16 anos,
                                                          tante anotar o método anticoncepcional utilizado,
também merece investigação. A data da última mens-
                                                          pois pode ser fonte de ansiedade para a paciente, pelo
truação tem importância e deve ser anotada com des-
                                                          risco de falhas que apresentam. Como exemplo, o coito
taque, principalmente se a paciente se encontrar no
                                                          interrompido. É importante nesta fase da anamnese,
menacme. Se a paciente for idosa, indagar a data da
                                                          ouvir com naturalidade o relato da paciente, a fim de
menopausa (última menstruação, encerrando o pe-
                                                          não constrangê-la, quebrando desta forma a relação
ríodo de menacme). Normalmente, a menopausa ocorre
                                                          de confiança mútua. Em seqüência, interrogamos so-
entre os 48 e 52 anos de vida. O intervalo entre as
                                                          bre a presença de corrimento vaginal, caracterizando
menstruações deve ser, em média, de 28 dias, porém
                                                          o tempo de duração, a quantidade, a coloração, o
variações de 26 a 32 dias podem ser normais. A dura-
                                                          odor, possíveis variações com o ciclo menstrual, tipo
ção do fluxo menstrual é de 4 a 5 dias. Pequenas
                                                          de tratamento utilizado e o resultado do mesmo.
variações ( 3 a 8 dias) podem ocorrer e, também, são
                                                          Questiona-se, ainda, a realização de cauterização,
consideradas normais. A quantidade de sangue per-
                                                          quando e quantas vezes elas ocorreram. Alterações
dido deve oscilar entre 25 e 100 ml. Vale ressaltar que
                                                          vulvares, como prurido, tumores ou outras como
mulheres que sangram por mais tempo (8 dias) podem
                                                          fístulas e prolapsos devem ser investigados. Encer-
perder maior volume (até 200 ml). A cor deve ser ver-
                                                          rando a anamnese, devemos questionar sobre os An-
melho escuro, fluido, não formando coágulos. A mens-
                                                          tecedentes Obstétricos da paciente. Assim, pergun-
truação pode ser acompanhada de:
                                                          ta-se sobre o número de gestações, duração de cada
       Sintomas pré-menstruais e menstruais: Al-
                                                          gravidez, tipos de partos, se normais ou operatórios
guns sintomas pré-menstruais podem estar presentes,
                                                          (fórceps ou cesariana), vitalidade do recém-nascido,
tais como: ingurgitamento mamário, que é bastante
                                                          peso dos filhos ao nascer, número de abortos, se se-
freqüente; a mastalgia, que normalmente acompanha
                                                          guidos ou não de curetagem, evolução do puerpério,
o ingurgitamento mamário, deve ser bem esclarecida
                                                          amamentação e por quanto tempo ela se deu. Se
quanto à época de aparecimento, período do ciclo
                                                          houve decesso fetal, anotar a causa da morte do feto.
menstrual em que inicia, característica da dor, mano-
bras ou medicamentos que a aliviam; a distensão ab-
                                                          1.2. Exame físico
dominal, que a maioria das mulheres apresenta, pode
ser explicada pelo edema das vísceras pélvicas, que             Terminada a anamnese, procede-se o exame fí-
ocorre neste período; a dor do meio, mais rara, ocorre    sico da paciente.


82
Semiologia ginecologica.




         EXAME FÍSICO GERAL E ESPECIAL: Deve-se ini-      paciente sentada, faz-se a palpação das cadeias linfá-
ciar pelo exame físico geral, onde são anotados os da-    ticas cervicais, supra e infra-claviculares e axilares.
dos referentes à pressão arterial, pulso, tempera-        A palpação das cadeias axilares deve ser feita da se-
tura, estatura e peso. Outros dados do exame físico       guinte forma: a mão direita do examinador palpa a
geral, também, devem ser anotados. Em seguida, pas-       região axilar esquerda da paciente, estando esta com
sa-se ao exame físico especial quando se examina a        o membro superior homolateral à axila palpada apoia-
cabeça e o pescoço, o aparelho respiratório, o apa-       do no braço esquerdo do examinador, deixando desta
relho urinário, o aparelho cardiovascular e, em           forma a musculatura peitoral relaxada, facilitando o
especial, o abdome, onde deve ser observado e des-        exame. Para a axila oposta, o examinador utiliza a
crito quanto à sua forma, tensão, presença de es-         mão esquerda para a palpação e o braço direito para o
trias, cicatrizes, pigmentação e presença de ascite.      apoio do membro superior da paciente. Na etapa se-
Da mesma forma, deve ser feita a ausculta e a palpa-      guinte, com a paciente deitada em decúbito dorsal,
ção criteriosa de toda sua extensão, tendo em mente       coloca-se um coxim sob a região a ser palpada e pede-se
que algumas ginecopatias podem ter, como sintoma          que a mão correspondente ao lado a ser palpado seja
inicial, alterações abdominais.                           colocada sob a cabeça quando, então, o examinador
                                                          faz a palpação dos diversos quadrantes da mama, uti-
       EXAME FÍSICO GINECOLÓGICO: O exame gine-
                                                          lizando-se os dedos e as palmas das mãos. Termina-se o
cológico engloba o exame das mamas, o exame da
                                                          exame mamário, fazendo a expressão de toda a glân-
vulva, da vagina, do útero e dos anexos uterinos.
                                                          dula, desde a sua base até ao mamilo. Estas manobras
Inicia-se pelo exame das mamas que deve ser siste-
                                                          devem ser feitas sempre de modo suave, porém com
mática e rotineiramente realizado em todas as pacien-
                                                          firmeza. Qualquer alteração encontrada, tais como nó-
tes, independente da queixa que a trouxe à consulta
                                                          dulos, espessamentos ou saída de secreção à expres-
médica. O exame das mamas divide-se em três eta-
                                                          são, deve ser minuciosamente descrita e anotada.
pas, quais sejam: inspeção estática, inspeção dinâ-
mica e palpação. Inspeção estática: com a paciente              EXAME DA VULVA: Na vulva deve-se examinar
ereta ou sentada e com os membros superiores dis-         o monte de Vênus superiormente, grandes e pequenos
postos, naturalmente, ao longo do tronco, observamos      lábios lateralmente, o vestíbulo vulvar, o clitóris, o
as mamas quanto ao tamanho, regularidade de con-          meato uretral externo, as glândulas de Bartholin, a
tornos, forma, simetria, abaulamento e retrações, pig-    fúrcula vaginal, o hímen e o períneo, posteriormente.
mentação areolar, morfologia da papila e circulação       O monte de Vênus é formado por coxim gorduroso
venosa. Inspeção dinâmica: Em um primeiro tempo           cuja pele é recoberta por pêlos, glândulas sudoríparas
desta fase do exame, pede-se à paciente que eleve os      e sebáceas. É zona erógena e a distribuição pilosa deve
membros superiores, lentamente, ao longo do segmento      ser triangular de base, voltada superiormente. Os pê-
cefálico e, desta forma, observa-se as mamas quanto aos   los encontrados na face ântero-lateral dos grandes lá-
itens anteriores. Em seguida, pede-se à paciente que      bios são curtos, grossos e encaracolados. Diante da
estenda os membros para frente e incline o tronco de      queixa de prurido, deve-se afastar lesão dermatológica.
modo que as mamas fiquem pêndulas, perdendo todo          Os grandes lábios atingem seu desenvolvimento, após
o apoio da musculatura peitoral, quando, novamente,       a puberdade e tendem à atrofia, após a menopausa.
observa-se as mamas quanto aos itens citados, an-         São homólogos do escroto e, analogamente, podem
teriormente. No terceiro tempo desta fase, pede-se que    ser estimulados pelos androgênios. Fazem a proteção
a paciente apoie as mãos e pressione as asas do ilíaco,   da parte mediana da vulva e são sede freqüente de
bilateralmente. O objetivo destas manobras é realçar      lesões infecciosas (granuloma, herpes, condilomas e
as possíveis retrações e abaulamentos e verificar o       outros) ou transformações malignas. Os pequenos lá-
comprometimento dos planos musculares, cutâneo e do       bios são recobertos por pele pigmentada e glândulas
gradil costal. Os abaulamentos podem ser decorrentes      sudoríparas. Superiormente, formam o prepúcio cli-
de processos benignos e malignos enquanto as retra-       toridiano e, inferiormente, dissimulam-se nos grandes
ções quase sempre são decorrentes de processos ma-        lábios. São estrogênios-dependentes e ricamente vas-
lignos. A pigmentação areolar castanho-escura indica      cularizados. Durante a excitação sexual, aumentam de
estimulação estrogênica prévia, como na gravidez.         tamanho (congestão vascular) e podem variar em
Palpação: É realizada em duas etapas. Ainda com a         cor, tornando-se vermelho vivo ou vinhoso. Também,


                                                                                                              83
HHA Carrara; G Duarte & PM de P Philbert




podem ser sede de lesões infecciosas ou transforma-                   EXAME DOS GENITAIS INTERNOS: Começa-se o
ções malignas. O vestíbulo vulvar é o espaço trian-            exame dos genitais internos pelo exame da vagina. Para
gular limitado, anteriormente, pelo clitóris, lateral-         o exame da vagina, utiliza-se espéculo bivalvar, e ob-
mente, pelos pequenos lábios (ninfas) e posteriormente         serva-se as paredes vaginais quanto à sua coloração
pela fúrcula. Nele, observa-se os orifícios da uretra, da      que deve ser rósea, quanto à sua rugosidade, que é
vagina e dos canais das glândulas de Skene. O clitóris         normal durante o menacme, quanto ao seu trofismo,
mede cerca de 1 cm e é a porção mais erógena do trato          quanto ao seu comprimento e elasticidade, os fundos
genital feminino. Durante a excitação, sofre fenômeno          de sacos laterais, anteriores e posteriores e a presença
de ereção, aumentando de tamanho e consistência. O             de secreção ou corrimento. Se este estiver presente,
meato uretral externo situa-se abaixo do clitóris e            verificar quantidade, cor, odor, se fluido ou não, pre-
pode apresentar, ocasionalmente, carúnculas uretral,           sença de bôlhas e sinais inflamatórios associados.
que pode ser devido a processo granulomatoso ou an-            Lembrar que o epitélio endocervical produz muco
giomatoso. As glândulas de Bartholin situam-se às              hialino fisiológico que pode ser confundido com cor-
4 e 8 horas no coxim adiposo dos grandes lábios. Em            rimento infeccioso pelas pacientes. Observa-se na se-
geral, não são palpáveis e os óstios de seus ductos,           qüência o colo uterino quanto à coloração, forma,
raramente, visíveis. Podem ser sede de cistos ou abs-          volume e forma do orifício externo (OE) que deve
cessos. A fúrcula vaginal resulta da fusão dos gran-           ser puntiforme nas nulíparas e em fenda transversa
des lábios na região mediana posterior. É o local onde,        nas multíparas, presença de muco no orifício, caracte-
habitualmente, se encontra corrimento quando se rea-           rísticas deste muco, situação do colo quanto ao eixo
liza o exame ginecológico. Delimita anteriormente a            vaginal, presença de ectopia (crescimento do epitélio
fosseta navicular. O períneo é a região entre a fúrcula        glândular endocervical, além do OE). Após este tem-
vulvar e o ânus. É a base de uma cunha fibro-muscu-            po do exame, fazemos o toque bidigital bimanual. O
lar com, aproximadamente, 4 cm de extensão. Pode               toque é feito, após calçar luva de borracha de tama-
ser sede de roturas que são classificadas em 3 graus:          nho apropriado, e lubrificá-la com vaselina. Os dois
I) quando acomete apenas a mucosa; II) quando aco-             dedos que tocam devem estar em extensão, e o quarto
mete os planos musculares porém preservando o mús-             e quinto dedo devem estar fletidos sobre os metacarpos
culo esfincteriano; III) quando
a rotura atinge o esfíncter anal
externo. O hímen separa o ves-
tíbulo vulvar da vagina, sendo
uma estrutura fibrosa que se
rompe quando da primeira re-
lação sexual, formando os res-
tos himenais. Após parto nor-
mal, os restos himenais são, am-
plamente, separados e formam
as carúnculas mirtiformes ou
himenais (Figura 1). Ocasio-
nalmente, pode existir hímen
elástico (complacente) que
não se rompe às relações. Du-
rante a fase de inspeção vulvar,
pede-se que a paciente faça
manobra de esforço (prensa
abdominal) com o objetivo de
se observar qualquer alteração
anatômica, envolvendo bexiga
(cistocele), reto (retocele) e          Figura 1 - Anatomia vulvar
útero (prolapso uterino).

84
Semiologia ginecologica.




e o polegar em adução de 90º. A introdução dos dedos       dependência do peso da paciente (difícil em obesas).
far-se-á após afastamento dos lábios genitais, depri-      Qualquer aumento de volume deve ser investigado. Já
mindo-se a fúrcula com o bordo cubital dos mesmos,         as trompas uterinas não são, normalmente, palpáveis
até que se alcance a cavidade vaginal. Explora-se o        e, se o forem, provavelmente trata-se de processo pato-
tônus muscular perineal e, em seguida, as paredes da       lógico. O toque retal deve ser feito e, principalmente
vagina. Superiormente, faz-se a exploração da bexi-        em determinadas situações, como nos casos de câncer
ga; posteriormente, do reto; lateralmente, das paredes     do colo do útero.
pélvicas. Em seguida, palpa-se os fundos de saco an-
terior e posterior, à procura de possíveis massas. Após,   1.3. Exames Laboratoriais
passa-se à palpação do colo do útero, levando em con-
sideração: a situação, que deve ser ao nível das espi-             Dosagens de hormônios plasmáticos, como
nhas ciáticas; a direção, sendo que, normalmente, o        estradiol, progesterona, hormônio folículo estimu-
colo forma ângulo aberto com a vagina, o que permite       lante, hormônio luteotrófico e outros, podem auxiliar
inferir que o corpo esteja em anteversão; a forma que,     no diagnóstico de algum distúrbio do eixo hipotála-
normalmente, é cilíndrica; o comprimento, que é va-        mo-hipófise-gonadal. O hemograma e sorologias (HIV,
riável de acordo com a fase da vida da mulher; a con-      VDRL, rubéola, Machado-Guerreiro, toxoplasmose e
sistência é elástica, lembrando a cartilagem nasal; a      outras) auxiliam na investigação de infecções, seja no
superfície é lisa, regular e o contorno deve estar pre-    passado ou no presente. A radiologia presta grande
servado. Na seqüência faz-se o exame do corpo ute-         auxílio, seja através da mamografia, ou de outras téc-
rino, através de toque bimanual abdomino-vaginal.          nicas, como os exames simples ou contrastados. A
Identifica-se o corpo do útero e avalia-se os seguintes    ultra-sonografia tem ampla aplicação, seja para exa-
parâmetros: a situação que deve ser, na mulher adul-       me de órgãos pélvicos ou das mamas. Os exames de
ta, no centro da linha sacro-pubiana ocupando sempre       urina e de fezes são necessários e, por vezes, a cultura
a pequena bacia. Na gravidez e em situações patoló-        destes materiais também se faz necessária. A citologia
gicas, pode se encontrar fora dela. A situação deve        vaginal e a colposcopia são realizadas, rotineiramente,
ser mediana e desvios laterais podem ter causa pato-       durante o exame especular. A citologia tem função
lógicas, como massas ou retrações. A orientação pode       variada, sendo utilizada para diagnóstico de infecções
ser anterior (ante-versão) ou posterior (retro-versão).    vaginais, alterações hormonais e, principalmente, na
Pode, ainda, apresentar curvatura sobre seu próprio        prevenção e diagnóstico precoce de lesões malignas
eixo, sendo denominado ante-verso-fletido se anterior,     do trato genital. Neste sentido, associa-se o uso da col-
e retro-verso-fletido se posterior. A forma deve ser       poscopia, que possibilita a biópsia dirigida, e confere
piriforme de base voltada para cima. A gravidez e pro-     ao exame ginecológico uma maior efetividade.
cessos patológicos podem modificar este parâmetro.               EXAME     A FRESCO:   O esfregaço vaginal pode
O volume é variável, entre 30 e 90 cc, e o compri-         ser analisado de diferentes maneiras. O exame a fresco
mento deve alcançar cerca de 7 cm na vida adulta. O        permite diagnóstico rápido e barato às pacientes. Tem
aumento do número de gestações provoca aumento             indicação na suspeita de colpite infecciosa ou na pre-
do volume uterino. A consistência deve ser firme e o       sença de corrimento genital (CG). O CG é queixa fre-
seu amolecimento deve levantar a hipótese de gravi-        qüente das pacientes e pode representar o motivo prin-
dez, enquanto o endurecimento, a hipótese de leiomio-      cipal da consulta, em até 30%, em clínicas particula-
mas. A superfície deve ser lisa e apresentar contornos     res e, em cerca de 40%, nos ambulatórios públicos.
preservados. A sensibilidade é normalmente dimi-           Tem importância, pois pode ser o sintoma inicial de
nuída, e o toque bimanual não deve provocar dor.           patologias graves e por adquirir grande implicação
Quando a dor estiver associada, pensar em processos        social como algia pélvica, esterilidade, prenhez ectó-
inflamatório ou degenerativos. Após palpação do úte-       pica, doença inflamatória pélvica, “sepsis” e morte.
ro, passa-se à palpação dos anexos onde procura-se
palpar ovários e trompas uterinas. Os ovários nor-               CONTEÚDO VAGINAL: Os órgãos genitais da mu-
mais podem ser palpáveis com alguma facilidade na          lher são derivados dos ductos de Müller, são ocos e se


                                                                                                                 85
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comunicam com o meio externo, através da vulva. São       exame, a secreção pode ser visível no intróito vaginal.
secretores e seus epitélios de revestimento descamam,     Queixas vulvares podem estar associadas, como pru-
periodicamente. O sentido do fluxo determina que esta     rido ou dispareunia.
secreção se exteriorize, passando desapercebida pela
                                                                 ETIOLOGIA DO CORRIMENTO GENITAL: A in-
mulher. A cavidade vaginal e seu conteúdo formam
                                                          fecção é a causa mais freqüente do corrimento vagi-
um ecossistema em equilíbrio dinâmico, com caracte-
                                                          nal. Pode ser em decorrência de agente único ou mis-
rísticas próprias, mutáveis ao longo da vida da mu-
                                                          tos. As mais comuns são as causadas por bactérias
lher. O conteúdo vaginal tem pequeno volume (1,5 a
                                                          (Gardnerella vaginalis,Chlamydia trachomatis,
2,0 g) e tende a se acumular nos fórnices vaginais.
                                                          Neisséria gonorrhoeae), por fungos (Candida sp.),
Pode ser incolor, de aspecto mucoso, ou brancacento,
                                                          por protozoários (Trichomonas vaginalis) e por vírus
como leite diluído ou pastoso. Caracteriza-se por não
                                                          (Herpes simples e Papilomavirus humano).
apresentar odor e não sujar ou manchar a roupa ínti-
ma. Constitui-se, principalmente, de muco, produ-                DIAGNÓSTICO: Como visto anteriormente, a
zido pelas trompas, corpo e cervix uterino, de transu-    anamnese bem elaborada, o exame físico bem feito e
dato das paredes vaginais, de células descamadas do       os exames complementares fazem o diagnóstico em
epitélio vaginal e cervical, das secreções das glându-    quase a totalidade dos casos. Entre os exames com-
las vestibulares e de bactérias e produtos de seu meta-   plementares, o exame a fresco é de grande auxílio,
bolismo. A vagina no período fetal é estéril e sua co-    por ser rápido, ter baixo custo, simples e ser realizado no
lonização por flora característica é espontânea. É a      momento do exame físico. Serve ainda para orientar
oferta de substrato hormônio-dependente o fator           terapêutica até que exames mais sofisticados fiquem
determinante do tipo de flora vaginal existente em        prontos. Dentre os exames a fresco temos: medida do
determinado momento da vida da mulher. O principal        pH vaginal: utiliza-se uma tira de papel de nitrozima
substrato é o glicogênio que é degradado pelas enzimas    ou de tornassol que é colocado com uma pinça de
celulares até hexoses. A flora vaginal é constituída      Cherron em contato com o conteúdo vaginal e após, é
por bactérias facultativas e anaeróbias, na proporção     comparado com os parâmetros de referência; teste da
de 10:1, em relação às bactérias aeróbias. Predomi-       amina: é, também , chamado de “ teste do cheiro ” ou
nam os Lactobacillus sp. descritos por DÖDERLEIN
em 1892. Estes bacilos produzem ácido lático, a partir
das hexoses, que é o responsável pela manutenção             Tabela I - Composição e distribuição da micro-
                                                             flora vaginal (aeróbica e facultativa, em mulhe-
do pH vaginal entre 3.8 e 4.5. A acidez vaginal é a
                                                             res assintomáticas)
principal responsável pelo equilíbrio, entre as dife-
rentes espécies bacterianas constituintes da flora va-         Bactéria                                 % de
                                                                                                  CulturasPositivas
ginal considerada normal (Tabela I). Em períodos de
atrofia epitelial vaginal, há diminuição acentuada dos         Lactobacillus sp.                          49 a 96
bacilos de DÖDERLEIN e em elevação do pH, tor-
                                                               Difteróides                                13 a 44
nando mais fácil o estabelecimento de alguma infec-
ção. Outras situações podem elevar o pH vaginal como           Staphylococcus epidermidis                 41 a 67
a presença de ectrópio, lacerações cervicais, DIU,             Staphylococcus aureus                      01 a 07
pólipos endocervicais, menstruações, coito e duchas
vaginais (“lavagens”).                                         Streptococcus alfa-hemolíticos             16 a 20

                                                               Streptococcus beta hemolíticos             08 a 26
      CONCEITO DE CORRIMENTO VAGINAL: É a ocor-
rência de secreção e/ou sensação de umidade perce-             Streptococcus não hemolíticos              14 a 26
bida na região genital externa, em outras circunstân-          Streptococcus do grupo D                   15 a 40
cias que não as fisiológicas. Frequentemente o fluxo
tem características organolépticas diferentes, podendo         Eschirichia coli                           13 a 20

manchar a roupa e podem ter odor desagradável. Ao


86
Semiologia ginecologica.




ainda de “ whiff test ” e consiste em misturar 1 gota
do conteúdo vaginal com 1 ou 2 gotas de solução
aquosa de KOH a 10%. A liberação de aminas volá-
teis (putrescina e cadaverina), quando presentes, faz
exalar odor de peixe morto e indicam exacerbação da
flora anaeróbica; lâmina a fresco é um exame mi-
croscópico direto quando analisamos 1 gota do con-
teúdo vaginal que é colocada em uma lâmina e adicio-
na-se solução aquosa de KOH a 10%, quando a sus-
peita for de infecção por Cândida sp. Cobre-se com
lamínula e leva-se ao microscópio óptico comum,
onde se observa os espóros e micélios do fungo.
Quando a suspeita é de protozoários, repete-se o mes-
mo procedimento, porém utilizando-se não de KOH,
mas de soro fisiológico a 0,9%. Ao microscópio pode-se
ver Trichomonas vaginalis movimentando-se pela lâ-
mina. O número de leucócitos presente no esfregaço
nos dá a idéia da intensidade da reação inflamatória
presente. Pode-se ainda, indiretamente, suspeitar-se da
infecção por Gardnerella vaginalis, quando se obser-
va no material embebido com soro fisiológico a pre-
sença de “células guia”, que representa o acumulo de
bactérias sobre uma célula descamada do epitélio va-                  Figura 2 - “Célula Guia. Esfregaço vaginal com célula co-
                                                                      berta por bactérias
ginal (Figura 2).




              CARRARA HH A; DUARTE G & PHILBERT PMP. Gynecologic semiology. Medicina, Ribeirão Preto, 29: 80-87,
                 jan/mar. 1996.

                   ABSTRACT: This paper is aimed at students who are inittiaing Gynecologic practice. As a guide
              it does not intend to be complete. Different approaches from the ones here presented may be observed
              in classrooms, athough the main content shall be preserved. Consulting the mentioned books certainly
              will expand the information obtained.

                   UNITERMS:   Gynecology. Medical History Talking. Physical Examination.




             BIBLIOGRAFIA CONSULTADA                               3 - MEDINA J; SALVATORE CA & BASTOS AB. Propedêutica gi-
                                                                       necológica. 3ª ed. Manole, São Paulo, 524 p, 1977.
1 - HALBE HW. Tratado de ginecologia 2º ed. Roca, São Paulo,
    2 v, 1995.
                                                                               Recebido para publicação em 04/03/96
2 - KISTNER RM. Ginecologia: Princípios e prática, 4ª ed. Tradu-
    ção de André Luis Guerreiro et al. Manole, São Paulo, 754 p,               Aprovado para publicação em 14/03/96
    1989.




                                                                                                                                  87

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  • 1. Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: SEMIOLOGIA ESPECIALIZADA 29: 80-87, jan./mar. 1996 Capítulo VIII SEMIOLOGIA GINECOLÓGICA GYNECOLOGIC SEMIOLOGY Helio Humberto Angotti Carrara, Geraldo Duarte, Paulo Meyer de Paula Philbert Docentes do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. CORRESPONDÊNCIA : Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Campus Universitá- rio - CEP: 14.048-900 - Ribeirão Preto - SP - FONE: (016) 633-0216 - FAX: (016) 633-0946. CARRARA HH A; DUARTE G & PHILBERT PMP. Semiologia ginecológica. Medicina, Ribeirão Preto, 29: 80-87, jan./mar. 1996. RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de servir de roteiro aos alunos que estão iniciando o curso de Ginecologia, através da Semiologia Tocoginecológica e, como roteiro, não tem a pretensão de ser completo. Algumas aulas poderão ter abordagem ou seqüência diferente daquela aqui apre- sentada, porém, o conteúdo principal será respeitado. A leitura das obras citadas ampliará e solidificará os conhecimentos aqui auferidos, lembrando que a complementação com aulas práticas é fundamental. UNITERMOS: Ginecologia. Anamnese. Exame Físico. INTRODUÇÃO 1. PROPEDÊUTICA GINECOLÓGICA E EXA- ME A FRESCO A união da Ginecologia e da Obstetrícia, como disciplina única, proporciona a oportunidade de en- 1.1. Anamnese tender as alterações funcionais e orgânicas, patoló- A consulta ginecológica começa, como em ou- gicas ou não, que possam ocorrer no organismo femi- tras áreas da medicina, pela anamnese, tempo dos mais nino. Assim, os fatores reprodutivos, endócrinos, de- importantes. Marca o primeiro contato do médico com a generativos, psíquicos e emocionais inerentes à mu- paciente e deve ser o início de uma relação de confiança lher podem ser melhor entendidos e estudados, uma mútua. Algumas etapas importantes da anamnese são: vez que a paciente é vista como um todo, e não de IDENTIFICAÇÃO: a identificação da paciente forma fragmentada. deve ser feita da forma mais precisa possível, evitan- Os iniciantes na tocoginecologia devem sem- do-se erros e confusões que podem ter conseqüências pre estar atentos à intimidade da paciente e, neste sen- irreparáveis. tido, o observador deve ser um ouvinte atencioso, IDADE: permite situar a paciente em uma das interessado, compreensivo e conservar uma atitude diversas fases da vida da mulher, quais sejam infân- tranqüila e até mesmo indulgente, pois parcela consi- cia, puberdade, maturidade, climatério e senilidade. derável das queixas clínicas, relatadas pelas pacien- Sabe-se que certas patologias são mais freqüentes em tes, relaciona-se a assuntos ou partes do corpo que determinadas faixas etárias, facilitando assim o racio- elas preferem não abordar. cínio diagnóstico. 80
  • 2. Semiologia ginecologica. COR: tem importância visto que certas patolo- esclarecidas. Assim o passado de doença pulmonar gias são mais constantes em determinadas raças. Como tal como tuberculose, bronquite crônica e surtos de exemplo, temos que mulheres negras tendem a apre- eczema podem ser a causa de incontinência urinária sentar leiomioma uterino mais freqüentemente que de esforço, pelo fato de provocarem tosse crônica. As mulheres brancas. alterações cardiovasculares devem ser meticulosa- mente anotadas, principalmente em pacientes jovens, NATURALIDADE E PROCEDÊNCIA: sua impor- no período reprodutivo e desejosas de gravidez, visto tância reside no fato que certas doenças são mais co- a sobrecarga que a gravidez acarreta ao sistema circu- muns em determinadas regiões, como o câncer da latório. Da mesma forma, o aparelho digestivo me- mama, que é mais freqüente em mulheres proceden- rece atenção especial, visto que muitas vezes algu- tes dos Estados Unidos. mas alterações digestivas podem ser confundidas com PROFISSÃO: deve ser bem definida, porquanto queixa ginecológica, tais como a diverticulite ou a em algumas situações assumem importância capital, apendicite, pela semelhança das manifestações clíni- como no caso de mulheres grávidas que lidam com cas. Queixas do aparelho urinário são, frequente- materiais tóxicos (gráficos). mente, motivo de consulta ao ginecologista. Entre as ESTADO CIVIL: deve ser registrado, juntamen- mais freqüentes encontram-se as cistites e as litíases te, com o nome do parceiro para possível contato e renais. As mamas, a nosso ver, merece consideração informações sobre o estado de saúde da paciente. especial. A dor, se relatada, deve ser bem caracte- rizada quanto à intensidade, ritmo, característica e RELIGIÃO: justifica-se pelo fato que pode for- local. Da mesma forma, a queixa de nódulo implica necer informações sobre costumes, práticas e hábitos em determinar o número, local, tempo de aparecimen- de vida da mulher. to, consistência, mobilidade, crescimento rápido ou Uma vez feita a identificação da paciente, pas- não, presença de nódulos axilares e regularidade de sa-se à etapa seguinte da anamnese: sua superfície. Interrogar sobre a possibilidade de saída de secreção pelo mamilo e, se presente, caracterizar QUEIXA PRINCIPAL E DURAÇÃO: Deve-se fazer coloração, quantidade, saída espontânea, se é uni ou a transcrição fiel das expressões usadas pelas pacien- bilateral, se por um ou mais ductos. tes, pois, geralmente, a queixa e o tempo dos sintomas já permitem formular hipóteses diagnósticas. ANTECEDENTES FAMILIARES: Sabe-se que al- gumas ginecopatias tendem a se repetir entre mem- HISTÓRIA DA MOLÉSTIA ATUAL: faz-se um his- bros de uma mesma família como, por exemplo, os tórico da evolução das manifestações clínicas, desde leiomiomas. Doenças como diabetes, hipertensão, cân- seu início até o momento da consulta. Todas as parti- cer, alergias e doenças infecto-contagiosas devem ser, cularidades devem ser minudenciadas, tais como pe- rigorosamente, anotadas. ríodos de melhora espontânea, medicação utilizada, exames laboratoriais e possíveis tratamentos clínicos ANTECEDENTES PESSOAIS: O passado de do- e/ou cirúrgicos realizados. O conhecimento destes da- enças contagiosas da infância deve ser esclarecido, pois dos facilitam o raciocínio diagnóstico. doenças como rubéola, toxoplasmose, sarampo, ca- xumba e outras assumem importância capital, du- INTERROGATÓRIO SOBRE OS DIVERSOS APARE- rante o período reprodutivo da mulher. A história de LHOS: É de real importância porque muitas vezes uma infecção urinária de repetição nos fornece subsídio queixa que a paciente pensava ser de origem gineco- para a hipótese de má formação do aparelho renal. lógica, pode ter, na realidade, outra origem, tal como O passado de doença sexualmente transmitida deve o trato intestinal ou, ainda, o aparelho urinário. Co- ser investigado e esclarecido, pois pode ser causa de meça-se o interrogatório pelo segmento cefálico, infertilidade. questionando sobre cefaléias, acuidade visual, audi- tiva, olfativa e gustativa. Questiona-se, também, a HÁBITOS: investigar tabagismo e se presente, presença de nódulos cervicais e tireoidianos, pois al- questionar número de cigarros fumados por dia. Igual- terações nesta glândula podem ter repercussões tanto mente, o hábito de etilismo deve ser determinado. Fun- sobre a função ovariana quanto sobre a gravidez. Re- damental buscar informações sobre utilização de dro- ferências ao aparelho respiratório devem ser bem gas ilícitas, por via inalatória ou venosa. 81
  • 3. HHA Carrara; G Duarte & PM de P Philbert OPERAÇÕES: esclarecer quantas e quais cirur- quando a rotura do folículo ovulatório se acompanha gias foram feitas, as datas em que elas foram realiza- de sangramento, o que provoca irritação peritoneal. A das, as razões das indicações cirúrgicas e os resul- algomenorréia, que é a menstruação acompanhada tados anátomo-patológicos das peças cirúrgicas. Os de dor, é sintoma menstrual comum e causa frequente tipos de anestesias utilizadas e a duração das mes- de consulta ao ginecologista. Por este motivo, deve mas, também, deve ser anotado. Se durante alguma ser bem caracterizada quanto ao tipo, se em cólica, das cirurgias realizadas houve necessidade de trans- em peso ou contínua, quanto à intensidade, se é leve, fusão sanguínea, devido à possibilidade de isoimuni- moderada ou forte e quanto ao período de apareci- zação materna e risco de viroses emergentes, todas mento, se pré-menstrual, menstrual ou pós-menstrual. situações de extrema gravidade no período reprodutivo Também, deve ser anotado se houve modificações do da mulher. A alergia a algum tipo de medicamento ciclo e de que tipo foram. Após o interrogatório dos deve ser anotada com destaque. Terminada esta parte antecedentes ginecológicos, devemos questionar os: da anamnese, passamos ao interrogatório dos: Antecedentes Sexuais: Neste tópico, são abordados problemas íntimos da paciente e o médico deve ter ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS: O interroga- uma postura neutra e serena ao lidar com possíveis tório deve começar pela idade da menarca (primeiro desajustes conjugais. Se há atividade sexual, deve-se episódio menstrual da vida da mulher). Espera-se que anotar o ritmo, se freqüente ou esporádico, se a libido este fato ocorra entre os 11 e 13 anos da vida da mu- está presente e normal, se ocorre orgasmo nas rela- lher, porém desvios para menos (10 anos) ou para mais ções, se há dispareunia (dor às relações), se há sinu- (16 anos) podem ser normais. Se a menarca ocorre sorragia (sangramento às relações), e práticas se- antes dos 10 anos de vida, este fato deve ser investi- xuais variadas, tais como sexo anal e oral. É impor- gado. Da mesma forma, se não ocorre até aos 16 anos, tante anotar o método anticoncepcional utilizado, também merece investigação. A data da última mens- pois pode ser fonte de ansiedade para a paciente, pelo truação tem importância e deve ser anotada com des- risco de falhas que apresentam. Como exemplo, o coito taque, principalmente se a paciente se encontrar no interrompido. É importante nesta fase da anamnese, menacme. Se a paciente for idosa, indagar a data da ouvir com naturalidade o relato da paciente, a fim de menopausa (última menstruação, encerrando o pe- não constrangê-la, quebrando desta forma a relação ríodo de menacme). Normalmente, a menopausa ocorre de confiança mútua. Em seqüência, interrogamos so- entre os 48 e 52 anos de vida. O intervalo entre as bre a presença de corrimento vaginal, caracterizando menstruações deve ser, em média, de 28 dias, porém o tempo de duração, a quantidade, a coloração, o variações de 26 a 32 dias podem ser normais. A dura- odor, possíveis variações com o ciclo menstrual, tipo ção do fluxo menstrual é de 4 a 5 dias. Pequenas de tratamento utilizado e o resultado do mesmo. variações ( 3 a 8 dias) podem ocorrer e, também, são Questiona-se, ainda, a realização de cauterização, consideradas normais. A quantidade de sangue per- quando e quantas vezes elas ocorreram. Alterações dido deve oscilar entre 25 e 100 ml. Vale ressaltar que vulvares, como prurido, tumores ou outras como mulheres que sangram por mais tempo (8 dias) podem fístulas e prolapsos devem ser investigados. Encer- perder maior volume (até 200 ml). A cor deve ser ver- rando a anamnese, devemos questionar sobre os An- melho escuro, fluido, não formando coágulos. A mens- tecedentes Obstétricos da paciente. Assim, pergun- truação pode ser acompanhada de: ta-se sobre o número de gestações, duração de cada Sintomas pré-menstruais e menstruais: Al- gravidez, tipos de partos, se normais ou operatórios guns sintomas pré-menstruais podem estar presentes, (fórceps ou cesariana), vitalidade do recém-nascido, tais como: ingurgitamento mamário, que é bastante peso dos filhos ao nascer, número de abortos, se se- freqüente; a mastalgia, que normalmente acompanha guidos ou não de curetagem, evolução do puerpério, o ingurgitamento mamário, deve ser bem esclarecida amamentação e por quanto tempo ela se deu. Se quanto à época de aparecimento, período do ciclo houve decesso fetal, anotar a causa da morte do feto. menstrual em que inicia, característica da dor, mano- bras ou medicamentos que a aliviam; a distensão ab- 1.2. Exame físico dominal, que a maioria das mulheres apresenta, pode ser explicada pelo edema das vísceras pélvicas, que Terminada a anamnese, procede-se o exame fí- ocorre neste período; a dor do meio, mais rara, ocorre sico da paciente. 82
  • 4. Semiologia ginecologica. EXAME FÍSICO GERAL E ESPECIAL: Deve-se ini- paciente sentada, faz-se a palpação das cadeias linfá- ciar pelo exame físico geral, onde são anotados os da- ticas cervicais, supra e infra-claviculares e axilares. dos referentes à pressão arterial, pulso, tempera- A palpação das cadeias axilares deve ser feita da se- tura, estatura e peso. Outros dados do exame físico guinte forma: a mão direita do examinador palpa a geral, também, devem ser anotados. Em seguida, pas- região axilar esquerda da paciente, estando esta com sa-se ao exame físico especial quando se examina a o membro superior homolateral à axila palpada apoia- cabeça e o pescoço, o aparelho respiratório, o apa- do no braço esquerdo do examinador, deixando desta relho urinário, o aparelho cardiovascular e, em forma a musculatura peitoral relaxada, facilitando o especial, o abdome, onde deve ser observado e des- exame. Para a axila oposta, o examinador utiliza a crito quanto à sua forma, tensão, presença de es- mão esquerda para a palpação e o braço direito para o trias, cicatrizes, pigmentação e presença de ascite. apoio do membro superior da paciente. Na etapa se- Da mesma forma, deve ser feita a ausculta e a palpa- guinte, com a paciente deitada em decúbito dorsal, ção criteriosa de toda sua extensão, tendo em mente coloca-se um coxim sob a região a ser palpada e pede-se que algumas ginecopatias podem ter, como sintoma que a mão correspondente ao lado a ser palpado seja inicial, alterações abdominais. colocada sob a cabeça quando, então, o examinador faz a palpação dos diversos quadrantes da mama, uti- EXAME FÍSICO GINECOLÓGICO: O exame gine- lizando-se os dedos e as palmas das mãos. Termina-se o cológico engloba o exame das mamas, o exame da exame mamário, fazendo a expressão de toda a glân- vulva, da vagina, do útero e dos anexos uterinos. dula, desde a sua base até ao mamilo. Estas manobras Inicia-se pelo exame das mamas que deve ser siste- devem ser feitas sempre de modo suave, porém com mática e rotineiramente realizado em todas as pacien- firmeza. Qualquer alteração encontrada, tais como nó- tes, independente da queixa que a trouxe à consulta dulos, espessamentos ou saída de secreção à expres- médica. O exame das mamas divide-se em três eta- são, deve ser minuciosamente descrita e anotada. pas, quais sejam: inspeção estática, inspeção dinâ- mica e palpação. Inspeção estática: com a paciente EXAME DA VULVA: Na vulva deve-se examinar ereta ou sentada e com os membros superiores dis- o monte de Vênus superiormente, grandes e pequenos postos, naturalmente, ao longo do tronco, observamos lábios lateralmente, o vestíbulo vulvar, o clitóris, o as mamas quanto ao tamanho, regularidade de con- meato uretral externo, as glândulas de Bartholin, a tornos, forma, simetria, abaulamento e retrações, pig- fúrcula vaginal, o hímen e o períneo, posteriormente. mentação areolar, morfologia da papila e circulação O monte de Vênus é formado por coxim gorduroso venosa. Inspeção dinâmica: Em um primeiro tempo cuja pele é recoberta por pêlos, glândulas sudoríparas desta fase do exame, pede-se à paciente que eleve os e sebáceas. É zona erógena e a distribuição pilosa deve membros superiores, lentamente, ao longo do segmento ser triangular de base, voltada superiormente. Os pê- cefálico e, desta forma, observa-se as mamas quanto aos los encontrados na face ântero-lateral dos grandes lá- itens anteriores. Em seguida, pede-se à paciente que bios são curtos, grossos e encaracolados. Diante da estenda os membros para frente e incline o tronco de queixa de prurido, deve-se afastar lesão dermatológica. modo que as mamas fiquem pêndulas, perdendo todo Os grandes lábios atingem seu desenvolvimento, após o apoio da musculatura peitoral, quando, novamente, a puberdade e tendem à atrofia, após a menopausa. observa-se as mamas quanto aos itens citados, an- São homólogos do escroto e, analogamente, podem teriormente. No terceiro tempo desta fase, pede-se que ser estimulados pelos androgênios. Fazem a proteção a paciente apoie as mãos e pressione as asas do ilíaco, da parte mediana da vulva e são sede freqüente de bilateralmente. O objetivo destas manobras é realçar lesões infecciosas (granuloma, herpes, condilomas e as possíveis retrações e abaulamentos e verificar o outros) ou transformações malignas. Os pequenos lá- comprometimento dos planos musculares, cutâneo e do bios são recobertos por pele pigmentada e glândulas gradil costal. Os abaulamentos podem ser decorrentes sudoríparas. Superiormente, formam o prepúcio cli- de processos benignos e malignos enquanto as retra- toridiano e, inferiormente, dissimulam-se nos grandes ções quase sempre são decorrentes de processos ma- lábios. São estrogênios-dependentes e ricamente vas- lignos. A pigmentação areolar castanho-escura indica cularizados. Durante a excitação sexual, aumentam de estimulação estrogênica prévia, como na gravidez. tamanho (congestão vascular) e podem variar em Palpação: É realizada em duas etapas. Ainda com a cor, tornando-se vermelho vivo ou vinhoso. Também, 83
  • 5. HHA Carrara; G Duarte & PM de P Philbert podem ser sede de lesões infecciosas ou transforma- EXAME DOS GENITAIS INTERNOS: Começa-se o ções malignas. O vestíbulo vulvar é o espaço trian- exame dos genitais internos pelo exame da vagina. Para gular limitado, anteriormente, pelo clitóris, lateral- o exame da vagina, utiliza-se espéculo bivalvar, e ob- mente, pelos pequenos lábios (ninfas) e posteriormente serva-se as paredes vaginais quanto à sua coloração pela fúrcula. Nele, observa-se os orifícios da uretra, da que deve ser rósea, quanto à sua rugosidade, que é vagina e dos canais das glândulas de Skene. O clitóris normal durante o menacme, quanto ao seu trofismo, mede cerca de 1 cm e é a porção mais erógena do trato quanto ao seu comprimento e elasticidade, os fundos genital feminino. Durante a excitação, sofre fenômeno de sacos laterais, anteriores e posteriores e a presença de ereção, aumentando de tamanho e consistência. O de secreção ou corrimento. Se este estiver presente, meato uretral externo situa-se abaixo do clitóris e verificar quantidade, cor, odor, se fluido ou não, pre- pode apresentar, ocasionalmente, carúnculas uretral, sença de bôlhas e sinais inflamatórios associados. que pode ser devido a processo granulomatoso ou an- Lembrar que o epitélio endocervical produz muco giomatoso. As glândulas de Bartholin situam-se às hialino fisiológico que pode ser confundido com cor- 4 e 8 horas no coxim adiposo dos grandes lábios. Em rimento infeccioso pelas pacientes. Observa-se na se- geral, não são palpáveis e os óstios de seus ductos, qüência o colo uterino quanto à coloração, forma, raramente, visíveis. Podem ser sede de cistos ou abs- volume e forma do orifício externo (OE) que deve cessos. A fúrcula vaginal resulta da fusão dos gran- ser puntiforme nas nulíparas e em fenda transversa des lábios na região mediana posterior. É o local onde, nas multíparas, presença de muco no orifício, caracte- habitualmente, se encontra corrimento quando se rea- rísticas deste muco, situação do colo quanto ao eixo liza o exame ginecológico. Delimita anteriormente a vaginal, presença de ectopia (crescimento do epitélio fosseta navicular. O períneo é a região entre a fúrcula glândular endocervical, além do OE). Após este tem- vulvar e o ânus. É a base de uma cunha fibro-muscu- po do exame, fazemos o toque bidigital bimanual. O lar com, aproximadamente, 4 cm de extensão. Pode toque é feito, após calçar luva de borracha de tama- ser sede de roturas que são classificadas em 3 graus: nho apropriado, e lubrificá-la com vaselina. Os dois I) quando acomete apenas a mucosa; II) quando aco- dedos que tocam devem estar em extensão, e o quarto mete os planos musculares porém preservando o mús- e quinto dedo devem estar fletidos sobre os metacarpos culo esfincteriano; III) quando a rotura atinge o esfíncter anal externo. O hímen separa o ves- tíbulo vulvar da vagina, sendo uma estrutura fibrosa que se rompe quando da primeira re- lação sexual, formando os res- tos himenais. Após parto nor- mal, os restos himenais são, am- plamente, separados e formam as carúnculas mirtiformes ou himenais (Figura 1). Ocasio- nalmente, pode existir hímen elástico (complacente) que não se rompe às relações. Du- rante a fase de inspeção vulvar, pede-se que a paciente faça manobra de esforço (prensa abdominal) com o objetivo de se observar qualquer alteração anatômica, envolvendo bexiga (cistocele), reto (retocele) e Figura 1 - Anatomia vulvar útero (prolapso uterino). 84
  • 6. Semiologia ginecologica. e o polegar em adução de 90º. A introdução dos dedos dependência do peso da paciente (difícil em obesas). far-se-á após afastamento dos lábios genitais, depri- Qualquer aumento de volume deve ser investigado. Já mindo-se a fúrcula com o bordo cubital dos mesmos, as trompas uterinas não são, normalmente, palpáveis até que se alcance a cavidade vaginal. Explora-se o e, se o forem, provavelmente trata-se de processo pato- tônus muscular perineal e, em seguida, as paredes da lógico. O toque retal deve ser feito e, principalmente vagina. Superiormente, faz-se a exploração da bexi- em determinadas situações, como nos casos de câncer ga; posteriormente, do reto; lateralmente, das paredes do colo do útero. pélvicas. Em seguida, palpa-se os fundos de saco an- terior e posterior, à procura de possíveis massas. Após, 1.3. Exames Laboratoriais passa-se à palpação do colo do útero, levando em con- sideração: a situação, que deve ser ao nível das espi- Dosagens de hormônios plasmáticos, como nhas ciáticas; a direção, sendo que, normalmente, o estradiol, progesterona, hormônio folículo estimu- colo forma ângulo aberto com a vagina, o que permite lante, hormônio luteotrófico e outros, podem auxiliar inferir que o corpo esteja em anteversão; a forma que, no diagnóstico de algum distúrbio do eixo hipotála- normalmente, é cilíndrica; o comprimento, que é va- mo-hipófise-gonadal. O hemograma e sorologias (HIV, riável de acordo com a fase da vida da mulher; a con- VDRL, rubéola, Machado-Guerreiro, toxoplasmose e sistência é elástica, lembrando a cartilagem nasal; a outras) auxiliam na investigação de infecções, seja no superfície é lisa, regular e o contorno deve estar pre- passado ou no presente. A radiologia presta grande servado. Na seqüência faz-se o exame do corpo ute- auxílio, seja através da mamografia, ou de outras téc- rino, através de toque bimanual abdomino-vaginal. nicas, como os exames simples ou contrastados. A Identifica-se o corpo do útero e avalia-se os seguintes ultra-sonografia tem ampla aplicação, seja para exa- parâmetros: a situação que deve ser, na mulher adul- me de órgãos pélvicos ou das mamas. Os exames de ta, no centro da linha sacro-pubiana ocupando sempre urina e de fezes são necessários e, por vezes, a cultura a pequena bacia. Na gravidez e em situações patoló- destes materiais também se faz necessária. A citologia gicas, pode se encontrar fora dela. A situação deve vaginal e a colposcopia são realizadas, rotineiramente, ser mediana e desvios laterais podem ter causa pato- durante o exame especular. A citologia tem função lógicas, como massas ou retrações. A orientação pode variada, sendo utilizada para diagnóstico de infecções ser anterior (ante-versão) ou posterior (retro-versão). vaginais, alterações hormonais e, principalmente, na Pode, ainda, apresentar curvatura sobre seu próprio prevenção e diagnóstico precoce de lesões malignas eixo, sendo denominado ante-verso-fletido se anterior, do trato genital. Neste sentido, associa-se o uso da col- e retro-verso-fletido se posterior. A forma deve ser poscopia, que possibilita a biópsia dirigida, e confere piriforme de base voltada para cima. A gravidez e pro- ao exame ginecológico uma maior efetividade. cessos patológicos podem modificar este parâmetro. EXAME A FRESCO: O esfregaço vaginal pode O volume é variável, entre 30 e 90 cc, e o compri- ser analisado de diferentes maneiras. O exame a fresco mento deve alcançar cerca de 7 cm na vida adulta. O permite diagnóstico rápido e barato às pacientes. Tem aumento do número de gestações provoca aumento indicação na suspeita de colpite infecciosa ou na pre- do volume uterino. A consistência deve ser firme e o sença de corrimento genital (CG). O CG é queixa fre- seu amolecimento deve levantar a hipótese de gravi- qüente das pacientes e pode representar o motivo prin- dez, enquanto o endurecimento, a hipótese de leiomio- cipal da consulta, em até 30%, em clínicas particula- mas. A superfície deve ser lisa e apresentar contornos res e, em cerca de 40%, nos ambulatórios públicos. preservados. A sensibilidade é normalmente dimi- Tem importância, pois pode ser o sintoma inicial de nuída, e o toque bimanual não deve provocar dor. patologias graves e por adquirir grande implicação Quando a dor estiver associada, pensar em processos social como algia pélvica, esterilidade, prenhez ectó- inflamatório ou degenerativos. Após palpação do úte- pica, doença inflamatória pélvica, “sepsis” e morte. ro, passa-se à palpação dos anexos onde procura-se palpar ovários e trompas uterinas. Os ovários nor- CONTEÚDO VAGINAL: Os órgãos genitais da mu- mais podem ser palpáveis com alguma facilidade na lher são derivados dos ductos de Müller, são ocos e se 85
  • 7. HHA Carrara; G Duarte & PM de P Philbert comunicam com o meio externo, através da vulva. São exame, a secreção pode ser visível no intróito vaginal. secretores e seus epitélios de revestimento descamam, Queixas vulvares podem estar associadas, como pru- periodicamente. O sentido do fluxo determina que esta rido ou dispareunia. secreção se exteriorize, passando desapercebida pela ETIOLOGIA DO CORRIMENTO GENITAL: A in- mulher. A cavidade vaginal e seu conteúdo formam fecção é a causa mais freqüente do corrimento vagi- um ecossistema em equilíbrio dinâmico, com caracte- nal. Pode ser em decorrência de agente único ou mis- rísticas próprias, mutáveis ao longo da vida da mu- tos. As mais comuns são as causadas por bactérias lher. O conteúdo vaginal tem pequeno volume (1,5 a (Gardnerella vaginalis,Chlamydia trachomatis, 2,0 g) e tende a se acumular nos fórnices vaginais. Neisséria gonorrhoeae), por fungos (Candida sp.), Pode ser incolor, de aspecto mucoso, ou brancacento, por protozoários (Trichomonas vaginalis) e por vírus como leite diluído ou pastoso. Caracteriza-se por não (Herpes simples e Papilomavirus humano). apresentar odor e não sujar ou manchar a roupa ínti- ma. Constitui-se, principalmente, de muco, produ- DIAGNÓSTICO: Como visto anteriormente, a zido pelas trompas, corpo e cervix uterino, de transu- anamnese bem elaborada, o exame físico bem feito e dato das paredes vaginais, de células descamadas do os exames complementares fazem o diagnóstico em epitélio vaginal e cervical, das secreções das glându- quase a totalidade dos casos. Entre os exames com- las vestibulares e de bactérias e produtos de seu meta- plementares, o exame a fresco é de grande auxílio, bolismo. A vagina no período fetal é estéril e sua co- por ser rápido, ter baixo custo, simples e ser realizado no lonização por flora característica é espontânea. É a momento do exame físico. Serve ainda para orientar oferta de substrato hormônio-dependente o fator terapêutica até que exames mais sofisticados fiquem determinante do tipo de flora vaginal existente em prontos. Dentre os exames a fresco temos: medida do determinado momento da vida da mulher. O principal pH vaginal: utiliza-se uma tira de papel de nitrozima substrato é o glicogênio que é degradado pelas enzimas ou de tornassol que é colocado com uma pinça de celulares até hexoses. A flora vaginal é constituída Cherron em contato com o conteúdo vaginal e após, é por bactérias facultativas e anaeróbias, na proporção comparado com os parâmetros de referência; teste da de 10:1, em relação às bactérias aeróbias. Predomi- amina: é, também , chamado de “ teste do cheiro ” ou nam os Lactobacillus sp. descritos por DÖDERLEIN em 1892. Estes bacilos produzem ácido lático, a partir das hexoses, que é o responsável pela manutenção Tabela I - Composição e distribuição da micro- flora vaginal (aeróbica e facultativa, em mulhe- do pH vaginal entre 3.8 e 4.5. A acidez vaginal é a res assintomáticas) principal responsável pelo equilíbrio, entre as dife- rentes espécies bacterianas constituintes da flora va- Bactéria % de CulturasPositivas ginal considerada normal (Tabela I). Em períodos de atrofia epitelial vaginal, há diminuição acentuada dos Lactobacillus sp. 49 a 96 bacilos de DÖDERLEIN e em elevação do pH, tor- Difteróides 13 a 44 nando mais fácil o estabelecimento de alguma infec- ção. Outras situações podem elevar o pH vaginal como Staphylococcus epidermidis 41 a 67 a presença de ectrópio, lacerações cervicais, DIU, Staphylococcus aureus 01 a 07 pólipos endocervicais, menstruações, coito e duchas vaginais (“lavagens”). Streptococcus alfa-hemolíticos 16 a 20 Streptococcus beta hemolíticos 08 a 26 CONCEITO DE CORRIMENTO VAGINAL: É a ocor- rência de secreção e/ou sensação de umidade perce- Streptococcus não hemolíticos 14 a 26 bida na região genital externa, em outras circunstân- Streptococcus do grupo D 15 a 40 cias que não as fisiológicas. Frequentemente o fluxo tem características organolépticas diferentes, podendo Eschirichia coli 13 a 20 manchar a roupa e podem ter odor desagradável. Ao 86
  • 8. Semiologia ginecologica. ainda de “ whiff test ” e consiste em misturar 1 gota do conteúdo vaginal com 1 ou 2 gotas de solução aquosa de KOH a 10%. A liberação de aminas volá- teis (putrescina e cadaverina), quando presentes, faz exalar odor de peixe morto e indicam exacerbação da flora anaeróbica; lâmina a fresco é um exame mi- croscópico direto quando analisamos 1 gota do con- teúdo vaginal que é colocada em uma lâmina e adicio- na-se solução aquosa de KOH a 10%, quando a sus- peita for de infecção por Cândida sp. Cobre-se com lamínula e leva-se ao microscópio óptico comum, onde se observa os espóros e micélios do fungo. Quando a suspeita é de protozoários, repete-se o mes- mo procedimento, porém utilizando-se não de KOH, mas de soro fisiológico a 0,9%. Ao microscópio pode-se ver Trichomonas vaginalis movimentando-se pela lâ- mina. O número de leucócitos presente no esfregaço nos dá a idéia da intensidade da reação inflamatória presente. Pode-se ainda, indiretamente, suspeitar-se da infecção por Gardnerella vaginalis, quando se obser- va no material embebido com soro fisiológico a pre- sença de “células guia”, que representa o acumulo de bactérias sobre uma célula descamada do epitélio va- Figura 2 - “Célula Guia. Esfregaço vaginal com célula co- berta por bactérias ginal (Figura 2). CARRARA HH A; DUARTE G & PHILBERT PMP. Gynecologic semiology. Medicina, Ribeirão Preto, 29: 80-87, jan/mar. 1996. ABSTRACT: This paper is aimed at students who are inittiaing Gynecologic practice. As a guide it does not intend to be complete. Different approaches from the ones here presented may be observed in classrooms, athough the main content shall be preserved. Consulting the mentioned books certainly will expand the information obtained. UNITERMS: Gynecology. Medical History Talking. Physical Examination. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 3 - MEDINA J; SALVATORE CA & BASTOS AB. Propedêutica gi- necológica. 3ª ed. Manole, São Paulo, 524 p, 1977. 1 - HALBE HW. Tratado de ginecologia 2º ed. Roca, São Paulo, 2 v, 1995. Recebido para publicação em 04/03/96 2 - KISTNER RM. Ginecologia: Princípios e prática, 4ª ed. Tradu- ção de André Luis Guerreiro et al. Manole, São Paulo, 754 p, Aprovado para publicação em 14/03/96 1989. 87