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NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO
INTRODUÇÃO
O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é um tratado internacional cujo objetivo é o de criar
uma ortografia unificada a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa. Embora não elimine
todas as diferenças ortográficas existentes, apresenta uma redução significativa das mesmas.
A primeira grande reforma ortográfica portuguesa data de 1911, mas o Brasil não a seguiu. Em Portugal,
desde 1045 seguimos o sistema proposto pela Academia das Ciências de Lisboa, que sofreu ligeiras
alterações em 1973. Em 1986 foi negociado um Acordo Ortográfico entre as academias portuguesa e
brasileira que gerou muita polémica, acabando por sofrer algumas alterações que só foram aprovadas
quatro anos depois.
Em 1990 este documento foi assinado pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de
Letras, delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe e,
porteriormente, por Timor Leste, tendo contado ainda com a adesão dos observadores da Galiza.
O novo Acordo Ortográfico (AO) foi introduzido no sistema de ensino português no ano letivo de
2011/2012 pela Resolução n. 375/2010 do governo português, e o período de transição durante o qual
coexistem as duas ortografias termina em 2015.
Tal como o nome indica, o AO incide apenas na ortografia das palavras, ou seja, na forma como essas se
escrevem. Ele afeta não mais que 2% do léxico; contudo, o mais usado no nosso quotidiano.
Neste Acordo o fundamento fonético é privilegiado em detrimento do etimológico, ou seja: o critério da
pronúncia justifica a eliminação de consoantes não articuladas (mudas) ou a existência de uma dupla
grafia em caso de oscilação de pronúncia.
O QUE MUDA COM O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO
1) Alfabeto de 26 letras
2) Supressão de consoantes mudas
2.1.) Casos de dupla grafia
3) Alterações ao uso da acentuação
3.1.) Casos de dupla acentuação
4) Alterações ao uso do hífen
5) Alterações ao uso de maiúsculas
2
26 LETRAS NO ALFABETO
K (capa ou cá); W (dâblio ou dáblio); Y (ípsilon ou i grego)
Apesar de passarem a fazer parte do alfabeto nacional, ainda assim são de uso restritivo, ou seja, usadas
apenas em casos especiais e devendo ser substituídas sempre que possível:
Exs: Kayak – caiaque; joker – jóquer; whisky – uísque; kiwi – quivi; yoga – ioga; yard – jarda, etc.
As letras K, W e Y são usadas em:
a) Nomes de pessoas (antropónimos) e seus derivados
Exs: Kafka, Kant, Shakespear, Wagner, Weber, Yang, Yeats.
Derivados: kafkiano, kantiano, shakespeariano, wagneriano, weberiano, yanguiano, yeatsiano,
Darwin, darwinismo, Newton, newtoniano, Byron, byroniano, Taylor, taylorista, Freud, freudiano.
Neste caso basta lembrar que se mantém a regra pré-existente de que os nomes próprios não são
submetidos a alterações pelo facto de conterem essas letras; nem combinações de letras hoje
inexistentes na nossa ortografia e nem mesmo o trema, como veremos no final do capítulo reservado
à acentuação: Garrett(iano), Miller(iano), Comtista (de Comte), goethiano (de Goethe), Müller(iano).
b) Nomes de lugares (topónimos) e seus derivados
Exs: Kuwait, Washington, Yorkshire, Malawi / kuwaitiano, washingtoniano, yorkshiriano, malawiano.
Apesar desta “permissão”, o AO sugere que, sempre que possível, se usem as formas aportuguesadas
consagradas pelo uso: Genebra em vez de Genève, Zurique para Zürich, Edimburgo para Edinburgh,
Havai para Hawai, Bagdade para Bagdad, Bruxelas para Bruxelles, Filadélfia para Philadelphia, Nova
Iorque para New York; Versalhes para Versailles, Turim para Torino, Crecóvia para Kraków, Quebeque
para Québec, Munique para München, Estrasburgo para Strasbourgh, Bordéus para Bordeaux, etc.
c) Estrangeirismos correntes sem tradução directa ou usual para o Português
Exs: jackpot, kart, bowling, babygro, babydoll, tai-chi, workshop, apartheid, habitat, ferry-boat, kit,
kitsch, kitchenette, western, bodyboard, bungee jumping, windsurf, karaté, shorts, light, kalashnikov,
perestroika, karaoke, croissant, designer, jeans, t-shirt, pizza, reveillon, stop, teenager, flash, icebreak,
bypass, zen, gay, show, brunch, ménage, degrade, pot-pourri, playboy, carjacking, bullyin, lounge ok1
..
d) Siglas, símbolos e unidades de medida de uso internacional
Exs: WWW (World Wide Web), KGB, WC, km (quilómetro), yd (jarda), watt.
1
Mais exemplos no Portal de Língua Portuguesa: http://portaldalinguaportuguesa.org
3
Em suma: quanto ao uso das letras K, W e Y, nada a alterar: utilizam-se restritivamente (como dantes),
respeitando a sua existência em nomes próprios e seus derivados, mas substituindo-as sempre que existir
uma forma aportuguesada à altura. Não surgirão novas palavras portuguesas com K, W e Y.2
CONSOANTES MUDAS
Uma das alterações mais significativas introduzidas pelo Acordo Ortográfico será a da eliminação das
consoantes C e P no caso em que estas não se pronunciam.
Nas alterações ortográficas seguintes, a seta significa que as grafiam à esquerda se alteram para a forma à
direita e a negrito:
Supressão do C Supressão do P
cc → c abstraccionismo → abstracionismo
accionar → acionar
confeccionar → confecionar
coleccionar → colecionar
direccionar → direcionar
fraccionar → fracionar
inspeccionar → inspecionar
leccionar → lecionar
projeccionista → projecionista
proteccionista → protecionista
reaccionário → reacionário
transaccionar → transacionar
seleccionar → selecionar
Nos casos em que a consoante é
pronunciada, mantém-se: faccioso, ficcional,
friccionar, seccionar, cóccix, occipital.
pc → c concepcional → concecional
decepcionar → dececionar
excepcional → excecional
percepcionar → percecionar
recepcionista → rececionista
O AO admite a possibilidade de dupla grafia
para estas palavras, mas em Portugal a forma
correcta é esta, visto não se pronunciar o P.
Nos casos em que a consoante é
pronunciada, mantém-se: egípcio; núpcias,
inépcia, opcional, capcioso, captura.
cç → ç (inter)acção → ação
atracção → atração
objecção → objeção
abstracção → abstracção
coação → coação
colecção → coleção
confecção → confeção
correcção → correção
direcção → direção
distracção → distração
erecção → ereção
f(r)acção → f(r)ação
pç → ç acepção → aceção
adopção → adoção
con(tra)cepção → con(tra)ceção
decepção. → deceção
excepção → exceção
intercepção → interceção
percepção → perceção
recepção → receção
2
Nota: em alguns casos “autorizados”, os vocabulários registarão grafias alternativas admissíveis: fúcsia/fúchsia;
buganvília/ buganvílea.
4
injecção → injeção
inspecção → inspeção
(des)infecção → infeção
prospecção → prospeção
protecção → proteção
re(d)acção → re(d)ação
selecção → seleção
subtracção → subtração
transacção → transação
Nos casos em que a consoante é
pronunciada, mantém-se: dicção, convicção,
ficção, fricção, secção, sucção, micção.
Nos casos em que a consoante é
pronunciada, mantém-se: corrupção,
erupção, interrupção, opção.
ct → t acto, activo, actor → ato, ativo, ator
actual → atual
colectivo→ coletivo
correcto → correto
detectar → detetar
dialecto → dialeto
direct*iv+o → diret[iv]o
efectuar → efetuar
electricidade→ electricidade
espectáculo → espetáculo
factor → fator
infractor → infrator
insecto → iseto
inspector → inspetor
introspecção → introspeção
nocturno → noturno
object*iv+o→ objet[iv]o
olfacto → olfato
perspectiva → perspetiva
predilecto →predileto
projecto*r+→ projeto[r]
protector → protetor
reflectir → refletir
tacto → tato
tecto → teto
trajecto → trajeto
vector → vetor
Nos casos em que a consoante é
pronunciada, mantém-se: facto, contacto,
impacto, intacto, conectar, lácteo, bactéria,
[com]pacto, convícto, fictício, intelectual,
estupefacto, pictórico, octogenário.
pt → t adoptar → adotar
baptizar → batizar
céptico → cético
contraceptivo → contracetivo
Egipto → Egito
excepto → exceto
interceptar → intercetar
óptimo → ótimo
óptico → ótico
susceptível → suscetível
perceptível → percetível
receptor → recetor
ruptura → rutura
susceptível → suscetibilizar
Nos casos em que a consoante é
pronunciada, mantém-se: adaptar, adepto,
apto, abrupto, captar, cleptomania, rapto,
eucalipto, interruptor, optometria, réptil,
septuagenário, sub-reptício, voluptuoso.
5
Nota: a manutenção da consoante “c” ou “p” nem sempre se observa em todas as palavras da mesma família, dependendo
de essa ser ou não pronunciada. Exs.: tato e tatear, mas tátil ou táctil; putrefação mas putrefacto; estupefação mas
estupefacto; ótico mas optometria; Egito mas egípcio, etc. É o facto de as pronunciarmos ou não, que o determina.
Casos de dupla grafia
O Acordo Ortográfico admite duas formas de escrever a mesma palavra em Português de Portugal,
quando haja oscilação na pronúncia de certas sequências de consoantes interiores. Assim:
cc infeccioso ou infecioso
perfeccionista ou perfecionista
pc assumpcionista e assuncionista3
cç intersecção ou interceção pç consumpção e consunção
ct acumpunctura ou acumpuntura, carácter ou
caráter, característica ou caraterística,
circunspecto ou circunspeto, dactilógrafo ou
datilógrafo, eréctil ou erétil, expectativa ou
expetativa, infecto ou infeto, láctico ou
lático, noctívago ou notívago, rectal ou retal,
sector ou setor, táctil ou tátil, telespectador
ou telespetador, veredícto ou veredito.
pt apocalíptico ou apocalítico
conceptual ou concetual
Nota: há palavras que se pronunciam de modo diferente em Portugal e no Brasil e que, por isso, continuarão a ser grafadas de
maneira diferente: súbdito/súdito; súbtil/sutil; amígdala/amídala; amnistia/anistia, etc.
ALTERAÇÕES AO USO DA ACENTUAÇÃO
O Novo Acordo Ortográfico modifica algumas regras de acentuação, suprimindo acentos e tornando
outros facultativos.
Nas alterações ortográficas seguintes a seta significa que as grafias à esquerda assumem agora a forma à
direita e a negrito:
3
Quando nas sequências “mpc”, “mpç” e “mpt” se eliminar o “p”, o “m” passa a “n”. É o caso de “perentório”.
6
Acentuação Suprimida
a) Palavras graves com ditongo tónico “ói”4
:
ói → oi5
bóia → boia
jóia → joia
Azóia → Azóia
heróico → heroico
estróina → estroina
bóina → boina
jibóia → jiboia
Tróia → Troia
paranóico → paranoico
intróito → introito
b) Formas verbais graves terminadas em “êem” da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo
ou do conjuntivo:
êem → eem
crêem → creem (descreem)
dêem → deem (desdeem)
lêem → leem (releem / tresleem)
vêem → veem (reveem / preveem)
c) Formas do verbo “arguir” e “redarguir”
ú → u
[eu] argúo, [eu] argúi, [eles] argúem → arguo, argui, arguem
[eu] redargúo, [vós] redarguís, [eles] redargúem → redarguo, redarguis, redarguem
d) Acento Diferencial
Os acentos agudos ou circunflexos deixam de ser usados para diferenciar palavras graves homógrafas.
A distinção passará a ser estabelecida pelo contexto em que estas palavras ocorrem:
pára (verbo parar) e para (proposição) → para
péla (verbo pelar) e pela (contração) → pela
pélo (verbo pelar), pêlo (substantivo) e pelo (contração) → pelo
pólo → polo
pêra (fruta) → pera
pêro → pero (também em Pero Vaz de Caminha e Pero Pinheiro).
4
Apenas nas palavras graves isso se passa (não em “dói”, “rói”, “herói”); e apenas quando o ditongo é tónico
(por isso também não em “roído”, por exemplo).
5
Um exemplo de uma palavra grave com ditongo “oi” que já não era acentuada é “comboio”.
7
Exceção: a palavra pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo poder)
mantém o seu acento circunflexo para se distinguir da forma correspondente do presente do indicativo
“pode”. Tal como se mantém o infinitivo do verbo pôr, para se distinguir da preposição “por”.
Nota: “Coa” (do verbo coar ou em Vila Nova de Foz Coa”) também perde o seu acento circunflexo.
Acentuação Facultativa
O Novo AO legitima casos de “dupla acentuação” (duas formas possíveis de acentuação):
a) Formas verbais do pretérito perfeito do indicativo dos verbos da 1ª conjugação (terminados em
“-ar”), na 1ª pessoa do plural (“-ámos”)
- falámos ou falamos; chegámos ou chegamos
b) Forma verbal grave da 1º pessoa do plural do presente do conjuntivo do verbo dar:
- dêmos ou demos (Ex.: Oxalá no próximo ano dêmos/demos um ramo de rosas à Maria).
c) Nome feminino “forma”, com sentido de molde ou recipient: forma ou fôrma
d) Verbos terminados em “-guar”, “-quar” ou “-quir”: podem ser grafados com “u” tónico sem
acento gráfico ou vogais tónicas “a” e “i” do radical acentuadas tónica e graficamente:
- averiguo ou averíguo, enxaguo ou enxáguo, obliquo ou oblíquo, delinquo ou delínquo.
O trema é conservado em palavras de origem estrangeira e suas derivadas6
: Exs: Müller, Hölderlin, naïf.
ALTERAÇÕES AO USO DO HÍFEN
O novo AO reformula e simplifica as regras do emprego do hífen, passando a ser da seguinte forma:
Uso do Hífen
O hífen passa a ser usado em:
a) Palavras compostas que designam espécies botânicas ou zoológicas, estejam ou não ligadas por
preposição ou qualquer outro elemento:
Exs: couve-flor, abóbora-menina, ervilha de cheiro, bico-de-lacre, formiga-branca, cobra-capelo, bicho-
6
De referir que o Brasil “perde” o trema em palavras como aguentar, equestre, linguísta, etc.
8
da-seda.
b) Palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos (de
natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal) constituem uma unidade sintagmática e semântica
e/ou mantêm acento próprio.
Exs: ano-luz, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, tenente-coronel, primeiro-ministro,
alcaide-mor, guarda-noturno, tio-avô, turma-piloto, norte-americano, luso-brasileiro, azul-escuro,
corre-corre, finca-pé, segunda-feira, guarda-chuva, conta-gotas.
Nota: certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição,
grafam-se aglutinadamente: mandachuva, girassol, madressilva, madrepérola, malmequer, pontapé,
aguardente, bancarrota, etc. - vide “Supressão do hífen, alínea b)”.
c) Palavras formadas por prefixos (ou falsos prefixos), quando o elemento seguinte começa por
“h”:
Exs.: anti-higiénico, auto-hipnose, pré-história, super-herói, extra-humano.
d) Palavras formadas por prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal, quando o elemento
seguinte começa pela mesma vogal
Exs.: anti-inflamatório, contra-ataque, micro-ondas, anti-ibérico, infra-axilar, auto-observação.
e) Palavras formadas por prefixos (ou falsos prefixos) terminados em consoante, quando o
elemento seguinte começa por uma consoante igual - vide semelhança com alínea d)
Exs. Hiper-realista, inter-regional, sub-bibliotecário, super-resistente.
Podemos reunir e simplicar as alíneas d) e e) numa só regra: levam hífen todas as palavras cujo
segundo elemento comece com a mesma vogal ou consoante com que o primeiro terminou.
Exceção (prevista no AO): exceptuam-se as palavras formadas com o prefixo “co”, que se escrevem
aglutinadas quando o elemento seguinte inicia por “o”:
Exs.: coobrigação, coocorrência, coocupante, coopositor, cooperar, coordenar.
Exceção (não prevista no AO): palavras inciadas por “re”, quando o elemento seguinte começa por “e”:
Exs.: reentrar, reerguer, reescrever, reembolsar, reemitir, reeleger, reencarnar, reenviar, reembolsar (e
algumas com “pre”: preencher).
f) Palavras formadas por prefixos acentuados graficamente, como “pós”, “pré” e “pró”
Exs: pós-graduação, pré-escolar, pró-vida.
g) Palavras formadas pelos prefixos “ex” (significando um estado anterior), “vice”, “além”,
“aquém”, “recém”e “sem”
Exs.: ex-aluno, vice-reitor, além-fronteiras, recém-nascido, sem-abrigo.
9
h) Palavras formadas pelos prefixos “circum-“ e “pan-“, quando o elemento seguinte começa por
vogal, h, m ou n7
Exs.: circum-navegação, circum-escolar, pan-africano, pan-helénico (mas circumpolar).
i) Palavras iniciadas pelo advérbio “bem” ou “mal”, quando ambas formam uma unidade
semântica e o segundo elemento começa por vogal ou “h"8
Exs: bem-estar, bem-humorado, bem-afortunado, bem aparecido, etc.
Por fim, o hífen tem vindo a ser usado – e assim se manterá, nos topónimos compostos iniciados por
verbo ou cujos elementos sejam ligados por um artigo: Albergaria-a-Velha, Entre-os-Rios, Trás-os-
Montes. Nos restantes casos grafam-se as palavras separadas: A dos Cunhados, Vila Franca de Xira.
Supressão do Hífen
O hífen deixa de ser usado:
a) Na maioria das locuções9
, salvo algumas excepções referidas no texto do Acordo10
Exs.: fim de semana, cor de vinho (de laranja, de tijolo), dia a dia, sala de jantar, cartão de visita.
b) Nas palavras compostas em que se perdeu a noção de composição
Exs.: bancarrota, girassol, madrepérola, madressilva, mandachuva, maltrapilho, pontapé.
c) Nas formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo “haver” seguidas da proposição
“de”: hei(s) de, há(s) de, hão de.
d) Nas palavras formadas por prefixos (ou falsos prefixos) terminadas em vogal, quando o
elemento seguinte começa por por uma vogal diferente dessa ou por uma consoante (exceto h), e
quando não consubstanciem excepções devidamente previstas no anterior capítulo “uso do hífen”.
Exs.: agroindustrial, antiaéreo, autoestrada, coautor, extraescolar, hidroeléctrico, infraestrutura,
plurianual; antipatriótico.
e) Nas palavras formadas por prefixos (ou falso prefixo) terminadoas em vogal, quando o
elemento seguinte começa por “r” ou “s”, duplicando-se essas consoantes: antirreflexo, antissemita,
ultrassom, ultrassecreto, minissaia, microssistema, neorrealismo, contrarregra, contrassenha.
7
De referir que já antes do novo AO as regras relativamente ao uso do hífen eram complexas e controversas.
8
É nesse sentido que palavras como benfeitor, benfazejo e benquerença não são hifenizadas. No entanto, com o
advérbio “bem”, ao contrário de “mal”, usa-se o hífen em algumas situações consagradas pelo uso, mesmo se o
segundo elemento começar com consoante. Repare-se que é bem-criado mas malcriado, bem-ditoso, mas malditoso,
bem-falante mas malfalante, etc.
9
Locução é o conjunto de duas ou mais palavras que comporta(m) um significado distinto daquele que advém da
consideração das palavras isoladamente.
10
Excepções referidas no Acordo: água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa (que apresenta dupla grafia), mais-que-
perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará e à queima-roupa.
10
ALTERAÇÕES AO USO DE MAIÚSCULAS
Escreve-se com maiúscula: Escreve-se com minúscula11
:
a) Nomes próprios, sejam reais ou fictícios
Exs.: Branca de Neve, Adamastor, Zeus
b) Lugares (topónimos)
Exs.: Ásia, Portugal, Londres
c) Designação de festividades
Exs.: Natal, Carnaval, Páscoa, Corpo de Deus
d) Siglas, símbolos e abreviaturas
Exs.: ONU, H2O, Sr., V. Exª.
a) Dias da semana (ex: segunda-feira)
b) Meses (ex: janeiro)
c) Estações do ano (ex: primavera)
d) Pontos cardeais (ex: norte)12
e) Formas de tratamento ou cortesia
(axiónimos):
Exs.: senhor professor/doutor/ministro/cardeal).
É opcional o uso de inicial maiúscula ou minúscula nos seguintes casos:
a) Títulos de livros ou obras (bibliónimos)
Ex: “O Cavaleiro da Dinamarca” ou “O cavaleiro da Dinamarca”; “O crime do padre Amaro” ou “O
Crime do Padre Amaro”.
Nota: evidentemente, a primeira letra do título e os nomes próprios que esse apresente deverão ser
sempre grafado com letra maiúscula.
b) Domínios do saber, cursos e disciplinas
Exs: Línguas e Literatura Portuguesa ou línguas e literatura portuguesa, Medicina ou medicina
c) Locais públicos, edifícios e monumentos
Exs. Palácio de Cristal ou palácio de cristal, Mosteiro dos Jerónimos ou mosteiro dos jerónimos.
É opcional também o uso de inicial maiúscula na categorização de logradouros (av., rua, largo, etc.).
d) Nomes sagrados (hagiónimos) e palavras usadas hierárquica e reverencialmente:
Exs. Santa Rita ou santa Rita, Santo António ou santo António, Santo Padre, ou santo padre, Vossa
Excelência ou vossa excelência [V. Exa., caso seja abreviado, sê-lo-á com as iniciais maiúsculas].
11
O AO institui também a obrigatoriedade da letra minúscula em designações usadas para mencionar alguém cujo
nome se desconhece, tal como fulano, sicrano e beltrano. Por lhe parecer que aquilo que o AO aqui institui vai ao
encontro do que seria já uma prática corrente, a formadora não o inclui no corpo da sebenta.
12
Nota: Nordeste com o significado de nordeste brasileiro, Ocidente referindo-se ao ocidente europeu, Oriente
como oriente asiático e Norte como norte de Portugal são grafados com maiúscula. As abreviaturas dos pontos
cardeais são também com letra maiúscula, remetendo para a alínea d) anterior a esta.
11
Breve nota sobre o impacto do novo Acordo Ortgráfico na escrita do Brasil
Apesar de o novo Acordo Ortográfico visar uma uniformização da língua portuguesa entre os vários países
que a utilizam, algumas diferenças continuarão a marcar o português de Portugal e o português do Brasil,
nomeadamente, as palavras Brasil e Brazil. Mas não só; também quotidiano e cotidiano; húmido e úmido,
etc.13
A dupla grafia autoriza também a que o povo brasileiro opte pelas versões súbdito / súdito, súbtil / sutil,
amnistia / anistia, indemnizar / indenizar, onipotente / onipotente, omnívoro / onívoro, entre outras.
Mantém-se ainda a possibilidade de acentuações diferentes, consoante a pátria, em palavras tais como
anatómico / anatômico, ténis / tênis, bebé / bebê, judo / judô, metro / metrô, oxigénio / oxigênio, etc.
Os brasileiros perdem os acentos em palavras como assembléia e idéia, baiúca e feiúra, enjôo e vôo,
lingüista e tranqüilo, etc.
Esta sebenta compila as alterações que o AO introduz exclusivamente na escrita do léxico português.
Conversores do Acordo Ortográfico
Os computadores que utilizamos ainda não possuem software que nos permita garantir que escrevemos
segundo as regras do AO. Existem, no entanto, alguns conversores que nos ajudam a fazê-lo de forma
segura e eficaz:
www.portaldalinguaportuguesa.org (Lince)
www.portoeditora.pt/acordo-ortografico/conversor-ficheiros
www.flip.pt/Fliponline/conversorparaoacordoortografico/tabid/566/default.aspx
13
A existência de duas formas diferentes para o último caso é explicada por razões etimológicas num capítulo
inteiramente dedicado ao uso da letra H e respectiva argumentação de acordo com a origem das palavras e
determinadas adoções convencionais, capítulo esse que não introduz quaisquer alterações trazidas pelo AO, razão
pela qual a formadora se abstém de o incluir nesta sebenta. Em palavras cujo aportuguesamento foi feito por ambos
os países de forma independente, também é natural haverem diferenças, como é o caso de “râguebi” (Portugal) e
“rúgbi” (Brasil) substituíndo a palavra original “rugby”.
12
BIBLIOGRAFIA
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). URL: http://www.priberam.pt/docs/acortog90.pdf
Acordo Ortográfico – O que muda (2010), s/a. Porto Editora, Porto.
Bom Português - Acordo Ortográfico (2011), s/ a. Porto Editora, Porto.
Estrela, E., Soares, M. A., Leitão, M. J. ( 2011). Saber usar a nova ortografia. Ed. Objectiva, Carnaxide.
Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (2011). Ed. Verso da Kapa, Lisboa
Portal da Língua Portuguesa. URL: http://portaldalinguaportuguesa.org
Nota da formadora: a estrutura desta sebenta seguiu, fundamentalmente, a do “Acordo Ortográfico” (Porto
Editora), tendo ido sempre beber ao texto original do AO e sido completada com as restantes obras assinaladas
na bibliografia. O quadro resumo das alterações introduzidas pelo AO, bem como a lista de palavras que
sofreram transformação foram retirados do “Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” (Verso de Capa),
o exercício “Teste de Palavras” (apresentado em sala) foi feito com recurso livro de bolso “Bom Português”
(Porto Editora) e os exercícios de revisão geral foram adaptados do “Saber usar a nova ortografia” (Objectiva).
Outras sugestões de consulta:
Prada, Edite (2010). Acordo Ortográfico – Visão Global
http://www.prof2000.pt/users/anamartins/Separata_Acordo_Ortografico_ecra.pdf
Porto Editora (s/d). O Acordo Ortográfico simplificado.
http://www.cinel.org/porto/images/stories/acordo_ortografico/DESCUBRA_O_ACORDO_ORTOGRAFICO.PDF
Porto Editora (s/d). Esclarecimento de dúvidas sobre o Acordo Ortográfico
http://www.portoeditora.pt/acordo-ortografico/duvidas-frequentes

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Novo acordo ortográfico sebenta de apoio

  • 1. 1 NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO INTRODUÇÃO O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é um tratado internacional cujo objetivo é o de criar uma ortografia unificada a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa. Embora não elimine todas as diferenças ortográficas existentes, apresenta uma redução significativa das mesmas. A primeira grande reforma ortográfica portuguesa data de 1911, mas o Brasil não a seguiu. Em Portugal, desde 1045 seguimos o sistema proposto pela Academia das Ciências de Lisboa, que sofreu ligeiras alterações em 1973. Em 1986 foi negociado um Acordo Ortográfico entre as academias portuguesa e brasileira que gerou muita polémica, acabando por sofrer algumas alterações que só foram aprovadas quatro anos depois. Em 1990 este documento foi assinado pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras, delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe e, porteriormente, por Timor Leste, tendo contado ainda com a adesão dos observadores da Galiza. O novo Acordo Ortográfico (AO) foi introduzido no sistema de ensino português no ano letivo de 2011/2012 pela Resolução n. 375/2010 do governo português, e o período de transição durante o qual coexistem as duas ortografias termina em 2015. Tal como o nome indica, o AO incide apenas na ortografia das palavras, ou seja, na forma como essas se escrevem. Ele afeta não mais que 2% do léxico; contudo, o mais usado no nosso quotidiano. Neste Acordo o fundamento fonético é privilegiado em detrimento do etimológico, ou seja: o critério da pronúncia justifica a eliminação de consoantes não articuladas (mudas) ou a existência de uma dupla grafia em caso de oscilação de pronúncia. O QUE MUDA COM O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO 1) Alfabeto de 26 letras 2) Supressão de consoantes mudas 2.1.) Casos de dupla grafia 3) Alterações ao uso da acentuação 3.1.) Casos de dupla acentuação 4) Alterações ao uso do hífen 5) Alterações ao uso de maiúsculas
  • 2. 2 26 LETRAS NO ALFABETO K (capa ou cá); W (dâblio ou dáblio); Y (ípsilon ou i grego) Apesar de passarem a fazer parte do alfabeto nacional, ainda assim são de uso restritivo, ou seja, usadas apenas em casos especiais e devendo ser substituídas sempre que possível: Exs: Kayak – caiaque; joker – jóquer; whisky – uísque; kiwi – quivi; yoga – ioga; yard – jarda, etc. As letras K, W e Y são usadas em: a) Nomes de pessoas (antropónimos) e seus derivados Exs: Kafka, Kant, Shakespear, Wagner, Weber, Yang, Yeats. Derivados: kafkiano, kantiano, shakespeariano, wagneriano, weberiano, yanguiano, yeatsiano, Darwin, darwinismo, Newton, newtoniano, Byron, byroniano, Taylor, taylorista, Freud, freudiano. Neste caso basta lembrar que se mantém a regra pré-existente de que os nomes próprios não são submetidos a alterações pelo facto de conterem essas letras; nem combinações de letras hoje inexistentes na nossa ortografia e nem mesmo o trema, como veremos no final do capítulo reservado à acentuação: Garrett(iano), Miller(iano), Comtista (de Comte), goethiano (de Goethe), Müller(iano). b) Nomes de lugares (topónimos) e seus derivados Exs: Kuwait, Washington, Yorkshire, Malawi / kuwaitiano, washingtoniano, yorkshiriano, malawiano. Apesar desta “permissão”, o AO sugere que, sempre que possível, se usem as formas aportuguesadas consagradas pelo uso: Genebra em vez de Genève, Zurique para Zürich, Edimburgo para Edinburgh, Havai para Hawai, Bagdade para Bagdad, Bruxelas para Bruxelles, Filadélfia para Philadelphia, Nova Iorque para New York; Versalhes para Versailles, Turim para Torino, Crecóvia para Kraków, Quebeque para Québec, Munique para München, Estrasburgo para Strasbourgh, Bordéus para Bordeaux, etc. c) Estrangeirismos correntes sem tradução directa ou usual para o Português Exs: jackpot, kart, bowling, babygro, babydoll, tai-chi, workshop, apartheid, habitat, ferry-boat, kit, kitsch, kitchenette, western, bodyboard, bungee jumping, windsurf, karaté, shorts, light, kalashnikov, perestroika, karaoke, croissant, designer, jeans, t-shirt, pizza, reveillon, stop, teenager, flash, icebreak, bypass, zen, gay, show, brunch, ménage, degrade, pot-pourri, playboy, carjacking, bullyin, lounge ok1 .. d) Siglas, símbolos e unidades de medida de uso internacional Exs: WWW (World Wide Web), KGB, WC, km (quilómetro), yd (jarda), watt. 1 Mais exemplos no Portal de Língua Portuguesa: http://portaldalinguaportuguesa.org
  • 3. 3 Em suma: quanto ao uso das letras K, W e Y, nada a alterar: utilizam-se restritivamente (como dantes), respeitando a sua existência em nomes próprios e seus derivados, mas substituindo-as sempre que existir uma forma aportuguesada à altura. Não surgirão novas palavras portuguesas com K, W e Y.2 CONSOANTES MUDAS Uma das alterações mais significativas introduzidas pelo Acordo Ortográfico será a da eliminação das consoantes C e P no caso em que estas não se pronunciam. Nas alterações ortográficas seguintes, a seta significa que as grafiam à esquerda se alteram para a forma à direita e a negrito: Supressão do C Supressão do P cc → c abstraccionismo → abstracionismo accionar → acionar confeccionar → confecionar coleccionar → colecionar direccionar → direcionar fraccionar → fracionar inspeccionar → inspecionar leccionar → lecionar projeccionista → projecionista proteccionista → protecionista reaccionário → reacionário transaccionar → transacionar seleccionar → selecionar Nos casos em que a consoante é pronunciada, mantém-se: faccioso, ficcional, friccionar, seccionar, cóccix, occipital. pc → c concepcional → concecional decepcionar → dececionar excepcional → excecional percepcionar → percecionar recepcionista → rececionista O AO admite a possibilidade de dupla grafia para estas palavras, mas em Portugal a forma correcta é esta, visto não se pronunciar o P. Nos casos em que a consoante é pronunciada, mantém-se: egípcio; núpcias, inépcia, opcional, capcioso, captura. cç → ç (inter)acção → ação atracção → atração objecção → objeção abstracção → abstracção coação → coação colecção → coleção confecção → confeção correcção → correção direcção → direção distracção → distração erecção → ereção f(r)acção → f(r)ação pç → ç acepção → aceção adopção → adoção con(tra)cepção → con(tra)ceção decepção. → deceção excepção → exceção intercepção → interceção percepção → perceção recepção → receção 2 Nota: em alguns casos “autorizados”, os vocabulários registarão grafias alternativas admissíveis: fúcsia/fúchsia; buganvília/ buganvílea.
  • 4. 4 injecção → injeção inspecção → inspeção (des)infecção → infeção prospecção → prospeção protecção → proteção re(d)acção → re(d)ação selecção → seleção subtracção → subtração transacção → transação Nos casos em que a consoante é pronunciada, mantém-se: dicção, convicção, ficção, fricção, secção, sucção, micção. Nos casos em que a consoante é pronunciada, mantém-se: corrupção, erupção, interrupção, opção. ct → t acto, activo, actor → ato, ativo, ator actual → atual colectivo→ coletivo correcto → correto detectar → detetar dialecto → dialeto direct*iv+o → diret[iv]o efectuar → efetuar electricidade→ electricidade espectáculo → espetáculo factor → fator infractor → infrator insecto → iseto inspector → inspetor introspecção → introspeção nocturno → noturno object*iv+o→ objet[iv]o olfacto → olfato perspectiva → perspetiva predilecto →predileto projecto*r+→ projeto[r] protector → protetor reflectir → refletir tacto → tato tecto → teto trajecto → trajeto vector → vetor Nos casos em que a consoante é pronunciada, mantém-se: facto, contacto, impacto, intacto, conectar, lácteo, bactéria, [com]pacto, convícto, fictício, intelectual, estupefacto, pictórico, octogenário. pt → t adoptar → adotar baptizar → batizar céptico → cético contraceptivo → contracetivo Egipto → Egito excepto → exceto interceptar → intercetar óptimo → ótimo óptico → ótico susceptível → suscetível perceptível → percetível receptor → recetor ruptura → rutura susceptível → suscetibilizar Nos casos em que a consoante é pronunciada, mantém-se: adaptar, adepto, apto, abrupto, captar, cleptomania, rapto, eucalipto, interruptor, optometria, réptil, septuagenário, sub-reptício, voluptuoso.
  • 5. 5 Nota: a manutenção da consoante “c” ou “p” nem sempre se observa em todas as palavras da mesma família, dependendo de essa ser ou não pronunciada. Exs.: tato e tatear, mas tátil ou táctil; putrefação mas putrefacto; estupefação mas estupefacto; ótico mas optometria; Egito mas egípcio, etc. É o facto de as pronunciarmos ou não, que o determina. Casos de dupla grafia O Acordo Ortográfico admite duas formas de escrever a mesma palavra em Português de Portugal, quando haja oscilação na pronúncia de certas sequências de consoantes interiores. Assim: cc infeccioso ou infecioso perfeccionista ou perfecionista pc assumpcionista e assuncionista3 cç intersecção ou interceção pç consumpção e consunção ct acumpunctura ou acumpuntura, carácter ou caráter, característica ou caraterística, circunspecto ou circunspeto, dactilógrafo ou datilógrafo, eréctil ou erétil, expectativa ou expetativa, infecto ou infeto, láctico ou lático, noctívago ou notívago, rectal ou retal, sector ou setor, táctil ou tátil, telespectador ou telespetador, veredícto ou veredito. pt apocalíptico ou apocalítico conceptual ou concetual Nota: há palavras que se pronunciam de modo diferente em Portugal e no Brasil e que, por isso, continuarão a ser grafadas de maneira diferente: súbdito/súdito; súbtil/sutil; amígdala/amídala; amnistia/anistia, etc. ALTERAÇÕES AO USO DA ACENTUAÇÃO O Novo Acordo Ortográfico modifica algumas regras de acentuação, suprimindo acentos e tornando outros facultativos. Nas alterações ortográficas seguintes a seta significa que as grafias à esquerda assumem agora a forma à direita e a negrito: 3 Quando nas sequências “mpc”, “mpç” e “mpt” se eliminar o “p”, o “m” passa a “n”. É o caso de “perentório”.
  • 6. 6 Acentuação Suprimida a) Palavras graves com ditongo tónico “ói”4 : ói → oi5 bóia → boia jóia → joia Azóia → Azóia heróico → heroico estróina → estroina bóina → boina jibóia → jiboia Tróia → Troia paranóico → paranoico intróito → introito b) Formas verbais graves terminadas em “êem” da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo: êem → eem crêem → creem (descreem) dêem → deem (desdeem) lêem → leem (releem / tresleem) vêem → veem (reveem / preveem) c) Formas do verbo “arguir” e “redarguir” ú → u [eu] argúo, [eu] argúi, [eles] argúem → arguo, argui, arguem [eu] redargúo, [vós] redarguís, [eles] redargúem → redarguo, redarguis, redarguem d) Acento Diferencial Os acentos agudos ou circunflexos deixam de ser usados para diferenciar palavras graves homógrafas. A distinção passará a ser estabelecida pelo contexto em que estas palavras ocorrem: pára (verbo parar) e para (proposição) → para péla (verbo pelar) e pela (contração) → pela pélo (verbo pelar), pêlo (substantivo) e pelo (contração) → pelo pólo → polo pêra (fruta) → pera pêro → pero (também em Pero Vaz de Caminha e Pero Pinheiro). 4 Apenas nas palavras graves isso se passa (não em “dói”, “rói”, “herói”); e apenas quando o ditongo é tónico (por isso também não em “roído”, por exemplo). 5 Um exemplo de uma palavra grave com ditongo “oi” que já não era acentuada é “comboio”.
  • 7. 7 Exceção: a palavra pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo poder) mantém o seu acento circunflexo para se distinguir da forma correspondente do presente do indicativo “pode”. Tal como se mantém o infinitivo do verbo pôr, para se distinguir da preposição “por”. Nota: “Coa” (do verbo coar ou em Vila Nova de Foz Coa”) também perde o seu acento circunflexo. Acentuação Facultativa O Novo AO legitima casos de “dupla acentuação” (duas formas possíveis de acentuação): a) Formas verbais do pretérito perfeito do indicativo dos verbos da 1ª conjugação (terminados em “-ar”), na 1ª pessoa do plural (“-ámos”) - falámos ou falamos; chegámos ou chegamos b) Forma verbal grave da 1º pessoa do plural do presente do conjuntivo do verbo dar: - dêmos ou demos (Ex.: Oxalá no próximo ano dêmos/demos um ramo de rosas à Maria). c) Nome feminino “forma”, com sentido de molde ou recipient: forma ou fôrma d) Verbos terminados em “-guar”, “-quar” ou “-quir”: podem ser grafados com “u” tónico sem acento gráfico ou vogais tónicas “a” e “i” do radical acentuadas tónica e graficamente: - averiguo ou averíguo, enxaguo ou enxáguo, obliquo ou oblíquo, delinquo ou delínquo. O trema é conservado em palavras de origem estrangeira e suas derivadas6 : Exs: Müller, Hölderlin, naïf. ALTERAÇÕES AO USO DO HÍFEN O novo AO reformula e simplifica as regras do emprego do hífen, passando a ser da seguinte forma: Uso do Hífen O hífen passa a ser usado em: a) Palavras compostas que designam espécies botânicas ou zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: Exs: couve-flor, abóbora-menina, ervilha de cheiro, bico-de-lacre, formiga-branca, cobra-capelo, bicho- 6 De referir que o Brasil “perde” o trema em palavras como aguentar, equestre, linguísta, etc.
  • 8. 8 da-seda. b) Palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos (de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal) constituem uma unidade sintagmática e semântica e/ou mantêm acento próprio. Exs: ano-luz, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, tenente-coronel, primeiro-ministro, alcaide-mor, guarda-noturno, tio-avô, turma-piloto, norte-americano, luso-brasileiro, azul-escuro, corre-corre, finca-pé, segunda-feira, guarda-chuva, conta-gotas. Nota: certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: mandachuva, girassol, madressilva, madrepérola, malmequer, pontapé, aguardente, bancarrota, etc. - vide “Supressão do hífen, alínea b)”. c) Palavras formadas por prefixos (ou falsos prefixos), quando o elemento seguinte começa por “h”: Exs.: anti-higiénico, auto-hipnose, pré-história, super-herói, extra-humano. d) Palavras formadas por prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal, quando o elemento seguinte começa pela mesma vogal Exs.: anti-inflamatório, contra-ataque, micro-ondas, anti-ibérico, infra-axilar, auto-observação. e) Palavras formadas por prefixos (ou falsos prefixos) terminados em consoante, quando o elemento seguinte começa por uma consoante igual - vide semelhança com alínea d) Exs. Hiper-realista, inter-regional, sub-bibliotecário, super-resistente. Podemos reunir e simplicar as alíneas d) e e) numa só regra: levam hífen todas as palavras cujo segundo elemento comece com a mesma vogal ou consoante com que o primeiro terminou. Exceção (prevista no AO): exceptuam-se as palavras formadas com o prefixo “co”, que se escrevem aglutinadas quando o elemento seguinte inicia por “o”: Exs.: coobrigação, coocorrência, coocupante, coopositor, cooperar, coordenar. Exceção (não prevista no AO): palavras inciadas por “re”, quando o elemento seguinte começa por “e”: Exs.: reentrar, reerguer, reescrever, reembolsar, reemitir, reeleger, reencarnar, reenviar, reembolsar (e algumas com “pre”: preencher). f) Palavras formadas por prefixos acentuados graficamente, como “pós”, “pré” e “pró” Exs: pós-graduação, pré-escolar, pró-vida. g) Palavras formadas pelos prefixos “ex” (significando um estado anterior), “vice”, “além”, “aquém”, “recém”e “sem” Exs.: ex-aluno, vice-reitor, além-fronteiras, recém-nascido, sem-abrigo.
  • 9. 9 h) Palavras formadas pelos prefixos “circum-“ e “pan-“, quando o elemento seguinte começa por vogal, h, m ou n7 Exs.: circum-navegação, circum-escolar, pan-africano, pan-helénico (mas circumpolar). i) Palavras iniciadas pelo advérbio “bem” ou “mal”, quando ambas formam uma unidade semântica e o segundo elemento começa por vogal ou “h"8 Exs: bem-estar, bem-humorado, bem-afortunado, bem aparecido, etc. Por fim, o hífen tem vindo a ser usado – e assim se manterá, nos topónimos compostos iniciados por verbo ou cujos elementos sejam ligados por um artigo: Albergaria-a-Velha, Entre-os-Rios, Trás-os- Montes. Nos restantes casos grafam-se as palavras separadas: A dos Cunhados, Vila Franca de Xira. Supressão do Hífen O hífen deixa de ser usado: a) Na maioria das locuções9 , salvo algumas excepções referidas no texto do Acordo10 Exs.: fim de semana, cor de vinho (de laranja, de tijolo), dia a dia, sala de jantar, cartão de visita. b) Nas palavras compostas em que se perdeu a noção de composição Exs.: bancarrota, girassol, madrepérola, madressilva, mandachuva, maltrapilho, pontapé. c) Nas formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo “haver” seguidas da proposição “de”: hei(s) de, há(s) de, hão de. d) Nas palavras formadas por prefixos (ou falsos prefixos) terminadas em vogal, quando o elemento seguinte começa por por uma vogal diferente dessa ou por uma consoante (exceto h), e quando não consubstanciem excepções devidamente previstas no anterior capítulo “uso do hífen”. Exs.: agroindustrial, antiaéreo, autoestrada, coautor, extraescolar, hidroeléctrico, infraestrutura, plurianual; antipatriótico. e) Nas palavras formadas por prefixos (ou falso prefixo) terminadoas em vogal, quando o elemento seguinte começa por “r” ou “s”, duplicando-se essas consoantes: antirreflexo, antissemita, ultrassom, ultrassecreto, minissaia, microssistema, neorrealismo, contrarregra, contrassenha. 7 De referir que já antes do novo AO as regras relativamente ao uso do hífen eram complexas e controversas. 8 É nesse sentido que palavras como benfeitor, benfazejo e benquerença não são hifenizadas. No entanto, com o advérbio “bem”, ao contrário de “mal”, usa-se o hífen em algumas situações consagradas pelo uso, mesmo se o segundo elemento começar com consoante. Repare-se que é bem-criado mas malcriado, bem-ditoso, mas malditoso, bem-falante mas malfalante, etc. 9 Locução é o conjunto de duas ou mais palavras que comporta(m) um significado distinto daquele que advém da consideração das palavras isoladamente. 10 Excepções referidas no Acordo: água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa (que apresenta dupla grafia), mais-que- perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará e à queima-roupa.
  • 10. 10 ALTERAÇÕES AO USO DE MAIÚSCULAS Escreve-se com maiúscula: Escreve-se com minúscula11 : a) Nomes próprios, sejam reais ou fictícios Exs.: Branca de Neve, Adamastor, Zeus b) Lugares (topónimos) Exs.: Ásia, Portugal, Londres c) Designação de festividades Exs.: Natal, Carnaval, Páscoa, Corpo de Deus d) Siglas, símbolos e abreviaturas Exs.: ONU, H2O, Sr., V. Exª. a) Dias da semana (ex: segunda-feira) b) Meses (ex: janeiro) c) Estações do ano (ex: primavera) d) Pontos cardeais (ex: norte)12 e) Formas de tratamento ou cortesia (axiónimos): Exs.: senhor professor/doutor/ministro/cardeal). É opcional o uso de inicial maiúscula ou minúscula nos seguintes casos: a) Títulos de livros ou obras (bibliónimos) Ex: “O Cavaleiro da Dinamarca” ou “O cavaleiro da Dinamarca”; “O crime do padre Amaro” ou “O Crime do Padre Amaro”. Nota: evidentemente, a primeira letra do título e os nomes próprios que esse apresente deverão ser sempre grafado com letra maiúscula. b) Domínios do saber, cursos e disciplinas Exs: Línguas e Literatura Portuguesa ou línguas e literatura portuguesa, Medicina ou medicina c) Locais públicos, edifícios e monumentos Exs. Palácio de Cristal ou palácio de cristal, Mosteiro dos Jerónimos ou mosteiro dos jerónimos. É opcional também o uso de inicial maiúscula na categorização de logradouros (av., rua, largo, etc.). d) Nomes sagrados (hagiónimos) e palavras usadas hierárquica e reverencialmente: Exs. Santa Rita ou santa Rita, Santo António ou santo António, Santo Padre, ou santo padre, Vossa Excelência ou vossa excelência [V. Exa., caso seja abreviado, sê-lo-á com as iniciais maiúsculas]. 11 O AO institui também a obrigatoriedade da letra minúscula em designações usadas para mencionar alguém cujo nome se desconhece, tal como fulano, sicrano e beltrano. Por lhe parecer que aquilo que o AO aqui institui vai ao encontro do que seria já uma prática corrente, a formadora não o inclui no corpo da sebenta. 12 Nota: Nordeste com o significado de nordeste brasileiro, Ocidente referindo-se ao ocidente europeu, Oriente como oriente asiático e Norte como norte de Portugal são grafados com maiúscula. As abreviaturas dos pontos cardeais são também com letra maiúscula, remetendo para a alínea d) anterior a esta.
  • 11. 11 Breve nota sobre o impacto do novo Acordo Ortgráfico na escrita do Brasil Apesar de o novo Acordo Ortográfico visar uma uniformização da língua portuguesa entre os vários países que a utilizam, algumas diferenças continuarão a marcar o português de Portugal e o português do Brasil, nomeadamente, as palavras Brasil e Brazil. Mas não só; também quotidiano e cotidiano; húmido e úmido, etc.13 A dupla grafia autoriza também a que o povo brasileiro opte pelas versões súbdito / súdito, súbtil / sutil, amnistia / anistia, indemnizar / indenizar, onipotente / onipotente, omnívoro / onívoro, entre outras. Mantém-se ainda a possibilidade de acentuações diferentes, consoante a pátria, em palavras tais como anatómico / anatômico, ténis / tênis, bebé / bebê, judo / judô, metro / metrô, oxigénio / oxigênio, etc. Os brasileiros perdem os acentos em palavras como assembléia e idéia, baiúca e feiúra, enjôo e vôo, lingüista e tranqüilo, etc. Esta sebenta compila as alterações que o AO introduz exclusivamente na escrita do léxico português. Conversores do Acordo Ortográfico Os computadores que utilizamos ainda não possuem software que nos permita garantir que escrevemos segundo as regras do AO. Existem, no entanto, alguns conversores que nos ajudam a fazê-lo de forma segura e eficaz: www.portaldalinguaportuguesa.org (Lince) www.portoeditora.pt/acordo-ortografico/conversor-ficheiros www.flip.pt/Fliponline/conversorparaoacordoortografico/tabid/566/default.aspx 13 A existência de duas formas diferentes para o último caso é explicada por razões etimológicas num capítulo inteiramente dedicado ao uso da letra H e respectiva argumentação de acordo com a origem das palavras e determinadas adoções convencionais, capítulo esse que não introduz quaisquer alterações trazidas pelo AO, razão pela qual a formadora se abstém de o incluir nesta sebenta. Em palavras cujo aportuguesamento foi feito por ambos os países de forma independente, também é natural haverem diferenças, como é o caso de “râguebi” (Portugal) e “rúgbi” (Brasil) substituíndo a palavra original “rugby”.
  • 12. 12 BIBLIOGRAFIA Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). URL: http://www.priberam.pt/docs/acortog90.pdf Acordo Ortográfico – O que muda (2010), s/a. Porto Editora, Porto. Bom Português - Acordo Ortográfico (2011), s/ a. Porto Editora, Porto. Estrela, E., Soares, M. A., Leitão, M. J. ( 2011). Saber usar a nova ortografia. Ed. Objectiva, Carnaxide. Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (2011). Ed. Verso da Kapa, Lisboa Portal da Língua Portuguesa. URL: http://portaldalinguaportuguesa.org Nota da formadora: a estrutura desta sebenta seguiu, fundamentalmente, a do “Acordo Ortográfico” (Porto Editora), tendo ido sempre beber ao texto original do AO e sido completada com as restantes obras assinaladas na bibliografia. O quadro resumo das alterações introduzidas pelo AO, bem como a lista de palavras que sofreram transformação foram retirados do “Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” (Verso de Capa), o exercício “Teste de Palavras” (apresentado em sala) foi feito com recurso livro de bolso “Bom Português” (Porto Editora) e os exercícios de revisão geral foram adaptados do “Saber usar a nova ortografia” (Objectiva). Outras sugestões de consulta: Prada, Edite (2010). Acordo Ortográfico – Visão Global http://www.prof2000.pt/users/anamartins/Separata_Acordo_Ortografico_ecra.pdf Porto Editora (s/d). O Acordo Ortográfico simplificado. http://www.cinel.org/porto/images/stories/acordo_ortografico/DESCUBRA_O_ACORDO_ORTOGRAFICO.PDF Porto Editora (s/d). Esclarecimento de dúvidas sobre o Acordo Ortográfico http://www.portoeditora.pt/acordo-ortografico/duvidas-frequentes