Caracterização do óleo de polpa de macaúba bruto e refinado
1. 1
ÁCIDOS GRAXOS, CAROTENOIDES TOTAIS E TEOR DE GORDURA SÓLIDA EM1
ÓLEO DE POLPA DE MACAÚBA BRUTO E REFINADO2
ÂNGELA ALVES NUNES1
; SIMONE PALMA FAVARO2
; CESAR HERACLIDES3
BEHLING MIRANDA2
4
5
INTRODUÇÃO6
A macaúba (Acrocomia aculeata (Jacq) Lood. ex Mart.) tem sido considerada com7
potencial para alta produção de óleos em diversos biomas da América Tropical, caracteriza-se por8
elevada concentração de ácido oleico e carotenoides. O óleo da polpa de macaúba é composto9
majoritariamente pelo ácido oleico 65,87% e ácido palmítico, 15,96% (HIANE et al, 2005). Por10
esta similaridade de composição com o azeite de oliva o qual contém 55 a 83% de ácido oleico e 7,511
a 20,0% de ácido palmítico (MAPA, 2012) vem sendo denominado de azeite do cerrado, principal12
bioma de ocorrência natural da macaúba no território brasileiro.13
Outra característica importante do óleo de polpa de macaúba é a presença de elevadas14
concentrações de carotenoides, com predominância do β-caroteno, cerca de 80 a 90%15
(RODRIGUEZ-AMAYA et al, 2008). O papel dos carotenoides na saúde humana está relacionado16
com a atividade pró-vitamínica A e antioxidante.17
As propriedades físicas dos óleos, sobretudo aquelas relacionadas à temperatura de fusão,18
são determinantes na definição de usos como ingrediente em produtos comerciais. A proporção de19
sólidos em função da temperatura está relacionada, sobretudo, ao perfil de ácidos graxos existentes20
no triacilglicerol. No óleo de polpa de macaúba esta propriedade ainda não foi relatada na literatura.21
Em razão do grande potencial produtivo da macaúba e as características desejáveis do óleo22
de polpa, objetivou-se avaliar o conteúdo de gordura sólida no óleo de polpa de macaúba bruto e23
refinado as alterações ocorridas durante as etapas do refino em escala de bancada, quanto ao perfil24
de ácidos graxos, carotenoides totais e análise de cor.25
26
MATERIAL E MÉTODOS27
Coleta dos frutos, despolpamento e extração lipídica28
Frutos maduros de macaúba foram coletados diretamente do cacho no município de29
Dourados, estado de Mato Grosso do Sul, região centro oeste do Brasil, no mês de dezembro de30
2011. Os frutos foram selecionados, secos em secador por convecção a 80 ºC ± 10 ºC por 7 horas e31
despolpados realizado em equipamento piloto desenvolvido para frutos de macaúba com32
mecanismo de martelos. O óleo foi extraído em prensa tipo expeller (Marca Ecirtec, modelo MPE-33
40), seguido a centrifugação a 3900 rpm/10 min, obtendo-se óleo bruto. Para o seu armazenamento34
fez-se borbulhamento com N2, acondicionado em vidro âmbar e mantido -20 ºC.35
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Processo de refino do óleo bruto36
A partir do óleo bruto efetuaram-se as etapas de refino (degomagem, neutralização,37
branqueamento e desodorização) estabelecidas em condições de laboratório. A primeira etapa38
constituiu-se na degomagem do óleo por meio da adição de água destilada na proporção (1:2)39
água:óleo. A neutralização dos ácidos graxos livres, foi por meio da adição de solução aquosa de40
hidróxido de sódio equivalente a 6 ºBaumé. O branqueamento foi realizado com tratamento de 10%41
terra ativada (Marca Oil:dri, modelo Supreme Pro-Active) (m/m). O processo para a desodorização42
do óleo branqueado foi arraste a vapor sob vácuo. Obtendo-se, desta maneira, o óleo refinado da43
polpa de macaúba.44
Propriedades físico-químicas do óleo durante as etapas do refino45
O perfil de ácidos graxos do óleo de polpa de macaúba foi determinado em cromatógrafo46
gasoso com detector de ionização de chama (Marca Agilent Technologies, Modelo 6890 N). A cor47
foi analisada de acordo com a escala Lovibond método Cc 13j - 97 em colorímetro Tintometer48
Lovibond modelo PFx995 automático (AOCS, 2004). Para a quantificação de carotenoides totais, o49
óleo de polpa da macaúba foi solubilizado em éter de petróleo e detectado a 450 nm em50
espectrofotômetro (Marca Aquamate, modelo v. 4,55) (PORIM, 1990). O conteúdo de gorduras51
sólidas foi determinado pela técnica de RMN, conforme método Cd 16b-93 Aocs (1993). A análise52
foi realizada nas seguintes temperaturas: 10, 20, 25, 30, 35 e 40 ºC.53
54
RESULTADOS E DISCUSSÃO55
Os ácidos oleico e palmítico, são os ácidos graxos mais abundantes presentes no óleo bruto56
de macaúba e nos óleos obtidos nas etapas de refino (Tabela 1). Embora macaúba e palma sejam da57
mesma família botânica, o perfil de ácidos graxos da macaúba é mais próximo ao do azeite de oliva.58
59
Tabela 1. Perfil de ácidos graxos do óleo bruto da polpa de macaúba e das etapas do processo de60
refino.61
Ácidos graxos Óleo bruto Degomado Neutralizado Branqueado Desodorizado
Cáprico, C10:0 - 0,19±0,01 0,20±0,01 0,17±0,01 0,21±0,05
Láurico, C12:0 1,32±0,061
1,12±0,05 1,17±0,03 1,05±0,01 1,16±0,21
Mirístico, C14:0 0,58±0,01 0,53±0,02 0,55±0,00 0,52±0,01 0,54±0,06
Palmítico, C16:0 22,04±0,36 20,40±0,26 20,60±0,07 20,31±0,26 20,52±0,56
Palmitoleico, C16:1 2,88±0,38 2,89±0,05 2,94±0,00 2,88±0,03 2,85±0,05
Esteárico, C18:0 3,59±0,16 3,54±0,00 3,51±0,00 3,54±0,01 3,56±0,05
Oleico, C18:1 (ω 9) 59,66±0,95 61,04±0,11 61,00±0,05 61,52±0,17 61,10±0,73
Linoleico, C18:2 (ω 6) 3,89±0,03 4,02±0,02 4,04±0,02 4,03±0,04 4,03±0,04
Linolênico, C18:3 (ω 3) 0,88±0,01 0,81±0,02 0,78±0,00 0,76±0,03 0,74±0,00
Araquídico, C20:0 0,17±0,01 0,16±0,02 0,15±0,01 0,16±0,00 0,16±0,01
Gadoleico, C20:1 0,10±0,00 0,14±0,01 0,13±0,00 0,13±0,00 0,13±0,01
SFA 27,70 25,94 26,18 25,75 26,15
MUFA 62,64 64,07 64,07 64,53 64,08
PUFA 4,77 4,83 4,82 4,79 4,77
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média±desvio padrão da média62
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O óleo refinado apresentou comparativamente ao bruto, aumento de 2,41% para o ácido63
oleico, diminuição de 6,89% para ácido palmítico e 8,64% para o ácido linolênico (Tabela 1). O alto64
teor de ácidos graxos monoinsaturados tem sido mais desejável pela indústria alimentícia, porque65
atende tanto à demanda por estabilidade oxidativa quanto à qualidade nutricional. Portanto, o óleo66
de macaúba atende a estes dois requisitos fundamentais para o atual cenário deste segmento67
industrial.68
O óleo bruto de macaúba extraído nas condições deste trabalho contém 378,09 µg/g de69
carotenoides totais. Em óleo bruto de palma foram reportadas concentrações de 385 µg/g e 438 µg/g70
Szydlowska et al, (2001), valores bastante próximos à macaúba. Após o refino o teor de71
carotenoides no óleo de macaúba refinado reduziu em 97%, contendo apenas 9 µg/g. O processo de72
refino foi eficiente na redução da cor do óleo de macaúba (Figura 1). A demanda de óleos vegetais73
refinados é por produto com ausência de cor ou com baixa intensidade. Por exemplo, o óleo de74
palma refinado deve apresentar intensidade na faixa de 2,6 – 3,2 para a cor vermelha e 16,6 – 19,875
para amarela (TAN et al, 2004).76
77
78
Figura 1. Escala de cor (Lovibond), do óleo bruto da polpa de macaúba e em diferentes etapas do79
processo de refino. Letras maiúsculas referem-se à cor amarela e letras minúsculas referem-se à cor80
vermelha pelo teste de Tukey (P<0,05).81
82
O óleo bruto e refinado da polpa de macaúba apresentou gordura sólida somente até 10 ºC.83
Os valores encontrados foram de 2,25±0,13% e 6,07±0,35% para o óleo bruto e refinado84
respectivamente. Este comportamento deve-se ao perfil de ácidos graxos, majoritariamente oleico.85
As aplicações do óleo de macaúba, portanto, devem considerar esta propriedade para indicar os usos86
mais adequados. O óleo da polpa de macaúba possui duas frações distintas de ácidos graxos. Isto87
permitiria o fracionamento do óleo obtendo-se em torno de 25% de estearina e 65% de oleína. A88
obtenção dessas frações amplia as possibilidades de uso e agrega valor ao óleo.89
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CONCLUSÃO90
O perfil de ácidos graxos do óleo de macaúba bruto e refinado é predominantemente91
composto por ácido oleico, seguido de palmítico. Apesar do elevado teor inicial de carotenoides no92
óleo bruto os quais conferem coloração alaranjada, o processo de refino utilizado foi eficiente na93
clarificação, produzindo óleo com aspecto límpido e cor característica para óleos vegetais refinados.94
Os óleos de polpa de macaúba bruto e refinado apresentaram gordura sólida somente até 10 ºC.95
96
AGRADECIMENTOS97
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa de98
estudo concedida e pelo suporte financeiro por meio do programa Procad/NF 2008 – projeto 109. A99
empresa Petrobras S. A, pela bolsa de estudo concedida. Ao Sr. Ernest Ferter, pela disponibilização100
da área da fazenda Paraíso, para coleta e secagem dos frutos. A empresa Biocom S. A. pelo auxílio101
dos recursos financeiros.102
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REFERÊNCIAS104
AOCS. (1993). Official methods and recommended practices of the American Oil105
Chemists’ Society. USA: Champaign.106
AOCS. (2004). Official methods and recommended practices of the American Oil107
Chemists’ Society. (4 th ed.). USA: Champaign.108
HIANE, P. A., RAMOS FILHO, M. M., RAMOS, M. I. L., & MACEDO, M. L. R. (2005).109
Bocaiuva, Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd., pulp and kernel oils: Characterization and fatty acid110
composition. Brazilian Journal of Food Technology, 8, 256-259.111
MAPA. (2012). Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “Instrução112
Normativa Nº 1, de 30 de janeiro de 2012″ – “Regulamento técnico do azeite de oliva e do óleo de113
bagaço de oliva”. Disponível em: http://www.azeiteonline.com.br/wp-114
content/uploads/2012/02/instru%c3%87%c3%83o-normativa-n%c2%ba-1-de-30-de-janeiro-de-115
2012_mapa.pdf.116
PORIM. (1990). Palm oil Research Institute of Malaysia. Determination of carotene117
content. Malasya, pp.2-6.118
RODRIGUEZ-AMAYA, D. B., KIMURA, M., & AMAYA-FARFAN, J. (2008). Fontes119
Brasileiras de carotenoides: Tabela brasileira de composição de carotenoides em alimentos.120
Brasília: MMA/SBF.121
SZYDLOWSKA-CZERNIAK, A., TROKOWSKI, K., KARLOVITS, G., & SZLYK, E.122
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TAN, Y. A., KUNTOM, A., LEE, C. K., & LOW, K. S. (2004). Comparative evaluation of125
palm oil color measurement using a prototype palm oil colorimeter. Journal of the American Oil126
Chemists Society, 81(8), 733-736.127
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