1. Grandes mestres das Ciências Sociais
Nicolau Maquiavel
O termo maquiavélico deriva do nome de Nicolau Maquiavel, cujo livro, O príncipe,
escrito em 1514, provoca polêmicas ainda hoje. Ele foi escrito com um objetivo bem claro:
dar conselhos a um príncipe sobre como proceder para unificar os pequenos estados em que a
península Itálica estava dividida naquela época. Maquiavel queria que esse príncipe
restaurasse a antiga grandeza do Império Romano, perdida em 476, após sucessivas invasões
de povos germânicos.
No livro, Maquiavel aconselhava o príncipe a não recuar diante de nenhum crime para
conquistar esse objetivo. Em caso de necessidade, o príncipe deveria mentir ou mesmo
destruir seus oponentes para conquistar e consolidar o poder. Por isso lhe é atribuída a frase
“os fins justificam os meios”, que na verdade ele nunca disse ou escreveu.
Segundo o filósofo Renato Janine Ribeiro, o livro O príncipe representa o rompimento
com um modo medieval de ver a política como extensão da moral. Para os autores da Idade
Média, o “bom rei”era aquele que fazia o bem, seguindo os preceitos cristãos. Em oposição a
eles, Maquiavel mostrou que os reis bem-sucedidos raramente seguiam a moral convencional
e cristã. Seus argumentos punham fim à justificação religiosa para o poder político. Para ele, o
que importava na ação política eram os resultados e não sua obediência a critérios morais
estritos.
2. Montesquieu (1689 –
1755)
Charles Louis de
Secondat, Senhor de La
Brède e Barão de
Montesquieu, nasceu em
18 de janeiro de 1689, no
Castelo de La Brède, nos
arredores de Bordéus, na
França. Mais conhecido
como Montesquieu, foi o
pensador iluminista que
exerceu maior influência
no desenvolvimento das teorias jurídicas e políticas da modernidade. Muitos estudiosos o
consideram um precursor da Sociologia.
Em sua obra mais conhecida, O Espírito das leis, fez um estudo comparativo sobre a
origem e a natureza das leis que governam as sociedades e analisou as diferentes formas de
governo. Para ele, estas deveriam ser adequadas à natureza de cada sociedade e estabelecer a
primazia da lei. Montesquieu tinha particular admiração pela monarquia constitucional inglesa
e procurou aperfeiçoá-la.
Foi o primeiro pensador a analisar a liberdade apenas como um fato, não a discutindo
como um valor filosófico ou teológico, o que permitiu uma visão sociológica da realidade.
Inspirado na experiência histórica legada pela Revolução Gloriosa de 1688 na Inglaterra, que
instituiu a monarquia constitucional, foi também o primeiro pensador a propor a divisão
tripartite do poder político em Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.
Além de O espírito das leis (1748), escreve Cartas persas (1721) e Consideração sobre
a grandeza e a decadência dos romanos (1734).
Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778)
3. Nascido na Suíça, mas de formação francesa, Rousseau está ligado à Sociologia
moderna por vários aspectos de sua obra. Sua contribuição mais significativa para as Ciências
Sociais são os livros O contrato social, que se tornou um clássico da ciência Política, e o
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.
Para Rousseau, a sociedade se originou de um pacto entre os indivíduos que viviam
livremente no chamado “estado de natureza”. Por meio desse pacto ou contrato, eles
estabelecem a criação de um poder político e legitimaram a passagem da liberdade natural à
liberdade civil. Ao mesmo tempo, porém, o surgimento da sociedade e da propriedade privada
teria dado origem à desigualdade e à privação da liberdade. É famosa a frase com que começa
O contrato social: “O homem nasce livre, mas por toda a parte encontra-se a ferros”.
Para Rousseau, o ser humano é naturalmente bom: o mal teria sua origem na sociedade
e na propriedade privada, que estimulou o egoísmo e levam à divisão entre ricos e pobres.
Com essas ideias, Rousseau exerceu forte influência sobre os jacobinos, uma das tendências
radicais da Revolução Francesa de 1789.
Augusto Comte ( 1798 – 1857)
Isidore Auguste Comte Marie François Xavier Comte, filósofo e matemático francês,
nasceu em Montpellier em 19 de janeiro em 1798. Fez seus primeiros estudos no Liceu de
Montpellier e ingressou depois na Escola Politécnica de Paris. Entre 1830 e 1842, publicou
sua primeira grande obra, na qual expõe os princípios fundamentais de sua filosofia e de sua
teoria da História: Curso de Filosofia Positiva. A partir de então, sua doutrina passou a ser
conhecida como positivismo.
Comte afirmava que a sociedade funciona como um organismo, no qual cada parte tem
uma função específica, contribuindo para o funcionamento do todo. Segundo ele, ao longo da
História a sociedade teria passado por três grandes fases: a teológica, a metafísica e a positiva
(ou científica). Na primeira, as pessoas recorriam à vontade dos deuses para explicar os
fenômenos naturais; na segunda, utilizavam conceitos mais abstratos, como “natureza”; na
terceira, que corresponderia à sociedade industrial, o conhecimento se baseia na descoberta
das leis objetivas que determinam os fenômenos.
Comte foi o criador da expressão sociologia para designar a ciência que deveria
estudar a sociedade. Sua doutrina, o positivismo, exerceu forte influência sobre a oficialidade
do Exército brasileiro nas últimas décadas do século XIX. Por isso, um dos lemas positivistas,
“Ordem e progresso”, figura na bandeira do Brasil.
4. Karl Marx (1818 – 1883)
Filósofo, cientista social, economista e revolucionário, Karl Heinrich Marx nasceu em
Trier, Alemanha, a 5 de maio de 1818. Estudou na Universidade de Berlim, interessando-se
principalmente pelas ideias do filósofo Georg Friedch Hegel. Formou-se pela Universidade de
Iena em 1814.
Em 1843, transferiu-se para Paris, na França. Lá conheceu Friedch Engels, um radical
alemão de quem se tornaria amigo íntimo e com quem escreveria vários ensaios e livros.
Influenciado por ideias socialistas, de 1845 a 1848 viveu em Bruxelas, Bélgica, onde
participou de organizações clandestinas de operários e exilados.
Em 1847, redigiu com Engels o Manifesto do Partido Comunista, primeiro esboço da
teoria revolucionária que, mais tarde, seria chamada de marxismo ou materialismo histórico.
Nesse texto, Marx e Engels explicam que a história da humanidade é a história da luta de
classes e convocam o proletariado à luta pelo socialismo.
Em 1848, quando eclodiram movimentos revolucionários em vários países europeus,
Marx voltou à Alemanha, onde editou a Nova Gazeta Renana, primeiro jornal diário
francamente socialista e que procurava orientar as ações do proletariado alemão. Com o
fracasso da revolução, Marx e Engels fugiram para Londres, Inglaterra, onde viveram pelo
resto da vida.
Em 1864, fundaram a Associação Internacional dos Trabalhadores – depois
denominada Primeira Internacional – com o objetivo de lutar pelos direitos dos trabalhadores
em todo o mundo. Em 1867, Marx publicou o primeiro volume de sua obra mais importante,
O capital, no qual faz uma crítica radical ao capitalismo e à sociedade burguesa.
Marx foi o principal idealizador do socialismo e do comunismo revolucionário. Sua
doutrina propõe a derrubada da classe dominante ( a burguesia) por meio de uma revolução do
proletariado e a criação de uma sociedade sem classes, na qual os meios de produção passem
a ser propriedade de toda a coletividade.
Entre suas principais obras estão: Miséria da filosofia (1847), O dezoito de brumário
de Luís Bonaparte ( 1852) e O capital (1867 – 1894) e o Manifesto do partido comunista
(1847).
5. David Émile Durkheim (1858 – 1917)
O sociólogo Émile Durkheim nasceu em Épinal, França, em 15 de abril de 1858. Em
1887, depois de se doutorar em Filosofia na Escola Normal Superior de Paris, assumiu a
cátedra de Sociologia na Universidade de Bordéus, a primeira a ser criada na França. Aí
permaneceu até 1902, quando foi convidado a lecionar Sociologia e Pedagogia na
Universidade Sorbonne, em Paris.
É considerado o fundador da Sociologia moderna. Foi um dos primeiros a estudar mais
profundamente fenômenos sociais como o suicídio, o qual, segundo ele, é praticado na
maioria das vezes em virtude da desilusão do indivíduo com relação ao meio social em que
vive.
Para Durkheim, o objeto da Sociologia são os fatos sociais, que devem ser estudados
como “coisas”, isto é, como algo com existência própria, objetiva, e que atua de forma
coercitiva sobre os indivíduos.
O sistema sociológico de Durkheim baseia-se em quatro princípios fundamentais:
• A Sociologia é uma ciência independente das demais Ciências Sociais e da
Filosofia.
• A realidade social é formada pelos fenômenos coletivos (ou fatos sociais),
considerados como “coisas”.
• A causa de cada fato social deve ser procurada entre os fenômenos sociais que
o antecedem.
• Os fatos sociais são exteriores aos indivíduos e formam uma realidade
específica que exerce sobre eles um poder coercitivo.
As principais obras de Durkheim são: A divisão do trabalho social (1893), As
regras do método sociológico (1894) e O suicídio (1897).
6. Max Weber ( 1864 – 1920)
Nascido em Erfurt, na Turíngia, Alemanha, em abril de 1864, o sociólogo e cientista
político Max Weber foi professor de Economia nas universidades alemãs de Freiburg e
Heidelberg e é considerado um dos fundadores clássicos da Sociologia. Dotado de espírito
investigativo particularmente aguçado e grande erudição, criou uma nova disciplina, a
Sociologia da Religião, no âmbito da qual desenvolveu estudos comparados entre a história
econômica e a história das doutrinas religiosas.
Weber foi também um dos primeiros cientistas sociais a chamar a atenção para o
fenômeno da burocracia, não só no Estado moderno mas também ao longo da História.
De acordo com ele, a Sociologia deveria estudar o sentido da ação humana individual,
que deve ser buscado pelo método da interpretação e da compreensão. Weber preocupava-se
ainda com a responsabilidade social dos cientistas sociais e defendia a busca da neutralidade
na vida acadêmica e na investigação científica.
As teorias de Weber exerceram grande influência sobre as Ciências Sociais a partir da
década de 1920. Em uma de suas obras mais conhecidas, procurou demonstrar a existência de
uma estreita ligação entre a ética protestante e ascensão do capitalismo.
Suas principais obras são: A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905) e
Economia e sociedade (publicada postumamente em 1922).
7. Gilberto Freyre (1900 – 1987)
Antropólogo, sociólogo e escritor, Gilberto Freyre nasceu no Recife, Pernambuco, em
1900. Fez seus estudos universitários nos Estados Unidos, inicialmente na Universidade de
Baylor e depois na Universidade de Columbia, onde defendeu, em 1922, a tese Social life em
Brazil in the middle of 19th century (Vida social no Brasil em meados do século XIX).
Foi o pioneiro da abordagem cultural no estudo da formação da sociedade brasileira.
Em 1933, publicou Casa-Grande e Senzala, primeira parte de uma obra que deveria se chamar
Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil (as outras partes foram Sobrados e
mocambos, de 1936, e Ordem e progresso, publicada em 1959).
Casa-Grande e senzala é considerada sua obra máxima. Nela, renovou a teoria social,
apresentando, apresentando ideias que se contrapunham ao racismo então vigente, que
atribuía o atraso da sociedade brasileira à presença de negros e índios e à sua mistura com
europeus na formação de nosso povo, gerando o mestiço.
Freyre, ao contrário, atribuía a riqueza e a força cultural dos brasileiros justamente à
mistura de etnias; ele valorizou o mestiço e a contribuição africana e indígena na formação da
cultura brasileira. Além disso, foi o pioneiro na abordagem de alguns temas que, décadas mais
tarde, teriam enorme popularidade na chamada “história das mentalidades”- a moda, os
costumes, a vida íntima e sexual, a alimentação, a morte, etc.
Fundador do Instituto (atual Fundação) Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, com
sede no Recife, Gilberto Freyre escreveu oitenta livros de estudos sociológicos, além de
vários volumes de ficção e poesia.
8. Florestan Fernandes (1920 – 1995)
De família humilde, Florestan Fernandes nasceu em São Paulo, em 22 de julho de
1920. Trabalhando de dia e estudando à noite desde muito cedo, fez o curso madureza (uma
espécie de supletivo) e a seguir estudou Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências da Universidade de São Paulo (USP).
Lecionou na USP até 1969 – quando foi aposentado compulsoriamente pela ditadura
militar -, formando várias gerações de cientistas sociais. Obrigado a sair do país por força das
perseguições políticas que sofreu, foi professor em diversas universidades estrangeiras. Em
1976, voltou a lecionar no Brasil, agora na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São
Paulo.
É o fundador e principal representante da Sociologia Crítica no Brasil. Sua obra
constitui uma profunda reflexão sobre as desigualdades sociais e sobre o papel da Sociologia
diante dessa realidade. Assim, não apenas em seus livros, mas também em cursos,
conferências e artigos na imprensa, ele procurou desenvolver e aprofundar a reflexão crítica
sobre a realidade brasileira, com suas enormes desigualdades sociais, econômicas, políticas e
culturais.
Como certamente diria Karl Manheim, a própria história da vida de Florestan
Fernandes explica essa posição crítica: “Eu nunca teria sido o sociólogo em que me converti –
escreveu ele – sem o meu passado e sem a socialização pré e extraescolar que recebi, através
das duras lições da vida [...] Iniciei a minha aprendizagem ‘sociológica’ aos 6 anos, quando
precisei ganhar a vida como se fosse um adulto e penetrei, pelas vias da experiência concreta,
no conhecimento do que é a convivência humana”.
De sua imensa obra, destacam-se: A organização social dos Tupinambá (1949),
Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1959), A sociologia numa era de
revolução social (1963), A integração do negro na sociedade de classes (1965) e A natureza
sociológica da Sociologia (1980).
Nas eleições de 1986, Florestan Fernandes foi eleito deputado constituinte pelo Partido
dos Trabalhadores (PT). Em 1990, foi re-eleito deputado federal. Morreu em 1995, na cidade
de São Paulo.
9. Fernando Henrique Cardoso (1931 –
Presidente da República por dois mandatos consecutivos (1995-2003), Fernando
Henrique Cardoso é sociólogo e autor de vários livros sobre mudança social e sobre os
condicionantes políticos do desenvolvimento no Brasil e na América Latina.
Formou-se em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), da qual recebeu
também os títulos de mestre e doutor em Sociologia. Perseguido depois do golpe militar de
196, exilou-se no Chile e na França, pesquisando, escrevendo e lecionando.
No Chile, elaborou juntamente com o sociólogo chileno Enzo Falleto, a “teoria da
dependência. Segundo essa teoria, a dependência dos países latino-americanos em relação ao
capital estrangeiro não era um obstáculo para sua industrialização. Para Cardoso e Falleto, a
industrialização já estava ocorrendo naquele momento nos países latino-americanos, ou seja,
ela não estava necessariamente ligada à independência econômica desses países em relação ao
capital imperialista. Até então, os intelectuais de esquerda acreditavam que o capital
estrangeiro constituía um dos obstáculos para o desenvolvimento do Brasil.
Fernando Henrique Cardoso voltou ao Brasil em 1968, assumindo a cátedra de Ciência
Política da Universidade de São Paulo. Em 1969, foi aposentado compulsoriamente e teve
seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº 5. Para ficar no Brasil, criou em São
Paulo, com outros professores e pesquisadores cassados, o Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento (CEBRAP), que se tornaria um importante núcleo de pesquisa e reflexão sobre
a realidade brasileira.
Entre seus livros, estão Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na
sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul (1962) e a Arte da política: a história que vivi
(2006). Com Enzo Falleto, escreveu Dependência e desenvolvimento na América Latina
(1969).