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JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃO DA SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA • RIO DE JANEIRO, 14 DE MARÇO DE 2014 • ANO XXVII N0
754 • ISSN 1414-655X
Prêmio
Almirante
Álvaro
Alberto
(p.12)
SBPC e ABC
em prol da
Embrapa
Cerrado
(p.6)
A substituição de Marco An-
tonio Raupp do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI) em pleno fim de mandato
do governo representa "o des-
conhecimento" da importância
da Ciência para o desenvolvi-
mento do país. A opinião é da
presidente da Sociedade Brasi-
leira para o Progresso da Ciên-
cia (SBPC), Helena Nader.
Segundo ela, a comunidade
científica está decepcionada e
surpreendida com a saída de
Raupp neste momento, consi-
derando que este é um ano
atípico para o país, que terá Copa
de Mundo e eleições presiden-
ciais, com toda a mobilização
política e econômica que esses
acontecimentos requerem. Des-
sa forma, Helena Nader assegu-
ra que a saída de Raupp e de
boa parte de sua equipe, nesta
atual conjuntura, pode atrapa-
lhar o andamento dos progra-
mas da pasta de C&T, já que o
novo ministro não está inteirado
com todas as ações da pasta.
"Essa é uma mudança dra-
mática, em pleno fim de gover-
no, que nos trará impactos (ne-
gativos) que ainda vamos ver",
acredita Helena Nader, ao infor-
mar que ouviu ontem uma
cantilena de decepção de vários
cientistas, dos mais altos esca-
lões da comunidade científica, e
de empresários, sobre a saída
de Raupp. "Todos estão decep-
cionados. Essa mudança é um
desconhecimento da Ciência."
Conforme Helena Nader,
existem ministérios que são es-
tratégicos para o desenvolvimen-
to do país, como o MEC e o MCTI,
que são as bases para a trans-
formação econômica e social.
Dessa forma, ela defende que o
MCTI não pode ser incluído no
pacote de trocas, (Página 3)
Poucas & Boas
Ensino médio, sustentabilidade e do-
enças negligenciadas. Confira o que
foiditosobreesseseoutrosassuntos.
(Página 3)
Breves
Mutação - Pesquisa do Instituto
Oswaldo Cruz informa que uma
mutaçãodovírusdahepatiteCpode
estarligadaaosurgimentodecâncer
de fígado em pacientes brasileiros.
(Página 11)
Livros e Revistas
CientistasFluminenses-Coletâneade
dezlivrosfinanciadapelaFaperjconta
a história de dez pessoas que deram
contribuiçõesàciênciaeàhumanida-
de. (Página 11)
Agenda Científica
FórumNacionaldoConselhoNacio-
nal de Secretários Estaduais para
assuntosdeCiênciaeTecnologia -O
encontroseráemCuiabá,nosdias20
e 21 de março. (Página 11)
2ºCongressoInternacionaldeCiên-
cia da Educação - Evento será em
agostoeéorganizadopelaUniversi-
dade Federal da Integração Latino-
Americana. (Página 11)
Morre o geneticista
Darcy Fontoura
Troca de ministro de Ciência, Tecnologia e
Inovação decepciona cientistas
Anunciado plano de C&T para a
AmazôniaLegal
Com foco no desenvolvimento sustentável da região amazônica,
os secretários de Ciência e Tecnologia e as Fundações de Amparo
à Pesquisa dos estados do Norte sugeriram a criação de um Plano
de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Amazônia Legal (PCTI/
Amazônia). O documento foi elaborado pelo Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos (CGEE) e propõe um novo modelo de desen-
volvimento, baseado em conhecimentos e inovações.
(Página 4)
Dez anos da Lei da Inovação
A Lei da Inovação, está completando dez anos. E depois desse
período, inovar no Brasil ainda é um desafio. A aprovação da lei
foi o pontapé inicial para a construção de um sistema de fomento
e apoio à inovação, mas ainda há muitos obstáculos a serem
driblados. Para especialistas na área, há algumas lacunas a
serem cobertas pela lei, e mesmo com a ampla oferta de recursos
para investimento em pesquisa e desenvolvimento no país, falta
demanda das empresas. (Página 5)
Museus e centros de ciência e
tecnologia pedem socorro
Os museus de ciência brasileiros vivem hoje um momento com
muitas contradições e incertezas. Apesar de a política de democrati-
zação da ciência ter esses espaços como foco principal, consolidar tais
instituições está sendo um grande desafio. Tanto que alguns centros
importantes estão fechando: a Estação Ciência/USP e o Museu de
Ciência e Tecnologia da Bahia são exemplo disso. Afinal, que política
de democratização é essa que não consegue manter os centros e
museus de ciência funcionando? (Página 8)
O Plano Nacional de Educa-
ção ainda está emperrado na
Câmara, sem aprovação, de-
pois de ter passado pelo Sena-
do. O projeto tramita como uma
lei ordinária. Mas enquanto o
PNE não é aprovado surgem
iniciativas voltadas para a ques-
tão. Uma delas é o Observatório
do PNE, do movimento Todos
Pela Educação. (Página 4)
Enquanto o PNE
não vem
Indígenasterãoprogramação
especialnaReuniãodaSBPCnoAcre
Decisivos na preservação e conservação da biodiversidade, os
povos indígenas terão um espaço especial na 66ª Reunião Anual
da SBPC, a ser realizada na semana de 22 a 27 de julho deste ano,
na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco. Na progra-
mação, batizada de SBPC Indígena, esses povos devem apresen-
tar trabalhos sobre a própria cultura e a medicina da floresta, além
de demandas sobre políticas públicas. (Página 2)
O Projeto de Decreto Legisla-
tivo que "convoca plebiscito para
consultar o eleitorado nacional
sobre a transferência para a
União da responsabilidade so-
bre a educação básica" saiu da
pauta da Comissão de Consti-
tuição, Justiça e Cidadania (CCJ)
do Senado Federal.
Após debate caloroso entre
os senadores o projeto foi retira-
do da pauta, pelo relator, para
reformulação. (Página 4)
Federalização da
educação básica é
polêmica
SBPC Jovem
Em 2014, a SPBC Jovem
chega a sua 17ª Edição, reno-
vando o convite para uma via-
gem ao mundo do conhecimen-
to. A SBPC, a Universidade Fe-
deral do Acre (Ufac) e o gover-
no do estado do Acre apostam
na força jovem para a garantia
de um futuro melhor a partir da
pesquisa, da troca de experi-
ências, da criatividade e da ino-
vação. (Página 9)
Cavalcante
JORNAL da CIÊNCIA
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— Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência
Conselho Editorial: Alberto P.
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Marilene Correa da Silva Freitas
Editora: Fabíola de Oliveira
Editoraassistente:EdnaFerreira
Redação e reportagem: Camila
Cotta, Edna Ferreira, Vivian
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Colaborou com esta edição:
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Revisão: Mirian S. Cavalcanti
Diagramação: Sergio Santos
Ilustração: Mariano
Redação: Av. Venceslau Brás,
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14 de Março de 2014Página 2 JORNAL da CIÊNCIA
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Indígenas terão programação especial na
Reunião da SBPC no Acre
A ideia é estimular o povo indígena brasileiro a buscar o conhecimento cultural ocidental
Viviane Monteiro
Decisivos na preservação e
conservação da biodiversidade,
os povos indígenas terão um
espaço especial na 66ª Reunião
Anual da SBPC, a ser realizada
na semana de 22 a 27 de julho
deste ano, na Universidade Fe-
deral do Acre (Ufac), em Rio
Branco. Na programação, bati-
zada de SBPC Indígena, esses
povos devem apresentar traba-
lhos sobre a própria cultura e a
medicina da floresta, além de
demandas sobre políticas públi-
cas, principalmente relaciona-
das à saúde e educação.
A expectativa dos organizado-
res do evento é reunir 300 indíge-
nas brasileiros, principalmente da
Amazônia, sem contar com povos
do Peru e Bolívia, países que fa-
zem fronteiras com Brasil.
Na ocasião, devem ser tam-
bém apresentados pactos ecoló-
gicos e socioculturais, segundo o
antropólogo Jacob Piccoli, pro-
fessor da Ufac e coordenador da
Comissão Organizadora da
SBPC Indígena. A intenção do
espaço SBPC Indígena é estimu-
lar o povo indígena nacional a
buscar conhecimento cultural
ocidental e apresentar trabalhos
sobre a própria cultura.
Jacob chama a atenção para o
número de índios nas universida-
des do Acre, onde pelo menos
100 indígenas fazem cursos de
graduação. Em 2012, existiam 45
pessoas declaradas indígenas
nas universidades acreanas, se-
gundo dados do Instituto Nacio-
nal de Estudos e Pesquisas Edu-
cacionais Anísio Teixeira (Inep),
vinculado ao Ministério da Educa-
ção (MEC). No Brasil, é cada vez
maior o ingresso de pessoas as-
sumindo a identidade indígena
nos cursos de graduação, embo-
ra a maioria ainda estude em uni-
versidades privadas.
Os últimos dados do Inep re-
velam que em 2012 eram 10,282
mil indígenas nas universida-
des brasileiras, dos quais 4,126
mil em instituições públicas e
6,156 mil no setor privado. Para
efeitos comparativos, em 2011,
esse número totalizava 9,756
mil,oquerepresentacrescimento
de 5,4% na comparação com o
anterior. Desse total, 3,54 mil
estudavam em instituições pú-
blicas e o restante (6.216) em
universidades privadas.
Natureza conservada - Ao dis-
correr sobre a contribuição dos
indígenas à preservação e con-
servação da biodiversidade, o
antropólogo Piccoli declarou que
os indígenas ocupam hoje 13%
do território acreano, o equiva-
lente entre 15 mil a 20 mil indíge-
nas distribuídos pelo sul do Ama-
zonas e Rondônia. Ou seja, es-
sas terras são preservadas e
conservadas pelos chamados
defensores da natureza.
Tal ocupação, no olhar de
Piccoli, poderia ser mais abran-
gente caso alguns indígenas não
tivessem sido dizimados pelos
seringalistas na época do extra-
tivismo, quando a população
indígena acreana girava em tor-
no de 70 mil. Além de mortes em
conflitos com seringalistas, lem-
bra o estudioso, muitos índios
também foram dizimados por
doenças endêmicas.
Pesquisador de conflitos so-
ciais na Amazônia, o antropólo-
go Alfredo Wagner de Almeida
confirma o avanço significativo
no número de índios residentes
em centros urbanos, público que
vem “assumindo a identidade
indígena e compondo novas for-
mas organizativas, agrupando
diferentes etnias e consolidan-
do territórios pluriétnicos”.
Dados da Fundação Nacional
do Índio (Funai) mostram que a
população indígena quase tripli-
cou nas últimas décadas – eram
294,130 mil índios no Brasil em
1991, número que atingiu 817,963
mil em 2010, o equivalente a
0,42% da população nacional.
Transformação social - Con-
forme a leitura de Wagner de
Almeida, criar um espaço espe-
cífico para os indígenas no maior
encontro científico do Brasil co-
loca a SBPC em sintonia com
uma das mais significativas
transformações sociais ocorri-
das no Brasil na passagem do
século XX para o século XXI: a
emergência da expressão orga-
nizativa dos povos indígenas,
posicionando-os como sujeitos
na vida social.
“As instituições universitárias
vêm refletindo sobre este fenô-
meno, de existência coletiva, que
compreende não apenas o ad-
vento de uma capacidade políti-
ca de apresentar publicamente
sua pauta de reivindicações,
mas também o reconhecimento
de direitos étnicos”, analisa
Wagner de Almeida, também
presidente do Programa Nova
Cartografia Social e conselheiro
da SBPC.
Em outra frente, o diretor do
Museu da Amazônia (Musa),
Ennio Candotti, vice-presidente
da SBCP, considera fundamen-
tal promover o intercâmbio dos
indígenas, com a proposta de
difundir ideias, de forma mais
ampla. Nesse caso, Candotti
defende a abertura de mais es-
paço aos indígenas, para dis-
cussão de ideias e cobrança de
políticas públicas.
Indígenas isolados no Acre -
Conforme entende Wagner de
Almeida, no Acre encontra-se o
maior número dos denomina-
dos “povos indígenas isolados”,
afetados diretamente pelas
ações de desmatamento e de-
vastação, sobretudo nas regi-
ões de fronteira internacional.
“Pesquisas de sísmica por
empresas de petróleo e gás e
retirada ilegal de madeira e obras
de construção de estradas sem
o devido licenciamento ambien-
tal configuram uma situação
conflitiva que, aliás, caracteriza
hoje toda a região da Pan-Ama-
zônia (Brasil, Bolívia, Colômbia,
Venezuela, Suriname, Equador,
República da Guiana, Peru e
Guiana Francesa)”.
Dessa forma, o Acre, avalia
Wagner de Almeida, pode fun-
cionar como um grande labora-
tório de reflexão sobre esses
antagonismos sociais e suas im-
plicações nos planos de desen-
volvimento sustentável relativos
aos nove países que constituem
a Pan-Amazônia. “A escolha da
SBPC consiste num convite a
tornar estas questões objetos de
reflexão do trabalho científico.”
Espaço terá trabalhos sobre a cultura indígena e a medicina da floresta
GuilhermeCarrano/Funai
14 de Março de 2014 Página 3JORNAL da CIÊNCIA
Poucas & BoasPoucas & Boas
Reputação – “Todas as universi-
dades do mundo buscam reputação.
Uma reputação elevada faz com que a
instituição seja procurada por melho-
res alunos e melhores professores, o
que resulta em mais financiamento
para suas atividades e uma melhor
reputação, e o ciclo recomeça.”
Leandro Tessler, professor da
Unicamp, em artigo no O Estado
de São Paulo (06/03).
Ensino médio - “Doze por cento
vão para o ensino superior, 88% não
vão. Para esses 88%, para que serviu
o ensino médio? Eles não usam o
ensino médio para nada. Se nem para
os 88% serve, nem para os 12% serve,
dá 100%, não serve para ninguém.
Então é esse o ensino médio atual.”
Deputado Wilson Filho (PTB-
PB), relator da comissão especial
criada para analisar o Projeto de
Lei 6840/13, que prevê melhora
daqualidadedoensinomédio,na
Agência Câmara (05/03).
Gargalos - “Mesmo que rece-
ba mais recursos, a universidade
não consegue executar tudo em
um ano. A lei amarra e impede o
crescimento.”
Presidente da Andifes, Jesual-
do Farias, para quem o principal
entrave financeiro para as uni-
versidades federais não é o volu-
me de dinheiro repassado às ins-
tituições, mas o engessamento
do uso das verbas, no O Estado de
São Paulo (10/03).
Doenças negligenciadas -
“Todo ano se faz um estudo para
analisar o investimento feito nas
doenças que afetam as popula-
ções pobres. O gap continua, a
maioria do dinheiro é investido
para os futuros blockbusters, um
Viagra, ou um remédio para cres-
cimento de cabelos.”
Eric Stobbaerts, 49, diretor-
executivo da Iniciativa de Medi-
camentos para Doenças Negli-
genciadas (Drugs for Neglected
Diseases Initiative, na sigla em
inglêsDNDi),naFolhadeSãoPaulo
(10/03).
Crédito estudantil - “Depois
de 2010, o Fies se transformou
num divisor de águas no ensino
superior privado. A taxa de juros
anual caiu de 9% para 3,4%; antes
era só a Caixa oferecendo crédi-
to, aí veio o Banco do Brasil; o
prazo de carência passou de seis
para 18 meses; e o prazo de paga-
mento passou de uma vez e meia
para três vezes o tempo do curso
mais um ano.”
Rodrigo Capelato, diretor-
executivo do Sindicato das Enti-
dades Mantenedoras de Estabe-
lecimentos de Ensino Superior
no Estado de São Paulo (Semesp),
sobre a participação de 31% do
Fies e Prouni nas matrículas de
universidades privadas, no Valor
Econômico (11/03).
Viviane Monteiro
A substituição de Marco An-
tonio Raupp do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI) em pleno fim de mandato
do governo representa "o des-
conhecimento" da importância
da Ciência para o desenvolvi-
mento do país. A opinião é da
presidente da Sociedade Brasi-
leira para o Progresso da Ciên-
cia (SBPC), Helena Nader.
Segundo ela, a comunida-
de científica está decepciona-
da e surpreendida com a saída
de Raupp neste momento, con-
siderando que este é um ano
atípico para o país, que terá
Copa de Mundo e eleições pre-
sidenciais, com toda a mobili-
zação política e econômica que
tais acontecimentos requerem.
Dessa forma, Helena Nader
assegura que a saída de Raupp
e de boa parte de sua equipe,
nesta atual conjuntura, pode
atrapalhar o andamento dos
programas da pasta de C&T, já
que o novo ministro não está
inteirado com todas as ações
da pasta.
"Essa é uma mudança dra-
mática, em pleno fim de gover-
no, que nos trará impactos (ne-
gativos) que ainda vamos ver",
acredita Helena Nader, ao in-
formar que ouviu ontem uma
cantilena de decepção de vá-
rios cientistas, dos mais altos
escalões da comunidade cien-
tífica, e de empresários, sobre
a saída de Raupp. "Todos es-
tão decepcionados. Essa mu-
dança é um desconhecimento
da Ciência."
Conforme Helena Nader, exis-
tem ministérios que são estraté-
gicos para o desenvolvimento do
país, como o Ministério da Edu-
cação e o MCTI, que são as bases
para a transformação econômi-
ca e social. Dessa forma, Helena
Nader defende que o MCTI não
pode ser incluído "no pacote de
moedas de troca de ministérios".
"Um país que quer pertencer
ao clube dos países ricos tem
que ter estratégia que nação. E
nessa visão estratégica tem que
ter educação e ciência e tecno-
logia de qualidade. Um projeto
de nação vai além de um projeto
de governo, sobretudo quanto
tratamos de ações na área cien-
tífica, tecnológica e de inovação,
que requerem longo prazo de
planejamento e maturação até
que sejam concretizados. Mas a
descontinuidade tem carreira
histórica em nosso país."
A presidente da SBPC la-
Presidente da SBPC fala sobre os riscos de descontinuidade do trabalho realizado pelo ex-ministro
Troca de ministro de Ciência, Tecnologia e
Inovação decepciona cientistas
menta que a troca de ministros
na pasta de Ciência, Tecnolo-
gia e Inovação seja recorrente.
Lembra que desde que foi cria-
do o Ministério, em março de
1985, como compromisso do
programa de governo de Tan-
credo Neves, compromisso esse
assumido pelo presidente José
Sarney, a pasta foi utilizada
como instrumento de barganha
política em vários momentos.
Somente no Governo Sarney,
entre outubro de 1987 a março
de 1989, foram 5 trocas de titu-
lares, e no governo de Fernan-
do Collor, 3 titulares reveza-
ram-se na pasta, entre março
de 1990 e outubro de 1992.
Alternância da política científi-
ca e tecnológica - Preocupada
com a alternância da política
científica e tecnológica nacio-
nal, a presidente da SBPC fez
questão de lembrar que no últi-
mo ano do Governo Lula, em
2010, houve a 4ª Conferência
Nacional de Ciência Tecnologia
e Inovação para o Desenvolvi-
mento Sustentável que traçou
diretrizes para a política científi-
ca, e tecnológica e de inovação.
No entanto, poucas foram cum-
pridas, em razão de cortes e
contingenciamentos de recursos
do atual governo.
Apesar de consecutivos con-
tingenciamentos de recursos,
Helena Nader afirmou que
Raupp e equipe realizaram um
trabalho importante não apenas
para Ciência, mas criou também,
em especial, uma plataforma de
Tecnologia e Inovação do Go-
verno Dilma.
"Raupp conseguiu fazer vá-
rios acordos, com diferentes mi-
nistérios, para trazer mais re-
Comunidade científica ficou decepcionada com saída de Raupp
JulianaBrainer/AscomdoMCTI
cursos e fomentar a área de
ciência e tecnologia. Mas pare-
ce que tudo isso foi desconsi-
derado", disse. Para Helena
Nader, a troca de ministro de-
veria acontecer apenas caso a
função dele não estivesse sen-
do cumprida corretamente.
Helena Nader reforça que não
questiona o perfil profissional e
acadêmico do futuro gestor do
MCTI, pois o mesmo "já demons-
trou sua competência e habili-
dade à frente da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG)
e da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (Fapemig)".
Disse, entretanto, que qual-
quer ministro que assumir a pas-
ta agora, a apenas nove meses
para o fim do atual governo,
enfrentará dificuldade para to-
mar pé da situação, pois o MCTI
tem uma arquitetura complexa,
que envolve acordos com ou-
tros ministérios e diversas orga-
nizações. Helena Nader de-
monstra preocupação também
com o contingenciamento de
recursos, o qual Raupp sempre
buscou evitar.
Perfil do novo ministro - Clelio
Campolina Diniz saiu da reito-
ria UFMG para assumir o MCTI.
Ex-presidente da Câmara de
Ciências Sociais Aplicadas da
Fundação de Amparo à Pesqui-
sa do Estado de Minas Gerais
(Fapemig), é formado em Enge-
nharia Mecânica pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas
Gerais, doutor em Ciência Econô-
mica pela Universidade Estadual
de Campinas, dirigiu o Parque
Tecnológico de Belo Horizonte
(BHTEC) e coordenou a área de
economia do CTC da Capes.
JORNAL da CIÊNCIA 14 de Março de 2014Página 4
Edna Ferreira e Camila Cotta
O Plano Nacional de Educa-
ção (PNE 2011-2020) ainda está
emperrado na Câmara, sem
aprovação, depois de ter passa-
do pelo Senado. O projeto trami-
ta como uma lei ordinária que
terá vigência de dez anos a partir
de sua promulgação, e pretende
estabelecer diretrizes, metas e
estratégias de concretização no
campo da Educação. Mas, en-
quanto o PNE não é aprovado,
surgem iniciativas voltadas para
a questão. Uma delas é o Obser-
vatório do PNE, uma plataforma
online lançada pelo movimento
Todos Pela Educação e que tem
como objetivo monitorar os indi-
cadores referentes a cada uma
das 20 metas do plano.
A iniciativa tem 20 organiza-
ções parceiras ligadas à Educa-
ção e especializadas nas dife-
rentes etapas e modalidades de
ensino, entre elas a Sociedade
Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC). Juntas, essas
entidades vão realizar o acom-
panhamento permanente das
metas e estratégias do PNE. A
ideia do Todos Pela Educação é
que a ferramenta possa apoiar
gestores públicos, educadores
e pesquisadores, mas especial-
mente ser um instrumento à dis-
posição da sociedade para que
qualquer cidadão brasileiro pos-
sa acompanhar o cumprimento
das metas estabelecidas.
Cada parceiro será respon-
sável por acompanhar uma das
metas do PNE. Coube à SBPC a
meta 13, que trata de elevar a
qualidade da Educação Supe-
rior pela ampliação da propor-
ção de mestres e doutores do
corpo docente em efetivo exercí-
cio no conjunto do sistema de
Educação Superior para 75%,
sendo do total, no mínimo, 35%
doutores. Para isso está sendo
montado um grupo de trabalho
que será coordenado pela pro-
fessora Lisbeth Cordani, que faz
parte do conselho da SBPC. De
acordo com a professora, a inten-
ção principal é de colaboração.
Para Alejandra Meraz
Velasco, gerente da Área Técni-
ca do movimento Todos Pela
Educação, a escolha dos par-
ceiros para este projeto foi uma
etapa importante. “A amplitude
dos temas tratados nas metas do
PNE levou naturalmente a uma
congregação de várias organi-
zações que têm expertise em
cada um destes temas e que
identificaram a importância de
dar notoriedade à execução do
Plano”, explica a gerente. Ainda
segundo ela, durante o desenho
do projeto várias organizações
parceiras do Todos Pela Educa-
Enquanto o PNE não vem
Plataforma online é criada para monitorar as metas do Plano Nacional de Educação e conta com a parceria da SBPC
ção interessaram-se pela inicia-
tiva. “E, assim, uma rede de ins-
tituições que também têm no seu
foco de atuação a influência nas
políticas públicas de Educação
somou-se à proposta, no âmbito
da atuação específica de cada
uma, com a alimentação e ma-
nutenção constante da platafor-
ma”, definiu Alejandra.
Controle social - Segundo
Alejandra, além de monitorar as
metas do Plano, o Observatório
do PNE vai oferecer análises
sobre as políticas públicas edu-
cacionais já existentes e que
serão implementadas ao longo
dos dez anos de vigência do
PNE. Ela destaca o uso da ferra-
menta pela sociedade. “Espera-
mos que haja maior controle
social em relação ao cumprimen-
to do Plano, para que, diferente
do anterior (2000-2010), que teve
apenas cerca de 20% das metas
cumpridas, este PNE que vigo-
rará para os próximos 10 anos
seja, de fato, cumprido”, revela
Alejandra.
A gerente explica que en-
quanto o PNE não é aprovado,
o site do Observatório já está
sendo alimentado e divulgado.
“A ideia com isso é que ele pos-
sa ser também uma forma de
pressionar o poder público pela
aprovação do PNE, que já tra-
mita há mais de 3 anos no Con-
gresso Nacional. Após a apro-
vação e sanção do Plano, a
plataforma será atualizada de
acordo com a versão do Plano
aprovado”, disse ela.
PNE no Congresso - O Plano
Nacional de Educação foi en-
caminhado à Câmara pela Pre-
sidência da República, onde
foi apreciado e modificado an-
tes de ser encaminhado ao Se-
nado. Após passar por diver-
sas comissões no Senado, o
Plenário da casa aprovou uma
versão que, segundo especia-
listas, apresentou retrocessos
em relação ao texto aprovado
na Comissão de Educação do
próprio Senado e também em
relação ao texto original apro-
vado anteriormente na Câmara
dos Deputados. Neste momen-
to, o PNE tramita novamente na
Câmara, que aceitará ou não as
alterações aprovadas no Sena-
do. Em seguida, a matéria se-
guirá obrigatoriamente para a
sanção presidencial.
Para o deputado Ângelo
Vanhoni(PT-PR),relatordoPNE,
a expectativa é que até o fim de
março o plano seja votado. “A
Comissão de Educação da Câ-
mara dos Deputados, da qual
sou relator, está analisando o
Projeto que recebemos do Se-
nado no início desse ano. Assim
que analisarmos toda a propos-
ta, estaremos elaborando um
novo texto para ser apreciado e
votado no Plenário da Câmara.
Após aprovação, a presidenta
Dilma Rousseff assinará o Pla-
no, que começa a valer imediata-
mente para o decênio”, explica.
Vanhoni destaca a importân-
cia do Plano composto por 20
metas e elaborado com a partici-
pação de vários segmentos da
sociedade. “É uma grande con-
quista de todos os brasileiros.
Além disso, avançamos no de-
bate do financiamento para edu-
cação, que passará de 4,94%
para 10% do PIB até o final da
vigência do Plano. O PNE ex-
pressa a nova realidade do país,
com uma educação plural e de-
mocrática”, resume ele.
Alunos e educadores aguardam a aprovação das diretrizes do PNE
SXC.Hu
Camila Cotta
O Projeto de Decreto Legisla-
tivo (SF) Nº 460, de 2013, que
"convoca plebiscito para con-
sultar o eleitorado nacional so-
bre a transferência para a União
da responsabilidade sobre a
educação básica", saiu da pauta
da Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania (CCJ) do
Senado Federal.
Na manhã desta quarta-feira
(12), os senadores Randolfe
Rodrigues (PSOL/AP) e Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB/SP) pro-
moveram um caloroso debate a
respeito do assunto, fazendo
com que o relator do projeto,
senador Pedro Taques (PDT/
MT), pedisse para retirar o proje-
to da pauta, para reformulação.
Federalização da educação básica é polêmica
Senadores divergem sobre proposta e convocação de plebiscito sai da pauta da CCJ
O embate entre os parlamen-
tares foi em torno da responsa-
bilidade da educação básica,
até que ponto será do governo
federal e até onde vai a atuação
do município. "Sou a favor do
plebiscito. Hoje um terço da po-
pulação é analfabeta. Precisa-
mos mudar isso. A responsabili-
dade tem que ser da federação",
esbravejou Rodrigues. "Eu sou
contra. O governo federal vai
gerir creche? Escola? Vai no-
mear diretor?", retrucou Ferrei-
ra. Com a calorosa discussão, o
relator do projeto preferiu anali-
sar os pontos e tirar da pauta da
votação na CCJ.
Apoio - O autor do projeto de
decreto, senador Cristovam
Buarque (PDT/DF), pediu apoio
aos parlamentares. Ele defende
o envolvimento da sociedade e
dos candidatos à Presidência da
República em um amplo debate
sobre o tema: municípios brasilei-
ros não conseguem proporcionar
educação de qualidade porque
são pobres e desiguais. "Tratar
cadacriançaaonascerneste país,
não importa a cidade, não importa
o nível de renda que ela tenha,
como uma criança brasileira,
merecendo o mesmo cuidado
educacional no que se refere ao
financiamento público", observa.
Cristovam Buarque acredita
que a federalização da educa-
ção básica vai levar o Brasil "a
dar o salto para o mundo do
conhecimento". Também deve-
rá permitir "a resolução de pro-
blemas centrais e de acesso".
JORNAL da CIÊNCIA14 de Março de 2014 Página 5
Dez anos da Lei da Inovação
Edna Ferreira
A Lei 10.973, também co-
nhecida como Lei da Inovação,
está completando dez anos. E
depois desse período, inovar
no Brasil ainda é um desafio. A
aprovação da lei foi o pontapé
inicial para a construção de um
sistema de fomento e apoio à
inovação, mas ainda há muitos
obstáculos a serem driblados.
Para especialistas na área, há
algumas lacunas a serem co-
bertas pela lei e mesmo com a
ampla oferta de recursos para
investimento em pesquisa e de-
senvolvimento no país, falta de-
manda das empresas para a
captação desses recursos.
Para a professora Vanderlan
Bolzani, do Instituto de Química
da Universidade Estadual Pau-
lista (Unesp) de Araraquara e
diretora da Agência Unesp de
Inovação (Auin), o Brasil vem
avançando sim na área da ino-
vação, mas está longe do de-
senvolvimento tecnológico tão
sonhado. “São muitas as cau-
sas e tanto o setor público (go-
verno) como o setor industrial
têm suas parcelas neste de-
senvolvimento. O país fica
cada dia mais dependente de
tecnologia externa e isto é ter-
rível”, alerta.
De acordo com a professora,
nesse aspecto a Lei da Inova-
ção foi importante para criar os
Núcleos de Inovação Tecnoló-
gica (NITs) e a obrigatoriedade
de planos de políticas de inova-
ção. “A legislação regula a pro-
teção do conhecimento gerado
nas universidades e institutos
de pesquisas. A criação de em-
presas de base tecnológica por
pesquisadores e alunos e o uso
dos laboratórios e demais re-
cursos de infraestrutura por par-
ceiros empresariais também
passam a ser regulamentados
pela Lei. Isto é um dado positivo
e acredita-se que possa contri-
buir com o processo de inova-
ção empresarial nacional”, ar-
gumenta Bolzani.
A presidente da Associação
Nacional de Entidades Promo-
toras de Empreendimentos Ino-
vadores (Anprotec), Francilene
Procópio Garcia, afirma que a
legislação tem ajudado a mu-
dar a forma como as institui-
ções pensam e priorizam a
questão da inovação. “Tivemos
vários avanços na implemen-
tação de programas e instru-
mentos de fomento a partir da
maior clareza jurídica provida
pela lei”, diz. Em apoio a sua
afirmação ela aponta uma pes-
quisa do Ministério de Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI)
Em uma década de existência da legislação, avanços e desafios na área mostram que país ainda tem longo caminho a percorrer
que mostrou que, nos últimos
nove anos, já foram feitos 217
pedidos de proteção de privilé-
gio de propriedade intelectual
por instituições brasileiras.
Apesar dos dados positivos
e do crescimento de iniciativas
estaduais e federais com ampla
oferta de recursos para investi-
mento em pesquisa e desenvol-
vimento no Brasil, ela afirma
que existem algumas lacunas a
serem cobertas pela lei. Segun-
do Francilene, percebem-se
ainda fragilidades no ambiente
empresarial para a captação es-
truturada e oportuna desses
recursos. “É necessário refor-
çar políticas públicas com foco
em incubadas, startups, micro e
pequenas empresas com perfil
inovador, como é feito em paí-
ses que são referência nesta
área. O Brasil está mais prepa-
rado e maduro para um cresci-
mento mais acelerado nos pró-
ximos anos”, afirma ela.
Mudança de mentalidade - No
ranking internacional Índice
Global de Inovação (Global
Innovation Index) de 2013, o
Brasil aparece atrás de países
como Chile e Colômbia. O re-
sultado da última pesquisa na-
cional de inovação nas empre-
sas (Pintec) realizada pelo
IBGE, que avaliou a taxa de
inovação das empresas brasi-
leiras no período de 2008 a
2011, encontrou uma queda de
38,1% para 35,7%, em relação
ao período anterior. O que está
faltando para o Brasil decolar
na inovação?
A resposta pode estar na
parceria entre universidades e
empresas. O Brasil é o 13° pro-
dutor de conhecimento do mun-
do em número de artigos publi-
cados pelos pesquisadores de
nossas universidades. Mas
apenas uma fração pequena
desse ativo de conhecimento,
porém, é aplicada para melho-
rar a produtividade e a compe-
titividade de nossas indústrias,
empresas e serviços. “Faltam
às universidades de excelên-
cia mais ousadia e vanguarda
para colaborar, e às empresas
mais empenho para absorver
mais conhecimento e se torna-
rem mais inovadoras. É um pro-
cesso longo, onde as políticas
de governo podem facilitar
muito”, opina a professora
Vanderlan Bolzani.
Nesse cenário, a professora
destaca a importância das agên-
cias, como a da Unesp, que
surgiram com o objetivo de au-
xiliar os docentes e pesquisa-
dores na questão da transfe-
rência de conhecimento. “Nós
pesquisadores não sabemos
como identificar parceiros no
mercado para as pesquisas que
fazemos. O papel da agência é
ser um facilitador para a aproxi-
mação de dois setores impor-
tantes para atuarem em colabo-
ração: universidades e empre-
sas”, define a professora.
Já a presidente da Anprotec
aposta que para mudar a menta-
lidade do empresário brasileiro
e ampliar os horizontes da ino-
vação é fundamental dissemi-
nar a cultura empreendedora. “É
provável que seja oportuno ao
país repensar o processo de ino-
vação como um todo, não ape-
nas com a definição de segmen-
tos prioritários, mas em especial
com a definição de modelos de
fomento mais eficientes para a
participação casada de investi-
mentos públicos e privados. De-
pender somente de financiamen-
to a juros baixos limita muito as
possibilidades de criar algo
novo. O capital semente e de
risco tem muito a avançar no
país”, explica Francilene.
Academia e tecnologia - Mas
não faz sentido culpar somente
o empresariado. Afinal, estão
na esfera governamental mui-
tos dos fatores que ainda são
entraves ao desenvolvimento
tecnológico no país. Um exem-
plo disso é o conhecido fardo
tributário, que somado ao labi-
rinto da burocracia, emperra o
dia a dia no ambiente dos negó-
cios brasileiros. Para Álvaro
Prata, secretário de Desenvol-
vimento Tecnológico e Inova-
ção do MCTI, a inovação hoje é
parte da agenda do país. “O
Brasil se preocupa muito com
isso, temos um número cres-
cente de empresas envolvidas
com inovação tecnológica. Te-
mos também as instituições de
ciência e tecnologia, que cada
vez mais se preocupam com a
transferência do conhecimento
científico para o tecnológico atra-
vés da inovação”, afirma ele.
De acordo com Prata, a pró-
pria Lei da Inovação veio em
benefício da parceria universida-
de-empresa. “O Brasil precisa
melhorar muito isso, por que es-
sas duas instâncias se colocam
muito distantes uma da outra. A
universidade atua muito nas
questões mais acadêmicas, na
componente científica mais em
benefício dos valores da acade-
mia, que é a publicação e a for-
mação de pessoas”, explica ele
afirmando ainda que “essa ciên-
cia precisa também se aproximar
dos aspectos mais tecnológicos,
do setor industrial, do benefício
econômico, e para isso a univer-
sidade precisa se aproximar das
empresas, da indústria, da inicia-
tiva privada.”
Prata reconhece a importân-
cia do setor acadêmico para o
país e de seu crescente contin-
gente de mestres e doutores. “O
Brasil formou o seu primeiro mes-
tre em 1963 e hoje titula 40 mil
mestres e 14 mil doutores por
ano. Esses números são notá-
veis, nenhum país do mundo,
num tempo tão curto quanto
esse, teve um crescimento tão
grande”, afirma. Do lado indus-
trial, o secretário aponta que é
preciso mais investimentos em
pesquisa e desenvolvimento e
na valorização das pessoas qua-
lificadas cientificamente.
Segundo Álvaro Prata, um dos
papéis da Secretaria de Desen-
volvimento Tecnológico e Ino-
vação e do MCTI é aproximar
esses dois mundos. “Nós temos
criado uma série de instrumen-
tos, de programas e incentivos
que mais e mais começam a dar
resultados, por exemplo, o nú-
mero de empresas que inves-
tem, se envolvem e se benefici-
am com a Lei do Bem de incen-
tivos fiscais é crescente. Agora
esse impacto que nós queremos
ter e queremos que apareça da
produção industrial em benefí-
cio da sociedade brasileira, esse
certamente virá, mas não num
estalar de dedos”, pondera ele.
Fonte:GlobalInnovationIndex2013
Rankinginternacional
Anunciado plano de C&T para a Amazônia Legal
Documento, coordenado pelo Centro de Gestão e Assuntos Estratégicos (CGEE), será lançado nos dias 20 e 21 de março em Cuiabá (MT)
Camila Cotta
A Amazônia representa mais
da metade das florestas tropi-
cais remanescentes e a maior
biodiversidade do planeta. É um
dos seis grandes biomas brasi-
leiros. Para efeitos de governo e
economia, a Amazônia é delimi-
tada por uma área chamada
“Amazônia Legal”, composta por
nove estados (Acre, Amapá,
Amazonas, Mato Grosso, Mara-
nhão, Pará, Rondônia, Roraima
e Tocantins). Sua singularidade
e riquezas são importantes para
o crescimento do país e o bem-
estar de sua população.
Com foco no desenvolvimen-
to sustentável da região amazô-
nica, os Secretários de Ciência e
Tecnologia e as Fundações de
Amparo à Pesquisa dos estados
do Norte sugeriram a criação de
um Plano de Ciência, Tecnolo-
gia e Inovação para a Amazônia
Legal (PCTI/Amazônia). O docu-
mento, elaborado pelo Centro de
Gestão e Estudos Estratégicos
(CGEE), teve como base a intera-
ção sistêmica entre os atores e
instituições relevantes visando à
adoção de um novo modelo de
desenvolvimento, baseado em
conhecimentos e inovações.
A região sempre foi olhada
pelas óticas dos interesses eco-
nômico e preservacionista. Prin-
cipalmente a Floresta Amazôni-
ca, hoje mais do que nunca, já
que vivemos um momento de
esgotamento de muitas das fon-
tes energéticas, minerais e vege-
tais. Para alterar esse panorama,
o plano do CGEE ressalta a im-
portância de mudanças que re-
forcem e promovam a centralida-
de das ações de ciência, tecnolo-
gia e inovação no conjunto das
estratégias de desenvolvimento,
de forma a propiciar a utilização
intensiva de conhecimentos e
agregar valor à biodiversidade
regional. Com isso, espera am-
pliar as oportunidades de empre-
go e renda e compatibilizar o
dinamismo da economia com a
mitigação dos impactos sociais e
ambientais esperados.
De acordo com Henrique Villa
da Costa Ferreira, líder do proje-
to, “queremos transformar, nos
próximos 20 anos, a ação huma-
na na região, menos predatória e
mais enfocada no conhecimen-
to, de forma a garantir a preserva-
ção do seu bioma”. A orientação
do CGEE foi para que se elabo-
rasse uma proposta consensual
sobre o papel da CT&I para o
desenvolvimento da Amazônia,
tendo como pano de fundo o
aproveitamento sustentável da
rica biodiversidade regional.
Para Antonio Carlos Filgueira
Galvão, diretor do CGEE, o gran-
de desafio que a CT&I tem pela
frente é criar uma agenda posi-
tiva, de forma a utilizar a floresta
de maneira não predatória, agre-
gando valor, tanto de recursos
quanto de qualidade de vida
para a população. “A política
regional não pode seguir da
maneira que está hoje. Estamos
acabando com os recursos na-
turais existentes. A Amazônia é
um grande laboratório de rique-
zas potenciais”, salienta.
A meta do plano é gerar dis-
cussão e conhecimento, aumen-
tando a capacidade de inteli-
gência nas políticas públicas. É
promover a equação das pesso-
as na região, de forma a educá-
las a viverem organizadamente
para sua sobrevivência. “Com o
aumento do suporte da ciência
na região, fortaleceremos a es-
trutura técnico-científica. Preci-
samos mostrar à sociedade
quais são os desafios e como
vencê-los”, diz Galvão.
PCTI/Amazônia - O grande de-
safio a perseguir é aumentar em
pelo menos 50% a participação
da Amazônia no total de dispên-
dios do governo federal em CT&I;
e triplicar o número de doutores
existentes e atuantes na região,
com ênfase nas áreas do conhe-
cimento correlatas à Agenda de
P&D, sempre considerando as
desigualdades intrarregionais
que caracterizam o sistema re-
gional de CT&I.
Por ser um documento que vai
além da proposição de estraté-
gias, caracterizando-se como Pla-
no de Ação, o PCTI/Amazônia
propõe um conjunto de progra-
mas:ApoioàInfraestruturadeCT&I
da Amazônia (ProInfraCTI); For-
talecimento e Expansão da Base
de Recursos Humanos da Ama-
zônia (ProRH); Estruturação e
Ampliação dos Polos Regionais
de Inovação (ProInovar); e Apoio
à Pesquisa e Desenvolvimento
da Amazônia (ProPesquisa).
“A modernidade do plano é a
forma em que ele foi concebido,
em ambiente de discussão. O
resultado é a opinião consensual
dos atores. Coletamos sugestões
e as transformamos em relató-
rios. Nossa missão é comparti-
lhar um entendimento comum
com resultados concretos a partir
do comprometimento das lide-
ranças e atores regionais, tanto
no âmbito federativo, quanto no
âmbito horizontal da relação da
Política de CT&I com as demais
políticas públicas direcionadas à
região”, finaliza Galvão.
Sob a coordenação do CGEE,
o documento contou com a parti-
cipação de mais de 600 atores
regionais – membros da comuni-
dade científica, gestores estadu-
ais e federais, empresários – du-
rante um período de aproxima-
damente 11 meses, com a reali-
zação de diversas etapas, entre
rodadas de consultas e discus-
são com os seus protagonistas.
O plano está disponível neste
link: www.cgee.org.br/busca/
C o n s u l t a P r o d u t o N c o m
Topo.php?f=1&idProduto=8585
Pesquisadores sugerem um novo modelo de desenvolvimento
Foto:AscomCGEE
SBPCeABCenviamcartaaogovernadordoDFemproldaEmbrapaCerrados
Vivian Costa
A SBPC e a Academia Brasi-
leira de Ciência (ABC) enviaram
carta ao governador do Distrito
Federal, Agnelo Queiroz, solici-
tando que ele reconsidere a pre-
tensão de retirar 90 hectares da
área da Embrapa Cerrados para
a implantação de um projeto
habitacional, o Residencial
Planaltina Parque, às margens
da BR-020 e que irá alojar 5 mil
pessoas. Segundo as entidades,
“a importância social desse em-
preendimento não pode anular
a importância de outro, para a
sociedade brasileira e em espe-
cial para o Distrito Federal e para
a região dos Cerrados, que é a
manutenção do campo experi-
mental da Embrapa Cerrados”.
Entre tantos argumentos cita-
dos pelas entidades, encontra-
O anúncio de redução da área da unidade poderá prejudicar pesquisas que vêm sendo realizadas há décadas
se o de que a Embrapa Cerrados
está localizada há mais de 30
anos no mesmo lugar, e que, ao
longo desses anos, a Embrapa
investiu grandes montantes de
recursos, humanos e financei-
ros, no desenvolvimento de ex-
perimentos científicos e tecnoló-
gicos, como o desenvolvimento
de técnicas para correção da
acidez e adubação do solo para
a produção agrícola, desenvolvi-
mento de cultivares de soja e
milho adaptados à região dos
cerrados, técnicas de integração
lavoura-pecuária e, ainda, expe-
rimentos para aumentar a quali-
dade da carne bovina, comerci-
alizada no país e no exterior.
Na carta, as entidades afir-
maram ainda que já há outras
disponíveis para o mesmo fim,
de modo que permita que a
Embrapa Cerrados continue no
mesmo local contribuindo para
a geração e difusão de conheci-
mentos, tão importantes para o
desenvolvimento de nosso país.
Para a SBPC e ABC, “a ruptura
de anos de pesquisa neste cam-
po experimental da Embrapa
Cerrados causará enormes pre-
juízos ao avanço da ciência bra-
sileira e, em consequência, para
a economia nacional”.
Importância da região - Consi-
derado o segundo maior bioma
do país, o Cerrado apresentou
nas últimas quatro décadas um
desenvolvimento agrícola ex-
cepcional, tornando-se referên-
cia no cenário econômico na-
cional e internacional. A partir
de 1975 a Embrapa Cerrados
vem contribuindo eficazmente
para a incorporação de terras
antes consideradas impróprias
para a exploração agrícola em
sistemas modernos de produ-
ção de alimentos.
O Cerrado possui 139 mi-
lhões de hectares de terras ará-
veis, dos quais, 54 milhões es-
tão sob pastagens cultivadas;
21,6 milhões sob culturas agrí-
colas, sendo 85% com cultivos
anuais e 15% com cultivos pe-
renes; e 3,4 milhões com áreas
reflorestadas. Na safra 2009/
2010, a região foi responsável
por 54% da produção nacional
de soja, 95% da produção de
algodão e 23% da produção de
café. Na pecuária, estão 41%
dos 190 milhões de bovinos do
rebanho nacional, responsá-
veis por 55% da produção na-
cional de carne e 41% da pro-
dução de leite.
(Com informações da Embrapa
Cerrados)
Pesquisadores analisam o "Mais Médicos"
Estudo vai analisar os resultados e a eficácia do programa de saúde pública
Camila Cotta
A Universidade de Brasília
(UnB) realiza um estudo para
examinar as condições de oferta
dos serviços de saúde à popula-
ção e analisar a eficácia do Pro-
grama Mais Médicos. A medida
governamental prevê, entre ou-
tras metas, mais investimentos
em infraestrutura dos hospitais e
unidades de saúde, além de le-
var mais profissionais para regi-
ões onde há escassez e ausên-
cia de médicos.
A pesquisa intitulada Análise
da Efetividade da Iniciativa Mais
Médicos na Realização do Di-
reito Universal à Saúde e na
Consolidação das Redes de
Serviços de Saúde busca ma-
pear a distribuição dos médicos
vinculados ao programa pelo
país. O estudo também analisa o
percentual de municípios aten-
didos em relação à demanda
por serviços de saúde e o tempo
de permanência e rotatividade
dos médicos em cada cidade.
Para a coordenadora do es-
tudo, professora Leonor Maria
Pacheco Santos, do Departa-
mento de Saúde Coletiva da
UnB, a pesquisa é de extrema
importância por se tratar de uma
política pública com grande
mobilização de recursos. “Que-
remos ver se o programa real-
mente vai cumprir com seus ob-
jetivos e resolver as questões da
saúde no país, principalmente
nos municípios mais necessita-
dos”, explica.
Entre as questões a serem
resolvidas estão os índices de
internação e mortalidade decor-
rentes de doenças tratáveis na
atenção primária à saúde, como
os casos de diabetes e hiperten-
são. “Se houvesse um bom aten-
dimento na atenção básica, o
número de internações não se-
ria tão grande, desafogando os
hospitais. Vamos verificar se há
uma diminuição desse procedi-
mento”, frisa a coordenadora.
Segundo a professora da
UnB o estudo, apesar de ser
independente, conta com o
apoio dos Ministérios da Saúde
e da Educação, que também já
fazem um monitoramento pró-
prio do programa. “Estaremos
em contato direto com os gesto-
res da Saúde informando a situ-
ação encontrada na pesquisa
de campo. Assim, na medida do
possível, vamos corrigir as
distorções”, conta Leonor.
Abrangência geográfica - Du-
rante três anos, cerca de 20
pesquisadores com estudos na
área de saúde integrarão o pro-
jeto. São especialistas das uni-
versidades federais de Brasília
(UnB), Bahia (UFBA), Rio Gran-
de do Sul (UFRGS), Espírito
Santo (Ufes), Pará (UFPA), Mi-
nas Gerais (UFMG) e da Escola
Superior de Ciências da Saú-
de do Distrito Federal (ESCS).
Os participantes foram escolhi-
dos de acordo com a expertise
dos professores e a localiza-
ção geográfica.
A pesquisadora explica que,
além do estudo quantitativo, no
qual serão utilizados dados do
sistema de informação do Minis-
tério da Saúde, serão realizadas
visitas em cidades que recebe-
ram o Programa. “Queremos
avaliar se o número de médicos
cobre o deficit dos municípios e
se a interação médico/popula-
ção é efetiva”, observa.
O trabalho será in loco em 32
municípios brasileiros. Os espe-
cialistas serão responsáveis por
conduzir entrevistas com gesto-
res e profissionais da área da
saúde. “Queremos saber como
esses médicos estão se inte-
grando nas unidades e se modi-
ficaram a situação da saúde na
região”, diz a professora da UnB.
A coordenadora acrescenta que
serão verificadas ainda as con-
dições de trabalho dos profissio-
nais e se as unidades de saúde
estão equipadas.
Para a efetividade do traba-
lho, durante os três anos ocorre-
rão três visitas nos municípios
selecionados. Até o momento, já
foram selecionados 12 municí-
pios na região Norte e 14 no
Nordeste, regiões que recebe-
ram o maior número de médicos
pelo programa. “Serão realiza-
das visitas anualmente durante
o tempo da pesquisa. Na oca-
sião, os médicos e a população
serão entrevistados e relatarão
as dificuldades encontradas”,
informa Leonor Pacheco. Para
um controle efetivo, serão emiti-
dos relatórios semestrais ao Mi-
nistério da Saúde e à imprensa.
O estudo conta com recursos
de R$ 930 mil do Conselho Na-
cional de Desenvolvimento Ci-
entífico e Tecnológico (CNPq),
provenientes da chamada pú-
blica nº 41/2013, destinada a
apoiar projetos de pesquisa cien-
tífica e tecnológica voltados à
área de políticas de saúde, que
contribuam com a produção de
conhecimento para a efetivação
do direito universal à saúde.
Raios X da saúde no Brasil - O
Instituto Nacional de Pesquisa
Aplicada (Ipea) revelou, em
2011, que 58,1% da população
apontam a falta de médicos
como o principal problema do
Sistema Único de Saúde (SUS).
Dados do Instituto mostram que
o Brasil possui apenas 1,8 mé-
dico por mil habitantes. Esse
índice é menor do que em ou-
tros países, como a Argentina
(3,2), Portugal e Espanha, am-
bos com 4 por mil. Além disso, o
país sofre com uma distribuição
desigual de médicos nas regi-
ões: 22 estados estão abaixo
da média nacional.
ProgramaMaisMédicos-OPro-
grama faz parte de um pacto de
melhoria do atendimento aos
usuários do SUS, que prevê mais
investimentos em infraestrutura
dos hospitais e unidades de saú-
de, além de levar mais médicos
para regiões onde há escassez
e ausência de profissionais. Com
a convocação de médicos para
atuar na atenção básica de mu-
nicípios com maior vulnerabili-
dade social e Distritos Sanitá-
rios Especiais Indígenas (DSEI),
o governo federal garantirá mais
médicos para o Brasil. A iniciati-
va prevê também a expansão do
número de vagas de medicina e
de residência médica, além do
aprimoramento da formação
médica no Brasil.
Em 2014, a verba do progra-
ma será de R$ 1,9 bilhão. No
exercício passado, quando foi
implementado o programa, o
Ministério da Saúde era o único
executor dos recursos repassa-
dos para o Mais Médicos. Em
2014, os Ministérios da Educa-
ção e Defesa também foram con-
templados com verba para inici-
ativas do programa. Dos quase
R$ 2 bilhões orçados, R$ 1,5
bilhão está sob a responsabili-
dade da Saúde, R$ 359,5 mi-
lhões da Educação e R$ 28,6
milhões da Defesa.
Leonor Santos avalia se programa governamental cumprirá metas
UnB
Nordeste ganha
primeiro Instituto de
Medicina Tropical
Objetivo da instituição é estu-
dar e pesquisar doenças negli-
genciadas presentes na região
O primeiro Instituto de Medi-
cina Tropical (IMT) do Nordeste
foi inaugurado no mês passado
(21/02) pela Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Norte
(UFRN). O objetivo é estudar e
pesquisar doenças endêmicas
infecciosas e infectocontagio-
sas, características de clima tro-
pical, cuja incidência no século
XXI representa um atraso em
saúde no país, afirmou a diretora
do IMT, a professora Selma
Jerônimo.
Selma acredita que o IMT
contribuirá para melhorar a ca-
pacidade diagnóstica e desen-
volver vacinas em âmbito re-
gional. Ela acrescentou que so-
luções para leishmaniose, do-
ença de Chagas e hanseníase,
entre outras presentes nas po-
pulações menos favorecidas
do Nordeste brasileiro, pode-
rão advir de investigação de
causa e produção de medica-
mentos através de parcerias
entre a UFRN, instituições de
pesquisa norte-americanas, a
Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) e governo do
Rio Grande do Norte.
Os investimentos de R$ 2,2
milhões aplicados no desen-
volvimento do Instituto foram
financiados por órgãos como a
Financiadora de Estudos e Pro-
jetos (Finep/CT-Intra), Progra-
ma de Apoio a Planos de Rees-
truturação e Expansão das Uni-
versidades Federais (Reuni), o
Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia - Doenças Tropi-
cais (INCT-DT), do National
Institute of Health (EUA), e Con-
selho Nacional de Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico
(CNPq).
Hoje, na UFRN, as pesquisas
sobre doenças negligenciadas
são realizadas por um grupo de
pesquisadores da própria uni-
versidade, em uma estrutura “de-
ficitária”. Agora, esses pesqui-
sadores irão trabalhar direta-
mente no IMT.
Impacto da pós-graduação na
ciência - Participaram da inau-
guração do IMT, dentre outras
personalidades, o vice-presi-
dente da Capes, Lívio Amaral, e
a presidente da Sociedade Bra-
sileira para o Progresso da Ciên-
cia (SBPC), Helena Nader. Am-
bos integraram a mesa-redon-
da intitulada “O impacto da pós-
graduação no desenvolvimen-
to científico brasileiro” – realiza-
da em meio à inauguração do
IMT – sob a coordenação da
reitora da UFRN, Ângela Maria
Paiva Cruz.
JORNAL da CIÊNCIA 14 de Março de 2014Página 8
Museus e centros de Ciência e Tecnologia pedem socorro
Espaços fechados e falta de investimento colocam em cheque a atual política de democratização da ciência
Edna Ferreira e Viviane Monteiro
Os museus de ciência brasilei-
ros vivem hoje um momento com
muitas contradições e incertezas.
Apesar de a política de democra-
tização da ciência ter esses es-
paços como foco principal, con-
solidar essas instituições está
sendo um grande desafio. Tanto
que alguns centros importantes
estão fechando: a Estação Ciên-
cia/USP, que foi inaugurada em
1987 e atendia mais de 400 mil
pessoas, e o Museu de Ciência e
Tecnologia da Bahia, aberto em
1979, e um dos mais antigos do
país. Afinal, que política de demo-
cratização é essa que não conse-
gue manter os centros e museus
de ciência funcionando?
ParaCarlosWagnerCostaAra-
újo, presidente da Associação
Brasileira de Centros e Museus
de Ciência (ABCMC) e professor
da Universidade Federal do Vale
do São Francisco - Univasf, essa
situação é terrível. "Quando os
espaços estão funcionando bem,
com atendimento e sucesso de
público, vem a 'magia' da gestão
e da política para mudar tudo, com
reformas e transferência de pes-
soal qualificado e fechamento.
Nesse sentido, os cadeados e
mordaças surgem com muita fa-
cilidade dos gestores", analisa
Araújo. Ainda segundo ele, o
número de espaços científicos e
culturais vem crescendo, no en-
tanto cresce de forma desigual e
desproporcional.
O Ministério da Ciência, Tec-
nologia e Inovação - MCTI criou o
Departamento de Popularização
da Ciência, em 2004. Durante
uma década, projetos e ações de
todas as partes do Brasil foram
fomentados por editais do CNPq.
Mas, de acordo com Araújo, o país
é muito grande e necessita de
muito investimento na área. "Os
centros e museus de ciência são
parte de um processo educacio-
nal brasileiro que já esteve muito
ruim e excludente. O país possui
5.564 municípios, onde o interior
está esquecido. Tenho a certeza
de que pelo país a fora há mais
projetos de shoppings, do que de
centros e museus de ciência. Pre-
cisamos inverter essa lógica", afir-
ma o presidente da ABCMC.
De acordo com Araújo, hoje o
Brasil tem competência para
pensar, elaborar e construir seus
próprios espaços científicos e
culturais com exposições que
valorizem a ciência e a cultura
nacional. "Os museus de ciência
devem estar antenados e saber
fazer e apresentar a natureza,
para que o público interprete de
forma crítica", opina. Ele tam-
bém espera mais investimentos
para os museus universitários,
que em sua opinião são ambien-
tes nos institutos de pesquisa e
Antes do abandono, Museu de C&T da Bahia era visitado por crianças
Internet
nas universidades que guardam
e conservam a memória da ciên-
cia e tecnologia brasileira e que
precisam ser mapeados. "A
ABCMC já alertou o governo
sobre essa problemática. Esta-
mos aguardando soluções mais
concretas", afirma Araújo.
Bons exemplos - Em 2014, o
Espaço Ciência, um dos maiores
museus de ciência no país, está
completando 20 anos. Os res-
ponsáveis pelo espaço comemo-
ram o fato dele ter recebido cerca
de 2 milhões de visitantes neste
período – em 2013 foram 160 mil
visitantes. Para Antonio Carlos
Pavão, Diretor do Espaço Ciên-
cia (há quase 20 anos) e profes-
sor de Química na Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE),
o sucesso desse espaço é uma
clara demonstração de que a
"política de democratização da
ciência pelos museus está fun-
cionando", pelo menos em Per-
nambuco. "Isto não significa di-
zer que não precisa ser incre-
mentada, pelo contrário: o Espa-
ço Ciência é um exemplo de que
precisamos ampliar o número
destes espaços de divulgação
científica", afirma Pavão.
Da atual política do MCTI, o
diretor do Espaço Ciência des-
taca os editais, mas que ele
ainda considera "muito poucos
e de pouca monta". "É necessá-
rio desenvolver uma política
mais permanente e mais ex-
pressiva de apoio tanto aos
museus existentes como para a
implantação de novos pelo país.
Acho que deveria ter um museu
em cada esquina. O ideal seria
transformar as igrejas e tem-
plos religiosos em museus de
ciência", sugere Pavão. Ainda
segundo ele, os museus e cen-
tros de C&T brasileiros são bons,
mas são poucos. "Já tivemos
melhores safras", resume.
Mas, mesmo diante desse
quadro negativo, o presidente
da ABCMC, Carlos Wagner Ara-
újo também aponta outros bons
exemplos e pessoas que estão
persistindo no sonho de novos
espaços. "Um exemplo de su-
cesso de público são os projetos
Ciência Móvel, que não fica "imó-
vel", a maioria percorre e movi-
menta várias cidades. Espaços
como o do Museu de Ciência de
Brasília, em fase de projeto, o
Museu da Amazônia - MUSA,
que já funciona em Manaus. E,
ainda em 2014, teremos a inau-
guração do Espaço Ciência e
Cultura da Universidade Fede-
ral do Vale do São Francisco -
Univasf, instituição onde sou pro-
fessor", comemora Araújo.
Outro projeto que anima o pre-
sidente da ABCMC é a organiza-
ção de um novo catálogo da ins-
tituição, que será apresentado
durante a 66ª Reunião Anual da
SBPC, a ser realizada na Univer-
sidade Federal do Acre, em Rio
Branco. A publicação está sendo
organizada por membros da
ABCMC, Museu da Vida/Fiocruz
e Casa da Ciência/UFRJ. "Atual-
mente, nosso catálogo possui
mais de 200 espaços dedicados
a popularizar a ciência que são:
centros e museus de ciência, pla-
netários, parques zoobotânicos.
Nesse novo catálogo teremos
uma radiografia com informações
dos espaços", conta Araújo.
Em decadência, Museu de C&T
da Bahia deve ser revitalizado
em 2014 - Diante da pressão da
comunidade científica local, o
Museu de Ciência e Tecnologia
(C&T) da Bahia, em decadência
desde a década de 1990, deve
ser reformado ainda este ano,
embora a Universidade do Esta-
do da Bahia (Uneb), sua antiga
gestora, permaneça transferin-
do setores administrativos para
o espaço baiano de populariza-
ção da ciência.
Nelson Pretto, professor da
Universidade Federal da Bahia
(UFBA) e secretário regional da
Sociedade Brasileira para o Pro-
gresso da Ciência (SBPC) de
Salvador, espera que o museu
seja revitalizado na nova gestão
da Secretaria de Ciência e Tec-
nologia e Inovação (Secti), que já
tornou público o quanto de desa-
fio existe na intenção de reformar
o museu. Inclusive, mantê-lo em
seu endereço original. A verba
canalizada para reforma do mu-
seu este ano é estimada em cer-
ca de R$ 2 milhões, adiantou o
diretor de Tecnologia para o De-
senvolvimento Socioambiental
da Secti-BA, Ernesto Carvalho.
Fundado em 1979, pelo en-
tão governador Roberto Santos,
ex-reitor da UFBA, o Museu de
Ciência e Tecnologia da Bahia
foi o primeiro, dessa categoria, a
ser erguido na América Latina.
Alocado em um dos mais belos
cartões-portais de Salvador, no
Parque de Pituaçú, a maior re-
serva ecológica da cidade, che-
gou a ser um dos museus mais
famosos do Brasil, nos anos de
1980. Entrou, porém em deca-
dência nos governos seguintes,
sob alegação de que o espaço
de popularização da ciência de
Salvador demandava investi-
mentos constantemente.
Com isso, o empreendimen-
to passou aos cuidados da Uni-
versidade do Estado da Bahia
(Uneb) que o manteve "a duras
penas" por algum período, e com
o passar do tempo passou a
implementar setores administra-
tivos no local, conforme relata o
secretário regional da SBPC de
Salvador.
Da Uneb para Secti-BA - Hoje o
museu encontra-se em proces-
so de transição. Em agosto de
2013, o atual governo da Bahia
o transferiu para as mãos da
Secti-BA, pelo Decreto Nº
14.719. Entretanto, o primeiro
sinal dado pela gestão anterior
da Secretaria foi o de tirar o mu-
seu do endereço original, o que
desencadeou uma manifesta-
ção contrária por parte da comu-
nidade científica local e de asso-
ciações de museus.
EmboraaatualgestãodaSecti-
BA assegure que o museu será
reativado e mantido em seu ende-
reço original, Nelson Pretto disse
estar preocupado com a decisão
da Uneb de permanecer transfe-
rindo para o museu novos setores
administrativos, mesmo depois da
publicação do decreto.
"Isso, seguramente, dificulta-
ria mais ainda a reativação do
museu (e em seu endereço origi-
nal)", explica o secretário regional
da SBPC, em Salvador. Procura-
da pelo Jornal da Ciência, a reito-
ria da Uneb não foi encontrada,
até por que as atividades da uni-
versidade estão paralisadas.
JORNAL da CIÊNCIA14 de Março de 2014 Página 9
Estudossobreosimpactosda
degradaçãodoCerradoedoPantanal
Publicação traz pesquisas sobre dois biomas brasileiros
Camila Cotta
O Centro-Oeste é a 2ª maior
região do Brasil em superfície
territorial e abrange dois impor-
tantes biomas: Cerrado e Panta-
nal. Por suas vastas áreas
territoriais e extensões aquáti-
cas, ambas as savanas possuem
um rico patrimônio de recursos
naturais e biodiversidades, com
diversas espécies nativas e inú-
meros micro-organismos, com
potenciais para indústrias farma-
cêuticas, de alimentos e cosmé-
ticos, de biocombustíveis, entre
outros. No entanto, esses biomas
encontram-se em estado de de-
gradação, resultado de políticas
econômicas não sustentáveis.
Para evitar que a ameaça de
conservação torne-se ainda mais
crítica, a Rede Centro-Oeste de
Pós-graduação, Pesquisa e Ino-
vação (Rede Pró Centro-Oeste)
lançou um livro para divulgar as
101 pesquisas desenvolvidas no
Distrito Federal, Mato Grosso,
Goiás e Mato Grosso do Sul. A
publicação – Construindo o futu-
ro das novas gerações – explica
o contexto, os impactos e as pers-
pectivas dos trabalhos, que se-
guem três linhas de estudos: ciên-
cia, tecnologia e inovação para a
sustentabilidade da região; bioe-
conomia e conservação dos re-
cursos naturais; e desenvolvi-
mento de produtos, processos e
serviços biotecnológicos.
De acordo com o superinten-
dente da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Distrito Federal
(FAPDF) entidade que faz parte
da Rede Pró-Centro-Oeste, pro-
fessor Paulo Henrique Alves
Guimarães, as pesquisas abran-
gem áreas que causam impactos
na sociedade, como o trabalho
de melhoramento genético, de-
senvolvimento de novos fárma-
cos, desenvolvimento de produ-
tos para nutrição animal, entre
outros. O professor acrescenta
que os estudos visam gerar re-
sultados benéficos para a forma-
ção de recursos humanos e pro-
dução do conhecimento científi-
co, tecnológico e de inovação.
Dentre as pesquisas publica-
das, estão em destaque os estu-
dos sobre as peçonhas de ani-
maisdaRegiãoCentro-Oeste,que
visam identificar os acidentes com
animais peçonhentos; o desen-
volvimento de novas ferramentas
farmacológicas e novas drogas
(bioprodutos); implantação de
uma plataforma tecnológica para
a produção de biofármacos no
Centro-Oeste; terapêutica para o
tratamento do diabetes tipo 2.
O livro pode ser encontrado
em sua versão on-line no link:
h t t p : / / i s s u u . c o m /
produtoranaturezaemfoco/docs/
l i v r o _ r e d e _ p r o _ c e n t r o -
oeste_issuuu. Para obter a có-
pia impressa é preciso solicitar a
obra na página da Secretaria da
Rede Pró-Centro-Oeste: http://
redeprocentrooeste.org.br.
Rede Pró-Centro-Oeste - A
Rede Centro-Oeste de Pós-gra-
duação, Pesquisa e Inovação foi
criada em 2009 com o objetivo
de fortalecer e consolidar a for-
mação de recursos humanos,
produção de conhecimento ci-
entífico, tecnológico e inovação
que contribuam para o desen-
volvimento sustentável da Re-
gião Centro-Oeste. Ela tem como
foco a conservação e o uso sus-
tentável dos recursos naturais
do Cerrado e Pantanal.
Para o professor, a Rede per-
mite aos pesquisadores de insti-
tuições de ensino e de pesquisa
que troquem informações e com-
partilhem laboratórios e experiên-
cias. “A intenção é que a Rede
ajude na execução de pesquisas,
pois, muitas vezes se tem material
de campo, mas não se tem equi-
pamentos para análise”, ressalta.
Paulo Henrique acrescenta
que a Rede também ajuda na
formação de estudantes, com a
oportunidade de interagir com
pesquisadores de diferentes á-
reas, bem como conhecer dife-
rentes realidades. “A Rede Pró-
Centro-Oeste dá a oportunida-
de para que as instituições de
pesquisa possam ter padrão de
pesquisa e de resultados seme-
lhantes aos das regiões Sudes-
te e Sul, onde há inclusive a
participação maior de empresas
interagindo com os institutos de
pesquisa”, frisa.
Atualmente a Rede conta com
16 grupos de pesquisa, 101 pro-
jetos, 208 colaboradores, entre
eles 70 mestrandos, 36 douto-
randos, 16 pós-doutorandos, 63
estudantes de iniciação científi-
ca e 23 pesquisadores de insti-
tuições de ensino e pesquisa do
Goiás, Distrito Federal, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul;
além de secretarias de ciência,
tecnologia e inovação e funda-
ções de amparo à pesquisa de
todos os estados.
Paulo Henrique Alves Guimarães
Foto:FAPDF
O Centro de Investigações e
Estudo Superior de Antropolo-
gia Social (Ciesas) do México
lançou no dia 11 de março a
Biblioteca de Antropologia e
Ciências Sociais Brasil-México,
no Centro Cultural Brasil – Méxi-
co (CCBM), situado na Embai-
xada do Brasil.
Os primeiros livros do acer-
vo da biblioteca serão de três
brasileiros. Otávio Velho, an-
tropólogo da Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro (UFRJ)
e ex-diretor da Sociedade Bra-
sileira para o Progresso da
Ciência (SBPC). A obra é
intitulada Capitalismo autori-
tário y campesinado. Un estudio
comparativo a partir de la
frontera em movimiento, com
introdução de Pablo Seman.
Outro título, La utopia urba-
na. Un estudio de Antropología
Social, assinado por Gilberto
Velho (1945 a abril de 2012),
irmão de Otávio Velho. A intro-
Centro mexicano de antropologia
lançabibliotecaBrasil-México
Um dos títulos é de Otávio Velho, antropólogo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-diretor da SBPC
dução dessa obra é realizada
por Claudia C. e Zamorano
Villarreal.
Por último, a obra El índio y el
mundo de los blancos. Una
interpretación sociológica de la
situación de los tukuna, realiza-
da por Roberto Cardoso de Oli-
veira, com introdução de Miguel
Alberto Bartolomé.
(Jornal da Ciência)
Um livro será de Otávio Velho
Foto:Internet
SBPC Jovem convida para uma
viagemaomundodoconhecimento
A programação está articulada com o tema central da 66ª RA da
SBPC: Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras
Em 2014, a SPBC Jovem
chega a sua 17ª Edição, reno-
vando o convite para uma via-
gem ao mundo do conhecimen-
to. A Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (SBPC),
a Universidade Federal do Acre
(Ufac) e o governo do estado
do Acre apostam na força jo-
vem para a garantia de um fu-
turo melhor a partir da pesqui-
sa, da troca de experiências,
da criatividade e da inovação.
A programação da SBPC Jo-
vem está articulada com o tema
central da 66ª Reunião Anual
da SBPC: “Ciência e Tecnolo-
gia em uma Amazônia sem Fron-
teiras”, criando um espaço con-
vidativo e possibilitando um
encontro desafiador entre o jo-
vem e a ciência em plena Ama-
zônia. Entidades científicas, ór-
gãos governamentais e associ-
ações estarão juntos nesse
grande evento.
A SBPC Jovem traz uma pro-
gramação diversificada, com
atividades apresentadas de for-
ma lúdica e criativa, que certa-
mente irão despertar o interes-
se do público infanto-juvenil
pela ciência e tecnologia, como
também atrair as famílias e a
sociedade em geral. A SBPC
Jovem inclui a SBPC Mirim, um
espaço destinado exclusiva-
mente às crianças, organizado
pela Secretaria Municipal de
Educação.
Entre as atividades que se-
rão oferecidas estão oficinas
destinadas a estudantes e pro-
fessores do ensino básico, com
duração de duas horas ou qua-
tro horas, unindo teoria e prá-
tica; salas temáticas: espaços
de livre circulação do público
durante todo o evento; Feira
SBPC Jovem, com apresenta-
ção de 30 trabalhos científicos
de estudantes e professores
do ensino básico de todo o
Brasil; Papo com jovens cien-
tistas, espaço para conversa
informal com jovens que são
destaque em diferentes áreas
do conhecimento, com relato
de seu cotidiano, suas expe-
riências e projetos itinerantes
que incluem exposição Agên-
cia Espacial Brasileira (AEB)
na Escola, participação do Cir-
co da Ciência, da Associação
Brasileira dos Centros e Mu-
seus de Ciência (ABCMC),
Museu com atividades e expe-
rimentos interativos.
Para mais informações so-
bre a SPBC Jovem envie email:
sbpcjovem2014@gmail.com.
(Ascom Ufac)
JORNAL da CIÊNCIA 14 de Março de 2014Página 10
Bagagens de passageiros internacionais contêm agentes
infecciosos prejudiciais à saúde e agropecuária
Pesquisa da UnB avalia riscos de entrada de doenças no país por produtos de origem animal e vegetal sem certificação sanitária
Camila Cotta
Juliana Castilho, 36 anos, ad-
ministradora de empresas, aca-
ba de chegar ao Brasil após
passar 15 dias viajando pela
Europa. Na sua mala trouxe vá-
rios presentes, entre eles um
queijo português. Ao parar na
alfândega do Aeroporto Inter-
nacional Juscelino Kubitschek,
em Brasília, ficou surpresa ao
saber que não poderia ingres-
sar no País com o laticínio que
trazia na bagagem. “Sabia que
eu não podia levar alimentos do
Brasil para outros países, mas o
contrário eu não imaginava, ain-
da mais que comprei no free
shop”, afirma.
De acordo com o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento (Mapa), o desconhe-
cimento sobre o que pode ou
não ser trazido na mala ou na
bagagem de mão é a principal
justificativa dos turistas que che-
gam por aqui e têm suas com-
pras apreendidas. O órgão in-
forma que panfletos estão em
vários locais dos aeroportos ex-
plicando as normativas, além
de um espaço no site para tirar
as dúvidas.
Para trazer um determinado
queijo para o Brasil é preciso
antes pedir uma certificação ao
Ministério da Agricultura decla-
rando o tipo de queijo, marca e
quantidade. Depois, ao voltar ao
Brasil, deve apresentar a certifi-
cação na inspeção das malas.
Todos os alimentos importados
vendidos no país passam por
este processo de controle. A au-
torização deve ser solicitada
pelo menos um mês antes da
viagem, em postos da Vigilância
Agropecuária Internacional
(Vigiagro) em todos os estados.
Além dos derivados de leite,
na lista de produtos que não
podem ser trazidos na bagagem
sem uma licença especial estão
alimentos de origem animal,
plantas, frutas, vegetais, semen-
tes, carnes e até a comida servi-
da no avião.
Mas, por que os turistas não
podem trazer os produtos cita-
dos acima? A explicação faz
parte da pesquisa coordenada
pelo professor Cristiano Barros
de Melo, da Faculdade de Agro-
nomia e Medicina Veterinária
(FAV) da Universidade de Bra-
sília (UnB). O trabalho, realiza-
do durante cinco anos, é
intitulado Avaliação do Risco da
Entrada de Doenças Infeccio-
sas através do Transporte de
Produtos de Origem Animal em
Bagagens de Passageiros Pro-
cedentes do Exterior.
Especialista em doenças
transmitidas por vírus, bactérias,
fungos e parasitas, o professor
observa que a entrada de produ-
tos de origem animal e vegetal
em território brasileiro, sem certi-
ficação sanitária internacional,
pode ocasionar a disseminação
de doenças, afetando a saúde
pública e animal, com impacto
social e econômico para o Brasil.
“Nosso país é um dos mais impor-
tantes na área da agropecuária e
precisaseproteger.Somosoprin-
cipal exportador de carne de fran-
go do mundo. Uma doença em
nossos animais impediria essa
comercialização e traria prejuí-
zos enormes”, alerta Cristiano.
O professor acrescenta que
um vírus, por exemplo, de uma
gripe, pode matar muitos brasi-
leiros. “Nós não temos a mesma
imunidade de outras popula-
ções. Um simples resfriado na
Espanha pode chegar aqui e
matar milhares de pessoas, pois
não temos a resistência dos
moradores de lá”, frisa.
Pesquisa - Para a realização do
estudo foram interceptados ao
longo de cinco anos 132 voos
internacionais em quatro dos
maiores aeroportos internacio-
nais do país: Guarulhos (SP),
Galeão (RJ), Confins (MG) e de
Brasília (DF), entre 2009 e 2013.
Guarulhos e Galeão são os dois
aeroportos internacionais, dos
27 existentes, que representam
85% da entrada de turistas que
vêm do exterior. Brasília é o cen-
tro do poder e, Minas Gerais,
possui o maior polo de laticínio
do país.
O resultado foi a identificação
de 23 agentes infecciosos. “Nós
descobrimos que é um proble-
ma sério que o Brasil precisa
enfrentar. Foram 60 toneladas
de produtos apreendidos e leva-
dos para um laboratório de
biossegurança para serem ana-
lisados”, diz.
Os resultados do estudo vão
ajudar o Brasil a enfrentar os
grandes eventos esportivos –
Copa do Mundo e Olimpíadas.
“Temos que estar preparados
para a chegada de turistas do
mundo inteiro e, consequente-
mente, para as irregularidades
nas bagagens. Assim estaremos
protegendo a população de
agentes infecciosos e uma pos-
sível catástrofe e ação terroris-
ta”, alerta.
O estudo, realizado com recur-
sos do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico (CNPq), conta com a
parceria do Mapa. A coleta do
material apreendido foi feita com
apoio do Sistema de Vigilância
Agropecuária Internacional
(Vigiagro), Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária
(Infraero) e Receita Federal. Os
produtos coletados foram anali-
sados microbiologicamente no
Laboratório Nacional Agropecuá-
rio de Minas Gerais (Lanagro),
vinculado ao Ministério.
Projeto de Lei - Um PL está tra-
mitando no Ministério da Agri-
cultura e deve transitar para a
Casa Civil. O documento prevê a
deportação, multa e prisão de
passageiros que desobedece-
rem a lei. “Precisamos correr
com isso. Com os grandes even-
tos, o trânsito aeroportuário do
Brasil vai mudar. Cerca de 80
mil voos serão alterados. Qua-
se 2 mil voos a mais entre junho
e julho no período da Copa”,
relata o especialista.
Copa do Mundo de 1978 - Para
mostrar a extensão do proble-
ma, o especialista cita como
exemplo o episódio ocorrido no
país há 35 anos. Um vírus foi
disseminado no Rio de Janeiro
a partir do Aeroporto Internacio-
nal do Galeão, recém-inaugura-
do. “Em 1978, ano de Copa do
Mundo na Argentina, entrou no
Brasil a peste suína africana atra-
vés de resto de comida de bordo
de aviões procedentes de Por-
tugal e Espanha”, conta. Os ali-
mentos, que deveriam ser des-
truídos no aeroporto, foram le-
vados por um funcionário para
alimentar sua criação de por-
cos. Quando os animais adoe-
ceram, o funcionário do aero-
porto vendeu-os em uma favela
do Rio de Janeiro.
Foram necessários seis anos
para erradicar a doença. “O Mi-
nistério da Agricultura, de 1978
a 1984, teve que comprar todos
os porcos da favela do Rio de
Janeiro. O Brasil gastou mais de
R$ 60 milhões para erradicar a
peste suína africana”, lembra o
professor da UnB.
Cristiano alerta contra doençasFoto:AscomUnB
Agenda científicaAgenda científica
JORNAL da CIÊNCIA14 de Março de 2014 Página 11
BrevesBreves Livros & RevistasLivros & Revistas
Tome Ciência
Exibido em diversas emissoras com variadas alternativas de horários, o
programa promove debates sobre temas da atualidade com cientistas de
diferentes especialidades. Horários e emissoras podem ser conferidos na
página www.tomeciencia.com.br. A seguir, alguns dos próximos temas:
China, parceira do futuro - De 15 a 21 de março - Especialistas
debatem sobre a China como hoje um dos principais parceiros tecno-
lógicos do Brasil. Devem participar do encontro José Raimundo Braga
Coelho, físico com mestrado em matemática, presidente da Agência
Espacial Brasileira (AEB); o historiador Severino Bezerra Cabral Filho,
diretor presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de China e Ásia-
Pacífico; e o físico Fernando Lázaro Freire Junior, diretor do Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
Diabetes: causas e consequências - De 22 a 28 de março -
Especialistas comentam a tendência de alta do diabetes no Brasil,
doença que, segundo pesquisas, atinge 5,6% dos brasileiros. Afinal, o
que a ciência já sabe sobre diabetes? Esse e outros assuntos serão
discutidos pela médica Lenita Zajdenverg, professora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Diabetes; e a médica Flávia Lucia Conceição, da diretoria
da regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia,
dentre outros.
Encontroscientíficos
Fórum Nacional do Consecti - De 20 a 21 de março - O Fórum do
Conselho Nacional de Secretários Estaduais para assuntos de Ciência
e Tecnologia (Consecti) será realizado em Cuiabá (MT), no Palácio do
Governo. Estarão presentes cientistas, especialistas, dirigentes de
instituições, além do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI).
24º Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB) - Pela
primeira vez, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) sediará o
evento científico, um dos maiores da área na América Latina. Aconte-
ceráde13a17deoutubro,comotemacentral"AEngenhariaBiomédica
como propulsora de desenvolvimento e inovação tecnológica em
saúde". As inscrições deverão ser feitas a partir do dia 3 de março no
site http://cbeb.org.br
2d International Congress Of Science Education, 15 Years Of The
Journal Of Science Education - O congresso será realizado em Foz
do Iguaçu, Paraná, de 27 a 30 de agosto de 2014.Organizado pela
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Fun-
dação Parque Tecnológico Itaipu e Journal of Science Education.O
escopo do Congresso abrange ensino de ciências (biologia, física,
química) e matemática em nível de educação básica e superior.
Contato: congresso.icse2014@unila.edu.br
Qualificação
Bolsa para pós doutorado em Biologia Molecular - Instituto de
Biociências da Universidade de São Paulo tem quatro oportunidades
de bolsa de pós-doutorado. Inscrições é 30 de abril pelo site
www.fapesp.br/oportunidades/561.
Duke Human Vaccine Institute - Duas vagas para pós-docs para os
laboratórios de imunorregulação em células B e análise de repertório
em células B. Os interessados precisam ter graduação em Medicina
ou doutorado em Imunologia ou Microbiologia. Veja os requisitos
completos em goo.gl/XzOAjo [em inglês]. Propostas até 30 de abril.
Concursos
Programa de Oncobiologia da UFRJ - O Programa Interinstitucio-
nal de Ensino, Pesquisa e Extensão em Biologia do Câncer do
Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ, está com
três editais abertos voltados a pesquisadores. Informações:
www.oncobiologia.bioqmed.ufrj.br/oportunidades_editais.asp
Livre-docência na Unicamp - Inscrições abertas para concursos de
obtenção do título de livre-docente nas áreas de: projeto mecânico,
processamento de imagens e obstetrícia. Informações: www.sg.
unicamp.br/dca/concursos/abertos/obtencao-do-titulo-de-livre-docente
Concurso para professor efetivo - A Universidade Federal do Ceará
busca professor do magistério superior para o novo Campus de
Russas. São oferecidas oito vagas, nas áreas de Computação e
Engenharia de Produção Mecânica. Inscrições: www.progep.ufc.br.
Mutação – Pesquisa do Instituto
Oswaldo Cruz informa que uma
mutação do vírus da hepatite C
(HCV) pode estar ligada ao sur-
gimento de câncer de fígado em
pacientes brasileiros. O estudo,
publicado em fevereiro no
Journal of Medical Virology,
aponta para a descoberta de um
marcador precoce desse tipo de
câncer em pessoas com hepati-
te viral crônica. O biólogo Oscar
Rafael Carmo Araújo, que de-
fendeu dissertação de mestrado
sobre o tema, analisou amostras
de sangue de 106 pacientes
infectados pelo HCV.
Camada de ozônio – Pesquisa-
dores britânicos identificaram
quatro novos gases que estão
contribuindo para o buraco da
camada de ozônio. Os três
clorofluorcarbonetos (CFCs) e o
hidrofluorocarboneto (HCF) es-
tão atuando na atmosfera há
cerca de 50 anos, mas a fonte de
suas emissões ainda é desco-
nhecida. Mais de 74 mil tonela-
das dos quatro gases recém-
descobertos já foram emitidos
na atmosfera, segundo um arti-
go assinado por cientistas da
Universidade de East Anglia
(UEA) e publicado na revista
Nature Geoscience.
Prevenção do Alzheimer - Um
novo exame de sangue capaz
de prever com precisão o apare-
cimento da doença de Alzheimer
foi desenvolvido por pesquisa-
dores da Universidade de
Georgetown, em Washington
D.C, informou a BBC News. Eles
mostraram que testes do nível
de 10 gorduras no sangue per-
mitiria detectar – com 90% de
precisão – o risco de uma pes-
soa desenvolver a doença nos
próximos três anos. Os resulta-
dos, publicados na revista Nature
Medicine, agora passarão por
testes clínicos maiores.
Novidade na Física - Apresen-
tador de um programa de Ciên-
cias na Inglaterra, Steve Mould,
que possui mestrado em Física
pela Universidade de Oxford,
parece ser o descobridor da fon-
te de corrente, que ele demons-
trou em um vídeo espantoso
publicado online. No clipe, ele
puxa a ponta de uma comprida
corrente de esferas de dentro de
uma jarra de vidro. Quando solta
a ponta, a corrente continua se
derramando para fora do vidro
por conta própria, como água ou
gasolina sendo extraída de um
tanque. O fenômeno foi interpre-
tado como uma novidade pelos
físicos John Biggins e Mark
Warner de Cambridge.
A Difícil Gestão da Pesquisa:
institutos públicos de pesquisa
ou meros aglomerados de gru-
pos de pesquisa? O caso do
Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa) - Com base
em sua dissertação de mestrado
defendida em 1994, o pesquisa-
dor do Inpa/MCTI, Peter Weigel
lançou, a publicação, que abor-
da questões baseadas em suas
experiências como gestor no
Instituto. Com atuação no institu-
to desde 1978, o pesquisador
viu a necessidade de fazer uma
análise e sugerir alternativas
para que a gestão pudesse ten-
tar induzir uma maior conver-
gência entre o interesse dos
pesquisadores e as demandas
da economia e da sociedade da
região. Editora da Universidade
Federal do Amazonas (Edua).
Cientistas Fluminenses – Cole-
tânea de dez livros financiada
pela Fundação Carlos Chagas
de Amparo à Pesquisa do Esta-
do do Rio (Faperj). A organiza-
ção da obra é de Ana Lucia Aze-
vedo, Máximo Masson, Renato
Casimiro. O levantamento con-
sultou especialistas de diversas
áreas até chegar aos nomes
homenageados. Os dez eleitos
são pessoas que deram contri-
buições à ciência e à humanida-
de, são eles: Anísio Teixeira,
Carlos Chagas Filho, Carlos
Chagas, Cesar Lattes, Johanna
Döbereiner, José Leite Lopes,
Nise da Silveira, Oswaldo Cruz,
Edgar Roquette-Pinto, Vital
Brazil. Editora: EdUERJ.
Dicionário da Política Republica-
na do Rio de Janeiro – A obra faz
parte do trabalho que vem sendo
desenvolvido no Centro de Pes-
quisa e Documentação de Histó-
ria Contemporânea do Brasil da
Fundação Getúlio Vargas. A pu-
blicação teve como coordenado-
ras Alzira Alves de Abreu e
Christiane Jalles de Paula. O
objetivo do dicionário é colocar
ao alcance da sociedade um
painel informativo sobre a histó-
ria política, econômica e cultural
do estado e da cidade do Rio de
Janeiro. Editora: Editora da FGV.
Insetos do Brasil – O livro conta
com 71 autores que, em 43 capí-
tulos (810 páginas e 1.769 figu-
ras), falam sobre as 30 ordens
de insetos encontradas no Bra-
sil. A obra contou com financia-
mento do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e da Fun-
dação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Amazonas. (Fapeam).
A primeira edição do livro é um
volume único e recebeu o prê-
mio Alexandre Rodrigues Fer-
reira, que é concedido pela So-
ciedade Brasileira de Zoologia.
Editora Holos.
JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃODASBPC • 14DEMARÇODE2014 • ANOXXVIIINº754
Viviane Monteiro
Uma perda irreparável para a
Ciência. Essa é a avaliação de
cientistas sobre a morte de Darcy
Fontoura Almeida (83 anos), ge-
neticista, biofísico, e um dos fun-
dadores da revista Ciência Hoje
e do Jornal da Ciência.
Filho de imigrantes portugue-
ses, era professor aposentado
do Instituto de Biofísica da Uni-
versidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), onde se gra-
duou no curso de medicina e
posteriormente passou a atuar
como pesquisador visitante.
Embora nunca tenha sido pre-
sidente da SBPC, seu mérito na
ciência rendeu-lhe o título de pre-
sidente de honra da instituição.
Além de um cientista renomado,
Darcy era um defensor de políti-
cas para o desenvolvimento da
pesquisa e da divulgação científi-
ca no Brasil, relatou o jornalista
JoséMonserratFilho,queem1995
participou do desenvolvimento do
JornaldaCiência,juntamentecom
Darcy e outros cientistas como o
físico Ennio Candotti, vice-presi-
dente da SBPC, e Alberto Passos
Guimarães, pesquisador do Cen-
tro Brasileiro de Pesquisas Físi-
cas (CBPF).
“O que Darcy entendia de
Ciência, entendia de política”,
resumiu Monserrat. “Darcy é um
modelo a ser seguido: determi-
nado, otimista, afável, amigo e
dedicadíssimo ao trabalho.”
Emocionado, o físico Ennio
Candotti preferiu não se esten-
der sobre a perda de Darcy. Li-
mitou-se a chamá-lo de “grande
amigo e fundamental para a cri-
ação da revista Ciência Hoje.”
A mesma reação teve o físico
do CBPF, Alberto Guimarães que
trabalhou com Darcy no desen-
volvimento da Ciência Hoje. “Foi
uma convivência rica. Era uma
pessoa agradável, de humor fino,
com capacidade de trabalhar em
equipe e que deu uma grande
contribuição para a SBPC e a
Ciência Hoje.”
Em outra frente, o antropólo-
go Otávio Velho, que trabalhou
com Darcy principalmente por
intermédio das atividades da
SBPC e da revista Ciência Hoje,
destacou o status de Darcy como
presidente de honra da SBPC,
apesar de nunca exercer de fato
a presidência da instituição, o
que reflete a atuação significati-
va de Darcy na Ciência do Brasil.
“Ele foi discípulo, amigo e cola-
borador do professor Carlos Cha-
gas Filho (filho de Carlos Justinia-
no Ribeiro Chagas, que desco-
briu o protozoário Trypanosoma
cruzi) na biofísica”, disse o antro-
pólogo. Dentre outras atribui-
ções, Darcy foi também pioneiro
na área de bioinformática no
Brasil e ajudou a desenvolver
algumas áreas do Laboratório
Nacional de Computação Cien-
tífica (LNCC), no Rio de Janeiro.
Marcas no jornalismo - No caso
do Jornal da Ciência, a presen-
ça de Darcy era marcada pela
edição. “Era ele que pegava ´os
gatos´ (jargão jornalístico da
época para corrigir os erros tipo-
gráficos)”, lembra Monserrat.
A editora da revista Ciência
Hoje, Alicia Ivanissevich, recor-
da que quase todos os dias, no
fim da tarde, Darcy saía do Insti-
tuto de Biofísica da Universidade
Federal do Rio de Janeiro e apa-
recia na redação da revista “para
corrigirasprovas”doInforme(Jor-
nal da Ciência) ou da revista an-
tes de entrarem em gráfica. Se-
gundo Alicia, Darcy conseguia
como ninguém descobrir os er-
ros tipográficos que, como dizia
Monteiro Lobato, se escondem e
se fazem positivamente invisí-
veis, mas, uma vez impressos,
“se tornam visibilíssimos, verda-
deiros sacis a nos botar a língua
em todas as páginas”.
Alicia acrescenta que Darcy e
Ennio revezavam-se para escre-
ver os editoriais do Informe, sem-
pre combativos em defesa do
desenvolvimento da pesquisa no
Brasil. Eram tempos de formação
das primeiras fundações estadu-
ais de amparo à pesquisa.
Famosos caderninhos - Mon-
serrat fez questão de lembrar
“dos famosos caderninhos de
Darcy”, uma espécie de diário,
usados para anotações com lá-
pis, especificamente, de todos
os acontecimentos científicos,
como propostas, ideias, pautas
etc. Ou seja, uma relíquia. “É
bom resgatar isso.”
Darcy Fontoura morreu na
madrugada do dia 6 de março.
Ele deixa esposa, a jornalista
Suely Spiguel, seu segundo
casamento.
MorreogeneticistaDarcyFontoura
Determinação, otimismo e dedicação ao trabalho marcam atu-
ação de Darcy na ciência e na divulgação científica brasileira.
WalterColliéoganhadordoPrêmio
Almirante Álvaro Alberto 2014
Cientista foi agraciado devido aos seus trabalhos na Bioquímica
Vivian Costa
O vencedor da edição 2014
do Prêmio Álvaro Alberto é o ci-
entista Walter Colli, professor ti-
tular aposentado da Universida-
de de São Paulo (USP), onde
ainda atua como Professor Cola-
borador Sênior, e um dos direto-
res da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (SBPC).
O anúncio foi feito no dia 7 de
março pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), após Colli
ter sido comunicado sobre a
escolha pelo ministro da Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação, Mar-
co Antonio Raupp. “Quando re-
cebi a ligação do ministro fiquei
feliz e, ao mesmo tempo, muito
surpreso. Não poderia esperar,
já que existem tantos cientistas
competentes que merecem a
indicação”, disse Colli.
Graduado em medicina pela
USP (1962), doutor em bioquími-
ca pela Faculdade de Medicina e
livre-docente pelo Instituto de
Química da USP (1971), Colli
lembra que começou sua carrei-
ra em 1957, quando seu então
professor Isaias Raw o convidou
para trabalhar no laboratório de
Bioquímica da Faculdade de
Medicina. “Não parei mais e en-
tendo este prêmio como um reco-
nhecimento da comunidade por
uma vida inteira dedicada à ciên-
cia e ao ensino”, comemora.
Colli tem experiência na área
de Bioquímica e Biologia Molecu-
lar, atuando principalmente na
área de interação entre o proto-
zoário Trypanosoma cruzi e a
célula hospedeira, com particular
enfoque em glicoconjugados, e
ligantes e receptores glicoprotei-
cos. “Quando voltei dos Estados
Unidos em 1970 eu tentei três
opções: seguir a pesquisa que
havia começado no exterior, que
era o estudo da genética de uma
bactéria, estudar o DNA de uma
ameba de vida livre e trabalhar
com o Trypanosoma cruzi, que é
um protozoário flagelado, agente
da doença de Chagas. Depois de
cinco anos concluí que esta última
linha seria mais produtiva. Na
época, a Parasitologia era muito
descritiva e nós inovamos ao em-
preender estudos moleculares,
de Biologia Celular e Molecular,
com esse parasita”, disse.
Formando pesquisadores - Ao
descobrir uma nova classe de
moléculas e, posteriormente,
descrever uma grande família
proteica em torno da qual são
feitos ainda muitos estudos por
muitos grupos de pesquisa, Colli
acredita que deu alguma contri-
buição à pesquisa científica no
Brasil. Ele destaca também a
sua contribuição na formação
de alunos e pesquisadores e a
criação de laboratórios. “Por
causa dos estudos originados
em meu laboratório, outros pes-
quisadores conseguiram avan-
çar em muitos outros aspectos. E
isso é gratificante”, explica.
O vencedor da edição de 2014
foi diretor do Instituto de Química
da USP em dois períodos (1986-
1990 e 1994-1998) e do Instituto
Butantan (1999). Foi membro do
Conselho Deliberativo do CNPq
(1989-1991), do Conselho Su-
perior da FAPESP (1988-1994) e
Presidente da Academia de Ciên-
cias do Estado de São Paulo
(1999-2006). Foi ainda diretor do
Instituto de Relações Internacio-
nais da USP e presidente da Co-
missão Técnica Nacional de Bi-
ossegurança (CTNBio) por 4
anos. Atualmente, é coordena-
dor adjunto da Diretoria Científi-
ca da Fapesp. É membro da Aca-
demia Brasileira de Ciências e
da Academia de Ciências do
Mundo em Desenvolvimento.
Manteve, desde 1975 e por 25
anos, estreita colaboração com
grupos argentinos, tendo recebi-
do vários pós-doutores desse
país em seu laboratório, motivo
pelo qual recebeu o título de dou-
tor honoris causa da Universida-
de de Buenos Aires.
Ao laureado será entregue
premiação concedida pela Fun-
dação Conrado Wessel, no va-
lor de R$ 200 mil, uma viagem
em navio de assistência hospi-
talar na Amazônia concedida
pela Marinha do Brasil, além de
diploma e medalha concedidos
pelo Conselho Nacional de De-
senvolvimento Científico e Tec-
nológico (CNPq/MCTI). A ceri-
mônia de premiação ocorrerá
durante a Semana Nacional de
Ciência e Tecnologia, organiza-
da pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI),
em Brasília, no mês de outubro.
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SBPC Jovem destaca importância da pesquisa científica

  • 1. JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃO DA SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA • RIO DE JANEIRO, 14 DE MARÇO DE 2014 • ANO XXVII N0 754 • ISSN 1414-655X Prêmio Almirante Álvaro Alberto (p.12) SBPC e ABC em prol da Embrapa Cerrado (p.6) A substituição de Marco An- tonio Raupp do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em pleno fim de mandato do governo representa "o des- conhecimento" da importância da Ciência para o desenvolvi- mento do país. A opinião é da presidente da Sociedade Brasi- leira para o Progresso da Ciên- cia (SBPC), Helena Nader. Segundo ela, a comunidade científica está decepcionada e surpreendida com a saída de Raupp neste momento, consi- derando que este é um ano atípico para o país, que terá Copa de Mundo e eleições presiden- ciais, com toda a mobilização política e econômica que esses acontecimentos requerem. Des- sa forma, Helena Nader assegu- ra que a saída de Raupp e de boa parte de sua equipe, nesta atual conjuntura, pode atrapa- lhar o andamento dos progra- mas da pasta de C&T, já que o novo ministro não está inteirado com todas as ações da pasta. "Essa é uma mudança dra- mática, em pleno fim de gover- no, que nos trará impactos (ne- gativos) que ainda vamos ver", acredita Helena Nader, ao infor- mar que ouviu ontem uma cantilena de decepção de vários cientistas, dos mais altos esca- lões da comunidade científica, e de empresários, sobre a saída de Raupp. "Todos estão decep- cionados. Essa mudança é um desconhecimento da Ciência." Conforme Helena Nader, existem ministérios que são es- tratégicos para o desenvolvimen- to do país, como o MEC e o MCTI, que são as bases para a trans- formação econômica e social. Dessa forma, ela defende que o MCTI não pode ser incluído no pacote de trocas, (Página 3) Poucas & Boas Ensino médio, sustentabilidade e do- enças negligenciadas. Confira o que foiditosobreesseseoutrosassuntos. (Página 3) Breves Mutação - Pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz informa que uma mutaçãodovírusdahepatiteCpode estarligadaaosurgimentodecâncer de fígado em pacientes brasileiros. (Página 11) Livros e Revistas CientistasFluminenses-Coletâneade dezlivrosfinanciadapelaFaperjconta a história de dez pessoas que deram contribuiçõesàciênciaeàhumanida- de. (Página 11) Agenda Científica FórumNacionaldoConselhoNacio- nal de Secretários Estaduais para assuntosdeCiênciaeTecnologia -O encontroseráemCuiabá,nosdias20 e 21 de março. (Página 11) 2ºCongressoInternacionaldeCiên- cia da Educação - Evento será em agostoeéorganizadopelaUniversi- dade Federal da Integração Latino- Americana. (Página 11) Morre o geneticista Darcy Fontoura Troca de ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação decepciona cientistas Anunciado plano de C&T para a AmazôniaLegal Com foco no desenvolvimento sustentável da região amazônica, os secretários de Ciência e Tecnologia e as Fundações de Amparo à Pesquisa dos estados do Norte sugeriram a criação de um Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Amazônia Legal (PCTI/ Amazônia). O documento foi elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e propõe um novo modelo de desen- volvimento, baseado em conhecimentos e inovações. (Página 4) Dez anos da Lei da Inovação A Lei da Inovação, está completando dez anos. E depois desse período, inovar no Brasil ainda é um desafio. A aprovação da lei foi o pontapé inicial para a construção de um sistema de fomento e apoio à inovação, mas ainda há muitos obstáculos a serem driblados. Para especialistas na área, há algumas lacunas a serem cobertas pela lei, e mesmo com a ampla oferta de recursos para investimento em pesquisa e desenvolvimento no país, falta demanda das empresas. (Página 5) Museus e centros de ciência e tecnologia pedem socorro Os museus de ciência brasileiros vivem hoje um momento com muitas contradições e incertezas. Apesar de a política de democrati- zação da ciência ter esses espaços como foco principal, consolidar tais instituições está sendo um grande desafio. Tanto que alguns centros importantes estão fechando: a Estação Ciência/USP e o Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia são exemplo disso. Afinal, que política de democratização é essa que não consegue manter os centros e museus de ciência funcionando? (Página 8) O Plano Nacional de Educa- ção ainda está emperrado na Câmara, sem aprovação, de- pois de ter passado pelo Sena- do. O projeto tramita como uma lei ordinária. Mas enquanto o PNE não é aprovado surgem iniciativas voltadas para a ques- tão. Uma delas é o Observatório do PNE, do movimento Todos Pela Educação. (Página 4) Enquanto o PNE não vem Indígenasterãoprogramação especialnaReuniãodaSBPCnoAcre Decisivos na preservação e conservação da biodiversidade, os povos indígenas terão um espaço especial na 66ª Reunião Anual da SBPC, a ser realizada na semana de 22 a 27 de julho deste ano, na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco. Na progra- mação, batizada de SBPC Indígena, esses povos devem apresen- tar trabalhos sobre a própria cultura e a medicina da floresta, além de demandas sobre políticas públicas. (Página 2) O Projeto de Decreto Legisla- tivo que "convoca plebiscito para consultar o eleitorado nacional sobre a transferência para a União da responsabilidade so- bre a educação básica" saiu da pauta da Comissão de Consti- tuição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal. Após debate caloroso entre os senadores o projeto foi retira- do da pauta, pelo relator, para reformulação. (Página 4) Federalização da educação básica é polêmica SBPC Jovem Em 2014, a SPBC Jovem chega a sua 17ª Edição, reno- vando o convite para uma via- gem ao mundo do conhecimen- to. A SBPC, a Universidade Fe- deral do Acre (Ufac) e o gover- no do estado do Acre apostam na força jovem para a garantia de um futuro melhor a partir da pesquisa, da troca de experi- ências, da criatividade e da ino- vação. (Página 9) Cavalcante
  • 2. JORNAL da CIÊNCIA Publicação quinzenal da SBPC — Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência Conselho Editorial: Alberto P. Guimarães Filho, Jaime Martins Santana, Lisbeth Kaiserlian Cordani, Maria Lucia Maciel e Marilene Correa da Silva Freitas Editora: Fabíola de Oliveira Editoraassistente:EdnaFerreira Redação e reportagem: Camila Cotta, Edna Ferreira, Vivian Costa e Viviane Monteiro. Colaborou com esta edição: Beatriz Bulhões Revisão: Mirian S. Cavalcanti Diagramação: Sergio Santos Ilustração: Mariano Redação: Av. Venceslau Brás, 71,fundos,casa27,Botafogo,CEP 22290-140, Rio de Janeiro, RJ. Fone: (21) 2295-5284. E-mail: <jciencia@jornaldaciencia.org.br> ISSN 1414-655X APOIO DO CNPq 14 de Março de 2014Página 2 JORNAL da CIÊNCIA Secretaria de Sócios Conheça os benefícios em se tornar sócio da SBPC no site <www.sbpcnet.org.br> ou en- tre em contato pelo e-mail <socios@sbpcnet.org.br>. Valores das anuidades 2013: • R$ 60: Graduandos, Pós-Gra- duandos, Professores de ensino médio e fundamental, sócios de Sociedades Associadas à SBPC. • R$ 110: Professores do ensino superior e profissionais diversos. JC E-Mail Assine e receba diariamente. Cadas- tre-se gratuitamente em <www. jornaldaciencia.org.br/cadastro.jsp>. ComCiência Revista eletrônica de jornalismo científico da SBPC-LabJor. Site: <www.comciencia.br>. Ciência e Cultura Distribuição gratuita para sócios quites. Mais informações sobre ven- da e assinatura, entre em contato: socios@sbpcnet.org.br ou (11) 3355.2130. ASSINENOSSASPUBLICAÇÕES ASSINETAMBÉM Ciência Hoje 11 números: R$ 105,00. Desconto para sócios quites da SBPC: R$55,00. Fone: 0800-727-8999. Ciência Hoje das Crianças 11 números: R$ 79,00. Desconto para associadosquitesdaSBPC:R$ 35,00. Fone: 0800-727-8999. SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência R. Maria Antonia, 294 - 4º andar CEP: 01222-010 - São Paulo/SP Tel.: (11)3355-2130 Indígenas terão programação especial na Reunião da SBPC no Acre A ideia é estimular o povo indígena brasileiro a buscar o conhecimento cultural ocidental Viviane Monteiro Decisivos na preservação e conservação da biodiversidade, os povos indígenas terão um espaço especial na 66ª Reunião Anual da SBPC, a ser realizada na semana de 22 a 27 de julho deste ano, na Universidade Fe- deral do Acre (Ufac), em Rio Branco. Na programação, bati- zada de SBPC Indígena, esses povos devem apresentar traba- lhos sobre a própria cultura e a medicina da floresta, além de demandas sobre políticas públi- cas, principalmente relaciona- das à saúde e educação. A expectativa dos organizado- res do evento é reunir 300 indíge- nas brasileiros, principalmente da Amazônia, sem contar com povos do Peru e Bolívia, países que fa- zem fronteiras com Brasil. Na ocasião, devem ser tam- bém apresentados pactos ecoló- gicos e socioculturais, segundo o antropólogo Jacob Piccoli, pro- fessor da Ufac e coordenador da Comissão Organizadora da SBPC Indígena. A intenção do espaço SBPC Indígena é estimu- lar o povo indígena nacional a buscar conhecimento cultural ocidental e apresentar trabalhos sobre a própria cultura. Jacob chama a atenção para o número de índios nas universida- des do Acre, onde pelo menos 100 indígenas fazem cursos de graduação. Em 2012, existiam 45 pessoas declaradas indígenas nas universidades acreanas, se- gundo dados do Instituto Nacio- nal de Estudos e Pesquisas Edu- cacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educa- ção (MEC). No Brasil, é cada vez maior o ingresso de pessoas as- sumindo a identidade indígena nos cursos de graduação, embo- ra a maioria ainda estude em uni- versidades privadas. Os últimos dados do Inep re- velam que em 2012 eram 10,282 mil indígenas nas universida- des brasileiras, dos quais 4,126 mil em instituições públicas e 6,156 mil no setor privado. Para efeitos comparativos, em 2011, esse número totalizava 9,756 mil,oquerepresentacrescimento de 5,4% na comparação com o anterior. Desse total, 3,54 mil estudavam em instituições pú- blicas e o restante (6.216) em universidades privadas. Natureza conservada - Ao dis- correr sobre a contribuição dos indígenas à preservação e con- servação da biodiversidade, o antropólogo Piccoli declarou que os indígenas ocupam hoje 13% do território acreano, o equiva- lente entre 15 mil a 20 mil indíge- nas distribuídos pelo sul do Ama- zonas e Rondônia. Ou seja, es- sas terras são preservadas e conservadas pelos chamados defensores da natureza. Tal ocupação, no olhar de Piccoli, poderia ser mais abran- gente caso alguns indígenas não tivessem sido dizimados pelos seringalistas na época do extra- tivismo, quando a população indígena acreana girava em tor- no de 70 mil. Além de mortes em conflitos com seringalistas, lem- bra o estudioso, muitos índios também foram dizimados por doenças endêmicas. Pesquisador de conflitos so- ciais na Amazônia, o antropólo- go Alfredo Wagner de Almeida confirma o avanço significativo no número de índios residentes em centros urbanos, público que vem “assumindo a identidade indígena e compondo novas for- mas organizativas, agrupando diferentes etnias e consolidan- do territórios pluriétnicos”. Dados da Fundação Nacional do Índio (Funai) mostram que a população indígena quase tripli- cou nas últimas décadas – eram 294,130 mil índios no Brasil em 1991, número que atingiu 817,963 mil em 2010, o equivalente a 0,42% da população nacional. Transformação social - Con- forme a leitura de Wagner de Almeida, criar um espaço espe- cífico para os indígenas no maior encontro científico do Brasil co- loca a SBPC em sintonia com uma das mais significativas transformações sociais ocorri- das no Brasil na passagem do século XX para o século XXI: a emergência da expressão orga- nizativa dos povos indígenas, posicionando-os como sujeitos na vida social. “As instituições universitárias vêm refletindo sobre este fenô- meno, de existência coletiva, que compreende não apenas o ad- vento de uma capacidade políti- ca de apresentar publicamente sua pauta de reivindicações, mas também o reconhecimento de direitos étnicos”, analisa Wagner de Almeida, também presidente do Programa Nova Cartografia Social e conselheiro da SBPC. Em outra frente, o diretor do Museu da Amazônia (Musa), Ennio Candotti, vice-presidente da SBCP, considera fundamen- tal promover o intercâmbio dos indígenas, com a proposta de difundir ideias, de forma mais ampla. Nesse caso, Candotti defende a abertura de mais es- paço aos indígenas, para dis- cussão de ideias e cobrança de políticas públicas. Indígenas isolados no Acre - Conforme entende Wagner de Almeida, no Acre encontra-se o maior número dos denomina- dos “povos indígenas isolados”, afetados diretamente pelas ações de desmatamento e de- vastação, sobretudo nas regi- ões de fronteira internacional. “Pesquisas de sísmica por empresas de petróleo e gás e retirada ilegal de madeira e obras de construção de estradas sem o devido licenciamento ambien- tal configuram uma situação conflitiva que, aliás, caracteriza hoje toda a região da Pan-Ama- zônia (Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Suriname, Equador, República da Guiana, Peru e Guiana Francesa)”. Dessa forma, o Acre, avalia Wagner de Almeida, pode fun- cionar como um grande labora- tório de reflexão sobre esses antagonismos sociais e suas im- plicações nos planos de desen- volvimento sustentável relativos aos nove países que constituem a Pan-Amazônia. “A escolha da SBPC consiste num convite a tornar estas questões objetos de reflexão do trabalho científico.” Espaço terá trabalhos sobre a cultura indígena e a medicina da floresta GuilhermeCarrano/Funai
  • 3. 14 de Março de 2014 Página 3JORNAL da CIÊNCIA Poucas & BoasPoucas & Boas Reputação – “Todas as universi- dades do mundo buscam reputação. Uma reputação elevada faz com que a instituição seja procurada por melho- res alunos e melhores professores, o que resulta em mais financiamento para suas atividades e uma melhor reputação, e o ciclo recomeça.” Leandro Tessler, professor da Unicamp, em artigo no O Estado de São Paulo (06/03). Ensino médio - “Doze por cento vão para o ensino superior, 88% não vão. Para esses 88%, para que serviu o ensino médio? Eles não usam o ensino médio para nada. Se nem para os 88% serve, nem para os 12% serve, dá 100%, não serve para ninguém. Então é esse o ensino médio atual.” Deputado Wilson Filho (PTB- PB), relator da comissão especial criada para analisar o Projeto de Lei 6840/13, que prevê melhora daqualidadedoensinomédio,na Agência Câmara (05/03). Gargalos - “Mesmo que rece- ba mais recursos, a universidade não consegue executar tudo em um ano. A lei amarra e impede o crescimento.” Presidente da Andifes, Jesual- do Farias, para quem o principal entrave financeiro para as uni- versidades federais não é o volu- me de dinheiro repassado às ins- tituições, mas o engessamento do uso das verbas, no O Estado de São Paulo (10/03). Doenças negligenciadas - “Todo ano se faz um estudo para analisar o investimento feito nas doenças que afetam as popula- ções pobres. O gap continua, a maioria do dinheiro é investido para os futuros blockbusters, um Viagra, ou um remédio para cres- cimento de cabelos.” Eric Stobbaerts, 49, diretor- executivo da Iniciativa de Medi- camentos para Doenças Negli- genciadas (Drugs for Neglected Diseases Initiative, na sigla em inglêsDNDi),naFolhadeSãoPaulo (10/03). Crédito estudantil - “Depois de 2010, o Fies se transformou num divisor de águas no ensino superior privado. A taxa de juros anual caiu de 9% para 3,4%; antes era só a Caixa oferecendo crédi- to, aí veio o Banco do Brasil; o prazo de carência passou de seis para 18 meses; e o prazo de paga- mento passou de uma vez e meia para três vezes o tempo do curso mais um ano.” Rodrigo Capelato, diretor- executivo do Sindicato das Enti- dades Mantenedoras de Estabe- lecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), sobre a participação de 31% do Fies e Prouni nas matrículas de universidades privadas, no Valor Econômico (11/03). Viviane Monteiro A substituição de Marco An- tonio Raupp do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em pleno fim de mandato do governo representa "o des- conhecimento" da importância da Ciência para o desenvolvi- mento do país. A opinião é da presidente da Sociedade Brasi- leira para o Progresso da Ciên- cia (SBPC), Helena Nader. Segundo ela, a comunida- de científica está decepciona- da e surpreendida com a saída de Raupp neste momento, con- siderando que este é um ano atípico para o país, que terá Copa de Mundo e eleições pre- sidenciais, com toda a mobili- zação política e econômica que tais acontecimentos requerem. Dessa forma, Helena Nader assegura que a saída de Raupp e de boa parte de sua equipe, nesta atual conjuntura, pode atrapalhar o andamento dos programas da pasta de C&T, já que o novo ministro não está inteirado com todas as ações da pasta. "Essa é uma mudança dra- mática, em pleno fim de gover- no, que nos trará impactos (ne- gativos) que ainda vamos ver", acredita Helena Nader, ao in- formar que ouviu ontem uma cantilena de decepção de vá- rios cientistas, dos mais altos escalões da comunidade cien- tífica, e de empresários, sobre a saída de Raupp. "Todos es- tão decepcionados. Essa mu- dança é um desconhecimento da Ciência." Conforme Helena Nader, exis- tem ministérios que são estraté- gicos para o desenvolvimento do país, como o Ministério da Edu- cação e o MCTI, que são as bases para a transformação econômi- ca e social. Dessa forma, Helena Nader defende que o MCTI não pode ser incluído "no pacote de moedas de troca de ministérios". "Um país que quer pertencer ao clube dos países ricos tem que ter estratégia que nação. E nessa visão estratégica tem que ter educação e ciência e tecno- logia de qualidade. Um projeto de nação vai além de um projeto de governo, sobretudo quanto tratamos de ações na área cien- tífica, tecnológica e de inovação, que requerem longo prazo de planejamento e maturação até que sejam concretizados. Mas a descontinuidade tem carreira histórica em nosso país." A presidente da SBPC la- Presidente da SBPC fala sobre os riscos de descontinuidade do trabalho realizado pelo ex-ministro Troca de ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação decepciona cientistas menta que a troca de ministros na pasta de Ciência, Tecnolo- gia e Inovação seja recorrente. Lembra que desde que foi cria- do o Ministério, em março de 1985, como compromisso do programa de governo de Tan- credo Neves, compromisso esse assumido pelo presidente José Sarney, a pasta foi utilizada como instrumento de barganha política em vários momentos. Somente no Governo Sarney, entre outubro de 1987 a março de 1989, foram 5 trocas de titu- lares, e no governo de Fernan- do Collor, 3 titulares reveza- ram-se na pasta, entre março de 1990 e outubro de 1992. Alternância da política científi- ca e tecnológica - Preocupada com a alternância da política científica e tecnológica nacio- nal, a presidente da SBPC fez questão de lembrar que no últi- mo ano do Governo Lula, em 2010, houve a 4ª Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação para o Desenvolvi- mento Sustentável que traçou diretrizes para a política científi- ca, e tecnológica e de inovação. No entanto, poucas foram cum- pridas, em razão de cortes e contingenciamentos de recursos do atual governo. Apesar de consecutivos con- tingenciamentos de recursos, Helena Nader afirmou que Raupp e equipe realizaram um trabalho importante não apenas para Ciência, mas criou também, em especial, uma plataforma de Tecnologia e Inovação do Go- verno Dilma. "Raupp conseguiu fazer vá- rios acordos, com diferentes mi- nistérios, para trazer mais re- Comunidade científica ficou decepcionada com saída de Raupp JulianaBrainer/AscomdoMCTI cursos e fomentar a área de ciência e tecnologia. Mas pare- ce que tudo isso foi desconsi- derado", disse. Para Helena Nader, a troca de ministro de- veria acontecer apenas caso a função dele não estivesse sen- do cumprida corretamente. Helena Nader reforça que não questiona o perfil profissional e acadêmico do futuro gestor do MCTI, pois o mesmo "já demons- trou sua competência e habili- dade à frente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig)". Disse, entretanto, que qual- quer ministro que assumir a pas- ta agora, a apenas nove meses para o fim do atual governo, enfrentará dificuldade para to- mar pé da situação, pois o MCTI tem uma arquitetura complexa, que envolve acordos com ou- tros ministérios e diversas orga- nizações. Helena Nader de- monstra preocupação também com o contingenciamento de recursos, o qual Raupp sempre buscou evitar. Perfil do novo ministro - Clelio Campolina Diniz saiu da reito- ria UFMG para assumir o MCTI. Ex-presidente da Câmara de Ciências Sociais Aplicadas da Fundação de Amparo à Pesqui- sa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), é formado em Enge- nharia Mecânica pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, doutor em Ciência Econô- mica pela Universidade Estadual de Campinas, dirigiu o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTEC) e coordenou a área de economia do CTC da Capes.
  • 4. JORNAL da CIÊNCIA 14 de Março de 2014Página 4 Edna Ferreira e Camila Cotta O Plano Nacional de Educa- ção (PNE 2011-2020) ainda está emperrado na Câmara, sem aprovação, depois de ter passa- do pelo Senado. O projeto trami- ta como uma lei ordinária que terá vigência de dez anos a partir de sua promulgação, e pretende estabelecer diretrizes, metas e estratégias de concretização no campo da Educação. Mas, en- quanto o PNE não é aprovado, surgem iniciativas voltadas para a questão. Uma delas é o Obser- vatório do PNE, uma plataforma online lançada pelo movimento Todos Pela Educação e que tem como objetivo monitorar os indi- cadores referentes a cada uma das 20 metas do plano. A iniciativa tem 20 organiza- ções parceiras ligadas à Educa- ção e especializadas nas dife- rentes etapas e modalidades de ensino, entre elas a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Juntas, essas entidades vão realizar o acom- panhamento permanente das metas e estratégias do PNE. A ideia do Todos Pela Educação é que a ferramenta possa apoiar gestores públicos, educadores e pesquisadores, mas especial- mente ser um instrumento à dis- posição da sociedade para que qualquer cidadão brasileiro pos- sa acompanhar o cumprimento das metas estabelecidas. Cada parceiro será respon- sável por acompanhar uma das metas do PNE. Coube à SBPC a meta 13, que trata de elevar a qualidade da Educação Supe- rior pela ampliação da propor- ção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercí- cio no conjunto do sistema de Educação Superior para 75%, sendo do total, no mínimo, 35% doutores. Para isso está sendo montado um grupo de trabalho que será coordenado pela pro- fessora Lisbeth Cordani, que faz parte do conselho da SBPC. De acordo com a professora, a inten- ção principal é de colaboração. Para Alejandra Meraz Velasco, gerente da Área Técni- ca do movimento Todos Pela Educação, a escolha dos par- ceiros para este projeto foi uma etapa importante. “A amplitude dos temas tratados nas metas do PNE levou naturalmente a uma congregação de várias organi- zações que têm expertise em cada um destes temas e que identificaram a importância de dar notoriedade à execução do Plano”, explica a gerente. Ainda segundo ela, durante o desenho do projeto várias organizações parceiras do Todos Pela Educa- Enquanto o PNE não vem Plataforma online é criada para monitorar as metas do Plano Nacional de Educação e conta com a parceria da SBPC ção interessaram-se pela inicia- tiva. “E, assim, uma rede de ins- tituições que também têm no seu foco de atuação a influência nas políticas públicas de Educação somou-se à proposta, no âmbito da atuação específica de cada uma, com a alimentação e ma- nutenção constante da platafor- ma”, definiu Alejandra. Controle social - Segundo Alejandra, além de monitorar as metas do Plano, o Observatório do PNE vai oferecer análises sobre as políticas públicas edu- cacionais já existentes e que serão implementadas ao longo dos dez anos de vigência do PNE. Ela destaca o uso da ferra- menta pela sociedade. “Espera- mos que haja maior controle social em relação ao cumprimen- to do Plano, para que, diferente do anterior (2000-2010), que teve apenas cerca de 20% das metas cumpridas, este PNE que vigo- rará para os próximos 10 anos seja, de fato, cumprido”, revela Alejandra. A gerente explica que en- quanto o PNE não é aprovado, o site do Observatório já está sendo alimentado e divulgado. “A ideia com isso é que ele pos- sa ser também uma forma de pressionar o poder público pela aprovação do PNE, que já tra- mita há mais de 3 anos no Con- gresso Nacional. Após a apro- vação e sanção do Plano, a plataforma será atualizada de acordo com a versão do Plano aprovado”, disse ela. PNE no Congresso - O Plano Nacional de Educação foi en- caminhado à Câmara pela Pre- sidência da República, onde foi apreciado e modificado an- tes de ser encaminhado ao Se- nado. Após passar por diver- sas comissões no Senado, o Plenário da casa aprovou uma versão que, segundo especia- listas, apresentou retrocessos em relação ao texto aprovado na Comissão de Educação do próprio Senado e também em relação ao texto original apro- vado anteriormente na Câmara dos Deputados. Neste momen- to, o PNE tramita novamente na Câmara, que aceitará ou não as alterações aprovadas no Sena- do. Em seguida, a matéria se- guirá obrigatoriamente para a sanção presidencial. Para o deputado Ângelo Vanhoni(PT-PR),relatordoPNE, a expectativa é que até o fim de março o plano seja votado. “A Comissão de Educação da Câ- mara dos Deputados, da qual sou relator, está analisando o Projeto que recebemos do Se- nado no início desse ano. Assim que analisarmos toda a propos- ta, estaremos elaborando um novo texto para ser apreciado e votado no Plenário da Câmara. Após aprovação, a presidenta Dilma Rousseff assinará o Pla- no, que começa a valer imediata- mente para o decênio”, explica. Vanhoni destaca a importân- cia do Plano composto por 20 metas e elaborado com a partici- pação de vários segmentos da sociedade. “É uma grande con- quista de todos os brasileiros. Além disso, avançamos no de- bate do financiamento para edu- cação, que passará de 4,94% para 10% do PIB até o final da vigência do Plano. O PNE ex- pressa a nova realidade do país, com uma educação plural e de- mocrática”, resume ele. Alunos e educadores aguardam a aprovação das diretrizes do PNE SXC.Hu Camila Cotta O Projeto de Decreto Legisla- tivo (SF) Nº 460, de 2013, que "convoca plebiscito para con- sultar o eleitorado nacional so- bre a transferência para a União da responsabilidade sobre a educação básica", saiu da pauta da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal. Na manhã desta quarta-feira (12), os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL/AP) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP) pro- moveram um caloroso debate a respeito do assunto, fazendo com que o relator do projeto, senador Pedro Taques (PDT/ MT), pedisse para retirar o proje- to da pauta, para reformulação. Federalização da educação básica é polêmica Senadores divergem sobre proposta e convocação de plebiscito sai da pauta da CCJ O embate entre os parlamen- tares foi em torno da responsa- bilidade da educação básica, até que ponto será do governo federal e até onde vai a atuação do município. "Sou a favor do plebiscito. Hoje um terço da po- pulação é analfabeta. Precisa- mos mudar isso. A responsabili- dade tem que ser da federação", esbravejou Rodrigues. "Eu sou contra. O governo federal vai gerir creche? Escola? Vai no- mear diretor?", retrucou Ferrei- ra. Com a calorosa discussão, o relator do projeto preferiu anali- sar os pontos e tirar da pauta da votação na CCJ. Apoio - O autor do projeto de decreto, senador Cristovam Buarque (PDT/DF), pediu apoio aos parlamentares. Ele defende o envolvimento da sociedade e dos candidatos à Presidência da República em um amplo debate sobre o tema: municípios brasilei- ros não conseguem proporcionar educação de qualidade porque são pobres e desiguais. "Tratar cadacriançaaonascerneste país, não importa a cidade, não importa o nível de renda que ela tenha, como uma criança brasileira, merecendo o mesmo cuidado educacional no que se refere ao financiamento público", observa. Cristovam Buarque acredita que a federalização da educa- ção básica vai levar o Brasil "a dar o salto para o mundo do conhecimento". Também deve- rá permitir "a resolução de pro- blemas centrais e de acesso".
  • 5. JORNAL da CIÊNCIA14 de Março de 2014 Página 5 Dez anos da Lei da Inovação Edna Ferreira A Lei 10.973, também co- nhecida como Lei da Inovação, está completando dez anos. E depois desse período, inovar no Brasil ainda é um desafio. A aprovação da lei foi o pontapé inicial para a construção de um sistema de fomento e apoio à inovação, mas ainda há muitos obstáculos a serem driblados. Para especialistas na área, há algumas lacunas a serem co- bertas pela lei e mesmo com a ampla oferta de recursos para investimento em pesquisa e de- senvolvimento no país, falta de- manda das empresas para a captação desses recursos. Para a professora Vanderlan Bolzani, do Instituto de Química da Universidade Estadual Pau- lista (Unesp) de Araraquara e diretora da Agência Unesp de Inovação (Auin), o Brasil vem avançando sim na área da ino- vação, mas está longe do de- senvolvimento tecnológico tão sonhado. “São muitas as cau- sas e tanto o setor público (go- verno) como o setor industrial têm suas parcelas neste de- senvolvimento. O país fica cada dia mais dependente de tecnologia externa e isto é ter- rível”, alerta. De acordo com a professora, nesse aspecto a Lei da Inova- ção foi importante para criar os Núcleos de Inovação Tecnoló- gica (NITs) e a obrigatoriedade de planos de políticas de inova- ção. “A legislação regula a pro- teção do conhecimento gerado nas universidades e institutos de pesquisas. A criação de em- presas de base tecnológica por pesquisadores e alunos e o uso dos laboratórios e demais re- cursos de infraestrutura por par- ceiros empresariais também passam a ser regulamentados pela Lei. Isto é um dado positivo e acredita-se que possa contri- buir com o processo de inova- ção empresarial nacional”, ar- gumenta Bolzani. A presidente da Associação Nacional de Entidades Promo- toras de Empreendimentos Ino- vadores (Anprotec), Francilene Procópio Garcia, afirma que a legislação tem ajudado a mu- dar a forma como as institui- ções pensam e priorizam a questão da inovação. “Tivemos vários avanços na implemen- tação de programas e instru- mentos de fomento a partir da maior clareza jurídica provida pela lei”, diz. Em apoio a sua afirmação ela aponta uma pes- quisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) Em uma década de existência da legislação, avanços e desafios na área mostram que país ainda tem longo caminho a percorrer que mostrou que, nos últimos nove anos, já foram feitos 217 pedidos de proteção de privilé- gio de propriedade intelectual por instituições brasileiras. Apesar dos dados positivos e do crescimento de iniciativas estaduais e federais com ampla oferta de recursos para investi- mento em pesquisa e desenvol- vimento no Brasil, ela afirma que existem algumas lacunas a serem cobertas pela lei. Segun- do Francilene, percebem-se ainda fragilidades no ambiente empresarial para a captação es- truturada e oportuna desses recursos. “É necessário refor- çar políticas públicas com foco em incubadas, startups, micro e pequenas empresas com perfil inovador, como é feito em paí- ses que são referência nesta área. O Brasil está mais prepa- rado e maduro para um cresci- mento mais acelerado nos pró- ximos anos”, afirma ela. Mudança de mentalidade - No ranking internacional Índice Global de Inovação (Global Innovation Index) de 2013, o Brasil aparece atrás de países como Chile e Colômbia. O re- sultado da última pesquisa na- cional de inovação nas empre- sas (Pintec) realizada pelo IBGE, que avaliou a taxa de inovação das empresas brasi- leiras no período de 2008 a 2011, encontrou uma queda de 38,1% para 35,7%, em relação ao período anterior. O que está faltando para o Brasil decolar na inovação? A resposta pode estar na parceria entre universidades e empresas. O Brasil é o 13° pro- dutor de conhecimento do mun- do em número de artigos publi- cados pelos pesquisadores de nossas universidades. Mas apenas uma fração pequena desse ativo de conhecimento, porém, é aplicada para melho- rar a produtividade e a compe- titividade de nossas indústrias, empresas e serviços. “Faltam às universidades de excelên- cia mais ousadia e vanguarda para colaborar, e às empresas mais empenho para absorver mais conhecimento e se torna- rem mais inovadoras. É um pro- cesso longo, onde as políticas de governo podem facilitar muito”, opina a professora Vanderlan Bolzani. Nesse cenário, a professora destaca a importância das agên- cias, como a da Unesp, que surgiram com o objetivo de au- xiliar os docentes e pesquisa- dores na questão da transfe- rência de conhecimento. “Nós pesquisadores não sabemos como identificar parceiros no mercado para as pesquisas que fazemos. O papel da agência é ser um facilitador para a aproxi- mação de dois setores impor- tantes para atuarem em colabo- ração: universidades e empre- sas”, define a professora. Já a presidente da Anprotec aposta que para mudar a menta- lidade do empresário brasileiro e ampliar os horizontes da ino- vação é fundamental dissemi- nar a cultura empreendedora. “É provável que seja oportuno ao país repensar o processo de ino- vação como um todo, não ape- nas com a definição de segmen- tos prioritários, mas em especial com a definição de modelos de fomento mais eficientes para a participação casada de investi- mentos públicos e privados. De- pender somente de financiamen- to a juros baixos limita muito as possibilidades de criar algo novo. O capital semente e de risco tem muito a avançar no país”, explica Francilene. Academia e tecnologia - Mas não faz sentido culpar somente o empresariado. Afinal, estão na esfera governamental mui- tos dos fatores que ainda são entraves ao desenvolvimento tecnológico no país. Um exem- plo disso é o conhecido fardo tributário, que somado ao labi- rinto da burocracia, emperra o dia a dia no ambiente dos negó- cios brasileiros. Para Álvaro Prata, secretário de Desenvol- vimento Tecnológico e Inova- ção do MCTI, a inovação hoje é parte da agenda do país. “O Brasil se preocupa muito com isso, temos um número cres- cente de empresas envolvidas com inovação tecnológica. Te- mos também as instituições de ciência e tecnologia, que cada vez mais se preocupam com a transferência do conhecimento científico para o tecnológico atra- vés da inovação”, afirma ele. De acordo com Prata, a pró- pria Lei da Inovação veio em benefício da parceria universida- de-empresa. “O Brasil precisa melhorar muito isso, por que es- sas duas instâncias se colocam muito distantes uma da outra. A universidade atua muito nas questões mais acadêmicas, na componente científica mais em benefício dos valores da acade- mia, que é a publicação e a for- mação de pessoas”, explica ele afirmando ainda que “essa ciên- cia precisa também se aproximar dos aspectos mais tecnológicos, do setor industrial, do benefício econômico, e para isso a univer- sidade precisa se aproximar das empresas, da indústria, da inicia- tiva privada.” Prata reconhece a importân- cia do setor acadêmico para o país e de seu crescente contin- gente de mestres e doutores. “O Brasil formou o seu primeiro mes- tre em 1963 e hoje titula 40 mil mestres e 14 mil doutores por ano. Esses números são notá- veis, nenhum país do mundo, num tempo tão curto quanto esse, teve um crescimento tão grande”, afirma. Do lado indus- trial, o secretário aponta que é preciso mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento e na valorização das pessoas qua- lificadas cientificamente. Segundo Álvaro Prata, um dos papéis da Secretaria de Desen- volvimento Tecnológico e Ino- vação e do MCTI é aproximar esses dois mundos. “Nós temos criado uma série de instrumen- tos, de programas e incentivos que mais e mais começam a dar resultados, por exemplo, o nú- mero de empresas que inves- tem, se envolvem e se benefici- am com a Lei do Bem de incen- tivos fiscais é crescente. Agora esse impacto que nós queremos ter e queremos que apareça da produção industrial em benefí- cio da sociedade brasileira, esse certamente virá, mas não num estalar de dedos”, pondera ele. Fonte:GlobalInnovationIndex2013 Rankinginternacional
  • 6. Anunciado plano de C&T para a Amazônia Legal Documento, coordenado pelo Centro de Gestão e Assuntos Estratégicos (CGEE), será lançado nos dias 20 e 21 de março em Cuiabá (MT) Camila Cotta A Amazônia representa mais da metade das florestas tropi- cais remanescentes e a maior biodiversidade do planeta. É um dos seis grandes biomas brasi- leiros. Para efeitos de governo e economia, a Amazônia é delimi- tada por uma área chamada “Amazônia Legal”, composta por nove estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mara- nhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). Sua singularidade e riquezas são importantes para o crescimento do país e o bem- estar de sua população. Com foco no desenvolvimen- to sustentável da região amazô- nica, os Secretários de Ciência e Tecnologia e as Fundações de Amparo à Pesquisa dos estados do Norte sugeriram a criação de um Plano de Ciência, Tecnolo- gia e Inovação para a Amazônia Legal (PCTI/Amazônia). O docu- mento, elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), teve como base a intera- ção sistêmica entre os atores e instituições relevantes visando à adoção de um novo modelo de desenvolvimento, baseado em conhecimentos e inovações. A região sempre foi olhada pelas óticas dos interesses eco- nômico e preservacionista. Prin- cipalmente a Floresta Amazôni- ca, hoje mais do que nunca, já que vivemos um momento de esgotamento de muitas das fon- tes energéticas, minerais e vege- tais. Para alterar esse panorama, o plano do CGEE ressalta a im- portância de mudanças que re- forcem e promovam a centralida- de das ações de ciência, tecnolo- gia e inovação no conjunto das estratégias de desenvolvimento, de forma a propiciar a utilização intensiva de conhecimentos e agregar valor à biodiversidade regional. Com isso, espera am- pliar as oportunidades de empre- go e renda e compatibilizar o dinamismo da economia com a mitigação dos impactos sociais e ambientais esperados. De acordo com Henrique Villa da Costa Ferreira, líder do proje- to, “queremos transformar, nos próximos 20 anos, a ação huma- na na região, menos predatória e mais enfocada no conhecimen- to, de forma a garantir a preserva- ção do seu bioma”. A orientação do CGEE foi para que se elabo- rasse uma proposta consensual sobre o papel da CT&I para o desenvolvimento da Amazônia, tendo como pano de fundo o aproveitamento sustentável da rica biodiversidade regional. Para Antonio Carlos Filgueira Galvão, diretor do CGEE, o gran- de desafio que a CT&I tem pela frente é criar uma agenda posi- tiva, de forma a utilizar a floresta de maneira não predatória, agre- gando valor, tanto de recursos quanto de qualidade de vida para a população. “A política regional não pode seguir da maneira que está hoje. Estamos acabando com os recursos na- turais existentes. A Amazônia é um grande laboratório de rique- zas potenciais”, salienta. A meta do plano é gerar dis- cussão e conhecimento, aumen- tando a capacidade de inteli- gência nas políticas públicas. É promover a equação das pesso- as na região, de forma a educá- las a viverem organizadamente para sua sobrevivência. “Com o aumento do suporte da ciência na região, fortaleceremos a es- trutura técnico-científica. Preci- samos mostrar à sociedade quais são os desafios e como vencê-los”, diz Galvão. PCTI/Amazônia - O grande de- safio a perseguir é aumentar em pelo menos 50% a participação da Amazônia no total de dispên- dios do governo federal em CT&I; e triplicar o número de doutores existentes e atuantes na região, com ênfase nas áreas do conhe- cimento correlatas à Agenda de P&D, sempre considerando as desigualdades intrarregionais que caracterizam o sistema re- gional de CT&I. Por ser um documento que vai além da proposição de estraté- gias, caracterizando-se como Pla- no de Ação, o PCTI/Amazônia propõe um conjunto de progra- mas:ApoioàInfraestruturadeCT&I da Amazônia (ProInfraCTI); For- talecimento e Expansão da Base de Recursos Humanos da Ama- zônia (ProRH); Estruturação e Ampliação dos Polos Regionais de Inovação (ProInovar); e Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento da Amazônia (ProPesquisa). “A modernidade do plano é a forma em que ele foi concebido, em ambiente de discussão. O resultado é a opinião consensual dos atores. Coletamos sugestões e as transformamos em relató- rios. Nossa missão é comparti- lhar um entendimento comum com resultados concretos a partir do comprometimento das lide- ranças e atores regionais, tanto no âmbito federativo, quanto no âmbito horizontal da relação da Política de CT&I com as demais políticas públicas direcionadas à região”, finaliza Galvão. Sob a coordenação do CGEE, o documento contou com a parti- cipação de mais de 600 atores regionais – membros da comuni- dade científica, gestores estadu- ais e federais, empresários – du- rante um período de aproxima- damente 11 meses, com a reali- zação de diversas etapas, entre rodadas de consultas e discus- são com os seus protagonistas. O plano está disponível neste link: www.cgee.org.br/busca/ C o n s u l t a P r o d u t o N c o m Topo.php?f=1&idProduto=8585 Pesquisadores sugerem um novo modelo de desenvolvimento Foto:AscomCGEE SBPCeABCenviamcartaaogovernadordoDFemproldaEmbrapaCerrados Vivian Costa A SBPC e a Academia Brasi- leira de Ciência (ABC) enviaram carta ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, solici- tando que ele reconsidere a pre- tensão de retirar 90 hectares da área da Embrapa Cerrados para a implantação de um projeto habitacional, o Residencial Planaltina Parque, às margens da BR-020 e que irá alojar 5 mil pessoas. Segundo as entidades, “a importância social desse em- preendimento não pode anular a importância de outro, para a sociedade brasileira e em espe- cial para o Distrito Federal e para a região dos Cerrados, que é a manutenção do campo experi- mental da Embrapa Cerrados”. Entre tantos argumentos cita- dos pelas entidades, encontra- O anúncio de redução da área da unidade poderá prejudicar pesquisas que vêm sendo realizadas há décadas se o de que a Embrapa Cerrados está localizada há mais de 30 anos no mesmo lugar, e que, ao longo desses anos, a Embrapa investiu grandes montantes de recursos, humanos e financei- ros, no desenvolvimento de ex- perimentos científicos e tecnoló- gicos, como o desenvolvimento de técnicas para correção da acidez e adubação do solo para a produção agrícola, desenvolvi- mento de cultivares de soja e milho adaptados à região dos cerrados, técnicas de integração lavoura-pecuária e, ainda, expe- rimentos para aumentar a quali- dade da carne bovina, comerci- alizada no país e no exterior. Na carta, as entidades afir- maram ainda que já há outras disponíveis para o mesmo fim, de modo que permita que a Embrapa Cerrados continue no mesmo local contribuindo para a geração e difusão de conheci- mentos, tão importantes para o desenvolvimento de nosso país. Para a SBPC e ABC, “a ruptura de anos de pesquisa neste cam- po experimental da Embrapa Cerrados causará enormes pre- juízos ao avanço da ciência bra- sileira e, em consequência, para a economia nacional”. Importância da região - Consi- derado o segundo maior bioma do país, o Cerrado apresentou nas últimas quatro décadas um desenvolvimento agrícola ex- cepcional, tornando-se referên- cia no cenário econômico na- cional e internacional. A partir de 1975 a Embrapa Cerrados vem contribuindo eficazmente para a incorporação de terras antes consideradas impróprias para a exploração agrícola em sistemas modernos de produ- ção de alimentos. O Cerrado possui 139 mi- lhões de hectares de terras ará- veis, dos quais, 54 milhões es- tão sob pastagens cultivadas; 21,6 milhões sob culturas agrí- colas, sendo 85% com cultivos anuais e 15% com cultivos pe- renes; e 3,4 milhões com áreas reflorestadas. Na safra 2009/ 2010, a região foi responsável por 54% da produção nacional de soja, 95% da produção de algodão e 23% da produção de café. Na pecuária, estão 41% dos 190 milhões de bovinos do rebanho nacional, responsá- veis por 55% da produção na- cional de carne e 41% da pro- dução de leite. (Com informações da Embrapa Cerrados)
  • 7. Pesquisadores analisam o "Mais Médicos" Estudo vai analisar os resultados e a eficácia do programa de saúde pública Camila Cotta A Universidade de Brasília (UnB) realiza um estudo para examinar as condições de oferta dos serviços de saúde à popula- ção e analisar a eficácia do Pro- grama Mais Médicos. A medida governamental prevê, entre ou- tras metas, mais investimentos em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde, além de le- var mais profissionais para regi- ões onde há escassez e ausên- cia de médicos. A pesquisa intitulada Análise da Efetividade da Iniciativa Mais Médicos na Realização do Di- reito Universal à Saúde e na Consolidação das Redes de Serviços de Saúde busca ma- pear a distribuição dos médicos vinculados ao programa pelo país. O estudo também analisa o percentual de municípios aten- didos em relação à demanda por serviços de saúde e o tempo de permanência e rotatividade dos médicos em cada cidade. Para a coordenadora do es- tudo, professora Leonor Maria Pacheco Santos, do Departa- mento de Saúde Coletiva da UnB, a pesquisa é de extrema importância por se tratar de uma política pública com grande mobilização de recursos. “Que- remos ver se o programa real- mente vai cumprir com seus ob- jetivos e resolver as questões da saúde no país, principalmente nos municípios mais necessita- dos”, explica. Entre as questões a serem resolvidas estão os índices de internação e mortalidade decor- rentes de doenças tratáveis na atenção primária à saúde, como os casos de diabetes e hiperten- são. “Se houvesse um bom aten- dimento na atenção básica, o número de internações não se- ria tão grande, desafogando os hospitais. Vamos verificar se há uma diminuição desse procedi- mento”, frisa a coordenadora. Segundo a professora da UnB o estudo, apesar de ser independente, conta com o apoio dos Ministérios da Saúde e da Educação, que também já fazem um monitoramento pró- prio do programa. “Estaremos em contato direto com os gesto- res da Saúde informando a situ- ação encontrada na pesquisa de campo. Assim, na medida do possível, vamos corrigir as distorções”, conta Leonor. Abrangência geográfica - Du- rante três anos, cerca de 20 pesquisadores com estudos na área de saúde integrarão o pro- jeto. São especialistas das uni- versidades federais de Brasília (UnB), Bahia (UFBA), Rio Gran- de do Sul (UFRGS), Espírito Santo (Ufes), Pará (UFPA), Mi- nas Gerais (UFMG) e da Escola Superior de Ciências da Saú- de do Distrito Federal (ESCS). Os participantes foram escolhi- dos de acordo com a expertise dos professores e a localiza- ção geográfica. A pesquisadora explica que, além do estudo quantitativo, no qual serão utilizados dados do sistema de informação do Minis- tério da Saúde, serão realizadas visitas em cidades que recebe- ram o Programa. “Queremos avaliar se o número de médicos cobre o deficit dos municípios e se a interação médico/popula- ção é efetiva”, observa. O trabalho será in loco em 32 municípios brasileiros. Os espe- cialistas serão responsáveis por conduzir entrevistas com gesto- res e profissionais da área da saúde. “Queremos saber como esses médicos estão se inte- grando nas unidades e se modi- ficaram a situação da saúde na região”, diz a professora da UnB. A coordenadora acrescenta que serão verificadas ainda as con- dições de trabalho dos profissio- nais e se as unidades de saúde estão equipadas. Para a efetividade do traba- lho, durante os três anos ocorre- rão três visitas nos municípios selecionados. Até o momento, já foram selecionados 12 municí- pios na região Norte e 14 no Nordeste, regiões que recebe- ram o maior número de médicos pelo programa. “Serão realiza- das visitas anualmente durante o tempo da pesquisa. Na oca- sião, os médicos e a população serão entrevistados e relatarão as dificuldades encontradas”, informa Leonor Pacheco. Para um controle efetivo, serão emiti- dos relatórios semestrais ao Mi- nistério da Saúde e à imprensa. O estudo conta com recursos de R$ 930 mil do Conselho Na- cional de Desenvolvimento Ci- entífico e Tecnológico (CNPq), provenientes da chamada pú- blica nº 41/2013, destinada a apoiar projetos de pesquisa cien- tífica e tecnológica voltados à área de políticas de saúde, que contribuam com a produção de conhecimento para a efetivação do direito universal à saúde. Raios X da saúde no Brasil - O Instituto Nacional de Pesquisa Aplicada (Ipea) revelou, em 2011, que 58,1% da população apontam a falta de médicos como o principal problema do Sistema Único de Saúde (SUS). Dados do Instituto mostram que o Brasil possui apenas 1,8 mé- dico por mil habitantes. Esse índice é menor do que em ou- tros países, como a Argentina (3,2), Portugal e Espanha, am- bos com 4 por mil. Além disso, o país sofre com uma distribuição desigual de médicos nas regi- ões: 22 estados estão abaixo da média nacional. ProgramaMaisMédicos-OPro- grama faz parte de um pacto de melhoria do atendimento aos usuários do SUS, que prevê mais investimentos em infraestrutura dos hospitais e unidades de saú- de, além de levar mais médicos para regiões onde há escassez e ausência de profissionais. Com a convocação de médicos para atuar na atenção básica de mu- nicípios com maior vulnerabili- dade social e Distritos Sanitá- rios Especiais Indígenas (DSEI), o governo federal garantirá mais médicos para o Brasil. A iniciati- va prevê também a expansão do número de vagas de medicina e de residência médica, além do aprimoramento da formação médica no Brasil. Em 2014, a verba do progra- ma será de R$ 1,9 bilhão. No exercício passado, quando foi implementado o programa, o Ministério da Saúde era o único executor dos recursos repassa- dos para o Mais Médicos. Em 2014, os Ministérios da Educa- ção e Defesa também foram con- templados com verba para inici- ativas do programa. Dos quase R$ 2 bilhões orçados, R$ 1,5 bilhão está sob a responsabili- dade da Saúde, R$ 359,5 mi- lhões da Educação e R$ 28,6 milhões da Defesa. Leonor Santos avalia se programa governamental cumprirá metas UnB Nordeste ganha primeiro Instituto de Medicina Tropical Objetivo da instituição é estu- dar e pesquisar doenças negli- genciadas presentes na região O primeiro Instituto de Medi- cina Tropical (IMT) do Nordeste foi inaugurado no mês passado (21/02) pela Universidade Fe- deral do Rio Grande do Norte (UFRN). O objetivo é estudar e pesquisar doenças endêmicas infecciosas e infectocontagio- sas, características de clima tro- pical, cuja incidência no século XXI representa um atraso em saúde no país, afirmou a diretora do IMT, a professora Selma Jerônimo. Selma acredita que o IMT contribuirá para melhorar a ca- pacidade diagnóstica e desen- volver vacinas em âmbito re- gional. Ela acrescentou que so- luções para leishmaniose, do- ença de Chagas e hanseníase, entre outras presentes nas po- pulações menos favorecidas do Nordeste brasileiro, pode- rão advir de investigação de causa e produção de medica- mentos através de parcerias entre a UFRN, instituições de pesquisa norte-americanas, a Coordenação de Aperfeiçoa- mento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e governo do Rio Grande do Norte. Os investimentos de R$ 2,2 milhões aplicados no desen- volvimento do Instituto foram financiados por órgãos como a Financiadora de Estudos e Pro- jetos (Finep/CT-Intra), Progra- ma de Apoio a Planos de Rees- truturação e Expansão das Uni- versidades Federais (Reuni), o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Doenças Tropi- cais (INCT-DT), do National Institute of Health (EUA), e Con- selho Nacional de Desenvolvi- mento Científico e Tecnológico (CNPq). Hoje, na UFRN, as pesquisas sobre doenças negligenciadas são realizadas por um grupo de pesquisadores da própria uni- versidade, em uma estrutura “de- ficitária”. Agora, esses pesqui- sadores irão trabalhar direta- mente no IMT. Impacto da pós-graduação na ciência - Participaram da inau- guração do IMT, dentre outras personalidades, o vice-presi- dente da Capes, Lívio Amaral, e a presidente da Sociedade Bra- sileira para o Progresso da Ciên- cia (SBPC), Helena Nader. Am- bos integraram a mesa-redon- da intitulada “O impacto da pós- graduação no desenvolvimen- to científico brasileiro” – realiza- da em meio à inauguração do IMT – sob a coordenação da reitora da UFRN, Ângela Maria Paiva Cruz.
  • 8. JORNAL da CIÊNCIA 14 de Março de 2014Página 8 Museus e centros de Ciência e Tecnologia pedem socorro Espaços fechados e falta de investimento colocam em cheque a atual política de democratização da ciência Edna Ferreira e Viviane Monteiro Os museus de ciência brasilei- ros vivem hoje um momento com muitas contradições e incertezas. Apesar de a política de democra- tização da ciência ter esses es- paços como foco principal, con- solidar essas instituições está sendo um grande desafio. Tanto que alguns centros importantes estão fechando: a Estação Ciên- cia/USP, que foi inaugurada em 1987 e atendia mais de 400 mil pessoas, e o Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia, aberto em 1979, e um dos mais antigos do país. Afinal, que política de demo- cratização é essa que não conse- gue manter os centros e museus de ciência funcionando? ParaCarlosWagnerCostaAra- újo, presidente da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC) e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco - Univasf, essa situação é terrível. "Quando os espaços estão funcionando bem, com atendimento e sucesso de público, vem a 'magia' da gestão e da política para mudar tudo, com reformas e transferência de pes- soal qualificado e fechamento. Nesse sentido, os cadeados e mordaças surgem com muita fa- cilidade dos gestores", analisa Araújo. Ainda segundo ele, o número de espaços científicos e culturais vem crescendo, no en- tanto cresce de forma desigual e desproporcional. O Ministério da Ciência, Tec- nologia e Inovação - MCTI criou o Departamento de Popularização da Ciência, em 2004. Durante uma década, projetos e ações de todas as partes do Brasil foram fomentados por editais do CNPq. Mas, de acordo com Araújo, o país é muito grande e necessita de muito investimento na área. "Os centros e museus de ciência são parte de um processo educacio- nal brasileiro que já esteve muito ruim e excludente. O país possui 5.564 municípios, onde o interior está esquecido. Tenho a certeza de que pelo país a fora há mais projetos de shoppings, do que de centros e museus de ciência. Pre- cisamos inverter essa lógica", afir- ma o presidente da ABCMC. De acordo com Araújo, hoje o Brasil tem competência para pensar, elaborar e construir seus próprios espaços científicos e culturais com exposições que valorizem a ciência e a cultura nacional. "Os museus de ciência devem estar antenados e saber fazer e apresentar a natureza, para que o público interprete de forma crítica", opina. Ele tam- bém espera mais investimentos para os museus universitários, que em sua opinião são ambien- tes nos institutos de pesquisa e Antes do abandono, Museu de C&T da Bahia era visitado por crianças Internet nas universidades que guardam e conservam a memória da ciên- cia e tecnologia brasileira e que precisam ser mapeados. "A ABCMC já alertou o governo sobre essa problemática. Esta- mos aguardando soluções mais concretas", afirma Araújo. Bons exemplos - Em 2014, o Espaço Ciência, um dos maiores museus de ciência no país, está completando 20 anos. Os res- ponsáveis pelo espaço comemo- ram o fato dele ter recebido cerca de 2 milhões de visitantes neste período – em 2013 foram 160 mil visitantes. Para Antonio Carlos Pavão, Diretor do Espaço Ciên- cia (há quase 20 anos) e profes- sor de Química na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o sucesso desse espaço é uma clara demonstração de que a "política de democratização da ciência pelos museus está fun- cionando", pelo menos em Per- nambuco. "Isto não significa di- zer que não precisa ser incre- mentada, pelo contrário: o Espa- ço Ciência é um exemplo de que precisamos ampliar o número destes espaços de divulgação científica", afirma Pavão. Da atual política do MCTI, o diretor do Espaço Ciência des- taca os editais, mas que ele ainda considera "muito poucos e de pouca monta". "É necessá- rio desenvolver uma política mais permanente e mais ex- pressiva de apoio tanto aos museus existentes como para a implantação de novos pelo país. Acho que deveria ter um museu em cada esquina. O ideal seria transformar as igrejas e tem- plos religiosos em museus de ciência", sugere Pavão. Ainda segundo ele, os museus e cen- tros de C&T brasileiros são bons, mas são poucos. "Já tivemos melhores safras", resume. Mas, mesmo diante desse quadro negativo, o presidente da ABCMC, Carlos Wagner Ara- újo também aponta outros bons exemplos e pessoas que estão persistindo no sonho de novos espaços. "Um exemplo de su- cesso de público são os projetos Ciência Móvel, que não fica "imó- vel", a maioria percorre e movi- menta várias cidades. Espaços como o do Museu de Ciência de Brasília, em fase de projeto, o Museu da Amazônia - MUSA, que já funciona em Manaus. E, ainda em 2014, teremos a inau- guração do Espaço Ciência e Cultura da Universidade Fede- ral do Vale do São Francisco - Univasf, instituição onde sou pro- fessor", comemora Araújo. Outro projeto que anima o pre- sidente da ABCMC é a organiza- ção de um novo catálogo da ins- tituição, que será apresentado durante a 66ª Reunião Anual da SBPC, a ser realizada na Univer- sidade Federal do Acre, em Rio Branco. A publicação está sendo organizada por membros da ABCMC, Museu da Vida/Fiocruz e Casa da Ciência/UFRJ. "Atual- mente, nosso catálogo possui mais de 200 espaços dedicados a popularizar a ciência que são: centros e museus de ciência, pla- netários, parques zoobotânicos. Nesse novo catálogo teremos uma radiografia com informações dos espaços", conta Araújo. Em decadência, Museu de C&T da Bahia deve ser revitalizado em 2014 - Diante da pressão da comunidade científica local, o Museu de Ciência e Tecnologia (C&T) da Bahia, em decadência desde a década de 1990, deve ser reformado ainda este ano, embora a Universidade do Esta- do da Bahia (Uneb), sua antiga gestora, permaneça transferin- do setores administrativos para o espaço baiano de populariza- ção da ciência. Nelson Pretto, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e secretário regional da Sociedade Brasileira para o Pro- gresso da Ciência (SBPC) de Salvador, espera que o museu seja revitalizado na nova gestão da Secretaria de Ciência e Tec- nologia e Inovação (Secti), que já tornou público o quanto de desa- fio existe na intenção de reformar o museu. Inclusive, mantê-lo em seu endereço original. A verba canalizada para reforma do mu- seu este ano é estimada em cer- ca de R$ 2 milhões, adiantou o diretor de Tecnologia para o De- senvolvimento Socioambiental da Secti-BA, Ernesto Carvalho. Fundado em 1979, pelo en- tão governador Roberto Santos, ex-reitor da UFBA, o Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia foi o primeiro, dessa categoria, a ser erguido na América Latina. Alocado em um dos mais belos cartões-portais de Salvador, no Parque de Pituaçú, a maior re- serva ecológica da cidade, che- gou a ser um dos museus mais famosos do Brasil, nos anos de 1980. Entrou, porém em deca- dência nos governos seguintes, sob alegação de que o espaço de popularização da ciência de Salvador demandava investi- mentos constantemente. Com isso, o empreendimen- to passou aos cuidados da Uni- versidade do Estado da Bahia (Uneb) que o manteve "a duras penas" por algum período, e com o passar do tempo passou a implementar setores administra- tivos no local, conforme relata o secretário regional da SBPC de Salvador. Da Uneb para Secti-BA - Hoje o museu encontra-se em proces- so de transição. Em agosto de 2013, o atual governo da Bahia o transferiu para as mãos da Secti-BA, pelo Decreto Nº 14.719. Entretanto, o primeiro sinal dado pela gestão anterior da Secretaria foi o de tirar o mu- seu do endereço original, o que desencadeou uma manifesta- ção contrária por parte da comu- nidade científica local e de asso- ciações de museus. EmboraaatualgestãodaSecti- BA assegure que o museu será reativado e mantido em seu ende- reço original, Nelson Pretto disse estar preocupado com a decisão da Uneb de permanecer transfe- rindo para o museu novos setores administrativos, mesmo depois da publicação do decreto. "Isso, seguramente, dificulta- ria mais ainda a reativação do museu (e em seu endereço origi- nal)", explica o secretário regional da SBPC, em Salvador. Procura- da pelo Jornal da Ciência, a reito- ria da Uneb não foi encontrada, até por que as atividades da uni- versidade estão paralisadas.
  • 9. JORNAL da CIÊNCIA14 de Março de 2014 Página 9 Estudossobreosimpactosda degradaçãodoCerradoedoPantanal Publicação traz pesquisas sobre dois biomas brasileiros Camila Cotta O Centro-Oeste é a 2ª maior região do Brasil em superfície territorial e abrange dois impor- tantes biomas: Cerrado e Panta- nal. Por suas vastas áreas territoriais e extensões aquáti- cas, ambas as savanas possuem um rico patrimônio de recursos naturais e biodiversidades, com diversas espécies nativas e inú- meros micro-organismos, com potenciais para indústrias farma- cêuticas, de alimentos e cosmé- ticos, de biocombustíveis, entre outros. No entanto, esses biomas encontram-se em estado de de- gradação, resultado de políticas econômicas não sustentáveis. Para evitar que a ameaça de conservação torne-se ainda mais crítica, a Rede Centro-Oeste de Pós-graduação, Pesquisa e Ino- vação (Rede Pró Centro-Oeste) lançou um livro para divulgar as 101 pesquisas desenvolvidas no Distrito Federal, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul. A publicação – Construindo o futu- ro das novas gerações – explica o contexto, os impactos e as pers- pectivas dos trabalhos, que se- guem três linhas de estudos: ciên- cia, tecnologia e inovação para a sustentabilidade da região; bioe- conomia e conservação dos re- cursos naturais; e desenvolvi- mento de produtos, processos e serviços biotecnológicos. De acordo com o superinten- dente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) entidade que faz parte da Rede Pró-Centro-Oeste, pro- fessor Paulo Henrique Alves Guimarães, as pesquisas abran- gem áreas que causam impactos na sociedade, como o trabalho de melhoramento genético, de- senvolvimento de novos fárma- cos, desenvolvimento de produ- tos para nutrição animal, entre outros. O professor acrescenta que os estudos visam gerar re- sultados benéficos para a forma- ção de recursos humanos e pro- dução do conhecimento científi- co, tecnológico e de inovação. Dentre as pesquisas publica- das, estão em destaque os estu- dos sobre as peçonhas de ani- maisdaRegiãoCentro-Oeste,que visam identificar os acidentes com animais peçonhentos; o desen- volvimento de novas ferramentas farmacológicas e novas drogas (bioprodutos); implantação de uma plataforma tecnológica para a produção de biofármacos no Centro-Oeste; terapêutica para o tratamento do diabetes tipo 2. O livro pode ser encontrado em sua versão on-line no link: h t t p : / / i s s u u . c o m / produtoranaturezaemfoco/docs/ l i v r o _ r e d e _ p r o _ c e n t r o - oeste_issuuu. Para obter a có- pia impressa é preciso solicitar a obra na página da Secretaria da Rede Pró-Centro-Oeste: http:// redeprocentrooeste.org.br. Rede Pró-Centro-Oeste - A Rede Centro-Oeste de Pós-gra- duação, Pesquisa e Inovação foi criada em 2009 com o objetivo de fortalecer e consolidar a for- mação de recursos humanos, produção de conhecimento ci- entífico, tecnológico e inovação que contribuam para o desen- volvimento sustentável da Re- gião Centro-Oeste. Ela tem como foco a conservação e o uso sus- tentável dos recursos naturais do Cerrado e Pantanal. Para o professor, a Rede per- mite aos pesquisadores de insti- tuições de ensino e de pesquisa que troquem informações e com- partilhem laboratórios e experiên- cias. “A intenção é que a Rede ajude na execução de pesquisas, pois, muitas vezes se tem material de campo, mas não se tem equi- pamentos para análise”, ressalta. Paulo Henrique acrescenta que a Rede também ajuda na formação de estudantes, com a oportunidade de interagir com pesquisadores de diferentes á- reas, bem como conhecer dife- rentes realidades. “A Rede Pró- Centro-Oeste dá a oportunida- de para que as instituições de pesquisa possam ter padrão de pesquisa e de resultados seme- lhantes aos das regiões Sudes- te e Sul, onde há inclusive a participação maior de empresas interagindo com os institutos de pesquisa”, frisa. Atualmente a Rede conta com 16 grupos de pesquisa, 101 pro- jetos, 208 colaboradores, entre eles 70 mestrandos, 36 douto- randos, 16 pós-doutorandos, 63 estudantes de iniciação científi- ca e 23 pesquisadores de insti- tuições de ensino e pesquisa do Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul; além de secretarias de ciência, tecnologia e inovação e funda- ções de amparo à pesquisa de todos os estados. Paulo Henrique Alves Guimarães Foto:FAPDF O Centro de Investigações e Estudo Superior de Antropolo- gia Social (Ciesas) do México lançou no dia 11 de março a Biblioteca de Antropologia e Ciências Sociais Brasil-México, no Centro Cultural Brasil – Méxi- co (CCBM), situado na Embai- xada do Brasil. Os primeiros livros do acer- vo da biblioteca serão de três brasileiros. Otávio Velho, an- tropólogo da Universidade Fe- deral do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-diretor da Sociedade Bra- sileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A obra é intitulada Capitalismo autori- tário y campesinado. Un estudio comparativo a partir de la frontera em movimiento, com introdução de Pablo Seman. Outro título, La utopia urba- na. Un estudio de Antropología Social, assinado por Gilberto Velho (1945 a abril de 2012), irmão de Otávio Velho. A intro- Centro mexicano de antropologia lançabibliotecaBrasil-México Um dos títulos é de Otávio Velho, antropólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-diretor da SBPC dução dessa obra é realizada por Claudia C. e Zamorano Villarreal. Por último, a obra El índio y el mundo de los blancos. Una interpretación sociológica de la situación de los tukuna, realiza- da por Roberto Cardoso de Oli- veira, com introdução de Miguel Alberto Bartolomé. (Jornal da Ciência) Um livro será de Otávio Velho Foto:Internet SBPC Jovem convida para uma viagemaomundodoconhecimento A programação está articulada com o tema central da 66ª RA da SBPC: Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras Em 2014, a SPBC Jovem chega a sua 17ª Edição, reno- vando o convite para uma via- gem ao mundo do conhecimen- to. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Universidade Federal do Acre (Ufac) e o governo do estado do Acre apostam na força jo- vem para a garantia de um fu- turo melhor a partir da pesqui- sa, da troca de experiências, da criatividade e da inovação. A programação da SBPC Jo- vem está articulada com o tema central da 66ª Reunião Anual da SBPC: “Ciência e Tecnolo- gia em uma Amazônia sem Fron- teiras”, criando um espaço con- vidativo e possibilitando um encontro desafiador entre o jo- vem e a ciência em plena Ama- zônia. Entidades científicas, ór- gãos governamentais e associ- ações estarão juntos nesse grande evento. A SBPC Jovem traz uma pro- gramação diversificada, com atividades apresentadas de for- ma lúdica e criativa, que certa- mente irão despertar o interes- se do público infanto-juvenil pela ciência e tecnologia, como também atrair as famílias e a sociedade em geral. A SBPC Jovem inclui a SBPC Mirim, um espaço destinado exclusiva- mente às crianças, organizado pela Secretaria Municipal de Educação. Entre as atividades que se- rão oferecidas estão oficinas destinadas a estudantes e pro- fessores do ensino básico, com duração de duas horas ou qua- tro horas, unindo teoria e prá- tica; salas temáticas: espaços de livre circulação do público durante todo o evento; Feira SBPC Jovem, com apresenta- ção de 30 trabalhos científicos de estudantes e professores do ensino básico de todo o Brasil; Papo com jovens cien- tistas, espaço para conversa informal com jovens que são destaque em diferentes áreas do conhecimento, com relato de seu cotidiano, suas expe- riências e projetos itinerantes que incluem exposição Agên- cia Espacial Brasileira (AEB) na Escola, participação do Cir- co da Ciência, da Associação Brasileira dos Centros e Mu- seus de Ciência (ABCMC), Museu com atividades e expe- rimentos interativos. Para mais informações so- bre a SPBC Jovem envie email: sbpcjovem2014@gmail.com. (Ascom Ufac)
  • 10. JORNAL da CIÊNCIA 14 de Março de 2014Página 10 Bagagens de passageiros internacionais contêm agentes infecciosos prejudiciais à saúde e agropecuária Pesquisa da UnB avalia riscos de entrada de doenças no país por produtos de origem animal e vegetal sem certificação sanitária Camila Cotta Juliana Castilho, 36 anos, ad- ministradora de empresas, aca- ba de chegar ao Brasil após passar 15 dias viajando pela Europa. Na sua mala trouxe vá- rios presentes, entre eles um queijo português. Ao parar na alfândega do Aeroporto Inter- nacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, ficou surpresa ao saber que não poderia ingres- sar no País com o laticínio que trazia na bagagem. “Sabia que eu não podia levar alimentos do Brasil para outros países, mas o contrário eu não imaginava, ain- da mais que comprei no free shop”, afirma. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas- tecimento (Mapa), o desconhe- cimento sobre o que pode ou não ser trazido na mala ou na bagagem de mão é a principal justificativa dos turistas que che- gam por aqui e têm suas com- pras apreendidas. O órgão in- forma que panfletos estão em vários locais dos aeroportos ex- plicando as normativas, além de um espaço no site para tirar as dúvidas. Para trazer um determinado queijo para o Brasil é preciso antes pedir uma certificação ao Ministério da Agricultura decla- rando o tipo de queijo, marca e quantidade. Depois, ao voltar ao Brasil, deve apresentar a certifi- cação na inspeção das malas. Todos os alimentos importados vendidos no país passam por este processo de controle. A au- torização deve ser solicitada pelo menos um mês antes da viagem, em postos da Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) em todos os estados. Além dos derivados de leite, na lista de produtos que não podem ser trazidos na bagagem sem uma licença especial estão alimentos de origem animal, plantas, frutas, vegetais, semen- tes, carnes e até a comida servi- da no avião. Mas, por que os turistas não podem trazer os produtos cita- dos acima? A explicação faz parte da pesquisa coordenada pelo professor Cristiano Barros de Melo, da Faculdade de Agro- nomia e Medicina Veterinária (FAV) da Universidade de Bra- sília (UnB). O trabalho, realiza- do durante cinco anos, é intitulado Avaliação do Risco da Entrada de Doenças Infeccio- sas através do Transporte de Produtos de Origem Animal em Bagagens de Passageiros Pro- cedentes do Exterior. Especialista em doenças transmitidas por vírus, bactérias, fungos e parasitas, o professor observa que a entrada de produ- tos de origem animal e vegetal em território brasileiro, sem certi- ficação sanitária internacional, pode ocasionar a disseminação de doenças, afetando a saúde pública e animal, com impacto social e econômico para o Brasil. “Nosso país é um dos mais impor- tantes na área da agropecuária e precisaseproteger.Somosoprin- cipal exportador de carne de fran- go do mundo. Uma doença em nossos animais impediria essa comercialização e traria prejuí- zos enormes”, alerta Cristiano. O professor acrescenta que um vírus, por exemplo, de uma gripe, pode matar muitos brasi- leiros. “Nós não temos a mesma imunidade de outras popula- ções. Um simples resfriado na Espanha pode chegar aqui e matar milhares de pessoas, pois não temos a resistência dos moradores de lá”, frisa. Pesquisa - Para a realização do estudo foram interceptados ao longo de cinco anos 132 voos internacionais em quatro dos maiores aeroportos internacio- nais do país: Guarulhos (SP), Galeão (RJ), Confins (MG) e de Brasília (DF), entre 2009 e 2013. Guarulhos e Galeão são os dois aeroportos internacionais, dos 27 existentes, que representam 85% da entrada de turistas que vêm do exterior. Brasília é o cen- tro do poder e, Minas Gerais, possui o maior polo de laticínio do país. O resultado foi a identificação de 23 agentes infecciosos. “Nós descobrimos que é um proble- ma sério que o Brasil precisa enfrentar. Foram 60 toneladas de produtos apreendidos e leva- dos para um laboratório de biossegurança para serem ana- lisados”, diz. Os resultados do estudo vão ajudar o Brasil a enfrentar os grandes eventos esportivos – Copa do Mundo e Olimpíadas. “Temos que estar preparados para a chegada de turistas do mundo inteiro e, consequente- mente, para as irregularidades nas bagagens. Assim estaremos protegendo a população de agentes infecciosos e uma pos- sível catástrofe e ação terroris- ta”, alerta. O estudo, realizado com recur- sos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec- nológico (CNPq), conta com a parceria do Mapa. A coleta do material apreendido foi feita com apoio do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro), Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e Receita Federal. Os produtos coletados foram anali- sados microbiologicamente no Laboratório Nacional Agropecuá- rio de Minas Gerais (Lanagro), vinculado ao Ministério. Projeto de Lei - Um PL está tra- mitando no Ministério da Agri- cultura e deve transitar para a Casa Civil. O documento prevê a deportação, multa e prisão de passageiros que desobedece- rem a lei. “Precisamos correr com isso. Com os grandes even- tos, o trânsito aeroportuário do Brasil vai mudar. Cerca de 80 mil voos serão alterados. Qua- se 2 mil voos a mais entre junho e julho no período da Copa”, relata o especialista. Copa do Mundo de 1978 - Para mostrar a extensão do proble- ma, o especialista cita como exemplo o episódio ocorrido no país há 35 anos. Um vírus foi disseminado no Rio de Janeiro a partir do Aeroporto Internacio- nal do Galeão, recém-inaugura- do. “Em 1978, ano de Copa do Mundo na Argentina, entrou no Brasil a peste suína africana atra- vés de resto de comida de bordo de aviões procedentes de Por- tugal e Espanha”, conta. Os ali- mentos, que deveriam ser des- truídos no aeroporto, foram le- vados por um funcionário para alimentar sua criação de por- cos. Quando os animais adoe- ceram, o funcionário do aero- porto vendeu-os em uma favela do Rio de Janeiro. Foram necessários seis anos para erradicar a doença. “O Mi- nistério da Agricultura, de 1978 a 1984, teve que comprar todos os porcos da favela do Rio de Janeiro. O Brasil gastou mais de R$ 60 milhões para erradicar a peste suína africana”, lembra o professor da UnB. Cristiano alerta contra doençasFoto:AscomUnB
  • 11. Agenda científicaAgenda científica JORNAL da CIÊNCIA14 de Março de 2014 Página 11 BrevesBreves Livros & RevistasLivros & Revistas Tome Ciência Exibido em diversas emissoras com variadas alternativas de horários, o programa promove debates sobre temas da atualidade com cientistas de diferentes especialidades. Horários e emissoras podem ser conferidos na página www.tomeciencia.com.br. A seguir, alguns dos próximos temas: China, parceira do futuro - De 15 a 21 de março - Especialistas debatem sobre a China como hoje um dos principais parceiros tecno- lógicos do Brasil. Devem participar do encontro José Raimundo Braga Coelho, físico com mestrado em matemática, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB); o historiador Severino Bezerra Cabral Filho, diretor presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de China e Ásia- Pacífico; e o físico Fernando Lázaro Freire Junior, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Diabetes: causas e consequências - De 22 a 28 de março - Especialistas comentam a tendência de alta do diabetes no Brasil, doença que, segundo pesquisas, atinge 5,6% dos brasileiros. Afinal, o que a ciência já sabe sobre diabetes? Esse e outros assuntos serão discutidos pela médica Lenita Zajdenverg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes; e a médica Flávia Lucia Conceição, da diretoria da regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, dentre outros. Encontroscientíficos Fórum Nacional do Consecti - De 20 a 21 de março - O Fórum do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para assuntos de Ciência e Tecnologia (Consecti) será realizado em Cuiabá (MT), no Palácio do Governo. Estarão presentes cientistas, especialistas, dirigentes de instituições, além do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB) - Pela primeira vez, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) sediará o evento científico, um dos maiores da área na América Latina. Aconte- ceráde13a17deoutubro,comotemacentral"AEngenhariaBiomédica como propulsora de desenvolvimento e inovação tecnológica em saúde". As inscrições deverão ser feitas a partir do dia 3 de março no site http://cbeb.org.br 2d International Congress Of Science Education, 15 Years Of The Journal Of Science Education - O congresso será realizado em Foz do Iguaçu, Paraná, de 27 a 30 de agosto de 2014.Organizado pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Fun- dação Parque Tecnológico Itaipu e Journal of Science Education.O escopo do Congresso abrange ensino de ciências (biologia, física, química) e matemática em nível de educação básica e superior. Contato: congresso.icse2014@unila.edu.br Qualificação Bolsa para pós doutorado em Biologia Molecular - Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo tem quatro oportunidades de bolsa de pós-doutorado. Inscrições é 30 de abril pelo site www.fapesp.br/oportunidades/561. Duke Human Vaccine Institute - Duas vagas para pós-docs para os laboratórios de imunorregulação em células B e análise de repertório em células B. Os interessados precisam ter graduação em Medicina ou doutorado em Imunologia ou Microbiologia. Veja os requisitos completos em goo.gl/XzOAjo [em inglês]. Propostas até 30 de abril. Concursos Programa de Oncobiologia da UFRJ - O Programa Interinstitucio- nal de Ensino, Pesquisa e Extensão em Biologia do Câncer do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ, está com três editais abertos voltados a pesquisadores. Informações: www.oncobiologia.bioqmed.ufrj.br/oportunidades_editais.asp Livre-docência na Unicamp - Inscrições abertas para concursos de obtenção do título de livre-docente nas áreas de: projeto mecânico, processamento de imagens e obstetrícia. Informações: www.sg. unicamp.br/dca/concursos/abertos/obtencao-do-titulo-de-livre-docente Concurso para professor efetivo - A Universidade Federal do Ceará busca professor do magistério superior para o novo Campus de Russas. São oferecidas oito vagas, nas áreas de Computação e Engenharia de Produção Mecânica. Inscrições: www.progep.ufc.br. Mutação – Pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz informa que uma mutação do vírus da hepatite C (HCV) pode estar ligada ao sur- gimento de câncer de fígado em pacientes brasileiros. O estudo, publicado em fevereiro no Journal of Medical Virology, aponta para a descoberta de um marcador precoce desse tipo de câncer em pessoas com hepati- te viral crônica. O biólogo Oscar Rafael Carmo Araújo, que de- fendeu dissertação de mestrado sobre o tema, analisou amostras de sangue de 106 pacientes infectados pelo HCV. Camada de ozônio – Pesquisa- dores britânicos identificaram quatro novos gases que estão contribuindo para o buraco da camada de ozônio. Os três clorofluorcarbonetos (CFCs) e o hidrofluorocarboneto (HCF) es- tão atuando na atmosfera há cerca de 50 anos, mas a fonte de suas emissões ainda é desco- nhecida. Mais de 74 mil tonela- das dos quatro gases recém- descobertos já foram emitidos na atmosfera, segundo um arti- go assinado por cientistas da Universidade de East Anglia (UEA) e publicado na revista Nature Geoscience. Prevenção do Alzheimer - Um novo exame de sangue capaz de prever com precisão o apare- cimento da doença de Alzheimer foi desenvolvido por pesquisa- dores da Universidade de Georgetown, em Washington D.C, informou a BBC News. Eles mostraram que testes do nível de 10 gorduras no sangue per- mitiria detectar – com 90% de precisão – o risco de uma pes- soa desenvolver a doença nos próximos três anos. Os resulta- dos, publicados na revista Nature Medicine, agora passarão por testes clínicos maiores. Novidade na Física - Apresen- tador de um programa de Ciên- cias na Inglaterra, Steve Mould, que possui mestrado em Física pela Universidade de Oxford, parece ser o descobridor da fon- te de corrente, que ele demons- trou em um vídeo espantoso publicado online. No clipe, ele puxa a ponta de uma comprida corrente de esferas de dentro de uma jarra de vidro. Quando solta a ponta, a corrente continua se derramando para fora do vidro por conta própria, como água ou gasolina sendo extraída de um tanque. O fenômeno foi interpre- tado como uma novidade pelos físicos John Biggins e Mark Warner de Cambridge. A Difícil Gestão da Pesquisa: institutos públicos de pesquisa ou meros aglomerados de gru- pos de pesquisa? O caso do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) - Com base em sua dissertação de mestrado defendida em 1994, o pesquisa- dor do Inpa/MCTI, Peter Weigel lançou, a publicação, que abor- da questões baseadas em suas experiências como gestor no Instituto. Com atuação no institu- to desde 1978, o pesquisador viu a necessidade de fazer uma análise e sugerir alternativas para que a gestão pudesse ten- tar induzir uma maior conver- gência entre o interesse dos pesquisadores e as demandas da economia e da sociedade da região. Editora da Universidade Federal do Amazonas (Edua). Cientistas Fluminenses – Cole- tânea de dez livros financiada pela Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Esta- do do Rio (Faperj). A organiza- ção da obra é de Ana Lucia Aze- vedo, Máximo Masson, Renato Casimiro. O levantamento con- sultou especialistas de diversas áreas até chegar aos nomes homenageados. Os dez eleitos são pessoas que deram contri- buições à ciência e à humanida- de, são eles: Anísio Teixeira, Carlos Chagas Filho, Carlos Chagas, Cesar Lattes, Johanna Döbereiner, José Leite Lopes, Nise da Silveira, Oswaldo Cruz, Edgar Roquette-Pinto, Vital Brazil. Editora: EdUERJ. Dicionário da Política Republica- na do Rio de Janeiro – A obra faz parte do trabalho que vem sendo desenvolvido no Centro de Pes- quisa e Documentação de Histó- ria Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas. A pu- blicação teve como coordenado- ras Alzira Alves de Abreu e Christiane Jalles de Paula. O objetivo do dicionário é colocar ao alcance da sociedade um painel informativo sobre a histó- ria política, econômica e cultural do estado e da cidade do Rio de Janeiro. Editora: Editora da FGV. Insetos do Brasil – O livro conta com 71 autores que, em 43 capí- tulos (810 páginas e 1.769 figu- ras), falam sobre as 30 ordens de insetos encontradas no Bra- sil. A obra contou com financia- mento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fun- dação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas. (Fapeam). A primeira edição do livro é um volume único e recebeu o prê- mio Alexandre Rodrigues Fer- reira, que é concedido pela So- ciedade Brasileira de Zoologia. Editora Holos.
  • 12. JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃODASBPC • 14DEMARÇODE2014 • ANOXXVIIINº754 Viviane Monteiro Uma perda irreparável para a Ciência. Essa é a avaliação de cientistas sobre a morte de Darcy Fontoura Almeida (83 anos), ge- neticista, biofísico, e um dos fun- dadores da revista Ciência Hoje e do Jornal da Ciência. Filho de imigrantes portugue- ses, era professor aposentado do Instituto de Biofísica da Uni- versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se gra- duou no curso de medicina e posteriormente passou a atuar como pesquisador visitante. Embora nunca tenha sido pre- sidente da SBPC, seu mérito na ciência rendeu-lhe o título de pre- sidente de honra da instituição. Além de um cientista renomado, Darcy era um defensor de políti- cas para o desenvolvimento da pesquisa e da divulgação científi- ca no Brasil, relatou o jornalista JoséMonserratFilho,queem1995 participou do desenvolvimento do JornaldaCiência,juntamentecom Darcy e outros cientistas como o físico Ennio Candotti, vice-presi- dente da SBPC, e Alberto Passos Guimarães, pesquisador do Cen- tro Brasileiro de Pesquisas Físi- cas (CBPF). “O que Darcy entendia de Ciência, entendia de política”, resumiu Monserrat. “Darcy é um modelo a ser seguido: determi- nado, otimista, afável, amigo e dedicadíssimo ao trabalho.” Emocionado, o físico Ennio Candotti preferiu não se esten- der sobre a perda de Darcy. Li- mitou-se a chamá-lo de “grande amigo e fundamental para a cri- ação da revista Ciência Hoje.” A mesma reação teve o físico do CBPF, Alberto Guimarães que trabalhou com Darcy no desen- volvimento da Ciência Hoje. “Foi uma convivência rica. Era uma pessoa agradável, de humor fino, com capacidade de trabalhar em equipe e que deu uma grande contribuição para a SBPC e a Ciência Hoje.” Em outra frente, o antropólo- go Otávio Velho, que trabalhou com Darcy principalmente por intermédio das atividades da SBPC e da revista Ciência Hoje, destacou o status de Darcy como presidente de honra da SBPC, apesar de nunca exercer de fato a presidência da instituição, o que reflete a atuação significati- va de Darcy na Ciência do Brasil. “Ele foi discípulo, amigo e cola- borador do professor Carlos Cha- gas Filho (filho de Carlos Justinia- no Ribeiro Chagas, que desco- briu o protozoário Trypanosoma cruzi) na biofísica”, disse o antro- pólogo. Dentre outras atribui- ções, Darcy foi também pioneiro na área de bioinformática no Brasil e ajudou a desenvolver algumas áreas do Laboratório Nacional de Computação Cien- tífica (LNCC), no Rio de Janeiro. Marcas no jornalismo - No caso do Jornal da Ciência, a presen- ça de Darcy era marcada pela edição. “Era ele que pegava ´os gatos´ (jargão jornalístico da época para corrigir os erros tipo- gráficos)”, lembra Monserrat. A editora da revista Ciência Hoje, Alicia Ivanissevich, recor- da que quase todos os dias, no fim da tarde, Darcy saía do Insti- tuto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro e apa- recia na redação da revista “para corrigirasprovas”doInforme(Jor- nal da Ciência) ou da revista an- tes de entrarem em gráfica. Se- gundo Alicia, Darcy conseguia como ninguém descobrir os er- ros tipográficos que, como dizia Monteiro Lobato, se escondem e se fazem positivamente invisí- veis, mas, uma vez impressos, “se tornam visibilíssimos, verda- deiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas”. Alicia acrescenta que Darcy e Ennio revezavam-se para escre- ver os editoriais do Informe, sem- pre combativos em defesa do desenvolvimento da pesquisa no Brasil. Eram tempos de formação das primeiras fundações estadu- ais de amparo à pesquisa. Famosos caderninhos - Mon- serrat fez questão de lembrar “dos famosos caderninhos de Darcy”, uma espécie de diário, usados para anotações com lá- pis, especificamente, de todos os acontecimentos científicos, como propostas, ideias, pautas etc. Ou seja, uma relíquia. “É bom resgatar isso.” Darcy Fontoura morreu na madrugada do dia 6 de março. Ele deixa esposa, a jornalista Suely Spiguel, seu segundo casamento. MorreogeneticistaDarcyFontoura Determinação, otimismo e dedicação ao trabalho marcam atu- ação de Darcy na ciência e na divulgação científica brasileira. WalterColliéoganhadordoPrêmio Almirante Álvaro Alberto 2014 Cientista foi agraciado devido aos seus trabalhos na Bioquímica Vivian Costa O vencedor da edição 2014 do Prêmio Álvaro Alberto é o ci- entista Walter Colli, professor ti- tular aposentado da Universida- de de São Paulo (USP), onde ainda atua como Professor Cola- borador Sênior, e um dos direto- res da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O anúncio foi feito no dia 7 de março pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), após Colli ter sido comunicado sobre a escolha pelo ministro da Ciên- cia, Tecnologia e Inovação, Mar- co Antonio Raupp. “Quando re- cebi a ligação do ministro fiquei feliz e, ao mesmo tempo, muito surpreso. Não poderia esperar, já que existem tantos cientistas competentes que merecem a indicação”, disse Colli. Graduado em medicina pela USP (1962), doutor em bioquími- ca pela Faculdade de Medicina e livre-docente pelo Instituto de Química da USP (1971), Colli lembra que começou sua carrei- ra em 1957, quando seu então professor Isaias Raw o convidou para trabalhar no laboratório de Bioquímica da Faculdade de Medicina. “Não parei mais e en- tendo este prêmio como um reco- nhecimento da comunidade por uma vida inteira dedicada à ciên- cia e ao ensino”, comemora. Colli tem experiência na área de Bioquímica e Biologia Molecu- lar, atuando principalmente na área de interação entre o proto- zoário Trypanosoma cruzi e a célula hospedeira, com particular enfoque em glicoconjugados, e ligantes e receptores glicoprotei- cos. “Quando voltei dos Estados Unidos em 1970 eu tentei três opções: seguir a pesquisa que havia começado no exterior, que era o estudo da genética de uma bactéria, estudar o DNA de uma ameba de vida livre e trabalhar com o Trypanosoma cruzi, que é um protozoário flagelado, agente da doença de Chagas. Depois de cinco anos concluí que esta última linha seria mais produtiva. Na época, a Parasitologia era muito descritiva e nós inovamos ao em- preender estudos moleculares, de Biologia Celular e Molecular, com esse parasita”, disse. Formando pesquisadores - Ao descobrir uma nova classe de moléculas e, posteriormente, descrever uma grande família proteica em torno da qual são feitos ainda muitos estudos por muitos grupos de pesquisa, Colli acredita que deu alguma contri- buição à pesquisa científica no Brasil. Ele destaca também a sua contribuição na formação de alunos e pesquisadores e a criação de laboratórios. “Por causa dos estudos originados em meu laboratório, outros pes- quisadores conseguiram avan- çar em muitos outros aspectos. E isso é gratificante”, explica. O vencedor da edição de 2014 foi diretor do Instituto de Química da USP em dois períodos (1986- 1990 e 1994-1998) e do Instituto Butantan (1999). Foi membro do Conselho Deliberativo do CNPq (1989-1991), do Conselho Su- perior da FAPESP (1988-1994) e Presidente da Academia de Ciên- cias do Estado de São Paulo (1999-2006). Foi ainda diretor do Instituto de Relações Internacio- nais da USP e presidente da Co- missão Técnica Nacional de Bi- ossegurança (CTNBio) por 4 anos. Atualmente, é coordena- dor adjunto da Diretoria Científi- ca da Fapesp. É membro da Aca- demia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento. Manteve, desde 1975 e por 25 anos, estreita colaboração com grupos argentinos, tendo recebi- do vários pós-doutores desse país em seu laboratório, motivo pelo qual recebeu o título de dou- tor honoris causa da Universida- de de Buenos Aires. Ao laureado será entregue premiação concedida pela Fun- dação Conrado Wessel, no va- lor de R$ 200 mil, uma viagem em navio de assistência hospi- talar na Amazônia concedida pela Marinha do Brasil, além de diploma e medalha concedidos pelo Conselho Nacional de De- senvolvimento Científico e Tec- nológico (CNPq/MCTI). A ceri- mônia de premiação ocorrerá durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, organiza- da pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em Brasília, no mês de outubro. Colli: contribuição à pesquisa MarciaMinillo Darcy: modelo a ser seguido Foto:AcervoPessoal