O documento discute vários aspectos relacionados à morte, incluindo:
1) As cinco etapas comuns que as pessoas passam ao lidar com a morte própria ou de entes queridos (negação, raiva, negociação, depressão, aceitação);
2) Como ajudar pessoas nas diferentes etapas do luto;
3) Experiências de quase-morte e a percepção ampliada de si mesmo que algumas pessoas relatam nessas situações.
2. Perguntar-se sobre a morte
A morte é um fenômeno complexo e delicado,
inevitável e temido.
No dia a dia, a morte não existe. As pessoas não
gostam de falar sobre ela.
Fugir da reflexão sobre a morte é negar-se a
pensar sobre a vida. Uma vida sem sentido
desemboca em morte como absurdo.
O que mais nos mobiliza são os mortes trágicas e
incompreensíveis, que interrompem o processo da
vida e comprometem grandes projetos.
A fé não nos poupa da dor da morte, mas lhe dá
um sentido.
3. Saber que o homem é comida para os
vermes. Este é o terror: ter emergido
do nada, ter um nome, consciência do
próprio eu, sentimentos íntimos
profundos, anelo interior pela vida e
auto-expressão e, apesar de tudo isso,
morrer. Que espécie de divindade
criaria tão complexa e extravagante
comida para vermes?(E. Becker)
4. Os estágios da morte
(Conforme Elizabeth Kübler Ross)
Negação- Isolamento
Raiva- Agressividade
Negociação
Depressão
Aceitação
Como ajudar as pessoas em cada etapa?
5. (1) Negação
Quando alguém recebe a notícia de que está com
doença que pode levá-lo à morte, é tomado por
reação de choque. Recusa-se a crer nisto. Tende a se
isolar.
Talvez deseje conversar com alguém. Por vezes,
começa a falar sobre o assunto e não aguenta
continuar.
Nesta fase alternam-se início de aceitação e rejeição.
Coloque-se à sua disposição. Crie as condições para
ele(a) se manifestar, mas não tome a direção da
conversa.
6. (2) Agressividade
Predominam sentimentos de ira, rancor, raiva e
inveja. A pessoa briga com Deus e com o mundo:
Porque logo eu?
Esta fase é muito difícil para quem está próximo
ao doente.
Compreenda que a irritação não é contra você
pessoalmente. As provocações do doente
manifestam seu desespero. Exercite muita
paciência e tolerância.
7. (3) Negociação
A pessoa tenta a todo custo manter-se viva.
Recorre à religião para conseguir a cura. Tende a
receber qualquer coisa para se livrar da morte. Sua
crença é provada.
Os que se curam podem mudar de vida, pois
aprenderam com a experiência. Outros mantém
seus velhos hábitos.
Esteja ao lado da pessoa e ajude-a a discernir qual
tipo de ajuda ela aceitará.
8. (4) Depressão
Advém um sentimento de perda irreparável.
Tudo o que conquistou no passado, como saúde,
reconhecimento profissional e bens, escapa-lhe
das mãos. Nada lhe aparece no horizonte futuro,
senão perdas.
Essa fase depressiva é necessária para a pessoa
aceitar a morte.
Evite de lhe dizer: Não fique triste!. Respeite o
seu direito de ficar desanimado. Esteja ao seu
lado, simplesmente.
9. (5) Aceitação
A pessoa vive momentos de calma, pois consentiu
com sua situação.
O doente em estado terminal necessita de nossa
oração, para que ele se entregue confiadamente
nas mãos de Deus. A presença física também é
importante, pois a eminência da morte causa temor
a todo ser humano.
Volte sua atenção para seus familiares, que vivem
o desespero perante a inevitável perda e
separação. Ajude-os neste difícil momento.
10. Morte e dor da perda
Grande parte das pessoas prova a
morte como perda definitiva. Temos
dificuldade de lidar com perdas na
existência. Só com a maturidade
humana e tempo se supera a
frustração das perdas.
A intensidade da perda está ligada
à natureza do vínculo estabelecido.
Quanto mais intenso, mais difícil o Aqui jaz...
processo de aceitação da morte
A morte faz eclodir sentimentos e
lembranças escondidos, que exigem
integração.
11. Perdas necessárias
Fábio de Melo
Deixa partir o que não te pertence mais Fala pra mim
Deixa seguir o que não poderá voltar Se achares que posso ouvir
Deixa morrer o que a vida já despediu Chora ao teu Deus se não podes
Abra a porta do quarto e a janela compreender
Que o possível da vida te espera Rasga este véu do calvário que te
Vem depressa que a vida precisa continuar envolveu
O que foi já não serve é passado Tão sublime segredo se esconde
E o futuro ainda está do outro lado Nesta dor que escurece o horizonte
Que por hora impedem os teus olhos
E o presente é o presente que o tempo quer te entregar
de contemplarem
Deixa morrer o que a morte já sepultou O eterno presente do tempo
Deixa viver o que dela ressuscitou O ausente o presente em segredo
Não queiras ter o que ainda não pode ser Na sagrada saudade que deixa
É possível crescer nesta hora continuar
Mesmo quando o que amamos foi embora
A saudade eterniza a presença de quem se foi
(Veja o clip no You tube)
Com o tempo esta dor se aquieta
Se transforma em silencio que espera
Pelos braços da vida um dia reencontrar.
12. Viver a perda e o luto
O estado de choque e o sofrimento intenso
no dia da morte.
O vazio após o enterro.
A primeira semana.
O primeiro mês.
Os três primeiros meses.
O primeiro ano.
-> E se o sentimento de perda continua
forte?
13. Experiências no limite da morte
A pessoa se encontra fora de seu corpo.
Aparece-lhe um caloroso espírito de luz.
Sem usar palavras, este lhe pede que
reexamine sua vida, e o ajuda a recapitular
de forma panorâmica e instantânea os
principais acontecimentos de sua vida.
Sucede uma ampliação do horizonte de eu
humano, ligado a um estado de felicidade.
Ainda está na zona de limite da morte. Não
morreu ainda. Por isso, pode voltar.
14. A morte do ponto de vista clínico
Consumação da morte clínica: não se registram mais
ondas celebrais
Morte vital: perda irreversível das funções vitais, sendo
impossível voltar à vida.
As experiências de reanimação da vida situam-se na zona
limite entre a morte clínica e a morte vital. Vivências na
morte (não após a morte).
15. O cristão e a morte
A morte de Cristo inspira a nossa morte:
- Perda e abandono (Mc 15,34)
- Entrega da vida nas mãos de Deus (Lc
23,46)
- Ser acolhido e ressuscitado por Deus (At
2,24).
Oração pelos mortos: grande experiência
de solidariedade na fé, que ultrapassa
limites entre essa e a outra vida.
Martírio: testemunho de dar a vida.
17. A morte: ato da natureza
A vida está penetrada pela
dupla e oposta dinâmica de
conservação e dissolução .
A morte dos seres vivos é
indispensável para o equilíbrio
do meio-ambiente. Se eles
não morressem, o mundo
acabaria por saturação.
A vida humana participa da
finitude de todos os seres
vivos: desgastável,
consumível, reciclável.
18. A morte: fato cultural
Desde os seus primórdios, a humanidade
enfrentou o tema da morte: enquanto o
animal jaz onde morreu, o ser humano
sepulta seus mortos.
- Algumas tribos primitivas: o morto
continua vivo, influenciando a existência
atual.
- No oriente: festa de comunhão e
integração com a natureza, fim da
existência.
- Israel: não há comunicação com os
mortos. Recorda-se sua memória.
- No ocidente, o medo da morte penetra no
cotidiano.
19. A morte na sociedade urbana
- A morte não se dá na família, mas
no hospital. As pessoas não
presenciam o processo de morrer.
De ato público torna-se algo
privado.
- Esconde-se e mascara-se a
morte. Com isso, aumenta-se o
medo.
- Morte coisificada e solitária.
- Continua o substrato tradicional do
medo da morte e da condenação.
20. Morte no contexto sócio-econômico
Cada classe social tem uma forma
de experimentar a morte
- Setores populares: morte
precoce e injusta. Solidariedade na
morte. A religiosidade ajuda a
aceita-la.
- Setores médios: Insuficiência das
respostas tradicionais. Crise diante
da morte. Busca de explicação.
- Ricos: Morte abolida do horizonte
da consciência, para não perturbar
o desejo de prazer sem limites.
21. A morte a partir da fé cristã
Grande fundamento: nosso Deus é
o Deus da Vida, que vence até a
morte.
“Deus faz viver os mortos e chama à
vida as coisas que não existem”
(Rom 4,17)
Cristo é o primeiro ressuscitado, que
abre o caminho para nós (1 Tes
4,13-14; 1 Cor 15,12-18.20-22)
22. Sentidos de “morte” na bíblia
Biológico: fim desta existência. Manifesta
que somos frágeis e a vida passa.
Ético-espiritual:
- O pecado leva o ser humano a assassinar
seu semelhante (Caim)
- Vida e morte significam respectivamente:
ser fiel à aliança com Deus ou ser infiel,
destanciando-se do Senhor da Vida (Dt 30).
23. Com o pecado veio a morte....
Não o final do ciclo biológico da vida. O ser
humano, mesmo se não tivesse pecado,
morreria.
E sim:
- A vida abreviada devido à violência, à
injustiça, às doenças e outros males.
- O apego do ser humano às coisas desta
vida (bens, conquistas, pessoas).
- A negação a Deus, que o leva ao
aniquilamento do sentido da existência.
24. A morte a partir da fé cristã
À Luz da ressurreição, a morte é
a grande passagem para a vida
plena, onde se realizam os
grandes sonhos de felicidade do
ser humano.
Com a morte, se entra no nível
glorificado, junto de Deus. Novo
nascimento, transformação.
25. Para saber mais
Evaldo A. D`ASSUNÇÃO. Sobre o viver e
o morrer. Manual de tanatologia e
biotanatologia para os que partem e
os que ficam. Vozes, 2ª ed, 2010.
Leonardo BOFF, Vida para além da
morte. Vozes, 20ª ed, 2009, p..
Jean-Yves LELOUP e Marie de HENNEZEL.
A arte de morrer. Vozes, 10ª ed, 2009.
John BOWKER. Os sentidos da morte.
Paulus. 1995.