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SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA


DELIMITAÇÃO CRONOLÓGICA
       A lírica camoniana insere-se na chamada época clássica da literatura portuguesa (1526,
        regresso de Sá de Miranda da sua viagem a Itália ± inícios do século XIX).


CONTEXTO POLÍTICO-SOCIAL
Dentro do contexto histórico clássico, devem salientar-se alguns aspectos:
       O período do Renascimento, que introduz a literatura clássica na Europa, é marcado por
        alterações políticas e sociais muito significativas.
       De forma geral, a sociedade agrária feudal foi substituída, progressivamente, por uma
        sociedade mercantil moderna, substituindo-se a burguesia à nobreza como grupo
        impulsionador da actividade económica.
       Assistiu-se a uma série de progressos técnicos e científicos (invenção da imprensa, por
        exemplo). O conhecimento científico foi impulsionado pelos Descobrimentos
        portugueses e espanhóis, pelo contacto com outras civilizações.
       Os novos conhecimentos estendiam a curiosidade e a intervenção do Homem para fora
        dos limites transmitidos pela cultura escolástica medieval e pela tradição religiosa.


INFLUÊNCIAS NA LÍRICA C AMONIANA
          Na lírica camoniana coexiste a poética tradicional e o estilo renascentista.
          Em Luís de Camões, a tradição do lirismo peninsular coexistiu com a estética clássica
renascentista e o maneirismo que marcaram o seu tempo. Juntamente com a poesia de sabor
trovadoresco, surge uma poesia cujos modelos formais e temática (medida nova) revelam a
cultura humanística e clássica do autor, que soube encontrar em Platão, Petrarca ou Dante um
mentor ou um mestre para o caminho que trilhou e explorou com sabedoria, com entusiasmo e
com a paixão do seu temperamento.
          Cantando o amor sublime ou a relação mais fútil, o poeta soube, como poucos, definir-
se e definir a alma humana, oferecendo-nos a sua experiência de vida ou o mundo no seu
desconcerto, com os seus problemas sociais e morais e a eterna questão do mal que aflige a
Humanidade. Os temas da sua lírica são vastos e variados, indo da análise da sua vida interior à
caracterização da realidade do seu tempo ou à busca do dimensionamento do homem universal.
          Na poesia com influência clássica e renascentista, fruto das novas ideias trazidas, de
Itália, por Sá de Miranda e António Ferreira, verifica-se um alargamento dos temas e a colocação
do ser humano no centro de todas as preocupações.



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          Desta fase, merece destaque o tratamento de certos temas: o Amor platónico, a
saudade, o destino, a beleza suprema, a mudança, o desconcerto do mundo, o elogio dos
heróis, os ensinamentos morais, sociais e filosóficos, a mulher vista à luz do petrarquismo e do
dantismo, a sensualidade, a experiência da vida.
          A nível formal, o verso é o da medida nova, com o uso do verso decassílabo heróico
(de acentuação nas 6.ª e 10.ª sílabas) ou sáfico (nas 4.ª, 8.ª e 10.ª), ou ainda, com o uso (menos
frequente) do verso hexassílabo. As formas poéticas mais frequentes são o soneto, a canção, a
sextina, a écloga, a elegia e a ode.
          Na lírica camoniana, a medida nova, ou seja, a poesia que segue os modelos
estéticos renascentistas, surge a par da poesia com sabor trovadoresco dos Cancioneiros
(medida velha).
          Na poesia de influência tradicional, é evidente o aproveitamento da temática da poesia
trovadoresca e das formas palacianas. Assim, encontramos temas tradicionais e populares (o
amor, a saudade, a beleza da mulher, o contacto com a natureza, a ida à fonte...), o ambiente
cortesão com as suas cousas de folgar e as suas futilidades, o humor. A nível formal, o verso é
o da medida velha: com 5 sílabas métricas (redondilha menor) ou com 7 (redondilha maior). As
formas poéticas mais frequentes são as da poesia palaciana do século anterior: os vilancetes, as
cantigas, as esparsas, e as trovas.


CARACTERÍSTICAS DA CORRENTE TRADICIONAL
       As formas poéticas tradicionais: cantigas, vilancetes, esparsas, endechas, trovas...
       Uso da medida velha: redondilha menor e maior.
       Temas tradicionais e populares; a menina que vai à fonte; o verde dos campos e dos
        olhos; o amor simples e natural; a saudade e o sofrimento; a dor e a mágoa; o ambiente
        cortesão com as suas ³cousas de folgar´ e as futilidades; a exaltação da beleza de uma
        mulher de condição servil, de olhos pretos e tez morena (a ³Barbara, escrava´); a
        infelicidade presente e a felicidade passada.


CARACTERÍSTICAS DA CORRENTE RENASCENTISTA
       O estilo novo: soneto, canção, écloga, ode, entre outros.
       Medida nova: decassílabos.
       O amor surge, à maneira petrarquista, como fonte de contradições, entre a vida e a
        morte, a água e o fogo, a esperança e o desengano;



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SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA


          A concepção da mulher, outro tema essencial da lírica camoniana, em íntima ligação
           com a temática amorosa e com o tratamento dado à Natureza (³locus amoenus´), oscila
           igualmente entre o pólo platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior),
           representado pelo modelo de Laura e o modelo renascentista de Vénus.


GLOSSÁRIO
Canção                    Forma poética, de origem provençal, constituída por uma série de estrofes
                          heterométricas e rematadas por uma estrofe mais curta .
Cantigas                  Composição medieval galego-portuguesa. Destinada a ser cantada, a cantiga conjuga
                          as palavras e a música, pelo que nos remete para um contexto em que o poema,
                          enquanto forma literária, não possui autonomia relativamente ao canto e até à dança.
Decassílabo               Nome do verso de dez sílabas métricas.
Dolce Stil Nuovo          Expressão italiana que significa doce estilo novo. Designa um movimento da poesia
Estilo Novo               italiana que surgiu, na Toscana, entre a segunda metade do século XIII e o início do
                          século XIV, desenvolvido por um grupo de poetas florentinos, como Guido Guinizelli,
                          Dante Alighieri, Guido Cavalcanti, Lapo Gianni, Gianni Alfani e Cino da Pistoia.
                          A expressão foi primeiramente utilizada por Dante, na Divina Comédia (capítulo XXIV,
                          est. 19 do Purgatório), ao evocar o encontro com o poeta florentino Bobagiunta da
                          Lucca, que se tornara uma alma do Purgatório. Aí, o Poeta, ao reconhecer Dante
                          como o introdutor das novas rimas, contrapõem-nas com as da sua escola
                          trovadoresca.
                          Sucessor da lírica trovadoresca, o dolce stil nuovo apresenta, na poesia, novas
                          características a nível de conteúdo e forma. Assim, quanto àquele, surgem três
                          grandes ideias ou topoi.
                          A primeira ideia consiste numa concepção do amor, já não de acordo com o antigo
                          modelo de vassalagem, inerente a uma sociedade feudal, mas segundo os princípios
                          da gentileza, conforme determina o modelo da sociedade burguesa das cidades
                          italianas. A gentileza, uma qualidade do espírito, que não se transmite com a
                          linhagem, mas pela virtude individual, permite que o verdadeiro amor se instale
                          apenas nos corações nobres e puros.
                          A segunda ideia baseia-se numa nova concepção da mulher amada, vista como
                          angélica que, com o seu olhar, provoca no homem o desejo de bondade, de perfeição
                          moral, de gentileza e de elevação espiritual.
                          A terceira ideia remete para o estado de espírito do enamorado que, pela recordação
                          da beleza e da imagem angelical da dama, procura encontrar equilíbrio entre o doce
                          encanto do coração e o receio de ser abandonado ou de se ver privado de tal graciosa
                          figura.
                          Relativamente às novas características formais, confere-se grande importância ao
                          refinamento da forma, pela remoção dos elementos decorativos supérfluos. No que diz


                                                                                                                 3
SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA

                respeito ao tom da expressão poética, Dante designa-o como doce e suave, pois
                as poesias devem espelhar delicadeza, musicalidade e graça. Para permitir uma maior
                variedade de tom e de temas, impunha-se o verso de dez sílabas, o decassílabo,
                acentuado ou na 4.ª, 8.ª e 10.ª sílabas do verso (verso sáfico), ou na 6.ª e 10.ª sílabas
                (verso heróico). Na altura, designava-se hendecassílabo (verso de onze sílabas),
                porque, de acordo com o método italiano, quando a última palavra era grave,
                considerava-se a sílaba postónica. Relativamente às combinações de versos e
                construções estróficas, foram sobretudo cultivados o soneto, a canção, a sextina e as
                composições em tercetos e em oitavas.
                Em Portugal, é usual confundir o dolce stil nuovo com o movimento petrarquista,
                devido a uma simplificação de conceito e dos aspectos formais. O soneto, forma
                introduzida em Portugal por Sá de Miranda e, em Espanha, por Boscán, normalmente
                considerado como pertencente ao dolce stil nuovo, era já produzido pela Escola
                Siciliana, em Itália, desde meados do século XIII.
                O dolce stil nuovo pode ser apreciado no livro Vita Nuova de Dante ou nos poemas Al
                cor gentil ripara sempre amore de Guido Guinizelli ou Donna mi prega, perch'io
                voglio dire... de Guido Cavalcanti, sendo considerada a obra Il Canzoniere de
                Petrarca aquela que marca o declive definitivo deste movimento poético.
Écloga          Composição pastoril em verso e geralmente dialogada.
Endecha         Poema lírico, geralmente melancólico.
Esparsa         Poesia composta geralmente de versos de seis sílabas.
Glosa           Composição poética em que cada estrofe acaba por um dos versos do mote.
Locus Amoenus   Expressão latina que significa lugar ameno. Trata-se de um dos tópicos da literatura
                clássica, usado com frequência na época medieval e renascentista e que se opõe a
                locus horrendus empregue no Romantismo. O locus amoenus consiste numa
                descrição da paisagem ideal, em ambiente de tranquilidade, bucólico ou pastoril.
                Verifica-se a recorrência a elementos da natureza, como árvores, fontes, pássaros e
                todos os elementos sensoriais a eles associados, tais como o perfume das flores, o
                cromatismo da paisagem, o canto das aves. Este tipo de descrição surge
                primeiramente em Petrónio, Teócrito e Virgílio, neste último, sobretudo na sua poesia
                bucólica. O tema do locus amoenus é ainda escolhido para as descrições do retorno
                do homem à natureza, à felicidade e ao Paraíso perdido. Na literatura portuguesa,
                podemos encontrar alguns exemplares desde tipo de descrição na Fábula do
                Mondego de Sá de Miranda e no soneto de Camões, A formosura desta fresca
                serra.
Maneirismo      Estilo artístico que se desenvolveu primeiro na Itália no fim do séc. XVI e no séc. XVII
                e constitui uma transição do renascentismo para a arte barroca.
Mote            Pensamento expresso em um ou mais versos para ser desenvolvido na glosa.
Ode             Subgénero lírico cultivado, segundo modelos greco-latinos, desde o Renascimento até
                à época contemporânea, com os temas mais diversos (heróicos, amorosos, etc.) e


                                                                                                            4
SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA

                      esquemas métricos também diferentes, mas caracterizando-se pela eloquência,
                      solenidade e elevação de estilo.
Petrarquismo          Movimento literário italiano que aparece no século XV e se prolonga até ao século
                      XVII, influenciando toda a poesia europeia. Este movimento procura imitar a poesia
                      amorosa de Petrarca, um poeta italiano que representa a transição entre os trovadores
                      provençais e os poetas do dolce stil nuovo e a poesia do Renascimento.
                      Tendo como impulsionadores Matteo Maria Boiardo e Iacopo Sannazzaro, o
                      Petrarquismo caracteriza-se por uma retoma da temática amorosa, dos recursos
                      estilísticos e do vocabulário utilizados por Petrarca. A obra, que se torna referência da
                      poesia lírica de Petrarca, é Il Canzonière.
                      Este movimento atinge o seu apogeu, no século XVI, com Pietro Bembo que lança
                      uma edição corrigida de Il Canzonière e que compila, em Prose della Volgar Língua
                      (1525), o uso literário da língua vulgar, apresentando a linguagem de Petrarca como
                      um modelo da língua poética. É, então, que a poética petrarquista começa a
                      influenciar o resto da Europa, transformando-se num exemplo de perfeição formal e da
                      nova sensibilidade poética.
                      A nível temático, o amor é visto como um serviço que transporta o enamorado a um
                      estado de elevação. O amor pode não só provocar, no jovem apaixonado, o gosto na
                      dor amorosa, como também conduzi-lo à luta entre a razão e o desejo ou à
                      perturbação emocional perante a amada. O amor pode ainda provocar uma análise
                      introspectiva sobretudo sobre os paradoxos do sentimento amoroso, levando o
                      enamorado a caminhadas melancólicas por entre serras e campos desertos, entre
                      outros tópicos.
                      Quanto    à forma,      Petrarca   introduz    inovações   métricas   (hendecassílabo),
                      principalmente nos sonetos e canções. Para além disso, procura impor, nas suas
                      poesias, uma linguagem e um estilo simples, mas sem vulgarismo e fingimentos. O
                      soneto e a canção tinham já sido cultivados na poesia da escola siciliana e no dolce
                      stil nuovo, mas é Petrarca que projecta essas formas poéticas para um elevado nível
                      de perfeição.
                      O Petrarquismo influencia poetas de França (Pierre Ronsard e os da Plêiade), de
                      Inglaterra (Thomas Wyatt e Henry Howard Surrey), de Portugal (Sá de Miranda,
                      Camões) e de Espanha, sobretudo, de forma vigorosa nos séculos XVI e XVII.
Poesia Palaciana      Designação que se atribui usualmente à poesia legada pelo Cancioneiro Geral de
                      Garcia de Resende (século XVI), dado o seu local de produção: a corte.
Poesia Trovadoresca   Designação que se refere ao lirismo desenvolvido na área galego-portuguesa entre
                      finais do século XII e meados do século XIV.
Redondilha maior      Nome do verso de sete sílabas métricas.
Redondilha menor      Nome do verso de cinco sílabas métricas.
Soneto                Composição poética formada de catorze versos dispostos em duas quadras seguidas
                      de dois tercetos.


                                                                                                                  5
SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA

Trova                               Composição poética ligeira, de carácter mais ou menos popular.
Vénus                               Segundo a mitologia romana, é a deusa da formosura e do amor. Na mitologia grega
                                    corresponde a Afrodite. Vénus era filha do Céu e da Terra. Também se diz que era
                                    filha do Mar e que Saturno preparou o seu nascimento, formando-a da espuma das
                                    águas. E há ainda quem afirme que era filha de Júpiter e da ninfa Dione, sua
                                    concubina. Conta-se que Vénus, logo após o seu nascimento, foi arrebatada para o
                                    céu, em grande pompa, pelas deusas Horas, que presidiam às estações, e todos os
                                    deuses a acharam tão formosa, que a designaram deusa do amor e cada um deles
                                    queria desposá-la.
                                    Foi Vulcano que a recebeu por mulher, por ter forjado os raios com que Júpiter
                                    combateu os Gigantes, que queriam apoderar-se do céu. Mas Vénus, não podendo
                                    suportar o marido pela sua grande fealdade, entregou-se à vida dissoluta e teve
                                    muitos amantes, entre os quais Marte, filho de Juno e deus da guerra, de quem teve
                                    Cupido. Vulcano, que a surpreendeu com Marte, cercou o lugar com uma rede
                                    invisível e convocou todos os deuses para que presenciassem o espectáculo.
                                    Vénus também desposou Anquises, príncipe troiano, de quem teve Eneias, que, já
                                    homem partiu com uma grande armada para a Itália, para aí fundar um novo império.
                                    Vénus presidia a todas as festas de prazer e divertimento, sempre acompanhada das
                                    três Graças.
                                    Representa-se geralmente com Cupido, seu filho, sobre um coche puxado por pombos
                                    ou por cisnes.
Vilancete                           Composição poética, composta geralmente sobre um mote, em verso de pequena
                                    medida e de carácter campesino.


Bibliografia consultada para a realização do glossário:
Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-12-30]. Disponível em: http://www.infopedia.pt/




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  • 1. SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA DELIMITAÇÃO CRONOLÓGICA A lírica camoniana insere-se na chamada época clássica da literatura portuguesa (1526, regresso de Sá de Miranda da sua viagem a Itália ± inícios do século XIX). CONTEXTO POLÍTICO-SOCIAL Dentro do contexto histórico clássico, devem salientar-se alguns aspectos: O período do Renascimento, que introduz a literatura clássica na Europa, é marcado por alterações políticas e sociais muito significativas. De forma geral, a sociedade agrária feudal foi substituída, progressivamente, por uma sociedade mercantil moderna, substituindo-se a burguesia à nobreza como grupo impulsionador da actividade económica. Assistiu-se a uma série de progressos técnicos e científicos (invenção da imprensa, por exemplo). O conhecimento científico foi impulsionado pelos Descobrimentos portugueses e espanhóis, pelo contacto com outras civilizações. Os novos conhecimentos estendiam a curiosidade e a intervenção do Homem para fora dos limites transmitidos pela cultura escolástica medieval e pela tradição religiosa. INFLUÊNCIAS NA LÍRICA C AMONIANA Na lírica camoniana coexiste a poética tradicional e o estilo renascentista. Em Luís de Camões, a tradição do lirismo peninsular coexistiu com a estética clássica renascentista e o maneirismo que marcaram o seu tempo. Juntamente com a poesia de sabor trovadoresco, surge uma poesia cujos modelos formais e temática (medida nova) revelam a cultura humanística e clássica do autor, que soube encontrar em Platão, Petrarca ou Dante um mentor ou um mestre para o caminho que trilhou e explorou com sabedoria, com entusiasmo e com a paixão do seu temperamento. Cantando o amor sublime ou a relação mais fútil, o poeta soube, como poucos, definir- se e definir a alma humana, oferecendo-nos a sua experiência de vida ou o mundo no seu desconcerto, com os seus problemas sociais e morais e a eterna questão do mal que aflige a Humanidade. Os temas da sua lírica são vastos e variados, indo da análise da sua vida interior à caracterização da realidade do seu tempo ou à busca do dimensionamento do homem universal. Na poesia com influência clássica e renascentista, fruto das novas ideias trazidas, de Itália, por Sá de Miranda e António Ferreira, verifica-se um alargamento dos temas e a colocação do ser humano no centro de todas as preocupações. 1
  • 2. SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA Desta fase, merece destaque o tratamento de certos temas: o Amor platónico, a saudade, o destino, a beleza suprema, a mudança, o desconcerto do mundo, o elogio dos heróis, os ensinamentos morais, sociais e filosóficos, a mulher vista à luz do petrarquismo e do dantismo, a sensualidade, a experiência da vida. A nível formal, o verso é o da medida nova, com o uso do verso decassílabo heróico (de acentuação nas 6.ª e 10.ª sílabas) ou sáfico (nas 4.ª, 8.ª e 10.ª), ou ainda, com o uso (menos frequente) do verso hexassílabo. As formas poéticas mais frequentes são o soneto, a canção, a sextina, a écloga, a elegia e a ode. Na lírica camoniana, a medida nova, ou seja, a poesia que segue os modelos estéticos renascentistas, surge a par da poesia com sabor trovadoresco dos Cancioneiros (medida velha). Na poesia de influência tradicional, é evidente o aproveitamento da temática da poesia trovadoresca e das formas palacianas. Assim, encontramos temas tradicionais e populares (o amor, a saudade, a beleza da mulher, o contacto com a natureza, a ida à fonte...), o ambiente cortesão com as suas cousas de folgar e as suas futilidades, o humor. A nível formal, o verso é o da medida velha: com 5 sílabas métricas (redondilha menor) ou com 7 (redondilha maior). As formas poéticas mais frequentes são as da poesia palaciana do século anterior: os vilancetes, as cantigas, as esparsas, e as trovas. CARACTERÍSTICAS DA CORRENTE TRADICIONAL As formas poéticas tradicionais: cantigas, vilancetes, esparsas, endechas, trovas... Uso da medida velha: redondilha menor e maior. Temas tradicionais e populares; a menina que vai à fonte; o verde dos campos e dos olhos; o amor simples e natural; a saudade e o sofrimento; a dor e a mágoa; o ambiente cortesão com as suas ³cousas de folgar´ e as futilidades; a exaltação da beleza de uma mulher de condição servil, de olhos pretos e tez morena (a ³Barbara, escrava´); a infelicidade presente e a felicidade passada. CARACTERÍSTICAS DA CORRENTE RENASCENTISTA O estilo novo: soneto, canção, écloga, ode, entre outros. Medida nova: decassílabos. O amor surge, à maneira petrarquista, como fonte de contradições, entre a vida e a morte, a água e o fogo, a esperança e o desengano; 2
  • 3. SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA A concepção da mulher, outro tema essencial da lírica camoniana, em íntima ligação com a temática amorosa e com o tratamento dado à Natureza (³locus amoenus´), oscila igualmente entre o pólo platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior), representado pelo modelo de Laura e o modelo renascentista de Vénus. GLOSSÁRIO Canção Forma poética, de origem provençal, constituída por uma série de estrofes heterométricas e rematadas por uma estrofe mais curta . Cantigas Composição medieval galego-portuguesa. Destinada a ser cantada, a cantiga conjuga as palavras e a música, pelo que nos remete para um contexto em que o poema, enquanto forma literária, não possui autonomia relativamente ao canto e até à dança. Decassílabo Nome do verso de dez sílabas métricas. Dolce Stil Nuovo Expressão italiana que significa doce estilo novo. Designa um movimento da poesia Estilo Novo italiana que surgiu, na Toscana, entre a segunda metade do século XIII e o início do século XIV, desenvolvido por um grupo de poetas florentinos, como Guido Guinizelli, Dante Alighieri, Guido Cavalcanti, Lapo Gianni, Gianni Alfani e Cino da Pistoia. A expressão foi primeiramente utilizada por Dante, na Divina Comédia (capítulo XXIV, est. 19 do Purgatório), ao evocar o encontro com o poeta florentino Bobagiunta da Lucca, que se tornara uma alma do Purgatório. Aí, o Poeta, ao reconhecer Dante como o introdutor das novas rimas, contrapõem-nas com as da sua escola trovadoresca. Sucessor da lírica trovadoresca, o dolce stil nuovo apresenta, na poesia, novas características a nível de conteúdo e forma. Assim, quanto àquele, surgem três grandes ideias ou topoi. A primeira ideia consiste numa concepção do amor, já não de acordo com o antigo modelo de vassalagem, inerente a uma sociedade feudal, mas segundo os princípios da gentileza, conforme determina o modelo da sociedade burguesa das cidades italianas. A gentileza, uma qualidade do espírito, que não se transmite com a linhagem, mas pela virtude individual, permite que o verdadeiro amor se instale apenas nos corações nobres e puros. A segunda ideia baseia-se numa nova concepção da mulher amada, vista como angélica que, com o seu olhar, provoca no homem o desejo de bondade, de perfeição moral, de gentileza e de elevação espiritual. A terceira ideia remete para o estado de espírito do enamorado que, pela recordação da beleza e da imagem angelical da dama, procura encontrar equilíbrio entre o doce encanto do coração e o receio de ser abandonado ou de se ver privado de tal graciosa figura. Relativamente às novas características formais, confere-se grande importância ao refinamento da forma, pela remoção dos elementos decorativos supérfluos. No que diz 3
  • 4. SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA respeito ao tom da expressão poética, Dante designa-o como doce e suave, pois as poesias devem espelhar delicadeza, musicalidade e graça. Para permitir uma maior variedade de tom e de temas, impunha-se o verso de dez sílabas, o decassílabo, acentuado ou na 4.ª, 8.ª e 10.ª sílabas do verso (verso sáfico), ou na 6.ª e 10.ª sílabas (verso heróico). Na altura, designava-se hendecassílabo (verso de onze sílabas), porque, de acordo com o método italiano, quando a última palavra era grave, considerava-se a sílaba postónica. Relativamente às combinações de versos e construções estróficas, foram sobretudo cultivados o soneto, a canção, a sextina e as composições em tercetos e em oitavas. Em Portugal, é usual confundir o dolce stil nuovo com o movimento petrarquista, devido a uma simplificação de conceito e dos aspectos formais. O soneto, forma introduzida em Portugal por Sá de Miranda e, em Espanha, por Boscán, normalmente considerado como pertencente ao dolce stil nuovo, era já produzido pela Escola Siciliana, em Itália, desde meados do século XIII. O dolce stil nuovo pode ser apreciado no livro Vita Nuova de Dante ou nos poemas Al cor gentil ripara sempre amore de Guido Guinizelli ou Donna mi prega, perch'io voglio dire... de Guido Cavalcanti, sendo considerada a obra Il Canzoniere de Petrarca aquela que marca o declive definitivo deste movimento poético. Écloga Composição pastoril em verso e geralmente dialogada. Endecha Poema lírico, geralmente melancólico. Esparsa Poesia composta geralmente de versos de seis sílabas. Glosa Composição poética em que cada estrofe acaba por um dos versos do mote. Locus Amoenus Expressão latina que significa lugar ameno. Trata-se de um dos tópicos da literatura clássica, usado com frequência na época medieval e renascentista e que se opõe a locus horrendus empregue no Romantismo. O locus amoenus consiste numa descrição da paisagem ideal, em ambiente de tranquilidade, bucólico ou pastoril. Verifica-se a recorrência a elementos da natureza, como árvores, fontes, pássaros e todos os elementos sensoriais a eles associados, tais como o perfume das flores, o cromatismo da paisagem, o canto das aves. Este tipo de descrição surge primeiramente em Petrónio, Teócrito e Virgílio, neste último, sobretudo na sua poesia bucólica. O tema do locus amoenus é ainda escolhido para as descrições do retorno do homem à natureza, à felicidade e ao Paraíso perdido. Na literatura portuguesa, podemos encontrar alguns exemplares desde tipo de descrição na Fábula do Mondego de Sá de Miranda e no soneto de Camões, A formosura desta fresca serra. Maneirismo Estilo artístico que se desenvolveu primeiro na Itália no fim do séc. XVI e no séc. XVII e constitui uma transição do renascentismo para a arte barroca. Mote Pensamento expresso em um ou mais versos para ser desenvolvido na glosa. Ode Subgénero lírico cultivado, segundo modelos greco-latinos, desde o Renascimento até à época contemporânea, com os temas mais diversos (heróicos, amorosos, etc.) e 4
  • 5. SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA esquemas métricos também diferentes, mas caracterizando-se pela eloquência, solenidade e elevação de estilo. Petrarquismo Movimento literário italiano que aparece no século XV e se prolonga até ao século XVII, influenciando toda a poesia europeia. Este movimento procura imitar a poesia amorosa de Petrarca, um poeta italiano que representa a transição entre os trovadores provençais e os poetas do dolce stil nuovo e a poesia do Renascimento. Tendo como impulsionadores Matteo Maria Boiardo e Iacopo Sannazzaro, o Petrarquismo caracteriza-se por uma retoma da temática amorosa, dos recursos estilísticos e do vocabulário utilizados por Petrarca. A obra, que se torna referência da poesia lírica de Petrarca, é Il Canzonière. Este movimento atinge o seu apogeu, no século XVI, com Pietro Bembo que lança uma edição corrigida de Il Canzonière e que compila, em Prose della Volgar Língua (1525), o uso literário da língua vulgar, apresentando a linguagem de Petrarca como um modelo da língua poética. É, então, que a poética petrarquista começa a influenciar o resto da Europa, transformando-se num exemplo de perfeição formal e da nova sensibilidade poética. A nível temático, o amor é visto como um serviço que transporta o enamorado a um estado de elevação. O amor pode não só provocar, no jovem apaixonado, o gosto na dor amorosa, como também conduzi-lo à luta entre a razão e o desejo ou à perturbação emocional perante a amada. O amor pode ainda provocar uma análise introspectiva sobretudo sobre os paradoxos do sentimento amoroso, levando o enamorado a caminhadas melancólicas por entre serras e campos desertos, entre outros tópicos. Quanto à forma, Petrarca introduz inovações métricas (hendecassílabo), principalmente nos sonetos e canções. Para além disso, procura impor, nas suas poesias, uma linguagem e um estilo simples, mas sem vulgarismo e fingimentos. O soneto e a canção tinham já sido cultivados na poesia da escola siciliana e no dolce stil nuovo, mas é Petrarca que projecta essas formas poéticas para um elevado nível de perfeição. O Petrarquismo influencia poetas de França (Pierre Ronsard e os da Plêiade), de Inglaterra (Thomas Wyatt e Henry Howard Surrey), de Portugal (Sá de Miranda, Camões) e de Espanha, sobretudo, de forma vigorosa nos séculos XVI e XVII. Poesia Palaciana Designação que se atribui usualmente à poesia legada pelo Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (século XVI), dado o seu local de produção: a corte. Poesia Trovadoresca Designação que se refere ao lirismo desenvolvido na área galego-portuguesa entre finais do século XII e meados do século XIV. Redondilha maior Nome do verso de sete sílabas métricas. Redondilha menor Nome do verso de cinco sílabas métricas. Soneto Composição poética formada de catorze versos dispostos em duas quadras seguidas de dois tercetos. 5
  • 6. SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIO-ESTILÍSTICAS DA LÍRICA CAMONIANA Trova Composição poética ligeira, de carácter mais ou menos popular. Vénus Segundo a mitologia romana, é a deusa da formosura e do amor. Na mitologia grega corresponde a Afrodite. Vénus era filha do Céu e da Terra. Também se diz que era filha do Mar e que Saturno preparou o seu nascimento, formando-a da espuma das águas. E há ainda quem afirme que era filha de Júpiter e da ninfa Dione, sua concubina. Conta-se que Vénus, logo após o seu nascimento, foi arrebatada para o céu, em grande pompa, pelas deusas Horas, que presidiam às estações, e todos os deuses a acharam tão formosa, que a designaram deusa do amor e cada um deles queria desposá-la. Foi Vulcano que a recebeu por mulher, por ter forjado os raios com que Júpiter combateu os Gigantes, que queriam apoderar-se do céu. Mas Vénus, não podendo suportar o marido pela sua grande fealdade, entregou-se à vida dissoluta e teve muitos amantes, entre os quais Marte, filho de Juno e deus da guerra, de quem teve Cupido. Vulcano, que a surpreendeu com Marte, cercou o lugar com uma rede invisível e convocou todos os deuses para que presenciassem o espectáculo. Vénus também desposou Anquises, príncipe troiano, de quem teve Eneias, que, já homem partiu com uma grande armada para a Itália, para aí fundar um novo império. Vénus presidia a todas as festas de prazer e divertimento, sempre acompanhada das três Graças. Representa-se geralmente com Cupido, seu filho, sobre um coche puxado por pombos ou por cisnes. Vilancete Composição poética, composta geralmente sobre um mote, em verso de pequena medida e de carácter campesino. Bibliografia consultada para a realização do glossário: Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-12-30]. Disponível em: http://www.infopedia.pt/ 6