2. Sumário
Apresentação dos autores e o enquadramento da tese
apresentada
Síntese da argumentação de “The Responsability to
Protect and the Crisis in Darfur”
Visão geral da crise do Darfur
A “norma” responsabilidade de proteger
A realidade das respostas internacionais e os factores que a
explicam
As perspectivas sobre a intervenção humanitária no pós-
guerra do Iraque
Conclusões e análise crítica
Enquadramento analítico da argumentação nas teorias das
RI´s
3. Paul D. Williams Alex J. Bellamy
pauldw@gwu.edu
É Professor Associado de Assuntos É professor de Relações Internacionais e em
Internacionais e Director Associado do prog. de Estudos de Conflito e Paz na Universidade de
Estudos em Políticas de Segurança na Elliott Queensland;
School of International Affairs na Universidade A sua investigação tem-se debruçado nos
G.W.; aspectos normativos do uso da força militar,
Tem aprofundado as questões da resolução de em particular das leis e ética da guerra,
conflitos, operações de paz internacional, as operações de paz e a intervenção humanitária;
relações internacionais de África, a política
internacional britânica e as teorias da segurança
internacional. Publicações
Kosovo and International Society (2002), Security
Communities and Their Neighbours: Regional
Publicações Fortresses or Global Integrators? (2004),
War and Conflict in Africa (Polity, 2011); Understanding Peacekeeping (edited with Paul D.
Enhancing Civilian Protection in Peace Operations: Williams and Stuart Griffin, 2004), International
Insights from Africa (Africa Center for Strategic Society and Its Critics (editor, 2004), Just Wars:
Studies, Research Paper No.1, September 2010); From Cicero to Iraq (2006), and Fighting Terror:
British Foreign Policy under New Labour, 1997- Ethical Dilemmas (2008), and Responsibility to
2005 (Palgrave-Macmillan, 2005); Understanding Protect (2009). He serves on the editorial board of
Peacekeeping (Polity, 2004), Ethics & International Affairs.
…
4. Enquadramento da tese
Logo após Aprovação da Resolução 1556 sobre a crise na província
sudanesa do Darfur pelo Conselho de Segurança da ONU:
Embaixador das Filipinas para a ONU Representante do Reino Unido
“a soberania implica também a
responsabilidade de um Estado para
a adopção da Resolução 1556 “sublinha o
proteger o seu povo. Caso este seja
compromisso do Conselho de Segurança
incapaz ou não o queira fazer é de
para garantir que todos os Governos
responsabilidade internacional apoiá-lo
devem cumprir a mais básica das
no alcance dessa capacidade e vontade e,
obrigações – o dever de proteger os seus
em caso de extrema necessidade, deverá
próprios cidadãos.”
assumir essa responsabilidade no seu
lugar.”
Estes sentimentos fizeram-se ecoar na Comissão Internacional sobre Intervenção
e Soberania do Estado (ICISS) e defensores da abordagem da "soberania como
responsabilidade"
5. Em Setembro de 2000, o Governo Canadiano encarregou o ICISS de
examinar a relação entre a soberania, direitos humanos e intervenção.
E, no ano seguinte, o relatório ICISS definiu orientações para intervenções
internacionais dos governos em situações de extrema emergência
humanitária.
Alteração da linguagem de debate de “o
direito de intervir” para a
“Responsabilidade De Proteger.”
O Estado “anfitrião” é o principal responsável
pelo bem-estar dos seus cidadãos e que a
intervenção só pode ser contemplada caso o
Estado seja relutante ou incapaz de cumprir a
sua responsabilidade perante os cidadãos
6. Paralelos entre a concepção de soberania dos EUA e as opiniões apresentadas no
Conselho de Segurança pelas Filipinas e o Reino Unido em relação ao Darfur
No primeiro semestre de 2004 a situação do Darfur é descrita como a
representação de uma “emergência humanitária suprema”, isto é uma situação
onde “a única esperança de salvar vidas depende de «outsiders», que são
convidados ao resgate”
A ICISS define dois critérios limiares:
1. “perda de vidas em larga escala”
2. “limpeza étnica em grande escala”
Posição do Conselho de Segurança
Não assume a responsabilidade de aliviar o sofrimento humano no Darfur,
limitando-se a autorizar uma intervenção humanitária. E,
Faz um ultimato com vista a obrigar o governo sudanês a desarmar as milícias
janjaweed.
7. SEGMENTAÇÃO DO ARTIGO
1. Fornecimento de uma visão geral da crise de Darfur e as respostas
internacionais produzidas sobre ela.
2. 3 factores principais que ajudam a explicar a falta de vontade política para
intervir no Darfur:
a) crescente cepticismo à volta do intervencionismo humanitário do Ocidente,
especialmente depois da invasão no Iraque;
b) os interesses estratégicos de cinco membros permanentes do Conselho de
Segurança no Sudão;
c) a relação entre a crise de Darfur e outras guerras civis no Sudão e os processos de
paz inerentes.
3. reflexão sobre o que o caso Darfur nos diz
sobre as perspectivas para a intervenção humanitária após a guerra do
Iraque.
8.
9. (1) A Crise no Darfur e as Respostas Internacionais
Início da guerra actual no Darfur: Fevereiro de 2003
Ataque das instalações militares do governo:
1º por parte do Exército de Libertação do Sudão (SLA)
2º forças do Movimento de Justiça e Igualdade (JEM).
Após várias tentativas de negociação de cessar-fogo no final de 2003:
o governo lançou uma grande ofensiva aérea no terreno no final de
Janeiro de 2004.
Entretanto, o presidente Bashir declarou que “a lei e a ordem” teriam sido
restabelecidas e que o governo havia “estabelecido o controlo em todos os
teatros”.
10. Comissão de Direitos Humanos da ONU, no décimo aniversário do
genocídio de Ruanda
Kofi Annan afirmou que os acontecimentos no Darfur o deixaram “com um
profundo sentimento de «pressentimento»:
Independentemente dos termos que se usem para descrever a situação, a comunidade internacional
não pode ficar de braços cruzados…[Mas] devem estar preparados para assumir uma acção rápida e
apropriada. Por “acção” em tais situações, quero dizer um continuum de passos, que podem incluir
a acção militar.”
Congresso dos EUA, 9 de Setembro de 2004, Collin Powell:
anunciou para o Comité de Relações Internacionais do Senado que o seu governo
também acreditava que crimes de genocídio haviam sido cometidos no Darfur.
11. A O.N.U./Conselho de Segurança sobre o conflito
1ª resolução do Conselho de Segurança
Resolução 1547 a 11 de Junho de 2004.
2ª Resolução do Conselho de Segurança
Resolução 1556 a 30 de Julho de 2004
“(...) Reaffirming its commitment to the sovereignty, unity, territorial integrity, and independence of
Sudan as consistent with the Machakos Protocol of 20 July 2002 and subsequent agreements based on
this protocol as agreed to by the Government of Sudan, (...)”
Para alguns, como a Amnistia Internacional, a Resolução de 1556 não foi suficientemente
longe;
Para outros, no entanto, a Resolução foi longe demais nos riscos económicos e sanções
diplomáticas contra o Sudão;
Rejeição do representante do Sudão no Conselho;
Um relatório da ONU divulgado em Setembro de 2004 observou que o governo de
Kartoum não cumpriu “alguns dos principais compromissos”.
Jan Pronk indicou ao Conselho de Segurança que não tinha havido “nenhuma melhoria
sistemática na segurança das pessoas e nenhum progresso em acabar com a impunidade”.
12. A resposta da União Europeia
Padrão semelhante ao do Conselho de Segurança
contou com instrumentos diplomáticos e humanitários;
apesar de oferecer algum apoio técnico e financeiro, a U.E. deixou a UA
assumir a liderança na resolução de conflitos e nos esforços para alcançar um
acordo político, bem como no envio de tropas para proteger a entrega de
ajuda;
um oficial da U.E. sugeriu: «No entanto muita angústia existe, não estamos
simplesmente próximos disso”.
2 explicações possíveis para a decisão da UE de não intervir militarmente:
os seus membros eram incapazes de realizar tal operação;
as suas principais forças armadas foram esticadas perto de um ponto de
ruptura depois das implantações na República Democrática do Congo (RDC),
Macedónia, Afeganistão e Bósnia.
13. A postura dos E.U.A. e a política de Washington
Até à actual crise, a política de Washington em relação ao Sudão não manifestava
preocupação com o Darfur.
O fim da guerra civil entre o governo e o SPLM/A era um objectivo secundário para
Washington.
Os métodos da administração de Clinton foram directamente relacionados à sua política
anti-terrorismo, ou seja, tentaram conter, isolar e marginalizar.
Em contraste, a administração Bush conseguiu empurrar o processo de
Machakos/Naivasha para a frente, por várias razões:
1. pressão significativa do lobby dos Cristãos internos, envolvidos num diálogo com Khartoum;
2. o governo de Bashir levou a pressão do governo de Bush a sério, especialmente depois do 11 de
Setembro e das intervenções dos EUA no Afeganistão e no Iraque;
3. já que a produção de petróleo no Sudão tinha deslocado o equilíbrio militar a favor do governo, o
SPLM/A estava mais preparado do que antes de chegar a um acordo;
4. as empresas de petróleo dos EUA enfatizaram repetidamente a importância potencial dos campos
de petróleo do Sudão para a economia dos EUA.
14. Em suma...
“A crise no Darfur apresentou à UA uma oportunidade para ela encontrar
uma solução africana para um problema africano”
Dado o argumento dos autores de que uma intervenção humanitária teria sido
legítima no caso do Darfur, o que deveria ter sido feito em termos práticos?
1. Parar novas mortes por doença, abate, e a fome, fornecendo tropas;
2. Realizar, mas também fornecer tropas para ajudar a polícia a chegar a
um acordo de cessar-fogo;
3. Realizar e garantir o reassentamento de refugiados e deslocados;
4. Realizar e fornecer tropas para ajudar a gerir o período de transição .
Não existem soluções rápidas para a crise do Darfur!
15. Os “obstáculos” à intervenção
1. “Abuso” do Ocidente nas justificações
humanitárias durante a guerra do terrorismo
2. Interesses estratétigos de 5 membros permanentes
do C.S. no Sudão
3. A relação entre a crise no Darfur e outras guerras
civis no Sudão e os processos de paz inerentes
16. (1)
Abuso do Ocidente no uso de justificações humanitárias durante a
"guerra ao terrorismo”
as justificações humanitárias do Ocidente parecem “camuflar” ambições neo-
imperalialistas:
Michael Ignatieff, um dos autores do projecto Responsabilidade de Proteger, apoiante
vocal da intervenção no Iraque: os objetivos passavam antes pela interrupção da
proliferação das ADMs em alguns "estados";
Representante sudanês no Conselho de Segurança da ONU denominou o “objectivo
humanitário sublime” como um "cavalo de Tróia... abraçado por um conjunto de
pessoas que defendem uma agenda diferente" (Nações Unidas, 2004b: 13).
Sugestões de que as tentativas dos E.U.A. e do Reino Unido para legitimar a guerra
no Iraque por razões humanitárias aumentou o nível de cepticismo à volta do
humanitarianismo prestado pelo “Ocidente”.
“Dois factores” que explicam tal “camugflagem”:
terrorismo e,
o petróleo.
17. (2)
O Darfur é menos importante do que a "guerra ao terrorismo”
O 11/09 e os efeitos nas relações EUA-Sudão: pressões para a cooperação:
As suspeitas dos EUA de que grupos terroristas da Arábia Saudita estariam a usar o
nordeste do Sudão para fins de treinamento (McElroy, 2004).
A resolução de 1556:
Manifestações anti-ONU em Khartoum: indicação da profundidade do sentimento
anti-ocidental em amplas sectores da opinião pública sudanesa;
Novo desafio aos estados do Ocidente – ênfase no seu compromisso com a “ideia” de
soberania como responsabilidade e não como um “pavilho de combustível” ao
radicalismo islâmico, encorajando o Sudão a tornar-se um paraíso para grupos
terroristas anti-ocidentais (como no início da década de 90).
Em suma, foi assumida uma lógica de comportamento que impulsionou a UA a
assumir a “liderança” da resposta internacional.
18. (3)
Intervenção militar poria em causa o Acordo de Naivasha
O conflito SPLM/A-Governo – o processo Machakos/Naivasha:
a “esperança” de que a crise do Darfur e outros conflitos de outras regiões sudanesas
fossem integrados no acordo global durante o período de transição previsto;
Preocupação dos países ocidentais sobre uma possível intervenção no Darfur: efeito
«dominó» noutros grupos sudaneses
Alguns comentadores têm argumentado que a implementação do acordo de
Naivasha, continua a ser a melhor oportunidade para garantir uma resolução política
à crise de Darfur:
Alex de Waal (2004a): a ocupação do lugar de “vice-presidente” do governo de Khartoum
por John Garang (líder do SPLA) como uma “janela” para a resolução da crise do Darfur;
Hugo Slim (2004): a associação de dois grande conflitos é “forçada” – posição de Bashir a
uma sua eventual queda, mas eficaz se fosse feito no início do conflito do Darfur;
Thakur (2004): a probabilidade de uma intervenção ocidental reduzir as oportunidades de
um acordo de paz abrangente e sustentável.
Francis Deng (2004): "longe de aliviar o sofrimento do povo de Darfur", a intervenção militar seria
susceptível de 'complicar e agravar a situação" (antes o apoio da U.A.)
19. Colin Powell
“Há uma preocupação de que não queremos
pressionar tanto o governo sudanês, para que
problemas internos possam piorar a situação.... Ao
mesmo tempo, todos reconhecem que a pressão é
necessária ou então (o Sudão) não receberia qualquer
acção.”
(Hoge, 2004).
"ninguém está disposto a
comprometer as perspectivas
actuais de acabarmos com a guerra
mais longa da África”
(Mans, 2004)
20. Intervenção Humanitária Depois do Iraque
“Pôr do sol” sobre a norma? T. Weiss (2004)
Intervenção humanitária é pouco significativa
2 elementos importantes sobre a noção da soberania como
responsabilidade:
1. reconhecimento de que o C.S. tem um amplo direito de definir as
ameaças à paz e segurança internacionais e autorizar acções de
execução e ainda a de autorização de uma intervenção militar
para fins humanitários no território de um Estado em pleno
funcionamento sem o consentimento deste último.
2. a norma da intervenção humanitária como um “direito muito
mais estreito moralmente, mesmo não-autorizado legalmente de
intervir em situações de emergência humanitária suprema.”:
Ilegal, mas legítima!
21. As normas da intervenção humanitária são fracas e altamente
contestadas...
Têm influenciado os tipos de justificações e estratégias empregues
por líderes ocidentais e as suas forças armadas: a
responsabilização pelas consequências das decisões
Influenciaram o modo como os militares ocidentais lutaram em
guerras:
1. o alvo de militares ocidentais tem sido “quadros” de liderança
inimigos e os seus meios de controlo político, em vez de todo
o Estado em questão ;
2. recurso a métodos aparentemente destinados a minimizar as
baixas civis locais e os riscos para os soldados do Ocidente
(McInnes, 2002)
22. A intervenção armada na resposta a uma
situação de emergência humanitária
suprema actualmente só é provável o ECOMOG na Libéria (1990);
quando um Estado, grupo de estados ou o NATO no Kosovo (1999);
organização regional torne-se
suficientemente “animada” que estará o Reino Unido na Serra Leoa
preparada para suportar riscos políticos e (2000);
materiais significativos por forma a o a coligação dos Australianled
aliviar o sofrimento de estranhos e
encontrar uma segura legitimidade
nas Ilhas Salomão (2003).
internacional para as suas acções.
23. O papel da União Africana A Responsabilidade
U.A. da O.N.U.
Desde 2003: novos esforços no
Comprometimento predominante reestabelecimento da paz pela a
para princípio da não-interferência; ONU (Exemplos: Burundi, Costa do
Marfim, Libéria e Haiti)
Falhas crónicas em termos de
capacidade: sugere-se que a K.Annan: a O.N.U. enfrenta “falhas
organização requer de apoios nas capacidades militares
substanciais e assistência técnica e especializadas, disponíveis a partir
financeira dos doadores ocidentais das forças militares dos países
para implantar e manter a Força de desenvolvidos" (falta de recursos
Protecção; humanos dos estados)
24. Conclusão
Quais são as implicações dessas tendências tanto para o Darfur e o futuro
da intervenção humanitária?
1. as evidências sugerem que com o Darfur, os Estados ocidentais
mostram-se despreparados para investir os recursos polítios
necessários na condução eficaz das intervenções humanitárias;
2. lacuna visível entre a “palavra” e a “acção” não é imutável:
A noção responsabilidade de proteger e o convite dos países
ocidentais a seguirem as suas declarações de intenção!
Em suma, infelizmente para o Darfur, os custos políticos e materiais
envolvidos na tomada de acção para a responsabilidade de proteger têm
aumentado, precisamente ao mesmo tempo, que a vontade
do Ocidente tem diminuído...
25. Reflexão teórica
Uma aproximação ao ideário realista das RI´s?
Modos de actuação dos
governantes e governos
Os Estados actuam em
sucedem-se pelo
força da segurança e
interesse que é explicado
poder
segundo uma lógica do
poder
Mesmo essas formas Parece crer-se na ideia
foram mudando e que o S.I. É “anárquico”
mudam, mesmo no caso (não existe uma entidade que
do Darfur – não são fixas! possa assegurar ou impedir o
(Morgenthau) conflito)
26. Bibliografia complementar
Waltz, K. (2002 ed.), Teoria das Relações Internacionais, Maria Gayo (trad.), Lisboa,
Gradiva
Nye, J. (2002 ed.), Compreender os Conflitos Internacionais, Tiago Araújo (trad.),
Lisboa, Gradiva
Outras fontes
http://www.cfr.org/sudan/
www.un.org
http://www.insightonconflict.org/conflicts/sudan
http://worldsavvy.org/
Política e Relações Internacionais
7. Dez . 2010
Débora Freitas & Marcelo Duarte
ISCTE [IUL]