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Violência na mídia¹
Alexandre Batista de ALMEIDA²
Professor orientador Dr. Fábio de Carvalho MESSA²
Universidade Federal do Paraná, Setor Litoral

Resumo
A violência não é um fenômeno singular, nem de causa única, ela se manifesta sob diversas
maneiras. As formas de violência ganham disseminação e visibilidade nos meios de comunicação,
tanto no jornalismo quanto na ficção, tanto em texto quanto em imagens, e até mesmo nas práticas
de lazer. Partindo do pressuposto de que violência é um comportamento que causa algum tipo de
lesão/dano a outra pessoa, onde nega-se a autonomia, a integridade física ou psicológica,
realizamos, pelo projeto PIBID Mídia-educação nas escolas do litoral do PR, uma oficina sobre
Violência na Mídia com os alunos do Colégio Estadual de Ilha das Peças, Guaraqueçaba – PR, com
o objetivo de ampliar e identificar as formas e os conceitos de violência e proporcionar uma visão
crítica sobre o discurso da violência na mídia. Apresentamos alguns tipos de violência e os espaços
onde elas se manifestam, identificamos: violência verbal, presente nos Hqs, na TV e na internet,
violência psicológica, praticado com o bullying nas redes, violência étnica-cultural, casos de
xenofobia e dominação de culturas internacionais, a propagação do discurso da violência nas
mídias. A mídia tende a usar a violência como “carro-chefe” para a venda e audiência de seus
jornais, por tratar-se de um apelo emocional, que seria para satisfazer a curiosidade mórbida e saciar
o apetite pelo trágico da sociedade. Assim, procuramos refletir sobre como a mídia nos dá a ler o
que seja violência e com que fins ela a explora, já que por um outro lado temos a TV e o cinema que
nos dão a impressão de que é por meio da violência, que finais felizes e atos heroicos podem
acontecer.
Palavras chave: mídia, violência, informações, reflexão.

Introdução
A violência está presente em todos os espaços e tempos, e com o espaço midiático não seria
diferente. Para entender como ela está presente nos meios precisamos saber quais formas a
violência toma, então, podemos evidenciar: a violência física como todo e qualquer tipo de agressão
física com ou sem o uso de objetos para ferir outra pessoa; a verbal se caracteriza por ofensas
morais, como o ato de proferir palavras caluniosas; a psicológica tem como características as
agressões emocionais, sendo semelhante ao bullying, causando grandes transtornos emocionais de
origem psicológica; violência cultural é quando ocorre a substituição forçada de um conjunto de
valores importados (a dominação da música e do cinema estadunidense, costumes europeus e etc.);
e a violência nas mídias.
1. Relato de experiência de intervenção do grupo de bolsistas PIBID Mídia-educação nas escolas do litoral do PR
2. Graduando do curso de licenciatura em Linguagem e Comunicação pela UFPR; e-mail: alexandrealmeida@live.co.uk
3. Dr. Em Literatura pela UFSC, mestre em Literatura e Ed. Física pela UFSC, graduação em Comunicação Social Jornalismo pela PUC-RS. Atualmente é Professor Adjunto I do Curso de Licenciatura em Linguagem e Comunicação e
do Curso de Bacharelado em Gestão Desportiva e do Lazer da UFPR.
Constatamos, juntamente com os estudantes, que a violência está presente em todo lugar, e
se apresenta de várias maneiras. Com a violência na internet temos a grande reprodução do discurso
da violência, podendo ser expressada por meio de fotos, vídeos, textos etc.
Nesse meio, a prática da violência parece estar livre, devido a impressão do anonimato, e de que
não existe legislação aplicável ao agressor, mas esta ideia já esta sendo derrubada, por haver vários
projetos de lei para os crimes cometidos na internet, muitos deles frutos de violência. Na TV a
violência se tornou algo comum, a encontramos em novelas, filmes, telejornais, programas de
entretenimento, desenhos animados e tantos outros, com cenas de extrema e exagerada violência.
No cinema dominante, a violência deixa a impressão de que a vida é tratada como algo banal, sendo
propagada ideias de valores incompatíveis com a vida humana influindo, também, no
comportamento de crianças e jovens.
1 Formas de violências
Ao longo da história da humanidade a violência sempre esteve presente construindo os fatos
históricos e moldando as sociedades tal como estão hoje. É impossível negar que com a violência
foi conquistado benefícios ao mesmo tempo em que se causou malefícios, se tornando um elemento
instaurador de identidades. As manifestações de violência são muito amplas e diversificadas. Hoje,
entendemos que qualquer forma de violência prejudica nossa condição de cidadãos e seres humanos
– que somos. Partimos do conceito de que violência é “uma ação direta ou indireta, destinada a
limitar, ferir ou destruir as pessoas ou os bens” (MICHAUD, 1989), para que os estudantes,
participantes da oficina, tenham uma primeira definição do tema. Ainda que pode-se dizer que não
há uma definição pronta, concreta e estática do que venha a ser a violência como aponta Anthony no
Dicionário do Pensamento Social do Século XX “não existe uma definição consensual ou
incontroversa de violência. O termo é potente demais para que isso seja possível.”, é preciso
delimitar um ponto para que se possa identificar as violências nos meios de comunicação de massa.
Indo mais além de uma definição simples, Santos diz que violência é “um ato de excesso,
qualitativamente distinto, que se verifica em cada relação de poder presente nas relações sociais de
produção social” (SANTOS, 1986), isso nos mostra que há relações de poder em qualquer uso de
violência.
As formas mais conhecidas de violência são a violência verbal, a física, psicológica, sexual e
o bullying, além dessas, apresentamos a estrutural e a sócio-cultural. Estas últimas sendo
caracterizadas pelas desigualdades sociais e pela supervalorização das culturas internacionais. A
partir dessas representações, os estudantes percebem que e a onipresença da violência se deve ao
fato da propagação poderosa das mídias, que servem de ferramenta para pulverizar ideologias e
discursos violentos.
2 Mídia e violência
As mídias eletrônicas, ao mesmo tempo em que possibilitam a quase simultaneidade entre
informação e acontecimento “poupam” os indivíduos, mediando vários de seus contatos com o
mundo, protagonizando a potencialização da fragmentação ou “encolhimento do mundo”. Em certo
sentido seria o mundo virtual “construindo o real”. O outro lado desta mesma moeda - o real - em
espetáculo produzido pelos meios de comunicação de massa. É o que ocorre, por exemplo, com o
fenômeno da violência, transformado em produto, com altíssimo poder de venda no mercado de
informação, e em objeto de consumo, fazendo com que a “realidade” da violência passe a fazer
parte do dia-dia, mesmo daqueles que nunca a confrontaram diretamente enquanto experiência de
um processo vivido. Barros afirma que,
“Os meios de comunicação, quando introduzem o tema da violência em suas
pautas, colocam a discussão da violência como tema imediato, construindo
mediante uma recepção ritualizada um universo simbólico que a longo prazo
condiciona a percepção que o o receptor terá da realidade.” ( Barros, 1987)
A violência passa a ser consumida num movimento cíclico em que o consumo participa
também do processo de produção, ainda que como representação. Nesse sentido, é unânime a
representação segundo a qual os meios funcionam como um tipo de tribunal do júri, antecipando ou
dando o tom, em termos da condenação ou absolvição de um suspeito, dando a impressão de que os
consumidores, em casa, estão inseridos nesse tribunal. A violência é, assim, uma mercadoria que
vende e se vende muito bem – uma moeda de troca.
Os meios de comunicação, além de influenciarem comportamentos, também contribuem
fortemente na construção de políticas públicas na medida em que agenda os debates na sociedade,
fazendo com que a mídia cumpra um papel fomentador no comportamento violento de um cidadão.
Tem se desenvolvido muitos trabalhos para entender se e/ou como a mídia participa na geração de
violência. Um estudo realizado em 1998 pelo Comitê de Estudos da Violência da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul mostrou que a exibição de violência na mídia tem efeitos
significativos, afirmam os pesquisadores “Há correlações significativas entre a frequente exposição
à violência na televisão e o comportamento agressivo, e as evidências indicam que o último é
consequência da primeira” o que percebemos com isso é que a mídia-educação vem como um
espaço de reflexão e produção sobre o papel que as mídias têm desempenhado na sociedade,
sobretudo identificar e questionar a cultura da violência disseminada e solidificada pelos meios de
comunicação, pois ela não é só um subproduto social, como algo próprio do ser humano.
Há o outro lado que diz que os meios de massa não são diretamente responsáveis pelo
aumento da violência ou da criminalidade, seriam, quando menos, um canal de estruturação de
sociabilidades violentas, já que aí a violência não é apresentada como um comportamento
valorizado. Ou ainda, recorrendo a um texto de Michaud (1996, p.136),
a violência, na mídia, seja ela estilizada ou não, seja ficção ou parte
dos telejornais da atualidade, serve de uma certa maneira, a um
descarregar-se, distender-se, dar livre curso aos sentimentos através
do espetáculo. As cenas de violência são um sintoma da
'nervosidade' da sociedade.

Podem não tornar uma criança, jovem ou adulto violento, mas certamente contribuem para
excitá-los. Ao falar da violência nos telejornais, uma fala curiosa, que nos chamou atenção, de um
aluno que disse “eu já sei como faz pra trafica porque eu vi no jornal que os cara engolia droga num
pacotinho pra polícia não pega eles”, isso comprova o que as mídias educam e que aquilo que as
pessoas consomem produzem um efeito na produção do seu conhecimento, além de produzir uma
compreensão específica sobre o fenômeno da violência, realimentando ou atualizando os
preconceitos dos grupos tidos “perigosos” das populações pobres e seus espaços de moradia.
Considerações finais
À medida que tomamos conhecimento das representações das violências nos diversos
espaços que transitamos, desenvolvemos um olhar analítico e moderador por sobre nossas próprias
ações nesses meios, como Levisky diz “somos todos agentes modificadores e receptores das ações e
consequências construtivas e violentas reinantes na sociedade contemporânea” (LEVISKY, 1977).
Com isso, constatamos que a violência é complexa e difusa, tem amplas manifestações, amplas
ações, é socialmente construída e é uma inevitável condição humana. Observamos, também, que a
oficina propiciou aos alunos e graduandos envolvidos uma apropriação crítica do tema da violência,
entendida como um produto comercial midiático, como também uma ampliação da visão enquanto
manifestações, bem como uma percepção reflexiva das próprias ações na rede internet, atuando de
forma consciente e responsável nas mídias sociais.
Bibliografia Consultada
Anthony, A. Dicionário do Pensamento Social do Século XX
BARROS. Filho, Clóvis in:Revista Violência em Debate. São Paulo. Ed. Moderna. 1987
CHAUI, M. Convite à filosofia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.
MICHAUD, Y. A Violência. São Paulo: Ed. Ática, 1989.
SANTOS,José Vicente Tavares dos. A Violência como dispositivo de excesso de poder in:
Estado e Sociedade. Brasília. UNB, 1986

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  • 1. Violência na mídia¹ Alexandre Batista de ALMEIDA² Professor orientador Dr. Fábio de Carvalho MESSA² Universidade Federal do Paraná, Setor Litoral Resumo A violência não é um fenômeno singular, nem de causa única, ela se manifesta sob diversas maneiras. As formas de violência ganham disseminação e visibilidade nos meios de comunicação, tanto no jornalismo quanto na ficção, tanto em texto quanto em imagens, e até mesmo nas práticas de lazer. Partindo do pressuposto de que violência é um comportamento que causa algum tipo de lesão/dano a outra pessoa, onde nega-se a autonomia, a integridade física ou psicológica, realizamos, pelo projeto PIBID Mídia-educação nas escolas do litoral do PR, uma oficina sobre Violência na Mídia com os alunos do Colégio Estadual de Ilha das Peças, Guaraqueçaba – PR, com o objetivo de ampliar e identificar as formas e os conceitos de violência e proporcionar uma visão crítica sobre o discurso da violência na mídia. Apresentamos alguns tipos de violência e os espaços onde elas se manifestam, identificamos: violência verbal, presente nos Hqs, na TV e na internet, violência psicológica, praticado com o bullying nas redes, violência étnica-cultural, casos de xenofobia e dominação de culturas internacionais, a propagação do discurso da violência nas mídias. A mídia tende a usar a violência como “carro-chefe” para a venda e audiência de seus jornais, por tratar-se de um apelo emocional, que seria para satisfazer a curiosidade mórbida e saciar o apetite pelo trágico da sociedade. Assim, procuramos refletir sobre como a mídia nos dá a ler o que seja violência e com que fins ela a explora, já que por um outro lado temos a TV e o cinema que nos dão a impressão de que é por meio da violência, que finais felizes e atos heroicos podem acontecer. Palavras chave: mídia, violência, informações, reflexão. Introdução A violência está presente em todos os espaços e tempos, e com o espaço midiático não seria diferente. Para entender como ela está presente nos meios precisamos saber quais formas a violência toma, então, podemos evidenciar: a violência física como todo e qualquer tipo de agressão física com ou sem o uso de objetos para ferir outra pessoa; a verbal se caracteriza por ofensas morais, como o ato de proferir palavras caluniosas; a psicológica tem como características as agressões emocionais, sendo semelhante ao bullying, causando grandes transtornos emocionais de origem psicológica; violência cultural é quando ocorre a substituição forçada de um conjunto de valores importados (a dominação da música e do cinema estadunidense, costumes europeus e etc.); e a violência nas mídias. 1. Relato de experiência de intervenção do grupo de bolsistas PIBID Mídia-educação nas escolas do litoral do PR 2. Graduando do curso de licenciatura em Linguagem e Comunicação pela UFPR; e-mail: alexandrealmeida@live.co.uk 3. Dr. Em Literatura pela UFSC, mestre em Literatura e Ed. Física pela UFSC, graduação em Comunicação Social Jornalismo pela PUC-RS. Atualmente é Professor Adjunto I do Curso de Licenciatura em Linguagem e Comunicação e do Curso de Bacharelado em Gestão Desportiva e do Lazer da UFPR.
  • 2. Constatamos, juntamente com os estudantes, que a violência está presente em todo lugar, e se apresenta de várias maneiras. Com a violência na internet temos a grande reprodução do discurso da violência, podendo ser expressada por meio de fotos, vídeos, textos etc. Nesse meio, a prática da violência parece estar livre, devido a impressão do anonimato, e de que não existe legislação aplicável ao agressor, mas esta ideia já esta sendo derrubada, por haver vários projetos de lei para os crimes cometidos na internet, muitos deles frutos de violência. Na TV a violência se tornou algo comum, a encontramos em novelas, filmes, telejornais, programas de entretenimento, desenhos animados e tantos outros, com cenas de extrema e exagerada violência. No cinema dominante, a violência deixa a impressão de que a vida é tratada como algo banal, sendo propagada ideias de valores incompatíveis com a vida humana influindo, também, no comportamento de crianças e jovens. 1 Formas de violências Ao longo da história da humanidade a violência sempre esteve presente construindo os fatos históricos e moldando as sociedades tal como estão hoje. É impossível negar que com a violência foi conquistado benefícios ao mesmo tempo em que se causou malefícios, se tornando um elemento instaurador de identidades. As manifestações de violência são muito amplas e diversificadas. Hoje, entendemos que qualquer forma de violência prejudica nossa condição de cidadãos e seres humanos – que somos. Partimos do conceito de que violência é “uma ação direta ou indireta, destinada a limitar, ferir ou destruir as pessoas ou os bens” (MICHAUD, 1989), para que os estudantes, participantes da oficina, tenham uma primeira definição do tema. Ainda que pode-se dizer que não há uma definição pronta, concreta e estática do que venha a ser a violência como aponta Anthony no Dicionário do Pensamento Social do Século XX “não existe uma definição consensual ou incontroversa de violência. O termo é potente demais para que isso seja possível.”, é preciso delimitar um ponto para que se possa identificar as violências nos meios de comunicação de massa. Indo mais além de uma definição simples, Santos diz que violência é “um ato de excesso, qualitativamente distinto, que se verifica em cada relação de poder presente nas relações sociais de produção social” (SANTOS, 1986), isso nos mostra que há relações de poder em qualquer uso de violência. As formas mais conhecidas de violência são a violência verbal, a física, psicológica, sexual e o bullying, além dessas, apresentamos a estrutural e a sócio-cultural. Estas últimas sendo caracterizadas pelas desigualdades sociais e pela supervalorização das culturas internacionais. A partir dessas representações, os estudantes percebem que e a onipresença da violência se deve ao fato da propagação poderosa das mídias, que servem de ferramenta para pulverizar ideologias e discursos violentos. 2 Mídia e violência As mídias eletrônicas, ao mesmo tempo em que possibilitam a quase simultaneidade entre informação e acontecimento “poupam” os indivíduos, mediando vários de seus contatos com o mundo, protagonizando a potencialização da fragmentação ou “encolhimento do mundo”. Em certo sentido seria o mundo virtual “construindo o real”. O outro lado desta mesma moeda - o real - em espetáculo produzido pelos meios de comunicação de massa. É o que ocorre, por exemplo, com o fenômeno da violência, transformado em produto, com altíssimo poder de venda no mercado de informação, e em objeto de consumo, fazendo com que a “realidade” da violência passe a fazer parte do dia-dia, mesmo daqueles que nunca a confrontaram diretamente enquanto experiência de um processo vivido. Barros afirma que, “Os meios de comunicação, quando introduzem o tema da violência em suas pautas, colocam a discussão da violência como tema imediato, construindo mediante uma recepção ritualizada um universo simbólico que a longo prazo condiciona a percepção que o o receptor terá da realidade.” ( Barros, 1987)
  • 3. A violência passa a ser consumida num movimento cíclico em que o consumo participa também do processo de produção, ainda que como representação. Nesse sentido, é unânime a representação segundo a qual os meios funcionam como um tipo de tribunal do júri, antecipando ou dando o tom, em termos da condenação ou absolvição de um suspeito, dando a impressão de que os consumidores, em casa, estão inseridos nesse tribunal. A violência é, assim, uma mercadoria que vende e se vende muito bem – uma moeda de troca. Os meios de comunicação, além de influenciarem comportamentos, também contribuem fortemente na construção de políticas públicas na medida em que agenda os debates na sociedade, fazendo com que a mídia cumpra um papel fomentador no comportamento violento de um cidadão. Tem se desenvolvido muitos trabalhos para entender se e/ou como a mídia participa na geração de violência. Um estudo realizado em 1998 pelo Comitê de Estudos da Violência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostrou que a exibição de violência na mídia tem efeitos significativos, afirmam os pesquisadores “Há correlações significativas entre a frequente exposição à violência na televisão e o comportamento agressivo, e as evidências indicam que o último é consequência da primeira” o que percebemos com isso é que a mídia-educação vem como um espaço de reflexão e produção sobre o papel que as mídias têm desempenhado na sociedade, sobretudo identificar e questionar a cultura da violência disseminada e solidificada pelos meios de comunicação, pois ela não é só um subproduto social, como algo próprio do ser humano. Há o outro lado que diz que os meios de massa não são diretamente responsáveis pelo aumento da violência ou da criminalidade, seriam, quando menos, um canal de estruturação de sociabilidades violentas, já que aí a violência não é apresentada como um comportamento valorizado. Ou ainda, recorrendo a um texto de Michaud (1996, p.136), a violência, na mídia, seja ela estilizada ou não, seja ficção ou parte dos telejornais da atualidade, serve de uma certa maneira, a um descarregar-se, distender-se, dar livre curso aos sentimentos através do espetáculo. As cenas de violência são um sintoma da 'nervosidade' da sociedade. Podem não tornar uma criança, jovem ou adulto violento, mas certamente contribuem para excitá-los. Ao falar da violência nos telejornais, uma fala curiosa, que nos chamou atenção, de um aluno que disse “eu já sei como faz pra trafica porque eu vi no jornal que os cara engolia droga num pacotinho pra polícia não pega eles”, isso comprova o que as mídias educam e que aquilo que as pessoas consomem produzem um efeito na produção do seu conhecimento, além de produzir uma compreensão específica sobre o fenômeno da violência, realimentando ou atualizando os preconceitos dos grupos tidos “perigosos” das populações pobres e seus espaços de moradia. Considerações finais À medida que tomamos conhecimento das representações das violências nos diversos espaços que transitamos, desenvolvemos um olhar analítico e moderador por sobre nossas próprias ações nesses meios, como Levisky diz “somos todos agentes modificadores e receptores das ações e consequências construtivas e violentas reinantes na sociedade contemporânea” (LEVISKY, 1977). Com isso, constatamos que a violência é complexa e difusa, tem amplas manifestações, amplas ações, é socialmente construída e é uma inevitável condição humana. Observamos, também, que a oficina propiciou aos alunos e graduandos envolvidos uma apropriação crítica do tema da violência, entendida como um produto comercial midiático, como também uma ampliação da visão enquanto manifestações, bem como uma percepção reflexiva das próprias ações na rede internet, atuando de forma consciente e responsável nas mídias sociais.
  • 4. Bibliografia Consultada Anthony, A. Dicionário do Pensamento Social do Século XX BARROS. Filho, Clóvis in:Revista Violência em Debate. São Paulo. Ed. Moderna. 1987 CHAUI, M. Convite à filosofia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000. MICHAUD, Y. A Violência. São Paulo: Ed. Ática, 1989. SANTOS,José Vicente Tavares dos. A Violência como dispositivo de excesso de poder in: Estado e Sociedade. Brasília. UNB, 1986