GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO
Esta obra foi financiada pela Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento e baseia-se principalmente nas
experiências do IAPAR - Instituto Agronómico de Paraná, Londrina-Paraná-Brasil, e nos ensaios demonstrativos
no quadro dos projectos PROMEC, APROS, PACDIB (da Cooperação Austríaca) e PRODER (MINAG - GTZ).
realizados na Província de Sofala, Moçambique, nos anos 2002 até 2005,
Cartaz curso de nogueira 01 e 02 de setembro de 2017
GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwirtschaft-_praktischer_fuehrer
1. PROMOÇÃO ECONÓMICA DE
CAMPONESES - SOFALA
República de Moçambique Viena, Áustria
DPA SOFALA
GUIA PRÁTICO
de
AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO
Financiado pela
2. PROMOÇÃO ECONÓMICA DE
CAMPONESES - SOFALA
República de Moçambique Viena, Áustria
DPA SOFALA
GUIA PRÁTICO
de
AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO
Autores
Eng. Agr. Ademir Calegari
José Paulo Cristiano Taimo
Esta obra foi financiada pela Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento e baseia-se principalmente nas
experiências do IAPAR - Instituto Agronómico de Paraná, Londrina-Paraná-Brasil, e nos ensaios demonstrativos
realizados na Província de Sofala, Moçambique, nos anos 2002 até 2005,
no quadro dos projectos PROMEC, APROS, PACDIB (da Cooperação Austríaca) e PRODER (MINAG - GTZ).
Financiado pela
3. AGRADECIMENTOS DOS AUTORES
Os autores agradecem a oportunidade de trabalhar na Província de Sofala, Moçambique e,
estar juntamente com os técnicos da Cooperação Austríaca e DPA, com os camponeses dos
diferentes Distritos, desenvolvendo o sistema de Agricultura de Conservação, num processo de
sensibilização e teste/validação dos componentes tecnológicos a nível de machamba. O
trabalho se iniciou em 2001 e resultados muito promissores têm sido alcançado pelos
camponeses, quer no tocante à diminuição de mão-de-obra, maior aproveitamento da água,
maior estabilidade na produção, aumento na produtividade de diferentes culturas, etc.
Agradecemos ao Dr. Gerald Tschinkel da H3000 Development Consult em Áustria, pela
confiança, amizade e persistência na possibilidade de implementar o sistema de Agricultura de
Conservação em Moçambique. À Cooperação Austríaca, que sempre apoiou no
desenvolvimento dos trabalhos de Agricultura de Conservação. Também a equipe do PROMEC,
pela amizade, frutíferas discussões e perseverança nos trabalhos. Ao Bento Freitas e Cecília
pelo apoio durante todas as consultorias. À GTZ, na pessoa do Sr. Nicolas Lamade, pela
oportunidade e viabilização de atividades de Agricultura de Conservação; ao Mário Norman da
PRODER –GTZ pela amizade e contribuições durante todo este tempo de trabalho; ao Manfred
Schug, que sempre acreditou ser possível implementar o sistema de Agricultura de
Conservação junto aos camponeses nas mais diferentes situações; à Direcção Provincial da
Agricultura na pessoa do Dr. Ribeiro que sempre acreditou e apoiou as atividades de
Agricultura de Conservação e também ao atual Diretor Provincial, Sr. António Raúl Limbau, que
tem incentivado as atividades de Agricultura de Conservação; ao Eng. Madane pelo contínuo
apoio do SPER em todas as atividades da Agricultura de Conservação. Ao Erasmo Saraiva e
Rui Valadares pelo constante apoio e amizade; a todos os técnicos da DDA dos diferentes
Distritos e colegas das ONGs: Cáritas e FHI que sempre colaboraram nas discussões e nos
trabalhos de consolidação da Agricultura de Conservação. Aos camponeses de toda a
Província, pela paciência e perseverança no acompanhamento e avaliação das atividades das
UTVs, onde sempre colaboraram e também acreditaram ser possível desenvolver uma
agricultura sustentável que irá trazer maior segurança alimentar e eliminar definitivamente a
pobreza da Província e do país.
4. 1
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3
1. O SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO...................................... 4
1.1 A importância da Agricultura de Conservação .........................................................4
1.2 Os fundamentos do sistema de Agricultura de Conservação...................................5
1.3 Os benefícios do sistema de Agricultura de Conservação .......................................7
2 A REALIDADE DA PROVÍNCIA DE SOFALA..................................................... 8
2.1 Características regionais (generalidades) ................................................................8
2.2 O uso dos solos agrícolas (generalidades) ..............................................................9
2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas........................................9
2.4 Práticas tradicionais de manejo de solos ...............................................................12
2.5 Agricultura de Conservação: uma alternativa viável...............................................15
3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO... 16
3.1 O início: a adequação das áreas............................................................................16
3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura de Conservação .............................17
3.3 Práticas que poderão fazer parte do sistema.........................................................19
4 A COBERTURA DO SOLO ............................................................................... 23
4.1 As vantagens de manter o solo coberto .................................................................23
4.2 Plantas de cobertura ..............................................................................................24
4.2.1 Comportamento das diferentes espécies de plantas de cobertura e
contribuição na melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do
solo.................................................................................................................24
4.2.2 Formas de manejo de plantas de cobertura ...................................................26
4.3 Efeitos das plantas de cobertura ............................................................................28
4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo ...............................................................30
4.3.2 Efeitos no armazenamento de água e diminuição das perdas no sistema.....35
4.3.3 Efeitos nos gradientes de temperatura do perfil do solo ................................36
4.3.4 Efeitos na composição florística do solo (efeitos alelopáticos e físicos) na
diminuição das populações de invasoras (plantas daninhas) .........................37
4.3.5 Efeitos na melhora de áreas de pousio ..........................................................39
4.4 A produção de sementes de sementes de cobertura.............................................41
5. Guía prático de Agricultura de Conservação
5 A ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE
2
CONSERVAÇÃO............................................................................................... 42
5.1 A rotação e consorciação de culturas ....................................................................44
5.1.1 Opções de rotação para arroz ........................................................................44
5.1.2 Opções de rotação para gergelim ..................................................................45
5.1.3 Opções de rotação para algodão ...................................................................47
5.1.4 Opções de alguns sistemas incluindo o uso de plantas de cobertura............48
5.1.5 Sugestões de algumas opções de diagrama sequencial de culturas.............52
5.1.6 Sistemas de consorciação e rotação em diferentes sistemas de produção....53
5.1.7 Indicação de protocolo para produção de batata reno....................................55
5.1.8 Rotação com espécies hortícolas....................................................................57
5.2 Efeitos da rotação na ocorrência de pragas e doenças ..............................................60
6 CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE
CONSERVAÇÃO............................................................................................... 62
7 RESULTADOS OBTIDOS POR PRODUTORES COM O USO DE COBERTURA
DO SOLO, ROTAÇÃO E PLANTIO DIRECTO.................................................. 69
7.1 Resultados obtidos na Província de Sofala............................................................69
7.2 Resultados obtidos em diferentes países...............................................................78
8 COMO ASSEGURAR O AVANÇO E ESTABELECIMENTO DO SISTEMA DE
AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO .............................................................. 81
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 83
ANEXOS................................................................................................................... 86
Anexo 1: Manejo ambiental adequado evitando as queimadas.........................................87
Anexo 2: Plantas de cobertura comuns na Província de Sofala ........................................89
Anexo 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura
e % de nutrientes na matéria seca......................................................................92
Anexo 4: Características, comportamento e recomendações para o uso de plantas de
cobertura de primavera/verão .............................................................................93
Anexo 5: O sistema de Agricultura de Conservação no Brasil.........................................103
Anexo 6: Características de diferentes espécies de plantas melhoradas de solos..........105
6. INTRODUÇÃO
Nas mais diversas regiões do mundo onde se pratica a agricultura, um aspecto marcante e
comum à maioria dessas áreas é o uso intensivo e a má gestão dos recursos naturais, o que
tem ao longo dos anos contribuído para o agravamento dos processos de degradação dos
recursos, principalmente solo e água, comprometendo severamente a produção agrícola em
âmbitos compatíveis com as demandas populacionais. Os processos de erosão do solo
provocam alteração de algumas propriedades físicas, químicas e biológicas que, somados
ao processo de degradação da matéria orgânica, com consequente diminuição da
fertilidade, tem conduzido a uma diminuição crescente do potencial produtivo de diferentes
culturas nas mais diversas regiões agroecológicas. Essa situação aliada a outros aspectos
ligados ao clima (temperaturas extremas, ocorrência de secas prolongadas, inundações,
ataque severo e inesperado de pragas e/ou doenças), tem provocado em maior ou menor
grau, nas mais distintas regiões, sérios riscos de insegurança alimentar às populações.
A Província de Sofala, com seus diferentes tipos de solos, composta basicamente pela
agricultura familiar de subsistência, apresenta uma situação semelhante, onde o sistema
tradicional de manejo de solos baseia-se na retirada dos restolhos e capins da área ou
mesmo queima de todos esses resíduos no fim da estação seca, antes do preparo do solo
para a próxima campanha. O solo geralmente é preparado intensivamente com enxadas e,
em pequena escala por tracção animal e/ou tractorizada. A demanda de mão-de-obra é
muito alta e em geral na média uma família possui uma área cultivada em torno de 0.5 a 1.0
hectare. A monocultura predominante consiste na sequência de cereais: milho-milho ou
milho-mapira.
Após o plantio das culturas, normalmente são necessários 3 sachas até que se complete o
ciclo das culturas anuais (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), na maioria dos casos árdua
tarefa incumbida às mulheres.
Assim, a constante degradação dos solos na Província de Sofala, consequência da má
gestão dos recursos naturais, quer pelo cultivo contínuo sem reposição dos nutrientes, quer
pelas práticas anuais de preparo intensivo e queima dos resíduos orgânicos, monoculturas,
aliado às condições climáticas irregulares e, ataque imprevisto e severo de algumas pragas
e doenças, tem como consequência baixas na produtividade, resultando em constante
insegurança alimentar.
Resultados alcançados nos últimos 4 anos a nível de campo com o sistema de Agricultura
de Conservação em diferentes Distritos da Província, mostram que os rendimentos de
diferentes culturas, tais como milho, mapira, feijões, assim como algumas hortícolas (cebola,
tomate, repolho, couves, pimento, cenoura, alface, etc.), podem ser aumentados de 20 até
150%, além de outros benefícios, tais como, diminuição de mão-de-obra (não preparação do
solo, menor número de regas e sachas, entre outros), possibilidades reais de aumentar a
área da machamba e, ter assegurado rendimentos suficientes para garantir o sustento das
necessidades nutricionais da família e o excedente ser direccionado ao mercado local e
regional.
Considerando a situação para os diferentes sistemas regionais de produção na Província de
Sofala, é fundamental o desenvolvimento de um sistema de agricultura sustentável e,
certamente a Agricultura de Conservação oferece esta real possibilidade, onde são
contemplados a diminuição da pobreza no meio rural, e uma maior garantia de segurança
alimentar para todas as comunidades.
3
7. Guía prático de Agricultura de Conservação
1. O SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO
1.1 A importância da Agricultura de Conservação
As inúmeras experiências de agricultores e resultados obtidos por pesquisas mostram que o
sistema de Agricultura de Conservação, que inclui o emprego de plantas de cobertura
adequadamente integradas em rotação de culturas, após devidamente testadas e validadas
nos sistemas regionais de produção, ou seja após serem adaptadas regionalmente, e
distúrbio mínimo do solo, é importante porque:
♦ Promove uma conservação e recuperação dos solos,
♦ Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em
4
economia de mão-de-obra e menor consumo de energia,
♦ Consegue uma diversificação com menores riscos de ataques de doenças e/ou pragas,
♦ Aproveita melhor a humidade com diminuição da frequência de regas,
♦ Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes, melhoria da
capacidade produtiva do solo,
♦ Diminui os custos de produção,
♦ Contribui para uma maior estabilidade de produção,
♦ Existe um tendência de aumento dos rendimentos das diferentes culturas e,
consequente tendência de aumento da renda líquida da propriedade e melhores
perspectivas de diminuição da pobreza no meio rural.
COMO SE CONSEGUE ISSO?
Em áreas com cultivos anuais, a diminuição da taxa de decomposição dos resíduos
orgânicos frescos que são adicionados ao solo, assim como o próprio húmus é obtida
através da redução do revolvimento do solo, eliminação da queima dos resíduos vegetais,
adição de carbono orgânico ao solo, condições estas favorecidas por um manejo
principalmente através da Agricultura de Conservação (sistema de plantio directo), incluindo-se
sempre o uso de plantas de cobertura e adequadas rotações entre as culturas.
Normalmente, as áreas que são mantidas sem cobertura são as mais predispostas aos
efeitos desfavoráveis das excessivas precipitações, e com isso, certamente as perdas de
nutrientes por arraste das partículas (enxurradas) e lixiviação serão bem maiores em relação
a uma área coberta. Além deste agravante, também a prática de monocultivos tende a
agravar os problemas de degradação do solo e, normalmente predispor os cultivos mais ao
possível ataque de pragas e doenças.
A rotação de culturas, incluindo diferentes espécies de plantas de cobertura adaptadas
regionalmente, adequadamente distribuídas temporal e espacialmente, contribuirão
sobremaneira para uma maior biodiversidade no meio ambiente e consequente maior
equilíbrio do sistema como um todo.
A melhoria dos processos de uso e maneio do solo, e manutenção da capacidade produtiva
do mesmo, é um meio de viabilizar a manutenção da família de forma sustentável e
compatível tanto com os recursos naturais sob o ponto de vista de qualidade ambiental,
quanto aos socio-económicos nos aspectos de segurança alimentar e qualidade de vida dos
camponeses.
8. 5
As vantagens do sistema de Agricultura de Conservação podem ser resumidas a seguir:
• Promove a conservação e recuperação dos solos,
• Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em economia de
mão-de-obra e menor consumo de energia,
• Consegue uma diversificação com menores riscos de ataques de doenças e/ou pragas,
• Aproveita melhor a humidade com diminuição da frequência de regas,
• Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes,
• Melhora a capacidade produtiva do solo,
• Diminui os custos de produção,
• Contribui para uma maior estabilidade de produção,
• Contribui para um aumento dos rendimentos das diferentes culturas.
Sr. Joaquim Mapinda:
Pioneiro do sistema de Agricultura de
Conservação no Distrito de Dondo, mostrando a
cobertura do solo, elevada produção de
biomassa da mucuna protegendo e melhorando
a fertilidade do solo
1.2 Os fundamentos do sistema de Agricultura de Conservação
O sistema de Agricultura de Conservação vem sendo desenvolvido em diferentes
continentes, nas mais diversas regiões agroecológicas e sistemas de produção. Este
sistema, apesar de suas especificidades locais e regionais, é governado por alguns
princípios fundamentais.
Os princípios da Agricultura de Conservação são os mesmos em praticamente todas as
regiões do mundo onde se desenvolve a agricultura, e a sua aplicação tende a promover
benefícios tanto imediatos quanto ao longo dos anos, conduzindo ao desenvolvimento de
uma agricultura sustentável e compõe-se basicamente de:
1) Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo, devendo efectuar o plantio das culturas
directamente sobre o solo,
2) Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano,
3) Efectuar uma adequada rotação de culturas, incluindo cultivos de subsistência e/ou
mercado e também plantas de cobertura para se ter sistemas mais complexos, com
maior diversificação e consequentemente mais equilibrados.
9. Guía prático de Agricultura de Conservação
O QUE PRECISA MUDAR NAS ACTUAIS PRÁTICAS TRADICIONAIS DA
AGRICULTURA COMUNS EM MOÇAMBIQUE ?
♦ Queima, aração do solo, monoculturas contínuas, solo mantido descoberto, deverão ser
6
evitadas nas machambas. Dessa forma, é recomendável não queimar os restolhos e
resíduos vegetais nas machambas, mas sim manter os restolhos das culturas e de
plantas invasoras sobre o solo;
♦ Evitar revolver o solo, quer com enxadas, tracção animal ou tractores;
♦ Buscar executar rotação/sequência de culturas adaptadas às diferentes condições agro-ecológicas
predominantes nas diferentes regiões e que promovam melhoria do solo e
aumento de rendimento das culturas subsequentes;
♦ O plantio das culturas deverá ser efectuado directamente no solo (coberto com capim ou
outros resíduos), quer seja com catana, matraca, pequenos covachos ou através de
máquinas de plantio directo (tracção animal e/ou tractorizada).
Feijão em plantio directo sobre capim que será
rotacionado com milho
(Distrito do Dondo).
Os três princípios da Agricultura de Conservação são os seguintes:
• Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo,
• Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano, e
• Efectuar uma adequada rotação de culturas.
10. 1.3 Os benefícios do sistema de Agricultura de Conservação
A prática da Agricultura de Conservação, traz benefícios a vários níveis:
Ao nível dos Agricultores:
ƒ Redução do trabalho (principalmente no tempo para realizar as actividades),
ƒ Redução nos custos de produção: menor necessidade de insumos externos (fertilizantes,
7
pesticidas), menor uso de tractores/máquinas/equipamentos e combustível,
ƒ Maior controle das invasoras diminuindo ou até eliminando a necessidade de
sachas/mondas nas culturas,
ƒ Maior armazenamento de água no solo e menores perdas de água por evaporação:
menor número de regas,
ƒ Maior estabilidade e aumento no rendimento das diferentes culturas (cereais (milho,
mapira), hortícolas (cebola, alho, alface, tomate, etc.), leguminosas (feijões: nhemba,
vulgar, bóer, etc.),
ƒ Aumento na lucratividade do sistema agrícola.
Ao nível de Comunidades / Ambiente / Bacias Hidrográficas:
ƒ Maior constância da água nos leitos dos rios, reaparecimento de mananciais que se
secaram,
ƒ Menor ocorrência de erosão e, consequente mais água limpa nos diferentes ambientes
ƒ Menores riscos de enchentes,
ƒ Diminuição de riscos do impacto de situações climáticas extremas,
ƒ Menores gastos na manutenção de estradas e canais de escoamento de água,
ƒ Maior segurança alimentar para as populações da região abrangida pelo sistema de
Agricultura de Conservação.
Ao nível Global:
ƒ Maior captura (sequestro) de carbono orgânico no solo,
ƒ Menores riscos de poluição quer seja por poeira, fumo proveniente de queimadas, e
diminuição dos riscos do efeito estufa (causado principalmente pela emissão de CO2
para a atmosfera),
ƒ Menor uso de combustíveis (economia de 40-60%), no caso de tratores,
ƒ Menores perdas de nutrientes por lixiviação e consequente menos riscos de
contaminação das águas subterrâneas,
ƒ Praticamente um controle quase total do processo erosivo (água, ventos),
ƒ Menores perdas de água e, consequente maiores recargas dos aquíferos.
A aplicação adequada dos conceitos de Agricultura de Conservação quanto à Tração
Tractorizada tem as seguintes implicações:
ƒ Menos trabalho e menor necessidade de potência nos tractores,
ƒ Economia de até 60% no combustível,
ƒ Diminuição de até 50% da necessidade de tractores,
ƒ Diminuição de até 40% no tamanho dos tractores,
ƒ Aumento da vida útil do tractor, pode ser triplicada,
ƒ Redução significativa no capital a ser investido nos tractores.
11. Guía prático de Agricultura de Conservação
2 A REALIDADE DA PROVÍNCIA DE SOFALA
2.1 Características regionais (generalidades)
8
CHEMBA
MARINGUE
BUZI
CAIA
CHERINGOMA
MUANZA
CHIBABAVA
MACHANGA
MARROMEU
GORONGOSA
DONDO
NHAMATANDA
A Província de Sofala apresenta diferentes
condições agro-ecológicas:
Solos: arenosos, francos e argilosos (e suas
combinações); com profundidade efectiva variável,
desde solos rasos (litólicos) bastante jovens,
normalmente nas áreas montanhosas com presença
de rochas, até solos mais profundos nas áreas
baixas, com maior acúmulo de húmus (matéria
orgânica). Solos arenosos (areia quartzosa), solos
francos (areno-argilosos), até argilosos (teores de
argila superior a 35%).
Relevo: Variável, desde a planície costeira (planos),
até áreas montanhosas como a região de
Gorongosa e outras, variando portanto os relevos
desde as áreas planas, suave ondulado, ondulado,
declivoso e montanhoso.
Matéria orgânica: desempenha um papel
extremamente importante na manutenção e/ou
recuperação da fertilidade e capacidade produtiva
dessas áreas, sendo dessa forma fundamental o
desenvolvimento de um manejo de solos e culturas
que privilegiem a manutenção e/ou aumento dos
níveis dessa matéria orgânica nos solos explorados
com agricultura.
Fertilidade: a fertilidade química natural dos solos também é variável, sendo extremamente
pobre nas áreas onde predominam areias quartzosas, aumentando conforme se aumenta
os teores de argila; também áreas que tem sido cultivada por maior tempo, além das
perdas de solos pela erosão e degradação da matéria orgânica pela queima dos restolhos e
pelo preparo contínuo do solo, aliados a não reposição de nutrientes, os solos se
apresentam mais pobres e com menor capacidade de produção.
Solo extremamente degradado (Distrito de Gorongosa):
mapira com fraco desenvolvimento e, tentativa de
recuperação da área com mucuna. Esta leguminosa não foi
eficiente. Neste caso, é recomendado iniciar com feijão
bóer.
12. 9
2.2 O uso dos solos agrícolas (generalidades)
ƒ Áreas de baixadas de relevo plano, inundáveis na estação chuvosa (solos
hidromórficos), normalmente exploradas com o cultivo de arroz inundado e, geralmente
apresentam teores de matéria orgânica mais elevados.
ƒ Parte das áreas de baixadas são ocupadas na entre-safra do arroz (outono/inverno) com
cultivos hortícolas (cebola, alho, tomate, repolho, couves, cenoura, alface, etc.;
geralmente empregando regas periódicas (bombas pedestais, manual com regadores,
inundação). As áreas mais altas, onde os solos apresentam menor acúmulo de água,
são ocupadas por milho, mapira, feijões (nhemba, bóer, vulgar), gergelim, mandioca,
algodão, etc. As culturas de subsistência normalmente são o milho, arroz, mapira,
mandioca, cujo excedente é colocado no mercado. Por outro lado, o gergelim, algodão,
hortaliças (subsistência e mercado) são produzidos com finalidade de mercado.
ƒ Áreas de meia encosta, predominam outras culturas de subsistência e mercado: milho,
mapira, gergelim, feijões (nhemba, bóer, vulgar), algodão, mandioca, etc.; hortaliças:
cebola, alho, repolho, couves, etc. (baixadas e meia encosta), enquanto algumas
frutíferas, tais como: ananás, banana, caju, papaia, manga, etc., ocupam normalmente
as áreas mais altas.
ƒ As pastagens cultivadas são raras, ficando os animais em geral confinados a pequenas
áreas e após as colheitas grande parte é liberado para se alimentar dos restolhos e,
algumas gramíneas que crescem nos campos. Assim, a existência de áreas controladas
para abrigo dos animais é importante no sentido de evitar que os animais tenham acesso
aos campos cultivados e, consequentemente eliminem os restolhos, que é um
componente básico e fundamental para o sistema de Agricultura de Conservação.
ƒ Muitas áreas são ocupadas por vegetação arbustiva e florestas, que além de ser
importante para gerar fontes de água, manutenção da flora e fauna, também contribui
para o abrigo e procriação de diferentes insectos e outros organismos, muito dos quais
são inimigos naturais de pragas promovendo assim um maior equilíbrio ambiental.
2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas
Geralmente na maioria das áreas é praticado uma agricultura puramente de extrativismo,
sem a reposição de nutrientes (a maioria não utiliza fertilizantes químicos e o uso de
adubos orgânicos nos diferentes sistemas de produção é mínimo. Grande parte das
machambas se caracterizam por uma agricultura migratória (nomadismo), onde geralmente
após alguns anos de cultivo intenso, quando os rendimentos baixam, o campo é
abandonado e deixado em pousio por 2-3 anos, para então posteriormente se retornar a
cultivar nessas áreas.
Praticamente não existe trabalhos de melhoramento de pousio e tampouco uma reposição
dos nutrientes extraídos pelos cultivos. Além disso, a cada campanha onde serão
implantadas novas culturas no terreno, a tradicional e predominante queima dos restolhos
das culturas e/ou muitas vezes a sua retirada das machambas, somado ao preparo intensivo
dos solos através de arações (enxadas ou tractores, ou ainda por tracção animal), tem
acelerado a mineralização/decomposição da matéria orgânica dos solos. Isso, tem
provocado um aumento nas perdas de solos, água e nutrientes pelo processo da erosão; e,
também, o comumente emprego de monoculturas, ou seja a repetição das mesmas culturas
nos anos subsequentes, tem contribuído para o aumento das populações de invasoras
(plantas daninhas), aumento da ocorrência de pragas e doenças, promovendo queda dos
níveis de matéria orgânica dos solos e empobrecimento dos sistemas e, por consequência
13. Guía prático de Agricultura de Conservação
provocando uma drástica diminuição da capacidade produtiva das terras, manifestada
através das quedas anuais de produtividade das diferentes culturas e, consequentemente
uma menor segurança alimentar.
Além dos aspectos negativos, também o uso de mão-de-obra para a execução destas
práticas tradicionais é muito elevada, exaustiva e, por consumir um grande tempo para sua
execução, impede a possibilidade e/ou chances de aumento da área da machamba,
inviabilizando dessa forma, maiores possibilidades/oportunidades do aumento da entrada de
ingressos e, consequente aumento da renda liquida das famílias.
10
Paisagens típicas de região
montanhosa (Distrito de
Gorongosa): preparo intensivo,
plantio morro abaixo e erosão do
solo com o resultado dum
empobrecimento constante com o
sistema tradicional
Expansão de áreas ou abertura de novas machambas
utilizando a prática tradicional destrutiva da queima
(Distrito de Cheringoma)
Numa avaliação generalizada da situação dos solos agricultáveis das diferentes regiões de
Sofala, é muito preocupante o nível de degradação das terras, comprovado pela observação
em diversas machambas, nos diferentes Distritos, a visível deficiência de nutrientes por
diferentes culturas (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), assim como os baixos níveis de
nutrientes no solo, além da diminuição quase constante da matéria orgânica dos solos.
Numa área de solo areia quartzosa, com mais de 80% de areia, sem cultivo atual., os
resultados da análise de solos (Tabela 1) mostram o grau de degradação e baixo nível de
nutrientes.
Tabela 1: Composição química de solo (areia quartzosa, 0-20cm) no Distrito do Dondo
mg /
dm3
(ppm)
g /
kg
solo
cmolc / dm3 de solo (meq./100g de solo) (%)
Solo
P C
(%)
Mat.
Org.
pH
Al H+Al Ca Mg K S T V Al
Areia
quar-tzosa
4.20 0.44 0.76 6.10 0.00 2.18 2.02 0.37 0.05 2.44 4.62 52.81 0.00
P= fósforo; C= carbono; pH= pH do solo; Al= alumínio; H+Al= hidrogénio + alumínio;
Ca= cálcio; Mg= magnésio; K= potássio; S= soma de bases; T= CTC;
V= Saturação das bases; Al (%) = saturação de alumínio.
14. Pelos dados da análise química do solo, os níveis de matéria orgânica, cálcio, magnésio,
potássio, assim como a soma de bases e CTC (Capacidade de Troca de Cátions) , são
bastante baixos, sendo apenas o fósforo com um teor levemente maior (possivelmente
resíduos de queima de restolhos). Assim, solos semelhantes a este, que são grande parte
das áreas cultivadas na Província de Sofala, necessitam urgente interferência no manejo no
sentido de aumentar os níveis de matéria orgânica, aumentando assim a CTC, para então
promover uma adequada reposição dos nutrientes (aliado à adubarão química e/ou
orgânica) e recuperação da capacidade produtiva dessas terras. Caso contrário, com a
continuidade de degradação dos solos, não será possível caminhar em direcção à
sustentabilidade e garantia de segurança alimentar.
Prova disso, é a baixa produtividade das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, gergelim,
nhemba, etc.) relatadas pela maioria dos produtores consultados dos distintos Distritos.
Por exemplo no Distrito do Búzi em reunião com técnicos e camponeses foi relatado a
produtividade média dos diferentes cultivos:
Arroz: 2,0 toneladas/hectare
Milho: 0,8 - 1,0 toneladas/hectare
Estas produtividade relatadas são muito baixas e, indubitavelmente pela alta demanda de
mão-de-obra envolvida, caso fossem efectuados estudos de balanço energético nos
distintos sistemas de produção, possivelmente na maioria dos casos o balanço energético
seria negativo, ou seja o montante total de energia consumida em todas as etapas da
produção é muito maior do que aquela obtida através dos valores energéticos de produção
das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, etc.). Os rendimentos médios de diversas
culturas em Moçambique são muito baixos (Tabela 2), certamente representam os
rendimentos da grande maioria dos camponeses da Província de Sofala.
Tabela 2: Rendimento estimado e potencial (t/ha)
11
Média de rendimento em
Moçambique
Cultura
Rendimento
actual
Rendimento
potencial
Rendimentos no
Zimbabwe
Rendimentos em
África (geral)
Milho 0.1 - 2.3 1.0 - 3.0 1.4 1.2
Mapira 0.3 - 0.6 0.5 - 1.5 0.6 0.8
Arroz 0.5 - 1.8 1.0 - 2.5 2.8 1.6
Feijão 0.3 - 0.6 0.4 - 0.6 0.7 0.7
Mandioca 4.0 - 5.0 5.0 - 10.0 4.0 7.5
Castanha de
caju 0.1 - 0.2 0.4 -- --
Fonte: Taimo et al., 2005.
Os dados relatados mostram que há um grande potencial em aumentar os rendimentos,
necessitando a adaptação de tecnologias viáveis, utilização racional de insumos para atingir
níveis sustentáveis de produção.
Alguns resultados já alcançados pelos camponeses assistidos pelo Projecto PROMEC
mostram que é possível em curto prazo, em algumas situações, com a implantação
adequada do sistema de Agricultura de Conservação, aumentar imediatamente os
rendimentos de diversas culturas.
15. Guía prático de Agricultura de Conservação
2.4 Práticas tradicionais de manejo de solos
1. A mais comum e tradicional prática empregada pela maioria dos camponeses na
12
Província de Sofala consiste na queima dos restolhos das culturas e/ou retirada dos
mesmos da machamba; a cada implantação de nova cultura, preparo intensivo do solo
com enxadas ou tracção animal; a prática repetida de monoculturas (milho-milho,
mapira-mapira, etc.), tem proporcionado um excessivo uso de mão-de-obra, além de
limitar a área a ser explorada na machamba, ou seja a actual área cultivada por cada
família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare de plantio, em razão da alta
demanda de trabalho, principalmente nas operações de preparo do solo e limpeza das
ervas invasoras (sachas e monda), trabalho este na maioria dos casos efectuado por
mulheres. Dessa forma, sempre estão à tona os riscos de segurança alimentar, ou seja
com apenas uma pequena área de cultivo, a possibilidade de perdas quer por secas
ocasionais, excesso de chuvas ou mesmo ataques imprevistos e severos de pragas e/ou
doenças é bastante grande e, poderão em diversas situações colocar as famílias em
situação de emergência e riscos de não conseguirem alcançar os rendimentos
suficientes para auto sustento. Assim, é preciso encontrar meios de aumentar a área da
machamba a ser cultivada, pois a maioria dos camponeses raramente consegue suprir
as necessidades básicas de alimentação de uma família.
2. A lavra manual, consiste num trabalho extremamente árduo e grande consumidor de
tempo e energia junto aos camponeses. É necessário mudar os meios de produção (“é
preciso sair da lavra com enxada todos os anos, pois é muito árduo”). Um trabalhador no
campo, com uma carga de trabalho de 8 horas diárias, consome em torno de 30-45 dias
em média para lavrar uma área de 1 hectare, em áreas secas. Em áreas húmidas ou
com bastante água (típica das áreas de baixada para cultivo de arroz em Búzi, Dondo e
outros Distritos), o tempo demandado poderá ainda ser maior.
3. Além da lavra, também a sacha (milho) e a monda (arroz), são práticas comuns nestes
sistemas de produção e, também consomem bastante tempo e trabalho árduo aos
camponeses; a prática da monocultura é a mais comum, ou seja normalmente os
camponeses plantam arroz sobre arroz ou ainda milho sobre milho nos anos
sequenciais.
4. A grande maioria dos camponeses não utilizam herbicidas e/ou fertilizantes químicos.
5. Há uma necessidade muito elevada de apoio e assistência técnica à maioria dos
camponeses, ou seja, é marcante a carência de informações técnicas e meios de
implementação no que diz respeito a um adequado manejo de solo e das diferentes
culturas exploradas.
6. A actual área cultivada por cada família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare de
plantio, não suficiente para atender as necessidades da família. É necessário encontrar
uma forma URGENTE de poder aumentar a área de machamba, aumentar a produção/
produtividade e conseguir assim diminuir os riscos de intempéries às vezes imprevistas
(seca, excesso de chuvas), ou mesmo um forte e inesperado ataque de pragas/doenças
que possam comprometer o rendimento final das culturas e a garantia do suprimento de
alimentos durante todo o ano às famílias.
7. A possibilidade de uso de herbicidas, poderá indirectamente proporcionar menos
trabalho e consequentemente chances de aumentar a área de cultivo da machamba;
entretanto poderá trazer riscos de contaminação aos usuários e ao ambiente, caso não
16. sejam seguidas as normas adequadas de manuseio e aplicação, assim como
produtos/dosagens menos tóxicos possíveis.
8. A prática do consórcio ou associação de cultivos é praticado por muito poucos
13
camponeses: milho + mandioca + hortaliças (quiabo, abóbora, melancia, etc.).
9. Apesar da assistência técnica estar há vários anos tentando convencer os camponeses
sobre a importância de observar atentamente alguns componentes técnicos (como por
exemplo o uso adequado dos compassos (espaçamento e densidade de plantas) de
diferentes cultivos, principalmente o milho, as recomendações por parte da maioria dos
camponeses não vem sendo seguido. Isto, como foi observado em várias machambas,
de diferentes Distritos visitados, em alguns casos com 5-7 plantas de milho num mesmo
covacho e, espaçamentos de 1.20m ou mais entre os covachos. Isto, além de provocar
uma elevada competição entre as plantas, por água, luz e nutrientes, interfere
negativamente e provoca diminuição acentuada na produtividade das culturas (milho,
mapira, principalmente, haja visto que estas plantas respondem em rendimento quando
em população ideal).
10. Um grande número de camponeses da região do Búzi e outros distritos de Sofala,
utilizam a prática de retirar os resíduos para fora da machamba e, a grande maioria
utilizam também a queima de todos os restolhos da machamba (restos culturais de
milho, arroz, mapira, etc., e também todos os capins e outras invasoras (plantas
daninhas) que crescem nos campos). Estas práticas eliminam quase toda a adição anual
de carbono orgânico (material orgânico) ao solo e, consequentemente após as colheitas,
um montante de nutrientes também é retirado anualmente, dessa forma o solo vai
ficando mais empobrecido a cada ano, ou seja o balanço anual do carbono orgânico
passa a ser negativo (sai mais carbono do que entra no sistema), além da diminuição
contínua dos nutrientes, sendo portanto estas práticas indesejáveis ao bom manejo do
solo agrícola e, portanto não compatíveis com a “Sustentabilidade dos Sistemas de
Produção”.
11. Um elevado número de camponeses em determinadas áreas utilizam uma agricultura
itinerante, ou seja após vários anos de cultivo (queima, preparo do solo, e monocultura
quase que constante), quando o solo encontra-se degradado e com baixa produção nos
cultivos, abandonam estas áreas indo cultivar em outros campos e, assim após 3-4 anos
de pousio, retornam a cultivar nestas áreas.
Poderiam nestas áreas promover o ”melhoramento do pousio” com a inclusão
principalmente de leguminosas nativas da região que irão aumentar os teores de matéria
orgânica, nitrogénio através da fixação biológica no solo, além de contribuírem na
reciclagem de outros nutrientes. Podem ainda utilizar algumas leguminosas arbóreas,
tais como: Glericidia sepium, Sesbania sp., Tephrosia sp., etc., ou arbustivas: feijão bóer
(Cajanus cajan), ou mesmo com algumas leguminosas anuais: Mucuna sp., Clitoria
ternatea, e perenes: Stylosanthes sp., Calopogonium mucunoides, etc.
12. Alguns grupos de camponeses trabalham com tracção animal e, com uma possível
implementação/adaptação no uso adequado de equipamentos e máquinas (rolo-faca
para manejo de plantas de cobertura e resíduos, máquina de plantio directo), poderão
além de aumentar a área da machamba, também proporcionar aumento na
produtividade e produção final, com uma maior renda líquida na propriedade.
13. O armazenamento de grãos apresenta problemas quanto a manutenção da qualidade
dos grãos, principalmente milho, mapira, mexoeira, que podem sofrer ataques severos
de gorgulhos, que ao destruírem os grãos inviabilizam o seu consumo. Faz-se
necessário utilizar de técnicas que permitam uma melhor conservação desses grãos e a
sua manutenção por um maior tempo em condições aptas de consumo. Neste caso, a
17. Guía prático de Agricultura de Conservação
14
construção de celeiros melhorados seria uma óptima alternativa e, caso não seja
possível pode-se empregar alguns tratamentos (agro-ecológicas) e sem riscos aos
camponeses:
Em um silo de armazenagem colocar uma camada de folhas de Eucalyptus sp. (30-40
cm) em cada camada em torno de 1 metro de altura (formada por grãos de milho,
mapira, ou mesmo em espigas, ou feijão. É importante também manter o fundo do local,
e também a parte superior (sobre os grãos) cobertos por esta camada de folhas de
eucalyptus.
Em caso da não disponibilidade de eucalyptus, pode também ser utilizado folhas e
ramos de mucuna (verde).
É também possível a utilização de cinzas obtida através da queima de madeira ou
queima de cascas de arroz, ou ainda o uso de areia que deverão ser misturadas com os
grãos dos cereais ou ainda de feijão: nhemba, bóer ou vulgar, a qual evitará o ataque de
gorgulhos, podendo assim permanecer armazenados por um longo tempo sem perda da
qualidade dos grãos.
14. Existem os CDR (Campos de Demonstração de Resultados) que servem para os
camponeses observarem os resultados disponíveis e optarem por alguma nova
tecnologia a ser implementada na machamba: novos híbridos disponíveis, compassos,
controle de pragas e doenças, etc., também poderão ser utilizados na difusão da
Agricultura de Conservação. Ou seja, a Agricultura de Conservação não é um fim, mas
sim um meio, no qual se pode conduzir diferentes culturas anuais e, no mesmo enfoque
também culturas perenes (solo coberto, não queimar e não revolver o solo).
15. O actual processo de difusão, normalmente levado a cabo pelos extensionistas, e a
adopção de tecnologias por parte dos camponeses necessita melhor implementação,
inclusive com o emprego de “promotores” que irão difundir tecnologias já validadas em
seus campos, fazendo com que novas e promissoras tecnologias possam ser melhor
testadas/validadas por outros camponeses e, efectivamente possam ser expandidas e
adoptadas por um maior número de famílias de camponeses.
16. Existem algumas pequenas experiências com o uso de controle biológico de pragas por
parte de alguns camponeses, utilizando-se de: cebola, alho, coentro plantados junto aos
canteiros das hortaliças em direcção ao vento para que o odor destas plantas possam
afugentar insectos e outras pragas; e também cinzas são aplicados sobre algumas
pragas; no controle de lesmas e caracóis também são aplicados cinzas ao redor dos
canteiros ou das plantas que irão impedir a passagem e ataque destes moluscos às
plantas.1
17. Sistema de Camalhões
Em algumas regiões de Sofala é comum a prática da construção de camalhões no solo,
visando um melhor manejo do solo explorado com agricultura. Esta prática é uma
medida de conservação do solo e armazenamento de água que vem sendo empregada
na região de Gorongosa e outras regiões, e se caracteriza:
ƒ Normalmente, o solo é revolvido a cada estação, provocando uma aceleração no
processo de decomposição da matéria orgânica ;
ƒ A disposição desses camalhões promove um maior controle da erosão em áreas
de encosta, em virtude dos mesmos serem aloucados perpendicularmente ao
sentido do declive e, portanto cortam o sentido das águas, diminuindo a
velocidade e armazenando mais água nos camalhões; apesar disso o solo é
revolvido periodicamente após cada colheita e manejado para implantação de
uma nova cultura;
1 Vide informações/recomendações no capitulo sobre Controle de pragas e doenças.
18. ƒ Todos os anos os novos restolhos dos cultivos são incorporados ao solo,
mudando a localização do novo camalhão e, assim novamente o solo é revolvido
com perdas nas suas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo;
ƒ Além da penosidade do trabalho, ocorre um elevado emprego de mão-de-obra na
execução das operações de reconstrução total e manutenção dos camalhões a
cada ano;
ƒ Apesar dos resíduos serem amontoados nos camalhões e uma maior quantidade
de água armazenada, a constância anual no revolvimento do solo, provocará
uma degradação ao longo do tempo, principalmente da matéria orgânica e
fatalmente mostrando ser um sistema que poderá comprometer a
sustentabilidade ao longo dos anos.
Diante desses inconvenientes, é sugerido que em áreas muito declivosas sejam
construídos pequenos terraços/ cordões vegetados, onde poderão ser protegidos por
barreiras vivas com Vetiver, cana-de-açucar, ou também com a inclusão de
leguminosas: feijão bóer (arbustiva), ou mutica - arbustiva) ou outras espécies (*citadas
em práticas complementares de conservação), para que estas espécies ao serem
podadas os resíduos possam ser deixados sobre a superfície do terreno. Além disso, o
solo não deverá ser revolvido e tampouco queimado os resíduos. Após as colheitas, os
restolhos deverão ser distribuidos sobre o solo e, posteriormente a implantação das
novas culturas deverá ser através do plantio directo (tracção humana – matracas,
tracção animal ou tracção tractorizada), conforme a infra-estrutura local.
2.5 Agricultura de Conservação: uma alternativa viável
Entretanto, existem alternativas ao alcance do agricultor familiar, capazes de provocar
aumento significativo dos rendimentos, diminuir a carga de trabalho, promovendo maiores
entradas/ingressos e, consequentemente se conseguir uma produção capaz de gerar
excedentes. Para isso, serão necessários mudar radicalmente os sistemas de manejo de
solos e culturas, tradicionalmente empregados e, por consequência, os camponeses com
maior disponibilidade de tempo e energia (maior disponibilidade de mão-de-obra) e, assim
poder aumentar a área da machamba a ser explorada e, consequentemente com maiores
chances de aumento da produção, com uma maior oferta de produtos de subsistência e de
mercado. Este sistema de produção sustentável poderá contribuir efectivamente para o
aumento da renda familiar e assim promover a melhoria da qualidade de vida dos
camponeses da Província de Sofala.
15
19. Guía prático de Agricultura de Conservação
3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE
16
CONSERVAÇÃO
3.1 O início: a adequação das áreas
Tendo em conta que os produtores vão apresentar solos com situações diferentes, a
entrada para o sistema de Agricultura de Conservação, deve ter em conta a situação real da
cada machamba.
Existe um período inicial, ou seja uma fase de transição do sistema tradicional/convencional
para o novo sistema de Agricultura de Conservação que ora está sendo implementado.
Tendo em conta as práticas comuns em Sofala, é fundamental o abandono completo das
práticas tradicionais (queima, aração, monoculturas, solo descoberto), e a iniciação de uma
re-adequação de todo o sistema de produção sob o novo enfoque da Agricultura de
Conservação seguindo as seguintes etapas:
a) Diagnóstico e definição de área
Neste momento, os camponeses auxiliados pelos técnicos da extensão rural realizam uma
avaliação das suas machambas, passando por um diagnóstico e definição específica da
área onde será implementado o sistema de Agricultura de Conservação. Preferentemente
deve-se escolher a melhor área da propriedade, ou seja machambas com potencial de se
obter resultados imediatos e, posteriormente quando o camponês dominar a tecnologia,
poderá ir ocupando outras áreas, menos férteis e mais difíceis. Após a escolha/definição da
área, verifica-se “in loco” quais os possíveis componentes que deverão ser incluídos
naquela determinada área da machamba.
No tocante à questão tradicional/cultural de manter os animais em liberdade é necessário
buscar meios para manter os animais em áreas protegidas, evitando que os mesmos
consumam todos os restolhos e resíduos vegetais da superfície do solo. Uma alternativa
viável nesse sentido, quando não se dispõe de capital para construção de cerca de arame, é
a multiplicação de mudas de árvores que possam ser usadas como “cerca viva”: Dovyalis
abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi,
Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha, Acacia melífera,
Acacia tortuosis, etc., e, posteriormente serem distribuídas aos camponeses para
protegerem as áreas de produção agrícola.
b) Definição de Componentes iniciais de acordo com as condições da machamba
Assim, caminha-se para a operacionalização dos componentes do sistema, ou seja, nas
etapas em que são adequadamente ajustados e implementados os diferentes elementos tais
como: plantas de cobertura, locação e execução de terraços/cordões vegetados/cordões de
pedras (quando necessários em áreas mais declivosas), ou amontoa de pedras (quando em
número reduzido), distribuição uniforme dos restolhos sobre o solo, escolha da melhor
sequência de culturas, consorcio de culturas (p. ex. milho + mucuna, mapira + feijão bóer,
etc.), enfim um conjunto de componentes que estão sendo implantados e em fase de
ajustamento e/ou equilíbrio dentro de determinada região e sistema de produção.
Portanto, os diferentes sistemas de produção regional, nas mais variadas zonas agro-ecológicas
da Província de Sofala, quando da implementação do novo sistema deverão ser
20. acompanhados de determinadas sequências de culturas, preferentemente que tenham sido
já testados e validados pelos camponeses da região e sofrido os ajustes necessários para a
consolidação dos diferentes componentes a fazerem parte do Sistema de Agricultura de
Conservação.
3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura de Conservação
Os passos apresentados com as devidas etapas, constituem um guia geral para uma
adequada implantação do sistema principalmente nas pequenas propriedades.
Os passos enumerados não necessariamente deverão seguir sempre uma sequência
conforme descrita, em muitos casos o sistema é desenvolvido já partindo de uma situação
ou passo previamente realizado, ou mesmo em alguns casos, onde nem todos os passos ou
componentes se aplicam ou serão necessários àquela determinada situação.
1. Treinamento e capacitação de técnicos e agricultores
2. Sistematização, limpeza e descompactação do terreno (caso houver necessidade)
Áreas que apresentam solos com superfície desuniforme ou com excessivos buracos,
torrões, tocos, etc., deverão ser, no caso de tração tractorizada, preferentemente
uniformizadas através de gradagens, etc. Tração humana (uso de enxadas, catana,
matraca) poderá ser efetuada mesmo em áreas desuniformes ou com presença de troncos,
tocos, não havendo necessidade de uniformizar a superfície do terreno.
3. Diminuição do comprimento das pendentes em áreas declivosas
Inclui construção de terraços, muralha/cordões de pedras, barreiras vivas – capim vetiver,
capim limão, feijão bóer, Glericidia sepium, Tephrosia vogelli - mutica, etc. Neste caso,
poderá se utilizar simultaneamente de camalhão de solo ou muralha de pedras,
complementada por plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante,
etc.) e/ou ainda algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas
para fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo.
4. Iniciar em pequenas áreas da machamba e também nas melhores áreas da
propriedade
Iniciar nas áreas mais conservadas e com melhor fertilidade, ou seja, onde o camponês vê
as plantas melhor desenvolvidas e, conforme vai conhecendo e através dos resultados
alcançados ir aprimorando o sistema. Posteriormente, ir para outras áreas da machamba, as
mais problemáticas e com solos degradados até que o sistema esteja implantado em toda a
propriedade.
5. Não queimar restolhos das culturas, capins, e outros resíduos de invasoras, mas
sim deixá-los sobre a superfície do solo
6. As plantas de cobertura/resíduos de invasoras ou mesmo os restolhos das
culturas, deverão ser manejadas com rolo-faca, catana, foice, herbicidas, etc. e,
deixadas cobrindo o solo
7. Eliminar totalmente a lavoura, isto é, não efetuar mais o preparo do solo, quer seja
com enxadas ou com charrua
17
21. Guía prático de Agricultura de Conservação
8. Escolher corretamente equipamentos e máquinas (enxada, catana, matraca, rolo
faca, máquina plantio directo; tracção animal, etc.), conforme as condições da
propriedade e da infra-estrutura do produtor
9. Objetivando uma maior proteção e recuperação do solo, deve ser utilizado espécies
nativas e exóticas melhoradoras de solo (preferentemente leguminosas), visando a
cobertura da superfície do solo e melhoria das propriedades do solo
10. Procurar executar a rotação de culturas
Procurar mudar a sequência de culturas ou mesmo efectuando consórcio de culturas com
plantas de cobertura (ex. mucuna intercalado ao milho; feijão bóer intercalado entre as
fileiras de milho/mapira), isto irá contribuir para uma maior reciclagem de nutrientes, um
aumento da biodiversidade e diminuição da população de plantas invasoras e probabilidade
de ocorrência de pragas e doenças.
11. Manejo adequado da fertilidade do solo:
ƒ Solos com baixa fertilidade ou extremamente degradados deverão ser melhorados com
18
a inclusão de leguminosas por 2-3 anos: leguminosas rasteiras ou prostradas: ex.
mucuna pruriens, stylosanthes sp., calopogonio mucunoides, clitoria ternatea, etc.;
ƒ Culturas intercaladas com leguminosas arbustivas: feijão bóer, Sesbania sesban, etc.;
e ainda também com leguminosas arbóreas: Glericidia sepium, Tephrosia vogelli,
Sesbania sp., Calliandra calythersus, Acacia albida, etc.; estas leguminosas deverão
preferentemente ser inoculadas (rhizobium específicos) e, quando disponível utilizar
também fungos micorrízicos. Além disso, visando a reposição dos nutrientes a níveis
aceitáveis de produção, aplicar fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) e na correção de
solos calcário e/ou gesso, ou mesmo cinzas (se houver disponibilidade).
12. Iniciar preferentemente em áreas com menor infestação de invasoras (ervas
daninhas) de difícil controle, principalmente aquelas perenes, como é o caso de
vários capins, principalmente em áreas brutas, ou aquelas onde haja alta infestação
de espécies que se propagam através de rizomas, bulbos - Cynodon dactilon,
Cyperus sp. etc.)
Procurar diminuir estas infestações, eliminando os rizomas e/ou bulbos através de preparo e
catação, ou mesmo (em alguns casos através de herbicidas), para então com presença de
mulch (produzido no local ou trazido externamente) desenvolver o sistema.
Solos em recuperação com Glericidia sepium
na Província de Sofala
22. 13. Evitar o excessivo pastoreio e pisoteio de animais, que irá eliminar a presença
de mulch e consequentemente prejudicar o solo e os cultivos
A presença de animais nos campos deve ser evitada, devendo-se construir cercas
metálicas, ou cercas vivas, ou seja, arbustos e árvores locais preferentemente com
presença de espinhos, tais como: (Dovyalis abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia
acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi, Jatopha curcas (pinhão manso),
Agave sisalane (sisal), Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha,
Acacia melífera, Acacia tortuosis, etc.; usar de plantas de cobertura não comestíveis pelos
animais, tais como: Ricinus communis (ricinus), Tephrosia vogelli (mutica), Tephrosia
tunicata, Tephrosia candida, Senna spectabilis, etc.;
Selecionar pequenas áreas onde através de uso de fertilizantes orgânicos e/ou
compostagem poderá produzir elevadas quantidades de forragens, capins (capim elefante,
sudangrass, etc.) e leguminosas (feijão bóer, leucaena, etc.) que serão ministradas aos
animais, evitando a invasão dos mesmos às machambas.
19
O que Você deve levar em conta na implantação do sistema de Agricultura de
Conservação:
Informações regionais disponíveis sobre espécies a comporem uma adequada sequência de
culturas, época de plantio, forma, isolado ou consorciado com milho ou mapira (p. ex.), época e
forma de manejo (cortado com catana ou manejado com rolo-faca ou herbicidas) e, ainda a
época adequada para implantação ou transplante da cultura posterior (subsistência ou de
mercado). Assim, o produtor correrá menores riscos de insucesso no início da implantação do
sistema.
Buscar uma adequação da sequência das culturas (subsistência, mercado) e levando em
consideração a distribuição das chuvas e temperatura durante todo o ano.
3.3 Práticas que poderão fazer parte do sistema
Para desenvolver um adequado sistema de Agricultura de Conservação, é necessário uma
harmoniosa integração de alguns componentes do sistema:
a) Plantas de cobertura,
corte e distribuição do capim (ou dessecação através de herbicidas),
b) Manejo de invasoras,
c) Rotação de culturas,
d) Construção de terraços, etc. que podem variar de acordo com a localização de uma
determinada área, e alguns atributos:
- zona agro-ecológica
- altitude
- local que ocupa na toposequência da paisagem
- as propriedades do solo (químicas, físicas e biológicas)
- quantidade e distribuição de chuvas durante o ano
- sistema de produção
23. Guía prático de Agricultura de Conservação
20
Área em declive mostrando processo de erosão,
deve ser construído terraços (cordão vegetado),
plantas de cobertura e rotação de diferentes
culturas (Distrito de Gorongosa).
Durante o planejamento de implantação do sistema de Agricultura de Conservação, é
importante a possibilidade de se considerar a machamba dentro de uma área maior que é a
Microbacia Hidrográfica, considerando assim a unidade física para se efectuar todas as
operações técnicas, possibilitando a integração entre uma propriedade e outra, facilitando
assim todas as possíveis intervenções e procedimentos técnicos favoráveis ao manejo
sustentável do solo.
Conforme a localização das machambas em diferentes zonas agro-ecológicas e altitudes, o
comportamento de determinadas culturas será diferenciado e, portanto épocas de plantio e
espécies a serem implementadas na sequência (rotação) poderão ser diferentes.
Geralmente os solos que ocorrem em áreas de maior altitude (áreas mais montanhosas)
podem apresentar profundidade efectiva menor, presença de rochas e solos rasos (litólicos)
e, com condições de clima de altitude, normalmente outras culturas (subsistência e
mercado), além de outras espécies de plantas de cobertura, que poderão ser testadas e
validadas para posteriormente fazerem parte dos sistemas de rotação regional.
Para alguns procedimentos básicos necessários quanto à definição da área, passos a serem
seguidos, bem como etapas sequenciais adequadas visando uma concreta e efectiva
implantação do sistema de Agricultura de Conservação, é recomendado a realização de um
diagnóstico local das condições físicas, químicas e biológicas do solo:
a) SOLO COMPACTADO:
Caso haja limitação física do solo (por ex. compactação na superfície ou subsuperficie),
deverá ser supervisionado pelo técnico e avaliado o real estado de compactação do solo.
Caso seja um adensamento superficial (normal em solos argilosos) ou comumente
chamado de compactação leve, poderá ser eliminado facilmente através do uso de
plantas com sistema radicular bastante vigoroso (feijão bóer, crotalarias (grahaminana,
juncea, mucronata e nativas), nabo pivotante, tephrosias, sesbanias, gergelim, tremoço,
etc. Caso, a compactação verificada seja bastante severa, identificando-se camadas
muito compactas onde as raízes de plantas como o feijão bóer não conseguem
ultrapassar, assim como seja observado o impedimento da infiltração de água no perfil,
antes de iniciar a implantação do sistema de Agricultura de Conservação, o solo deverá
ser descompactado através do uso de escarificadores (tracção animal ou tractorizada).
b) SOLO COM DECLIVE ACENTUADO:
Caso a machamba esteja localizada em áreas com declive acentuado, deve-se efectuar
a diminuição do comprimento das pendentes em áreas declivosas com marcação e
confecção de terraços (cordões vegetados: capim vetiver, capim limão, feijão bóer,
gliricidia sepium, mutica, etc.), muralha de pedras, etc., barreiras vivas – neste caso,
poderá se utilizar simultaneamente de terraços - camalhão de terra, ou de pedras; mais
24. plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante, etc.) e ainda
algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas para
fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo (glericidia sepium,
tephrosia vogelli, feijão bóer, etc.).
Normalmente nas encostas íngremes predominam solos jovens e rasos, bastante frágeis
do ponto de vista de manejo (40-80 cm. de profundidade efectiva), podendo em poucos
anos a erosão arrastar todo o solo arável dos horizontes superficiais, com um elevado
afloramento de rochas na superfície, podendo tornar estas áreas totalmente
improdutivas mesmo para pastagens e/ou outras culturas perenes. Dessa forma, a
exploração destas áreas deve acompanhada de diferentes componentes da Agricultura
de Conservação, harmoniosamente distribuídos conforme as condições específicas de
cada região: nível declive, profundidade efectiva do solo, presença ou não de rochas,
etc.
21
Como proceder no caso de solos com declive acentuado:
ƒ Demarcar pequenos terraços em nível contra a pendente para cortar as águas. Podendo ser
feito com enxadas ou com charruas tracção animal (2 a 3 passadas). Posteriormente abre-se
um pequeno sulco continuo sobre o “topo”, parte mais elevada do terraço e pode ser
plantado capim elefante (Pennisetum purpureum), cana-de-açucar, capim vetiver ou “vetiver
grass” (Vetiveria zizanioides). Caso haja disponibilidade de pedras no local, pode ser
complementado com terraço (muro) de pedras. Este terraço de pedras pode ser ajustado
com Capim vetiver ou “Vetiver grass”, (Vetiveria zizanioides), capim cidreira ou limão (lemon
grass), capim elefante (Pennisetum atropurpureum), etc. (o cordão vegetado com capim
deverá ficar acima do terraço/muro de pedras).
ƒ Após o plantio das espécies é necessário acompanhar o desenvolvimento das plantas e
verificar a possível ocorrência de falhas na população de plantas da faixa contínua da
barreira viva e, também a má disposição das pedras na construção dos terraços, poderá
durante a ocorrência de fortes chuvas, facilitar o escorrimento superficial elevado
(enxurradas), carreando água e sedimentos juntamente com nutrientes e a matéria orgânica
das camadas superficiais do solo. Assim, deverá se prover de um adequado número de
pedras e adequada distribuição/acomodação na construção das barreiras, de forma que as
pedras e o capim estejam bem dispostos e compactos protegendo bem o solo.
ƒ A área entre os cordões deverão preferentemente permanecer todo o ano coberto com
restolhos ou plantas de cobertura durante os intervalos das diversas culturas).
ƒ Cordões vegetados ou faixas de leguminosas: estratégia recomendada na melhoria da
estrutura do solo e produção de biomassa, constando da implantação de espécies arbustivas
ou arbóreas preferentemente leguminosas que deverão ser podadas esporadicamente e os
resíduos distribuídos sobre o solo para protecção e melhoria da fertilidade: mutica (Tephrosia
vogelli), Sesbania sesban, Glericidia sepium, Calliandra calythersus, Acácia albida, feijão
bóer (Cajanus cajan), Leucaena leucocephalla, Tephrosia tunicata e outras sps.); também
poderão ser intercaladas algumas plantas com efeitos insecticidas: mutica, Azadirachta
indica (Nim) , Melia azedarach (siringa), etc.
ƒ Algumas situações de declives acentuados poderão ser construído canais escoadouros
vegetados, por onde o excesso de água que não conseguir infiltrar no perfil do solo e não ser
absorvido também nos terraços/cordões poderão seguir por um canal vegetado com grama
local rasteira, ou mesmo com amendoim forrageiro perene (Arakis pintoi ou Indigofera sp.)
sem causar problemas de erosão e mínimas perdas de solos e nutrientes.
25. Guía prático de Agricultura de Conservação
22
Muralha de pedras combinada com cordão
vegetado (Vetiver grass ou Capim Vetiver) no
Distrito de Gorongosa
c) SOLO POBRE EM NUTRIENTES:
Caso seja identificado que o nível de nutrientes presentes no solo é muito baixo, é
recomendável a aplicação de fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) para a reposição e
criação de condições mínimas para uma suficiente produção de biomassa.
d) SOLO INFESTADO DE INVASORAS:
Havendo elevada infestação de invasoras perenes, preferentemente deverão ser
controladas antes de iniciar o sistema, embora possa ser iniciado, entretanto com riscos
e elevado custo posterior no controle dessas espécies (p. ex. Cynodon dactilon, Cyperus
sp., etc.). O controle integrado pode ser realizado através de herbicidas (Glyphosate) +
plantas de cobertura eficientes tais como:. Mucuna + lablab – * óptimos resultados foram
alcançados na Suazilândia no controle de Cynodon com o uso de Roundup, seguidos de
cobertura por plantas de mucuna + lablab (FAO, Projecto Swazilandia, 2005).
26. 23
4 A COBERTURA DO SOLO
4.1 As vantagens de manter o solo coberto
As vantagens de manter o solo coberto são as seguintes:
1) Promover a formação de cobertura vegetal, além de evitar deixar o solo desprotegido irá
quebrar a energia cinética da chuva impedindo o impacto directo das gotas de chuva no
solo, impedindo com isso, o desencadeamento do processo de erosão.
2) A presença da cobertura morta (“mulch”) mantém mais humidade no solo, diminuindo
das perdas de água por evaporação, além de diminuir a oscilação (variação) térmica nas
1a.s camadas.
3) Os resíduos vegetais, parte aérea e raízes, irão afofar o solo, abrindo também canais no
perfil que irá aumentar a infiltração de água no solo, diminuindo o escorrimento
superficial e as perdas de água, solo e nutrientes.
4) Buscar uma melhor estruturação do solo: melhor agregação das partículas, maior
aeração, maior porosidade, favorecendo o crescimento das raízes dos cultivos
posteriores.
5) Implementar a reciclagem de nutrientes no solo, diminuindo a lixiviação dos mesmos,
bem como adicionar o nitrogénio ao sistema, principalmente com o uso de leguminosas
minimizando a demanda externa de fertilizantes.
6) Possibilitar, com o crescimento rápido e agressivo, competição com as invasoras,
diminuindo os custos com o seu controle.
7) Com a utilização das espécies, há uma tendência, ao longo dos anos, do aumento dos
teores de matéria orgânica no solo, que irá proporcionar significativas melhorias nas
propriedades químicas, físicas e biológicas do solo.
8) Aumento da biologia do solo e, consequente aumento da biodiversidade, o que irá
contribuir para um maior equilíbrio natural e menores riscos de ataque de pragas
(insectos, nematoides, etc.) e doenças.
Leguminosa nativa, potencial de uso como
cobertura em rotação com diferentes culturas
(Província de Sofala)
Clitoria ternatea: leguminosa adaptada
em algumas regiões da Província como
nos Distritos de Búzi e Gorongosa
27. Guía prático de Agricultura de Conservação
4.2 Plantas de cobertura
4.2.1 Comportamento das diferentes espécies de plantas de cobertura e
24
contribuição na melhoria das propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo
As experiências práticas dos camponeses da Província de Sofala tem mostrado que o solo
devidamente coberto com restolhos e resíduos de plantas de cobertura (p. ex. mucuna,
feijão bóer, etc.), proporciona um aumento da infiltração de água no perfil, diminuindo o
escorrimento superficial e as perdas de água, solo e nutrientes. A continuidade desse
sistema, tende a aumentar gradualmente os teores de matéria orgânica e nutrientes no solo
ao longo dos anos e, além de promover um maior armazenamento de água no perfil, irá
trazer inúmeros benefícios às diferentes sequências de culturas.
Registros históricos mostram que a milenar prática do uso de plantas de cobertura, foi
desenvolvida com sucesso por antigas civilizações: romanos, gregos, chineses, e outros
povos na antiguidade e, graças ao intenso uso de insumos “modernos” esta prática foi
quase esquecida neste século. Felizmente nas últimas 3 décadas, estudos e experiências
de agricultores em várias partes do mundo fizeram com que esta eficiente prática
começasse a retomar o seu importante lugar nas diferentes condições agro-ecológicas e
sistemas de produção dos diferentes países, contribuindo para a manutenção e melhoria
das propriedades do solo (físicas, químicas e biológicas).
O estudo das plantas melhoradoras do solo tem demonstrado grande potencial na protecção
e recuperação da produtividade do solo. Apesar disso, um constante desafio é estabelecer
esquemas de uso compatível, das diferentes espécies com os sistemas de produção
específicos de cada região, e se possível nos limites de cada propriedade, levando em
consideração os aspectos ligados ao clima, solo, infra-estrutura da propriedade e condições
sócio-económicas do agricultor. As possibilidades do emprego dessas plantas, podem visar,
além da conservação e/ou melhoria da fertilidade, incremento na produtividade das culturas
comerciais, aproveitamento algumas espécies como fonte de alimentos, forragem aos
animais, ou ainda na produção de grãos para comercialização.
A temperatura exerce grandes efeitos sobre a fisiologia das plantas, além de influenciar
directamente na absorção de íons (nutrientes). A amplitude térmica muitas vezes é mais
importante que a temperatura média de uma determinada zona, ou seja as variações nas
temperaturas influem directamente no comportamento das plantas. Também a distribuição
anual das precipitações tem efeitos directos no estabelecimento e desenvolvimento das
diferentes espécies. Portanto, quando da escolha da(s) espécie(s) a fazer parte de
sequências de culturas, estes e outros aspectos deverão sempre ser levados em
consideração.
Leguminosa rústica (Feijão bóer) que apresenta
múltiplos usos, na fase de
florescimento/enchimento de vagens – Província
de Sofala
28. 25
As plantas de cobertura poderão ser implantadas em
cultivo singular ou em associações. Pode-se fazer uso
do consórcio de gramíneas + leguminosas, ou ainda
misturar 2-3 ou mais espécies, que além de
apresentarem um importante efeito melhorador das
características físicas do solo (agregação,
estruturação), produzem resíduos com relação C/N
intermediária, favorecendo a mineralização paulatina do
nitrogénio, além de promoverem ao longo dos anos um
maior equilíbrio e acúmulo de carbono no perfil do solo.
No caso de cultivos singulares, a decomposição
individual das leguminosas resultará em maiores riscos
de perdas de N (lixiviação, volatilização), quando
comparado às gramíneas. Quando os resíduos de
gramíneas são mesclados com resíduos de
leguminosas, normalmente não há problemas com
imobilização do nitrogénio e a mineralização paulatina
favorecerá a disponibilidade e absorção dos nutrientes
pelas plantas.
Consórcio de milho e feijão
nhemba no sistema de
Agricultura de Conservação
(Distrito do Dondo)
Os nutrientes deixados pelas plantas de cobertura às culturas posteriores podem ser
aproveitados em quantidades variáveis conforme os seguintes factores:
Espécie de planta de cobertura:
Plantas mais fibrosas (com maior quantidade de carbono) demoram mais a se decompor no
solo, plantas com maior % de nitrogénio se decompõe mais rápido e liberam os nutrientes
no solo, podendo então ser absorvidos pelas culturas subsequentes;
Tempo de decomposição: A relação carbono/nitrogénio (C/N), bem como a quantidade de
lignina presente no tecido vegetal, irá governar grande parte do processo de decomposição
dos resíduos no solo;
Temperatura: Temperaturas elevadas facilitam o aumento de população dos
microrganismos do solo e, consequentemente poderá acelerar o processo de decomposição
dos resíduos vegetais no solo;
Humidade do solo: A disponibilidade de água juntamente com temperatura e presença de
ar (oxigénio) são fundamentais no aumento dos microrganismos e decomposição dos
resíduos no solo;
Manejo do solo: O solo ao ser revolvido por enxadas, charrua ou tractor irá misturar os
resíduos na camada superficial do solo acelerando o processo de decomposição dos
resíduos presentes;
Fertilidade do solo : (aspectos químicos, físicos e biológicos)
Maior teor de matéria orgânica (geralmente está associado a um incremento biológico no
solo, principalmente os microorganismos), elevado teor de nutrientes, melhor aeração do
solo (não problemas de compactação), maior acumulo de humidade; temperaturas elevadas,
tendem a acelerar a decomposição dos resíduos no solo, assim esses factores tem
influencia directa na disponibilidade dos nutrientes as culturas subsequentes.
29. Guía prático de Agricultura de Conservação
O que Você deve levar em conta:
O monitoramento contínuo das áreas com rotação de culturas é fundamental para o próprio
sucesso do sistema. Assim, as espécies a serem incluídas na rotação deverão ser
criteriosamente seleccionadas, de acordo com as condições agro-ecológicas, infra-estrutura do
produtor, e cobertura do solo prevalecentes.
4.2.2 Formas de manejo de plantas de cobertura
As plantas de cobertura quando atingem o pleno florescimento os nutrientes se encontram
distribuidos em todas as partes da planta, sendo o momento recomendado para se fazer o
manejo. Obviamente, que em algumas situações onde se deseja que os resíduos
permaneçam por mais tempo sobre o solo, este manejo poderá ser retardado um pouco.
Dessa forma, quando as plantas atravessam a fase de crescimento vegetativos e entram na
fase reprodutiva (flores e enchimento de grãos), ocorre uma migração dos nutrientes das
folhas e de outras partes da planta para as inflorescências e, com isso principalmente pelo
aumento das cadeias carbônicas, os tecidos das plantas irão se tornando com uma maior
relação C/N e, assim com maior presença de lignina torna-se mais difícil e demorada a
decomposição desses resíduos no solo. Por outro lado, caso o manejo das plantas seja
efetuado antes do florescimento, a relação carbono nitrogênio (N) nos tecidos será menor
(cadeias carbônicas menores) e, consequentemente decomposição no solo será bem
rápida. Isto, principalmente em função da oferta elevada de N aos microorganismos, que
assim multiplicam-se muito rapidamente e decompõe os resíduos orgânicos em menor
tempo. Neste caso, se tem uma pronta disponibilidade principalmente de N no solo, que
poderá ser absorvido pelas plantas, ou mesmo correndo riscos de perdas (principalmente
lixiviação quando na forma de nitrato, NO-
26
3).
As plantas de cobertura poderão ser manejadas através de catana, foice, enxadas,
rolo-faca, herbicidas, conforme as condições locais e infra-estrutura do produtor.
O rolo-faca consta basicamente de um equipamento que pode ser feito de um tronco de
madeira ou um cilindro metálico, ou mesmo um tambor de vazio de 200 litros. São
colocadas longitudinais ao cilindro, sendo este cilindro traccionado por trator ou por animais
(bois, cavalos, burros, etc.) sobre os vegetais que se pretende acamar e manejar. Caso
haja elevada quantidade de massa vegetal a ser cortada poderá ser colocada alguns pesos
sobre a estrutura metálica do próprio rolo para que possa ter mais peso, e no caso do
tambor poderá ser cheio com água, para então proceder satisfatoriamente as operações de
manejo/corte do material vegetal (plantas de cobertura, capins e outras invasoras, restolhos
da cultura anterior). Normalmente o rolo-faca não irá cortar todos os resíduos, mas com a
forca do impacto sobre o tecido vegetal ira romper os vasos que carregam a seiva bruta e
elaborada e, assim proporcionando após alguns dias a seca e morte das plantas. É prático,
de fácil confecção e um instrumento muito importante no manejo da vegetação para
implantação das culturas em plantio direto sobre o mulch (Agricultura de Conservação). Já
foram confeccionados alguns exemplares aqui em Sofala e já vem sendo utilizado com
sucesso pelos camponeses.
30. Rolo-faca e tração animal: usado no maneio de plantas de cobertura, invasoras (plantas daninhas) e
restolhos de plantas cultivadas (milho, mapira, girassol, etc.)
No Distrito do Búzi, foi feito uma demonstração
com o uso de rolo-faca tractorizado sobre capim e
feijão macaco (vegetação de uma altura média de
1,50m.), com um excelente trabalho,
demonstrando ser uma ferramenta muito eficiente
no manejo de vegetação ou de coberturas.
As áreas onde se efetuaram os trabalho foram em
Chicumbua, Guara Guara (através de tractores) e,
em Bandua com tracção animal (bois), com
trabalho bastante eficiente sobre capins, feijão
macaco e outras plantas e arbustos.
27
Rolo-faca tracção tractorizada – Búzi
Nas áreas onde foram testados o rolo-faca construído pelo PROMEC, observou-se que
passado já 30-40 dias após o manejo do capim, já começa a surgir algumas invasoras,
sendo portanto recomendável que o intervalo entre o manejo com rolo-faca e o plantio direto
da cultura posterior seja em torno de 8-21 dias, obviamente variando conforme o tipo de
cobertura (leguminosas e outras com bastante nitrogênio e rápida decomposição 8-10 dias
e, caso seja gramíneas e outras bem lignificadas e fibrosas 2-3 semanas após o manejo),
podendo introduzir a nova cultura em plantio direto.
• Em campos onde há predominância de capins, o manejo com rolo-faca deverá ser
preferencialmente quando o capim esteja verde e, ainda não tenha completado o ciclo,
dessa forma o rolo-faca tem melhor efeito, além de impedir que as invasoras continuem
se multiplicando no campo.
• Caso ocorra pequena rebrota, o manejo poderá ser complementado com foices, catanas,
etc.
• Em muitas situações e áreas maiores, o rolo-faca poderá ser complementado com uso
de herbicidas específicos para dessecação das invasoras e/ou plantas de cobertura.
31. Guía prático de Agricultura de Conservação
4.3 Efeitos das plantas de cobertura
As plantas de cobertura e seus resíduos, através da formação de cobertura morta, e pelos
seus efeitos físicos e químicos (alelopáticos) afectam qualitativa e quantitativamente
distintas infestações de espécies invasoras.
Assim são conhecidos os efeitos das mucunas, feijão bóer, mexoeira, crotalaria juncea,
calopogônio, feijão de porco, da aveia preta, centeio, azevém, ervilhacas, nabo forrageiro,
etc. no controle de diferente espécies de plantas invasoras. Sendo importante o uso e
manejo dessas espécies em rotação quando se pretende diminuir populações de algumas
invasoras.
Com a utilização das diferentes plantas de cobertura é possível quantificar o montante de
um determinado nutriente reciclado e/ou fixado biologicamente pelas leguminosas,
considerando a biomassa produzida e os nutrientes contidos no tecido foliar.
Tabela 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura e %
28
de nutrientes na matéria seca .
Nitrogénio Fósforo Potássio
Planta de cobertura
Ciclo
Massa
verde
(t/ha)
Matéria
seca
(t/ha) (% na matéria seca)
Mexoeira Anual 11 - 90 3.5 - 21 0.34 - 1.46 0.13 - 0.29 1.05 - 3.12
Feijão nhemba Anual 20 - 33 2.5 - 6 1.67 - 2.22 0.25 - 0.50 1.82 - 2.77
Mucuna preta Anual 12-23 2 - 5 2,29 - 2,73 0,11 - 0,17 1,25 - 1,55
Mucuna cinza Anual 10 - 25 2 - 6 1.56 - 2.43 0.46 - 0.57 1.00 - 1.55
Mucuna anã Anual 10- 18 2 - 4 2,85 - 3,35 0,16 - 0,23 4,14 - 4,84
Feijão bóer Bi ou Tri-anual 18 - 45 5 - 12 2,41 - 2,85 0,12 - 0,19 2,40 - 2,84
Feijão bóer anão Anual 14- 22 2 - 6.5 1.02 - 2.04 0.21 - 0.28 0.92 - 1.47
Crotalaria spectabilis Anual 12-23 4 - 7 2,14 - 2,20 0,07 - 0,12 1,40 - 1,78
Feijão de porco Anual 14 - 26 3 - 7 3,00 - 3,39 0,12 - 0,18 5,30 - 5,94
Feijão bravo do Ceara Anual 14 - 25 3 - 6.5 2,27 - 2,71 0,11 - 0,15 1,58 - 1,78
Feijão mungo Anual 12 - 22 3 - 5.5 2,00 - 2,18 0,15 - 0,27 4,64 - 5,24
Dolichos lab-lab Anual 14 - 28 4 - 7 2,15 - 2,57 0, 27 - 0,61 2,14 - 2,53
Leucaena leucocephala perene 20 - 50 10 - 16 4, 17 - 4,43 0,17 - 0,28 1,45 - 1,94
Indigofera sp. perene 13 - 24 4 - 7 2,02 - 2,33 0,09 - 0,19 1, 45 - 1,64
Calopogonio mucunoides perene 14 - 23 4 - 6 2,05 - 2,28 0,08 - 0,17 1,43 - 1,68
Kudzu tropical perene 13 – 25 4 - 7 3,47 -3,88 0,23 - 0,36 2,06 - 2,23
Soja perene perene 12 – 23 4 - 6 2,44 - 2,85 0,17 - 0,30 2,24 - 2,45
Centrosema pubescens perene 14 - 27 4.5 - 6.5 2,21 - 2,48 0,17 - 0,29 1, 03 - 1,34
Mexoeira + nhemba Anual 19 - 40 3.5 - 10 0.61 - 0.82 0.13 - 0.17 1.08 - 1.12
Crotalaria juncea Anual 15 - 35 2.5 - 8.5 1.42 - 1.65 0.19 - 0.21 0.96 - 1.38
Girassol Anual 20 - 46 4 - 8 1. 02 - 1,12 0.18- 0,24 2,50 - 2.78
Fonte: Adaptado de Calegari, 1995, 2000, Florentin et al., 2001.
Os valores apresentados demonstram o grande potencial que as distintas plantas de
cobertura possuem em deixar no horizonte superficial dos solo variáveis quantidades de
nutrientes que poderiam ser absorvidos pelas raízes dos cultivos posteriores. Além desses
nutrientes, um dos mais importantes aportes das plantas são os compostos de carbono
32. orgânico, ou seja a matéria orgânica, que será responsável, directa ou indirectamente pelas
interacções e reacções químicas, físicas e biológicas no sistema solo-água-planta.
As plantas mencionadas, tem potencial de serem utilizadas na Província de Sofala,
conforme os diferentes sistemas de produção e condições agro-ecológicas especificas.
Para os cultivos de Siratro, Stylosanthes, Brachiaria, Setaria e Melinis minutiflora, caso
saturação com bases esteja acima de 30% não será necessário elevar até 40%, com
excepção no caso dos materiais que são destinados a corte ou produção de feno
Dentre as leguminosas algumas se destacam pela tolerância ao alumínio, como é o caso:
Stylosanthes, Calopogonium mucunoides, Macroptilium atropurpureum, Galactia striata,
Crotalaria pubescens e outras. Por outro lado, as espécies como Glycine wightii (soja
perene), Medicago sativa (alfafa), são altamente susceptíveis a alumínio, e também pouco
eficientes na absorção de fósforo (P) na presença de alumínio. Em geral, as exigências em
P das leguminosas adaptadas a solos ácidos não são altas.
Geralmente as leguminosas apresentam grande potencial em fixar nitrogênio através da
acção das bactérias que estão em simbiose com as raízes das plantas assim como também
tem boa capacidade de reciclar o nitrogênio e outros nutrientes que foram perdidos por
lixiviação.
Tabela 4: Fixação biológica pelas leguminosas
29
Leguminosas N(kg/ha-1/ano)
Feijão bóer (Cajanus cajan) 41 - 280
Feijão nhemba (Vigna unguiculata sin. Vigna sinensis) 73 - 240
Mucuna preta (Mucuna pruriens) 157
Canavalia / Feijão de porco (Canavalia ensiformis) 49 - 190
Estilosantes (Stylosanthes sp.) 30 - 196
Amendoim (Arachis hypogaea) 33 - 297
Calopogônio (Calopogonium mucunoides) 64 - 450
Crotalaria (Crotalaria juncea L.) 150 - 165
Galáctia (Galactia striata) 181
Centrosema (Centrosema pubescens) 93 - 398
Leucaena (Leucena leucocephala) 400 - 600
Kudzu tropical (Pueraria phaseoloides) 30 - 100
Feijão mungo (Vigna radiata L.) 63 - 342
Desmódio (Desmodium sp.) 70
Siratro (Macroptilium atropurpureum) 70 - 181
Soja (Glycine max) 17 - 369
Soja perene (Glycine wightii Verdc.) 40 - 450
Guar (Cyamopsis psoraloides) 37 - 196
Lentilha (Lens culinaris) 35 - 77
Lespedeza (Lespedeza stipulacea) 193
Grão-de-bico (Cicer arietinum) 41 - 270
Ervilha (Pisum sativum) 81 - 148
Ervilhaca comum (Vicia sativa) 80 - 120
Ervilhaca peluda (Vicia villosa) 110 - 184
Trevo egípcio (Trifolium alexandrinum) 62 - 235
Trevo vermelho (Trifolium pratense) 17 - 191
Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) 21 - 207
Feno grego (Trigonella fænum-græcum) 44
Feijão fava (Vicia faba) 88 - 157
Adaptado de: Nutman (1969); Buckman & Brady (1979); Malavolta et al. (1986); Boin (1986); Vernetti (1971),
citado por Scotti et al. (1986); Larve, T.A. & Patterson, T.G. (1981); Kluthcousky (1982); Burris & Hardy (1975);
Mello (1978); Rottar, P.P. & Joy, citado por Calegari et al., 1993.
33. Guía prático de Agricultura de Conservação
4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo
A matéria orgânica é uma mistura complexa das mais essenciais à manutenção e/ou
recuperação da capacidade produtiva dos solos agrícolas. Diante de tal importância, serão
tratados os principais aspectos a serem considerados num manejo adequado de solos
visando a recuperação e/ou manutenção da matéria orgânica dos solos agrícolas.
A matéria orgânica total de um solo inclui todos os organismos vivos do solo, assim como os
resíduos vegetais e animais em decomposição constante; apesar de que quando nos
referimos à matéria orgânica do solo, uma quantificação mais realística é quando nos
referirmos à porção já num estágio final de decomposição, com a predominância de lignina,
celuloses e hemiceluloses, portanto já num complexo de maior estabilidade e de coloração
escura, ou seja, portanto numa fase de húmus.
Os diferentes tipos de plantas, bem como as diferentes partes da planta, podem apresentar
diferenças quanto aos seus componentes e estruturas e, conforme a organização estrutural
de seus tecidos, influenciado pela época e forma de manejo dado a estas plantas ou
resíduos, poderão apresentar diferenças quanto ao tempo de decomposição. Os primeiros
componentes (listados abaixo), que são formado por cadeias de carbono mais simples, são
quebrados e decompostos muito rapidamente, quando alguns resíduos e/ou restolhos são
depositados no solo, enquanto os últimos (cadeias complexas) poderão demorar meses ou
até muitos anos:
30
ƒ Açucares, amidos e proteínas simples;
ƒ Complexos protéicos;
ƒ Hemicelulose
ƒ Celulose
ƒ Gorduras e graxas
ƒ Lignina
Assim, o montante de matéria orgânica de um solo é um complexo formado por inúmeras
fracções em diferentes estágios de decomposição e, sendo alguns com efeitos marcantes,
duradouros ou não, sobre as propriedades do solo. Dessa forma, a adição quase que
constante de resíduos orgânicos ao solo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais,
são fundamentais para que se possa se beneficiar de todos os efeitos favoráveis da matéria
orgânica nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo.
Geralmente o balanço entre estas fracções é a resultante da adição dos compostos de
carbono e dos efeitos do manejo do solo utilizado.
Normalmente nas áreas tropicais e subtropicais onde a mineralização/degradação dos
compostos orgânicos é intensa, a forma com que efectuamos o manejo do solo e das
culturas podem influenciar directamente a dinâmica dessa matéria orgânica do solo:
ƒ As adições de carbono orgânico em áreas agricultáveis normalmente podem ser
menores que nas condições naturais (natureza), isto em razão de que as culturas
ocupam um tempo parcial de desenvolvimento durante o ano, além da colheita de grãos,
fibras, forragem, etc. estarem sempre exportando carbono do sistema; apesar disso,
experiências de produtores no Brasil e outros países mostram que é possível com um
bom sistema de rotação, suplantar a adição de carbono anual quando comparado com
uma área de vegetação natural;
ƒ O revolvimento do solo, queima dos restolhos e/ou invasoras e as praticas de condução
(praticas fitotécnicas: limpeza do terreno, etc.), contribuem para a mistura dos restolhos
das culturas e outros resíduos orgânicos com o solo e consequentemente aumentam a
decomposição do carbono e as perdas em forma de CO2 para a atmosfera.
34. Para que o processo seja revertido é fundamental tomar alguns procedimentos urgentes:
ƒ Imediatamente cessar com o preparo do solo, quer seja por enxadas, tracção animal,
31
tractor, etc.;
ƒ Não queimar mais os restolhos das culturas, restos de invasoras cortadas ou
capinadas, resíduos de plantas de cobertura, deixando todos os compostos de
carbono sobre a superfície do solo;
ƒ Manejar adequadamente todos os resíduos de forma que a adição anual de carbono
ao sistema, quer pela adição dos resíduos da parte aérea ou das raízes, seja
superior às perdas que ocorre principalmente pela ação dos microorganismos do
solo (balanço anual positivo);
ƒ Obviamente que em áreas de vegetação nativa os níveis de matéria orgânica do solo
dependerão diretamente das condições de clima (temperatura, precipitação), tipo de
vegetação, tipo de solo, drenagem, etc.
O papel da matéria orgânica nos solos agrícolas
A predominância de temperaturas elevadas, ocorrência de precipitações com alta
intensidade, tem contribuído para que o processo de intemperização seja mais intenso nas
regiões tropicais e subtropicais, quando comparados às condições de clima temperado.
Nessas condições, as argilas predominantes geralmente são 1:1 ou seja, geralmente de
baixa actividade, significando com baixa capacidade de efectuar a troca catiônica no
complexo solo. Dessa forma, a maioria dos solos apresentam originalmente baixa CTC
(capacidade de troca de cátions), o que indubitavelmente repercutem em baixa fertilidade
natural. Assim, nessas condições os colóides da matéria orgânica, por ter uma CTC de alta
actividade, desempenha um papel fundamental no sentido de contribuir para o aumento da
CTC do solo e, consequentemente promover uma maior capacidade de aumento do nível de
fertilidade química do solo. Além disso, grande percentual dos nutrientes são protegidos no
solo ao formarem complexos com a matéria orgânica, podendo ser paulatinamente
disponibilizados (com menores riscos de serem fixados por alumínio ou manganês, como é
o caso do fósforo, ou ainda serem perdidos por lixiviação como é o caso do potássio e
outros) e, aproveitados mais facilmente pelas raízes das culturas em desenvolvimento.
O aumento da matéria orgânica do solo está directamente ligado ao aumento na adição de
carbono e/ou redução da taxa de decomposição dos materiais orgânicos frescos (MOF) e
húmus. Uma forma de adicionar carbono ao longo dos anos é pela vegetação espontânea
(invasoras), pelo cultivo de espécies perenes de pastagens ou através da prática ordenada
de sucessões, rotações e/ou consorciação de culturas (sistemas), com elevada capacidade
de produção de fitomassa que incluam conjuntamente cultivos comerciais e recuperadores
de solos (plantas de cobertura).
Material orgânico fresco cobrindo o solo (capim)
e matéria orgânica estabilizada – coloração
escura (húmus )
35. Guía prático de Agricultura de Conservação
A redução na taxa de decomposição dos MOF e húmus em cultivos anuais é obtida através
de redução do revolvimento do solo, quer pela decisão de um manejo através do sistema de
cultivo mínimo ou principalmente através do sistema de plantio directo.
Os principais aspectos auferidos pela manutenção e/ou adição da matéria orgânica do solo
são:
ƒ elevada capacidade de armazenamento de água;
ƒ contribui para uma melhoria do estado de agregação das partículas de solo através da
32
formação dos complexos organo-minerais;
ƒ proporciona um considerável incremento na vida biológica do solo;
ƒ promove uma acentuada redução das perdas de nutrientes, favorecendo
sensivelmente o seu suprimento às plantas;
ƒ tem a capacidade de formar complexos com o alumínio e manganês que encontram-se
em níveis tóxicos no solo;
ƒ contribui significativamente para o aumento da CTC (capacidade de troca de cátions)
efetiva do solo;
ƒ melhoria do desenvolvimento e rendimento final das culturas.
Além dos componentes dos tecidos das plantas, algumas enzimas necessárias à
decomposição das moléculas orgânicas estão presentes em um maior número de espécies
microbianas, outras são sintetizadas apenas por alguns microorganismos específicos. O
amido, proteínas, e celulose, por ex., fazem parte dos vegetais e são moléculas que
facilmente são degradas no solo pelos microorganismos, a maioria deles tem enzimas
necessárias para a degradação e posterior utilização como fonte de carbono e energia. No
caso da lignina e alguns compostos fenólicos (cadeias carbônicas maiores e mais
complexas), componentes comuns nos tecidos vegetais, são mais difíceis de sofrerem o
ataque microbiano, em função de sua estrutura e caminhos de decomposição
permanecendo assim por muito mais tempo no solo até a mineralização ou sofrerem
reacções químicas no solo (Fries & Aita, 1999).
Visando facilitar a decomposição e liberação de nutrientes, em algumas regiões da Europa,
se recomenda adicionar, por cada 100 kg de resíduos vegetais (palha de gramíneas e/ou
restolhos), de 0,7 – 1,3 kg de nitrogênio, além da fertilização normal utilizada no cultivo.
Ao selecionarmos plantas para cobertura do solo e acúmulo de palha, devemos buscar
aquelas que apresentem maiores concentrações de lignina e derivados de fenólicos, pois
seus resíduos são mais resistentes à decomposição e assim permanecem por mais tempo
protegendo o solo.
Balanço de húmus no solo:
O humus, composto final da decomposição dos resíduos orgânicos do solo apresentam
inúmeros efeitos favoráveis ao solo, assim como as interações solo-água-planta-nutrientes.
No dinâmico processo de manejo do solo é importante considerar se o solo alcançou ou não
ainda seu equilíbrio. Equilíbrio este que é definido como:
Equilíbrio = quando ocorre maior acúmulo em relação às
perdas de matéria orgânica (M.O.) no solo
36. Assim, Fries & Aita, 1999 apresentam um exercício de como avaliar este importante balanço
no solo.
33
Balanço Anual de Humus =
Perdas Anuais de M.O. ▬ Ganhos de M.O.
• Considerando (p. ex.) um solo com 2.5% M.O.;
• Quilogramas de humus em 1 hectare = 2.159.000 kg de solo/ha X 2.5/100 = 53.975 kg
/M.O.
• Caso o solo seja manejado ou não, parte do humus do solo é decomposto pelos micro-organismos
para sua manutenção durante o ano;
• Nos USA estudos tem mostrado que a taxa de decomposição do humus é:
1. solo com 2% de M.O. = 2% taxa de decomposição anual;
2. solo com 4% de M.O. decomposição de 2.5%, assim utilizando-se estes valores;
portanto, 2.5% M.O. apresenta uma taxa de decomposição = 2.125%.
3. Em 1 hectare temos 53.975 kg. de M.O. X 2.125% = 1147 kg. de humus
anualmente perdido pelo processo de decomposição natural;
Estudos regionalizados (possivelmente com “modelagem”) deveriam ser conduzidos para
desenvolver uma: Constante de decomposição da Matéria Orgânica no solo
Estimativas de perdas de solos:
Resultados obtidos por Sidiras ,1984, citado por Derpsch et al., 1991 em um latossolo roxo
no Norte do Paraná, o preparo convencional do solo (1 aração com discos + 2 gradagens)
mostrou perdas de solos de 68,2 ton./ha/ano. Ainda no Brasil, Ponta Grossa, Paraná, Araújo
et all.1991, em 4 anos de estudos em Cambissolos álicos encontrou perdas médias de mais
de 113 toneladas de perdas de solos por hectare/ano. Por outro lado, resultados obtidos por
Venialgo, 1997 em Paraguai, mostraram perdas de 46,5 ton./ha/ano de solos (área de
convencional em pousio no inverno). Seguramente nas condições da Província de Sofala os
valores não devem ser muito diferentes, ou até em áreas mais declivosas e cultivados
tradicionalmente com perdas ainda maiores que as consideradas anteriormente.
• Assim, para fins de cálculos vamos considerar perdas anuais de solos no sistema
convencional de 40 toneladas por hectare/ano.
• Perdas de Solos = 40.000 kg/ha/ano X 2,5% = 1000 kg/ha/ano de humus perdido por
erosão.
• O solo perdido geralmente é mais rico em M.O., visto que a fração orgânica é mais leve
que outras partículas do solo e com mais facilidade será levado pela enxurrada;
• Análises realizadas mostram um valor aproximado de 1,5% vezes superior para a M.O.;
• Assim, os valores serão estimados em: 1000 kg de humus X 1,5 = 1500 kg/ha/ano de
humus perdidos por erosão (valor corrigido);
• Portanto, a Perda de Humus anual é de:
• 1147 + 1500 = 2647kgs. de Humus são perdidos por ha/ano.