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PROMOÇÃO ECONÓMICA DE 
CAMPONESES - SOFALA 
República de Moçambique Viena, Áustria 
DPA SOFALA 
GUIA PRÁTICO 
de 
AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO 
Financiado pela
PROMOÇÃO ECONÓMICA DE 
CAMPONESES - SOFALA 
República de Moçambique Viena, Áustria 
DPA SOFALA 
GUIA PRÁTICO 
de 
AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO 
Autores 
Eng. Agr. Ademir Calegari 
José Paulo Cristiano Taimo 
Esta obra foi financiada pela Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento e baseia-se principalmente nas 
experiências do IAPAR - Instituto Agronómico de Paraná, Londrina-Paraná-Brasil, e nos ensaios demonstrativos 
realizados na Província de Sofala, Moçambique, nos anos 2002 até 2005, 
no quadro dos projectos PROMEC, APROS, PACDIB (da Cooperação Austríaca) e PRODER (MINAG - GTZ). 
Financiado pela
AGRADECIMENTOS DOS AUTORES 
Os autores agradecem a oportunidade de trabalhar na Província de Sofala, Moçambique e, 
estar juntamente com os técnicos da Cooperação Austríaca e DPA, com os camponeses dos 
diferentes Distritos, desenvolvendo o sistema de Agricultura de Conservação, num processo de 
sensibilização e teste/validação dos componentes tecnológicos a nível de machamba. O 
trabalho se iniciou em 2001 e resultados muito promissores têm sido alcançado pelos 
camponeses, quer no tocante à diminuição de mão-de-obra, maior aproveitamento da água, 
maior estabilidade na produção, aumento na produtividade de diferentes culturas, etc. 
Agradecemos ao Dr. Gerald Tschinkel da H3000 Development Consult em Áustria, pela 
confiança, amizade e persistência na possibilidade de implementar o sistema de Agricultura de 
Conservação em Moçambique. À Cooperação Austríaca, que sempre apoiou no 
desenvolvimento dos trabalhos de Agricultura de Conservação. Também a equipe do PROMEC, 
pela amizade, frutíferas discussões e perseverança nos trabalhos. Ao Bento Freitas e Cecília 
pelo apoio durante todas as consultorias. À GTZ, na pessoa do Sr. Nicolas Lamade, pela 
oportunidade e viabilização de atividades de Agricultura de Conservação; ao Mário Norman da 
PRODER –GTZ pela amizade e contribuições durante todo este tempo de trabalho; ao Manfred 
Schug, que sempre acreditou ser possível implementar o sistema de Agricultura de 
Conservação junto aos camponeses nas mais diferentes situações; à Direcção Provincial da 
Agricultura na pessoa do Dr. Ribeiro que sempre acreditou e apoiou as atividades de 
Agricultura de Conservação e também ao atual Diretor Provincial, Sr. António Raúl Limbau, que 
tem incentivado as atividades de Agricultura de Conservação; ao Eng. Madane pelo contínuo 
apoio do SPER em todas as atividades da Agricultura de Conservação. Ao Erasmo Saraiva e 
Rui Valadares pelo constante apoio e amizade; a todos os técnicos da DDA dos diferentes 
Distritos e colegas das ONGs: Cáritas e FHI que sempre colaboraram nas discussões e nos 
trabalhos de consolidação da Agricultura de Conservação. Aos camponeses de toda a 
Província, pela paciência e perseverança no acompanhamento e avaliação das atividades das 
UTVs, onde sempre colaboraram e também acreditaram ser possível desenvolver uma 
agricultura sustentável que irá trazer maior segurança alimentar e eliminar definitivamente a 
pobreza da Província e do país.
1 
ÍNDICE 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3 
1. O SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO...................................... 4 
1.1 A importância da Agricultura de Conservação .........................................................4 
1.2 Os fundamentos do sistema de Agricultura de Conservação...................................5 
1.3 Os benefícios do sistema de Agricultura de Conservação .......................................7 
2 A REALIDADE DA PROVÍNCIA DE SOFALA..................................................... 8 
2.1 Características regionais (generalidades) ................................................................8 
2.2 O uso dos solos agrícolas (generalidades) ..............................................................9 
2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas........................................9 
2.4 Práticas tradicionais de manejo de solos ...............................................................12 
2.5 Agricultura de Conservação: uma alternativa viável...............................................15 
3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO... 16 
3.1 O início: a adequação das áreas............................................................................16 
3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura de Conservação .............................17 
3.3 Práticas que poderão fazer parte do sistema.........................................................19 
4 A COBERTURA DO SOLO ............................................................................... 23 
4.1 As vantagens de manter o solo coberto .................................................................23 
4.2 Plantas de cobertura ..............................................................................................24 
4.2.1 Comportamento das diferentes espécies de plantas de cobertura e 
contribuição na melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do 
solo.................................................................................................................24 
4.2.2 Formas de manejo de plantas de cobertura ...................................................26 
4.3 Efeitos das plantas de cobertura ............................................................................28 
4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo ...............................................................30 
4.3.2 Efeitos no armazenamento de água e diminuição das perdas no sistema.....35 
4.3.3 Efeitos nos gradientes de temperatura do perfil do solo ................................36 
4.3.4 Efeitos na composição florística do solo (efeitos alelopáticos e físicos) na 
diminuição das populações de invasoras (plantas daninhas) .........................37 
4.3.5 Efeitos na melhora de áreas de pousio ..........................................................39 
4.4 A produção de sementes de sementes de cobertura.............................................41
Guía prático de Agricultura de Conservação 
5 A ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE 
2 
CONSERVAÇÃO............................................................................................... 42 
5.1 A rotação e consorciação de culturas ....................................................................44 
5.1.1 Opções de rotação para arroz ........................................................................44 
5.1.2 Opções de rotação para gergelim ..................................................................45 
5.1.3 Opções de rotação para algodão ...................................................................47 
5.1.4 Opções de alguns sistemas incluindo o uso de plantas de cobertura............48 
5.1.5 Sugestões de algumas opções de diagrama sequencial de culturas.............52 
5.1.6 Sistemas de consorciação e rotação em diferentes sistemas de produção....53 
5.1.7 Indicação de protocolo para produção de batata reno....................................55 
5.1.8 Rotação com espécies hortícolas....................................................................57 
5.2 Efeitos da rotação na ocorrência de pragas e doenças ..............................................60 
6 CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE 
CONSERVAÇÃO............................................................................................... 62 
7 RESULTADOS OBTIDOS POR PRODUTORES COM O USO DE COBERTURA 
DO SOLO, ROTAÇÃO E PLANTIO DIRECTO.................................................. 69 
7.1 Resultados obtidos na Província de Sofala............................................................69 
7.2 Resultados obtidos em diferentes países...............................................................78 
8 COMO ASSEGURAR O AVANÇO E ESTABELECIMENTO DO SISTEMA DE 
AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO .............................................................. 81 
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 83 
ANEXOS................................................................................................................... 86 
Anexo 1: Manejo ambiental adequado evitando as queimadas.........................................87 
Anexo 2: Plantas de cobertura comuns na Província de Sofala ........................................89 
Anexo 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura 
e % de nutrientes na matéria seca......................................................................92 
Anexo 4: Características, comportamento e recomendações para o uso de plantas de 
cobertura de primavera/verão .............................................................................93 
Anexo 5: O sistema de Agricultura de Conservação no Brasil.........................................103 
Anexo 6: Características de diferentes espécies de plantas melhoradas de solos..........105
INTRODUÇÃO 
Nas mais diversas regiões do mundo onde se pratica a agricultura, um aspecto marcante e 
comum à maioria dessas áreas é o uso intensivo e a má gestão dos recursos naturais, o que 
tem ao longo dos anos contribuído para o agravamento dos processos de degradação dos 
recursos, principalmente solo e água, comprometendo severamente a produção agrícola em 
âmbitos compatíveis com as demandas populacionais. Os processos de erosão do solo 
provocam alteração de algumas propriedades físicas, químicas e biológicas que, somados 
ao processo de degradação da matéria orgânica, com consequente diminuição da 
fertilidade, tem conduzido a uma diminuição crescente do potencial produtivo de diferentes 
culturas nas mais diversas regiões agroecológicas. Essa situação aliada a outros aspectos 
ligados ao clima (temperaturas extremas, ocorrência de secas prolongadas, inundações, 
ataque severo e inesperado de pragas e/ou doenças), tem provocado em maior ou menor 
grau, nas mais distintas regiões, sérios riscos de insegurança alimentar às populações. 
A Província de Sofala, com seus diferentes tipos de solos, composta basicamente pela 
agricultura familiar de subsistência, apresenta uma situação semelhante, onde o sistema 
tradicional de manejo de solos baseia-se na retirada dos restolhos e capins da área ou 
mesmo queima de todos esses resíduos no fim da estação seca, antes do preparo do solo 
para a próxima campanha. O solo geralmente é preparado intensivamente com enxadas e, 
em pequena escala por tracção animal e/ou tractorizada. A demanda de mão-de-obra é 
muito alta e em geral na média uma família possui uma área cultivada em torno de 0.5 a 1.0 
hectare. A monocultura predominante consiste na sequência de cereais: milho-milho ou 
milho-mapira. 
Após o plantio das culturas, normalmente são necessários 3 sachas até que se complete o 
ciclo das culturas anuais (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), na maioria dos casos árdua 
tarefa incumbida às mulheres. 
Assim, a constante degradação dos solos na Província de Sofala, consequência da má 
gestão dos recursos naturais, quer pelo cultivo contínuo sem reposição dos nutrientes, quer 
pelas práticas anuais de preparo intensivo e queima dos resíduos orgânicos, monoculturas, 
aliado às condições climáticas irregulares e, ataque imprevisto e severo de algumas pragas 
e doenças, tem como consequência baixas na produtividade, resultando em constante 
insegurança alimentar. 
Resultados alcançados nos últimos 4 anos a nível de campo com o sistema de Agricultura 
de Conservação em diferentes Distritos da Província, mostram que os rendimentos de 
diferentes culturas, tais como milho, mapira, feijões, assim como algumas hortícolas (cebola, 
tomate, repolho, couves, pimento, cenoura, alface, etc.), podem ser aumentados de 20 até 
150%, além de outros benefícios, tais como, diminuição de mão-de-obra (não preparação do 
solo, menor número de regas e sachas, entre outros), possibilidades reais de aumentar a 
área da machamba e, ter assegurado rendimentos suficientes para garantir o sustento das 
necessidades nutricionais da família e o excedente ser direccionado ao mercado local e 
regional. 
Considerando a situação para os diferentes sistemas regionais de produção na Província de 
Sofala, é fundamental o desenvolvimento de um sistema de agricultura sustentável e, 
certamente a Agricultura de Conservação oferece esta real possibilidade, onde são 
contemplados a diminuição da pobreza no meio rural, e uma maior garantia de segurança 
alimentar para todas as comunidades. 
3
Guía prático de Agricultura de Conservação 
1. O SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO 
1.1 A importância da Agricultura de Conservação 
As inúmeras experiências de agricultores e resultados obtidos por pesquisas mostram que o 
sistema de Agricultura de Conservação, que inclui o emprego de plantas de cobertura 
adequadamente integradas em rotação de culturas, após devidamente testadas e validadas 
nos sistemas regionais de produção, ou seja após serem adaptadas regionalmente, e 
distúrbio mínimo do solo, é importante porque: 
♦ Promove uma conservação e recuperação dos solos, 
♦ Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em 
4 
economia de mão-de-obra e menor consumo de energia, 
♦ Consegue uma diversificação com menores riscos de ataques de doenças e/ou pragas, 
♦ Aproveita melhor a humidade com diminuição da frequência de regas, 
♦ Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes, melhoria da 
capacidade produtiva do solo, 
♦ Diminui os custos de produção, 
♦ Contribui para uma maior estabilidade de produção, 
♦ Existe um tendência de aumento dos rendimentos das diferentes culturas e, 
consequente tendência de aumento da renda líquida da propriedade e melhores 
perspectivas de diminuição da pobreza no meio rural. 
COMO SE CONSEGUE ISSO? 
Em áreas com cultivos anuais, a diminuição da taxa de decomposição dos resíduos 
orgânicos frescos que são adicionados ao solo, assim como o próprio húmus é obtida 
através da redução do revolvimento do solo, eliminação da queima dos resíduos vegetais, 
adição de carbono orgânico ao solo, condições estas favorecidas por um manejo 
principalmente através da Agricultura de Conservação (sistema de plantio directo), incluindo-se 
sempre o uso de plantas de cobertura e adequadas rotações entre as culturas. 
Normalmente, as áreas que são mantidas sem cobertura são as mais predispostas aos 
efeitos desfavoráveis das excessivas precipitações, e com isso, certamente as perdas de 
nutrientes por arraste das partículas (enxurradas) e lixiviação serão bem maiores em relação 
a uma área coberta. Além deste agravante, também a prática de monocultivos tende a 
agravar os problemas de degradação do solo e, normalmente predispor os cultivos mais ao 
possível ataque de pragas e doenças. 
A rotação de culturas, incluindo diferentes espécies de plantas de cobertura adaptadas 
regionalmente, adequadamente distribuídas temporal e espacialmente, contribuirão 
sobremaneira para uma maior biodiversidade no meio ambiente e consequente maior 
equilíbrio do sistema como um todo. 
A melhoria dos processos de uso e maneio do solo, e manutenção da capacidade produtiva 
do mesmo, é um meio de viabilizar a manutenção da família de forma sustentável e 
compatível tanto com os recursos naturais sob o ponto de vista de qualidade ambiental, 
quanto aos socio-económicos nos aspectos de segurança alimentar e qualidade de vida dos 
camponeses.
5 
As vantagens do sistema de Agricultura de Conservação podem ser resumidas a seguir: 
• Promove a conservação e recuperação dos solos, 
• Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em economia de 
mão-de-obra e menor consumo de energia, 
• Consegue uma diversificação com menores riscos de ataques de doenças e/ou pragas, 
• Aproveita melhor a humidade com diminuição da frequência de regas, 
• Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes, 
• Melhora a capacidade produtiva do solo, 
• Diminui os custos de produção, 
• Contribui para uma maior estabilidade de produção, 
• Contribui para um aumento dos rendimentos das diferentes culturas. 
Sr. Joaquim Mapinda: 
Pioneiro do sistema de Agricultura de 
Conservação no Distrito de Dondo, mostrando a 
cobertura do solo, elevada produção de 
biomassa da mucuna protegendo e melhorando 
a fertilidade do solo 
1.2 Os fundamentos do sistema de Agricultura de Conservação 
O sistema de Agricultura de Conservação vem sendo desenvolvido em diferentes 
continentes, nas mais diversas regiões agroecológicas e sistemas de produção. Este 
sistema, apesar de suas especificidades locais e regionais, é governado por alguns 
princípios fundamentais. 
Os princípios da Agricultura de Conservação são os mesmos em praticamente todas as 
regiões do mundo onde se desenvolve a agricultura, e a sua aplicação tende a promover 
benefícios tanto imediatos quanto ao longo dos anos, conduzindo ao desenvolvimento de 
uma agricultura sustentável e compõe-se basicamente de: 
1) Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo, devendo efectuar o plantio das culturas 
directamente sobre o solo, 
2) Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano, 
3) Efectuar uma adequada rotação de culturas, incluindo cultivos de subsistência e/ou 
mercado e também plantas de cobertura para se ter sistemas mais complexos, com 
maior diversificação e consequentemente mais equilibrados.
Guía prático de Agricultura de Conservação 
O QUE PRECISA MUDAR NAS ACTUAIS PRÁTICAS TRADICIONAIS DA 
AGRICULTURA COMUNS EM MOÇAMBIQUE ? 
♦ Queima, aração do solo, monoculturas contínuas, solo mantido descoberto, deverão ser 
6 
evitadas nas machambas. Dessa forma, é recomendável não queimar os restolhos e 
resíduos vegetais nas machambas, mas sim manter os restolhos das culturas e de 
plantas invasoras sobre o solo; 
♦ Evitar revolver o solo, quer com enxadas, tracção animal ou tractores; 
♦ Buscar executar rotação/sequência de culturas adaptadas às diferentes condições agro-ecológicas 
predominantes nas diferentes regiões e que promovam melhoria do solo e 
aumento de rendimento das culturas subsequentes; 
♦ O plantio das culturas deverá ser efectuado directamente no solo (coberto com capim ou 
outros resíduos), quer seja com catana, matraca, pequenos covachos ou através de 
máquinas de plantio directo (tracção animal e/ou tractorizada). 
Feijão em plantio directo sobre capim que será 
rotacionado com milho 
(Distrito do Dondo). 
Os três princípios da Agricultura de Conservação são os seguintes: 
• Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo, 
• Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano, e 
• Efectuar uma adequada rotação de culturas.
1.3 Os benefícios do sistema de Agricultura de Conservação 
A prática da Agricultura de Conservação, traz benefícios a vários níveis: 
Ao nível dos Agricultores: 
ƒ Redução do trabalho (principalmente no tempo para realizar as actividades), 
ƒ Redução nos custos de produção: menor necessidade de insumos externos (fertilizantes, 
7 
pesticidas), menor uso de tractores/máquinas/equipamentos e combustível, 
ƒ Maior controle das invasoras diminuindo ou até eliminando a necessidade de 
sachas/mondas nas culturas, 
ƒ Maior armazenamento de água no solo e menores perdas de água por evaporação: 
menor número de regas, 
ƒ Maior estabilidade e aumento no rendimento das diferentes culturas (cereais (milho, 
mapira), hortícolas (cebola, alho, alface, tomate, etc.), leguminosas (feijões: nhemba, 
vulgar, bóer, etc.), 
ƒ Aumento na lucratividade do sistema agrícola. 
Ao nível de Comunidades / Ambiente / Bacias Hidrográficas: 
ƒ Maior constância da água nos leitos dos rios, reaparecimento de mananciais que se 
secaram, 
ƒ Menor ocorrência de erosão e, consequente mais água limpa nos diferentes ambientes 
ƒ Menores riscos de enchentes, 
ƒ Diminuição de riscos do impacto de situações climáticas extremas, 
ƒ Menores gastos na manutenção de estradas e canais de escoamento de água, 
ƒ Maior segurança alimentar para as populações da região abrangida pelo sistema de 
Agricultura de Conservação. 
Ao nível Global: 
ƒ Maior captura (sequestro) de carbono orgânico no solo, 
ƒ Menores riscos de poluição quer seja por poeira, fumo proveniente de queimadas, e 
diminuição dos riscos do efeito estufa (causado principalmente pela emissão de CO2 
para a atmosfera), 
ƒ Menor uso de combustíveis (economia de 40-60%), no caso de tratores, 
ƒ Menores perdas de nutrientes por lixiviação e consequente menos riscos de 
contaminação das águas subterrâneas, 
ƒ Praticamente um controle quase total do processo erosivo (água, ventos), 
ƒ Menores perdas de água e, consequente maiores recargas dos aquíferos. 
A aplicação adequada dos conceitos de Agricultura de Conservação quanto à Tração 
Tractorizada tem as seguintes implicações: 
ƒ Menos trabalho e menor necessidade de potência nos tractores, 
ƒ Economia de até 60% no combustível, 
ƒ Diminuição de até 50% da necessidade de tractores, 
ƒ Diminuição de até 40% no tamanho dos tractores, 
ƒ Aumento da vida útil do tractor, pode ser triplicada, 
ƒ Redução significativa no capital a ser investido nos tractores.
Guía prático de Agricultura de Conservação 
2 A REALIDADE DA PROVÍNCIA DE SOFALA 
2.1 Características regionais (generalidades) 
8 
CHEMBA 
MARINGUE 
BUZI 
CAIA 
CHERINGOMA 
MUANZA 
CHIBABAVA 
MACHANGA 
MARROMEU 
GORONGOSA 
DONDO 
NHAMATANDA 
A Província de Sofala apresenta diferentes 
condições agro-ecológicas: 
Solos: arenosos, francos e argilosos (e suas 
combinações); com profundidade efectiva variável, 
desde solos rasos (litólicos) bastante jovens, 
normalmente nas áreas montanhosas com presença 
de rochas, até solos mais profundos nas áreas 
baixas, com maior acúmulo de húmus (matéria 
orgânica). Solos arenosos (areia quartzosa), solos 
francos (areno-argilosos), até argilosos (teores de 
argila superior a 35%). 
Relevo: Variável, desde a planície costeira (planos), 
até áreas montanhosas como a região de 
Gorongosa e outras, variando portanto os relevos 
desde as áreas planas, suave ondulado, ondulado, 
declivoso e montanhoso. 
Matéria orgânica: desempenha um papel 
extremamente importante na manutenção e/ou 
recuperação da fertilidade e capacidade produtiva 
dessas áreas, sendo dessa forma fundamental o 
desenvolvimento de um manejo de solos e culturas 
que privilegiem a manutenção e/ou aumento dos 
níveis dessa matéria orgânica nos solos explorados 
com agricultura. 
Fertilidade: a fertilidade química natural dos solos também é variável, sendo extremamente 
pobre nas áreas onde predominam areias quartzosas, aumentando conforme se aumenta 
os teores de argila; também áreas que tem sido cultivada por maior tempo, além das 
perdas de solos pela erosão e degradação da matéria orgânica pela queima dos restolhos e 
pelo preparo contínuo do solo, aliados a não reposição de nutrientes, os solos se 
apresentam mais pobres e com menor capacidade de produção. 
Solo extremamente degradado (Distrito de Gorongosa): 
mapira com fraco desenvolvimento e, tentativa de 
recuperação da área com mucuna. Esta leguminosa não foi 
eficiente. Neste caso, é recomendado iniciar com feijão 
bóer.
9 
2.2 O uso dos solos agrícolas (generalidades) 
ƒ Áreas de baixadas de relevo plano, inundáveis na estação chuvosa (solos 
hidromórficos), normalmente exploradas com o cultivo de arroz inundado e, geralmente 
apresentam teores de matéria orgânica mais elevados. 
ƒ Parte das áreas de baixadas são ocupadas na entre-safra do arroz (outono/inverno) com 
cultivos hortícolas (cebola, alho, tomate, repolho, couves, cenoura, alface, etc.; 
geralmente empregando regas periódicas (bombas pedestais, manual com regadores, 
inundação). As áreas mais altas, onde os solos apresentam menor acúmulo de água, 
são ocupadas por milho, mapira, feijões (nhemba, bóer, vulgar), gergelim, mandioca, 
algodão, etc. As culturas de subsistência normalmente são o milho, arroz, mapira, 
mandioca, cujo excedente é colocado no mercado. Por outro lado, o gergelim, algodão, 
hortaliças (subsistência e mercado) são produzidos com finalidade de mercado. 
ƒ Áreas de meia encosta, predominam outras culturas de subsistência e mercado: milho, 
mapira, gergelim, feijões (nhemba, bóer, vulgar), algodão, mandioca, etc.; hortaliças: 
cebola, alho, repolho, couves, etc. (baixadas e meia encosta), enquanto algumas 
frutíferas, tais como: ananás, banana, caju, papaia, manga, etc., ocupam normalmente 
as áreas mais altas. 
ƒ As pastagens cultivadas são raras, ficando os animais em geral confinados a pequenas 
áreas e após as colheitas grande parte é liberado para se alimentar dos restolhos e, 
algumas gramíneas que crescem nos campos. Assim, a existência de áreas controladas 
para abrigo dos animais é importante no sentido de evitar que os animais tenham acesso 
aos campos cultivados e, consequentemente eliminem os restolhos, que é um 
componente básico e fundamental para o sistema de Agricultura de Conservação. 
ƒ Muitas áreas são ocupadas por vegetação arbustiva e florestas, que além de ser 
importante para gerar fontes de água, manutenção da flora e fauna, também contribui 
para o abrigo e procriação de diferentes insectos e outros organismos, muito dos quais 
são inimigos naturais de pragas promovendo assim um maior equilíbrio ambiental. 
2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas 
Geralmente na maioria das áreas é praticado uma agricultura puramente de extrativismo, 
sem a reposição de nutrientes (a maioria não utiliza fertilizantes químicos e o uso de 
adubos orgânicos nos diferentes sistemas de produção é mínimo. Grande parte das 
machambas se caracterizam por uma agricultura migratória (nomadismo), onde geralmente 
após alguns anos de cultivo intenso, quando os rendimentos baixam, o campo é 
abandonado e deixado em pousio por 2-3 anos, para então posteriormente se retornar a 
cultivar nessas áreas. 
Praticamente não existe trabalhos de melhoramento de pousio e tampouco uma reposição 
dos nutrientes extraídos pelos cultivos. Além disso, a cada campanha onde serão 
implantadas novas culturas no terreno, a tradicional e predominante queima dos restolhos 
das culturas e/ou muitas vezes a sua retirada das machambas, somado ao preparo intensivo 
dos solos através de arações (enxadas ou tractores, ou ainda por tracção animal), tem 
acelerado a mineralização/decomposição da matéria orgânica dos solos. Isso, tem 
provocado um aumento nas perdas de solos, água e nutrientes pelo processo da erosão; e, 
também, o comumente emprego de monoculturas, ou seja a repetição das mesmas culturas 
nos anos subsequentes, tem contribuído para o aumento das populações de invasoras 
(plantas daninhas), aumento da ocorrência de pragas e doenças, promovendo queda dos 
níveis de matéria orgânica dos solos e empobrecimento dos sistemas e, por consequência
Guía prático de Agricultura de Conservação 
provocando uma drástica diminuição da capacidade produtiva das terras, manifestada 
através das quedas anuais de produtividade das diferentes culturas e, consequentemente 
uma menor segurança alimentar. 
Além dos aspectos negativos, também o uso de mão-de-obra para a execução destas 
práticas tradicionais é muito elevada, exaustiva e, por consumir um grande tempo para sua 
execução, impede a possibilidade e/ou chances de aumento da área da machamba, 
inviabilizando dessa forma, maiores possibilidades/oportunidades do aumento da entrada de 
ingressos e, consequente aumento da renda liquida das famílias. 
10 
Paisagens típicas de região 
montanhosa (Distrito de 
Gorongosa): preparo intensivo, 
plantio morro abaixo e erosão do 
solo com o resultado dum 
empobrecimento constante com o 
sistema tradicional 
Expansão de áreas ou abertura de novas machambas 
utilizando a prática tradicional destrutiva da queima 
(Distrito de Cheringoma) 
Numa avaliação generalizada da situação dos solos agricultáveis das diferentes regiões de 
Sofala, é muito preocupante o nível de degradação das terras, comprovado pela observação 
em diversas machambas, nos diferentes Distritos, a visível deficiência de nutrientes por 
diferentes culturas (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), assim como os baixos níveis de 
nutrientes no solo, além da diminuição quase constante da matéria orgânica dos solos. 
Numa área de solo areia quartzosa, com mais de 80% de areia, sem cultivo atual., os 
resultados da análise de solos (Tabela 1) mostram o grau de degradação e baixo nível de 
nutrientes. 
Tabela 1: Composição química de solo (areia quartzosa, 0-20cm) no Distrito do Dondo 
mg / 
dm3 
(ppm) 
g / 
kg 
solo 
cmolc / dm3 de solo (meq./100g de solo) (%) 
Solo 
P C 
(%) 
Mat. 
Org. 
pH 
Al H+Al Ca Mg K S T V Al 
Areia 
quar-tzosa 
4.20 0.44 0.76 6.10 0.00 2.18 2.02 0.37 0.05 2.44 4.62 52.81 0.00 
P= fósforo; C= carbono; pH= pH do solo; Al= alumínio; H+Al= hidrogénio + alumínio; 
Ca= cálcio; Mg= magnésio; K= potássio; S= soma de bases; T= CTC; 
V= Saturação das bases; Al (%) = saturação de alumínio.
Pelos dados da análise química do solo, os níveis de matéria orgânica, cálcio, magnésio, 
potássio, assim como a soma de bases e CTC (Capacidade de Troca de Cátions) , são 
bastante baixos, sendo apenas o fósforo com um teor levemente maior (possivelmente 
resíduos de queima de restolhos). Assim, solos semelhantes a este, que são grande parte 
das áreas cultivadas na Província de Sofala, necessitam urgente interferência no manejo no 
sentido de aumentar os níveis de matéria orgânica, aumentando assim a CTC, para então 
promover uma adequada reposição dos nutrientes (aliado à adubarão química e/ou 
orgânica) e recuperação da capacidade produtiva dessas terras. Caso contrário, com a 
continuidade de degradação dos solos, não será possível caminhar em direcção à 
sustentabilidade e garantia de segurança alimentar. 
Prova disso, é a baixa produtividade das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, gergelim, 
nhemba, etc.) relatadas pela maioria dos produtores consultados dos distintos Distritos. 
Por exemplo no Distrito do Búzi em reunião com técnicos e camponeses foi relatado a 
produtividade média dos diferentes cultivos: 
Arroz: 2,0 toneladas/hectare 
Milho: 0,8 - 1,0 toneladas/hectare 
Estas produtividade relatadas são muito baixas e, indubitavelmente pela alta demanda de 
mão-de-obra envolvida, caso fossem efectuados estudos de balanço energético nos 
distintos sistemas de produção, possivelmente na maioria dos casos o balanço energético 
seria negativo, ou seja o montante total de energia consumida em todas as etapas da 
produção é muito maior do que aquela obtida através dos valores energéticos de produção 
das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, etc.). Os rendimentos médios de diversas 
culturas em Moçambique são muito baixos (Tabela 2), certamente representam os 
rendimentos da grande maioria dos camponeses da Província de Sofala. 
Tabela 2: Rendimento estimado e potencial (t/ha) 
11 
Média de rendimento em 
Moçambique 
Cultura 
Rendimento 
actual 
Rendimento 
potencial 
Rendimentos no 
Zimbabwe 
Rendimentos em 
África (geral) 
Milho 0.1 - 2.3 1.0 - 3.0 1.4 1.2 
Mapira 0.3 - 0.6 0.5 - 1.5 0.6 0.8 
Arroz 0.5 - 1.8 1.0 - 2.5 2.8 1.6 
Feijão 0.3 - 0.6 0.4 - 0.6 0.7 0.7 
Mandioca 4.0 - 5.0 5.0 - 10.0 4.0 7.5 
Castanha de 
caju 0.1 - 0.2 0.4 -- -- 
Fonte: Taimo et al., 2005. 
Os dados relatados mostram que há um grande potencial em aumentar os rendimentos, 
necessitando a adaptação de tecnologias viáveis, utilização racional de insumos para atingir 
níveis sustentáveis de produção. 
Alguns resultados já alcançados pelos camponeses assistidos pelo Projecto PROMEC 
mostram que é possível em curto prazo, em algumas situações, com a implantação 
adequada do sistema de Agricultura de Conservação, aumentar imediatamente os 
rendimentos de diversas culturas.
Guía prático de Agricultura de Conservação 
2.4 Práticas tradicionais de manejo de solos 
1. A mais comum e tradicional prática empregada pela maioria dos camponeses na 
12 
Província de Sofala consiste na queima dos restolhos das culturas e/ou retirada dos 
mesmos da machamba; a cada implantação de nova cultura, preparo intensivo do solo 
com enxadas ou tracção animal; a prática repetida de monoculturas (milho-milho, 
mapira-mapira, etc.), tem proporcionado um excessivo uso de mão-de-obra, além de 
limitar a área a ser explorada na machamba, ou seja a actual área cultivada por cada 
família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare de plantio, em razão da alta 
demanda de trabalho, principalmente nas operações de preparo do solo e limpeza das 
ervas invasoras (sachas e monda), trabalho este na maioria dos casos efectuado por 
mulheres. Dessa forma, sempre estão à tona os riscos de segurança alimentar, ou seja 
com apenas uma pequena área de cultivo, a possibilidade de perdas quer por secas 
ocasionais, excesso de chuvas ou mesmo ataques imprevistos e severos de pragas e/ou 
doenças é bastante grande e, poderão em diversas situações colocar as famílias em 
situação de emergência e riscos de não conseguirem alcançar os rendimentos 
suficientes para auto sustento. Assim, é preciso encontrar meios de aumentar a área da 
machamba a ser cultivada, pois a maioria dos camponeses raramente consegue suprir 
as necessidades básicas de alimentação de uma família. 
2. A lavra manual, consiste num trabalho extremamente árduo e grande consumidor de 
tempo e energia junto aos camponeses. É necessário mudar os meios de produção (“é 
preciso sair da lavra com enxada todos os anos, pois é muito árduo”). Um trabalhador no 
campo, com uma carga de trabalho de 8 horas diárias, consome em torno de 30-45 dias 
em média para lavrar uma área de 1 hectare, em áreas secas. Em áreas húmidas ou 
com bastante água (típica das áreas de baixada para cultivo de arroz em Búzi, Dondo e 
outros Distritos), o tempo demandado poderá ainda ser maior. 
3. Além da lavra, também a sacha (milho) e a monda (arroz), são práticas comuns nestes 
sistemas de produção e, também consomem bastante tempo e trabalho árduo aos 
camponeses; a prática da monocultura é a mais comum, ou seja normalmente os 
camponeses plantam arroz sobre arroz ou ainda milho sobre milho nos anos 
sequenciais. 
4. A grande maioria dos camponeses não utilizam herbicidas e/ou fertilizantes químicos. 
5. Há uma necessidade muito elevada de apoio e assistência técnica à maioria dos 
camponeses, ou seja, é marcante a carência de informações técnicas e meios de 
implementação no que diz respeito a um adequado manejo de solo e das diferentes 
culturas exploradas. 
6. A actual área cultivada por cada família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare de 
plantio, não suficiente para atender as necessidades da família. É necessário encontrar 
uma forma URGENTE de poder aumentar a área de machamba, aumentar a produção/ 
produtividade e conseguir assim diminuir os riscos de intempéries às vezes imprevistas 
(seca, excesso de chuvas), ou mesmo um forte e inesperado ataque de pragas/doenças 
que possam comprometer o rendimento final das culturas e a garantia do suprimento de 
alimentos durante todo o ano às famílias. 
7. A possibilidade de uso de herbicidas, poderá indirectamente proporcionar menos 
trabalho e consequentemente chances de aumentar a área de cultivo da machamba; 
entretanto poderá trazer riscos de contaminação aos usuários e ao ambiente, caso não
sejam seguidas as normas adequadas de manuseio e aplicação, assim como 
produtos/dosagens menos tóxicos possíveis. 
8. A prática do consórcio ou associação de cultivos é praticado por muito poucos 
13 
camponeses: milho + mandioca + hortaliças (quiabo, abóbora, melancia, etc.). 
9. Apesar da assistência técnica estar há vários anos tentando convencer os camponeses 
sobre a importância de observar atentamente alguns componentes técnicos (como por 
exemplo o uso adequado dos compassos (espaçamento e densidade de plantas) de 
diferentes cultivos, principalmente o milho, as recomendações por parte da maioria dos 
camponeses não vem sendo seguido. Isto, como foi observado em várias machambas, 
de diferentes Distritos visitados, em alguns casos com 5-7 plantas de milho num mesmo 
covacho e, espaçamentos de 1.20m ou mais entre os covachos. Isto, além de provocar 
uma elevada competição entre as plantas, por água, luz e nutrientes, interfere 
negativamente e provoca diminuição acentuada na produtividade das culturas (milho, 
mapira, principalmente, haja visto que estas plantas respondem em rendimento quando 
em população ideal). 
10. Um grande número de camponeses da região do Búzi e outros distritos de Sofala, 
utilizam a prática de retirar os resíduos para fora da machamba e, a grande maioria 
utilizam também a queima de todos os restolhos da machamba (restos culturais de 
milho, arroz, mapira, etc., e também todos os capins e outras invasoras (plantas 
daninhas) que crescem nos campos). Estas práticas eliminam quase toda a adição anual 
de carbono orgânico (material orgânico) ao solo e, consequentemente após as colheitas, 
um montante de nutrientes também é retirado anualmente, dessa forma o solo vai 
ficando mais empobrecido a cada ano, ou seja o balanço anual do carbono orgânico 
passa a ser negativo (sai mais carbono do que entra no sistema), além da diminuição 
contínua dos nutrientes, sendo portanto estas práticas indesejáveis ao bom manejo do 
solo agrícola e, portanto não compatíveis com a “Sustentabilidade dos Sistemas de 
Produção”. 
11. Um elevado número de camponeses em determinadas áreas utilizam uma agricultura 
itinerante, ou seja após vários anos de cultivo (queima, preparo do solo, e monocultura 
quase que constante), quando o solo encontra-se degradado e com baixa produção nos 
cultivos, abandonam estas áreas indo cultivar em outros campos e, assim após 3-4 anos 
de pousio, retornam a cultivar nestas áreas. 
Poderiam nestas áreas promover o ”melhoramento do pousio” com a inclusão 
principalmente de leguminosas nativas da região que irão aumentar os teores de matéria 
orgânica, nitrogénio através da fixação biológica no solo, além de contribuírem na 
reciclagem de outros nutrientes. Podem ainda utilizar algumas leguminosas arbóreas, 
tais como: Glericidia sepium, Sesbania sp., Tephrosia sp., etc., ou arbustivas: feijão bóer 
(Cajanus cajan), ou mesmo com algumas leguminosas anuais: Mucuna sp., Clitoria 
ternatea, e perenes: Stylosanthes sp., Calopogonium mucunoides, etc. 
12. Alguns grupos de camponeses trabalham com tracção animal e, com uma possível 
implementação/adaptação no uso adequado de equipamentos e máquinas (rolo-faca 
para manejo de plantas de cobertura e resíduos, máquina de plantio directo), poderão 
além de aumentar a área da machamba, também proporcionar aumento na 
produtividade e produção final, com uma maior renda líquida na propriedade. 
13. O armazenamento de grãos apresenta problemas quanto a manutenção da qualidade 
dos grãos, principalmente milho, mapira, mexoeira, que podem sofrer ataques severos 
de gorgulhos, que ao destruírem os grãos inviabilizam o seu consumo. Faz-se 
necessário utilizar de técnicas que permitam uma melhor conservação desses grãos e a 
sua manutenção por um maior tempo em condições aptas de consumo. Neste caso, a
Guía prático de Agricultura de Conservação 
14 
construção de celeiros melhorados seria uma óptima alternativa e, caso não seja 
possível pode-se empregar alguns tratamentos (agro-ecológicas) e sem riscos aos 
camponeses: 
Em um silo de armazenagem colocar uma camada de folhas de Eucalyptus sp. (30-40 
cm) em cada camada em torno de 1 metro de altura (formada por grãos de milho, 
mapira, ou mesmo em espigas, ou feijão. É importante também manter o fundo do local, 
e também a parte superior (sobre os grãos) cobertos por esta camada de folhas de 
eucalyptus. 
Em caso da não disponibilidade de eucalyptus, pode também ser utilizado folhas e 
ramos de mucuna (verde). 
É também possível a utilização de cinzas obtida através da queima de madeira ou 
queima de cascas de arroz, ou ainda o uso de areia que deverão ser misturadas com os 
grãos dos cereais ou ainda de feijão: nhemba, bóer ou vulgar, a qual evitará o ataque de 
gorgulhos, podendo assim permanecer armazenados por um longo tempo sem perda da 
qualidade dos grãos. 
14. Existem os CDR (Campos de Demonstração de Resultados) que servem para os 
camponeses observarem os resultados disponíveis e optarem por alguma nova 
tecnologia a ser implementada na machamba: novos híbridos disponíveis, compassos, 
controle de pragas e doenças, etc., também poderão ser utilizados na difusão da 
Agricultura de Conservação. Ou seja, a Agricultura de Conservação não é um fim, mas 
sim um meio, no qual se pode conduzir diferentes culturas anuais e, no mesmo enfoque 
também culturas perenes (solo coberto, não queimar e não revolver o solo). 
15. O actual processo de difusão, normalmente levado a cabo pelos extensionistas, e a 
adopção de tecnologias por parte dos camponeses necessita melhor implementação, 
inclusive com o emprego de “promotores” que irão difundir tecnologias já validadas em 
seus campos, fazendo com que novas e promissoras tecnologias possam ser melhor 
testadas/validadas por outros camponeses e, efectivamente possam ser expandidas e 
adoptadas por um maior número de famílias de camponeses. 
16. Existem algumas pequenas experiências com o uso de controle biológico de pragas por 
parte de alguns camponeses, utilizando-se de: cebola, alho, coentro plantados junto aos 
canteiros das hortaliças em direcção ao vento para que o odor destas plantas possam 
afugentar insectos e outras pragas; e também cinzas são aplicados sobre algumas 
pragas; no controle de lesmas e caracóis também são aplicados cinzas ao redor dos 
canteiros ou das plantas que irão impedir a passagem e ataque destes moluscos às 
plantas.1 
17. Sistema de Camalhões 
Em algumas regiões de Sofala é comum a prática da construção de camalhões no solo, 
visando um melhor manejo do solo explorado com agricultura. Esta prática é uma 
medida de conservação do solo e armazenamento de água que vem sendo empregada 
na região de Gorongosa e outras regiões, e se caracteriza: 
ƒ Normalmente, o solo é revolvido a cada estação, provocando uma aceleração no 
processo de decomposição da matéria orgânica ; 
ƒ A disposição desses camalhões promove um maior controle da erosão em áreas 
de encosta, em virtude dos mesmos serem aloucados perpendicularmente ao 
sentido do declive e, portanto cortam o sentido das águas, diminuindo a 
velocidade e armazenando mais água nos camalhões; apesar disso o solo é 
revolvido periodicamente após cada colheita e manejado para implantação de 
uma nova cultura; 
1 Vide informações/recomendações no capitulo sobre Controle de pragas e doenças.
ƒ Todos os anos os novos restolhos dos cultivos são incorporados ao solo, 
mudando a localização do novo camalhão e, assim novamente o solo é revolvido 
com perdas nas suas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo; 
ƒ Além da penosidade do trabalho, ocorre um elevado emprego de mão-de-obra na 
execução das operações de reconstrução total e manutenção dos camalhões a 
cada ano; 
ƒ Apesar dos resíduos serem amontoados nos camalhões e uma maior quantidade 
de água armazenada, a constância anual no revolvimento do solo, provocará 
uma degradação ao longo do tempo, principalmente da matéria orgânica e 
fatalmente mostrando ser um sistema que poderá comprometer a 
sustentabilidade ao longo dos anos. 
Diante desses inconvenientes, é sugerido que em áreas muito declivosas sejam 
construídos pequenos terraços/ cordões vegetados, onde poderão ser protegidos por 
barreiras vivas com Vetiver, cana-de-açucar, ou também com a inclusão de 
leguminosas: feijão bóer (arbustiva), ou mutica - arbustiva) ou outras espécies (*citadas 
em práticas complementares de conservação), para que estas espécies ao serem 
podadas os resíduos possam ser deixados sobre a superfície do terreno. Além disso, o 
solo não deverá ser revolvido e tampouco queimado os resíduos. Após as colheitas, os 
restolhos deverão ser distribuidos sobre o solo e, posteriormente a implantação das 
novas culturas deverá ser através do plantio directo (tracção humana – matracas, 
tracção animal ou tracção tractorizada), conforme a infra-estrutura local. 
2.5 Agricultura de Conservação: uma alternativa viável 
Entretanto, existem alternativas ao alcance do agricultor familiar, capazes de provocar 
aumento significativo dos rendimentos, diminuir a carga de trabalho, promovendo maiores 
entradas/ingressos e, consequentemente se conseguir uma produção capaz de gerar 
excedentes. Para isso, serão necessários mudar radicalmente os sistemas de manejo de 
solos e culturas, tradicionalmente empregados e, por consequência, os camponeses com 
maior disponibilidade de tempo e energia (maior disponibilidade de mão-de-obra) e, assim 
poder aumentar a área da machamba a ser explorada e, consequentemente com maiores 
chances de aumento da produção, com uma maior oferta de produtos de subsistência e de 
mercado. Este sistema de produção sustentável poderá contribuir efectivamente para o 
aumento da renda familiar e assim promover a melhoria da qualidade de vida dos 
camponeses da Província de Sofala. 
15
Guía prático de Agricultura de Conservação 
3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE 
16 
CONSERVAÇÃO 
3.1 O início: a adequação das áreas 
Tendo em conta que os produtores vão apresentar solos com situações diferentes, a 
entrada para o sistema de Agricultura de Conservação, deve ter em conta a situação real da 
cada machamba. 
Existe um período inicial, ou seja uma fase de transição do sistema tradicional/convencional 
para o novo sistema de Agricultura de Conservação que ora está sendo implementado. 
Tendo em conta as práticas comuns em Sofala, é fundamental o abandono completo das 
práticas tradicionais (queima, aração, monoculturas, solo descoberto), e a iniciação de uma 
re-adequação de todo o sistema de produção sob o novo enfoque da Agricultura de 
Conservação seguindo as seguintes etapas: 
a) Diagnóstico e definição de área 
Neste momento, os camponeses auxiliados pelos técnicos da extensão rural realizam uma 
avaliação das suas machambas, passando por um diagnóstico e definição específica da 
área onde será implementado o sistema de Agricultura de Conservação. Preferentemente 
deve-se escolher a melhor área da propriedade, ou seja machambas com potencial de se 
obter resultados imediatos e, posteriormente quando o camponês dominar a tecnologia, 
poderá ir ocupando outras áreas, menos férteis e mais difíceis. Após a escolha/definição da 
área, verifica-se “in loco” quais os possíveis componentes que deverão ser incluídos 
naquela determinada área da machamba. 
No tocante à questão tradicional/cultural de manter os animais em liberdade é necessário 
buscar meios para manter os animais em áreas protegidas, evitando que os mesmos 
consumam todos os restolhos e resíduos vegetais da superfície do solo. Uma alternativa 
viável nesse sentido, quando não se dispõe de capital para construção de cerca de arame, é 
a multiplicação de mudas de árvores que possam ser usadas como “cerca viva”: Dovyalis 
abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi, 
Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha, Acacia melífera, 
Acacia tortuosis, etc., e, posteriormente serem distribuídas aos camponeses para 
protegerem as áreas de produção agrícola. 
b) Definição de Componentes iniciais de acordo com as condições da machamba 
Assim, caminha-se para a operacionalização dos componentes do sistema, ou seja, nas 
etapas em que são adequadamente ajustados e implementados os diferentes elementos tais 
como: plantas de cobertura, locação e execução de terraços/cordões vegetados/cordões de 
pedras (quando necessários em áreas mais declivosas), ou amontoa de pedras (quando em 
número reduzido), distribuição uniforme dos restolhos sobre o solo, escolha da melhor 
sequência de culturas, consorcio de culturas (p. ex. milho + mucuna, mapira + feijão bóer, 
etc.), enfim um conjunto de componentes que estão sendo implantados e em fase de 
ajustamento e/ou equilíbrio dentro de determinada região e sistema de produção. 
Portanto, os diferentes sistemas de produção regional, nas mais variadas zonas agro-ecológicas 
da Província de Sofala, quando da implementação do novo sistema deverão ser
acompanhados de determinadas sequências de culturas, preferentemente que tenham sido 
já testados e validados pelos camponeses da região e sofrido os ajustes necessários para a 
consolidação dos diferentes componentes a fazerem parte do Sistema de Agricultura de 
Conservação. 
3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura de Conservação 
Os passos apresentados com as devidas etapas, constituem um guia geral para uma 
adequada implantação do sistema principalmente nas pequenas propriedades. 
Os passos enumerados não necessariamente deverão seguir sempre uma sequência 
conforme descrita, em muitos casos o sistema é desenvolvido já partindo de uma situação 
ou passo previamente realizado, ou mesmo em alguns casos, onde nem todos os passos ou 
componentes se aplicam ou serão necessários àquela determinada situação. 
1. Treinamento e capacitação de técnicos e agricultores 
2. Sistematização, limpeza e descompactação do terreno (caso houver necessidade) 
Áreas que apresentam solos com superfície desuniforme ou com excessivos buracos, 
torrões, tocos, etc., deverão ser, no caso de tração tractorizada, preferentemente 
uniformizadas através de gradagens, etc. Tração humana (uso de enxadas, catana, 
matraca) poderá ser efetuada mesmo em áreas desuniformes ou com presença de troncos, 
tocos, não havendo necessidade de uniformizar a superfície do terreno. 
3. Diminuição do comprimento das pendentes em áreas declivosas 
Inclui construção de terraços, muralha/cordões de pedras, barreiras vivas – capim vetiver, 
capim limão, feijão bóer, Glericidia sepium, Tephrosia vogelli - mutica, etc. Neste caso, 
poderá se utilizar simultaneamente de camalhão de solo ou muralha de pedras, 
complementada por plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante, 
etc.) e/ou ainda algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas 
para fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo. 
4. Iniciar em pequenas áreas da machamba e também nas melhores áreas da 
propriedade 
Iniciar nas áreas mais conservadas e com melhor fertilidade, ou seja, onde o camponês vê 
as plantas melhor desenvolvidas e, conforme vai conhecendo e através dos resultados 
alcançados ir aprimorando o sistema. Posteriormente, ir para outras áreas da machamba, as 
mais problemáticas e com solos degradados até que o sistema esteja implantado em toda a 
propriedade. 
5. Não queimar restolhos das culturas, capins, e outros resíduos de invasoras, mas 
sim deixá-los sobre a superfície do solo 
6. As plantas de cobertura/resíduos de invasoras ou mesmo os restolhos das 
culturas, deverão ser manejadas com rolo-faca, catana, foice, herbicidas, etc. e, 
deixadas cobrindo o solo 
7. Eliminar totalmente a lavoura, isto é, não efetuar mais o preparo do solo, quer seja 
com enxadas ou com charrua 
17
Guía prático de Agricultura de Conservação 
8. Escolher corretamente equipamentos e máquinas (enxada, catana, matraca, rolo 
faca, máquina plantio directo; tracção animal, etc.), conforme as condições da 
propriedade e da infra-estrutura do produtor 
9. Objetivando uma maior proteção e recuperação do solo, deve ser utilizado espécies 
nativas e exóticas melhoradoras de solo (preferentemente leguminosas), visando a 
cobertura da superfície do solo e melhoria das propriedades do solo 
10. Procurar executar a rotação de culturas 
Procurar mudar a sequência de culturas ou mesmo efectuando consórcio de culturas com 
plantas de cobertura (ex. mucuna intercalado ao milho; feijão bóer intercalado entre as 
fileiras de milho/mapira), isto irá contribuir para uma maior reciclagem de nutrientes, um 
aumento da biodiversidade e diminuição da população de plantas invasoras e probabilidade 
de ocorrência de pragas e doenças. 
11. Manejo adequado da fertilidade do solo: 
ƒ Solos com baixa fertilidade ou extremamente degradados deverão ser melhorados com 
18 
a inclusão de leguminosas por 2-3 anos: leguminosas rasteiras ou prostradas: ex. 
mucuna pruriens, stylosanthes sp., calopogonio mucunoides, clitoria ternatea, etc.; 
ƒ Culturas intercaladas com leguminosas arbustivas: feijão bóer, Sesbania sesban, etc.; 
e ainda também com leguminosas arbóreas: Glericidia sepium, Tephrosia vogelli, 
Sesbania sp., Calliandra calythersus, Acacia albida, etc.; estas leguminosas deverão 
preferentemente ser inoculadas (rhizobium específicos) e, quando disponível utilizar 
também fungos micorrízicos. Além disso, visando a reposição dos nutrientes a níveis 
aceitáveis de produção, aplicar fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) e na correção de 
solos calcário e/ou gesso, ou mesmo cinzas (se houver disponibilidade). 
12. Iniciar preferentemente em áreas com menor infestação de invasoras (ervas 
daninhas) de difícil controle, principalmente aquelas perenes, como é o caso de 
vários capins, principalmente em áreas brutas, ou aquelas onde haja alta infestação 
de espécies que se propagam através de rizomas, bulbos - Cynodon dactilon, 
Cyperus sp. etc.) 
Procurar diminuir estas infestações, eliminando os rizomas e/ou bulbos através de preparo e 
catação, ou mesmo (em alguns casos através de herbicidas), para então com presença de 
mulch (produzido no local ou trazido externamente) desenvolver o sistema. 
Solos em recuperação com Glericidia sepium 
na Província de Sofala
13. Evitar o excessivo pastoreio e pisoteio de animais, que irá eliminar a presença 
de mulch e consequentemente prejudicar o solo e os cultivos 
A presença de animais nos campos deve ser evitada, devendo-se construir cercas 
metálicas, ou cercas vivas, ou seja, arbustos e árvores locais preferentemente com 
presença de espinhos, tais como: (Dovyalis abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia 
acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi, Jatopha curcas (pinhão manso), 
Agave sisalane (sisal), Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha, 
Acacia melífera, Acacia tortuosis, etc.; usar de plantas de cobertura não comestíveis pelos 
animais, tais como: Ricinus communis (ricinus), Tephrosia vogelli (mutica), Tephrosia 
tunicata, Tephrosia candida, Senna spectabilis, etc.; 
Selecionar pequenas áreas onde através de uso de fertilizantes orgânicos e/ou 
compostagem poderá produzir elevadas quantidades de forragens, capins (capim elefante, 
sudangrass, etc.) e leguminosas (feijão bóer, leucaena, etc.) que serão ministradas aos 
animais, evitando a invasão dos mesmos às machambas. 
19 
O que Você deve levar em conta na implantação do sistema de Agricultura de 
Conservação: 
Informações regionais disponíveis sobre espécies a comporem uma adequada sequência de 
culturas, época de plantio, forma, isolado ou consorciado com milho ou mapira (p. ex.), época e 
forma de manejo (cortado com catana ou manejado com rolo-faca ou herbicidas) e, ainda a 
época adequada para implantação ou transplante da cultura posterior (subsistência ou de 
mercado). Assim, o produtor correrá menores riscos de insucesso no início da implantação do 
sistema. 
Buscar uma adequação da sequência das culturas (subsistência, mercado) e levando em 
consideração a distribuição das chuvas e temperatura durante todo o ano. 
3.3 Práticas que poderão fazer parte do sistema 
Para desenvolver um adequado sistema de Agricultura de Conservação, é necessário uma 
harmoniosa integração de alguns componentes do sistema: 
a) Plantas de cobertura, 
corte e distribuição do capim (ou dessecação através de herbicidas), 
b) Manejo de invasoras, 
c) Rotação de culturas, 
d) Construção de terraços, etc. que podem variar de acordo com a localização de uma 
determinada área, e alguns atributos: 
- zona agro-ecológica 
- altitude 
- local que ocupa na toposequência da paisagem 
- as propriedades do solo (químicas, físicas e biológicas) 
- quantidade e distribuição de chuvas durante o ano 
- sistema de produção
Guía prático de Agricultura de Conservação 
20 
Área em declive mostrando processo de erosão, 
deve ser construído terraços (cordão vegetado), 
plantas de cobertura e rotação de diferentes 
culturas (Distrito de Gorongosa). 
Durante o planejamento de implantação do sistema de Agricultura de Conservação, é 
importante a possibilidade de se considerar a machamba dentro de uma área maior que é a 
Microbacia Hidrográfica, considerando assim a unidade física para se efectuar todas as 
operações técnicas, possibilitando a integração entre uma propriedade e outra, facilitando 
assim todas as possíveis intervenções e procedimentos técnicos favoráveis ao manejo 
sustentável do solo. 
Conforme a localização das machambas em diferentes zonas agro-ecológicas e altitudes, o 
comportamento de determinadas culturas será diferenciado e, portanto épocas de plantio e 
espécies a serem implementadas na sequência (rotação) poderão ser diferentes. 
Geralmente os solos que ocorrem em áreas de maior altitude (áreas mais montanhosas) 
podem apresentar profundidade efectiva menor, presença de rochas e solos rasos (litólicos) 
e, com condições de clima de altitude, normalmente outras culturas (subsistência e 
mercado), além de outras espécies de plantas de cobertura, que poderão ser testadas e 
validadas para posteriormente fazerem parte dos sistemas de rotação regional. 
Para alguns procedimentos básicos necessários quanto à definição da área, passos a serem 
seguidos, bem como etapas sequenciais adequadas visando uma concreta e efectiva 
implantação do sistema de Agricultura de Conservação, é recomendado a realização de um 
diagnóstico local das condições físicas, químicas e biológicas do solo: 
a) SOLO COMPACTADO: 
Caso haja limitação física do solo (por ex. compactação na superfície ou subsuperficie), 
deverá ser supervisionado pelo técnico e avaliado o real estado de compactação do solo. 
Caso seja um adensamento superficial (normal em solos argilosos) ou comumente 
chamado de compactação leve, poderá ser eliminado facilmente através do uso de 
plantas com sistema radicular bastante vigoroso (feijão bóer, crotalarias (grahaminana, 
juncea, mucronata e nativas), nabo pivotante, tephrosias, sesbanias, gergelim, tremoço, 
etc. Caso, a compactação verificada seja bastante severa, identificando-se camadas 
muito compactas onde as raízes de plantas como o feijão bóer não conseguem 
ultrapassar, assim como seja observado o impedimento da infiltração de água no perfil, 
antes de iniciar a implantação do sistema de Agricultura de Conservação, o solo deverá 
ser descompactado através do uso de escarificadores (tracção animal ou tractorizada). 
b) SOLO COM DECLIVE ACENTUADO: 
Caso a machamba esteja localizada em áreas com declive acentuado, deve-se efectuar 
a diminuição do comprimento das pendentes em áreas declivosas com marcação e 
confecção de terraços (cordões vegetados: capim vetiver, capim limão, feijão bóer, 
gliricidia sepium, mutica, etc.), muralha de pedras, etc., barreiras vivas – neste caso, 
poderá se utilizar simultaneamente de terraços - camalhão de terra, ou de pedras; mais
plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante, etc.) e ainda 
algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas para 
fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo (glericidia sepium, 
tephrosia vogelli, feijão bóer, etc.). 
Normalmente nas encostas íngremes predominam solos jovens e rasos, bastante frágeis 
do ponto de vista de manejo (40-80 cm. de profundidade efectiva), podendo em poucos 
anos a erosão arrastar todo o solo arável dos horizontes superficiais, com um elevado 
afloramento de rochas na superfície, podendo tornar estas áreas totalmente 
improdutivas mesmo para pastagens e/ou outras culturas perenes. Dessa forma, a 
exploração destas áreas deve acompanhada de diferentes componentes da Agricultura 
de Conservação, harmoniosamente distribuídos conforme as condições específicas de 
cada região: nível declive, profundidade efectiva do solo, presença ou não de rochas, 
etc. 
21 
Como proceder no caso de solos com declive acentuado: 
ƒ Demarcar pequenos terraços em nível contra a pendente para cortar as águas. Podendo ser 
feito com enxadas ou com charruas tracção animal (2 a 3 passadas). Posteriormente abre-se 
um pequeno sulco continuo sobre o “topo”, parte mais elevada do terraço e pode ser 
plantado capim elefante (Pennisetum purpureum), cana-de-açucar, capim vetiver ou “vetiver 
grass” (Vetiveria zizanioides). Caso haja disponibilidade de pedras no local, pode ser 
complementado com terraço (muro) de pedras. Este terraço de pedras pode ser ajustado 
com Capim vetiver ou “Vetiver grass”, (Vetiveria zizanioides), capim cidreira ou limão (lemon 
grass), capim elefante (Pennisetum atropurpureum), etc. (o cordão vegetado com capim 
deverá ficar acima do terraço/muro de pedras). 
ƒ Após o plantio das espécies é necessário acompanhar o desenvolvimento das plantas e 
verificar a possível ocorrência de falhas na população de plantas da faixa contínua da 
barreira viva e, também a má disposição das pedras na construção dos terraços, poderá 
durante a ocorrência de fortes chuvas, facilitar o escorrimento superficial elevado 
(enxurradas), carreando água e sedimentos juntamente com nutrientes e a matéria orgânica 
das camadas superficiais do solo. Assim, deverá se prover de um adequado número de 
pedras e adequada distribuição/acomodação na construção das barreiras, de forma que as 
pedras e o capim estejam bem dispostos e compactos protegendo bem o solo. 
ƒ A área entre os cordões deverão preferentemente permanecer todo o ano coberto com 
restolhos ou plantas de cobertura durante os intervalos das diversas culturas). 
ƒ Cordões vegetados ou faixas de leguminosas: estratégia recomendada na melhoria da 
estrutura do solo e produção de biomassa, constando da implantação de espécies arbustivas 
ou arbóreas preferentemente leguminosas que deverão ser podadas esporadicamente e os 
resíduos distribuídos sobre o solo para protecção e melhoria da fertilidade: mutica (Tephrosia 
vogelli), Sesbania sesban, Glericidia sepium, Calliandra calythersus, Acácia albida, feijão 
bóer (Cajanus cajan), Leucaena leucocephalla, Tephrosia tunicata e outras sps.); também 
poderão ser intercaladas algumas plantas com efeitos insecticidas: mutica, Azadirachta 
indica (Nim) , Melia azedarach (siringa), etc. 
ƒ Algumas situações de declives acentuados poderão ser construído canais escoadouros 
vegetados, por onde o excesso de água que não conseguir infiltrar no perfil do solo e não ser 
absorvido também nos terraços/cordões poderão seguir por um canal vegetado com grama 
local rasteira, ou mesmo com amendoim forrageiro perene (Arakis pintoi ou Indigofera sp.) 
sem causar problemas de erosão e mínimas perdas de solos e nutrientes.
Guía prático de Agricultura de Conservação 
22 
Muralha de pedras combinada com cordão 
vegetado (Vetiver grass ou Capim Vetiver) no 
Distrito de Gorongosa 
c) SOLO POBRE EM NUTRIENTES: 
Caso seja identificado que o nível de nutrientes presentes no solo é muito baixo, é 
recomendável a aplicação de fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) para a reposição e 
criação de condições mínimas para uma suficiente produção de biomassa. 
d) SOLO INFESTADO DE INVASORAS: 
Havendo elevada infestação de invasoras perenes, preferentemente deverão ser 
controladas antes de iniciar o sistema, embora possa ser iniciado, entretanto com riscos 
e elevado custo posterior no controle dessas espécies (p. ex. Cynodon dactilon, Cyperus 
sp., etc.). O controle integrado pode ser realizado através de herbicidas (Glyphosate) + 
plantas de cobertura eficientes tais como:. Mucuna + lablab – * óptimos resultados foram 
alcançados na Suazilândia no controle de Cynodon com o uso de Roundup, seguidos de 
cobertura por plantas de mucuna + lablab (FAO, Projecto Swazilandia, 2005).
23 
4 A COBERTURA DO SOLO 
4.1 As vantagens de manter o solo coberto 
As vantagens de manter o solo coberto são as seguintes: 
1) Promover a formação de cobertura vegetal, além de evitar deixar o solo desprotegido irá 
quebrar a energia cinética da chuva impedindo o impacto directo das gotas de chuva no 
solo, impedindo com isso, o desencadeamento do processo de erosão. 
2) A presença da cobertura morta (“mulch”) mantém mais humidade no solo, diminuindo 
das perdas de água por evaporação, além de diminuir a oscilação (variação) térmica nas 
1a.s camadas. 
3) Os resíduos vegetais, parte aérea e raízes, irão afofar o solo, abrindo também canais no 
perfil que irá aumentar a infiltração de água no solo, diminuindo o escorrimento 
superficial e as perdas de água, solo e nutrientes. 
4) Buscar uma melhor estruturação do solo: melhor agregação das partículas, maior 
aeração, maior porosidade, favorecendo o crescimento das raízes dos cultivos 
posteriores. 
5) Implementar a reciclagem de nutrientes no solo, diminuindo a lixiviação dos mesmos, 
bem como adicionar o nitrogénio ao sistema, principalmente com o uso de leguminosas 
minimizando a demanda externa de fertilizantes. 
6) Possibilitar, com o crescimento rápido e agressivo, competição com as invasoras, 
diminuindo os custos com o seu controle. 
7) Com a utilização das espécies, há uma tendência, ao longo dos anos, do aumento dos 
teores de matéria orgânica no solo, que irá proporcionar significativas melhorias nas 
propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. 
8) Aumento da biologia do solo e, consequente aumento da biodiversidade, o que irá 
contribuir para um maior equilíbrio natural e menores riscos de ataque de pragas 
(insectos, nematoides, etc.) e doenças. 
Leguminosa nativa, potencial de uso como 
cobertura em rotação com diferentes culturas 
(Província de Sofala) 
Clitoria ternatea: leguminosa adaptada 
em algumas regiões da Província como 
nos Distritos de Búzi e Gorongosa
Guía prático de Agricultura de Conservação 
4.2 Plantas de cobertura 
4.2.1 Comportamento das diferentes espécies de plantas de cobertura e 
24 
contribuição na melhoria das propriedades físicas, químicas e 
biológicas do solo 
As experiências práticas dos camponeses da Província de Sofala tem mostrado que o solo 
devidamente coberto com restolhos e resíduos de plantas de cobertura (p. ex. mucuna, 
feijão bóer, etc.), proporciona um aumento da infiltração de água no perfil, diminuindo o 
escorrimento superficial e as perdas de água, solo e nutrientes. A continuidade desse 
sistema, tende a aumentar gradualmente os teores de matéria orgânica e nutrientes no solo 
ao longo dos anos e, além de promover um maior armazenamento de água no perfil, irá 
trazer inúmeros benefícios às diferentes sequências de culturas. 
Registros históricos mostram que a milenar prática do uso de plantas de cobertura, foi 
desenvolvida com sucesso por antigas civilizações: romanos, gregos, chineses, e outros 
povos na antiguidade e, graças ao intenso uso de insumos “modernos” esta prática foi 
quase esquecida neste século. Felizmente nas últimas 3 décadas, estudos e experiências 
de agricultores em várias partes do mundo fizeram com que esta eficiente prática 
começasse a retomar o seu importante lugar nas diferentes condições agro-ecológicas e 
sistemas de produção dos diferentes países, contribuindo para a manutenção e melhoria 
das propriedades do solo (físicas, químicas e biológicas). 
O estudo das plantas melhoradoras do solo tem demonstrado grande potencial na protecção 
e recuperação da produtividade do solo. Apesar disso, um constante desafio é estabelecer 
esquemas de uso compatível, das diferentes espécies com os sistemas de produção 
específicos de cada região, e se possível nos limites de cada propriedade, levando em 
consideração os aspectos ligados ao clima, solo, infra-estrutura da propriedade e condições 
sócio-económicas do agricultor. As possibilidades do emprego dessas plantas, podem visar, 
além da conservação e/ou melhoria da fertilidade, incremento na produtividade das culturas 
comerciais, aproveitamento algumas espécies como fonte de alimentos, forragem aos 
animais, ou ainda na produção de grãos para comercialização. 
A temperatura exerce grandes efeitos sobre a fisiologia das plantas, além de influenciar 
directamente na absorção de íons (nutrientes). A amplitude térmica muitas vezes é mais 
importante que a temperatura média de uma determinada zona, ou seja as variações nas 
temperaturas influem directamente no comportamento das plantas. Também a distribuição 
anual das precipitações tem efeitos directos no estabelecimento e desenvolvimento das 
diferentes espécies. Portanto, quando da escolha da(s) espécie(s) a fazer parte de 
sequências de culturas, estes e outros aspectos deverão sempre ser levados em 
consideração. 
Leguminosa rústica (Feijão bóer) que apresenta 
múltiplos usos, na fase de 
florescimento/enchimento de vagens – Província 
de Sofala
25 
As plantas de cobertura poderão ser implantadas em 
cultivo singular ou em associações. Pode-se fazer uso 
do consórcio de gramíneas + leguminosas, ou ainda 
misturar 2-3 ou mais espécies, que além de 
apresentarem um importante efeito melhorador das 
características físicas do solo (agregação, 
estruturação), produzem resíduos com relação C/N 
intermediária, favorecendo a mineralização paulatina do 
nitrogénio, além de promoverem ao longo dos anos um 
maior equilíbrio e acúmulo de carbono no perfil do solo. 
No caso de cultivos singulares, a decomposição 
individual das leguminosas resultará em maiores riscos 
de perdas de N (lixiviação, volatilização), quando 
comparado às gramíneas. Quando os resíduos de 
gramíneas são mesclados com resíduos de 
leguminosas, normalmente não há problemas com 
imobilização do nitrogénio e a mineralização paulatina 
favorecerá a disponibilidade e absorção dos nutrientes 
pelas plantas. 
Consórcio de milho e feijão 
nhemba no sistema de 
Agricultura de Conservação 
(Distrito do Dondo) 
Os nutrientes deixados pelas plantas de cobertura às culturas posteriores podem ser 
aproveitados em quantidades variáveis conforme os seguintes factores: 
Espécie de planta de cobertura: 
Plantas mais fibrosas (com maior quantidade de carbono) demoram mais a se decompor no 
solo, plantas com maior % de nitrogénio se decompõe mais rápido e liberam os nutrientes 
no solo, podendo então ser absorvidos pelas culturas subsequentes; 
Tempo de decomposição: A relação carbono/nitrogénio (C/N), bem como a quantidade de 
lignina presente no tecido vegetal, irá governar grande parte do processo de decomposição 
dos resíduos no solo; 
Temperatura: Temperaturas elevadas facilitam o aumento de população dos 
microrganismos do solo e, consequentemente poderá acelerar o processo de decomposição 
dos resíduos vegetais no solo; 
Humidade do solo: A disponibilidade de água juntamente com temperatura e presença de 
ar (oxigénio) são fundamentais no aumento dos microrganismos e decomposição dos 
resíduos no solo; 
Manejo do solo: O solo ao ser revolvido por enxadas, charrua ou tractor irá misturar os 
resíduos na camada superficial do solo acelerando o processo de decomposição dos 
resíduos presentes; 
Fertilidade do solo : (aspectos químicos, físicos e biológicos) 
Maior teor de matéria orgânica (geralmente está associado a um incremento biológico no 
solo, principalmente os microorganismos), elevado teor de nutrientes, melhor aeração do 
solo (não problemas de compactação), maior acumulo de humidade; temperaturas elevadas, 
tendem a acelerar a decomposição dos resíduos no solo, assim esses factores tem 
influencia directa na disponibilidade dos nutrientes as culturas subsequentes.
Guía prático de Agricultura de Conservação 
O que Você deve levar em conta: 
O monitoramento contínuo das áreas com rotação de culturas é fundamental para o próprio 
sucesso do sistema. Assim, as espécies a serem incluídas na rotação deverão ser 
criteriosamente seleccionadas, de acordo com as condições agro-ecológicas, infra-estrutura do 
produtor, e cobertura do solo prevalecentes. 
4.2.2 Formas de manejo de plantas de cobertura 
As plantas de cobertura quando atingem o pleno florescimento os nutrientes se encontram 
distribuidos em todas as partes da planta, sendo o momento recomendado para se fazer o 
manejo. Obviamente, que em algumas situações onde se deseja que os resíduos 
permaneçam por mais tempo sobre o solo, este manejo poderá ser retardado um pouco. 
Dessa forma, quando as plantas atravessam a fase de crescimento vegetativos e entram na 
fase reprodutiva (flores e enchimento de grãos), ocorre uma migração dos nutrientes das 
folhas e de outras partes da planta para as inflorescências e, com isso principalmente pelo 
aumento das cadeias carbônicas, os tecidos das plantas irão se tornando com uma maior 
relação C/N e, assim com maior presença de lignina torna-se mais difícil e demorada a 
decomposição desses resíduos no solo. Por outro lado, caso o manejo das plantas seja 
efetuado antes do florescimento, a relação carbono nitrogênio (N) nos tecidos será menor 
(cadeias carbônicas menores) e, consequentemente decomposição no solo será bem 
rápida. Isto, principalmente em função da oferta elevada de N aos microorganismos, que 
assim multiplicam-se muito rapidamente e decompõe os resíduos orgânicos em menor 
tempo. Neste caso, se tem uma pronta disponibilidade principalmente de N no solo, que 
poderá ser absorvido pelas plantas, ou mesmo correndo riscos de perdas (principalmente 
lixiviação quando na forma de nitrato, NO- 
26 
3). 
As plantas de cobertura poderão ser manejadas através de catana, foice, enxadas, 
rolo-faca, herbicidas, conforme as condições locais e infra-estrutura do produtor. 
O rolo-faca consta basicamente de um equipamento que pode ser feito de um tronco de 
madeira ou um cilindro metálico, ou mesmo um tambor de vazio de 200 litros. São 
colocadas longitudinais ao cilindro, sendo este cilindro traccionado por trator ou por animais 
(bois, cavalos, burros, etc.) sobre os vegetais que se pretende acamar e manejar. Caso 
haja elevada quantidade de massa vegetal a ser cortada poderá ser colocada alguns pesos 
sobre a estrutura metálica do próprio rolo para que possa ter mais peso, e no caso do 
tambor poderá ser cheio com água, para então proceder satisfatoriamente as operações de 
manejo/corte do material vegetal (plantas de cobertura, capins e outras invasoras, restolhos 
da cultura anterior). Normalmente o rolo-faca não irá cortar todos os resíduos, mas com a 
forca do impacto sobre o tecido vegetal ira romper os vasos que carregam a seiva bruta e 
elaborada e, assim proporcionando após alguns dias a seca e morte das plantas. É prático, 
de fácil confecção e um instrumento muito importante no manejo da vegetação para 
implantação das culturas em plantio direto sobre o mulch (Agricultura de Conservação). Já 
foram confeccionados alguns exemplares aqui em Sofala e já vem sendo utilizado com 
sucesso pelos camponeses.
Rolo-faca e tração animal: usado no maneio de plantas de cobertura, invasoras (plantas daninhas) e 
restolhos de plantas cultivadas (milho, mapira, girassol, etc.) 
No Distrito do Búzi, foi feito uma demonstração 
com o uso de rolo-faca tractorizado sobre capim e 
feijão macaco (vegetação de uma altura média de 
1,50m.), com um excelente trabalho, 
demonstrando ser uma ferramenta muito eficiente 
no manejo de vegetação ou de coberturas. 
As áreas onde se efetuaram os trabalho foram em 
Chicumbua, Guara Guara (através de tractores) e, 
em Bandua com tracção animal (bois), com 
trabalho bastante eficiente sobre capins, feijão 
macaco e outras plantas e arbustos. 
27 
Rolo-faca tracção tractorizada – Búzi 
Nas áreas onde foram testados o rolo-faca construído pelo PROMEC, observou-se que 
passado já 30-40 dias após o manejo do capim, já começa a surgir algumas invasoras, 
sendo portanto recomendável que o intervalo entre o manejo com rolo-faca e o plantio direto 
da cultura posterior seja em torno de 8-21 dias, obviamente variando conforme o tipo de 
cobertura (leguminosas e outras com bastante nitrogênio e rápida decomposição 8-10 dias 
e, caso seja gramíneas e outras bem lignificadas e fibrosas 2-3 semanas após o manejo), 
podendo introduzir a nova cultura em plantio direto. 
• Em campos onde há predominância de capins, o manejo com rolo-faca deverá ser 
preferencialmente quando o capim esteja verde e, ainda não tenha completado o ciclo, 
dessa forma o rolo-faca tem melhor efeito, além de impedir que as invasoras continuem 
se multiplicando no campo. 
• Caso ocorra pequena rebrota, o manejo poderá ser complementado com foices, catanas, 
etc. 
• Em muitas situações e áreas maiores, o rolo-faca poderá ser complementado com uso 
de herbicidas específicos para dessecação das invasoras e/ou plantas de cobertura.
Guía prático de Agricultura de Conservação 
4.3 Efeitos das plantas de cobertura 
As plantas de cobertura e seus resíduos, através da formação de cobertura morta, e pelos 
seus efeitos físicos e químicos (alelopáticos) afectam qualitativa e quantitativamente 
distintas infestações de espécies invasoras. 
Assim são conhecidos os efeitos das mucunas, feijão bóer, mexoeira, crotalaria juncea, 
calopogônio, feijão de porco, da aveia preta, centeio, azevém, ervilhacas, nabo forrageiro, 
etc. no controle de diferente espécies de plantas invasoras. Sendo importante o uso e 
manejo dessas espécies em rotação quando se pretende diminuir populações de algumas 
invasoras. 
Com a utilização das diferentes plantas de cobertura é possível quantificar o montante de 
um determinado nutriente reciclado e/ou fixado biologicamente pelas leguminosas, 
considerando a biomassa produzida e os nutrientes contidos no tecido foliar. 
Tabela 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura e % 
28 
de nutrientes na matéria seca . 
Nitrogénio Fósforo Potássio 
Planta de cobertura 
Ciclo 
Massa 
verde 
(t/ha) 
Matéria 
seca 
(t/ha) (% na matéria seca) 
Mexoeira Anual 11 - 90 3.5 - 21 0.34 - 1.46 0.13 - 0.29 1.05 - 3.12 
Feijão nhemba Anual 20 - 33 2.5 - 6 1.67 - 2.22 0.25 - 0.50 1.82 - 2.77 
Mucuna preta Anual 12-23 2 - 5 2,29 - 2,73 0,11 - 0,17 1,25 - 1,55 
Mucuna cinza Anual 10 - 25 2 - 6 1.56 - 2.43 0.46 - 0.57 1.00 - 1.55 
Mucuna anã Anual 10- 18 2 - 4 2,85 - 3,35 0,16 - 0,23 4,14 - 4,84 
Feijão bóer Bi ou Tri-anual 18 - 45 5 - 12 2,41 - 2,85 0,12 - 0,19 2,40 - 2,84 
Feijão bóer anão Anual 14- 22 2 - 6.5 1.02 - 2.04 0.21 - 0.28 0.92 - 1.47 
Crotalaria spectabilis Anual 12-23 4 - 7 2,14 - 2,20 0,07 - 0,12 1,40 - 1,78 
Feijão de porco Anual 14 - 26 3 - 7 3,00 - 3,39 0,12 - 0,18 5,30 - 5,94 
Feijão bravo do Ceara Anual 14 - 25 3 - 6.5 2,27 - 2,71 0,11 - 0,15 1,58 - 1,78 
Feijão mungo Anual 12 - 22 3 - 5.5 2,00 - 2,18 0,15 - 0,27 4,64 - 5,24 
Dolichos lab-lab Anual 14 - 28 4 - 7 2,15 - 2,57 0, 27 - 0,61 2,14 - 2,53 
Leucaena leucocephala perene 20 - 50 10 - 16 4, 17 - 4,43 0,17 - 0,28 1,45 - 1,94 
Indigofera sp. perene 13 - 24 4 - 7 2,02 - 2,33 0,09 - 0,19 1, 45 - 1,64 
Calopogonio mucunoides perene 14 - 23 4 - 6 2,05 - 2,28 0,08 - 0,17 1,43 - 1,68 
Kudzu tropical perene 13 – 25 4 - 7 3,47 -3,88 0,23 - 0,36 2,06 - 2,23 
Soja perene perene 12 – 23 4 - 6 2,44 - 2,85 0,17 - 0,30 2,24 - 2,45 
Centrosema pubescens perene 14 - 27 4.5 - 6.5 2,21 - 2,48 0,17 - 0,29 1, 03 - 1,34 
Mexoeira + nhemba Anual 19 - 40 3.5 - 10 0.61 - 0.82 0.13 - 0.17 1.08 - 1.12 
Crotalaria juncea Anual 15 - 35 2.5 - 8.5 1.42 - 1.65 0.19 - 0.21 0.96 - 1.38 
Girassol Anual 20 - 46 4 - 8 1. 02 - 1,12 0.18- 0,24 2,50 - 2.78 
Fonte: Adaptado de Calegari, 1995, 2000, Florentin et al., 2001. 
Os valores apresentados demonstram o grande potencial que as distintas plantas de 
cobertura possuem em deixar no horizonte superficial dos solo variáveis quantidades de 
nutrientes que poderiam ser absorvidos pelas raízes dos cultivos posteriores. Além desses 
nutrientes, um dos mais importantes aportes das plantas são os compostos de carbono
orgânico, ou seja a matéria orgânica, que será responsável, directa ou indirectamente pelas 
interacções e reacções químicas, físicas e biológicas no sistema solo-água-planta. 
As plantas mencionadas, tem potencial de serem utilizadas na Província de Sofala, 
conforme os diferentes sistemas de produção e condições agro-ecológicas especificas. 
Para os cultivos de Siratro, Stylosanthes, Brachiaria, Setaria e Melinis minutiflora, caso 
saturação com bases esteja acima de 30% não será necessário elevar até 40%, com 
excepção no caso dos materiais que são destinados a corte ou produção de feno 
Dentre as leguminosas algumas se destacam pela tolerância ao alumínio, como é o caso: 
Stylosanthes, Calopogonium mucunoides, Macroptilium atropurpureum, Galactia striata, 
Crotalaria pubescens e outras. Por outro lado, as espécies como Glycine wightii (soja 
perene), Medicago sativa (alfafa), são altamente susceptíveis a alumínio, e também pouco 
eficientes na absorção de fósforo (P) na presença de alumínio. Em geral, as exigências em 
P das leguminosas adaptadas a solos ácidos não são altas. 
Geralmente as leguminosas apresentam grande potencial em fixar nitrogênio através da 
acção das bactérias que estão em simbiose com as raízes das plantas assim como também 
tem boa capacidade de reciclar o nitrogênio e outros nutrientes que foram perdidos por 
lixiviação. 
Tabela 4: Fixação biológica pelas leguminosas 
29 
Leguminosas N(kg/ha-1/ano) 
Feijão bóer (Cajanus cajan) 41 - 280 
Feijão nhemba (Vigna unguiculata sin. Vigna sinensis) 73 - 240 
Mucuna preta (Mucuna pruriens) 157 
Canavalia / Feijão de porco (Canavalia ensiformis) 49 - 190 
Estilosantes (Stylosanthes sp.) 30 - 196 
Amendoim (Arachis hypogaea) 33 - 297 
Calopogônio (Calopogonium mucunoides) 64 - 450 
Crotalaria (Crotalaria juncea L.) 150 - 165 
Galáctia (Galactia striata) 181 
Centrosema (Centrosema pubescens) 93 - 398 
Leucaena (Leucena leucocephala) 400 - 600 
Kudzu tropical (Pueraria phaseoloides) 30 - 100 
Feijão mungo (Vigna radiata L.) 63 - 342 
Desmódio (Desmodium sp.) 70 
Siratro (Macroptilium atropurpureum) 70 - 181 
Soja (Glycine max) 17 - 369 
Soja perene (Glycine wightii Verdc.) 40 - 450 
Guar (Cyamopsis psoraloides) 37 - 196 
Lentilha (Lens culinaris) 35 - 77 
Lespedeza (Lespedeza stipulacea) 193 
Grão-de-bico (Cicer arietinum) 41 - 270 
Ervilha (Pisum sativum) 81 - 148 
Ervilhaca comum (Vicia sativa) 80 - 120 
Ervilhaca peluda (Vicia villosa) 110 - 184 
Trevo egípcio (Trifolium alexandrinum) 62 - 235 
Trevo vermelho (Trifolium pratense) 17 - 191 
Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) 21 - 207 
Feno grego (Trigonella fænum-græcum) 44 
Feijão fava (Vicia faba) 88 - 157 
Adaptado de: Nutman (1969); Buckman & Brady (1979); Malavolta et al. (1986); Boin (1986); Vernetti (1971), 
citado por Scotti et al. (1986); Larve, T.A. & Patterson, T.G. (1981); Kluthcousky (1982); Burris & Hardy (1975); 
Mello (1978); Rottar, P.P. & Joy, citado por Calegari et al., 1993.
Guía prático de Agricultura de Conservação 
4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo 
A matéria orgânica é uma mistura complexa das mais essenciais à manutenção e/ou 
recuperação da capacidade produtiva dos solos agrícolas. Diante de tal importância, serão 
tratados os principais aspectos a serem considerados num manejo adequado de solos 
visando a recuperação e/ou manutenção da matéria orgânica dos solos agrícolas. 
A matéria orgânica total de um solo inclui todos os organismos vivos do solo, assim como os 
resíduos vegetais e animais em decomposição constante; apesar de que quando nos 
referimos à matéria orgânica do solo, uma quantificação mais realística é quando nos 
referirmos à porção já num estágio final de decomposição, com a predominância de lignina, 
celuloses e hemiceluloses, portanto já num complexo de maior estabilidade e de coloração 
escura, ou seja, portanto numa fase de húmus. 
Os diferentes tipos de plantas, bem como as diferentes partes da planta, podem apresentar 
diferenças quanto aos seus componentes e estruturas e, conforme a organização estrutural 
de seus tecidos, influenciado pela época e forma de manejo dado a estas plantas ou 
resíduos, poderão apresentar diferenças quanto ao tempo de decomposição. Os primeiros 
componentes (listados abaixo), que são formado por cadeias de carbono mais simples, são 
quebrados e decompostos muito rapidamente, quando alguns resíduos e/ou restolhos são 
depositados no solo, enquanto os últimos (cadeias complexas) poderão demorar meses ou 
até muitos anos: 
30 
ƒ Açucares, amidos e proteínas simples; 
ƒ Complexos protéicos; 
ƒ Hemicelulose 
ƒ Celulose 
ƒ Gorduras e graxas 
ƒ Lignina 
Assim, o montante de matéria orgânica de um solo é um complexo formado por inúmeras 
fracções em diferentes estágios de decomposição e, sendo alguns com efeitos marcantes, 
duradouros ou não, sobre as propriedades do solo. Dessa forma, a adição quase que 
constante de resíduos orgânicos ao solo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, 
são fundamentais para que se possa se beneficiar de todos os efeitos favoráveis da matéria 
orgânica nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. 
Geralmente o balanço entre estas fracções é a resultante da adição dos compostos de 
carbono e dos efeitos do manejo do solo utilizado. 
Normalmente nas áreas tropicais e subtropicais onde a mineralização/degradação dos 
compostos orgânicos é intensa, a forma com que efectuamos o manejo do solo e das 
culturas podem influenciar directamente a dinâmica dessa matéria orgânica do solo: 
ƒ As adições de carbono orgânico em áreas agricultáveis normalmente podem ser 
menores que nas condições naturais (natureza), isto em razão de que as culturas 
ocupam um tempo parcial de desenvolvimento durante o ano, além da colheita de grãos, 
fibras, forragem, etc. estarem sempre exportando carbono do sistema; apesar disso, 
experiências de produtores no Brasil e outros países mostram que é possível com um 
bom sistema de rotação, suplantar a adição de carbono anual quando comparado com 
uma área de vegetação natural; 
ƒ O revolvimento do solo, queima dos restolhos e/ou invasoras e as praticas de condução 
(praticas fitotécnicas: limpeza do terreno, etc.), contribuem para a mistura dos restolhos 
das culturas e outros resíduos orgânicos com o solo e consequentemente aumentam a 
decomposição do carbono e as perdas em forma de CO2 para a atmosfera.
Para que o processo seja revertido é fundamental tomar alguns procedimentos urgentes: 
ƒ Imediatamente cessar com o preparo do solo, quer seja por enxadas, tracção animal, 
31 
tractor, etc.; 
ƒ Não queimar mais os restolhos das culturas, restos de invasoras cortadas ou 
capinadas, resíduos de plantas de cobertura, deixando todos os compostos de 
carbono sobre a superfície do solo; 
ƒ Manejar adequadamente todos os resíduos de forma que a adição anual de carbono 
ao sistema, quer pela adição dos resíduos da parte aérea ou das raízes, seja 
superior às perdas que ocorre principalmente pela ação dos microorganismos do 
solo (balanço anual positivo); 
ƒ Obviamente que em áreas de vegetação nativa os níveis de matéria orgânica do solo 
dependerão diretamente das condições de clima (temperatura, precipitação), tipo de 
vegetação, tipo de solo, drenagem, etc. 
O papel da matéria orgânica nos solos agrícolas 
A predominância de temperaturas elevadas, ocorrência de precipitações com alta 
intensidade, tem contribuído para que o processo de intemperização seja mais intenso nas 
regiões tropicais e subtropicais, quando comparados às condições de clima temperado. 
Nessas condições, as argilas predominantes geralmente são 1:1 ou seja, geralmente de 
baixa actividade, significando com baixa capacidade de efectuar a troca catiônica no 
complexo solo. Dessa forma, a maioria dos solos apresentam originalmente baixa CTC 
(capacidade de troca de cátions), o que indubitavelmente repercutem em baixa fertilidade 
natural. Assim, nessas condições os colóides da matéria orgânica, por ter uma CTC de alta 
actividade, desempenha um papel fundamental no sentido de contribuir para o aumento da 
CTC do solo e, consequentemente promover uma maior capacidade de aumento do nível de 
fertilidade química do solo. Além disso, grande percentual dos nutrientes são protegidos no 
solo ao formarem complexos com a matéria orgânica, podendo ser paulatinamente 
disponibilizados (com menores riscos de serem fixados por alumínio ou manganês, como é 
o caso do fósforo, ou ainda serem perdidos por lixiviação como é o caso do potássio e 
outros) e, aproveitados mais facilmente pelas raízes das culturas em desenvolvimento. 
O aumento da matéria orgânica do solo está directamente ligado ao aumento na adição de 
carbono e/ou redução da taxa de decomposição dos materiais orgânicos frescos (MOF) e 
húmus. Uma forma de adicionar carbono ao longo dos anos é pela vegetação espontânea 
(invasoras), pelo cultivo de espécies perenes de pastagens ou através da prática ordenada 
de sucessões, rotações e/ou consorciação de culturas (sistemas), com elevada capacidade 
de produção de fitomassa que incluam conjuntamente cultivos comerciais e recuperadores 
de solos (plantas de cobertura). 
Material orgânico fresco cobrindo o solo (capim) 
e matéria orgânica estabilizada – coloração 
escura (húmus )
Guía prático de Agricultura de Conservação 
A redução na taxa de decomposição dos MOF e húmus em cultivos anuais é obtida através 
de redução do revolvimento do solo, quer pela decisão de um manejo através do sistema de 
cultivo mínimo ou principalmente através do sistema de plantio directo. 
Os principais aspectos auferidos pela manutenção e/ou adição da matéria orgânica do solo 
são: 
ƒ elevada capacidade de armazenamento de água; 
ƒ contribui para uma melhoria do estado de agregação das partículas de solo através da 
32 
formação dos complexos organo-minerais; 
ƒ proporciona um considerável incremento na vida biológica do solo; 
ƒ promove uma acentuada redução das perdas de nutrientes, favorecendo 
sensivelmente o seu suprimento às plantas; 
ƒ tem a capacidade de formar complexos com o alumínio e manganês que encontram-se 
em níveis tóxicos no solo; 
ƒ contribui significativamente para o aumento da CTC (capacidade de troca de cátions) 
efetiva do solo; 
ƒ melhoria do desenvolvimento e rendimento final das culturas. 
Além dos componentes dos tecidos das plantas, algumas enzimas necessárias à 
decomposição das moléculas orgânicas estão presentes em um maior número de espécies 
microbianas, outras são sintetizadas apenas por alguns microorganismos específicos. O 
amido, proteínas, e celulose, por ex., fazem parte dos vegetais e são moléculas que 
facilmente são degradas no solo pelos microorganismos, a maioria deles tem enzimas 
necessárias para a degradação e posterior utilização como fonte de carbono e energia. No 
caso da lignina e alguns compostos fenólicos (cadeias carbônicas maiores e mais 
complexas), componentes comuns nos tecidos vegetais, são mais difíceis de sofrerem o 
ataque microbiano, em função de sua estrutura e caminhos de decomposição 
permanecendo assim por muito mais tempo no solo até a mineralização ou sofrerem 
reacções químicas no solo (Fries & Aita, 1999). 
Visando facilitar a decomposição e liberação de nutrientes, em algumas regiões da Europa, 
se recomenda adicionar, por cada 100 kg de resíduos vegetais (palha de gramíneas e/ou 
restolhos), de 0,7 – 1,3 kg de nitrogênio, além da fertilização normal utilizada no cultivo. 
Ao selecionarmos plantas para cobertura do solo e acúmulo de palha, devemos buscar 
aquelas que apresentem maiores concentrações de lignina e derivados de fenólicos, pois 
seus resíduos são mais resistentes à decomposição e assim permanecem por mais tempo 
protegendo o solo. 
Balanço de húmus no solo: 
O humus, composto final da decomposição dos resíduos orgânicos do solo apresentam 
inúmeros efeitos favoráveis ao solo, assim como as interações solo-água-planta-nutrientes. 
No dinâmico processo de manejo do solo é importante considerar se o solo alcançou ou não 
ainda seu equilíbrio. Equilíbrio este que é definido como: 
Equilíbrio = quando ocorre maior acúmulo em relação às 
perdas de matéria orgânica (M.O.) no solo
Assim, Fries & Aita, 1999 apresentam um exercício de como avaliar este importante balanço 
no solo. 
33 
Balanço Anual de Humus = 
Perdas Anuais de M.O. ▬ Ganhos de M.O. 
• Considerando (p. ex.) um solo com 2.5% M.O.; 
• Quilogramas de humus em 1 hectare = 2.159.000 kg de solo/ha X 2.5/100 = 53.975 kg 
/M.O. 
• Caso o solo seja manejado ou não, parte do humus do solo é decomposto pelos micro-organismos 
para sua manutenção durante o ano; 
• Nos USA estudos tem mostrado que a taxa de decomposição do humus é: 
1. solo com 2% de M.O. = 2% taxa de decomposição anual; 
2. solo com 4% de M.O. decomposição de 2.5%, assim utilizando-se estes valores; 
portanto, 2.5% M.O. apresenta uma taxa de decomposição = 2.125%. 
3. Em 1 hectare temos 53.975 kg. de M.O. X 2.125% = 1147 kg. de humus 
anualmente perdido pelo processo de decomposição natural; 
Estudos regionalizados (possivelmente com “modelagem”) deveriam ser conduzidos para 
desenvolver uma: Constante de decomposição da Matéria Orgânica no solo 
Estimativas de perdas de solos: 
Resultados obtidos por Sidiras ,1984, citado por Derpsch et al., 1991 em um latossolo roxo 
no Norte do Paraná, o preparo convencional do solo (1 aração com discos + 2 gradagens) 
mostrou perdas de solos de 68,2 ton./ha/ano. Ainda no Brasil, Ponta Grossa, Paraná, Araújo 
et all.1991, em 4 anos de estudos em Cambissolos álicos encontrou perdas médias de mais 
de 113 toneladas de perdas de solos por hectare/ano. Por outro lado, resultados obtidos por 
Venialgo, 1997 em Paraguai, mostraram perdas de 46,5 ton./ha/ano de solos (área de 
convencional em pousio no inverno). Seguramente nas condições da Província de Sofala os 
valores não devem ser muito diferentes, ou até em áreas mais declivosas e cultivados 
tradicionalmente com perdas ainda maiores que as consideradas anteriormente. 
• Assim, para fins de cálculos vamos considerar perdas anuais de solos no sistema 
convencional de 40 toneladas por hectare/ano. 
• Perdas de Solos = 40.000 kg/ha/ano X 2,5% = 1000 kg/ha/ano de humus perdido por 
erosão. 
• O solo perdido geralmente é mais rico em M.O., visto que a fração orgânica é mais leve 
que outras partículas do solo e com mais facilidade será levado pela enxurrada; 
• Análises realizadas mostram um valor aproximado de 1,5% vezes superior para a M.O.; 
• Assim, os valores serão estimados em: 1000 kg de humus X 1,5 = 1500 kg/ha/ano de 
humus perdidos por erosão (valor corrigido); 
• Portanto, a Perda de Humus anual é de: 
• 1147 + 1500 = 2647kgs. de Humus são perdidos por ha/ano.
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GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwirtschaft-_praktischer_fuehrer

  • 1. PROMOÇÃO ECONÓMICA DE CAMPONESES - SOFALA República de Moçambique Viena, Áustria DPA SOFALA GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO Financiado pela
  • 2. PROMOÇÃO ECONÓMICA DE CAMPONESES - SOFALA República de Moçambique Viena, Áustria DPA SOFALA GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO Autores Eng. Agr. Ademir Calegari José Paulo Cristiano Taimo Esta obra foi financiada pela Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento e baseia-se principalmente nas experiências do IAPAR - Instituto Agronómico de Paraná, Londrina-Paraná-Brasil, e nos ensaios demonstrativos realizados na Província de Sofala, Moçambique, nos anos 2002 até 2005, no quadro dos projectos PROMEC, APROS, PACDIB (da Cooperação Austríaca) e PRODER (MINAG - GTZ). Financiado pela
  • 3. AGRADECIMENTOS DOS AUTORES Os autores agradecem a oportunidade de trabalhar na Província de Sofala, Moçambique e, estar juntamente com os técnicos da Cooperação Austríaca e DPA, com os camponeses dos diferentes Distritos, desenvolvendo o sistema de Agricultura de Conservação, num processo de sensibilização e teste/validação dos componentes tecnológicos a nível de machamba. O trabalho se iniciou em 2001 e resultados muito promissores têm sido alcançado pelos camponeses, quer no tocante à diminuição de mão-de-obra, maior aproveitamento da água, maior estabilidade na produção, aumento na produtividade de diferentes culturas, etc. Agradecemos ao Dr. Gerald Tschinkel da H3000 Development Consult em Áustria, pela confiança, amizade e persistência na possibilidade de implementar o sistema de Agricultura de Conservação em Moçambique. À Cooperação Austríaca, que sempre apoiou no desenvolvimento dos trabalhos de Agricultura de Conservação. Também a equipe do PROMEC, pela amizade, frutíferas discussões e perseverança nos trabalhos. Ao Bento Freitas e Cecília pelo apoio durante todas as consultorias. À GTZ, na pessoa do Sr. Nicolas Lamade, pela oportunidade e viabilização de atividades de Agricultura de Conservação; ao Mário Norman da PRODER –GTZ pela amizade e contribuições durante todo este tempo de trabalho; ao Manfred Schug, que sempre acreditou ser possível implementar o sistema de Agricultura de Conservação junto aos camponeses nas mais diferentes situações; à Direcção Provincial da Agricultura na pessoa do Dr. Ribeiro que sempre acreditou e apoiou as atividades de Agricultura de Conservação e também ao atual Diretor Provincial, Sr. António Raúl Limbau, que tem incentivado as atividades de Agricultura de Conservação; ao Eng. Madane pelo contínuo apoio do SPER em todas as atividades da Agricultura de Conservação. Ao Erasmo Saraiva e Rui Valadares pelo constante apoio e amizade; a todos os técnicos da DDA dos diferentes Distritos e colegas das ONGs: Cáritas e FHI que sempre colaboraram nas discussões e nos trabalhos de consolidação da Agricultura de Conservação. Aos camponeses de toda a Província, pela paciência e perseverança no acompanhamento e avaliação das atividades das UTVs, onde sempre colaboraram e também acreditaram ser possível desenvolver uma agricultura sustentável que irá trazer maior segurança alimentar e eliminar definitivamente a pobreza da Província e do país.
  • 4. 1 ÍNDICE INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3 1. O SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO...................................... 4 1.1 A importância da Agricultura de Conservação .........................................................4 1.2 Os fundamentos do sistema de Agricultura de Conservação...................................5 1.3 Os benefícios do sistema de Agricultura de Conservação .......................................7 2 A REALIDADE DA PROVÍNCIA DE SOFALA..................................................... 8 2.1 Características regionais (generalidades) ................................................................8 2.2 O uso dos solos agrícolas (generalidades) ..............................................................9 2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas........................................9 2.4 Práticas tradicionais de manejo de solos ...............................................................12 2.5 Agricultura de Conservação: uma alternativa viável...............................................15 3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO... 16 3.1 O início: a adequação das áreas............................................................................16 3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura de Conservação .............................17 3.3 Práticas que poderão fazer parte do sistema.........................................................19 4 A COBERTURA DO SOLO ............................................................................... 23 4.1 As vantagens de manter o solo coberto .................................................................23 4.2 Plantas de cobertura ..............................................................................................24 4.2.1 Comportamento das diferentes espécies de plantas de cobertura e contribuição na melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.................................................................................................................24 4.2.2 Formas de manejo de plantas de cobertura ...................................................26 4.3 Efeitos das plantas de cobertura ............................................................................28 4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo ...............................................................30 4.3.2 Efeitos no armazenamento de água e diminuição das perdas no sistema.....35 4.3.3 Efeitos nos gradientes de temperatura do perfil do solo ................................36 4.3.4 Efeitos na composição florística do solo (efeitos alelopáticos e físicos) na diminuição das populações de invasoras (plantas daninhas) .........................37 4.3.5 Efeitos na melhora de áreas de pousio ..........................................................39 4.4 A produção de sementes de sementes de cobertura.............................................41
  • 5. Guía prático de Agricultura de Conservação 5 A ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE 2 CONSERVAÇÃO............................................................................................... 42 5.1 A rotação e consorciação de culturas ....................................................................44 5.1.1 Opções de rotação para arroz ........................................................................44 5.1.2 Opções de rotação para gergelim ..................................................................45 5.1.3 Opções de rotação para algodão ...................................................................47 5.1.4 Opções de alguns sistemas incluindo o uso de plantas de cobertura............48 5.1.5 Sugestões de algumas opções de diagrama sequencial de culturas.............52 5.1.6 Sistemas de consorciação e rotação em diferentes sistemas de produção....53 5.1.7 Indicação de protocolo para produção de batata reno....................................55 5.1.8 Rotação com espécies hortícolas....................................................................57 5.2 Efeitos da rotação na ocorrência de pragas e doenças ..............................................60 6 CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO............................................................................................... 62 7 RESULTADOS OBTIDOS POR PRODUTORES COM O USO DE COBERTURA DO SOLO, ROTAÇÃO E PLANTIO DIRECTO.................................................. 69 7.1 Resultados obtidos na Província de Sofala............................................................69 7.2 Resultados obtidos em diferentes países...............................................................78 8 COMO ASSEGURAR O AVANÇO E ESTABELECIMENTO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO .............................................................. 81 BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 83 ANEXOS................................................................................................................... 86 Anexo 1: Manejo ambiental adequado evitando as queimadas.........................................87 Anexo 2: Plantas de cobertura comuns na Província de Sofala ........................................89 Anexo 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura e % de nutrientes na matéria seca......................................................................92 Anexo 4: Características, comportamento e recomendações para o uso de plantas de cobertura de primavera/verão .............................................................................93 Anexo 5: O sistema de Agricultura de Conservação no Brasil.........................................103 Anexo 6: Características de diferentes espécies de plantas melhoradas de solos..........105
  • 6. INTRODUÇÃO Nas mais diversas regiões do mundo onde se pratica a agricultura, um aspecto marcante e comum à maioria dessas áreas é o uso intensivo e a má gestão dos recursos naturais, o que tem ao longo dos anos contribuído para o agravamento dos processos de degradação dos recursos, principalmente solo e água, comprometendo severamente a produção agrícola em âmbitos compatíveis com as demandas populacionais. Os processos de erosão do solo provocam alteração de algumas propriedades físicas, químicas e biológicas que, somados ao processo de degradação da matéria orgânica, com consequente diminuição da fertilidade, tem conduzido a uma diminuição crescente do potencial produtivo de diferentes culturas nas mais diversas regiões agroecológicas. Essa situação aliada a outros aspectos ligados ao clima (temperaturas extremas, ocorrência de secas prolongadas, inundações, ataque severo e inesperado de pragas e/ou doenças), tem provocado em maior ou menor grau, nas mais distintas regiões, sérios riscos de insegurança alimentar às populações. A Província de Sofala, com seus diferentes tipos de solos, composta basicamente pela agricultura familiar de subsistência, apresenta uma situação semelhante, onde o sistema tradicional de manejo de solos baseia-se na retirada dos restolhos e capins da área ou mesmo queima de todos esses resíduos no fim da estação seca, antes do preparo do solo para a próxima campanha. O solo geralmente é preparado intensivamente com enxadas e, em pequena escala por tracção animal e/ou tractorizada. A demanda de mão-de-obra é muito alta e em geral na média uma família possui uma área cultivada em torno de 0.5 a 1.0 hectare. A monocultura predominante consiste na sequência de cereais: milho-milho ou milho-mapira. Após o plantio das culturas, normalmente são necessários 3 sachas até que se complete o ciclo das culturas anuais (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), na maioria dos casos árdua tarefa incumbida às mulheres. Assim, a constante degradação dos solos na Província de Sofala, consequência da má gestão dos recursos naturais, quer pelo cultivo contínuo sem reposição dos nutrientes, quer pelas práticas anuais de preparo intensivo e queima dos resíduos orgânicos, monoculturas, aliado às condições climáticas irregulares e, ataque imprevisto e severo de algumas pragas e doenças, tem como consequência baixas na produtividade, resultando em constante insegurança alimentar. Resultados alcançados nos últimos 4 anos a nível de campo com o sistema de Agricultura de Conservação em diferentes Distritos da Província, mostram que os rendimentos de diferentes culturas, tais como milho, mapira, feijões, assim como algumas hortícolas (cebola, tomate, repolho, couves, pimento, cenoura, alface, etc.), podem ser aumentados de 20 até 150%, além de outros benefícios, tais como, diminuição de mão-de-obra (não preparação do solo, menor número de regas e sachas, entre outros), possibilidades reais de aumentar a área da machamba e, ter assegurado rendimentos suficientes para garantir o sustento das necessidades nutricionais da família e o excedente ser direccionado ao mercado local e regional. Considerando a situação para os diferentes sistemas regionais de produção na Província de Sofala, é fundamental o desenvolvimento de um sistema de agricultura sustentável e, certamente a Agricultura de Conservação oferece esta real possibilidade, onde são contemplados a diminuição da pobreza no meio rural, e uma maior garantia de segurança alimentar para todas as comunidades. 3
  • 7. Guía prático de Agricultura de Conservação 1. O SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO 1.1 A importância da Agricultura de Conservação As inúmeras experiências de agricultores e resultados obtidos por pesquisas mostram que o sistema de Agricultura de Conservação, que inclui o emprego de plantas de cobertura adequadamente integradas em rotação de culturas, após devidamente testadas e validadas nos sistemas regionais de produção, ou seja após serem adaptadas regionalmente, e distúrbio mínimo do solo, é importante porque: ♦ Promove uma conservação e recuperação dos solos, ♦ Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em 4 economia de mão-de-obra e menor consumo de energia, ♦ Consegue uma diversificação com menores riscos de ataques de doenças e/ou pragas, ♦ Aproveita melhor a humidade com diminuição da frequência de regas, ♦ Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes, melhoria da capacidade produtiva do solo, ♦ Diminui os custos de produção, ♦ Contribui para uma maior estabilidade de produção, ♦ Existe um tendência de aumento dos rendimentos das diferentes culturas e, consequente tendência de aumento da renda líquida da propriedade e melhores perspectivas de diminuição da pobreza no meio rural. COMO SE CONSEGUE ISSO? Em áreas com cultivos anuais, a diminuição da taxa de decomposição dos resíduos orgânicos frescos que são adicionados ao solo, assim como o próprio húmus é obtida através da redução do revolvimento do solo, eliminação da queima dos resíduos vegetais, adição de carbono orgânico ao solo, condições estas favorecidas por um manejo principalmente através da Agricultura de Conservação (sistema de plantio directo), incluindo-se sempre o uso de plantas de cobertura e adequadas rotações entre as culturas. Normalmente, as áreas que são mantidas sem cobertura são as mais predispostas aos efeitos desfavoráveis das excessivas precipitações, e com isso, certamente as perdas de nutrientes por arraste das partículas (enxurradas) e lixiviação serão bem maiores em relação a uma área coberta. Além deste agravante, também a prática de monocultivos tende a agravar os problemas de degradação do solo e, normalmente predispor os cultivos mais ao possível ataque de pragas e doenças. A rotação de culturas, incluindo diferentes espécies de plantas de cobertura adaptadas regionalmente, adequadamente distribuídas temporal e espacialmente, contribuirão sobremaneira para uma maior biodiversidade no meio ambiente e consequente maior equilíbrio do sistema como um todo. A melhoria dos processos de uso e maneio do solo, e manutenção da capacidade produtiva do mesmo, é um meio de viabilizar a manutenção da família de forma sustentável e compatível tanto com os recursos naturais sob o ponto de vista de qualidade ambiental, quanto aos socio-económicos nos aspectos de segurança alimentar e qualidade de vida dos camponeses.
  • 8. 5 As vantagens do sistema de Agricultura de Conservação podem ser resumidas a seguir: • Promove a conservação e recuperação dos solos, • Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em economia de mão-de-obra e menor consumo de energia, • Consegue uma diversificação com menores riscos de ataques de doenças e/ou pragas, • Aproveita melhor a humidade com diminuição da frequência de regas, • Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes, • Melhora a capacidade produtiva do solo, • Diminui os custos de produção, • Contribui para uma maior estabilidade de produção, • Contribui para um aumento dos rendimentos das diferentes culturas. Sr. Joaquim Mapinda: Pioneiro do sistema de Agricultura de Conservação no Distrito de Dondo, mostrando a cobertura do solo, elevada produção de biomassa da mucuna protegendo e melhorando a fertilidade do solo 1.2 Os fundamentos do sistema de Agricultura de Conservação O sistema de Agricultura de Conservação vem sendo desenvolvido em diferentes continentes, nas mais diversas regiões agroecológicas e sistemas de produção. Este sistema, apesar de suas especificidades locais e regionais, é governado por alguns princípios fundamentais. Os princípios da Agricultura de Conservação são os mesmos em praticamente todas as regiões do mundo onde se desenvolve a agricultura, e a sua aplicação tende a promover benefícios tanto imediatos quanto ao longo dos anos, conduzindo ao desenvolvimento de uma agricultura sustentável e compõe-se basicamente de: 1) Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo, devendo efectuar o plantio das culturas directamente sobre o solo, 2) Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano, 3) Efectuar uma adequada rotação de culturas, incluindo cultivos de subsistência e/ou mercado e também plantas de cobertura para se ter sistemas mais complexos, com maior diversificação e consequentemente mais equilibrados.
  • 9. Guía prático de Agricultura de Conservação O QUE PRECISA MUDAR NAS ACTUAIS PRÁTICAS TRADICIONAIS DA AGRICULTURA COMUNS EM MOÇAMBIQUE ? ♦ Queima, aração do solo, monoculturas contínuas, solo mantido descoberto, deverão ser 6 evitadas nas machambas. Dessa forma, é recomendável não queimar os restolhos e resíduos vegetais nas machambas, mas sim manter os restolhos das culturas e de plantas invasoras sobre o solo; ♦ Evitar revolver o solo, quer com enxadas, tracção animal ou tractores; ♦ Buscar executar rotação/sequência de culturas adaptadas às diferentes condições agro-ecológicas predominantes nas diferentes regiões e que promovam melhoria do solo e aumento de rendimento das culturas subsequentes; ♦ O plantio das culturas deverá ser efectuado directamente no solo (coberto com capim ou outros resíduos), quer seja com catana, matraca, pequenos covachos ou através de máquinas de plantio directo (tracção animal e/ou tractorizada). Feijão em plantio directo sobre capim que será rotacionado com milho (Distrito do Dondo). Os três princípios da Agricultura de Conservação são os seguintes: • Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo, • Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano, e • Efectuar uma adequada rotação de culturas.
  • 10. 1.3 Os benefícios do sistema de Agricultura de Conservação A prática da Agricultura de Conservação, traz benefícios a vários níveis: Ao nível dos Agricultores: ƒ Redução do trabalho (principalmente no tempo para realizar as actividades), ƒ Redução nos custos de produção: menor necessidade de insumos externos (fertilizantes, 7 pesticidas), menor uso de tractores/máquinas/equipamentos e combustível, ƒ Maior controle das invasoras diminuindo ou até eliminando a necessidade de sachas/mondas nas culturas, ƒ Maior armazenamento de água no solo e menores perdas de água por evaporação: menor número de regas, ƒ Maior estabilidade e aumento no rendimento das diferentes culturas (cereais (milho, mapira), hortícolas (cebola, alho, alface, tomate, etc.), leguminosas (feijões: nhemba, vulgar, bóer, etc.), ƒ Aumento na lucratividade do sistema agrícola. Ao nível de Comunidades / Ambiente / Bacias Hidrográficas: ƒ Maior constância da água nos leitos dos rios, reaparecimento de mananciais que se secaram, ƒ Menor ocorrência de erosão e, consequente mais água limpa nos diferentes ambientes ƒ Menores riscos de enchentes, ƒ Diminuição de riscos do impacto de situações climáticas extremas, ƒ Menores gastos na manutenção de estradas e canais de escoamento de água, ƒ Maior segurança alimentar para as populações da região abrangida pelo sistema de Agricultura de Conservação. Ao nível Global: ƒ Maior captura (sequestro) de carbono orgânico no solo, ƒ Menores riscos de poluição quer seja por poeira, fumo proveniente de queimadas, e diminuição dos riscos do efeito estufa (causado principalmente pela emissão de CO2 para a atmosfera), ƒ Menor uso de combustíveis (economia de 40-60%), no caso de tratores, ƒ Menores perdas de nutrientes por lixiviação e consequente menos riscos de contaminação das águas subterrâneas, ƒ Praticamente um controle quase total do processo erosivo (água, ventos), ƒ Menores perdas de água e, consequente maiores recargas dos aquíferos. A aplicação adequada dos conceitos de Agricultura de Conservação quanto à Tração Tractorizada tem as seguintes implicações: ƒ Menos trabalho e menor necessidade de potência nos tractores, ƒ Economia de até 60% no combustível, ƒ Diminuição de até 50% da necessidade de tractores, ƒ Diminuição de até 40% no tamanho dos tractores, ƒ Aumento da vida útil do tractor, pode ser triplicada, ƒ Redução significativa no capital a ser investido nos tractores.
  • 11. Guía prático de Agricultura de Conservação 2 A REALIDADE DA PROVÍNCIA DE SOFALA 2.1 Características regionais (generalidades) 8 CHEMBA MARINGUE BUZI CAIA CHERINGOMA MUANZA CHIBABAVA MACHANGA MARROMEU GORONGOSA DONDO NHAMATANDA A Província de Sofala apresenta diferentes condições agro-ecológicas: Solos: arenosos, francos e argilosos (e suas combinações); com profundidade efectiva variável, desde solos rasos (litólicos) bastante jovens, normalmente nas áreas montanhosas com presença de rochas, até solos mais profundos nas áreas baixas, com maior acúmulo de húmus (matéria orgânica). Solos arenosos (areia quartzosa), solos francos (areno-argilosos), até argilosos (teores de argila superior a 35%). Relevo: Variável, desde a planície costeira (planos), até áreas montanhosas como a região de Gorongosa e outras, variando portanto os relevos desde as áreas planas, suave ondulado, ondulado, declivoso e montanhoso. Matéria orgânica: desempenha um papel extremamente importante na manutenção e/ou recuperação da fertilidade e capacidade produtiva dessas áreas, sendo dessa forma fundamental o desenvolvimento de um manejo de solos e culturas que privilegiem a manutenção e/ou aumento dos níveis dessa matéria orgânica nos solos explorados com agricultura. Fertilidade: a fertilidade química natural dos solos também é variável, sendo extremamente pobre nas áreas onde predominam areias quartzosas, aumentando conforme se aumenta os teores de argila; também áreas que tem sido cultivada por maior tempo, além das perdas de solos pela erosão e degradação da matéria orgânica pela queima dos restolhos e pelo preparo contínuo do solo, aliados a não reposição de nutrientes, os solos se apresentam mais pobres e com menor capacidade de produção. Solo extremamente degradado (Distrito de Gorongosa): mapira com fraco desenvolvimento e, tentativa de recuperação da área com mucuna. Esta leguminosa não foi eficiente. Neste caso, é recomendado iniciar com feijão bóer.
  • 12. 9 2.2 O uso dos solos agrícolas (generalidades) ƒ Áreas de baixadas de relevo plano, inundáveis na estação chuvosa (solos hidromórficos), normalmente exploradas com o cultivo de arroz inundado e, geralmente apresentam teores de matéria orgânica mais elevados. ƒ Parte das áreas de baixadas são ocupadas na entre-safra do arroz (outono/inverno) com cultivos hortícolas (cebola, alho, tomate, repolho, couves, cenoura, alface, etc.; geralmente empregando regas periódicas (bombas pedestais, manual com regadores, inundação). As áreas mais altas, onde os solos apresentam menor acúmulo de água, são ocupadas por milho, mapira, feijões (nhemba, bóer, vulgar), gergelim, mandioca, algodão, etc. As culturas de subsistência normalmente são o milho, arroz, mapira, mandioca, cujo excedente é colocado no mercado. Por outro lado, o gergelim, algodão, hortaliças (subsistência e mercado) são produzidos com finalidade de mercado. ƒ Áreas de meia encosta, predominam outras culturas de subsistência e mercado: milho, mapira, gergelim, feijões (nhemba, bóer, vulgar), algodão, mandioca, etc.; hortaliças: cebola, alho, repolho, couves, etc. (baixadas e meia encosta), enquanto algumas frutíferas, tais como: ananás, banana, caju, papaia, manga, etc., ocupam normalmente as áreas mais altas. ƒ As pastagens cultivadas são raras, ficando os animais em geral confinados a pequenas áreas e após as colheitas grande parte é liberado para se alimentar dos restolhos e, algumas gramíneas que crescem nos campos. Assim, a existência de áreas controladas para abrigo dos animais é importante no sentido de evitar que os animais tenham acesso aos campos cultivados e, consequentemente eliminem os restolhos, que é um componente básico e fundamental para o sistema de Agricultura de Conservação. ƒ Muitas áreas são ocupadas por vegetação arbustiva e florestas, que além de ser importante para gerar fontes de água, manutenção da flora e fauna, também contribui para o abrigo e procriação de diferentes insectos e outros organismos, muito dos quais são inimigos naturais de pragas promovendo assim um maior equilíbrio ambiental. 2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas Geralmente na maioria das áreas é praticado uma agricultura puramente de extrativismo, sem a reposição de nutrientes (a maioria não utiliza fertilizantes químicos e o uso de adubos orgânicos nos diferentes sistemas de produção é mínimo. Grande parte das machambas se caracterizam por uma agricultura migratória (nomadismo), onde geralmente após alguns anos de cultivo intenso, quando os rendimentos baixam, o campo é abandonado e deixado em pousio por 2-3 anos, para então posteriormente se retornar a cultivar nessas áreas. Praticamente não existe trabalhos de melhoramento de pousio e tampouco uma reposição dos nutrientes extraídos pelos cultivos. Além disso, a cada campanha onde serão implantadas novas culturas no terreno, a tradicional e predominante queima dos restolhos das culturas e/ou muitas vezes a sua retirada das machambas, somado ao preparo intensivo dos solos através de arações (enxadas ou tractores, ou ainda por tracção animal), tem acelerado a mineralização/decomposição da matéria orgânica dos solos. Isso, tem provocado um aumento nas perdas de solos, água e nutrientes pelo processo da erosão; e, também, o comumente emprego de monoculturas, ou seja a repetição das mesmas culturas nos anos subsequentes, tem contribuído para o aumento das populações de invasoras (plantas daninhas), aumento da ocorrência de pragas e doenças, promovendo queda dos níveis de matéria orgânica dos solos e empobrecimento dos sistemas e, por consequência
  • 13. Guía prático de Agricultura de Conservação provocando uma drástica diminuição da capacidade produtiva das terras, manifestada através das quedas anuais de produtividade das diferentes culturas e, consequentemente uma menor segurança alimentar. Além dos aspectos negativos, também o uso de mão-de-obra para a execução destas práticas tradicionais é muito elevada, exaustiva e, por consumir um grande tempo para sua execução, impede a possibilidade e/ou chances de aumento da área da machamba, inviabilizando dessa forma, maiores possibilidades/oportunidades do aumento da entrada de ingressos e, consequente aumento da renda liquida das famílias. 10 Paisagens típicas de região montanhosa (Distrito de Gorongosa): preparo intensivo, plantio morro abaixo e erosão do solo com o resultado dum empobrecimento constante com o sistema tradicional Expansão de áreas ou abertura de novas machambas utilizando a prática tradicional destrutiva da queima (Distrito de Cheringoma) Numa avaliação generalizada da situação dos solos agricultáveis das diferentes regiões de Sofala, é muito preocupante o nível de degradação das terras, comprovado pela observação em diversas machambas, nos diferentes Distritos, a visível deficiência de nutrientes por diferentes culturas (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), assim como os baixos níveis de nutrientes no solo, além da diminuição quase constante da matéria orgânica dos solos. Numa área de solo areia quartzosa, com mais de 80% de areia, sem cultivo atual., os resultados da análise de solos (Tabela 1) mostram o grau de degradação e baixo nível de nutrientes. Tabela 1: Composição química de solo (areia quartzosa, 0-20cm) no Distrito do Dondo mg / dm3 (ppm) g / kg solo cmolc / dm3 de solo (meq./100g de solo) (%) Solo P C (%) Mat. Org. pH Al H+Al Ca Mg K S T V Al Areia quar-tzosa 4.20 0.44 0.76 6.10 0.00 2.18 2.02 0.37 0.05 2.44 4.62 52.81 0.00 P= fósforo; C= carbono; pH= pH do solo; Al= alumínio; H+Al= hidrogénio + alumínio; Ca= cálcio; Mg= magnésio; K= potássio; S= soma de bases; T= CTC; V= Saturação das bases; Al (%) = saturação de alumínio.
  • 14. Pelos dados da análise química do solo, os níveis de matéria orgânica, cálcio, magnésio, potássio, assim como a soma de bases e CTC (Capacidade de Troca de Cátions) , são bastante baixos, sendo apenas o fósforo com um teor levemente maior (possivelmente resíduos de queima de restolhos). Assim, solos semelhantes a este, que são grande parte das áreas cultivadas na Província de Sofala, necessitam urgente interferência no manejo no sentido de aumentar os níveis de matéria orgânica, aumentando assim a CTC, para então promover uma adequada reposição dos nutrientes (aliado à adubarão química e/ou orgânica) e recuperação da capacidade produtiva dessas terras. Caso contrário, com a continuidade de degradação dos solos, não será possível caminhar em direcção à sustentabilidade e garantia de segurança alimentar. Prova disso, é a baixa produtividade das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, gergelim, nhemba, etc.) relatadas pela maioria dos produtores consultados dos distintos Distritos. Por exemplo no Distrito do Búzi em reunião com técnicos e camponeses foi relatado a produtividade média dos diferentes cultivos: Arroz: 2,0 toneladas/hectare Milho: 0,8 - 1,0 toneladas/hectare Estas produtividade relatadas são muito baixas e, indubitavelmente pela alta demanda de mão-de-obra envolvida, caso fossem efectuados estudos de balanço energético nos distintos sistemas de produção, possivelmente na maioria dos casos o balanço energético seria negativo, ou seja o montante total de energia consumida em todas as etapas da produção é muito maior do que aquela obtida através dos valores energéticos de produção das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, etc.). Os rendimentos médios de diversas culturas em Moçambique são muito baixos (Tabela 2), certamente representam os rendimentos da grande maioria dos camponeses da Província de Sofala. Tabela 2: Rendimento estimado e potencial (t/ha) 11 Média de rendimento em Moçambique Cultura Rendimento actual Rendimento potencial Rendimentos no Zimbabwe Rendimentos em África (geral) Milho 0.1 - 2.3 1.0 - 3.0 1.4 1.2 Mapira 0.3 - 0.6 0.5 - 1.5 0.6 0.8 Arroz 0.5 - 1.8 1.0 - 2.5 2.8 1.6 Feijão 0.3 - 0.6 0.4 - 0.6 0.7 0.7 Mandioca 4.0 - 5.0 5.0 - 10.0 4.0 7.5 Castanha de caju 0.1 - 0.2 0.4 -- -- Fonte: Taimo et al., 2005. Os dados relatados mostram que há um grande potencial em aumentar os rendimentos, necessitando a adaptação de tecnologias viáveis, utilização racional de insumos para atingir níveis sustentáveis de produção. Alguns resultados já alcançados pelos camponeses assistidos pelo Projecto PROMEC mostram que é possível em curto prazo, em algumas situações, com a implantação adequada do sistema de Agricultura de Conservação, aumentar imediatamente os rendimentos de diversas culturas.
  • 15. Guía prático de Agricultura de Conservação 2.4 Práticas tradicionais de manejo de solos 1. A mais comum e tradicional prática empregada pela maioria dos camponeses na 12 Província de Sofala consiste na queima dos restolhos das culturas e/ou retirada dos mesmos da machamba; a cada implantação de nova cultura, preparo intensivo do solo com enxadas ou tracção animal; a prática repetida de monoculturas (milho-milho, mapira-mapira, etc.), tem proporcionado um excessivo uso de mão-de-obra, além de limitar a área a ser explorada na machamba, ou seja a actual área cultivada por cada família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare de plantio, em razão da alta demanda de trabalho, principalmente nas operações de preparo do solo e limpeza das ervas invasoras (sachas e monda), trabalho este na maioria dos casos efectuado por mulheres. Dessa forma, sempre estão à tona os riscos de segurança alimentar, ou seja com apenas uma pequena área de cultivo, a possibilidade de perdas quer por secas ocasionais, excesso de chuvas ou mesmo ataques imprevistos e severos de pragas e/ou doenças é bastante grande e, poderão em diversas situações colocar as famílias em situação de emergência e riscos de não conseguirem alcançar os rendimentos suficientes para auto sustento. Assim, é preciso encontrar meios de aumentar a área da machamba a ser cultivada, pois a maioria dos camponeses raramente consegue suprir as necessidades básicas de alimentação de uma família. 2. A lavra manual, consiste num trabalho extremamente árduo e grande consumidor de tempo e energia junto aos camponeses. É necessário mudar os meios de produção (“é preciso sair da lavra com enxada todos os anos, pois é muito árduo”). Um trabalhador no campo, com uma carga de trabalho de 8 horas diárias, consome em torno de 30-45 dias em média para lavrar uma área de 1 hectare, em áreas secas. Em áreas húmidas ou com bastante água (típica das áreas de baixada para cultivo de arroz em Búzi, Dondo e outros Distritos), o tempo demandado poderá ainda ser maior. 3. Além da lavra, também a sacha (milho) e a monda (arroz), são práticas comuns nestes sistemas de produção e, também consomem bastante tempo e trabalho árduo aos camponeses; a prática da monocultura é a mais comum, ou seja normalmente os camponeses plantam arroz sobre arroz ou ainda milho sobre milho nos anos sequenciais. 4. A grande maioria dos camponeses não utilizam herbicidas e/ou fertilizantes químicos. 5. Há uma necessidade muito elevada de apoio e assistência técnica à maioria dos camponeses, ou seja, é marcante a carência de informações técnicas e meios de implementação no que diz respeito a um adequado manejo de solo e das diferentes culturas exploradas. 6. A actual área cultivada por cada família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare de plantio, não suficiente para atender as necessidades da família. É necessário encontrar uma forma URGENTE de poder aumentar a área de machamba, aumentar a produção/ produtividade e conseguir assim diminuir os riscos de intempéries às vezes imprevistas (seca, excesso de chuvas), ou mesmo um forte e inesperado ataque de pragas/doenças que possam comprometer o rendimento final das culturas e a garantia do suprimento de alimentos durante todo o ano às famílias. 7. A possibilidade de uso de herbicidas, poderá indirectamente proporcionar menos trabalho e consequentemente chances de aumentar a área de cultivo da machamba; entretanto poderá trazer riscos de contaminação aos usuários e ao ambiente, caso não
  • 16. sejam seguidas as normas adequadas de manuseio e aplicação, assim como produtos/dosagens menos tóxicos possíveis. 8. A prática do consórcio ou associação de cultivos é praticado por muito poucos 13 camponeses: milho + mandioca + hortaliças (quiabo, abóbora, melancia, etc.). 9. Apesar da assistência técnica estar há vários anos tentando convencer os camponeses sobre a importância de observar atentamente alguns componentes técnicos (como por exemplo o uso adequado dos compassos (espaçamento e densidade de plantas) de diferentes cultivos, principalmente o milho, as recomendações por parte da maioria dos camponeses não vem sendo seguido. Isto, como foi observado em várias machambas, de diferentes Distritos visitados, em alguns casos com 5-7 plantas de milho num mesmo covacho e, espaçamentos de 1.20m ou mais entre os covachos. Isto, além de provocar uma elevada competição entre as plantas, por água, luz e nutrientes, interfere negativamente e provoca diminuição acentuada na produtividade das culturas (milho, mapira, principalmente, haja visto que estas plantas respondem em rendimento quando em população ideal). 10. Um grande número de camponeses da região do Búzi e outros distritos de Sofala, utilizam a prática de retirar os resíduos para fora da machamba e, a grande maioria utilizam também a queima de todos os restolhos da machamba (restos culturais de milho, arroz, mapira, etc., e também todos os capins e outras invasoras (plantas daninhas) que crescem nos campos). Estas práticas eliminam quase toda a adição anual de carbono orgânico (material orgânico) ao solo e, consequentemente após as colheitas, um montante de nutrientes também é retirado anualmente, dessa forma o solo vai ficando mais empobrecido a cada ano, ou seja o balanço anual do carbono orgânico passa a ser negativo (sai mais carbono do que entra no sistema), além da diminuição contínua dos nutrientes, sendo portanto estas práticas indesejáveis ao bom manejo do solo agrícola e, portanto não compatíveis com a “Sustentabilidade dos Sistemas de Produção”. 11. Um elevado número de camponeses em determinadas áreas utilizam uma agricultura itinerante, ou seja após vários anos de cultivo (queima, preparo do solo, e monocultura quase que constante), quando o solo encontra-se degradado e com baixa produção nos cultivos, abandonam estas áreas indo cultivar em outros campos e, assim após 3-4 anos de pousio, retornam a cultivar nestas áreas. Poderiam nestas áreas promover o ”melhoramento do pousio” com a inclusão principalmente de leguminosas nativas da região que irão aumentar os teores de matéria orgânica, nitrogénio através da fixação biológica no solo, além de contribuírem na reciclagem de outros nutrientes. Podem ainda utilizar algumas leguminosas arbóreas, tais como: Glericidia sepium, Sesbania sp., Tephrosia sp., etc., ou arbustivas: feijão bóer (Cajanus cajan), ou mesmo com algumas leguminosas anuais: Mucuna sp., Clitoria ternatea, e perenes: Stylosanthes sp., Calopogonium mucunoides, etc. 12. Alguns grupos de camponeses trabalham com tracção animal e, com uma possível implementação/adaptação no uso adequado de equipamentos e máquinas (rolo-faca para manejo de plantas de cobertura e resíduos, máquina de plantio directo), poderão além de aumentar a área da machamba, também proporcionar aumento na produtividade e produção final, com uma maior renda líquida na propriedade. 13. O armazenamento de grãos apresenta problemas quanto a manutenção da qualidade dos grãos, principalmente milho, mapira, mexoeira, que podem sofrer ataques severos de gorgulhos, que ao destruírem os grãos inviabilizam o seu consumo. Faz-se necessário utilizar de técnicas que permitam uma melhor conservação desses grãos e a sua manutenção por um maior tempo em condições aptas de consumo. Neste caso, a
  • 17. Guía prático de Agricultura de Conservação 14 construção de celeiros melhorados seria uma óptima alternativa e, caso não seja possível pode-se empregar alguns tratamentos (agro-ecológicas) e sem riscos aos camponeses: Em um silo de armazenagem colocar uma camada de folhas de Eucalyptus sp. (30-40 cm) em cada camada em torno de 1 metro de altura (formada por grãos de milho, mapira, ou mesmo em espigas, ou feijão. É importante também manter o fundo do local, e também a parte superior (sobre os grãos) cobertos por esta camada de folhas de eucalyptus. Em caso da não disponibilidade de eucalyptus, pode também ser utilizado folhas e ramos de mucuna (verde). É também possível a utilização de cinzas obtida através da queima de madeira ou queima de cascas de arroz, ou ainda o uso de areia que deverão ser misturadas com os grãos dos cereais ou ainda de feijão: nhemba, bóer ou vulgar, a qual evitará o ataque de gorgulhos, podendo assim permanecer armazenados por um longo tempo sem perda da qualidade dos grãos. 14. Existem os CDR (Campos de Demonstração de Resultados) que servem para os camponeses observarem os resultados disponíveis e optarem por alguma nova tecnologia a ser implementada na machamba: novos híbridos disponíveis, compassos, controle de pragas e doenças, etc., também poderão ser utilizados na difusão da Agricultura de Conservação. Ou seja, a Agricultura de Conservação não é um fim, mas sim um meio, no qual se pode conduzir diferentes culturas anuais e, no mesmo enfoque também culturas perenes (solo coberto, não queimar e não revolver o solo). 15. O actual processo de difusão, normalmente levado a cabo pelos extensionistas, e a adopção de tecnologias por parte dos camponeses necessita melhor implementação, inclusive com o emprego de “promotores” que irão difundir tecnologias já validadas em seus campos, fazendo com que novas e promissoras tecnologias possam ser melhor testadas/validadas por outros camponeses e, efectivamente possam ser expandidas e adoptadas por um maior número de famílias de camponeses. 16. Existem algumas pequenas experiências com o uso de controle biológico de pragas por parte de alguns camponeses, utilizando-se de: cebola, alho, coentro plantados junto aos canteiros das hortaliças em direcção ao vento para que o odor destas plantas possam afugentar insectos e outras pragas; e também cinzas são aplicados sobre algumas pragas; no controle de lesmas e caracóis também são aplicados cinzas ao redor dos canteiros ou das plantas que irão impedir a passagem e ataque destes moluscos às plantas.1 17. Sistema de Camalhões Em algumas regiões de Sofala é comum a prática da construção de camalhões no solo, visando um melhor manejo do solo explorado com agricultura. Esta prática é uma medida de conservação do solo e armazenamento de água que vem sendo empregada na região de Gorongosa e outras regiões, e se caracteriza: ƒ Normalmente, o solo é revolvido a cada estação, provocando uma aceleração no processo de decomposição da matéria orgânica ; ƒ A disposição desses camalhões promove um maior controle da erosão em áreas de encosta, em virtude dos mesmos serem aloucados perpendicularmente ao sentido do declive e, portanto cortam o sentido das águas, diminuindo a velocidade e armazenando mais água nos camalhões; apesar disso o solo é revolvido periodicamente após cada colheita e manejado para implantação de uma nova cultura; 1 Vide informações/recomendações no capitulo sobre Controle de pragas e doenças.
  • 18. ƒ Todos os anos os novos restolhos dos cultivos são incorporados ao solo, mudando a localização do novo camalhão e, assim novamente o solo é revolvido com perdas nas suas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo; ƒ Além da penosidade do trabalho, ocorre um elevado emprego de mão-de-obra na execução das operações de reconstrução total e manutenção dos camalhões a cada ano; ƒ Apesar dos resíduos serem amontoados nos camalhões e uma maior quantidade de água armazenada, a constância anual no revolvimento do solo, provocará uma degradação ao longo do tempo, principalmente da matéria orgânica e fatalmente mostrando ser um sistema que poderá comprometer a sustentabilidade ao longo dos anos. Diante desses inconvenientes, é sugerido que em áreas muito declivosas sejam construídos pequenos terraços/ cordões vegetados, onde poderão ser protegidos por barreiras vivas com Vetiver, cana-de-açucar, ou também com a inclusão de leguminosas: feijão bóer (arbustiva), ou mutica - arbustiva) ou outras espécies (*citadas em práticas complementares de conservação), para que estas espécies ao serem podadas os resíduos possam ser deixados sobre a superfície do terreno. Além disso, o solo não deverá ser revolvido e tampouco queimado os resíduos. Após as colheitas, os restolhos deverão ser distribuidos sobre o solo e, posteriormente a implantação das novas culturas deverá ser através do plantio directo (tracção humana – matracas, tracção animal ou tracção tractorizada), conforme a infra-estrutura local. 2.5 Agricultura de Conservação: uma alternativa viável Entretanto, existem alternativas ao alcance do agricultor familiar, capazes de provocar aumento significativo dos rendimentos, diminuir a carga de trabalho, promovendo maiores entradas/ingressos e, consequentemente se conseguir uma produção capaz de gerar excedentes. Para isso, serão necessários mudar radicalmente os sistemas de manejo de solos e culturas, tradicionalmente empregados e, por consequência, os camponeses com maior disponibilidade de tempo e energia (maior disponibilidade de mão-de-obra) e, assim poder aumentar a área da machamba a ser explorada e, consequentemente com maiores chances de aumento da produção, com uma maior oferta de produtos de subsistência e de mercado. Este sistema de produção sustentável poderá contribuir efectivamente para o aumento da renda familiar e assim promover a melhoria da qualidade de vida dos camponeses da Província de Sofala. 15
  • 19. Guía prático de Agricultura de Conservação 3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE 16 CONSERVAÇÃO 3.1 O início: a adequação das áreas Tendo em conta que os produtores vão apresentar solos com situações diferentes, a entrada para o sistema de Agricultura de Conservação, deve ter em conta a situação real da cada machamba. Existe um período inicial, ou seja uma fase de transição do sistema tradicional/convencional para o novo sistema de Agricultura de Conservação que ora está sendo implementado. Tendo em conta as práticas comuns em Sofala, é fundamental o abandono completo das práticas tradicionais (queima, aração, monoculturas, solo descoberto), e a iniciação de uma re-adequação de todo o sistema de produção sob o novo enfoque da Agricultura de Conservação seguindo as seguintes etapas: a) Diagnóstico e definição de área Neste momento, os camponeses auxiliados pelos técnicos da extensão rural realizam uma avaliação das suas machambas, passando por um diagnóstico e definição específica da área onde será implementado o sistema de Agricultura de Conservação. Preferentemente deve-se escolher a melhor área da propriedade, ou seja machambas com potencial de se obter resultados imediatos e, posteriormente quando o camponês dominar a tecnologia, poderá ir ocupando outras áreas, menos férteis e mais difíceis. Após a escolha/definição da área, verifica-se “in loco” quais os possíveis componentes que deverão ser incluídos naquela determinada área da machamba. No tocante à questão tradicional/cultural de manter os animais em liberdade é necessário buscar meios para manter os animais em áreas protegidas, evitando que os mesmos consumam todos os restolhos e resíduos vegetais da superfície do solo. Uma alternativa viável nesse sentido, quando não se dispõe de capital para construção de cerca de arame, é a multiplicação de mudas de árvores que possam ser usadas como “cerca viva”: Dovyalis abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi, Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha, Acacia melífera, Acacia tortuosis, etc., e, posteriormente serem distribuídas aos camponeses para protegerem as áreas de produção agrícola. b) Definição de Componentes iniciais de acordo com as condições da machamba Assim, caminha-se para a operacionalização dos componentes do sistema, ou seja, nas etapas em que são adequadamente ajustados e implementados os diferentes elementos tais como: plantas de cobertura, locação e execução de terraços/cordões vegetados/cordões de pedras (quando necessários em áreas mais declivosas), ou amontoa de pedras (quando em número reduzido), distribuição uniforme dos restolhos sobre o solo, escolha da melhor sequência de culturas, consorcio de culturas (p. ex. milho + mucuna, mapira + feijão bóer, etc.), enfim um conjunto de componentes que estão sendo implantados e em fase de ajustamento e/ou equilíbrio dentro de determinada região e sistema de produção. Portanto, os diferentes sistemas de produção regional, nas mais variadas zonas agro-ecológicas da Província de Sofala, quando da implementação do novo sistema deverão ser
  • 20. acompanhados de determinadas sequências de culturas, preferentemente que tenham sido já testados e validados pelos camponeses da região e sofrido os ajustes necessários para a consolidação dos diferentes componentes a fazerem parte do Sistema de Agricultura de Conservação. 3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura de Conservação Os passos apresentados com as devidas etapas, constituem um guia geral para uma adequada implantação do sistema principalmente nas pequenas propriedades. Os passos enumerados não necessariamente deverão seguir sempre uma sequência conforme descrita, em muitos casos o sistema é desenvolvido já partindo de uma situação ou passo previamente realizado, ou mesmo em alguns casos, onde nem todos os passos ou componentes se aplicam ou serão necessários àquela determinada situação. 1. Treinamento e capacitação de técnicos e agricultores 2. Sistematização, limpeza e descompactação do terreno (caso houver necessidade) Áreas que apresentam solos com superfície desuniforme ou com excessivos buracos, torrões, tocos, etc., deverão ser, no caso de tração tractorizada, preferentemente uniformizadas através de gradagens, etc. Tração humana (uso de enxadas, catana, matraca) poderá ser efetuada mesmo em áreas desuniformes ou com presença de troncos, tocos, não havendo necessidade de uniformizar a superfície do terreno. 3. Diminuição do comprimento das pendentes em áreas declivosas Inclui construção de terraços, muralha/cordões de pedras, barreiras vivas – capim vetiver, capim limão, feijão bóer, Glericidia sepium, Tephrosia vogelli - mutica, etc. Neste caso, poderá se utilizar simultaneamente de camalhão de solo ou muralha de pedras, complementada por plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante, etc.) e/ou ainda algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas para fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo. 4. Iniciar em pequenas áreas da machamba e também nas melhores áreas da propriedade Iniciar nas áreas mais conservadas e com melhor fertilidade, ou seja, onde o camponês vê as plantas melhor desenvolvidas e, conforme vai conhecendo e através dos resultados alcançados ir aprimorando o sistema. Posteriormente, ir para outras áreas da machamba, as mais problemáticas e com solos degradados até que o sistema esteja implantado em toda a propriedade. 5. Não queimar restolhos das culturas, capins, e outros resíduos de invasoras, mas sim deixá-los sobre a superfície do solo 6. As plantas de cobertura/resíduos de invasoras ou mesmo os restolhos das culturas, deverão ser manejadas com rolo-faca, catana, foice, herbicidas, etc. e, deixadas cobrindo o solo 7. Eliminar totalmente a lavoura, isto é, não efetuar mais o preparo do solo, quer seja com enxadas ou com charrua 17
  • 21. Guía prático de Agricultura de Conservação 8. Escolher corretamente equipamentos e máquinas (enxada, catana, matraca, rolo faca, máquina plantio directo; tracção animal, etc.), conforme as condições da propriedade e da infra-estrutura do produtor 9. Objetivando uma maior proteção e recuperação do solo, deve ser utilizado espécies nativas e exóticas melhoradoras de solo (preferentemente leguminosas), visando a cobertura da superfície do solo e melhoria das propriedades do solo 10. Procurar executar a rotação de culturas Procurar mudar a sequência de culturas ou mesmo efectuando consórcio de culturas com plantas de cobertura (ex. mucuna intercalado ao milho; feijão bóer intercalado entre as fileiras de milho/mapira), isto irá contribuir para uma maior reciclagem de nutrientes, um aumento da biodiversidade e diminuição da população de plantas invasoras e probabilidade de ocorrência de pragas e doenças. 11. Manejo adequado da fertilidade do solo: ƒ Solos com baixa fertilidade ou extremamente degradados deverão ser melhorados com 18 a inclusão de leguminosas por 2-3 anos: leguminosas rasteiras ou prostradas: ex. mucuna pruriens, stylosanthes sp., calopogonio mucunoides, clitoria ternatea, etc.; ƒ Culturas intercaladas com leguminosas arbustivas: feijão bóer, Sesbania sesban, etc.; e ainda também com leguminosas arbóreas: Glericidia sepium, Tephrosia vogelli, Sesbania sp., Calliandra calythersus, Acacia albida, etc.; estas leguminosas deverão preferentemente ser inoculadas (rhizobium específicos) e, quando disponível utilizar também fungos micorrízicos. Além disso, visando a reposição dos nutrientes a níveis aceitáveis de produção, aplicar fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) e na correção de solos calcário e/ou gesso, ou mesmo cinzas (se houver disponibilidade). 12. Iniciar preferentemente em áreas com menor infestação de invasoras (ervas daninhas) de difícil controle, principalmente aquelas perenes, como é o caso de vários capins, principalmente em áreas brutas, ou aquelas onde haja alta infestação de espécies que se propagam através de rizomas, bulbos - Cynodon dactilon, Cyperus sp. etc.) Procurar diminuir estas infestações, eliminando os rizomas e/ou bulbos através de preparo e catação, ou mesmo (em alguns casos através de herbicidas), para então com presença de mulch (produzido no local ou trazido externamente) desenvolver o sistema. Solos em recuperação com Glericidia sepium na Província de Sofala
  • 22. 13. Evitar o excessivo pastoreio e pisoteio de animais, que irá eliminar a presença de mulch e consequentemente prejudicar o solo e os cultivos A presença de animais nos campos deve ser evitada, devendo-se construir cercas metálicas, ou cercas vivas, ou seja, arbustos e árvores locais preferentemente com presença de espinhos, tais como: (Dovyalis abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi, Jatopha curcas (pinhão manso), Agave sisalane (sisal), Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha, Acacia melífera, Acacia tortuosis, etc.; usar de plantas de cobertura não comestíveis pelos animais, tais como: Ricinus communis (ricinus), Tephrosia vogelli (mutica), Tephrosia tunicata, Tephrosia candida, Senna spectabilis, etc.; Selecionar pequenas áreas onde através de uso de fertilizantes orgânicos e/ou compostagem poderá produzir elevadas quantidades de forragens, capins (capim elefante, sudangrass, etc.) e leguminosas (feijão bóer, leucaena, etc.) que serão ministradas aos animais, evitando a invasão dos mesmos às machambas. 19 O que Você deve levar em conta na implantação do sistema de Agricultura de Conservação: Informações regionais disponíveis sobre espécies a comporem uma adequada sequência de culturas, época de plantio, forma, isolado ou consorciado com milho ou mapira (p. ex.), época e forma de manejo (cortado com catana ou manejado com rolo-faca ou herbicidas) e, ainda a época adequada para implantação ou transplante da cultura posterior (subsistência ou de mercado). Assim, o produtor correrá menores riscos de insucesso no início da implantação do sistema. Buscar uma adequação da sequência das culturas (subsistência, mercado) e levando em consideração a distribuição das chuvas e temperatura durante todo o ano. 3.3 Práticas que poderão fazer parte do sistema Para desenvolver um adequado sistema de Agricultura de Conservação, é necessário uma harmoniosa integração de alguns componentes do sistema: a) Plantas de cobertura, corte e distribuição do capim (ou dessecação através de herbicidas), b) Manejo de invasoras, c) Rotação de culturas, d) Construção de terraços, etc. que podem variar de acordo com a localização de uma determinada área, e alguns atributos: - zona agro-ecológica - altitude - local que ocupa na toposequência da paisagem - as propriedades do solo (químicas, físicas e biológicas) - quantidade e distribuição de chuvas durante o ano - sistema de produção
  • 23. Guía prático de Agricultura de Conservação 20 Área em declive mostrando processo de erosão, deve ser construído terraços (cordão vegetado), plantas de cobertura e rotação de diferentes culturas (Distrito de Gorongosa). Durante o planejamento de implantação do sistema de Agricultura de Conservação, é importante a possibilidade de se considerar a machamba dentro de uma área maior que é a Microbacia Hidrográfica, considerando assim a unidade física para se efectuar todas as operações técnicas, possibilitando a integração entre uma propriedade e outra, facilitando assim todas as possíveis intervenções e procedimentos técnicos favoráveis ao manejo sustentável do solo. Conforme a localização das machambas em diferentes zonas agro-ecológicas e altitudes, o comportamento de determinadas culturas será diferenciado e, portanto épocas de plantio e espécies a serem implementadas na sequência (rotação) poderão ser diferentes. Geralmente os solos que ocorrem em áreas de maior altitude (áreas mais montanhosas) podem apresentar profundidade efectiva menor, presença de rochas e solos rasos (litólicos) e, com condições de clima de altitude, normalmente outras culturas (subsistência e mercado), além de outras espécies de plantas de cobertura, que poderão ser testadas e validadas para posteriormente fazerem parte dos sistemas de rotação regional. Para alguns procedimentos básicos necessários quanto à definição da área, passos a serem seguidos, bem como etapas sequenciais adequadas visando uma concreta e efectiva implantação do sistema de Agricultura de Conservação, é recomendado a realização de um diagnóstico local das condições físicas, químicas e biológicas do solo: a) SOLO COMPACTADO: Caso haja limitação física do solo (por ex. compactação na superfície ou subsuperficie), deverá ser supervisionado pelo técnico e avaliado o real estado de compactação do solo. Caso seja um adensamento superficial (normal em solos argilosos) ou comumente chamado de compactação leve, poderá ser eliminado facilmente através do uso de plantas com sistema radicular bastante vigoroso (feijão bóer, crotalarias (grahaminana, juncea, mucronata e nativas), nabo pivotante, tephrosias, sesbanias, gergelim, tremoço, etc. Caso, a compactação verificada seja bastante severa, identificando-se camadas muito compactas onde as raízes de plantas como o feijão bóer não conseguem ultrapassar, assim como seja observado o impedimento da infiltração de água no perfil, antes de iniciar a implantação do sistema de Agricultura de Conservação, o solo deverá ser descompactado através do uso de escarificadores (tracção animal ou tractorizada). b) SOLO COM DECLIVE ACENTUADO: Caso a machamba esteja localizada em áreas com declive acentuado, deve-se efectuar a diminuição do comprimento das pendentes em áreas declivosas com marcação e confecção de terraços (cordões vegetados: capim vetiver, capim limão, feijão bóer, gliricidia sepium, mutica, etc.), muralha de pedras, etc., barreiras vivas – neste caso, poderá se utilizar simultaneamente de terraços - camalhão de terra, ou de pedras; mais
  • 24. plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante, etc.) e ainda algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas para fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo (glericidia sepium, tephrosia vogelli, feijão bóer, etc.). Normalmente nas encostas íngremes predominam solos jovens e rasos, bastante frágeis do ponto de vista de manejo (40-80 cm. de profundidade efectiva), podendo em poucos anos a erosão arrastar todo o solo arável dos horizontes superficiais, com um elevado afloramento de rochas na superfície, podendo tornar estas áreas totalmente improdutivas mesmo para pastagens e/ou outras culturas perenes. Dessa forma, a exploração destas áreas deve acompanhada de diferentes componentes da Agricultura de Conservação, harmoniosamente distribuídos conforme as condições específicas de cada região: nível declive, profundidade efectiva do solo, presença ou não de rochas, etc. 21 Como proceder no caso de solos com declive acentuado: ƒ Demarcar pequenos terraços em nível contra a pendente para cortar as águas. Podendo ser feito com enxadas ou com charruas tracção animal (2 a 3 passadas). Posteriormente abre-se um pequeno sulco continuo sobre o “topo”, parte mais elevada do terraço e pode ser plantado capim elefante (Pennisetum purpureum), cana-de-açucar, capim vetiver ou “vetiver grass” (Vetiveria zizanioides). Caso haja disponibilidade de pedras no local, pode ser complementado com terraço (muro) de pedras. Este terraço de pedras pode ser ajustado com Capim vetiver ou “Vetiver grass”, (Vetiveria zizanioides), capim cidreira ou limão (lemon grass), capim elefante (Pennisetum atropurpureum), etc. (o cordão vegetado com capim deverá ficar acima do terraço/muro de pedras). ƒ Após o plantio das espécies é necessário acompanhar o desenvolvimento das plantas e verificar a possível ocorrência de falhas na população de plantas da faixa contínua da barreira viva e, também a má disposição das pedras na construção dos terraços, poderá durante a ocorrência de fortes chuvas, facilitar o escorrimento superficial elevado (enxurradas), carreando água e sedimentos juntamente com nutrientes e a matéria orgânica das camadas superficiais do solo. Assim, deverá se prover de um adequado número de pedras e adequada distribuição/acomodação na construção das barreiras, de forma que as pedras e o capim estejam bem dispostos e compactos protegendo bem o solo. ƒ A área entre os cordões deverão preferentemente permanecer todo o ano coberto com restolhos ou plantas de cobertura durante os intervalos das diversas culturas). ƒ Cordões vegetados ou faixas de leguminosas: estratégia recomendada na melhoria da estrutura do solo e produção de biomassa, constando da implantação de espécies arbustivas ou arbóreas preferentemente leguminosas que deverão ser podadas esporadicamente e os resíduos distribuídos sobre o solo para protecção e melhoria da fertilidade: mutica (Tephrosia vogelli), Sesbania sesban, Glericidia sepium, Calliandra calythersus, Acácia albida, feijão bóer (Cajanus cajan), Leucaena leucocephalla, Tephrosia tunicata e outras sps.); também poderão ser intercaladas algumas plantas com efeitos insecticidas: mutica, Azadirachta indica (Nim) , Melia azedarach (siringa), etc. ƒ Algumas situações de declives acentuados poderão ser construído canais escoadouros vegetados, por onde o excesso de água que não conseguir infiltrar no perfil do solo e não ser absorvido também nos terraços/cordões poderão seguir por um canal vegetado com grama local rasteira, ou mesmo com amendoim forrageiro perene (Arakis pintoi ou Indigofera sp.) sem causar problemas de erosão e mínimas perdas de solos e nutrientes.
  • 25. Guía prático de Agricultura de Conservação 22 Muralha de pedras combinada com cordão vegetado (Vetiver grass ou Capim Vetiver) no Distrito de Gorongosa c) SOLO POBRE EM NUTRIENTES: Caso seja identificado que o nível de nutrientes presentes no solo é muito baixo, é recomendável a aplicação de fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) para a reposição e criação de condições mínimas para uma suficiente produção de biomassa. d) SOLO INFESTADO DE INVASORAS: Havendo elevada infestação de invasoras perenes, preferentemente deverão ser controladas antes de iniciar o sistema, embora possa ser iniciado, entretanto com riscos e elevado custo posterior no controle dessas espécies (p. ex. Cynodon dactilon, Cyperus sp., etc.). O controle integrado pode ser realizado através de herbicidas (Glyphosate) + plantas de cobertura eficientes tais como:. Mucuna + lablab – * óptimos resultados foram alcançados na Suazilândia no controle de Cynodon com o uso de Roundup, seguidos de cobertura por plantas de mucuna + lablab (FAO, Projecto Swazilandia, 2005).
  • 26. 23 4 A COBERTURA DO SOLO 4.1 As vantagens de manter o solo coberto As vantagens de manter o solo coberto são as seguintes: 1) Promover a formação de cobertura vegetal, além de evitar deixar o solo desprotegido irá quebrar a energia cinética da chuva impedindo o impacto directo das gotas de chuva no solo, impedindo com isso, o desencadeamento do processo de erosão. 2) A presença da cobertura morta (“mulch”) mantém mais humidade no solo, diminuindo das perdas de água por evaporação, além de diminuir a oscilação (variação) térmica nas 1a.s camadas. 3) Os resíduos vegetais, parte aérea e raízes, irão afofar o solo, abrindo também canais no perfil que irá aumentar a infiltração de água no solo, diminuindo o escorrimento superficial e as perdas de água, solo e nutrientes. 4) Buscar uma melhor estruturação do solo: melhor agregação das partículas, maior aeração, maior porosidade, favorecendo o crescimento das raízes dos cultivos posteriores. 5) Implementar a reciclagem de nutrientes no solo, diminuindo a lixiviação dos mesmos, bem como adicionar o nitrogénio ao sistema, principalmente com o uso de leguminosas minimizando a demanda externa de fertilizantes. 6) Possibilitar, com o crescimento rápido e agressivo, competição com as invasoras, diminuindo os custos com o seu controle. 7) Com a utilização das espécies, há uma tendência, ao longo dos anos, do aumento dos teores de matéria orgânica no solo, que irá proporcionar significativas melhorias nas propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. 8) Aumento da biologia do solo e, consequente aumento da biodiversidade, o que irá contribuir para um maior equilíbrio natural e menores riscos de ataque de pragas (insectos, nematoides, etc.) e doenças. Leguminosa nativa, potencial de uso como cobertura em rotação com diferentes culturas (Província de Sofala) Clitoria ternatea: leguminosa adaptada em algumas regiões da Província como nos Distritos de Búzi e Gorongosa
  • 27. Guía prático de Agricultura de Conservação 4.2 Plantas de cobertura 4.2.1 Comportamento das diferentes espécies de plantas de cobertura e 24 contribuição na melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo As experiências práticas dos camponeses da Província de Sofala tem mostrado que o solo devidamente coberto com restolhos e resíduos de plantas de cobertura (p. ex. mucuna, feijão bóer, etc.), proporciona um aumento da infiltração de água no perfil, diminuindo o escorrimento superficial e as perdas de água, solo e nutrientes. A continuidade desse sistema, tende a aumentar gradualmente os teores de matéria orgânica e nutrientes no solo ao longo dos anos e, além de promover um maior armazenamento de água no perfil, irá trazer inúmeros benefícios às diferentes sequências de culturas. Registros históricos mostram que a milenar prática do uso de plantas de cobertura, foi desenvolvida com sucesso por antigas civilizações: romanos, gregos, chineses, e outros povos na antiguidade e, graças ao intenso uso de insumos “modernos” esta prática foi quase esquecida neste século. Felizmente nas últimas 3 décadas, estudos e experiências de agricultores em várias partes do mundo fizeram com que esta eficiente prática começasse a retomar o seu importante lugar nas diferentes condições agro-ecológicas e sistemas de produção dos diferentes países, contribuindo para a manutenção e melhoria das propriedades do solo (físicas, químicas e biológicas). O estudo das plantas melhoradoras do solo tem demonstrado grande potencial na protecção e recuperação da produtividade do solo. Apesar disso, um constante desafio é estabelecer esquemas de uso compatível, das diferentes espécies com os sistemas de produção específicos de cada região, e se possível nos limites de cada propriedade, levando em consideração os aspectos ligados ao clima, solo, infra-estrutura da propriedade e condições sócio-económicas do agricultor. As possibilidades do emprego dessas plantas, podem visar, além da conservação e/ou melhoria da fertilidade, incremento na produtividade das culturas comerciais, aproveitamento algumas espécies como fonte de alimentos, forragem aos animais, ou ainda na produção de grãos para comercialização. A temperatura exerce grandes efeitos sobre a fisiologia das plantas, além de influenciar directamente na absorção de íons (nutrientes). A amplitude térmica muitas vezes é mais importante que a temperatura média de uma determinada zona, ou seja as variações nas temperaturas influem directamente no comportamento das plantas. Também a distribuição anual das precipitações tem efeitos directos no estabelecimento e desenvolvimento das diferentes espécies. Portanto, quando da escolha da(s) espécie(s) a fazer parte de sequências de culturas, estes e outros aspectos deverão sempre ser levados em consideração. Leguminosa rústica (Feijão bóer) que apresenta múltiplos usos, na fase de florescimento/enchimento de vagens – Província de Sofala
  • 28. 25 As plantas de cobertura poderão ser implantadas em cultivo singular ou em associações. Pode-se fazer uso do consórcio de gramíneas + leguminosas, ou ainda misturar 2-3 ou mais espécies, que além de apresentarem um importante efeito melhorador das características físicas do solo (agregação, estruturação), produzem resíduos com relação C/N intermediária, favorecendo a mineralização paulatina do nitrogénio, além de promoverem ao longo dos anos um maior equilíbrio e acúmulo de carbono no perfil do solo. No caso de cultivos singulares, a decomposição individual das leguminosas resultará em maiores riscos de perdas de N (lixiviação, volatilização), quando comparado às gramíneas. Quando os resíduos de gramíneas são mesclados com resíduos de leguminosas, normalmente não há problemas com imobilização do nitrogénio e a mineralização paulatina favorecerá a disponibilidade e absorção dos nutrientes pelas plantas. Consórcio de milho e feijão nhemba no sistema de Agricultura de Conservação (Distrito do Dondo) Os nutrientes deixados pelas plantas de cobertura às culturas posteriores podem ser aproveitados em quantidades variáveis conforme os seguintes factores: Espécie de planta de cobertura: Plantas mais fibrosas (com maior quantidade de carbono) demoram mais a se decompor no solo, plantas com maior % de nitrogénio se decompõe mais rápido e liberam os nutrientes no solo, podendo então ser absorvidos pelas culturas subsequentes; Tempo de decomposição: A relação carbono/nitrogénio (C/N), bem como a quantidade de lignina presente no tecido vegetal, irá governar grande parte do processo de decomposição dos resíduos no solo; Temperatura: Temperaturas elevadas facilitam o aumento de população dos microrganismos do solo e, consequentemente poderá acelerar o processo de decomposição dos resíduos vegetais no solo; Humidade do solo: A disponibilidade de água juntamente com temperatura e presença de ar (oxigénio) são fundamentais no aumento dos microrganismos e decomposição dos resíduos no solo; Manejo do solo: O solo ao ser revolvido por enxadas, charrua ou tractor irá misturar os resíduos na camada superficial do solo acelerando o processo de decomposição dos resíduos presentes; Fertilidade do solo : (aspectos químicos, físicos e biológicos) Maior teor de matéria orgânica (geralmente está associado a um incremento biológico no solo, principalmente os microorganismos), elevado teor de nutrientes, melhor aeração do solo (não problemas de compactação), maior acumulo de humidade; temperaturas elevadas, tendem a acelerar a decomposição dos resíduos no solo, assim esses factores tem influencia directa na disponibilidade dos nutrientes as culturas subsequentes.
  • 29. Guía prático de Agricultura de Conservação O que Você deve levar em conta: O monitoramento contínuo das áreas com rotação de culturas é fundamental para o próprio sucesso do sistema. Assim, as espécies a serem incluídas na rotação deverão ser criteriosamente seleccionadas, de acordo com as condições agro-ecológicas, infra-estrutura do produtor, e cobertura do solo prevalecentes. 4.2.2 Formas de manejo de plantas de cobertura As plantas de cobertura quando atingem o pleno florescimento os nutrientes se encontram distribuidos em todas as partes da planta, sendo o momento recomendado para se fazer o manejo. Obviamente, que em algumas situações onde se deseja que os resíduos permaneçam por mais tempo sobre o solo, este manejo poderá ser retardado um pouco. Dessa forma, quando as plantas atravessam a fase de crescimento vegetativos e entram na fase reprodutiva (flores e enchimento de grãos), ocorre uma migração dos nutrientes das folhas e de outras partes da planta para as inflorescências e, com isso principalmente pelo aumento das cadeias carbônicas, os tecidos das plantas irão se tornando com uma maior relação C/N e, assim com maior presença de lignina torna-se mais difícil e demorada a decomposição desses resíduos no solo. Por outro lado, caso o manejo das plantas seja efetuado antes do florescimento, a relação carbono nitrogênio (N) nos tecidos será menor (cadeias carbônicas menores) e, consequentemente decomposição no solo será bem rápida. Isto, principalmente em função da oferta elevada de N aos microorganismos, que assim multiplicam-se muito rapidamente e decompõe os resíduos orgânicos em menor tempo. Neste caso, se tem uma pronta disponibilidade principalmente de N no solo, que poderá ser absorvido pelas plantas, ou mesmo correndo riscos de perdas (principalmente lixiviação quando na forma de nitrato, NO- 26 3). As plantas de cobertura poderão ser manejadas através de catana, foice, enxadas, rolo-faca, herbicidas, conforme as condições locais e infra-estrutura do produtor. O rolo-faca consta basicamente de um equipamento que pode ser feito de um tronco de madeira ou um cilindro metálico, ou mesmo um tambor de vazio de 200 litros. São colocadas longitudinais ao cilindro, sendo este cilindro traccionado por trator ou por animais (bois, cavalos, burros, etc.) sobre os vegetais que se pretende acamar e manejar. Caso haja elevada quantidade de massa vegetal a ser cortada poderá ser colocada alguns pesos sobre a estrutura metálica do próprio rolo para que possa ter mais peso, e no caso do tambor poderá ser cheio com água, para então proceder satisfatoriamente as operações de manejo/corte do material vegetal (plantas de cobertura, capins e outras invasoras, restolhos da cultura anterior). Normalmente o rolo-faca não irá cortar todos os resíduos, mas com a forca do impacto sobre o tecido vegetal ira romper os vasos que carregam a seiva bruta e elaborada e, assim proporcionando após alguns dias a seca e morte das plantas. É prático, de fácil confecção e um instrumento muito importante no manejo da vegetação para implantação das culturas em plantio direto sobre o mulch (Agricultura de Conservação). Já foram confeccionados alguns exemplares aqui em Sofala e já vem sendo utilizado com sucesso pelos camponeses.
  • 30. Rolo-faca e tração animal: usado no maneio de plantas de cobertura, invasoras (plantas daninhas) e restolhos de plantas cultivadas (milho, mapira, girassol, etc.) No Distrito do Búzi, foi feito uma demonstração com o uso de rolo-faca tractorizado sobre capim e feijão macaco (vegetação de uma altura média de 1,50m.), com um excelente trabalho, demonstrando ser uma ferramenta muito eficiente no manejo de vegetação ou de coberturas. As áreas onde se efetuaram os trabalho foram em Chicumbua, Guara Guara (através de tractores) e, em Bandua com tracção animal (bois), com trabalho bastante eficiente sobre capins, feijão macaco e outras plantas e arbustos. 27 Rolo-faca tracção tractorizada – Búzi Nas áreas onde foram testados o rolo-faca construído pelo PROMEC, observou-se que passado já 30-40 dias após o manejo do capim, já começa a surgir algumas invasoras, sendo portanto recomendável que o intervalo entre o manejo com rolo-faca e o plantio direto da cultura posterior seja em torno de 8-21 dias, obviamente variando conforme o tipo de cobertura (leguminosas e outras com bastante nitrogênio e rápida decomposição 8-10 dias e, caso seja gramíneas e outras bem lignificadas e fibrosas 2-3 semanas após o manejo), podendo introduzir a nova cultura em plantio direto. • Em campos onde há predominância de capins, o manejo com rolo-faca deverá ser preferencialmente quando o capim esteja verde e, ainda não tenha completado o ciclo, dessa forma o rolo-faca tem melhor efeito, além de impedir que as invasoras continuem se multiplicando no campo. • Caso ocorra pequena rebrota, o manejo poderá ser complementado com foices, catanas, etc. • Em muitas situações e áreas maiores, o rolo-faca poderá ser complementado com uso de herbicidas específicos para dessecação das invasoras e/ou plantas de cobertura.
  • 31. Guía prático de Agricultura de Conservação 4.3 Efeitos das plantas de cobertura As plantas de cobertura e seus resíduos, através da formação de cobertura morta, e pelos seus efeitos físicos e químicos (alelopáticos) afectam qualitativa e quantitativamente distintas infestações de espécies invasoras. Assim são conhecidos os efeitos das mucunas, feijão bóer, mexoeira, crotalaria juncea, calopogônio, feijão de porco, da aveia preta, centeio, azevém, ervilhacas, nabo forrageiro, etc. no controle de diferente espécies de plantas invasoras. Sendo importante o uso e manejo dessas espécies em rotação quando se pretende diminuir populações de algumas invasoras. Com a utilização das diferentes plantas de cobertura é possível quantificar o montante de um determinado nutriente reciclado e/ou fixado biologicamente pelas leguminosas, considerando a biomassa produzida e os nutrientes contidos no tecido foliar. Tabela 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura e % 28 de nutrientes na matéria seca . Nitrogénio Fósforo Potássio Planta de cobertura Ciclo Massa verde (t/ha) Matéria seca (t/ha) (% na matéria seca) Mexoeira Anual 11 - 90 3.5 - 21 0.34 - 1.46 0.13 - 0.29 1.05 - 3.12 Feijão nhemba Anual 20 - 33 2.5 - 6 1.67 - 2.22 0.25 - 0.50 1.82 - 2.77 Mucuna preta Anual 12-23 2 - 5 2,29 - 2,73 0,11 - 0,17 1,25 - 1,55 Mucuna cinza Anual 10 - 25 2 - 6 1.56 - 2.43 0.46 - 0.57 1.00 - 1.55 Mucuna anã Anual 10- 18 2 - 4 2,85 - 3,35 0,16 - 0,23 4,14 - 4,84 Feijão bóer Bi ou Tri-anual 18 - 45 5 - 12 2,41 - 2,85 0,12 - 0,19 2,40 - 2,84 Feijão bóer anão Anual 14- 22 2 - 6.5 1.02 - 2.04 0.21 - 0.28 0.92 - 1.47 Crotalaria spectabilis Anual 12-23 4 - 7 2,14 - 2,20 0,07 - 0,12 1,40 - 1,78 Feijão de porco Anual 14 - 26 3 - 7 3,00 - 3,39 0,12 - 0,18 5,30 - 5,94 Feijão bravo do Ceara Anual 14 - 25 3 - 6.5 2,27 - 2,71 0,11 - 0,15 1,58 - 1,78 Feijão mungo Anual 12 - 22 3 - 5.5 2,00 - 2,18 0,15 - 0,27 4,64 - 5,24 Dolichos lab-lab Anual 14 - 28 4 - 7 2,15 - 2,57 0, 27 - 0,61 2,14 - 2,53 Leucaena leucocephala perene 20 - 50 10 - 16 4, 17 - 4,43 0,17 - 0,28 1,45 - 1,94 Indigofera sp. perene 13 - 24 4 - 7 2,02 - 2,33 0,09 - 0,19 1, 45 - 1,64 Calopogonio mucunoides perene 14 - 23 4 - 6 2,05 - 2,28 0,08 - 0,17 1,43 - 1,68 Kudzu tropical perene 13 – 25 4 - 7 3,47 -3,88 0,23 - 0,36 2,06 - 2,23 Soja perene perene 12 – 23 4 - 6 2,44 - 2,85 0,17 - 0,30 2,24 - 2,45 Centrosema pubescens perene 14 - 27 4.5 - 6.5 2,21 - 2,48 0,17 - 0,29 1, 03 - 1,34 Mexoeira + nhemba Anual 19 - 40 3.5 - 10 0.61 - 0.82 0.13 - 0.17 1.08 - 1.12 Crotalaria juncea Anual 15 - 35 2.5 - 8.5 1.42 - 1.65 0.19 - 0.21 0.96 - 1.38 Girassol Anual 20 - 46 4 - 8 1. 02 - 1,12 0.18- 0,24 2,50 - 2.78 Fonte: Adaptado de Calegari, 1995, 2000, Florentin et al., 2001. Os valores apresentados demonstram o grande potencial que as distintas plantas de cobertura possuem em deixar no horizonte superficial dos solo variáveis quantidades de nutrientes que poderiam ser absorvidos pelas raízes dos cultivos posteriores. Além desses nutrientes, um dos mais importantes aportes das plantas são os compostos de carbono
  • 32. orgânico, ou seja a matéria orgânica, que será responsável, directa ou indirectamente pelas interacções e reacções químicas, físicas e biológicas no sistema solo-água-planta. As plantas mencionadas, tem potencial de serem utilizadas na Província de Sofala, conforme os diferentes sistemas de produção e condições agro-ecológicas especificas. Para os cultivos de Siratro, Stylosanthes, Brachiaria, Setaria e Melinis minutiflora, caso saturação com bases esteja acima de 30% não será necessário elevar até 40%, com excepção no caso dos materiais que são destinados a corte ou produção de feno Dentre as leguminosas algumas se destacam pela tolerância ao alumínio, como é o caso: Stylosanthes, Calopogonium mucunoides, Macroptilium atropurpureum, Galactia striata, Crotalaria pubescens e outras. Por outro lado, as espécies como Glycine wightii (soja perene), Medicago sativa (alfafa), são altamente susceptíveis a alumínio, e também pouco eficientes na absorção de fósforo (P) na presença de alumínio. Em geral, as exigências em P das leguminosas adaptadas a solos ácidos não são altas. Geralmente as leguminosas apresentam grande potencial em fixar nitrogênio através da acção das bactérias que estão em simbiose com as raízes das plantas assim como também tem boa capacidade de reciclar o nitrogênio e outros nutrientes que foram perdidos por lixiviação. Tabela 4: Fixação biológica pelas leguminosas 29 Leguminosas N(kg/ha-1/ano) Feijão bóer (Cajanus cajan) 41 - 280 Feijão nhemba (Vigna unguiculata sin. Vigna sinensis) 73 - 240 Mucuna preta (Mucuna pruriens) 157 Canavalia / Feijão de porco (Canavalia ensiformis) 49 - 190 Estilosantes (Stylosanthes sp.) 30 - 196 Amendoim (Arachis hypogaea) 33 - 297 Calopogônio (Calopogonium mucunoides) 64 - 450 Crotalaria (Crotalaria juncea L.) 150 - 165 Galáctia (Galactia striata) 181 Centrosema (Centrosema pubescens) 93 - 398 Leucaena (Leucena leucocephala) 400 - 600 Kudzu tropical (Pueraria phaseoloides) 30 - 100 Feijão mungo (Vigna radiata L.) 63 - 342 Desmódio (Desmodium sp.) 70 Siratro (Macroptilium atropurpureum) 70 - 181 Soja (Glycine max) 17 - 369 Soja perene (Glycine wightii Verdc.) 40 - 450 Guar (Cyamopsis psoraloides) 37 - 196 Lentilha (Lens culinaris) 35 - 77 Lespedeza (Lespedeza stipulacea) 193 Grão-de-bico (Cicer arietinum) 41 - 270 Ervilha (Pisum sativum) 81 - 148 Ervilhaca comum (Vicia sativa) 80 - 120 Ervilhaca peluda (Vicia villosa) 110 - 184 Trevo egípcio (Trifolium alexandrinum) 62 - 235 Trevo vermelho (Trifolium pratense) 17 - 191 Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) 21 - 207 Feno grego (Trigonella fænum-græcum) 44 Feijão fava (Vicia faba) 88 - 157 Adaptado de: Nutman (1969); Buckman & Brady (1979); Malavolta et al. (1986); Boin (1986); Vernetti (1971), citado por Scotti et al. (1986); Larve, T.A. & Patterson, T.G. (1981); Kluthcousky (1982); Burris & Hardy (1975); Mello (1978); Rottar, P.P. & Joy, citado por Calegari et al., 1993.
  • 33. Guía prático de Agricultura de Conservação 4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo A matéria orgânica é uma mistura complexa das mais essenciais à manutenção e/ou recuperação da capacidade produtiva dos solos agrícolas. Diante de tal importância, serão tratados os principais aspectos a serem considerados num manejo adequado de solos visando a recuperação e/ou manutenção da matéria orgânica dos solos agrícolas. A matéria orgânica total de um solo inclui todos os organismos vivos do solo, assim como os resíduos vegetais e animais em decomposição constante; apesar de que quando nos referimos à matéria orgânica do solo, uma quantificação mais realística é quando nos referirmos à porção já num estágio final de decomposição, com a predominância de lignina, celuloses e hemiceluloses, portanto já num complexo de maior estabilidade e de coloração escura, ou seja, portanto numa fase de húmus. Os diferentes tipos de plantas, bem como as diferentes partes da planta, podem apresentar diferenças quanto aos seus componentes e estruturas e, conforme a organização estrutural de seus tecidos, influenciado pela época e forma de manejo dado a estas plantas ou resíduos, poderão apresentar diferenças quanto ao tempo de decomposição. Os primeiros componentes (listados abaixo), que são formado por cadeias de carbono mais simples, são quebrados e decompostos muito rapidamente, quando alguns resíduos e/ou restolhos são depositados no solo, enquanto os últimos (cadeias complexas) poderão demorar meses ou até muitos anos: 30 ƒ Açucares, amidos e proteínas simples; ƒ Complexos protéicos; ƒ Hemicelulose ƒ Celulose ƒ Gorduras e graxas ƒ Lignina Assim, o montante de matéria orgânica de um solo é um complexo formado por inúmeras fracções em diferentes estágios de decomposição e, sendo alguns com efeitos marcantes, duradouros ou não, sobre as propriedades do solo. Dessa forma, a adição quase que constante de resíduos orgânicos ao solo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, são fundamentais para que se possa se beneficiar de todos os efeitos favoráveis da matéria orgânica nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Geralmente o balanço entre estas fracções é a resultante da adição dos compostos de carbono e dos efeitos do manejo do solo utilizado. Normalmente nas áreas tropicais e subtropicais onde a mineralização/degradação dos compostos orgânicos é intensa, a forma com que efectuamos o manejo do solo e das culturas podem influenciar directamente a dinâmica dessa matéria orgânica do solo: ƒ As adições de carbono orgânico em áreas agricultáveis normalmente podem ser menores que nas condições naturais (natureza), isto em razão de que as culturas ocupam um tempo parcial de desenvolvimento durante o ano, além da colheita de grãos, fibras, forragem, etc. estarem sempre exportando carbono do sistema; apesar disso, experiências de produtores no Brasil e outros países mostram que é possível com um bom sistema de rotação, suplantar a adição de carbono anual quando comparado com uma área de vegetação natural; ƒ O revolvimento do solo, queima dos restolhos e/ou invasoras e as praticas de condução (praticas fitotécnicas: limpeza do terreno, etc.), contribuem para a mistura dos restolhos das culturas e outros resíduos orgânicos com o solo e consequentemente aumentam a decomposição do carbono e as perdas em forma de CO2 para a atmosfera.
  • 34. Para que o processo seja revertido é fundamental tomar alguns procedimentos urgentes: ƒ Imediatamente cessar com o preparo do solo, quer seja por enxadas, tracção animal, 31 tractor, etc.; ƒ Não queimar mais os restolhos das culturas, restos de invasoras cortadas ou capinadas, resíduos de plantas de cobertura, deixando todos os compostos de carbono sobre a superfície do solo; ƒ Manejar adequadamente todos os resíduos de forma que a adição anual de carbono ao sistema, quer pela adição dos resíduos da parte aérea ou das raízes, seja superior às perdas que ocorre principalmente pela ação dos microorganismos do solo (balanço anual positivo); ƒ Obviamente que em áreas de vegetação nativa os níveis de matéria orgânica do solo dependerão diretamente das condições de clima (temperatura, precipitação), tipo de vegetação, tipo de solo, drenagem, etc. O papel da matéria orgânica nos solos agrícolas A predominância de temperaturas elevadas, ocorrência de precipitações com alta intensidade, tem contribuído para que o processo de intemperização seja mais intenso nas regiões tropicais e subtropicais, quando comparados às condições de clima temperado. Nessas condições, as argilas predominantes geralmente são 1:1 ou seja, geralmente de baixa actividade, significando com baixa capacidade de efectuar a troca catiônica no complexo solo. Dessa forma, a maioria dos solos apresentam originalmente baixa CTC (capacidade de troca de cátions), o que indubitavelmente repercutem em baixa fertilidade natural. Assim, nessas condições os colóides da matéria orgânica, por ter uma CTC de alta actividade, desempenha um papel fundamental no sentido de contribuir para o aumento da CTC do solo e, consequentemente promover uma maior capacidade de aumento do nível de fertilidade química do solo. Além disso, grande percentual dos nutrientes são protegidos no solo ao formarem complexos com a matéria orgânica, podendo ser paulatinamente disponibilizados (com menores riscos de serem fixados por alumínio ou manganês, como é o caso do fósforo, ou ainda serem perdidos por lixiviação como é o caso do potássio e outros) e, aproveitados mais facilmente pelas raízes das culturas em desenvolvimento. O aumento da matéria orgânica do solo está directamente ligado ao aumento na adição de carbono e/ou redução da taxa de decomposição dos materiais orgânicos frescos (MOF) e húmus. Uma forma de adicionar carbono ao longo dos anos é pela vegetação espontânea (invasoras), pelo cultivo de espécies perenes de pastagens ou através da prática ordenada de sucessões, rotações e/ou consorciação de culturas (sistemas), com elevada capacidade de produção de fitomassa que incluam conjuntamente cultivos comerciais e recuperadores de solos (plantas de cobertura). Material orgânico fresco cobrindo o solo (capim) e matéria orgânica estabilizada – coloração escura (húmus )
  • 35. Guía prático de Agricultura de Conservação A redução na taxa de decomposição dos MOF e húmus em cultivos anuais é obtida através de redução do revolvimento do solo, quer pela decisão de um manejo através do sistema de cultivo mínimo ou principalmente através do sistema de plantio directo. Os principais aspectos auferidos pela manutenção e/ou adição da matéria orgânica do solo são: ƒ elevada capacidade de armazenamento de água; ƒ contribui para uma melhoria do estado de agregação das partículas de solo através da 32 formação dos complexos organo-minerais; ƒ proporciona um considerável incremento na vida biológica do solo; ƒ promove uma acentuada redução das perdas de nutrientes, favorecendo sensivelmente o seu suprimento às plantas; ƒ tem a capacidade de formar complexos com o alumínio e manganês que encontram-se em níveis tóxicos no solo; ƒ contribui significativamente para o aumento da CTC (capacidade de troca de cátions) efetiva do solo; ƒ melhoria do desenvolvimento e rendimento final das culturas. Além dos componentes dos tecidos das plantas, algumas enzimas necessárias à decomposição das moléculas orgânicas estão presentes em um maior número de espécies microbianas, outras são sintetizadas apenas por alguns microorganismos específicos. O amido, proteínas, e celulose, por ex., fazem parte dos vegetais e são moléculas que facilmente são degradas no solo pelos microorganismos, a maioria deles tem enzimas necessárias para a degradação e posterior utilização como fonte de carbono e energia. No caso da lignina e alguns compostos fenólicos (cadeias carbônicas maiores e mais complexas), componentes comuns nos tecidos vegetais, são mais difíceis de sofrerem o ataque microbiano, em função de sua estrutura e caminhos de decomposição permanecendo assim por muito mais tempo no solo até a mineralização ou sofrerem reacções químicas no solo (Fries & Aita, 1999). Visando facilitar a decomposição e liberação de nutrientes, em algumas regiões da Europa, se recomenda adicionar, por cada 100 kg de resíduos vegetais (palha de gramíneas e/ou restolhos), de 0,7 – 1,3 kg de nitrogênio, além da fertilização normal utilizada no cultivo. Ao selecionarmos plantas para cobertura do solo e acúmulo de palha, devemos buscar aquelas que apresentem maiores concentrações de lignina e derivados de fenólicos, pois seus resíduos são mais resistentes à decomposição e assim permanecem por mais tempo protegendo o solo. Balanço de húmus no solo: O humus, composto final da decomposição dos resíduos orgânicos do solo apresentam inúmeros efeitos favoráveis ao solo, assim como as interações solo-água-planta-nutrientes. No dinâmico processo de manejo do solo é importante considerar se o solo alcançou ou não ainda seu equilíbrio. Equilíbrio este que é definido como: Equilíbrio = quando ocorre maior acúmulo em relação às perdas de matéria orgânica (M.O.) no solo
  • 36. Assim, Fries & Aita, 1999 apresentam um exercício de como avaliar este importante balanço no solo. 33 Balanço Anual de Humus = Perdas Anuais de M.O. ▬ Ganhos de M.O. • Considerando (p. ex.) um solo com 2.5% M.O.; • Quilogramas de humus em 1 hectare = 2.159.000 kg de solo/ha X 2.5/100 = 53.975 kg /M.O. • Caso o solo seja manejado ou não, parte do humus do solo é decomposto pelos micro-organismos para sua manutenção durante o ano; • Nos USA estudos tem mostrado que a taxa de decomposição do humus é: 1. solo com 2% de M.O. = 2% taxa de decomposição anual; 2. solo com 4% de M.O. decomposição de 2.5%, assim utilizando-se estes valores; portanto, 2.5% M.O. apresenta uma taxa de decomposição = 2.125%. 3. Em 1 hectare temos 53.975 kg. de M.O. X 2.125% = 1147 kg. de humus anualmente perdido pelo processo de decomposição natural; Estudos regionalizados (possivelmente com “modelagem”) deveriam ser conduzidos para desenvolver uma: Constante de decomposição da Matéria Orgânica no solo Estimativas de perdas de solos: Resultados obtidos por Sidiras ,1984, citado por Derpsch et al., 1991 em um latossolo roxo no Norte do Paraná, o preparo convencional do solo (1 aração com discos + 2 gradagens) mostrou perdas de solos de 68,2 ton./ha/ano. Ainda no Brasil, Ponta Grossa, Paraná, Araújo et all.1991, em 4 anos de estudos em Cambissolos álicos encontrou perdas médias de mais de 113 toneladas de perdas de solos por hectare/ano. Por outro lado, resultados obtidos por Venialgo, 1997 em Paraguai, mostraram perdas de 46,5 ton./ha/ano de solos (área de convencional em pousio no inverno). Seguramente nas condições da Província de Sofala os valores não devem ser muito diferentes, ou até em áreas mais declivosas e cultivados tradicionalmente com perdas ainda maiores que as consideradas anteriormente. • Assim, para fins de cálculos vamos considerar perdas anuais de solos no sistema convencional de 40 toneladas por hectare/ano. • Perdas de Solos = 40.000 kg/ha/ano X 2,5% = 1000 kg/ha/ano de humus perdido por erosão. • O solo perdido geralmente é mais rico em M.O., visto que a fração orgânica é mais leve que outras partículas do solo e com mais facilidade será levado pela enxurrada; • Análises realizadas mostram um valor aproximado de 1,5% vezes superior para a M.O.; • Assim, os valores serão estimados em: 1000 kg de humus X 1,5 = 1500 kg/ha/ano de humus perdidos por erosão (valor corrigido); • Portanto, a Perda de Humus anual é de: • 1147 + 1500 = 2647kgs. de Humus são perdidos por ha/ano.