Este documento discute a evolução da passagem do repórter no telejornalismo brasileiro ao longo de seis décadas. Analisa como as transformações tecnológicas e conceituais afetaram a construção deste recurso e quais as possíveis tendências futuras. Entrevistas com repórteres experientes destacam diferentes abordagens para a passagem e sua importância como elemento de ancoragem na reportagem.
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Apresentação
1. Um estudo sobre a evolução da presença do repórter nas seis décadas da TV brasileira DE PASSAGEM PELO TELEJORNALISMO
2. INTRODUÇÃO Elemento integrante da reportagem e, em consequência, do telejornal, o recurso em estudo é o momento em que o repórter aparece em uma determinada notícia evidenciando sua legítima passagem pelo local do acontecimento.
3. OBJETIVO Compreender as transformações ocorridas na passagem telejornalística e analisar como tais modificações podem ter afetado a forma de se construir esse recurso nos dias atuais e quais as possíveis tendências para sua utilização em um futuro próximo.
4. PROBLEMATIZAÇÃO Quais são os possíveis significados das constadas mudanças ocorridas na produção da passagem telejornalística ao longo de seis décadas de televisão no Brasil?
5. JUSTIFICATIVA A passagem é uma solução amplamente utilizada no cotidiano dos repórteres de vídeo, funcionando como recurso de formulação da reportagem e, consequentemente, do telejornal. A pesquisa se justifica por trazer confrontos de idéias teóricas e práticas, que tanto podem funcionar como fonte de consulta para estudos futuros como para uma melhor compreensão e aplicação do recurso em seu uso profissional.
6. METODOLOGIA Pesquisa híbrida, qualitativa e empírica. Além de explanar conceitos como os de reportagem e passagem, foi realizada uma revisão bibliográfica de estudos relacionados direta ou indiretamente ao tema de pesquisa. Também foram entrevistados repórteres e analisados alguns de seus materiais Foram entrevistados uma fonoaudióloga, uma estilista e 14 repórteres, 8 homens e 6 mulheres. Em ordem cronológica de atuação: Passarinho, Francisco José, Musse, Kubrusly, Ibrahim, Souza, Rosing, Costa, Calderón, Oliveira, Aderaldo, Itaqui, Lemos e Matos.
7. TV DE IMPROVISO Merece ser conhecida a história da chegada da TV ao Brasil. Uma história que tem como protagonista um homem polêmico, envolvente, ousado, mas sem dúvida um nordestino corajoso. Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. Vera Íris Paternostro
8. TELEVISÃO: UMA AVENTURA DE “CHATÔ” A década de 50 foi marcada pela implantação da TV no Brasil por Assim Chateaubriand. Um início marcado pela existência de uma tecnologia de difícil manuseio e, em consequência, pouco favorável ao desenvolvimento do telejornalismo. Nesse período, a TV adotou a linguagem radiofônica e era associada à um rádio com imagens. Surgia, com o telejornalismo, o repórter de TV.
9. CONCEITOS DE REPORTAGEM As primeiras reportagens eram testemunhais (Tico-Tico e Spera) Um “relatório” para não iniciados. O repórter passa a ser “os olhos e os ouvidos do público”. Trabalho em equipe. Busca por profissionais polivalentes. Conceito atual: “convencionais de 40 segundos a 1 minuto e 30 segundos , e possui imagens com texto (off), boletim e um ou mais “personagens” (entrevistados). O resultado deve ser uma historinha com começo, meio e fim, contada a um público muito exigente, sempre disposto a ir embora (trocar de canal) caso o “espetáculo” não lhe agrade”. (PINTO, 1997).
10. CONCEITOS DE PASSAGEM Passagem é o momento chave em que o repórter aparece em uma reportagem televisiva. Em algumas localidades brasileiras também pode ser chamado de boletim ou stand-up. O modelo tradicional foi incorporado do jornalismo norte-americano em 70. São muitas as definições de passagem. A maior parte delas, referentes a técnica de produção. O principal objetivo é estabelecer uma comunicação direta com o telespectador.
11. A passagem como elemento integrante da reportagem O repórter é, ao mesmo tempo, um observador e um artista. Um observador porque recolhe, um a um, os elementos de um acontecimento. Artista, porque lhes dá um encadeamento trabalhado, transformando-os num assunto útil e fascinante. Não é permitida a ficção nem a falsificação: uma reportagem relata a realidade, de uma maneira precisa, detalhada, argumentada. Pierre Ganz
12. A TECNOLOGIA ALIADA À TÉCNICA A técnica de se fazer passagem nasceu evoluiu graças a tecnologia. A partir da década de 70, com a chegada da Auricon, o recurso passou a ser desenvolvido. Depois viriam as ENG e outras mais práticas. A passagem passa a ser utilizada como recurso de ancoragem tempo-espacial. O olhar do repórter não é, contudo, podado pela tecnologia. A passagem pode ser vista como uma associação entre conteúdo e estética.
13. TÉCNICA E ESTILO O estilo é um aliado das várias técnicas de se fazer passagem. Os padrões estéticos podem ser relativos à imagem ou ao próprio repórter (vestimenta, voz, postura, etc) Entrevistas com Cristiane Vieira e Karine Capistrano. Surge o conceito de presença de vídeo (empatia com o público e conquista de credibilidade). Surgiu a necessidade de formar repórteres preparados para o vídeo.
14. O REPÓRTER DE VÍDEO A técnica e estética são importantes, mas é preciso também ter ética e conteúdo. Surgiu a necessidade de formar um completo repórter de vídeo. Em meados da década de 70 surge o padrão Globo de Qualidade, o qual foi se modificando com o passar dos anos. Recentemente surge o conceito de videorrepórter, que deve ser diferenciado do repórter de vídeo. Como exemplo de videojornalismo, destaca-se o Profissão: Repórter. São muitas as trilhas que o repórter de vídeo, videorrepórter, repórter de TV, etc pode seguir.
17. Vamos ensaiar as marcações, enquanto isto você vai passando o texto, ok?
18. Ok. A câmera abre naquele edifício e vem pra mim...O diálogo acima não faz parte de uma cena de filme ou telenovela. É o que acontece todos os dias, em qualquer lugar onde houver uma equipe de reportagem gravando. Ivonete Pinto
19. A ARTE DE NÃO INTERPRETAR O repórter de vídeo precisa encontrar uma maneira compreensiva e atrativa de utilização da imagem Os 14 repórteres entrevistados (em profundidade) expõem seus pensamentos e experiências. O pensamento deles, mesclado com o de alguns autores, demonstra as coincidências que existem entre a produção de um produto factual e um ficcional (Ivonete Pinto desenvolve bem esse tema). Discute-se o processo de produção da passagem (Francisco José, Oliveira, Rosing). Fato e ficção devem ser diferenciados (Passarinho fala da passagem escrita antes de ir para a rua).
20. A PASSAGEM PARA OS REPÓRTERES Em ordem cronológica de atuação, os repórteres expões pensamentos e experiências, que são confrontados com as idéias de estudiosos. Busca-se evidenciar a evolução da passagem. Passarinho conceitua passagem como forma de destacar a presença do repórter no local da matéria (construção de presença – Fechine e Lima). Francisco José destaca a função de “gerenciamento de atenção” e destaca a importância do entrosamento da equipe Christina Musse, assim como Fco. José, defende a utilização da passagem como recurso de ancoragem da reportagem e do telejornal.
21. A PASSAGEM PARA OS REPÓRTERES Kubrusly não vê necessidade de uso da passagem. Ibrahim vê o recurso como uma possibilidade, mas não necessidade e defende a “hierarquizaçãoinformativa”. Souza desenvolve bastante o plano sequência (de Tico-Tico e Spera). Já é destaque, naturalidade e espontaneidade por meio do improviso. Rosing, usando a passagem tradicional, enfatiza a importância de se preocupar com o telespectador, surpreendendo-o e sendo criativo.
22. A PASSAGEM PARA OS REPÓRTERES Costa, através de sua experiência, destaca as passagens de “desdobramento”, “contextualização e recuperação de informações” e, ainda, a de “proposição de juízos interpretativos”. Calderón diz que a passagem deve existir quando: faltar imagem, houver necessidade de ligar fatos e de hierarquizar dados. Destaque para a última. Oliveira defende que o telespectador deve ser surpreendido. Aderaldo lembra a importância da estética. Itaqui desenvolve a videorreportagem (novo conceito). Lemos enfatiza a importância de transmitir emoção. Matos reforça fatores anteriormente citados.
23. POSSÍVEIS TENDÊNCIAS E O ADVENTO DA TV DIGITAL A passagem permanece evoluindo? Rosing defende que não, apesar de acreditar na possibilidade. Costa vê a HDTV como uma ponte para a evolução. Calderón, Ibrahim, Itaqui e outros enfatizam a tendência da descontração e informalidade. Francisco José aposta na criatividade e especialização. Passarinho na necessidade de qualidade informativa. Lemos e Aderaldo, por exemplo, também vêem na evolução tecnológica novas possibilidades. A primeira destaca a necessidade de transmitir uma emoção, um sentimento.
24. CONSIDERAÇÕES FINAIS A passagem está em evolução desde a década de 70. A busca por profissionais polivalentes e o trabalho em equipe deve seguir sendo valorizado, mesmo com formatos como a viderreportagem. Mesmo não indispensável, a passagem é importante como recurso de ancoragem tempo-espacial. A boa passagem deve contar com “sorte”, saber aproveitar situações, transmitir emoção, ter estética agradável, ser criativa, surpreendente e utilizada em circunstâncias chave (respeitando a importância do fato). A má passagem simula a realidade e repete formatos (modismo).
25. CONSIDERAÇÕES FINAIS As possíveis tendências são: valorização estética, maior dinamismo, interação, improviso, busca por espontaneidade e autenticidade, maior abertura para proposição de juízos interpretativos e humanização das informações. Com a HDTV, os telespectadores serão mais interativos e críticos, o que exigirá cada vez mais qualidade de conteúdo.
27. REPRESENTAÇÃO DAS PASSAGENS Sandra Passarinho: dinamismo Francisco José: improviso (espontaneidade e autenticidade) Maurício Kubrusly: sem passagem, mas com interação Gérson de Souza: humanização (em plano sequência) Régis Rosing: surpresa (com naturalidade) Patrícia Calderón: interação Alysson Oliveira: criatividade (o inusitado) Lia Aderaldo: valorização estética Thais Itaqui: videorreportagem e humanização
28. REFERÊNCIAS Livros BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo. Manual de telejornalismo, Rio de Janeiro: Campus, 2002. BISTANE, Luciana; BACELLAR, Luciane. Jornalismo de TV. São Paulo: Contexto, 2005. BRITO, Juliana. Hibridismo de Gêneros: convergências das linguagens audiovisuais da grande reportagem televisiva e do documentário no programa Profissão: Repórter, da Rede Globo: Unifor, 2009. BRUM, Juliana. A hipótese do agenda setting: estudos e perspectivas: Unissinos, 2003. CURADO, Olga. A Notícia na TV: O dia-a-dia de quem faz telejornalismo. São Paulo: Alegro, 2002.
29. REFERÊNCIAS DUARTE, Elizabeth Bastos. Dos telejornais: reflexões sobre a temporalidade. In: DUARTE, Elizabeth Bastos. Televisão: ensaios metodológicos: Porto Alegre: Sulina, 2004. DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. FECHINE, Yvana; LIMA, Luisa Abreu e. Por uma sintaxe do telejornal: uma proposta de ensino. Revista Galáxia, São Paulo, n. 18, p. 263-275, dez. 2009. FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas). Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. 2007. GANZ, Pierre. A reportagem em rádio e televisão. Portugal: Editorial Inquérito. 1999.
30. REFERÊNCIAS KNEIPP, Valquíria. Trajetória da Formação do Telejornalista Brasileiro: as implicações do modelo americano. São Paulo, 2008. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001. PATERNOSTRO, Vera. O texto na TV: Manual de telejornalismo, Rio de Janeiro: Campus, 1999. PINTO, Ivonete. A dramatização no telejornalismo Porto Alegre: FAMECOS, 1997. PRADO, Flávio. Ponto eletrônico. Editora Limiar: São Paulo, 1996. RESENDE, Guilherme. O telejornalismo brasileiro. São Paulo: Summus Editorial, 2000.
31. REFERÊNCIAS RGT (Rede Globo de Televisão) Jornal Nacional: a notícia faz história / Memória Globo. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. SOUZA, Cláudio. 15 anos de história, Rio de Janeiro. Rio Gráfica LTDA, 1984. SQUIRRA, Sebastião. Aprender telejornalismo: produção e técnica, São Paulo: Brasiliense, 2004. THOMAZ, Patrícia. A linguagem experimental da videorreportagem. Intercom, 2006. VALLE, Flávio Pinto. Reflexões sobre a passagem no telejornalismo. Juiz de Fora, Intercom, 2007. VALLE, Flávio; LEAL, Bruno Souza. O telejornalismo entre a paleo e a neotevê. Juiz de Fora. YORKE, Ivor; tradução de Mauro Silva. Jornalismo Diante das câmeras. São Paulo: Summus Editorial, 1998. YORKE, Ivor. Telejornalismo, São Paulo: Roca, 2006.
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33. REFERÊNCIAS Entrevistados ADERALDO, Lia. Questionário padrão respondido por e-mail em 17 de maio de 2010. BRITO, Francisco José. Questionário padrão respondido por e-mail em 5 de abril de 2010. CALDERÓN, Patrícia. Questionário padrão respondido por e-mail em 29 de março de 2010. CAPISTRANO, Karine. Entrevista Gravada em Fortaleza em 14 de maio de 2010. COSTA, Vinícius. Questionário padrão respondido por e-mail em 5 de maio de 2010. IBRAHIM, Ogg. Questionário padrão respondido por e-mail em 4 de maio de 2010. ITAQUI, Thais. Questionário padrão respondido por e-mail em 6 de maio de 2010. KUBRUSLY, Maurício. Comentário enviado por e-mail em 7 de maio de 2010. LEMOS, Pamela. Questionário padrão respondido por e-mail em 17 de maio de 2010. MATOS, Aldeson. Questionário padrão respondido por e-mail em 25 de maio de 2010. MUSSE, Christina. Questionário padrão respondido por e-mail em 31 de maio de 2010. OLIVEIRA, Alysson. Questionário padrão respondido por e-mail em 16 de maio de 2010. PASSARINHO, Sandra. Comentário enviado por e-mail em 18 de maio de 2010. RÖSING, Régis. Entrevista gravada por telefone em 31 de maio de 2010. SOUZA, Gérson de. Questionário padrão respondido por e-mail em 13 de maio de 2010. VIEIRA, Cristiane. Questionário sobre figurino respondido por e-mail em 20 de maio de 2010.