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              Anúncios Google               ► Assistente social      ► Projeto social        ► Serviço social         ► Educacao social




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                        e intervenção profissional
                        by José Araujo on Oct 31, 2011

                                      15,263
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                         Andre Carvalho Rezende
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                       prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional
                       Document Transcript



                   1. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e                                             Like

                   intervenção profissional* The social worker practice: knowledge,
                   instrumental- ity and professional intervention Charles Toniolo de SOUSA**
                   Resumo: Este artigo tem por finalidade apresentar uma reflexão sobre a prática
                   pro- fissional do Assistente Social, reconhecendo suas dimensões, com o                                           Like

                   objetivo de situar a instrumentalidade do Serviço Social bem como seu arsenal
                   técnico-operativo. Em seguida, serão apresentados, de forma sucinta, alguns




2 de 36                                                                                                                                    26/03/2013 11:02
prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int...               http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con...


                  dos principais instrumentos de trabalho utilizados pelos Assistentes Sociais no                                    Like

                  exercício da prática profissional, bem como algumas considerações finais.
                  Palavras-chave: Serviço Social, Instrumentalidade, Instrumentos de trabalho
                  do As- sistente Social. Abstract: This article has in view to introduce a
                  reflection about the Social Worker professional practice, recognizing                                               Like

                  dimensions, in order to situate the Social Work ins- trumentality and the
                  technical-operation that the professionals use. After, will be intro- duced,
                  succinctly, some principal tools used for the Social Workers in their
                  professional practice, and also some final considerations. Keywords: Social                                         Like

                  Work, Instrumentality, Social Workers tools. Recebido em: 07/04/2008. Aceito
                  em: 30/04/2008.∗ Este texto é fruto das reflexões e estudos realizados a partir
                  das diferentes experiências adquiridas durante a vida profissional, e,
                  sobretudo,da experiência com a disciplina de Técnicas de Intervenção Social,                                       Like

                  ministrada para as turmas do curso de Serviço Social da Universidade
                  doGrande Rio. A produção deste artigo teve como objetivo nortear a Semana
                  do Curso de Serviço Social da UNIGRANRIO, realizada em setem-bro de
                  2006, a fim de orientar estudantes do 1º ao 8º períodos letivos, culminando em                                      Like

                  atividade de avaliação conceitual requerida à totalidadedos alunos do
                  curso.∗∗ Assistente Social do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro,
                  Mestrando em Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiroe
                  Professor da Escola de Serviço Social da Universidade do Grande Rio.                                               Like

                  Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em
                  <http://www.uepg.br/emancipacao>


                  2. Charles Toniolo de SOUSA Na trajetória histórica do Serviço Social, po-
                                                                                                                                     Like
                  instrumentalidade. Porém, não é possível falar se-demos identificar várias
                  correntes que discutem riamente sobre a questão se não situamos o debatea
                  questão da sua instrumentalidade, que trazem em alguns de seus fundamentos
                  científicos maisconsigo um corpo conceitual específico que dá a elementares –
                                                                                                                                     Like
                  caso contrário, caímos nas “teias”esse tema um determinado significado.
                  Entende- do senso comum.mos por instrumentalidade a concepção desen- Ora,
                  o debate sobre a instrumentalidade dovolvida por Guerra (2000) que, a partir
                  de uma Serviço Social percorre a história da profissão emleitura lukacsiana da
                                                                                                                                     Like
                  obra de Marx, constrói o de- razão da própria natureza desta: o Serviço
                  Socialbate sobre a instrumentalidade do Serviço Social, se constitui como
                  profissão no momento históricocompreendendo-a em três níveis: no que diz
                  res- em que os setores dominantes da sociedade (Es-peito à sua funcionalidade
                                                                                                                                     Like
                  ao projeto reformista tado e empresariado) começam a intervir, de for-da
                  burguesia; no que se refere à sua peculiarida- ma contínua e sistemática, nas
                  conseqüências dade operatória (aspecto instrumental-operativo); e “questão
                  social”, através, sobretudo, das chama-como uma mediação que permite a
                                                                                                                                     Like
                  passagem das das políticas sociais. Segundo Carvalho & Iama-análises
                  universais às singularidades da interven- moto (2005), o Serviço Social é



3 de 36                                                                                                                                     26/03/2013 11:02
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                  requisitado pelasção profissional. complexas estruturas do Estado e das
                  empresas, Desde o período em que o Serviço Social de modo a promover o                                             Like
                  controle e a reproduçãoainda fundava sua base de legitimidade na esfera
                  (material e ideológica) das classes subalternas, emreligiosa, passando pela sua
                  profissionalização e um momento histórico em que os conflitos entreos
                  momentos históricos que a constituíram, a di- as classes sociais se                                                Like
                  intensificam, gerando diver-mensão técnica-instrumental sempre teve um lugar
                  sos “problemas sociais” que tendem pôr a ordemde destaque, seja do ponto de
                  vista do afirmar de- capitalista em xeque (Netto, 2005).liberadamente a
                  necessidade de consolidação de Torna-se mister situar essa questão, poisum                                         Like
                  instrumental técnico-operativo “específico” do ela revela um dado que é
                  crucial para o debateServiço Social (falamos aqui em especial da tradi- sobre
                  a instrumentalidade: o Serviço Social surgeção norte-americana, que teve forte
                  influência so- na história como uma profissão fundamentalmentebre o Serviço                                          Like
                  Social brasileiro, sobretudo entre os interventiva, isto é, que visa produzir
                  mudanças noanos 40 e 60), seja no sentido de afirmar o Serviço cotidiano da
                  vida social das populações atendidasSocial como um conjunto de técnicas e
                  instrumen- – os usuários do Serviço Social. Assim, a dimensãotais – em outras                                      Like
                  palavras, uma tecnologia social1. prática (técnico-operativa) tende a ser
                  objeto privi-Em outros momentos, no sentido de atribuir à ins- legiado de
                  estudos no âmbito da profissão.trumentalidade do Serviço Social um estatuto
                  desubalternidade diante das demais dimensões que Mais ainda: no momento de                                         Like
                  sua emergên-compõem a dimensão histórica da profissão2. cia, o Serviço
                  Social atua nas políticas sociais com funções meramente executivas, também
                  chama- Esse debate é apenas introdutório para loca- das de funções terminais.
                  A concepção e o pla-lizarmos as razões que fazem da instrumentalidade                                              Like
                  nejamento das políticas sociais ficavam ao cargodo Serviço Social uma
                  questão tão importante à de outras categorias profissionais e dos
                  agentesprofissão, digna de um real aprofundamento teó- governamentais – ao
                  Serviço Social cabia apenasrico. Não nos caberá neste artigo aprofundar, do                                        Like
                  executá-las, na relação direta com os “indivíduos,ponto de vista teórico-
                  filosófico, o debate sobre a grupos e comunidades” que de algum modo eram
                  atendidos pelos serviços sociais públicos. Temos aqui a clássica separação
                  entre trabalho intelec-1 Essa visão pode ser identificada como uma                                                  Like
                  componente da cor- tual (quem pensa as políticas sociais) e trabalhorente
                  denominada por Netto (2004) de “modernização conservado- manual (quem
                  executa as políticas sociais)3. Nestara”, hegemônica no cenário profissional
                  brasileiro durante o períododa ditadura militar e do movimento de renovação                                        Like

                  do Serviço Socialno Brasil.2 Novamente nos reportamos ao chamado
                  Movimento de Recon- 3 Guerra (2004), ao pensar o Serviço Social como uma
                  profissãoceituação do Serviço Social, em que algumas correntes tentavam
                  inscrita na divisão social do trabalho, apropria-se do debate marxia-atribuir ao                                   Like




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                  Serviço Social o status de Ciência, questionando sua di- no sobre a divisão
                  entre trabalho manual e intelectual para pensar amensão interventiva.
                  profissão.120 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível
                                                                                                                                   Like
                  em <http://www.uepg.br/emancipacao>


                  3. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e
                  intervenção profissionalanalogia, ao Assistente Social caberia a tarefa do
                  atuaram nesse movimento4, a principal motivação“trabalho manual”. era dar                                        Like

                  ao Serviço Social um estatuto científico. E mais propriamente, no âmbito da
                  corrente que O Movimento de Reconceituação do Servi- Netto (2004)
                  denominou de “Intenção de Ruptu-ço Social, com toda a diversidade que lhe
                  foi pró- ra” (que para ele significa o rompimento com asprio, criticou                                            Like

                  duramente essa divisão, e propor- visões conservadoras da profissão), foi
                  levantadacionou um aprofundamento teórico-metodológico a necessidade de
                  que a profissão se debruçasse(principalmente a partir do diálogo com a
                  tradição sobre a produção de um conhecimento crítico damarxista e, sobretudo,                                    Like

                  com a obra marxiana) que realidade social, para que o próprio Serviço
                  So-possibilitou à profissão romper com esse caráter cial pudesse construir os
                  objetivos e (re)construirmeramente executivo e conquistar novas funções
                  objetos de sua intervenção, bem como respondere atribuições no mercado de
                  trabalho, sobretudo às demandas sociais colocadas pelo mercado dedo ponto
                  de vista do planejamento e administra- trabalho e pela realidade. Assim, pôde
                  o Serviçoção das políticas sociais. Assim, essa dicotomia Social aprofundar o
                  diálogo crítico e construtivofoi superada no âmbito profissional, e tal conquis-
                  com diversos ramos das chamadas Ciências Hu-ta encontra-se expressa no Art.
                  4º, Inciso II da Lei manas e Sociais (Economia, Sociologia, Ciênciade
                  Regulamentação da Profissão (Lei nº 8662 de Política, Antropologia,
                  Psicologia).07/06/1993): A partir de então, entramos no período em
                  Art.4º.São competências do Assistente Social: que os autores contemporâneos
                  da profissão cha- II. elaborar, coordenar, executar e avaliar pla- mam de
                  “maturidade acadêmica e profissional do nos, programas e projetos que sejam
                  do âmbito Serviço Social” (Netto, 1996), que procurou defi- de atuação do
                  Serviço Social com participação da sociedade civil (CFESS: 2002; p. 17). nir
                  novos requisitos para o status de competência profissional. Iamamoto (2004),
                  após realizar uma análise dos desafios colocados ao Serviço Social Ambas as
                  dimensões previstas no inciso ci- nos dias atuais, apontou 03 dimensões que
                  devemtado – elaboração, coordenação e execução – e ser do domínio do
                  Assistente Social:que são uma realidade do mercado de trabalhodo Assistente
                  Social na atualidade, requerem o • Competência ético-política – o
                  Assistentedomínio de um instrumental técnico-operativo que Social não é um
                  profissional “neutro”. Sua práticapossibilite a viabilização da intervenção a
                  que o se realiza no marco das relações de poder e deAssistente Social foi
                  designado (ou se designou) forças sociais da sociedade capitalista – relaçõesa



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                  realizar. Porém, ele não é o suficiente para ga- essas que são contraditórias.
                  Assim, é fundamen-rantir o objetivo final da intervenção profissional, tal que o
                  profissional tenha um posicionamentoconforme veremos a seguir. político
                  frente às questões que aparecem na rea- lidade social, para que possa ter
                  clareza de qual1 As competências do Serviço Social na con- é a direção social
                  da sua prática. Isso implica emtemporaneidade: política, ética, investigação e
                  assumir valores ético-morais que sustentam a suaintervenção prática – valores
                  esses que estão expressos no Có- digo de Ética Profissional dos Assistentes
                  Sociais Se no momento da origem do Serviço Social (Resolução CFAS nº
                  273/93)5, e que assumemcomo uma profissão inscrita na divisão do traba-
                  claramente uma postura profissional de articularlho, era apenas a sua dimensão
                  técnica que lhegarantia os estatutos de eficácia e competênciaprofissional (isto
                  é, era a forma e os resultados 4 Uma sintética análise desse movimento tão
                  plural e complexo seimediatos de sua ação que lhe garantiam legitimi-
                  encontra em Netto (2004).dade e reconhecimento da sociedade), o Movimen- 5
                  O Código de Ética profissional vigente defende o reconhecimentoto de
                  Reconceituação buscou superar essa visão e a defesa de 11 princípios
                  fundamentais. São eles: liberdade, di- reitos humanos, cidadania, democracia,
                  eqüidade e justiça social,unilateral. No universo das diversas correntes que
                  combate ao preconceito, pluralismo, construção de uma nova ordem social
                  (sem dominação-exploração), articulação com movimentos de trabalhadores,
                  qualidade dos serviços prestados e combate a toda espécie de
                  discriminação.Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível
                  em <http://www.uepg.br/emancipacao> 121


                  4. Charles Toniolo de SOUSAsua intervenção aos interesses dos setores majo-
                  dores do projeto profissional. Ora, para isso éritários da sociedade; necessário
                  um cuidadoso conhecimento das situações ou fenômenos sociais que são objeto
                  • Competência teórico-metodológica – o pro- de trabalho do assistente social
                  (IAMAMOTO:fissional deve ser qualificado para conhecer a re- 2004; p.
                  56).alidade social, política, econômica e cultural coma qual trabalha. Para
                  isso, faz-se necessário um Pensar sob esse ponto de vista significaintenso rigor
                  teórico e metodológico, que lhe per- colocar o Serviço Social em um lugar de
                  desta-mita enxergar a dinâmica da sociedade para além que, tanto no plano da
                  produção do conhecimen-dos fenômenos aparentes, buscando apreender to
                  científico (rompendo com o discurso do sensosua essência, seu movimento e as
                  possibilidades comum) como no âmbito das instituições públicasde construção
                  de novas possibilidades profissio- e privadas que, de algum modo, atuam
                  sobre anais; “questão social”. • Competência técnico-operativa – o profis- O
                  Assistente Social ocupa um lugar privile-sional deve conhecer, se apropriar, e
                  sobretudo, giado no mercado de trabalho: na medida em quecriar um conjunto
                  de habilidades técnicas que ele atua diretamente no cotidiano das classes
                  epermitam ao mesmo desenvolver as ações profis- grupos sociais menos



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                  favorecidos, ele tem a realsionais junto à população usuária e às instituições
                  possibilidade de produzir um conhecimento sobrecontratantes (Estado,
                  empresas, Organizações essa mesma realidade. E esse conhecimento é,Não-
                  governamentais, fundações, autarquias etc.), sem dúvida, o seu principal
                  instrumento de traba-garantindo assim uma inserção qualificada no mer- lho,
                  pois lhe permite ter a real dimensão das diver-cado de trabalho, que responda
                  às demandas co- sas possibilidades de intervenção profissional.locadas tanto
                  pelos empregadores, quanto pelosobjetivos estabelecidos pelos profissionais e
                  pela Assim, o processo de qualificação continua-dinâmica da realidade social.
                  da é fundamental para a sobrevivência no merca- do de trabalho. Estudar,
                  pesquisar, debater temas, Essas três dimensões de competências reler livros e
                  textos não podem ser atividades de-nunca podem ser desenvolvidas
                  separadamen- senvolvidas apenas no período da graduação oute – caso
                  contrário, cairemos nas armadilhas da nos “muros” da universidade e suas
                  salas de aula.fragmentação e da despolitização, tão presentes Se no cotidiano
                  da prática profissional o Assistenteno passado histórico do Serviço Social
                  (Carvalho Social não se atualiza, não questiona as demandas& Iamamoto,
                  2005). institucionais, não acompanha o movimento e as Contudo, articular
                  essas três dimensões co- mudanças da realidade social, estará certamenteloca
                  um desafio fundamental, e que vem sendo fadado ao fracasso e a uma
                  reprodução mecânicaum tema de grande debate entre profissionais e de
                  atividades, tornando-se um burocrata, e, semestudantes de Serviço Social: a
                  necessidade da dúvidas, não promovendo mudanças significati-articulação
                  entre teoria e prática. Investigação e vas seja no cotidiano da população
                  usuária ou naintervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica não própria
                  inserção do Serviço Social no mercado dedevem ser encaradas como
                  dimensões separadas trabalho.– pois isso pode gerar uma inserção
                  desqualificadado Assistente Social no mercado de trabalho, bemcomo ferir os
                  princípios éticos fundamentais que 2 Teoria e prática, método e
                  metodologiasnorteiam a ação profissional: O que se reivindica, hoje, é que a
                  pesquisa se Estudar a realidade social nunca foi tarefa afirme como uma
                  dimensão integrante do exer- fácil. cício profissional, visto ser uma condição
                  para Desde a Antigüidade, filósofos, cientistas e se formular respostas capazes
                  de impulsionar pensadores, de um modo geral, se debruçam so- a formulação
                  de propostas profissionais que bre as diferentes formas de organização social,
                  tenham efetividade e permitam atribuir mate- de modo a conhecê-las. Mas,
                  para além disso, o rialidade aos princípios ético-políticos nortea-
                  conhecimento é uma poderosa arma para quem122 Emancipação, Ponta
                  Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br
                  /emancipacao>


                  5. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e
                  intervenção profissionalo detém, pois é ele que fornece as bases para social



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                  (isto é, ele se explica em si mesmo), estare-qualquer proposta de mudança ou
                  transformação mos adotando uma determinada postura políticadessa mesma
                  realidade. Se atuar no e sobre o e teórica, e utilizando uma determinada forma
                  decotidiano das populações menos favorecidas é conhecer a realidade. Porém,
                  essa forma tende aum componente fundamental do Serviço Social, é
                  empobrecer esse conhecimento, pois consideracom vistas a transformações
                  nesse cotidiano que os indivíduos como seres atomizados, e não comoa prática
                  profissional deve se dirigir. seres sociais. Contudo, o cotidiano cria
                  armadilhas às quais Todavia, o que se propõe hoje no âmbito doo Assistente
                  Social deve estar atento. O profissio- Serviço Social é justamente a produção
                  de um co-nal trabalha com situações singulares, isto é, situ- nhecimento que
                  rompa com a mera aparência eações que, a princípio, podem parecer
                  exclusivas busque apreender o que está “por trás” dela, suadaquele(s)
                  sujeito(s) que está(ão) sendo o alvo da essência. Para isso, é fundamental que
                  o profissio-intervenção do Assistente Social. E nesse sentido, nal sempre
                  mantenha uma postura crítica, questio-ele (o Assistente Social) até pode
                  produzir um co- nadora, não se contentando com o que aparece anhecimento
                  prático dessa situação imediata que ele imediatamente.aparece no dia a dia do
                  seu trabalho. Mas nem De posse desse conhecimento, o profissionaltudo que
                  aparece é o que realmente é. pode planejar a sua ação com muito mais proprie-
                  Os seres humanos são seres essencialmen- dade, visando à mudança dessa
                  mesma realidade.te sociais, ou seja, vivem em uma determinada Assim, no
                  momento da execução da ação profissio-sociedade. E essa sociedade é uma
                  totalidade. nal, o Assistente Social constrói suas metodologiasNenhuma
                  situação pode ser considerada apenas de ação, utilizando-se de instrumentos e
                  técnicasem sua singularidade, pois senão corre-se o sério de intervenção
                  social.risco de se perder de vista a dimensão social da A diferença entre
                  método de investigação evida humana. Portanto, qualquer situação que che-
                  metodologias de ação põe uma reflexão fundamen-ga ao Serviço Social deve
                  ser analisada a partir de tal para quem se propõe a construir uma práticaduas
                  dimensões: a da singularidade e a da univer- profissional competente e
                  qualificada: são os ob-salidade. Para tal, é necessário que o Assistente jetivos
                  profissionais que definem que instrumentosSocial tenha um conhecimento
                  teórico profundo e técnicas serão utilizados – e não o contrário. Esobre as
                  relações sociais fundamentais de uma esses objetivos, planejados e
                  construídos no planodeterminada sociedade (universalidade), e como político
                  e intelectual, só podem ser expressos se oelas se organizam naquele
                  determinado momento Assistente Social conhece a realidade social
                  sobrehistórico, para que possa superar essas “armadi- a qual sua ação vai se
                  desenvolver7. Ou, como dizlhas” que o senso comum do cotidiano prega – e
                  Guerra (2002):que muitas vezes mascaram as reais causas edeterminações dos
                  fenômenos sociais. É na rela- Se é correto que o valor do trabalho do As-ção




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                  entre a universalidade e a singularidade que sistente Social reside na sua
                  utilidade social,se torna possível apreender as particularidades de que é
                  medida em termos de respostas con-uma determinada situação. cretas que
                  venham produzir uma alteração imediata na realidade empírica (...), o seu O
                  que acabamos de afirmar nada mais é do resultado final, o produto do seu
                  trabalhoque chamamos de método de investigação – e mais passa a ser o fator
                  determinante da for-especificamente, de método dialético6. Existem vá- ma de
                  realizá-lo (GUERRA: 2002; p. 157).rias formas de se pesquisar a realidade.
                  Se acredi-tamos que os fenômenos sociais são fragmentadose ocorrem sem
                  nenhuma relação com a totalidade 7 Guerra (2002) e Netto (1994) definem
                  esse processo como a6 Uma recomendável leitura sobre o método dialético na
                  literatu- relação entre causalidade (descobrir as causas de determinado fe-ra
                  do Serviço Social, incluindo a relação singularidade/universali- nômeno),
                  teleologia (capacidade racional e da consciência humanadade/particularidade
                  é encontrada em Pontes (2002), aproprian- de antever/planejar o produto final
                  da sua ação) e práxis (a capaci-do-se do debate metodológico desenvolvido
                  por Lucáks (1968). dade do ser humano intervir na realidade a fim de
                  transformá-la).Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível
                  em <http://www.uepg.br/emancipacao> 123


                  6. Charles Toniolo de SOUSA É apenas a partir dessa reflexão que se faz do
                  determinado instrumento. Sua prática se tor-possível discutir a
                  instrumentalidade do Serviço na mecânica, repetitiva, burocrática. Mais do
                  queSocial. meramente aplicar técnicas “prontas” – como se fossem “receitas
                  de bolo”, o diferencial de um profissional é saber adaptar um determinado ins-
                  trumento às necessidades que precisa responder3 A instrumentalidade do
                  Serviço Social no seu cotidiano. E como a realidade é dinâmica, Expressar os
                  objetivos que se quer alcan- faz-se necessário compreender quais mudançasçar
                  não significa que eles necessariamente serão são essas para que o instrumental
                  utilizado seja oalcançados. Nunca podemos perder de vista que mais eficaz
                  possível, e, de fato, possa produzir asqualquer ação humana está condicionada
                  ao mo- mudanças desejadas pelo Assistente Social – oumento histórico em que
                  ela é desenvolvida. A rea- chegar o mais próximo possível.lidade social é
                  complexa, heterogênea e os impac- Ora, isso pressupõe que, mais do que
                  copiartos de qualquer intervenção dependem de fatores e seguir manuais de
                  instruções, o que se colocaque são externos a quem quer que seja – inclusive
                  para o Assistente Social hoje é sua capacidadeao Serviço Social. Como
                  analisa Iamamoto (1995), criativa, o que inclui o potencial de utilizar instru-
                  reconhecer as possibilidades e limitações históri- mentos consagrados da
                  profissão, mas também decas, dadas pela própria realidade social, é funda-
                  criar outros tantos que possam produzir mudançasmental para que o Serviço
                  Social não adote, por na realidade social, tanto em curto quanto em mé-um
                  lado, uma postura fatalista (ou seja, acreditar dio e longo prazos.que a



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                  realidade já está dada e não pode ser mu- Isso é primordial para que possamos
                  de-dada), ou por outro lado, uma postura messiânica sempenhar com
                  competência as atribuições que(achar que o Serviço Social é o “messias”, que
                  é foram definidas para o Assistente Social na Lei dea profissão que vai
                  transformar todas as relações Regulamentação Profissional – e que foi citado
                  nasociais). É importante ter essa compreensão para Introdução desse texto.
                  Vejamos: se o Serviço So-localizarmos o lugar ocupado pelos instrumentos
                  cial, em sua trajetória histórica, não tivesse criadode trabalho utilizados pelo
                  Assistente Social em novos instrumentos e novas técnicas de interven-sua
                  prática. ção, teria conseguido sair da condição de mero Se são os objetivos
                  profissionais (construí- executor das políticas sociais e hoje desempenhardos a
                  partir de uma reflexão teórica, ética e política funções de elaboração,
                  planejamento e gerênciae um método de investigação) que definem os ins- das
                  mesmas? Certamente não.trumentos e técnicas de intervenção (as metodolo-
                  Assim, pensar a instrumentalidade do Servi-gias de ação), conclui-se que
                  essas metodologias ço Social é pensar para além da “especificidade”não estão
                  prontas e acabadas. Elas são necessá- da profissão: é pensar que são infinitas
                  as possi-rias em qualquer processo racional de intervenção, bilidades de
                  intervenção profissional, e que issomas elas são construídas a partir das
                  finalidades requer, nas palavras de Iamamoto (2004), “tomarestabelecidas no
                  planejamento da ação realizado um banho de realidade”. Guerra (2004)
                  resume, empelo Assistente Social. Primeiro, ele define “para poucas palavras,
                  o sentido dessa reflexão:quê fazer”, para depois se definir “como fazer”.Mais
                  uma vez, podemos aqui identificar a estreita A clara definição do ‘Para quê’ da
                  profissão,relação entre as competências teórico-metodoló- possível desde que
                  iluminada por uma raciona-gica, ético-política e técnico-operativa. lidade
                  (como forma de ser e pensar) que seja dialética e crítica, conectada à
                  capacidade de Em outras palavras, os instrumentos e téc- responder
                  eficazmente às demandas sociais,nicas de intervenção não podem ser mais
                  impor- se constituirão na condição necessária, talveztantes que os objetivos da
                  ação profissional. Se não suficiente, à manutenção da profissão.partirmos do
                  pressuposto que cabe ao profissio- Aqui se coloca a necessidade de dominar
                  umnal apenas ter habilidade técnica de manusear repertório de técnicas, legada
                  do desenvolvi-um instrumento de trabalho, o Assistente Social mento das
                  ciências sociais, fruto das pesqui-perderá a dimensão do porquê ele está
                  utilizan- sas e do avanço tecnológico e patrimônio das124 Emancipação, Ponta
                  Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br
                  /emancipacao>


                  7. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e
                  intervenção profissional profissões sociais (e não exclusividade de uma
                  Considera-se que a linguagem é o instrumen- categoria profissional), mas
                  também um con- to número um de todos os profissionais, pois ela junto de



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                  estratégias e táticas desenvolvidas, possibilita a comunicação entre estes e
                  aqueles criadas e recriadas no processo histórico, no com quem interagem. Ou,
                  como afirma Iamamoto, movimento da realidade (GUERRA: 2004; p. no nosso
                  caso: “o Serviço Social, como uma das 115-6). formas institucionalizadas de
                  atuação nas relações entre os homens no cotidiano da vida social, tem como
                  recurso básico de trabalho a linguagem” (IA- MAMOTO: 1995; p. 101). E é a
                  partir das formas de4 Instrumentalidade e linguagem(ns) comunicação que se
                  estabelecem no espaço das instituições onde trabalha o Assistente Social que É
                  sabido que o estudo sobre linguagem é este profissional poderá construir e
                  utilizar instru-bastante amplo no âmbito das Ciências Sociais. mentos e
                  técnicas de intervenção social.Contudo, esse ainda é um tema pouco
                  exploradona literatura do Serviço Social – clássica ou con- Segundo
                  Martinelli & Koumrouyan (1994),temporânea8. A título de referência,
                  usaremos aqui define-se por instrumental o conjunto articuladoos conceitos
                  trabalhados por Magalhães (2003). de instrumentos e técnicas que permitem a
                  ope-Para ela, segundo os lingüistas, racionalização da ação profissional.
                  Nessa idéia, o instrumento é estratégia ou tática por meio da O homem se
                  comunica através de signos, e qual se realiza a ação; a técnica é a habilidade
                  no estes são organizados através de códigos e uso do instrumento. linguagens.
                  Pelo processo socializador, ele de- senvolve e amplia suas aptidões de
                  comunica- O uso do instrumental pressupõe interações ção, utilizando os
                  modos e usos de fala que es- de comunicação, isto é, do uso de linguagens por
                  tão configurados no contexto sociocultural dos parte do Assistente Social. Se a
                  linguagem é um diferentes grupos sociais dos quais faz parte meio através do
                  qual um determinado grupo social (MAGALHÃES: 2003; p. 22). cria uma
                  identidade social, não será diferente para uma profissão que tem a linguagem
                  como o prin- Assim, os seres humanos dão significados às cipal recurso de
                  trabalho. O que queremos dizer écategorias que existem na realidade
                  (ontológicas) que o Assistente Social diz quem ele é, seja paraatravés de
                  códigos-palavras. Portanto, uma palavra a população atendida ou para quem
                  com que esta-só tem significado se compreendida no contexto belecer alguma
                  relação, a partir das formas de co-social e político no qual ela é utilizada.
                  municação e de interação que ele estabelece com Indo mais além, a autora
                  afirma que as lin- esses sujeitos. Assim, a definição do instrumental aguagens
                  construídas são produtos do processo de ser utilizado na intervenção
                  profissional deve sem-socialização dos seres humanos, o que remete a pre
                  levar em consideração o agente receptor dauma concepção social das
                  diferentes linguagens mensagem, ou seja, o destinatário da mesma.existentes
                  em uma mesma sociedade: elas (as lin- Assim, para além da linguagem que é
                  própriaguagens) indicam modos de ser e de viver de clas- da matéria de
                  Serviço Social, isto é, aquela que éses e grupos sociais diferentes entre si. Em
                  outras utilizada quando a “questão social” está sendo re-palavras, a linguagem




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                  possibilita a construção da fletida e trabalhada, nunca nos esqueçamos que
                  oidentidade de um determinado grupo social. Assistente Social é um
                  profissional de nível supe- rior. Com tal grau de escolaridade, “é de esperar
                  que sigam a norma culta da língua [portuguesa]8 Algumas iniciativas estão
                  sendo tomadas no sentido de levantar e não adentrem seus escritos [e falas]
                  para umaesse debate. A título de exemplo, o Conselho Regional de Servi-
                  linguagem coloquial ou do senso comum” (MAGA-ço Social (CRESS) do Rio
                  de Janeiro realizou, no mês de julho de LHÃES: 2003; p. 32). Nesse sentido, é
                  primordial2006, um evento com o título “Comunicação e Serviço Social”, o
                  queindica uma preocupação da categoria em aprofundar a discussão que o
                  Assistente social saiba falar e escrever cor-sobre a temática. Entretanto, é de
                  nosso conhecimento que o debate retamente, bem como comunicar-se
                  articulada-sobre o tema é extremamente complexo, pois coloca no centro
                  dapolêmica a própria condição do ser social. Sobre esse debate, ver mente.
                  Isto é criar uma identidade social de umLessa (1996). profissional competente,
                  que articula teoria e prá-Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008.
                  Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 125


                  8. Charles Toniolo de SOUSAtica, e que detém uma forma coerente de pensar
                  Na definição clássica, a observação é o usoe de expressar o pensamento. dos
                  sentidos humanos (visão, audição, tato, olfa- to e paladar) para o conhecimento
                  da realidade. Definido isto, podemos identificar duas ca- Mas não um uso
                  ingênuo dos sentidos, e sim, umtegorias de linguagens comumente utilizadas
                  pelo uso que tem como objetivo produzir um conheci-Serviço Social: a
                  linguagem oral ou direta e a lin- mento sobre a realidade – tem-se um objetivo
                  aguagem escrita ou indireta, e com elas, estabelecer alcançar.as interações.
                  Desse modo, podemos classificaros instrumentos de trabalho como
                  instrumentos Porém, o Assistente Social, ao estabelecerdiretos (ou “face a
                  face”) e instrumentos indiretos uma interação face a face, estabelece uma
                  rela-(ou “por escrito”). ção social com outro(s) ser(es) humano(s), que
                  possui(em) expectativas quanto às intervenções Não é possível aqui esgotar
                  todas as possibi- que serão realizadas pelo profissional. Assim,lidades de
                  utilização dos instrumentos de trabalho, além de observador, o profissional
                  também é ob-pois cada um deles possui características muito
                  servado.peculiares. O que será aqui desenvolvido é umabreve apresentação
                  dos principais instrumentos E ainda: na medida em que o Assistente
                  So-utilizados pelo Serviço Social no cotidiano de sua cial realiza
                  intervenções, ele participa diretamenteprática9 – e nunca perdendo de vista
                  que se trata do processo de conhecimento acerca da realidadede alguns
                  instrumentos, uma vez que a definição que está sendo investigada. Por isso, não
                  se tratados mesmos depende do objetivo estabelecido de uma observação fria,
                  ou como querem alguns,pelo profissional. “neutra”, em que o profissional
                  pensa estar em uma posição de não-envolvimento com a situa-4.1 Os



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                  instrumentos de trabalho diretos ou ção. Por isso, trata-se de uma observação
                  partici-“face a face” pante – o profissional, além de observar, interage com o
                  outro, e participa ativamente do processo Sobre a interação face a face, esta de
                  observação. (...) permite que a enunciação de um discurso se expresse não só
                  pela palavra, mas também 4.1.2 Entrevista individual e grupal pelo olhar, pela
                  linguagem gestual, pela ento- nação, que vão contextualizar e, possivelmen- A
                  entrevista nada mais é do que um diálogo, te, identificar subjetividades de uma
                  forma mais um processo de comunicação direta entre o Assis- evidenciada.
                  Sob esse enfoque, pode-se dizer tente Social e um usuário (entrevista
                  individual), ou que o discurso direto expressa uma interação mais de um
                  (entrevista grupal). Contudo, o que di- dinâmica (MAGALHÃES: 2003; p. 29).
                  ferencia a entrevista de um diálogo comum é o fato de existir um entrevistador
                  e um entrevistado, isto Assim, podemos identificar alguns instru- é, o
                  Assistente Social ocupa um papel diferente –mentos de trabalho “face a face”
                  consagrados na e, sob determinado ponto de vista, desigual – dohistória da
                  profissão, e que abaixo apresentamos papel do usuário.de forma bastante
                  sucinta: O papel do profissional entrevistador é dado pela instituição que o
                  contrata – no momento da4.1.1 Observação participante interação com o
                  usuário, o Assistente Social fala em nome da instituição. Ambos os sujeitos
                  (Assis- Observar é muito mais do que ver ou olhar. tente Social e usuário)
                  possuem objetivos com aObservar é estar atento, é direcionar o olhar, é sa-
                  realização da entrevista – objetivos esses necessa-ber para onde se olha (Cruz
                  Neto, 2004). riamente diferentes. Mas o papel de entrevistador que cabe ao
                  Assistente Social coloca-lhe a tarefa9 Cabe ressaltar que não se trata de
                  instrumentos de uso exclusivo de conduzir o diálogo, de direcionar para os
                  obje-do Assistente Social – é o objetivo do trabalho, suas atribuições e tivos
                  que se pretendem alcançar.competências que definem a forma como o
                  Assistente Social deveráutilizá-los, a saber, a intervenção sobre as diferentes
                  expressões da“questão social”, nas interações entre universalidade e
                  singularidades.126 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008.
                  Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>


                  9. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e
                  intervenção profissional Nem sempre é possível conciliar os objetivos
                  profissionais – no caso, a dinâmica de grupo devedo usuário e os do Assistente
                  Social (e alcançar estar em consonância com as finalidades estabe-essa
                  conciliação não é uma regra). Entretanto, lecidas pelo
                  profissional.estabelece-se uma relação de poder entre esses Sucintamente, a
                  dinâmica de grupo é umadois sujeitos – relação essa em que o Assistente
                  técnica que utiliza jogos, brincadeiras, simulaçõesSocial aparece em uma
                  posição hierarquicamen- de determinadas situações, com vistas a permitirte
                  superior. Mas se defendemos a democracia e que os membros do grupo
                  produzam uma reflexãoo respeito à diversidade como valores éticos fun-



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                  acerca de uma temática definida. No caso do Ser-damentais da nossa profissão,
                  o momento da en- viço Social, uma temática que tenha relação com otrevista é
                  um espaço que o usuário pode exprimir objeto de sua intervenção – as
                  diferentes expres-suas idéias, vontades, necessidades, ou seja, que sões da
                  “questão social”. Para tanto, o Assistenteele possa ser ouvido (em tempo: ser
                  ouvido não é Social age como um facilitador, um agente queconcordar com
                  tudo o que usuário diz). Estabele- provoca situações que levem à reflexão do
                  grupo.cer essa relação é fundamental, pois se o usuário Isso requer tanto
                  habilidades teóricas (a escolha donão é respeitado nesse direito básico, não
                  apenas tema e como ele será trabalhado), como uma pos-estaremos
                  desrespeitando-o, como prejudicando tura política democrática (que deixa o
                  grupo produ-o próprio processo de construção de um conheci- zir), mas
                  também uma necessidade de controle domento sólido sobre a realidade social
                  que ele está processo de dinâmica – caso contrário, a dinâmicatrazendo,
                  comprometendo toda a intervenção. vira uma “brincadeira” e não alcança os
                  objetivos Importante ressaltar que, por ser um obser- principais: provocar a
                  reflexão do grupo.vador participante, o Assistente Social tambémemite suas
                  opiniões, valores, a partir dos conhe- 4.1.4 Reuniãocimentos que já possui.
                  Desse modo, entrevistaré mais do que apenas “conversar”: requer um ri-
                  Assim como a dinâmica de grupo, as reuni-goroso conhecimento teórico-
                  metodológico (Silva, ões são espaços coletivos. São encontros grupais,1995),
                  a fim de possibilitar um planejamento sério que têm como objetivo estabelecer
                  alguma espécieda entrevista, bem como a busca por alcançar os de reflexão
                  sobre determinado tema. Mas, sobre-objetivos estabelecidos para sua
                  realização. tudo, uma reunião tem como objetivo a tomada de uma decisão
                  sobre algum assunto.4.1.3 Dinâmica de Grupo As reuniões podem ocorrer com
                  diferentes sujeitos – podem ser realizadas junto à população Descendente da
                  Psicologia Social, a dinâmi- usuária, junto à equipe de profissionais que
                  traba-ca de grupo surgiu como um instrumento de pes- lham na instituição.
                  Enfim ela se realiza em todoquisa do comportamento humano em pequenos
                  espaço em que se pretende que uma determinadagrupos (NESC/UFRJ, s/d). Em
                  seguida, tornou-se decisão não seja tomada individualmente, mas co-um
                  instrumento bastante utilizado na área social letivamente. Essa postura já
                  indica que, ao coleti-– em especial na saúde mental – e hoje é muito vizar a
                  decisão, o coordenador de uma reunião seutilizada em empresas. A dinâmica
                  de grupo foi coloca em uma posição democrática.amplamente usada como uma
                  forma de garantircontroles coletivos, manipular comportamentos, Entretanto,
                  colocar-se como um líder de-valendo-se das relações grupais. mocrático não
                  significa não ter firmeza quanto ao cumprimento dos objetivos da reunião. O
                  espaço Contudo, a dinâmica de grupo é um recurso de tomada de decisões é
                  um espaço essencial-que pode ser utilizado pelo Assistente Social em mente
                  político, pois diferentes interesses estãodiferentes momentos de sua




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                  intervenção. Para le- em confronto. Saber reconhecê-los e como se re-vantar
                  um debate sobre determinado tema com um lacionar com eles requer uma
                  competência teóricanúmero maior de usuários, bem como atender um e
                  política, de modo que a reunião possa alcançar omaior número de pessoas que
                  estejam vivencian- objetivo de tomar uma decisão que envolva todosdo
                  situações parecidas. E nunca é demais lembrar os seus participantes.que é o
                  instrumento que se adapta aos objetivosEmancipação, Ponta Grossa, 8(1):
                  119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 127


                  10. Charles Toniolo de SOUSA4.1.5 Mobilização de comunidades principal
                  objetivo conhecer as condições e modos de vida da população usuária em sua
                  realidade co- Muitos Assistentes Sociais desenvolvem tra- tidiana, ou seja, no
                  local onde ela estabelece suasbalhos em comunidades de um modo geral. Con-
                  relações do dia a dia: em seu domicílio.tudo, faz-se necessário clarificar o que
                  se entendepor comunidade. Segundo a definição de Souza A visita domiciliar é
                  um instrumento que, ao(2004), comunidade é um final, aproxima a instituição
                  que está atendendo ao usuário de sua realidade, via Assistente Social.
                  Conjunto de grupos e subgrupos de uma mes- Assim as instituições devem
                  garantir as condições ma classe social, que têm interesses e preo- para que a
                  visita domiciliar seja realizada (trans- cupações comuns sobre condições de
                  vivência porte, por exemplo). no espaço de moradia e que, dadas as suas
                  condições fundamentais de existência, tendem Como os demais instrumentos, a
                  visita do- a ampliar continuamente o âmbito de repercus- miciliar não é
                  exclusividade do Assistente Social: são dos seus interesses, preocupações e
                  en- ela só é realizada quando o objetivo da mesma é frentamentos comuns
                  (SOUZA: 2004; p. 68). analisar as condições sociais de vida e de existên- cia
                  de uma família ou de um usuário – pois é esse Assim, temos algumas
                  características que “olhar” que determina a inserção do Serviço Socialdefinem
                  o que entendemos por comunidade: fa- na divisão social do trabalho.lamos de
                  um território geograficamente definido, Contudo, a visita domiciliar sempre foi
                  ummas ao mesmo tempo, entendendo que a divisão dos principais instrumentos
                  de controle das classesgeográfica do espaço territorial reflete as diferentes
                  populares que as instituições utilizavam. Uma vezdivisões da sociedade em
                  classes sociais e seg- que o usuário está sendo atendido na instituição,mentos
                  de classes sociais. Assim, trabalhar em ele está acionando um espaço público:
                  quando auma comunidade significa compreendê-la dentro instituição se propõe
                  a ir até a casa do usuário, elade um contexto econômico, social, político e
                  cultu- está adentrando no terreno do privado. A residên-ral de uma sociedade
                  dividida em classes sociais cia é o espaço privado da família que lá vive.
                  Ter– e que ela não está descolada da totalidade da essa dimensão é
                  fundamental para que o Assis-realidade social. tente Social rompa com uma
                  postura autoritária, Trabalhar em projetos comunitários na pers- controladora e
                  fiscalzadora10.pectiva ético-política defendida pelo Serviço Social, Porém, é



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                  de suma importância que o pro-hoje, significa criar estratégias para mobilizar
                  e fissional que realiza a visita tenha competênciaenvolver os membros de uma
                  população situada teórica para saber identificar que as condições
                  dehistoricamente no tempo e no espaço nas decisões moradia não estão
                  descoladas das condições dedas ações que serão desenvolvidas, uma vez que
                  vida de uma comunidade onde a casa se localiza, esão eles o público-alvo do
                  trabalho do Assistente que, por sua vez, não estão separadas do
                  contextoSocial. Assim, trata-se de um processo de mobili- social e histórico.
                  Assim, o profissional conseguezação comunitária. romper uma mera
                  “constatação” da singularidade, Para tal, é necessário que o Assistente Social
                  mas situá-la no campo da universalidade, ou seja,conheça a comunidade, os
                  atores sociais que lá no contexto sócio-econômico vigente.atuam: os agentes
                  políticos, as instituições existen-tes, as organizações (religiosas, comerciais,
                  polí-ticas) e como se constroem as relações de poder 4.1.7 Visita
                  institucionaldentro da comunidade. Mas também é necessá- Assim como a
                  visita domiciliar, aqui se fala derio conhecer quais são as principais demandas
                  e quando o Assistente Social realiza visita a institui-necessidades da
                  comunidade, de modo a proporações que visem ao atendimento das mesmas.
                  10 Uma interessante reflexão sobre o papel histórico que a visita domiciliar
                  cumpriu na história do Serviço Social, bem como o seu ca-4.1.6 Visita
                  domiciliar ráter controlista e autoritário pode ser encontrado em Verdès-
                  Leroux (1986), bem como em Martinelli (2005). Trata-se de um instrumento
                  que tem como128 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008.
                  Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>


                  11. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e
                  intervenção profissionalções de diversas naturezas – entidades públicas, tor
                  que, nessa forma de diálogo, fica à mercêempresas, ONGs etc. da
                  unilateralidade de interpretação” (MAGA- LHÃES: 2003; p. 29). Muitas
                  podem ser as motivações para queo Assistente Social realize uma visita
                  institucional. Enquanto a comunicação direta, como o pró-Enumeramos três
                  delas: prio nome diz, permite uma intervenção direta junto 1. Quando o
                  Assistente Social está trabalhan- ao interlocutor, a comunicação escrita
                  possibilitado em um determinada situação singular, e resolve que outros
                  agentes tenham acesso ao trabalhovisitar uma instituição com a qual o usuário
                  mantém que foi desenvolvido pelo Assistente Social. Sen-alguma espécie de
                  vínculo; do assim, os instrumentos de trabalho por escrito, não raramente,
                  implicam que outros profissionais 2. Quando o Assistente Social quer conhecer
                  e/ou outras instituições desenvolverão ações in-um determinado trabalho
                  desenvolvido por uma terventivas a partir da intervenção do
                  Assistenteinstituição; Social. Por isso a necessidade do texto estar bem 3.
                  Quando o Assistente Social precisa reali- escrito, claro e coerente, para que
                  não haja dúvi-zar uma avaliação da cobertura e da qualidade dos das quanto à



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                  mensagem que o Assistente Socialserviços prestados por uma instituição. quer
                  emitir. Em todos os casos, sobretudo nos 02 últi- Contudo, a utilização dos
                  instrumentos demos, o que se quer fazer é conhecer e avaliar a trabalho por
                  escrito também possui uma funda-qualidade da política social – o que requer
                  do pro- mental importância: é aqui que se torna possívelfissional um intenso
                  conhecimento teórico e técnico ao Assistente Social sistematizar a prática.
                  Todosobre políticas sociais. processo de registro e avaliação de qualquer ação
                  Pode-se perceber, a partir do elencado aci- é um conhecimento prático que se
                  produz, e quema, que os instrumentos de trabalho não são ato- não se perde,
                  garantindo visibilidade e importânciamizados ou estáticos: eles podem
                  co-existir em à atividade desenvolvida. E mais: sistematizar aum mesmo
                  momento. A observação participante prática e arquivá-la, é dar uma história ao
                  Serviçoestá presente em todos os demais; em uma visita Social, uma história
                  ao(s) usuário(s) atendido(s),domiciliar a entrevista pode ser utilizada; no
                  traba- uma história da inserção profissional do Assisten-lho de mobilização
                  comunitária, reuniões podem te Social dentro da instituição – é essencial
                  paraocorrer, além de visitas institucionais, dentre ou- qualquer proposta de
                  construção de um conheci-tras situações. Várias combinações entre eles po-
                  mento sobre a realidade social.dem ser descritas, porque a realidade da
                  prática Assim, podemos identificar alguns instru-profissional é muito mais
                  dinâmica e rica do que mentos de trabalho “por escrito” consagrados
                  naqualquer tentativa de classificação dos instrumen- história da profissão, e
                  que abaixo apresentamostos de trabalho. de forma bastante sucinta.4.2 Os
                  instrumentos de trabalho indiretos ou 4.2.1 Atas de reunião“por escrito” É o
                  registro de todo o processo de uma Sobre os instrumentos de trabalho
                  indiretos, reunião, das discussões realizadas, das opiniõeseles
                  necessariamente são utilizados após a utili- emitidas, e, sobretudo, da decisão
                  tomada – e dazação do instrumental face a face, que é caracte- forma como o
                  grupo chegou a ela (por votação,rizado por uma forma de comunicação mais
                  ativa. por consenso, ou outra forma).É o registro do trabalho direto realizado.
                  Assim, no Geralmente o relator de uma ata de reuniãocaso da interação por
                  escrito, esta é designado para tal. Pode ser um membro do gru- “(...) tende a
                  ser mais passiva. A comunicação po ou um funcionário da instituição.
                  Comumente, que se estabelece entre locutor e interlocutor, as atas de reuniões
                  são lidas ao final da mesma, embora possibilite reações e interpretações, e,
                  após sua aprovação, todos os participantes as- não conta com a presença física
                  do seu au- sinam – com garantia de que a discussão realiza-Emancipação,
                  Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br
                  /emancipacao> 129


                  12. Charles Toniolo de SOUSAda assim como a decisão tomada é de ciência
                  de pelo profissional (relatório de atividades). Dessetodos. modo, os diferentes
                  relatórios sociais são os ins- trumentos privilegiados para a sistematização



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                  da4.2.2 Livros de Registro prática do Assistente Social. Os tipos de relatórios
                  produzidos pelo Assis- O Livro de Registro é um instrumento bas- tente Social
                  são tão iguais à quantidade de possibi-tante utilizado, sobretudo em locais
                  onde circula lidades de realizar diferentes atividades no campoum grande
                  número de profissionais. Trata-se de de trabalho. Assim, qualquer tentativa de
                  classifica-um livro onde são anotadas as atividades realiza- ção dos relatórios
                  é tão-somente uma breve apro-das, telefonemas recebidos, questões pendentes,
                  ximação com essa gama de probabilidades.atendimentos realizados, dentre
                  outras questões,de modo que toda a equipe tenha acesso ao que Não é nosso
                  objetivo aqui descrever deta-está sendo desenvolvido. lhadamente como se
                  produz um relatório. Isso de- pende do objetivo do trabalho, do tipo de
                  atividade desenvolvida etc. Entretanto, retomando a discus-4.2.3 Diário de
                  Campo são de Magalhães (2003), um dado é fundamental Como afirmamos
                  anteriormente, o pro- para qualquer elaboração textual: o destinatáriofissional
                  está em constante transformação, em do texto – o agente interlocutor. É
                  importante sa-constante aprendizagem e aperfeiçoamento. ber para quem se
                  escreve (e, portanto, escreverContudo, ele precisa se reconhecer no trabalho
                  bem). É um outro Assistente Social, um gestor, um– identificar onde residem
                  suas dificuldades, e lo- profissional da área jurídica, um profissional dacalizar
                  os limites e as possibilidades de trabalho. área médica, um Psicólogo, um
                  Administrador11. Ou também o relatório pode ser produzido para o O diário
                  de campo é um instrumento que au- próprio Assistente Social – ou para a
                  própria equipexilia bastante o profissional nesse processo. Trata- de Serviço
                  Social de onde o Assistente Social estáse de anotações livres do profissional,
                  individuais, desenvolvendo trabalho. Nesse sentido, cabe umaem que o mesmo
                  sistematiza suas atividades e breve classificação entre relatórios internos
                  (quesuas reflexões sobre o cotidiano do seu trabalho. serão de uso e manuseio
                  do Assistente Social ouO diário de campo é importante porque o Assisten- da
                  equipe que ele compõe) e relatórios externoste Social, na medida em que vai
                  refletindo sobre (que serão de uso e manuseio de agentes exte-o processo,
                  pode perceber onde houve avanços, riores à equipe).recuos, melhorias na
                  qualidade dos serviços, aper-feiçoamento nas intervenções realizadas – além
                  de Um outro dado também é fundamental nes-ser um instrumento bastante
                  interessante para a sa discussão sobre o relato do trabalho. Não serealização
                  de futuras pesquisas. Ele é de extrema trata de qualquer relatório, e sim, de um
                  relatórioutilidade nos processos de análise institucional, social. Isso repõe o
                  debate sobre a inserção doo que é fundamental para localizar qualquer pro-
                  Serviço Social na divisão do trabalho – um profis-posta de inserção
                  interventiva do Serviço Social. sional que trabalha com as diferentes
                  manifesta- ções, na vida social, da “questão social”. Desse modo, os dados
                  relatados são de natureza social,4.2.4 Relatório Social isto é, as informações
                  que dizem respeito a essas características. Esse instrumento é uma exposição




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                  do tra-balho realizado e das informações adquiridasdurante a execução de
                  determinada atividade. 4.2.5 Parecer SocialSemanticamente falando, é o relato
                  dos dadoscoletados e das intervenções realizadas pelo As- Um parecer social
                  é uma avaliação teórica esistente Social. técnica realizada pelo Assistente
                  Social dos dados O relatório social pode ser referente a qual- 11 E nesse
                  sentido, é de fundamental importância localizar a dimen-quer um dos
                  instrumentos face a face, bem como são ética, regulamentada pelo Código de
                  Ética Profissional do As-pode descrever todas as atividades desenvolvidas
                  sistente Social.130 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008.
                  Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>


                  13. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e
                  intervenção profissionalcoletados. Mais do que uma simples organização
                  análise prospectiva, isto é, apontar que desdobra-de informações sob a forma
                  de relatório, compete mentos determinada situação podem tomar. Comao
                  Assistente Social avaliar essas informações, o rigor teórico necessário,
                  conhecendo profun-emitir uma opinião sobre elas. Uma opinião que damente a
                  realidade social na qual determinadadeve estar fundamentada, com base em
                  uma pers- situação está sendo avaliada, o Assistente Socialpectiva teórica de
                  análise. terá a capacidade de levantar hipóteses sobre possíveis conseqüências
                  da situação. Assim, o Assim, o parecer social é crucial, pois é ele parecer
                  social deve também conter sugestões deque dá ao Assistente Social uma
                  identidade pro- novas ações que precisam ser desenvolvidas juntofissional – a
                  inexistência de um parecer reduz o àquela situação – ações estas que serão
                  desen-relatório a uma simples descrição dos fatos, não volvidas ou pelo
                  próprio Assistente Social, ou porpermitindo nenhuma análise profunda sobre
                  os outros agentes profissionais (daí a necessidade demesmos. Ora, todo o
                  processo de formação profis- se pensar a produção da escrita tendo como
                  pa-sional do Assistente Social, bem como o seu lugar râmetro o destinatário do
                  texto, isto é, para quemna divisão social do trabalho, demanda que esse se
                  escreve).profissional se posicione diante das situações veri-ficadas na
                  realidade social. Isso requer um posicio-namento político claro do Assistente
                  Social – quepossui, no Código de Ética Profissional, os pilares Considerações
                  finaisbásicos para tal posicionamento. Cada um desses instrumentos de
                  trabalho, A emissão de um parecer social pressupõe ou dos espaços e funções
                  que ocupam e desem-a existência de um relatório social (interno ou ex-
                  penham o Assistente Social nos espaços institu-terno). Por razões óbvias: um
                  profissional só pode cionais, poderiam ser objeto, individualmente, deemitir
                  uma opinião sobre um fato que foi dito, no um artigo próprio. Ou até mesmo de
                  um livro, decaso, escrito. Assim, o parecer é a conclusão de um Trabalho de
                  Conclusão de Curso, de uma mo-determinado trabalho – seja de um
                  atendimento nografia, de uma dissertação de Mestrado ou deindividual, seja de
                  um conjunto de instrumentos uma tese de Doutorado. Nosso objetivo, aqui,



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                  foiutilizados durante determinado processo de inter- apresentar, de forma bem
                  sucinta, os principaisvenção12. instrumentos e técnicas de intervenção
                  utilizados Apreender a realidade não é apenas des- pelo Serviço Social no
                  cotidiano de sua prática.crevê-la. É um produzir um conhecimento sobre
                  Contudo, voltamos a afirmar: não é possívela mesma. E é no momento do
                  parecer social que pensar um instrumento de trabalho como se eleesse
                  conhecimento é elaborado a partir da reflexão pudesse ser mais importante do
                  que os objetivosracional do profissional – um conhecimento prático, do
                  Assistente Social. O instrumental é o resultadoque visa compreender a
                  singularidade da situação da capacidade criativa e da compreensão da
                  rea-estudada pelo Assistente Social, à luz da universa- lidade social, para que
                  alguma intervenção possalidade dos fenômenos sociais (descobrindo então ser
                  realizada com o mínimo de eficácia, responsa-a particularidade dos
                  fenômenos) e assim, criar bilidade e competência profissional.alternativas
                  visando sua transformação. Mas é importante ressaltar que, indepen- Mas para
                  além de uma avaliação do pas- dente do instrumento que se utilize, a
                  dimensãosado, o parecer social também deve realizar uma ético-política deve
                  ser constantemente refletida e pensada. A instrumentalidade da nossa
                  profissão,12 A literatura mais recente do Serviço Social tem se debruçado
                  conforme toda a reflexão de Guerra, é a da ma-sobre essa questão, e algumas
                  polêmicas já se colocam. Alguns nutenção e reprodução da ordem burguesa,
                  comautores afirmam que o conjunto relatório/parecer social, constitui vistas ao
                  controle e reprodução dos segmentosum laudo social – o que remete a uma
                  outra polêmica: o AssistenteSocial realiza estudo social ou perícia social?
                  Não entraremos no pertencentes à classe trabalhadora. Se o nossomérito dessa
                  discussão aqui. Somente fazemos tais apontamentos, modus operandi não
                  estiver em plena sintonia comdeixando registrado que, independente das
                  polêmicas, para todos o projeto ético-político que, hoje, defende o Servi-os
                  autores, os momentos do relatório e do parecer social devemexistir em todo
                  processo de sistematização da prática. ço Social, podemos cair nas teias do
                  conservado-Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em
                  <http://www.uepg.br/emancipacao> 131


                  14. Charles Toniolo de SOUSArismo e do tecnicismo, tão presentes na
                  trajetória lho em Lukács. In: Serviço Social & Sociedade. Sãohistórica da
                  nossa profissão. Paulo: Cortez, n.52, 1996. Certamente existem centenas,
                  milhares de LUKÁCS, Georgy. Introdução a uma estética mar-metodologias de
                  ação sendo construídas e utili- xista: sobre a categoria da particularidade. Rio
                  de Ja- neiro: Civilização Brasileira, 1968.zadas por muitos Assistentes
                  Sociais. – no Brasilou em qualquer outro país. Isto porque, conforme
                  MAGALHÃES, Selma Marques. Avaliação e lingua-explicitado, os
                  instrumentos não são estáticos, gem: relatórios, laudos e pareceres. São Paulo:
                  Veras;estanques: eles respondem às necessidades dos Lisboa: CPIHTS,



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                  2003.profissionais a partir de diferentes contextos e re- MARTINELLI, Maria
                  Lúcia. Serviço social: identidadealidades sociais. Cabe a nós, Assistentes
                  Sociais, e alienação. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2005.e sobretudo,
                  pesquisadores, ter a capacidade de ______ & KOUMROUYAN, Elza. Um
                  novo olhar para aconhecer essa pluralidade de práticas – e isso só questão dos
                  instrumentais técnicos operativos em Ser-será possível quando todos nós
                  entendermos a viço Social. In. Revista Serviço Social &
                  Sociedade.necessidade e a importância da sistematização São Paulo: Cortez, n.
                  45, 1994.de nossas práticas – porque é através disso que NESC/UFRJ. O
                  facilitador. Rio de Janeiro: NESC/podemos sempre reconstruir a história da
                  nossa UFRJ/FIOCRUZ, s/d. (Manual)profissão em nosso país e aperfeiçoar
                  seus modosde intervenção social. NETTO, José Paulo. Razão, ontologia e
                  práxis. In: Re- vista Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cor- tez, n. 44,
                  1994. ______. Transformações societárias e Serviço Social.Referências In.
                  Revista Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 50,
                  1996.CARVALHO, Raul de & IAMAMOTO, Marilda. Rela-ções sociais e
                  serviço social no Brasil: esboço de ______. Ditadura e serviço social: uma
                  análise douma interpretação histórico-metodológica. 17. ed. São Serviço
                  Social no Brasil pós-64. 7. ed. São Paulo, Cor-Paulo: Cortez, 2005. tez,
                  2004.CFESS. Em questão: atribuições privativas do assis- ______.
                  Capitalismo monopolista e serviço social.tente social. Brasília, Distrito
                  Federal: CFESS, 2002. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005.CRUZ NETO, Otávio.
                  O trabalho de campo como des- PONTES, Reinaldo. Mediação e serviço
                  social. 3.coberta e criação. In MINAYO, Maria Cecília de Souza ed. São
                  Paulo, Cortez, 2002.(org). Pesquisa Social: teoria, método e criativida- SILVA,
                  Jurema Alves Pereira da. O papel da entrevis-de. 23. ed. Petrópolis, Rio de
                  Janeiro: Editora Vozes, ta na prática do serviço social. In: Em Pauta. Rio
                  de2004. Janeiro: Faculdade de Serviço Social da UERJ, n. 6,GUERRA,
                  Yolanda. Instrumentalidade do processo de 1995.trabalho e serviço social. In
                  Serviço Social & Socie- SOUZA, Maria Luíza de. Desenvolvimento de
                  co-dade. São Paulo: Cortez, n. 62, 2000. munidade e participação. 8. ed. São
                  Paulo: Editora______. A instrumentalidade do serviço social. 3. Cortez,
                  2004.ed. São Paulo: Cortez, 2002. VERDÈS-LEROUX, Jeannine. Trabalhador
                  social:______. A propósito da instrumentalidade do Serviço prática, habitus,
                  ethos, formas de intervenção. SãoSocial. In. Debates Sociais. Rio de Janeiro:
                  n. 63 e 64, Paulo: Cortez, 1986.CBCISS & ICSW, 2004.IAMAMOTO, Marilda
                  Vilela. Renovação e conserva-dorismo no serviço social: ensaios críticos. 3.
                  ed.São Paulo, Cortez, 1995.______. O Serviço social na
                  contemporaneidade:trabalho e formação profissional. 7. ed. São Paulo:Cortez,
                  2004.LESSA, Sérgio. A centralidade ontológica do traba-132 Emancipação,
                  Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br
                  /emancipacao>




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Prática do assistente social

  • 1. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... SlideShare Upload Browse Go Pro 00 Upload presentations, documents and PDF files Upload your content, share with your friends on LinkedIn, Twitter & Facebook. I'm not ready yet Anúncios Google ► Assistente social ► Projeto social ► Serviço social ► Educacao social Related More Like Like Like Like 1 de 36 26/03/2013 11:02
  • 2. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... Like Like Like ‹› /14 prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade Like e intervenção profissional by José Araujo on Oct 31, 2011 15,263 views prática do assistente social: conhecimento, Like More… No comments yet Andre Carvalho Rezende Like Subscribe to Like comments Like prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional Document Transcript 1. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e Like intervenção profissional* The social worker practice: knowledge, instrumental- ity and professional intervention Charles Toniolo de SOUSA** Resumo: Este artigo tem por finalidade apresentar uma reflexão sobre a prática pro- fissional do Assistente Social, reconhecendo suas dimensões, com o Like objetivo de situar a instrumentalidade do Serviço Social bem como seu arsenal técnico-operativo. Em seguida, serão apresentados, de forma sucinta, alguns 2 de 36 26/03/2013 11:02
  • 3. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... dos principais instrumentos de trabalho utilizados pelos Assistentes Sociais no Like exercício da prática profissional, bem como algumas considerações finais. Palavras-chave: Serviço Social, Instrumentalidade, Instrumentos de trabalho do As- sistente Social. Abstract: This article has in view to introduce a reflection about the Social Worker professional practice, recognizing Like dimensions, in order to situate the Social Work ins- trumentality and the technical-operation that the professionals use. After, will be intro- duced, succinctly, some principal tools used for the Social Workers in their professional practice, and also some final considerations. Keywords: Social Like Work, Instrumentality, Social Workers tools. Recebido em: 07/04/2008. Aceito em: 30/04/2008.∗ Este texto é fruto das reflexões e estudos realizados a partir das diferentes experiências adquiridas durante a vida profissional, e, sobretudo,da experiência com a disciplina de Técnicas de Intervenção Social, Like ministrada para as turmas do curso de Serviço Social da Universidade doGrande Rio. A produção deste artigo teve como objetivo nortear a Semana do Curso de Serviço Social da UNIGRANRIO, realizada em setem-bro de 2006, a fim de orientar estudantes do 1º ao 8º períodos letivos, culminando em Like atividade de avaliação conceitual requerida à totalidadedos alunos do curso.∗∗ Assistente Social do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Mestrando em Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiroe Professor da Escola de Serviço Social da Universidade do Grande Rio. Like Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 2. Charles Toniolo de SOUSA Na trajetória histórica do Serviço Social, po- Like instrumentalidade. Porém, não é possível falar se-demos identificar várias correntes que discutem riamente sobre a questão se não situamos o debatea questão da sua instrumentalidade, que trazem em alguns de seus fundamentos científicos maisconsigo um corpo conceitual específico que dá a elementares – Like caso contrário, caímos nas “teias”esse tema um determinado significado. Entende- do senso comum.mos por instrumentalidade a concepção desen- Ora, o debate sobre a instrumentalidade dovolvida por Guerra (2000) que, a partir de uma Serviço Social percorre a história da profissão emleitura lukacsiana da Like obra de Marx, constrói o de- razão da própria natureza desta: o Serviço Socialbate sobre a instrumentalidade do Serviço Social, se constitui como profissão no momento históricocompreendendo-a em três níveis: no que diz res- em que os setores dominantes da sociedade (Es-peito à sua funcionalidade Like ao projeto reformista tado e empresariado) começam a intervir, de for-da burguesia; no que se refere à sua peculiarida- ma contínua e sistemática, nas conseqüências dade operatória (aspecto instrumental-operativo); e “questão social”, através, sobretudo, das chama-como uma mediação que permite a Like passagem das das políticas sociais. Segundo Carvalho & Iama-análises universais às singularidades da interven- moto (2005), o Serviço Social é 3 de 36 26/03/2013 11:02
  • 4. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... requisitado pelasção profissional. complexas estruturas do Estado e das empresas, Desde o período em que o Serviço Social de modo a promover o Like controle e a reproduçãoainda fundava sua base de legitimidade na esfera (material e ideológica) das classes subalternas, emreligiosa, passando pela sua profissionalização e um momento histórico em que os conflitos entreos momentos históricos que a constituíram, a di- as classes sociais se Like intensificam, gerando diver-mensão técnica-instrumental sempre teve um lugar sos “problemas sociais” que tendem pôr a ordemde destaque, seja do ponto de vista do afirmar de- capitalista em xeque (Netto, 2005).liberadamente a necessidade de consolidação de Torna-se mister situar essa questão, poisum Like instrumental técnico-operativo “específico” do ela revela um dado que é crucial para o debateServiço Social (falamos aqui em especial da tradi- sobre a instrumentalidade: o Serviço Social surgeção norte-americana, que teve forte influência so- na história como uma profissão fundamentalmentebre o Serviço Like Social brasileiro, sobretudo entre os interventiva, isto é, que visa produzir mudanças noanos 40 e 60), seja no sentido de afirmar o Serviço cotidiano da vida social das populações atendidasSocial como um conjunto de técnicas e instrumen- – os usuários do Serviço Social. Assim, a dimensãotais – em outras Like palavras, uma tecnologia social1. prática (técnico-operativa) tende a ser objeto privi-Em outros momentos, no sentido de atribuir à ins- legiado de estudos no âmbito da profissão.trumentalidade do Serviço Social um estatuto desubalternidade diante das demais dimensões que Mais ainda: no momento de Like sua emergên-compõem a dimensão histórica da profissão2. cia, o Serviço Social atua nas políticas sociais com funções meramente executivas, também chama- Esse debate é apenas introdutório para loca- das de funções terminais. A concepção e o pla-lizarmos as razões que fazem da instrumentalidade Like nejamento das políticas sociais ficavam ao cargodo Serviço Social uma questão tão importante à de outras categorias profissionais e dos agentesprofissão, digna de um real aprofundamento teó- governamentais – ao Serviço Social cabia apenasrico. Não nos caberá neste artigo aprofundar, do Like executá-las, na relação direta com os “indivíduos,ponto de vista teórico- filosófico, o debate sobre a grupos e comunidades” que de algum modo eram atendidos pelos serviços sociais públicos. Temos aqui a clássica separação entre trabalho intelec-1 Essa visão pode ser identificada como uma Like componente da cor- tual (quem pensa as políticas sociais) e trabalhorente denominada por Netto (2004) de “modernização conservado- manual (quem executa as políticas sociais)3. Nestara”, hegemônica no cenário profissional brasileiro durante o períododa ditadura militar e do movimento de renovação Like do Serviço Socialno Brasil.2 Novamente nos reportamos ao chamado Movimento de Recon- 3 Guerra (2004), ao pensar o Serviço Social como uma profissãoceituação do Serviço Social, em que algumas correntes tentavam inscrita na divisão social do trabalho, apropria-se do debate marxia-atribuir ao Like 4 de 36 26/03/2013 11:02
  • 5. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... Serviço Social o status de Ciência, questionando sua di- no sobre a divisão entre trabalho manual e intelectual para pensar amensão interventiva. profissão.120 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível Like em <http://www.uepg.br/emancipacao> 3. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissionalanalogia, ao Assistente Social caberia a tarefa do atuaram nesse movimento4, a principal motivação“trabalho manual”. era dar Like ao Serviço Social um estatuto científico. E mais propriamente, no âmbito da corrente que O Movimento de Reconceituação do Servi- Netto (2004) denominou de “Intenção de Ruptu-ço Social, com toda a diversidade que lhe foi pró- ra” (que para ele significa o rompimento com asprio, criticou Like duramente essa divisão, e propor- visões conservadoras da profissão), foi levantadacionou um aprofundamento teórico-metodológico a necessidade de que a profissão se debruçasse(principalmente a partir do diálogo com a tradição sobre a produção de um conhecimento crítico damarxista e, sobretudo, Like com a obra marxiana) que realidade social, para que o próprio Serviço So-possibilitou à profissão romper com esse caráter cial pudesse construir os objetivos e (re)construirmeramente executivo e conquistar novas funções objetos de sua intervenção, bem como respondere atribuições no mercado de trabalho, sobretudo às demandas sociais colocadas pelo mercado dedo ponto de vista do planejamento e administra- trabalho e pela realidade. Assim, pôde o Serviçoção das políticas sociais. Assim, essa dicotomia Social aprofundar o diálogo crítico e construtivofoi superada no âmbito profissional, e tal conquis- com diversos ramos das chamadas Ciências Hu-ta encontra-se expressa no Art. 4º, Inciso II da Lei manas e Sociais (Economia, Sociologia, Ciênciade Regulamentação da Profissão (Lei nº 8662 de Política, Antropologia, Psicologia).07/06/1993): A partir de então, entramos no período em Art.4º.São competências do Assistente Social: que os autores contemporâneos da profissão cha- II. elaborar, coordenar, executar e avaliar pla- mam de “maturidade acadêmica e profissional do nos, programas e projetos que sejam do âmbito Serviço Social” (Netto, 1996), que procurou defi- de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil (CFESS: 2002; p. 17). nir novos requisitos para o status de competência profissional. Iamamoto (2004), após realizar uma análise dos desafios colocados ao Serviço Social Ambas as dimensões previstas no inciso ci- nos dias atuais, apontou 03 dimensões que devemtado – elaboração, coordenação e execução – e ser do domínio do Assistente Social:que são uma realidade do mercado de trabalhodo Assistente Social na atualidade, requerem o • Competência ético-política – o Assistentedomínio de um instrumental técnico-operativo que Social não é um profissional “neutro”. Sua práticapossibilite a viabilização da intervenção a que o se realiza no marco das relações de poder e deAssistente Social foi designado (ou se designou) forças sociais da sociedade capitalista – relaçõesa 5 de 36 26/03/2013 11:02
  • 6. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... realizar. Porém, ele não é o suficiente para ga- essas que são contraditórias. Assim, é fundamen-rantir o objetivo final da intervenção profissional, tal que o profissional tenha um posicionamentoconforme veremos a seguir. político frente às questões que aparecem na rea- lidade social, para que possa ter clareza de qual1 As competências do Serviço Social na con- é a direção social da sua prática. Isso implica emtemporaneidade: política, ética, investigação e assumir valores ético-morais que sustentam a suaintervenção prática – valores esses que estão expressos no Có- digo de Ética Profissional dos Assistentes Sociais Se no momento da origem do Serviço Social (Resolução CFAS nº 273/93)5, e que assumemcomo uma profissão inscrita na divisão do traba- claramente uma postura profissional de articularlho, era apenas a sua dimensão técnica que lhegarantia os estatutos de eficácia e competênciaprofissional (isto é, era a forma e os resultados 4 Uma sintética análise desse movimento tão plural e complexo seimediatos de sua ação que lhe garantiam legitimi- encontra em Netto (2004).dade e reconhecimento da sociedade), o Movimen- 5 O Código de Ética profissional vigente defende o reconhecimentoto de Reconceituação buscou superar essa visão e a defesa de 11 princípios fundamentais. São eles: liberdade, di- reitos humanos, cidadania, democracia, eqüidade e justiça social,unilateral. No universo das diversas correntes que combate ao preconceito, pluralismo, construção de uma nova ordem social (sem dominação-exploração), articulação com movimentos de trabalhadores, qualidade dos serviços prestados e combate a toda espécie de discriminação.Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 121 4. Charles Toniolo de SOUSAsua intervenção aos interesses dos setores majo- dores do projeto profissional. Ora, para isso éritários da sociedade; necessário um cuidadoso conhecimento das situações ou fenômenos sociais que são objeto • Competência teórico-metodológica – o pro- de trabalho do assistente social (IAMAMOTO:fissional deve ser qualificado para conhecer a re- 2004; p. 56).alidade social, política, econômica e cultural coma qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um Pensar sob esse ponto de vista significaintenso rigor teórico e metodológico, que lhe per- colocar o Serviço Social em um lugar de desta-mita enxergar a dinâmica da sociedade para além que, tanto no plano da produção do conhecimen-dos fenômenos aparentes, buscando apreender to científico (rompendo com o discurso do sensosua essência, seu movimento e as possibilidades comum) como no âmbito das instituições públicasde construção de novas possibilidades profissio- e privadas que, de algum modo, atuam sobre anais; “questão social”. • Competência técnico-operativa – o profis- O Assistente Social ocupa um lugar privile-sional deve conhecer, se apropriar, e sobretudo, giado no mercado de trabalho: na medida em quecriar um conjunto de habilidades técnicas que ele atua diretamente no cotidiano das classes epermitam ao mesmo desenvolver as ações profis- grupos sociais menos 6 de 36 26/03/2013 11:02
  • 7. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... favorecidos, ele tem a realsionais junto à população usuária e às instituições possibilidade de produzir um conhecimento sobrecontratantes (Estado, empresas, Organizações essa mesma realidade. E esse conhecimento é,Não- governamentais, fundações, autarquias etc.), sem dúvida, o seu principal instrumento de traba-garantindo assim uma inserção qualificada no mer- lho, pois lhe permite ter a real dimensão das diver-cado de trabalho, que responda às demandas co- sas possibilidades de intervenção profissional.locadas tanto pelos empregadores, quanto pelosobjetivos estabelecidos pelos profissionais e pela Assim, o processo de qualificação continua-dinâmica da realidade social. da é fundamental para a sobrevivência no merca- do de trabalho. Estudar, pesquisar, debater temas, Essas três dimensões de competências reler livros e textos não podem ser atividades de-nunca podem ser desenvolvidas separadamen- senvolvidas apenas no período da graduação oute – caso contrário, cairemos nas armadilhas da nos “muros” da universidade e suas salas de aula.fragmentação e da despolitização, tão presentes Se no cotidiano da prática profissional o Assistenteno passado histórico do Serviço Social (Carvalho Social não se atualiza, não questiona as demandas& Iamamoto, 2005). institucionais, não acompanha o movimento e as Contudo, articular essas três dimensões co- mudanças da realidade social, estará certamenteloca um desafio fundamental, e que vem sendo fadado ao fracasso e a uma reprodução mecânicaum tema de grande debate entre profissionais e de atividades, tornando-se um burocrata, e, semestudantes de Serviço Social: a necessidade da dúvidas, não promovendo mudanças significati-articulação entre teoria e prática. Investigação e vas seja no cotidiano da população usuária ou naintervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica não própria inserção do Serviço Social no mercado dedevem ser encaradas como dimensões separadas trabalho.– pois isso pode gerar uma inserção desqualificadado Assistente Social no mercado de trabalho, bemcomo ferir os princípios éticos fundamentais que 2 Teoria e prática, método e metodologiasnorteiam a ação profissional: O que se reivindica, hoje, é que a pesquisa se Estudar a realidade social nunca foi tarefa afirme como uma dimensão integrante do exer- fácil. cício profissional, visto ser uma condição para Desde a Antigüidade, filósofos, cientistas e se formular respostas capazes de impulsionar pensadores, de um modo geral, se debruçam so- a formulação de propostas profissionais que bre as diferentes formas de organização social, tenham efetividade e permitam atribuir mate- de modo a conhecê-las. Mas, para além disso, o rialidade aos princípios ético-políticos nortea- conhecimento é uma poderosa arma para quem122 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br /emancipacao> 5. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissionalo detém, pois é ele que fornece as bases para social 7 de 36 26/03/2013 11:02
  • 8. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... (isto é, ele se explica em si mesmo), estare-qualquer proposta de mudança ou transformação mos adotando uma determinada postura políticadessa mesma realidade. Se atuar no e sobre o e teórica, e utilizando uma determinada forma decotidiano das populações menos favorecidas é conhecer a realidade. Porém, essa forma tende aum componente fundamental do Serviço Social, é empobrecer esse conhecimento, pois consideracom vistas a transformações nesse cotidiano que os indivíduos como seres atomizados, e não comoa prática profissional deve se dirigir. seres sociais. Contudo, o cotidiano cria armadilhas às quais Todavia, o que se propõe hoje no âmbito doo Assistente Social deve estar atento. O profissio- Serviço Social é justamente a produção de um co-nal trabalha com situações singulares, isto é, situ- nhecimento que rompa com a mera aparência eações que, a princípio, podem parecer exclusivas busque apreender o que está “por trás” dela, suadaquele(s) sujeito(s) que está(ão) sendo o alvo da essência. Para isso, é fundamental que o profissio-intervenção do Assistente Social. E nesse sentido, nal sempre mantenha uma postura crítica, questio-ele (o Assistente Social) até pode produzir um co- nadora, não se contentando com o que aparece anhecimento prático dessa situação imediata que ele imediatamente.aparece no dia a dia do seu trabalho. Mas nem De posse desse conhecimento, o profissionaltudo que aparece é o que realmente é. pode planejar a sua ação com muito mais proprie- Os seres humanos são seres essencialmen- dade, visando à mudança dessa mesma realidade.te sociais, ou seja, vivem em uma determinada Assim, no momento da execução da ação profissio-sociedade. E essa sociedade é uma totalidade. nal, o Assistente Social constrói suas metodologiasNenhuma situação pode ser considerada apenas de ação, utilizando-se de instrumentos e técnicasem sua singularidade, pois senão corre-se o sério de intervenção social.risco de se perder de vista a dimensão social da A diferença entre método de investigação evida humana. Portanto, qualquer situação que che- metodologias de ação põe uma reflexão fundamen-ga ao Serviço Social deve ser analisada a partir de tal para quem se propõe a construir uma práticaduas dimensões: a da singularidade e a da univer- profissional competente e qualificada: são os ob-salidade. Para tal, é necessário que o Assistente jetivos profissionais que definem que instrumentosSocial tenha um conhecimento teórico profundo e técnicas serão utilizados – e não o contrário. Esobre as relações sociais fundamentais de uma esses objetivos, planejados e construídos no planodeterminada sociedade (universalidade), e como político e intelectual, só podem ser expressos se oelas se organizam naquele determinado momento Assistente Social conhece a realidade social sobrehistórico, para que possa superar essas “armadi- a qual sua ação vai se desenvolver7. Ou, como dizlhas” que o senso comum do cotidiano prega – e Guerra (2002):que muitas vezes mascaram as reais causas edeterminações dos fenômenos sociais. É na rela- Se é correto que o valor do trabalho do As-ção 8 de 36 26/03/2013 11:02
  • 9. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... entre a universalidade e a singularidade que sistente Social reside na sua utilidade social,se torna possível apreender as particularidades de que é medida em termos de respostas con-uma determinada situação. cretas que venham produzir uma alteração imediata na realidade empírica (...), o seu O que acabamos de afirmar nada mais é do resultado final, o produto do seu trabalhoque chamamos de método de investigação – e mais passa a ser o fator determinante da for-especificamente, de método dialético6. Existem vá- ma de realizá-lo (GUERRA: 2002; p. 157).rias formas de se pesquisar a realidade. Se acredi-tamos que os fenômenos sociais são fragmentadose ocorrem sem nenhuma relação com a totalidade 7 Guerra (2002) e Netto (1994) definem esse processo como a6 Uma recomendável leitura sobre o método dialético na literatu- relação entre causalidade (descobrir as causas de determinado fe-ra do Serviço Social, incluindo a relação singularidade/universali- nômeno), teleologia (capacidade racional e da consciência humanadade/particularidade é encontrada em Pontes (2002), aproprian- de antever/planejar o produto final da sua ação) e práxis (a capaci-do-se do debate metodológico desenvolvido por Lucáks (1968). dade do ser humano intervir na realidade a fim de transformá-la).Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 123 6. Charles Toniolo de SOUSA É apenas a partir dessa reflexão que se faz do determinado instrumento. Sua prática se tor-possível discutir a instrumentalidade do Serviço na mecânica, repetitiva, burocrática. Mais do queSocial. meramente aplicar técnicas “prontas” – como se fossem “receitas de bolo”, o diferencial de um profissional é saber adaptar um determinado ins- trumento às necessidades que precisa responder3 A instrumentalidade do Serviço Social no seu cotidiano. E como a realidade é dinâmica, Expressar os objetivos que se quer alcan- faz-se necessário compreender quais mudançasçar não significa que eles necessariamente serão são essas para que o instrumental utilizado seja oalcançados. Nunca podemos perder de vista que mais eficaz possível, e, de fato, possa produzir asqualquer ação humana está condicionada ao mo- mudanças desejadas pelo Assistente Social – oumento histórico em que ela é desenvolvida. A rea- chegar o mais próximo possível.lidade social é complexa, heterogênea e os impac- Ora, isso pressupõe que, mais do que copiartos de qualquer intervenção dependem de fatores e seguir manuais de instruções, o que se colocaque são externos a quem quer que seja – inclusive para o Assistente Social hoje é sua capacidadeao Serviço Social. Como analisa Iamamoto (1995), criativa, o que inclui o potencial de utilizar instru- reconhecer as possibilidades e limitações históri- mentos consagrados da profissão, mas também decas, dadas pela própria realidade social, é funda- criar outros tantos que possam produzir mudançasmental para que o Serviço Social não adote, por na realidade social, tanto em curto quanto em mé-um lado, uma postura fatalista (ou seja, acreditar dio e longo prazos.que a 9 de 36 26/03/2013 11:02
  • 10. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... realidade já está dada e não pode ser mu- Isso é primordial para que possamos de-dada), ou por outro lado, uma postura messiânica sempenhar com competência as atribuições que(achar que o Serviço Social é o “messias”, que é foram definidas para o Assistente Social na Lei dea profissão que vai transformar todas as relações Regulamentação Profissional – e que foi citado nasociais). É importante ter essa compreensão para Introdução desse texto. Vejamos: se o Serviço So-localizarmos o lugar ocupado pelos instrumentos cial, em sua trajetória histórica, não tivesse criadode trabalho utilizados pelo Assistente Social em novos instrumentos e novas técnicas de interven-sua prática. ção, teria conseguido sair da condição de mero Se são os objetivos profissionais (construí- executor das políticas sociais e hoje desempenhardos a partir de uma reflexão teórica, ética e política funções de elaboração, planejamento e gerênciae um método de investigação) que definem os ins- das mesmas? Certamente não.trumentos e técnicas de intervenção (as metodolo- Assim, pensar a instrumentalidade do Servi-gias de ação), conclui-se que essas metodologias ço Social é pensar para além da “especificidade”não estão prontas e acabadas. Elas são necessá- da profissão: é pensar que são infinitas as possi-rias em qualquer processo racional de intervenção, bilidades de intervenção profissional, e que issomas elas são construídas a partir das finalidades requer, nas palavras de Iamamoto (2004), “tomarestabelecidas no planejamento da ação realizado um banho de realidade”. Guerra (2004) resume, empelo Assistente Social. Primeiro, ele define “para poucas palavras, o sentido dessa reflexão:quê fazer”, para depois se definir “como fazer”.Mais uma vez, podemos aqui identificar a estreita A clara definição do ‘Para quê’ da profissão,relação entre as competências teórico-metodoló- possível desde que iluminada por uma raciona-gica, ético-política e técnico-operativa. lidade (como forma de ser e pensar) que seja dialética e crítica, conectada à capacidade de Em outras palavras, os instrumentos e téc- responder eficazmente às demandas sociais,nicas de intervenção não podem ser mais impor- se constituirão na condição necessária, talveztantes que os objetivos da ação profissional. Se não suficiente, à manutenção da profissão.partirmos do pressuposto que cabe ao profissio- Aqui se coloca a necessidade de dominar umnal apenas ter habilidade técnica de manusear repertório de técnicas, legada do desenvolvi-um instrumento de trabalho, o Assistente Social mento das ciências sociais, fruto das pesqui-perderá a dimensão do porquê ele está utilizan- sas e do avanço tecnológico e patrimônio das124 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br /emancipacao> 7. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional profissões sociais (e não exclusividade de uma Considera-se que a linguagem é o instrumen- categoria profissional), mas também um con- to número um de todos os profissionais, pois ela junto de 10 de 36 26/03/2013 11:02
  • 11. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... estratégias e táticas desenvolvidas, possibilita a comunicação entre estes e aqueles criadas e recriadas no processo histórico, no com quem interagem. Ou, como afirma Iamamoto, movimento da realidade (GUERRA: 2004; p. no nosso caso: “o Serviço Social, como uma das 115-6). formas institucionalizadas de atuação nas relações entre os homens no cotidiano da vida social, tem como recurso básico de trabalho a linguagem” (IA- MAMOTO: 1995; p. 101). E é a partir das formas de4 Instrumentalidade e linguagem(ns) comunicação que se estabelecem no espaço das instituições onde trabalha o Assistente Social que É sabido que o estudo sobre linguagem é este profissional poderá construir e utilizar instru-bastante amplo no âmbito das Ciências Sociais. mentos e técnicas de intervenção social.Contudo, esse ainda é um tema pouco exploradona literatura do Serviço Social – clássica ou con- Segundo Martinelli & Koumrouyan (1994),temporânea8. A título de referência, usaremos aqui define-se por instrumental o conjunto articuladoos conceitos trabalhados por Magalhães (2003). de instrumentos e técnicas que permitem a ope-Para ela, segundo os lingüistas, racionalização da ação profissional. Nessa idéia, o instrumento é estratégia ou tática por meio da O homem se comunica através de signos, e qual se realiza a ação; a técnica é a habilidade no estes são organizados através de códigos e uso do instrumento. linguagens. Pelo processo socializador, ele de- senvolve e amplia suas aptidões de comunica- O uso do instrumental pressupõe interações ção, utilizando os modos e usos de fala que es- de comunicação, isto é, do uso de linguagens por tão configurados no contexto sociocultural dos parte do Assistente Social. Se a linguagem é um diferentes grupos sociais dos quais faz parte meio através do qual um determinado grupo social (MAGALHÃES: 2003; p. 22). cria uma identidade social, não será diferente para uma profissão que tem a linguagem como o prin- Assim, os seres humanos dão significados às cipal recurso de trabalho. O que queremos dizer écategorias que existem na realidade (ontológicas) que o Assistente Social diz quem ele é, seja paraatravés de códigos-palavras. Portanto, uma palavra a população atendida ou para quem com que esta-só tem significado se compreendida no contexto belecer alguma relação, a partir das formas de co-social e político no qual ela é utilizada. municação e de interação que ele estabelece com Indo mais além, a autora afirma que as lin- esses sujeitos. Assim, a definição do instrumental aguagens construídas são produtos do processo de ser utilizado na intervenção profissional deve sem-socialização dos seres humanos, o que remete a pre levar em consideração o agente receptor dauma concepção social das diferentes linguagens mensagem, ou seja, o destinatário da mesma.existentes em uma mesma sociedade: elas (as lin- Assim, para além da linguagem que é própriaguagens) indicam modos de ser e de viver de clas- da matéria de Serviço Social, isto é, aquela que éses e grupos sociais diferentes entre si. Em outras utilizada quando a “questão social” está sendo re-palavras, a linguagem 11 de 36 26/03/2013 11:02
  • 12. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... possibilita a construção da fletida e trabalhada, nunca nos esqueçamos que oidentidade de um determinado grupo social. Assistente Social é um profissional de nível supe- rior. Com tal grau de escolaridade, “é de esperar que sigam a norma culta da língua [portuguesa]8 Algumas iniciativas estão sendo tomadas no sentido de levantar e não adentrem seus escritos [e falas] para umaesse debate. A título de exemplo, o Conselho Regional de Servi- linguagem coloquial ou do senso comum” (MAGA-ço Social (CRESS) do Rio de Janeiro realizou, no mês de julho de LHÃES: 2003; p. 32). Nesse sentido, é primordial2006, um evento com o título “Comunicação e Serviço Social”, o queindica uma preocupação da categoria em aprofundar a discussão que o Assistente social saiba falar e escrever cor-sobre a temática. Entretanto, é de nosso conhecimento que o debate retamente, bem como comunicar-se articulada-sobre o tema é extremamente complexo, pois coloca no centro dapolêmica a própria condição do ser social. Sobre esse debate, ver mente. Isto é criar uma identidade social de umLessa (1996). profissional competente, que articula teoria e prá-Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 125 8. Charles Toniolo de SOUSAtica, e que detém uma forma coerente de pensar Na definição clássica, a observação é o usoe de expressar o pensamento. dos sentidos humanos (visão, audição, tato, olfa- to e paladar) para o conhecimento da realidade. Definido isto, podemos identificar duas ca- Mas não um uso ingênuo dos sentidos, e sim, umtegorias de linguagens comumente utilizadas pelo uso que tem como objetivo produzir um conheci-Serviço Social: a linguagem oral ou direta e a lin- mento sobre a realidade – tem-se um objetivo aguagem escrita ou indireta, e com elas, estabelecer alcançar.as interações. Desse modo, podemos classificaros instrumentos de trabalho como instrumentos Porém, o Assistente Social, ao estabelecerdiretos (ou “face a face”) e instrumentos indiretos uma interação face a face, estabelece uma rela-(ou “por escrito”). ção social com outro(s) ser(es) humano(s), que possui(em) expectativas quanto às intervenções Não é possível aqui esgotar todas as possibi- que serão realizadas pelo profissional. Assim,lidades de utilização dos instrumentos de trabalho, além de observador, o profissional também é ob-pois cada um deles possui características muito servado.peculiares. O que será aqui desenvolvido é umabreve apresentação dos principais instrumentos E ainda: na medida em que o Assistente So-utilizados pelo Serviço Social no cotidiano de sua cial realiza intervenções, ele participa diretamenteprática9 – e nunca perdendo de vista que se trata do processo de conhecimento acerca da realidadede alguns instrumentos, uma vez que a definição que está sendo investigada. Por isso, não se tratados mesmos depende do objetivo estabelecido de uma observação fria, ou como querem alguns,pelo profissional. “neutra”, em que o profissional pensa estar em uma posição de não-envolvimento com a situa-4.1 Os 12 de 36 26/03/2013 11:02
  • 13. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... instrumentos de trabalho diretos ou ção. Por isso, trata-se de uma observação partici-“face a face” pante – o profissional, além de observar, interage com o outro, e participa ativamente do processo Sobre a interação face a face, esta de observação. (...) permite que a enunciação de um discurso se expresse não só pela palavra, mas também 4.1.2 Entrevista individual e grupal pelo olhar, pela linguagem gestual, pela ento- nação, que vão contextualizar e, possivelmen- A entrevista nada mais é do que um diálogo, te, identificar subjetividades de uma forma mais um processo de comunicação direta entre o Assis- evidenciada. Sob esse enfoque, pode-se dizer tente Social e um usuário (entrevista individual), ou que o discurso direto expressa uma interação mais de um (entrevista grupal). Contudo, o que di- dinâmica (MAGALHÃES: 2003; p. 29). ferencia a entrevista de um diálogo comum é o fato de existir um entrevistador e um entrevistado, isto Assim, podemos identificar alguns instru- é, o Assistente Social ocupa um papel diferente –mentos de trabalho “face a face” consagrados na e, sob determinado ponto de vista, desigual – dohistória da profissão, e que abaixo apresentamos papel do usuário.de forma bastante sucinta: O papel do profissional entrevistador é dado pela instituição que o contrata – no momento da4.1.1 Observação participante interação com o usuário, o Assistente Social fala em nome da instituição. Ambos os sujeitos (Assis- Observar é muito mais do que ver ou olhar. tente Social e usuário) possuem objetivos com aObservar é estar atento, é direcionar o olhar, é sa- realização da entrevista – objetivos esses necessa-ber para onde se olha (Cruz Neto, 2004). riamente diferentes. Mas o papel de entrevistador que cabe ao Assistente Social coloca-lhe a tarefa9 Cabe ressaltar que não se trata de instrumentos de uso exclusivo de conduzir o diálogo, de direcionar para os obje-do Assistente Social – é o objetivo do trabalho, suas atribuições e tivos que se pretendem alcançar.competências que definem a forma como o Assistente Social deveráutilizá-los, a saber, a intervenção sobre as diferentes expressões da“questão social”, nas interações entre universalidade e singularidades.126 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 9. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional Nem sempre é possível conciliar os objetivos profissionais – no caso, a dinâmica de grupo devedo usuário e os do Assistente Social (e alcançar estar em consonância com as finalidades estabe-essa conciliação não é uma regra). Entretanto, lecidas pelo profissional.estabelece-se uma relação de poder entre esses Sucintamente, a dinâmica de grupo é umadois sujeitos – relação essa em que o Assistente técnica que utiliza jogos, brincadeiras, simulaçõesSocial aparece em uma posição hierarquicamen- de determinadas situações, com vistas a permitirte superior. Mas se defendemos a democracia e que os membros do grupo produzam uma reflexãoo respeito à diversidade como valores éticos fun- 13 de 36 26/03/2013 11:02
  • 14. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... acerca de uma temática definida. No caso do Ser-damentais da nossa profissão, o momento da en- viço Social, uma temática que tenha relação com otrevista é um espaço que o usuário pode exprimir objeto de sua intervenção – as diferentes expres-suas idéias, vontades, necessidades, ou seja, que sões da “questão social”. Para tanto, o Assistenteele possa ser ouvido (em tempo: ser ouvido não é Social age como um facilitador, um agente queconcordar com tudo o que usuário diz). Estabele- provoca situações que levem à reflexão do grupo.cer essa relação é fundamental, pois se o usuário Isso requer tanto habilidades teóricas (a escolha donão é respeitado nesse direito básico, não apenas tema e como ele será trabalhado), como uma pos-estaremos desrespeitando-o, como prejudicando tura política democrática (que deixa o grupo produ-o próprio processo de construção de um conheci- zir), mas também uma necessidade de controle domento sólido sobre a realidade social que ele está processo de dinâmica – caso contrário, a dinâmicatrazendo, comprometendo toda a intervenção. vira uma “brincadeira” e não alcança os objetivos Importante ressaltar que, por ser um obser- principais: provocar a reflexão do grupo.vador participante, o Assistente Social tambémemite suas opiniões, valores, a partir dos conhe- 4.1.4 Reuniãocimentos que já possui. Desse modo, entrevistaré mais do que apenas “conversar”: requer um ri- Assim como a dinâmica de grupo, as reuni-goroso conhecimento teórico- metodológico (Silva, ões são espaços coletivos. São encontros grupais,1995), a fim de possibilitar um planejamento sério que têm como objetivo estabelecer alguma espécieda entrevista, bem como a busca por alcançar os de reflexão sobre determinado tema. Mas, sobre-objetivos estabelecidos para sua realização. tudo, uma reunião tem como objetivo a tomada de uma decisão sobre algum assunto.4.1.3 Dinâmica de Grupo As reuniões podem ocorrer com diferentes sujeitos – podem ser realizadas junto à população Descendente da Psicologia Social, a dinâmi- usuária, junto à equipe de profissionais que traba-ca de grupo surgiu como um instrumento de pes- lham na instituição. Enfim ela se realiza em todoquisa do comportamento humano em pequenos espaço em que se pretende que uma determinadagrupos (NESC/UFRJ, s/d). Em seguida, tornou-se decisão não seja tomada individualmente, mas co-um instrumento bastante utilizado na área social letivamente. Essa postura já indica que, ao coleti-– em especial na saúde mental – e hoje é muito vizar a decisão, o coordenador de uma reunião seutilizada em empresas. A dinâmica de grupo foi coloca em uma posição democrática.amplamente usada como uma forma de garantircontroles coletivos, manipular comportamentos, Entretanto, colocar-se como um líder de-valendo-se das relações grupais. mocrático não significa não ter firmeza quanto ao cumprimento dos objetivos da reunião. O espaço Contudo, a dinâmica de grupo é um recurso de tomada de decisões é um espaço essencial-que pode ser utilizado pelo Assistente Social em mente político, pois diferentes interesses estãodiferentes momentos de sua 14 de 36 26/03/2013 11:02
  • 15. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... intervenção. Para le- em confronto. Saber reconhecê-los e como se re-vantar um debate sobre determinado tema com um lacionar com eles requer uma competência teóricanúmero maior de usuários, bem como atender um e política, de modo que a reunião possa alcançar omaior número de pessoas que estejam vivencian- objetivo de tomar uma decisão que envolva todosdo situações parecidas. E nunca é demais lembrar os seus participantes.que é o instrumento que se adapta aos objetivosEmancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 127 10. Charles Toniolo de SOUSA4.1.5 Mobilização de comunidades principal objetivo conhecer as condições e modos de vida da população usuária em sua realidade co- Muitos Assistentes Sociais desenvolvem tra- tidiana, ou seja, no local onde ela estabelece suasbalhos em comunidades de um modo geral. Con- relações do dia a dia: em seu domicílio.tudo, faz-se necessário clarificar o que se entendepor comunidade. Segundo a definição de Souza A visita domiciliar é um instrumento que, ao(2004), comunidade é um final, aproxima a instituição que está atendendo ao usuário de sua realidade, via Assistente Social. Conjunto de grupos e subgrupos de uma mes- Assim as instituições devem garantir as condições ma classe social, que têm interesses e preo- para que a visita domiciliar seja realizada (trans- cupações comuns sobre condições de vivência porte, por exemplo). no espaço de moradia e que, dadas as suas condições fundamentais de existência, tendem Como os demais instrumentos, a visita do- a ampliar continuamente o âmbito de repercus- miciliar não é exclusividade do Assistente Social: são dos seus interesses, preocupações e en- ela só é realizada quando o objetivo da mesma é frentamentos comuns (SOUZA: 2004; p. 68). analisar as condições sociais de vida e de existên- cia de uma família ou de um usuário – pois é esse Assim, temos algumas características que “olhar” que determina a inserção do Serviço Socialdefinem o que entendemos por comunidade: fa- na divisão social do trabalho.lamos de um território geograficamente definido, Contudo, a visita domiciliar sempre foi ummas ao mesmo tempo, entendendo que a divisão dos principais instrumentos de controle das classesgeográfica do espaço territorial reflete as diferentes populares que as instituições utilizavam. Uma vezdivisões da sociedade em classes sociais e seg- que o usuário está sendo atendido na instituição,mentos de classes sociais. Assim, trabalhar em ele está acionando um espaço público: quando auma comunidade significa compreendê-la dentro instituição se propõe a ir até a casa do usuário, elade um contexto econômico, social, político e cultu- está adentrando no terreno do privado. A residên-ral de uma sociedade dividida em classes sociais cia é o espaço privado da família que lá vive. Ter– e que ela não está descolada da totalidade da essa dimensão é fundamental para que o Assis-realidade social. tente Social rompa com uma postura autoritária, Trabalhar em projetos comunitários na pers- controladora e fiscalzadora10.pectiva ético-política defendida pelo Serviço Social, Porém, é 15 de 36 26/03/2013 11:02
  • 16. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... de suma importância que o pro-hoje, significa criar estratégias para mobilizar e fissional que realiza a visita tenha competênciaenvolver os membros de uma população situada teórica para saber identificar que as condições dehistoricamente no tempo e no espaço nas decisões moradia não estão descoladas das condições dedas ações que serão desenvolvidas, uma vez que vida de uma comunidade onde a casa se localiza, esão eles o público-alvo do trabalho do Assistente que, por sua vez, não estão separadas do contextoSocial. Assim, trata-se de um processo de mobili- social e histórico. Assim, o profissional conseguezação comunitária. romper uma mera “constatação” da singularidade, Para tal, é necessário que o Assistente Social mas situá-la no campo da universalidade, ou seja,conheça a comunidade, os atores sociais que lá no contexto sócio-econômico vigente.atuam: os agentes políticos, as instituições existen-tes, as organizações (religiosas, comerciais, polí-ticas) e como se constroem as relações de poder 4.1.7 Visita institucionaldentro da comunidade. Mas também é necessá- Assim como a visita domiciliar, aqui se fala derio conhecer quais são as principais demandas e quando o Assistente Social realiza visita a institui-necessidades da comunidade, de modo a proporações que visem ao atendimento das mesmas. 10 Uma interessante reflexão sobre o papel histórico que a visita domiciliar cumpriu na história do Serviço Social, bem como o seu ca-4.1.6 Visita domiciliar ráter controlista e autoritário pode ser encontrado em Verdès- Leroux (1986), bem como em Martinelli (2005). Trata-se de um instrumento que tem como128 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 11. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissionalções de diversas naturezas – entidades públicas, tor que, nessa forma de diálogo, fica à mercêempresas, ONGs etc. da unilateralidade de interpretação” (MAGA- LHÃES: 2003; p. 29). Muitas podem ser as motivações para queo Assistente Social realize uma visita institucional. Enquanto a comunicação direta, como o pró-Enumeramos três delas: prio nome diz, permite uma intervenção direta junto 1. Quando o Assistente Social está trabalhan- ao interlocutor, a comunicação escrita possibilitado em um determinada situação singular, e resolve que outros agentes tenham acesso ao trabalhovisitar uma instituição com a qual o usuário mantém que foi desenvolvido pelo Assistente Social. Sen-alguma espécie de vínculo; do assim, os instrumentos de trabalho por escrito, não raramente, implicam que outros profissionais 2. Quando o Assistente Social quer conhecer e/ou outras instituições desenvolverão ações in-um determinado trabalho desenvolvido por uma terventivas a partir da intervenção do Assistenteinstituição; Social. Por isso a necessidade do texto estar bem 3. Quando o Assistente Social precisa reali- escrito, claro e coerente, para que não haja dúvi-zar uma avaliação da cobertura e da qualidade dos das quanto à 16 de 36 26/03/2013 11:02
  • 17. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... mensagem que o Assistente Socialserviços prestados por uma instituição. quer emitir. Em todos os casos, sobretudo nos 02 últi- Contudo, a utilização dos instrumentos demos, o que se quer fazer é conhecer e avaliar a trabalho por escrito também possui uma funda-qualidade da política social – o que requer do pro- mental importância: é aqui que se torna possívelfissional um intenso conhecimento teórico e técnico ao Assistente Social sistematizar a prática. Todosobre políticas sociais. processo de registro e avaliação de qualquer ação Pode-se perceber, a partir do elencado aci- é um conhecimento prático que se produz, e quema, que os instrumentos de trabalho não são ato- não se perde, garantindo visibilidade e importânciamizados ou estáticos: eles podem co-existir em à atividade desenvolvida. E mais: sistematizar aum mesmo momento. A observação participante prática e arquivá-la, é dar uma história ao Serviçoestá presente em todos os demais; em uma visita Social, uma história ao(s) usuário(s) atendido(s),domiciliar a entrevista pode ser utilizada; no traba- uma história da inserção profissional do Assisten-lho de mobilização comunitária, reuniões podem te Social dentro da instituição – é essencial paraocorrer, além de visitas institucionais, dentre ou- qualquer proposta de construção de um conheci-tras situações. Várias combinações entre eles po- mento sobre a realidade social.dem ser descritas, porque a realidade da prática Assim, podemos identificar alguns instru-profissional é muito mais dinâmica e rica do que mentos de trabalho “por escrito” consagrados naqualquer tentativa de classificação dos instrumen- história da profissão, e que abaixo apresentamostos de trabalho. de forma bastante sucinta.4.2 Os instrumentos de trabalho indiretos ou 4.2.1 Atas de reunião“por escrito” É o registro de todo o processo de uma Sobre os instrumentos de trabalho indiretos, reunião, das discussões realizadas, das opiniõeseles necessariamente são utilizados após a utili- emitidas, e, sobretudo, da decisão tomada – e dazação do instrumental face a face, que é caracte- forma como o grupo chegou a ela (por votação,rizado por uma forma de comunicação mais ativa. por consenso, ou outra forma).É o registro do trabalho direto realizado. Assim, no Geralmente o relator de uma ata de reuniãocaso da interação por escrito, esta é designado para tal. Pode ser um membro do gru- “(...) tende a ser mais passiva. A comunicação po ou um funcionário da instituição. Comumente, que se estabelece entre locutor e interlocutor, as atas de reuniões são lidas ao final da mesma, embora possibilite reações e interpretações, e, após sua aprovação, todos os participantes as- não conta com a presença física do seu au- sinam – com garantia de que a discussão realiza-Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br /emancipacao> 129 12. Charles Toniolo de SOUSAda assim como a decisão tomada é de ciência de pelo profissional (relatório de atividades). Dessetodos. modo, os diferentes relatórios sociais são os ins- trumentos privilegiados para a sistematização 17 de 36 26/03/2013 11:02
  • 18. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... da4.2.2 Livros de Registro prática do Assistente Social. Os tipos de relatórios produzidos pelo Assis- O Livro de Registro é um instrumento bas- tente Social são tão iguais à quantidade de possibi-tante utilizado, sobretudo em locais onde circula lidades de realizar diferentes atividades no campoum grande número de profissionais. Trata-se de de trabalho. Assim, qualquer tentativa de classifica-um livro onde são anotadas as atividades realiza- ção dos relatórios é tão-somente uma breve apro-das, telefonemas recebidos, questões pendentes, ximação com essa gama de probabilidades.atendimentos realizados, dentre outras questões,de modo que toda a equipe tenha acesso ao que Não é nosso objetivo aqui descrever deta-está sendo desenvolvido. lhadamente como se produz um relatório. Isso de- pende do objetivo do trabalho, do tipo de atividade desenvolvida etc. Entretanto, retomando a discus-4.2.3 Diário de Campo são de Magalhães (2003), um dado é fundamental Como afirmamos anteriormente, o pro- para qualquer elaboração textual: o destinatáriofissional está em constante transformação, em do texto – o agente interlocutor. É importante sa-constante aprendizagem e aperfeiçoamento. ber para quem se escreve (e, portanto, escreverContudo, ele precisa se reconhecer no trabalho bem). É um outro Assistente Social, um gestor, um– identificar onde residem suas dificuldades, e lo- profissional da área jurídica, um profissional dacalizar os limites e as possibilidades de trabalho. área médica, um Psicólogo, um Administrador11. Ou também o relatório pode ser produzido para o O diário de campo é um instrumento que au- próprio Assistente Social – ou para a própria equipexilia bastante o profissional nesse processo. Trata- de Serviço Social de onde o Assistente Social estáse de anotações livres do profissional, individuais, desenvolvendo trabalho. Nesse sentido, cabe umaem que o mesmo sistematiza suas atividades e breve classificação entre relatórios internos (quesuas reflexões sobre o cotidiano do seu trabalho. serão de uso e manuseio do Assistente Social ouO diário de campo é importante porque o Assisten- da equipe que ele compõe) e relatórios externoste Social, na medida em que vai refletindo sobre (que serão de uso e manuseio de agentes exte-o processo, pode perceber onde houve avanços, riores à equipe).recuos, melhorias na qualidade dos serviços, aper-feiçoamento nas intervenções realizadas – além de Um outro dado também é fundamental nes-ser um instrumento bastante interessante para a sa discussão sobre o relato do trabalho. Não serealização de futuras pesquisas. Ele é de extrema trata de qualquer relatório, e sim, de um relatórioutilidade nos processos de análise institucional, social. Isso repõe o debate sobre a inserção doo que é fundamental para localizar qualquer pro- Serviço Social na divisão do trabalho – um profis-posta de inserção interventiva do Serviço Social. sional que trabalha com as diferentes manifesta- ções, na vida social, da “questão social”. Desse modo, os dados relatados são de natureza social,4.2.4 Relatório Social isto é, as informações que dizem respeito a essas características. Esse instrumento é uma exposição 18 de 36 26/03/2013 11:02
  • 19. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... do tra-balho realizado e das informações adquiridasdurante a execução de determinada atividade. 4.2.5 Parecer SocialSemanticamente falando, é o relato dos dadoscoletados e das intervenções realizadas pelo As- Um parecer social é uma avaliação teórica esistente Social. técnica realizada pelo Assistente Social dos dados O relatório social pode ser referente a qual- 11 E nesse sentido, é de fundamental importância localizar a dimen-quer um dos instrumentos face a face, bem como são ética, regulamentada pelo Código de Ética Profissional do As-pode descrever todas as atividades desenvolvidas sistente Social.130 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 13. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissionalcoletados. Mais do que uma simples organização análise prospectiva, isto é, apontar que desdobra-de informações sob a forma de relatório, compete mentos determinada situação podem tomar. Comao Assistente Social avaliar essas informações, o rigor teórico necessário, conhecendo profun-emitir uma opinião sobre elas. Uma opinião que damente a realidade social na qual determinadadeve estar fundamentada, com base em uma pers- situação está sendo avaliada, o Assistente Socialpectiva teórica de análise. terá a capacidade de levantar hipóteses sobre possíveis conseqüências da situação. Assim, o Assim, o parecer social é crucial, pois é ele parecer social deve também conter sugestões deque dá ao Assistente Social uma identidade pro- novas ações que precisam ser desenvolvidas juntofissional – a inexistência de um parecer reduz o àquela situação – ações estas que serão desen-relatório a uma simples descrição dos fatos, não volvidas ou pelo próprio Assistente Social, ou porpermitindo nenhuma análise profunda sobre os outros agentes profissionais (daí a necessidade demesmos. Ora, todo o processo de formação profis- se pensar a produção da escrita tendo como pa-sional do Assistente Social, bem como o seu lugar râmetro o destinatário do texto, isto é, para quemna divisão social do trabalho, demanda que esse se escreve).profissional se posicione diante das situações veri-ficadas na realidade social. Isso requer um posicio-namento político claro do Assistente Social – quepossui, no Código de Ética Profissional, os pilares Considerações finaisbásicos para tal posicionamento. Cada um desses instrumentos de trabalho, A emissão de um parecer social pressupõe ou dos espaços e funções que ocupam e desem-a existência de um relatório social (interno ou ex- penham o Assistente Social nos espaços institu-terno). Por razões óbvias: um profissional só pode cionais, poderiam ser objeto, individualmente, deemitir uma opinião sobre um fato que foi dito, no um artigo próprio. Ou até mesmo de um livro, decaso, escrito. Assim, o parecer é a conclusão de um Trabalho de Conclusão de Curso, de uma mo-determinado trabalho – seja de um atendimento nografia, de uma dissertação de Mestrado ou deindividual, seja de um conjunto de instrumentos uma tese de Doutorado. Nosso objetivo, aqui, 19 de 36 26/03/2013 11:02
  • 20. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... foiutilizados durante determinado processo de inter- apresentar, de forma bem sucinta, os principaisvenção12. instrumentos e técnicas de intervenção utilizados Apreender a realidade não é apenas des- pelo Serviço Social no cotidiano de sua prática.crevê-la. É um produzir um conhecimento sobre Contudo, voltamos a afirmar: não é possívela mesma. E é no momento do parecer social que pensar um instrumento de trabalho como se eleesse conhecimento é elaborado a partir da reflexão pudesse ser mais importante do que os objetivosracional do profissional – um conhecimento prático, do Assistente Social. O instrumental é o resultadoque visa compreender a singularidade da situação da capacidade criativa e da compreensão da rea-estudada pelo Assistente Social, à luz da universa- lidade social, para que alguma intervenção possalidade dos fenômenos sociais (descobrindo então ser realizada com o mínimo de eficácia, responsa-a particularidade dos fenômenos) e assim, criar bilidade e competência profissional.alternativas visando sua transformação. Mas é importante ressaltar que, indepen- Mas para além de uma avaliação do pas- dente do instrumento que se utilize, a dimensãosado, o parecer social também deve realizar uma ético-política deve ser constantemente refletida e pensada. A instrumentalidade da nossa profissão,12 A literatura mais recente do Serviço Social tem se debruçado conforme toda a reflexão de Guerra, é a da ma-sobre essa questão, e algumas polêmicas já se colocam. Alguns nutenção e reprodução da ordem burguesa, comautores afirmam que o conjunto relatório/parecer social, constitui vistas ao controle e reprodução dos segmentosum laudo social – o que remete a uma outra polêmica: o AssistenteSocial realiza estudo social ou perícia social? Não entraremos no pertencentes à classe trabalhadora. Se o nossomérito dessa discussão aqui. Somente fazemos tais apontamentos, modus operandi não estiver em plena sintonia comdeixando registrado que, independente das polêmicas, para todos o projeto ético-político que, hoje, defende o Servi-os autores, os momentos do relatório e do parecer social devemexistir em todo processo de sistematização da prática. ço Social, podemos cair nas teias do conservado-Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 131 14. Charles Toniolo de SOUSArismo e do tecnicismo, tão presentes na trajetória lho em Lukács. In: Serviço Social & Sociedade. Sãohistórica da nossa profissão. Paulo: Cortez, n.52, 1996. Certamente existem centenas, milhares de LUKÁCS, Georgy. Introdução a uma estética mar-metodologias de ação sendo construídas e utili- xista: sobre a categoria da particularidade. Rio de Ja- neiro: Civilização Brasileira, 1968.zadas por muitos Assistentes Sociais. – no Brasilou em qualquer outro país. Isto porque, conforme MAGALHÃES, Selma Marques. Avaliação e lingua-explicitado, os instrumentos não são estáticos, gem: relatórios, laudos e pareceres. São Paulo: Veras;estanques: eles respondem às necessidades dos Lisboa: CPIHTS, 20 de 36 26/03/2013 11:02
  • 21. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... 2003.profissionais a partir de diferentes contextos e re- MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço social: identidadealidades sociais. Cabe a nós, Assistentes Sociais, e alienação. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2005.e sobretudo, pesquisadores, ter a capacidade de ______ & KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para aconhecer essa pluralidade de práticas – e isso só questão dos instrumentais técnicos operativos em Ser-será possível quando todos nós entendermos a viço Social. In. Revista Serviço Social & Sociedade.necessidade e a importância da sistematização São Paulo: Cortez, n. 45, 1994.de nossas práticas – porque é através disso que NESC/UFRJ. O facilitador. Rio de Janeiro: NESC/podemos sempre reconstruir a história da nossa UFRJ/FIOCRUZ, s/d. (Manual)profissão em nosso país e aperfeiçoar seus modosde intervenção social. NETTO, José Paulo. Razão, ontologia e práxis. In: Re- vista Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cor- tez, n. 44, 1994. ______. Transformações societárias e Serviço Social.Referências In. Revista Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 50, 1996.CARVALHO, Raul de & IAMAMOTO, Marilda. Rela-ções sociais e serviço social no Brasil: esboço de ______. Ditadura e serviço social: uma análise douma interpretação histórico-metodológica. 17. ed. São Serviço Social no Brasil pós-64. 7. ed. São Paulo, Cor-Paulo: Cortez, 2005. tez, 2004.CFESS. Em questão: atribuições privativas do assis- ______. Capitalismo monopolista e serviço social.tente social. Brasília, Distrito Federal: CFESS, 2002. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005.CRUZ NETO, Otávio. O trabalho de campo como des- PONTES, Reinaldo. Mediação e serviço social. 3.coberta e criação. In MINAYO, Maria Cecília de Souza ed. São Paulo, Cortez, 2002.(org). Pesquisa Social: teoria, método e criativida- SILVA, Jurema Alves Pereira da. O papel da entrevis-de. 23. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, ta na prática do serviço social. In: Em Pauta. Rio de2004. Janeiro: Faculdade de Serviço Social da UERJ, n. 6,GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do processo de 1995.trabalho e serviço social. In Serviço Social & Socie- SOUZA, Maria Luíza de. Desenvolvimento de co-dade. São Paulo: Cortez, n. 62, 2000. munidade e participação. 8. ed. São Paulo: Editora______. A instrumentalidade do serviço social. 3. Cortez, 2004.ed. São Paulo: Cortez, 2002. VERDÈS-LEROUX, Jeannine. Trabalhador social:______. A propósito da instrumentalidade do Serviço prática, habitus, ethos, formas de intervenção. SãoSocial. In. Debates Sociais. Rio de Janeiro: n. 63 e 64, Paulo: Cortez, 1986.CBCISS & ICSW, 2004.IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e conserva-dorismo no serviço social: ensaios críticos. 3. ed.São Paulo, Cortez, 1995.______. O Serviço social na contemporaneidade:trabalho e formação profissional. 7. ed. São Paulo:Cortez, 2004.LESSA, Sérgio. A centralidade ontológica do traba-132 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br /emancipacao> 21 de 36 26/03/2013 11:02
  • 22. prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e int... http://www.slideshare.net/joseweldson/prtica-do-assistente-social-con... × Follow us on LinkedIn Follow us on Twitter Find us on Facebook Find us on Google+ Learn About Us About Careers Our Blog Press Contact us Help & Support Using SlideShare SlideShare 101 Terms of Use Privacy Policy Copyright & DMCA Community Guidelines SlideShare on mobile Pro & more Go PRO New Business Solutions Developers & API Developers Section Developers Group Engineering Blog Blog Widgets © 2013 SlideShare Inc. All rights reserved. RSS Feed ENGLISH English Français Español Deutsch Signup for SlideShare PRO account Remove ads from all SlideShare pages with SlideShare PRO Improve your slideshare content browsing experience. Engage your content viewers better by removing ads. 22 de 36 26/03/2013 11:02
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