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17
Pesquisas em Geociências, 30(2): 17-25, 2003
ISSN 1518-2398
Instituto de Geociências, UFRGS
Porto Alegre, RS - Brasil
Em respeito ao meio ambiente, este número foi impresso em papel branqueado por processo parcialmente isento de cloro (ECF).
Morfologia e Sedimentologia da Plataforma Continental Interna entre as
Praias Porto de Galinhas e Campos - Litoral Sul de Pernambuco, Brasil
VALDIR DO AMARAL VAZ MANSO
1
, IRAN CARLOS STALLIVIERE CORRÊA
2
& NÚBIA C. GUERRA
1
1
Laboratório de Geologia e Geofísica Marinha, Universidade Federal de Pernambuco, vmanso@npd.ufpe.br
2
Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Caixa Postal 15001, CEP:91509-900,Porto Alegre, RS, Brasil.
(Recebido em 10/02. Aceito para publicação em 11/03)
Abstract - The analysis of geomorphic and sedimentological characteristics of the inner continental shelf is an important
propriety to studies of the coastal zone since they inform the conditions of the sea bottom, the predominant features and
the types of associated sediments. Associated to morfodinamic study it can, for example, identify predisposed areas to
erosive processes. The present paper shows the batimetry (to -20m) and the sediments distribution in the inner continental
shelf between Porto de Galinhas and Campos beaches, south coast of Pernambuco State. The work results constitute
pioneering mark in the inner continental shelf of the Pernambuco state.
Keywords - sedimentology, morphology, continental shelf.
INTRODUÇÃO
A plataforma continental, como província
fisiográfica, faz parte da estrutura morfológica da
margem continental (Heezen & Menard, 1966), sen-
do a mesma, a continuação da extensão submarina
do bloco continental. Apresenta-se bastante plana,
desde a zona praial até a borda da plataforma onde
a declividade se acentua bruscamente. O caráter am-
plo e plano resultou das atividades erosivas e
deposicionais, intimamente ligadas a série de regres-
sões e transgressões marinhas, associadas a épocas
de glaciação e deglaciação global.
Os fenômenos erosivos e de sedimentação
marinha se concentram na faixa de antepraia. Desta
forma a morfologia, bem como a cobertura
sedimentar da maioria das plataformas continentais
são relíquias dos ambientes sedimentares instalados
em períodos de nível de mar baixo, em um passado
geológico recente.
Coutinho (1976) considerando os vários as-
pectos da morfologia e da distribuição dos diversos
tipos de sedimentos na plataforma continental do
Nordeste brasileiro, sugeriu dividi-la em três seg-
mentos perfeitamente identificáveis, denominando-
os de plataforma interna (até a isóbata de -20m),
média (de -20 a -40m) e externa (de -40 a -60m).
A plataforma continental do Estado de
Pernambuco apresenta, na sua quase totalidade, re-
duzida largura (média de 35km), pouca profundida-
de, declive suave, quebra da plataforma entre -50 e
-60m, águas relativamente quentes, salinidade ele-
vada e cobertura sedimentar composta por sedimen-
tos terrígenos e carbonáticos biogênicos.
O baixo índice de erosão continental e a
pequena taxa de sedimentação marinha na platafor-
ma, associados a fatores estruturais da área, podem
ser responsáveis pela reduzida largura, enquanto a
pouca profundidade é atribuída à ineficiência de
processos marinhos nos últimos períodos geológi-
cos. É possível ainda que a Corrente do Brasil pos-
sa, em parte, explicar o modesto desenvolvimento
da plataforma, similar ao que ocorreu com a plata-
forma sudeste de Angola (Manso, 1997).
Um dos traços morfológicos mais caracterís-
ticos do litoral é sem dúvida a presença constante,
na plataforma continental interna, de linhas de
beachrocks geralmente paralelas à costa, servindo
de substrato para o desenvolvimento de algas e co-
rais, além de constituir uma efetiva proteção ao li-
toral na medida em que absorve grande parte da
energia das ondas incidentes, mesmo estando com-
pletamente submersos.
18
A plataforma continental de Pernambuco é
caracterizada por uma ativa produção carbonática
orgânica que se traduz pelo desenvolvimento de
fundos de algas calcárias. As algas, que formam o
principal componente destes sedimentos de fundo,
pertencem à família Coralinaceae, subfamília
Melobesiae, com uma ou mais espécies do gênero
Lithothamnium. São constituídas de 75 a 95% de
carbonato de cálcio, 4 a 10% de carbonato de
magnésio e ainda de oligoelementos. Geralmente o
limite superior de ocorrência destas algas calcárias
está ligado diretamente ao fim da influência
terrígena, normalmente em torno de -20m, enquanto
seu limite inferior está situado entre -80m e -90m,
raramente atingindo -100m de profundidade (Man-
so,1997). Ao lado das algas coralinas, merecem
destaque as algas verdes calcificadas, representadas
pelo gênero Halimeda, Udotea e Penicillius, que
são igualmente importantes formadoras de sedimen-
tos biogênicos (Coutinho,1976).
A predominância de sedimentos carbo-
náticos orgânicos na plataforma continental de
Pernambuco é resultado da interação dos seguintes
fatores, segundo Coutinho, (1976):
a) Plataforma estreita, rasa, águas quentes,
salinidade elevada e ação das correntes;
b) Predominância de clima semi-árido no in-
terior do continente, resultando no peque-
no aporte de sedimento à plataforma e
conseqüentemente, presença de substrato
duro, desprovido de sedimento fino, ideal
para fixação da epifauna e da epiflora;
c) Fraco desenvolvimento de corais her-
matípicos;
d) Fenômeno de competição, algas calcárias
versus corais.
Outra característica da plataforma pernam-
bucana é a pequena quantidade de corais, compara-
da ao grande desenvolvimento de algas. O cresci-
mento desses corais ficou restrito aos substratos
litificados, representados pelas antigas linhas de
praias ou estruturas de recifes algálicos. O cresci-
mento atual dos corais é restrito ao lado externo dos
beachrocks ou sobre as construções de algas
calcárias incrustantes.
ÁREA DE ESTUDO
A área estudada se localiza no litoral Sul do
Estado de Pernambuco englobando parte dos muni-
cípios de Ipojuca e Sirinhaém. É limitada a Norte
pela praia de Porto de Galinhas e a Sul pela praia de
Campos perfazendo uma área de 374km2
(Fig. 1).
Está compreendida entre os paralelos 80
30’16” e 80
43’23” de latitude sul e os meridianos 340
57’50” e
350
07’28” de longitude oeste.
I.Itamaracá
Praia de Casa Caiada
Praia do Pina
Praia da Boa Viagem
Praia da Piedade
Praia de Candeias
Praia do Paiva
Praia de Suape
Recife
OCEANOATLÂNTICO
7°30’0 0”S
8°52’3 0”S
46 00'o
38 00'
o
16 00'
o
0 00'o
M A
C E
P I R N
P B
A L
S E
B A
PENORDESTE
DO BRASIL
Praia de Porto de Galinhas
Olinda
Cabo de Santo Agostinho
Praia de Guadalupe
Praia de Campos
Praia de Sirinhaém
Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo.
METODOLOGIA
As amostras analisadas foram obtidas em 8
perfis, aqui denominados de P1 até P8, distribuídos
perpendicularmente à linha de costa e com um com-
primento de aproximadamente 5km cada, atingindo,
na maioria deles, a isóbata de -20m (Fig. 2). As 54
amostras obtidas, foram coletadas por um pequeno
amostrador retangular de fabricação alemã e nos
casos em que a recuperação era baixa, utilizou-se
uma amostrador do tipo Gibbs. O posicionamento
das estações amostradas foi realizado com o auxílio
de um GPS Modelo Garmin 40.
A análise granulométrica dos sedimentos foi
baseada na metodologia adotada pelo Laboratório
19
de Geologia Marinha (LGGM) da Universidade
Federal de Pernambuco. As amostras foram lavadas
para a dessalinização e levadas a estufa para seca-
gem a uma temperatura de 600
C. Após a secagem, as
amostras foram quarteadas e 100g foram retiradas
para análise. Da fração arenosa (granulométrica
>0,062mm) foi realizado o peneiramento a seco em
intervalos de 1,0φ. O material fino (<0,062mm) foi
analisado usando-se o método de pipetagem (Krum-
bein & Pettijohn,1938; Folk,1974; McManus,1988).
O cálculo dos parâmetros estatísticos (Md,
Mz, Si, Ski e Kg) foi realizado segundo as fórmulas
de Folk & Ward (1957) utilizando-se o software
PANCOM - Programa de Análise Completa V.91
(ECD) (Toldo Jr. E.E. & Dornelles,C.E.,1986).
O mapa batimétrico foi traçado a partir da
Carta 930 da Diretoria de Hidrografia e Navegação,
na escala inicial de 1:100.000 e foram utilizadas,
para maior detalhamento, as folhas de bordo da área
de estudo. A interpolação das curvas batimétricas
foi efetuada manualmente e com o espaçamento
isobatimétrico de metro em metro.
MORFOLOGIA DE FUNDO
A plataforma continental interna do litoral
sul de Pernambuco, apresenta uma morfologia ho-
mogênea com algumas irregularidades e com uma
declividade suave (<1:400) (Fig. 3). Em função das
características morfo-estruturais observadas na área,
o alto estrutural de Santo Aleixo (rochas vulcânicas
ácidas, riolitos) cuja ilha do mesmo nome é seu
ponto mais elevado e as falhas que imprimem signi-
ficativa diferenciação nos padrões das curvas
batimétricas, a plataforma continental interna da
área estudada foi dividida em dois setores: Norte e
Sul (Manso, 1997).
9055000m
9035000m
270000m 280000m
Praia de Porto de Galinhas
Praia Ponta de Serram bi
Praia do
Toquinho
Praia de Sirinhaém
Praia de
Guadalupe
Rio Sirinhaém
Rio M aracaípe
Rio Formoso
Praia de
Cam pos
Ilha de Santo Aleixo
OceanoAtlântico
0 1,5 km
20m
20m
11
12
13 14 15 16
21
22
2324
2526313233
34
35
36
4243
44 45
41
5152
53 54
55
56
57
66
65
64
P1
P2
P3
P4
P5
P6
63
62
61
P7 72
73 74
75
76
77
P8
81
82
83
84
85 86
Coordenadas UTM
MC 33°W GR
Ponta da G amela
Praia de G uaiamun
Figura 2 - Mapa de localização das estações de amostragem da plata-
forma continental interna da região entre Porto de Galinhas e praia de
Campos-PE.
9055000m9035000m
270000m 280000m
Praia de Porto de G alinhas
Praia Ponta de Serram bi
Praia do
Toquinho
Praia de Sirinhaém
Praia de
G uadalupe
Rio Sirinhaém
Rio M aracaípe
Rio Formoso
Praia de
Cam pos
Ilha de Santo Aleixo
OceanoAtlântico
0 6km
20m
20m
6
6
6
8
8
8
8
10
10
10
10
12
10
12
12
12
12
14
14
14
8
10
16
16
16
18
18
18
H
H’ H
0
(m)
10
20
30
G
0
(m)
10
20
30
G
G’
F
F’
E
E’
D
D’
C
C’
B
B’
A A’
F
0
(m)
10
20
30
E
0
(m)
10
20
30
D
0
(m)
10
20
30
C
0
(m)
10
20
30
B
0
(m)
10
20
30
A
0
(m)
10
20
30
6
12
1416
18
20m
Ponta da Gam ela
Praia de G uaiam un
Coordenadas UTM
MC 33°W GR
Praia das C acim bas
Figura 3 - Mapa batimétrico e de localização dos perfis da plataforma
continental interna da região de Porto de Galinha a praia de Campos-PE.
Outro aspecto morfológico importante ob-
servado é, sem dúvida, a presença de quebras do re-
levo, situadas principalmente entre as isóbatas de -10
e -15m em toda a plataforma continental interna da
área estudada (Figs. 4 e 5). Essas quebras são mais
bem visualizadas na plataforma continental interna
do setor Sul e correspondem a antigos relevos resi-
duais alterados pelos processos erosivos litorâneos
da última regressão/transgressão (Corrêa,1996).
O setor Norte compreende a plataforma con-
tinental interna desde a região de Porto de Galinhas
até o Alto de Santo Aleixo. Apresenta uma largura
20
0 1,5km
Areia muito grossa a
cascalhosa (-2 a 0 )Φ
Areia grossa (0 a 1 )Φ
Areia média (1 a 2 )Φ
Areia fina a muito fina
(2 a 4 )Φ
Lama (> 4 )Φ
0
10
20
30
(m)
Perfil E-E’
Perfil F-F’
0
10
20
30(m)
0
10
20
30
(m)
Perfil G -G ’
0
10
20
30
(m)
Perfil H -H ’
Figura 5 - Perfis batimétricos do setor sul da plataforma continental
interna da região entre Alto de Santo Aleixo e Praia de Campos, com
distribuição dos sedimentos superficiais em relação ao diâmetro mé-
dio (Mz).
0
10
20
30
(m)
Perfil A -A’
0
10
20
30
(m)
Perfil B-B’
Perfil C -C ’
0
10
20
30
(m)
Perfil D -D ’
0
10
20
30
(m)
0 1,5km
Areia grossa (0 a 1 )Φ
Areia média (1 a 2 )Φ
Areia fina a muito fina
(2 a 4 )Φ
Lama (> 4 )Φ
Areia muito grossa a
cascalhosa (-2 a 0 )Φ
Figura 4 - Perfis batimétricos do setor norte da plataforma continental
interna da região entre Porto de Galinhas e Alto de Santo Aleixo, com
distribuição dos sedimentos superficiais em relação ao diâmetro mé-
dio (Mz).
21
média de 3km e a sua configuração batimétrica é
caracterizada pela existência de formas mor-
fológicas do tipo bacias. Observa-se a existência de
um pequeno banco, em uma área frontal a desembo-
cadura do rio Maracaípe, de forma linear e disposto
quase que paralelamente à costa, na profundidade de
-8m, com 1,8km de extensão e aproximadamente
250m de largura. Este banco poderia estar relaciona-
do a uma antiga barreira arenosa-recifal desenvolvi-
da nas proximidades da desembocadura do rio
Maracaípe em um período de mar mais baixo, como
pode ser observado hoje na região costeira que
margeia a desembocadura do referido rio. Observa-
se também uma batimetria irregular na profundidade
entre os -10 e -14m, na altura da Ponta de Serrambi,
a qual encontra-se relacionada a depósitos de recifes
de corais e algas coralinas que se associam ao depó-
sito existente na área costeira desta região (Fig. 3).
Quatro perfis batimétricos efetuados no setor Norte
evidenciaram a morfologia desta plataforma, desta-
cando sua homogeneidade (Fig. 4).
O perfil AA’ (direção W-E), ao Norte de
Porto de Galinhas, mostra configuração de fundo
bastante homogênea ao longo de todo perfil. Apre-
senta declividade acentuada (1:35) até a profundida-
de de -12m, a partir da qual torna-se suave (1:400)
até a isóbata de -20m. Os sedimentos de fundo são
formados por areias médias de composição terrígena
e bioclástica até a profundidade de -17m, e a partir
deste ponto são de composição lamosa (Fig. 4).
Observa-se sobre o perfil a presença de um pequeno
terraço na profundidade dos -12m.
O perfil BB’ (direção W-E), na praia de
Porto de Galinhas, mostra fundo homogêneo ao lon-
go de todo o perfil, tendo uma declividade acentua-
da (1:60) até a isóbata de -10m, suavizando-se até a
profundidade de -18m (1:400) onde se observa um
aumento da declividade formando um pequeno ter-
raço. Os sedimentos de fundo, até a profundidade de
-4m, são compostos de areia muito fina, típicas de
ambientes de mais baixa energia como é o caso em
áreas de enseadas onde esta energia, transmitida
pelos trens de ondas, se dissipa. A partir deste ponto
até a profundidade de -17m estes sedimentos são
caracterizados pela presença de areias médias de
composição terrígena e bioclástica gradando, até os
-20m, para sedimentos lamosos (Fig. 4).
O perfil CC’, localizado na desembocadura
do rio Maracaípe, tem direção NW-SE e apresenta
uma topografia de fundo bastante movimentada, ten-
do inclusive a presença de dois pequenos terraços
nas profundidades de -10m e -18m e a presença de
um banco arenoso na profundidade de -8m, sendo a
declividade mais acentuada (1:50) até a profundida-
de de -12m. Os sedimentos de fundo, até -13m, são
constituídos por areias médias de composição
terrígena e bioclástica e a partir desta profundidade
são formados por lamas (Fig. 4). O banco arenoso
observado sobre este perfil corresponde provavel-
mente, a uma antiga barreira arenosa-recifal forma-
da em um período de nível de mar mais baixo, du-
rante a transgressão holocênica.
O perfil DD’ tem direção NW-SE e localiza-
se na praia das Cacimbas. Apresenta configuração de
fundo plana e declividade suave (1:400) até os -20m.
Observa-se a presença de dois terraços nas profun-
didades de -8m e -15m. Os sedimentos de fundo, até
a profundidade de -10m, são formados por areias
médias de composição terrígena e bioclástica e a
partir desta profundidade, por areias grossas de
composição bioclástica (Fig. 4).
O setor Sul compreende a plataforma conti-
nental interna entre o Alto de Santo Aleixo e a praia
de Campos. Apresenta largura superior à do setor
norte com um valor em torno de 7km. A configura-
ção das curvas batimétricas mostra uma plataforma
sem muita irregularidade e com pequenas depres-
sões posicionadas quase que paralelamente à zona
costeira da área (todas na profundidade de -12m). O
padrão das curvas batimétricas mostra claramente,
do ponto de vista estrutural, uma seqüência de fa-
lhas transcorrentes escalonadas com direção NW-SE
e rejeito dextral. Estas linhas de falhas são visivel-
mente observadas na isóbata de -6m, principalmente
na plataforma continental interna da praia do
Guaiamum e na adjacente à foz do rio Formoso,
sendo estas consideradas continuidades das falhas
de Santo Amaro e do rio Formoso (Manso,1977).
Quatro perfis batimétricos mostram a morfologia
deste setor (Fig. 5).
O Perfil EE’, com direção NW-SE e locali-
zado na praia de Sirinhaém, apresenta uma topogra-
fia de fundo plana com pequenas ondulações princi-
palmente entre as profundidades de -6 e -12m.
Mostra declividade suave (1:500) até a profundidade
de -12m a partir do qual acentua-se até atingir -18m,
voltando a suavizar até os -20m. Uma pequena ele-
vação é observada -10m, disposta longitudinalmente
à linha de costa e na altura da desembocadura do rio
Sirinhaém, provavelmente relacionado ao que restou
de uma antiga barreira arenosa-recifal, como a ob-
servada no perfil CC’ do setor Norte. Os sedimentos
22
9055000m9035000m
270000m 280000m
LEGENDA
Praia de Porto de G alinhas
Praia P onta de Serram bi
Praia do
Toquinho
Praia de Sirinhaém
Praia de
G uadalupe
Rio Sirinhaém
Rio M aracaípe
Rio Form oso
Praia de
C am pos
Ilha de S anto A leixo
Areia a areia
cascalhosa
OceanoAtlântico
0 1,5km
20m
20m
Isóbata de 2020m
Lama
Lama arenosa
Areia lamosa
Coordenadas UTM
MC 33°W GR
Praia de G uaiam un
Ponta da G am ela
Figura 6 - Mapa de distribuição das classes granulométricas da plata-
forma continental interna da região de Porto de Galinhas a praia de
Campos, com base no triângulo de Shepard.
de fundo até a profundidade de -10m são formados
por areias médias de composição terrígena e
bioclástica e a partir deste ponto, até a profundidade
de -20m, por areia grossa com biodetrito (Fig. 5).
O perfil FF’, com direção NW-SE, localiza-
do na praia de Guaiamun, apresenta um terraço bem
distinto na profundidade de -10m. A topografia de
fundo apresenta-se bem mais plana que os demais
perfis do setor sul. Os sedimentos que recobrem o
fundo são, até a profundidade de -8m, constituídos
por areias médias de composição terrígena e
bioclástica e a partir deste ponto, até -20m, são for-
madas por areias grossas com biodetritos, caracte-
rizando um ambiente de mais alta energia, bastante
semelhante ao perfil anteriormente descrito (Fig. 5).
O perfil GG’, localizado na praia de Ponta
da Gamela, com direção NW-SE, apresenta uma
morfologia de fundo homogênea em toda sua exten-
são, com a presença de um banco em sua parte cen-
tral, na profundidade de -8m. Até os -10m de pro-
fundidade, os sedimentos de fundo são formados
por areia média de composição terrígena com pre-
sença de bioclásticos, seguidos por depósitos de
areia grossa com biodetrítico (Fig. 5). Este banco
observado sobre o perfil GG’ se assemelha com o
perfil CC’ descrito no setor Norte.
O perfil HH’, localizado na foz do rio For-
moso, com direção NW-SE, apresenta morfologia
de fundo e declividade bem movimentadas. É bem
nítida a presença de inflexões em seu relevo nas
profundidades de -8, -10 e -18m, caracterizadas em
forma de terraços. A distribuição dos sedimentos de
fundo também é mais diversificada em relação aos
demais perfis do setor. Apresenta areia fina a muito
fina (quartzosa) até a profundidade de -6m, areia
média terrígena a bioclástica no intervalo de -6 à -8m,
areia grossa com biodetrito entre as profundidades
de -8 à -18m e a partir desta profundidade até atingir
-20m ocorre areia muito grossa a cascalhosa (Fig.
5). Este perfil se encontra localizado sobre o alinha-
mento da falha do rio Formoso.
DISTRIBUÇÃO DOS SEDIMENTOS
SUPERFICIAIS SEGUNDO O DIAGRAMA
DE SHEPARD (1954)
Com base nos resultados obtidos no diagra-
ma de Shepard (1954) e levando em consideração as
proporções de areia+cascalho, silte e argila, agru-
pou-se os sedimentos em 4 classes granulométricas
distintas: arenosa a areno-cascalhosa, areno-lamosa,
lamo-arenosa e lamosa (Fig. 6).
Classe arenosa a areno-cascalhosa
O material classificado texturalmente como
“arenoso a areno-cascalhoso”, compreende sedi-
mentos essencialmente terrígenos contendo mais
que 50% da fração areia, podendo em algumas
amostras atingir valores acima de 95% do total da
mesma e tendo a presença de cascalho biodetrítico
associado. Distribui-se de maneira geral por toda a
plataforma interna da área estudada tendo como li-
mite externo a isóbata de -20m. Esta classe é forma-
da por areias relíquias com conteúdo de material
biogênico inferior a 20%, sendo este constituído
essencialmente por fragmentos de algas, restos de
corais, foraminíferos e fragmentos de conchas. Con-
tém ainda, em pequenas quantidades: espículas,
briozoários e gastrópodes. Todo o material
biogênico se apresenta altamente fragmentado e
retrabalhado pela ação da dinâmica das ondas e
correntes. Os sedimentos terrígenos são formados
predominantemente por quartzo e algumas vezes
pela presença de fragmentos de rocha.
23
Classe areno-lamosa
Esta classe é observada em uma pequena área
ao sul, mais precisamente na região frontal à foz do
rio Formoso. É formada por areias relíquias com te-
ores de lama entorno de 45% caracterizando depósi-
tos transicionais entre as seqüências lamosas e areno-
cascalhosa. O material biogênico é composto essenci-
almente por fragmentos de algas, de conchas e corais.
O material detrítico é constituído predominantemente
por quartzo e fragmentos de rocha. O quartzo se apre-
senta na sua maioria subanguloso a subarredondado,
com esfericidade de baixa à média e em determinados
setores apresenta oxidação superficial.
Classe lamo-arenosa
Esta classe é observada em pequenas con-
centrações próximas à região litorânea. As ocorrên-
cias localizadas na altura dos pontais de Toquinho e
Serrambi são as mais significativas. É constituída
por sedimentos sílticos e argilosos com concentra-
ção de areia inferior a 45%. O material arenoso é
predominantemente quartzoso, com grãos subangu-
losos a subarredondados, apresentando esfericidade
de baixa à média. Estes depósitos encontram-se em
áreas de baixa energia, protegidos por recifes de co-
rais ou arenitos de praias (beachrocks).
Classe lamosa
Esta classe compreende sedimentos sílticos
e argilosos com baixa concentração de areia (4 a
10%). Ocorre predominantemente em forma de lín-
gua numa faixa aproximadamente paralela ao litoral
entre as praias de Porto de Galinhas e Ponta de
Serrambí. Essas lamas são essencialmente terrígenas
e sua ocorrência está intimamente associada ao de-
ságüe fluvial moderno, no caso específico da área, o
rio Maracaípe. Em função de alguns fatores, entre
eles a posição do nível relativo do mar e a descarga
sólida do sistema fluvial atual, grande parte do
material em suspensão fica retido nos estuários,
desembocaduras de rios ou em zonas costeiras com
estruturas naturais (baías e planície de maré) ou
artificiais de trapeamento (obras de engenharia cos-
teira). No caso particular da área estudada a estrutu-
ra de retenção de sedimentos sílticos e argilosos é
constituída pela existência, em larga escala, de gran-
des concentrações de recifes algálicos tanto emersos
como submersos. Estes recifes criam áreas protegi-
das na plataforma continental interna, com nível de
energia de circulação menor, favorecendo a deposi-
ção das lamas.
DISTRIBUIÇÃO DOS SEDIMENTOS
SUPERFICIAIS SEGUNDO O DIÂMETRO
MÉDIO (Mz)
O diâmetro médio é sem dúvida o mais
importante parâmetro estatístico utilizado na
sedimentologia. Do ponto de vista geológico ele
reflete a média geral de tamanho dos grãos dos se-
dimentos, os quais são afetados pela fonte de supri-
mento de material, pelo processo de deposição e
pela velocidade de corrente (Folk & Ward,1957).
Observa-se nos sedimentos analisados que
os mesmos apresentam o diâmetro médio variando
entre os intervalos: -2 a 0Φ = areia muito grossa à
cascalhosa; 0 a 1Φ = areia grossa; 1 a 2Φ = areia
média; 2 a 4Φ = areia fina a muito fina; e > 4Φ =
lama
O mapa de distribuição do diâmetro médio
(Fig. 7) mostra para toda a plataforma continental
interna da área estudada distribuição regular desses
intervalos em faixas granodecrescentes no sentido
W-E.
9055000m9035000m
270000m 280000m
LEGENDA
Praia de Porto de G alinhas
Praia Ponta de Serram bi
Praia do Toquinho
Praia de Sirinhaém
Praia de
G uadalupe
Rio Sirinhaém
Rio M aracaípe
Rio Form oso
Praia de
C am pos
Ilha de Santo A leixo
OceanoAtlântico
0 1,5km
20m
20m
Isóbata de 20 metros20m
Areia muito grossa a
cascalhosa (-2 a 0 )Φ
Areia grossa (0 a 1 )Φ
Areia média (1 a 2 )Φ
Areia fina a muito
fina (2 a 4 )Φ
Lama (> 4 )Φ
Praia de G uaiam un
Ponta da G am ela
Coordenadas UTM
MC 33°W GR
Figura 7 - Mapa de distribuição dos sedimentos na plataforma conti-
nental interna entre Porto de Galinhas e praia de Campos, com base
no diâmetro médio (Mz).
24
De acordo com o mapa da figura 7, a areia
muito grossa a cascalhosa se distribui restritamente
em duas áreas bem individualizadas, ambas na re-
gião frontal da foz dos rios Sirinhaém e Formoso, se
encontrando em ambas as áreas, a uma profundidade
superior -10m. Sua composição é exclusivamente
biogênica, predominantemente formados por restos
de corais, fragmentos de algas e de conchas e por
gastrópodes. Este material, com boa seleção, prova-
velmente está relacionado a depósitos relíquias, de
populações oriundas do transporte litorâneo e con-
trolados pela energia do ambiente costeiro, associa-
dos à contribuição biogênica moderna e a antigos
recifes de corais ou arenitos de praia (beachrocks),
como os que ocorrem atualmente na região costeira.
A areia grossa ocorre em uma faixa contí-
nua paralela à linha de costa, aproximadamente entre
as isóbatas de -9 e -20m, limite leste da área estudada.
Esta faixa de ocorrência de areia grossa é interrompida
ao norte da área na altura da Ponta de Serrambi, onde
é mascarada por uma mancha de lama.
A areia média ocorre bem individualizado
em uma faixa com uma largura média de 500m,
contínua e subparalela à zona litorânea da área estu-
dada. Nas proximidades da Ponta de Serrambi é in-
terceptada por material pelítico.
A areia fina a muito fina ocorre em peque-
nas áreas localizadas, na maioria das vezes, próxima
à linha de costa.
A lama por sua vez, ocorre na parte norte da
área, mais precisamente na plataforma continental
interna entre as praias de Ponta de Serrambi e Porto
de Galinhas. Este material é observado também, em
pequena mancha na foz do rio Sirinhaém. Estas la-
mas são oriundas do sistema de drenagem fluvial
que deságua na região.
CONCLUSÕES
No geral, a plataforma continental interna
da área estudada apresenta uma regularidade quanto
a sua morfologia e cobertura sedimentar. A ilha
vulcânica de Santo Aleixo é a única expressão
morfológica da plataforma que se destaca, e consti-
tui um marco divisório entre uma plataforma bem
homogênea na configuração de suas isóbatas ao
norte e uma mais heterogênea ao sul.
A distribuição e forma das isóbatas sobre o
mapa batimétrico evidenciam a presença de falhas
estruturais, principalmente na região Sul na altura da
foz do rio Formoso e na praia de Guaiamum, as quais
apresentam direção concordante com as falhas de
Santo Amaro e do rio Formoso, na área continental.
Níveis de terraços são observados nas pro-
fundidades de -8/-10m, -12/-15m e -18m, os quais
provavelmente estiveram relacionados a ambientes
de mais alta energia associados a estabilizações tem-
porárias do nível do mar, durante a última transgres-
são holocênica.
Observa-se também a presença de bancos
arenosos alinhados à linha de costa em áreas fron-
tais à desembocadura dos rios Maracaípe, Sirinhaém
e Formoso, os quais estão relacionados a antigas
barreiras areno-recifais formadas em nível de mar
mais baixo. Estes bancos se encontram localizados a
uma profundidade média de -10m, estendendo-se
por quase toda a área estudada.
Do ponto de vista de distribuição do diâme-
tro médio dos sedimentos, a área é recoberta por três
populações granulométricas predominantes e distin-
tas: areias médias com teores em torno de 30%;
areias grossas com teores de 24%; e lamas com te-
ores de 20%. Estas três populações recobrem a
maior parte da área estudada. As duas populações
restantes, areia muito grossa a cascalhosa perfaz
14% dos sedimentos e os restantes 12% são consti-
tuídos por areias finas a muito finas.
O material síltico-argiloso, aqui agrupado
como “lama”, ocupa áreas restritas na parte sul e
norte da plataforma continental interna se apresen-
tando tapeados por linhas de recifes. Este material
lamoso é provavelmente de origem fluvial podendo
ser classificado como sedimento moderno. Sua com-
posição não apresenta consideráveis teores de mate-
rial de composição carbonática.
Os sedimentos arenosos e de cascalhos
bioclásticos são de origem marinho-raso e classifi-
cados como relíquias ou mesmo palimpséticos, ocu-
pando a maior parte da área, enquanto os modernos
se restringem à foz dos rios da região. A plataforma
continental interna estudada, do ponto de vista
evolutivo, se caracteriza como sendo uma platafor-
ma transgressiva.
De maneira geral a plataforma continental
interna da área estudada possui uma sedimentação
dominantemente terrígena com constituintes
quartzosos predominantes. Em algumas áreas ocorre
a presença de material carbonático significativo
onde o material bioclástico é formado predominan-
temente por fragmentos de algas (Coralínas
ramificadas e Halimeda), de conchas e carapaças de
foraminíferos.
25
Agradecimentos - Os autores agradecem ao CNPq pela Bolsa de
Pesquisa (Processo n°300.301/2003); ao Laboratório de Geologia e
Geofísica Marinha-LGGM da UFPE e ao Centro de Estudos de Geo-
logia Costeira e Oceânica-CECO da UFRGS, pelas facilidades conce-
didas e pelo apoio sempre dispensado na realização deste trabalho.
Este trabalho se acha integrado ao Programa de Geologia e Geofísica
Marinha-PGGM.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Coutinho, P.N. 1976. Geologia marinha da plataforma continental
Alagoas- Sergipe. Recife. 119p. Tese de Livre Docência. Univer-
sidade Federal de Pernambuco.
Corrêa, I.C.S. 1996. Les Variations du Niveau de la Mer durant les
17.500 ans BP: L’Exemple de la Plate-Forme Continentale du Rio
Grande do Sul-Brésil. Marine Geology. Elsevier, Amsterdam-
Holanda., 130 (1/2):163-178.
Folk, R.L. 1974. Petrology of Sedimentary Rocks. Austin, Texas:
Hemphills Publishing, 170p.
Folk, R.L. & Ward,W.C. 1957. Brazos rives bar: A study in the
significance of grain size parameters. Journal of Sedimentary
Petrology, 27:3-27
Heezen, B.C. & Menard, H.W. 1966. Topography of the deep sea
floor. In: M.N.Hill (ed), The Sea, Intersec. Publ., 3:233-280.
Krumbein, W.C. & Pettijohn, F.J. 1938. Manual of Sedimentary
Petrography. New York: Appleton-Century-Crofts, 549p.
Manso, V.A.V. 1997. Geologia da planície costeira e da plataforma
continental interna adjacente da região entre Porto de Gali-
nhas e Tamandaré – litoral Sul de Pernambuco. Porto Alegre-
RS. 171p. Tese de Doutorado em Geociências, Instituto de
Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
McManus, J. 1988. Grain size determination and interpretation. In:
Techniques in Sedimentology, ed. M.E. Tucker. Oxford:
Blackwells, p.63-85.
Shepard, F.P. 1954. Depositional mechanism from the size analysis of
clastics sediments. Journal of Sedimentary Petrology, Tulsa,
Okla, 34:73-83.
Toldo Jr., E.E. & Dornelles, C.E. 1986. PANCOM (software) – Pro-
grama de Análise Completa (ECD), Centro de Estudos de Geo-
logia Costeira e Oceânica-CECO, Instituto de Geociências, Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul.
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  • 1. 17 Pesquisas em Geociências, 30(2): 17-25, 2003 ISSN 1518-2398 Instituto de Geociências, UFRGS Porto Alegre, RS - Brasil Em respeito ao meio ambiente, este número foi impresso em papel branqueado por processo parcialmente isento de cloro (ECF). Morfologia e Sedimentologia da Plataforma Continental Interna entre as Praias Porto de Galinhas e Campos - Litoral Sul de Pernambuco, Brasil VALDIR DO AMARAL VAZ MANSO 1 , IRAN CARLOS STALLIVIERE CORRÊA 2 & NÚBIA C. GUERRA 1 1 Laboratório de Geologia e Geofísica Marinha, Universidade Federal de Pernambuco, vmanso@npd.ufpe.br 2 Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Caixa Postal 15001, CEP:91509-900,Porto Alegre, RS, Brasil. (Recebido em 10/02. Aceito para publicação em 11/03) Abstract - The analysis of geomorphic and sedimentological characteristics of the inner continental shelf is an important propriety to studies of the coastal zone since they inform the conditions of the sea bottom, the predominant features and the types of associated sediments. Associated to morfodinamic study it can, for example, identify predisposed areas to erosive processes. The present paper shows the batimetry (to -20m) and the sediments distribution in the inner continental shelf between Porto de Galinhas and Campos beaches, south coast of Pernambuco State. The work results constitute pioneering mark in the inner continental shelf of the Pernambuco state. Keywords - sedimentology, morphology, continental shelf. INTRODUÇÃO A plataforma continental, como província fisiográfica, faz parte da estrutura morfológica da margem continental (Heezen & Menard, 1966), sen- do a mesma, a continuação da extensão submarina do bloco continental. Apresenta-se bastante plana, desde a zona praial até a borda da plataforma onde a declividade se acentua bruscamente. O caráter am- plo e plano resultou das atividades erosivas e deposicionais, intimamente ligadas a série de regres- sões e transgressões marinhas, associadas a épocas de glaciação e deglaciação global. Os fenômenos erosivos e de sedimentação marinha se concentram na faixa de antepraia. Desta forma a morfologia, bem como a cobertura sedimentar da maioria das plataformas continentais são relíquias dos ambientes sedimentares instalados em períodos de nível de mar baixo, em um passado geológico recente. Coutinho (1976) considerando os vários as- pectos da morfologia e da distribuição dos diversos tipos de sedimentos na plataforma continental do Nordeste brasileiro, sugeriu dividi-la em três seg- mentos perfeitamente identificáveis, denominando- os de plataforma interna (até a isóbata de -20m), média (de -20 a -40m) e externa (de -40 a -60m). A plataforma continental do Estado de Pernambuco apresenta, na sua quase totalidade, re- duzida largura (média de 35km), pouca profundida- de, declive suave, quebra da plataforma entre -50 e -60m, águas relativamente quentes, salinidade ele- vada e cobertura sedimentar composta por sedimen- tos terrígenos e carbonáticos biogênicos. O baixo índice de erosão continental e a pequena taxa de sedimentação marinha na platafor- ma, associados a fatores estruturais da área, podem ser responsáveis pela reduzida largura, enquanto a pouca profundidade é atribuída à ineficiência de processos marinhos nos últimos períodos geológi- cos. É possível ainda que a Corrente do Brasil pos- sa, em parte, explicar o modesto desenvolvimento da plataforma, similar ao que ocorreu com a plata- forma sudeste de Angola (Manso, 1997). Um dos traços morfológicos mais caracterís- ticos do litoral é sem dúvida a presença constante, na plataforma continental interna, de linhas de beachrocks geralmente paralelas à costa, servindo de substrato para o desenvolvimento de algas e co- rais, além de constituir uma efetiva proteção ao li- toral na medida em que absorve grande parte da energia das ondas incidentes, mesmo estando com- pletamente submersos.
  • 2. 18 A plataforma continental de Pernambuco é caracterizada por uma ativa produção carbonática orgânica que se traduz pelo desenvolvimento de fundos de algas calcárias. As algas, que formam o principal componente destes sedimentos de fundo, pertencem à família Coralinaceae, subfamília Melobesiae, com uma ou mais espécies do gênero Lithothamnium. São constituídas de 75 a 95% de carbonato de cálcio, 4 a 10% de carbonato de magnésio e ainda de oligoelementos. Geralmente o limite superior de ocorrência destas algas calcárias está ligado diretamente ao fim da influência terrígena, normalmente em torno de -20m, enquanto seu limite inferior está situado entre -80m e -90m, raramente atingindo -100m de profundidade (Man- so,1997). Ao lado das algas coralinas, merecem destaque as algas verdes calcificadas, representadas pelo gênero Halimeda, Udotea e Penicillius, que são igualmente importantes formadoras de sedimen- tos biogênicos (Coutinho,1976). A predominância de sedimentos carbo- náticos orgânicos na plataforma continental de Pernambuco é resultado da interação dos seguintes fatores, segundo Coutinho, (1976): a) Plataforma estreita, rasa, águas quentes, salinidade elevada e ação das correntes; b) Predominância de clima semi-árido no in- terior do continente, resultando no peque- no aporte de sedimento à plataforma e conseqüentemente, presença de substrato duro, desprovido de sedimento fino, ideal para fixação da epifauna e da epiflora; c) Fraco desenvolvimento de corais her- matípicos; d) Fenômeno de competição, algas calcárias versus corais. Outra característica da plataforma pernam- bucana é a pequena quantidade de corais, compara- da ao grande desenvolvimento de algas. O cresci- mento desses corais ficou restrito aos substratos litificados, representados pelas antigas linhas de praias ou estruturas de recifes algálicos. O cresci- mento atual dos corais é restrito ao lado externo dos beachrocks ou sobre as construções de algas calcárias incrustantes. ÁREA DE ESTUDO A área estudada se localiza no litoral Sul do Estado de Pernambuco englobando parte dos muni- cípios de Ipojuca e Sirinhaém. É limitada a Norte pela praia de Porto de Galinhas e a Sul pela praia de Campos perfazendo uma área de 374km2 (Fig. 1). Está compreendida entre os paralelos 80 30’16” e 80 43’23” de latitude sul e os meridianos 340 57’50” e 350 07’28” de longitude oeste. I.Itamaracá Praia de Casa Caiada Praia do Pina Praia da Boa Viagem Praia da Piedade Praia de Candeias Praia do Paiva Praia de Suape Recife OCEANOATLÂNTICO 7°30’0 0”S 8°52’3 0”S 46 00'o 38 00' o 16 00' o 0 00'o M A C E P I R N P B A L S E B A PENORDESTE DO BRASIL Praia de Porto de Galinhas Olinda Cabo de Santo Agostinho Praia de Guadalupe Praia de Campos Praia de Sirinhaém Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo. METODOLOGIA As amostras analisadas foram obtidas em 8 perfis, aqui denominados de P1 até P8, distribuídos perpendicularmente à linha de costa e com um com- primento de aproximadamente 5km cada, atingindo, na maioria deles, a isóbata de -20m (Fig. 2). As 54 amostras obtidas, foram coletadas por um pequeno amostrador retangular de fabricação alemã e nos casos em que a recuperação era baixa, utilizou-se uma amostrador do tipo Gibbs. O posicionamento das estações amostradas foi realizado com o auxílio de um GPS Modelo Garmin 40. A análise granulométrica dos sedimentos foi baseada na metodologia adotada pelo Laboratório
  • 3. 19 de Geologia Marinha (LGGM) da Universidade Federal de Pernambuco. As amostras foram lavadas para a dessalinização e levadas a estufa para seca- gem a uma temperatura de 600 C. Após a secagem, as amostras foram quarteadas e 100g foram retiradas para análise. Da fração arenosa (granulométrica >0,062mm) foi realizado o peneiramento a seco em intervalos de 1,0φ. O material fino (<0,062mm) foi analisado usando-se o método de pipetagem (Krum- bein & Pettijohn,1938; Folk,1974; McManus,1988). O cálculo dos parâmetros estatísticos (Md, Mz, Si, Ski e Kg) foi realizado segundo as fórmulas de Folk & Ward (1957) utilizando-se o software PANCOM - Programa de Análise Completa V.91 (ECD) (Toldo Jr. E.E. & Dornelles,C.E.,1986). O mapa batimétrico foi traçado a partir da Carta 930 da Diretoria de Hidrografia e Navegação, na escala inicial de 1:100.000 e foram utilizadas, para maior detalhamento, as folhas de bordo da área de estudo. A interpolação das curvas batimétricas foi efetuada manualmente e com o espaçamento isobatimétrico de metro em metro. MORFOLOGIA DE FUNDO A plataforma continental interna do litoral sul de Pernambuco, apresenta uma morfologia ho- mogênea com algumas irregularidades e com uma declividade suave (<1:400) (Fig. 3). Em função das características morfo-estruturais observadas na área, o alto estrutural de Santo Aleixo (rochas vulcânicas ácidas, riolitos) cuja ilha do mesmo nome é seu ponto mais elevado e as falhas que imprimem signi- ficativa diferenciação nos padrões das curvas batimétricas, a plataforma continental interna da área estudada foi dividida em dois setores: Norte e Sul (Manso, 1997). 9055000m 9035000m 270000m 280000m Praia de Porto de Galinhas Praia Ponta de Serram bi Praia do Toquinho Praia de Sirinhaém Praia de Guadalupe Rio Sirinhaém Rio M aracaípe Rio Formoso Praia de Cam pos Ilha de Santo Aleixo OceanoAtlântico 0 1,5 km 20m 20m 11 12 13 14 15 16 21 22 2324 2526313233 34 35 36 4243 44 45 41 5152 53 54 55 56 57 66 65 64 P1 P2 P3 P4 P5 P6 63 62 61 P7 72 73 74 75 76 77 P8 81 82 83 84 85 86 Coordenadas UTM MC 33°W GR Ponta da G amela Praia de G uaiamun Figura 2 - Mapa de localização das estações de amostragem da plata- forma continental interna da região entre Porto de Galinhas e praia de Campos-PE. 9055000m9035000m 270000m 280000m Praia de Porto de G alinhas Praia Ponta de Serram bi Praia do Toquinho Praia de Sirinhaém Praia de G uadalupe Rio Sirinhaém Rio M aracaípe Rio Formoso Praia de Cam pos Ilha de Santo Aleixo OceanoAtlântico 0 6km 20m 20m 6 6 6 8 8 8 8 10 10 10 10 12 10 12 12 12 12 14 14 14 8 10 16 16 16 18 18 18 H H’ H 0 (m) 10 20 30 G 0 (m) 10 20 30 G G’ F F’ E E’ D D’ C C’ B B’ A A’ F 0 (m) 10 20 30 E 0 (m) 10 20 30 D 0 (m) 10 20 30 C 0 (m) 10 20 30 B 0 (m) 10 20 30 A 0 (m) 10 20 30 6 12 1416 18 20m Ponta da Gam ela Praia de G uaiam un Coordenadas UTM MC 33°W GR Praia das C acim bas Figura 3 - Mapa batimétrico e de localização dos perfis da plataforma continental interna da região de Porto de Galinha a praia de Campos-PE. Outro aspecto morfológico importante ob- servado é, sem dúvida, a presença de quebras do re- levo, situadas principalmente entre as isóbatas de -10 e -15m em toda a plataforma continental interna da área estudada (Figs. 4 e 5). Essas quebras são mais bem visualizadas na plataforma continental interna do setor Sul e correspondem a antigos relevos resi- duais alterados pelos processos erosivos litorâneos da última regressão/transgressão (Corrêa,1996). O setor Norte compreende a plataforma con- tinental interna desde a região de Porto de Galinhas até o Alto de Santo Aleixo. Apresenta uma largura
  • 4. 20 0 1,5km Areia muito grossa a cascalhosa (-2 a 0 )Φ Areia grossa (0 a 1 )Φ Areia média (1 a 2 )Φ Areia fina a muito fina (2 a 4 )Φ Lama (> 4 )Φ 0 10 20 30 (m) Perfil E-E’ Perfil F-F’ 0 10 20 30(m) 0 10 20 30 (m) Perfil G -G ’ 0 10 20 30 (m) Perfil H -H ’ Figura 5 - Perfis batimétricos do setor sul da plataforma continental interna da região entre Alto de Santo Aleixo e Praia de Campos, com distribuição dos sedimentos superficiais em relação ao diâmetro mé- dio (Mz). 0 10 20 30 (m) Perfil A -A’ 0 10 20 30 (m) Perfil B-B’ Perfil C -C ’ 0 10 20 30 (m) Perfil D -D ’ 0 10 20 30 (m) 0 1,5km Areia grossa (0 a 1 )Φ Areia média (1 a 2 )Φ Areia fina a muito fina (2 a 4 )Φ Lama (> 4 )Φ Areia muito grossa a cascalhosa (-2 a 0 )Φ Figura 4 - Perfis batimétricos do setor norte da plataforma continental interna da região entre Porto de Galinhas e Alto de Santo Aleixo, com distribuição dos sedimentos superficiais em relação ao diâmetro mé- dio (Mz).
  • 5. 21 média de 3km e a sua configuração batimétrica é caracterizada pela existência de formas mor- fológicas do tipo bacias. Observa-se a existência de um pequeno banco, em uma área frontal a desembo- cadura do rio Maracaípe, de forma linear e disposto quase que paralelamente à costa, na profundidade de -8m, com 1,8km de extensão e aproximadamente 250m de largura. Este banco poderia estar relaciona- do a uma antiga barreira arenosa-recifal desenvolvi- da nas proximidades da desembocadura do rio Maracaípe em um período de mar mais baixo, como pode ser observado hoje na região costeira que margeia a desembocadura do referido rio. Observa- se também uma batimetria irregular na profundidade entre os -10 e -14m, na altura da Ponta de Serrambi, a qual encontra-se relacionada a depósitos de recifes de corais e algas coralinas que se associam ao depó- sito existente na área costeira desta região (Fig. 3). Quatro perfis batimétricos efetuados no setor Norte evidenciaram a morfologia desta plataforma, desta- cando sua homogeneidade (Fig. 4). O perfil AA’ (direção W-E), ao Norte de Porto de Galinhas, mostra configuração de fundo bastante homogênea ao longo de todo perfil. Apre- senta declividade acentuada (1:35) até a profundida- de de -12m, a partir da qual torna-se suave (1:400) até a isóbata de -20m. Os sedimentos de fundo são formados por areias médias de composição terrígena e bioclástica até a profundidade de -17m, e a partir deste ponto são de composição lamosa (Fig. 4). Observa-se sobre o perfil a presença de um pequeno terraço na profundidade dos -12m. O perfil BB’ (direção W-E), na praia de Porto de Galinhas, mostra fundo homogêneo ao lon- go de todo o perfil, tendo uma declividade acentua- da (1:60) até a isóbata de -10m, suavizando-se até a profundidade de -18m (1:400) onde se observa um aumento da declividade formando um pequeno ter- raço. Os sedimentos de fundo, até a profundidade de -4m, são compostos de areia muito fina, típicas de ambientes de mais baixa energia como é o caso em áreas de enseadas onde esta energia, transmitida pelos trens de ondas, se dissipa. A partir deste ponto até a profundidade de -17m estes sedimentos são caracterizados pela presença de areias médias de composição terrígena e bioclástica gradando, até os -20m, para sedimentos lamosos (Fig. 4). O perfil CC’, localizado na desembocadura do rio Maracaípe, tem direção NW-SE e apresenta uma topografia de fundo bastante movimentada, ten- do inclusive a presença de dois pequenos terraços nas profundidades de -10m e -18m e a presença de um banco arenoso na profundidade de -8m, sendo a declividade mais acentuada (1:50) até a profundida- de de -12m. Os sedimentos de fundo, até -13m, são constituídos por areias médias de composição terrígena e bioclástica e a partir desta profundidade são formados por lamas (Fig. 4). O banco arenoso observado sobre este perfil corresponde provavel- mente, a uma antiga barreira arenosa-recifal forma- da em um período de nível de mar mais baixo, du- rante a transgressão holocênica. O perfil DD’ tem direção NW-SE e localiza- se na praia das Cacimbas. Apresenta configuração de fundo plana e declividade suave (1:400) até os -20m. Observa-se a presença de dois terraços nas profun- didades de -8m e -15m. Os sedimentos de fundo, até a profundidade de -10m, são formados por areias médias de composição terrígena e bioclástica e a partir desta profundidade, por areias grossas de composição bioclástica (Fig. 4). O setor Sul compreende a plataforma conti- nental interna entre o Alto de Santo Aleixo e a praia de Campos. Apresenta largura superior à do setor norte com um valor em torno de 7km. A configura- ção das curvas batimétricas mostra uma plataforma sem muita irregularidade e com pequenas depres- sões posicionadas quase que paralelamente à zona costeira da área (todas na profundidade de -12m). O padrão das curvas batimétricas mostra claramente, do ponto de vista estrutural, uma seqüência de fa- lhas transcorrentes escalonadas com direção NW-SE e rejeito dextral. Estas linhas de falhas são visivel- mente observadas na isóbata de -6m, principalmente na plataforma continental interna da praia do Guaiamum e na adjacente à foz do rio Formoso, sendo estas consideradas continuidades das falhas de Santo Amaro e do rio Formoso (Manso,1977). Quatro perfis batimétricos mostram a morfologia deste setor (Fig. 5). O Perfil EE’, com direção NW-SE e locali- zado na praia de Sirinhaém, apresenta uma topogra- fia de fundo plana com pequenas ondulações princi- palmente entre as profundidades de -6 e -12m. Mostra declividade suave (1:500) até a profundidade de -12m a partir do qual acentua-se até atingir -18m, voltando a suavizar até os -20m. Uma pequena ele- vação é observada -10m, disposta longitudinalmente à linha de costa e na altura da desembocadura do rio Sirinhaém, provavelmente relacionado ao que restou de uma antiga barreira arenosa-recifal, como a ob- servada no perfil CC’ do setor Norte. Os sedimentos
  • 6. 22 9055000m9035000m 270000m 280000m LEGENDA Praia de Porto de G alinhas Praia P onta de Serram bi Praia do Toquinho Praia de Sirinhaém Praia de G uadalupe Rio Sirinhaém Rio M aracaípe Rio Form oso Praia de C am pos Ilha de S anto A leixo Areia a areia cascalhosa OceanoAtlântico 0 1,5km 20m 20m Isóbata de 2020m Lama Lama arenosa Areia lamosa Coordenadas UTM MC 33°W GR Praia de G uaiam un Ponta da G am ela Figura 6 - Mapa de distribuição das classes granulométricas da plata- forma continental interna da região de Porto de Galinhas a praia de Campos, com base no triângulo de Shepard. de fundo até a profundidade de -10m são formados por areias médias de composição terrígena e bioclástica e a partir deste ponto, até a profundidade de -20m, por areia grossa com biodetrito (Fig. 5). O perfil FF’, com direção NW-SE, localiza- do na praia de Guaiamun, apresenta um terraço bem distinto na profundidade de -10m. A topografia de fundo apresenta-se bem mais plana que os demais perfis do setor sul. Os sedimentos que recobrem o fundo são, até a profundidade de -8m, constituídos por areias médias de composição terrígena e bioclástica e a partir deste ponto, até -20m, são for- madas por areias grossas com biodetritos, caracte- rizando um ambiente de mais alta energia, bastante semelhante ao perfil anteriormente descrito (Fig. 5). O perfil GG’, localizado na praia de Ponta da Gamela, com direção NW-SE, apresenta uma morfologia de fundo homogênea em toda sua exten- são, com a presença de um banco em sua parte cen- tral, na profundidade de -8m. Até os -10m de pro- fundidade, os sedimentos de fundo são formados por areia média de composição terrígena com pre- sença de bioclásticos, seguidos por depósitos de areia grossa com biodetrítico (Fig. 5). Este banco observado sobre o perfil GG’ se assemelha com o perfil CC’ descrito no setor Norte. O perfil HH’, localizado na foz do rio For- moso, com direção NW-SE, apresenta morfologia de fundo e declividade bem movimentadas. É bem nítida a presença de inflexões em seu relevo nas profundidades de -8, -10 e -18m, caracterizadas em forma de terraços. A distribuição dos sedimentos de fundo também é mais diversificada em relação aos demais perfis do setor. Apresenta areia fina a muito fina (quartzosa) até a profundidade de -6m, areia média terrígena a bioclástica no intervalo de -6 à -8m, areia grossa com biodetrito entre as profundidades de -8 à -18m e a partir desta profundidade até atingir -20m ocorre areia muito grossa a cascalhosa (Fig. 5). Este perfil se encontra localizado sobre o alinha- mento da falha do rio Formoso. DISTRIBUÇÃO DOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS SEGUNDO O DIAGRAMA DE SHEPARD (1954) Com base nos resultados obtidos no diagra- ma de Shepard (1954) e levando em consideração as proporções de areia+cascalho, silte e argila, agru- pou-se os sedimentos em 4 classes granulométricas distintas: arenosa a areno-cascalhosa, areno-lamosa, lamo-arenosa e lamosa (Fig. 6). Classe arenosa a areno-cascalhosa O material classificado texturalmente como “arenoso a areno-cascalhoso”, compreende sedi- mentos essencialmente terrígenos contendo mais que 50% da fração areia, podendo em algumas amostras atingir valores acima de 95% do total da mesma e tendo a presença de cascalho biodetrítico associado. Distribui-se de maneira geral por toda a plataforma interna da área estudada tendo como li- mite externo a isóbata de -20m. Esta classe é forma- da por areias relíquias com conteúdo de material biogênico inferior a 20%, sendo este constituído essencialmente por fragmentos de algas, restos de corais, foraminíferos e fragmentos de conchas. Con- tém ainda, em pequenas quantidades: espículas, briozoários e gastrópodes. Todo o material biogênico se apresenta altamente fragmentado e retrabalhado pela ação da dinâmica das ondas e correntes. Os sedimentos terrígenos são formados predominantemente por quartzo e algumas vezes pela presença de fragmentos de rocha.
  • 7. 23 Classe areno-lamosa Esta classe é observada em uma pequena área ao sul, mais precisamente na região frontal à foz do rio Formoso. É formada por areias relíquias com te- ores de lama entorno de 45% caracterizando depósi- tos transicionais entre as seqüências lamosas e areno- cascalhosa. O material biogênico é composto essenci- almente por fragmentos de algas, de conchas e corais. O material detrítico é constituído predominantemente por quartzo e fragmentos de rocha. O quartzo se apre- senta na sua maioria subanguloso a subarredondado, com esfericidade de baixa à média e em determinados setores apresenta oxidação superficial. Classe lamo-arenosa Esta classe é observada em pequenas con- centrações próximas à região litorânea. As ocorrên- cias localizadas na altura dos pontais de Toquinho e Serrambi são as mais significativas. É constituída por sedimentos sílticos e argilosos com concentra- ção de areia inferior a 45%. O material arenoso é predominantemente quartzoso, com grãos subangu- losos a subarredondados, apresentando esfericidade de baixa à média. Estes depósitos encontram-se em áreas de baixa energia, protegidos por recifes de co- rais ou arenitos de praias (beachrocks). Classe lamosa Esta classe compreende sedimentos sílticos e argilosos com baixa concentração de areia (4 a 10%). Ocorre predominantemente em forma de lín- gua numa faixa aproximadamente paralela ao litoral entre as praias de Porto de Galinhas e Ponta de Serrambí. Essas lamas são essencialmente terrígenas e sua ocorrência está intimamente associada ao de- ságüe fluvial moderno, no caso específico da área, o rio Maracaípe. Em função de alguns fatores, entre eles a posição do nível relativo do mar e a descarga sólida do sistema fluvial atual, grande parte do material em suspensão fica retido nos estuários, desembocaduras de rios ou em zonas costeiras com estruturas naturais (baías e planície de maré) ou artificiais de trapeamento (obras de engenharia cos- teira). No caso particular da área estudada a estrutu- ra de retenção de sedimentos sílticos e argilosos é constituída pela existência, em larga escala, de gran- des concentrações de recifes algálicos tanto emersos como submersos. Estes recifes criam áreas protegi- das na plataforma continental interna, com nível de energia de circulação menor, favorecendo a deposi- ção das lamas. DISTRIBUIÇÃO DOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS SEGUNDO O DIÂMETRO MÉDIO (Mz) O diâmetro médio é sem dúvida o mais importante parâmetro estatístico utilizado na sedimentologia. Do ponto de vista geológico ele reflete a média geral de tamanho dos grãos dos se- dimentos, os quais são afetados pela fonte de supri- mento de material, pelo processo de deposição e pela velocidade de corrente (Folk & Ward,1957). Observa-se nos sedimentos analisados que os mesmos apresentam o diâmetro médio variando entre os intervalos: -2 a 0Φ = areia muito grossa à cascalhosa; 0 a 1Φ = areia grossa; 1 a 2Φ = areia média; 2 a 4Φ = areia fina a muito fina; e > 4Φ = lama O mapa de distribuição do diâmetro médio (Fig. 7) mostra para toda a plataforma continental interna da área estudada distribuição regular desses intervalos em faixas granodecrescentes no sentido W-E. 9055000m9035000m 270000m 280000m LEGENDA Praia de Porto de G alinhas Praia Ponta de Serram bi Praia do Toquinho Praia de Sirinhaém Praia de G uadalupe Rio Sirinhaém Rio M aracaípe Rio Form oso Praia de C am pos Ilha de Santo A leixo OceanoAtlântico 0 1,5km 20m 20m Isóbata de 20 metros20m Areia muito grossa a cascalhosa (-2 a 0 )Φ Areia grossa (0 a 1 )Φ Areia média (1 a 2 )Φ Areia fina a muito fina (2 a 4 )Φ Lama (> 4 )Φ Praia de G uaiam un Ponta da G am ela Coordenadas UTM MC 33°W GR Figura 7 - Mapa de distribuição dos sedimentos na plataforma conti- nental interna entre Porto de Galinhas e praia de Campos, com base no diâmetro médio (Mz).
  • 8. 24 De acordo com o mapa da figura 7, a areia muito grossa a cascalhosa se distribui restritamente em duas áreas bem individualizadas, ambas na re- gião frontal da foz dos rios Sirinhaém e Formoso, se encontrando em ambas as áreas, a uma profundidade superior -10m. Sua composição é exclusivamente biogênica, predominantemente formados por restos de corais, fragmentos de algas e de conchas e por gastrópodes. Este material, com boa seleção, prova- velmente está relacionado a depósitos relíquias, de populações oriundas do transporte litorâneo e con- trolados pela energia do ambiente costeiro, associa- dos à contribuição biogênica moderna e a antigos recifes de corais ou arenitos de praia (beachrocks), como os que ocorrem atualmente na região costeira. A areia grossa ocorre em uma faixa contí- nua paralela à linha de costa, aproximadamente entre as isóbatas de -9 e -20m, limite leste da área estudada. Esta faixa de ocorrência de areia grossa é interrompida ao norte da área na altura da Ponta de Serrambi, onde é mascarada por uma mancha de lama. A areia média ocorre bem individualizado em uma faixa com uma largura média de 500m, contínua e subparalela à zona litorânea da área estu- dada. Nas proximidades da Ponta de Serrambi é in- terceptada por material pelítico. A areia fina a muito fina ocorre em peque- nas áreas localizadas, na maioria das vezes, próxima à linha de costa. A lama por sua vez, ocorre na parte norte da área, mais precisamente na plataforma continental interna entre as praias de Ponta de Serrambi e Porto de Galinhas. Este material é observado também, em pequena mancha na foz do rio Sirinhaém. Estas la- mas são oriundas do sistema de drenagem fluvial que deságua na região. CONCLUSÕES No geral, a plataforma continental interna da área estudada apresenta uma regularidade quanto a sua morfologia e cobertura sedimentar. A ilha vulcânica de Santo Aleixo é a única expressão morfológica da plataforma que se destaca, e consti- tui um marco divisório entre uma plataforma bem homogênea na configuração de suas isóbatas ao norte e uma mais heterogênea ao sul. A distribuição e forma das isóbatas sobre o mapa batimétrico evidenciam a presença de falhas estruturais, principalmente na região Sul na altura da foz do rio Formoso e na praia de Guaiamum, as quais apresentam direção concordante com as falhas de Santo Amaro e do rio Formoso, na área continental. Níveis de terraços são observados nas pro- fundidades de -8/-10m, -12/-15m e -18m, os quais provavelmente estiveram relacionados a ambientes de mais alta energia associados a estabilizações tem- porárias do nível do mar, durante a última transgres- são holocênica. Observa-se também a presença de bancos arenosos alinhados à linha de costa em áreas fron- tais à desembocadura dos rios Maracaípe, Sirinhaém e Formoso, os quais estão relacionados a antigas barreiras areno-recifais formadas em nível de mar mais baixo. Estes bancos se encontram localizados a uma profundidade média de -10m, estendendo-se por quase toda a área estudada. Do ponto de vista de distribuição do diâme- tro médio dos sedimentos, a área é recoberta por três populações granulométricas predominantes e distin- tas: areias médias com teores em torno de 30%; areias grossas com teores de 24%; e lamas com te- ores de 20%. Estas três populações recobrem a maior parte da área estudada. As duas populações restantes, areia muito grossa a cascalhosa perfaz 14% dos sedimentos e os restantes 12% são consti- tuídos por areias finas a muito finas. O material síltico-argiloso, aqui agrupado como “lama”, ocupa áreas restritas na parte sul e norte da plataforma continental interna se apresen- tando tapeados por linhas de recifes. Este material lamoso é provavelmente de origem fluvial podendo ser classificado como sedimento moderno. Sua com- posição não apresenta consideráveis teores de mate- rial de composição carbonática. Os sedimentos arenosos e de cascalhos bioclásticos são de origem marinho-raso e classifi- cados como relíquias ou mesmo palimpséticos, ocu- pando a maior parte da área, enquanto os modernos se restringem à foz dos rios da região. A plataforma continental interna estudada, do ponto de vista evolutivo, se caracteriza como sendo uma platafor- ma transgressiva. De maneira geral a plataforma continental interna da área estudada possui uma sedimentação dominantemente terrígena com constituintes quartzosos predominantes. Em algumas áreas ocorre a presença de material carbonático significativo onde o material bioclástico é formado predominan- temente por fragmentos de algas (Coralínas ramificadas e Halimeda), de conchas e carapaças de foraminíferos.
  • 9. 25 Agradecimentos - Os autores agradecem ao CNPq pela Bolsa de Pesquisa (Processo n°300.301/2003); ao Laboratório de Geologia e Geofísica Marinha-LGGM da UFPE e ao Centro de Estudos de Geo- logia Costeira e Oceânica-CECO da UFRGS, pelas facilidades conce- didas e pelo apoio sempre dispensado na realização deste trabalho. Este trabalho se acha integrado ao Programa de Geologia e Geofísica Marinha-PGGM. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Coutinho, P.N. 1976. Geologia marinha da plataforma continental Alagoas- Sergipe. Recife. 119p. Tese de Livre Docência. Univer- sidade Federal de Pernambuco. Corrêa, I.C.S. 1996. Les Variations du Niveau de la Mer durant les 17.500 ans BP: L’Exemple de la Plate-Forme Continentale du Rio Grande do Sul-Brésil. Marine Geology. Elsevier, Amsterdam- Holanda., 130 (1/2):163-178. Folk, R.L. 1974. Petrology of Sedimentary Rocks. Austin, Texas: Hemphills Publishing, 170p. Folk, R.L. & Ward,W.C. 1957. Brazos rives bar: A study in the significance of grain size parameters. Journal of Sedimentary Petrology, 27:3-27 Heezen, B.C. & Menard, H.W. 1966. Topography of the deep sea floor. In: M.N.Hill (ed), The Sea, Intersec. Publ., 3:233-280. Krumbein, W.C. & Pettijohn, F.J. 1938. Manual of Sedimentary Petrography. New York: Appleton-Century-Crofts, 549p. Manso, V.A.V. 1997. Geologia da planície costeira e da plataforma continental interna adjacente da região entre Porto de Gali- nhas e Tamandaré – litoral Sul de Pernambuco. Porto Alegre- RS. 171p. Tese de Doutorado em Geociências, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. McManus, J. 1988. Grain size determination and interpretation. In: Techniques in Sedimentology, ed. M.E. Tucker. Oxford: Blackwells, p.63-85. Shepard, F.P. 1954. Depositional mechanism from the size analysis of clastics sediments. Journal of Sedimentary Petrology, Tulsa, Okla, 34:73-83. Toldo Jr., E.E. & Dornelles, C.E. 1986. PANCOM (software) – Pro- grama de Análise Completa (ECD), Centro de Estudos de Geo- logia Costeira e Oceânica-CECO, Instituto de Geociências, Univer- sidade Federal do Rio Grande do Sul.