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DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA 
E COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 
Prof. Luiz Eduardo P. Baronto 
prof.luizbaronto@gmail.com 
MECANISMOS DE COESÃO 
(do Manual de redação da PUC/RS) 
A língua possui amplos recursos para realizar a coesão. Eis os principais. 
2.1 Coesão por referência 
Exemplo: 
Fernando Hadad esteve, ontem, no bairro do Limão. Lá, o prefeito disse que 
a prefeitura continuará as obras de saneamento básico. 
Onde "Lá" retoma "bairro do Limão", e "o prefeito" retoma "Fernando Hadad". Os elementos de referência não 
podem ser interpretados por si mesmos; remetem a outros itens do texto, necessários a sua interpretação. São 
elementos de referência os pronomes pessoais (ele,ela, o, a, lhe, etc.), possessivos (meu, teu, seu, etc.), 
demonstrativos (este, esse aquele, etc.) e os advérbios de lugar (aqui, ali, etc.). 
2.2 Coesão por elipse 
Exemplo: Fernando Hadad esteve, ontem, no bairro do Limão. Lá, disse que a prefeitura continuará as obras de 
saneamento básico. Onde = bairro do Limão, ou seja, o leitor, ao ler o segmento B, se depara com o verbo dizer 
(“disse”) e, para interpretar seu sujeito, tem que voltar ao segmento A e descobrir que quem disse foi Fernando 
Hadad. 
2.3 Coesão lexical 
2.3.1 Coesão lexical por sinônimo Exemplo: Rui Barbosa, na sua magistral conferência sobre Oswaldo 
Cruz, em 1917, nos dá lições acabadas da arte da sinonímia. 
Santo Presente 
(Zero Hora, 19/05/1997) 
Para dizer febre amarela, por exemplo, empregou todas estas expressões sinônimas: vômito negro, a praga 
amarela, estigma desastroso, contágio brasileiro, o mesmo flagelo, germe amarílico, a tenaz endemia, 
a prega, a terrível doença, o contágio homicida, calamidade exterminada, a devoradora calamidade, a 
maligna enfermidade, essa desgraça, a terrível coveira, infecção xantogênica, esse contagio fatal ... 
nada menos que dezessete formas e recursos para evitar a repetição enfadonha. 
Referindo-se aos ratos, eis a série por ele excogitada: rataria, rasteira e abjeta família, esses vilíssimos 
roedores, essa espécie roaz, ralé inumerável, raça insaciável dos murídeos. 
Mencionando o fato da morte assim resolve Rui o problema da não repetição de termos: a cólera-mórbus deu 
morte ... a peste negra roubou 25 milhões de indivíduos à Europa ... dessa calamidade apenas escaparam 
um terço dos habitantes ... o número dos sepultados excede o dos sobreviventes ... de vinte mal se 
salvam duas pessoas ... no Hotel-Dieu expiram quinhentos ... para servirem de sepulcrário aos corpos que 
nos cemitérios já cabem ... Paris registra cinquenta, Londres cem mil óbitos ... A Itália perde a metade de sua 
população ... vinte cinco milhões, pelo menos, desaparecem ... se diz haver arrebatado ao gênero humano 
cem milhões de vidas. Onze recursos de sinonímia num trecho de 34 linhas apenas! 
(LEITE, Ulhoa Cintra Marques. "Novo Manual de Redação e Estilo", Rio de Janeiro, 1953) 
A substituição de um nome próprio por um nome comum se processa muitas vezes mediante a antonomásia. 
Trata-se de um recurso que expressa um atributo inconfundível de uma pessoa, de uma divindade, de um povo, 
de um país ou de uma cidade.
2 
Veja os exemplos. 
Castro Alves - O Poeta dos Escravos Gonçalves Dias - O Cantor dos Índios José Bonifácio - O Patriarca da 
Independência Simon Bolívar - O Libertador Rui Barbosa - O Águia de Haia Jesus cristo - O Salvador, o 
nazareno, o Redentor Édipo - O Vencedor da Esfinge Átila - O Flagelo de Deus Aquiles - O Herói de Tróia D. 
Quixote - O Cavaleiro de Triste Figura Cuba - A Pérola das Antilhas Veneza - A rainha do Adriático Jerusalém - 
O Berço do Cristianismo Egito - O Berço dos Faraós Ásia - O Berço do Gênero Humano Leônidas - O Herói das 
Termópilas Sólon - O Legislador de Atenas Moisés - O Legislador dos Judeus Hipócrates - O Pai da Medicina 
Heródoto - O Pai da História José de Alencar - O Autor de Iracema Raimundo Correa - O Autor de As Pombas 
Vênus - A Deusa da Beleza 
2.3.2 Coesão lexical por hiperônimo: Muitas vezes, neste tipo de coesão, utilizamos sinônimos 
superordenados ou hiperônimos, isto é, palavras que correspondem ao gênero do termo a ser retomado. 
Exemplo: Acabamos de receber 30 termômetros clínicos. Os instrumentos deverão ser encaminhados ao 
Departamento de Pediatria. 
2.3.3 Coesão lexical por repetição do mesmo item 
Exemplo: A presidenta viajou pelo Brasil. A presidenta reuniu nas capitais grande multidão de admiradores. 
2.4 Coesão por substituição A coesão por substituição consiste na colocação de um item num lugar de outro 
segmento. Exemplo: O ministro cumprimentou os presentes. Os secretários também. O ministro é a favor da 
liberação das obras. Mas eu não penso assim. O ministro levantou-se da sessão. Todos fizeram o mesmo. 
3. Observação de textos 
Melhor do que teorizar sobre o assunto, com definições e classificações, é OBSERVAR os textos, conforme 
convicção exposta no capítulo "Como desenvolver a competência textual", que embasa a proposta deste "Guia de 
Produção Textual". A melhor escola é a leitura inteligente de textos modelares. 
3.1 Leia o texto a seguir completando mentalmente as lacunas. 
Uma cocheira para dois 
David Coimbra - (Zero Hora, 28/3/1996) 
Algumas pessoas têm a sensibilidade de um cavalo. São poucas, porém. Nem todas demonstram tanta ternura 
quanto ...................... que se equilibram sobre quatro ferraduras. E às vésperas de um grande acontecimento do 
mundo ...... , como o GP Bento Gonçalves do próximo domingo, eles se tornam ainda mais dados a melindres, tais 
são os mimos que lhes dispensam cavalariços, proprietários, jóqueis e treinadores. ........... são carentes. Nada 
pior para eles do que a solidão. Precisam de uma companhia. Qualquer uma. Outros ......... , se possível. Não 
sendo, se contentam com uma ovelha, um galo-de-briga, até um radinho de pilha. Em último caso, serve um 
espelho para lhes dar a ilusão de que não estão sós no escuro da cocheira. O ........ inglês Dani Angeli, três anos 
de idade, se afeiçoou especialmente a uma .................. que vive no Grupo de Cocheiras Clóvis Dutra, na Vila 
Hípica do Cristal. Quando ............ não está por perto, ................ fica inquieto. Não dorme sem ela. Uma noite 
longe da ............... significa uma noite de insônia, de ranger nostálgico de dentes e patadas nervosas na 
forragem que lhe serve como leito. Ao raiar da manhã, o cavalariço o encontra irreconhecível, estressado, incapaz 
de enfrentar um dia de trabalho ............... e a ovelhinha dormem juntos, passeiam diariamente lado a lado e até 
quando ele viaja para disputar alguma prova fora do Estado ela precisa ir junto. Sem .................... Dani Angeli 
não é ninguém. 
3.2 Agora observe os mecanismos de coesão. 
3.2.1 - Coesão lexical por sinônimos
3 
· Complete as lacunas com 
- a companheira encaracolada - a amiga lanuda - ovelhinha que substituem a palavra "ovelha". 
· Complete as lacunas com 
- puro sangue - esses espíritos suscetíveis - equino que substituem a palavra "cavalo(s)". 
3.2.2 - Coesão lexical por repetição do mesmo item 
· Complete as lacunas com 
- cavalos - cavalos - Dani Angeli 
· Que efeito estilístico decorre da substituição de "ovelha" por "ovelhinha", "a companheira encaracolada" e 
"a amiga lanuda"? Em outras palavras, que atitude o autor do texto expressa mediante tais substituições? 
3.2.3 - Coesão lexical por referência 
· Circule os pronomes que se referem a "ovelha". 
· Sublinhe os pronomes que se referem a "cavalo". 
3.2.4 - Coesão por elipse * Identifique os elipses em 
- Precisam de uma companhia - ... se contentam com uma ovelha ... - ... não estão sós no escuro da cocheira - 
Não dormem sem ela - ... passeiam diariamente lado a lado 
3.3 Complete mentalmente as lacunas do texto a seguir 
Erva e marimbondos 
(Zero Hora, 18/04/1996) 
A rainha e princesas da Feira Nacional do Chimarrão, de Venâncio Aires, animaram a manhã do presidente do 
Senado, José Sarney, ontem. .................... é convidado especial da Fenachim, que se realiza de 3 a 12 de maio. 
Ciceroneadas pelo governador Antônio Britto, ................. entregaram um pacote de boa erva ao .......... . Não 
será de grande proveito. Natural do Maranhão e eleito pelo Amapá, ...................... está mais acostumado com 
água de coco. 
3.4 Agora, complete as lacunas com 
- o primeiro - o segundo - ambos - um e outro - Tanto o rei do crime em Chicago - o ex-presidente - Capone - 
Collor - legendário Scarface - gângster 
3.5 Observe, finalmente, o terceiro texto completando as lacunas com 
- Ribamar - O autor de "Marimbondos de Fogo" - ex-presidente da República - as beldades 
Os diversos mecanismos de coesão 
São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam os mecanismos de coesão. 
Consideramos que é necessário perceber como esses mecanismos estão presentes no texto (quando estão) e de 
que maneira contribuem para sua tecitura, sua organização. 
Para Mira Mateus (1983), "todos os processos de sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma 
ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual podem ser encarados como 
instrumentos de coesão." Esses instrumentos se organizam da seguinte forma:
4 
Coesão lexical 
Neste tipo de coesão, usamos termos que retomam vocábulos ou expressões que já ocorreram, porque existem 
entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo opostos. Dentro da coesão lexical, podemos distinguir a 
reiteração (repetição) e a substituição. 
Por reiteração entendemos a repetição de expressões linguísticas; neste caso, existe identidade de traços 
semânticos. Este recurso é, em geral, bastante usado nas propagandas, com o objetivo de fazer o ouvinte/leitor 
reter o nome e as qualidades do que é anunciado. Observe, nesta propaganda da Ipiranga, quantas vezes é 
repetido o nome da refinaria. 
Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil 
uma refinaria brasileira dar certo. 
Quando a Ipiranga começou a produzir querosene de padrão internacional, 
muitos afirmavam, também, que dificilmente isso seria possível. 
Quando a Ipiranga comprou as multinacionais Gulf Oil e Atlantic, muitos 
disseram que isso era incomum. 
E, a cada passo que a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca faltaram 
previsões que indicavam outra direção. 
Quem poderia imaginar que a partir de uma refinaria como aquela a Ipiranga 
se transformaria numa das principais empresas do país, com 5600 postos de 
abastecimento anual de 5,4 bilhões de dólares? 
E, que além de tudo, está preparada para o futuro? 
É que, além de ousadia, a Ipiranga teve sorte: a gente estava tão ocupado 
trabalhando que nunca sobrou muito tempo para prestar atenção em profecias. 
(Revista VEJA, nº 37, setembro/97) 
Outro exemplo: 
A história de Porto Belo envolve invasão de aventureiros espanhóis, 
aventureiros ingleses e aventureiros franceses, que procuraram portos 
naturais, portos seguros para proteger suas embarcações de tempestades. 
(JB, Caderno Viagem, 25/08/93) 
A substituição é mais ampla, pois pode se efetuar por meio da sinonímia, da antonímia, da hiperonímia, da 
hiponímia. Vamos ilustrar cada um desses mecanismos por meio de exemplos. 
Sinonímia 
a) Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba. João Paulo II decidiu visitar em janeiro a ilha da 
Fantasia. (Revista VEJA, nº 39, outubro/97) 
Os termos assinalados têm o mesmo referente. Entretanto, é preciso esclarecer que, neste caso, há um 
julgamento de valor na substituição de Cuba por ilha da Fantasia, numa alusão a lugar onde não há seriedade. 
b) Aos 26 anos, o zagueiro Júnior Baiano deu uma grande virada em sua carreira. Conhecido por suas 
inconsequentes "tesouras voadoras", ele passou a agir de maneira mais sensata, atitude que já levou até a 
Seleção Brasileira.
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Patrícia, a esposa, e os filhos Patrícia Caroline e Patrick são as maiores alegrias desse baiano nascido na cidade 
de Feira de Santana. "Eles são a minha razão de viver e lutar por coisas boas", comenta o zagueiro. 
Na galeria do ídolos, Júnior Baiano coloca três craques: Leandro, Mozer a Aldair. "Eles sabem tudo de bola, diz o 
jogador. O zagueiro da Seleção só questiona se um dia terá o mesmo prestígio deles. 
Deixando para trás a fase de desajustado e brigão, o zagueiro rubro-negro agora orienta os mais jovens e 
aposta nesta nova geração do Flamengo. 
(Jornal dos Sports, 24/08/97) 
Este tipo de procedimento é muito útil para evitar as constantes repetições que tornam um texto cansativo e 
pouco atraente. Observe quantas diferentes maneiras foram empregadas para fazer alusão à mesma pessoa. 
Dentro desse parágrafo, observamos ainda outros mecanismos de coesão já vistos anteriormente: sua, ele, o, 
que retomam o jogador Júnior Baiano, e deles, que retoma os três craques. 
c) Como uma ilha entre as pessoas que se comprimiam no abrigo do bonde, o homem mantinha-se concentrado 
no seu serviço. Era especialista em colorir retrato e fazia caricatura em cinco minutos. No momento, ele retocava 
uma foto de Getúlio Vargas, que mostrava um dos melhores sorrisos do presidente morto. (Wander Piroli, 
Trabalhadores do Brasil ) 
d) Vestia um camisolão azul, sem cintura. Tinha cabelos longos como Jesus e barbas longas. Nos pés calçava 
sandálias para enfrentar o pó das estradas e, a cabeça, protegia-a do sol inclemente com um chapelão de abas 
largas. Nas mãos levava um cajado, como os profetas, os santos, os guiadores de gente, os escolhidos, os que 
sabiam o caminho do céu. Chamava os outros de "meu irmão". Os outros chamavam-no "meu pai". Foi conhecido 
como Antonio dos Mares, uma certa época, e também como Irmão Antonio. Os mais devotos o intitulavam 
"Bom Jesus", "Santo Antonio". De batismo, era Antonio Vicente Mendes Maciel. Quando fixou sua fama, era 
Antônio Conselheiro, nome com o qual conquistou os sertões e além. (Revista VEJA,setembro/97) 
Os vocábulos assinalados indicam a sinonímia para o nome de Antônio Conselheiro.Por ser um parágrafo rico em 
mecanismos de coesão, vale a pena mostrar mais alguns deles. Por exemplo, o sujeito de vestia, tinha, calçava, 
levava, chamava, foi conhecido, fixou é sempre o mesmo, isto é, Antônio Conselheiro, mas só ao final do texto 
esse sujeito é esclarecido. Dizemos, então, que, neste caso, houve uma referência por elipse. 
Chamavam-no e o intitulavam - os pronomes oblíquos no e o retomam a figura de Antônio Conselheiro. Da 
mesma forma, o pronome a (protegia-a) refere-se ao nome cabeça, e o possessivo sua (sua fama) tem como 
referente o mesmo Antônio Conselheiro. 
e) Depois do ciclo Romário, o Flamengo entra na era Sávio. Pelo menos é essa a intenção do presidente Kleber 
Leite. O dirigente nega a intenção do clube em fazer de seu atacante uma moeda de troca. "No ano passado 
me ofereceram US $ 9 milhões e mais o passe do Romário pelo Sávio e eu não fiz negócio", lembrou. Segundo 
Kleber, o jogador tem categoria suficiente para se transformar em um ídolo nacional. Por falar em prata da 
casa,o presidente do Flamengo, apoiado por Zico, vai apostar nos jovens valores do clube para o segundo 
semestre. Ele acha que, mantendo a base, com Sávio, Júnior Baiano, Athirson, Evandro e Lúcio, o time rubro-negro 
terá condições de chegar às finais do Campeonato Brasileiro e Supercopa. (Jornal dos Sports, 24/08/97) 
As expressões assinaladas em azul se referem à mesma pessoa. Na verdade, temos em dirigente um sinônimo 
de fato, enquanto as outras substituições podem ser chamadas de elipses parciais, embora todas remetam ao 
presidente do clube carioca. Existe igualmente sinonímia entre Sávio, atacante e jogador. 
f) Penando para tentar reduzir a conta dos direitos e benefícios dos trabalhadores, todo governante europeu hoje 
em dia baba de inveja dos Estados Unidos - o país do cada um por si e o governo, de preferência, bem 
longe dessas questões. Pois foi justamente na terra do vale-tudo entre patrão e empregado que 185000 
filiados de um sindicato cruzaram os braços neste mês e pararam por quinze dias a UPS, a maior empresa de 
entregas terrestres do mudo . (Revista VEJA, setembro/97) 
Não podemos deixar de apontar que, neste exemplo, os sinônimos escolhidos para Estados Unidos se revestem de 
um juízo de valor, são denominações de caráter pejorativo. 
Antonímia - É a seleção de expresões linguísticas com traços semânticos opostos. Exemplos: 
a) Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no verão uma das mais belas paisagens catarinenses. (JB, 
Caderno Viagem, 25/08/93)
6 
Hiperonímia e Hiponímia - Por hiperonímia temos o caso em que a primeira expressão mantém com a segunda 
uma relação de todo-parte ou classe-elemento. Por hiponímia designamos o caso inverso: a primeira expressão 
mantém com a segunda uma relação de parte-todo ou elemento-classe. Em outras palavras, essas substituições 
ocorrem quando um termo mais geral - o hiperônimo - é substituído por um termo menos geral - o hipônimo, ou 
vice-versa. Os exemplo ajudam a entender melhor. 
a) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano presenciou uma cópula de jubartes, 
mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas alguns segundos. (Revista VEJA, no 30, julho/97) 
b) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos de três a oito animais, sempre 
com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade e a direção a seguir. (Idem) 
c) Dentre as 79 espécies de cetáceos, as jubartes são as únicas que cantam - tanto que são conhecidas também 
por "baleias cantoras". (Idem) 
d) A renda de bilro é a mais conhecida e criativa forma de artesanato catarinense. (JB, Caderno Viagem, 
25/08/93) 
e) O litoral norte de Santa Catarina tem um verdadeiro festival de localidades famosas: a praia de Camboriu, a 
ilha de São Francisco do Sul, a enseada do Brito . (Idem) 
f) Dado que, entre os assentados, é expressivo o número de analfabetos, pode-se ter uma ideia de quanto é difícil 
elaborar um projeto ou usar novas tecnologias. Com pouco dinheiro e escassa assistência, eles costumam usar 
sementes de qualidade baixa e voltar-se para a produção de consumo familiar. Mesmo entre os instrumentos de 
trabalho mais corriqueiros, também há escassez brutal, e a maioria dos assentados não dispõe nem mesmo de 
uma pá ou de uma picareta. Entre eles, ainda que os sem-terra tenham escolhido a foice como um dos seus 
símbolos de luta pela reforma agrária, o instrumento mais comum ainda é a velha enxada. (Revista VEJA, nº 29, 
julho/97) 
Hiperônimos 
(termos mais gerais) 
Hipônimos (termos mais específicos) 
baleias 
animais cetáceos 
artesanato litoral norte 
instrumentos 
jubartes 
baleias 
renda de bilro 
praia, ilha, enseada 
pá, picareta, foice, enxada 
Vale a pena apontar também a coesão lexical por sinonímia, entre assentados e sem-terra (exemplo f) e entre 
jubartes e baleias cantoras (exemplo c). Os pronomes eles ( caso reto ) e se ( caso oblíquo ) são exemplos 
de coesão gramatical referencial, pois remetem aos assentados . 
Coesão Gramatical 
Faz-se por meio das concordâncias nominais e verbais, da ordem dos vocábulos, dos conectores, dos pronomes 
pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, 
relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos definidos, de expressões de valor 
temporal. 
De acordo com o quadro antes apresentado, passamos a ver separadamente cada um dos tipos de conexão 
gramatical, a saber, frásica, interfrásica, temporal e referencial. 
· Coesão Frásica - este tipo de coesão estabelece uma ligação significativa entre os componentes da 
frase, com base na concordância entre o nome e seus determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre o 
sujeito e seus predicadores, na ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal. Exemplos: 
1) Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com ondas, sem ondas, rústicas, 
sofisticadas.
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concordância nominal 
praias desertas, agitadas, rústicas, 
sofisticadas 
(subst.) (adjetivos) 
todos os gostos 
(pron.) (artigo) (substantivo) 
concordância verbal 
Florianópolis tem 
(sujeito) (verbo) 
2) A voz de Elza Soares é um patrimônio da música brasileira. Rascante, oclusiva, suingada, é algo que poucas 
cantoras, no mundo inteiro, têm. 
concordância nominal 
voz rascante, oclusiva, suingada 
poucas cantoras música brasileira 
mundo inteiro 
concordância verbal 
voz é cantoras têm 
Com respeito à ordem dos vocábulos na oração, deslocamentos de vocábulos ou expressões dentro da oração 
podem levar a diferentes interpretações de um mesmo enunciado. Observe estas frases: 
a) O barão admirava a bailarina que dançava com um olhar lânguido. 
A expressão com um olhar lânguido , devido à posição em que foi colocada, causa ambiguidade, pois tanto pode 
se referir ao barão como à bailarina. Para deixar claro um ou outro sentido, é preciso alterar a ordem dos 
vocábulos. 
O barão, com um olhar lânguido, admirava a bailarina que 
dançava. O barão admirava a bailarina que, com um olhar 
lânguido, dançava. 
b) A moto em que ele estava passeando lentamente saiu da estrada.. 
A análise deste período mostra que ele é formado de duas orações: A moto saiu da estrada e em que ele estava 
passeando . A qual das duas, no entanto, se liga o advérbio lentamente ? Da forma como foi colocado, pode se 
ligar a qualquer uma das orações. Para evitar a ambiguidade, recorremos a uma mudança na ordem dos 
vocábulos. Poderíamos ter, então: 
A moto em que lentamente ele estava passeando saiu da 
estrada. A moto em que ele estava passeando saiu 
lentamente da estrada.
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Também em relação à regência verbal, a coesão pode ficar prejudicada se não forem tomados alguns cuidados. Há 
verbos que mudam de sentido conforme a regência, isto é, conforme a relação que estabelecem com o seu 
complemento. 
Por exemplo, o verbo assistir é usado com a preposição a quando significa ser espectador, estar 
presente, presenciar. Exemplo: A cidade inteira assistiu ao desfile das escolas de samba. Entretanto, na 
linguagem coloquial, este verbo é usado sem a preposição. Por isso, com frequência, temos frases como: Ainda 
não assisti o filme que foi premiado no festival . Ou A peça que assisti ontem foi muito bem montada (ao invés de 
a que assisti). 
No sentido de acompanhar, ajudar, prestar assistência, socorrer, usa-se com proposição 
ou não. Observe: O médico assistiu ao doente durante toda a noite.Os Anjos do Asfalto assistiram as 
vítimas do acidente. 
No que diz respeito à regência nominal, há também casos em que os enunciados podem se prestar a mais de uma 
interpretação. Se dissermos A liquidação da Mesbla foi realizada no fim do verão , podemos entender que a Mesbla 
foi liquidada , foi vendida ou que a Mesbla promoveu uma liquidação de seus produtos . Isso acontece porque o 
nome liquidação está acompanhado de um outro termo ( da Mesbla ). Dependendo do sentido que queremos dar à 
frase, podemos reescrevê-la de duas maneiras: 
A Mesbla foi liquidada no fim do verão. A Mesbla promoveu 
uma liquidação no fim do verão. 
· Coesão Interfrásica - designa os variados tipos de interdependência semântica existente entre as 
frases na superfície textual. Essas relações são expressas pelos. É necessário, portanto, usar o conector 
adequado à relação que queremos expressar. Seguem exemplos dos diferentes tipos de conectores que 
podemos empregar: 
a) As baleias que acabam de chegar ao Brasil saíram da Antártida há pouco mais de um mês. No banco de 
Abrolhos, uma faixa com cerca de 500 quilômetros de água rasa e cálida, entre o Espírito Santo e a Bahia, as 
baleias encontram as condições ideais para acasalar, parir e amamentar. As primeiras a chegar são as mães, 
que ainda amamentam os filhotes nascidos há um ano. Elas têm pressa, porque é difícil conciliar amamentação 
e viagem, já que um filhote tem necessidade de mamar cerca de 100 litros de leite por dia para atingir a 
média ideal de aumento de peso: 35 quilos por semana. Depois, vêm os machos, as fêmeas sem filhote e, 
por último, as grávidas. Ao todo, são cerca de 1000 baleias que chegam a Abrolhos todos os anos. Já foram 
dezenas de milhares na época do descobrimento, quando estacionavam em vários pontos da costa brasileira. 
Em 1576, Pero de Magalhães Gândavo registrou ter visto centenas delas na baía de Guanabara. (Revista VEJA, no 
30, julho/97) 
b) Como suas glândulas mamárias são internas, ela espirra o leite na água. (idem) 
c) Ao longo dos meses, porém, a música vai sofrendo pequenas mudanças, até que, depois 
de cinco anos, é completamente diferente da original. (idem) 
d) A baleia vem devagar, afunda a cabeça, ergue o corpanzil em forma de arco e desaparece um instante. Sua 
cauda, então, ressurge gloriosa sobre a água como se fosse uma enorme borboleta molhada. A coreografia 
dura segundos, porém tão grande é a baleia que parece um balé em câmara lenta. (idem) 
e) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano presenciou uma cópula de jubartes, 
mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas alguns segundos. (idem) 
f) A jubarte é engenhosa na hora de se alimentar. Como sua comida costuma ficar na superfície, ela mergulha 
e nada em volta dos peixes, soltando bolhas de água. Ao subir, as bolhas concentram o alimento num círculo. 
Em seguida, a baleia abocanha tudo, elimina a água pelo canto da boca e usa a língua como uma canaleta a 
fim de jogar o que interessa goela adentro. (idem)
9 
g) Várias publicações estrangeiras foram traduzidas, embora muitas vezes valha a pena comprar a versão 
original. (idem) 
h) Como guia de Paris, o livro é um embuste. Não espere, portanto, descobrir através dele o horário de 
funcionamento dos museus. A autora faz uma lista dos lugares onde o turista pode comprar roupas, óculos, 
sapatos, discos, livros, no entanto, não fornece as faixas de preço das lojas. (idem) 
i) Se já não é possível espantar a chicotadas os vendilhões do templo, a solução é integrá-los à paisagem da fé. 
(...) As críticas vêm não só dos vendilhões ameaçados de ficar de fora, mas também das pessoas que 
frequentam o interior do templo para exercer a mais legítima de suas funções, a oração. (Revista VEJA, no 27, 
julho/97) 
j) Na verdade, muitos habitantes de Aparecida estão entre a cruz e a caixa registradora. Vivem a dúvida de 
preservar a pureza da Casa de Deus ou apoiar um empreendimento que pode trazer benesses materiais. (idem) 
l) A Igreja e a prefeitura estimam que o shopping deve gerar pelo menos 1000 empregos. (idem) 
m) Aparentemente boa, a infraestrutura da Basílica se transforma em pó em outubro, por exemplo, quando 
num único fim de semana surgem 300 mil fiéis. (idem) 
n) O shopping da fé também contará com um centro de eventos com palco giratório. (idem) 
Conectores 
Há termos que “costuram” as frases e orações de um texto. Eles são chamados de relatores e são 
uma espécie de espinha dorsal de qualquer texto bem escrito. 
Alguns conectores: 
e (exemplos a,d,f) - liga termos ou argumentos. porque (exemplo a), já que (exemplo a), como 
(exemplos b, f) - introduzem uma explicação ou justificativa. para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f) - 
indicam uma finalidade. porém (exemplos c, d), mas (e) , embora (g) , no entanto (h) - indicam 
uma contraposição. como (exemplo d) , tão ... que (exemplo d), tão ... quanto (exemplo e) - indicam 
uma comparação. portanto (h) - evidencia uma conclusão. Depois (a) , por último (a), quando 
(a), já (a), ao longo dos meses (c), depois de cinco anos (c), em seguida (f), até que 
(c) - servem para explicar a ordem dos fatos, para encadear os acontecimentos. então (d) - operador que serve 
para dar continuidade ao texto. se (exemplo i) - indica uma forma de condicionar uma proposição a outra. não 
só...mas também (exemplo i) - serve para mostrar uma soma de argumentos. na verdade (exemplo 
j) - expressa uma generalização, uma amplificação. ou (exemplo j) - apresenta um disjunção argumentativa, 
uma alternativa. por exemplo (exemplo m) - serve para especificar o que foi dito antes. também 
(exemplo n) - operador para reforçar mais um argumento apresentado 
Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição, em que a coesão se dá em função da 
sequência do texto, da ordem em que as informações, as proposições, os argumentos vão sendo apresentados. 
Quando isto acontece, ainda que os operadores não tenham sido explicitados, eles são depreendidos da relação 
que está implícita entre as partes da frase. O trecho abaixo é um exemplo de justaposição. 
Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou 
mulheres, foi apresentado a medalhões das artes e da política. Nos anos 
20, trocou o Rio por longas temporadas em São Paulo; em seguida foi 
para Paris. Acabou conhecendo Picasso, Matisse e Braque nos cafés de 
Montparnasse. Di Cavalcanti era irreverente demais e calculista de
10 
menos em relação aos famosos e poderosos. Quando se irritava com 
alguém, não media palavras. Teve um inimigo na vida. O também pintor 
Cândido Portinari. A briga entre ambos começou nos anos 40. Jamais se 
reconciliaram. Portinari não tocava publicamente no nome de Di. 
(Revista VEJA, no 37,setembro/97) 
Há, neste trecho, apenas uma coesão interfrásica explicitada: trata-se da oração "Quando se irritava com alguém, 
não media palavras". Os demais possíveis conectores são indicados por ponto e ponto-e-vírgula. 
· Coesão Temporal - uma sequência só se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos enunciados 
estiver de acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no universo a que o texto se refere, ou 
no qual o texto se insere. Se essa ordenação temporal não satisfizer essas condições, o texto apresentará 
problemas no seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado dos tempos verbais, 
obedecendo a uma sequência plausível, ao uso de advérbios que ajudam a situar o leitor no tempo (são, 
de certa forma, os conectores temporais). Exemplos: 
A dita Era da Televisão é, relativamente, nova. Embora os princípios técnicos de base sobre os quais 
repousa a transmissão televisual já estivessem em experimentação entre 1908 e 1914, nos Estados 
Unidos, no decorrer de pesquisas sobre a amplificação eletrônica, somente na década de vinte chegou-se 
ao tubo catódico, principal peça do aparelho de tevê. Após várias experiências por sociedades 
eletrônicas, tiveram início, em 1939, as transmissões regulares entre Nova Iorque e Chicago - mas 
quase não havia aparelhos particulares. A guerra impôs um hiato às experiências. A ascensão 
vertiginosa do novo veículo deu-se após 1945. No Brasil, a despeito de algumas experiências pioneiras 
de laboratório (Roquete Pinto chegou a interessar-se pela transmissão da imagem), a tevê só foi mesmo 
implantada em setembro de 1950, com a inauguração do Canal 3 (TV Tupi), por Assis Chateaubriand. 
Nesse mesmo ano, nos Estados Unidos, já havia cerca de cem estações, servindo a doze milhões de 
aparelhos. Existem hoje mais de 50 canais em funcionamento, em todo o território brasileiro, e perto de 
4 milhões de aparelhos receptores. [dados de 1971] 
(Muniz Sodré, A comunicação do grotesco) 
Temos, neste parágrafo, a presentação da trajetória da televisão no Brasil, e o que contribui para a clareza desta 
trajetória é a sequência coerente das datas: entre 1908 e 1914, na década de vinte, em 1939, Após várias 
experiências por sociedades eletrônicas, (época da) guerra, após 1945, em setembro de 1950, nesse 
mesmo ano, hoje. 
Embora o assunto neste tópico seja a coesão temporal, vale a pena mostrar também a ordenação espacial que 
acompanha as diversas épocas apontadas no parágrafo: nos Estados Unidos, entre Nova Iorque e Chicago, no 
Brasil, em todo o território brasileiro . 
· Coesão Referencial - neste tipo de coesão, um componente da superfície textual faz referência a outro 
componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para esta referência são largamente empregados os pronomes 
pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, 
interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos. Exemplos: 
a) Durante o período da amamentação, a mãe ensina os segredos da sobrevivência ao filhote e é arremedada 
por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a cauda, ele também o faz. (Revista VEJA, no 30,julho/97) 
ela, a - retomam o termo baleiona, que, por sua vez, substitui o vocábulo mãe. ele - retoma o termo filhote ele 
também o faz - o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica. 
b) Madre Teresa de Calcutá, que em 1979 ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho com os destituídos do 
mundo, estava triste na semana passada. Perdera uma amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de 
saúde agravaram-se. Instalada em uma cadeira de rodas, ela mantinha-se, como sempre, na ativa. Já que não 
podia ir a Londres, pretendia participar, no sábado, de um ato em memória da princesa, em Calcutá, onde morava 
há quase setenta anos. Na noite de sexta-feira, seu médico foi chamado às pressas. Não adiantou. Aos 87 anos, 
Madre Teresa perdeu a batalha entre seu organismo debilitado e frágil e sua vontade de ferro e morreu vítima de
11 
ataque cardíaco. O Papa João Paulo II declarou-se "sentido e entristecido". Madre Teresa e o papa tinham grande 
afinidade. (Revista VEJA, nº 36, setembro/97) 
que, seu, seus, ela, sua referem-se a Madre Teresa. princesa retoma a expressão princesa Diana. papa retoma 
a expressão Papa João Paulo II. onde refere-se à cidade de Calcutá. 
Há ainda outros elementos de coesão, como Além disso, já que , que introduzem, respectivamente, um 
acréscimo ao que já fora dito e uma justificativa. 
c) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos de três a oito animais, sempre 
com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade e a direção a seguir. Os 
machos vão atrás, na expectativa de ver se a fêmea cai na rede, com o perdão do trocadilho,e aceita copular. 
Como há mais machos que fêmeas, elas copulam com vários deles para ter certeza de que engravidarão. 
(Revista VEJA, no 30, julho/97) 
Neste exemplo, ocorre um tipo bastante comum de referência - a anafórica. Os pronomes elas (que retoma 
jubartes ), ela (que retoma fêmea ), elas (que se refere a fêmeas ) e deles (que se refere a machos ) ocorrem 
depois dos nomes que representam. 
d) Ele foi o único sobrevivente do acidente que matou a princesa, mas o guarda-costas não se lembra de nada. 
(Revista VEJA, no 37, setembro/97) 
e) Elas estão divididas entre a criação dos filhos e o desenvolvimento profissional, por isso, muitas vezes, as 
mulheres precisam fazer escolhas difíceis. (Revista VEJA, no 30, julho/97) 
Nas letras d, e temos o que se chama uma referência catafórica. Isto acontece porque os pronomes Ele e Elas, 
que se referem, respectivamente a guarda-costas e mulheres aparecem antes do nome que retomam. 
f) A expedição de Vasco da Gama reunia o melhor que Portugal podia oferecer em tecnologia náutica. Dispunha 
das mais avançadas cartas de navegação e levava pilotos experientes. (Revista VEJA, no 27, julho/97) 
Temos neste período uma referência por elipse. O sujeito dos verbos dispunha e levava é A expedição de 
Vasco da Gama, que não é retomada pelo pronome correspondente ela, mas por elipse, isto é, a concordância do 
verbo - 3ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo - é que indica a referência. 
Existe ainda a possibilidade de uma ideia inteira ser retomada por um pronome, como acontece nas frases a 
seguir: 
a) Todos os detalhes sobre a vida das jubartes são resultado de anos de observação de pesquisadores 
apaixonados pelo objeto de estudo. Trabalhos como esse vêm alcançando bons resultados. (Revista VEJA, no 30, 
julho/97) 
O pronome esse retoma toda a sequência anterior. 
b) Se ninguém tomar uma providência, haverá um desastre sem precedentes na Amazônia brasileira. Ainda há 
tempo de evitá-lo. (Revista VEJA, junho/97) 
O pronome lo se refere ao desastre sem precedentes citado antes. 
c) A lei é um absurdo do começo ao fim. Primeiro, porque permite aos moradores da superquadra isolar uma 
área pública, não permitindo que os demais habitantes transitem por ali. Segundo, o projeto não repassa aos 
moradores o custo disso, ou seja, a responsabilidade pela coleta de lixo, pelos serviços de água e luz e pela 
instalação de telefones. Pelo contrário, a taxa de limpeza pública seria reduzida para os moradores. Além disso, 
a aprovação do texto foi obtida mediante emprego de argumentos falsos. (Revista VEJA, julho/97) 
Este texto apresenta diferentes tipo de elementos de coesão. ali - faz referência a área pública , anteriormente 
citada. disso - retoma o que é considerado um absurdo dentro da nova lei. Ao mesmo tempo, disso é explicado a 
partir do operador ou seja . ou seja, pelo contrário - conectores que introduzem uma retificação, uma correção. 
Além disso - conector que tem por função acrescentar mais um argumento ao que está sendo discutido. 
Primeiro e Segundo - estes conectores indicam a ordem dos argumentos, dos assuntos.
12 
Considere as palavras sublinhadas no parágrafo seguinte: 
TURISTA OCASIONAL. 
Ele já foi visto por aqui várias vezes, apavorando pescadores e banhistas.Mas parece 
preferir águas mais frias. 
Marina Frias, National Geographic (Brasil, maio/2002) 
Temido como poucos animais do mundo, e tido como um “devorador de homens”, o tubarão branco 
vive mais da fama do que de um histórico violento de fato. Sua imagem sanguinária, a gigantesca 
mandíbula aberta com dentes pontudos ou a nadadeira em meia-lua zanzando na água à procura de 
carne humana, ganhou mundo no rastro do filme Tubarão, na década de 70, e não saiu mais de cena. 
Apesar de frequentador apenas esporádica do nosso litoral, esse personagem sombrio dos mares 
povoa a imaginação de muitos pescadores, surfistas e banhistas que, vira-e-mexe, se sobressaltam 
com sua possível presença por perto, Otto Bismark Fazzana Gadig, especialista em tubarões e 
professor de biologia marinha da Universidade Santa Cecília, em Santos (SP), há oito anos pesquisa o 
assunto. O capítulo que assina no livro Great Ehite Sharks, lançado nos Estados Unidos em 1996, 
trata exatamente da ocorrência e distribuição da espécie no Brasil. De acordo com Otto Gadig, os 
padrões migratórios do tubarão branco no Atlântico Sul ainda são desconhecidos, mas seu 
aparecimento quase exclusivo em locais de ressurgência, em que a água fria aflora para a superfície, 
confirma a tese de que esse animal não tem muita queda pelo tempero brasileiro e só acaba 
petiscando aqui por acaso. Sua distribuição está mais restrita às regiões Sul e Sudeste do país, em 
especial o litoral norte do Rio de Janeiro, onde a ressurgência é comum em determinadas épocas do 
ano. 
Observe que as palavras em negrito, isoladamente, nada significam; elas só ganham significado pela relação que 
estabelecem entre uma informação e outra. Alguns aspectos que devem ser observados sobre os relatores: 
o num texto bem escrito, os relatores não permitem ambiguidade. 
o Há duas importantes distinções entre a oralidade e a escrita. A primeira nós já vimos: a oralidade 
dispõe de recursos extralinguísticos que resolvem qualquer ambiguidade. A segunda é o fato de 
que alguns relatores passaram a ser usados exclusivamente na escrita. 
o Sem os relatores, a escrita e a leitura seriam insuportáveis. 
Podemos distinguir três grupos principais de relatores: 
a) Elementos de referência textual. São aqueles que apontam para outras palavras do próprio texto, e só têm 
sentido próprio em função dessas palavras. Esses relatores geralmente apontam para palavras que já foram 
escritas, mas podem apontar também para palavras que venham depois. 
b) Elementos de referência situacional. São aqueles que apontam para informações que estão fora do texto, 
na cabeça do leitor. 
c) Elementos de relação lógica. São aqueles que estabelecem uma relação lógica entre uma informação e 
outra. 
UM CASO PRÁTICO DE COESÃO 
São Paulo: Oito pessoas morrem em queda de avião 
Das Agências 
Cinco passageiros de uma mesma família, de Maringá, dois tripulantes e uma mulher que viu o avião cair 
morreram 
Oito pessoas morreram (cinco passageiros de uma mesma família e dois tripulantes, além de uma mulher 
que teve ataque cardíaco) na queda de um avião (1) bimotor Aero Commander, da empresa J. Caetano, da cidade de 
Maringá (PR). O avião (1) prefixo PTI-EE caiu sobre quatro sobrados da Rua Andaquara, no bairro de Jardim 
Marajoara, Zona Sul de São Paulo, por volta das 21h40 de sábado. O impacto (2) ainda atingiu mais três residências. 
Estavam no avião (1) o empresário Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que foi candidato a prefeito de 
Maringá nas últimas eleições (leia reportagem nesta página); o piloto (1) José Traspadini, de 64 anos; o co-piloto (1) 
Geraldo Antônio da Silva Júnior, de 38; o sogro de Name Júnior (4), Márcio Artur Lerro Ribeiro (5), de 57; seus (5) 
filhos Márcio Rocha Ribeiro Neto, de 28, e Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6), João Izidoro de 
Andrade (7), de 53 anos.
13 
Andrade (7) é conhecido na região (8) como um dos maiores compradores de cabeças de gado do Sul (8) do 
país. Márcio Ribeiro (5) era um dos sócios do Frigorífico Naviraí, empresa proprietária do bimotor (1). Isidoro 
Andrade (7) havia alugado o avião (1) Rockwell Aero Commander 691, prefixo PTI-EE, para (7) vir a São Paulo assistir 
ao velório do filho (7) Sérgio Ricardo de Andrade (8), de 32 anos, que (8) morreu ao reagir a um assalto e ser baleado 
na noite de sexta-feira. 
O avião (1) deixou Maringá às 7 horas de sábado e pousou no aeroporto de Congonhas às 8h27. Na volta, o 
bimotor (1) decolou para Maringá às 21h20 e, minutos depois, caiu na altura do número 375 da Rua Andaquara, uma 
espécie de vila fechada, próxima à avenida Nossa Senhora do Sabará, uma das avenidas mais movimentadas da Zona 
Sul de São Paulo. Ainda não se conhece as causas do acidente (2). O avião (1) não tinha caixa preta e a torre de 
controle também não tem informações. O laudo técnico demora no mínimo 60 dias para ser concluído. 
Segundo testemunhas, o bimotor (1) já estava em chamas antes de cair em cima de quatro casas (9). Três 
pessoas (10) que estavam nas casas (9) atingidas pelo avião (1) ficaram feridas. Elas (10) não sofreram ferimentos 
graves. (10) Apenas escoriações e queimaduras. Elídia Fiorezzi, de 62 anos, Natan Fiorezzi, de 6, e Josana Fiorezzi 
foram socorridos no Pronto Socorro de Santa Cecília. 
Vejamos, por exemplo, o elemento (1), referente ao avião envolvido no acidente. Ele foi retomado nove 
vezes durante o texto. Isso é necessário à clareza e à compreensão do texto. A memória do leitor deve ser reavivada 
a cada instante. Se, por exemplo, o avião fosse citado uma vez no primeiro parágrafo e fosse retomado somente 
uma vez, no último, talvez a clareza da matéria fosse comprometida. 
E como retomar os elementos do texto? Podemos enumerar alguns mecanismos: 
a) REPETIÇÃO: o elemento (1) foi repetido diversas vezes durante o texto. Pode perceber que a palavra avião foi 
bastante usada, principalmente por ele ter sido o veículo envolvido no acidente, que é a notícia propriamente dita. A 
repetição é um dos principais elementos de coesão do texto jornalístico fatual, que, por sua natureza, deve 
dispensar a releitura por parte do receptor (o leitor, no caso). A repetição pode ser considerada a mais explícita 
ferramenta de coesão. Na dissertação cobrada pelos vestibulares, obviamente deve ser usada com parcimônia, uma 
vez que um número elevado de repetições pode levar o leitor à exaustão. 
b) REPETIÇÃO PARCIAL: na retomada de nomes de pessoas, a repetição parcial é o mais comum mecanismo coesivo 
do texto jornalístico. Costuma-se, uma vez citado o nome completo de um entrevistado - ou da vítima de um 
acidente, como se observa com o elemento (7), na última linha do segundo parágrafo e na primeira linha do terceiro 
-, repetir somente o(s) seu(s) sobrenome(s). Quando os nomes em questão são de celebridades (políticos, artistas, 
escritores, etc.), é de praxe, durante o texto, utilizar a nominalização por meio da qual são conhecidas pelo público. 
Exemplos: Nedson (para o prefeito de Londrina, Nedson Micheletti); Farage (para o candidato à prefeitura de 
Londrina em 2000 Farage Khouri); etc. Nomes femininos costumam ser retomados pelo primeiro nome, a não ser 
nos casos em que o sobrenomes sejam, no contexto da matéria, mais relevantes e as identifiquem com mais 
propriedade. 
c) ELIPSE: é a omissão de um termo que pode ser facilmente deduzido pelo contexto da matéria. Veja-se o seguinte 
exemplo: Estavam no avião (1) o empresário Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que foi candidato a prefeito de 
Maringá nas últimas eleições; o piloto (1) José Traspadini (4), de 64 anos; o co-piloto (1) Geraldo Antônio da Silva 
Júnior, de 38. Perceba que não foi necessário repetir-se a palavra avião logo após as palavras piloto e co-piloto. 
Numa matéria que trata de um acidente de avião, obviamente o piloto será de aviões; o leitor não poderia pensar 
que se tratasse de um piloto de automóveis, por exemplo. No último parágrafo ocorre outro exemplo de elipse: Três 
pessoas (10) que estavam nas casas (9) atingidas pelo avião (1) ficaram feridas. Elas (10) não sofreram ferimentos 
graves. (10) Apenas escoriações e queimaduras. Note que o (10) em negrito, antes de Apenas, é uma omissão de um 
elemento já citado: Três pessoas. Na verdade, foi omitido, ainda, o verbo: (As três pessoas sofreram) Apenas 
escoriações e queimaduras. 
d) SUBSTITUIÇÕES: uma das mais ricas maneiras de se retomar um elemento já citado ou de se referir a outro que 
ainda vai ser mencionado é a substituição, que é o mecanismo pelo qual se usa uma palavra (ou grupo de palavras) 
no lugar de outra palavra (ou grupo de palavras). Confira os principais elementos de substituição: 
Pronomes: a função gramatical do pronome é justamente substituir ou acompanhar um nome. Ele pode, ainda, 
retomar toda uma frase ou toda a ideia contida em um parágrafo ou no texto todo. Na matéria-exemplo, são nítidos
14 
alguns casos de substituição pronominal: o sogro de Name Júnior (4), Márcio Artur Lerro Ribeiro (5), de 57; seus (5) 
filhos Márcio Rocha Ribeiro Neto, de 28, e Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6), João Izidoro de 
Andrade (7), de 53 anos. O pronome possessivo seus retoma Name Júnior (os filhos de Name Júnior...); o pronome 
pessoal ela, contraído com a preposição de na forma dela, retoma Gabriela Gimenes Ribeiro (e o marido de 
Gabriela...). No último parágrafo, o pronome pessoal elas retoma as três pessoas que estavam nas casas atingidas 
pelo avião: Elas (10) não sofreram ferimentos graves. 
Epítetos: são palavras ou grupos de palavras que, ao mesmo tempo que se referem a um elemento do texto, 
qualificam-no. Essa qualificação pode ser conhecida ou não pelo leitor. Caso não seja, deve ser introduzida de modo 
que fique fácil a sua relação com o elemento qualificado. 
Exemplos: 
a) (...) foram elogiadas por Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente, que voltou há dois dias de Cuba, entregou-lhes um 
certificado... (o epíteto presidente retoma Luiz Inácio Lula da Silva; poder-se-ia usar, como exemplo, chefe de 
Estado); 
b) Edson Arantes de Nascimento gostou do desempenho do Brasil. Para o ex-Ministro dos Esportes, a seleção... (o 
epíteto ex-Ministro dos Esportes retoma Edson Arantes do Nascimento; poder-se-iam, por exemplo, usar as formas 
jogador do século, número um do mundo, etc. 
Sinônimos ou quase sinônimos: palavras com o mesmo sentido (ou muito parecido) dos elementos a serem 
retomados. Exemplo: O prédio foi demolido às 15h. Muitos curiosos se aglomeraram ao redor do edifício, para 
conferir o espetáculo (edifício retoma prédio. Ambos são sinônimos). 
Nomes deverbais: são derivados de verbos e retomam a ação expressa por eles. Servem, ainda, como um resumo 
dos argumentos já utilizados. Exemplos: Uma fila de centenas de veículos paralisou o trânsito da Avenida 
Higienópolis, como sinal de protesto contra o aumentos dos impostos. A paralisação foi a maneira encontrada... 
(paralisação, que deriva de paralisar, retoma a ação de centenas de veículos de paralisar o trânsito da Avenida 
Higienópolis). O impacto (2) ainda atingiu mais três residências (o nome impacto retoma e resume o acidente de 
avião noticiado na matéria-exemplo) 
Elementos classificadores e categorizadores: referem-se a um elemento (palavra ou grupo de palavras) já 
mencionado ou não por meio de uma classe ou categoria a que esse elemento pertença: Uma fila de centenas de 
veículos paralisou o trânsito da Avenida Higienópolis. O protesto foi a maneira encontrada... (protesto retoma toda a 
ideia anterior - da paralisação -, categorizando-a como um protesto); Quatro cães foram encontrados ao lado do 
corpo. Ao se aproximarem, os peritos enfrentaram a reação dos animais (animais retoma cães, indicando uma das 
possíveis classificações que se podem atribuir a eles). 
Advérbios: palavras que exprimem circunstâncias, principalmente as de lugar: Em São Paulo, não houve problemas. 
Lá, os operários não aderiram... (o advérbio de lugar lá retoma São Paulo). Exemplos de advérbios que comumente 
funcionam como elementos referenciais, isto é, como elementos que se referem a outros do texto: aí, aqui, ali, 
onde, lá, etc. 
Observação: É mais frequente a referência a elementos já citados no texto. Porém, é muito comum a utilização de 
palavras e expressões que se refiram a elementos que ainda serão utilizados. Exemplo: Izidoro Andrade (7) é 
conhecido na região (8) como um dos maiores compradores de cabeças de gado do Sul (8) do país. Márcio Ribeiro (5) 
era um dos sócios do Frigorífico Naviraí, empresa proprietária do bimotor (1). A palavra região serve como elemento 
classificador de Sul (A palavra Sul indica uma região do país), que só é citada na linha seguinte. 
CONJUNÇÕES 
Classificação Sentido Principais conjunções 
Aditivas adição, soma e, nem, mas também 
Adversativas oposição, contraste mas, porém, contudo, todavia, entretanto 
Alternativas alternância, exclusão ou, ou...ou, ora...ora, já...já, quer... 
Conclusivas conclusão explicação quer logo, pois (posposto ao verbo), portanto 
Explicativas justificativa pois (anteposto ao verbo), porque, que 
Integrantes sem valor semântico específico, apenas ligam orações que, se 
Causais causa, motivo porque, como, já que, visto que 
Condicionais condição se, caso, desde que, contanto que 
Consecutivas consequência que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que 
Comparativas comparação como, que (precedido de mais ou menos), assim como 
Conformativas conformidade como, conforme, segundo 
Concessivas concessão embora, se bem que, mesmo que, ainda que 
Temporais tempo quando, assim que, antes que, depois que 
Finais finalidade para que, a fim de que, que 
Proporcionais Proporção à medida que, à proporção que
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EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 
Reescreva os não-textos (textos sem coesão) utilizando os mecanismos de coesão textual: 
[ Texto 1] As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os automóveis para 
vender os automóveis mais caro. O cliente vai à revendedora de automóveis com 
pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais caro o automóvel, desiste de comprar o 
automóvel, e as revendedoras de automóveis têm prejuízo. 
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[Texto 2] Todos os anos dezenas de baleias encalham nas praias do mundo nas praias do mundo e até há pouco nenhum 
oceanógrafo ou biólogo era capaz de explicar por que as baleias encalham. Segundo uma hipótese corrente, as baleias se 
suicidaram ao pressentir a morte, em razão de uma doença grave ou da própria idade, ou seja, as baleias praticam uma espécie 
de eutanásia instintiva. Segundo outra, as baleias se desorientam por influência de tempestades magnéticas ou de correntes 
marinhas. Agora, dois pesquisadores do Departamento de História Natural do Museu Britânico, com sede em Londres, 
encontram uma resposta científica para o suicídio das baleias. De acordo com Katharine Parry e Michael Moore, as baleias são 
desorientadas de suas rotas em alto-mar para as águas rasas do litoral por ação de um minúsculo verme de apenas 2,5 
centímetros de comprimento. Ele se aloja no ouvido das baleias, impedindo que as baleias se orientem pelo eco da voz. 
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[ Texto 3 ] Muita gente votou nas últimas eleições. Muita gente pensava que as coisas iriam mudar radicalmente, mas muita 
gente estava enganada. O Brasil parece que levará ainda um tempo muito grande para amadurecer. O que o Brasil precisa, 
entretanto, para chegar a ficar maduro, é manter arejada e viva a democracia. 
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TEXTO 1 
O pombo inconfiável
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Moacyr Scliar 
Texto disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1304200904.htm 
Um pombo-correio carregando partes desmontadas de um celular foi encontrado por agentes penitenciários em 
Sorocaba. A polícia acredita que a ave estava sendo usada para levar as peças para dentro de um presídio. De 
acordo com o boletim de ocorrência, o pássaro foi visto por um agente que trabalha na portaria da penitenciária Dr. 
Danilo Pinheiro, no bairro Jardim Paraná. O homem notou alguma coisa estranha no pássaro, que descansava em 
um fio de alta tensão, e fez uma armadilha para pegá-lo. Carregava uma sacolinha com peças de um telefone celular. 
Folha Online. 
"Nunca pensei que um pombo pudesse ser trapaceiro, Gabriel. Nunca. Sempre tive em mente a passagem da Bíblia 
contando que, depois do dilúvio, Noé, ainda na arca, resolveu mandar um pássaro para saber como estava a terra. 
Enviou um corvo, que nunca voltou. Enviou um pombo, que regressou trazendo um raminho de oliveira. Ou seja: 
pombos são confiáveis. Pelo menos era o que eu achava até que você, Gabriel, entrou em minha vida. 
Eu descobri você no pátio da penitenciária. Você estava sujo, mancando, com uma pata machucada. Eu cuidei de 
você como se cuida de um filho. Até nome de anjo eu lhe dei: Gabriel. E eu esperava que você retribuísse o favor 
que lhe fiz. Foi para isso que treinei você, Gabriel. E você sabe o trabalho que isso me deu, sabe muito bem. Era 
uma coisa que eu só podia fazer às escondidas, para não chamar a atenção de outros presos e dos guardas. 
Felizmente eu tinha experiência, porque desde criança gostava de pombos; além disso, meu vizinho era dono de um 
pombal e me ensinou tudo sobre pombos-correio, inclusive como treiná-los. 
Devo dizer, Gabriel, que como pombo você me surpreendeu. Porque você era vivo, você era inteligente, você 
aprendia as coisas com uma rapidez incomum. Em menos de dois meses você estava pronto para a missão. E a 
missão era importante, Gabriel. Eu precisava que você me trouxesse peças que estavam faltando em meu celular. E 
o celular, para mim, era vital: graças a ele eu poderia, mesmo de dentro do presídio, dar instruções para os meus 
homens. Portanto, quando eu enviei você para trazer as peças, Gabriel, estava lhe encarregando de uma tarefa 
importantíssima. Mas eu confiava em você, Gabriel. 
Tanto quanto Noé confiava no pombo que enviou da arca. Eu esperava que você procedesse do mesmo modo, que 
você justificasse a estima que a nossa espécie, a espécie humana, tem pelos pombos. Mas você me decepcionou, 
Gabriel. Você traiu a minha confiança. Você tinha de ir até meus companheiros, receber o saquinho com as peças de 
celular e voltar imediatamente. Você não fez isso. Você, com uma descomunal irresponsabilidade, pousou num fio 
para descansar. E aí o agente penitenciário te pegou. 
Acho, aliás, que era isso mesmo que você queria, ser capturado: era a maneira mais fácil de livrar-se de mim e de 
aderir aos caras do poder. "Cria corvos e eles te comerão os olhos", diz um provérbio espanhol. Pois eu digo: cria 
pombos, certos pombos, e eles te sacanareão. E aqui termino de escrever essa mensagem, Gabriel. Só não sei 
como vou enviá-la a você. Por um corvo, talvez?"
17 
TEXTO 2 
Espaço vital 
MOACYR SCLIAR 
Texto disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0405200903.htm 
No condado inglês de Houghton Regis, o Conselho de Funerais decidiu cobrar 50% a mais para enterrar pessoas 
muito gordas. "O fundamento é que os obesos ocupam mais espaço", declarou à Folha o conselheiro Steven Oliver. 
A regra começou a vigorar em março. Em vez da tarifa normal de €129 (R$ 415) o sepultamento de obesos custa 
€194 (R$ 625). Cotidiano, 27 de abril de 2009 
Durante 53 anos William e Susan haviam vivido juntos. Uma vida tranquila, pacata, mas feliz. Nisso ambos estavam 
de acordo: tanto quanto um casal pode ser feliz, eles eram felizes. Mas então William adoeceu, uma doença cardíaca 
grave, e aí ficou claro para ambos que, muito breve, ele poderia despedir-se da existência. O que enfrentou sem 
mágoa: homem religioso, considerava-se preparado para partir desta para a melhor, como declarava aos amigos e à 
mulher. Não imaginava, porém, o dilema que o destino lhe reservava. 
Uma manhã notou que Susan parecia muito perturbada. Da cama, de onde agora não mais saía, interrogou-lhe a 
respeito. Ela vacilou, obviamente angustiada, mas acabou contando: tinham um problema, os dois. Melhor dizendo: 
ela teria um problema. O Conselho de Funerais do condado tinha introduzido uma nova regra: o enterro de obesos 
custaria mais caro, iria de €129 para €194. A William, que apesar da doença, pesava 132 kg, essa regra 
inevitavelmente se aplicaria. Ora, eram pobres, eles, muito pobres. Susan já tinha reservado as €129 para o funeral, 
mas de onde obteria o resto? 
Por uns momentos ficaram em silêncio. "O que quer você que eu faça?", perguntou o marido, por fim. "Uma dieta", 
disse ela. Se William perdesse peso, poderia enquadrar-se na categoria de cadáver normal. Ele abanou a cabeça. 
Não, não faria dieta de jeito nenhum. Em primeiro lugar porque, segundo os prognósticos médicos, dificilmente teria 
tempo para isso: o óbito certamente ocorreria antes. Em segundo lugar, gostava de comer. Era um dos poucos 
prazeres que lhe haviam restado, que a doença, surpreendentemente, poupara. 
Perdera as forças, perdera a disposição, mas não perdera o apetite, algo que agradecia a Deus. Por último, havia a 
Bíblia, da qual era leitor assíduo. Ali estava, em Daniel 5,27, a frase com que o profeta, interpretando a misteriosa 
inscrição surgida na parede do palácio, anunciara a condenação do rei: "Foste pesado na balança e encontrado 
muito leve". Muito leve, não muito pesado, sublinhou ele. 
A esposa ainda ponderou que essa insustentável leveza do monarca resultava da falta de virtudes, mas William era 
muito mais pela interpretação literal: peso não é pecado, ao contrário. 
O fato, porém, é que amava a mulher, e não queria, naqueles derradeiro período de suas vidas, deixá-la com uma 
lembrança triste, amarga. No mesmo dia anunciou que estava começando uma dieta ultrarrigorosa. "Prometo que 
meu caixão irá flutuando para o cemitério", disse, bem-humorado. Ela não respondeu, mas abraçou-o, em prantos. E 
ali ficaram, juntos, em silêncio. 
Mas uma pergunta, interessante pergunta, agora lhe ocorria: será que para entrar no céu são Pedro pesava as 
pessoas? Uma indagação que guardaria para si, obviamente. Não queria sobrecarregar a mulher com o peso de sua 
ironia.
18 
(exercícios) 
1. Junte os pares de orações abaixo, de tal forma que entre elas se estabeleça a relação 
indicada. Faça as alterações que forem necessárias. 
Relação de concessão 
a) Seu projeto foi recusado. 
b) As explicações foram convincentes. 
Relação de finalidade 
a) Resolvemos ficar em casa. 
b) Assim poderíamos descansar. 
Relação de concessão 
a) Houve vários imprevistos durante a viagem. 
b) Tudo foi cuidadosamente planejado. 
Relação de proporção 
a) Ele crescia. 
b) Ele ficava mais magro. 
Relação de comparação 
a) Ele era estudioso. 
b) Todos os outros alunos da turma eram estudiosos. 
Relação de tempo 
a) Meus amigos vieram visitar-me. 
b) Cheguei de viagem. 
2) Reescreva os trechos fazendo a devida coesão. Utilize artigos, pronomes ou advérbios. 
Não se esqueça de que a elipse (omissão de um termo) também é um mecanismo de coesão. 
1. A gravata do uniforme de Pedro está velha e surrada. A minha gravata está novinha em folha. 
2. Ontem fui conhecer o novo apartamento do Tiago. Tiago comprou o apartamento com o dinheiro 
recebido do jornal. 
3. Perto da estação havia um pequeno restaurante. No restaurante costumavam reunir-se os 
trabalhadores da ferrovia. 
4. No quintal, as crianças brincavam. O prédio vizinho estava em construção. Os carros passavam 
buzinando. As brincadeiras, o barulho da construção e das buzinas tiravam-me a concentração no 
trabalho que eu estava fazendo. 
5. Os convidados chegaram atrasados. Os convidados tinham errado o caminho e custaram a encontrar 
alguém que orientasse o caminho aos convidados.
19 
6. Os candidatos foram convocados por edital. Os candidatos deverão apresentar-se, munidos de 
documentos, até o dia 24. 
3) Use os pronomes adequados: 
1. Um encapuzado atravessou a praça e sumiu ao longe. Que vulto era _____ a vagar, altas horas da 
noite, pela rua deserta? 
2. Jorge teria dinheiro, muito dinheiro, carros de luxo e mulheres belíssimas. _____ eram as fantasias 
que passavam pela mente de Jorge enquanto se dirigia para o primeiro treino na seleção. 
3. Marcelo será promovido, mas terá de aposentar-se logo a seguir. Foi _____ que me revelou um 
amigo do diretor. 
4. Todos pensam que a CPI acabará em pizza, mas não queremos acreditar _____. 
5. Luís e Paula trabalham juntos num escritório de advocacia. _____ dedica-se a causas criminais, 
_____ a questões tributárias. 
4) Restaure a coesão nas sentenças: 
1. Um homem caminhava pela rua deserta: esfarrapado, cabisbaixo, faminto, abandonado à própria 
sorte. _____ parecia não notar a chuva fina que caía e _____ encharcava os ossos. 
2. Os grevistas paralisaram todas as atividades da fábrica. _____ durou uma semana. 
3. Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns minutos depois, _____ estacionava no pátio do 
Palácio do Governo. 
4. Imagina-se que existam outros planetas habilitados. _____ tem ocupado a mente dos cientistas 
desde que os OVNIS começaram a ser avistados. 
5. O presidente americano disse: Quem é favorável ao Eixo do Mal estará contra mim. _____ marcou 
uma etapa nas relações internacionais.

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  • 1. 1 DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA E COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Prof. Luiz Eduardo P. Baronto prof.luizbaronto@gmail.com MECANISMOS DE COESÃO (do Manual de redação da PUC/RS) A língua possui amplos recursos para realizar a coesão. Eis os principais. 2.1 Coesão por referência Exemplo: Fernando Hadad esteve, ontem, no bairro do Limão. Lá, o prefeito disse que a prefeitura continuará as obras de saneamento básico. Onde "Lá" retoma "bairro do Limão", e "o prefeito" retoma "Fernando Hadad". Os elementos de referência não podem ser interpretados por si mesmos; remetem a outros itens do texto, necessários a sua interpretação. São elementos de referência os pronomes pessoais (ele,ela, o, a, lhe, etc.), possessivos (meu, teu, seu, etc.), demonstrativos (este, esse aquele, etc.) e os advérbios de lugar (aqui, ali, etc.). 2.2 Coesão por elipse Exemplo: Fernando Hadad esteve, ontem, no bairro do Limão. Lá, disse que a prefeitura continuará as obras de saneamento básico. Onde = bairro do Limão, ou seja, o leitor, ao ler o segmento B, se depara com o verbo dizer (“disse”) e, para interpretar seu sujeito, tem que voltar ao segmento A e descobrir que quem disse foi Fernando Hadad. 2.3 Coesão lexical 2.3.1 Coesão lexical por sinônimo Exemplo: Rui Barbosa, na sua magistral conferência sobre Oswaldo Cruz, em 1917, nos dá lições acabadas da arte da sinonímia. Santo Presente (Zero Hora, 19/05/1997) Para dizer febre amarela, por exemplo, empregou todas estas expressões sinônimas: vômito negro, a praga amarela, estigma desastroso, contágio brasileiro, o mesmo flagelo, germe amarílico, a tenaz endemia, a prega, a terrível doença, o contágio homicida, calamidade exterminada, a devoradora calamidade, a maligna enfermidade, essa desgraça, a terrível coveira, infecção xantogênica, esse contagio fatal ... nada menos que dezessete formas e recursos para evitar a repetição enfadonha. Referindo-se aos ratos, eis a série por ele excogitada: rataria, rasteira e abjeta família, esses vilíssimos roedores, essa espécie roaz, ralé inumerável, raça insaciável dos murídeos. Mencionando o fato da morte assim resolve Rui o problema da não repetição de termos: a cólera-mórbus deu morte ... a peste negra roubou 25 milhões de indivíduos à Europa ... dessa calamidade apenas escaparam um terço dos habitantes ... o número dos sepultados excede o dos sobreviventes ... de vinte mal se salvam duas pessoas ... no Hotel-Dieu expiram quinhentos ... para servirem de sepulcrário aos corpos que nos cemitérios já cabem ... Paris registra cinquenta, Londres cem mil óbitos ... A Itália perde a metade de sua população ... vinte cinco milhões, pelo menos, desaparecem ... se diz haver arrebatado ao gênero humano cem milhões de vidas. Onze recursos de sinonímia num trecho de 34 linhas apenas! (LEITE, Ulhoa Cintra Marques. "Novo Manual de Redação e Estilo", Rio de Janeiro, 1953) A substituição de um nome próprio por um nome comum se processa muitas vezes mediante a antonomásia. Trata-se de um recurso que expressa um atributo inconfundível de uma pessoa, de uma divindade, de um povo, de um país ou de uma cidade.
  • 2. 2 Veja os exemplos. Castro Alves - O Poeta dos Escravos Gonçalves Dias - O Cantor dos Índios José Bonifácio - O Patriarca da Independência Simon Bolívar - O Libertador Rui Barbosa - O Águia de Haia Jesus cristo - O Salvador, o nazareno, o Redentor Édipo - O Vencedor da Esfinge Átila - O Flagelo de Deus Aquiles - O Herói de Tróia D. Quixote - O Cavaleiro de Triste Figura Cuba - A Pérola das Antilhas Veneza - A rainha do Adriático Jerusalém - O Berço do Cristianismo Egito - O Berço dos Faraós Ásia - O Berço do Gênero Humano Leônidas - O Herói das Termópilas Sólon - O Legislador de Atenas Moisés - O Legislador dos Judeus Hipócrates - O Pai da Medicina Heródoto - O Pai da História José de Alencar - O Autor de Iracema Raimundo Correa - O Autor de As Pombas Vênus - A Deusa da Beleza 2.3.2 Coesão lexical por hiperônimo: Muitas vezes, neste tipo de coesão, utilizamos sinônimos superordenados ou hiperônimos, isto é, palavras que correspondem ao gênero do termo a ser retomado. Exemplo: Acabamos de receber 30 termômetros clínicos. Os instrumentos deverão ser encaminhados ao Departamento de Pediatria. 2.3.3 Coesão lexical por repetição do mesmo item Exemplo: A presidenta viajou pelo Brasil. A presidenta reuniu nas capitais grande multidão de admiradores. 2.4 Coesão por substituição A coesão por substituição consiste na colocação de um item num lugar de outro segmento. Exemplo: O ministro cumprimentou os presentes. Os secretários também. O ministro é a favor da liberação das obras. Mas eu não penso assim. O ministro levantou-se da sessão. Todos fizeram o mesmo. 3. Observação de textos Melhor do que teorizar sobre o assunto, com definições e classificações, é OBSERVAR os textos, conforme convicção exposta no capítulo "Como desenvolver a competência textual", que embasa a proposta deste "Guia de Produção Textual". A melhor escola é a leitura inteligente de textos modelares. 3.1 Leia o texto a seguir completando mentalmente as lacunas. Uma cocheira para dois David Coimbra - (Zero Hora, 28/3/1996) Algumas pessoas têm a sensibilidade de um cavalo. São poucas, porém. Nem todas demonstram tanta ternura quanto ...................... que se equilibram sobre quatro ferraduras. E às vésperas de um grande acontecimento do mundo ...... , como o GP Bento Gonçalves do próximo domingo, eles se tornam ainda mais dados a melindres, tais são os mimos que lhes dispensam cavalariços, proprietários, jóqueis e treinadores. ........... são carentes. Nada pior para eles do que a solidão. Precisam de uma companhia. Qualquer uma. Outros ......... , se possível. Não sendo, se contentam com uma ovelha, um galo-de-briga, até um radinho de pilha. Em último caso, serve um espelho para lhes dar a ilusão de que não estão sós no escuro da cocheira. O ........ inglês Dani Angeli, três anos de idade, se afeiçoou especialmente a uma .................. que vive no Grupo de Cocheiras Clóvis Dutra, na Vila Hípica do Cristal. Quando ............ não está por perto, ................ fica inquieto. Não dorme sem ela. Uma noite longe da ............... significa uma noite de insônia, de ranger nostálgico de dentes e patadas nervosas na forragem que lhe serve como leito. Ao raiar da manhã, o cavalariço o encontra irreconhecível, estressado, incapaz de enfrentar um dia de trabalho ............... e a ovelhinha dormem juntos, passeiam diariamente lado a lado e até quando ele viaja para disputar alguma prova fora do Estado ela precisa ir junto. Sem .................... Dani Angeli não é ninguém. 3.2 Agora observe os mecanismos de coesão. 3.2.1 - Coesão lexical por sinônimos
  • 3. 3 · Complete as lacunas com - a companheira encaracolada - a amiga lanuda - ovelhinha que substituem a palavra "ovelha". · Complete as lacunas com - puro sangue - esses espíritos suscetíveis - equino que substituem a palavra "cavalo(s)". 3.2.2 - Coesão lexical por repetição do mesmo item · Complete as lacunas com - cavalos - cavalos - Dani Angeli · Que efeito estilístico decorre da substituição de "ovelha" por "ovelhinha", "a companheira encaracolada" e "a amiga lanuda"? Em outras palavras, que atitude o autor do texto expressa mediante tais substituições? 3.2.3 - Coesão lexical por referência · Circule os pronomes que se referem a "ovelha". · Sublinhe os pronomes que se referem a "cavalo". 3.2.4 - Coesão por elipse * Identifique os elipses em - Precisam de uma companhia - ... se contentam com uma ovelha ... - ... não estão sós no escuro da cocheira - Não dormem sem ela - ... passeiam diariamente lado a lado 3.3 Complete mentalmente as lacunas do texto a seguir Erva e marimbondos (Zero Hora, 18/04/1996) A rainha e princesas da Feira Nacional do Chimarrão, de Venâncio Aires, animaram a manhã do presidente do Senado, José Sarney, ontem. .................... é convidado especial da Fenachim, que se realiza de 3 a 12 de maio. Ciceroneadas pelo governador Antônio Britto, ................. entregaram um pacote de boa erva ao .......... . Não será de grande proveito. Natural do Maranhão e eleito pelo Amapá, ...................... está mais acostumado com água de coco. 3.4 Agora, complete as lacunas com - o primeiro - o segundo - ambos - um e outro - Tanto o rei do crime em Chicago - o ex-presidente - Capone - Collor - legendário Scarface - gângster 3.5 Observe, finalmente, o terceiro texto completando as lacunas com - Ribamar - O autor de "Marimbondos de Fogo" - ex-presidente da República - as beldades Os diversos mecanismos de coesão São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam os mecanismos de coesão. Consideramos que é necessário perceber como esses mecanismos estão presentes no texto (quando estão) e de que maneira contribuem para sua tecitura, sua organização. Para Mira Mateus (1983), "todos os processos de sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual podem ser encarados como instrumentos de coesão." Esses instrumentos se organizam da seguinte forma:
  • 4. 4 Coesão lexical Neste tipo de coesão, usamos termos que retomam vocábulos ou expressões que já ocorreram, porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo opostos. Dentro da coesão lexical, podemos distinguir a reiteração (repetição) e a substituição. Por reiteração entendemos a repetição de expressões linguísticas; neste caso, existe identidade de traços semânticos. Este recurso é, em geral, bastante usado nas propagandas, com o objetivo de fazer o ouvinte/leitor reter o nome e as qualidades do que é anunciado. Observe, nesta propaganda da Ipiranga, quantas vezes é repetido o nome da refinaria. Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil uma refinaria brasileira dar certo. Quando a Ipiranga começou a produzir querosene de padrão internacional, muitos afirmavam, também, que dificilmente isso seria possível. Quando a Ipiranga comprou as multinacionais Gulf Oil e Atlantic, muitos disseram que isso era incomum. E, a cada passo que a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca faltaram previsões que indicavam outra direção. Quem poderia imaginar que a partir de uma refinaria como aquela a Ipiranga se transformaria numa das principais empresas do país, com 5600 postos de abastecimento anual de 5,4 bilhões de dólares? E, que além de tudo, está preparada para o futuro? É que, além de ousadia, a Ipiranga teve sorte: a gente estava tão ocupado trabalhando que nunca sobrou muito tempo para prestar atenção em profecias. (Revista VEJA, nº 37, setembro/97) Outro exemplo: A história de Porto Belo envolve invasão de aventureiros espanhóis, aventureiros ingleses e aventureiros franceses, que procuraram portos naturais, portos seguros para proteger suas embarcações de tempestades. (JB, Caderno Viagem, 25/08/93) A substituição é mais ampla, pois pode se efetuar por meio da sinonímia, da antonímia, da hiperonímia, da hiponímia. Vamos ilustrar cada um desses mecanismos por meio de exemplos. Sinonímia a) Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba. João Paulo II decidiu visitar em janeiro a ilha da Fantasia. (Revista VEJA, nº 39, outubro/97) Os termos assinalados têm o mesmo referente. Entretanto, é preciso esclarecer que, neste caso, há um julgamento de valor na substituição de Cuba por ilha da Fantasia, numa alusão a lugar onde não há seriedade. b) Aos 26 anos, o zagueiro Júnior Baiano deu uma grande virada em sua carreira. Conhecido por suas inconsequentes "tesouras voadoras", ele passou a agir de maneira mais sensata, atitude que já levou até a Seleção Brasileira.
  • 5. 5 Patrícia, a esposa, e os filhos Patrícia Caroline e Patrick são as maiores alegrias desse baiano nascido na cidade de Feira de Santana. "Eles são a minha razão de viver e lutar por coisas boas", comenta o zagueiro. Na galeria do ídolos, Júnior Baiano coloca três craques: Leandro, Mozer a Aldair. "Eles sabem tudo de bola, diz o jogador. O zagueiro da Seleção só questiona se um dia terá o mesmo prestígio deles. Deixando para trás a fase de desajustado e brigão, o zagueiro rubro-negro agora orienta os mais jovens e aposta nesta nova geração do Flamengo. (Jornal dos Sports, 24/08/97) Este tipo de procedimento é muito útil para evitar as constantes repetições que tornam um texto cansativo e pouco atraente. Observe quantas diferentes maneiras foram empregadas para fazer alusão à mesma pessoa. Dentro desse parágrafo, observamos ainda outros mecanismos de coesão já vistos anteriormente: sua, ele, o, que retomam o jogador Júnior Baiano, e deles, que retoma os três craques. c) Como uma ilha entre as pessoas que se comprimiam no abrigo do bonde, o homem mantinha-se concentrado no seu serviço. Era especialista em colorir retrato e fazia caricatura em cinco minutos. No momento, ele retocava uma foto de Getúlio Vargas, que mostrava um dos melhores sorrisos do presidente morto. (Wander Piroli, Trabalhadores do Brasil ) d) Vestia um camisolão azul, sem cintura. Tinha cabelos longos como Jesus e barbas longas. Nos pés calçava sandálias para enfrentar o pó das estradas e, a cabeça, protegia-a do sol inclemente com um chapelão de abas largas. Nas mãos levava um cajado, como os profetas, os santos, os guiadores de gente, os escolhidos, os que sabiam o caminho do céu. Chamava os outros de "meu irmão". Os outros chamavam-no "meu pai". Foi conhecido como Antonio dos Mares, uma certa época, e também como Irmão Antonio. Os mais devotos o intitulavam "Bom Jesus", "Santo Antonio". De batismo, era Antonio Vicente Mendes Maciel. Quando fixou sua fama, era Antônio Conselheiro, nome com o qual conquistou os sertões e além. (Revista VEJA,setembro/97) Os vocábulos assinalados indicam a sinonímia para o nome de Antônio Conselheiro.Por ser um parágrafo rico em mecanismos de coesão, vale a pena mostrar mais alguns deles. Por exemplo, o sujeito de vestia, tinha, calçava, levava, chamava, foi conhecido, fixou é sempre o mesmo, isto é, Antônio Conselheiro, mas só ao final do texto esse sujeito é esclarecido. Dizemos, então, que, neste caso, houve uma referência por elipse. Chamavam-no e o intitulavam - os pronomes oblíquos no e o retomam a figura de Antônio Conselheiro. Da mesma forma, o pronome a (protegia-a) refere-se ao nome cabeça, e o possessivo sua (sua fama) tem como referente o mesmo Antônio Conselheiro. e) Depois do ciclo Romário, o Flamengo entra na era Sávio. Pelo menos é essa a intenção do presidente Kleber Leite. O dirigente nega a intenção do clube em fazer de seu atacante uma moeda de troca. "No ano passado me ofereceram US $ 9 milhões e mais o passe do Romário pelo Sávio e eu não fiz negócio", lembrou. Segundo Kleber, o jogador tem categoria suficiente para se transformar em um ídolo nacional. Por falar em prata da casa,o presidente do Flamengo, apoiado por Zico, vai apostar nos jovens valores do clube para o segundo semestre. Ele acha que, mantendo a base, com Sávio, Júnior Baiano, Athirson, Evandro e Lúcio, o time rubro-negro terá condições de chegar às finais do Campeonato Brasileiro e Supercopa. (Jornal dos Sports, 24/08/97) As expressões assinaladas em azul se referem à mesma pessoa. Na verdade, temos em dirigente um sinônimo de fato, enquanto as outras substituições podem ser chamadas de elipses parciais, embora todas remetam ao presidente do clube carioca. Existe igualmente sinonímia entre Sávio, atacante e jogador. f) Penando para tentar reduzir a conta dos direitos e benefícios dos trabalhadores, todo governante europeu hoje em dia baba de inveja dos Estados Unidos - o país do cada um por si e o governo, de preferência, bem longe dessas questões. Pois foi justamente na terra do vale-tudo entre patrão e empregado que 185000 filiados de um sindicato cruzaram os braços neste mês e pararam por quinze dias a UPS, a maior empresa de entregas terrestres do mudo . (Revista VEJA, setembro/97) Não podemos deixar de apontar que, neste exemplo, os sinônimos escolhidos para Estados Unidos se revestem de um juízo de valor, são denominações de caráter pejorativo. Antonímia - É a seleção de expresões linguísticas com traços semânticos opostos. Exemplos: a) Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no verão uma das mais belas paisagens catarinenses. (JB, Caderno Viagem, 25/08/93)
  • 6. 6 Hiperonímia e Hiponímia - Por hiperonímia temos o caso em que a primeira expressão mantém com a segunda uma relação de todo-parte ou classe-elemento. Por hiponímia designamos o caso inverso: a primeira expressão mantém com a segunda uma relação de parte-todo ou elemento-classe. Em outras palavras, essas substituições ocorrem quando um termo mais geral - o hiperônimo - é substituído por um termo menos geral - o hipônimo, ou vice-versa. Os exemplo ajudam a entender melhor. a) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano presenciou uma cópula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas alguns segundos. (Revista VEJA, no 30, julho/97) b) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos de três a oito animais, sempre com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade e a direção a seguir. (Idem) c) Dentre as 79 espécies de cetáceos, as jubartes são as únicas que cantam - tanto que são conhecidas também por "baleias cantoras". (Idem) d) A renda de bilro é a mais conhecida e criativa forma de artesanato catarinense. (JB, Caderno Viagem, 25/08/93) e) O litoral norte de Santa Catarina tem um verdadeiro festival de localidades famosas: a praia de Camboriu, a ilha de São Francisco do Sul, a enseada do Brito . (Idem) f) Dado que, entre os assentados, é expressivo o número de analfabetos, pode-se ter uma ideia de quanto é difícil elaborar um projeto ou usar novas tecnologias. Com pouco dinheiro e escassa assistência, eles costumam usar sementes de qualidade baixa e voltar-se para a produção de consumo familiar. Mesmo entre os instrumentos de trabalho mais corriqueiros, também há escassez brutal, e a maioria dos assentados não dispõe nem mesmo de uma pá ou de uma picareta. Entre eles, ainda que os sem-terra tenham escolhido a foice como um dos seus símbolos de luta pela reforma agrária, o instrumento mais comum ainda é a velha enxada. (Revista VEJA, nº 29, julho/97) Hiperônimos (termos mais gerais) Hipônimos (termos mais específicos) baleias animais cetáceos artesanato litoral norte instrumentos jubartes baleias renda de bilro praia, ilha, enseada pá, picareta, foice, enxada Vale a pena apontar também a coesão lexical por sinonímia, entre assentados e sem-terra (exemplo f) e entre jubartes e baleias cantoras (exemplo c). Os pronomes eles ( caso reto ) e se ( caso oblíquo ) são exemplos de coesão gramatical referencial, pois remetem aos assentados . Coesão Gramatical Faz-se por meio das concordâncias nominais e verbais, da ordem dos vocábulos, dos conectores, dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos definidos, de expressões de valor temporal. De acordo com o quadro antes apresentado, passamos a ver separadamente cada um dos tipos de conexão gramatical, a saber, frásica, interfrásica, temporal e referencial. · Coesão Frásica - este tipo de coesão estabelece uma ligação significativa entre os componentes da frase, com base na concordância entre o nome e seus determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre o sujeito e seus predicadores, na ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal. Exemplos: 1) Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com ondas, sem ondas, rústicas, sofisticadas.
  • 7. 7 concordância nominal praias desertas, agitadas, rústicas, sofisticadas (subst.) (adjetivos) todos os gostos (pron.) (artigo) (substantivo) concordância verbal Florianópolis tem (sujeito) (verbo) 2) A voz de Elza Soares é um patrimônio da música brasileira. Rascante, oclusiva, suingada, é algo que poucas cantoras, no mundo inteiro, têm. concordância nominal voz rascante, oclusiva, suingada poucas cantoras música brasileira mundo inteiro concordância verbal voz é cantoras têm Com respeito à ordem dos vocábulos na oração, deslocamentos de vocábulos ou expressões dentro da oração podem levar a diferentes interpretações de um mesmo enunciado. Observe estas frases: a) O barão admirava a bailarina que dançava com um olhar lânguido. A expressão com um olhar lânguido , devido à posição em que foi colocada, causa ambiguidade, pois tanto pode se referir ao barão como à bailarina. Para deixar claro um ou outro sentido, é preciso alterar a ordem dos vocábulos. O barão, com um olhar lânguido, admirava a bailarina que dançava. O barão admirava a bailarina que, com um olhar lânguido, dançava. b) A moto em que ele estava passeando lentamente saiu da estrada.. A análise deste período mostra que ele é formado de duas orações: A moto saiu da estrada e em que ele estava passeando . A qual das duas, no entanto, se liga o advérbio lentamente ? Da forma como foi colocado, pode se ligar a qualquer uma das orações. Para evitar a ambiguidade, recorremos a uma mudança na ordem dos vocábulos. Poderíamos ter, então: A moto em que lentamente ele estava passeando saiu da estrada. A moto em que ele estava passeando saiu lentamente da estrada.
  • 8. 8 Também em relação à regência verbal, a coesão pode ficar prejudicada se não forem tomados alguns cuidados. Há verbos que mudam de sentido conforme a regência, isto é, conforme a relação que estabelecem com o seu complemento. Por exemplo, o verbo assistir é usado com a preposição a quando significa ser espectador, estar presente, presenciar. Exemplo: A cidade inteira assistiu ao desfile das escolas de samba. Entretanto, na linguagem coloquial, este verbo é usado sem a preposição. Por isso, com frequência, temos frases como: Ainda não assisti o filme que foi premiado no festival . Ou A peça que assisti ontem foi muito bem montada (ao invés de a que assisti). No sentido de acompanhar, ajudar, prestar assistência, socorrer, usa-se com proposição ou não. Observe: O médico assistiu ao doente durante toda a noite.Os Anjos do Asfalto assistiram as vítimas do acidente. No que diz respeito à regência nominal, há também casos em que os enunciados podem se prestar a mais de uma interpretação. Se dissermos A liquidação da Mesbla foi realizada no fim do verão , podemos entender que a Mesbla foi liquidada , foi vendida ou que a Mesbla promoveu uma liquidação de seus produtos . Isso acontece porque o nome liquidação está acompanhado de um outro termo ( da Mesbla ). Dependendo do sentido que queremos dar à frase, podemos reescrevê-la de duas maneiras: A Mesbla foi liquidada no fim do verão. A Mesbla promoveu uma liquidação no fim do verão. · Coesão Interfrásica - designa os variados tipos de interdependência semântica existente entre as frases na superfície textual. Essas relações são expressas pelos. É necessário, portanto, usar o conector adequado à relação que queremos expressar. Seguem exemplos dos diferentes tipos de conectores que podemos empregar: a) As baleias que acabam de chegar ao Brasil saíram da Antártida há pouco mais de um mês. No banco de Abrolhos, uma faixa com cerca de 500 quilômetros de água rasa e cálida, entre o Espírito Santo e a Bahia, as baleias encontram as condições ideais para acasalar, parir e amamentar. As primeiras a chegar são as mães, que ainda amamentam os filhotes nascidos há um ano. Elas têm pressa, porque é difícil conciliar amamentação e viagem, já que um filhote tem necessidade de mamar cerca de 100 litros de leite por dia para atingir a média ideal de aumento de peso: 35 quilos por semana. Depois, vêm os machos, as fêmeas sem filhote e, por último, as grávidas. Ao todo, são cerca de 1000 baleias que chegam a Abrolhos todos os anos. Já foram dezenas de milhares na época do descobrimento, quando estacionavam em vários pontos da costa brasileira. Em 1576, Pero de Magalhães Gândavo registrou ter visto centenas delas na baía de Guanabara. (Revista VEJA, no 30, julho/97) b) Como suas glândulas mamárias são internas, ela espirra o leite na água. (idem) c) Ao longo dos meses, porém, a música vai sofrendo pequenas mudanças, até que, depois de cinco anos, é completamente diferente da original. (idem) d) A baleia vem devagar, afunda a cabeça, ergue o corpanzil em forma de arco e desaparece um instante. Sua cauda, então, ressurge gloriosa sobre a água como se fosse uma enorme borboleta molhada. A coreografia dura segundos, porém tão grande é a baleia que parece um balé em câmara lenta. (idem) e) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano presenciou uma cópula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas alguns segundos. (idem) f) A jubarte é engenhosa na hora de se alimentar. Como sua comida costuma ficar na superfície, ela mergulha e nada em volta dos peixes, soltando bolhas de água. Ao subir, as bolhas concentram o alimento num círculo. Em seguida, a baleia abocanha tudo, elimina a água pelo canto da boca e usa a língua como uma canaleta a fim de jogar o que interessa goela adentro. (idem)
  • 9. 9 g) Várias publicações estrangeiras foram traduzidas, embora muitas vezes valha a pena comprar a versão original. (idem) h) Como guia de Paris, o livro é um embuste. Não espere, portanto, descobrir através dele o horário de funcionamento dos museus. A autora faz uma lista dos lugares onde o turista pode comprar roupas, óculos, sapatos, discos, livros, no entanto, não fornece as faixas de preço das lojas. (idem) i) Se já não é possível espantar a chicotadas os vendilhões do templo, a solução é integrá-los à paisagem da fé. (...) As críticas vêm não só dos vendilhões ameaçados de ficar de fora, mas também das pessoas que frequentam o interior do templo para exercer a mais legítima de suas funções, a oração. (Revista VEJA, no 27, julho/97) j) Na verdade, muitos habitantes de Aparecida estão entre a cruz e a caixa registradora. Vivem a dúvida de preservar a pureza da Casa de Deus ou apoiar um empreendimento que pode trazer benesses materiais. (idem) l) A Igreja e a prefeitura estimam que o shopping deve gerar pelo menos 1000 empregos. (idem) m) Aparentemente boa, a infraestrutura da Basílica se transforma em pó em outubro, por exemplo, quando num único fim de semana surgem 300 mil fiéis. (idem) n) O shopping da fé também contará com um centro de eventos com palco giratório. (idem) Conectores Há termos que “costuram” as frases e orações de um texto. Eles são chamados de relatores e são uma espécie de espinha dorsal de qualquer texto bem escrito. Alguns conectores: e (exemplos a,d,f) - liga termos ou argumentos. porque (exemplo a), já que (exemplo a), como (exemplos b, f) - introduzem uma explicação ou justificativa. para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f) - indicam uma finalidade. porém (exemplos c, d), mas (e) , embora (g) , no entanto (h) - indicam uma contraposição. como (exemplo d) , tão ... que (exemplo d), tão ... quanto (exemplo e) - indicam uma comparação. portanto (h) - evidencia uma conclusão. Depois (a) , por último (a), quando (a), já (a), ao longo dos meses (c), depois de cinco anos (c), em seguida (f), até que (c) - servem para explicar a ordem dos fatos, para encadear os acontecimentos. então (d) - operador que serve para dar continuidade ao texto. se (exemplo i) - indica uma forma de condicionar uma proposição a outra. não só...mas também (exemplo i) - serve para mostrar uma soma de argumentos. na verdade (exemplo j) - expressa uma generalização, uma amplificação. ou (exemplo j) - apresenta um disjunção argumentativa, uma alternativa. por exemplo (exemplo m) - serve para especificar o que foi dito antes. também (exemplo n) - operador para reforçar mais um argumento apresentado Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição, em que a coesão se dá em função da sequência do texto, da ordem em que as informações, as proposições, os argumentos vão sendo apresentados. Quando isto acontece, ainda que os operadores não tenham sido explicitados, eles são depreendidos da relação que está implícita entre as partes da frase. O trecho abaixo é um exemplo de justaposição. Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou mulheres, foi apresentado a medalhões das artes e da política. Nos anos 20, trocou o Rio por longas temporadas em São Paulo; em seguida foi para Paris. Acabou conhecendo Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Montparnasse. Di Cavalcanti era irreverente demais e calculista de
  • 10. 10 menos em relação aos famosos e poderosos. Quando se irritava com alguém, não media palavras. Teve um inimigo na vida. O também pintor Cândido Portinari. A briga entre ambos começou nos anos 40. Jamais se reconciliaram. Portinari não tocava publicamente no nome de Di. (Revista VEJA, no 37,setembro/97) Há, neste trecho, apenas uma coesão interfrásica explicitada: trata-se da oração "Quando se irritava com alguém, não media palavras". Os demais possíveis conectores são indicados por ponto e ponto-e-vírgula. · Coesão Temporal - uma sequência só se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos enunciados estiver de acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no universo a que o texto se refere, ou no qual o texto se insere. Se essa ordenação temporal não satisfizer essas condições, o texto apresentará problemas no seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado dos tempos verbais, obedecendo a uma sequência plausível, ao uso de advérbios que ajudam a situar o leitor no tempo (são, de certa forma, os conectores temporais). Exemplos: A dita Era da Televisão é, relativamente, nova. Embora os princípios técnicos de base sobre os quais repousa a transmissão televisual já estivessem em experimentação entre 1908 e 1914, nos Estados Unidos, no decorrer de pesquisas sobre a amplificação eletrônica, somente na década de vinte chegou-se ao tubo catódico, principal peça do aparelho de tevê. Após várias experiências por sociedades eletrônicas, tiveram início, em 1939, as transmissões regulares entre Nova Iorque e Chicago - mas quase não havia aparelhos particulares. A guerra impôs um hiato às experiências. A ascensão vertiginosa do novo veículo deu-se após 1945. No Brasil, a despeito de algumas experiências pioneiras de laboratório (Roquete Pinto chegou a interessar-se pela transmissão da imagem), a tevê só foi mesmo implantada em setembro de 1950, com a inauguração do Canal 3 (TV Tupi), por Assis Chateaubriand. Nesse mesmo ano, nos Estados Unidos, já havia cerca de cem estações, servindo a doze milhões de aparelhos. Existem hoje mais de 50 canais em funcionamento, em todo o território brasileiro, e perto de 4 milhões de aparelhos receptores. [dados de 1971] (Muniz Sodré, A comunicação do grotesco) Temos, neste parágrafo, a presentação da trajetória da televisão no Brasil, e o que contribui para a clareza desta trajetória é a sequência coerente das datas: entre 1908 e 1914, na década de vinte, em 1939, Após várias experiências por sociedades eletrônicas, (época da) guerra, após 1945, em setembro de 1950, nesse mesmo ano, hoje. Embora o assunto neste tópico seja a coesão temporal, vale a pena mostrar também a ordenação espacial que acompanha as diversas épocas apontadas no parágrafo: nos Estados Unidos, entre Nova Iorque e Chicago, no Brasil, em todo o território brasileiro . · Coesão Referencial - neste tipo de coesão, um componente da superfície textual faz referência a outro componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para esta referência são largamente empregados os pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos. Exemplos: a) Durante o período da amamentação, a mãe ensina os segredos da sobrevivência ao filhote e é arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a cauda, ele também o faz. (Revista VEJA, no 30,julho/97) ela, a - retomam o termo baleiona, que, por sua vez, substitui o vocábulo mãe. ele - retoma o termo filhote ele também o faz - o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica. b) Madre Teresa de Calcutá, que em 1979 ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho com os destituídos do mundo, estava triste na semana passada. Perdera uma amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de saúde agravaram-se. Instalada em uma cadeira de rodas, ela mantinha-se, como sempre, na ativa. Já que não podia ir a Londres, pretendia participar, no sábado, de um ato em memória da princesa, em Calcutá, onde morava há quase setenta anos. Na noite de sexta-feira, seu médico foi chamado às pressas. Não adiantou. Aos 87 anos, Madre Teresa perdeu a batalha entre seu organismo debilitado e frágil e sua vontade de ferro e morreu vítima de
  • 11. 11 ataque cardíaco. O Papa João Paulo II declarou-se "sentido e entristecido". Madre Teresa e o papa tinham grande afinidade. (Revista VEJA, nº 36, setembro/97) que, seu, seus, ela, sua referem-se a Madre Teresa. princesa retoma a expressão princesa Diana. papa retoma a expressão Papa João Paulo II. onde refere-se à cidade de Calcutá. Há ainda outros elementos de coesão, como Além disso, já que , que introduzem, respectivamente, um acréscimo ao que já fora dito e uma justificativa. c) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos de três a oito animais, sempre com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade e a direção a seguir. Os machos vão atrás, na expectativa de ver se a fêmea cai na rede, com o perdão do trocadilho,e aceita copular. Como há mais machos que fêmeas, elas copulam com vários deles para ter certeza de que engravidarão. (Revista VEJA, no 30, julho/97) Neste exemplo, ocorre um tipo bastante comum de referência - a anafórica. Os pronomes elas (que retoma jubartes ), ela (que retoma fêmea ), elas (que se refere a fêmeas ) e deles (que se refere a machos ) ocorrem depois dos nomes que representam. d) Ele foi o único sobrevivente do acidente que matou a princesa, mas o guarda-costas não se lembra de nada. (Revista VEJA, no 37, setembro/97) e) Elas estão divididas entre a criação dos filhos e o desenvolvimento profissional, por isso, muitas vezes, as mulheres precisam fazer escolhas difíceis. (Revista VEJA, no 30, julho/97) Nas letras d, e temos o que se chama uma referência catafórica. Isto acontece porque os pronomes Ele e Elas, que se referem, respectivamente a guarda-costas e mulheres aparecem antes do nome que retomam. f) A expedição de Vasco da Gama reunia o melhor que Portugal podia oferecer em tecnologia náutica. Dispunha das mais avançadas cartas de navegação e levava pilotos experientes. (Revista VEJA, no 27, julho/97) Temos neste período uma referência por elipse. O sujeito dos verbos dispunha e levava é A expedição de Vasco da Gama, que não é retomada pelo pronome correspondente ela, mas por elipse, isto é, a concordância do verbo - 3ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo - é que indica a referência. Existe ainda a possibilidade de uma ideia inteira ser retomada por um pronome, como acontece nas frases a seguir: a) Todos os detalhes sobre a vida das jubartes são resultado de anos de observação de pesquisadores apaixonados pelo objeto de estudo. Trabalhos como esse vêm alcançando bons resultados. (Revista VEJA, no 30, julho/97) O pronome esse retoma toda a sequência anterior. b) Se ninguém tomar uma providência, haverá um desastre sem precedentes na Amazônia brasileira. Ainda há tempo de evitá-lo. (Revista VEJA, junho/97) O pronome lo se refere ao desastre sem precedentes citado antes. c) A lei é um absurdo do começo ao fim. Primeiro, porque permite aos moradores da superquadra isolar uma área pública, não permitindo que os demais habitantes transitem por ali. Segundo, o projeto não repassa aos moradores o custo disso, ou seja, a responsabilidade pela coleta de lixo, pelos serviços de água e luz e pela instalação de telefones. Pelo contrário, a taxa de limpeza pública seria reduzida para os moradores. Além disso, a aprovação do texto foi obtida mediante emprego de argumentos falsos. (Revista VEJA, julho/97) Este texto apresenta diferentes tipo de elementos de coesão. ali - faz referência a área pública , anteriormente citada. disso - retoma o que é considerado um absurdo dentro da nova lei. Ao mesmo tempo, disso é explicado a partir do operador ou seja . ou seja, pelo contrário - conectores que introduzem uma retificação, uma correção. Além disso - conector que tem por função acrescentar mais um argumento ao que está sendo discutido. Primeiro e Segundo - estes conectores indicam a ordem dos argumentos, dos assuntos.
  • 12. 12 Considere as palavras sublinhadas no parágrafo seguinte: TURISTA OCASIONAL. Ele já foi visto por aqui várias vezes, apavorando pescadores e banhistas.Mas parece preferir águas mais frias. Marina Frias, National Geographic (Brasil, maio/2002) Temido como poucos animais do mundo, e tido como um “devorador de homens”, o tubarão branco vive mais da fama do que de um histórico violento de fato. Sua imagem sanguinária, a gigantesca mandíbula aberta com dentes pontudos ou a nadadeira em meia-lua zanzando na água à procura de carne humana, ganhou mundo no rastro do filme Tubarão, na década de 70, e não saiu mais de cena. Apesar de frequentador apenas esporádica do nosso litoral, esse personagem sombrio dos mares povoa a imaginação de muitos pescadores, surfistas e banhistas que, vira-e-mexe, se sobressaltam com sua possível presença por perto, Otto Bismark Fazzana Gadig, especialista em tubarões e professor de biologia marinha da Universidade Santa Cecília, em Santos (SP), há oito anos pesquisa o assunto. O capítulo que assina no livro Great Ehite Sharks, lançado nos Estados Unidos em 1996, trata exatamente da ocorrência e distribuição da espécie no Brasil. De acordo com Otto Gadig, os padrões migratórios do tubarão branco no Atlântico Sul ainda são desconhecidos, mas seu aparecimento quase exclusivo em locais de ressurgência, em que a água fria aflora para a superfície, confirma a tese de que esse animal não tem muita queda pelo tempero brasileiro e só acaba petiscando aqui por acaso. Sua distribuição está mais restrita às regiões Sul e Sudeste do país, em especial o litoral norte do Rio de Janeiro, onde a ressurgência é comum em determinadas épocas do ano. Observe que as palavras em negrito, isoladamente, nada significam; elas só ganham significado pela relação que estabelecem entre uma informação e outra. Alguns aspectos que devem ser observados sobre os relatores: o num texto bem escrito, os relatores não permitem ambiguidade. o Há duas importantes distinções entre a oralidade e a escrita. A primeira nós já vimos: a oralidade dispõe de recursos extralinguísticos que resolvem qualquer ambiguidade. A segunda é o fato de que alguns relatores passaram a ser usados exclusivamente na escrita. o Sem os relatores, a escrita e a leitura seriam insuportáveis. Podemos distinguir três grupos principais de relatores: a) Elementos de referência textual. São aqueles que apontam para outras palavras do próprio texto, e só têm sentido próprio em função dessas palavras. Esses relatores geralmente apontam para palavras que já foram escritas, mas podem apontar também para palavras que venham depois. b) Elementos de referência situacional. São aqueles que apontam para informações que estão fora do texto, na cabeça do leitor. c) Elementos de relação lógica. São aqueles que estabelecem uma relação lógica entre uma informação e outra. UM CASO PRÁTICO DE COESÃO São Paulo: Oito pessoas morrem em queda de avião Das Agências Cinco passageiros de uma mesma família, de Maringá, dois tripulantes e uma mulher que viu o avião cair morreram Oito pessoas morreram (cinco passageiros de uma mesma família e dois tripulantes, além de uma mulher que teve ataque cardíaco) na queda de um avião (1) bimotor Aero Commander, da empresa J. Caetano, da cidade de Maringá (PR). O avião (1) prefixo PTI-EE caiu sobre quatro sobrados da Rua Andaquara, no bairro de Jardim Marajoara, Zona Sul de São Paulo, por volta das 21h40 de sábado. O impacto (2) ainda atingiu mais três residências. Estavam no avião (1) o empresário Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que foi candidato a prefeito de Maringá nas últimas eleições (leia reportagem nesta página); o piloto (1) José Traspadini, de 64 anos; o co-piloto (1) Geraldo Antônio da Silva Júnior, de 38; o sogro de Name Júnior (4), Márcio Artur Lerro Ribeiro (5), de 57; seus (5) filhos Márcio Rocha Ribeiro Neto, de 28, e Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6), João Izidoro de Andrade (7), de 53 anos.
  • 13. 13 Andrade (7) é conhecido na região (8) como um dos maiores compradores de cabeças de gado do Sul (8) do país. Márcio Ribeiro (5) era um dos sócios do Frigorífico Naviraí, empresa proprietária do bimotor (1). Isidoro Andrade (7) havia alugado o avião (1) Rockwell Aero Commander 691, prefixo PTI-EE, para (7) vir a São Paulo assistir ao velório do filho (7) Sérgio Ricardo de Andrade (8), de 32 anos, que (8) morreu ao reagir a um assalto e ser baleado na noite de sexta-feira. O avião (1) deixou Maringá às 7 horas de sábado e pousou no aeroporto de Congonhas às 8h27. Na volta, o bimotor (1) decolou para Maringá às 21h20 e, minutos depois, caiu na altura do número 375 da Rua Andaquara, uma espécie de vila fechada, próxima à avenida Nossa Senhora do Sabará, uma das avenidas mais movimentadas da Zona Sul de São Paulo. Ainda não se conhece as causas do acidente (2). O avião (1) não tinha caixa preta e a torre de controle também não tem informações. O laudo técnico demora no mínimo 60 dias para ser concluído. Segundo testemunhas, o bimotor (1) já estava em chamas antes de cair em cima de quatro casas (9). Três pessoas (10) que estavam nas casas (9) atingidas pelo avião (1) ficaram feridas. Elas (10) não sofreram ferimentos graves. (10) Apenas escoriações e queimaduras. Elídia Fiorezzi, de 62 anos, Natan Fiorezzi, de 6, e Josana Fiorezzi foram socorridos no Pronto Socorro de Santa Cecília. Vejamos, por exemplo, o elemento (1), referente ao avião envolvido no acidente. Ele foi retomado nove vezes durante o texto. Isso é necessário à clareza e à compreensão do texto. A memória do leitor deve ser reavivada a cada instante. Se, por exemplo, o avião fosse citado uma vez no primeiro parágrafo e fosse retomado somente uma vez, no último, talvez a clareza da matéria fosse comprometida. E como retomar os elementos do texto? Podemos enumerar alguns mecanismos: a) REPETIÇÃO: o elemento (1) foi repetido diversas vezes durante o texto. Pode perceber que a palavra avião foi bastante usada, principalmente por ele ter sido o veículo envolvido no acidente, que é a notícia propriamente dita. A repetição é um dos principais elementos de coesão do texto jornalístico fatual, que, por sua natureza, deve dispensar a releitura por parte do receptor (o leitor, no caso). A repetição pode ser considerada a mais explícita ferramenta de coesão. Na dissertação cobrada pelos vestibulares, obviamente deve ser usada com parcimônia, uma vez que um número elevado de repetições pode levar o leitor à exaustão. b) REPETIÇÃO PARCIAL: na retomada de nomes de pessoas, a repetição parcial é o mais comum mecanismo coesivo do texto jornalístico. Costuma-se, uma vez citado o nome completo de um entrevistado - ou da vítima de um acidente, como se observa com o elemento (7), na última linha do segundo parágrafo e na primeira linha do terceiro -, repetir somente o(s) seu(s) sobrenome(s). Quando os nomes em questão são de celebridades (políticos, artistas, escritores, etc.), é de praxe, durante o texto, utilizar a nominalização por meio da qual são conhecidas pelo público. Exemplos: Nedson (para o prefeito de Londrina, Nedson Micheletti); Farage (para o candidato à prefeitura de Londrina em 2000 Farage Khouri); etc. Nomes femininos costumam ser retomados pelo primeiro nome, a não ser nos casos em que o sobrenomes sejam, no contexto da matéria, mais relevantes e as identifiquem com mais propriedade. c) ELIPSE: é a omissão de um termo que pode ser facilmente deduzido pelo contexto da matéria. Veja-se o seguinte exemplo: Estavam no avião (1) o empresário Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que foi candidato a prefeito de Maringá nas últimas eleições; o piloto (1) José Traspadini (4), de 64 anos; o co-piloto (1) Geraldo Antônio da Silva Júnior, de 38. Perceba que não foi necessário repetir-se a palavra avião logo após as palavras piloto e co-piloto. Numa matéria que trata de um acidente de avião, obviamente o piloto será de aviões; o leitor não poderia pensar que se tratasse de um piloto de automóveis, por exemplo. No último parágrafo ocorre outro exemplo de elipse: Três pessoas (10) que estavam nas casas (9) atingidas pelo avião (1) ficaram feridas. Elas (10) não sofreram ferimentos graves. (10) Apenas escoriações e queimaduras. Note que o (10) em negrito, antes de Apenas, é uma omissão de um elemento já citado: Três pessoas. Na verdade, foi omitido, ainda, o verbo: (As três pessoas sofreram) Apenas escoriações e queimaduras. d) SUBSTITUIÇÕES: uma das mais ricas maneiras de se retomar um elemento já citado ou de se referir a outro que ainda vai ser mencionado é a substituição, que é o mecanismo pelo qual se usa uma palavra (ou grupo de palavras) no lugar de outra palavra (ou grupo de palavras). Confira os principais elementos de substituição: Pronomes: a função gramatical do pronome é justamente substituir ou acompanhar um nome. Ele pode, ainda, retomar toda uma frase ou toda a ideia contida em um parágrafo ou no texto todo. Na matéria-exemplo, são nítidos
  • 14. 14 alguns casos de substituição pronominal: o sogro de Name Júnior (4), Márcio Artur Lerro Ribeiro (5), de 57; seus (5) filhos Márcio Rocha Ribeiro Neto, de 28, e Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6), João Izidoro de Andrade (7), de 53 anos. O pronome possessivo seus retoma Name Júnior (os filhos de Name Júnior...); o pronome pessoal ela, contraído com a preposição de na forma dela, retoma Gabriela Gimenes Ribeiro (e o marido de Gabriela...). No último parágrafo, o pronome pessoal elas retoma as três pessoas que estavam nas casas atingidas pelo avião: Elas (10) não sofreram ferimentos graves. Epítetos: são palavras ou grupos de palavras que, ao mesmo tempo que se referem a um elemento do texto, qualificam-no. Essa qualificação pode ser conhecida ou não pelo leitor. Caso não seja, deve ser introduzida de modo que fique fácil a sua relação com o elemento qualificado. Exemplos: a) (...) foram elogiadas por Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente, que voltou há dois dias de Cuba, entregou-lhes um certificado... (o epíteto presidente retoma Luiz Inácio Lula da Silva; poder-se-ia usar, como exemplo, chefe de Estado); b) Edson Arantes de Nascimento gostou do desempenho do Brasil. Para o ex-Ministro dos Esportes, a seleção... (o epíteto ex-Ministro dos Esportes retoma Edson Arantes do Nascimento; poder-se-iam, por exemplo, usar as formas jogador do século, número um do mundo, etc. Sinônimos ou quase sinônimos: palavras com o mesmo sentido (ou muito parecido) dos elementos a serem retomados. Exemplo: O prédio foi demolido às 15h. Muitos curiosos se aglomeraram ao redor do edifício, para conferir o espetáculo (edifício retoma prédio. Ambos são sinônimos). Nomes deverbais: são derivados de verbos e retomam a ação expressa por eles. Servem, ainda, como um resumo dos argumentos já utilizados. Exemplos: Uma fila de centenas de veículos paralisou o trânsito da Avenida Higienópolis, como sinal de protesto contra o aumentos dos impostos. A paralisação foi a maneira encontrada... (paralisação, que deriva de paralisar, retoma a ação de centenas de veículos de paralisar o trânsito da Avenida Higienópolis). O impacto (2) ainda atingiu mais três residências (o nome impacto retoma e resume o acidente de avião noticiado na matéria-exemplo) Elementos classificadores e categorizadores: referem-se a um elemento (palavra ou grupo de palavras) já mencionado ou não por meio de uma classe ou categoria a que esse elemento pertença: Uma fila de centenas de veículos paralisou o trânsito da Avenida Higienópolis. O protesto foi a maneira encontrada... (protesto retoma toda a ideia anterior - da paralisação -, categorizando-a como um protesto); Quatro cães foram encontrados ao lado do corpo. Ao se aproximarem, os peritos enfrentaram a reação dos animais (animais retoma cães, indicando uma das possíveis classificações que se podem atribuir a eles). Advérbios: palavras que exprimem circunstâncias, principalmente as de lugar: Em São Paulo, não houve problemas. Lá, os operários não aderiram... (o advérbio de lugar lá retoma São Paulo). Exemplos de advérbios que comumente funcionam como elementos referenciais, isto é, como elementos que se referem a outros do texto: aí, aqui, ali, onde, lá, etc. Observação: É mais frequente a referência a elementos já citados no texto. Porém, é muito comum a utilização de palavras e expressões que se refiram a elementos que ainda serão utilizados. Exemplo: Izidoro Andrade (7) é conhecido na região (8) como um dos maiores compradores de cabeças de gado do Sul (8) do país. Márcio Ribeiro (5) era um dos sócios do Frigorífico Naviraí, empresa proprietária do bimotor (1). A palavra região serve como elemento classificador de Sul (A palavra Sul indica uma região do país), que só é citada na linha seguinte. CONJUNÇÕES Classificação Sentido Principais conjunções Aditivas adição, soma e, nem, mas também Adversativas oposição, contraste mas, porém, contudo, todavia, entretanto Alternativas alternância, exclusão ou, ou...ou, ora...ora, já...já, quer... Conclusivas conclusão explicação quer logo, pois (posposto ao verbo), portanto Explicativas justificativa pois (anteposto ao verbo), porque, que Integrantes sem valor semântico específico, apenas ligam orações que, se Causais causa, motivo porque, como, já que, visto que Condicionais condição se, caso, desde que, contanto que Consecutivas consequência que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que Comparativas comparação como, que (precedido de mais ou menos), assim como Conformativas conformidade como, conforme, segundo Concessivas concessão embora, se bem que, mesmo que, ainda que Temporais tempo quando, assim que, antes que, depois que Finais finalidade para que, a fim de que, que Proporcionais Proporção à medida que, à proporção que
  • 15. 15 EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO Reescreva os não-textos (textos sem coesão) utilizando os mecanismos de coesão textual: [ Texto 1] As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os automóveis para vender os automóveis mais caro. O cliente vai à revendedora de automóveis com pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais caro o automóvel, desiste de comprar o automóvel, e as revendedoras de automóveis têm prejuízo. ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ [Texto 2] Todos os anos dezenas de baleias encalham nas praias do mundo nas praias do mundo e até há pouco nenhum oceanógrafo ou biólogo era capaz de explicar por que as baleias encalham. Segundo uma hipótese corrente, as baleias se suicidaram ao pressentir a morte, em razão de uma doença grave ou da própria idade, ou seja, as baleias praticam uma espécie de eutanásia instintiva. Segundo outra, as baleias se desorientam por influência de tempestades magnéticas ou de correntes marinhas. Agora, dois pesquisadores do Departamento de História Natural do Museu Britânico, com sede em Londres, encontram uma resposta científica para o suicídio das baleias. De acordo com Katharine Parry e Michael Moore, as baleias são desorientadas de suas rotas em alto-mar para as águas rasas do litoral por ação de um minúsculo verme de apenas 2,5 centímetros de comprimento. Ele se aloja no ouvido das baleias, impedindo que as baleias se orientem pelo eco da voz. ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ [ Texto 3 ] Muita gente votou nas últimas eleições. Muita gente pensava que as coisas iriam mudar radicalmente, mas muita gente estava enganada. O Brasil parece que levará ainda um tempo muito grande para amadurecer. O que o Brasil precisa, entretanto, para chegar a ficar maduro, é manter arejada e viva a democracia. ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ TEXTO 1 O pombo inconfiável
  • 16. 16 Moacyr Scliar Texto disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1304200904.htm Um pombo-correio carregando partes desmontadas de um celular foi encontrado por agentes penitenciários em Sorocaba. A polícia acredita que a ave estava sendo usada para levar as peças para dentro de um presídio. De acordo com o boletim de ocorrência, o pássaro foi visto por um agente que trabalha na portaria da penitenciária Dr. Danilo Pinheiro, no bairro Jardim Paraná. O homem notou alguma coisa estranha no pássaro, que descansava em um fio de alta tensão, e fez uma armadilha para pegá-lo. Carregava uma sacolinha com peças de um telefone celular. Folha Online. "Nunca pensei que um pombo pudesse ser trapaceiro, Gabriel. Nunca. Sempre tive em mente a passagem da Bíblia contando que, depois do dilúvio, Noé, ainda na arca, resolveu mandar um pássaro para saber como estava a terra. Enviou um corvo, que nunca voltou. Enviou um pombo, que regressou trazendo um raminho de oliveira. Ou seja: pombos são confiáveis. Pelo menos era o que eu achava até que você, Gabriel, entrou em minha vida. Eu descobri você no pátio da penitenciária. Você estava sujo, mancando, com uma pata machucada. Eu cuidei de você como se cuida de um filho. Até nome de anjo eu lhe dei: Gabriel. E eu esperava que você retribuísse o favor que lhe fiz. Foi para isso que treinei você, Gabriel. E você sabe o trabalho que isso me deu, sabe muito bem. Era uma coisa que eu só podia fazer às escondidas, para não chamar a atenção de outros presos e dos guardas. Felizmente eu tinha experiência, porque desde criança gostava de pombos; além disso, meu vizinho era dono de um pombal e me ensinou tudo sobre pombos-correio, inclusive como treiná-los. Devo dizer, Gabriel, que como pombo você me surpreendeu. Porque você era vivo, você era inteligente, você aprendia as coisas com uma rapidez incomum. Em menos de dois meses você estava pronto para a missão. E a missão era importante, Gabriel. Eu precisava que você me trouxesse peças que estavam faltando em meu celular. E o celular, para mim, era vital: graças a ele eu poderia, mesmo de dentro do presídio, dar instruções para os meus homens. Portanto, quando eu enviei você para trazer as peças, Gabriel, estava lhe encarregando de uma tarefa importantíssima. Mas eu confiava em você, Gabriel. Tanto quanto Noé confiava no pombo que enviou da arca. Eu esperava que você procedesse do mesmo modo, que você justificasse a estima que a nossa espécie, a espécie humana, tem pelos pombos. Mas você me decepcionou, Gabriel. Você traiu a minha confiança. Você tinha de ir até meus companheiros, receber o saquinho com as peças de celular e voltar imediatamente. Você não fez isso. Você, com uma descomunal irresponsabilidade, pousou num fio para descansar. E aí o agente penitenciário te pegou. Acho, aliás, que era isso mesmo que você queria, ser capturado: era a maneira mais fácil de livrar-se de mim e de aderir aos caras do poder. "Cria corvos e eles te comerão os olhos", diz um provérbio espanhol. Pois eu digo: cria pombos, certos pombos, e eles te sacanareão. E aqui termino de escrever essa mensagem, Gabriel. Só não sei como vou enviá-la a você. Por um corvo, talvez?"
  • 17. 17 TEXTO 2 Espaço vital MOACYR SCLIAR Texto disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0405200903.htm No condado inglês de Houghton Regis, o Conselho de Funerais decidiu cobrar 50% a mais para enterrar pessoas muito gordas. "O fundamento é que os obesos ocupam mais espaço", declarou à Folha o conselheiro Steven Oliver. A regra começou a vigorar em março. Em vez da tarifa normal de €129 (R$ 415) o sepultamento de obesos custa €194 (R$ 625). Cotidiano, 27 de abril de 2009 Durante 53 anos William e Susan haviam vivido juntos. Uma vida tranquila, pacata, mas feliz. Nisso ambos estavam de acordo: tanto quanto um casal pode ser feliz, eles eram felizes. Mas então William adoeceu, uma doença cardíaca grave, e aí ficou claro para ambos que, muito breve, ele poderia despedir-se da existência. O que enfrentou sem mágoa: homem religioso, considerava-se preparado para partir desta para a melhor, como declarava aos amigos e à mulher. Não imaginava, porém, o dilema que o destino lhe reservava. Uma manhã notou que Susan parecia muito perturbada. Da cama, de onde agora não mais saía, interrogou-lhe a respeito. Ela vacilou, obviamente angustiada, mas acabou contando: tinham um problema, os dois. Melhor dizendo: ela teria um problema. O Conselho de Funerais do condado tinha introduzido uma nova regra: o enterro de obesos custaria mais caro, iria de €129 para €194. A William, que apesar da doença, pesava 132 kg, essa regra inevitavelmente se aplicaria. Ora, eram pobres, eles, muito pobres. Susan já tinha reservado as €129 para o funeral, mas de onde obteria o resto? Por uns momentos ficaram em silêncio. "O que quer você que eu faça?", perguntou o marido, por fim. "Uma dieta", disse ela. Se William perdesse peso, poderia enquadrar-se na categoria de cadáver normal. Ele abanou a cabeça. Não, não faria dieta de jeito nenhum. Em primeiro lugar porque, segundo os prognósticos médicos, dificilmente teria tempo para isso: o óbito certamente ocorreria antes. Em segundo lugar, gostava de comer. Era um dos poucos prazeres que lhe haviam restado, que a doença, surpreendentemente, poupara. Perdera as forças, perdera a disposição, mas não perdera o apetite, algo que agradecia a Deus. Por último, havia a Bíblia, da qual era leitor assíduo. Ali estava, em Daniel 5,27, a frase com que o profeta, interpretando a misteriosa inscrição surgida na parede do palácio, anunciara a condenação do rei: "Foste pesado na balança e encontrado muito leve". Muito leve, não muito pesado, sublinhou ele. A esposa ainda ponderou que essa insustentável leveza do monarca resultava da falta de virtudes, mas William era muito mais pela interpretação literal: peso não é pecado, ao contrário. O fato, porém, é que amava a mulher, e não queria, naqueles derradeiro período de suas vidas, deixá-la com uma lembrança triste, amarga. No mesmo dia anunciou que estava começando uma dieta ultrarrigorosa. "Prometo que meu caixão irá flutuando para o cemitério", disse, bem-humorado. Ela não respondeu, mas abraçou-o, em prantos. E ali ficaram, juntos, em silêncio. Mas uma pergunta, interessante pergunta, agora lhe ocorria: será que para entrar no céu são Pedro pesava as pessoas? Uma indagação que guardaria para si, obviamente. Não queria sobrecarregar a mulher com o peso de sua ironia.
  • 18. 18 (exercícios) 1. Junte os pares de orações abaixo, de tal forma que entre elas se estabeleça a relação indicada. Faça as alterações que forem necessárias. Relação de concessão a) Seu projeto foi recusado. b) As explicações foram convincentes. Relação de finalidade a) Resolvemos ficar em casa. b) Assim poderíamos descansar. Relação de concessão a) Houve vários imprevistos durante a viagem. b) Tudo foi cuidadosamente planejado. Relação de proporção a) Ele crescia. b) Ele ficava mais magro. Relação de comparação a) Ele era estudioso. b) Todos os outros alunos da turma eram estudiosos. Relação de tempo a) Meus amigos vieram visitar-me. b) Cheguei de viagem. 2) Reescreva os trechos fazendo a devida coesão. Utilize artigos, pronomes ou advérbios. Não se esqueça de que a elipse (omissão de um termo) também é um mecanismo de coesão. 1. A gravata do uniforme de Pedro está velha e surrada. A minha gravata está novinha em folha. 2. Ontem fui conhecer o novo apartamento do Tiago. Tiago comprou o apartamento com o dinheiro recebido do jornal. 3. Perto da estação havia um pequeno restaurante. No restaurante costumavam reunir-se os trabalhadores da ferrovia. 4. No quintal, as crianças brincavam. O prédio vizinho estava em construção. Os carros passavam buzinando. As brincadeiras, o barulho da construção e das buzinas tiravam-me a concentração no trabalho que eu estava fazendo. 5. Os convidados chegaram atrasados. Os convidados tinham errado o caminho e custaram a encontrar alguém que orientasse o caminho aos convidados.
  • 19. 19 6. Os candidatos foram convocados por edital. Os candidatos deverão apresentar-se, munidos de documentos, até o dia 24. 3) Use os pronomes adequados: 1. Um encapuzado atravessou a praça e sumiu ao longe. Que vulto era _____ a vagar, altas horas da noite, pela rua deserta? 2. Jorge teria dinheiro, muito dinheiro, carros de luxo e mulheres belíssimas. _____ eram as fantasias que passavam pela mente de Jorge enquanto se dirigia para o primeiro treino na seleção. 3. Marcelo será promovido, mas terá de aposentar-se logo a seguir. Foi _____ que me revelou um amigo do diretor. 4. Todos pensam que a CPI acabará em pizza, mas não queremos acreditar _____. 5. Luís e Paula trabalham juntos num escritório de advocacia. _____ dedica-se a causas criminais, _____ a questões tributárias. 4) Restaure a coesão nas sentenças: 1. Um homem caminhava pela rua deserta: esfarrapado, cabisbaixo, faminto, abandonado à própria sorte. _____ parecia não notar a chuva fina que caía e _____ encharcava os ossos. 2. Os grevistas paralisaram todas as atividades da fábrica. _____ durou uma semana. 3. Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns minutos depois, _____ estacionava no pátio do Palácio do Governo. 4. Imagina-se que existam outros planetas habilitados. _____ tem ocupado a mente dos cientistas desde que os OVNIS começaram a ser avistados. 5. O presidente americano disse: Quem é favorável ao Eixo do Mal estará contra mim. _____ marcou uma etapa nas relações internacionais.