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Ensaio Fotográfico
Canonautas do Rio Pratiquara no “rasto do pusal”
Daniel dos Santos Fernandes1
Neila de Jesus Ribeiro Almeida2
Em meados de 2009, fomos chamados para orientar uma oficina sobre pesca e aquicultura na
Colônia de Pescadores, Z4 no município de São Caetano de Odivelas, região denominada Salgado,
no Estado do Pará. A recém-criada Secretaria de Pesca e Aqüicultura, na época vinculada
diretamente a Presidência da República, hoje ao Ministério da Pesca, havia no ano de 2004
efetuado o I Encontro de Pesca e Aqüicultura, com a intenção de discutir questões relativas a
área da pesca com todos os segmentos envolvidos. Deste encontro resultou uma pauta, que entre
outras questões, falaria dos problemas ambientais que seriam discutidos em um II Encontro, em
2010.
Para esse encontro houve a necessidade de preparação de um número de pescadores que iria à
prévia regional, entre os quais estavam representantes das catadoras de caranguejo. Durante a
preparação chamou-nos a atenção a desenvoltura delas, destacando-se Lucy, quanto a facilidade
de articulação, onde apresentaram um dos maiores problemas que tinham, a falta de uma
creche, pois, a saída para a catação ou catar caranguejo e/ou “rasto do pusal”(arrastar o puçá,
espécie de rede em forma de funil onde captura-se camarão) atividades diárias em que por
vezes a mulher e o homem saem ao mesmo tempo ficando a responsabilidade de cuidar das
crianças a cargo, na maioria das vezes, de outra criança com mais idade. Fato que motivou várias
conversas em torno da realidade vivida por mulheres pescadoras instigando nossa visita a
comunidade da qual elas fazem parte, Vila Sorriso.
Foi na época do “rasto do pusal”, já que na ocasião era “maré de lanço (maré de sizígia, maré que
ocorrem nas luas nova e cheia) e catar caranguejo não seria possível. Fomos convidados
para participar junto com Lucy para um dia no “rasto do pusal”, percebemos que a mesma
desenvoltura nas reuniões da colônia se apresentava no seu cotidiano, junto a sua comunidade,
agora com a presença de Ninita sua irmã e companheira nas saídas para labuta na catação de
caranguejos e nas soluções para as adversidades diárias. A saída já é como um grande
momento em como guerreiras deixam as recomendações aos que ficam, pegam suas ferramentas,
o “pusal”, E partem no caminho para a beira do rio Pratiquara, onde começa a jornada
épica das pescadoras, é feito por meio de uma mata secundária com vários tipos de vegetação,
preponderantemente a campina, algumas de bicicleta, e outras a pé sendo a bicicleta mais
usada no verão por pequenas trilhas até chegar a beira do rio onde encontramos uma área de
transição entre área de várzea e área de manguezal, Este caminho é feito diariamente e leva em
média 30 minutos da Vila Sorriso à beira do rio que elas denominam Pratiquara.
Quando a beira do rio, as mulheres iniciam os preparativos rumo a “boca do Pratiquara”,
foz do rio Pratiquara com o Oceano Atlântico. As canoas, a remo, são guarnecidas com o
material para o “rasto do pusal”, canoas e puçás na maioria das vezes alugados.
As bicicletas são deixadas no mato, e embarcam nas canoas, inicialmente para os chamados
“ranchos”, espécie de abrigos, construções de palha, a meio metro do solo com assoalho feito de
bambu cortados ao meio, em solo firme numa geografia de transição entre várzea e manguezal,
onde pode-se “atar” várias redes. É um espaço de transições, interações e sociabilidade de gêneros
em um universo social da pesca extrativista no qual em uma dinâmica coletiva, onde esperam
a maré baixar mais para também seguirem para boca do Pratiquara.
_________________________________
1 Doutor em Ciências Sociais – Antropologia, Coordenador do NUP e Docente das Faculdades Integradas Ipiranga
2 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia Aquática e Pesca - UFPA
2
Observa-se que o dia-a-dia das pescadoras faz com que a atividade física constante
produza uma resistência corporal que modela seus corpos para suportarem esta labuta,
faz de sua tez um reflexo da transformação sentida na pele. Observa-se um
bronzeamento pessoal, que na linguagem local as denominam como morenas da cor de
jambo, fruta regional de cor avermelhado-roxeado. Além do esforço físico, as
adversidades da natureza com a quais elas “lutam”, vezes lado a lado e outras
em uma constante competição pela sobrevivência, que também reforça a
sobrevivência cultural.
...quando falamos de sobrevivência cultural, queremos dizer que os
portadores da cultura controlam esse processo. Esse controle é
invariavelmente uma questão de grau. Quanto mais autonomia e mais
capacidade o grupo tiver de administrar a mudança em lugar de ser
destruído por ela, tanto maior a possibilidade de sobrevivência de sua
cultura. (MAYBURY- LEWIS, 2002)
Após o “rasto do pusal” inicia-se o retorno, os camarões já estão separados, a maré
enchendo e o escurecer que já se faz presente. O cansaço é visível devido o dia
inteiro de duras idas e vindas no “rasto do pusal” ao longo da praia. Mesmo com todas as
dificuldades, muitas vezes as canoas apresentam furos inviabilizando a volta com a mesma
quantidade de pessoas que foram, o que faz com que os componentes de uma canoa na
ida devam voltar “de carona” em outra canoa. Mas, elas voltam na brincadeira,
assim como vieram, retomando toda uma prática diária em todas suas fases, que
conste da volta pelo rio a remar a canoa, apanhar a bicicleta que esta a sua espera
como se uma companheira fosse, para que com a caixa de plástico, que esta amarrada a
garupa, possa comportar o produto da pesca aliviando um pouco a carga que terão que
levar para suas casas. Avistam as primeiras luzes das fracas lâmpadas incandescentes e/ou
de lamparinas ainda utilizadas em algumas de suas casas. Nota-se também ao balbuciar
da ansiosa espera de suas filhas (os) na frente de suas habitações, que ao
avistarem-nas correm para noticiar aos outros parentes que ficaram na comunidade, na
possibilidade da repartição dos produtos trazidos. A s c a n o n a u t a s r eforçam
a demonstração, através de seus sorrisos, da sensação de terem feito mais uma jornada
exitosa. Repartem o produto conquistado com os parentes mais próximos, preparam uma
espécie de refeição, de improviso, da vitória. Após o “banquete” demonstrarem fazem
questão de demonstrar suas habilidades domesticas deixando suas louças extremamente
limpas, como também uma espécie de troféu. As catadoras/pescadoras retornam ao sorriso
da vila, Vila Sorriso, em uma versão regional da épica grega dos navegantes da Argos,
mas na simplicidade de canonautas do Pratiquara, em canoas, meios de locomoção e sobre
vivência na maioria das vezes sem nome e penosamente alugadas, porém, lhes confere
mais uma vitória no árduo ciclo pela sobrevivência.
REFERÊNCIAS
MAYBURY-LEWIS, David. A Antropologia numa era de confusão. São Paulo: Rev.
bras. Ci. Soc., 2002. Vol.17 no.50. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0102-
69092002000300002&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 20 nov 2012.
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Conservação do ecossistema manguezal, a partir dos modos de uso pela comunid...
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Bourdieu, pierre. você disse popular
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Canonautas do rio pratiquara no rasto do pusal. revista iluminuras 35

  • 1. 1 Ensaio Fotográfico Canonautas do Rio Pratiquara no “rasto do pusal” Daniel dos Santos Fernandes1 Neila de Jesus Ribeiro Almeida2 Em meados de 2009, fomos chamados para orientar uma oficina sobre pesca e aquicultura na Colônia de Pescadores, Z4 no município de São Caetano de Odivelas, região denominada Salgado, no Estado do Pará. A recém-criada Secretaria de Pesca e Aqüicultura, na época vinculada diretamente a Presidência da República, hoje ao Ministério da Pesca, havia no ano de 2004 efetuado o I Encontro de Pesca e Aqüicultura, com a intenção de discutir questões relativas a área da pesca com todos os segmentos envolvidos. Deste encontro resultou uma pauta, que entre outras questões, falaria dos problemas ambientais que seriam discutidos em um II Encontro, em 2010. Para esse encontro houve a necessidade de preparação de um número de pescadores que iria à prévia regional, entre os quais estavam representantes das catadoras de caranguejo. Durante a preparação chamou-nos a atenção a desenvoltura delas, destacando-se Lucy, quanto a facilidade de articulação, onde apresentaram um dos maiores problemas que tinham, a falta de uma creche, pois, a saída para a catação ou catar caranguejo e/ou “rasto do pusal”(arrastar o puçá, espécie de rede em forma de funil onde captura-se camarão) atividades diárias em que por vezes a mulher e o homem saem ao mesmo tempo ficando a responsabilidade de cuidar das crianças a cargo, na maioria das vezes, de outra criança com mais idade. Fato que motivou várias conversas em torno da realidade vivida por mulheres pescadoras instigando nossa visita a comunidade da qual elas fazem parte, Vila Sorriso. Foi na época do “rasto do pusal”, já que na ocasião era “maré de lanço (maré de sizígia, maré que ocorrem nas luas nova e cheia) e catar caranguejo não seria possível. Fomos convidados para participar junto com Lucy para um dia no “rasto do pusal”, percebemos que a mesma desenvoltura nas reuniões da colônia se apresentava no seu cotidiano, junto a sua comunidade, agora com a presença de Ninita sua irmã e companheira nas saídas para labuta na catação de caranguejos e nas soluções para as adversidades diárias. A saída já é como um grande momento em como guerreiras deixam as recomendações aos que ficam, pegam suas ferramentas, o “pusal”, E partem no caminho para a beira do rio Pratiquara, onde começa a jornada épica das pescadoras, é feito por meio de uma mata secundária com vários tipos de vegetação, preponderantemente a campina, algumas de bicicleta, e outras a pé sendo a bicicleta mais usada no verão por pequenas trilhas até chegar a beira do rio onde encontramos uma área de transição entre área de várzea e área de manguezal, Este caminho é feito diariamente e leva em média 30 minutos da Vila Sorriso à beira do rio que elas denominam Pratiquara. Quando a beira do rio, as mulheres iniciam os preparativos rumo a “boca do Pratiquara”, foz do rio Pratiquara com o Oceano Atlântico. As canoas, a remo, são guarnecidas com o material para o “rasto do pusal”, canoas e puçás na maioria das vezes alugados. As bicicletas são deixadas no mato, e embarcam nas canoas, inicialmente para os chamados “ranchos”, espécie de abrigos, construções de palha, a meio metro do solo com assoalho feito de bambu cortados ao meio, em solo firme numa geografia de transição entre várzea e manguezal, onde pode-se “atar” várias redes. É um espaço de transições, interações e sociabilidade de gêneros em um universo social da pesca extrativista no qual em uma dinâmica coletiva, onde esperam a maré baixar mais para também seguirem para boca do Pratiquara. _________________________________ 1 Doutor em Ciências Sociais – Antropologia, Coordenador do NUP e Docente das Faculdades Integradas Ipiranga 2 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia Aquática e Pesca - UFPA
  • 2. 2 Observa-se que o dia-a-dia das pescadoras faz com que a atividade física constante produza uma resistência corporal que modela seus corpos para suportarem esta labuta, faz de sua tez um reflexo da transformação sentida na pele. Observa-se um bronzeamento pessoal, que na linguagem local as denominam como morenas da cor de jambo, fruta regional de cor avermelhado-roxeado. Além do esforço físico, as adversidades da natureza com a quais elas “lutam”, vezes lado a lado e outras em uma constante competição pela sobrevivência, que também reforça a sobrevivência cultural. ...quando falamos de sobrevivência cultural, queremos dizer que os portadores da cultura controlam esse processo. Esse controle é invariavelmente uma questão de grau. Quanto mais autonomia e mais capacidade o grupo tiver de administrar a mudança em lugar de ser destruído por ela, tanto maior a possibilidade de sobrevivência de sua cultura. (MAYBURY- LEWIS, 2002) Após o “rasto do pusal” inicia-se o retorno, os camarões já estão separados, a maré enchendo e o escurecer que já se faz presente. O cansaço é visível devido o dia inteiro de duras idas e vindas no “rasto do pusal” ao longo da praia. Mesmo com todas as dificuldades, muitas vezes as canoas apresentam furos inviabilizando a volta com a mesma quantidade de pessoas que foram, o que faz com que os componentes de uma canoa na ida devam voltar “de carona” em outra canoa. Mas, elas voltam na brincadeira, assim como vieram, retomando toda uma prática diária em todas suas fases, que conste da volta pelo rio a remar a canoa, apanhar a bicicleta que esta a sua espera como se uma companheira fosse, para que com a caixa de plástico, que esta amarrada a garupa, possa comportar o produto da pesca aliviando um pouco a carga que terão que levar para suas casas. Avistam as primeiras luzes das fracas lâmpadas incandescentes e/ou de lamparinas ainda utilizadas em algumas de suas casas. Nota-se também ao balbuciar da ansiosa espera de suas filhas (os) na frente de suas habitações, que ao avistarem-nas correm para noticiar aos outros parentes que ficaram na comunidade, na possibilidade da repartição dos produtos trazidos. A s c a n o n a u t a s r eforçam a demonstração, através de seus sorrisos, da sensação de terem feito mais uma jornada exitosa. Repartem o produto conquistado com os parentes mais próximos, preparam uma espécie de refeição, de improviso, da vitória. Após o “banquete” demonstrarem fazem questão de demonstrar suas habilidades domesticas deixando suas louças extremamente limpas, como também uma espécie de troféu. As catadoras/pescadoras retornam ao sorriso da vila, Vila Sorriso, em uma versão regional da épica grega dos navegantes da Argos, mas na simplicidade de canonautas do Pratiquara, em canoas, meios de locomoção e sobre vivência na maioria das vezes sem nome e penosamente alugadas, porém, lhes confere mais uma vitória no árduo ciclo pela sobrevivência. REFERÊNCIAS MAYBURY-LEWIS, David. A Antropologia numa era de confusão. São Paulo: Rev. bras. Ci. Soc., 2002. Vol.17 no.50. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0102- 69092002000300002&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 20 nov 2012.
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