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Língua(s), linguagens e
comunicação
Professor Arnaldo Sobrinho
Disciplina: Gramática
Colégio Pré-Médico (SP)
Janeiro de 2014
Dois exemplos
Sr. Fernando,
Estou desempregada e passando por todo
tipo de aperto que você pode imaginar.
Estudei Publicidade e Propaganda, falo
línguas e mesmo assim estou com
dificuldades. Ninguém quer me dar uma
chance!
Curti o jeitão da sua empresa e garanto
que vou trazer muita coisa legal pra ela.
Sou uma profissional bem qualificada e
muito acima da media dos colegas de
mercado. Ponho a mão no fogo que você
não vai não vai ser dar mal me
contratando.
Se quiser, posso enviar um CV com mais
detalhes da minha vida. Ou você pode
também me adicionar no Face e a gente
troca umas ideias.
Abraço e até mais,
Ana Maria Garcia

Muito prezada Sra. Santos.
Solicito-lhe a imensa delicadeza de
dirigir-se ao supermercado durante o
período da tarde e reabastecer o freezer
de hortaliças e laticínios. Chegarei mais
tarde do que o habitual hoje, visto que
terei algumas atividades in company que
prolongar-se-ão até altas horas.
Peço-lhe também o obséquio de deixar-me
uma relação detalhada de todas as
mercadorias e utensílios dos quais
estamos necessitando em casa. Adquirilos-ei ao longo da próxima quinzena.
A propósito, seu ordenado encontra-se
sobre a mesa da sala. Não o esqueça.
Mui grato pela dedicação e com
lembranças aos seus.
Frederico
A língua e a comunicação
Pode-se dizer que a língua é o meio privilegiado para a
comunicação entre os seres humanos. Por meio dela estudamos,
trabalhamos, expressamos sentimentos, compartilhamos opiniões,
pedimos, agradecemos, ofendemos etc. Assim, a língua é um
poderoso instrumento de comunicação. Mas não apenas isso. Pense
na seguinte situação: precisamos escrever uma carta de motivação
profissional e, em seguida, um bilhete para nossa faxineira.
Escreveremos da mesma maneira? Provavelmente não, uma vez que
são pessoas que, ao menos em tese, não tem o mesmo grau de
domínio da língua. Outra situação: se estivermos em um bar com
nossos amigos, falaremos do mesmo modo como falaríamos se
estivéssemos dando uma conferência universitária? Duvido. Assim,
a língua – entendida como meio de comunicação – é influenciada por
vários fatores, dentre os quais quem é o nosso interlocutor e em
que tipo de contexto estamos.
Mas o que é a língua?
Dá-se o nome de Linguística à ciência que se ocupa do
estudo da(s) língua(s) em seus vários aspectos: históricos,
semânticos, interacionais etc. Mas o que é a língua? Não há, nem
mesmo entre os estudiosos da(s) língua(s), uma definição
consensual. O linguista suíço Ferdinand de Saussurre entende a
língua como um sistema arbitrário de signos, os quais seriam
compostos de um significante ou imagem acústica e de um
significado ou conceito. Já para o norte-americano Noan Chomsky,
haveria uma predisposição genética dos seres humanos para a
aquisição da(s) língua(s). Para Chomsky, uma língua é um conjunto
finito de palavras a partir dos quais se podem formar um conjunto
infinito de expressões – isto é, comunicar-se. Já o francês, Jean
Dubois entende que uma língua é um sistema de signos específicos
aos membros de uma mesma comunidade e é ela um dos fatores que
garante a unidade e a coesão do grupo.
A língua e a interação social
Mas a língua não é apenas um meio de comunicação. Ela é
também um meio de interação social. Isso quer dizer duas coisas
fundamentais. A primeira delas diz respeito ao modo como usamos
a língua. A título de exemplo, o diminutivo no português do Brasil
permite que expressemos tanto afeto quanto desprezo ou
sarcasmo. A outra liga-se ao que está por trás do que dizemos. É
bastante frequente que nossas mensagens tenham, embutidas em
si, pressupostos e inferências que cabem ao nosso interlocutor
construir. Quando dizemos: “Você poderia fechar a janela?”,
podemos sugerir que sentimos frio ou que o barulho que vem de
fora pode atrapalhar a atividade que realizamos. O vocabulário que
escolhemos ao falar ou escrever também é relevante nas
interações sociais: um vocabulário mais elaborado e formal pode
sugerir que não desejamos ter intimidade com aquele interlocutor!
A língua e as linguagens
Contudo, se considerarmos a língua enquanto mecanismo de
interação social – isto é, uma forma de transmitir mensagens às
quais agregam-se valores individuais e coletivos –, chegaremos
facilmente à conclusão de que ela não é a única forma pela qual
realizamos essa transmissão. A língua é apenas mais uma forma de
linguagem. Nesse sentido, a língua é uma linguagem que tem como
código preferencial a palavra escrita ou falada ou, se quisermos, o
código linguístico. Mas é importante lembrar de que a língua não é a
única forma de linguagem disponível para que efetivemos a
comunicação e a interação social. Analisaremos agora algumas
outras formas de linguagem: o que elas querem comunicar? E que
tipo de interação social pretendem estabelecer?
Cloud Gate, instalação do
artista anglo indiano Anish
Kapoor em Chicago (EUA)
Mulher com bolsa da grife
francesa Louis Vuitton
Sede do Google no Itaim Bibi,
em São Paulo (BRA)
Vitrine da Audi em Sydney
(AUS)
Interior do Real Gabinete
Português de Leitura, no Rio
de Janeiro (BRA)
E a Gramática nisso tudo?
Ao chegar a esse ponto, podemos concluir que a língua é
apenas mais uma forma de linguagem, não a única. Tanto quanto a
pintura, a arquitetura e mesmo o nosso visual no dia-a-dia, a língua
permite a transmissão de mensagens que não são isentas de
valores. E, tanto quanto essas outras linguagens, ela também tem
suas regras de funcionamento. Ao estudos dessas regras dá-se o
nome de Gramática. Portanto, não confundamos: língua sugere
comunicação e interação; gramática, o estudo sistemático das
regras que dissecam o funcionamento dessa comunicação.
Tradicionalmente, o que estudamos na escola é a chamada
Gramática normativa, voltada ao estudo da norma culta padrão da
nossa língua. Contudo, outras variantes existem e convivem com a
NCP. Vamos agora observar mais de perto uma delas.

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Língua(s), linguagens e comunicação

  • 1. Língua(s), linguagens e comunicação Professor Arnaldo Sobrinho Disciplina: Gramática Colégio Pré-Médico (SP) Janeiro de 2014
  • 2. Dois exemplos Sr. Fernando, Estou desempregada e passando por todo tipo de aperto que você pode imaginar. Estudei Publicidade e Propaganda, falo línguas e mesmo assim estou com dificuldades. Ninguém quer me dar uma chance! Curti o jeitão da sua empresa e garanto que vou trazer muita coisa legal pra ela. Sou uma profissional bem qualificada e muito acima da media dos colegas de mercado. Ponho a mão no fogo que você não vai não vai ser dar mal me contratando. Se quiser, posso enviar um CV com mais detalhes da minha vida. Ou você pode também me adicionar no Face e a gente troca umas ideias. Abraço e até mais, Ana Maria Garcia Muito prezada Sra. Santos. Solicito-lhe a imensa delicadeza de dirigir-se ao supermercado durante o período da tarde e reabastecer o freezer de hortaliças e laticínios. Chegarei mais tarde do que o habitual hoje, visto que terei algumas atividades in company que prolongar-se-ão até altas horas. Peço-lhe também o obséquio de deixar-me uma relação detalhada de todas as mercadorias e utensílios dos quais estamos necessitando em casa. Adquirilos-ei ao longo da próxima quinzena. A propósito, seu ordenado encontra-se sobre a mesa da sala. Não o esqueça. Mui grato pela dedicação e com lembranças aos seus. Frederico
  • 3. A língua e a comunicação Pode-se dizer que a língua é o meio privilegiado para a comunicação entre os seres humanos. Por meio dela estudamos, trabalhamos, expressamos sentimentos, compartilhamos opiniões, pedimos, agradecemos, ofendemos etc. Assim, a língua é um poderoso instrumento de comunicação. Mas não apenas isso. Pense na seguinte situação: precisamos escrever uma carta de motivação profissional e, em seguida, um bilhete para nossa faxineira. Escreveremos da mesma maneira? Provavelmente não, uma vez que são pessoas que, ao menos em tese, não tem o mesmo grau de domínio da língua. Outra situação: se estivermos em um bar com nossos amigos, falaremos do mesmo modo como falaríamos se estivéssemos dando uma conferência universitária? Duvido. Assim, a língua – entendida como meio de comunicação – é influenciada por vários fatores, dentre os quais quem é o nosso interlocutor e em que tipo de contexto estamos.
  • 4. Mas o que é a língua? Dá-se o nome de Linguística à ciência que se ocupa do estudo da(s) língua(s) em seus vários aspectos: históricos, semânticos, interacionais etc. Mas o que é a língua? Não há, nem mesmo entre os estudiosos da(s) língua(s), uma definição consensual. O linguista suíço Ferdinand de Saussurre entende a língua como um sistema arbitrário de signos, os quais seriam compostos de um significante ou imagem acústica e de um significado ou conceito. Já para o norte-americano Noan Chomsky, haveria uma predisposição genética dos seres humanos para a aquisição da(s) língua(s). Para Chomsky, uma língua é um conjunto finito de palavras a partir dos quais se podem formar um conjunto infinito de expressões – isto é, comunicar-se. Já o francês, Jean Dubois entende que uma língua é um sistema de signos específicos aos membros de uma mesma comunidade e é ela um dos fatores que garante a unidade e a coesão do grupo.
  • 5. A língua e a interação social Mas a língua não é apenas um meio de comunicação. Ela é também um meio de interação social. Isso quer dizer duas coisas fundamentais. A primeira delas diz respeito ao modo como usamos a língua. A título de exemplo, o diminutivo no português do Brasil permite que expressemos tanto afeto quanto desprezo ou sarcasmo. A outra liga-se ao que está por trás do que dizemos. É bastante frequente que nossas mensagens tenham, embutidas em si, pressupostos e inferências que cabem ao nosso interlocutor construir. Quando dizemos: “Você poderia fechar a janela?”, podemos sugerir que sentimos frio ou que o barulho que vem de fora pode atrapalhar a atividade que realizamos. O vocabulário que escolhemos ao falar ou escrever também é relevante nas interações sociais: um vocabulário mais elaborado e formal pode sugerir que não desejamos ter intimidade com aquele interlocutor!
  • 6. A língua e as linguagens Contudo, se considerarmos a língua enquanto mecanismo de interação social – isto é, uma forma de transmitir mensagens às quais agregam-se valores individuais e coletivos –, chegaremos facilmente à conclusão de que ela não é a única forma pela qual realizamos essa transmissão. A língua é apenas mais uma forma de linguagem. Nesse sentido, a língua é uma linguagem que tem como código preferencial a palavra escrita ou falada ou, se quisermos, o código linguístico. Mas é importante lembrar de que a língua não é a única forma de linguagem disponível para que efetivemos a comunicação e a interação social. Analisaremos agora algumas outras formas de linguagem: o que elas querem comunicar? E que tipo de interação social pretendem estabelecer?
  • 7. Cloud Gate, instalação do artista anglo indiano Anish Kapoor em Chicago (EUA)
  • 8.
  • 9. Mulher com bolsa da grife francesa Louis Vuitton
  • 10.
  • 11. Sede do Google no Itaim Bibi, em São Paulo (BRA)
  • 12.
  • 13. Vitrine da Audi em Sydney (AUS)
  • 14.
  • 15. Interior do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro (BRA)
  • 16.
  • 17. E a Gramática nisso tudo? Ao chegar a esse ponto, podemos concluir que a língua é apenas mais uma forma de linguagem, não a única. Tanto quanto a pintura, a arquitetura e mesmo o nosso visual no dia-a-dia, a língua permite a transmissão de mensagens que não são isentas de valores. E, tanto quanto essas outras linguagens, ela também tem suas regras de funcionamento. Ao estudos dessas regras dá-se o nome de Gramática. Portanto, não confundamos: língua sugere comunicação e interação; gramática, o estudo sistemático das regras que dissecam o funcionamento dessa comunicação. Tradicionalmente, o que estudamos na escola é a chamada Gramática normativa, voltada ao estudo da norma culta padrão da nossa língua. Contudo, outras variantes existem e convivem com a NCP. Vamos agora observar mais de perto uma delas.