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O CREDO
APOSTÓLICO
RESUMO
Nos primeiros séculos da era cristã,
desenvolveu-se uma declaração de fé que
ficou amplamente conhecida como 'Credo dos
Apóstolos', além de ter sido chamada também
de 'a regra de fé', 'a regra da verdade', 'a
tradição apostólica' e, mais tarde, 'o símbolo de
fé'. O Credo não foi escrito pelos apóstolos,
mas trata-se da mais antiga declaração de fé
da igreja cristã que chegou até nós, cuja
origem, segundo Justo L. González, "se acha
nas lutas contra as heresias que tiveram lugar
nos meados do segundo século".
Pr. Ary Queiroz Jr
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
2
Sumário
1 Introdução....................................................................................................................................3
2 O primeiro artigo: o Deus Criador ................................................................................................5
3 O segundo artigo: o Deus Redentor....................................................................................... 13
4 O Terceiro Artigo: O Deus Santificador.................................................................................. 32
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
3
1 Introdução
Nos primeiros séculos da era
cristã, desenvolveu-se uma declaração de
fé que ficou amplamente conhecida como
'Credo dos Apóstolos', além de ter sido
chamada também de 'a regra de fé', 'a regra
da verdade', 'a tradição apostólica' e, mais
tarde, 'o símbolo de fé'.
O Credo não foi escrito pelos
apóstolos, mas trata-se da mais antiga
declaração de fé da igreja cristã que chegou
até nós, cuja origem, segundo Justo L.
González, "se acha nas lutas contra as
heresias que tiveram lugar nos meados do
segundo século". Earle E. Cairns afirma que
"Irineu e Tertuliano desenvolveram Regras
de Fé para serem usadas na distinção entre
Cristianismo e Gnosticismo" e funcionavam
como sumários das principais doutrinas da
Bíblia. Com efeito, no segundo século,
homens como Irineu, Tertuliano e Hipólito já
ofereciam confissões de fé semelhantes ao
Credo.
Todavia, a formulação original
parece ter surgido em Roma por volta de
340 d.C. e Ambrósio foi o primeiro a dar ao
documento o título de Credo dos Apóstolos.
Eis a declaração usada no
batismo por Rufino de Aquiléia, em c. de
390 d.C.: "Creio em Deus Pai onipotente
e em Jesus Cristo, seu único Filho,
nosso Senhor, que nasceu do Espírito
Santo e da virgem Maria, que foi
crucificado sob o poder de Pôncio
Pilatos e sepultado, e ao terceiro dia
ressurgiu da morte, que subiu ao céu e
assentou à direita do Pai, de onde há de
vir para julgar os vivos e os mortos. E no
Espírito Santo, na santa Igreja, na
remissão dos pecados, na ressurreição
da carne, na vida eterna [omitido por
Rufino]" (in Documentos da Igreja Cristã,
H. Bettenson).
Nos séculos VII e VIII, o Credo já
era usado amplamente pelas igrejas da
Gália (atual França) e Espanha, lugares de
onde nos advém a versão final, cuja dicção
é a que segue:
“Creio em Deus, o Pai todo-
poderoso, criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu único
filho, nosso Senhor, que foi concebido
pelo poder do Espírito Santo, nasceu da
virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado; desceu
à mansão dos mortos; ressuscitou ao
terceiro dia; subiu aos céus; está
assentado à direita de Deus Pai todo-
poderoso, donde há de vir a julgar os
vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo, a santa
Igreja católica, a comunhão dos santos, a
remissão dos pecados, a ressurreição da
carne e a vida eterna. Amém.”
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
4
Os credos eram usados pelos
cristãos dos primeiros séculos como um
teste de ortodoxia e como um ato de
adoração no culto público. Conforme anota
Alister MacGrath, eles são importantes
porque oferecem um breve resumo da fé
cristã, permite o reconhecimento de versões
incompletas do cristianismo e ressaltam que
crer é pertencer à comunidade da fé, ao
corpo de Jesus Cristo, a Igreja. MacGrath
afirma que “ao estudá-lo, você está se
lembrando dos muitos homens e mulheres
que o usaram antes de você. Ele lhe dá um
senso de história e perspectiva. Enfatiza
que você não é a única pessoa a depositar
a confiança em Jesus Cristo”.
Pois bem, a partir desse ponto
passaremos a tecer breves notas ao Credo
dos Apóstolos, segundo a versão recebida.
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
5
2 O primeiro artigo: o Deus Criador
Creio em Deus, o Pai todo-poderoso,
criador dos céus e da terra.
1. "Creio". Tão logo começaram a surgir as
heresias no seio da Igreja, o Espírito de
Deus a conduziu a professar sua fé de
modo sucinto e claro: nasce um “credo”.
“Credo” é uma declaração concisa,
composta de afirmações consistentes
daquilo que o cristão deve crer e confessar,
e em geral destinada ao uso público. Os
credos sempre começam com expressões
do tipo ”credo” ou “credemus” (“eu creio” ou
“nós cremos”), porquanto representam a
resposta humana à revelação divina.
Lloyd-Jones percebeu argutamente que
Deus conduziu a Igreja a concluir que
"precisamos saber perfeitamente tanto o
que devemos crer quanto o que não
devemos crer". Com efeito, nem podemos
chegar à Bíblia despidos de pressupostos
firmes que dela mesma emanem. Nesse
sentido, a conclusão da Igreja, segundo
Lloyd-Jones, foi que "não é bastante que
simplesmente apresentemos ao povo uma
Bíblia aberta", isto porque "homens e
mulheres perfeitamente sinceros, autênticos
e capazes podem ler este livro e ainda dizer
coisas que são completamente
equivocadas". Portanto, "é preciso que
definamos nossas doutrinas".
Outra razão indiscutível para que adotemos
os credos é que os cristãos precisam estar
“sempre preparados para responder a todo
aquele que vos pedir razão da esperança”
que possuem (I Pe 3:15). Todo cristão
precisa saber defender a sua fé (Fp 1:16).
Isso, segundo Pedro, é estar pronto para
oferecer as “razões da esperança”. O
cristão foi regenerado para uma “viva
esperança” (I Pe 1:3) e esta esperança não
é destituída de razão, não é desarrazoada.
Cumpre-lhe conhecê-la e estar pronto para
apresentá-la. Os credos, nesse ponto,
podem ser de grande valia.
2. "Creio em Deus". Trata-se de uma
resposta da Igreja à auto-revelação de
Deus. Nada poderia ser conhecido sobre
Deus se Ele mesmo não tivesse Se
revelado. Destarte, tudo quanto sabemos
sobre Deus, sabemos por que Ele veio a
nós através da Bíblia, o registro infalível da
Sua revelação (I Ts 2:13; I Co 2:10-13). É
na Escritura que Deus nos dá um retrato de
Si. Embora esse retrato não contemple o
Ser divino em Sua inteireza, ele é suficiente
para nos manter distantes da ignorância e
do erro e nos tornar sábios para a salvação
(II Tm 3:14, 15).
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
6
Se Deus não tivesse nos dado uma
revelação especial – a Bíblia, a palavra
escrita, e Cristo, a Palavra Viva -, teríamos
tão somente a “revelação geral”. Por
“revelação geral”, entende-se o que de
Deus se pode conhecer em termos de Suas
características gerais (divindade, poder,
sabedoria, bondade, justiça), de forma
constante e universal, através da criação (Sl
8:3, 4; 19:1-6; 93:1, 4; 104:24; Rm 1:18-20),
da consciência (Rm 2:14, 15) e da história
(At 17:26, 27), sendo tal conhecimento
insuficiente para salvar (Rm 10:13-15; Jo
14:6; At 4:12; I Jo 5:11, 12), mas suficiente
para condenar (Rm 1:20).
Embora a luz da revelação geral seja clara,
face ao pecado, o homem é incapaz de
aproveitá-la. Ademais, a revelação geral
não revela o suficiente sobre Deus, sobre o
homem e sobre a redenção, estando a
Igreja de Cristo sob a responsabilidade de
pregar o evangelho ao mundo (Rm 10:13-
15).
3. "Creio em Deus, o Pai... e em Jesus
Cristo... e no Espírito Santo". O Deus
crido pelos cristãos, e que se revela na
Bíblia, é o único Deus verdadeiro, vivo,
pessoal e infinito (Dt 6:4; Jr 10:10; I Co 8:4),
e que subsiste em três Pessoas distintas,
da mesma substância e iguais em essência
(Mt 3:16, 17; 28:19; II Co 13:13).
O monoteísmo é afirmado em toda a Bíblia,
sem significar que não haja diversidade na
unidade do Ser de Deus. No Antigo
Testamento, Dt 6:4 afirma que "Yahweh é
um (heb. 'ehad')", sendo que a palavra
'ehad' é a mesma que descreve a união
entre Adão e Eva (Gn 2:24). Da expressão
"façamos o homem à nossa imagem e
semelhança" (Gn 1:26), fica claro deduzir
que "Deus conversou com alguém que era
numericamente distinto e igualmente
racional" (Justino de Roma).
No Novo Testamento, nosso Senhor
ratificou a tradição monoteísta de Israel (Dt
6:4 é citado em Mc 12:29; Dt 6:13 é citado
em Mt 4:10; Mt 19:16-22; Mc 10:17-22), ao
mesmo tempo em que afirmou a Sua
divindade (Jo 17:5; Jo 8:24, 58 é uma
referência a Ex 3:14) e aceitou adoração (Jo
20:28), tanto quanto falou sobre o Espírito
Santo como um Ser pessoal, distinto, mas
igual a Si em essência (Jo 14:16; 15:26). De
modo semelhante, nos escritos de Paulo, a
unidade é afirmada ao lado da diversidade
(I Co 8:4-6; I Co 12:4-7; Ef 4:4-7).
Portanto, o Deus em que cremos é o Deus
Pai, Filho e Espírito Santo. Cuidemos, pois,
para não incorrermos na quebra do primeiro
mandamento: "Não terás outros deuses
diante de mim" (Ex 20:3). Como disse
Martinho Lutero, "a fé [o Credo Apostólico]
não passa de uma resposta, de uma
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
7
confissão dos cristãos diante do primeiro
mandamento".
4. “Creio em Deus”: Seus atributos.
“Atributos” são perfeições essenciais do Ser
divino, pertencentes igualmente às três
pessoas divinas – ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo.
Costuma-se distinguir entre “atributos
incomunicáveis” e “atributos comunicáveis”.
Os primeiros consistem daquelas
características da divindade que somente
Deus as possui e que afirmam a Sua
“absoluta exaltação e incomparabilidade”
(Herman Bavinck). Os “comunicáveis”, por
sua vez, são aqueles atributos que Deus
comunicou às suas criaturas racionais e que
podemos ver refletidos nelas em certo grau
e de forma limitada.
Os atributos incomunicáveis são
autoexistência (Ex 3:14; Jo 5:26; At 17:25),
enquanto as criaturas têm existência
derivada (At 17:24, 26-28); independência
(Rm 11:36), enquanto as criaturas são
sempre dependentes; simplicidade (Jo
5:26) e unidade (Dt 6:4, 5), enquanto as
criaturas são compostas; imutabilidade (I
Sm 15:29; Ml 3:6; Tg 1:17), enquanto as
criaturas, porque imperfeitas, são mutáveis;
e infinidade quanto tempo (eternidade; I
Tm 6:16) e quanto ao espaço
(onipresença ou imensidão; Sl 139:7-12),
enquanto as criaturas estão sujeitas às
limitações de tempo e espaço.
Os atributos comunicáveis são vontade
(Rm 9:18; 11:33-36; Dn 4:17, 25, 32, 35) e
poder soberanos; conhecimento
(onisciência) e sabedoria (Sl 139; Is 42:9;
46:9, 10; Jo 21:17; Rm 11:33); justiça (Gn
18:25; Sl 58:10, 11), santidade (Hc 1:13; Is
6), veracidade ou fidelidade (Dt 7:9; I Jo
1:9; Ap 6:10, 11 e 19:2); e amor (I Jo 4:8,
16), bondade (Mc 10:18; Sl 145:17),
misericórdia (Lc 6:35, 36) e paciência (Rm
2:4; Na 1:3; Ne 9:17).
5. "Creio em Deus, o Pai". "Pai" (gr. 'pater') é
o Nome da Primeira Pessoa da Trindade
revelado de forma clara no Novo
Testamento e que A distingue do Filho e do
Espírito Santo. “Pai” - ressalte-se -, é o
atributo pessoal da Primeira Pessoa da
Trindade.
Embora Deus seja, já no Antigo
Testamento, chamado de Pai da nação de
Israel (Ex 4:22, 23; Dt 14:1, 2; 32:5, 6; Os
11:1) e, no sentido de ser criador e
sustentador das criaturas, seja Pai de todos
os homens (At 17:26, 28), o ensino
prevalecente do Novo Testamento é que
Deus é o Pai do Senhor Jesus e o Pai dos
filhos que adotou e regenerou, os salvos em
Cristo. Sobre isso discorreremos com mais
pormenores.
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
8
6. Deus, o "Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo" (Ef 1:3). A relação paterno-filial
entre Deus o Pai e Deus o Filho é única. Na
Trindade, Deus é Pai em um sentido eterno,
primordial e exclusivo do Filho. Dito de outro
modo, Jesus Cristo é Filho de Deus o Pai
de um modo como ninguém mais o é (Jo
1:18; 20:17).
Quando em debate com os judeus, após o
episódio do tanque de Betesda, nosso
Senhor referiu-se a Deus como "Pai" de
modo a deixar claro para os judeus que Ele
afirmava ser da mesma essência da
divindade (Jo 5:17, 18). Não satisfeito,
nosso Senhor asseverou fazer as mesmas
coisas que o Pai (Jo 5:19-22), tanto quanto
ser digno da mesma honra (Jo 5:23).
Ademais, vale observar que no evangelho
de João, a palavra usada para Jesus como
"filho" (gr. 'Uios') é diversa daquela usada
para os discípulos como "filhos" (gr.
'teknon').
7. "Pai nosso, que estás nos céus" (Mt 6:9).
Os cristãos foram ensinados pelo Senhor
Jesus Cristo a chamar Deus de "Pai nosso".
Deus é nosso "Pai" em um sentido especial,
diante do qual a paternidade de Israel era
apenas uma figura, uma sombra. Trata-se
de uma posição privilegiada, que não
pertence a todos os membros da raça
humana, mas tão somente aos crentes em
Cristo.
Nesse sentido, cumpre observar que nosso
Senhor usa a expressão "vosso Pai" apenas
quando está falando com os discípulos (Mt
5:44; 6:9; Lc 11:1, 2; Jo 20:17; Mt 7:11; Lc
11:13; Lc 12:22, 30). Quando o Senhor está
tratando com as multidões, sua linguagem é
diferente, como ocorre em Mt 12:50 ("Meu
Pai"). Merece ser destacado ainda que a
expressão "meus irmãos" é usada apenas
em Sua relação com os discípulos (Jo
20:17; cf. Rm 8:29; Hb 2:11).
8. Filhos por "adoção" e por “regeneração.
Para falar sobre a nossa filiação com Deus,
o apóstolo Paulo usa o termo "adoção", um
instituto do direito romano que permitia que
um filho adotivo se tornasse herdeiro com
todos os privilégios de um filho biológico.
Para Paulo, os crentes em Cristo foram
predestinados por Deus "para ele, para a
adoção de filhos" (Ef 1:4); Cristo realizou
Sua obra redentora para que os que
estavam sob a maldição da lei, reduzidos à
condição de escravos, recebessem a
adoção de filhos (Gl 4:1-5); e, como
resultado da obra de Cristo, o Espírito Santo
foi dado para que os salvos recebessem
esta posição honrosa de filhos e pudessem
chamar "Aba, Pai!" (Gl 4:6, 7; cf. Rm 8:15).
"Essas expressões [de Gl 4:6, a aramaica
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
9
"abba" e a grega "pater"], como usadas por
Paulo, possuem uma conotação de ternura,
docilidade e proximidade de um pai com
seus filhos" (Héber Carlos de Campos).
O apóstolo João, a seu turno, demonstra a
filiação dos salvos em Cristo por outro
ângulo, ensinando que somos filhos por
"regeneração". Regeneração é a ação do
Espírito de Deus no coração do pecador
que muda a sua disposição interior,
tornando-o inclinado à santidade.
Esse aspecto da nossa filiação pontua que
tudo não se resume a uma posição legal
(adoção), a uma condição de filhos, mas,
antes, que de uma maneira muito real Deus
implantou Sua natureza em nós, que se
manifesta em termos de comportamento
semelhante ao dEle, a partir de uma
transformação no caráter (I Jo 2:29; 3:1-10;
Jo 1:12, 13).
9. "Creio em Deus, o Pai todo-poderoso". O
atributo de Deus que a antiga declaração
destaca é a “onipotência”. Por “poder de
Deus”, se entende a capacidade divina para
fazer tudo quanto deseja. Deus pode fazer
tudo que resolveu que faria (Ef 1:11) tanto
quanto aquilo que não fará (Mt 3:9; 26:53,
54), sem sofrer ou submeter-se a quaisquer
limitações, de quaisquer ordens, salvo as
que emanam da Sua própria vontade.
Assim, onipotência é o poder que Deus
possui para levar a termo tudo quanto a Sua
mui sábia e santa vontade tenha decretado
(Ap 4:11), cuja manifestação resta
estampada nas obras da criação (Jr 32:17;
Sl 150:1; Rm 1:20), da providência (Sl 36:6;
Mt 8:31) e da redenção (Mt 19:23-26; Ef
1:19-21 2:5, 6). Com efeito, o atributo da
onipotência é tão indissociável da divindade
que o vocabulo "poder" é usado como um
nome para "Deus" em Mc 14:62 (lit.
"...vereis o Filho do homem assentado à
direita do Poder...").
Quando a Bíblia afirma que Deus não pode
ser tentado (Tg 1:13), mentir (Hb 6:18), ser
infiel (II Tm 2:13), como também não pode
morrer, pecar ou negar a Sua própria
divindade, isso apenas demonstra - longe
de ser indício de fraqueza - que o poder de
Deus age em consonância com o Seu ser e
em harmonia com o Seu caráter.
10."Creio em Deus... criador do céu e da
terra". Ferreira e Myatt observam como é
"significativo que num documento tão curto,
a criação" tenha sido "considerada
claramente importante para ser incluída", e
concluem que "nosso entendimento da
doutrina da criação é importante por causa
de sua relação com outras áreas da
doutrina cristã".
De fato, diversas afirmações de Moisés, do
Senhor Jesus e dos apóstolos tomaram por
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
10
base a historicidade da narrativa da criação
(Ex 20:8-11; Mt 19:4-6; 24:37; Lc 11:51; Rm
5:12-21; I Co 15:45; I Tm 2:13, 14). Da
narrativa bíblica da criação (Gn 1:1),
portanto, depreende-se tratar-se de um
evento histórico (Sl 136), realizada por um
ato inteiramente livre (At 17:24, 25; Ef 1:11;
Ap 4:11) do Deus TriUno (I Co 8:6; Jo 1:3,
10; Hb 1:2; Gn 1:2; Sl 104:30; Is 40:12, 13),
a partir do nada, isto é, sem matéria pré-
existente ou ex nihilo (Hb 11:3) e para a
Sua própria glória (Sl 19:1).
Ademais, devemos ainda considerar,
sobretudo com base na criação ex nihilo
fortemente sugerida em Gn 1:1, que há uma
absoluta distinção entre o Criador e a
criatura. Por um lado, tudo que veio a existir
derivou sua existência de Deus (Cl 1:16) e é
por Ele sustentado (Cl 1:17; Hb 1:3); por
outro, a criação não é uma emanação do
próprio Deus, como se parte da substância
do Ser divino apenas tivesse mudado de
estado.
Pelo exposto, conclui-se que a criação nem
pode ser adorada, porque não é parte do
Ser de Deus (Rm 1:18-25), nem
desprezada, como se fosse má em si
mesma, já que derivou de Deus (Gn 1:4, 10,
12, 18, 21, 25, 30, 31), tampouco destruída,
porque foi-nos dada para que seus recursos
fossem por nós conhecidos, controlados e
usados, não esgotados e destruídos (Gn
1:28; 2:15, 19, 20).
Finalmente, lembramos que o plano do
Criador inclui a redenção da criação, que
ora sujeita-se ao cativeiro do pecado (Rm
8:20, 21), para que participe da futura glória
dos redimidos (Ap 21:5).
11.O relacionamento entre Deus e a criação:
a imanência e a transcendência. O Deus
que Se revela nas Escrituras é tanto
imanente quanto transcendente, quando
visto em Sua relação com aquilo que criou.
Explique-se. Chama-se "imanência" o fato
de que Deus se envolve, faz-se presente e
intervém nos assuntos da Sua criação (Jr
23:24), sobretudo naqueles relacionados
com os salvos em Cristo (Ex 3:7, 8; Mt 1:23;
Hb 2:14). "Transcendência", a seu turno, é a
noção de Deus como estando totalmente
separado, independente, sobre e para além
da Sua criação (Jó 11:7; Is 55:8, 9).
É necessário, pois, mantermos em mente,
lado a lado, a transcendência e a imanência
de Deus, "que creiamos em um Deus
separado dos homens, santo, distinto dos
pecadores, mas também em um Deus que
se revela e se envolve com o universo por
ele criado" (Héber Carlos de Campos).
São inúmeras as passagens das Escrituras
que destacam a imanência e a
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
11
transcendência de Deus lado a lado (Is 6:1-
5; Sl 113:5-7; Is 57:15; Mt 6:9; Jo 8:23) .
Destarte, Deus é "Pai" e "todo-poderoso"; é
pessoal e infinito; é o Deus conosco e o
Altíssimo; está presente na criação, embora
seja totalmente distinto dela; é imanente e
transcendente. Negar a transcendência de
Deus é uma forma odiosa de humanizá-lO,
de rebaixá-lO à simples condição de
homem. Negar a Sua imanência é um modo
igualmente horrendo de negar o Seu
envolvimento amoroso com os homens que
adotou por filhos, Sua personalidade e Sua
providência.
12.A Providência. Após os seis dias da
criação, Deus descansou (Gn 2:2; Ex 20:11;
31:17). O descanso de Deus indica que Ele
parou de produzir novos tipos de coisas (Ec
1:9, 10), a partir do nada, e Se alegrou na
obra da criação. Entretanto, depois de haver
criado, Deus não parou de trabalhar (Jo
5:17), mas iniciou a obra da “providência”.
“Providência” é o ato de Deus pelo qual Ele,
em todo o instante, preserva e governa
todas as coisas, concorrendo com as
causas secundárias, de modo a conduzir
toda a criação ao fim por Ele desejado
desde a eternidade. Do conceito, exsurge
que a providência abrange três aspectos,
quais sejam: a preservação, a
concorrência e o governo.
Por “preservação”, entende-se que nada
existe à parte de Deus (At 17:28; Cl 1:17).
Antes, tudo existe da parte de Deus, por
Deus e para Deus. Em nenhum sentido,
Deus nunca é apenas um observador
passivo. “Uma criatura é, por definição, de
si mesma, um ser completamente
dependente: aquilo que não existe de si não
pode existir por si” (Herman Bavinck).
Portanto, nada fica fora da providência ou
dela prescinde (Mt 10:29, 30; 6:26, 28; Sl
147:9).
“Concorrência”, a seu turno, é a realidade
pela qual Deus sustenta as criaturas da
criação à consumação, ao objetivo final,
trabalhando com elas como causas
secundárias. Estas causas secundárias
nem agem completamente livres ou
independentemente nem são meros
instrumentos ou marionetes. Elas são
causas verdadeiras, mas que agem sob a
dependência do Deus Soberano (Fp 2:13).
A título de exemplo, pode-se afirmar que
Deus não foi o autor imediato da morte de
Cristo, que é certo que as causas
secundárias agiram de fato, mas, por outro
lado, apenas cumpriram o decreto de Deus
(At 2:23; 4:27, 28).
“Governo”, finalmente, refere-se à
providência examinada com vistas ao
objetivo final. Deus é o Rei em sentido
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
12
pleno da palavra (I Tm 6:15; Ap 19:16). Seu
reino abrange todo o universo (Zc 14:9), e
inclui todas as coisas e todos os seres,
bons e maus. Quanto ao pecado, a Bíblia
ensina que Deus odeia o pecado (Hb 1:13;
Tg 1:13), mas também que o pecado está
sujeito ao Seu governo. O testemunho das
Escrituras é que Deus entrega pessoas aos
seus pecados (Sl 81:12; Rm 1:24, 26, 28; At
14:16), que Deus endurece e cega certas
pessoas (Ex 4:21; 7:3; 9:12; 10:20, 27;
11:10; 14:4; Dt 2:30; Js 11:19), que Deus
usa espíritos maus (I Sm 16:14; I Rs 22:23;
II Cr 18:22; II Sm 24:1; I Cr 21:1; Jó 1, 2) e
muda o coração de certas pessoas para
que se tornem desobedientes (I Sm 2:25; I
Rs 12:15; II Cr 25:20; II Sm 16:10).
A doutrina da providência é consequência
necessária do fato que Deus é soberano,
por isso mesmo é fonte incomensurável de
segurança para o crente. Como anotaram
ferreira e Myatt, ela “nos leva a confiar que
criatura alguma pode nos separar do amor
de Deus. Além de ser soberano, Deus
também é amor. E as coisas que Ele faz
são motivadas pelo amor que ele tem por
seu povo”.
13.Conclusão ao Primeiro Antigo. Do
exposto, o primeiro artigo do antigo
"símbolo de fé" exorta-nos a crer no Deus
que Se revela nas Escrituras, o Deus Trino,
com destaque ao "Pai todo-poderoso,
criador do céu e da terra".
Seu nome - "Pai" - nos remete à filiação
eterna, essencial e primordial de Jesus
Cristo e ao relacionamento especial que Ele
tem com os filhos que adotou e regenerou.
O atributo da onipotência nos relembra Seu
governo soberano sobre todas as coisas
que criou com o Seu mui sábio, puro e livre
conselho. Crês tu em Deus, o Pai todo-
poderoso, criador do céu e da terra?
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
13
3 O segundo artigo: o Deus Redentor
E em Jesus Cristo, seu único filho,
nosso Senhor, que foi concebido pelo
poder do Espírito Santo, nasceu da
virgem Maria, padeceu sob Pôncio
Pilatos, foi crucificado, morto e
sepultado; desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos
céus; está assentado à direita de Deus
Pai todo-poderoso, donde há de vir a
julgar os vivos e os mortos.
14.Introdução ao Segundo Artigo. O
segundo artigo do Credo dedica-se ao Deus
Salvador. Por certo, duas realidades sobre
o homem estão pressupostas, sem as quais
não teríamos a razão subjacente desta
cláusula em apreço, quais sejam: primeiro,
que o homem foi criado por Deus, embora
esse fato não tenha sido mencionado
especificamente no artigo anterior. O motivo
de tal omissão está no fato de que Deus
tem a primazia, e não o homem. Segundo,
que o homem, tendo sido criado perfeito em
seu estado original (Gn 1:31; Ec 7:29),
desobedeceu ao mandado do Criador (Gn
2:16, 17; 3:6) e decaiu ao estado de
completa ruína e afastamento de Deus,
tendo o seu pecado e sua consequência, a
morte, passado a todos os homens (Rm
5:12). Eis a razão pela qual as Escrituras
descrevem o homem em seu tríplice estado
de morte, escravidão e condenação (Ef 2:1-
3; Jo 8:34).
A condição pecaminosa da humanidade
costuma ser expressa nas Escrituras por
meio de três palavras: transgressão,
iniquidade e pecado (Sl 51:1, 2).
"Transgressão" (heb. "pesha"; gr.
"paraptoma") denota o estado de rebelião e
de insubordinação em que o homem se
encontra em relação a Deus (ver a palavra
em I Rs 12:19). "Iniquidade" (heb. "awon";
gr. "adikia") traduz a ideia de perversidade e
corrupção interiores. "Pecado" (heb. "hatta";
gr. "hamartia") significa errar o alvo, perder
o caminho, um lapso que encerra o melhor
do homem na mais completa insuficiência
em agradar o Criador (ver a palavra em Jz
20:16).
Reunidas, estas palavras comunicam que
tudo o que o homem faz e tudo o que ele é,
e isto no que pode haver de melhor, o torna
objeto da ira e do desagrado de Deus. O
pecado corrompeu todas as faculdades (Gn
6:5; 8:21) de todos os homens (Rm 3:9-18,
23), tornando todos os homens incapazes
de fazer algum bem (Jr 13:23; Jo 15:4, 5),
de querer algum bem (Rm 8:6-8; Jo 3:3;
5:40; 6:44, 65) e mesmo de entender algum
bem (I Co 1:18-21; 2:6-8, 14; I Jo 4:5, 6).
Pois bem, de maneira breve, eis a condição
de todos os homens, que os faz
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
14
absolutamente necessitados do Deus
Redentor (Mt 1:21).
15."E em Jesus Cristo". A nossa palavra
portuguesa "Jesus" é uma transliteração da
palavra latina, que deriva-se da palavra
grega "Iesous", uma forma helenizada do
nome hebraico "Ieshua" ("Yahweh salvará"),
que, por sua vez, é uma forma abreviada do
hebraico "Iehoshua" ("Yahweh é salvação").
Tanto José (Mt 1:21) quanto Maria (Lc 1:31)
recebem ordem específica quanto ao nome
pessoal do Salvador.
Ao nome pessoal, acrescenta-se o título
"Cristo", a forma grega do hebraico
"Messias", palavras que significam
"Ungido". O título "Cristo" ("Ungido") O
distingue como Aquele que foi ungido
(separado, habilitado) pelo Espírito Santo
(Mt 3:16) para o exercício dos ofícios de
profeta (Dt 18:15; At 3:22; 7:37), sacerdote
(Sl 110:4; Hb 7:15-19, 26-28; 10:12, 14) e
rei (Sl 2:6; Mt 21:5; Lc 1:33).
A princípio, o nome pessoal "Jesus" estava
relacionado com o título "Cristo" em termos
de uma confissão basilar e inegociável da
Igreja (Mt 16:16; Jo 20:30, 31; At 5:42; I Jo
2:22), para, em seguida, tornarem-se, o
nome e o título, um nome confessional, "um
só e glorioso nome dado ao nosso
Salvador" (W. Hendriksen).
Jesus Cristo é o tema central das Escrituras
(Jo 5:39; Lc 24:27, 44). Todo o Antigo
Testamento aponta para Cristo em
perspectiva, em promessa (Rm 10:4); e
todo o Novo Testamento remonta à Cristo, o
cumprimento das promessas (II Co 1:20).
16.Outros títulos atribuídos ao Salvador. Os
autores do Novo Testamento atribuíram
ainda outros títulos divinos a Jesus Cristo.
Ele foi chamado "Deus" (Mt 1:23; Jo 1:1;
Rm 9:5; Tt 2:13) e "Senhor" (Jo 20:28),
"Filho de Deus" (Jo 1:18; 3:16, 18) e "Filho
do Homem" (Mt 24:30, 31).
O título “Senhor” (gr. "Kyrios") é altamente
significativo, visto ser ele utilizado em
muitas ocorrências no Novo Testamento
como uma tradução do nome pessoal de
Deus tal qual revelado a Moisés, o
tetragrama YHWH (Yahweh), nas quais é
aplicado a Jesus Cristo (Jl 2:31, 32 é citado
em At 2:20, 21 e em Rm 10:13; Is 8:13 é
citado em I Pe 3:15).
O título "Filho de Deus" destaca a natureza
divina de Jesus Cristo e o Seu
relacionamento ímpar com o Pai (Jo 1:18;
20:17). Enquanto o título "Filho do homem"
é o que Jesus atribuiu a Si mesmo. Nunca
Ele é chamado "Filho do homem" pelos
discípulos. Trata-se de uma alusão à
própria divindade, segundo a percepção
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
15
judaica dos dias do Senhor (Jo 9:35-38;
12:23, 34; cf. Dn 7:13, 14).
Acrescente-se aquele grande título "Verbo"
(gr. "Logos"), encontrado exclusivamente na
literatura joanina (Jo 1:1, 14; I Jo 1:1; Ap
19:13), que aponta para a divindade e para
a pré-existência de Jesus Cristo. Esse título
identifica a Jesus Cristo como a Pessoa da
Divindade que A comunica, que A torna
conhecida. A propósito de Jo 1:1 (“No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus”), George Eldon
Ladd anotou que "o Verbo era a divindade,
mas não era completamente igual à
divindade. O artigo definido somente é
utilizado com o vocábulo logos [Verbo]. Se
João tivesse utilizado o artigo definido
também com o vocábulo theos [Deus], teria
dito que tudo que Deus é, o logos também
é: uma identidade exclusiva. Da forma como
está, ele está declarando que tudo o que o
Verbo é, Deus é; porém ele implica em que
Deus seja mais do que o Verbo".
17."E (Creio) em Jesus Cristo, seu único
Filho". Já tecemos alguns comentários
sobre a relação paterno-filial entre Deus o
Pai e Deus o Filho. Nesse passo,
desejamos ressaltar o fato de que esta
relação é eterna. É dizer, Deus o Pai é o
eternamente Pai de Jesus Cristo e Deus o
Filho é o eternamente gerado do Pai. Não
houve um momento em que o Pai não tenha
estado com o Filho, enquanto tal. Afirmar o
inverso seria dizer que o Pai nem sempre
foi Pai.
Esta afirmação quanto à filiação eterna do
Senhor Jesus importa em duas verdades
indissociáveis: primeiro, que há uma
subordinação funcional (ou "econômica") na
"Trindade Econômica". Por "Trindade
Econômica" entende-se a maneira como o
Pai, o Filho e o Espírito manifestam-Se em
Suas operações extra trinitárias, para com o
mundo criado, nas obras da criação, da
providência e da redenção (opera ad extra).
Nesse sentido (econômico, administrativo,
funcional), o Filho está subordinado ao Pai
(Jo 14:28), é enviado pelo Pai (Jo 7:29),
obedece a vontade do Pai (Jo 4:34; 14:31),
fala as palavras do Pai (Jo 14:24), recebe
herança do Pai (Jo 16:15), ora ao Pai (Jo
14:16) e realiza todas as coisas para a
glória do Pai (Jo 17:1; 12:28), com a
autoridade que recebeu do Pai (Jo 17:2) e
que, por fim, devolverá ao Pai (I Co 15:28).
A segunda verdade decorrente da filiação
eterna é a igualdade essencial que existe
entre o Pai e o Filho na "Trindade
Ontológica", termo que designa o Ser
essencial da Trindade, o que Deus é em
essência e a maneira relacional intra
trinitária. Nesse aspecto, o termo
"Unigênito" (Jo 1:14, 18; 3:16, 18; I Jo 4:9)
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
16
sugere igualdade de essência entre o Pai e
o Filho e a geração eterna de Jesus Cristo.
Semelhantemente, a expressão "seu próprio
Filho" (Rm 8:3, 32) implica numa filiação
ímpar, peculiar, que ninguém mais possui,
porque o Filho não deriva de um ato criador
nem de uma adoção no tempo. Se o Filho
tivesse sido "criado", Ele possuiria
necessariamente uma natureza diversa da
do Pai. Daí afirmarem as Escrituras que Ele
é o único gerado (o Unigênito) do Pai, termo
que remete à ideia de consubstancialidade,
de identidade de essência e, portanto, da
divindade do Senhor Jesus.
Do exposto, conclui-se que a subordinação
funcional (própria da "Trindade Econômica")
não implica em subordinação de essência
(ligada à "Trindade Ontológica"), tanto que o
próprio Senhor afirmou que "eu e o Pai
somos um" (Jo 10:30) e que "quem vê a
mim, vê o Pai" (Jo 14:9). Com efeito, Jesus
Cristo só é o Verbo - a Pessoa da Divindade
que comunica o Pai - por ser o Filho.
Somente o "Unigênito", Aquele único Ente
que é da essência do Pai, "que está no seio
do Pai", poderia revelar o Pai (Jo 1:18). No
dizer de F. F. Bruce, "somente alguém que
conhece completamente o Pai pode torná-lo
totalmente conhecido" (Mt 11:27; Lc 10:22).
18."E (Creio) em Jesus Cristo..., nosso
Senhor". Aqui, nós temos o núcleo do
credo: "Jesus Cristo, nosso Senhor". A
confissão de Jesus como Senhor é o fruto
perene da fé (Rm 10:9, 10). Como disse
Calvino, "ninguém pode crer com o coração
sem confessar com a boca". Esta confissão
("Jesus é Senhor"), segundo o apóstolo
Paulo, ninguém pode fazê-la, senão "no
Espírito Santo" (I Co 12:3). É somente pelas
operações do Espírito que uma pessoa
pode genuinamente confessar a Cristo
como Senhor, sem que tal confissão não
seja mera palavra vazia ou zombaria (Mt
7:21-23; Lc 6:46), mas fruto de uma fé
genuína, a ponto de ser mantida mesmo
diante de atrozes perseguições (Mt 10:16-
20, 32, 33; I Pe 3:13-16).
Por ora, somente os salvos são capazes de
reconhecer e confessar que Cristo governa
todas as coisas para o interesse do Seu
povo. Mas haverá um dia, quando do Seu
regresso em glória, que todo o joelho se
dobrará perante Jesus Cristo e toda língua
confessará que Ele é Senhor (Fp 2:10, 11).
Todavia, devemos observar com
Hendriksen que estas confissões terão
naturezas distintas: "Os anjos e os seres
humanos redimidos farão isso com intenso
regozijo; os condenados farão isso com
profunda tristeza e profundo remorso (não
com genuíno arrependimento)... Mas tão
intensa será sua glória que todos se
sentirão impelidos a render-lhe
homenagem".
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
17
19."... Jesus Cristo... foi concebido...
nasceu... padeceu... foi crucificado,
morto e sepultado... ressuscitou... está
assentado à direita de Deus... de onde
virá...": a carreira do Salvador. O Credo
descreve a carreira do Salvador com
inteireza e concisão impressionantes.
A posse da plena divindade de Jesus Cristo
"já bastaria para mostrar-nos que o Filho de
Deus era glorioso e feliz eternamente; mas,
podemos depreender a mesma verdade
pela linguagem das Escrituras" (John L.
Dagg).
Com efeito, o próprio Senhor Jesus
mencionou a glória que teve junto com o
Pai, no "princípio", glória que em breve seria
retomada (Jo 17:5). O apóstolo Paulo
refere-se à glória eterna e pré-encarnada de
Jesus Cristo com as expressões "sendo
rico, se fez pobre" (II Co 8:9) e "subsistindo
na forma de Deus... a si mesmo se
esvaziou" (Fp 2:6a, 7a). Nesse mesmo
sentido, a Escritura diz que o "Deus
Unigênito, que está no seio do Pai, é quem
o revelou" (Jo 1:18) e que a Sabedoria "...
estava com ele, dia após dia" e que "era as
suas delícias, folgando perante ele em todo
o tempo" (Pv 8:30). Com efeito, Ele é o
"Senhor da glória" (I Co 2:8; Tg 2:1).
Entretanto, nosso Senhor ingressou em sua
fase de humilhação, assumindo a natureza
humana. O texto paulino de Fp 2:5-11 é de
leitura obrigatória nesse ponto de nossas
notas. Paulo diz que Cristo, "subsistindo em
forma de Deus, não julgou como usurpação
o ser igual a Deus, antes, a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de servo" (Fp
2:6, 7a). Hendriksen observa que a
mudança de vocábulo, nessa frase, de
"morfê" (gr. "forma" de Deus) para "schema"
(gr. "forma" de servo), pode ser significativa.
"Morfê" parece indicar aquilo que é
"anterior, essencial ou permanente na
natureza de uma pessoa ou coisa", e, no
caso, implica em que Cristo é, sempre foi e
continuará sendo verdadeiro Deus.
"Schema" ("condição"), por outro lado,
indica aquilo que é "externo, acidental ou
aparente" e, no contexto, talvez aponte ao
fato que a "condição" humana de nosso
Senhor é que foi o elemento "acidental",
ocorrido na história.
De todo modo, Paulo afirma que Cristo não
se apegou à Sua "forma" de Deus como
motivo para não assumir a "forma" de servo.
Cristo assumiu a verdadeira humanidade
(Fp 2:7b, 8a) e, como homem de dores (Is
53:3), viveu uma vida obediente ao Pai,
cheia de angústias e fadigas, até que
chegou ao ponto mais baixo da sua
obediente humilhação: a morte de cruz (Fp
2:8b).
Ao terceiro dia, nosso Senhor adentrou à
fase de Sua exaltação, ressuscitando dentre
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
18
os mortos, retomando Seu governo sobre o
cosmo e ascendendo aos céus, investido no
domínio absoluto sobre toda a criação.
"Pelo que Deus o exaltou sobremaneira" (Fp
2:9a). Socorremo-nos outra vez de
Hendriksen, quando observa que o verbo
"exaltar (sobremaneira)" ocorre somente
nesse texto e significa "superexaltar",
"exaltar ao máximo", para afirmar que "Sua
superexaltação significa que ele [Cristo]
recebeu o lugar de honra e majestade, e
consequentemente está assentado 'à mão
direita do trono de Deus'... Ressurreição,
ascensão, coroação ('assentou-se' à mão
direita de Deus), tudo está implícito e
incluído na declaração: 'Pelo que também
Deus o exaltou ao máximo'".
Entretanto, toda a fase da exaltação de
Cristo não terá sido concluída até que Seu
senhorio seja universalmente reconhecido,
o que se dará somente em Sua vinda em
glória (Fp 2:10, 11).
20."Concebido pelo Espírito Santo, nasceu
da Virgem Maria": a necessidade da
encarnação. A encarnação, à luz do que
dito na nota anterior, é Deus o Filho
deixando a glória que gozava junto com o
Pai (Jo 17:5) e entrando na história
humana, mas o fazendo não como uma
espécie de "teofania" (uma aparição pré-
encarnada de Deus, em forma humana
transitória, como se dá em Gn 18:1, 2, 10,
13, 17, 20, 22; 22:11, 15-17; Jz 6:11, 14,
16), mas, ao contrário, assumindo a
verdadeira humanidade.
A encarnação do Verbo surgiu de uma fonte
dupla: por um lado, da natureza hedionda
do pecado. Como afirmou Irineu, "se a
carne não necessitasse ser salva, o Verbo
de Deus de modo algum teria sido feito
carne". Nesse mesmo sentido, Agostinho:
"Não há nenhuma causa para a vinda de
Cristo, o Senhor, exceto para salvar
pecadores".
Por outro lado, a encarnação decorre do
decreto de Deus de salvar pecadores. É
certo que "Deus não estava debaixo da
obrigação de salvar pecadores, mas como,
pela sua bondade, ele resolveu salvá-los,
ficou debaixo da sua própria determinação
de proporcionar o meio para que isso
acontecesse. Esse meio foi a encarnação
do Verbo" (Héber Carlos de Campos).
Cristo, o Salvador, deveria vir, segundo o
decreto de Deus. Entretanto, a validade do
que Cristo fez dependeria de Sua
encarnação. O Verbo deveria assumir a
verdadeira humanidade. Valemo-nos outra
vez de Héber Carlos de Campos: "A
redenção somente foi possível porque
houve o pagamento de substituição feito por
um Redentor que é igual, em natureza, aos
substituídos". Noutro dizer, o Salvador
deveria ser um membro da parte devedora,
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
19
mas inculpável. Por isso, Ele se fez vero
homem para ser nosso Substituto e um
Sacerdote adequado tanto no sacrifício de
Si (I Tm 2:5; Hb 2:17) como na intercessão
que faria por aqueles que substituiu (I Jo
2:1; Rm 8:34; Jo 17).
Eis a razão pela qual o teste da confissão
na encarnação de Cristo deveria ser
imposto a quem alegasse estar falando em
nome de Deus (I Jo 4:1-3; I Tm 2:5).
21."Concebido pelo Espírito Santo, nasceu
da Virgem Maria": A concepção e o
nascimento virginais. O profeta Isaías (Is
7:14) predisse o nascimento virginal do
Redentor. No contexto imediato, o texto
refere-se a um sinal que Deus daria a Acaz,
rei de Judá, no sentido de que Israel e Síria
não subjugariam sua nação. O profeta
anuncia que uma jovem moça (heb.
"almah") daria à luz um filho e lhe chamaria
"Imanuel". A septuaginta (tradução grega do
Antigo Testamento) traduziu o vocábulo
hebraico "almah" para o grego "parthenos"
(virgem) e Mateus aplicou a passagem ao
tipo de concepção do Messias.
O Novo Testamento é absolutamente claro
quanto à concepção virginal do Salvador (Lc
1:35; Mt 1:18). A reação de Maria ao
anúncio do anjo Gabriel indica que ela
entendia a impossibilidade natural de uma
virgem conceber (Lc 1:34, 35). José, por
sua vez, ante a gravidez inesperada de sua
esposa-noiva, decidiu deixá-la
secretamente (Mt 1:19), e só abandonou o
plano por haver sido persuadido pela
revelação angélica por meio de sonho (Mt
1:20-24).
Sem sombra de dúvida, a impecabilidade do
Salvador decorre da atuação do Espírito
Santo em Sua concepção. Lado outro, não
admitimos que Sua natureza humana não
contaminada pelo pecado tenha decorrido,
necessariamente, da não participação de
José no processo, sob pena de admitirmos
que a transmissão do pecado dá-se tão
somente pelo macho, o que seria uma
conclusão deveras equivocada (Sl 51:5).
Ademais, destacamos que a concepção e o
nascimento virginais destacam a qualidade,
a excelência, a sublimidade da Pessoa de
Jesus Cristo (Lc 1:35), indica que o "ente
santo" que a virgem concebeu é o Filho de
Deus de uma maneira absolutamente
diferenciada e que a salvação é uma obra
inteiramente divina, que ocorre sem
qualquer participação humana, mas
unicamente pela graça de Deus.
Finalmente, devemos ainda observar que
após Maria ter dado à luz o Filho de Deus
segundo a carne, ela viveu com José uma
vida conjugal normal. O evangelista Mateus
escreve: “Despertado José do sono, fez
como lhe ordenara o anjo do Senhor e
recebeu sua mulher. Contudo, não a
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
20
conheceu, enquanto ela não deu à luz um
filho, a quem pôs o nome de Jesus” (Mt
1:24, 25, com grifo nosso).
O texto deixa claro que o casal se absteve
de relações sexuais durante a gravidez e
que tal abstinência perdurou até que Maria
desse à luz a Jesus Cristo. O Novo
Testamento é claro em afirmar que Jesus
teve irmãos e irmãs, como se pode concluir
da simples leitura de Mt 12:46, 47; Mc 3:31,
32; 6:3; Lc 8:19, 20; Jo 2:12; 7:3, 5, 10; At
1:14, além de falar de Jesus como o
“Unigênito” de Deus (Jo 1:18), mas, por
outro lado, como o “primogênito” de Maria
(Lc 2:7).
22.“Nasceu da Virgem Maria”: a "kenosis" e
a dupla natureza do Salvador. Não é
possível falar em encarnação sem
considerar alguma teoria sobre a "kenosis"
(ou "esvaziamento") do Salvador, "pois ele,
subsistindo em forma de Deus... a se
mesmo se esvaziou (gr. "ekenosen")" (Fp
2:6a, 7a).
Considerando negativamente, "kenosis" não
significa que na encarnação Jesus Cristo
deixou de ser Deus, abandonando a Sua
"forma de Deus". "Ele assumiu a forma de
servo enquanto que, ao mesmo tempo,
conservava a forma de Deus! E isso é
precisamente o que torna nossa salvação
possível e exequível" (Hendriksen).
Com efeito, se a validade da nossa
salvação depende da plena humanidade do
Salvador, como antes percebemos, a
eficácia dela depende da Sua plena
divindade. Quem, senão Deus, poderia
satisfazer a justiça de Deus, vindicar
plenamente as exigências do Deus Santo,
esgotar a ira infinita de Deus, que
demandaria nada menos que a punição
eterna de pecadores, e conquistar a vida
eterna para o povo de Deus, fazendo tudo
isto em um único ato sacrificial? Jesus
Cristo só pode, em um único sacrifício,
conquistar tão grande salvação, porque a
Sua vida tem valor infinito.
O sacrifício de Sua pessoa santíssima e
digníssima pode sobejamente substituir
uma eternidade de punição de tantas
pessoas quantas Deus quisesse salvar (Hb
7:23-27; 9:11-14, 23-26; 10:3-14). "Mesmo
em sua morte, ele teve que ser o poderoso
Deus, a fim de, por sua morte, conquistar a
morte" (Lenski, citado por Hendriksen).
"Kenosis" também não significa que Jesus
Cristo tenha perdido quaisquer dos atributos
divinos. A encarnação concedeu à Pessoa
do Salvador duas naturezas, sendo que
ambas mantiveram as suas respectivas
qualidades. Assim, Jesus Cristo possuía
todos os atributos da divindade e todos os
atributos da humanidade, sendo que ambas
as naturezas permaneceram distintas uma
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
21
da outra e na mesma Pessoa de Jesus
Cristo.
Em seu famoso Tomo a Flaviano, escrito
em 13 de junho de 449, Leão destacou:
“Cada natureza [a de Deus e a de servo]
realiza suas próprias funções em comunhão
com a outra. O Verbo faz o que é próprio ao
Verbo; a carne faz o que é próprio à carne;
um fulgura com milagres; o outro submete-
se às injúrias. Assim como o Verbo não
deixa de morar na glória do Pai, assim a
carne não deixa de pertenceu ao gênero
humano... Portanto, não cabe a ambas as
naturezas dizerem: ‘O Pai é maior do que
eu’ [Jo 14:28] ou ‘Eu e o Pai somos um’ [Jo
10:30]” (in Documentos da Igreja Cristã,
Bettenson).
Na lição de Héber Carlos de Campos, "a
natureza humana de Cristo sempre
permaneceu humana e a divina sempre
permaneceu divina. Nunca uma natureza foi
capaz de agir segundo a outra. Os
predicados do corpo e da alma
permaneceram próprios da natureza
humana, assim como os predicados da
onipresença, onisciência e onipotência
permaneceram próprios da natureza divina".
É dizer, a encarnação fez de Jesus Cristo
uma Pessoa absolutamente singular, e de
uma vez por todas. Ele é perfeito Deus (Cl
1:15-17; Jo 8:58) e perfeito homem (Jo
19:28; 11:35; Mt 26:37, 38), possui a
substância divina e a substância humana.
Ele é o Filho Unigênito de Deus e o Filho
primogênito de Maria (Is 7:14; 9:6; Hb 2:14;
Jo 1:4, 14; Cl 2:9; At 3:15; 20:28; I Co 2:8).
Conforme a definição de Calcedônia (em
451), Cristo é “perfeito quanto à divindade e
perfeito quanto à humanidade,
verdadeiramente Deus e verdadeiramente
homem, constando de alma racional e de
corpo; consubstancial ao Pai, segundo a
divindade, e consubstancial a nós, segundo
a humanidade...”.
Positivamente, "Kenosis" implica em que o
Redentor consentiu em não revelar-Se em
todo o fulgor da Sua glória divina, em não
exibir ininterrupta e inequivocamente os
atributos que são próprios da divindade.
Sobre isso, Héber Carlos de Campos
escreveu: "a sua glória foi vista, mas
apenas de maneira muito discreta. Em
todos os seus sinais houve algum tipo de
manifestação da glória divina, mas de modo
que o Verbo encarnado ainda se
apresentava 'esvaziado', sem a plenitude da
sua glória" (Jo 1:14).
23."Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado".
Chegamos ao âmago de toda a mensagem
bíblica. Aqui está o cerne do evangelho, o
centro de toda a Escritura. A cruz é o
propósito primordial da encarnação. Com
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
22
efeito, o Senhor Jesus nasceu para morrer
(Jo 12:27).
A menção do antigo Credo a Pôncio Pilatos
pretende localizar os eventos salvadores na
história. Nosso Senhor nasceu, viveu,
morreu e ressuscitou em nossa história.
Sua morte decorre, por um lado, do caráter
santo e justo de Deus, que não pode
simplesmente ignorar a existência do
pecado (Gn 18:25; Ex 34:7; Na 1:3), e, por
outro, da condição pecaminosa em que se
encontra a raça humana. O pecado, porque
Deus é santo e justo, precisava ser punido.
Entretanto, por ser amoroso, Deus proveu
um Substituto adequado, cuja vida mais que
valiosíssima suportaria toda a ira divina em
Sua morte, para que Deus, perdoando-nos,
não negasse Sua santidade e Sua justiça
(Rm 3:21-26; 4:5).
O quadro completo da relação entre o
homem e Deus é que Este está sobre
aquele tanto em ira como em amor, e a cruz
é tanto a evidência do amor de Deus (Jo
3:16; Rm 5:8) quanto da Sua justiça (Mt
27:45, 46). A cruz é a punição aplicada por
Deus (isso é justiça!) e recebida por Deus
(isso é amor!). "Na cruz, a misericórdia e a
ira se encontram. A santidade e a paz se
beijam. A cruz é o clímax da história da
redenção" (D. A. Carson).
No Antigo Testamento, a morte substitutiva
e penal do Salvador foi anunciada logo após
a entrada do pecado no mundo, em Gn
3:15. Esse texto assegura a vitória do
descendente da mulher exatamente no
momento em que é ferido no calcanhar. É
quando fere o descendente da mulher que a
serpente é mortalmente ferida, um
vislumbre maravilhoso de que Cristo
venceria em Sua morte.
A ideia de sacrifícios para remover o
pecado foi logo ensinada (Gn 3:21; 4:4),
princípio que permaneceu entre os
patriarcas (Gn 8:20; 12:7, 8; 13:4; 22) e foi
corroborado na páscoa (Ex 12) e nas
prescrições levíticas (Lv 1-6, 16).
O princípio envolvido nos sacrifícios antigo-
testamentários é sumariado por Matthew
Henry: "O pecador merecia morrer;
portanto, o sacrifício tem de morrer. Ora,
sendo o sangue a vida [Lv 17:11], de tal
maneira que, ordinariamente, animais eram
mortos para uso dos homens, esvaindo-se
todo o seu sangue, Deus designou a
aspersão ou derramamento do sangue do
sacrifício no altar, para significar que a vida
do sacrifício fora oferecida a Deus em lugar
da vida do pecador, como um resgate ou
um preço substituto para isto" (citado por
Ferreira e Myatt).
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
23
No Novo Testamento, a morte do Senhor
Jesus é o cumprimento de todos aqueles
sacrifícios. Cristo é o "nosso Cordeiro
pascal" (I Co 5:7), o "Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo" (Jo 1:29, 36).
Na morte de Cristo, Deus expiou (removeu,
anulou, cancelou) o pecado e redimiu
(libertou mediante preço de redenção) o
homem do cativeiro da culpa do pecado
(Rm 3:24), com o propósito de mudar Sua
própria atitude em relação ao homem, isto
é, para tornar-Se propício (favorável) ao
homem (Rm 3:24, 25) e reconciliá-lo
Consigo (Rm 5:11; II Co 5:19). Portanto, o
modo como Deus tornou-Se propício ao
homem (fez propiciação ou afastou a Sua
própria ira) e o reconciliou Consigo (fez a
reconciliação) foi através do sacrifício
expiatório substitutivo efetuado por Cristo,
cujo sangue (i.é., a vida sacrificada) foi
também o preço do resgate (I Pe 1:19; Ap
5:9).
Portanto, a morte de Cristo é substitutiva e
penal. "O centro da obra de Cristo consiste
nele ter suportado a nosso favor e em
nosso lugar [caráter substitutivo] o castigo
que nos era devido por causa de nosso
pecado [caráter penal], trazendo-nos perdão
e reconciliação com Deus" (Bruce Milne,
citado por Ferreira e Myatt).
24."Desceu ao inferno". Sobre esta cláusula
do Credo, duas observações devem ser
feitas de plano: primeiro, que em nenhum
lugar das Escrituras é dito que Cristo
"desceu ao hades (inferno)". Paulo diz que
Cristo "havia descido até as regiões
inferiores da terra" (Ef 4:9), expressão que
pode significar simplesmente que Cristo se
encarnou, entendendo-se que as "regiões
inferiores" correspondem a "terra". O fato é
que não há qualquer referência ao hades no
texto.
Em I Pe 3:18-20, Pedro comunica que o
Espírito de Cristo, que inspirava os profetas
(I Pe 1:11), pregou à geração pré-diluviana,
que o apóstolo chamou de "espíritos em
prisão", através de Noé, "pregador da
justiça" (II Pe 2:5). Semelhantemente, não
há qualquer menção a uma descida ao
inferno na mensagem petrina.
A segunda observação é que a expressão
latina "descendit ad inferna" (desceu aos
infernos/hades) ocorreu nas versões mais
antigas do Credo como uma forma de
explicar a morte e o sepultamento do
Senhor. Somente por volta do século VII, a
cláusula em apreço apareceu como
acréscimo a "crucificado, morto e
sepultado".
Sobre esta cláusula, consideraremos o que
não pode ser o ensino das Escrituras e,
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
24
finalmente, destacaremos o modo aceitável
de sua compreensão.
Primeiro: "descendit ad inferna" não pode
significar que entre a morte e a ressurreição
Cristo tenha estado no inferno. As
Escrituras dizem expressamente onde
Cristo esteve nesse período, afirmando que
esteve com o Pai (Lc 23:46), no paraíso (Lc
23:43), lugar de gozo e bem-aventurança
correspondente ao "terceiro céu" (II Co
12:2-4), onde Deus habita de modo
especial.
Segundo: não pode significar que Cristo
ainda tinha qualquer outra missão a realizar
no inferno. A uma, Sua morte foi suficiente
para expiar o pecado e, por isso, Ele não
precisava completar a obra da redenção no
inferno (Jo 19:30). A duas, Sua vitória foi
proclamada em Sua morte e ressurreição,
quando venceu o último inimigo, a morte (I
Co 15:26), não havendo qualquer
necessidade de uma proclamação dela no
inferno.
Terceiro: Cristo não desceu ao inferno para
tomar as "chaves" da morte que
supostamente estivessem na posse de
Satanás. Com efeito, as chaves do senhorio
de todo o universo, inclusive da morte e do
inferno, pertencem ao Senhor Jesus Cristo
(Is 22:21, 22; Ap 1:18; 3:7).
Quatro: Cristo não foi evangelizar os
habitantes do inferno, porque não há
salvação para aqueles que lá se encontram
(Lc 16:19-31; Rm 10:13-15; At 4:12; I Jo
5:11, 12; Hb 9:27).
Finalmente, Cristo não foi ao inferno para
retirar do hades os crentes do Antigo
Testamento, porque esses tais nunca lá
estiveram. As Escrituras do Antigo
Testamento dizem claramente aonde foram
os crentes desse período após a morte (Sl
73:23-25; Ec 12:6, 7; Gn 5:24; II Rs 2:11; Lc
9:29-32).
Por outro lado, há dois sentidos possíveis
para aceitarmos a cláusula "descendit ad
inferna", segundo Héber Carlos de Campos,
quais sejam: ela representa a sepultura, ou,
melhor, o "estado de morte" e indica "os
sofrimentos agonizantes antes e durante o
tempo que [Cristo] passou na cruz".
Quando ao último sentido possível,
esclarece o Rev. Héber que "experimentar o
inferno é experimentar o doloroso abandono
da presença confortadora de Deus. A ira de
Deus desceu sobre o Filho encarnado e se
manifestou não somente nas dores infernais
do seu corpo, mas também nas angústias
infernais que se apoderaram de sua alma...
Por causa da experiência infernal que Cristo
teve em face do juízo divino, aqueles por
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
25
quem ele morreu são libertos para sempre
da condenação do inferno".
Segundo W. Hendriksen, "naquele dia o
inferno veio ao calvário e o Salvador a ele
desceu e sofreu seus horrores em nosso
lugar, por nós". Nesse sentido, também R.
C. Sproul: "Na cruz, ele estava no inferno,
destituído da graça e da presença de Deus,
totalmente separado de toda a bênção do
Pai... O Pai virou as costas para seu Filho a
fim de que a luz de seu rosto resplandeça
sobre nós. Não é admirável que Jesus
tenha gritado das profundezas de sua
alma".
25."Ressuscitou ao terceiro dia". A
ressurreição do Salvador dá início à fase da
Sua exaltação.
Indubitavelmente, o Antigo Testamento
anunciou tanto a morte vicária (ou
substitutiva) do Messias, quanto a Sua
ressurreição. Aos discípulos a caminho de
Emaús, nosso Senhor já ressurreto
mostrou-lhes passagens do Antigo
Testamento que se aplicavam aos eventos
do fim de semana, a Ele relacionados (Lc
24:21-27). Esta série de predições acerca
da morte e ressurreição de Cristo
certamente iniciam em Gn 3:15 (o chamado
proto-evangelho), onde a indicação que a
ferida do descendente da mulher não seria
irremediável necessariamente aponta à Sua
ressurreição.
Deve-se observar, igualmente, o uso que
Pedro e Paulo fizeram do Sl 16:10 ("Pois
não deixarás a minha alma na morte, nem
permitirás que o teu Santo veja corrupção"),
em At 2:27 e 13:35. A palavra "morte" (heb.
Sheol; gr. Hades) deve ser compreendida,
no contexto, como sinônimo de túmulo e,
nesse sentido, o Salmo foi utilizado pelos
apóstolos como uma predição da
ressurreição do Messias.
Em Isaías (53), o Servo Sofredor, depois de
experimentar uma morte violenta (expressa
pelos termos “traspassado” e “moído”, no
verso 5, e “arrebatado” e “cortado”, no verso
8) e ser sepultado (verso 9), diz-se que ele
“verá a sua posteridade e prolongará os
seus dias” (verso 10), uma clara referência
à ressurreição do Messias. Nesse sentido,
J. Ridderbos escreveu: “A vida com ‘dias
prolongados’ assume um significado
peculiar, porque é uma vida posterior à Sua
morte, a vida de uma pessoa ressurreta (cf.
Ap 1:8)”.
No Novo Testamento, nosso Senhor
predisse Sua morte e ressurreição, a
princípio, de forma velada (Jo 2:18-22; Mt
12:38-40; 16:4) e, após a confissão de
Pedro (Mt 16:16), de modo claro (Mt 16:21;
17:9, 22, 23; 20:18, 19). Em Mt 26:31, 32,
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
26
os discípulos são avisados que,
escandalizados, abandonarão o Senhor,
mas, após a ressurreição, serão outra vez
reunidos na Galiléia. Essa advertência foi
relembrada pelo anjo, após a ressurreição
(Mt 28:7).
Os evangelhos narram com riqueza de
detalhes os fatos históricos relacionados
tanto à morte quanto à ressurreição do
Senhor. Após os açoites (Mc 15:15-20) e o
escarnecimento (Mt 27:27-31), nosso
Senhor foi entregue para ser crucificado (Mc
15:22; Mt 27:26). Que a morte foi realmente
verificada por todos os envolvidos, não
resta dúvida. Pilatos ficou admirado que
Cristo tivesse morrido tão cedo (Mc 15:44) e
só liberou o corpo a José de Arimatéia após
certificar-se da morte com seus homens de
confiança (Mc 15:44, 45; Mt 27:57-61). Os
soldados romanos, especialistas em
crucificação, após séria averiguação,
confirmaram a morte a Pilatos (Jo 19:31-
34). A morte foi igualmente verificada por
José de Arimatéia e por Nicodemos (Jo
19:38-42). Finalmente, os judeus, certos da
ocorrência da morte do Senhor, solicitaram
uma guarda para vigiar o túmulo, ao
argumento de que os discípulos poderiam
roubar o corpo e dar início a um “mito da
ressurreição” (Mt 27:62-64).
Que o corpo do Senhor foi depositado no
túmulo, também não há dúvidas! José de
Arimatéia e Nicodemos prepararam o corpo
para o sepultamento (Mt 27:57, 58; Jo
19:38-40). O momento do sepultamento foi
testemunhado também pelas mulheres (Mt
27:61; Mc 15:47).
Após o sepultamento, uma grande pedra foi
rolada para a entrada do túmulo (Mt 27:60;
cf. Mc 16:3, 4) e a guarda romana selou a
pedra e permaneceu guardando-o (Mt
27:66), de modo que a violação daquele
túmulo em particular ensejaria as reações
do rigor da lei romana. Ali estava a
sepultura mais bem vigiada da história
humana!
É dizer, Pilatos, os judeus e a guarda
romana fizeram o melhor que puderam para
evitar o “furto do corpo” e “um mito da
ressurreição”, o que somente corrobora que
Cristo de fato ressuscitou, como sugeriu
Jerônimo: "se o sepulcro estiver selado, não
ocorrerá qualquer negócio escuso. De
modo, então, que a prova da sua
ressurreição tornou-se indiscutível devido
ao que vocês mesmos sugeriram. Mas, se
não ocorreu qualquer negócio escuso e o
sepulcro foi encontrado vazio, então fica
patente, sendo algo indiscutível, que ele
ressuscitou. Percebe você como, até contra
a própria vontade, eles ajudaram a
demonstrar a verdade?" (Citado por Josh
McDowell).
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
27
Após a ressurreição, o registro do suborno
pela guarda romana é digno de nota (Mt
28:11-15). A falsa notícia de que o corpo foi
roubado decorreu de dois fatos: primeiro,
que o corpo de Jesus estava no túmulo
quando a guarda chegou, tanto que a
notícia só foi criada após a ressurreição;
segundo, que a guarda constatou que o
túmulo estava vazio, o que necessitaria de
uma explicação.
Finalmente, devemos observar as tantas
aparições incontestes do Senhor ressurreto
a testemunhas oculares do fato histórico da
ressurreição, das quais mais da metade das
quinhentas estavam vivas e poderiam
corroborar, à época em Paulo escreveu I Co
15:3-8 (c. 56 d.C.).
No domingo pela manhã, o Senhor aparece
a Maria Madalena (Mc 16:9; Jo 20:14-17) e
às demais mulheres (Mt 28:9, 10). À tarde
desse mesmo domingo, aparece a Pedro
(Lc 24:34; I Co 15:5), aos discípulos a
caminho de Emaús (Lc 24:13-32; Mc 16:12,
13) e aos dez discípulos, sem Tomé (Jo
20:19-25). No domingo seguinte, aparece
outra vez aos discípulos, com Tomé (Jo
20:26-29; Mc 16:14). Quatro ou cinco
semanas após, o Senhor aparece na
Galiléia, no mar (Jo 21:1-23) e no monte (Mt
28:16-20; Mc 16:15-18), onde foi visto por
mais de quinhentas testemunhas (I Co
15:6). Nesse período, o Senhor apareceu a
Tiago (I Co 15:7) e aos discípulos em
Jerusalém (Lc 24:44-49; At 1:3-8), quando
foi visto ascender.
Todos esses relatos implicam que houve
aparições reais, históricas, nas quais o
Senhor apareceu com o corpo físico (Jo
20:17, 20; 21:12-14; Lc 24:39), embora com
"características extraordinárias" (Jo 20:13,
19; 21:7; Lc 24:31, 36), com "propriedades
físicas que transcendiam a realidade
comum" (Ferreira e Myatt).
Somente a Estevão (At 7:55, 56), a Paulo
(At 9:10, 11; 22:17-21; 23:11) e a João (Ap
1:9-13), as aparições do Cristo ressurreto
ocorreram em uma visão particular,
devendo, quanto à aparição a Paulo, ser
observado com Ferreira e Myatt que:
"Apesar de ter elementos semelhantes com
os de um fato puramente místico, o
acontecimento no caminho de Damasco
não fugiu dos padrões de um fato ocorrido
no tempo e no espaço. Outros
presenciaram a luz e ouviram a voz. O que
estava ocorrendo não era algo ocorrido
apenas no âmbito particular, mesmo que a
comunicação entre Jesus e Saulo tenha
sido feita nesse âmbito".
Igualmente verificável é o fato de que a
ressurreição de Cristo tornou-se, desde
cedo, o centro da pregação apostólica (At
2:24, 32; 3:15; 4:10; 5:30; 10:40; 13:30, 34;
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
28
17:31). Dentre todas as grandes religiões
mundiais (judaísmo, budismo, islamismo e
cristianismo), só o cristianismo menciona
um túmulo vazio e tem no fato histórico e
miraculoso da ressurreição de Cristo sua
doutrina fundamental (I Co 15:14, 15, 17-19;
I Pe 1:21). "A fé na ressurreição é a
principal coluna de sustentação da fé cristã;
retirando-se a coluna, tudo inevitavelmente
cai por terra" (H. P. Liddon, citado por Josh
McDowell).
Por fim, vale destacar que a ressurreição do
Senhor possui ao menos três significados:
primeiro, demonstra que Cristo venceu o
último inimigo, a saber, a morte (At 2:24; I
Co 15:26); segundo, a prova que Deus o
Pai aceitou a morte de Cristo como
completa e suficiente para expiar pecados
(Rm 4:25), visto que, caso não tivesse
havido ressurreição, ainda estaríamos
mortos em nossos pecados (I Co 15:17);
terceiro, a ressurreição de Cristo é o
alicerce da ressurreição daqueles que estão
em Cristo (I Co 15:20-22, 51-57; II Co 4:14;
I Ts 4:14) e a razão da nossa viva
esperança (I Pe 1:3).
26."Subiu aos céus; está assentado à direita
de Deus Pai todo-poderoso". É certo
afirmarmos com Ferreira e Myatt que "a
ascensão foi a consumação da
ressurreição", que a descreveram como "a
subida visível de Cristo da terra para o céu,
segundo a sua natureza humana", cujo
pressuposto é "a mudança da natureza
humana de Cristo, que aconteceu em sua
ressurreição".
A ascensão de Cristo implica em haver o
Salvador deixado as condições da terra e
retomado Seu lugar junto com o Pai (Jo
17:1), nos lugares celestiais, onde recebeu
domínio absoluto sobre todos os poderes
existentes (Mt 28:18; Ef 1:20-22; Cl 2:15) e
prepara lugar para receber Seu povo, no
futuro (Jo 14:2). Historicamente, localiza-se
quando subiu aos céus perante os
discípulos, que acompanharam-nO com os
olhos subir até não poder mais ser visto (At
1:9).
A ascensão do Salvador significa que Deus
o Pai aceitou Seu sacrifício como oferta
pelo pecado, tanto que o readmitiu à glória
celestial, e indica a ascensão espiritual
daqueles que estão em Cristo (Ef 2:5, 6), já
ocorrida, tanto quanto a glorificação futura
dos salvos.
Ao lado do Pai, o Senhor intercede pelo Seu
povo (Hb 7:25; Rm 8:34; I Jo 2:1), "rogando
pela aceitação deles com base em seu
sacrifício consumado, e por sua segurança
no mundo" e continua a apresentar
"continuamente o seu sacrifício consumado
ao Pai como base suficiente para a
concessão da graça perdoadora de Deus"
(Berkhof).
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
29
27."Donde há de vir [a julgar os vivos e os
mortos]". É óbvia a dedução de que a
exaltação do Senhor não terá sido
consumada até que Ele volte para "julgar os
vivos e os mortos", conforme a cláusula
credal que estamos a analisar. Na lição de
Louis Berkhof, "o ponto supremo não será
alcançado enquanto o que sofreu nas mãos
do homem não voltar na qualidade de juiz".
Com efeito, a segunda vinda do Senhor
Jesus foi predita no Antigo Testamento
através da expressão "dia do Senhor", que
era compreendida tanto um dia de redenção
e de muita alegria para os justos quanto de
sofrimento e angústia para os infieis (Ml 4:1-
5; Sf 1:7-2:3). No Novo Testamento, a
segunda vinda do Senhor é predita com
expressões correspondentes, tais como
"aquele dia" (Mt 24:36), "último dia" (Jo
12:48), "Dia de nosso Senhor Jesus Cristo"
(I Co 1:7, 8), "Dia do Senhor" (I Ts 5:2) e
"Dia de Cristo Jesus" (Fp 1:6).
O ensino neo-testamentário é que a vinda
do Senhor é certa, razão pela qual estamos
"aguardando a bendita esperança e a
manifestação da glória do nosso grande
Deus e Salvador Cristo Jesus" (Tt 2:13).
"Esperança" é a expectação confiante de
quem anela ardentemente por algo que não
decepcionará, i.é., a certeza do que se
espera. Segundo Hendriksen, esta
esperança é "qualificada de bendita, porque
infunde o estado de preparação ou
disposição, bênção, felicidade, deleite e
glória".
A vinda do Senhor será gloriosa (II Ts 1:7,
8), física e visível. Nesse sentido, os
discípulos que acompanharam atentamente
a ascensão do Senhor, foram avisados que
Ele voltaria do modo como foi visto subir (At
1:9-11).
Quanto ao dia e hora da segunda vinda,
não podem ser precisados (Mt 24:36; At 1:7;
I Ts 5:1, 2), porque a vinda do Senhor será
súbita. Por outro lado, sabe-se que nosso
Senhor não voltará sem que o evangelho
seja proclamado em todo o mundo (Mt
24:14) e sem que o “homem da iniquidade”
tenha se manifestado (II Ts 2:1-3), evento
relacionado com a grande apostasia e a
grande perseguição que hão de vir sobre a
igreja (Mt 24:21, 22; Lc 18:8; II Ts 2:3).
Finalmente, a vinda do Senhor será
inconfundível (Mt 24:29-31; Ap 1:7) e
introduzirá uma série de eventos, quais
sejam: primeiro, os mortos ressuscitarão
com seus corpos, tanto os condenados
quanto os redimidos (Jo 5:28, 29; 6:39, 40,
44; At 24:15); segundo, os redimidos serão
transformados à semelhança da
humanidade do Senhor (I Co 15:51-57; I Ts
4:13-18; I Jo 3:2); terceiro, todos
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
30
comparecerão perante o Tribunal de Cristo
para serem julgados (At 17:31; II Co 5:10; II
Tm 4:1; I Pe 4:5; Ap 20:11-15); quarto,
Satanás e seu séquito, como também os
condenados, serão definitivamente
encerrados na condenação eterna (Ap
20:10) e; quinto, a criação será
gloriosamente renovada em novos céus e
nova terra (Rm 8:20, 21; Ap 21:1; II Pe
3:13). “Já agora a coroa da justiça me está
guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me
dará naquele Dia; e não somente a mim,
mas também a todos quantos amam a sua
vinda” (II Tm 4:8).
28."[Donde há de vir] a julgar os vivos e os
mortos". Quanto ao juízo final, os salvos
serão julgados (Rm 14:10; I Jo 4:17) e
receberão o galardão pela graça (Lc 17:10),
conforme a perseguição que sofreram (Mt
5:12; II Co 4:17), a misericórdia que
exerceram (Mt 6:1), o serviço que prestaram
à igreja (Mt 10:41, 42; 25:31-40) e a
maneira como contribuíram à sua edificação
(I Co 3:10-17; I Pe 5:4; II Tm 4:8). Portanto,
os salvos em Cristo não devem temer o dia
do juízo (I Jo 4:17), não porque seus
pecados não venham à luz naquele dia,
mas porque não há condenação para
aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm
8:1).
Nesse sentido, Anthony Hoekema escreveu:
"As falhas e deficiências desses crentes,
portanto, participarão do quadro do dia do
juízo. Mas - e este é o ponto importante - os
pecados e deficiências dos crentes serão
revelados no juízo como pecados
perdoados, cuja culpa foi totalmente coberta
pelo sangue de Jesus Cristo. Por isso, os
crentes não têm nada a temer acerca do
juízo - embora a percepção de que eles
terão de prestar contas de tudo que fizeram,
disseram e pensaram, deveria ser para eles
um incentivo constante para a luta diligente
contra o pecado, para o serviço cristão
consciente e para uma vida consagrada".
Os descrentes também serão julgados e
condenados, segundo todas as obras que
praticaram (Ap 20:12, 13), conforme a
maneira como trataram a igreja (Mt 25:41-
46; Ap 6:9-17) e porque rejeitaram o
evangelho (Jo 3:36). Sobre todos os ímpios
sobrevirá a morte eterna (Rm 6:23) no
inferno, lugar de "fogo inextinguível" (Mt
3:12), "onde não lhes morre o verme nem o
fogo se apaga" (Mc 9:48), lugar de "trevas",
"choro e ranger de dentes" (Mt 25:30), onde
a ira de Deus será experimentada sem
mistura (Rm 2:5, 8, 9; Hb 10:27-31; Ap
14:10). Os crentes, de algum modo,
participarão do julgamento dos incrédulos
(Mt 19:28; Lc 22:28-30; I Co 6:2, 3; Ap 3:21;
20:4).
Por fim, vale destacar que os perdidos
serão julgados de acordo com a vida que
levaram, com as escolhas que fizeram e
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
31
com a luz que possuíram. Conforme
Ferreira e Myatt anotaram: "Os que tiveram
mais revelação de Deus receberão mais
severo juízo. Por exemplo, em Mateus
11:21-24, Jesus revela que o destino de
Cafarnaum e de Corazim será pior do que o
destino de Tiro e Sidom, porque aquelas
rejeitaram o testemunho de Jesus,
enquanto estas não tinham essa revelação".
No inferno, os ímpios sofrerão tormentos,
dores e sofrimentos no corpo e na alma
horrendos e intermináveis, tudo isso
acompanhado de agonias lancinantes. Aqui
está a manifestação da ira de Deus, como
Hendriksen escreveu: "O inferno é inferno
porque Deus está lá, Deus em toda a sua
ira... O céu é céu porque Deus está lá, Deus
em todo o seu amor. É desta presença de
amor que o ímpio é banido para sempre".
29.Conclusão ao Segundo Artigo. Chegamos
ao fim de nossas notas sobre este segundo
artigo do antigo simbolum de fé, ocasião em
que devemos observar com D. A. Carson
que “tudo que sabemos de Deus, tudo que
apreciamos nele, tudo pelo qual o
louvamos, em toda a experiência cristã,
tanto nesta vida como na vida por vir, flui
desta cruz sangrenta”. E isto inclui o dom do
Espírito, o perdão dos pecados, a
comunhão dos santos e a esperança da
ressurreição da carne e da vida eterna nos
novos céus e nova terra.
Nas palavras do apóstolo aos gentios,
“Aquele que não poupou o seu próprio
Filho, antes, por todos nós o entregou,
porventura, não nos dará graciosamente
com ele todas as coisas?” (Rm 8:32). Eis o
que John Piper denominou de “a lógica
consistente do céu”, aduzindo que “é um
argumento que procede do superior para o
inferior; do difícil para o fácil; do obstáculo
quase intransponível para o que pode ser
facilmente superado”. “Como seria
imaginável que Deus deveria sonegar,
depois disso, as bênçãos espirituais e
temporais de seu povo? Como ele não os
chamaria eficazmente, justificaria-os
graciosamente, santificaria-os
completamente, e os glorificaria
eternamente?... Seguramente, se Ele não
poupou seu próprio Filho de um golpe, uma
lágrima, um gemido, um suspiro, uma
circunstância de miséria, jamais se poderia
imaginar que ele deveria, depois disso tudo,
negar ou sonegar de seu povo, por cuja
causa todo esse sofrimento aconteceu,
quaisquer misericórdias, confortos,
privilégios, espiritual ou temporal, que são
para o bem deles” (John Flavel, citado por
Piper).
Crês tu em Jesus Cristo, seu único filho,
nosso Senhor, que foi concebido pelo
poder do Espírito Santo, nasceu da
virgem Maria, padeceu sob Pôncio
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
32
Pilatos, foi crucificado, morto e
sepultado; desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos
céus; está assentado à direita de Deus
Pai todo-poderoso, donde há de vir a
julgar os vivos e os mortos?
4 O Terceiro Artigo: O Deus
Santificador
E no Espírito Santo, na Santa Igreja
católica, na comunhão dos santos, no
perdão dos pecados, na ressurreição do
corpo e na vida eterna. Amém.
30.Introdução ao Terceiro Artigo. A Bíblia
ensina que os cristãos genuínos foram
salvos, estão sendo salvos e serão salvos.
Por Deus o Pai, fomos salvos antes da
fundação dos séculos; por Deus o Filho, na
cruz do Calvário; e, por Deus o Espírito
Santo, quando somos levados a apropriar-
nos da salvação pela fé e preservados em
santidade até a ressurreição.
Assim, podemos afirmar que toda a obra da
nossa salvação é exclusivamente divina e
inclusivamente trinitária. Nas palavras de
Herman Bavinck: "A obra da salvação é
uma incumbência do Deus único que
subsiste em três pessoas, na qual as três
pessoas cooperam e cada uma realiza uma
tarefa especial. É o Deus trino - Pai, Filho e
Espírito - que concebe, determina, realiza e
completa toda a obra da salvação".
O Pai escolheu livre, soberana e
incondicionalmente, antes da fundação dos
séculos, aqueles indivíduos que iriam ser
salvos e os predestinou a essa grande
salvação (Jo 15:16, 19; At 13:48; Rm 8:29,
30; 9:6-13; 11:4-7; Ef 1:4-6, 11, 12; I Ts 1:4,
5; 5:9; II Ts 2:13; II Tm 1:8-10; Ap 17:8, 14)
e os deu ao Filho (Jo 6:37, 39; 10:29; 17:2,
6, 9, 24; 18:9); o Filho encarnou e
conquistou com o sacrifício de Si a salvação
dos eleitos (Is 53:10-12; Mt 1:21; 20:28;
26:28; Mc 10:45; 14:24; Lc 22:20; Jo 10:11-
16; 17:9; At 20:28; Rm 5:8; 8:32-34; I Co
1:30; 11:24; Gl 1:3, 4; Ef 5:25-27; Cl 1:21,
22; Tt 2:14; Ap 5:9); o Espírito aplica,
completa, concretiza, realiza os benefícios
da cruz nos eleitos.
Ressalte-se, pois, que é o Espírito quem
concretiza nos eleitos os benefícios
adquiridos por Cristo, tais como a
regeneração (Jo 3:3; Tt 3:5), a convicção de
pecado (Jo 16:8-11), a adoção de filhos
(Rm 8:15), a selagem (Ef 1:13; 4:30), a
santificação (Gl 5:17, 22, 23), a variedade
dos dons (I Co 12:4, 7-11), a unidade da
igreja (I Co 12:12, 13) e a ressurreição dos
corpos (Rm 8:10, 11). Ademais, é por meio
do Espírito que temos comunhão direta com
o Pai e com o Filho (Jo 14:23, 26; II Co
6:16; Gl 2:20; Ef 3:16, 17; Fp 1:8, 21).
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
33
Nas palavras precisas de Jonathan
Edwards, o “Espírito de Deus é a bênção
principal, pois é a substância de todas as
bênçãos espirituais de que precisamos
infinitamente mais que todas as outras e em
que consiste a nossa felicidade verdadeira e
eterna... o Espírito Santo é a síntese das
bênçãos que Cristo adquiriu...”.
O Espírito Santo é o Deus que vive em nós
(I Co 3:16; 6:19; Ef 2:20-22; I Pe 2:5), razão
pela qual a Igreja é advertida a não
entristecê-lO (Is 63:10; Ef 4:30) e a não
extinguir Suas operações (I Ts 5:19). A
mentira contra o Espírito Santo foi a causa
da punição de Ananias e Safira (At 5:3, 9) e
a resistência ao Espírito, o pecado dos
israelitas (At 7:51). Por fim, nosso Senhor
afirmou que a blasfêmia contra o Espírito é
o pecado imperdoável (Mt 12:31, 32).
Atentemos, portanto, ao ensino das
Escrituras concernente à pessoa bendita e
à obra maviosa do Espírito Santo, objeto do
terceiro artigo do antigo Credo da Igreja.
31."E no Espírito Santo": Sua personalidade.
O nome "Espírito Santo" só ocorre no Antigo
Testamento em Sl 51:11 e Is 63:10, 11,
sendo ali mais comuns as ocorrências de
"Espírito de Deus" e "Espírito do Senhor".
No Novo Testamento, "Espírito Santo" veio
a ser a designação por excelência dessa
bendita Pessoa da Trindade.
Conforme observou Herman Bavinck, "na
teologia cristã, a doutrina do Espírito Santo
só foi consistentemente tratada depois da
do Filho", sobretudo na obra de Basílio de
Cesaréia, em seu Tratado Sobre o Espírito
Santo, escrito em 374, e somente no
Concílio de Constantinopla, em 381, a
divindade do Espírito Santo foi plenamente
formulada e incorporada ao Credo de Niceia
(de 325). Enquanto que na doutrina do Filho
a questão debatida era a Sua divindade, na
do Espírito, o ponto controvertido foi a Sua
personalidade.
Entretanto, não deve haver hesitação em
asseverarmos a personalidade do Espírito
Santo. As Escrituras falam do Espírito como
a um Ser pessoal. Primeiro, quando usa o
pronome masculino (gr. "ekeinos"), em Jo
16:14, e o pronome relativo masculino (gr.
"hos"), em Ef 1:14, para referir-se ao
Espírito (gr. "pneuma", substantivo neutro).
Segundo, quando Lhe confere o título
"Consolador" (gr. "parakletos"), em Jo
14:26, 15:26, 16:7. Conforme anotou Louis
Berkhof, o vocábulo "Parakletos" tem
importância por duas razões: a uma, "o
termo não pode ser traduzido por 'conforto',
'consolação', nem pode ser considerado
como nome de alguma influência abstrata; a
duas, "um fato que indica que se trata de
uma pessoa é que o Espírito Santo, como
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
34
Consolador, é colocado em justaposição
com Cristo como o Consolador que estava
para partir, a quem o mesmo vocábulo é
aplicado em I Jo 2:1 [aqui, “parakletos” é
traduzido por "Advogado"]". Ademais, ainda
digno de nota é que a palavra "outro" (gr.
"allos", em "outro Consolador") "realça a
identidade diferente daquele que virá",
conforme anotaram Ferreira e Myatt.
Terceiro, há passagens em que faz-se
nítida distinção entre o Espírito Santo e o
Seu poder (Lc 1:35; 4:14; At 10:38; Rm
15:13; I Co 2:4). Recorremos outra vez a
Berkhof, quando observa que tais
passagens seriam "até absurdas" "se
fossem interpretadas com base no princípio
de que o Espírito é pura e simplesmente um
poder impessoal".
Quarto, as Escrituras creditam ao Espírito
características pessoais, tais como
inteligência, vontade e sentimentos (Jo
14:26; At 16:7; Ef 4:30); realizações
pessoais, tais como lutar, ensinar, falar,
decidir, vivificar mortos (Gn 6:3; Lc 12:12; At
8:29; 13:2; Rm 8:11); e, relacionamentos
que são próprios de pessoas (At 15:28; Jo
16:14).
32."E no Espírito Santo": Sua divindade.
Noutro giro, se não tememos reconhecer a
personalidade do Espírito Santo, com muito
mais razão não ousaríamos questionar a
Sua divindade. As mesmas Escrituras que
O revelam como um Ser pessoal, testificam
tratar-se de uma pessoa divina, da mesma
essência do Pai e do Filho, sobretudo
quando atribuem-Lhe nomes divinos (Ex
17:7 [Hb 3:7-9]; At 5:3, 4; I Co 3:16; II Tm
3:16; II Pe 1:21), atributos divinos (Sl 139:7-
10; Hb 9:14; Is 40:13, 14 [Rm 11:34]; Rm
15:19), realizações divinas (Gn 1:2; Sl
104:30; Rm 8:11) e honras somente devidas
à Divindade, conforme Paulo escreveu em I
Co 3:16: "Não sabeis que sois santuário de
Deus e que o Espírito de Deus habita em
vós?". Ora, Aquele habita no templo recebe
nele a adoração.
Acrescente-se que as Escrituras colocam o
Espírito Santo em exata justaposição com
as demais pessoas da Trindade, o que nos
faz concluir que o Espírito Santo é dotado
de personalidade, é um Ser pessoal, distinto
do Pai e do Filho, e não uma força
impessoal, tanto quanto uma pessoa divina,
consubstancial ao pai e ao Filho (Mt 28:19;
II Co 13:13; I Pe 1:1, 2; Jd 20, 21). Para
Bavinck, "a escolha é clara: ou o Espírito
Santo é uma criatura - seja um poder, um
dom ou uma pessoa - ou é verdadeiramente
Deus. Se Ele é uma criatura, ele não pode,
de fato e de verdade, nos comunicar o Pai e
o Filho com todos os seus benefícios, não
pode ser o princípio da nova vida nem no
cristão individual nem na igreja como um
todo... Mas o Espírito Santo não é e não
pode ser uma criatura... Aquele que nos dá
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
35
o próprio Deus deve ser, ele mesmo,
verdadeiro Deus".
33."E no Espírito Santo": Sua relação com o
Pai e com o Filho. Havendo provido
algumas anotações sobre a pessoa divina
do Espírito Santo, voltamo-nos agora para
as Suas relações na Trindade.
Já observamos que é o título "Pai" que
distingue o atributo pessoal da primeira
Pessoa da Trindade. Nas operações
internas da Trindade (opera ad intra), o Pai
é a pessoa "não gerada" e o eternamente
Pai. Não houve um tempo em que o Pai não
tenha sido o Pai de nosso Senhor Jesus.
Noutro momento, consideramos que o
atributo pessoal que distingue a segunda
pessoa da Trindade é a filiação. Somente o
Filho é Filho do Pai, não o Espírito Santo.
Anotamos igualmente, que nunca houve um
tempo em que nosso Senhor não tenha sido
o Filho do Pai. Enquanto o Pai é "não
gerado", o Filho é “gerado”, mas não no
sentido de haver sido, em algum momento
temporal, criado. O Filho é tão "incriado"
quanto o Pai. Daí dizer-se que Ele é o Filho
do Pai por “geração eterna”, não por
criação, no tempo ou fora dele. "Ele veio da
essência do Pai eternamente" (Héber carlos
de Campos).
O Espírito Santo, a seu turno, é a terceira
pessoa da Trindade cujo atributo pessoal
que O distingue das pessoas do Pai e do
Filho é a "processão". O Espírito Santo
"procede" do (ou é "espirado" pelo) Pai e do
Filho (Jo 15:26; 16:7). A Escritura O revela
como sendo o Espírito do Pai e do Filho.
Entretanto, atenção para este fato: o
Espírito é tão incriado quanto o Pai e quanto
o Filho. A palavra "processão" não indica a
origem temporal do Espírito Santo, nem que
o Seu ser essencial é derivado do Pai e do
Filho, mas aponta a maneira como o
Espírito Santo Se relaciona no Ser divino,
na "Trindade Ontológica", com o Pai e com
o Filho.
Resumo da ópera: o Pai é incriado; o Filho
é incriado; o Espírito é incriado. Nas
relações internas da Trindade Ontológica
(opera ad intra), o Pai é o "não-gerado", o
Filho é o eternamente gerado do Pai e o
Espírito Santo é o eternamente procedente
do Pai e do Filho.
34."E no Espírito Santo": Sua relação com o
Filho. O Espírito Santo esteve presente na
vida de Jesus da concepção à ascensão. A
Cristo, o Espírito não foi dado por medida
(Jo 3:34), isto é, "por porções
cuidadosamente calculadas" (F. F. Bruce).
A presença do Espírito não era crescente
na vida do Senhor Jesus. Sobre Cristo, o
Espírito permanece (Jo 1:32, 33; Is 11:2;
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
36
42:1; 61:1), de modo que "toda atividade de
Cristo se manifestava na presença do
Espírito Santo" (Basílio de Cesaréia, citado
por Ferreira e Myatt).
O Espírito Santo criou o corpo de Jesus, na
concepção miraculosa (Lc 1:35; Mt 1:18,
20), foi Seu revestimento preparatório para
o ministério público, no batismo (Mt 3:16), e
O conduziu ao deserto, para ser tentado (Lc
4:1). No ministério, nosso Senhor realizou
milagres e ensinou no poder do Espírito
Santo (Mt 12:25-28; Lc 4:14, 18; At 1:2;
10:38), que O assistiu igualmente em Sua
vida de oração (Lc 10:21). O Espírito Santo
esteve com o Senhor em Sua morte (Hb
9:14) e O ressuscitou dentre os mortos (Rm
1:4; 8:11). Após a ressurreição e a
ascensão, a primeira obra que Cristo
realizou foi o envio do Espírito Santo (At
2:4, 33), cumprindo profecias do Antigo
Testamento (Jl 2:28, 29) e que foram
reafirmadas por João Batista e pelo próprio
Senhor Jesus (Lc 3:16; 24:49; Mc 1:8; Mt
3:11; At 1:4, 5; Jo 1:33). Portanto, a obra do
Senhor só ficou completa no dia de
Pentecostes. A partir do derramamento do
Espírito, através dEle, a Igreja goza a
presença contínua de Cristo (Jo 14:18, 23;
Mt 28:20; I Jo 3:24).
Na "Trindade Econômica", o Espírito Santo
está relacionado com o Filho do modo como
o Filho está relacionado com o Pai.
Conforme ensinou Herman Bavinck,
"[Cristo] Nada tem, nada faz e nada diz por
si mesmo, mas recebe tudo do Pai (Jo 5:26;
16:15), assim também o Espírito recebe
tudo de Cristo (Jo 16:13, 14). Assim como o
Filho dá testemunho e glorifica o Pai (Jo
1:18; 17:4, 6), assim também o Espírito, por
sua vez, dá testemunho e glorifica o Filho
(Jo 15:26; 16:14). Assim como ninguém
pode chegar ao Pai a não ser pelo Filho (Mt
11:27; Jo 14:6), assim também ninguém
pode dizer "Senhor Jesus!" a não ser pelo
Espírito". A obra do Espírito não chama a
atenção para Si mesmo. O seu ministério é
de bastidores e Seu propósito é glorificar o
Filho.
35. "E no Espírito Santo": Suas operações
na 'graça comum'. Ainda teceremos breves
notas acerca das operações do Espírito
Santo na vida dos crentes em Jesus Cristo.
Por ora, cumpre-nos colocar que as
operações do Espírito, embora de algum
modo relacionadas com os propósitos de
Deus para o Seu povo, de modo algum
estão confinadas nos arraiais da Igreja.
Antes, conforme observou Calvino, quando
afirmamos que "o Espírito de Deus reside
unicamente nos fieis, temos que entender
que tratamos de santificação pela qual
somos consagrados a Deus como seus
templos. Mas, entretanto, Deus não cessa
de encher, vivificar e mover com a virtude
desse mesmo Espírito todas as criaturas".
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
37
Pois bem, estas operações universais do
Espírito têm recebido o nome de "graça
comum". É a noção da "graça comum" que
explica como o homem totalmente
depravado realiza algum tipo de bem. Por
um lado, do homem caído, não se pode
esperar bem algum. Por outro, como
explicar o fato de que conhecemos pessoas
não cristãs que são habilidosas,
humanitárias e cumpridoras dos seus
deveres e isto em medida ainda maior que a
evidenciada em muitos cristãos genuínos?
Mais uma vez, a resposta está na "graça
comum", tema que abordaremos em dois
aspectos: primeiro, destacaremos a obra da
graça comum no sentido de ser uma
operação divina "comum" a toda
humanidade; segundo, usaremos a
expressão "graça comum" para referir-nos
também às operações comuns aos eleitos e
aos não eleitos do ambiente da Igreja.
"Graça comum" é o termo que designa as
operações divinas pelas quais o Espírito
Santo, sem operar a remoção da culpa e a
salvação dos pecadores, suporta-lhes o
pecado em Sua longanimidade (Rm 2:4;
9:22; II Pe 3:9), concede-lhes bênçãos
naturais (Gn 17:20; Sl 145:9, 15, 16; Mt
5:44, 45; At 14:16, 17; 17:25), refrea-lhes o
pecado (Gn 6:3; 20:6; Is 63:10; At 7:51) e
estimula-lhes a prática do bem, público e
privado, e a admiração pela verdade, pela
justiça, pelo bom e pelo belo (Mt 7:9-11; Rm
2:14, 15; Rm 13:1-7; At 17:22, 28).
Percebe-se, nesse passo, que a
possibilidade de vida minimamente viável
na sociedade descrente, do ponto de vista
relacional, social e moral, deve-se tão
somente às operações do Espírito na graça
comum (Rm 1:24, 26, 28), que ocorrem
através da revelação geral (Rm 2:14, 15),
do governo (Rm 13:1-7) e das relações
sociais ou da opinião pública.
Em segundo lugar, devemos destacar
igualmente que há uma graça comum
distribuída aos eleitos e aos não eleitos que
vivem sob o evangelho. É dizer, há uma
graça não especial, não eletiva, que não
remove a culpa do pecado, que alcança
tanto crentes genuínos quanto os hipócritas
e não regenerados disfarçados de cristãos.
Nesse sentido, o escritor aos Hebreus
escreveu: "É impossível, pois, que aqueles
que uma vez foram iluminados, e provaram
o dom celestial, e se tornaram participantes
do Espírito Santo, e provaram a boa palavra
de Deus e os poderes do mundo vindouro, e
caíram, sim, é impossível outra vez renová-
los para arrependimento, visto que, de
novo, estão crucificando para si mesmos o
Filho de Deus e expondo-o à ignomínia" (Hb
6:4-6, com grifos nossos).
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
38
O escritor de Hebreus nos ensina que há
membros na igreja que podem ser descritos
nos seguintes termos: "iluminados", no
sentido de haverem sido esclarecidos, de
haverem recebido uma compreensão
significativa do evangelho e de terem
começado a enxergar as realidades
espirituais; "provaram o dom celestial",
expressão que talvez refira-se à vivência de
algumas experiências oferecidas no
evangelho; "se tornaram participantes do
Espírito Santo", por sua vez, significa que
os não eleitos que convivem como se
crentes genuínos fossem compartilham dos
dons e da influência do Espírito; "provaram
a boa palavra de Deus" implica em dizer
que esses falsos cristãos se alegraram ao
ouvir o evangelho e lhe deram crédito, que
chegaram mesmo a maravilhar-se da
Palavra da Deus; e "provaram os poderes
do mundo vindouro", que pode ser uma
alusão às intervenções miraculosas de
Deus pelas mãos dos apóstolos ou mesmo
que anteviram e creram nas realizações do
Senhor por ocasião da segunda vinda.
Percebe-se quão longe um não regenerado
pode aproveitar-se das manifestações e
influências de Deus sobre a vida da igreja
visível.
Mas o autor de Hebreus vai além, e diz: "e
caíram". Estes são aqueles que vivem com
a igreja, cantam com a igreja, oram com a
igreja, aprendem o evangelho, recebem
dons espirituais, evangelizam e, após toda
essa vivência cristã, abandonam a fé ou
permanecem não regenerados (Mt 7:21,
22). Nosso Senhor referiu-se aos apóstatas
como aqueles que "não têm raiz em si
mesmos, sendo, antes, de pouca duração"
(Mc 4:16, 17).
No caso que examinamos, é muito provável
que o autor de Hebreus estivesse
escrevendo a um grupo judeu que, talvez
por estar enfrentando forte oposição,
pensava em abandonar a justificação pela
graça mediante a fé somente e retornar ao
sistema de obras do judaísmo (Gl 5:2-4).
Fazer isso, segundo o autor inspirado, é
recrucificar a Cristo "para si mesmos", é
identificar-se com os escarnecedores e
algozes que crucificaram nosso Senhor,
como se dissesse: "nossos pais bem
fizeram em crucificar a Cristo como
malfeitor". É possível mesmo que o escritor
sagrado "esteja pensando que tais
apóstatas seriam mais culpáveis do que
aqueles que originalmente clamaram
'crucifica-o', que nunca conheceram coisa
alguma acerca da maravilhosa graça de
Deus através de Cristo" (Donald Guthrie).
Segundo o texto, aqueles que apostatam
desse modo não são mais renovados à
antiga posição e ficam sob a
impossibilidade de conhecerem o
arrependimento (I Jo 2:19; 5:16, 17).
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
39
O fato inconteste, portanto, é este: que na
igreja visível há falsos cristãos, há joio
crescendo lado a lado com o trigo (Mt
13:30), e que os tais gozam diversas
bênçãos comuns com os eleitos, sem
jamais serem redimidos.
36. "E no Espírito Santo": Suas operações
na 'graça especial'. Não custa destacar
que "graça" é a virtude divina pela qual o
Deus TriUno condece ao homem favor que
este não merece receber. Esse é o aspecto
que sobressai igualmente tanto na graça
comum quanto na graça especial: ambas
são demonstração de favor imerecido.
Homem algum merece qualquer dádiva
natural da parte de Deus.
Semelhantemente, e com muito mais razão,
homem algum merece a dádiva da salvação
(Ef 2:5, 7; Rm 3:24).
Com efeito, há mesmo uma relação
mutuamente excludente entre graça e
mérito (obras). Ou a salvação é pela graça
(uma concessão gratuita que o homem não
merece receber) ou é pelas obras (uma
justa retribuição pelos méritos humanos).
Como ensinou o apóstolo Paulo: "se é pela
graça, já não é pelas obras; do contrário, a
graça já não é graça" (Rm 11:6; cf. Rm 4:4;
Ef 2:8, 9; II Tm 1:9). Eis a razão pela qual
não pode haver gente "orgulhosa" de sua
salvação: ela não foi uma conquista pessoal
e meritória (Ef 2:9; Rm 3:27).
Por outro lado, cumpre ressaltar os
aspectos que diferenciam a graça especial
da graça comum. Primeiro, a graça especial
remove a culpa, perdoa pecados e justifica;
a graça comum, não. Segundo, a graça
especial age espiritualmente e renova a
natureza do homem, mudando a Sua
relação com Deus; a graça comum opera
somente física, intelectual e moralmente.
Terceiro, a graça especial é irresistível; a
graça comum, resistível, podendo sofrer
maior ou menor resistência.
Agora, pois, debrucemo-nos sobre as
operações do Espírito Santo na graça
especial. São elas: a vocação eficaz, a
regeneração, a conversão, a justificação,
a adoção, a santificação e a glorificação.
37. As operações do Espírito Santo na
graça especial: o início da vida cristã. A
partir desse ponto, teceremos alguns breves
comentários acerca da graça especial do
Espírito Santo, quando Este realiza o início
da vida cristã, operando a vocação eficaz,
a regeneração, a conversão, a
justificação e a adoção.
O chamado eficaz é a obra divina pela qual
o Espírito Santo, mediante a pregação da
Palavra de Deus, convoca eficaz, soberana,
irresistível e internamente os eleitos para a
salvação (Gl 1:15; I Co 1:23, 24; Rm 8:30).
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior
O Credo Apostólico
40
Noutras palavras, trata-se da ação do
Espírito em iluminar o pecador eleito de
modo que este compreenda o evangelho
salvadoramente e se volte para Deus em
arrependimento e fé (Jo 6:37; 10:27, 28; At
16:14).
A par deste chamado eficaz, há uma
vocação externa, que é a apresentação das
verdades do evangelho pela igreja,
acompanhada do convite ao pecador para
que este
se arrependa e creia e, assim, receba o
perdão dos seus pecados (At 8:27-38).
Nosso Senhor, João Batista e os apóstolos
proclamaram as verdades do evangelho (Mt
4:17; Mc 1:14, 15; At 2:38), e há um sem
número de mandamentos bíblicos para que
façamos o mesmo (Mc 16:15; II Co 5:20).
Esta vocação externa é resistível (Mt 19:21,
22; 20:16; At 2:40, 41; 17:30-32), mas
imprescindível à vocação eficaz e sempre
precede esta (Rm 10:13-15).
A regeneração, por sua vez, é a obra do
Espírito Santo por meio da qual Ele
concede vida espiritual a um coração morto
e o purifica (Tt 3:5), por meio da Palavra de
Deus (I Pe 1:23; Tg 1:18). Trata-se de uma
operação absolutamente necessária (Jo
3:3-6; 6:44, 65) para que o pecador, morto
em seus delitos e pecados (Ef 2:1-3),
incapaz de compreender verdades
espirituais (I Co 2:14) e de mudar a si
mesmo (Jr 13:23), volte-se para Deus.
Na regeneração, o homem é o sujeito
passivo. Ela não ocorre por vontade
humana, mas pela livre decisão divina (Jo
1:12, 13; 3:8). É um "nascer de novo",
expressão que pode ser traduzida como
"nascer de cima" (Jo 3:3). O Novo
Testamento traz outros termos para
regeneração, referindo-se a essa mudança
operada pelo Espírito como "nova criação"
(II Co 5:17), iluminação (II Co 4:6) e
ressurreição (Ef 2:5; I Jo 3:14), expressões
que enfatizam tratar-se de uma obra
inteiramente divina.
Os resultados da regeneração podem ser
resumidos em termos de uma nova relação
com Deus. Há um novo "pendor", uma nova
tendência ou inclinação (Rm 8:6), quando
um novo e mais profundo e dominante
desejo da alma passa a ser o de servir e
amar a Deus (I Jo 2:29; 3:9; 4:7; 5:1, 4, 18).
Só é cristão verdadeiro quem nasceu de
novo, tornando-se habitação do Espírito
Santo (Rm 8:9).
Em termos humanos, o novo nascimento se
expressa em termos de conversão,
compreendida como a reação humana à
regeneração (I Ts 1:5-10), pela qual o
homem regenerado se volta para Deus em
arrependimento e fé (Is 55:7).
O Credo dos Apóstolos
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O Credo dos Apóstolos

  • 1. O CREDO APOSTÓLICO RESUMO Nos primeiros séculos da era cristã, desenvolveu-se uma declaração de fé que ficou amplamente conhecida como 'Credo dos Apóstolos', além de ter sido chamada também de 'a regra de fé', 'a regra da verdade', 'a tradição apostólica' e, mais tarde, 'o símbolo de fé'. O Credo não foi escrito pelos apóstolos, mas trata-se da mais antiga declaração de fé da igreja cristã que chegou até nós, cuja origem, segundo Justo L. González, "se acha nas lutas contra as heresias que tiveram lugar nos meados do segundo século". Pr. Ary Queiroz Jr
  • 2. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 2 Sumário 1 Introdução....................................................................................................................................3 2 O primeiro artigo: o Deus Criador ................................................................................................5 3 O segundo artigo: o Deus Redentor....................................................................................... 13 4 O Terceiro Artigo: O Deus Santificador.................................................................................. 32
  • 3. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 3 1 Introdução Nos primeiros séculos da era cristã, desenvolveu-se uma declaração de fé que ficou amplamente conhecida como 'Credo dos Apóstolos', além de ter sido chamada também de 'a regra de fé', 'a regra da verdade', 'a tradição apostólica' e, mais tarde, 'o símbolo de fé'. O Credo não foi escrito pelos apóstolos, mas trata-se da mais antiga declaração de fé da igreja cristã que chegou até nós, cuja origem, segundo Justo L. González, "se acha nas lutas contra as heresias que tiveram lugar nos meados do segundo século". Earle E. Cairns afirma que "Irineu e Tertuliano desenvolveram Regras de Fé para serem usadas na distinção entre Cristianismo e Gnosticismo" e funcionavam como sumários das principais doutrinas da Bíblia. Com efeito, no segundo século, homens como Irineu, Tertuliano e Hipólito já ofereciam confissões de fé semelhantes ao Credo. Todavia, a formulação original parece ter surgido em Roma por volta de 340 d.C. e Ambrósio foi o primeiro a dar ao documento o título de Credo dos Apóstolos. Eis a declaração usada no batismo por Rufino de Aquiléia, em c. de 390 d.C.: "Creio em Deus Pai onipotente e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria, que foi crucificado sob o poder de Pôncio Pilatos e sepultado, e ao terceiro dia ressurgiu da morte, que subiu ao céu e assentou à direita do Pai, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos. E no Espírito Santo, na santa Igreja, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna [omitido por Rufino]" (in Documentos da Igreja Cristã, H. Bettenson). Nos séculos VII e VIII, o Credo já era usado amplamente pelas igrejas da Gália (atual França) e Espanha, lugares de onde nos advém a versão final, cuja dicção é a que segue: “Creio em Deus, o Pai todo- poderoso, criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus; está assentado à direita de Deus Pai todo- poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, a santa Igreja católica, a comunhão dos santos, a remissão dos pecados, a ressurreição da carne e a vida eterna. Amém.”
  • 4. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 4 Os credos eram usados pelos cristãos dos primeiros séculos como um teste de ortodoxia e como um ato de adoração no culto público. Conforme anota Alister MacGrath, eles são importantes porque oferecem um breve resumo da fé cristã, permite o reconhecimento de versões incompletas do cristianismo e ressaltam que crer é pertencer à comunidade da fé, ao corpo de Jesus Cristo, a Igreja. MacGrath afirma que “ao estudá-lo, você está se lembrando dos muitos homens e mulheres que o usaram antes de você. Ele lhe dá um senso de história e perspectiva. Enfatiza que você não é a única pessoa a depositar a confiança em Jesus Cristo”. Pois bem, a partir desse ponto passaremos a tecer breves notas ao Credo dos Apóstolos, segundo a versão recebida.
  • 5. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 5 2 O primeiro artigo: o Deus Criador Creio em Deus, o Pai todo-poderoso, criador dos céus e da terra. 1. "Creio". Tão logo começaram a surgir as heresias no seio da Igreja, o Espírito de Deus a conduziu a professar sua fé de modo sucinto e claro: nasce um “credo”. “Credo” é uma declaração concisa, composta de afirmações consistentes daquilo que o cristão deve crer e confessar, e em geral destinada ao uso público. Os credos sempre começam com expressões do tipo ”credo” ou “credemus” (“eu creio” ou “nós cremos”), porquanto representam a resposta humana à revelação divina. Lloyd-Jones percebeu argutamente que Deus conduziu a Igreja a concluir que "precisamos saber perfeitamente tanto o que devemos crer quanto o que não devemos crer". Com efeito, nem podemos chegar à Bíblia despidos de pressupostos firmes que dela mesma emanem. Nesse sentido, a conclusão da Igreja, segundo Lloyd-Jones, foi que "não é bastante que simplesmente apresentemos ao povo uma Bíblia aberta", isto porque "homens e mulheres perfeitamente sinceros, autênticos e capazes podem ler este livro e ainda dizer coisas que são completamente equivocadas". Portanto, "é preciso que definamos nossas doutrinas". Outra razão indiscutível para que adotemos os credos é que os cristãos precisam estar “sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança” que possuem (I Pe 3:15). Todo cristão precisa saber defender a sua fé (Fp 1:16). Isso, segundo Pedro, é estar pronto para oferecer as “razões da esperança”. O cristão foi regenerado para uma “viva esperança” (I Pe 1:3) e esta esperança não é destituída de razão, não é desarrazoada. Cumpre-lhe conhecê-la e estar pronto para apresentá-la. Os credos, nesse ponto, podem ser de grande valia. 2. "Creio em Deus". Trata-se de uma resposta da Igreja à auto-revelação de Deus. Nada poderia ser conhecido sobre Deus se Ele mesmo não tivesse Se revelado. Destarte, tudo quanto sabemos sobre Deus, sabemos por que Ele veio a nós através da Bíblia, o registro infalível da Sua revelação (I Ts 2:13; I Co 2:10-13). É na Escritura que Deus nos dá um retrato de Si. Embora esse retrato não contemple o Ser divino em Sua inteireza, ele é suficiente para nos manter distantes da ignorância e do erro e nos tornar sábios para a salvação (II Tm 3:14, 15).
  • 6. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 6 Se Deus não tivesse nos dado uma revelação especial – a Bíblia, a palavra escrita, e Cristo, a Palavra Viva -, teríamos tão somente a “revelação geral”. Por “revelação geral”, entende-se o que de Deus se pode conhecer em termos de Suas características gerais (divindade, poder, sabedoria, bondade, justiça), de forma constante e universal, através da criação (Sl 8:3, 4; 19:1-6; 93:1, 4; 104:24; Rm 1:18-20), da consciência (Rm 2:14, 15) e da história (At 17:26, 27), sendo tal conhecimento insuficiente para salvar (Rm 10:13-15; Jo 14:6; At 4:12; I Jo 5:11, 12), mas suficiente para condenar (Rm 1:20). Embora a luz da revelação geral seja clara, face ao pecado, o homem é incapaz de aproveitá-la. Ademais, a revelação geral não revela o suficiente sobre Deus, sobre o homem e sobre a redenção, estando a Igreja de Cristo sob a responsabilidade de pregar o evangelho ao mundo (Rm 10:13- 15). 3. "Creio em Deus, o Pai... e em Jesus Cristo... e no Espírito Santo". O Deus crido pelos cristãos, e que se revela na Bíblia, é o único Deus verdadeiro, vivo, pessoal e infinito (Dt 6:4; Jr 10:10; I Co 8:4), e que subsiste em três Pessoas distintas, da mesma substância e iguais em essência (Mt 3:16, 17; 28:19; II Co 13:13). O monoteísmo é afirmado em toda a Bíblia, sem significar que não haja diversidade na unidade do Ser de Deus. No Antigo Testamento, Dt 6:4 afirma que "Yahweh é um (heb. 'ehad')", sendo que a palavra 'ehad' é a mesma que descreve a união entre Adão e Eva (Gn 2:24). Da expressão "façamos o homem à nossa imagem e semelhança" (Gn 1:26), fica claro deduzir que "Deus conversou com alguém que era numericamente distinto e igualmente racional" (Justino de Roma). No Novo Testamento, nosso Senhor ratificou a tradição monoteísta de Israel (Dt 6:4 é citado em Mc 12:29; Dt 6:13 é citado em Mt 4:10; Mt 19:16-22; Mc 10:17-22), ao mesmo tempo em que afirmou a Sua divindade (Jo 17:5; Jo 8:24, 58 é uma referência a Ex 3:14) e aceitou adoração (Jo 20:28), tanto quanto falou sobre o Espírito Santo como um Ser pessoal, distinto, mas igual a Si em essência (Jo 14:16; 15:26). De modo semelhante, nos escritos de Paulo, a unidade é afirmada ao lado da diversidade (I Co 8:4-6; I Co 12:4-7; Ef 4:4-7). Portanto, o Deus em que cremos é o Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Cuidemos, pois, para não incorrermos na quebra do primeiro mandamento: "Não terás outros deuses diante de mim" (Ex 20:3). Como disse Martinho Lutero, "a fé [o Credo Apostólico] não passa de uma resposta, de uma
  • 7. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 7 confissão dos cristãos diante do primeiro mandamento". 4. “Creio em Deus”: Seus atributos. “Atributos” são perfeições essenciais do Ser divino, pertencentes igualmente às três pessoas divinas – ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Costuma-se distinguir entre “atributos incomunicáveis” e “atributos comunicáveis”. Os primeiros consistem daquelas características da divindade que somente Deus as possui e que afirmam a Sua “absoluta exaltação e incomparabilidade” (Herman Bavinck). Os “comunicáveis”, por sua vez, são aqueles atributos que Deus comunicou às suas criaturas racionais e que podemos ver refletidos nelas em certo grau e de forma limitada. Os atributos incomunicáveis são autoexistência (Ex 3:14; Jo 5:26; At 17:25), enquanto as criaturas têm existência derivada (At 17:24, 26-28); independência (Rm 11:36), enquanto as criaturas são sempre dependentes; simplicidade (Jo 5:26) e unidade (Dt 6:4, 5), enquanto as criaturas são compostas; imutabilidade (I Sm 15:29; Ml 3:6; Tg 1:17), enquanto as criaturas, porque imperfeitas, são mutáveis; e infinidade quanto tempo (eternidade; I Tm 6:16) e quanto ao espaço (onipresença ou imensidão; Sl 139:7-12), enquanto as criaturas estão sujeitas às limitações de tempo e espaço. Os atributos comunicáveis são vontade (Rm 9:18; 11:33-36; Dn 4:17, 25, 32, 35) e poder soberanos; conhecimento (onisciência) e sabedoria (Sl 139; Is 42:9; 46:9, 10; Jo 21:17; Rm 11:33); justiça (Gn 18:25; Sl 58:10, 11), santidade (Hc 1:13; Is 6), veracidade ou fidelidade (Dt 7:9; I Jo 1:9; Ap 6:10, 11 e 19:2); e amor (I Jo 4:8, 16), bondade (Mc 10:18; Sl 145:17), misericórdia (Lc 6:35, 36) e paciência (Rm 2:4; Na 1:3; Ne 9:17). 5. "Creio em Deus, o Pai". "Pai" (gr. 'pater') é o Nome da Primeira Pessoa da Trindade revelado de forma clara no Novo Testamento e que A distingue do Filho e do Espírito Santo. “Pai” - ressalte-se -, é o atributo pessoal da Primeira Pessoa da Trindade. Embora Deus seja, já no Antigo Testamento, chamado de Pai da nação de Israel (Ex 4:22, 23; Dt 14:1, 2; 32:5, 6; Os 11:1) e, no sentido de ser criador e sustentador das criaturas, seja Pai de todos os homens (At 17:26, 28), o ensino prevalecente do Novo Testamento é que Deus é o Pai do Senhor Jesus e o Pai dos filhos que adotou e regenerou, os salvos em Cristo. Sobre isso discorreremos com mais pormenores.
  • 8. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 8 6. Deus, o "Pai de nosso Senhor Jesus Cristo" (Ef 1:3). A relação paterno-filial entre Deus o Pai e Deus o Filho é única. Na Trindade, Deus é Pai em um sentido eterno, primordial e exclusivo do Filho. Dito de outro modo, Jesus Cristo é Filho de Deus o Pai de um modo como ninguém mais o é (Jo 1:18; 20:17). Quando em debate com os judeus, após o episódio do tanque de Betesda, nosso Senhor referiu-se a Deus como "Pai" de modo a deixar claro para os judeus que Ele afirmava ser da mesma essência da divindade (Jo 5:17, 18). Não satisfeito, nosso Senhor asseverou fazer as mesmas coisas que o Pai (Jo 5:19-22), tanto quanto ser digno da mesma honra (Jo 5:23). Ademais, vale observar que no evangelho de João, a palavra usada para Jesus como "filho" (gr. 'Uios') é diversa daquela usada para os discípulos como "filhos" (gr. 'teknon'). 7. "Pai nosso, que estás nos céus" (Mt 6:9). Os cristãos foram ensinados pelo Senhor Jesus Cristo a chamar Deus de "Pai nosso". Deus é nosso "Pai" em um sentido especial, diante do qual a paternidade de Israel era apenas uma figura, uma sombra. Trata-se de uma posição privilegiada, que não pertence a todos os membros da raça humana, mas tão somente aos crentes em Cristo. Nesse sentido, cumpre observar que nosso Senhor usa a expressão "vosso Pai" apenas quando está falando com os discípulos (Mt 5:44; 6:9; Lc 11:1, 2; Jo 20:17; Mt 7:11; Lc 11:13; Lc 12:22, 30). Quando o Senhor está tratando com as multidões, sua linguagem é diferente, como ocorre em Mt 12:50 ("Meu Pai"). Merece ser destacado ainda que a expressão "meus irmãos" é usada apenas em Sua relação com os discípulos (Jo 20:17; cf. Rm 8:29; Hb 2:11). 8. Filhos por "adoção" e por “regeneração. Para falar sobre a nossa filiação com Deus, o apóstolo Paulo usa o termo "adoção", um instituto do direito romano que permitia que um filho adotivo se tornasse herdeiro com todos os privilégios de um filho biológico. Para Paulo, os crentes em Cristo foram predestinados por Deus "para ele, para a adoção de filhos" (Ef 1:4); Cristo realizou Sua obra redentora para que os que estavam sob a maldição da lei, reduzidos à condição de escravos, recebessem a adoção de filhos (Gl 4:1-5); e, como resultado da obra de Cristo, o Espírito Santo foi dado para que os salvos recebessem esta posição honrosa de filhos e pudessem chamar "Aba, Pai!" (Gl 4:6, 7; cf. Rm 8:15). "Essas expressões [de Gl 4:6, a aramaica
  • 9. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 9 "abba" e a grega "pater"], como usadas por Paulo, possuem uma conotação de ternura, docilidade e proximidade de um pai com seus filhos" (Héber Carlos de Campos). O apóstolo João, a seu turno, demonstra a filiação dos salvos em Cristo por outro ângulo, ensinando que somos filhos por "regeneração". Regeneração é a ação do Espírito de Deus no coração do pecador que muda a sua disposição interior, tornando-o inclinado à santidade. Esse aspecto da nossa filiação pontua que tudo não se resume a uma posição legal (adoção), a uma condição de filhos, mas, antes, que de uma maneira muito real Deus implantou Sua natureza em nós, que se manifesta em termos de comportamento semelhante ao dEle, a partir de uma transformação no caráter (I Jo 2:29; 3:1-10; Jo 1:12, 13). 9. "Creio em Deus, o Pai todo-poderoso". O atributo de Deus que a antiga declaração destaca é a “onipotência”. Por “poder de Deus”, se entende a capacidade divina para fazer tudo quanto deseja. Deus pode fazer tudo que resolveu que faria (Ef 1:11) tanto quanto aquilo que não fará (Mt 3:9; 26:53, 54), sem sofrer ou submeter-se a quaisquer limitações, de quaisquer ordens, salvo as que emanam da Sua própria vontade. Assim, onipotência é o poder que Deus possui para levar a termo tudo quanto a Sua mui sábia e santa vontade tenha decretado (Ap 4:11), cuja manifestação resta estampada nas obras da criação (Jr 32:17; Sl 150:1; Rm 1:20), da providência (Sl 36:6; Mt 8:31) e da redenção (Mt 19:23-26; Ef 1:19-21 2:5, 6). Com efeito, o atributo da onipotência é tão indissociável da divindade que o vocabulo "poder" é usado como um nome para "Deus" em Mc 14:62 (lit. "...vereis o Filho do homem assentado à direita do Poder..."). Quando a Bíblia afirma que Deus não pode ser tentado (Tg 1:13), mentir (Hb 6:18), ser infiel (II Tm 2:13), como também não pode morrer, pecar ou negar a Sua própria divindade, isso apenas demonstra - longe de ser indício de fraqueza - que o poder de Deus age em consonância com o Seu ser e em harmonia com o Seu caráter. 10."Creio em Deus... criador do céu e da terra". Ferreira e Myatt observam como é "significativo que num documento tão curto, a criação" tenha sido "considerada claramente importante para ser incluída", e concluem que "nosso entendimento da doutrina da criação é importante por causa de sua relação com outras áreas da doutrina cristã". De fato, diversas afirmações de Moisés, do Senhor Jesus e dos apóstolos tomaram por
  • 10. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 10 base a historicidade da narrativa da criação (Ex 20:8-11; Mt 19:4-6; 24:37; Lc 11:51; Rm 5:12-21; I Co 15:45; I Tm 2:13, 14). Da narrativa bíblica da criação (Gn 1:1), portanto, depreende-se tratar-se de um evento histórico (Sl 136), realizada por um ato inteiramente livre (At 17:24, 25; Ef 1:11; Ap 4:11) do Deus TriUno (I Co 8:6; Jo 1:3, 10; Hb 1:2; Gn 1:2; Sl 104:30; Is 40:12, 13), a partir do nada, isto é, sem matéria pré- existente ou ex nihilo (Hb 11:3) e para a Sua própria glória (Sl 19:1). Ademais, devemos ainda considerar, sobretudo com base na criação ex nihilo fortemente sugerida em Gn 1:1, que há uma absoluta distinção entre o Criador e a criatura. Por um lado, tudo que veio a existir derivou sua existência de Deus (Cl 1:16) e é por Ele sustentado (Cl 1:17; Hb 1:3); por outro, a criação não é uma emanação do próprio Deus, como se parte da substância do Ser divino apenas tivesse mudado de estado. Pelo exposto, conclui-se que a criação nem pode ser adorada, porque não é parte do Ser de Deus (Rm 1:18-25), nem desprezada, como se fosse má em si mesma, já que derivou de Deus (Gn 1:4, 10, 12, 18, 21, 25, 30, 31), tampouco destruída, porque foi-nos dada para que seus recursos fossem por nós conhecidos, controlados e usados, não esgotados e destruídos (Gn 1:28; 2:15, 19, 20). Finalmente, lembramos que o plano do Criador inclui a redenção da criação, que ora sujeita-se ao cativeiro do pecado (Rm 8:20, 21), para que participe da futura glória dos redimidos (Ap 21:5). 11.O relacionamento entre Deus e a criação: a imanência e a transcendência. O Deus que Se revela nas Escrituras é tanto imanente quanto transcendente, quando visto em Sua relação com aquilo que criou. Explique-se. Chama-se "imanência" o fato de que Deus se envolve, faz-se presente e intervém nos assuntos da Sua criação (Jr 23:24), sobretudo naqueles relacionados com os salvos em Cristo (Ex 3:7, 8; Mt 1:23; Hb 2:14). "Transcendência", a seu turno, é a noção de Deus como estando totalmente separado, independente, sobre e para além da Sua criação (Jó 11:7; Is 55:8, 9). É necessário, pois, mantermos em mente, lado a lado, a transcendência e a imanência de Deus, "que creiamos em um Deus separado dos homens, santo, distinto dos pecadores, mas também em um Deus que se revela e se envolve com o universo por ele criado" (Héber Carlos de Campos). São inúmeras as passagens das Escrituras que destacam a imanência e a
  • 11. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 11 transcendência de Deus lado a lado (Is 6:1- 5; Sl 113:5-7; Is 57:15; Mt 6:9; Jo 8:23) . Destarte, Deus é "Pai" e "todo-poderoso"; é pessoal e infinito; é o Deus conosco e o Altíssimo; está presente na criação, embora seja totalmente distinto dela; é imanente e transcendente. Negar a transcendência de Deus é uma forma odiosa de humanizá-lO, de rebaixá-lO à simples condição de homem. Negar a Sua imanência é um modo igualmente horrendo de negar o Seu envolvimento amoroso com os homens que adotou por filhos, Sua personalidade e Sua providência. 12.A Providência. Após os seis dias da criação, Deus descansou (Gn 2:2; Ex 20:11; 31:17). O descanso de Deus indica que Ele parou de produzir novos tipos de coisas (Ec 1:9, 10), a partir do nada, e Se alegrou na obra da criação. Entretanto, depois de haver criado, Deus não parou de trabalhar (Jo 5:17), mas iniciou a obra da “providência”. “Providência” é o ato de Deus pelo qual Ele, em todo o instante, preserva e governa todas as coisas, concorrendo com as causas secundárias, de modo a conduzir toda a criação ao fim por Ele desejado desde a eternidade. Do conceito, exsurge que a providência abrange três aspectos, quais sejam: a preservação, a concorrência e o governo. Por “preservação”, entende-se que nada existe à parte de Deus (At 17:28; Cl 1:17). Antes, tudo existe da parte de Deus, por Deus e para Deus. Em nenhum sentido, Deus nunca é apenas um observador passivo. “Uma criatura é, por definição, de si mesma, um ser completamente dependente: aquilo que não existe de si não pode existir por si” (Herman Bavinck). Portanto, nada fica fora da providência ou dela prescinde (Mt 10:29, 30; 6:26, 28; Sl 147:9). “Concorrência”, a seu turno, é a realidade pela qual Deus sustenta as criaturas da criação à consumação, ao objetivo final, trabalhando com elas como causas secundárias. Estas causas secundárias nem agem completamente livres ou independentemente nem são meros instrumentos ou marionetes. Elas são causas verdadeiras, mas que agem sob a dependência do Deus Soberano (Fp 2:13). A título de exemplo, pode-se afirmar que Deus não foi o autor imediato da morte de Cristo, que é certo que as causas secundárias agiram de fato, mas, por outro lado, apenas cumpriram o decreto de Deus (At 2:23; 4:27, 28). “Governo”, finalmente, refere-se à providência examinada com vistas ao objetivo final. Deus é o Rei em sentido
  • 12. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 12 pleno da palavra (I Tm 6:15; Ap 19:16). Seu reino abrange todo o universo (Zc 14:9), e inclui todas as coisas e todos os seres, bons e maus. Quanto ao pecado, a Bíblia ensina que Deus odeia o pecado (Hb 1:13; Tg 1:13), mas também que o pecado está sujeito ao Seu governo. O testemunho das Escrituras é que Deus entrega pessoas aos seus pecados (Sl 81:12; Rm 1:24, 26, 28; At 14:16), que Deus endurece e cega certas pessoas (Ex 4:21; 7:3; 9:12; 10:20, 27; 11:10; 14:4; Dt 2:30; Js 11:19), que Deus usa espíritos maus (I Sm 16:14; I Rs 22:23; II Cr 18:22; II Sm 24:1; I Cr 21:1; Jó 1, 2) e muda o coração de certas pessoas para que se tornem desobedientes (I Sm 2:25; I Rs 12:15; II Cr 25:20; II Sm 16:10). A doutrina da providência é consequência necessária do fato que Deus é soberano, por isso mesmo é fonte incomensurável de segurança para o crente. Como anotaram ferreira e Myatt, ela “nos leva a confiar que criatura alguma pode nos separar do amor de Deus. Além de ser soberano, Deus também é amor. E as coisas que Ele faz são motivadas pelo amor que ele tem por seu povo”. 13.Conclusão ao Primeiro Antigo. Do exposto, o primeiro artigo do antigo "símbolo de fé" exorta-nos a crer no Deus que Se revela nas Escrituras, o Deus Trino, com destaque ao "Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra". Seu nome - "Pai" - nos remete à filiação eterna, essencial e primordial de Jesus Cristo e ao relacionamento especial que Ele tem com os filhos que adotou e regenerou. O atributo da onipotência nos relembra Seu governo soberano sobre todas as coisas que criou com o Seu mui sábio, puro e livre conselho. Crês tu em Deus, o Pai todo- poderoso, criador do céu e da terra?
  • 13. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 13 3 O segundo artigo: o Deus Redentor E em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus; está assentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. 14.Introdução ao Segundo Artigo. O segundo artigo do Credo dedica-se ao Deus Salvador. Por certo, duas realidades sobre o homem estão pressupostas, sem as quais não teríamos a razão subjacente desta cláusula em apreço, quais sejam: primeiro, que o homem foi criado por Deus, embora esse fato não tenha sido mencionado especificamente no artigo anterior. O motivo de tal omissão está no fato de que Deus tem a primazia, e não o homem. Segundo, que o homem, tendo sido criado perfeito em seu estado original (Gn 1:31; Ec 7:29), desobedeceu ao mandado do Criador (Gn 2:16, 17; 3:6) e decaiu ao estado de completa ruína e afastamento de Deus, tendo o seu pecado e sua consequência, a morte, passado a todos os homens (Rm 5:12). Eis a razão pela qual as Escrituras descrevem o homem em seu tríplice estado de morte, escravidão e condenação (Ef 2:1- 3; Jo 8:34). A condição pecaminosa da humanidade costuma ser expressa nas Escrituras por meio de três palavras: transgressão, iniquidade e pecado (Sl 51:1, 2). "Transgressão" (heb. "pesha"; gr. "paraptoma") denota o estado de rebelião e de insubordinação em que o homem se encontra em relação a Deus (ver a palavra em I Rs 12:19). "Iniquidade" (heb. "awon"; gr. "adikia") traduz a ideia de perversidade e corrupção interiores. "Pecado" (heb. "hatta"; gr. "hamartia") significa errar o alvo, perder o caminho, um lapso que encerra o melhor do homem na mais completa insuficiência em agradar o Criador (ver a palavra em Jz 20:16). Reunidas, estas palavras comunicam que tudo o que o homem faz e tudo o que ele é, e isto no que pode haver de melhor, o torna objeto da ira e do desagrado de Deus. O pecado corrompeu todas as faculdades (Gn 6:5; 8:21) de todos os homens (Rm 3:9-18, 23), tornando todos os homens incapazes de fazer algum bem (Jr 13:23; Jo 15:4, 5), de querer algum bem (Rm 8:6-8; Jo 3:3; 5:40; 6:44, 65) e mesmo de entender algum bem (I Co 1:18-21; 2:6-8, 14; I Jo 4:5, 6). Pois bem, de maneira breve, eis a condição de todos os homens, que os faz
  • 14. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 14 absolutamente necessitados do Deus Redentor (Mt 1:21). 15."E em Jesus Cristo". A nossa palavra portuguesa "Jesus" é uma transliteração da palavra latina, que deriva-se da palavra grega "Iesous", uma forma helenizada do nome hebraico "Ieshua" ("Yahweh salvará"), que, por sua vez, é uma forma abreviada do hebraico "Iehoshua" ("Yahweh é salvação"). Tanto José (Mt 1:21) quanto Maria (Lc 1:31) recebem ordem específica quanto ao nome pessoal do Salvador. Ao nome pessoal, acrescenta-se o título "Cristo", a forma grega do hebraico "Messias", palavras que significam "Ungido". O título "Cristo" ("Ungido") O distingue como Aquele que foi ungido (separado, habilitado) pelo Espírito Santo (Mt 3:16) para o exercício dos ofícios de profeta (Dt 18:15; At 3:22; 7:37), sacerdote (Sl 110:4; Hb 7:15-19, 26-28; 10:12, 14) e rei (Sl 2:6; Mt 21:5; Lc 1:33). A princípio, o nome pessoal "Jesus" estava relacionado com o título "Cristo" em termos de uma confissão basilar e inegociável da Igreja (Mt 16:16; Jo 20:30, 31; At 5:42; I Jo 2:22), para, em seguida, tornarem-se, o nome e o título, um nome confessional, "um só e glorioso nome dado ao nosso Salvador" (W. Hendriksen). Jesus Cristo é o tema central das Escrituras (Jo 5:39; Lc 24:27, 44). Todo o Antigo Testamento aponta para Cristo em perspectiva, em promessa (Rm 10:4); e todo o Novo Testamento remonta à Cristo, o cumprimento das promessas (II Co 1:20). 16.Outros títulos atribuídos ao Salvador. Os autores do Novo Testamento atribuíram ainda outros títulos divinos a Jesus Cristo. Ele foi chamado "Deus" (Mt 1:23; Jo 1:1; Rm 9:5; Tt 2:13) e "Senhor" (Jo 20:28), "Filho de Deus" (Jo 1:18; 3:16, 18) e "Filho do Homem" (Mt 24:30, 31). O título “Senhor” (gr. "Kyrios") é altamente significativo, visto ser ele utilizado em muitas ocorrências no Novo Testamento como uma tradução do nome pessoal de Deus tal qual revelado a Moisés, o tetragrama YHWH (Yahweh), nas quais é aplicado a Jesus Cristo (Jl 2:31, 32 é citado em At 2:20, 21 e em Rm 10:13; Is 8:13 é citado em I Pe 3:15). O título "Filho de Deus" destaca a natureza divina de Jesus Cristo e o Seu relacionamento ímpar com o Pai (Jo 1:18; 20:17). Enquanto o título "Filho do homem" é o que Jesus atribuiu a Si mesmo. Nunca Ele é chamado "Filho do homem" pelos discípulos. Trata-se de uma alusão à própria divindade, segundo a percepção
  • 15. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 15 judaica dos dias do Senhor (Jo 9:35-38; 12:23, 34; cf. Dn 7:13, 14). Acrescente-se aquele grande título "Verbo" (gr. "Logos"), encontrado exclusivamente na literatura joanina (Jo 1:1, 14; I Jo 1:1; Ap 19:13), que aponta para a divindade e para a pré-existência de Jesus Cristo. Esse título identifica a Jesus Cristo como a Pessoa da Divindade que A comunica, que A torna conhecida. A propósito de Jo 1:1 (“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”), George Eldon Ladd anotou que "o Verbo era a divindade, mas não era completamente igual à divindade. O artigo definido somente é utilizado com o vocábulo logos [Verbo]. Se João tivesse utilizado o artigo definido também com o vocábulo theos [Deus], teria dito que tudo que Deus é, o logos também é: uma identidade exclusiva. Da forma como está, ele está declarando que tudo o que o Verbo é, Deus é; porém ele implica em que Deus seja mais do que o Verbo". 17."E (Creio) em Jesus Cristo, seu único Filho". Já tecemos alguns comentários sobre a relação paterno-filial entre Deus o Pai e Deus o Filho. Nesse passo, desejamos ressaltar o fato de que esta relação é eterna. É dizer, Deus o Pai é o eternamente Pai de Jesus Cristo e Deus o Filho é o eternamente gerado do Pai. Não houve um momento em que o Pai não tenha estado com o Filho, enquanto tal. Afirmar o inverso seria dizer que o Pai nem sempre foi Pai. Esta afirmação quanto à filiação eterna do Senhor Jesus importa em duas verdades indissociáveis: primeiro, que há uma subordinação funcional (ou "econômica") na "Trindade Econômica". Por "Trindade Econômica" entende-se a maneira como o Pai, o Filho e o Espírito manifestam-Se em Suas operações extra trinitárias, para com o mundo criado, nas obras da criação, da providência e da redenção (opera ad extra). Nesse sentido (econômico, administrativo, funcional), o Filho está subordinado ao Pai (Jo 14:28), é enviado pelo Pai (Jo 7:29), obedece a vontade do Pai (Jo 4:34; 14:31), fala as palavras do Pai (Jo 14:24), recebe herança do Pai (Jo 16:15), ora ao Pai (Jo 14:16) e realiza todas as coisas para a glória do Pai (Jo 17:1; 12:28), com a autoridade que recebeu do Pai (Jo 17:2) e que, por fim, devolverá ao Pai (I Co 15:28). A segunda verdade decorrente da filiação eterna é a igualdade essencial que existe entre o Pai e o Filho na "Trindade Ontológica", termo que designa o Ser essencial da Trindade, o que Deus é em essência e a maneira relacional intra trinitária. Nesse aspecto, o termo "Unigênito" (Jo 1:14, 18; 3:16, 18; I Jo 4:9)
  • 16. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 16 sugere igualdade de essência entre o Pai e o Filho e a geração eterna de Jesus Cristo. Semelhantemente, a expressão "seu próprio Filho" (Rm 8:3, 32) implica numa filiação ímpar, peculiar, que ninguém mais possui, porque o Filho não deriva de um ato criador nem de uma adoção no tempo. Se o Filho tivesse sido "criado", Ele possuiria necessariamente uma natureza diversa da do Pai. Daí afirmarem as Escrituras que Ele é o único gerado (o Unigênito) do Pai, termo que remete à ideia de consubstancialidade, de identidade de essência e, portanto, da divindade do Senhor Jesus. Do exposto, conclui-se que a subordinação funcional (própria da "Trindade Econômica") não implica em subordinação de essência (ligada à "Trindade Ontológica"), tanto que o próprio Senhor afirmou que "eu e o Pai somos um" (Jo 10:30) e que "quem vê a mim, vê o Pai" (Jo 14:9). Com efeito, Jesus Cristo só é o Verbo - a Pessoa da Divindade que comunica o Pai - por ser o Filho. Somente o "Unigênito", Aquele único Ente que é da essência do Pai, "que está no seio do Pai", poderia revelar o Pai (Jo 1:18). No dizer de F. F. Bruce, "somente alguém que conhece completamente o Pai pode torná-lo totalmente conhecido" (Mt 11:27; Lc 10:22). 18."E (Creio) em Jesus Cristo..., nosso Senhor". Aqui, nós temos o núcleo do credo: "Jesus Cristo, nosso Senhor". A confissão de Jesus como Senhor é o fruto perene da fé (Rm 10:9, 10). Como disse Calvino, "ninguém pode crer com o coração sem confessar com a boca". Esta confissão ("Jesus é Senhor"), segundo o apóstolo Paulo, ninguém pode fazê-la, senão "no Espírito Santo" (I Co 12:3). É somente pelas operações do Espírito que uma pessoa pode genuinamente confessar a Cristo como Senhor, sem que tal confissão não seja mera palavra vazia ou zombaria (Mt 7:21-23; Lc 6:46), mas fruto de uma fé genuína, a ponto de ser mantida mesmo diante de atrozes perseguições (Mt 10:16- 20, 32, 33; I Pe 3:13-16). Por ora, somente os salvos são capazes de reconhecer e confessar que Cristo governa todas as coisas para o interesse do Seu povo. Mas haverá um dia, quando do Seu regresso em glória, que todo o joelho se dobrará perante Jesus Cristo e toda língua confessará que Ele é Senhor (Fp 2:10, 11). Todavia, devemos observar com Hendriksen que estas confissões terão naturezas distintas: "Os anjos e os seres humanos redimidos farão isso com intenso regozijo; os condenados farão isso com profunda tristeza e profundo remorso (não com genuíno arrependimento)... Mas tão intensa será sua glória que todos se sentirão impelidos a render-lhe homenagem".
  • 17. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 17 19."... Jesus Cristo... foi concebido... nasceu... padeceu... foi crucificado, morto e sepultado... ressuscitou... está assentado à direita de Deus... de onde virá...": a carreira do Salvador. O Credo descreve a carreira do Salvador com inteireza e concisão impressionantes. A posse da plena divindade de Jesus Cristo "já bastaria para mostrar-nos que o Filho de Deus era glorioso e feliz eternamente; mas, podemos depreender a mesma verdade pela linguagem das Escrituras" (John L. Dagg). Com efeito, o próprio Senhor Jesus mencionou a glória que teve junto com o Pai, no "princípio", glória que em breve seria retomada (Jo 17:5). O apóstolo Paulo refere-se à glória eterna e pré-encarnada de Jesus Cristo com as expressões "sendo rico, se fez pobre" (II Co 8:9) e "subsistindo na forma de Deus... a si mesmo se esvaziou" (Fp 2:6a, 7a). Nesse mesmo sentido, a Escritura diz que o "Deus Unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou" (Jo 1:18) e que a Sabedoria "... estava com ele, dia após dia" e que "era as suas delícias, folgando perante ele em todo o tempo" (Pv 8:30). Com efeito, Ele é o "Senhor da glória" (I Co 2:8; Tg 2:1). Entretanto, nosso Senhor ingressou em sua fase de humilhação, assumindo a natureza humana. O texto paulino de Fp 2:5-11 é de leitura obrigatória nesse ponto de nossas notas. Paulo diz que Cristo, "subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus, antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo" (Fp 2:6, 7a). Hendriksen observa que a mudança de vocábulo, nessa frase, de "morfê" (gr. "forma" de Deus) para "schema" (gr. "forma" de servo), pode ser significativa. "Morfê" parece indicar aquilo que é "anterior, essencial ou permanente na natureza de uma pessoa ou coisa", e, no caso, implica em que Cristo é, sempre foi e continuará sendo verdadeiro Deus. "Schema" ("condição"), por outro lado, indica aquilo que é "externo, acidental ou aparente" e, no contexto, talvez aponte ao fato que a "condição" humana de nosso Senhor é que foi o elemento "acidental", ocorrido na história. De todo modo, Paulo afirma que Cristo não se apegou à Sua "forma" de Deus como motivo para não assumir a "forma" de servo. Cristo assumiu a verdadeira humanidade (Fp 2:7b, 8a) e, como homem de dores (Is 53:3), viveu uma vida obediente ao Pai, cheia de angústias e fadigas, até que chegou ao ponto mais baixo da sua obediente humilhação: a morte de cruz (Fp 2:8b). Ao terceiro dia, nosso Senhor adentrou à fase de Sua exaltação, ressuscitando dentre
  • 18. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 18 os mortos, retomando Seu governo sobre o cosmo e ascendendo aos céus, investido no domínio absoluto sobre toda a criação. "Pelo que Deus o exaltou sobremaneira" (Fp 2:9a). Socorremo-nos outra vez de Hendriksen, quando observa que o verbo "exaltar (sobremaneira)" ocorre somente nesse texto e significa "superexaltar", "exaltar ao máximo", para afirmar que "Sua superexaltação significa que ele [Cristo] recebeu o lugar de honra e majestade, e consequentemente está assentado 'à mão direita do trono de Deus'... Ressurreição, ascensão, coroação ('assentou-se' à mão direita de Deus), tudo está implícito e incluído na declaração: 'Pelo que também Deus o exaltou ao máximo'". Entretanto, toda a fase da exaltação de Cristo não terá sido concluída até que Seu senhorio seja universalmente reconhecido, o que se dará somente em Sua vinda em glória (Fp 2:10, 11). 20."Concebido pelo Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria": a necessidade da encarnação. A encarnação, à luz do que dito na nota anterior, é Deus o Filho deixando a glória que gozava junto com o Pai (Jo 17:5) e entrando na história humana, mas o fazendo não como uma espécie de "teofania" (uma aparição pré- encarnada de Deus, em forma humana transitória, como se dá em Gn 18:1, 2, 10, 13, 17, 20, 22; 22:11, 15-17; Jz 6:11, 14, 16), mas, ao contrário, assumindo a verdadeira humanidade. A encarnação do Verbo surgiu de uma fonte dupla: por um lado, da natureza hedionda do pecado. Como afirmou Irineu, "se a carne não necessitasse ser salva, o Verbo de Deus de modo algum teria sido feito carne". Nesse mesmo sentido, Agostinho: "Não há nenhuma causa para a vinda de Cristo, o Senhor, exceto para salvar pecadores". Por outro lado, a encarnação decorre do decreto de Deus de salvar pecadores. É certo que "Deus não estava debaixo da obrigação de salvar pecadores, mas como, pela sua bondade, ele resolveu salvá-los, ficou debaixo da sua própria determinação de proporcionar o meio para que isso acontecesse. Esse meio foi a encarnação do Verbo" (Héber Carlos de Campos). Cristo, o Salvador, deveria vir, segundo o decreto de Deus. Entretanto, a validade do que Cristo fez dependeria de Sua encarnação. O Verbo deveria assumir a verdadeira humanidade. Valemo-nos outra vez de Héber Carlos de Campos: "A redenção somente foi possível porque houve o pagamento de substituição feito por um Redentor que é igual, em natureza, aos substituídos". Noutro dizer, o Salvador deveria ser um membro da parte devedora,
  • 19. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 19 mas inculpável. Por isso, Ele se fez vero homem para ser nosso Substituto e um Sacerdote adequado tanto no sacrifício de Si (I Tm 2:5; Hb 2:17) como na intercessão que faria por aqueles que substituiu (I Jo 2:1; Rm 8:34; Jo 17). Eis a razão pela qual o teste da confissão na encarnação de Cristo deveria ser imposto a quem alegasse estar falando em nome de Deus (I Jo 4:1-3; I Tm 2:5). 21."Concebido pelo Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria": A concepção e o nascimento virginais. O profeta Isaías (Is 7:14) predisse o nascimento virginal do Redentor. No contexto imediato, o texto refere-se a um sinal que Deus daria a Acaz, rei de Judá, no sentido de que Israel e Síria não subjugariam sua nação. O profeta anuncia que uma jovem moça (heb. "almah") daria à luz um filho e lhe chamaria "Imanuel". A septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento) traduziu o vocábulo hebraico "almah" para o grego "parthenos" (virgem) e Mateus aplicou a passagem ao tipo de concepção do Messias. O Novo Testamento é absolutamente claro quanto à concepção virginal do Salvador (Lc 1:35; Mt 1:18). A reação de Maria ao anúncio do anjo Gabriel indica que ela entendia a impossibilidade natural de uma virgem conceber (Lc 1:34, 35). José, por sua vez, ante a gravidez inesperada de sua esposa-noiva, decidiu deixá-la secretamente (Mt 1:19), e só abandonou o plano por haver sido persuadido pela revelação angélica por meio de sonho (Mt 1:20-24). Sem sombra de dúvida, a impecabilidade do Salvador decorre da atuação do Espírito Santo em Sua concepção. Lado outro, não admitimos que Sua natureza humana não contaminada pelo pecado tenha decorrido, necessariamente, da não participação de José no processo, sob pena de admitirmos que a transmissão do pecado dá-se tão somente pelo macho, o que seria uma conclusão deveras equivocada (Sl 51:5). Ademais, destacamos que a concepção e o nascimento virginais destacam a qualidade, a excelência, a sublimidade da Pessoa de Jesus Cristo (Lc 1:35), indica que o "ente santo" que a virgem concebeu é o Filho de Deus de uma maneira absolutamente diferenciada e que a salvação é uma obra inteiramente divina, que ocorre sem qualquer participação humana, mas unicamente pela graça de Deus. Finalmente, devemos ainda observar que após Maria ter dado à luz o Filho de Deus segundo a carne, ela viveu com José uma vida conjugal normal. O evangelista Mateus escreve: “Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher. Contudo, não a
  • 20. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 20 conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus” (Mt 1:24, 25, com grifo nosso). O texto deixa claro que o casal se absteve de relações sexuais durante a gravidez e que tal abstinência perdurou até que Maria desse à luz a Jesus Cristo. O Novo Testamento é claro em afirmar que Jesus teve irmãos e irmãs, como se pode concluir da simples leitura de Mt 12:46, 47; Mc 3:31, 32; 6:3; Lc 8:19, 20; Jo 2:12; 7:3, 5, 10; At 1:14, além de falar de Jesus como o “Unigênito” de Deus (Jo 1:18), mas, por outro lado, como o “primogênito” de Maria (Lc 2:7). 22.“Nasceu da Virgem Maria”: a "kenosis" e a dupla natureza do Salvador. Não é possível falar em encarnação sem considerar alguma teoria sobre a "kenosis" (ou "esvaziamento") do Salvador, "pois ele, subsistindo em forma de Deus... a se mesmo se esvaziou (gr. "ekenosen")" (Fp 2:6a, 7a). Considerando negativamente, "kenosis" não significa que na encarnação Jesus Cristo deixou de ser Deus, abandonando a Sua "forma de Deus". "Ele assumiu a forma de servo enquanto que, ao mesmo tempo, conservava a forma de Deus! E isso é precisamente o que torna nossa salvação possível e exequível" (Hendriksen). Com efeito, se a validade da nossa salvação depende da plena humanidade do Salvador, como antes percebemos, a eficácia dela depende da Sua plena divindade. Quem, senão Deus, poderia satisfazer a justiça de Deus, vindicar plenamente as exigências do Deus Santo, esgotar a ira infinita de Deus, que demandaria nada menos que a punição eterna de pecadores, e conquistar a vida eterna para o povo de Deus, fazendo tudo isto em um único ato sacrificial? Jesus Cristo só pode, em um único sacrifício, conquistar tão grande salvação, porque a Sua vida tem valor infinito. O sacrifício de Sua pessoa santíssima e digníssima pode sobejamente substituir uma eternidade de punição de tantas pessoas quantas Deus quisesse salvar (Hb 7:23-27; 9:11-14, 23-26; 10:3-14). "Mesmo em sua morte, ele teve que ser o poderoso Deus, a fim de, por sua morte, conquistar a morte" (Lenski, citado por Hendriksen). "Kenosis" também não significa que Jesus Cristo tenha perdido quaisquer dos atributos divinos. A encarnação concedeu à Pessoa do Salvador duas naturezas, sendo que ambas mantiveram as suas respectivas qualidades. Assim, Jesus Cristo possuía todos os atributos da divindade e todos os atributos da humanidade, sendo que ambas as naturezas permaneceram distintas uma
  • 21. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 21 da outra e na mesma Pessoa de Jesus Cristo. Em seu famoso Tomo a Flaviano, escrito em 13 de junho de 449, Leão destacou: “Cada natureza [a de Deus e a de servo] realiza suas próprias funções em comunhão com a outra. O Verbo faz o que é próprio ao Verbo; a carne faz o que é próprio à carne; um fulgura com milagres; o outro submete- se às injúrias. Assim como o Verbo não deixa de morar na glória do Pai, assim a carne não deixa de pertenceu ao gênero humano... Portanto, não cabe a ambas as naturezas dizerem: ‘O Pai é maior do que eu’ [Jo 14:28] ou ‘Eu e o Pai somos um’ [Jo 10:30]” (in Documentos da Igreja Cristã, Bettenson). Na lição de Héber Carlos de Campos, "a natureza humana de Cristo sempre permaneceu humana e a divina sempre permaneceu divina. Nunca uma natureza foi capaz de agir segundo a outra. Os predicados do corpo e da alma permaneceram próprios da natureza humana, assim como os predicados da onipresença, onisciência e onipotência permaneceram próprios da natureza divina". É dizer, a encarnação fez de Jesus Cristo uma Pessoa absolutamente singular, e de uma vez por todas. Ele é perfeito Deus (Cl 1:15-17; Jo 8:58) e perfeito homem (Jo 19:28; 11:35; Mt 26:37, 38), possui a substância divina e a substância humana. Ele é o Filho Unigênito de Deus e o Filho primogênito de Maria (Is 7:14; 9:6; Hb 2:14; Jo 1:4, 14; Cl 2:9; At 3:15; 20:28; I Co 2:8). Conforme a definição de Calcedônia (em 451), Cristo é “perfeito quanto à divindade e perfeito quanto à humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo; consubstancial ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade...”. Positivamente, "Kenosis" implica em que o Redentor consentiu em não revelar-Se em todo o fulgor da Sua glória divina, em não exibir ininterrupta e inequivocamente os atributos que são próprios da divindade. Sobre isso, Héber Carlos de Campos escreveu: "a sua glória foi vista, mas apenas de maneira muito discreta. Em todos os seus sinais houve algum tipo de manifestação da glória divina, mas de modo que o Verbo encarnado ainda se apresentava 'esvaziado', sem a plenitude da sua glória" (Jo 1:14). 23."Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado". Chegamos ao âmago de toda a mensagem bíblica. Aqui está o cerne do evangelho, o centro de toda a Escritura. A cruz é o propósito primordial da encarnação. Com
  • 22. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 22 efeito, o Senhor Jesus nasceu para morrer (Jo 12:27). A menção do antigo Credo a Pôncio Pilatos pretende localizar os eventos salvadores na história. Nosso Senhor nasceu, viveu, morreu e ressuscitou em nossa história. Sua morte decorre, por um lado, do caráter santo e justo de Deus, que não pode simplesmente ignorar a existência do pecado (Gn 18:25; Ex 34:7; Na 1:3), e, por outro, da condição pecaminosa em que se encontra a raça humana. O pecado, porque Deus é santo e justo, precisava ser punido. Entretanto, por ser amoroso, Deus proveu um Substituto adequado, cuja vida mais que valiosíssima suportaria toda a ira divina em Sua morte, para que Deus, perdoando-nos, não negasse Sua santidade e Sua justiça (Rm 3:21-26; 4:5). O quadro completo da relação entre o homem e Deus é que Este está sobre aquele tanto em ira como em amor, e a cruz é tanto a evidência do amor de Deus (Jo 3:16; Rm 5:8) quanto da Sua justiça (Mt 27:45, 46). A cruz é a punição aplicada por Deus (isso é justiça!) e recebida por Deus (isso é amor!). "Na cruz, a misericórdia e a ira se encontram. A santidade e a paz se beijam. A cruz é o clímax da história da redenção" (D. A. Carson). No Antigo Testamento, a morte substitutiva e penal do Salvador foi anunciada logo após a entrada do pecado no mundo, em Gn 3:15. Esse texto assegura a vitória do descendente da mulher exatamente no momento em que é ferido no calcanhar. É quando fere o descendente da mulher que a serpente é mortalmente ferida, um vislumbre maravilhoso de que Cristo venceria em Sua morte. A ideia de sacrifícios para remover o pecado foi logo ensinada (Gn 3:21; 4:4), princípio que permaneceu entre os patriarcas (Gn 8:20; 12:7, 8; 13:4; 22) e foi corroborado na páscoa (Ex 12) e nas prescrições levíticas (Lv 1-6, 16). O princípio envolvido nos sacrifícios antigo- testamentários é sumariado por Matthew Henry: "O pecador merecia morrer; portanto, o sacrifício tem de morrer. Ora, sendo o sangue a vida [Lv 17:11], de tal maneira que, ordinariamente, animais eram mortos para uso dos homens, esvaindo-se todo o seu sangue, Deus designou a aspersão ou derramamento do sangue do sacrifício no altar, para significar que a vida do sacrifício fora oferecida a Deus em lugar da vida do pecador, como um resgate ou um preço substituto para isto" (citado por Ferreira e Myatt).
  • 23. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 23 No Novo Testamento, a morte do Senhor Jesus é o cumprimento de todos aqueles sacrifícios. Cristo é o "nosso Cordeiro pascal" (I Co 5:7), o "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1:29, 36). Na morte de Cristo, Deus expiou (removeu, anulou, cancelou) o pecado e redimiu (libertou mediante preço de redenção) o homem do cativeiro da culpa do pecado (Rm 3:24), com o propósito de mudar Sua própria atitude em relação ao homem, isto é, para tornar-Se propício (favorável) ao homem (Rm 3:24, 25) e reconciliá-lo Consigo (Rm 5:11; II Co 5:19). Portanto, o modo como Deus tornou-Se propício ao homem (fez propiciação ou afastou a Sua própria ira) e o reconciliou Consigo (fez a reconciliação) foi através do sacrifício expiatório substitutivo efetuado por Cristo, cujo sangue (i.é., a vida sacrificada) foi também o preço do resgate (I Pe 1:19; Ap 5:9). Portanto, a morte de Cristo é substitutiva e penal. "O centro da obra de Cristo consiste nele ter suportado a nosso favor e em nosso lugar [caráter substitutivo] o castigo que nos era devido por causa de nosso pecado [caráter penal], trazendo-nos perdão e reconciliação com Deus" (Bruce Milne, citado por Ferreira e Myatt). 24."Desceu ao inferno". Sobre esta cláusula do Credo, duas observações devem ser feitas de plano: primeiro, que em nenhum lugar das Escrituras é dito que Cristo "desceu ao hades (inferno)". Paulo diz que Cristo "havia descido até as regiões inferiores da terra" (Ef 4:9), expressão que pode significar simplesmente que Cristo se encarnou, entendendo-se que as "regiões inferiores" correspondem a "terra". O fato é que não há qualquer referência ao hades no texto. Em I Pe 3:18-20, Pedro comunica que o Espírito de Cristo, que inspirava os profetas (I Pe 1:11), pregou à geração pré-diluviana, que o apóstolo chamou de "espíritos em prisão", através de Noé, "pregador da justiça" (II Pe 2:5). Semelhantemente, não há qualquer menção a uma descida ao inferno na mensagem petrina. A segunda observação é que a expressão latina "descendit ad inferna" (desceu aos infernos/hades) ocorreu nas versões mais antigas do Credo como uma forma de explicar a morte e o sepultamento do Senhor. Somente por volta do século VII, a cláusula em apreço apareceu como acréscimo a "crucificado, morto e sepultado". Sobre esta cláusula, consideraremos o que não pode ser o ensino das Escrituras e,
  • 24. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 24 finalmente, destacaremos o modo aceitável de sua compreensão. Primeiro: "descendit ad inferna" não pode significar que entre a morte e a ressurreição Cristo tenha estado no inferno. As Escrituras dizem expressamente onde Cristo esteve nesse período, afirmando que esteve com o Pai (Lc 23:46), no paraíso (Lc 23:43), lugar de gozo e bem-aventurança correspondente ao "terceiro céu" (II Co 12:2-4), onde Deus habita de modo especial. Segundo: não pode significar que Cristo ainda tinha qualquer outra missão a realizar no inferno. A uma, Sua morte foi suficiente para expiar o pecado e, por isso, Ele não precisava completar a obra da redenção no inferno (Jo 19:30). A duas, Sua vitória foi proclamada em Sua morte e ressurreição, quando venceu o último inimigo, a morte (I Co 15:26), não havendo qualquer necessidade de uma proclamação dela no inferno. Terceiro: Cristo não desceu ao inferno para tomar as "chaves" da morte que supostamente estivessem na posse de Satanás. Com efeito, as chaves do senhorio de todo o universo, inclusive da morte e do inferno, pertencem ao Senhor Jesus Cristo (Is 22:21, 22; Ap 1:18; 3:7). Quatro: Cristo não foi evangelizar os habitantes do inferno, porque não há salvação para aqueles que lá se encontram (Lc 16:19-31; Rm 10:13-15; At 4:12; I Jo 5:11, 12; Hb 9:27). Finalmente, Cristo não foi ao inferno para retirar do hades os crentes do Antigo Testamento, porque esses tais nunca lá estiveram. As Escrituras do Antigo Testamento dizem claramente aonde foram os crentes desse período após a morte (Sl 73:23-25; Ec 12:6, 7; Gn 5:24; II Rs 2:11; Lc 9:29-32). Por outro lado, há dois sentidos possíveis para aceitarmos a cláusula "descendit ad inferna", segundo Héber Carlos de Campos, quais sejam: ela representa a sepultura, ou, melhor, o "estado de morte" e indica "os sofrimentos agonizantes antes e durante o tempo que [Cristo] passou na cruz". Quando ao último sentido possível, esclarece o Rev. Héber que "experimentar o inferno é experimentar o doloroso abandono da presença confortadora de Deus. A ira de Deus desceu sobre o Filho encarnado e se manifestou não somente nas dores infernais do seu corpo, mas também nas angústias infernais que se apoderaram de sua alma... Por causa da experiência infernal que Cristo teve em face do juízo divino, aqueles por
  • 25. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 25 quem ele morreu são libertos para sempre da condenação do inferno". Segundo W. Hendriksen, "naquele dia o inferno veio ao calvário e o Salvador a ele desceu e sofreu seus horrores em nosso lugar, por nós". Nesse sentido, também R. C. Sproul: "Na cruz, ele estava no inferno, destituído da graça e da presença de Deus, totalmente separado de toda a bênção do Pai... O Pai virou as costas para seu Filho a fim de que a luz de seu rosto resplandeça sobre nós. Não é admirável que Jesus tenha gritado das profundezas de sua alma". 25."Ressuscitou ao terceiro dia". A ressurreição do Salvador dá início à fase da Sua exaltação. Indubitavelmente, o Antigo Testamento anunciou tanto a morte vicária (ou substitutiva) do Messias, quanto a Sua ressurreição. Aos discípulos a caminho de Emaús, nosso Senhor já ressurreto mostrou-lhes passagens do Antigo Testamento que se aplicavam aos eventos do fim de semana, a Ele relacionados (Lc 24:21-27). Esta série de predições acerca da morte e ressurreição de Cristo certamente iniciam em Gn 3:15 (o chamado proto-evangelho), onde a indicação que a ferida do descendente da mulher não seria irremediável necessariamente aponta à Sua ressurreição. Deve-se observar, igualmente, o uso que Pedro e Paulo fizeram do Sl 16:10 ("Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção"), em At 2:27 e 13:35. A palavra "morte" (heb. Sheol; gr. Hades) deve ser compreendida, no contexto, como sinônimo de túmulo e, nesse sentido, o Salmo foi utilizado pelos apóstolos como uma predição da ressurreição do Messias. Em Isaías (53), o Servo Sofredor, depois de experimentar uma morte violenta (expressa pelos termos “traspassado” e “moído”, no verso 5, e “arrebatado” e “cortado”, no verso 8) e ser sepultado (verso 9), diz-se que ele “verá a sua posteridade e prolongará os seus dias” (verso 10), uma clara referência à ressurreição do Messias. Nesse sentido, J. Ridderbos escreveu: “A vida com ‘dias prolongados’ assume um significado peculiar, porque é uma vida posterior à Sua morte, a vida de uma pessoa ressurreta (cf. Ap 1:8)”. No Novo Testamento, nosso Senhor predisse Sua morte e ressurreição, a princípio, de forma velada (Jo 2:18-22; Mt 12:38-40; 16:4) e, após a confissão de Pedro (Mt 16:16), de modo claro (Mt 16:21; 17:9, 22, 23; 20:18, 19). Em Mt 26:31, 32,
  • 26. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 26 os discípulos são avisados que, escandalizados, abandonarão o Senhor, mas, após a ressurreição, serão outra vez reunidos na Galiléia. Essa advertência foi relembrada pelo anjo, após a ressurreição (Mt 28:7). Os evangelhos narram com riqueza de detalhes os fatos históricos relacionados tanto à morte quanto à ressurreição do Senhor. Após os açoites (Mc 15:15-20) e o escarnecimento (Mt 27:27-31), nosso Senhor foi entregue para ser crucificado (Mc 15:22; Mt 27:26). Que a morte foi realmente verificada por todos os envolvidos, não resta dúvida. Pilatos ficou admirado que Cristo tivesse morrido tão cedo (Mc 15:44) e só liberou o corpo a José de Arimatéia após certificar-se da morte com seus homens de confiança (Mc 15:44, 45; Mt 27:57-61). Os soldados romanos, especialistas em crucificação, após séria averiguação, confirmaram a morte a Pilatos (Jo 19:31- 34). A morte foi igualmente verificada por José de Arimatéia e por Nicodemos (Jo 19:38-42). Finalmente, os judeus, certos da ocorrência da morte do Senhor, solicitaram uma guarda para vigiar o túmulo, ao argumento de que os discípulos poderiam roubar o corpo e dar início a um “mito da ressurreição” (Mt 27:62-64). Que o corpo do Senhor foi depositado no túmulo, também não há dúvidas! José de Arimatéia e Nicodemos prepararam o corpo para o sepultamento (Mt 27:57, 58; Jo 19:38-40). O momento do sepultamento foi testemunhado também pelas mulheres (Mt 27:61; Mc 15:47). Após o sepultamento, uma grande pedra foi rolada para a entrada do túmulo (Mt 27:60; cf. Mc 16:3, 4) e a guarda romana selou a pedra e permaneceu guardando-o (Mt 27:66), de modo que a violação daquele túmulo em particular ensejaria as reações do rigor da lei romana. Ali estava a sepultura mais bem vigiada da história humana! É dizer, Pilatos, os judeus e a guarda romana fizeram o melhor que puderam para evitar o “furto do corpo” e “um mito da ressurreição”, o que somente corrobora que Cristo de fato ressuscitou, como sugeriu Jerônimo: "se o sepulcro estiver selado, não ocorrerá qualquer negócio escuso. De modo, então, que a prova da sua ressurreição tornou-se indiscutível devido ao que vocês mesmos sugeriram. Mas, se não ocorreu qualquer negócio escuso e o sepulcro foi encontrado vazio, então fica patente, sendo algo indiscutível, que ele ressuscitou. Percebe você como, até contra a própria vontade, eles ajudaram a demonstrar a verdade?" (Citado por Josh McDowell).
  • 27. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 27 Após a ressurreição, o registro do suborno pela guarda romana é digno de nota (Mt 28:11-15). A falsa notícia de que o corpo foi roubado decorreu de dois fatos: primeiro, que o corpo de Jesus estava no túmulo quando a guarda chegou, tanto que a notícia só foi criada após a ressurreição; segundo, que a guarda constatou que o túmulo estava vazio, o que necessitaria de uma explicação. Finalmente, devemos observar as tantas aparições incontestes do Senhor ressurreto a testemunhas oculares do fato histórico da ressurreição, das quais mais da metade das quinhentas estavam vivas e poderiam corroborar, à época em Paulo escreveu I Co 15:3-8 (c. 56 d.C.). No domingo pela manhã, o Senhor aparece a Maria Madalena (Mc 16:9; Jo 20:14-17) e às demais mulheres (Mt 28:9, 10). À tarde desse mesmo domingo, aparece a Pedro (Lc 24:34; I Co 15:5), aos discípulos a caminho de Emaús (Lc 24:13-32; Mc 16:12, 13) e aos dez discípulos, sem Tomé (Jo 20:19-25). No domingo seguinte, aparece outra vez aos discípulos, com Tomé (Jo 20:26-29; Mc 16:14). Quatro ou cinco semanas após, o Senhor aparece na Galiléia, no mar (Jo 21:1-23) e no monte (Mt 28:16-20; Mc 16:15-18), onde foi visto por mais de quinhentas testemunhas (I Co 15:6). Nesse período, o Senhor apareceu a Tiago (I Co 15:7) e aos discípulos em Jerusalém (Lc 24:44-49; At 1:3-8), quando foi visto ascender. Todos esses relatos implicam que houve aparições reais, históricas, nas quais o Senhor apareceu com o corpo físico (Jo 20:17, 20; 21:12-14; Lc 24:39), embora com "características extraordinárias" (Jo 20:13, 19; 21:7; Lc 24:31, 36), com "propriedades físicas que transcendiam a realidade comum" (Ferreira e Myatt). Somente a Estevão (At 7:55, 56), a Paulo (At 9:10, 11; 22:17-21; 23:11) e a João (Ap 1:9-13), as aparições do Cristo ressurreto ocorreram em uma visão particular, devendo, quanto à aparição a Paulo, ser observado com Ferreira e Myatt que: "Apesar de ter elementos semelhantes com os de um fato puramente místico, o acontecimento no caminho de Damasco não fugiu dos padrões de um fato ocorrido no tempo e no espaço. Outros presenciaram a luz e ouviram a voz. O que estava ocorrendo não era algo ocorrido apenas no âmbito particular, mesmo que a comunicação entre Jesus e Saulo tenha sido feita nesse âmbito". Igualmente verificável é o fato de que a ressurreição de Cristo tornou-se, desde cedo, o centro da pregação apostólica (At 2:24, 32; 3:15; 4:10; 5:30; 10:40; 13:30, 34;
  • 28. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 28 17:31). Dentre todas as grandes religiões mundiais (judaísmo, budismo, islamismo e cristianismo), só o cristianismo menciona um túmulo vazio e tem no fato histórico e miraculoso da ressurreição de Cristo sua doutrina fundamental (I Co 15:14, 15, 17-19; I Pe 1:21). "A fé na ressurreição é a principal coluna de sustentação da fé cristã; retirando-se a coluna, tudo inevitavelmente cai por terra" (H. P. Liddon, citado por Josh McDowell). Por fim, vale destacar que a ressurreição do Senhor possui ao menos três significados: primeiro, demonstra que Cristo venceu o último inimigo, a saber, a morte (At 2:24; I Co 15:26); segundo, a prova que Deus o Pai aceitou a morte de Cristo como completa e suficiente para expiar pecados (Rm 4:25), visto que, caso não tivesse havido ressurreição, ainda estaríamos mortos em nossos pecados (I Co 15:17); terceiro, a ressurreição de Cristo é o alicerce da ressurreição daqueles que estão em Cristo (I Co 15:20-22, 51-57; II Co 4:14; I Ts 4:14) e a razão da nossa viva esperança (I Pe 1:3). 26."Subiu aos céus; está assentado à direita de Deus Pai todo-poderoso". É certo afirmarmos com Ferreira e Myatt que "a ascensão foi a consumação da ressurreição", que a descreveram como "a subida visível de Cristo da terra para o céu, segundo a sua natureza humana", cujo pressuposto é "a mudança da natureza humana de Cristo, que aconteceu em sua ressurreição". A ascensão de Cristo implica em haver o Salvador deixado as condições da terra e retomado Seu lugar junto com o Pai (Jo 17:1), nos lugares celestiais, onde recebeu domínio absoluto sobre todos os poderes existentes (Mt 28:18; Ef 1:20-22; Cl 2:15) e prepara lugar para receber Seu povo, no futuro (Jo 14:2). Historicamente, localiza-se quando subiu aos céus perante os discípulos, que acompanharam-nO com os olhos subir até não poder mais ser visto (At 1:9). A ascensão do Salvador significa que Deus o Pai aceitou Seu sacrifício como oferta pelo pecado, tanto que o readmitiu à glória celestial, e indica a ascensão espiritual daqueles que estão em Cristo (Ef 2:5, 6), já ocorrida, tanto quanto a glorificação futura dos salvos. Ao lado do Pai, o Senhor intercede pelo Seu povo (Hb 7:25; Rm 8:34; I Jo 2:1), "rogando pela aceitação deles com base em seu sacrifício consumado, e por sua segurança no mundo" e continua a apresentar "continuamente o seu sacrifício consumado ao Pai como base suficiente para a concessão da graça perdoadora de Deus" (Berkhof).
  • 29. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 29 27."Donde há de vir [a julgar os vivos e os mortos]". É óbvia a dedução de que a exaltação do Senhor não terá sido consumada até que Ele volte para "julgar os vivos e os mortos", conforme a cláusula credal que estamos a analisar. Na lição de Louis Berkhof, "o ponto supremo não será alcançado enquanto o que sofreu nas mãos do homem não voltar na qualidade de juiz". Com efeito, a segunda vinda do Senhor Jesus foi predita no Antigo Testamento através da expressão "dia do Senhor", que era compreendida tanto um dia de redenção e de muita alegria para os justos quanto de sofrimento e angústia para os infieis (Ml 4:1- 5; Sf 1:7-2:3). No Novo Testamento, a segunda vinda do Senhor é predita com expressões correspondentes, tais como "aquele dia" (Mt 24:36), "último dia" (Jo 12:48), "Dia de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Co 1:7, 8), "Dia do Senhor" (I Ts 5:2) e "Dia de Cristo Jesus" (Fp 1:6). O ensino neo-testamentário é que a vinda do Senhor é certa, razão pela qual estamos "aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" (Tt 2:13). "Esperança" é a expectação confiante de quem anela ardentemente por algo que não decepcionará, i.é., a certeza do que se espera. Segundo Hendriksen, esta esperança é "qualificada de bendita, porque infunde o estado de preparação ou disposição, bênção, felicidade, deleite e glória". A vinda do Senhor será gloriosa (II Ts 1:7, 8), física e visível. Nesse sentido, os discípulos que acompanharam atentamente a ascensão do Senhor, foram avisados que Ele voltaria do modo como foi visto subir (At 1:9-11). Quanto ao dia e hora da segunda vinda, não podem ser precisados (Mt 24:36; At 1:7; I Ts 5:1, 2), porque a vinda do Senhor será súbita. Por outro lado, sabe-se que nosso Senhor não voltará sem que o evangelho seja proclamado em todo o mundo (Mt 24:14) e sem que o “homem da iniquidade” tenha se manifestado (II Ts 2:1-3), evento relacionado com a grande apostasia e a grande perseguição que hão de vir sobre a igreja (Mt 24:21, 22; Lc 18:8; II Ts 2:3). Finalmente, a vinda do Senhor será inconfundível (Mt 24:29-31; Ap 1:7) e introduzirá uma série de eventos, quais sejam: primeiro, os mortos ressuscitarão com seus corpos, tanto os condenados quanto os redimidos (Jo 5:28, 29; 6:39, 40, 44; At 24:15); segundo, os redimidos serão transformados à semelhança da humanidade do Senhor (I Co 15:51-57; I Ts 4:13-18; I Jo 3:2); terceiro, todos
  • 30. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 30 comparecerão perante o Tribunal de Cristo para serem julgados (At 17:31; II Co 5:10; II Tm 4:1; I Pe 4:5; Ap 20:11-15); quarto, Satanás e seu séquito, como também os condenados, serão definitivamente encerrados na condenação eterna (Ap 20:10) e; quinto, a criação será gloriosamente renovada em novos céus e nova terra (Rm 8:20, 21; Ap 21:1; II Pe 3:13). “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (II Tm 4:8). 28."[Donde há de vir] a julgar os vivos e os mortos". Quanto ao juízo final, os salvos serão julgados (Rm 14:10; I Jo 4:17) e receberão o galardão pela graça (Lc 17:10), conforme a perseguição que sofreram (Mt 5:12; II Co 4:17), a misericórdia que exerceram (Mt 6:1), o serviço que prestaram à igreja (Mt 10:41, 42; 25:31-40) e a maneira como contribuíram à sua edificação (I Co 3:10-17; I Pe 5:4; II Tm 4:8). Portanto, os salvos em Cristo não devem temer o dia do juízo (I Jo 4:17), não porque seus pecados não venham à luz naquele dia, mas porque não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1). Nesse sentido, Anthony Hoekema escreveu: "As falhas e deficiências desses crentes, portanto, participarão do quadro do dia do juízo. Mas - e este é o ponto importante - os pecados e deficiências dos crentes serão revelados no juízo como pecados perdoados, cuja culpa foi totalmente coberta pelo sangue de Jesus Cristo. Por isso, os crentes não têm nada a temer acerca do juízo - embora a percepção de que eles terão de prestar contas de tudo que fizeram, disseram e pensaram, deveria ser para eles um incentivo constante para a luta diligente contra o pecado, para o serviço cristão consciente e para uma vida consagrada". Os descrentes também serão julgados e condenados, segundo todas as obras que praticaram (Ap 20:12, 13), conforme a maneira como trataram a igreja (Mt 25:41- 46; Ap 6:9-17) e porque rejeitaram o evangelho (Jo 3:36). Sobre todos os ímpios sobrevirá a morte eterna (Rm 6:23) no inferno, lugar de "fogo inextinguível" (Mt 3:12), "onde não lhes morre o verme nem o fogo se apaga" (Mc 9:48), lugar de "trevas", "choro e ranger de dentes" (Mt 25:30), onde a ira de Deus será experimentada sem mistura (Rm 2:5, 8, 9; Hb 10:27-31; Ap 14:10). Os crentes, de algum modo, participarão do julgamento dos incrédulos (Mt 19:28; Lc 22:28-30; I Co 6:2, 3; Ap 3:21; 20:4). Por fim, vale destacar que os perdidos serão julgados de acordo com a vida que levaram, com as escolhas que fizeram e
  • 31. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 31 com a luz que possuíram. Conforme Ferreira e Myatt anotaram: "Os que tiveram mais revelação de Deus receberão mais severo juízo. Por exemplo, em Mateus 11:21-24, Jesus revela que o destino de Cafarnaum e de Corazim será pior do que o destino de Tiro e Sidom, porque aquelas rejeitaram o testemunho de Jesus, enquanto estas não tinham essa revelação". No inferno, os ímpios sofrerão tormentos, dores e sofrimentos no corpo e na alma horrendos e intermináveis, tudo isso acompanhado de agonias lancinantes. Aqui está a manifestação da ira de Deus, como Hendriksen escreveu: "O inferno é inferno porque Deus está lá, Deus em toda a sua ira... O céu é céu porque Deus está lá, Deus em todo o seu amor. É desta presença de amor que o ímpio é banido para sempre". 29.Conclusão ao Segundo Artigo. Chegamos ao fim de nossas notas sobre este segundo artigo do antigo simbolum de fé, ocasião em que devemos observar com D. A. Carson que “tudo que sabemos de Deus, tudo que apreciamos nele, tudo pelo qual o louvamos, em toda a experiência cristã, tanto nesta vida como na vida por vir, flui desta cruz sangrenta”. E isto inclui o dom do Espírito, o perdão dos pecados, a comunhão dos santos e a esperança da ressurreição da carne e da vida eterna nos novos céus e nova terra. Nas palavras do apóstolo aos gentios, “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Rm 8:32). Eis o que John Piper denominou de “a lógica consistente do céu”, aduzindo que “é um argumento que procede do superior para o inferior; do difícil para o fácil; do obstáculo quase intransponível para o que pode ser facilmente superado”. “Como seria imaginável que Deus deveria sonegar, depois disso, as bênçãos espirituais e temporais de seu povo? Como ele não os chamaria eficazmente, justificaria-os graciosamente, santificaria-os completamente, e os glorificaria eternamente?... Seguramente, se Ele não poupou seu próprio Filho de um golpe, uma lágrima, um gemido, um suspiro, uma circunstância de miséria, jamais se poderia imaginar que ele deveria, depois disso tudo, negar ou sonegar de seu povo, por cuja causa todo esse sofrimento aconteceu, quaisquer misericórdias, confortos, privilégios, espiritual ou temporal, que são para o bem deles” (John Flavel, citado por Piper). Crês tu em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio
  • 32. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 32 Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus; está assentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos? 4 O Terceiro Artigo: O Deus Santificador E no Espírito Santo, na Santa Igreja católica, na comunhão dos santos, no perdão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém. 30.Introdução ao Terceiro Artigo. A Bíblia ensina que os cristãos genuínos foram salvos, estão sendo salvos e serão salvos. Por Deus o Pai, fomos salvos antes da fundação dos séculos; por Deus o Filho, na cruz do Calvário; e, por Deus o Espírito Santo, quando somos levados a apropriar- nos da salvação pela fé e preservados em santidade até a ressurreição. Assim, podemos afirmar que toda a obra da nossa salvação é exclusivamente divina e inclusivamente trinitária. Nas palavras de Herman Bavinck: "A obra da salvação é uma incumbência do Deus único que subsiste em três pessoas, na qual as três pessoas cooperam e cada uma realiza uma tarefa especial. É o Deus trino - Pai, Filho e Espírito - que concebe, determina, realiza e completa toda a obra da salvação". O Pai escolheu livre, soberana e incondicionalmente, antes da fundação dos séculos, aqueles indivíduos que iriam ser salvos e os predestinou a essa grande salvação (Jo 15:16, 19; At 13:48; Rm 8:29, 30; 9:6-13; 11:4-7; Ef 1:4-6, 11, 12; I Ts 1:4, 5; 5:9; II Ts 2:13; II Tm 1:8-10; Ap 17:8, 14) e os deu ao Filho (Jo 6:37, 39; 10:29; 17:2, 6, 9, 24; 18:9); o Filho encarnou e conquistou com o sacrifício de Si a salvação dos eleitos (Is 53:10-12; Mt 1:21; 20:28; 26:28; Mc 10:45; 14:24; Lc 22:20; Jo 10:11- 16; 17:9; At 20:28; Rm 5:8; 8:32-34; I Co 1:30; 11:24; Gl 1:3, 4; Ef 5:25-27; Cl 1:21, 22; Tt 2:14; Ap 5:9); o Espírito aplica, completa, concretiza, realiza os benefícios da cruz nos eleitos. Ressalte-se, pois, que é o Espírito quem concretiza nos eleitos os benefícios adquiridos por Cristo, tais como a regeneração (Jo 3:3; Tt 3:5), a convicção de pecado (Jo 16:8-11), a adoção de filhos (Rm 8:15), a selagem (Ef 1:13; 4:30), a santificação (Gl 5:17, 22, 23), a variedade dos dons (I Co 12:4, 7-11), a unidade da igreja (I Co 12:12, 13) e a ressurreição dos corpos (Rm 8:10, 11). Ademais, é por meio do Espírito que temos comunhão direta com o Pai e com o Filho (Jo 14:23, 26; II Co 6:16; Gl 2:20; Ef 3:16, 17; Fp 1:8, 21).
  • 33. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 33 Nas palavras precisas de Jonathan Edwards, o “Espírito de Deus é a bênção principal, pois é a substância de todas as bênçãos espirituais de que precisamos infinitamente mais que todas as outras e em que consiste a nossa felicidade verdadeira e eterna... o Espírito Santo é a síntese das bênçãos que Cristo adquiriu...”. O Espírito Santo é o Deus que vive em nós (I Co 3:16; 6:19; Ef 2:20-22; I Pe 2:5), razão pela qual a Igreja é advertida a não entristecê-lO (Is 63:10; Ef 4:30) e a não extinguir Suas operações (I Ts 5:19). A mentira contra o Espírito Santo foi a causa da punição de Ananias e Safira (At 5:3, 9) e a resistência ao Espírito, o pecado dos israelitas (At 7:51). Por fim, nosso Senhor afirmou que a blasfêmia contra o Espírito é o pecado imperdoável (Mt 12:31, 32). Atentemos, portanto, ao ensino das Escrituras concernente à pessoa bendita e à obra maviosa do Espírito Santo, objeto do terceiro artigo do antigo Credo da Igreja. 31."E no Espírito Santo": Sua personalidade. O nome "Espírito Santo" só ocorre no Antigo Testamento em Sl 51:11 e Is 63:10, 11, sendo ali mais comuns as ocorrências de "Espírito de Deus" e "Espírito do Senhor". No Novo Testamento, "Espírito Santo" veio a ser a designação por excelência dessa bendita Pessoa da Trindade. Conforme observou Herman Bavinck, "na teologia cristã, a doutrina do Espírito Santo só foi consistentemente tratada depois da do Filho", sobretudo na obra de Basílio de Cesaréia, em seu Tratado Sobre o Espírito Santo, escrito em 374, e somente no Concílio de Constantinopla, em 381, a divindade do Espírito Santo foi plenamente formulada e incorporada ao Credo de Niceia (de 325). Enquanto que na doutrina do Filho a questão debatida era a Sua divindade, na do Espírito, o ponto controvertido foi a Sua personalidade. Entretanto, não deve haver hesitação em asseverarmos a personalidade do Espírito Santo. As Escrituras falam do Espírito como a um Ser pessoal. Primeiro, quando usa o pronome masculino (gr. "ekeinos"), em Jo 16:14, e o pronome relativo masculino (gr. "hos"), em Ef 1:14, para referir-se ao Espírito (gr. "pneuma", substantivo neutro). Segundo, quando Lhe confere o título "Consolador" (gr. "parakletos"), em Jo 14:26, 15:26, 16:7. Conforme anotou Louis Berkhof, o vocábulo "Parakletos" tem importância por duas razões: a uma, "o termo não pode ser traduzido por 'conforto', 'consolação', nem pode ser considerado como nome de alguma influência abstrata; a duas, "um fato que indica que se trata de uma pessoa é que o Espírito Santo, como
  • 34. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 34 Consolador, é colocado em justaposição com Cristo como o Consolador que estava para partir, a quem o mesmo vocábulo é aplicado em I Jo 2:1 [aqui, “parakletos” é traduzido por "Advogado"]". Ademais, ainda digno de nota é que a palavra "outro" (gr. "allos", em "outro Consolador") "realça a identidade diferente daquele que virá", conforme anotaram Ferreira e Myatt. Terceiro, há passagens em que faz-se nítida distinção entre o Espírito Santo e o Seu poder (Lc 1:35; 4:14; At 10:38; Rm 15:13; I Co 2:4). Recorremos outra vez a Berkhof, quando observa que tais passagens seriam "até absurdas" "se fossem interpretadas com base no princípio de que o Espírito é pura e simplesmente um poder impessoal". Quarto, as Escrituras creditam ao Espírito características pessoais, tais como inteligência, vontade e sentimentos (Jo 14:26; At 16:7; Ef 4:30); realizações pessoais, tais como lutar, ensinar, falar, decidir, vivificar mortos (Gn 6:3; Lc 12:12; At 8:29; 13:2; Rm 8:11); e, relacionamentos que são próprios de pessoas (At 15:28; Jo 16:14). 32."E no Espírito Santo": Sua divindade. Noutro giro, se não tememos reconhecer a personalidade do Espírito Santo, com muito mais razão não ousaríamos questionar a Sua divindade. As mesmas Escrituras que O revelam como um Ser pessoal, testificam tratar-se de uma pessoa divina, da mesma essência do Pai e do Filho, sobretudo quando atribuem-Lhe nomes divinos (Ex 17:7 [Hb 3:7-9]; At 5:3, 4; I Co 3:16; II Tm 3:16; II Pe 1:21), atributos divinos (Sl 139:7- 10; Hb 9:14; Is 40:13, 14 [Rm 11:34]; Rm 15:19), realizações divinas (Gn 1:2; Sl 104:30; Rm 8:11) e honras somente devidas à Divindade, conforme Paulo escreveu em I Co 3:16: "Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?". Ora, Aquele habita no templo recebe nele a adoração. Acrescente-se que as Escrituras colocam o Espírito Santo em exata justaposição com as demais pessoas da Trindade, o que nos faz concluir que o Espírito Santo é dotado de personalidade, é um Ser pessoal, distinto do Pai e do Filho, e não uma força impessoal, tanto quanto uma pessoa divina, consubstancial ao pai e ao Filho (Mt 28:19; II Co 13:13; I Pe 1:1, 2; Jd 20, 21). Para Bavinck, "a escolha é clara: ou o Espírito Santo é uma criatura - seja um poder, um dom ou uma pessoa - ou é verdadeiramente Deus. Se Ele é uma criatura, ele não pode, de fato e de verdade, nos comunicar o Pai e o Filho com todos os seus benefícios, não pode ser o princípio da nova vida nem no cristão individual nem na igreja como um todo... Mas o Espírito Santo não é e não pode ser uma criatura... Aquele que nos dá
  • 35. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 35 o próprio Deus deve ser, ele mesmo, verdadeiro Deus". 33."E no Espírito Santo": Sua relação com o Pai e com o Filho. Havendo provido algumas anotações sobre a pessoa divina do Espírito Santo, voltamo-nos agora para as Suas relações na Trindade. Já observamos que é o título "Pai" que distingue o atributo pessoal da primeira Pessoa da Trindade. Nas operações internas da Trindade (opera ad intra), o Pai é a pessoa "não gerada" e o eternamente Pai. Não houve um tempo em que o Pai não tenha sido o Pai de nosso Senhor Jesus. Noutro momento, consideramos que o atributo pessoal que distingue a segunda pessoa da Trindade é a filiação. Somente o Filho é Filho do Pai, não o Espírito Santo. Anotamos igualmente, que nunca houve um tempo em que nosso Senhor não tenha sido o Filho do Pai. Enquanto o Pai é "não gerado", o Filho é “gerado”, mas não no sentido de haver sido, em algum momento temporal, criado. O Filho é tão "incriado" quanto o Pai. Daí dizer-se que Ele é o Filho do Pai por “geração eterna”, não por criação, no tempo ou fora dele. "Ele veio da essência do Pai eternamente" (Héber carlos de Campos). O Espírito Santo, a seu turno, é a terceira pessoa da Trindade cujo atributo pessoal que O distingue das pessoas do Pai e do Filho é a "processão". O Espírito Santo "procede" do (ou é "espirado" pelo) Pai e do Filho (Jo 15:26; 16:7). A Escritura O revela como sendo o Espírito do Pai e do Filho. Entretanto, atenção para este fato: o Espírito é tão incriado quanto o Pai e quanto o Filho. A palavra "processão" não indica a origem temporal do Espírito Santo, nem que o Seu ser essencial é derivado do Pai e do Filho, mas aponta a maneira como o Espírito Santo Se relaciona no Ser divino, na "Trindade Ontológica", com o Pai e com o Filho. Resumo da ópera: o Pai é incriado; o Filho é incriado; o Espírito é incriado. Nas relações internas da Trindade Ontológica (opera ad intra), o Pai é o "não-gerado", o Filho é o eternamente gerado do Pai e o Espírito Santo é o eternamente procedente do Pai e do Filho. 34."E no Espírito Santo": Sua relação com o Filho. O Espírito Santo esteve presente na vida de Jesus da concepção à ascensão. A Cristo, o Espírito não foi dado por medida (Jo 3:34), isto é, "por porções cuidadosamente calculadas" (F. F. Bruce). A presença do Espírito não era crescente na vida do Senhor Jesus. Sobre Cristo, o Espírito permanece (Jo 1:32, 33; Is 11:2;
  • 36. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 36 42:1; 61:1), de modo que "toda atividade de Cristo se manifestava na presença do Espírito Santo" (Basílio de Cesaréia, citado por Ferreira e Myatt). O Espírito Santo criou o corpo de Jesus, na concepção miraculosa (Lc 1:35; Mt 1:18, 20), foi Seu revestimento preparatório para o ministério público, no batismo (Mt 3:16), e O conduziu ao deserto, para ser tentado (Lc 4:1). No ministério, nosso Senhor realizou milagres e ensinou no poder do Espírito Santo (Mt 12:25-28; Lc 4:14, 18; At 1:2; 10:38), que O assistiu igualmente em Sua vida de oração (Lc 10:21). O Espírito Santo esteve com o Senhor em Sua morte (Hb 9:14) e O ressuscitou dentre os mortos (Rm 1:4; 8:11). Após a ressurreição e a ascensão, a primeira obra que Cristo realizou foi o envio do Espírito Santo (At 2:4, 33), cumprindo profecias do Antigo Testamento (Jl 2:28, 29) e que foram reafirmadas por João Batista e pelo próprio Senhor Jesus (Lc 3:16; 24:49; Mc 1:8; Mt 3:11; At 1:4, 5; Jo 1:33). Portanto, a obra do Senhor só ficou completa no dia de Pentecostes. A partir do derramamento do Espírito, através dEle, a Igreja goza a presença contínua de Cristo (Jo 14:18, 23; Mt 28:20; I Jo 3:24). Na "Trindade Econômica", o Espírito Santo está relacionado com o Filho do modo como o Filho está relacionado com o Pai. Conforme ensinou Herman Bavinck, "[Cristo] Nada tem, nada faz e nada diz por si mesmo, mas recebe tudo do Pai (Jo 5:26; 16:15), assim também o Espírito recebe tudo de Cristo (Jo 16:13, 14). Assim como o Filho dá testemunho e glorifica o Pai (Jo 1:18; 17:4, 6), assim também o Espírito, por sua vez, dá testemunho e glorifica o Filho (Jo 15:26; 16:14). Assim como ninguém pode chegar ao Pai a não ser pelo Filho (Mt 11:27; Jo 14:6), assim também ninguém pode dizer "Senhor Jesus!" a não ser pelo Espírito". A obra do Espírito não chama a atenção para Si mesmo. O seu ministério é de bastidores e Seu propósito é glorificar o Filho. 35. "E no Espírito Santo": Suas operações na 'graça comum'. Ainda teceremos breves notas acerca das operações do Espírito Santo na vida dos crentes em Jesus Cristo. Por ora, cumpre-nos colocar que as operações do Espírito, embora de algum modo relacionadas com os propósitos de Deus para o Seu povo, de modo algum estão confinadas nos arraiais da Igreja. Antes, conforme observou Calvino, quando afirmamos que "o Espírito de Deus reside unicamente nos fieis, temos que entender que tratamos de santificação pela qual somos consagrados a Deus como seus templos. Mas, entretanto, Deus não cessa de encher, vivificar e mover com a virtude desse mesmo Espírito todas as criaturas".
  • 37. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 37 Pois bem, estas operações universais do Espírito têm recebido o nome de "graça comum". É a noção da "graça comum" que explica como o homem totalmente depravado realiza algum tipo de bem. Por um lado, do homem caído, não se pode esperar bem algum. Por outro, como explicar o fato de que conhecemos pessoas não cristãs que são habilidosas, humanitárias e cumpridoras dos seus deveres e isto em medida ainda maior que a evidenciada em muitos cristãos genuínos? Mais uma vez, a resposta está na "graça comum", tema que abordaremos em dois aspectos: primeiro, destacaremos a obra da graça comum no sentido de ser uma operação divina "comum" a toda humanidade; segundo, usaremos a expressão "graça comum" para referir-nos também às operações comuns aos eleitos e aos não eleitos do ambiente da Igreja. "Graça comum" é o termo que designa as operações divinas pelas quais o Espírito Santo, sem operar a remoção da culpa e a salvação dos pecadores, suporta-lhes o pecado em Sua longanimidade (Rm 2:4; 9:22; II Pe 3:9), concede-lhes bênçãos naturais (Gn 17:20; Sl 145:9, 15, 16; Mt 5:44, 45; At 14:16, 17; 17:25), refrea-lhes o pecado (Gn 6:3; 20:6; Is 63:10; At 7:51) e estimula-lhes a prática do bem, público e privado, e a admiração pela verdade, pela justiça, pelo bom e pelo belo (Mt 7:9-11; Rm 2:14, 15; Rm 13:1-7; At 17:22, 28). Percebe-se, nesse passo, que a possibilidade de vida minimamente viável na sociedade descrente, do ponto de vista relacional, social e moral, deve-se tão somente às operações do Espírito na graça comum (Rm 1:24, 26, 28), que ocorrem através da revelação geral (Rm 2:14, 15), do governo (Rm 13:1-7) e das relações sociais ou da opinião pública. Em segundo lugar, devemos destacar igualmente que há uma graça comum distribuída aos eleitos e aos não eleitos que vivem sob o evangelho. É dizer, há uma graça não especial, não eletiva, que não remove a culpa do pecado, que alcança tanto crentes genuínos quanto os hipócritas e não regenerados disfarçados de cristãos. Nesse sentido, o escritor aos Hebreus escreveu: "É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová- los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia" (Hb 6:4-6, com grifos nossos).
  • 38. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 38 O escritor de Hebreus nos ensina que há membros na igreja que podem ser descritos nos seguintes termos: "iluminados", no sentido de haverem sido esclarecidos, de haverem recebido uma compreensão significativa do evangelho e de terem começado a enxergar as realidades espirituais; "provaram o dom celestial", expressão que talvez refira-se à vivência de algumas experiências oferecidas no evangelho; "se tornaram participantes do Espírito Santo", por sua vez, significa que os não eleitos que convivem como se crentes genuínos fossem compartilham dos dons e da influência do Espírito; "provaram a boa palavra de Deus" implica em dizer que esses falsos cristãos se alegraram ao ouvir o evangelho e lhe deram crédito, que chegaram mesmo a maravilhar-se da Palavra da Deus; e "provaram os poderes do mundo vindouro", que pode ser uma alusão às intervenções miraculosas de Deus pelas mãos dos apóstolos ou mesmo que anteviram e creram nas realizações do Senhor por ocasião da segunda vinda. Percebe-se quão longe um não regenerado pode aproveitar-se das manifestações e influências de Deus sobre a vida da igreja visível. Mas o autor de Hebreus vai além, e diz: "e caíram". Estes são aqueles que vivem com a igreja, cantam com a igreja, oram com a igreja, aprendem o evangelho, recebem dons espirituais, evangelizam e, após toda essa vivência cristã, abandonam a fé ou permanecem não regenerados (Mt 7:21, 22). Nosso Senhor referiu-se aos apóstatas como aqueles que "não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração" (Mc 4:16, 17). No caso que examinamos, é muito provável que o autor de Hebreus estivesse escrevendo a um grupo judeu que, talvez por estar enfrentando forte oposição, pensava em abandonar a justificação pela graça mediante a fé somente e retornar ao sistema de obras do judaísmo (Gl 5:2-4). Fazer isso, segundo o autor inspirado, é recrucificar a Cristo "para si mesmos", é identificar-se com os escarnecedores e algozes que crucificaram nosso Senhor, como se dissesse: "nossos pais bem fizeram em crucificar a Cristo como malfeitor". É possível mesmo que o escritor sagrado "esteja pensando que tais apóstatas seriam mais culpáveis do que aqueles que originalmente clamaram 'crucifica-o', que nunca conheceram coisa alguma acerca da maravilhosa graça de Deus através de Cristo" (Donald Guthrie). Segundo o texto, aqueles que apostatam desse modo não são mais renovados à antiga posição e ficam sob a impossibilidade de conhecerem o arrependimento (I Jo 2:19; 5:16, 17).
  • 39. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 39 O fato inconteste, portanto, é este: que na igreja visível há falsos cristãos, há joio crescendo lado a lado com o trigo (Mt 13:30), e que os tais gozam diversas bênçãos comuns com os eleitos, sem jamais serem redimidos. 36. "E no Espírito Santo": Suas operações na 'graça especial'. Não custa destacar que "graça" é a virtude divina pela qual o Deus TriUno condece ao homem favor que este não merece receber. Esse é o aspecto que sobressai igualmente tanto na graça comum quanto na graça especial: ambas são demonstração de favor imerecido. Homem algum merece qualquer dádiva natural da parte de Deus. Semelhantemente, e com muito mais razão, homem algum merece a dádiva da salvação (Ef 2:5, 7; Rm 3:24). Com efeito, há mesmo uma relação mutuamente excludente entre graça e mérito (obras). Ou a salvação é pela graça (uma concessão gratuita que o homem não merece receber) ou é pelas obras (uma justa retribuição pelos méritos humanos). Como ensinou o apóstolo Paulo: "se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça" (Rm 11:6; cf. Rm 4:4; Ef 2:8, 9; II Tm 1:9). Eis a razão pela qual não pode haver gente "orgulhosa" de sua salvação: ela não foi uma conquista pessoal e meritória (Ef 2:9; Rm 3:27). Por outro lado, cumpre ressaltar os aspectos que diferenciam a graça especial da graça comum. Primeiro, a graça especial remove a culpa, perdoa pecados e justifica; a graça comum, não. Segundo, a graça especial age espiritualmente e renova a natureza do homem, mudando a Sua relação com Deus; a graça comum opera somente física, intelectual e moralmente. Terceiro, a graça especial é irresistível; a graça comum, resistível, podendo sofrer maior ou menor resistência. Agora, pois, debrucemo-nos sobre as operações do Espírito Santo na graça especial. São elas: a vocação eficaz, a regeneração, a conversão, a justificação, a adoção, a santificação e a glorificação. 37. As operações do Espírito Santo na graça especial: o início da vida cristã. A partir desse ponto, teceremos alguns breves comentários acerca da graça especial do Espírito Santo, quando Este realiza o início da vida cristã, operando a vocação eficaz, a regeneração, a conversão, a justificação e a adoção. O chamado eficaz é a obra divina pela qual o Espírito Santo, mediante a pregação da Palavra de Deus, convoca eficaz, soberana, irresistível e internamente os eleitos para a salvação (Gl 1:15; I Co 1:23, 24; Rm 8:30).
  • 40. Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior O Credo Apostólico 40 Noutras palavras, trata-se da ação do Espírito em iluminar o pecador eleito de modo que este compreenda o evangelho salvadoramente e se volte para Deus em arrependimento e fé (Jo 6:37; 10:27, 28; At 16:14). A par deste chamado eficaz, há uma vocação externa, que é a apresentação das verdades do evangelho pela igreja, acompanhada do convite ao pecador para que este se arrependa e creia e, assim, receba o perdão dos seus pecados (At 8:27-38). Nosso Senhor, João Batista e os apóstolos proclamaram as verdades do evangelho (Mt 4:17; Mc 1:14, 15; At 2:38), e há um sem número de mandamentos bíblicos para que façamos o mesmo (Mc 16:15; II Co 5:20). Esta vocação externa é resistível (Mt 19:21, 22; 20:16; At 2:40, 41; 17:30-32), mas imprescindível à vocação eficaz e sempre precede esta (Rm 10:13-15). A regeneração, por sua vez, é a obra do Espírito Santo por meio da qual Ele concede vida espiritual a um coração morto e o purifica (Tt 3:5), por meio da Palavra de Deus (I Pe 1:23; Tg 1:18). Trata-se de uma operação absolutamente necessária (Jo 3:3-6; 6:44, 65) para que o pecador, morto em seus delitos e pecados (Ef 2:1-3), incapaz de compreender verdades espirituais (I Co 2:14) e de mudar a si mesmo (Jr 13:23), volte-se para Deus. Na regeneração, o homem é o sujeito passivo. Ela não ocorre por vontade humana, mas pela livre decisão divina (Jo 1:12, 13; 3:8). É um "nascer de novo", expressão que pode ser traduzida como "nascer de cima" (Jo 3:3). O Novo Testamento traz outros termos para regeneração, referindo-se a essa mudança operada pelo Espírito como "nova criação" (II Co 5:17), iluminação (II Co 4:6) e ressurreição (Ef 2:5; I Jo 3:14), expressões que enfatizam tratar-se de uma obra inteiramente divina. Os resultados da regeneração podem ser resumidos em termos de uma nova relação com Deus. Há um novo "pendor", uma nova tendência ou inclinação (Rm 8:6), quando um novo e mais profundo e dominante desejo da alma passa a ser o de servir e amar a Deus (I Jo 2:29; 3:9; 4:7; 5:1, 4, 18). Só é cristão verdadeiro quem nasceu de novo, tornando-se habitação do Espírito Santo (Rm 8:9). Em termos humanos, o novo nascimento se expressa em termos de conversão, compreendida como a reação humana à regeneração (I Ts 1:5-10), pela qual o homem regenerado se volta para Deus em arrependimento e fé (Is 55:7).