Este trabalho analisa a trajetória do jornal Diário Nordestino, publicado entre 2005 e 2008 em São Domingos, Bahia. O jornal foi produzido pelo Instituto de Comunicação e Juventude Diário Nordestino com o objetivo de informar a comunidade local sobre diversos assuntos. A análise de conteúdo de dezesseis edições mostra que o jornal contribuiu para a comunidade abordando temas como social, cultura, esporte, educação, meio ambiente, política, saúde e culinária. O Diário
Diário nordestino mobilização jovem através da imprensa no território do sisal
1. 1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
Ariclene Cunha Silva
DIÁRIO NORDESTINO: MOBILIZAÇÃO JOVEM
ATRAVÉS DA IMPRENSA NO TERRITÓRIO DO
SISAL
Conceição do Coité – BA
2010
2. 2
Ariclene Cunha Silva
DIÁRIO NORDESTINO: MOBILIZAÇÃO JOVEM
ATRAVÉS DA IMPRENSA NO TERRITÓRIO DO
SISAL
Trabalho de conclusão apresentado ao
curso de Comunicação Social –
Habilitação em Radialismo, da
Universidade do Estado da Bahia, como
requisito parcial de obtenção do grau de
bacharel em Comunicação, sob a
orientação da Professora Kátia Morais.
Conceição do Coité – BA
2010
3. 3
Ariclene Cunha Silva
DIÁRIO NORDESTINO: MOBILIZAÇÃO JOVEM
ATRAVÉS DA IMPRENSA NO TERRITÓRIO DO
SISAL
Trabalho de conclusão apresentado ao
curso de Comunicação Social –
Radialismo, da Universidade do Estado
da Bahia, sob a orientação da Professora
Kátia Morais.
Data:____________________________
Resultado:_______________________
BANCA EXAMINADORA
Prof. (orientador)___________________
Assinatura________________________
Prof.____________________________
Assinatura_______________________
Prof.____________________________
Assinatura_______________________
4. 4
RESUMO
JORNAL DIÁRIO NORDESTINO: MOBILIZAÇÃO JOVEM ATRAVÉS DA
IMPRENSA NO TERRITÓRIO DO SISAL
Este trabalho busca promover uma análise sobre a trajetória do jornal Diário
Nordestino, publicado entre junho de 2005 e fevereiro de 2008, na cidade de São
Domingos, semi-árido da Bahia. O jornal faz parte de um projeto do ICOJUDE,
entidade formada por jovens que buscam o desenvolvimento local, incentivando a
participação popular e valorização da cultura. Através do método da análise de
conteúdo das matérias publicadas, buscar-se-á compreender qual a contribuição do
Diário para a comunidade local, tomando-se como base critérios jornalísticos. Será
tomada ainda como referência para a análise, a relação entre os movimentos sociais
e a comunicação no Território do Sisal, onde se insere o jornal, com fins ao
desenvolvimento social.
Palavras-chave: comunicação, desenvolvimento, história, jornalismo, território.
ABSTRACT
This work search to promote an analysis about the trajectory of the newspaper Diário
Nordestino‟s, publishing between june of the 2005 and february of the 2008, in the
city of the São Domingos, of the Bahia. The newspaper make part of the a project of
the ICOJUDE, institution with young that search the local development, incentiving
the popular participation and to valuation of the culture. Through of the method of the
analysis, contents of the matter published, to search the understanding that
contribution of the Diário’s for the local communication making as base criterion
journalistic. Will be took still as reference for the analysis, the relation between the
social movement and the communication in the Territory of the Sisal, where the
newspaper, with position for social development.
Key-words: communication, development, history, journalism, territory.
5. 5
Dedico este trabalho aos meus pais e amigos que
me apoiaram nos momentos em que mais precisei.
6. 6
AGRADECIMENTOS
À Kátia Morais, minha orientadora que esteve comigo em todos os momentos, pelo
incentivo e pela confiança.
Aos meus colegas de sala, que me deram força para produzir, principalmente, Aline
Araújo e Vagna Santos, minhas parceiras, colegas, amigas presente comigo durante
todo o curso.
AGRADECIMENTO ESPECIAL:
À Deus e aos meus pais: Ariel e Elisvalda.
7. 7
LISTA DE SIGLAS
ANATEL: Agência Nacional de Telecomunicações
APAEB: Associação dos Pequenos Produtores do Estado da Bahia
CEBs: Comunidades Eclesiais de Base
CODES: Conselho de Desenvolvimento Territorial Rural do Sisal
DN: Diário Nordestino
FATRES: Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal
FLELC: Feira de Leitura da Escola Luiz de Camões
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICOJUDE: Instituto de Comunicação e Juventude Diário Nordestino
MOC: Movimento de Organização Comunitária
ONGs: Organizações não governamentais
PC do B: Partido Comunista do Brasil
PSB: Partido Socialista Brasileiro
PSTU: Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
PTDRS: Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Sisal
SINJORBA: Sindicato dos Jornalistas da Bahia
STR‟s: Sindicato de Trabalhadores Rurais
TCU: Tribunal de Contas da União
TV: Televisão
UNEB: Universidade do Estado da Bahia
8. 8
LISTA DE TABELAS
Quadro 1: Tabela da população do Território do Sisal entre 1980 e 2005......... 41
Quadro 2: Tabela com síntese das matérias publicadas no DN......................... 62
9. 9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Primeiro exemplar do jornal Gazeta do Rio.............................................. 18
Figura 2: Mapa do Território Rural do Sisal.............................................................. 35
Figura 3: Matéria do jornal DN edição nº. 9.............................................................. 67
Figura 4: Matéria do jornal DN, edição nº 10 ........................................................... 69
Figura 5: Matéria/capa do jornal DN, edição nº 15.................................................... 72
Figura 6: Capa do jornal DN, edição nº 2.................................................................. 74
10. 10
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO................................................................................................... 11
1. IMPRENSA NO BRASIL: UMA ABORDAGEM INTRODUTÓRIA................ 16
1.1. Nascimento da imprensa no Brasil: primeiros impressos............................ 16
1.2. Imprensa pioneira na Bahia......................................................................... 21
1.3. A imprensa baiana nos dias atuais.............................................................. 24
1.4. Imprensa no Território do Sisal.................................................................... 28
2. TERRITÓRIO DO SISAL: LUGAR DE LUTA, RESISTÊNCIA E
ESPERANÇA..................................................................................................... 34
2.1. O Território e suas características............................................................... 34
2.2. Vegetação e Fauna Sisaleira....................................................................... 39
2.3. População.................................................................................................... 40
2.4. A mobilização da Sociedade Civil................................................................ 43
2.5. Algumas organizações sociais que se destacam no Território.................... 47
3. A TRAJETÓRIA DO JORNAL DIÁRIO NORDESTINO NA CIDADE DE
SÃO DOMINGOS............................................................................................... 53
3.1. ICOJUDE: uma representação juvenil no território sisaleiro....................... 53
3.2. O Jornal Diário Nordestino.......................................................................... 56
3.3. A análise de conteúdo do DN...................................................................... 60
3.3.1. Social........................................................................................................ 62
3.3.2. Cultura e Lazer......................................................................................... 64
3.3.3. Esporte..................................................................................................... 66
3.3.4. Educação.................................................................................................. 67
3.3.5. Meio Ambiente.......................................................................................... 68
3.3.6. Policial...................................................................................................... 69
3.3.7. Saúde....................................................................................................... 70
3.3.8. Política...................................................................................................... 70
3.3.9. Culinária.................................................................................................... 72
3.3.10. Capas..................................................................................................... 73
4. Resultados da análise.................................................................................... 75
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 77
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 81
11. 11
INTRODUÇÃO
Frutos das sociedades capitalistas, os meios de comunicação de massa
nascem com o papel de preencher lacunas nas interações diretas no contexto de
desenvolvimento das cidades, ampliação das distâncias geográficas entre os
sujeitos e escassez de tempo, diante do aumento na velocidade do ritmo cotidiano.
Assim, esses meios possuem desde o seu surgimento, dentre outros, o papel de
informar o cidadão sobre o que acontece à sua volta e, ao divulgar essas
informações, influenciar a opinião da comunidade e pretensamente despertar o
senso crítico das pessoas. Reforçando essa idéia, Ribeiro (2004, p. 4) diz que “vale
destacar o papel desempenhado pela mídia, que fornece informações e pontos de
vistas diferentes (pluralismo) para que os indivíduos formem valores sobre assuntos
de interesse – que contribui para o aprimoramento da democracia deliberativa”.
Entre todos os veículos de comunicação existentes, é preciso destacar o
papel exercido pela imprensa, pelo jornalismo e por todos os profissionais que
atuam nessa área, pois se trata de um meio que distribui conhecimento e informação
à sociedade, seja ele através do rádio, da TV, do jornal impresso, da internet ou de
meios informais. Dando ênfase ao jornalismo, Traquina (2005) defende que este é
entendido como uma realidade seletiva construída através de processos de
interação social entre os profissionais do campo jornalístico, suas diversas fontes e a
sociedade e, mesmo limitado e constrangido, o poder do jornalismo e dos jornalistas
aponta para a importância das suas responsabilidades sociais.
Refletindo sobre o assunto, pode-se dizer que esses meios de comunicação
ocupam um lugar de destaque na sociedade pela sua história e sua influência,
tornando-se, inclusive, parte dela. Porém, é necessário se pensar de que forma
esses veículos atuam, se eles se adequam aos ambientes, aos comportamentos, à
12. 12
cultura dos indivíduos, pois é através desses fatores que estes conseguem
interpretar e entender o que está sendo divulgado. De modo complementar, para o
entendimento da mensagem, é preciso que esse veículo tenha uma linguagem clara
e objetiva.
Para Vicchiatti (2005, p. 40) a linguagem “encerra o sentido de comunicação
por meio de um sistema de códigos que sejam compreendidos por outros seres
semelhantes”, sendo o instrumento através do qual o homem exercita sua
capacidade de imaginar e comunicar experiências.
A colocação do autor parece ter consistência, tendo em vista o fato de ser a
linguagem composta por signos e símbolos que são decodificados pelo indivíduo a
partir de suas especificidades culturais, ou seja, dos contextos sociais onde se
inserem. Através dela ainda se é possível imaginar, criar ou recriar uma determinada
situação.
Aplicando essa noção ao contexto específico do jornalismo, segundo o
Manual de Redação da Folha de São Paulo, “o texto do jornal deve ter estilo próximo
da linguagem cotidiana, sem deixar de ser fiel à norma culta, escolhendo a palavra
mais simples e a expressão mais direta e clara possível, sem tornar o texto
impreciso” (apud VICCHIATTI, 2005, p. 38). Para o maior entendimento do leitor a
linguagem do jornal precisa estar de acordo com a cultura local e com o contexto em
que se vive, porém não se pode fugir às regras da língua portuguesa, mas é
possível se utilizar uma linguagem coloquial para facilitar a decodificação da
informação.
Assim, é impossível não contextualizar a imprensa e o jornalismo
regional/local que caracterizam este povo por estarem próximos dos atores sociais
que fazem as notícias acontecerem. Ribeiro (op.cit., p. 7) afirma que “a identidade
13. 13
regional necessita de mecanismos de produção simbólica que contemplem o reforço
do sentimento de pertença”. Nesse caso, o indivíduo precisa se sentir integrante do
contexto em que está inserido, ou seja, do local. A autora acrescenta ainda que,
ao abordar a questão território/conteúdo na imprensa regional, Camponez é
enfático: “quem diz imprensa regional diz informação local”. A partir dessa
afirmação, é possível compreender a razão de ser do jornalismo regional,
uma vez que existe uma ligação conceitual entre localização territorial e a
territorialização dos conteúdos. (ibid. p. 7).
É notório então que a imprensa e o jornalismo regional precisam trabalhar em
conjunto em busca da veiculação de informações locais e de interesse do seu
público-alvo, compreendendo os seus gostos, hábitos, costumes e interesses e
contextualizando com o que será divulgado.
Buscando entender um pouco essa realidade jornalística regional/local, a
presente monografia tem como objetivo analisar a trajetória do jornal Diário
Nordestino, que circulou de 2005 a 2008 na cidade de São Domingos, região semi-
árida da Bahia, para, através dos conteúdos publicados nas edições, identificar a
contribuição informativa do jornal para a comunidade, observando o contexto
histórico local. Nesse processo, é preciso pensar o desenvolvimento e concepção do
jornal, ou seja, de que forma as notícias eram divulgadas, observando seu valor
informativo com o olhar voltado para o leitor. A partir disso, buscar-se-á responder à
seguinte questão: Qual a contribuição informativa do jornal impresso Diário
Nordestino para a comunidade de São Domingos onde os únicos meios de
comunicação acessíveis à população são o rádio e a TV?
A metodologia utilizada para esse estudo será a análise de conteúdo, já que
se busca verificar o teor do conteúdo das matérias publicadas no jornal. Será feita a
análise de dezesseis edições do jornal, publicadas no período de junho de 2005 a
dezembro de 2006. Segundo Laville e Dione (1999, p. 214) “o princípio da análise de
14. 14
conteúdo, consiste em desmontar a estrutura e os elementos desse conteúdo para
esclarecer suas diferentes características e extrair sua significação”. Em outras
palavras, esse tipo de análise procura estudar o seu objeto minuciosamente, para
então identificar suas características, seu significado e seus valores.
Essa metodologia poderá contribuir para descobrir de que forma o conteúdo
das matérias veiculadas era importante para a população levando em consideração
o local- mesmo diante de desafios como a falta do hábito de leitura e o baixo índice
de escolaridade, principalmente entre adultos e idosos na região estudada-
buscando perceber, assim, se as notícias contribuíam de alguma forma para o
desenvolvimento dos leitores por se tratar do único veículo impresso de informação
produzido no município de São Domingos durante o período investigado.
A fim de discorrer sobre a problemática descrita, a presente monografia será
dividida em três capítulos. O primeiro, “Imprensa no Brasil: uma abordagem
introdutória”, fará um breve relato sobre a história da imprensa no Brasil, na Bahia e
no Território do Sisal, apresentando alguns dos principais jornais que existiram no
decorrer da história e a importância de cada um deles. Apoiaremo-nos, neste
momento, em conceitos de autores como, Cicillini, Guedes, Melo, Oliveira, Sodré
entre outros.
No segundo capítulo, “Território do Sisal: lugar de luta e esperança”, será feita
uma abordagem a fim de contextualizar este espaço, já que nele se insere o objeto
de análise deste trabalho. Para isso, serão apresentados aspectos como vegetação,
fauna e população, além destacar a planta que caracteriza a região e que é também
a principal fonte de renda da população local: o sisal. A mobilização social, a
participação e a luta pelos direitos também ganha espaço neste capítulo,
explicitando assim, um pouco sobre os movimentos sociais, organizações,
15. 15
sindicatos, ONGs entre outras instituições que exercem um papel importante na
comunidade e que através de esforços conquistam espaço e ações em prol da
sociedade civil dentro do território. Esse assunto será abordado pela força que essa
questão tem no Território, na tentativa de situar o leitor no contexto social do objeto
de estudo desta monografia. Autores como, Andrade, Gomes, Hubschamn, Kunsch,
Peruzzo, Santos, Toro e Werneck embasam esta parte da pesquisa.
O terceiro e último capítulo, intitulado “A trajetória do jornal Diário Nordestino
na cidade de São Domingos”, trará a análise de conteúdo do jornal estudado e
apresentará o ICOJUDE (Instituto de Comunicação e Juventude Diário Nordestino),
instituição idealizadora do Jornal, com uma rápida abordagem sobre suas ações e
seus projetos. A descrição do jornal abordará seu surgimento e características
como, formato, tiragem, custos, linguagem das matérias, dentre outros. Por fim, será
feita a análise do conteúdo das matérias nas dezesseis edições analisadas, sendo
esta parte subdividida em tópicos das editorias de acordo com os assuntos, critérios
jornalísticos para divisão de áreas por temas abordados.
Por fim, serão feitas as considerações finais, que buscarão contemplar, à luz
do referencial teórico adotado, uma reflexão sobre o papel exercido pelo jornal Diário
Nordestino para a comunidade de São Domingos, tendo em vista suas limitações,
falhas e possíveis contribuições para o desenvolvimento local.
16. 16
1. IMPRENSA NO BRASIL: UMA ABORDAGEM INTRODUTÓRIA
Este capítulo está dividido em quatro seções. A primeira, “Nascimento da
imprensa no Brasil: primeiros impressos”, buscará uma aproximação com o universo
do jornalismo impresso brasileiro a partir de referências a alguns dos jornais que
fizeram parte da história da impressa nacional em seus primórdios. A segunda
seção, “Imprensa pioneira na Bahia”, irá tratar dos principais periódicos jornalísticos
implantados no Estado, bem como suas características, a fim de compreendermos o
perfil traçado pela impressa baiana em seu primeiro momento. A terceira seção, “A
Imprensa baiana nos dias atuais”, abordará os três jornais de maior circulação
atualmente no estado, abordando rapidamente suas linguagens e formatos. Por fim,
a seção “Imprensa no território do sisal” se dedicará à apresentação de alguns dos
impressos que compõem a produção jornalística do território, tendo em vista ser este
o espaço no qual se insere o jornal investigado nesta monografia, e que será
explorado no terceiro capítulo.
1.1. Nascimento da imprensa no Brasil: primeiros impressos
A imprensa no Brasil é oficialmente implantada em 1808, após a chegada de
D. João, que, impedido de permanecer em Lisboa em decorrência da invasão
francesa, instalou a sede do Reino Português na cidade do Rio do Janeiro. De
acordo com Melo (2003, p. 87-88),
[...] Mantinha-se o Brasil, até aquela época, em situação de atraso, não
preenchendo os requisitos mínimos para abrigar o Príncipe Regente e seus
nobres acompanhantes, acostumados aos progressos de uma capital
européia [...] a implantação da imprensa não constituiu uma iniciativa
isolada, mas vinculou-se a um complexo de medidas governamentais
capazes de proporcionar o apoio infra-estrutural para a normalização das
atividades da Coroa Portuguesa.
17. 17
Reforçando esse pensamento, na obra “História da Imprensa no Brasil”,
Sodré (1999, p.01) esclarece que a imprensa brasileira nasce atrelada ao poder
político e que “a história da imprensa no Brasil é a própria história do
desenvolvimento da sociedade capitalista”, tendo em vista o contexto de
concentração urbana, início do processo de desenvolvimento do comércio e
indústria e elevação do nível cultural das elites vindas de Portugal. Naquele
momento, a imprensa chegava ao país com um forte poder influenciador sobre o
comportamento dos indivíduos, e como interessava à Coroa criar uma imagem
positiva diante da população, a imprensa foi um dos instrumentos escolhido para
isso.
O primeiro folheto impresso no Brasil chamava-se Relação da Entrada, com
dezessete páginas de texto, redigido por Luís Antônio Rosado da Cunha e impresso
por Antônio Isidoro da Fonseca, antigo impressor conceituado em Lisboa
(OLIVEIRA, 2009). Já o primeiro jornal oficial do país, a Gazeta do Rio de Janeiro,
foi lançado em setembro de 1808 e feito na imprensa oficial. Os textos veiculados no
jornal eram extraídos da Gazeta de Lisboa e de outros jornais ingleses. Segundo
Oliveira (ibid, p.16),
[...] Seu caráter era de folha unilateral devido à defesa e exaltação do
império português. [...] Nos primeiros números tratava quase que apenas
sobre a situação de Portugal e Espanha, nações resistentes à dominação
de Napoleão e suas tropas. Contava com assinantes e publicava anúncios
de comércio. Ao todo, saíram do prelo 32 edições, sendo a maioria
extraordinária com quatro páginas.
A Gazeta era publicada semanalmente, passando por um período de
publicação bissemanal e, a partir de agosto de 1821, circulava três vezes por
semana. O jornal era editado por Frei Tibúrcio José da Rocha e seu conteúdo se
restringia aos interesses da Coroa, com assuntos voltados para a vida cortesã. Em
29 de dezembro de 1821 o impresso passou a se chamar Gazeta do Rio e,
18. 18
posteriormente, com a independência da República, denominou-se Diário do
Governo. Abaixo uma reprodução do primeiro exemplar da Gazeta:
Figura 1: Fonte: http://commons.wikimedia.org
Outro jornal que se destacou na imprensa brasileira foi o Correio Brasiliense,
lançado em Londres por Hipólito da Costa, cidade onde o brasileiro se encontrava
exilado diante de momento de forte censura frente aos meios de comunicação
produzidos no país. O jornal era dividido em seções e divulgava documentos,
notícias sobre o comércio, informações científicas e literárias, dentre outros temas.
O Correio circulou de 1º de junho de 1808 a dezembro de 1822. Por ser
clandestino, durante todo esse período o impresso encontrou dificuldades para se
manter, tendo enfrentado perseguição do governo. Com características específicas,
Gazeta e Correio, são marcos importantes da história da imprensa nacional em seus
primeiros momentos. Para Sodré (op.cit., p. 22),
[...] a Gazeta era embrião de jornal, com a periodicidade curta, intenção
informativa mais do que doutrinária, formato peculiar aos órgãos impressos
do tempo, poucas folhas, preço baixo; o Correio era brochura de mais de
cem páginas, geralmente 140, de capa azul escuro, mensal, doutrinário
muito mais informativo, preço muito mais alto [...] destinava-se a conquistar
opiniões.
19. 19
O grande questionamento colocado por alguns historiadores quanto à
inserção do Correio na história da imprensa nacional diz respeito à sua produção
com um olhar externo, logo que o impresso era produzido de Londres a partir de
relatos de informantes que estavam no Brasil. Já a Gazeta, era patrocinada pela
Coroa, mantendo caráter informativo, mas a partir da ótica do poder real e
divulgando apenas o que era de interesse do governo.
A partir de 1820, diante do surgimento de novos impressos, desvinculados do
poder real e desenvolvidos diante de um olhar “interno”, o Correio já não ocupava
prestígio, uma situação intensificada com a Independência do Brasil, fator decisivo
para o desaparecimento do veículo.
Nesse contexto surgiram vários periódicos, dentre eles o Diário do Rio de
Janeiro, fundado em 1º de junho de 1821 e extinto em 1878. Redigido pelo
português Zeferino Vito de Meireles, foi o primeiro jornal realmente informativo do
país. Segundo Sodré (ibid, p.50-51),
[...] Diário, ocupava-se quase tão somente das questões locais, procurando
fornecer aos leitores o máximo de informação. Inseria informações
particulares e anúncios [...] A popularidade do periódico cresceu: passou a
ser conhecido como Diário do Vintém, pelo preço, e como Diário da
Manteiga porque trazia os preços, entre outros gêneros, da manteiga que
chegava à Corte para consumo da população.
Segundo o autor, o Diário procurava se distanciar das questões políticas do
país dando enfoque a temas ligados mais diretamente ao cotidiano da cidade, como
furtos, reclamações e divertimentos, tendo ainda um espaço destinado à literatura,
por iniciativa do romancista e redator-chefe do jornal, José de Alencar. Naquele
periódico, o escritor publicou obras como Cinco Minutos, O Guarani e a Viuvinha
(SODRÉ, 1999).
Outro jornal desse período foi o Diário de Pernambuco, fundado em 7 de
novembro de 1825, pelo o tipógrafo Antonino José de Miranda Falcão. O Diário de
20. 20
Pernambuco tinha o objetivo de ser informativo, atendendo ao comércio e aos
interesses da comunidade. Posteriormente, assumiu um caráter mais discursivo e
denunciador, divulgando intrigas provincianas, o que resultou na proibição de
circulação de alguns exemplares (OLIVEIRA, 2009, p. 17).
Dois anos após o nascimento do Diário, em 1º de outubro de 1827 surgiu no
Rio de Janeiro o Jornal do Commercio, por iniciativa de Pierre Seignot Plancher. O
jornal contou com grandes nomes durante sua trajetória, como Rui Barbosa e
Visconde de Taunay, dentre outros. Em 1959 passou a integrar o grupo Diários
Associados e teve um papel importante na história do Brasil, pois acompanhou a
trajetória do país desde o Império, até os dias de hoje.
Outro momento importante para a história da imprensa nacional parte da
criação do Pasquim, em 1969, por João Maria da Costa e José Joaquim de
Carvalho. Nascido como imprensa alternativa num período de regime militar, tratou-
se de um tablóide de circulação semanal com uma trajetória marcada por forte
censura e perseguição governamental.
O Pasquim possuía características específicas. Com sua linguagem informal
e ilustrativa, procurava combater a censura durante a ditadura militar, publicando
charges, caricaturas e outras ilustrações que refletiam a situação. O veículo teve em
sua equipe nomes significativos da história da comunicação brasileira como Paulo
Francis, Jaguar, Ziraldo, Millôr Fernandes, Henfil e Ferreira Gular.
Por causa de uma sátira de Dom Pedro às margens do Ipiranga publicada em
1970 a redação inteira do jornal foi presa. Decorrida esta situação, os militares
esperavam que o semanário saísse de circulação e seus leitores perdessem o
interesse, porém o Pasquim não parou por aí, Millôr Fernandes se tornou o novo
dirigente do informativo até 1971, época que os outros dirigentes foram libertos da
21. 21
prisão. A partir de 1980, as bancas que vendiam os jornais começaram a sofrer
atentados como, explosões e ameaças constantes. Começava o início do fim para o
Pasquim, que acabou sendo extinto em 1991.
Assim, é notório que a imprensa se desenvolve de acordo com a situação
política e econômica do país. Nas cidades desenvolvidas o avanço é maior, pelo fato
de estarem concentradas as sedes do governo, enquanto nas províncias se mantém
o sistema atrasado. Dessa forma, um olhar pela história revela que estados como
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco se destacam no
aparecimento e veiculação de informativos de cunho jornalístico.
1.2. Imprensa pioneira na Bahia:
A Bahia também ocupa destaque na história da imprensa do país.
Advogados, médicos e clérigos, tornando-se editores e diretores de jornais,
fundaram e consolidaram a imprensa baiana (OLIVEIRA, 2009, p. 23). O primeiro
jornal no estado surgiu em 14 de maio de 1811, intitulado Idade d’ Ouro do Brazil, do
português Manuel Antônio da Silva Serva. Circulava às terças e sextas-feiras, com
quatro páginas,
[...] O jornal era quinzenário e editado no país, em sua própria tipografia.
Possuía linha submissa aos ditames do poder colonial e trazia ironicamente
inscritos no cabeçalho, os versos do português Sá de Miranda: “Falei em
tudo verdades/A quem em tudo a deveis”. Apesar de estar teoricamente
voltado à publicação de informações para a sociedade baiana, o jornal
terminava por veicular apenas as verdades aceitas pelo regime absolutista.
(SOUZA, apud OLIVEIRA, 2009, p. 22-23).
O impresso possuía uma característica própria, as notícias políticas
apareciam de maneira mais fria, sem tantos detalhes, anunciando-se apenas os
fatos, mas sem deixar de tentar influenciar o leitor através das entrelinhas. A linha
22. 22
editorial do jornal se mantinha conservadora e defendia o absolutismo monárquico
português. De acordo com Sodré (op. cit., p. 29),
Essa pretensa isenção, entretanto, não deveria impedir a folha de mostrar
“como o caráter nacional ganha em consideração no mundo pela adesão ao
seu governo e à religião”. Assim, deveria ser imparcialmente a favor do
absolutismo e constitui-se em órgão de sua louvação.
Dessa forma, as informações publicadas no Idade d’ Ouro eram de extremo
interesse das autoridades. Com a derrota do general Inácio Luís Madeira de Melo e
a expulsão das forças portuguesas da Bahia, o jornal foi extinto, em 24 de junho de
1823.
Outro jornal importante na história da imprensa baiana foi O Diário
Constitucional, criado em 4 de agosto de 1821 para defender os interesses
brasileiros. Para Lopes (2008, p. 2), “o jornal apoiava a maioria brasileira na Junta
Provisional, que substituía o governador baiano”. E acrescenta que “essa junta era
formada pela maioria de portugueses e tinha o apoio de órgãos oficiais, conhecidos
como áulicos, principalmente o Semanário Cívico e Idade de Ouro do Brasil”.
O Diário travou uma disputa política saindo da monotonia da imprensa na
época, durante um período de eleição para o governo da Bahia. Por conta da
violência travada durante a campanha eleitoral, o jornal suspendeu provisoriamente
sua circulação, voltando a ser distribuído em 10 de maio de 1822, com o nome de O
Constitucional, já que deixava de ser um jornal diário (SODRÉ, 1999, p. 52).
O papel do Diário era tonificar as autoridades que pendiam para a obediência
a D. Pedro, enquanto se organizava, no Recôncavo, a força capaz de enfrentar a
tropa de Madeira. Os redatores do jornal perturbavam a ordem no país. Em 21 de
agosto, o jornal publicou uma correspondência contra o „cordão de despotismo‟, fator
imprescindível para o seu empastelamento, em 1823. Descrevendo o fato, Sodré
afirma que,
23. 23
[...] à frente de tropilha de militares, o coronel Almeida Serrão invadiu a
oficina, decompôs o dono, proibindo-lhe continuar a imprimir o jornal, correu
à residência de Corte-Real e, não o encontrando, quebrou os móveis à vista
da família, terminando por assaltar as lojas onde se vendia a folha,
depredando-as. (op.cit., p. 53).
Nesse período os jornais tinham que seguir a linha ideológica do governo,
mostrando aí sua submissão a ele. Aqueles que estavam contrários ao seu
pensamento tinham suas oficinas destruídas, saindo assim de circulação.
Novos diários aparecem no cenário baiano como o Guayacurú que difundia os
ideais republicanos e o Diário da Bahia, que na vida pública teve um papel
importante pelos nomes ilustres em sua redação e por participar dos movimentos
que interessavam à capital baiana. O Ateneu circulou de 1849 a 1950, sob
responsabilidade da Escola de Medicina da Bahia. Era um periódico científico e
literário mensal, produzido por professores e estudantes de Medicina, poetas e
escritores, com formato diferenciado, baseado num estilo de revista, com poucos
anúncios (SOUZA, apud OLIVEIRA, op. cit., p. 23-24).
O Diário de Notícias da Bahia circulou em Salvador durante 1935 a 1941,
tendo sido
[...] um vespertino que desenvolveu ampla campanha política favorável à
Alemanha nazista. O diário refletia o esforço das autoridades do III Reich
em divulgar as ideologias nazi-fascistas em todo o mundo e foi
instrumentalizado por autoridades germânicas que atuavam no Brasil. Tal
ação ocorreu sob os consentimentos do presidente Getúlio Vargas e da elite
política baiana. (JUNIOR, apud OLIVEIRA, ibid, p. 24).
O jornal era considerado um panfleto propagandístico nazista e enquadrado
como um modo de produção capitalista. Em agosto de 1942 foi empastelado. A
causa foi a indignação de setores da população soteropolitana com relação à
postura editorial assumida pelos dirigentes do jornal no seu período de circulação na
cidade.
24. 24
1.3. A imprensa baiana nos dias atuais:
Segundo o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (SINJORBA), não há um
número oficial de quantos jornais circulem atualmente na Bahia, já que não existe
um órgão responsável pela verificação desses dados1. Soma-se a isso a falta de
registro de alguns impressos e a dimensão territorial do estado, o que dificulta ao
acompanhamento dos periódicos.
A fim de traçar um perfil geral da produção jornalística impressa atual no
estado da Bahia, nos concentraremos aqui nos três jornais de maior circulação, A
Tarde, Tribuna da Bahia e Correio da Bahia, todos com sede na capital.
O jornal A Tarde foi fundado em 15 de outubro de 1912, pelo jornalista e
político Ernesto Simões Filho. Colorido, o jornal é dividido em cinco cadernos fixos
que se subdividem em cinqüenta e oito páginas e abordam temas como economia,
política, cultura, esporte, emprego, além de notícias locais, regionais, estaduais e
nacionais. Um caderno especial que sai às sextas-feiras com dezesseis páginas é o
Fim de Semana que divulga eventos, shows, peças sobre os seguintes temas:
cinema, crianças, estação, gula, música, cênicas entre outros. Esse caderno, na
verdade, é uma exposição dos eventos que irão acontecer de atração na cidade,
incentivando os indivíduos a prestigiarem o trabalho artístico dos profissionais da
área. Com diagramação organizada estrategicamente para chamar a atenção do
leitor, o informativo utiliza-se de muitas fotos para ilustrar as matérias e textos em
sua maioria curtos2.
1
Informação cedida por telefone pela secretária do SINJORBA em dezembro de 2009.
2
Informações observadas através da análise do periódico do dia 08 de janeiro de 2010, ano 98, nº 33.147.
25. 25
O A Tarde lançou em 2008 a revista MUITO, que acompanha o impresso na
edição de domingo. Segundo dados extraídos do site do Jornal3, a revista
constituída em média de cinqüenta e duas páginas, ocupa o posto de maior revista
de circulação Norte/Nordeste, com cem mil exemplares. Seu conteúdo aborda temas
como moda, gastronomia, personalidades, esportes, qualidade de vida e consumo.
Laércio Lucas e Celane Rosa, no blog Comunicação Café: História do Jornal A
Tarde, defendem que o A Tarde é “um jornal diário que circula no estado da Bahia,
sendo considerado o maior jornal do Norte/Nordeste do país” e acrescenta que “na
atualidade, é o diário mais antigo em circulação”. Em virtude da tecnologia e da
rapidez exigida para se divulgar os fatos, o A Tarde também está disponível na
internet, com sua versão online, trazendo notícias sobre política, cultura, cinema,
esporte, tempo, mundo, entre outros.
Outro jornal importante da Bahia é o Tribuna da Bahia, fundado por Elmano
Silveira Castro em 21 de outubro de 1969, num período de ditadura militar no país,
apresentando uma linha editorial que defendia a independência do status quo,
[...] com uma nova linguagem, ousado conceito gráfico, novas expressões,
quebrando muitos tabus do jornalismo, graças à audácia de seu redator-
chefe, Quintino de Carvalho. Cabe lembrar que a Tribuna da Bahia,
internamente, também foi audaciosa ao implantar, pela primeira vez no
Brasil, um manual de redação e criar a famosa Escolinha TB de Jornalismo.
(BRUNO, 2003, p.1).
Ao longo dos anos de circulação, o Tribuna passou por altos e baixos, tendo
conseguido se manter nos períodos de crise. No dia 21 de julho de 2003 o veículo
aparece nas bancas com uma cara nova.
[...] Segundo editorial assinado por Paulo Roberto Sampaio, a TB está
"totalmente remodelada, com novo conceito gráfico, mais conteúdo, espaço
crítico ampliado, novos colaboradores, cronistas e articulistas de renome
nacional e um compromisso renovado com a Bahia..." (ibid, 2003).
3
www.atarde.com.br
26. 26
Atualmente, o jornal diário chega às bancas com vinte e quatro páginas
organizadas em cinco cadernos que trazem as seguintes editorias: Política, Brasil,
Cidade, Saúde, Esporte, Segurança, Municípios e Dia & Noite. Esta última enfatiza a
cultura divulgando shows, peças e notícias sobre os artistas4. Os cadernos do
informativo possuem sempre a primeira e última página coloridas e o restante em
preto e branco. Já a sua diagramação é bem estruturada, não havendo uma
„poluição visual‟ – excesso de informação, através de fotos e textos, que deixa o
jornal com uma aparência cansativa. No conteúdo do jornal não se encontram
classificados e nota-se um número pequeno de anúncios publicitários. As matérias
relatam fatos, ações, denúncias, entretenimento entre outros temas que ocorrem na
Bahia, no Brasil e no mundo, dando uma atenção maior ao local. O informativo ainda
divulga suas notícias na versão online5.
O terceiro impresso de maior circulação no Estado é o Correio da Bahia.
Fundado em 20 de dezembro de 1978, faz parte da Rede Bahia e está ligado ao
grupo do político Antonio Carlos Magalhães. Segundo Anjos (2004, p. 8), o jornal se
tornou um importante instrumento de comunicação para a família Magalhães e
funcionava como porta voz das ações deste grupo.
No decorrer de sua trajetória, o Correio passou por algumas alterações em
seu projeto gráfico, fruto da própria demanda do mercado: “Ao longo de sua história,
o periódico passou por inúmeros processos de renovação tecnológica, sempre
apoiados por uma agressiva política de marketing, criando promoções para a
conquista de mais leitores e anunciantes” (Rede Bahia de Comunicações, apud
LIMA, 2003, p. 133).
4
Informações adquiridas através da análise do jornal do dia 8 de janeiro de 2010, ano XL, nº 12776.
5
www.tribunadabahia.com.br
27. 27
O informativo circula nas principais cidades da Bahia, tendo presença mais
forte na Região Metropolitana de Salvador. De acordo com informações do seu
expediente, o número de assinantes é hoje de cerca de dezesseis mil, sendo a
tiragem diária de vinte e dois mil exemplares de segunda a sábado e trinta mil aos
domingos. A maioria dos leitores do impresso pertence às classes A e B (ANJOS,
op. cit.).
Atualmente denominado Correio*, acompanhado do logotipo “O que a Bahia
quer saber”, o jornal inovou no seu projeto gráfico e passou a ser publicado em
formato de revista, com trinta e seis páginas distribuídas em editorias como:
Variedades, Bahia, Economia, Brasil, Mundo, Esporte, Mais e Vida além dos
classificados e do caderno 24h*6. Com páginas coloridas, exceto os classificados, o
jornal possui uma diagramação e uma distribuição publicitária estratégica, na maioria
das vezes em páginas pares que chamam mais atenção ao leitor. O Correio*
também conta com a versão online7.
De modo geral, o que se observa é que, além de uma própria necessidade de
se atender ao mercado, as alterações pelas quais os jornais impressos têm passado
em termos de formato, conteúdo e técnica possuem uma relação direta com o
advento de suas versões online. A instantaneidade e agilidade típicos do meio
virtual, ao mesmo tempo em que vêm reduzindo o número de leitores do impresso,
têm exigido constantes adaptações por parte dos veículos, fazendo com que eles
busquem formatos mais atrativos, conteúdos mais diretos, temas mais diversos,
dentre outras medidas para atrair o leitor. No entanto, não se deve perder de vista o
6
Informações constatadas através da análise do jornal do dia 8 de janeiro de 2010, ano XXX, nº 09952.
7
correio24horas.globo.com
28. 28
perfil de cada um desses veículos, devendo exercer cada um seu papel específico,
respeitando-se suas características, enquanto meios de comunicação.
1.4. Imprensa no Território do Sisal:
Tendo em vista que o jornal objeto de análise deste trabalho se insere no
espaço semi-árido baiano denominado Território do Sisal8 faremos uma breve
abordagem sobre impressos significativos ali implantados. Atualmente o Território
conta com jornais quinzenais e mensais em circulação. Quanto aos grupos aos
quais se vinculam, esses impressos nascem a partir de projetos desenvolvidos por
organizações da sociedade civil ou por apoio do poder público.
Refletindo sobre o caráter de publicações jornalísticas em contextos
territoriais menores- tomando-se como referência jornais de grande circulação- a
literatura apresenta algumas características peculiares a esse tipo de impresso. De
modo geral, autores ressaltam o perfil de maior proximidade com o leitor, diante de
uma maior interação entre leitores e redatores, sendo os primeiros, em muitos
casos, fonte para as matérias. Para Oliveira (2009, p.25), em impressos regionais ou
locais,
o autor da matéria ou da nota conhece “algo mais” sobre elas e o contexto
da notícia. Este algo mais diz respeito à personalidade, aos casos de
família, aos acontecimentos banais e polêmicos envolvendo-as, à sua rotina
na cidade, enfim, a complexidade que envolve esses seres humanos.
Contribuindo com essa idéia, Cicillini (2007, p. 1) afirma que,
os jornais regionais/locais atuam efetivamente como meio de difusão das
informações locais. E essa informação local é representada, na maioria dos
casos, pelas temáticas „cidades‟, incluindo as mais freqüentes e recorrentes
„colunas sociais‟, o „esporte‟ e a „política‟.
8
Uma contextualização sobre o território do sisal será feita no próximo capítulo.
29. 29
A autora acrescenta ainda que “os jornais impressos, por serem relativamente
mais acessíveis e baratos que as outras mídias, concentraram em si as principais
manifestações jornalísticas necessárias ao incremento regional/local” (p. 2). Dessa
forma, o jornal regional/local possui um significado muito importante, pois além do
autor da matéria conhecer o ambiente e o comportamento dos indivíduos, pelo fato
dele estar próximo à sociedade, esse meio de comunicação representa a sociedade
através das notícias divulgadas, retratando a situação da população em suas
páginas e parágrafos.
Do mesmo modo, Guedes (2007, p. 2) acredita que o jornal impresso local é
um meio de valor significativo para a comunidade em que é veiculado, pois é focado
na população e no cotidiano das pessoas. Através desse processo, é possível
conhecer melhor os moradores da cidade, os gostos, os costumes, enfim, cria-se
uma relação de afeto entre o jornal e a população.
A identificação com o jornal acontece, na maioria das vezes, porque o leitor já
tem certa visão de mundo atrelada ao local, um fator que influencia no
comportamento e no pensamento desses indivíduos. Assim, o redator deve buscar
em seus textos transcrever essa realidade de forma natural, onde o leitor possa se
sentir inserido naquele contexto. E geralmente, essa prática pode ser constatada
nos jornais locais da região que buscam informar, entreter e segurar o leitor nas
linhas e entrelinhas do texto.
Na cidade de Conceição do Coité, foi lançado em 15 de maio de 1967 o jornal
O Coiteense, sob responsabilidade do Grêmio Estudantil 21 de abril, do Colégio
Santa Terezinha, presidido por Roberto Pinto Lopes. Datilografado e rodado em
mimeógrafo a álcool, as matérias, distribuídas em quatro páginas, tratavam de
acontecimentos culturais, esportes, literatura, utilidade pública e denúncias, dentre
30. 30
outros. Ao todo foram publicadas cento e noventa e duas edições, tendo sido sua
última circulação no dia 8 de junho de 1988 (OLIVEIRA, 2009, p. 27).
Ainda em Coité, em 29 de dezembro de 1980, é lançado o Boletim do
Esporte, posteriormente denominado de Tribuna Coiteense, idealizado por Mário
Silva, com a colaboração de Vanilson Oliveira. Impresso em mimeógrafo a óleo em
papel ofício (A4), inicialmente o impresso trazia notícias sobre esporte mundial e
local. A partir da segunda edição, passou a publicar também informações sobre o
esporte em distritos e cidades vizinhas a Coité. Totalmente impresso em preto e
branco, a maioria das edições continha seis páginas, com tiragem em torno de
trezentos a quatrocentos exemplares, devido ao desgaste do estêncil. O Tribuna
apresentava poucas fotografias e anúncios publicitários. Somente a partir de 1990, o
jornal passou a contar com maior espaço destinado a anúncios publicitários,
divulgando estabelecimentos como padarias, oficinas, papelarias e bancos. As
matérias divulgadas refletiam a situação política, econômica, cultural e social da
cidade, faziam denúncias e críticas sobre problemas administrativos, esclareciam
escândalos e boatos, e prestavam serviços à população. O jornal foi extinto em 8 de
novembro de 1996, após um desentendimento dos idealizadores e pela falta de
tempo e recurso (OLIVEIRA, op. cit.).
O município de Valente, inserido no Território do Sisal – semi-árido da Bahia,
também tem seu nome marcado na história da imprensa regional. O jornal Tribuna
do Sisal circulou na cidade e nos municípios de Retirolândia, Santa Luz e São
Domingos de 2005 a 2008. Surgiu a partir da iniciativa de um grupo de amigos9 que
9
Arnaldo Amaral de Oliveira, Antônio Edil Lopes, Gelson Carneiro da Cunha, Ivanilton Araújo, Sílvio Roberto
Habib e Mário Moreira. As informações mais precisas sobre este jornal foram adquiridas através da análise de
alguns exemplares e de uma entrevista realizada em janeiro de 2010 com Ivanilton Araújo, um dos
responsáveis do jornal.
31. 31
sempre tiveram vontade de colocar em prática a idéia de um jornal regional na
comunidade. Dentre esse grupo de amigos, se destaca o bancário e político
Ivanilton Araújo, que a partir da terceira edição se tornou o responsável pelo
informativo.
Com uma tiragem mensal de até dois mil exemplares, e inicialmente com 12
páginas - a partir da terceira edição passou a ser com 10 páginas – o Tribuna
sempre teve a capa e a última página coloridas, porém as páginas internas do jornal
eram em preto e branco, com algumas exceções para a editoria de Esportes. O
jornal era dividido em sete editorias, sendo elas: geral, educação/cultura, diversos,
local, esporte, saúde e social.
O Tribuna era custeado através de patrocínios do comércio local, com
anúncios publicitários, que variavam entre R$ 35,00 (trinta e cinco reais) e R$
100,00 (cem reais), dependendo do tamanho; além da Câmara de Vereadores e da
Prefeitura, que cobriam uma página cada com a divulgação de suas ações. O jornal
possuía uma forte vinculação com o poder político local, o que comprometia sua
imparcialidade.
As matérias geralmente eram artigos sobre temas livres e diversos, escritos
pelos idealizadores e por colaboradores da sociedade, na maioria médicos,
advogados, bancários, contadores, políticos, juiz, padre, dentre outros que se
utilizavam de uma linguagem mais culta. O jornal divulgava ainda matérias
relacionadas a empresas, associações e fundações em atividade em Valente e
municípios vizinhos, além de conteúdos relacionados às ações da prefeitura
municipal. Vale frisar que o jornal contava com espaço era aberto à comunidade
para escrever matérias, porém a população não costumava se utilizar do mesmo.
32. 32
Com o passar do tempo, o Tribuna foi perdendo sua periodicidade por causa
da falta de patrocínio e da irregularidade da contribuição da prefeitura. Assim o que
era arrecadado não cobria os custos, ficando inviável a veiculação do jornal, que
lançou sua última edição em outubro de 2008.
Atualmente, existe um grande déficit em números de veículos impressos de
comunicação no território, isso por causa do baixo índice de leitura, de incentivo à
produção de informativos, sejam eles jornal, revista ou boletim. Ainda assim,
encontram-se boletins institucionais que divulgam ações da empresa e/ou
organizações como é o caso da Associação dos Pequenos Produtores do Estado da
Bahia (APAEB) e do Movimento de Organização Comunitária (MOC), que possuem
esse tipo de informativo. Este último se destaca neste aspecto, produzindo um
impresso chamado Boletim informativo MOC e um jornal chamado Giramundo.
Segundo informações encontradas no site da Instituição10, o Giramundo “é um
jornal regional que busca, de forma criativa e dinâmica, levar informações de
qualidade para a população da Região Sisaleira”. Possui oito páginas e uma
tiragem de dez mil exemplares por edição. As notícias geralmente tratam de
acontecimentos da região destacando os movimentos sociais, os direitos infanto-
juvenis e o desenvolvimento sustentável.
Olhando pela quantidade de veículos impressos que circulam no Território do
Sisal, este tem muito que crescer e um longo caminho a percorrer ainda. Tanto do
ponto de vista da qualidade, tendo em vista critérios de linguagem jornalística quanto
o aperfeiçoamento do próprio veículo, despertando assim, o interesse do leitor. Mas
antes de tudo é preciso despertar na comunidade o hábito da leitura e o interesse
10
www.moc.org.br
33. 33
por esse meio de comunicação tão rico em informações, para então, tornar essa
prática comum no cotidiano das pessoas.
34. 34
2. TERRITÓRIO DO SISAL: LUGAR DE LUTA, RESISTÊNCIA E ESPERANÇA
Neste capítulo, será feita uma breve revisão sobre o que é o Território do
Sisal. O primeiro tópico, “O Território e suas características”, falará sobre os
municípios que compõem esse espaço, a base econômica do lugar, e seu principal
produto: o sisal, que é a fonte de renda da maioria da população. O segundo,
“Vegetação e Fauna Sisaleira”, dará uma idéia de como é caracterizada a região,
através de paisagem e animais que habitam o local. O terceiro, “População”,
enfatizará a população rural, a situação de pobreza e miséria e o êxodo rural. O
quarto, “A mobilização da Sociedade Civil”, retratará um pouco da história do povo
sisaleiro que se deparava com a exclusão social e que, através da mobilização, da
participação, da comunicação e do exercício da cidadania vem conseguindo se
organizar e conquistar ações em prol da sociedade. Por último, “Organizações
sociais de destaque no Território”, dará espaço para algumas organizações
importantes que atuam no território e que contribuem para o fortalecimento e o
desenvolvimento da população no contexto social e político.
2.1. O Território e suas características
Os Territórios de Identidade foram criados por iniciativa do Governo Lula com
o objetivo de identificar oportunidades de investimento e prioridades temáticas
definidas a partir da realidade local de cada Território, possibilitando o
desenvolvimento equilibrado e sustentável entre as regiões11. A Bahia,
especificamente, foi dividida em vinte e seis Territórios sendo um deles o Território
do Sisal, localizado na região semi-árida do Estado. Segundo Santos (2009, p. 4),
11
Informações extraídas do site da Secretaria do Planejamento do Governo da Bahia. Disponível em:
<http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html>. Acesso em 15 de janeiro de 2010.
35. 35
“o semi-árido baiano ocupa a região central do estado, representando 60% da
superfície territorial, abrangendo 258 municípios”. Porém, o Território do Sisal é
composto por vinte municípios. São eles: Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal,
Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina,
Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santa Luz, São Domingos, Serrinha,
Teofilândia, Tucano e Valente, conforme o quadro abaixo.
Figura 2: Território Rural do Sisal
Fonte: CODES, 2008
A renda média per capta da população da região é de meio salário mínimo
mensal12. As atividades de exploração do sisal enfrentaram um período de
decadência na década de 70, a base econômica é a pecuária extensiva e a
agricultura familiar de subsistência, sujeitas a longos períodos de seca que
ciclicamente atingem a região, agravando os problemas sociais. Estes problemas
são ainda aprofundados pela falta de acesso da população aos serviços básicos
12
Fonte: Índices de Desenvolvimento Econômico e Social dos Municípios Baianos, Seplantec, 2002
36. 36
como saúde, educação e a inexistência de políticas adequadas à realidade do semi-
árido. (RAMOS E NASCIMENTO apud GOMES, 2006, p. 1).
A cidade de São Domingos, município sede do jornal Jornal Diário Nordestino,
objeto de estudo do presente trabalho, está situada neste território. Localizada a
aproximadamente 240 km da capital baiana, e segundo dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), possui uma área de 265,38 km², tendo como
bioma a caatinga e, com economia baseada no cultivo do sisal, agropecuária,
comércio e serviços públicos.
Algumas cidades do Território são conhecidas como cidades que integram a
Região Sisaleira pelo fato destas terem como atividade econômica principal a
extração da fibra do sisal. Vale salientar que a região sisaleira engloba, além do
Território do Sisal, os seguintes territórios: Bacia do Jacuípe, Piemonte da
Diamantina e Piemonte Norte do Itapicuru.
O sisal ou agave sisalana perrine, é uma planta originária da península de
Yucatan, no México. Foi introduzida na Bahia em 1903 por Horácio Urpia Jr. Santos.
A partir do início do século XX os contornos da região começam a mudar
com a chegada do sisal em 1903 e de sua exploração econômica a partir de
1934. A introdução da cultura do sisal foi implementada pelo Governo do
Estado como alternativa para o desenvolvimento das regiões semi-áridas,
frente ao processo de transformação do sistema pecuniário e do declínio da
economia açucareira (SILVA & SILVA, apud SANTOS, op. cit, p. 5).
Essa planta trouxe uma possibilidade de mudança para a vida da população
da região. Conforme Marques (2002, p. 15), foi no ano de 1939 que o sisal chegou à
cidade de Feira de Santana e começou a ser cultivado, tendo como características
ser “uma planta suculenta, de cor verde, folhas lisas e com grande capacidade de
retenção de água da chuva e orvalho”, que contribuiu na época para a permanência
37. 37
do homem no campo e continua sendo uma das principais bases de sustentação da
economia regional.
O sisal alcançou papel de destaque na Bahia no período entre 1938 e 1942,
quando o governador Landulpho Alves passou a estimular o seu plantio como
alternativa de sobrevivência do sertanejo, aproveitando as condições favoráveis do
mercado interno criadas pelos obstáculos de importação de produtos similares por
conta da Segunda Guerra Mundial. Altamente resistente às secas, o sisal se apóia
especialmente na cultura minifundista em pequenas e médias propriedades de terra,
cujo alicerce principal é a agricultura de subsistência. (CODES, 2008).
Uma região marcada pela escassez e irregularidade das chuvas, o território
localizado no semi-árido baiano encontrou no sisal uma alternativa: a
sustentabilidade das famílias que residem, principalmente, na zona rural. Para
Hubschman (2002, p. 23),
o papel do sisal foi ainda determinante: uma grande parte das terras do
sertão, muitas secas e sem grandes possibilidades de irrigação, se não
fosse o sisal, não poderiam encontrar uma utilização econômica viável. É o
caso da região de Valente e Santa Luz, onde o sisal contribuiu de forma
decisiva para manter, nesses municípios, milhares de famílias sertanejas
que, na ausência do sisal, certamente, iriam engrossar os fluxos migratórios
em direção às grandes cidades.
Foi através do sisal que a região achou a possibilidade de sobrevivência e de
se tornar mais produtiva, mesmo com a falta de chuva e seu solo carente em
nutrientes, pelo fato da planta ter uma grande facilidade de absorver e armazenar
água. Uma forma encontrada para se garantir a sobrevivência e evitar o êxodo rural.
Os índices pluviométricos da região que normalmente variam entre 600 mm e
800 mm anuais são periódicos e sem regularidade; muito freqüentemente 70% das
chuvas, nos anos chuvosos, concentram-se em dois ou três meses. Quando esses
índices caem para 200 mm e 400 mm, inviabilizam o armazenamento de água e
38. 38
praticamente toda atividade agropecuária, constituindo os conhecidos períodos de
seca que duram entre dois a cinco anos (CODES, 2008).
As freqüentes estiagens servem de justificativa pelos difusores competentes
do discurso e legitima a manutenção da situação de pobreza e miséria
historicamente fundamentada na má-distribuição de terras e na apropriação do
poder local (GOMES, 2006, p. 4). Isso reflete na situação financeira das famílias que
trabalham no campo desde o processo do plantio até a comercialização do sisal.
Para o cultivo e comercialização do sisal é preciso uma mão-de-obra aplicada
e reforçada por ser um trabalho pesado, como explica Andrade (2002, p. 76),
a preparação do solo pode ser mecanizada, porém as demais tarefas, como
o plantio, os tratos culturais, o corte das folhas e a secagem são manuais. O
desfibramento é feito pelo motorzinho ou máquinas paraibanas, nas
propriedades. Após o desfibramento e a secagem, as fibras são
transportadas para as batedeiras, para serem escovadas e beneficiadas.
Após essas operações, elas podem ser exportadas ou transformadas em
cordas, tapetes, sacos, etc.
O plantio e o corte são realizados por uma pessoa que, com o auxílio de um
jumento, transporta as folhas cortadas até a máquina para então serem desfibradas
e estendidas para secagem. A máquina paraibana, mais conhecida na região como
motor de sisal, já deixou muitos trabalhadores mutilados, por ter uma lâmina cortante
muito afiada, exigindo certa habilidade e rapidez do operador.
Nesse tipo de trabalho não existe contrato escrito, os acordos são feitos
verbalmente, não havendo segurança alguma em casos de acidentes; e sendo os
trabalhadores remunerados pela quantidade que produzem. Segundo Andrade (op.
cit, p. 78), “os proprietários preferem o trabalho temporário, porque permite reduzir
sensivelmente os custos de produção e as despesas exigidas pelos encargos
sociais”. O sisal sai do campo seco e é levado para a batedeira, local onde esse é
batido e preparado para a comercialização. De acordo com o autor citado acima “o
39. 39
trabalho é efetuado por homens, mulheres e crianças” e acrescenta que “a
remuneração é determinada pela produção diária, e os pagamentos são semanais,
exceto os do gerente, do balanceiro e do batedor, que são mensalistas” (ibid. p. 79).
É um trabalho pesado e de mão-de-obra barata, além de não garantir nenhum tipo
de benefício aos trabalhadores, que se submetem a tais condições por falta de
alternativas na região.
A planta rústica oriunda do México se consolidou como o principal arranjo
produtivo da região e motor das profundas transformações históricas, políticas,
sociais e culturais do território (FERREIRA & MOREIRA13, p. 1). Além disso, através
da tecnologia e de pesquisas realizadas, surgiram novas possibilidades de utilizar a
fibra do sisal em vários ambientes, desde decoração de casas como na fabricação
de bancos de carros entre outros produtos.
2.2. Vegetação e Fauna Sisaleira
A vegetação predominante da região é a caatinga, com uma paisagem
formada de pedras e lajedos e forte presença de arbustos de raízes profundas,
como umbuzeiro, o icó, a baraúna, o licuri, a umburana e diversas espécies de
cactáceas como o xique-xique, o cabeça-de-frade, a palma e o mandacaru, sendo
os dois últimos utilizados em períodos de seca na alimentação do gado.
Quando a grande maioria das plantas caatingueiras perde suas folhagens nos
períodos de estiagens assegura a alimentação para dezenas de espécies, de
insetos a caprinos e ovinos; a palma, o mandacaru e tantas outras espécies se
13
No artigo “A construção da comunicação comunitária da região do Sisal: uma rede tecida com fibra e
resistência” não consta o ano de publicação. Este foi extraído da internet através do endereço informado nas
referências. Por esse motivo haverá citações dos respectivos autores sem o ano no decorrer deste trabalho.
40. 40
constituem em ingredientes alimentares fundamentais para a sustentação dos
animais na região. O licurizeiro, como o umbuzeiro, tiveram – e ainda têm - papel de
destaque na alimentação humana e animal nos momentos de crise por se
constituírem em fontes nutritivas importantes para os animais e para os humanos
(CODES, 2008).
A fauna da região se caracteriza mais por animais como bodes, que se
alimentam de cascas das árvores e de folhas secas para garantir seu sustento nos
períodos de estiagem, e jumentos, que sempre estiveram presentes na vida do
homem do campo, seja para o trabalho com o sisal ou para montaria.
De acordo com o PTDRS – Plano Territorial de Desenvolvimento Rural
Sustentável do Sisal do CODES – Conselho de Desenvolvimento Territorial Rural do
Sisal (2008, p. 19),
é na região sisaleira, que se configura a nordestinidade do baiano. A
começar por suas paisagens, pontilhadas por lajedos, carrascais e
tabuleiros, onde vicejam mandacarus, caroás, facheiros, mancambiras e
gravatás, tão bem descritas pelo grande clássico da literatura nacional, Os
Sertões, de Euclides da Cunha. E como parte indissociável desta paisagem,
com ela própria se confundindo, assoma a figura heróica do vaqueiro, com
suas típicas vestimentas de couro para permitir adentrar na caatinga e que
inspirou este genial intérprete da alma brasileira na célebre assertiva de que
“o sertanejo é antes de tudo um forte”.
De fato a região caracteriza o Nordeste baiano, não só através de sua fauna e
flora, mas também através dos costumes, crenças, tradições, literatura e pela força e
coragem do homem do campo no decorrer das adversidades que encontra durante
sua trajetória de vida. Um povo marcado pelo sofrimento, luta e esperança.
2.3. População
O Território do Sisal era habitado, em 2000, por 552.713 pessoas, o
correspondente a 4,3% da população total do Estado (CODES, 2008). É notório que
41. 41
com o enfraquecimento do sisal, com os longos tempos de estiagens, a população
foi diminuindo, dirigindo-se aos grandes centros à procura de melhores condições de
vida.
Segundo o CODES (2008, p. 27-28)
Durante a década de 80, a população cresceu a uma média de 2,65% ao
ano; enquanto na década seguinte o crescimento foi de apenas 0,44% ao
ano. Tomando-se por base as estimativas do IBGE para 2005, e mantendo-
se a atual tendência, no final da década o crescimento médio anual será de
apenas 0,007%. Em alguns Municípios essa queda chega a ser
preocupante, como são os casos de São Domingos que no período de 1991
a 2005 perdeu 44% da sua população e Ichu que, de 1980 a 2005 perdeu
42%.
Porém, os censos de 2007 e 2008 apontam uma nova perspectiva. Na
maioria das cidades, a evolução da população foi significativa. Os números
demonstram o crescimento populacional de alguns municípios, como Araci,
Conceição do Coité e Santa Luz, conforme demonstra o quadro abaixo.
Quadro 1 – População dos Municípios no Território do Sisal
População¹
Municípios
2005 2007 2008
Araci 48.989 51.912 54.092
Barrocas 12.725 13.182 13.722
Biritinga 14.654 13.961 14.307
Candeal 9.741 9.019 9.157
Cansanção 32.601 32.789 33.920
Conceição do Coité 58.810 60.835 63.318
Ichu 3.712 5.881 6.101
Itiúba 36.257 35.749 36.890
42. 42
Lamarão 9.137 11.988 12.682
Monte Santo 56.602 52.249 53.577
Nordestina 13.357 12.172 12.599
Queimadas 25.522 27.186 28.368
Quijingue 27.891 27.068 28.001
Retirolândia 10.635 11.938 12.446
Santa Luz 31.156 33.633 35.029
São Domingos 7.430 8.818 9.130
Serrinha 74.868 71.383 73.655
Teofilândia 19.719 20.702 21.382
Tucano 53.661 48.740 49.972
Valente 19.969 21.512 22.489
TOTAL 554.711 570.717 590.837
Fonte: IBGE, Contagem da População
(¹) Estimativas/IBGE
Mas também, pode-se notar uma redução significativa da população em
outros municípios como, Tucano e Monte Santo. Essa realidade é predominante na
zona rural, que por causa do clima e do solo, não oferece meios de sobrevivência
que atendam à todos que habitam nessa área. Observa-se que
a população rural reduz-se de forma gradual (em alguns municípios de
forma brusca) mas permanente porque faltam políticas capazes de
dinamizar a economia e alavancar processos de desenvolvimento
geradores de inclusão social e de qualidade de vida; os segmentos mais
afetados são os mais jovens, de maior capacidade produtiva e com
perspectivas de melhorar a condição de vida. Por outro lado, a redução do
número de habitantes, além de enfraquecer o setor produtivo rural, com a
perda de força de trabalho, dificulta ainda mais a adoção de medidas que
possam desenvolver a economia regional (CODES, 2008, p. 33).
43. 43
Mas ainda, em um território marcado pela pobreza, pela miséria, pelo
analfabetismo- segundo dados do IBGE (2007)14, a taxa de analfabetismo no
Território corresponde a 34,2%- e pela falta de políticas públicas suficientes para
atender a toda população, existem ainda pessoas que lutam pelo desenvolvimento
local e direitos coletivos, e vêm conquistando espaços importantes na sociedade.
2.4. A mobilização da Sociedade Civil
“A história dos movimentos sociais no Brasil não é linear, sendo caracterizada
por fluxos e refluxos. Entretanto, sua conquista fundamental é a valorização do
coletivo ao individual” (CÉSAR, 2007, p. 84). Mesmo com as idas e vindas, altos e
baixos que movimentos sociais enfrentam, grande parte deles ainda consegue
pensar no coletivo, buscando despertar o interesse e o comprometimento do
individual, estimulando a pessoa a se manifestar em prol da sociedade. Para Kunsch
(2007, p. 60), a sociedade civil tem um papel preponderante, que é “influenciar a
mudança do status quo, do poder do Estado e do mercado, para atender às
demandas das necessidades locais, nacionais, regionais e globais”. Para que isso
seja alcançado é preciso força de vontade e determinação dos indivíduos, no
sentindo de irem em busca das melhorias desejadas.
O Território do Sisal é marcado pela exclusão social, pela história de lutas dos
movimentos sindical, associativista, cooperativista, organização das mulheres, entre
outros, e traz em si uma história de organização dos movimentos sociais e de
articulação de ações visando um processo de desenvolvimento do meio rural. A
partir disso, passou-se a pensar em assuntos como: agricultura familiar, educação,
saúde, infra-estrutura, cultura, comunicação dentre outros. (CODES, 2008).
14
www.ibge.gov.br
44. 44
Nesse contexto Gomes (2006, p.2) afirma que,
a construção da região sisaleira não acontece descontextualizada. Ela
emerge historicamente no movimento de profundas transformações sociais,
culturais e tecnológicas do fim do Século XX, em que o avanço do processo
de internacionalização da economia capitalista monopolista atinge seu ápice
com o aprofundamento do fenômeno da globalização e seu discurso
totalizante da ditadura do dinheiro e da informação.
Isso demonstra que a população da região, através de suas organizações
sociais, vem se manifestando em busca de melhoria da qualidade de vida e de
benefícios em prol da sociedade, sempre com o intuito de alcançar o objetivo
desejado, nesse caso, a mobilização social se destaca através da ação dos
indivíduos.
Mas, afinal, o que é mobilização social? Toro e Werneck (2005, p. 13)
defendem que “mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito
comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados”, e acrescenta
que “a mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma comunidade ou uma
sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, quotidianamente,
resultados decididos e desejados por todos”.
Assim, ao reivindicar uma causa coletiva, a sociedade civil assume um papel
de destaque no processo de participação das ações e decisões que visam o bem-
estar social. Para Kunsch (op.cit, p. 60),
a sociedade civil hoje assume papel preponderante nos processos de
participação social em defesa da democracia, dos direitos humanos e da
cidadania, graças, sobretudo, à atuação dos movimentos sociais
organizados, da ONGs e do terceiro setor como um todo, que extrapolam a
relação de oposição ao Estado para fazer frente também ao mercado.
Dessa forma, o processo de participação social é muito importante para a
construção da cidadania. Para Toro e Werneck (op.cit, p. 28) “a participação, em um
processo de mobilização social, é ao mesmo tempo um objetivo a ser alcançado e
45. 45
um meio para realizar os outros objetivos” e acrescentam ainda que “a participação
é uma aprendizagem”. Buscando entender um pouco o que é cidadania, Kunsch
(2007, p. 63) afirma que “cidadania refere-se aos direitos e às obrigações nas
relações entre o Estado e o cidadão”. Já segundo Morais (2009, p. 3), que reflete o
pensamento de Marshall, diz que,
tendo nos estudos de Marshall (1967) um de seus principais referenciais, a
noção de cidadania é inicialmente composta por: conquistas e usos dos
direitos civis, políticos e sociais. Um conceito amplo e em constante
construção, cidadania pode ser relacionado não apenas aos direitos básicos
para a sobrevivência em sociedade, mas como a capacidade de
discernimento crítico que permita a participação em decisões que interfiram
na vida deste mesmo indivíduo.
Necessariamente, os fatores participação, mobilização e cidadania estão
interligados e nesse processo de aprendizagem, ao tentar mudar algo e/ou lutar por
algo, que os indivíduos aprendem a lidar com as situações adversas e a perceber a
importância da união, da força daqueles que buscam algo melhor para a sociedade,
sem esquecer os direitos, deveres e a igualdade social. Dagnino (2002, p. 296),
afirma que “a participação da sociedade civil na publicização de um enorme número
de demandas de direitos tem alterado a face de sociedade brasileira ao longo das
duas ultimas décadas”. Além disso, a comunicação também contribui para o
desenvolvimento e divulgação das ações promovidas pela sociedade e pelo Estado.
Peruzzo (2007 p. 46) diz que,
a comunicação, por meio de seus variados processos, que incluem canais
de expressão e o intercâmbio de informação e de saberes, bem como os
mecanismos de relacionamento entre pessoas, públicos e instituições,
desempenha papel central na construção da cidadania.
Assim, a comunicação, pode ser vista como “instrumento para a criação da
cidadania em meio às redes sociais que hoje tomam forma na chamada era da
globalização” (CÉSAR, op.cit, p. 78). A autora acrescenta que a comunicação é “um
46. 46
processo de relacionamento social” que interage com outras áreas do conhecimento,
aprimorando uma rede de relacionamento nos campos de trabalhos.
No entanto, o real comprometimento da comunicação com as questões
sociais requer o reconhecimento de que cada realidade carrega suas
particularidades, merecendo, cada processo de mobilização e cidadania um caminho
comunicativo específico, tendo sempre em vista os objetivos que se pretende
alcançar. Refletindo sobre isso, Morais (op. cit. p. 13) coloca que
Indagar sobre a que tipo de mobilização social a comunicação se presta
colaborar é, portanto, uma tarefa que exige analisar o ato comunicativo
através de diferentes vias, em diferentes momentos e tendo em vista os
diversos elementos que dele fazem parte, tendo sempre em mente que
cada contexto comunicativo, assim como cada processo de mobilização
possui as suas particularidades, não existindo, portanto, um caminho
modelo a ser seguido.
Trazendo esse assunto para o semi-árido baiano, Ferreira e Moreira (p. 2)
demonstram que os movimentos e organizações sociais que se utilizam da
comunicação para promover ações coletivas parecem se preocupar com essa
realidade. Os autores afirmam que,
inseridos na paisagem semi-árida brasileira, que corresponde a 75% do
Nordeste do país, os grupos sociais que aí se instalaram desenvolveram um
sistema de comunicação específico, uma rede ou conjunto interligado de
fluxos comunicativos constituído de atores, conteúdos e meios definidos a
partir de princípios e propósitos.
Nesse caso, os grupos sociais contam com um processo de planejamento e
definição dos objetivos que pretendem buscar e utilizam a comunicação para
interagir no processo, um método inteligente e abrangível. Já para Gomes (2006, p.
4),
o acesso e a produção local de informação configuram-se como elemento
central na disputa e na resignificação de uma cultura marcada pela
oralidade, pela dominação e por imagem de “aridez” social. Aos movimentos
sociais locais, a comunicação apresenta-se como estratégia de re-afirmação
dos ritos, ritmos e significações locais, e transformação dos valores de
subserviência, motivando a convivência emancipatória com o sertão.
47. 47
Os movimentos sociais são agrupamentos coletivos organizados para atuar
na sociedade e a partir disso produzir uma mudança na vida dos indivíduos inseridos
nesse contexto social. Para esses movimentos serem visíveis é preciso atenção por
parte dos meios de comunicação, como, mídia impressa, eletrônica e digital.
Veículos como rádio, TV, jornal impresso, dentre outros são muito importantes para
a visibilidade das ações da sociedade organizada. Pode-se entender, portanto, o
papel a ser exercido pela comunicação em parceria com os movimentos sociais para
a implementação de suas ações, diante do caráter mobilizador dessa área, seja
através de veículos ou por meio da própria comunicação interpessoal.
2. 5. Organizações sociais de destaque no Território
Alguns motivos retardaram o surgimento e a consolidação de movimentos e
de organizações sociais na região. Um deles foi a forte presença das oligarquias que
souberam, ao longo da história, controlar a população, criando situações de
insegurança e medo, evitando o surgimento de forças organizadas que, enquanto
buscassem objetivos específicos, pudessem trazer dificuldades para o seu projeto
político, e o isolamento da região (CODES, 2008, p. 60).
Porém com o tempo, a sociedade sentiu a necessidade de se organizar para
resolver questões da própria comunidade. Assim, contou com o apoio das CEBs
(Comunidades Eclesiais de Base) e da Igreja Católica, que iniciaram esse processo.
Segundo Santos, (2009, p. 8),
as CEBs ajudaram a criar movimentos sociais para organizar sua luta:
associações de moradores, luta pela terra e também o fortalecimento do
movimento campesino. Na região do sisal, as CEBs influenciaram a criação
de muitos movimentos sociais.
48. 48
A partir dessa iniciativa surgiram várias organizações que buscam e visam à
melhoria da qualidade de vida da população, como: os STR‟s (Sindicatos de
Trabalhadores Rurais), a FATRES (Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da
Região do Sisal), a (APAEB) Associação dos Pequenos Produtores do Estado da
Bahia, o MOC (Movimento de Organização Comunitária), o CODES (Conselho de
Desenvolvimento Territorial Rural do Sisal), entre outras.
Os STR‟s surgiram por volta da década de 70 a partir da mobilização de
delegados de polícia incomodados com a ausência de políticas públicas de saúde
nas cidades, o que mantinha a população em situação de extrema carência e alto
nível de vulnerabilidade. A fundação de sindicatos com a proposta de oferecer
serviços médico-odontológico à comunidade. Hoje seu principal objetivo é
representar os trabalhadores rurais dos municípios, tendo como público-alvo os
pequenos agricultores e agricultores familiares, meeiros, posseiros, arrendatários e
comodatários (CODES, 2008, p. 60).
Uma entidade importante para a região é a FATRES, fundada em 1996 com o
objetivo de fortalecer as forças dos Sindicatos, e com ações voltadas aos
trabalhadores rurais. De acordo com o CODES (2008, p. 61), “é uma sociedade civil,
sem fins econômicos, de natureza beneficente, considerado de utilidade pública
municipal e estadual”. A entidade também se relaciona com outras organizações que
lutam em prol do Território.
Outra organização que se destaca no território é a APAEB, que “surgiu em
1979 da luta contra a cobrança extorsiva do ICM aos pequenos produtores rurais,
com atuação regional de defesa econômica e ação sócio-política” (TEIXEIRA apud
SANTOS, 2009). Segundo o CODES (2008, p. 64), a entidade atua na Região do
Sisal,
49. 49
com um conjunto de ações voltadas para o desenvolvimento regional
sustentável. Todas as ações visam a melhoria da qualidade de vida dos
agricultores familiares. Entre essas ações, um Programa de Convivência
com o Semi-Árido, junto a agricultores familiares que inclui, entre outras
medidas, para assegurar a sustentabilidade, a conservação do meio
ambiente e o reflorestamento. Dentre as ações da Apaeb poderemos
mencionar o trabalho com cadeias produtivas importantes para a região, tais
como: beneficiamento e comercialização da fibra do sisal e seus derivados,
de produtos da caprinovinocultura e da apicultura.
A APAEB, em parceria com a sociedade civil e outras instituições, atua ainda
no campo da educação ambiental, através de capacitação de agricultores com
cursos e treinamentos de conservação do solo, água e vegetação, além do
repovoamento da flora regional. Atualmente, o maior foco da APAEB – Valente é o
beneficiamento e a exportação do sisal. Através da fabricação de tapetes e produtos
derivados da planta, gera empregos diretos e indiretos, movimentando assim a
economia da cidade.
Falando em organizações, entidades e movimentos, o MOC também está
presente nesse contexto. Segundo Santos (op.cit, p. 8), esse movimento “foi
fundado em 1967 a partir do trabalho da Igreja Católica com o objetivo de incentivar
a emancipação social e a criação de grupos organizados para o exercício da
cidadania”.
O MOC é uma entidade civil, sem fins lucrativos, classificada como uma
organização não governamental, de natureza filantrópica, que busca contribuir para
o desenvolvimento integral, participativo e ecologicamente sustentável da sociedade
humana. A instituição concentra sua atuação nos municípios da Região Sisaleira,
mas sua metodologia de apoio à mobilização da sociedade civil na luta pelo
exercício dos seus direitos se estende até mesmo para outros estados, como
Sergipe. Atualmente, desenvolve ações estratégicas na área de educação rural,
fortalecimento da agricultura familiar no semi-árido, gênero, comunicação e políticas
50. 50
públicas. Todas buscam sempre ressaltar a questão da participação popular nas
esferas de decisão, tendo em vista o desenvolvimento integrado e sustentável da
Região. São cinco programas básicos de atuação: Programa de Educação do
Campo, Programa de Fortalecimento da Agricultura Família no Semi-árido,
Programa Água e Segurança Alimentar, Programa de Políticas Públicas, Programa
de Comunicação, Programa de Criança e Adolescente e o Programa de Gênero,
além de Projetos Especiais (CODES, 2008, p. 65).
Falando em comunicação aplicada aos movimentos, em 2001, o Instituto
Credicard lançou o Programa “Jovens Escolhas em rede com o futuro”. Tratava-se
de um programa social que visava a cidadania, o empreendedorismo e buscava a
autonomia do jovem, tendo sido aplicado em nove municípios do Território15. O MOC
em parceria com outras instituições sociais, foi o responsável pelo programa na
região. O “Jovens Escolhas” realizava capacitações para os participantes escolhidos
através de uma seleção sobre temas diversos, como por exemplo: políticas públicas,
cidadania, cultura e revalorização cultural, gênero, gestão e produção de projetos,
educação etc., e oficinas sobre produção de rádio e boletim. Através deste programa
foi criado o “Projeto Jovens Comunicadores”, onde os jovens atuavam na
comunidade local dando assistência às entidades parceiras através da prática da
comunicação comunitária. Cada município contava com o apoio de três jovens, que
tinham o dever de produzir um boletim mensal com notícias locais, regionais e
referentes aos movimentos sociais. Na cidade de Valente o boletim chamava-se
Fala Sério e era produzido por Aline Araújo, Deise Morais e João Paulo Cerqueira.
Esse trio também em parceria ao Colégio Estadual Wilson Lins experimentaram o
15
Araci, Conceição do Coité, Nordestina, Retirolândia, Riachão do Jacuípe, Queimadas, Santa Bárbara, Santa
Luz e Valente.
51. 51
fanzine, um informativo de linguagem coloquial que expressava as idéias e opiniões
dos jovens daquela instituição16.
Por fim, não poderia deixar de citar o CODES, um Conselho criado em 2002 a
partir de uma inquietação da sociedade civil. Assim,
no esforço de pensar o seu lugar, a partir de sua heterogeneidade, e de
suas demandas diversas e comuns, a sociedade civil começa a discutir
suas questões numa perspectiva de território, e não mais de região, o que
resultou no Conselho de Desenvolvimento Territorial do Sisal (CODES) [...]
é um consórcio de municípios composto paritamente por 14 representantes
da sociedade civil e 14 do poder público dos municípios, com o objetivo de
propor alternativas de gestão pública para a questão rural no sisal
(MOREIRA apud SANTOS, 2009, p. 9).
A instituição tem como slogan: “Sisal: um território de fibra e resistência”, que
se refere a planta e a luta dos moradores dessa região pela sobrevivência. De
acordo com Ferreira e Moreira (p. 8),
a estrutura do CODES está pautada na valorização das lideranças
anteriormente excluídas enquanto atores legítimos. O ambiente político
deste espaço público criou condições favoráveis para uma atuação mais
incisiva dos grupos populares organizados, que de maneira inédita na
história local, conquistaram a possibilidade de participar como atores
privilegiados da construção de uma política territorial de desenvolvimento.
Dessa forma, o CODES busca inserir o indivíduo no contexto social e político
sem discriminação, incentiva a participação e na luta pela conquista de ações
importantes, como o curso de Comunicação Social/ Rádio e TV implantado em 2005
na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus XIV, situado na cidade de
Conceição do Coité.
O curso de comunicação instalado no Território do Sisal foi reflexo da
efervescência do sistema comunicativo, em relação à mobilização da sociedade
organizada local e seu amplo aparato comunicacional comunitário. Pode ser
16
Informações adquiridas através de uma entrevista realizada, em janeiro de 2010, com Aline Araújo,
participante do programa.
52. 52
considerado o primeiro produto efetivo do Plano de Comunicação do CODES que
contribuiu para o re-direcionamento da atuação acadêmica no território (FERREIRA
e MOREIRA, p. 10). O curso veio fortalecer o trabalho desenvolvido pelos
movimentos, formando profissionais que poderão replicar seus conhecimentos nas
comunidades. Trazendo novas perspectivas tanto para os movimentos sociais,
quanto para a própria UNEB, no seu papel de universidade que precisa estar
atrelada à comunidade, o curso de Comunicação poderá ainda representar a
esperança para dezenas de jovens de Conceição do Coité e cidades circunvizinhas,
que poderão ver ali outra opção de escolha em busca do conhecimento, do
aperfeiçoamento e de uma nova profissão.
Assim, é possível ver que a sociedade civil organizada do Território do Sisal
se manifesta e luta pelo desenvolvimento e por melhores condições de vida dos
indivíduos que habitam nessa região, mobilizando e estimulando as pessoas a
participarem desse processo importante e significativo no contexto social. Assim, os
movimentos sociais, instituições e ONGs que atuam em busca de crescimento e
melhorias para a comunidade, seja no lado social, cultural ou político, merecem o
verdadeiro reconhecimento e valorização por parte dos próprios indivíduos e pelo
Estado.