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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


           José Jurandí Silva de Oliveira Júnior

             Paulo Enselmo Ramos de Jesus




REGGAE É DE PAZ: A IDENTIDADE CULTURAL NEGRA EM
              CONCEIÇÃO DO COITÉ




                    Conceição do Coité-BA

                           2010.
José Jurandí Silva de Oliveira Júnior

           Paulo Enselmo Ramos de Jesus




                REGGAE É DE PAZ:
a identidade cultural negra em conceição do coité


                           Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de
                           Comunicação Social – Habilitação em
                           Radialismo, da Universidade do Estado da
                           Bahia, como requisito parcial de obtenção do
                           grau de bacharel em Comunicação, sob a
                           orientação da professora Patrícia Rocha de
                           Araújo.




                  Conceição do Coité-BA

                         2010.
José Jurandí Silva de Oliveira Júnior

                        Paulo Enselmo Ramos de Jesus




                             REGGAE É DE PAZ:
       a identidade cultural negra em conceição do coité



                                        Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de
                                        Comunicação Social – Habilitação em
                                        Radialismo, da Universidade do Estado da
                                        Bahia, como requisito parcial de obtenção do
                                        grau de bacharel em Comunicação, sob a
                                        orientação da professora Patrícia Rocha de
                                        Araújo.



Data: _____________________________________________________
Resultado: _________________________________________________

BANCA EXAMINADORA

Professora (orientadora) _____________________________________
Assinatura: ________________________________________________

Professora ________________________________________________
Assinatura: ________________________________________________

Professora ________________________________________________
Assinatura: ________________________________________________
RESUMO

      REGGAE É DE PAZ: A IDENTIDADE CULTURAL NEGRA EM CONCEIÇÃO DO COITÉ



A Música Reggae tem sido utilizada como instrumento simbólico de afirmação e
reafirmação da identidade cultural pelas comunidades afro-descendentes na Sede do
Município de Conceição do Coité. A negritude em Conceição do Coité teve inicio logo
cedo com a escravidão no século XVII. Na década de 1980, o movimento negro se
fortaleceu e ganhou corpo na cidade com o surgimento dos movimentos sociais
organizados em torno da negritude. Atualmente são vários os grupos que discutem a
temática racial na cidade, dentre eles: Revolution Reggae, Rebanho de Israel,
Quixanayah e o Grupo Jamaica. Este trabalho tem como objetivo construir um vídeo-
documentário que mostre em que medida a música reggae, enquanto música de
expressão social tem contribuído para afirmação e reafirmação da identidade cultural
das comunidades afro descendentes na sede do município de Conceição do Coité.
Foram utilizados como método de coleta de dados a entrevista, e a observação
participante, além da pesquisa bibliográfica para realização da pesquisa descritiva
que documentou tudo em imagens através de uma câmera filmadora. Estas imagens
foram usadas depois na montagem do vídeo.


Palavras-chave: Reggae, Identidade, Música, Negritude
ABSTRACT



The Reggae music has been used as a symbolic instrument of affirmation and
reaffirmation of cultural identity by communities african-descendants in the town of
Conceição do Coité. Blackness in Conceição do Coité began early with slavery in the
seventeenth century. In the 1980s, the black movement was strengthened and it won
the city with the emergence of social movements organized around the blackness.
Currently there are several groups that discuss the race issue in the city, among them:
Revolution Reggae, Comunidade Rebanho de Israel, Quixanayah and Grupo
Jamaica. This work aims to build a documentary video that shows the extent to which
reggae music, as music of social expression has contributed to the affirmation and
reaffirmation cultural identity of communities african descendants in the town of
Conceição do Coité. It was used interviews and participant observation as a method of
data collection, in addition to the literature for carrying out descriptive research which
documented all in images via a digital camcorder. These images were then used to
assemble the video.



Key-words: Reggae, Identity, Music, Negritude
SUMÁRIO




INTRODUÇÃO______________________________________________________________________ 01


IDENTIDADE_______________________________________________________________________ 03


Identidade negra: um processo histórico________________________________________________ 04


Auto-discriminação__________________________________________________________________07


O nascimento da negritude___________________________________________________________ 09


Brasil_____________________________________________________________________________ 10


Conceição do Coité_________________________________________________________________ 12


A identidade negra: conceitos_________________________________________________________ 15


MÚSICA E IDENTIDADE_______________________________________________________________17


O VÍDEO – DOCUMENTÁRIO___________________________________________________________20


O MEMORIAL______________________________________________________________________ 29


CONCLUSÃO_______________________________________________________________________ 53


REFERÊNCIAS_______________________________________________________________________56
INTRODUÇÃO



      Este trabalho tem a proposta de discutir a relação entre a musicalidade reggae e

a identidade cultural negra em Conceição do Coité. Produzimos um vídeo-documentário

musical que aborda esta temática. Analisamos a identidade segundo o conceito fluido

de Stuart Hall (2007). Neste sentido a identidade se constitui como algo móvel e em

constante mutação. Assim acreditamos que as comunidades afro descendentes da

sede de Conceição do Coité que lutam com o conceito da negritude, têm na

musicalidade reggae um forte aliado na afirmação e reafirmação de suas identidades. O

Reggae desde seu surgimento tem tratado da temática afro-descendente de forma

bastante intensa e tem contribuído para o processo de conscientização social de muitas

pessoas ao redor do mundo, inclusive em Conceição do Coité, foco de nosso trabalho.

      Para desenvolver esta discussão, fazemos um percurso histórico sobre o

nascimento da negritude no mundo e sua trajetória no Brasil e na região. Reunimos em

nosso vídeo intelectuais para discutir a temática do negro, e militantes da negritude,

falam de suas experiências cotidianas no movimento negro da cidade, bem como fazem

uma retrospectiva sobre o processo libertário através do Reggae.

      Dedicamos um capítulo específico para discutirmos o vídeo e uma relação com a

música e com os movimentos sociais, justificando a pertinência deste trabalho.

      Para finalizar, dedicamos um capítulo para relatar todas as fases da pesquisa e

da construção do vídeo, descrevendo etapa por etapa, as técnicas utilizadas, as

experiências vividas , as dificuldades encontradas, etc.


                                                                                      1
Enfim este trabalho (Memorial e vídeo) se propõe a trazer a discussão da relação

entre música e identidade cultural do povo negro e como ambas se complementam

dentro da sociedade brasileira.




                                                                                     2
A IDENTIDADE


       O conceito de identidade é um dos conceitos mais polêmicos da atualidade.
Concordamos com Stuart Hall (2007, p. 109) quando coloca a identidade no campo das
construções sociais e simbólicas. Para ele, “ela não é, nunca completamente
determinada no sentido de que se pode sempre ganhá-la ou perdê-la, no sentido de
que ela pode ser sempre sustentada ou abandonada”. (HALL, 2007, p. 108) E esse ir e
vir da construção identitária se dá nas relações sociais e como elas são interpretadas
pelos grupos identitários.
       Entendemos que situações e contextos históricos podem influenciar na
construção identitária de um determinado grupo. Temos vários exemplos históricos de
discursos de identidades construídos a partir de situações específicas. A identidade
negra, construída a partir da colonização da America, o feminismo construído a partir da
revolta com uma sociedade patriarcal. Enfim, a identidade segundo Hall, “tem a ver com
a questão da utilização dos recursos da história, da linguagem e da cultura para a
produção, não daquilo que nós somos, mas daquilo do qual nos tornamos.” (HALL,
2007, p.109) Isto significa que a identidade faz uso de elementos históricos, lingüísticos
e culturais para se constituir enquanto identidade. Todos esses elementos são
organizados no seio da sociedade, através de representações simbólicas. Os meios de
comunicação (todos os meios, inclusive os alternativos) fazem uso constantemente de
elementos representativos para construção da imagem de um determinado grupo ou
lugar. O exemplo bem claro deste tipo de construção é aquele feito por alguns meios de
comunicação a respeito do Nordeste. Nesta representação, o Nordeste é o lugar da
seca, da miséria, da pobreza e da preguiça (informação verbal)1
       Então, no bojo desta construção de identidade, existe sempre um jogo de
interesses que nem sempre defende os ideais do grupo constituinte e identitário. Isto
confirma aquilo que Laclau (1990, citado por HALL, 2007, p. 110) fala da identidade,


1
 Aula de seminários III, palestra de Carla Gouveia, e Seminários Diálogos Possíveis, Palestra de Durval
de Albuquerque, realizadas no Curso de Comunicação Social da Universidade do Estado da Bahia –
Campus XIV.

                                                                                                          3
quando argumenta que “a constituição da identidade é um ato de poder. No processo
de construção de uma identidade, sempre existe algum constituinte ideológico que
beneficia algum grupo social, independente dos beneficiários ser ou não o grupo em
questão. É o que Kathryn Woodward defende quando diz que “a identidade é assim
marcada pela diferença.” (2007, p. 9). O marco constituinte da identidade é o outro, o
diferente. A mulher é mulher porque existe o homem, o negro é um grupo identitário
porque existe o branco. Esta diferenciação, ou este outro estabelece o desigual,
fazendo com que a existência da identidade estabeleça a existência da desigualdade,
da diferença, da luta de grupos, do jogo de poder. É o que afirma Hall quando diz que
“a identidade é o produto da marcação da diferença, da exclusão social”. (2007, p. 109).
Assim, para ele, as relações identitárias estabelecem também relações de poder.


Identidade negra: um processo histórico

       O processo de construção de uma identidade em torno do negro começou a se
formar a partir do processo histórico de colonização e escravidão na América e na
África a partir do século XVI.
       Esse constructo identitário é formado dentro de uma dimensão social e
econômica conflituosa. Nesta formação identitária manifesta-se a questão do jogo de
poder já abordada neste capítulo, fundamentada em Stuart Hall (2007).
       Assim, toda essa discussão de identidade tem suas raízes históricas e todo esse
processo tem uma herança historiográfica que foi forjada no contexto da escravidão, no
século XVI.
       No entanto, essa identidade da negritude sofreu alterações profundas com o
passar dos séculos e vários elementos ideológicos, históricos, sociais e lingüísticos
foram sendo incorporados a este constructo identitário. Novos elementos foram sendo
incorporados à identidade negra e ela passa de algo completamente indesejado no
século XVI à situação de valorização no início do século XXI (ao menos pelos afro-
descendentes militantes da negritude).
       A partir do século XVI, o mundo testemunhou uma migração, em massa, de
escravos da África para as colônias européias na América. O Brasil inclusive foi o país
                                                                                       4
que mais importou escravos. Aproximadamente quatro milhões de escravos entraram
no país até o final do século XIX, "o que representa 40% do total de negros raptados
pelo escravismo colonial” (SANTOS, 2002, 32).
       Estes escravos deixavam suas famílias na África de onde eram sequestrados.
Toda sua vida era praticamente destruída. A partir dali não mais se considerava a vida
passada do homem negro, família, profissão, sonhos e desejos ou se o escravo havia
sido artesão, comerciante, rei ou rainha (informação verbal)2. Apenas duas coisas, o
escravo podia trazer consigo às Américas, porque isso não lhe podia ser tirado: sua
capacidade laboril e sua memória. Para Bosi, a memória "é o intermediário informal da
cultura" (2003, p. 15). Ela coloca a memória com um condão precioso que preserva
História e cultura, coisas do cotidiano que estão distantes das instituições oficiais de
preservação da História. O afro descendente se beneficiou exatamente deste caráter
preservador e não oficial da memória para passar às gerações futuras sua riqueza
cultural.
       O escravo fez uso intenso dela para preservar seu passado e construir um novo
futuro. A memória é a riqueza maior de um povo. Ela não lhe pode ser tirada. E o afro
descendente buscou diversas estratégias para conservação de sua memória. Vários
elementos culturais foram usados para isso. A capoeira, o candomblé e a musicalidade
africana contribuíram imensamente para a preservação da memória deste povo.
       A Antropologia eurocêntrica até o século XX, por sua vez, sempre buscou
justificar a atitude desumana do homem branco europeu. Antropólogos, que ainda hoje
são estudados nas escolas, expuseram verdades absurdas, colocando o homem negro
como pertencente a uma raça inferior. Segundo Ortiz


                        Nina Rodrigues, em suas análises do Direito penal brasileiro, tece inúmeras
                        considerações a respeito da vinculação entre as características psíquicas do
                        homem e sua dependência do meio ambiente. Na realidade, meio e raça se
                        constituíam em categorias do conhecimento que definiam o quadro
                        interpretativo da realidade brasileira. (1994, p. 16)


2
 Palestra de Antonio Cosme, ministrada na inauguração do Projeto Reggae em Ação em 2005, dirigido à
comunidades periféricas afro-descendentes, realizado pelo Centro de Promoção da Educação da Cultura
e da Cidadania.

                                                                                                  5
Ainda segundo Ortiz (1994, p. 14) o atraso evolutivo do país no início do século
XX era atribuída a raça. Ele diz que

                      A História brasileira é, desta forma, apreendida em termos deterministas, clima
                      e raça explicando a natureza indolente do brasileiro, as manifestações tíbias e
                      insegura da elite intelectual, o lirismo quente dos poetas da terra, o nervosismo
                      e a sexualidade desenfreada do mulato.


        Muitas atrocidades ao longo da história foram justificadas pela ciência moderna:
a escravidão do negro, o holocausto e a perseguição ao judeu, o nazismo etc.
        O homem branco entendeu, desde cedo, que a maior riqueza de um povo está
em sua memória. Então buscou-se construir uma outra identidade para o povo africano,
na tentativa de destruir suas memórias. A ciência européia do século XIX dava toda a
justificativa teórica a um processo de dominação econômica e social. Várias
representações sociais foram forjadas no seio da ciência e da sociedade para deturpar
a identidade do negro existente nos recônditos de suas memórias (MUNANGA, 1986, p.
35). Suas manifestações artísticas e culturais foram sufocadas intensamente. Suas
vozes foram caladas. Sua coletividade castigada a fim de que o africano fosse
inferiorizado enquanto ser humano, enquanto indivíduo, enquanto pessoa. A capoeira, o
candomblé, a música de matiz africana, as danças, a comida, toda cultura afro foi
colocada como inferior, imprestável dentro da sociedade brasileira.
        Assim foram criadas representações em torno da imagem do povo negro. O
negro foi colocado como menos inteligente que o branco, preguiçoso, tendente ao crime
e à marginalidade, violento, feio, etc.
        Essa opressão se seguiu após a escravidão, gerando uma dívida histórica da
sociedade brasileira para com o afro descendente, imensurável. O negro foi o agente
de construção da economia deste país. Foram trezentos anos de trabalho escravo,
construindo um país forte economicamente. E depois da construção, foram obrigados a
morar em espaços favelados, a trabalhar em ofícios desvalorizados socialmente,
ficaram recrutos a uma perseguição social dos órgãos repressores do Estado como
marginais, suspeitos da polícia e do cidadão de classe média e alta. (SANTOS, 2002,
p.33)
                                                                                                     6
No momento da libertação dos escravos, os negros foram despejados na
sociedade econômica, sem habitação nem trabalho. Socialmente desestruturados , sem
dinheiro, sem moral, sem ter para onde ir.                      Não houve uma política pública para
inserção do negro na sociedade brasileira. Santos nos diz que "o dia seguinte ao fim do
escravismo marca o início de uma saga de subcidadania que tem 114 anos" (2002,
p.33). Após a abolição da escravatura, a mão de obra negra não foi aproveitada no
regime econômico seguinte, o da mão de obra assalariada. Ao invés disto, o Estado
brasileiro preferiu importar a mão-de-obra européia, enquanto que para o negro não
restou alternativa alguma. O governo brasileiro adotou então uma política de
enbranquecimento da raça brasileira. Deu-se neste momento o processo de imigração
européia no final do século XIX e início do século XX (IMIGRAÇÃO NO BRASIL)3.
           Neste momento o negro estava arrasado social e psicologicamente. Escritores
negros narraram todos estes momentos e buscaram a libertação social, econômica e
mental de seu povo (MUNANGA, 1986, p. 35). Está aí o germe do processo de
identificação do negro com seu povo, com sua raça, com suas memórias, com sua
História. É nesse momento, mais do que nunca que ocorre o processo de reconquista
da identidade africana. Munanga diz que "Aceitando-se, o negro afirma-se cultural,
moral, física e psiquicamente" (1986, p. 33).
           Os escritores negros começaram a perceber que "a idéia de uma África com
negros bárbaros era uma invenção européia." (MUNANGA, 1986, p. 41).




           Auto-discriminação


           Então foi um processo muito cruel para o povo negro. Após ter assimilado a
cultura e o modo de vida do branco, não havia como essa gente valorizar suas raízes e
sua identificação com sua gente.


3
    HTTP://portalsaofrancisco.com.br/alfa/imigracao-no-brasil/imigracao-no-brasil.php



                                                                                                  7
A mídia de massa assumiu o papel que era desempenhado pela ciência do
século XIX. Os jornais só mostram o afro descendente em situação de violência e
crime. As programações seriadas somente mostram o negro em desempenho de papel
subalterno no seio social. Papel de servidão, de marginalidade, de desprezo social. Na
contramão, todos os heróis mostrados no cinema e na TV são brancos. Assim, a
valorização da cultura européia e a consequente desvalorização da cultura do negro é
quase uma lei na cultura midiática de massa.
       É certo que algumas figuras negras conseguiram seu espaço na mídia a exemplo
dos Jackson’s Five nos Estados Unidos, Pelé no Futebol e na teledramaturgia
brasileira, o ator Milton Gonçalves, mas estes são casos isolados e não constituíram
uma realidade abrangente para a etnia afro no país.
       A escola não valoriza, no livro didático nem nos conteúdos trabalhados, o mundo
do negro. O mercado de trabalho é muito racista em relação ao negro. Espaços sociais
como clubes, shops e outros tem servido de espaço onde o racismo acontece. Todos
estes discursos oficiais levam o negro a negar sua identidade. Contribui para que o afro
descendente se identifique e assimile a cultura do branco. Crianças que só vêem na TV
seus iguais em papéis subalternos, que na escola só ouvem falar em heróis brancos,
que recebe presente de um papai Noel branco, que recebe uma boneca branca como
presente de final de ano, que sabe que seus traços físicos estão fora do padrão de
beleza de sua sociedade, com certeza vai repudiar suas raízes, vai ser levada a um
processo de identificação com o branco europeu, com a cultura do outro. (informação
verbal)4 É o que Sansone (2007, p. 11) discute quando fala "do hífen oculto que impede
os brasileiros de se definirem como afro-brasileiros, Ítalo-brasileiros, Líbano - brasileiros
e assim por diante". Para ele "a despeito de muitas provas de discriminação racial, as
pessoas preferem mobilizar outras identidades sociais que lhes parecem mais
compensadoras" (2007, p. 11).


4
 Palestra de Antonio Cosme, ministrada na inauguração do Projeto Reggae em Ação em 2005, dirigido à
comunidades periféricas afro-descendentes, realizado pelo Centro de Promoção da Educação da Cultura
e da Cidadania.



                                                                                                  8
O nascimento da negritude


       A identidade negra passou, ao longo da História, de uma identidade inferiorizada,
indesejada, repudiada nos primeiros anos de sua concepção, para uma identidade
almejada, sonhada, desejada pelos negros de consciência racial, militantes da
negritude. Munanga diz que, neste contexto, o negro se reivindica com paixão, a
mesma paixão que o fazia admirar e assimilar o branco (MUNANGA, 1986, p. 33).
       Em vários cantos do planeta começou-se a pensar a problemática do negro.
"Escritores negros tomaram consciência do processo de imitação cega à cultura branca,
da assimilação cultural", do processo de aculturação (MUNANGA, 1986, p. 33) Eles
tomaram consciência do processo de lavagem cerebral a que foram submetidos ao
longo da história. Munanga nos diz que este burburio de discussões aconteceu
inicialmente nos Estados Unidos, na Europa e no Haiti, principalmente por estudantes
negros em Universidades, ao entrarem em contato com a diversidade cultural africana e
européia. (1986, p. 41). Os principais pensadores deste movimento da negritude foram
Dr. Du Bois, Langston Hughes, René Maran, O Dr. Price Mars e Aimé Cesaire "que
criou a palavra negritude" (MUNANGA, 1986, p 43).
       A Arte também desempenhou um papel fundamental no processo de resistência
contra a assimilação cultural e racial. Elementos como a música, a capoeira e a
literatura desempenharam um papel fundamental.
       Grupos como o Ilê Ayê, Edson Gomes e Banda Cão de Raça, artistas como os
reggeiros jamaicanos, James Brown, a moda Black Power nos anos 1980, e o
movimento do Axé Music, foram importantes para a valorização da cultura negra.
       Então os negros através da arte estabeleceram uma rede de comunicação
cultural ao redor do mundo. Paul Gilroy (1994) citado por Santos M. (2002, p. 1) nos diz
que “as relações estabelecidas em decorrência da diáspora favorecem a formação de
um circuito comunicativo que extrapola as fronteiras étnicas do Estado-nação,
permitindo às populações dispersas conversar, interagir e efetuar trocas culturais”.
       Assim, juntamente com a diáspora do povo negro pelo mundo deu-se também a
hibridização cultural negra.
                                                                                       9
Brasil


      Inicialmente o Brasil seguiu as discussões internacionais em torno da negritude,
O movimento no país culminou na libertação dos escravos em 1888. Nesta época, mais
de 90% dos negros no país já eram livres (SANTOS, 2002, p.33). Negros influentes na
economia e nos meios de comunicação da época abraçaram a causa do negro e
levaram suas discussões aos vários espaços dentro do país.
      No entanto, um fator na década de 30, vem contribuir para abafar e desvirtuar as
discussões em torno da identidade étnica, o mito da democracia racial (SANSONE,
2007, p. 10). O Estado Brasileiro decide naquela época construir representações
étnicas a respeito do país. Estas representações sugerem que no Brasil não existe
racismo, sugere que brancos e pretos agora vivem em harmonia racial e social. A partir
deste momento, o racismo deixou de ser explícito e passou a ser velado, dissimulado e
bastante cruel. Segundo Santos, "pessoas não podem ver porque já tem os olhos (e
também a consciência) acostumadas a essa realidade" (SANTOS, 2002, p. 30). As
representações discriminatórias passaram a ser sutis e veladas, o que dificultou ao
negro levar adiante suas discussões raciais, tendo em vista a imagem forjada de um
país democrático racialmente. A discriminação agora existe nas piadas, no olhar
questionador sobre o negro, na ausência da história negra nas escolas, na
desvalorização da cultura do negro, nas imagens representativas do negro no
imaginário popular, no déficit econômico em que vivem a maioria da população negra
no país.
       Outro fator que contribuiu para diluir as discussões raciais no seio da sociedade
foram as proibições explícitas quanto à organização de associações de base étnica,
especialmente na década de 30, durante a Ditadura de Getúlio Vargas (SANSONE,
2007, p. 13).
      A partir de 1930, vários acontecimentos ao redor do mundo relacionados à causa
do negro refletiam-se aqui no Brasil. As idéias de Martin Luther King nos Estados

                                                                                     10
Unidos e de Marcus Garvey na Jamaica influenciaram profundamente o pensamento da
negritude ao redor do mundo.


                            A partir dos anos 1960, a Ditadura Militar brasileira inviabilizou todas as
                            manifestações de cunho racial: Os militares transformaram o mito da
                            democracia racial em peça chave da sua propaganda oficial e tacharam
                            os militantes e mesmo os artistas que insistiam em levantar o tema da
                            discriminação como “impatrióticos”, “racistas” e “imitadores baratos” dos
                            ativistas estadunidenses que lutavam pelos direitos civis. (MOVIMENTO
                            NEGRO, 20105)


           A partir dos anos 50, o movimento Rastafári na Jamaica atrelado à musicalidade
começou a ganhar força e a se espalhar pelo mundo.
           Na década de 70 do século passado, Bob Marley ganha projeção mundial e leva
as letras de suas músicas aos quatro cantos do mundo. Nessa época o Reggae já
havia adentrado as fronteiras do Brasil. Por aqui, o movimento Negro andava um pouco
sufocado pelo Regime militar e após sua queda na década de 80, começa a ganhar
força ao redor do país.
           No Brasil os movimentos negros de caráter pacifistas começaram logo no início
do século. A partir das idéias de Martin Luther King e Marcus Garvey, começaram a se
organizarem. Dentre os precursores do movimento podemos citar na década de 1930 a
Frente Negra Brasileira, mais tarde transformada em Partido Político; O teatro
experimental do Negro em 1944 no Rio de Janeiro; o congresso Nacional do Negro em
Porto Alegre em 1958 e a Associação Cultural do Negro em 1954 na cidade de São
Paulo.
           Em 1959 o professor Jorge Agustinho cria o Centro de Estudos Afro-Orientais,
pioneiro nas relações diplomáticas e culturais entre Brasil e África.
           Em 1975 foi fundado no Rio de Janeiro o IPCN – Instituto de Pesquisa e Cultura
Negra, organização de relevância no quadro do Movimento Social Negro no país
(MOVIMENTO NEGRO, 2010)




55
     http://www.geledes.org.br/afrobrasileiros-e-suas-lutas/movimento-negro.html.

                                                                                                    11
Após este período houve apenas pequenas ações em torno da negritude. “O
Movimento negro enquanto proposta política só ressurgiria realmente em 7 de Julho de
1978 quando um ato público organizado em São Paulo contra a discriminação racial
deu origem ao Movimento Negro Unificado contra a discriminação racial (MNU). A data
ficou conhecida como o Dia Nacional da Luta contra o Racismo”.
      A consequência deste movimento levou à criação em 1984 do primeiro órgão
público voltado para o apoio ao movimento afro-brasileiro, o Conselho de Participação e
Desenvolvimento da Comunidade Negra.
      Os anos Pós-constituição de 1988 têm registrado possíveis avanços na
conquista do espaço social do Negro. (MOVIMENTO NEGRO, 2010)




      Conceição do Coité


      A problemática do negro em Conceição do Coité começou muito cedo. Desde
antes que o município se tornasse arraial e freguesia, a problemática racial e do negro
já era presente neste lugar. Alguns escritores e pesquisadores que escreveram sobre a
cidade, narraram fatos em que a temática do negro esteve presente.
      A primeira escravidão em Conceição do Coité, de que se tem notícia aconteceu
com índios, após o governo português haver dividido a colônia em Sesmarias. A
Sesmaria em que Coité estava situado recebeu o nome de Sesmaria dos Tocós e foram
os Guedes que a exploraram. “Antonio Guedes de Brito criou equipes potentes para
defender a terra que era de seus parentes, banindo dela os gentios e com atos dos
mais frios, matou todas essas gentes.” (BARRETO, 2007, p. 22). Nessa época, muitos
índios foram dominados e escravizados, servindo na Sesmaria dos Tocós, onde existia
um lugar chamado de Nascente do Coité, que mais tarde chamaria Olhos D´agua, onde
Conceição do Coité está situado.
      Por essa época, foi construída uma estrada que ia da Capitania de Salvador à
Capitania de São Francisco, passando pela Nascente do Coité. (BARRETO, 2007, p.
22). O processo de escravidão em Coité foi tão demarcado e profundo que o primeiro
habitante do lugar já trazia consigo escravos. “Traz ao menos um escravo, a mulher e a
                                                                                    12
meninada” (BARRETO, 2007, p. 27). A partir daí, cada fazendeiro que por terras de
Coité se estabelecia, logo tratava de comprar escravos, ainda que o pagamento se
desse em parcelas. (2007, p. 31) O progresso se estabeleceu por aqui pela prática da
escravidão e, além do trabalho servil, muitos senhores ganhavam fortunas, através do
comércio de escravos. (2007, p. 33).
           Barreto (2007, 34) narra a rotina dura e a vida humilhante a que os escravos
eram submetidos: trabalhavam dezesseis horas por dia, alimentavam-se de comida
estragada, que seria jogada no lixo, acordavam antes do amanhecer para o trabalho
hostil de cada dia. As mulheres também sofriam intensamente e muitas eram
exploradas sexualmente por seus senhores. Barreto diz que os escravos desfaleciam
por “construir tanta riqueza e viver como animais” (2007, p. 34). Segundo ele, “são
tantas histórias tristes, de lágrimas, dor e tormento, submetendo o escravo a tanto
padecimento” (2007, p. 35). Barreto nos diz ainda que em 1760 já estavam divididas
todas as terras de Coité, no sistema de grandes latifúndios, no qual poucos senhores
detinham a propriedade de toda a região. (p. 37).
           Em 09 de maio de 1855, Coité foi elevada ao status de Freguesia, sendo
vinculada ao município de Feira de Santana.
           A professora Nilzete Cruz narra o dia-a-dia da feira-livre no Arraial da cidade,
onde escravos e escravas eram negociados (informação verbal6). Segundo ela,
senhores e coronéis utilizavam o espaço urbano da cidade, para realização da feira-
livre onde se negociavam escravos. Os escravos eram expostos na praça como animais
e lá eram comprados e vendidos, mas deste processo não participavam efetivamente,
pois não eram consultados em nenhum momento sobre a transação que era realizada
na qual eram objetos (informação verbal)7.
           Após todos os acertos entre comprador e vendedor, a oficialização da compra
era levada ao cartório, primeiramente em Feira de Santana e, após a emancipação do
município, no próprio cartório da cidade. No cartório era então lavrada a escritura

6
 Palestra em 04/11/2009, realizada na UNEB – Campus XIV, para a disciplina de História Regional do
Curso de Comunicação Social, II semestre
7
    Entrevista dada concedida para o documentário Reggae é de Paz, produto desta pesquisa

                                                                                                     13
pública da compra do escravo. Neste momento também não era consultado, o escravo,
pois não lhe era permitida a manifestação de sua vontade.
           Após este momento, segue-se um processo extremamente cruel e doloroso para
o escravo. Dava-se a identificação do mesmo com um ferro superaquecido, quando
eram impressas em seu corpo as letras capitulares de seu senhor. Tudo isso acontecia
em um processo bastante animal e desumano.
           Ao que tudo indica, Segundo Nilzete Cruz (informação verbal8), existe no
município         vários lugares e comunidades cujos moradores são remanescentes de
quilombos. Ela discute a possibilidade de a comunidade existente no município
conhecida como o Maracujá ser remanescente de quilombos. Barreto (2007, p 11)
conta a história de uma escrava, Martinha que foi objeto de paixão de um grande
fazendeiro do município. O fazendeiro comprou a escrava e se tornou seu esposo.
Como nessa época, Conceição do Coité pertencia ao município de Feira de Santana,
todos os processos legais foram realizados pelo Fórum daquela comarca.
           Em 1890, Coité é levado à emancipação por um ato assinado pelo Governador
da Bahia, passando a se chamar Conceição do Coité.
           Entretanto, as questões relacionadas à negritude e a tomada de consciência
racial pelo negro em Conceição do Coité remonta aos anos 80. Naqueles anos, a
migração de vários afro-descendentes coiteenses para a capital do estado, Salvador,
colocou a negritude coiteense em contato com os vários movimentos culturais e
libertários do negro. Movimentos como o Reggae que explodiu na Jamaica e o próprio
Olodum existente em Salvador fez com que esses negros migrantes trouxessem a
discussão racial para Conceição do Coité, assim como a cultura do Reggae. Naquela
época os discos de vinil ajudavam a levar a cultura musical a lugares antes
impensáveis. O Reggae havia ganhado o mundo (informação verbal)9. Muitos músicos
brasileiros haviam assimilado o Reggae e disseminado a musicalidade negra,

8
 Palestra em 04/11/2009, realizada na UNEB – Campus XIV, para a disciplina de História Regional do
Curso de Comunicação Social, II semestre



9
    Beto Rasta, em entrevista cedida para o documentário Reggae é de Paz, produto desta pesquisa

                                                                                                     14
carregada de crítica social, pelos quatro cantos do país. (CARDOSO, 1997, p. 15).
Assim, Conceição do Coité conheceu as discussões da negritude. Nesta época, apenas
algumas pessoas de Conceição do Coité tinham contato com este elemento cultural.
Mas isto era suficiente. Estava plantada a semente que frutificaria, através dos grupos
sociais e raciais no final dos anos 90 e início do século XXI.
       Um evento marcante para a consolidação da discussão racial no município
aconteceu em 2005. Um curso de capacitação em Liderança social e identidade negra,
chamado “Reggae em Ação: capacitando lideranças para a identidade negra e
mobilização social” realizado pelo Centro de Promoção da Educação da Cultura e da
Cidadania – CPECC e destinado aos integrantes do Grupo Revolution Reggae
espalhado pelos bairros periféricos da cidade, como Pampulha, Barreiros, Jaqueira,
Matadouro, Açude Itarandi e Açudinho.
       Este curso visava capacitar o público alvo para atuar junto aos Bairros periféricos
da cidade e aos movimentos sociais, sendo capazes de discutir as questões sociais e
raciais no entremeio social. Foram ministradas aulas e oficinas nas áreas de
musicalidade reggae e consciência negra, cooperativismo, economia, direitos humanos,
educação e pedagogia infantil, comunicação comunitária e outros.
       Após quatro anos de sua realização, participantes do curso ainda comentam a
importância fundamental daquele curso para a formação do indivíduo enquanto ser
humano e afro descendente. O vídeo documentário, produto desta pesquisa, traz
alguns relatos importantes de participantes daquele projeto.


       A Identidade negra: Conceitos


       A Negritude então se estabeleceu como a busca do desafio cultural do mundo
negro, como a luta pela emancipação de seus povos oprimidos, a luta pela revisão das
relações entre os povos (MUNANGA, 2007, p. 42), a afirmação da personalidade
própria dos povos, a valorização de seus modos de ser, de vestir, de expressar-se
artisticamente e culturalmente. A identidade envolve a questão da valorização pessoal,
do desejar-se, reconhecer no negro coisas bonitas e coisas feias também, como em
qualquer ser humano. A identidade negra envolve a auto-aceitação e a celebração de
                                                                                       15
sua cultura, não ir em busca de identificação na cultura do outro, mas o desejo ardente
pelas suas raízes, pelo seu modo próprio de ser. Césaire (1976), citado por Munanga
(1986, p.44), diz que a negritude é o simples reconhecimento do fato de ser negro, a
aceitação de seu destino, de sua história, de sua cultura”. Cesaire define a negritude
em três palavras: identidade, fidelidade e solidariedade. Estes são elementos
essenciais para qualquer discussão em torno da negritude.




                                                                                    16
MÚSICA E IDENTIDADE


                      Quatrocentos anos foi a duração da escravidão de milhares de pessoas,que por
                      um capricho ou aprovação dos deuses, nasceram com uma única diferença dos
                      outros povos, a pele mais escura do que o normal: a pele negra (...). Era o
                      cântico dos escravos e no som que tiravam de qualquer objeto que seus
                      senhorios buscavam uma explicação para esse fenômeno, vendo que eles,
                      mesmo aprisionados e roubados da sua pátria-mãe, África, ainda possuíam
                      uma vasta inspiração para cantar e dançar para aliviar os sofrimentos, como se
                      soubessem que tudo aquilo não era definitivo. Este é o poder da música.
                      (CARDOSO, 1997, p. 8)


       Assim, Marco Antonio Cardoso, no livro “A Magia do Reggae” sintetiza a
relevância da cultura negra, especificamente suas músicas e danças. Lundu, Samba,
Blues, Reggae, capoeira e, atualmente blocos afros baianos, como o Ilê Aiyê e o Male
Debalê, que fazem parte desta abastada cultura que vem sendo preservada ao longo
dos séculos e se transformando em instrumento de luta contra toda a repressão que
tem sofrido.
       O Reggae é um ritmo que surgiu na Jamaica, fruto das manifestações culturais
que chegaram à Ilha através dos povos africanos, que são, em sua grande maioria
oriundos da “África ocidental”.

       Influenciados pelo Calipso de Trinidad Tobago e pela rumba cubana, a
diversidade foi ganhando forma e os jamaicanos começaram a desenvolver seu próprio
ritmo, como o Mento. Começaram então a incrementar suas Bandas com a introdução
de solos de trompetes que mais tarde dariam origem ao som instrumental , dançante,
alegre e agitado do SKA.

       O outro pano de fundo do surgimento do Reggae foram os fundamentos do
Rastafarianismo, um movimento que possui um caráter religioso, político, milenarista,
revolucionário e constitui uma nova visão de mundo. Porém suas crenças, rituais e
atitudes são produtos dos processos de hibridação a partir do encontro de diversas
culturas ocorridas no caribe.

       É bom ressaltar que, essas manifestações se difundiram justamente nas
camadas baixas, “nos chamados bairros de lata” jamaicanos, habitados geralmente
                                                                                                 17
pela população negra marginalizada. Nesses locais predominavam diversos problemas
sociais, violência, miséria e desemprego. As letras do Reggae eram movidas pelos
elementos religiosos do Rastafarianismo, que entre outras coisas denunciavam o
sistema de opressão vivenciado pela população negra pobre das camadas baixas. Isso
Possibilita considerar que o Movimento Rastafari juntamente com o Reggae são
importantes meios de resistência do povo negro jamaicano, no combate, mesmo que
simbólico contra o sistema de opressão vivenciado pelos mesmos.

      O Reggae chega ao Brasil sendo recebido, em primeiro lugar, pelas populações
da região do Nordeste, principalmente no Maranhão que mais tarde devido às
proporções dessa manifestação recebe a classificação de “Jamaica Brasileira”. Um dos
fatores é a proximidade geográfica. “São Luís está inserido em uma região que
compreende, principalmente aos estados de Maranhão e Pará. Nessa região
predominam ritmos caribenhos”. Segundo Cardoso (1997, p.13), Bandas como Tribo de
Jah do Maranhão e Central Africana e cantores como Edson Gomes, Fausy Beydoun,
contribuem para a disseminação e valorização deste ritmo no cenário nacional. Para
este mesmo autor “O reggae no Brasil sempre sofreu uma certa indiferença do poder e
da mídia, que o encarava como mais uma música de favelados, sendo portanto,
insignificante ao ponto de lhe darem as costas” (1997, p. 12).

      Quando o reggae foi se popularizando na Jamaica, nos Estados Unidos estava
acontecendo a expansão do Rhytm and Blues, ou simplesmente “Blues”. Oriundo do
Sul dos Estados Unidos, dos escravos das plantações de algodão que usavam o canto,
posteriormente definido como "blues", para embalar suas intermináveis e sofridas
jornadas de trabalho. São evidentes tanto em seu ritmo, sensual e vigoroso, quanto na
simplicidade de suas poesias que basicamente tratavam de aspectos populares típicos
como religião, amor, sexo, traição e trabalho. Com os escravos levados para a América
do Norte no início do século XIX, a música africana se moldou no ambiente frio e
doloroso da vida nas plantações de algodão. Porém o conceito de "blues" só se tornou
conhecido após o término da guerra civil quando sua essência passou a ser como um
meio de descrever o estado de espírito da população afro-americana. Era um modo
mais pessoal e melancólico de expressar seus sofrimentos, angústias e tristezas. A

                                                                                  18
cena, que acabou por tornar-se típica nas plantações do delta do Mississipi, era a
legião de negros, trabalhando de forma desgastante, sobre o embalo dos cantos, o
"blues". Mas, segundo Cardoso
                       de todas estas manifestações, o reggae é a mais explicitamente revolucionária.
                       É satírico e por vezes cruel, porém as letras também não se hesitam ao tratar
                       de temas como o amor, lealdade, esperança, ideais, justiça, novas coisas e
                       novas formas. É essa afirmação de possibilidades revolucionárias que coloca o
                       reggae em uma categoria à parte (1997, p. 17).

          Em Conceição do Coité, esta realidade da música reggae não é muito diferente
do que acontece no cenário nacional e até mundial. A música reggae tem alcançado
uma grande penetração nas comunidades negras do Açude Itarandi, do Bairro dos
Barreiros e da Comunidade Nova Esperança. São bairros da cidade de Conceição do
Coité onde moram pessoas, na maioria, negras e de baixa renda per capta. Os jovens
destas comunidades descobriram na música reggae uma filosofia de vida. Ouvem
reggae como uma celebração, como um ritual. Reggae para eles é uma maneira de
viver o mundo, de falar das injustiças sociais, uma forma de se expressar, uma maneira
de aprender, de falar, de viver. Uma maneira de ser. Isto justificou a escolha deste
gênero musical enquanto ferramenta propulsora para o desenvolvimento de um projeto
de pesquisa desta natureza.

          A música reggae tem sido usada como símbolo afirmador de suas identidades,
como acontece também na Jamaica e em outras partes do mundo, muito embora o
fenômeno da identidade étnica e cultural negra não seja igual em todas as partes do
mundo. Sansone afirma que a identidade étnica difere de lugar para lugar (SANSONE,
2007, p. 9). Mas a música reggae tem sido usada pelos povos negros em várias partes
do mundo como um símbolo de sua identidade cultural.

          Na maioria dos movimentos ligados a identidade negra, o Reggae tem estado
presente. Ele traz em suas canções, letras de protestos social, de reivindicação, de
valorização da raça etc. Estes ingredientes da musicalidade reggae contribui para o
processo de conscientização das comunidades afro-descendentes ao redor do mundo.
Assim, a música tem sido uma forte aliada no processo de resistência e libertação
social.
                                                                                                  19
O VÍDEO-DOCUMENTÁRIO


       O vídeo documentário é um produto audiovisual extremamente flexível com
relação à sua estrutura, seleção de planos e possibilidade de posicionamento do
documentarista. Assim, entendemos que ele pode ser usado em múltiplas situações
reais e por atores sociais para produção de discursos e pontos de vistas sobre uma
determinada realidade, bem como para propagação de idéias sociais e consciências
coletivas.

       Sendo assim, o vídeo tem uma visão comunitária, pois ao retratar uma realidade
cotidiana, não objetiva a reunião de grandes públicos, mas o seu produto é dirigido
geralmente a um pequeno público que se vê representado nestas produções e que
participam deste processo sem encenação. O vídeo documentário não está atrelado a
roteiros e padrões pré-definidos, porque como diz Puccini, "nem todos os roteiros de
documentários nascem da etapa de pré-produção do filme" (p. 16, 2009).

       Assim, entendemos que ele é extremamente útil na representação de temas
como o que é objeto deste trabalho de pesquisa. Segundo Musburger, “um
documentário deve ser produzido para fazer alguma diferença, ganhar uma discussão,
ou resolver uma questão sobre um assunto socialmente importante” (2008, p. 122). A
importância social deste trabalho está no fato de que a identidade cultural é a razão de
ser de uma comunidade. É a identidade cultural que mostra como é a vida das pessoas
de um determinado lugar. Sem identidade, um povo não existe, não se firma enquanto
grupo, enquanto comunidade, enquanto povo.

       Queremos descobrir em que medida o escutar e viver a música reggae tem
contribuído para afirmação e definição da identidade destes grupos em Conceição do
Coité, para entender porque estas pessoas vivem o reggae diariamente e o preferem à
qualquer outro estilo musical, afirmando ser o reggae verdadeiramente "música raiz".
E, caso este contexto social não seja pesquisado haverá um prejuízo sócio-cultural pela



                                                                                     20
não documentação de um modo de vida identitário, de uma condição sócio-cultural
existente.
         Está ai a importância da discussão e delimitação da identidade de um grupo
social. Conhecer uma identidade é afirmar a existência de um grupo, é valorizar sua
cultura. É por isso que esta pesquisa se propõe a estudar em que medida o reggae
contribui para construção e reconstrução destas identidades.

         Ademais, o movimento negro em Conceição do Coité está em evidência
atualmente, destacando-se na cidade, na região e até em nível nacional, no âmbito dos
Movimentos Sociais. E a música reggae tem feito parte deste processo de forma ativa,
integrando todas as atividades que são desenvolvidas pelo Movimento. Então se faz
necessário fazer o mapeamento dos usos que se faz desta linguagem musical no seio
deste movimento e destas comunidades e como estes usos dialogam e promovem a
afirmação e reafirmação da identidade cultural deste povo.

         A importância desta pesquisa não se limita ao conhecimento da realidade
pesquisada pelo mundo acadêmico, mas se propõe a oferecer ao grupo social
pesquisado, a condição de ele se conhecer melhor, de pensar a respeito de sua
condição enquanto povo no mundo. Conhecendo-se, o povo pode refletir sobre suas
identidades e dialogar de forma crítica, criativa e racional com outras identidades que o
cerca.

         Acreditamos que um vídeo documentário irá contribuir para o processo de
mobilização social em que vivem essas comunidades. O vídeo poderá servir para
exibições em suas atividades, inclusive de conquista de novos militantes, assim como
também, se divulgado na internet, levará o conhecimento da existência destes grupos a
lugares inimagináveis.

         Outrossim, entendemos também que por ser flexível e aberto, o documentarista
tem liberdade para assumir um posicionamento em relação ao tema abordado.
Segundo Erik Barnow, citado por Musburger (2008, p. 123), o documentário apresenta
a visão de mundo do documentarista. Para ele o vídeo documentário é um produto no

                                                                                      21
qual o roteirista não consegue deixar escapar a sua subjetividade. Assim, nós partimos
da premissa de que a música reggae tem contribuído para afirmação e reafirmação da
identidade negra em Conceição do Coité e procuraremos, embasados na pesquisa
realizada, construir o vídeo na defesa desta posição.

      Buscar-se-á dar vozes aos atores sociais, fontes da pesquisa, e no vídeo
privilegiaremos o discurso destes grupos, deixando-os falar e dialogar com intelectuais
que discutem a temática da identidade racial. Em razão disso, optamos por construir um
vídeo sem a utilização de narrador. As vozes dialogarão de tal forma que a narrativa
seja construída.

      Acreditamos que a ausência de OFF não prejudicará a narrativa, porque as
lacunas deixadas pela imagem, se houver, serão complementadas com a inserção de
caracteres que proporcionarão um ambiente em que os textos assumirão o papel de um
"elo", para proporcionar a coesão textual do vídeo. Musburger nos diz que “pode-se
acrescentar uma quantidade mínima de narração escrita ao som ambiente e natural
para preencher as lacunas que não ficaram totalmente explicitas com as imagens e os
sons” (2008 p. 126).

      Buscaremos assim, construir um vídeo agradável e de fácil entendimento para o
expectador, tentando colher nas entrevistas falas ricas em detalhes, mas com um
vocabulário de fácil assimilação.

      Construiremos um vídeo documentário de uma realidade social. Sendo assim
,usaremos cenas captadas no dia-a-dia das pessoas estudadas. Também faremos o
registro das apresentações e ensaios da Banda de Reggae e reuniões dos grupos
negros que ouvem o reggae em Coité.

      Assim, abordaremos também a importância deste estilo musical como parte
integrante da cultura regional e que traduz em si as lutas, os anseios e as vivências das
comunidades que em grande parte estão nas periferias da cidade, inseridas às
margens da dinâmica social dominante.


                                                                                      22
Outro aspecto que será fundamental para o nosso documentário se refere à sua
parte lúdica. Relacionado a este aspecto, construíremos um vídeo musical, onde a
música estará presente durante todo o enredo. Esta musicalidade aparecerá através da
trilha sonora, sobe som e BG (background).

        As músicas, que formarão a trilha sonora do vídeo, serão escolhidas do
repertório do reggae local, regional , nacional e internacional com letras que abordam a
temática da identidade negra e da discriminação racial. Estas trilhas serão sugeridas
pelos grupos pesquisados, na tentativa de traduzir no audiovisual, um pouco do
repertório musical destes grupos. Acreditamos que o fato de eles escolherem as
músicas, dará mais autenticidade ao produto, porque mostrará um pouco daquilo que
eles ouvem no dia-a-dia.

        Após serem reunidas, estas trilhas sugeridas pelos pesquisados, nós
procuraremos selecionar entre elas, aquelas músicas que passem uma dinâmica
musical de acordo com o trecho do vídeo no qual ela será usada. Sabe-se que as
músicas nos transmitem diferentes dinâmicas. Segundo Gibson, “a música nos toca no
sentimento e isto só é possível devido a sua dinâmica, a sua intensidade. São milhões
de dinâmicas discerníveis na música que nos afetam teoricamente, emocionalmente,
fisicamente, visualmente, psicologicamente, fisiologicamente e espiritualmente” (2005,
p. 191). De acordo com o “feeling” de determinada fala, de determinado trecho, de
determinado momento do vídeo, usaremos determinada trilha para intensificar este
momento, para amplificar determinado sentimento, para conduzir psicologicamente o
telespectador para determinado sentimento e emoção. Para seguir o ponto de vista de
Gibson, este “sentimento poderá ser físico, abstrato, emocional ou psíquico” (2005, p.
191).

        Com relação à utilização de efeitos especiais, buscaremos utilizar-los quando for
essencialmente necessário, no intuito de dar mais naturalidade ao vídeo. Buscaremos
efeitos que não mascarem a realidade pesquisada. Estes efeitos são importantes para
evitar cortes bruscos nas imagens, para dar mais sutileza na transição de imagens,
para tirar a monotonia na visualização de imagens muito paradas etc. No entanto
                                                                                      23
tomaremos cuidado para não mascararmos a realidade da pesquisa e para não
mudarmos a semântica das entrevistas nem das imagens captadas.

      Com relação aos efeitos de áudio, seguiremos o mesmo raciocínio. Tais efeitos
serão utilizados quando se justificarem técnica e artisticamente, segundo a linguagem
do audiovisual e de acordo com o objetivo proposto pelo documentário. Estes efeitos de
áudio, como reverb, chorus, delay, flange e outros servem para ambientar o som e para
dar-lhe mais presença ou ausência dentro do espectro sonoro.

      Tomaremos cuidado também no momento da edição, no processo de seleção de
cenas, corte das imagens, ordem de aparecimento no vídeo etc. Em primeiro momento,
buscaremos, no processo de decupagem, eliminar apenas as imagens que tenham
problemas técnicos no momento da captação: áudio ruim, imagens com problemas de
iluminação, com problemas de enquadramentos etc. Ainda assim, imagens com
problemas, mas que tenham falas essenciais e áudio importantes, do ponto de vista do
objetivo do vídeo, este áudio será preservado e será coberto com outras imagens,
captadas no momento de pesquisa e colheita de imagens, através do sistema
conhecido como “nota coberta” na linguagem audiovisual.

      Haverá um cuidado essencial com o áudio do documentário, principalmente com
o áudio das entrevistas. Em primeiro, momento, após a escolha das imagens e
montagem do documentário, este áudio será exportado pelo programa de edição de
vídeo e será trabalhado em um programa de edição de som como o Audacity ou
Soundforge. Neste momento, haverá o tratamento da relação som/ruído, a equalização
do áudio para se tornar mais audível e agradável ao ouvido humano. É neste momento
que se inserirá também os efeitos de áudio ao som das entrevistas. Far-se-á, neste
momento, também o processo de compressão do som para dar mais presença ao áudio
do documentário.

      Só após este momento de tratamento do áudio das entrevistas, é que serão
inseridos os outros elementos sonoros ao vídeo, como trilha sonora, efeitos sonoros
etc. Este processo de mistura de sons é conhecido como mixagem. Para Gibson (2005,

                                                                                   24
p. 191)10, “A arte de mixar é a forma com que as dinâmicas são criadas através dos
equipamentos do estúdio”. Para ele, “os quatro tipos de ferramentas que podemos usar
para criar todos os estilos diferentes de mixagem são: volume faders, panpots,
equalização e efeitos” (p. 191).

          Assim procuraremos manipular todos estes elementos para criar diferentes
dinâmicas no som do produto audiovisual, através do processo de posicionamento
acústico {para intensificar a construção da imagem sonora tridimensional entre os alto-
falantes (GIBSON, 2005, p. 34)11, da distribuição de elementos dentro da mixagem, da
intensidade, da exploração do espectro sonoro}, da construção de imagens acústicas
etc.

          Entendemos, portanto, que o som desempenha um papel importante em um
produto audiovisual. Segundo Saboya (2001, p. 21) “Os sons podem nos levar a uma
outra dimensão. Podemos mobilizar uma audiência através dos sons e até mesmo
‘viajar’ com ela para uma abstração total”. Ainda, segundo Saboya,



                          o som é muito mais que um elemento de suporte da imagem. Pode ser usado
                          para reforçar, fortalecer o impacto da mensagem. Pode se tornar mais forte que
                          a imagem e conduzir as emoções da audiência para qualquer ponto desejado
                          pelo roteirista (2001, p. 21, 22).


          Assim, será considerada também e principalmente a relação som e imagem do
produto. Nenhum destes dois elementos será super valorizado em detrimento do outro.
Ao invés disto, eles trabalharão em conjunto no processo de transmissão da mensagem
audiovisual.

          Devemos distinguir dois tipos de efeitos sonoros, aqueles chamados de FX,
como chorus, reverbs, delays etc. e aqueles que são criados no estúdio para serem



10
     WWW.musicaudio.net
11
     WWW.musicaudio.net

                                                                                                     25
uma representação da realidade, como sons de cachorro latindo, sons de pessoas
andando etc.

      Os efeitos musicais serão utilizados também, para atrair o interesse do ouvinte.
Estes trechos musicais serão também extraídos de músicas reggae do repertório
nacional e internacional.

      Outro ponto a considerar, em relação ao áudio refere-se ao número de canais do
componente sonoro. Os produtos atuais geralmente são construídos em estéreo 2.0,
dolby digital 5.1 ou 7.1. Os dois últimos são mais interessantes já que dão a impressão
tridimensional ao som. Nos filmes, eles são muito utilizados para dar ao telespectador a
impressão de que está no meio da cena. No entanto, a maioria dos telespectadores
brasileiros ainda está restrita ao sistema estéreo 2.0, em virtude da limitação de seus
aparelhos de reprodução audiovisual.

      Assim nós buscaremos construir o nosso vídeo com as opções de reprodução
estéreo 2.0 e dolby digital 5.1. Buscando atender aos dois públicos possíveis. Segundo
Santos (1993) o áudio dolby em uma ilha de edição é mais sofisticado e permite a
gravação das pistas de áudio, uma de cada vez. Na trilha 1 pode ser gravado o som
original e na pista 2 ser adicionada uma trilha sonora, efeitos ou um fundo musical
(SANTOS, 1993, p.191) . Neste sistema, buscaremos privilegiar, no canal central, o
áudio das entrevistas, e nas outras caixas distribuiremos os outros componentes
sonoros. Sendo que, em alguns momentos, quando houver na tela diálogos entre duas
personalidades, estas falas serão distribuídas nas duas caixas frontais.

      Uma preocupação deste trabalho refere-se aos direitos autorais dos trechos
musicais utilizados no vídeo. Assim, serão devidamente registradas nos créditos todas
as obras utilizadas com os seus respectivos autores.

      A autoração do vídeo documentário é o momento de criação de menus, inserção
de algumas legendas, etc. Este momento é essencialmente importante para dar ao
documentário um aspecto visual interessante. É o processo de finalização do vídeo,


                                                                                     26
onde todos as partes do audiovisual são reunidas, como vídeo principal, extras, making
off etc.

       Voltando ao aspecto da edição do vídeo e a escolha de imagens, tal processo
será feito de forma que as vozes possam dialogar entre si, compondo o enredo do
documentário. Neste aspecto tomar-se-á o cuidado para que um entrevistado não
apareça por um tempo demasiadamente longo, deixando o documentário chato e
enfadonho. Ao invés disto, cuidar-se-á para que o entrevistado apareça por um
momento curto, seguido por outro entrevistado que venha dialogar com ele, dando
movimento de imagens ao vídeo. Também haverá a interrupção de falas, com o
esquema de “sobe som”, algum detalhe do dia-a-dia dos grupos pesquisados, imagens
de ruas etc. com a finalidade de dar dinamismo ao vídeo e deixá-lo bem prazeroso de
assistir. Trata-se da representação de uma realidade social, mas como diz Musburger
(2008, p. 121), de forma livre, “fazer um tratamento criativo dessa realidade”.

       Como se trata de um documentário musical, a música será bastante valorizada
no vídeo. Ela aparecerá de forma que não seja apenas um plano de fundo para as
imagens e entrevistas (MAURO GIORGETTI, 2008, p. 3), Mas ela comporá de forma
fundamental o enredo do vídeo. A preocupação é tornar a música, um personagem
dentro do vídeo assim como são todos os entrevistados. De acordo com Giorgetti
(2008)12 “quando se opta por este recurso, destina-se a musica papel de complemento
da ação”. Assim, a música no documentário não exercerá apenas o papel de BG, papel
ilustrativo ou de ambientação, mas ela se comportará de tal forma que passe a narrar a
história juntamente com os entrevistados. Alguns elementos históricos não serão
discutidos por nenhum entrevistado, no filme, mas será trazido pelas canções. Não
apenas isso, mas a música em alguns momentos será elevada a tal nível que ela
mesma se comportará como as vozes dos personagens dentro do enredo. De tal forma
que diga por eles os seus anseios, as suas vivências, seus sonhos e desejos. É o que

12

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53:somcinema&itamid=67

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Giorgetti sugere quando diz que a música “vem em auxilio do personagem que não
consegue mais exprimir-se por si próprio” (2008)13.

       Também na abertura e encerramento do filme, no momento dos créditos iniciais
e finais, haverá a ocorrência da música trilha sonora que dá nome ao filme, “Reggae é
de paz”, com o objetivo de “tentar estabelecer no início e confirmar no final o espírito e
a essência que animam o filme...” (Giorgetti, 2008, p. 5).




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53:somcinema&itamid=67



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O MEMORIAL


Enquadramentos
Para efeito de normatização desta pesquisa, utilizaremos para a noção de
enquadramentos de câmera, as especificações de planos para TV, sugeridos por Rudi
Santos (1997, p. 21): plano geral, primeiro plano, plano médio, plano conjunto, plano
detalhe.


DIA 11/11/2009


No dia 11 de Novembro de 2009 nos reunimos para o nosso primeiro dia de gravação.
Às 15:00h gravamos sonora com o doutorando em Literatura, Marcos Aurélio, que falou
sobre a musicalidade negra e a utilização da Música Reggae como elemento de
afirmação e reafirmação da Identidade. Para realizarmos esta gravação, utilizamos
como suporte material, uma câmera filmadora da Sony, modelo Handy cam. Com a
utilização deste equipamento de captação audiovisual, e seus acessórios, enfrentamos
várias dificuldades:


   1. Ausência de entrada para microfone externo


O microfone externo confere uma melhor qualidade de áudio e sendo direcional a
intensidade de ruído no processo de captação do som pode ser amenizada. Neste
mesmo dia, estava acontecendo o Simpósio de Letras na UNEB Campus XIV e como o
ruído estava intenso, e muitas pessoas estavam circulando pelo ambiente, não
conseguiríamos uma boa sonora, pois o microfone da câmera é omnidirecional e capta
o som vindo de todas as direções e no processo de propagação do som, as partículas
existentes no ar, são comprimidas, e essa mesma compressão é propagada até chegar
ao nosso microfone de captação, mesmo em situações que o som atravessa
obstáculos, como uma parede, o princípio é o mesmo, a diferença é que nem só as
partículas de ar podem propagar o som, mas os líquidos e os sólidos também
                                                                                  29
(FONSECA, 2007, p. 8). Para driblarmos esta situação, nos deslocamos com o
entrevistado para o Laboratório de Rádio do curso de Comunicação Social, pois o
ambiente do estúdio é tratado acusticamente e o ruído do ambiente externo neste caso,
não atrapalhou o processo de captação do som.


2. Ausência de um microfone ultra-direcional


Aliado ao fato de a câmera não possuir entrada para microfone externo, não tínhamos à
nossa disposição um microfone ultra- direcional, que é próprio para captar o som em
um ambiente que exista muito ruído, ou quando o microfone precisa estar em uma
distância considerável da fonte sonora, este microfone também chamado de Shotgun, é
o ideal para ser utilizado na captação sonora de videodocumentários em ambientes
externos, e é muito vantajoso pois melhora a qualidade sinal- ruído. (FONSECA, 2007,
p. 8)




3. Ausência de Iluminação artificial


Na entrevista com Marcos Aurélio, demos prioridade ao Primeiro Plano que “corta o
entrevistado na altura do busto e é muito utilizado durante diálogos ou entrevistas (
SANTOS, 1993, p. 29), porém surgiu uma outra dificuldade. Mesmo com a iluminação
das lâmpadas fluorescentes do estúdio, a imagem não ficou muito nítida . Para
conseguirmos um bom resultado, precisaríamos de uma iluminação artificial adequada.
Acessamos a função da câmera denominada “Nightsgot” porém a melhora na qualidade
da imagem não foi significativa, ainda continuando sem nitidez e contraste em nosso
visor de retorno. Com isso o nosso processo de captação ficou comprometido, devido a
esta dificuldade.


4. Ausência de um tripé.



                                                                                   30
Em nossa entrevista com Marcos Aurélio, queríamos uma imagem estável, o que não
foi possível, pois não tínhamos um tripé para utilizar com a câmera e em nosso visor de
retorno, notamos que em alguns momentos a imagem ficou trêmula. Neste caso o uso
do tripé é indispensável, pois se ganha tempo, sem ser necessário refazer imagens por
conta de instabilidade. (WATTS, 2007, p. 32)
Neste mesmo dia, nossa equipe entrou em contato com a Banda de Reggae
Quixanayah, para fazermos a captação do ensaio que eles realizam uma vez na
semana. Nossa visita ficou marcada para as dezenove horas, porém uma de nossas
preocupações era a iluminação, pois no ambiente noturno a ausência dela poderia
comprometer a qualidade da gravação pelo fato de não possuirmos disponível
equipamentos de iluminação artificial para uma melhor captação das imagens. A
inexistência de um tripé, também nos preocupou bastante, pois o ensaio iria ser
demorado e após este, faríamos uma entrevista. O uso do tripé nestes casos confere
uma maior estabilidade à imagem com menor esforço físico do operador de câmera.
(PUCCINI, 2009, p.68). Conforme combinado, comparecemos às 19 horas para fazer as
filmagens   do   ensaio   da   Banda   Quixanayah.   Para   este   trabalho   utilizamos
enquadramentos de câmera como: Plano Conjunto, Plano Médio, Primeiro Plano e
Detalhe. Nesta gravação, utilizamos, em alguns momentos, como angulação a Câmera
alta, pois esta é utilizada para intensificar o conteúdo da cena filmada e valorizar os
membros do grupo, colocando-os em condição de autoridade diante do trabalho que
realizam (SANTOS, 1993, p.65) Após o ensaio, a nossa equipe fez uma entrevista com
os componentes da Banda para registrar relatos sobre a história do grupo. Dentre os
planos citados, fizemos esta variação, pois estes criam uma maior dinâmica visual ao
documentário criando possibilidades de movimento no momento da edição. Usamos
esta variação de planos também para combater a monotonia de uma entrevista longa
tomada em um único take sem variação de enquadramentos. A mudança de
enquadramentos ajuda muito no processo de edição. (PUCCINI, 2009, p. 68).
Os integrantes da Banda Quixanayah sugeriram, no momento da entrevista, “que as
imagens fossem colhidas a partir das pessoas reunidas na sala de ensaio, para dar a
idéia de um bate-papo informal e a coisa ficar mais natural”. Concordamos então e os
integrantes ficaram sentados no chão e dispostos em um círculo. A entrevista era
                                                                                     31
conduzida de forma que todos respondessem conforme o domínio do assunto. Não
havia uma linearidade de fala neste círculo. Quando um integrante não sabia dialogar
sobre um assunto que surgia referente ao dia-a-dia da Banda, imediatamente, ele pedia
que outro integrante que dominasse mais o assunto, respondesse. Sendo que o
documentário não é ficção, e que é factual e feito para demonstrar a realidade, os
entrevistados ficaram da mesma forma que eles ensaiam diariamente, de acordo com o
que constatamos em nossas visitas anteriores fora do processo de gravação.
Geralmente, eles ficam sem camisa e seus ensaios são dentro de um cômodo que
também é um dormitório utilizado por alguns deles. Vale ressaltar que são todos irmãos.
Para não alterarmos a cena natural do dia-a-dia do grupo, procuramos registrar o
ensaio tal como ele é, sem cenários e sem intervir na forma como ele é feito
diariamente.
Sabemos que não existe isenção absoluta. Compartilhamos com Morin (MORIN, 2002,
p. 84, 85) a noção de que existe a incerteza ligada ao conhecimento. Segundo ele,
existem vários    princípios de incertezas, que nos impossibilitam de sermos
completamente racionais, completamente isentos de nossas emoções, de nosso ponto
de vista. A construção do conhecimento é apenas uma interpretação da realidade, mas
impregnada de todas as incertezas. Mas, segundo ele é necessário “enfrentar as
incertezas ligadas ao conhecimento”, sabendo “interpretar a realidade, antes de
reconhecer onde está o realismo”. Conscientes destas incertezas procuramos intervir o
mínimo possível no ambiente e no comportamento das pessoas.
Acreditamos que nossos contatos anteriores com o grupo, facilitaram bastante nossa
interação com ele, permitindo uma maior naturalidade de fala e comportamentos.
Neste dia as imagens foram feitas por Jurandi Oliveira e Paulo Enselmo, que alternaram
em alguns momentos. Terminamos nossas atividades às 21h.


Dia 12/11 /2009


Nossa equipe contactou o Grupo de capoeira do bairro da Pampulha, periferia de
Conceição do Coité, tal grupo é ligado à Associação Cultural Revolution Reggae, nosso
objetivo era captar imagens do ensaio.
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Neste dia, também marcamos entrevista com Moisés Blondy, que é um dos precursores
da música Reggae no município de Conceição do Coité.


Dia 15/11/2009


Conforme combinado, nos dirigimos para o centro da cidade para pegarmos sonora
com Moisés Blondy, porém o entrevistado remarcou para o dia 27/11 devido a
compromissos profissionais.


Dia 21/11/2009


Nossa equipe se dirigiu ao Centro Cultural Ana Rios de Araújo no centro de Conceição
do Coité, para registrar o evento da “Beleza negra”, desfile anual que ocorre em nosso
município para destacar participantes afro descendentes sob uma ótica estética.
Chegamos ás 19:00h no local e filmamos a parte externa e as imagens ficaram muito
escuras devido a falta de iluminação. Na parte interna do Centro Cultural o ambiente
estava ainda mais escuro e tornou impossível o registro de imagens sem a utilização de
uma iluminação artificial. O nosso grupo finalizou as atividades às 20:00h sem
conseguir captar boas imagens.
Neste dia as imagens foram feitas por Jurandi Oliveira e Paulo Enselmo.


Dia 26/11/2009


Entramos em contato com Moisés Blondy para realizarmos a entrevista, desta vez foi
confirmada para as 17 horas do dia seguinte.


Dia 27/11/2009


Desta vez comparecemos ao CPECC - CENTRO DE PROMOÇÃO DA EDUCAÇAO DA
CULTURA E DA CIDADANIA, entidade cultural de Conceição do Coité, destinada à

                                                                                   33
promoção da cultura e valorização da cidadania. Lá entrevistamos o sócio influente da
Associação, Sr Fernando Araújo. Sabendo que ele é um profundo conhecedor da
cultura negra em Conceição do Coité e que milita em sintonia com outras entidades
afins como o Revolution Reggae, fizemos o possível para deixar o convidado bem à
vontade e conduzimos a entrevista de forma a que ela não assumisse um caráter
puramente técnico ou formal e segundo MEDINA:


                    A entrevista pode ser apenas uma eficaz técnica para obter respostas
                    pré-pautadas por um questionário. Mas não será um braço da
                    comunicação humana , se encarada como simples técnica. Esta - fria
                    nas relações entrevistado-entrevistador – não atinge os limites possíveis
                    da inter-relação, ou, em outras palavras, do diálogo. (MEDINA, 2002, p.
                    5)

Durante esta entrevista utilizamos como enquadramento o Plano Médio, fizemos
também movimentos de câmera como, PAN Horizontal , zoom in e zoom out. Na parte
exterior do imóvel também utilizamos o zoom in e o zoom Out. O uso do Zoom in neste
caso, foi utilizado na composição da imagem, pois o fechamento do zoom é importante
para eliminar a área morta em torno dos limites da imagem. Neste caso, o uso do zoom
serve apenas para dar vida a uma imagem estática. (WATTS, 2007, p. 44). Na
seqüência nos dirigimos à loja de discos MB Music no centro de Conceição do Coité
para realizarmos a entrevista com Moisés Blondy. Ao chegarmos no local, verificamos
que havia um serviço de alto-falantes próximo ao estabelecimento comercial que
comprometia a qualidade do áudio. Não devemos ignorar o ruído de fundo. Uma vez na
gravação, é praticamente impossível se livrar dele sem prejudicar o som que queremos
escutar, mesmo numa sala de som completamente equipada. Além disso, ele poderá
parecer pior na gravação do que parece na vida real. Nossos ouvidos conseguem, até
certo limite, selecionar o que queremos escutar na vida real, mas eles não funcionam
tão bem quando se trata de gravações por que a fonte do ruído frequentemente não
está na tela e todo o som vem do mesmo lugar, o alto-falante (WATTS, 1999, p. 53). A
qualidade da imagem também estava escura, em virtude da pouca luminosidade do
local. Para realizarmos nossa entrevista, nos dirigimos com o entrevistado para o
Centro Comunitário, pertencente à Igreja Católica, que fica em frente ao local marcado
                                                                                          34
para a gravação da sonora. Apesar de o ambiente ser mais silencioso, ainda
continuamos com problemas na iluminação, pois era precária, mesmo assim
conseguimos realizar a entrevista.
Nós sentimos que o entrevistado ficou entusiasmado com o tema do nosso video
documentário e fez questão de ainda complementar a sua fala, relatando a história do
Reggae em Conceição do Coité, relacionado ao advento das Rádios livres no
município. O entrevistado ainda frisou que, na maioria das Rádios de Conceição do
Coité, o grupo Jamaica apresentou programas, em maior parte aos domingos e esta
ação fortaleceu o movimento da música Reggae e a organização de outros grupos da
cultura afro descendente na Sede e nos Distritos de Conceição do Coité. Moises Blondy
ainda relatou que nas festas tradicionais como o Micareta da cidade, a musica reggae
era excluída como opção musical. A inserção do Reggae, nestas festas, se deu através
da   mobilização   dos   grupos      formados,    que    formularam      abaixo-assinados       e
sensibilizaram o poder executivo do município, que a partir destas ações, inseriu o
Reggae nas festas tradicionais.
Neste dia as filmagens foram feitas por José Jurandi e Paulo Enselmo.


Dia 28/11/2009


Tomamos conhecimento, através de palestra ministrada na Uneb Campus XIV pela
professora Nilzete Cruz, sobre um livro, escrito em Conceição do Coité por Orlando
Matos Barreto, com o título “Martinha, Escrava, Esposa, Rainha” que retrata a História
do surgimento do Maracujá, comunidade Quilombola em Conceição do Coité. Nos
deslocamos para o centro da cidade para contactar o autor desta obra, que tem grande
valor histórico e documental para o nosso vídeo. Não o encontramos em sua
residência, porém ficou certo que retornaríamos outro dia para manter contato. Neste
caso utilizamos a pesquisa bibliográfica para conseguir estes dados históricos, pois
segundo Gil,
                     A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,
                     constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase
                     todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há
                     pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa

                                                                                               35
parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas Bibliográficas
                       (1989, p. 48).

Neste mesmo dia às dezoito horas nos dirigimos ao bairro do Açudinho, periferia de
Conceição do Coité. Lá conversamos com Beto Rasta, que segundo os músicos da
cidade, também é considerado um dos precursores da musicalidade Reggae no
município. Mais uma vez tivemos problemas com a iluminação e a gravação que seria
externa, teve que ser realizada no interior da residência do entrevistado que estava
mais bem iluminada. Utilizamos em nosso processo de captação enquadramentos em
Plano Médio e Primeiro Plano. Também foram utilizados movimentos de câmera como
zoom in e zoom out .
A entrevista com Beto também surgiu naturalmente. O entrevistado se sentiu até à
vontade para nos mostrar a sua coletânea de LPs, antigos discos de vinil, alguns são
de sua juventude. À medida que ele nos mostrava as capas dos discos, ia fazendo uma
contextualização histórica com a sua vida na militância do movimento negro. Ele
enfatizou que na época que comprava aqueles LPs, foi no período em que veio de
Salvador para morar em Conceição do Coité e segundo ele, as pessoas da cidade
ainda não conheciam o Reggae e passaram a conhecê-lo através das novidades em
discos que ele trazia para a cidade. O entrevistado ainda cita que este foi um caminho
muito difícil de ser trilhado pois relata que foi discriminado por ser rastafári. Por isso,
segundo ele, era comparado algumas vezes com um marginal. Mas ele cita que seu
bom exemplo com o passar dos anos foi a prova suficiente para que todos mudassem
de conceito em relação a sua auto imagem e, hoje, segundo ele, todas pessoas em
Conceição do Coité o vêem como um exemplo a seguir.
Na seqüência fomos à “Sambaíba” comunidade rural de Conceição do Coité, onde
segundo informações, funcionava o “Bar do Reggae”. Ao chegarmos na localidade,
conversamos com o proprietário o qual nos informou que o bar encerrou suas
atividades em virtude da discriminação, do preconceito da sociedade e das atitudes
arbitrárias de alguns freqüentadores. As imagens que fizemos ficaram ruins em virtude
da ausência de iluminação artificial.
Neste dia as imagens foram feitas por Paulo Enselmo e a entrevista por Jurandi
Oliveira.
                                                                                                   36
Dia 30/11/2009


Às 17h entrevistamos Orlando Matos, autor do livro “Martinha, Escrava, Esposa,
Rainha”. Na entrevista utilizamos como enquadramento o Plano conjunto. As imagens
foram feitas por Paulo Enselmo e Jurandi Oliveira ficou responsável pela produção da
entrevista.


Dia 14/01/2010


Neste dia nossa dupla dedicou-se a fazer a decupagem, assim como a transferência e
a conversão das imagens captadas. Para esta tarefa, utilizamos como software de
edição de imagens, o Adobe Premiere CS3 que nos possibilitou marcar o tempo
existente nos trechos selecionados e formular o nosso roteiro de edição do vídeo. A
utilização deste software e de outros recursos tecnológicos como a placa de captura de
vídeo Firewire, facilitaram a digitalização das imagens e das fotografias dos arquivos
das Entidades (CPECC e Revolution Reggae) para serem inseridas no vídeo e segundo
Ferreira:


                    A digitalização das imagens integrará o documentário nas redes de informação,
                    irá estimular a criação de formas híbridas de realização, poderá explorar outras
                    percepções da exploração sensorial do mundo através do filme e dinamizará as
                    políticas de criação audiovisual. No Brasil, a redução dos custos irá incentivar
                    uma nacionalização da produção e quem sabe, trará maior liberdade dos
                    realizadores. O documentário voltará ser como preconizava Alberto Cavalcanti –
                    Um terreno fértil para a experimentação (FERREIRA, 2001, p. 217).


Após este processo de decupagem das imagens e entrevistas, analisamos as músicas
que seriam escolhidas para compor a trilha sonora do documentário, e como a música
Reggae exerce um papel de grande influência em Conceição do Coité, procuramos
contactar os apreciadores deste gênero musical para que juntos pudéssemos escolher
as trilhas adequadas para cada ação. E neste processo de escolha da trilha sonora,
pudemos compreender que um dos espaços do vídeo é o reino do som, que
compreende o espaço ocupado pelos elementos que não fazem parte da tela nem do
                                                                                                 37
espaço diegético – são participantes invisíveis e inaudíveis, mas desempenham um
papel importante em determinar a nossa resposta, como membros da audiência, aos
sons e imagens. Trata-se do espaço ocupado principalmente pelo comentário ou
locução e pela música de fundo (ARMES, 1999, p.187). Às dezessete horas do mesmo
dia nos deslocamos para o Bairro dos Barreiros em Conceição do Coité e lá
conversamos com o Rasta Toinho que também é diretor de eventos da Associação
Cultural e Beneficente Revolution Reggae.
Em sua residência, ele nos convidou para ouvir dezenas de CDs, arquivos de mp3 e
vídeos que retratavam a musicalidade Reggae e sugeriu músicas deste estilo musical
que poderiam ser utilizadas em nosso vídeo documentário. Ele ainda mostrou-se muito
emocionado com o tema do documentário, pois, segundo ele, o movimento Reggae em
Conceição do Coité, através desta ação de pesquisa e produção de vídeo, poderá ter
um documento audiovisual para representá-lo na cidade e também na internet,
apropriando-se das novas tecnologias disponíveis na contemporaneidade. Ele ainda
disse que na cidade o preconceito existente com relação aos que curtem a
musicalidade Reggae ainda é muito grande, pois este ritmo vem da cultura negra e
conscientiza as pessoas do espaço urbano da periferia a se organizarem e lutarem por
melhores condições de vida. Seguindo nesta mesma linha de pensamento, Barbero
afirma que:


                    A música negra só obteve sua cidadania transversalmente e as contradições
                    geradas nessa passagem certamente que não são poucas, mas ela serviu para
                    generalizar e consumar um fato cultural brasileiro de maior importantância: A
                    emergência urbana e Moderna da música negra (2008, p. 245)


Neste momento, não realizamos gravação de imagens, pois a finalidade da visita, era
apenas para a obtenção da trilha sonora para o nosso vídeo. Vale a pena ressaltar que
em dias anteriores já havíamos gravado entrevista com o Rasta Toinho e agora ele
também passou a ser um colaborador ativo do nosso trabalho de pesquisa e produção
de vídeo.
Na sequência, nos dirigimos, às dezenove horas, à residência de Rudina, jovem,
associada à Revolution Reggae e que participou do programa Reggae em Ação que foi

                                                                                              38
um precursor do Movimento organizado pela defesa e valorização da cultura negra em
nosso município, tendo se destacado pela conscientização de seus participantes,
encorajando-os a engajarem nos movimentos sociais para que juntos construíssem
uma sociedade melhor, mais justa e mais humana. O Objetivo da nossa entrevista era
saber qual a contribuição daquele projeto social para sua vida, bem como qual o
significado dele e do Reggae para o movimento de mulheres que ela participa.
Realizamos esta entrevista utilizando a luz natural do ambiente. Em alguns momentos,
sentindo a falta de iluminação, a entrevistada nos conduziu a outro cômodo de sua
residência melhor iluminado, onde pudemos realizar de forma melhor a captação das
imagens da entrevista. Tivemos uma preocupação também com o áudio a ser captado,
afastando a câmera das fontes sonoras do ambiente, a exemplo do computador que
estava em funcionamento no momento da entrevista.
Neste dia, as imagens foram feitas por Paulo Enselmo e a entrevista por Jurandi
Oliveira.


Dia 16/01/2010


Com o intuito de verificarmos o comércio de CDs e DVDs relacionados a musicalidade
reggae circunscrito no município de Conceição do Coité, visitamos as bancas de
vendas destas mídias no centro da cidade para que pudéssemos captar imagens que
representassem a ação deste comércio. Neste dia, conversamos com os vendedores
ambulantes para que em outra oportunidade, pudéssemos fazer as imagens. Neste
momento, aproveitamos para fotografar as bancas de CDs de DVDs, dando destaque
ao que era vendido dentro do estilo da música reggae. Para isso utilizamos uma
câmera fotográfica semiprofissional da marca Canon, modelo Rebel XSI com objetiva
zoom. As imagens registradas serviram para ilustrar o nosso documentário e para dar
significado ao cenário “comercial” da música Reggae no município de Conceição do
Coité, pois Penafria (1999), citada por Santos (2006, p. 1), afirma que


                      O documentário não é um mero espelho da realidade, não representa a
                     realidade tal qual, ao combinarem-se e interligarem-se as imagens obtidas in
                     loco está-se a construir e dar significados à realidade, está-se o mais das vezes
                                                                                                   39
não a impor significados, mas a mostrar que o mundo é feito de muitos
                    significados.


Às onze horas nos dirigimos à Rádio Coité Fm, captamos imagens do estúdio da Rádio,
momento em que o locutor “Antonio Cazary” apresentava seu programa que além de
tocar diversos estilos musicais, também tem a sua        programação voltada para a
musicalidade Reggae. Utilizamos como enquadramento de câmera o Primeiro Plano e o
Plano Conjunto, como movimento de câmera utilizamos a PAN Horizontal o ZOOM IM e
o ZOOM OUT. O áudio captado neste momento foi o mesmo                que estava sendo
executado nas caixas de retorno do estúdio, o que confere autenticidade às imagens
gravadas. Neste momento de gravação posicionamos a nossa câmera de modo que o
microfone dela pudesse valorizar principalmente a voz do entrevistado, pois a prática
sonora convencional tem a sua própria hierarquia (que pode ser quebrada para efeito
artístico): a fala é superior à música, e esta superior aos efeitos sonoros. Quando há
diversas pistas para posterior sobreposição, estas refletem a hierarquia, na prática
profissional, apenas a fala é gravada junto com as imagens (ARMES, 1999, p. 183).
Através de conversas com o comunicador, descobrimos que na Rádio Coité FM existe
um programa de Reggae que é apresentado aos Domingos e que poderíamos gravar
entrevistas, além de fazer a captação das imagens do programa. Também fomos
informados que existe um programa de Reggae que é apresentado no serviço de alto-
falantes de “Orlando” que transmite a sua programação para a área central da cidade.
Comparecemos ao estúdio do serviço de alto-falantes às onze da manhã, situado na
Rua Duque de Caxias, no Centro da Cidade, porém neste dia não houve apresentação
do programa por motivos de folga do funcionário.
Neste dia as fotografias foram feitas por Jurandi Oliveira e as imagens por Paulo
Enselmo e Jurandi Oliveira.


17/01/2010


Às Dez da manhã, nos dirigimos à feira livre do município de Conceição do Coité, lugar
no qual tivemos contato com vários vendedores ambulantes de CDS e DVDS que
comercializam mídias relacionadas com a musicalidade Reggae. Os comerciantes não
                                                                                      40
quiseram gravar entrevistas, pois segundo eles, estavam com medo de represálias por
estarem exercendo uma atividade ilegal, mas concordaram que registrássemos
imagens dos discos expostos nas Bancas. Para este registro, utilizamos como
enquadramentos de Câmera os Plano detalhe, Conjunto e Geral, como movimentos de
câmera foram utilizadas a PAN Vertical e Horizontal. E para registrar a capa de um DVD
à distância para depois dar um enquadramento de Plano conjunto utilizamos os
movimentos de ZOOM IN e o ZOOM OUT.
Às onze horas comparecemos à igreja Matriz onde está localizado o estúdio da Rádio
Coité FM, onde pudemos conversar com Robson Silva, locutor da Emissora que
apresenta o programa aos Sábados denominado Loves Reggae, que é especificamente
destinado a tocar canções voltadas para a temática da musicalidade Reggae. Na
captação das imagens utilizamos como enquadramento Primeiro Plano e o Plano
Conjunto. Já no processo de captação sonora, registramos o som ambiente do estúdio,
equalizado na mesma altura em que os locutores ouvem naturalmente nas caixas de
retorno.
Neste dia as imagens foram feitas por Paulo Enselmo e Jurandi Oliveira.


A Pós-produção


O processo de edição


      O momento da Edição do documentário foi um processo bastante intenso com
relação às emoções. Neste momento pudemos perceber a importância das teorias
trazidas para o referencial teórico do Memorial do documentário e também pudemos
perceber a importância do grande volume de imagens captadas no momento das
entrevistas. Utilizamos como Software de edição de vídeo o Adobe Premiere CS3 e, em
alguns momentos, o Vegas 8.0, principalmente para extração de trechos de DVDs. O
momento da edição, nos exigiu que tivéssemos muita atenção, principalmente na
seleção das imagens, pois “a edição é uma das mais importantes etapas na realização
de um vídeo. É através dela que os planos são organizados um a um e o vídeo adquire
sua forma final” (SANTOS, 1993,190).
                                                                                   41
Antes do momento da edição e da elaboração do roteiro do vídeo, fomos aos
grupos entrevistados em busca de músicas que pudessem servir como trilha sonora
para o documentário. Eles sugeriram muitas músicas e canções. Entre as músicas
sugeridas apareceram artistas como Mato Seco, Adão Negro, Nengo Vieira, Bob
Marley, Edson Gomes etc. Fomos também até os camelôs da cidade, vendedores de
CDs e DVDs nas bancas das praças públicas, e compramos alguns discos de CDs,
mp3 e DVDs de Reggae. Os camelôs inclusive sugeriram alguns discos, como os mais
vendidos por eles aos reggueiros da cidade.
      Outra ação da equipe foi pegar nos arquivos dos grupos pesquisados, fotos,
vídeos, e outros elementos audiovisuais que mostrassem a história desses grupos.
Conseguimos várias fotos e alguns vídeos de momentos importantes principalmente do
Revolution Reggae e do CPECC.
      Então, todo o processo de edição começou com a exibição de todas as
entrevistas e imagens que tínhamos em mãos. Assistíamos e anotávamos as imagens
interessantes e úteis, já destacando todas a imagens desnecessárias. Neste momento
do processo já íamos pensando nas músicas que poderiam ser utilizadas como trilha e
BG, de acordo com o repertório musical já montado no computador. Já íamos prevendo
também as imagens de inserts que poderiam ser utilizadas. Pensávamos também
durante este processo sobre a possível sequência entre imagens e planos. Foi montada
então uma planilha de decupagem com este material.
      No final deste processo, no entanto, não tínhamos alguns elementos cruciais
para a edição. Faltava uma imagem forte para abrir e fechar o vídeo, bem como faltava
também a trilha sonora principal e o nome do documentário.
      Então surgiu a idéia de valorizar a Banda Quixanayah, um dos grupos
pesquisados, e pensamos em escolher como trilha sonora principal, uma de suas
músicas. Então escolhemos duas: “Reggae é de paz” e “História Real”. Daí surgiu
também o nome do documentário, Reggae é de paz: a identidade cultural negra em
Conceição do Coité.
      Com relação ao início, pensamos em iniciar o vídeo com uma citação em
caracteres, seguida por citações curtas dos entrevistados sobre o reggae,
                                                                                  42
acompanhadas ainda por imagens da Cidade de Conceição do Coité. O problema é que
não tínhamos uma imagem forte e representativa da cidade. Então saímos para filmá-la.
       Começou-se a partir deste momento o processo de edição propriamente dito. E
como se tratava de um documentário musical, procuramos valorizar bastante a música
no filme, como já discutido no capítulo sobre vídeo documentário. “O Roteiro final pode
ter qualquer forma possível. O importante é que sirva de guia para as gravações ou
filmagens. Um roteiro pode até mesmo ser rabiscado em um guardanapo de botequim”
(SANTOS, 1993, 47). Para tal fizemos um pequeno roteiro, dividindo o documentário
em capítulos de acordo com os assuntos que seriam tratados em cada parte. Então o
pequeno roteiro ficou assim:


       ROTEIRO DE EDIÇÃO
01: EXT. SEDE DA ESCOLINHA DE CAPOEIRA REVOLUTION REGGAE – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

Cenas de ação da capoeira em que mostram professor e aluno treinando.

02: EXT. SEDE DA ESCOLINHA DE CAPOEIRA REVOLUTION REGGAE – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Carlinhos Rasta fala que o Reggae traz palavras de libertação.

03: INT. CASA DE BETO RASTA – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Trecho em que Beto Rasta fala sobre o que o Reggae ensina.

04: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Dedé afirma que o Reggae levantou a moral do Negro.

05: INT. CASA DE JOB LIMA – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009




                                                                                    43
Cena em que Job Lima afirma que o Reggae é o desenrolar da própria vida.

06: EXT. ENTRADA DA CIDADE DE COITÉ – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Trecho do vídeo que mostra o monumento que fica na entrada da cidade de Conceição do Coité.

07: VÁRIAS IMAGENS DA CIDADE DE CONCEIÇÃO DO COITÉ RELACIONADAS À TEMÁTICA DA MÚSICA
NEGRA

Conceição do Coité – BA, 2009

Seqüência de cenas em que aparecem: O monumento em frente ao ponto de Salgadália, imagem antiga
da praça de Coité, Banca de venda de CD’S, imagens do projeto Reggae em ação, imagem de automóvel
antigo, imagens do dia-a-dia dos grupos pesquisados.

08: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Marcos Aurélio fala sobre a música como elemento de afirmação e reafirmação da
identidade.

09: INT. CASA DE BETO RASTA – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Beto Rasta diz que o Reggae prega uma verdade.

10: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Marcos Aurélio fala sobre Bob Marley e sua importância.

11: EXT. CASA DO RASTA TOINHO – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena do vídeo em que o Rasta Toinho fala sobre a importância de Bob Marley para a paz.

12: INT. ESCRITÓRIO DE ORLANDO MATOS – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Orlando Matos fala sobre a Colonização de Conceição do Coité.


                                                                                               44
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Reggae é de paz a identidade cultural negra em conceição do coité

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA José Jurandí Silva de Oliveira Júnior Paulo Enselmo Ramos de Jesus REGGAE É DE PAZ: A IDENTIDADE CULTURAL NEGRA EM CONCEIÇÃO DO COITÉ Conceição do Coité-BA 2010.
  • 2. José Jurandí Silva de Oliveira Júnior Paulo Enselmo Ramos de Jesus REGGAE É DE PAZ: a identidade cultural negra em conceição do coité Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de Comunicação Social – Habilitação em Radialismo, da Universidade do Estado da Bahia, como requisito parcial de obtenção do grau de bacharel em Comunicação, sob a orientação da professora Patrícia Rocha de Araújo. Conceição do Coité-BA 2010.
  • 3. José Jurandí Silva de Oliveira Júnior Paulo Enselmo Ramos de Jesus REGGAE É DE PAZ: a identidade cultural negra em conceição do coité Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de Comunicação Social – Habilitação em Radialismo, da Universidade do Estado da Bahia, como requisito parcial de obtenção do grau de bacharel em Comunicação, sob a orientação da professora Patrícia Rocha de Araújo. Data: _____________________________________________________ Resultado: _________________________________________________ BANCA EXAMINADORA Professora (orientadora) _____________________________________ Assinatura: ________________________________________________ Professora ________________________________________________ Assinatura: ________________________________________________ Professora ________________________________________________ Assinatura: ________________________________________________
  • 4. RESUMO REGGAE É DE PAZ: A IDENTIDADE CULTURAL NEGRA EM CONCEIÇÃO DO COITÉ A Música Reggae tem sido utilizada como instrumento simbólico de afirmação e reafirmação da identidade cultural pelas comunidades afro-descendentes na Sede do Município de Conceição do Coité. A negritude em Conceição do Coité teve inicio logo cedo com a escravidão no século XVII. Na década de 1980, o movimento negro se fortaleceu e ganhou corpo na cidade com o surgimento dos movimentos sociais organizados em torno da negritude. Atualmente são vários os grupos que discutem a temática racial na cidade, dentre eles: Revolution Reggae, Rebanho de Israel, Quixanayah e o Grupo Jamaica. Este trabalho tem como objetivo construir um vídeo- documentário que mostre em que medida a música reggae, enquanto música de expressão social tem contribuído para afirmação e reafirmação da identidade cultural das comunidades afro descendentes na sede do município de Conceição do Coité. Foram utilizados como método de coleta de dados a entrevista, e a observação participante, além da pesquisa bibliográfica para realização da pesquisa descritiva que documentou tudo em imagens através de uma câmera filmadora. Estas imagens foram usadas depois na montagem do vídeo. Palavras-chave: Reggae, Identidade, Música, Negritude
  • 5. ABSTRACT The Reggae music has been used as a symbolic instrument of affirmation and reaffirmation of cultural identity by communities african-descendants in the town of Conceição do Coité. Blackness in Conceição do Coité began early with slavery in the seventeenth century. In the 1980s, the black movement was strengthened and it won the city with the emergence of social movements organized around the blackness. Currently there are several groups that discuss the race issue in the city, among them: Revolution Reggae, Comunidade Rebanho de Israel, Quixanayah and Grupo Jamaica. This work aims to build a documentary video that shows the extent to which reggae music, as music of social expression has contributed to the affirmation and reaffirmation cultural identity of communities african descendants in the town of Conceição do Coité. It was used interviews and participant observation as a method of data collection, in addition to the literature for carrying out descriptive research which documented all in images via a digital camcorder. These images were then used to assemble the video. Key-words: Reggae, Identity, Music, Negritude
  • 6. SUMÁRIO INTRODUÇÃO______________________________________________________________________ 01 IDENTIDADE_______________________________________________________________________ 03 Identidade negra: um processo histórico________________________________________________ 04 Auto-discriminação__________________________________________________________________07 O nascimento da negritude___________________________________________________________ 09 Brasil_____________________________________________________________________________ 10 Conceição do Coité_________________________________________________________________ 12 A identidade negra: conceitos_________________________________________________________ 15 MÚSICA E IDENTIDADE_______________________________________________________________17 O VÍDEO – DOCUMENTÁRIO___________________________________________________________20 O MEMORIAL______________________________________________________________________ 29 CONCLUSÃO_______________________________________________________________________ 53 REFERÊNCIAS_______________________________________________________________________56
  • 7. INTRODUÇÃO Este trabalho tem a proposta de discutir a relação entre a musicalidade reggae e a identidade cultural negra em Conceição do Coité. Produzimos um vídeo-documentário musical que aborda esta temática. Analisamos a identidade segundo o conceito fluido de Stuart Hall (2007). Neste sentido a identidade se constitui como algo móvel e em constante mutação. Assim acreditamos que as comunidades afro descendentes da sede de Conceição do Coité que lutam com o conceito da negritude, têm na musicalidade reggae um forte aliado na afirmação e reafirmação de suas identidades. O Reggae desde seu surgimento tem tratado da temática afro-descendente de forma bastante intensa e tem contribuído para o processo de conscientização social de muitas pessoas ao redor do mundo, inclusive em Conceição do Coité, foco de nosso trabalho. Para desenvolver esta discussão, fazemos um percurso histórico sobre o nascimento da negritude no mundo e sua trajetória no Brasil e na região. Reunimos em nosso vídeo intelectuais para discutir a temática do negro, e militantes da negritude, falam de suas experiências cotidianas no movimento negro da cidade, bem como fazem uma retrospectiva sobre o processo libertário através do Reggae. Dedicamos um capítulo específico para discutirmos o vídeo e uma relação com a música e com os movimentos sociais, justificando a pertinência deste trabalho. Para finalizar, dedicamos um capítulo para relatar todas as fases da pesquisa e da construção do vídeo, descrevendo etapa por etapa, as técnicas utilizadas, as experiências vividas , as dificuldades encontradas, etc. 1
  • 8. Enfim este trabalho (Memorial e vídeo) se propõe a trazer a discussão da relação entre música e identidade cultural do povo negro e como ambas se complementam dentro da sociedade brasileira. 2
  • 9. A IDENTIDADE O conceito de identidade é um dos conceitos mais polêmicos da atualidade. Concordamos com Stuart Hall (2007, p. 109) quando coloca a identidade no campo das construções sociais e simbólicas. Para ele, “ela não é, nunca completamente determinada no sentido de que se pode sempre ganhá-la ou perdê-la, no sentido de que ela pode ser sempre sustentada ou abandonada”. (HALL, 2007, p. 108) E esse ir e vir da construção identitária se dá nas relações sociais e como elas são interpretadas pelos grupos identitários. Entendemos que situações e contextos históricos podem influenciar na construção identitária de um determinado grupo. Temos vários exemplos históricos de discursos de identidades construídos a partir de situações específicas. A identidade negra, construída a partir da colonização da America, o feminismo construído a partir da revolta com uma sociedade patriarcal. Enfim, a identidade segundo Hall, “tem a ver com a questão da utilização dos recursos da história, da linguagem e da cultura para a produção, não daquilo que nós somos, mas daquilo do qual nos tornamos.” (HALL, 2007, p.109) Isto significa que a identidade faz uso de elementos históricos, lingüísticos e culturais para se constituir enquanto identidade. Todos esses elementos são organizados no seio da sociedade, através de representações simbólicas. Os meios de comunicação (todos os meios, inclusive os alternativos) fazem uso constantemente de elementos representativos para construção da imagem de um determinado grupo ou lugar. O exemplo bem claro deste tipo de construção é aquele feito por alguns meios de comunicação a respeito do Nordeste. Nesta representação, o Nordeste é o lugar da seca, da miséria, da pobreza e da preguiça (informação verbal)1 Então, no bojo desta construção de identidade, existe sempre um jogo de interesses que nem sempre defende os ideais do grupo constituinte e identitário. Isto confirma aquilo que Laclau (1990, citado por HALL, 2007, p. 110) fala da identidade, 1 Aula de seminários III, palestra de Carla Gouveia, e Seminários Diálogos Possíveis, Palestra de Durval de Albuquerque, realizadas no Curso de Comunicação Social da Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV. 3
  • 10. quando argumenta que “a constituição da identidade é um ato de poder. No processo de construção de uma identidade, sempre existe algum constituinte ideológico que beneficia algum grupo social, independente dos beneficiários ser ou não o grupo em questão. É o que Kathryn Woodward defende quando diz que “a identidade é assim marcada pela diferença.” (2007, p. 9). O marco constituinte da identidade é o outro, o diferente. A mulher é mulher porque existe o homem, o negro é um grupo identitário porque existe o branco. Esta diferenciação, ou este outro estabelece o desigual, fazendo com que a existência da identidade estabeleça a existência da desigualdade, da diferença, da luta de grupos, do jogo de poder. É o que afirma Hall quando diz que “a identidade é o produto da marcação da diferença, da exclusão social”. (2007, p. 109). Assim, para ele, as relações identitárias estabelecem também relações de poder. Identidade negra: um processo histórico O processo de construção de uma identidade em torno do negro começou a se formar a partir do processo histórico de colonização e escravidão na América e na África a partir do século XVI. Esse constructo identitário é formado dentro de uma dimensão social e econômica conflituosa. Nesta formação identitária manifesta-se a questão do jogo de poder já abordada neste capítulo, fundamentada em Stuart Hall (2007). Assim, toda essa discussão de identidade tem suas raízes históricas e todo esse processo tem uma herança historiográfica que foi forjada no contexto da escravidão, no século XVI. No entanto, essa identidade da negritude sofreu alterações profundas com o passar dos séculos e vários elementos ideológicos, históricos, sociais e lingüísticos foram sendo incorporados a este constructo identitário. Novos elementos foram sendo incorporados à identidade negra e ela passa de algo completamente indesejado no século XVI à situação de valorização no início do século XXI (ao menos pelos afro- descendentes militantes da negritude). A partir do século XVI, o mundo testemunhou uma migração, em massa, de escravos da África para as colônias européias na América. O Brasil inclusive foi o país 4
  • 11. que mais importou escravos. Aproximadamente quatro milhões de escravos entraram no país até o final do século XIX, "o que representa 40% do total de negros raptados pelo escravismo colonial” (SANTOS, 2002, 32). Estes escravos deixavam suas famílias na África de onde eram sequestrados. Toda sua vida era praticamente destruída. A partir dali não mais se considerava a vida passada do homem negro, família, profissão, sonhos e desejos ou se o escravo havia sido artesão, comerciante, rei ou rainha (informação verbal)2. Apenas duas coisas, o escravo podia trazer consigo às Américas, porque isso não lhe podia ser tirado: sua capacidade laboril e sua memória. Para Bosi, a memória "é o intermediário informal da cultura" (2003, p. 15). Ela coloca a memória com um condão precioso que preserva História e cultura, coisas do cotidiano que estão distantes das instituições oficiais de preservação da História. O afro descendente se beneficiou exatamente deste caráter preservador e não oficial da memória para passar às gerações futuras sua riqueza cultural. O escravo fez uso intenso dela para preservar seu passado e construir um novo futuro. A memória é a riqueza maior de um povo. Ela não lhe pode ser tirada. E o afro descendente buscou diversas estratégias para conservação de sua memória. Vários elementos culturais foram usados para isso. A capoeira, o candomblé e a musicalidade africana contribuíram imensamente para a preservação da memória deste povo. A Antropologia eurocêntrica até o século XX, por sua vez, sempre buscou justificar a atitude desumana do homem branco europeu. Antropólogos, que ainda hoje são estudados nas escolas, expuseram verdades absurdas, colocando o homem negro como pertencente a uma raça inferior. Segundo Ortiz Nina Rodrigues, em suas análises do Direito penal brasileiro, tece inúmeras considerações a respeito da vinculação entre as características psíquicas do homem e sua dependência do meio ambiente. Na realidade, meio e raça se constituíam em categorias do conhecimento que definiam o quadro interpretativo da realidade brasileira. (1994, p. 16) 2 Palestra de Antonio Cosme, ministrada na inauguração do Projeto Reggae em Ação em 2005, dirigido à comunidades periféricas afro-descendentes, realizado pelo Centro de Promoção da Educação da Cultura e da Cidadania. 5
  • 12. Ainda segundo Ortiz (1994, p. 14) o atraso evolutivo do país no início do século XX era atribuída a raça. Ele diz que A História brasileira é, desta forma, apreendida em termos deterministas, clima e raça explicando a natureza indolente do brasileiro, as manifestações tíbias e insegura da elite intelectual, o lirismo quente dos poetas da terra, o nervosismo e a sexualidade desenfreada do mulato. Muitas atrocidades ao longo da história foram justificadas pela ciência moderna: a escravidão do negro, o holocausto e a perseguição ao judeu, o nazismo etc. O homem branco entendeu, desde cedo, que a maior riqueza de um povo está em sua memória. Então buscou-se construir uma outra identidade para o povo africano, na tentativa de destruir suas memórias. A ciência européia do século XIX dava toda a justificativa teórica a um processo de dominação econômica e social. Várias representações sociais foram forjadas no seio da ciência e da sociedade para deturpar a identidade do negro existente nos recônditos de suas memórias (MUNANGA, 1986, p. 35). Suas manifestações artísticas e culturais foram sufocadas intensamente. Suas vozes foram caladas. Sua coletividade castigada a fim de que o africano fosse inferiorizado enquanto ser humano, enquanto indivíduo, enquanto pessoa. A capoeira, o candomblé, a música de matiz africana, as danças, a comida, toda cultura afro foi colocada como inferior, imprestável dentro da sociedade brasileira. Assim foram criadas representações em torno da imagem do povo negro. O negro foi colocado como menos inteligente que o branco, preguiçoso, tendente ao crime e à marginalidade, violento, feio, etc. Essa opressão se seguiu após a escravidão, gerando uma dívida histórica da sociedade brasileira para com o afro descendente, imensurável. O negro foi o agente de construção da economia deste país. Foram trezentos anos de trabalho escravo, construindo um país forte economicamente. E depois da construção, foram obrigados a morar em espaços favelados, a trabalhar em ofícios desvalorizados socialmente, ficaram recrutos a uma perseguição social dos órgãos repressores do Estado como marginais, suspeitos da polícia e do cidadão de classe média e alta. (SANTOS, 2002, p.33) 6
  • 13. No momento da libertação dos escravos, os negros foram despejados na sociedade econômica, sem habitação nem trabalho. Socialmente desestruturados , sem dinheiro, sem moral, sem ter para onde ir. Não houve uma política pública para inserção do negro na sociedade brasileira. Santos nos diz que "o dia seguinte ao fim do escravismo marca o início de uma saga de subcidadania que tem 114 anos" (2002, p.33). Após a abolição da escravatura, a mão de obra negra não foi aproveitada no regime econômico seguinte, o da mão de obra assalariada. Ao invés disto, o Estado brasileiro preferiu importar a mão-de-obra européia, enquanto que para o negro não restou alternativa alguma. O governo brasileiro adotou então uma política de enbranquecimento da raça brasileira. Deu-se neste momento o processo de imigração européia no final do século XIX e início do século XX (IMIGRAÇÃO NO BRASIL)3. Neste momento o negro estava arrasado social e psicologicamente. Escritores negros narraram todos estes momentos e buscaram a libertação social, econômica e mental de seu povo (MUNANGA, 1986, p. 35). Está aí o germe do processo de identificação do negro com seu povo, com sua raça, com suas memórias, com sua História. É nesse momento, mais do que nunca que ocorre o processo de reconquista da identidade africana. Munanga diz que "Aceitando-se, o negro afirma-se cultural, moral, física e psiquicamente" (1986, p. 33). Os escritores negros começaram a perceber que "a idéia de uma África com negros bárbaros era uma invenção européia." (MUNANGA, 1986, p. 41). Auto-discriminação Então foi um processo muito cruel para o povo negro. Após ter assimilado a cultura e o modo de vida do branco, não havia como essa gente valorizar suas raízes e sua identificação com sua gente. 3 HTTP://portalsaofrancisco.com.br/alfa/imigracao-no-brasil/imigracao-no-brasil.php 7
  • 14. A mídia de massa assumiu o papel que era desempenhado pela ciência do século XIX. Os jornais só mostram o afro descendente em situação de violência e crime. As programações seriadas somente mostram o negro em desempenho de papel subalterno no seio social. Papel de servidão, de marginalidade, de desprezo social. Na contramão, todos os heróis mostrados no cinema e na TV são brancos. Assim, a valorização da cultura européia e a consequente desvalorização da cultura do negro é quase uma lei na cultura midiática de massa. É certo que algumas figuras negras conseguiram seu espaço na mídia a exemplo dos Jackson’s Five nos Estados Unidos, Pelé no Futebol e na teledramaturgia brasileira, o ator Milton Gonçalves, mas estes são casos isolados e não constituíram uma realidade abrangente para a etnia afro no país. A escola não valoriza, no livro didático nem nos conteúdos trabalhados, o mundo do negro. O mercado de trabalho é muito racista em relação ao negro. Espaços sociais como clubes, shops e outros tem servido de espaço onde o racismo acontece. Todos estes discursos oficiais levam o negro a negar sua identidade. Contribui para que o afro descendente se identifique e assimile a cultura do branco. Crianças que só vêem na TV seus iguais em papéis subalternos, que na escola só ouvem falar em heróis brancos, que recebe presente de um papai Noel branco, que recebe uma boneca branca como presente de final de ano, que sabe que seus traços físicos estão fora do padrão de beleza de sua sociedade, com certeza vai repudiar suas raízes, vai ser levada a um processo de identificação com o branco europeu, com a cultura do outro. (informação verbal)4 É o que Sansone (2007, p. 11) discute quando fala "do hífen oculto que impede os brasileiros de se definirem como afro-brasileiros, Ítalo-brasileiros, Líbano - brasileiros e assim por diante". Para ele "a despeito de muitas provas de discriminação racial, as pessoas preferem mobilizar outras identidades sociais que lhes parecem mais compensadoras" (2007, p. 11). 4 Palestra de Antonio Cosme, ministrada na inauguração do Projeto Reggae em Ação em 2005, dirigido à comunidades periféricas afro-descendentes, realizado pelo Centro de Promoção da Educação da Cultura e da Cidadania. 8
  • 15. O nascimento da negritude A identidade negra passou, ao longo da História, de uma identidade inferiorizada, indesejada, repudiada nos primeiros anos de sua concepção, para uma identidade almejada, sonhada, desejada pelos negros de consciência racial, militantes da negritude. Munanga diz que, neste contexto, o negro se reivindica com paixão, a mesma paixão que o fazia admirar e assimilar o branco (MUNANGA, 1986, p. 33). Em vários cantos do planeta começou-se a pensar a problemática do negro. "Escritores negros tomaram consciência do processo de imitação cega à cultura branca, da assimilação cultural", do processo de aculturação (MUNANGA, 1986, p. 33) Eles tomaram consciência do processo de lavagem cerebral a que foram submetidos ao longo da história. Munanga nos diz que este burburio de discussões aconteceu inicialmente nos Estados Unidos, na Europa e no Haiti, principalmente por estudantes negros em Universidades, ao entrarem em contato com a diversidade cultural africana e européia. (1986, p. 41). Os principais pensadores deste movimento da negritude foram Dr. Du Bois, Langston Hughes, René Maran, O Dr. Price Mars e Aimé Cesaire "que criou a palavra negritude" (MUNANGA, 1986, p 43). A Arte também desempenhou um papel fundamental no processo de resistência contra a assimilação cultural e racial. Elementos como a música, a capoeira e a literatura desempenharam um papel fundamental. Grupos como o Ilê Ayê, Edson Gomes e Banda Cão de Raça, artistas como os reggeiros jamaicanos, James Brown, a moda Black Power nos anos 1980, e o movimento do Axé Music, foram importantes para a valorização da cultura negra. Então os negros através da arte estabeleceram uma rede de comunicação cultural ao redor do mundo. Paul Gilroy (1994) citado por Santos M. (2002, p. 1) nos diz que “as relações estabelecidas em decorrência da diáspora favorecem a formação de um circuito comunicativo que extrapola as fronteiras étnicas do Estado-nação, permitindo às populações dispersas conversar, interagir e efetuar trocas culturais”. Assim, juntamente com a diáspora do povo negro pelo mundo deu-se também a hibridização cultural negra. 9
  • 16. Brasil Inicialmente o Brasil seguiu as discussões internacionais em torno da negritude, O movimento no país culminou na libertação dos escravos em 1888. Nesta época, mais de 90% dos negros no país já eram livres (SANTOS, 2002, p.33). Negros influentes na economia e nos meios de comunicação da época abraçaram a causa do negro e levaram suas discussões aos vários espaços dentro do país. No entanto, um fator na década de 30, vem contribuir para abafar e desvirtuar as discussões em torno da identidade étnica, o mito da democracia racial (SANSONE, 2007, p. 10). O Estado Brasileiro decide naquela época construir representações étnicas a respeito do país. Estas representações sugerem que no Brasil não existe racismo, sugere que brancos e pretos agora vivem em harmonia racial e social. A partir deste momento, o racismo deixou de ser explícito e passou a ser velado, dissimulado e bastante cruel. Segundo Santos, "pessoas não podem ver porque já tem os olhos (e também a consciência) acostumadas a essa realidade" (SANTOS, 2002, p. 30). As representações discriminatórias passaram a ser sutis e veladas, o que dificultou ao negro levar adiante suas discussões raciais, tendo em vista a imagem forjada de um país democrático racialmente. A discriminação agora existe nas piadas, no olhar questionador sobre o negro, na ausência da história negra nas escolas, na desvalorização da cultura do negro, nas imagens representativas do negro no imaginário popular, no déficit econômico em que vivem a maioria da população negra no país. Outro fator que contribuiu para diluir as discussões raciais no seio da sociedade foram as proibições explícitas quanto à organização de associações de base étnica, especialmente na década de 30, durante a Ditadura de Getúlio Vargas (SANSONE, 2007, p. 13). A partir de 1930, vários acontecimentos ao redor do mundo relacionados à causa do negro refletiam-se aqui no Brasil. As idéias de Martin Luther King nos Estados 10
  • 17. Unidos e de Marcus Garvey na Jamaica influenciaram profundamente o pensamento da negritude ao redor do mundo. A partir dos anos 1960, a Ditadura Militar brasileira inviabilizou todas as manifestações de cunho racial: Os militares transformaram o mito da democracia racial em peça chave da sua propaganda oficial e tacharam os militantes e mesmo os artistas que insistiam em levantar o tema da discriminação como “impatrióticos”, “racistas” e “imitadores baratos” dos ativistas estadunidenses que lutavam pelos direitos civis. (MOVIMENTO NEGRO, 20105) A partir dos anos 50, o movimento Rastafári na Jamaica atrelado à musicalidade começou a ganhar força e a se espalhar pelo mundo. Na década de 70 do século passado, Bob Marley ganha projeção mundial e leva as letras de suas músicas aos quatro cantos do mundo. Nessa época o Reggae já havia adentrado as fronteiras do Brasil. Por aqui, o movimento Negro andava um pouco sufocado pelo Regime militar e após sua queda na década de 80, começa a ganhar força ao redor do país. No Brasil os movimentos negros de caráter pacifistas começaram logo no início do século. A partir das idéias de Martin Luther King e Marcus Garvey, começaram a se organizarem. Dentre os precursores do movimento podemos citar na década de 1930 a Frente Negra Brasileira, mais tarde transformada em Partido Político; O teatro experimental do Negro em 1944 no Rio de Janeiro; o congresso Nacional do Negro em Porto Alegre em 1958 e a Associação Cultural do Negro em 1954 na cidade de São Paulo. Em 1959 o professor Jorge Agustinho cria o Centro de Estudos Afro-Orientais, pioneiro nas relações diplomáticas e culturais entre Brasil e África. Em 1975 foi fundado no Rio de Janeiro o IPCN – Instituto de Pesquisa e Cultura Negra, organização de relevância no quadro do Movimento Social Negro no país (MOVIMENTO NEGRO, 2010) 55 http://www.geledes.org.br/afrobrasileiros-e-suas-lutas/movimento-negro.html. 11
  • 18. Após este período houve apenas pequenas ações em torno da negritude. “O Movimento negro enquanto proposta política só ressurgiria realmente em 7 de Julho de 1978 quando um ato público organizado em São Paulo contra a discriminação racial deu origem ao Movimento Negro Unificado contra a discriminação racial (MNU). A data ficou conhecida como o Dia Nacional da Luta contra o Racismo”. A consequência deste movimento levou à criação em 1984 do primeiro órgão público voltado para o apoio ao movimento afro-brasileiro, o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra. Os anos Pós-constituição de 1988 têm registrado possíveis avanços na conquista do espaço social do Negro. (MOVIMENTO NEGRO, 2010) Conceição do Coité A problemática do negro em Conceição do Coité começou muito cedo. Desde antes que o município se tornasse arraial e freguesia, a problemática racial e do negro já era presente neste lugar. Alguns escritores e pesquisadores que escreveram sobre a cidade, narraram fatos em que a temática do negro esteve presente. A primeira escravidão em Conceição do Coité, de que se tem notícia aconteceu com índios, após o governo português haver dividido a colônia em Sesmarias. A Sesmaria em que Coité estava situado recebeu o nome de Sesmaria dos Tocós e foram os Guedes que a exploraram. “Antonio Guedes de Brito criou equipes potentes para defender a terra que era de seus parentes, banindo dela os gentios e com atos dos mais frios, matou todas essas gentes.” (BARRETO, 2007, p. 22). Nessa época, muitos índios foram dominados e escravizados, servindo na Sesmaria dos Tocós, onde existia um lugar chamado de Nascente do Coité, que mais tarde chamaria Olhos D´agua, onde Conceição do Coité está situado. Por essa época, foi construída uma estrada que ia da Capitania de Salvador à Capitania de São Francisco, passando pela Nascente do Coité. (BARRETO, 2007, p. 22). O processo de escravidão em Coité foi tão demarcado e profundo que o primeiro habitante do lugar já trazia consigo escravos. “Traz ao menos um escravo, a mulher e a 12
  • 19. meninada” (BARRETO, 2007, p. 27). A partir daí, cada fazendeiro que por terras de Coité se estabelecia, logo tratava de comprar escravos, ainda que o pagamento se desse em parcelas. (2007, p. 31) O progresso se estabeleceu por aqui pela prática da escravidão e, além do trabalho servil, muitos senhores ganhavam fortunas, através do comércio de escravos. (2007, p. 33). Barreto (2007, 34) narra a rotina dura e a vida humilhante a que os escravos eram submetidos: trabalhavam dezesseis horas por dia, alimentavam-se de comida estragada, que seria jogada no lixo, acordavam antes do amanhecer para o trabalho hostil de cada dia. As mulheres também sofriam intensamente e muitas eram exploradas sexualmente por seus senhores. Barreto diz que os escravos desfaleciam por “construir tanta riqueza e viver como animais” (2007, p. 34). Segundo ele, “são tantas histórias tristes, de lágrimas, dor e tormento, submetendo o escravo a tanto padecimento” (2007, p. 35). Barreto nos diz ainda que em 1760 já estavam divididas todas as terras de Coité, no sistema de grandes latifúndios, no qual poucos senhores detinham a propriedade de toda a região. (p. 37). Em 09 de maio de 1855, Coité foi elevada ao status de Freguesia, sendo vinculada ao município de Feira de Santana. A professora Nilzete Cruz narra o dia-a-dia da feira-livre no Arraial da cidade, onde escravos e escravas eram negociados (informação verbal6). Segundo ela, senhores e coronéis utilizavam o espaço urbano da cidade, para realização da feira- livre onde se negociavam escravos. Os escravos eram expostos na praça como animais e lá eram comprados e vendidos, mas deste processo não participavam efetivamente, pois não eram consultados em nenhum momento sobre a transação que era realizada na qual eram objetos (informação verbal)7. Após todos os acertos entre comprador e vendedor, a oficialização da compra era levada ao cartório, primeiramente em Feira de Santana e, após a emancipação do município, no próprio cartório da cidade. No cartório era então lavrada a escritura 6 Palestra em 04/11/2009, realizada na UNEB – Campus XIV, para a disciplina de História Regional do Curso de Comunicação Social, II semestre 7 Entrevista dada concedida para o documentário Reggae é de Paz, produto desta pesquisa 13
  • 20. pública da compra do escravo. Neste momento também não era consultado, o escravo, pois não lhe era permitida a manifestação de sua vontade. Após este momento, segue-se um processo extremamente cruel e doloroso para o escravo. Dava-se a identificação do mesmo com um ferro superaquecido, quando eram impressas em seu corpo as letras capitulares de seu senhor. Tudo isso acontecia em um processo bastante animal e desumano. Ao que tudo indica, Segundo Nilzete Cruz (informação verbal8), existe no município vários lugares e comunidades cujos moradores são remanescentes de quilombos. Ela discute a possibilidade de a comunidade existente no município conhecida como o Maracujá ser remanescente de quilombos. Barreto (2007, p 11) conta a história de uma escrava, Martinha que foi objeto de paixão de um grande fazendeiro do município. O fazendeiro comprou a escrava e se tornou seu esposo. Como nessa época, Conceição do Coité pertencia ao município de Feira de Santana, todos os processos legais foram realizados pelo Fórum daquela comarca. Em 1890, Coité é levado à emancipação por um ato assinado pelo Governador da Bahia, passando a se chamar Conceição do Coité. Entretanto, as questões relacionadas à negritude e a tomada de consciência racial pelo negro em Conceição do Coité remonta aos anos 80. Naqueles anos, a migração de vários afro-descendentes coiteenses para a capital do estado, Salvador, colocou a negritude coiteense em contato com os vários movimentos culturais e libertários do negro. Movimentos como o Reggae que explodiu na Jamaica e o próprio Olodum existente em Salvador fez com que esses negros migrantes trouxessem a discussão racial para Conceição do Coité, assim como a cultura do Reggae. Naquela época os discos de vinil ajudavam a levar a cultura musical a lugares antes impensáveis. O Reggae havia ganhado o mundo (informação verbal)9. Muitos músicos brasileiros haviam assimilado o Reggae e disseminado a musicalidade negra, 8 Palestra em 04/11/2009, realizada na UNEB – Campus XIV, para a disciplina de História Regional do Curso de Comunicação Social, II semestre 9 Beto Rasta, em entrevista cedida para o documentário Reggae é de Paz, produto desta pesquisa 14
  • 21. carregada de crítica social, pelos quatro cantos do país. (CARDOSO, 1997, p. 15). Assim, Conceição do Coité conheceu as discussões da negritude. Nesta época, apenas algumas pessoas de Conceição do Coité tinham contato com este elemento cultural. Mas isto era suficiente. Estava plantada a semente que frutificaria, através dos grupos sociais e raciais no final dos anos 90 e início do século XXI. Um evento marcante para a consolidação da discussão racial no município aconteceu em 2005. Um curso de capacitação em Liderança social e identidade negra, chamado “Reggae em Ação: capacitando lideranças para a identidade negra e mobilização social” realizado pelo Centro de Promoção da Educação da Cultura e da Cidadania – CPECC e destinado aos integrantes do Grupo Revolution Reggae espalhado pelos bairros periféricos da cidade, como Pampulha, Barreiros, Jaqueira, Matadouro, Açude Itarandi e Açudinho. Este curso visava capacitar o público alvo para atuar junto aos Bairros periféricos da cidade e aos movimentos sociais, sendo capazes de discutir as questões sociais e raciais no entremeio social. Foram ministradas aulas e oficinas nas áreas de musicalidade reggae e consciência negra, cooperativismo, economia, direitos humanos, educação e pedagogia infantil, comunicação comunitária e outros. Após quatro anos de sua realização, participantes do curso ainda comentam a importância fundamental daquele curso para a formação do indivíduo enquanto ser humano e afro descendente. O vídeo documentário, produto desta pesquisa, traz alguns relatos importantes de participantes daquele projeto. A Identidade negra: Conceitos A Negritude então se estabeleceu como a busca do desafio cultural do mundo negro, como a luta pela emancipação de seus povos oprimidos, a luta pela revisão das relações entre os povos (MUNANGA, 2007, p. 42), a afirmação da personalidade própria dos povos, a valorização de seus modos de ser, de vestir, de expressar-se artisticamente e culturalmente. A identidade envolve a questão da valorização pessoal, do desejar-se, reconhecer no negro coisas bonitas e coisas feias também, como em qualquer ser humano. A identidade negra envolve a auto-aceitação e a celebração de 15
  • 22. sua cultura, não ir em busca de identificação na cultura do outro, mas o desejo ardente pelas suas raízes, pelo seu modo próprio de ser. Césaire (1976), citado por Munanga (1986, p.44), diz que a negritude é o simples reconhecimento do fato de ser negro, a aceitação de seu destino, de sua história, de sua cultura”. Cesaire define a negritude em três palavras: identidade, fidelidade e solidariedade. Estes são elementos essenciais para qualquer discussão em torno da negritude. 16
  • 23. MÚSICA E IDENTIDADE Quatrocentos anos foi a duração da escravidão de milhares de pessoas,que por um capricho ou aprovação dos deuses, nasceram com uma única diferença dos outros povos, a pele mais escura do que o normal: a pele negra (...). Era o cântico dos escravos e no som que tiravam de qualquer objeto que seus senhorios buscavam uma explicação para esse fenômeno, vendo que eles, mesmo aprisionados e roubados da sua pátria-mãe, África, ainda possuíam uma vasta inspiração para cantar e dançar para aliviar os sofrimentos, como se soubessem que tudo aquilo não era definitivo. Este é o poder da música. (CARDOSO, 1997, p. 8) Assim, Marco Antonio Cardoso, no livro “A Magia do Reggae” sintetiza a relevância da cultura negra, especificamente suas músicas e danças. Lundu, Samba, Blues, Reggae, capoeira e, atualmente blocos afros baianos, como o Ilê Aiyê e o Male Debalê, que fazem parte desta abastada cultura que vem sendo preservada ao longo dos séculos e se transformando em instrumento de luta contra toda a repressão que tem sofrido. O Reggae é um ritmo que surgiu na Jamaica, fruto das manifestações culturais que chegaram à Ilha através dos povos africanos, que são, em sua grande maioria oriundos da “África ocidental”. Influenciados pelo Calipso de Trinidad Tobago e pela rumba cubana, a diversidade foi ganhando forma e os jamaicanos começaram a desenvolver seu próprio ritmo, como o Mento. Começaram então a incrementar suas Bandas com a introdução de solos de trompetes que mais tarde dariam origem ao som instrumental , dançante, alegre e agitado do SKA. O outro pano de fundo do surgimento do Reggae foram os fundamentos do Rastafarianismo, um movimento que possui um caráter religioso, político, milenarista, revolucionário e constitui uma nova visão de mundo. Porém suas crenças, rituais e atitudes são produtos dos processos de hibridação a partir do encontro de diversas culturas ocorridas no caribe. É bom ressaltar que, essas manifestações se difundiram justamente nas camadas baixas, “nos chamados bairros de lata” jamaicanos, habitados geralmente 17
  • 24. pela população negra marginalizada. Nesses locais predominavam diversos problemas sociais, violência, miséria e desemprego. As letras do Reggae eram movidas pelos elementos religiosos do Rastafarianismo, que entre outras coisas denunciavam o sistema de opressão vivenciado pela população negra pobre das camadas baixas. Isso Possibilita considerar que o Movimento Rastafari juntamente com o Reggae são importantes meios de resistência do povo negro jamaicano, no combate, mesmo que simbólico contra o sistema de opressão vivenciado pelos mesmos. O Reggae chega ao Brasil sendo recebido, em primeiro lugar, pelas populações da região do Nordeste, principalmente no Maranhão que mais tarde devido às proporções dessa manifestação recebe a classificação de “Jamaica Brasileira”. Um dos fatores é a proximidade geográfica. “São Luís está inserido em uma região que compreende, principalmente aos estados de Maranhão e Pará. Nessa região predominam ritmos caribenhos”. Segundo Cardoso (1997, p.13), Bandas como Tribo de Jah do Maranhão e Central Africana e cantores como Edson Gomes, Fausy Beydoun, contribuem para a disseminação e valorização deste ritmo no cenário nacional. Para este mesmo autor “O reggae no Brasil sempre sofreu uma certa indiferença do poder e da mídia, que o encarava como mais uma música de favelados, sendo portanto, insignificante ao ponto de lhe darem as costas” (1997, p. 12). Quando o reggae foi se popularizando na Jamaica, nos Estados Unidos estava acontecendo a expansão do Rhytm and Blues, ou simplesmente “Blues”. Oriundo do Sul dos Estados Unidos, dos escravos das plantações de algodão que usavam o canto, posteriormente definido como "blues", para embalar suas intermináveis e sofridas jornadas de trabalho. São evidentes tanto em seu ritmo, sensual e vigoroso, quanto na simplicidade de suas poesias que basicamente tratavam de aspectos populares típicos como religião, amor, sexo, traição e trabalho. Com os escravos levados para a América do Norte no início do século XIX, a música africana se moldou no ambiente frio e doloroso da vida nas plantações de algodão. Porém o conceito de "blues" só se tornou conhecido após o término da guerra civil quando sua essência passou a ser como um meio de descrever o estado de espírito da população afro-americana. Era um modo mais pessoal e melancólico de expressar seus sofrimentos, angústias e tristezas. A 18
  • 25. cena, que acabou por tornar-se típica nas plantações do delta do Mississipi, era a legião de negros, trabalhando de forma desgastante, sobre o embalo dos cantos, o "blues". Mas, segundo Cardoso de todas estas manifestações, o reggae é a mais explicitamente revolucionária. É satírico e por vezes cruel, porém as letras também não se hesitam ao tratar de temas como o amor, lealdade, esperança, ideais, justiça, novas coisas e novas formas. É essa afirmação de possibilidades revolucionárias que coloca o reggae em uma categoria à parte (1997, p. 17). Em Conceição do Coité, esta realidade da música reggae não é muito diferente do que acontece no cenário nacional e até mundial. A música reggae tem alcançado uma grande penetração nas comunidades negras do Açude Itarandi, do Bairro dos Barreiros e da Comunidade Nova Esperança. São bairros da cidade de Conceição do Coité onde moram pessoas, na maioria, negras e de baixa renda per capta. Os jovens destas comunidades descobriram na música reggae uma filosofia de vida. Ouvem reggae como uma celebração, como um ritual. Reggae para eles é uma maneira de viver o mundo, de falar das injustiças sociais, uma forma de se expressar, uma maneira de aprender, de falar, de viver. Uma maneira de ser. Isto justificou a escolha deste gênero musical enquanto ferramenta propulsora para o desenvolvimento de um projeto de pesquisa desta natureza. A música reggae tem sido usada como símbolo afirmador de suas identidades, como acontece também na Jamaica e em outras partes do mundo, muito embora o fenômeno da identidade étnica e cultural negra não seja igual em todas as partes do mundo. Sansone afirma que a identidade étnica difere de lugar para lugar (SANSONE, 2007, p. 9). Mas a música reggae tem sido usada pelos povos negros em várias partes do mundo como um símbolo de sua identidade cultural. Na maioria dos movimentos ligados a identidade negra, o Reggae tem estado presente. Ele traz em suas canções, letras de protestos social, de reivindicação, de valorização da raça etc. Estes ingredientes da musicalidade reggae contribui para o processo de conscientização das comunidades afro-descendentes ao redor do mundo. Assim, a música tem sido uma forte aliada no processo de resistência e libertação social. 19
  • 26. O VÍDEO-DOCUMENTÁRIO O vídeo documentário é um produto audiovisual extremamente flexível com relação à sua estrutura, seleção de planos e possibilidade de posicionamento do documentarista. Assim, entendemos que ele pode ser usado em múltiplas situações reais e por atores sociais para produção de discursos e pontos de vistas sobre uma determinada realidade, bem como para propagação de idéias sociais e consciências coletivas. Sendo assim, o vídeo tem uma visão comunitária, pois ao retratar uma realidade cotidiana, não objetiva a reunião de grandes públicos, mas o seu produto é dirigido geralmente a um pequeno público que se vê representado nestas produções e que participam deste processo sem encenação. O vídeo documentário não está atrelado a roteiros e padrões pré-definidos, porque como diz Puccini, "nem todos os roteiros de documentários nascem da etapa de pré-produção do filme" (p. 16, 2009). Assim, entendemos que ele é extremamente útil na representação de temas como o que é objeto deste trabalho de pesquisa. Segundo Musburger, “um documentário deve ser produzido para fazer alguma diferença, ganhar uma discussão, ou resolver uma questão sobre um assunto socialmente importante” (2008, p. 122). A importância social deste trabalho está no fato de que a identidade cultural é a razão de ser de uma comunidade. É a identidade cultural que mostra como é a vida das pessoas de um determinado lugar. Sem identidade, um povo não existe, não se firma enquanto grupo, enquanto comunidade, enquanto povo. Queremos descobrir em que medida o escutar e viver a música reggae tem contribuído para afirmação e definição da identidade destes grupos em Conceição do Coité, para entender porque estas pessoas vivem o reggae diariamente e o preferem à qualquer outro estilo musical, afirmando ser o reggae verdadeiramente "música raiz". E, caso este contexto social não seja pesquisado haverá um prejuízo sócio-cultural pela 20
  • 27. não documentação de um modo de vida identitário, de uma condição sócio-cultural existente. Está ai a importância da discussão e delimitação da identidade de um grupo social. Conhecer uma identidade é afirmar a existência de um grupo, é valorizar sua cultura. É por isso que esta pesquisa se propõe a estudar em que medida o reggae contribui para construção e reconstrução destas identidades. Ademais, o movimento negro em Conceição do Coité está em evidência atualmente, destacando-se na cidade, na região e até em nível nacional, no âmbito dos Movimentos Sociais. E a música reggae tem feito parte deste processo de forma ativa, integrando todas as atividades que são desenvolvidas pelo Movimento. Então se faz necessário fazer o mapeamento dos usos que se faz desta linguagem musical no seio deste movimento e destas comunidades e como estes usos dialogam e promovem a afirmação e reafirmação da identidade cultural deste povo. A importância desta pesquisa não se limita ao conhecimento da realidade pesquisada pelo mundo acadêmico, mas se propõe a oferecer ao grupo social pesquisado, a condição de ele se conhecer melhor, de pensar a respeito de sua condição enquanto povo no mundo. Conhecendo-se, o povo pode refletir sobre suas identidades e dialogar de forma crítica, criativa e racional com outras identidades que o cerca. Acreditamos que um vídeo documentário irá contribuir para o processo de mobilização social em que vivem essas comunidades. O vídeo poderá servir para exibições em suas atividades, inclusive de conquista de novos militantes, assim como também, se divulgado na internet, levará o conhecimento da existência destes grupos a lugares inimagináveis. Outrossim, entendemos também que por ser flexível e aberto, o documentarista tem liberdade para assumir um posicionamento em relação ao tema abordado. Segundo Erik Barnow, citado por Musburger (2008, p. 123), o documentário apresenta a visão de mundo do documentarista. Para ele o vídeo documentário é um produto no 21
  • 28. qual o roteirista não consegue deixar escapar a sua subjetividade. Assim, nós partimos da premissa de que a música reggae tem contribuído para afirmação e reafirmação da identidade negra em Conceição do Coité e procuraremos, embasados na pesquisa realizada, construir o vídeo na defesa desta posição. Buscar-se-á dar vozes aos atores sociais, fontes da pesquisa, e no vídeo privilegiaremos o discurso destes grupos, deixando-os falar e dialogar com intelectuais que discutem a temática da identidade racial. Em razão disso, optamos por construir um vídeo sem a utilização de narrador. As vozes dialogarão de tal forma que a narrativa seja construída. Acreditamos que a ausência de OFF não prejudicará a narrativa, porque as lacunas deixadas pela imagem, se houver, serão complementadas com a inserção de caracteres que proporcionarão um ambiente em que os textos assumirão o papel de um "elo", para proporcionar a coesão textual do vídeo. Musburger nos diz que “pode-se acrescentar uma quantidade mínima de narração escrita ao som ambiente e natural para preencher as lacunas que não ficaram totalmente explicitas com as imagens e os sons” (2008 p. 126). Buscaremos assim, construir um vídeo agradável e de fácil entendimento para o expectador, tentando colher nas entrevistas falas ricas em detalhes, mas com um vocabulário de fácil assimilação. Construiremos um vídeo documentário de uma realidade social. Sendo assim ,usaremos cenas captadas no dia-a-dia das pessoas estudadas. Também faremos o registro das apresentações e ensaios da Banda de Reggae e reuniões dos grupos negros que ouvem o reggae em Coité. Assim, abordaremos também a importância deste estilo musical como parte integrante da cultura regional e que traduz em si as lutas, os anseios e as vivências das comunidades que em grande parte estão nas periferias da cidade, inseridas às margens da dinâmica social dominante. 22
  • 29. Outro aspecto que será fundamental para o nosso documentário se refere à sua parte lúdica. Relacionado a este aspecto, construíremos um vídeo musical, onde a música estará presente durante todo o enredo. Esta musicalidade aparecerá através da trilha sonora, sobe som e BG (background). As músicas, que formarão a trilha sonora do vídeo, serão escolhidas do repertório do reggae local, regional , nacional e internacional com letras que abordam a temática da identidade negra e da discriminação racial. Estas trilhas serão sugeridas pelos grupos pesquisados, na tentativa de traduzir no audiovisual, um pouco do repertório musical destes grupos. Acreditamos que o fato de eles escolherem as músicas, dará mais autenticidade ao produto, porque mostrará um pouco daquilo que eles ouvem no dia-a-dia. Após serem reunidas, estas trilhas sugeridas pelos pesquisados, nós procuraremos selecionar entre elas, aquelas músicas que passem uma dinâmica musical de acordo com o trecho do vídeo no qual ela será usada. Sabe-se que as músicas nos transmitem diferentes dinâmicas. Segundo Gibson, “a música nos toca no sentimento e isto só é possível devido a sua dinâmica, a sua intensidade. São milhões de dinâmicas discerníveis na música que nos afetam teoricamente, emocionalmente, fisicamente, visualmente, psicologicamente, fisiologicamente e espiritualmente” (2005, p. 191). De acordo com o “feeling” de determinada fala, de determinado trecho, de determinado momento do vídeo, usaremos determinada trilha para intensificar este momento, para amplificar determinado sentimento, para conduzir psicologicamente o telespectador para determinado sentimento e emoção. Para seguir o ponto de vista de Gibson, este “sentimento poderá ser físico, abstrato, emocional ou psíquico” (2005, p. 191). Com relação à utilização de efeitos especiais, buscaremos utilizar-los quando for essencialmente necessário, no intuito de dar mais naturalidade ao vídeo. Buscaremos efeitos que não mascarem a realidade pesquisada. Estes efeitos são importantes para evitar cortes bruscos nas imagens, para dar mais sutileza na transição de imagens, para tirar a monotonia na visualização de imagens muito paradas etc. No entanto 23
  • 30. tomaremos cuidado para não mascararmos a realidade da pesquisa e para não mudarmos a semântica das entrevistas nem das imagens captadas. Com relação aos efeitos de áudio, seguiremos o mesmo raciocínio. Tais efeitos serão utilizados quando se justificarem técnica e artisticamente, segundo a linguagem do audiovisual e de acordo com o objetivo proposto pelo documentário. Estes efeitos de áudio, como reverb, chorus, delay, flange e outros servem para ambientar o som e para dar-lhe mais presença ou ausência dentro do espectro sonoro. Tomaremos cuidado também no momento da edição, no processo de seleção de cenas, corte das imagens, ordem de aparecimento no vídeo etc. Em primeiro momento, buscaremos, no processo de decupagem, eliminar apenas as imagens que tenham problemas técnicos no momento da captação: áudio ruim, imagens com problemas de iluminação, com problemas de enquadramentos etc. Ainda assim, imagens com problemas, mas que tenham falas essenciais e áudio importantes, do ponto de vista do objetivo do vídeo, este áudio será preservado e será coberto com outras imagens, captadas no momento de pesquisa e colheita de imagens, através do sistema conhecido como “nota coberta” na linguagem audiovisual. Haverá um cuidado essencial com o áudio do documentário, principalmente com o áudio das entrevistas. Em primeiro, momento, após a escolha das imagens e montagem do documentário, este áudio será exportado pelo programa de edição de vídeo e será trabalhado em um programa de edição de som como o Audacity ou Soundforge. Neste momento, haverá o tratamento da relação som/ruído, a equalização do áudio para se tornar mais audível e agradável ao ouvido humano. É neste momento que se inserirá também os efeitos de áudio ao som das entrevistas. Far-se-á, neste momento, também o processo de compressão do som para dar mais presença ao áudio do documentário. Só após este momento de tratamento do áudio das entrevistas, é que serão inseridos os outros elementos sonoros ao vídeo, como trilha sonora, efeitos sonoros etc. Este processo de mistura de sons é conhecido como mixagem. Para Gibson (2005, 24
  • 31. p. 191)10, “A arte de mixar é a forma com que as dinâmicas são criadas através dos equipamentos do estúdio”. Para ele, “os quatro tipos de ferramentas que podemos usar para criar todos os estilos diferentes de mixagem são: volume faders, panpots, equalização e efeitos” (p. 191). Assim procuraremos manipular todos estes elementos para criar diferentes dinâmicas no som do produto audiovisual, através do processo de posicionamento acústico {para intensificar a construção da imagem sonora tridimensional entre os alto- falantes (GIBSON, 2005, p. 34)11, da distribuição de elementos dentro da mixagem, da intensidade, da exploração do espectro sonoro}, da construção de imagens acústicas etc. Entendemos, portanto, que o som desempenha um papel importante em um produto audiovisual. Segundo Saboya (2001, p. 21) “Os sons podem nos levar a uma outra dimensão. Podemos mobilizar uma audiência através dos sons e até mesmo ‘viajar’ com ela para uma abstração total”. Ainda, segundo Saboya, o som é muito mais que um elemento de suporte da imagem. Pode ser usado para reforçar, fortalecer o impacto da mensagem. Pode se tornar mais forte que a imagem e conduzir as emoções da audiência para qualquer ponto desejado pelo roteirista (2001, p. 21, 22). Assim, será considerada também e principalmente a relação som e imagem do produto. Nenhum destes dois elementos será super valorizado em detrimento do outro. Ao invés disto, eles trabalharão em conjunto no processo de transmissão da mensagem audiovisual. Devemos distinguir dois tipos de efeitos sonoros, aqueles chamados de FX, como chorus, reverbs, delays etc. e aqueles que são criados no estúdio para serem 10 WWW.musicaudio.net 11 WWW.musicaudio.net 25
  • 32. uma representação da realidade, como sons de cachorro latindo, sons de pessoas andando etc. Os efeitos musicais serão utilizados também, para atrair o interesse do ouvinte. Estes trechos musicais serão também extraídos de músicas reggae do repertório nacional e internacional. Outro ponto a considerar, em relação ao áudio refere-se ao número de canais do componente sonoro. Os produtos atuais geralmente são construídos em estéreo 2.0, dolby digital 5.1 ou 7.1. Os dois últimos são mais interessantes já que dão a impressão tridimensional ao som. Nos filmes, eles são muito utilizados para dar ao telespectador a impressão de que está no meio da cena. No entanto, a maioria dos telespectadores brasileiros ainda está restrita ao sistema estéreo 2.0, em virtude da limitação de seus aparelhos de reprodução audiovisual. Assim nós buscaremos construir o nosso vídeo com as opções de reprodução estéreo 2.0 e dolby digital 5.1. Buscando atender aos dois públicos possíveis. Segundo Santos (1993) o áudio dolby em uma ilha de edição é mais sofisticado e permite a gravação das pistas de áudio, uma de cada vez. Na trilha 1 pode ser gravado o som original e na pista 2 ser adicionada uma trilha sonora, efeitos ou um fundo musical (SANTOS, 1993, p.191) . Neste sistema, buscaremos privilegiar, no canal central, o áudio das entrevistas, e nas outras caixas distribuiremos os outros componentes sonoros. Sendo que, em alguns momentos, quando houver na tela diálogos entre duas personalidades, estas falas serão distribuídas nas duas caixas frontais. Uma preocupação deste trabalho refere-se aos direitos autorais dos trechos musicais utilizados no vídeo. Assim, serão devidamente registradas nos créditos todas as obras utilizadas com os seus respectivos autores. A autoração do vídeo documentário é o momento de criação de menus, inserção de algumas legendas, etc. Este momento é essencialmente importante para dar ao documentário um aspecto visual interessante. É o processo de finalização do vídeo, 26
  • 33. onde todos as partes do audiovisual são reunidas, como vídeo principal, extras, making off etc. Voltando ao aspecto da edição do vídeo e a escolha de imagens, tal processo será feito de forma que as vozes possam dialogar entre si, compondo o enredo do documentário. Neste aspecto tomar-se-á o cuidado para que um entrevistado não apareça por um tempo demasiadamente longo, deixando o documentário chato e enfadonho. Ao invés disto, cuidar-se-á para que o entrevistado apareça por um momento curto, seguido por outro entrevistado que venha dialogar com ele, dando movimento de imagens ao vídeo. Também haverá a interrupção de falas, com o esquema de “sobe som”, algum detalhe do dia-a-dia dos grupos pesquisados, imagens de ruas etc. com a finalidade de dar dinamismo ao vídeo e deixá-lo bem prazeroso de assistir. Trata-se da representação de uma realidade social, mas como diz Musburger (2008, p. 121), de forma livre, “fazer um tratamento criativo dessa realidade”. Como se trata de um documentário musical, a música será bastante valorizada no vídeo. Ela aparecerá de forma que não seja apenas um plano de fundo para as imagens e entrevistas (MAURO GIORGETTI, 2008, p. 3), Mas ela comporá de forma fundamental o enredo do vídeo. A preocupação é tornar a música, um personagem dentro do vídeo assim como são todos os entrevistados. De acordo com Giorgetti (2008)12 “quando se opta por este recurso, destina-se a musica papel de complemento da ação”. Assim, a música no documentário não exercerá apenas o papel de BG, papel ilustrativo ou de ambientação, mas ela se comportará de tal forma que passe a narrar a história juntamente com os entrevistados. Alguns elementos históricos não serão discutidos por nenhum entrevistado, no filme, mas será trazido pelas canções. Não apenas isso, mas a música em alguns momentos será elevada a tal nível que ela mesma se comportará como as vozes dos personagens dentro do enredo. De tal forma que diga por eles os seus anseios, as suas vivências, seus sonhos e desejos. É o que 12 HTTP://www.mnemocine.art.br/index.php?option=com_content&view=article&id=112:musicapersonagem&catid= 53:somcinema&itamid=67 27
  • 34. Giorgetti sugere quando diz que a música “vem em auxilio do personagem que não consegue mais exprimir-se por si próprio” (2008)13. Também na abertura e encerramento do filme, no momento dos créditos iniciais e finais, haverá a ocorrência da música trilha sonora que dá nome ao filme, “Reggae é de paz”, com o objetivo de “tentar estabelecer no início e confirmar no final o espírito e a essência que animam o filme...” (Giorgetti, 2008, p. 5). 13 HTTP://www.mnemocine.art.br/index.php?option=com_content&view=article&id=112:musicapersonagem&catid= 53:somcinema&itamid=67 28
  • 35. O MEMORIAL Enquadramentos Para efeito de normatização desta pesquisa, utilizaremos para a noção de enquadramentos de câmera, as especificações de planos para TV, sugeridos por Rudi Santos (1997, p. 21): plano geral, primeiro plano, plano médio, plano conjunto, plano detalhe. DIA 11/11/2009 No dia 11 de Novembro de 2009 nos reunimos para o nosso primeiro dia de gravação. Às 15:00h gravamos sonora com o doutorando em Literatura, Marcos Aurélio, que falou sobre a musicalidade negra e a utilização da Música Reggae como elemento de afirmação e reafirmação da Identidade. Para realizarmos esta gravação, utilizamos como suporte material, uma câmera filmadora da Sony, modelo Handy cam. Com a utilização deste equipamento de captação audiovisual, e seus acessórios, enfrentamos várias dificuldades: 1. Ausência de entrada para microfone externo O microfone externo confere uma melhor qualidade de áudio e sendo direcional a intensidade de ruído no processo de captação do som pode ser amenizada. Neste mesmo dia, estava acontecendo o Simpósio de Letras na UNEB Campus XIV e como o ruído estava intenso, e muitas pessoas estavam circulando pelo ambiente, não conseguiríamos uma boa sonora, pois o microfone da câmera é omnidirecional e capta o som vindo de todas as direções e no processo de propagação do som, as partículas existentes no ar, são comprimidas, e essa mesma compressão é propagada até chegar ao nosso microfone de captação, mesmo em situações que o som atravessa obstáculos, como uma parede, o princípio é o mesmo, a diferença é que nem só as partículas de ar podem propagar o som, mas os líquidos e os sólidos também 29
  • 36. (FONSECA, 2007, p. 8). Para driblarmos esta situação, nos deslocamos com o entrevistado para o Laboratório de Rádio do curso de Comunicação Social, pois o ambiente do estúdio é tratado acusticamente e o ruído do ambiente externo neste caso, não atrapalhou o processo de captação do som. 2. Ausência de um microfone ultra-direcional Aliado ao fato de a câmera não possuir entrada para microfone externo, não tínhamos à nossa disposição um microfone ultra- direcional, que é próprio para captar o som em um ambiente que exista muito ruído, ou quando o microfone precisa estar em uma distância considerável da fonte sonora, este microfone também chamado de Shotgun, é o ideal para ser utilizado na captação sonora de videodocumentários em ambientes externos, e é muito vantajoso pois melhora a qualidade sinal- ruído. (FONSECA, 2007, p. 8) 3. Ausência de Iluminação artificial Na entrevista com Marcos Aurélio, demos prioridade ao Primeiro Plano que “corta o entrevistado na altura do busto e é muito utilizado durante diálogos ou entrevistas ( SANTOS, 1993, p. 29), porém surgiu uma outra dificuldade. Mesmo com a iluminação das lâmpadas fluorescentes do estúdio, a imagem não ficou muito nítida . Para conseguirmos um bom resultado, precisaríamos de uma iluminação artificial adequada. Acessamos a função da câmera denominada “Nightsgot” porém a melhora na qualidade da imagem não foi significativa, ainda continuando sem nitidez e contraste em nosso visor de retorno. Com isso o nosso processo de captação ficou comprometido, devido a esta dificuldade. 4. Ausência de um tripé. 30
  • 37. Em nossa entrevista com Marcos Aurélio, queríamos uma imagem estável, o que não foi possível, pois não tínhamos um tripé para utilizar com a câmera e em nosso visor de retorno, notamos que em alguns momentos a imagem ficou trêmula. Neste caso o uso do tripé é indispensável, pois se ganha tempo, sem ser necessário refazer imagens por conta de instabilidade. (WATTS, 2007, p. 32) Neste mesmo dia, nossa equipe entrou em contato com a Banda de Reggae Quixanayah, para fazermos a captação do ensaio que eles realizam uma vez na semana. Nossa visita ficou marcada para as dezenove horas, porém uma de nossas preocupações era a iluminação, pois no ambiente noturno a ausência dela poderia comprometer a qualidade da gravação pelo fato de não possuirmos disponível equipamentos de iluminação artificial para uma melhor captação das imagens. A inexistência de um tripé, também nos preocupou bastante, pois o ensaio iria ser demorado e após este, faríamos uma entrevista. O uso do tripé nestes casos confere uma maior estabilidade à imagem com menor esforço físico do operador de câmera. (PUCCINI, 2009, p.68). Conforme combinado, comparecemos às 19 horas para fazer as filmagens do ensaio da Banda Quixanayah. Para este trabalho utilizamos enquadramentos de câmera como: Plano Conjunto, Plano Médio, Primeiro Plano e Detalhe. Nesta gravação, utilizamos, em alguns momentos, como angulação a Câmera alta, pois esta é utilizada para intensificar o conteúdo da cena filmada e valorizar os membros do grupo, colocando-os em condição de autoridade diante do trabalho que realizam (SANTOS, 1993, p.65) Após o ensaio, a nossa equipe fez uma entrevista com os componentes da Banda para registrar relatos sobre a história do grupo. Dentre os planos citados, fizemos esta variação, pois estes criam uma maior dinâmica visual ao documentário criando possibilidades de movimento no momento da edição. Usamos esta variação de planos também para combater a monotonia de uma entrevista longa tomada em um único take sem variação de enquadramentos. A mudança de enquadramentos ajuda muito no processo de edição. (PUCCINI, 2009, p. 68). Os integrantes da Banda Quixanayah sugeriram, no momento da entrevista, “que as imagens fossem colhidas a partir das pessoas reunidas na sala de ensaio, para dar a idéia de um bate-papo informal e a coisa ficar mais natural”. Concordamos então e os integrantes ficaram sentados no chão e dispostos em um círculo. A entrevista era 31
  • 38. conduzida de forma que todos respondessem conforme o domínio do assunto. Não havia uma linearidade de fala neste círculo. Quando um integrante não sabia dialogar sobre um assunto que surgia referente ao dia-a-dia da Banda, imediatamente, ele pedia que outro integrante que dominasse mais o assunto, respondesse. Sendo que o documentário não é ficção, e que é factual e feito para demonstrar a realidade, os entrevistados ficaram da mesma forma que eles ensaiam diariamente, de acordo com o que constatamos em nossas visitas anteriores fora do processo de gravação. Geralmente, eles ficam sem camisa e seus ensaios são dentro de um cômodo que também é um dormitório utilizado por alguns deles. Vale ressaltar que são todos irmãos. Para não alterarmos a cena natural do dia-a-dia do grupo, procuramos registrar o ensaio tal como ele é, sem cenários e sem intervir na forma como ele é feito diariamente. Sabemos que não existe isenção absoluta. Compartilhamos com Morin (MORIN, 2002, p. 84, 85) a noção de que existe a incerteza ligada ao conhecimento. Segundo ele, existem vários princípios de incertezas, que nos impossibilitam de sermos completamente racionais, completamente isentos de nossas emoções, de nosso ponto de vista. A construção do conhecimento é apenas uma interpretação da realidade, mas impregnada de todas as incertezas. Mas, segundo ele é necessário “enfrentar as incertezas ligadas ao conhecimento”, sabendo “interpretar a realidade, antes de reconhecer onde está o realismo”. Conscientes destas incertezas procuramos intervir o mínimo possível no ambiente e no comportamento das pessoas. Acreditamos que nossos contatos anteriores com o grupo, facilitaram bastante nossa interação com ele, permitindo uma maior naturalidade de fala e comportamentos. Neste dia as imagens foram feitas por Jurandi Oliveira e Paulo Enselmo, que alternaram em alguns momentos. Terminamos nossas atividades às 21h. Dia 12/11 /2009 Nossa equipe contactou o Grupo de capoeira do bairro da Pampulha, periferia de Conceição do Coité, tal grupo é ligado à Associação Cultural Revolution Reggae, nosso objetivo era captar imagens do ensaio. 32
  • 39. Neste dia, também marcamos entrevista com Moisés Blondy, que é um dos precursores da música Reggae no município de Conceição do Coité. Dia 15/11/2009 Conforme combinado, nos dirigimos para o centro da cidade para pegarmos sonora com Moisés Blondy, porém o entrevistado remarcou para o dia 27/11 devido a compromissos profissionais. Dia 21/11/2009 Nossa equipe se dirigiu ao Centro Cultural Ana Rios de Araújo no centro de Conceição do Coité, para registrar o evento da “Beleza negra”, desfile anual que ocorre em nosso município para destacar participantes afro descendentes sob uma ótica estética. Chegamos ás 19:00h no local e filmamos a parte externa e as imagens ficaram muito escuras devido a falta de iluminação. Na parte interna do Centro Cultural o ambiente estava ainda mais escuro e tornou impossível o registro de imagens sem a utilização de uma iluminação artificial. O nosso grupo finalizou as atividades às 20:00h sem conseguir captar boas imagens. Neste dia as imagens foram feitas por Jurandi Oliveira e Paulo Enselmo. Dia 26/11/2009 Entramos em contato com Moisés Blondy para realizarmos a entrevista, desta vez foi confirmada para as 17 horas do dia seguinte. Dia 27/11/2009 Desta vez comparecemos ao CPECC - CENTRO DE PROMOÇÃO DA EDUCAÇAO DA CULTURA E DA CIDADANIA, entidade cultural de Conceição do Coité, destinada à 33
  • 40. promoção da cultura e valorização da cidadania. Lá entrevistamos o sócio influente da Associação, Sr Fernando Araújo. Sabendo que ele é um profundo conhecedor da cultura negra em Conceição do Coité e que milita em sintonia com outras entidades afins como o Revolution Reggae, fizemos o possível para deixar o convidado bem à vontade e conduzimos a entrevista de forma a que ela não assumisse um caráter puramente técnico ou formal e segundo MEDINA: A entrevista pode ser apenas uma eficaz técnica para obter respostas pré-pautadas por um questionário. Mas não será um braço da comunicação humana , se encarada como simples técnica. Esta - fria nas relações entrevistado-entrevistador – não atinge os limites possíveis da inter-relação, ou, em outras palavras, do diálogo. (MEDINA, 2002, p. 5) Durante esta entrevista utilizamos como enquadramento o Plano Médio, fizemos também movimentos de câmera como, PAN Horizontal , zoom in e zoom out. Na parte exterior do imóvel também utilizamos o zoom in e o zoom Out. O uso do Zoom in neste caso, foi utilizado na composição da imagem, pois o fechamento do zoom é importante para eliminar a área morta em torno dos limites da imagem. Neste caso, o uso do zoom serve apenas para dar vida a uma imagem estática. (WATTS, 2007, p. 44). Na seqüência nos dirigimos à loja de discos MB Music no centro de Conceição do Coité para realizarmos a entrevista com Moisés Blondy. Ao chegarmos no local, verificamos que havia um serviço de alto-falantes próximo ao estabelecimento comercial que comprometia a qualidade do áudio. Não devemos ignorar o ruído de fundo. Uma vez na gravação, é praticamente impossível se livrar dele sem prejudicar o som que queremos escutar, mesmo numa sala de som completamente equipada. Além disso, ele poderá parecer pior na gravação do que parece na vida real. Nossos ouvidos conseguem, até certo limite, selecionar o que queremos escutar na vida real, mas eles não funcionam tão bem quando se trata de gravações por que a fonte do ruído frequentemente não está na tela e todo o som vem do mesmo lugar, o alto-falante (WATTS, 1999, p. 53). A qualidade da imagem também estava escura, em virtude da pouca luminosidade do local. Para realizarmos nossa entrevista, nos dirigimos com o entrevistado para o Centro Comunitário, pertencente à Igreja Católica, que fica em frente ao local marcado 34
  • 41. para a gravação da sonora. Apesar de o ambiente ser mais silencioso, ainda continuamos com problemas na iluminação, pois era precária, mesmo assim conseguimos realizar a entrevista. Nós sentimos que o entrevistado ficou entusiasmado com o tema do nosso video documentário e fez questão de ainda complementar a sua fala, relatando a história do Reggae em Conceição do Coité, relacionado ao advento das Rádios livres no município. O entrevistado ainda frisou que, na maioria das Rádios de Conceição do Coité, o grupo Jamaica apresentou programas, em maior parte aos domingos e esta ação fortaleceu o movimento da música Reggae e a organização de outros grupos da cultura afro descendente na Sede e nos Distritos de Conceição do Coité. Moises Blondy ainda relatou que nas festas tradicionais como o Micareta da cidade, a musica reggae era excluída como opção musical. A inserção do Reggae, nestas festas, se deu através da mobilização dos grupos formados, que formularam abaixo-assinados e sensibilizaram o poder executivo do município, que a partir destas ações, inseriu o Reggae nas festas tradicionais. Neste dia as filmagens foram feitas por José Jurandi e Paulo Enselmo. Dia 28/11/2009 Tomamos conhecimento, através de palestra ministrada na Uneb Campus XIV pela professora Nilzete Cruz, sobre um livro, escrito em Conceição do Coité por Orlando Matos Barreto, com o título “Martinha, Escrava, Esposa, Rainha” que retrata a História do surgimento do Maracujá, comunidade Quilombola em Conceição do Coité. Nos deslocamos para o centro da cidade para contactar o autor desta obra, que tem grande valor histórico e documental para o nosso vídeo. Não o encontramos em sua residência, porém ficou certo que retornaríamos outro dia para manter contato. Neste caso utilizamos a pesquisa bibliográfica para conseguir estes dados históricos, pois segundo Gil, A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa 35
  • 42. parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas Bibliográficas (1989, p. 48). Neste mesmo dia às dezoito horas nos dirigimos ao bairro do Açudinho, periferia de Conceição do Coité. Lá conversamos com Beto Rasta, que segundo os músicos da cidade, também é considerado um dos precursores da musicalidade Reggae no município. Mais uma vez tivemos problemas com a iluminação e a gravação que seria externa, teve que ser realizada no interior da residência do entrevistado que estava mais bem iluminada. Utilizamos em nosso processo de captação enquadramentos em Plano Médio e Primeiro Plano. Também foram utilizados movimentos de câmera como zoom in e zoom out . A entrevista com Beto também surgiu naturalmente. O entrevistado se sentiu até à vontade para nos mostrar a sua coletânea de LPs, antigos discos de vinil, alguns são de sua juventude. À medida que ele nos mostrava as capas dos discos, ia fazendo uma contextualização histórica com a sua vida na militância do movimento negro. Ele enfatizou que na época que comprava aqueles LPs, foi no período em que veio de Salvador para morar em Conceição do Coité e segundo ele, as pessoas da cidade ainda não conheciam o Reggae e passaram a conhecê-lo através das novidades em discos que ele trazia para a cidade. O entrevistado ainda cita que este foi um caminho muito difícil de ser trilhado pois relata que foi discriminado por ser rastafári. Por isso, segundo ele, era comparado algumas vezes com um marginal. Mas ele cita que seu bom exemplo com o passar dos anos foi a prova suficiente para que todos mudassem de conceito em relação a sua auto imagem e, hoje, segundo ele, todas pessoas em Conceição do Coité o vêem como um exemplo a seguir. Na seqüência fomos à “Sambaíba” comunidade rural de Conceição do Coité, onde segundo informações, funcionava o “Bar do Reggae”. Ao chegarmos na localidade, conversamos com o proprietário o qual nos informou que o bar encerrou suas atividades em virtude da discriminação, do preconceito da sociedade e das atitudes arbitrárias de alguns freqüentadores. As imagens que fizemos ficaram ruins em virtude da ausência de iluminação artificial. Neste dia as imagens foram feitas por Paulo Enselmo e a entrevista por Jurandi Oliveira. 36
  • 43. Dia 30/11/2009 Às 17h entrevistamos Orlando Matos, autor do livro “Martinha, Escrava, Esposa, Rainha”. Na entrevista utilizamos como enquadramento o Plano conjunto. As imagens foram feitas por Paulo Enselmo e Jurandi Oliveira ficou responsável pela produção da entrevista. Dia 14/01/2010 Neste dia nossa dupla dedicou-se a fazer a decupagem, assim como a transferência e a conversão das imagens captadas. Para esta tarefa, utilizamos como software de edição de imagens, o Adobe Premiere CS3 que nos possibilitou marcar o tempo existente nos trechos selecionados e formular o nosso roteiro de edição do vídeo. A utilização deste software e de outros recursos tecnológicos como a placa de captura de vídeo Firewire, facilitaram a digitalização das imagens e das fotografias dos arquivos das Entidades (CPECC e Revolution Reggae) para serem inseridas no vídeo e segundo Ferreira: A digitalização das imagens integrará o documentário nas redes de informação, irá estimular a criação de formas híbridas de realização, poderá explorar outras percepções da exploração sensorial do mundo através do filme e dinamizará as políticas de criação audiovisual. No Brasil, a redução dos custos irá incentivar uma nacionalização da produção e quem sabe, trará maior liberdade dos realizadores. O documentário voltará ser como preconizava Alberto Cavalcanti – Um terreno fértil para a experimentação (FERREIRA, 2001, p. 217). Após este processo de decupagem das imagens e entrevistas, analisamos as músicas que seriam escolhidas para compor a trilha sonora do documentário, e como a música Reggae exerce um papel de grande influência em Conceição do Coité, procuramos contactar os apreciadores deste gênero musical para que juntos pudéssemos escolher as trilhas adequadas para cada ação. E neste processo de escolha da trilha sonora, pudemos compreender que um dos espaços do vídeo é o reino do som, que compreende o espaço ocupado pelos elementos que não fazem parte da tela nem do 37
  • 44. espaço diegético – são participantes invisíveis e inaudíveis, mas desempenham um papel importante em determinar a nossa resposta, como membros da audiência, aos sons e imagens. Trata-se do espaço ocupado principalmente pelo comentário ou locução e pela música de fundo (ARMES, 1999, p.187). Às dezessete horas do mesmo dia nos deslocamos para o Bairro dos Barreiros em Conceição do Coité e lá conversamos com o Rasta Toinho que também é diretor de eventos da Associação Cultural e Beneficente Revolution Reggae. Em sua residência, ele nos convidou para ouvir dezenas de CDs, arquivos de mp3 e vídeos que retratavam a musicalidade Reggae e sugeriu músicas deste estilo musical que poderiam ser utilizadas em nosso vídeo documentário. Ele ainda mostrou-se muito emocionado com o tema do documentário, pois, segundo ele, o movimento Reggae em Conceição do Coité, através desta ação de pesquisa e produção de vídeo, poderá ter um documento audiovisual para representá-lo na cidade e também na internet, apropriando-se das novas tecnologias disponíveis na contemporaneidade. Ele ainda disse que na cidade o preconceito existente com relação aos que curtem a musicalidade Reggae ainda é muito grande, pois este ritmo vem da cultura negra e conscientiza as pessoas do espaço urbano da periferia a se organizarem e lutarem por melhores condições de vida. Seguindo nesta mesma linha de pensamento, Barbero afirma que: A música negra só obteve sua cidadania transversalmente e as contradições geradas nessa passagem certamente que não são poucas, mas ela serviu para generalizar e consumar um fato cultural brasileiro de maior importantância: A emergência urbana e Moderna da música negra (2008, p. 245) Neste momento, não realizamos gravação de imagens, pois a finalidade da visita, era apenas para a obtenção da trilha sonora para o nosso vídeo. Vale a pena ressaltar que em dias anteriores já havíamos gravado entrevista com o Rasta Toinho e agora ele também passou a ser um colaborador ativo do nosso trabalho de pesquisa e produção de vídeo. Na sequência, nos dirigimos, às dezenove horas, à residência de Rudina, jovem, associada à Revolution Reggae e que participou do programa Reggae em Ação que foi 38
  • 45. um precursor do Movimento organizado pela defesa e valorização da cultura negra em nosso município, tendo se destacado pela conscientização de seus participantes, encorajando-os a engajarem nos movimentos sociais para que juntos construíssem uma sociedade melhor, mais justa e mais humana. O Objetivo da nossa entrevista era saber qual a contribuição daquele projeto social para sua vida, bem como qual o significado dele e do Reggae para o movimento de mulheres que ela participa. Realizamos esta entrevista utilizando a luz natural do ambiente. Em alguns momentos, sentindo a falta de iluminação, a entrevistada nos conduziu a outro cômodo de sua residência melhor iluminado, onde pudemos realizar de forma melhor a captação das imagens da entrevista. Tivemos uma preocupação também com o áudio a ser captado, afastando a câmera das fontes sonoras do ambiente, a exemplo do computador que estava em funcionamento no momento da entrevista. Neste dia, as imagens foram feitas por Paulo Enselmo e a entrevista por Jurandi Oliveira. Dia 16/01/2010 Com o intuito de verificarmos o comércio de CDs e DVDs relacionados a musicalidade reggae circunscrito no município de Conceição do Coité, visitamos as bancas de vendas destas mídias no centro da cidade para que pudéssemos captar imagens que representassem a ação deste comércio. Neste dia, conversamos com os vendedores ambulantes para que em outra oportunidade, pudéssemos fazer as imagens. Neste momento, aproveitamos para fotografar as bancas de CDs de DVDs, dando destaque ao que era vendido dentro do estilo da música reggae. Para isso utilizamos uma câmera fotográfica semiprofissional da marca Canon, modelo Rebel XSI com objetiva zoom. As imagens registradas serviram para ilustrar o nosso documentário e para dar significado ao cenário “comercial” da música Reggae no município de Conceição do Coité, pois Penafria (1999), citada por Santos (2006, p. 1), afirma que O documentário não é um mero espelho da realidade, não representa a realidade tal qual, ao combinarem-se e interligarem-se as imagens obtidas in loco está-se a construir e dar significados à realidade, está-se o mais das vezes 39
  • 46. não a impor significados, mas a mostrar que o mundo é feito de muitos significados. Às onze horas nos dirigimos à Rádio Coité Fm, captamos imagens do estúdio da Rádio, momento em que o locutor “Antonio Cazary” apresentava seu programa que além de tocar diversos estilos musicais, também tem a sua programação voltada para a musicalidade Reggae. Utilizamos como enquadramento de câmera o Primeiro Plano e o Plano Conjunto, como movimento de câmera utilizamos a PAN Horizontal o ZOOM IM e o ZOOM OUT. O áudio captado neste momento foi o mesmo que estava sendo executado nas caixas de retorno do estúdio, o que confere autenticidade às imagens gravadas. Neste momento de gravação posicionamos a nossa câmera de modo que o microfone dela pudesse valorizar principalmente a voz do entrevistado, pois a prática sonora convencional tem a sua própria hierarquia (que pode ser quebrada para efeito artístico): a fala é superior à música, e esta superior aos efeitos sonoros. Quando há diversas pistas para posterior sobreposição, estas refletem a hierarquia, na prática profissional, apenas a fala é gravada junto com as imagens (ARMES, 1999, p. 183). Através de conversas com o comunicador, descobrimos que na Rádio Coité FM existe um programa de Reggae que é apresentado aos Domingos e que poderíamos gravar entrevistas, além de fazer a captação das imagens do programa. Também fomos informados que existe um programa de Reggae que é apresentado no serviço de alto- falantes de “Orlando” que transmite a sua programação para a área central da cidade. Comparecemos ao estúdio do serviço de alto-falantes às onze da manhã, situado na Rua Duque de Caxias, no Centro da Cidade, porém neste dia não houve apresentação do programa por motivos de folga do funcionário. Neste dia as fotografias foram feitas por Jurandi Oliveira e as imagens por Paulo Enselmo e Jurandi Oliveira. 17/01/2010 Às Dez da manhã, nos dirigimos à feira livre do município de Conceição do Coité, lugar no qual tivemos contato com vários vendedores ambulantes de CDS e DVDS que comercializam mídias relacionadas com a musicalidade Reggae. Os comerciantes não 40
  • 47. quiseram gravar entrevistas, pois segundo eles, estavam com medo de represálias por estarem exercendo uma atividade ilegal, mas concordaram que registrássemos imagens dos discos expostos nas Bancas. Para este registro, utilizamos como enquadramentos de Câmera os Plano detalhe, Conjunto e Geral, como movimentos de câmera foram utilizadas a PAN Vertical e Horizontal. E para registrar a capa de um DVD à distância para depois dar um enquadramento de Plano conjunto utilizamos os movimentos de ZOOM IN e o ZOOM OUT. Às onze horas comparecemos à igreja Matriz onde está localizado o estúdio da Rádio Coité FM, onde pudemos conversar com Robson Silva, locutor da Emissora que apresenta o programa aos Sábados denominado Loves Reggae, que é especificamente destinado a tocar canções voltadas para a temática da musicalidade Reggae. Na captação das imagens utilizamos como enquadramento Primeiro Plano e o Plano Conjunto. Já no processo de captação sonora, registramos o som ambiente do estúdio, equalizado na mesma altura em que os locutores ouvem naturalmente nas caixas de retorno. Neste dia as imagens foram feitas por Paulo Enselmo e Jurandi Oliveira. A Pós-produção O processo de edição O momento da Edição do documentário foi um processo bastante intenso com relação às emoções. Neste momento pudemos perceber a importância das teorias trazidas para o referencial teórico do Memorial do documentário e também pudemos perceber a importância do grande volume de imagens captadas no momento das entrevistas. Utilizamos como Software de edição de vídeo o Adobe Premiere CS3 e, em alguns momentos, o Vegas 8.0, principalmente para extração de trechos de DVDs. O momento da edição, nos exigiu que tivéssemos muita atenção, principalmente na seleção das imagens, pois “a edição é uma das mais importantes etapas na realização de um vídeo. É através dela que os planos são organizados um a um e o vídeo adquire sua forma final” (SANTOS, 1993,190). 41
  • 48. Antes do momento da edição e da elaboração do roteiro do vídeo, fomos aos grupos entrevistados em busca de músicas que pudessem servir como trilha sonora para o documentário. Eles sugeriram muitas músicas e canções. Entre as músicas sugeridas apareceram artistas como Mato Seco, Adão Negro, Nengo Vieira, Bob Marley, Edson Gomes etc. Fomos também até os camelôs da cidade, vendedores de CDs e DVDs nas bancas das praças públicas, e compramos alguns discos de CDs, mp3 e DVDs de Reggae. Os camelôs inclusive sugeriram alguns discos, como os mais vendidos por eles aos reggueiros da cidade. Outra ação da equipe foi pegar nos arquivos dos grupos pesquisados, fotos, vídeos, e outros elementos audiovisuais que mostrassem a história desses grupos. Conseguimos várias fotos e alguns vídeos de momentos importantes principalmente do Revolution Reggae e do CPECC. Então, todo o processo de edição começou com a exibição de todas as entrevistas e imagens que tínhamos em mãos. Assistíamos e anotávamos as imagens interessantes e úteis, já destacando todas a imagens desnecessárias. Neste momento do processo já íamos pensando nas músicas que poderiam ser utilizadas como trilha e BG, de acordo com o repertório musical já montado no computador. Já íamos prevendo também as imagens de inserts que poderiam ser utilizadas. Pensávamos também durante este processo sobre a possível sequência entre imagens e planos. Foi montada então uma planilha de decupagem com este material. No final deste processo, no entanto, não tínhamos alguns elementos cruciais para a edição. Faltava uma imagem forte para abrir e fechar o vídeo, bem como faltava também a trilha sonora principal e o nome do documentário. Então surgiu a idéia de valorizar a Banda Quixanayah, um dos grupos pesquisados, e pensamos em escolher como trilha sonora principal, uma de suas músicas. Então escolhemos duas: “Reggae é de paz” e “História Real”. Daí surgiu também o nome do documentário, Reggae é de paz: a identidade cultural negra em Conceição do Coité. Com relação ao início, pensamos em iniciar o vídeo com uma citação em caracteres, seguida por citações curtas dos entrevistados sobre o reggae, 42
  • 49. acompanhadas ainda por imagens da Cidade de Conceição do Coité. O problema é que não tínhamos uma imagem forte e representativa da cidade. Então saímos para filmá-la. Começou-se a partir deste momento o processo de edição propriamente dito. E como se tratava de um documentário musical, procuramos valorizar bastante a música no filme, como já discutido no capítulo sobre vídeo documentário. “O Roteiro final pode ter qualquer forma possível. O importante é que sirva de guia para as gravações ou filmagens. Um roteiro pode até mesmo ser rabiscado em um guardanapo de botequim” (SANTOS, 1993, 47). Para tal fizemos um pequeno roteiro, dividindo o documentário em capítulos de acordo com os assuntos que seriam tratados em cada parte. Então o pequeno roteiro ficou assim: ROTEIRO DE EDIÇÃO 01: EXT. SEDE DA ESCOLINHA DE CAPOEIRA REVOLUTION REGGAE – MANHÃ Conceição do Coité – BA, 2009 Cenas de ação da capoeira em que mostram professor e aluno treinando. 02: EXT. SEDE DA ESCOLINHA DE CAPOEIRA REVOLUTION REGGAE – MANHÃ Conceição do Coité – BA, 2009 Cena em que Carlinhos Rasta fala que o Reggae traz palavras de libertação. 03: INT. CASA DE BETO RASTA – NOITE Conceição do Coité – BA, 2009 Trecho em que Beto Rasta fala sobre o que o Reggae ensina. 04: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE Conceição do Coité – BA, 2009 Cena em que Dedé afirma que o Reggae levantou a moral do Negro. 05: INT. CASA DE JOB LIMA – TARDE Conceição do Coité – BA, 2009 43
  • 50. Cena em que Job Lima afirma que o Reggae é o desenrolar da própria vida. 06: EXT. ENTRADA DA CIDADE DE COITÉ – TARDE Conceição do Coité – BA, 2009 Trecho do vídeo que mostra o monumento que fica na entrada da cidade de Conceição do Coité. 07: VÁRIAS IMAGENS DA CIDADE DE CONCEIÇÃO DO COITÉ RELACIONADAS À TEMÁTICA DA MÚSICA NEGRA Conceição do Coité – BA, 2009 Seqüência de cenas em que aparecem: O monumento em frente ao ponto de Salgadália, imagem antiga da praça de Coité, Banca de venda de CD’S, imagens do projeto Reggae em ação, imagem de automóvel antigo, imagens do dia-a-dia dos grupos pesquisados. 08: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE Conceição do Coité – BA, 2009 Cena em que Marcos Aurélio fala sobre a música como elemento de afirmação e reafirmação da identidade. 09: INT. CASA DE BETO RASTA – NOITE Conceição do Coité – BA, 2009 Cena em que Beto Rasta diz que o Reggae prega uma verdade. 10: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE Conceição do Coité – BA, 2009 Marcos Aurélio fala sobre Bob Marley e sua importância. 11: EXT. CASA DO RASTA TOINHO – TARDE Conceição do Coité – BA, 2009 Cena do vídeo em que o Rasta Toinho fala sobre a importância de Bob Marley para a paz. 12: INT. ESCRITÓRIO DE ORLANDO MATOS – TARDE Conceição do Coité – BA, 2009 Cena em que Orlando Matos fala sobre a Colonização de Conceição do Coité. 44