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PROFESSOR DECIO CASSIANI ALTIMARI
Coordenador de Extensão e Cultura e Ouvidor da FCMSCSP
Coordenador das Disciplinas de Genética dos Cursos de Medicina, Enfermagem e Fonoaudiologia da FCMSCSP
Professor de História da Arte e da História da Música




           A SÍNDROME DE FLORENÇA ou “SÍNDROME DE STENDHAL”
         Quando se começa o Capítulo “Renascença”, gestada em Florença, esse umbigo do Mundo da Arte, onde é
sabido, com base em bom cálculo feito por gente que conta, que 20% das obras mais importantes da História da
humanidade originaram-se nessa cidade, há que contar o que vou contar, por mim, que tive a felicidade de visitá-la
tantas vezes, na companhia de Miriam. Assino em baixo, sem pestanejar. Apesar de jamais ter sido acometido pela
Síndrome de Florença (ao menos não na intensidade de exemplos que vou citar a seguir) cheguei perto.
         Então conto:
         em 1817, Henri-Marie Beyle, nome do escritor mais conhecido pelo pseudônimo Stendhal (autor, dentre outras
obras de sucesso, “O Vermelho e o Negro”) foi a Florença; ao visitar a igreja de Santa Croce foi tomado de estranha
combinação de sintomas e emoções, com palpitações e tonturas. Um “estranho desassossego” (sic) se apossava dele,
já desde as vésperas da ida até lá, antevendo o prazer de fruição artística que sabia esperá-lo; mas quando chegou,
extrapolou. O que culminou ao entrar na referida igreja. Descreveu o que sentiu assim (em dois trechos de diário da
viagem, que chamou de “Nápoles e Florença: Uma viagem de Milão a Reggio”):




                   Henri-Marie Beyle, ou Stendhal (Grenoble, França, 23 de janeiro de 1783 - Paris, 23 de março de 1842)

         Florença, 22 de janeiro de 1817: Ao chegar a Florença, meu coração batia com força... em uma curva da estrada,
         meu olho mergulhou na planície e percebi, de longe, como uma massa escura, Santa Maria Del Fiori e sua
         famosa cúpula, obra-prima de Brunelleschi. Eu me dizia: ‘É aqui que viveram Dante, Michelangelo, Leonardo da
         Vinci! Eis esta nobre cidade, a rainha da Idade Média! É nesses muros que começou a civilização”... as
         lembranças se comprimiam em meu coração, sentia-me sem condição de raciocinar e entregava-me à minha
         loucura como junto de uma mulher a quem se ama... Eu já me encontrava em uma espécie de êxtase pela idéia
         de estar em Florença e pela vizinhança dos grandes homens dos quais eu acabava de ver os túmulos
         [Michelangelo, Alfieri, Machiavel, Galileu]... Absorvido na contemplação da beleza sublime, que via de perto, eu a
         tocava, por assim dizer. Tinha chegado ao ponto da emoção onde se encontram as sensações celestes
         proporcionadas pelas belas-artes e os sentimentos passionais. Saindo de Santa Croce, meu coração batia forte,
         o que em Berlim chama-se "nervos"; a vida esgotara-se em mim, eu andava com medo de cair...”

        Cerca de 160 anos mais tarde (em 1979) a Doutora Graziella Magherini, chefe do serviço de Psiquiatria do
Hospital de Santa Maria Novella (Florença), observando que muitos turistas que visitavam Florença sofriam ataques
temporários de pânico (sic), que duravam desde momentos até diversos dias (analogamente ao que fora relatado por
Stendhal), descreveu síndrome e lhe deu o nome do escritor:
        “Síndrome de Stendhal” (usando, como sinônimo, “Síndrome de Florença”).
        Apontou os sintomas dessa “doença psicossomática” (sic) assim:
        aceleração cardíaca, tonturas, confusão mental, alucinações, angústia e desagregação, tudo surgindo quando o
visitante (obviamente o que é sensível à beleza e não aquele que vai a Florença apenas para comprar bolsa de couro
marchetado no Marcado Novo e comer “bisteca Fiorentina” com vinho chianti barato) é exposto a obras de arte,
especialmente as particularmente belas, ao se expor à grande quantidade de obras artísticas em um único local (como é
aí em Florença).
        Tudo decorreria do desmesurado prazer na “fruição estética” de tanta Arte absolutamente arrebatadora e
acumulada no reduzido espaço desta magnífica cidade.
        A Doutora publicou sua tese em livro.
        A par do conteúdo do livro há que contar, como curiosidade gratuita, que ele serviu de mote para que o cineasta
Dario Argento produzisse um filme (“La Síndrome di Stendhal”), meio de “horror” (que não vi, mas quem viu me contou).
É interpretado por Asia Argento, Thomas Kretschmann, Marco Leonardi, Luigi Diberti (com música de Enio Morricone).
A personagem principal “sente” os “sintomas” quando está frente ao quadro “A queda de Ícaro”, de Bruegel, que
estava exposto lá na Gal leria dele UFES:
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                       Pieter Bruegel, o Velho: Paisagem com a Queda de Ícaro (1555). Óleo sobre tela.
                  Museu Boymans-van Beuningen, Rotterdam, Holanda, e cartaz promocional do filme em pauta

        Voltando ao livro da Doutora Graziella, nele se lê:

        "Nas décadas de 80 e 90 eu era a responsável pelo serviço de saúde mental do Hospital de Santa Maria
        Novella, em Florença. Junto com meus colegas comecei a perceber a recorrência de casos de emergência de
        pessoas afetadas por um distúrbio psíquico repentino. Estudando cada um deles, identificamos alguns
        elementos em comum nessas pessoas, todas portadoras de grande sensibilidade emocional, que tiveram
        contato com obras de arte (aqui em Florença) e que eram turistas estrangeiros (de modo geral solteiros,
        adultos, jovens a de meia idade – os italianos, florentinos ou não, nunca apresentaram tais sintomas). O
        fenômeno nos pareceu digno de aprofundamento, principalmente porque esses indivíduos partiram de casa
        saudáveis, ou, pelo menos, psicologicamente equilibrados. Pesquisamos o problema durante dez anos. O
        nome escolhido para o distúrbio foi inspirado no escritor francês Stendhal (1783-1842), que descreveu em seu
        diário o transtorno emocional vivido a Florença (no momento em que visitara a Igreja de Santa Croce). A
        vertigem psíquica que ele sofreu foi tal, que o obrigou a sair da basílica para se recuperar. Exatamente como
        ocorre com nossos pacientes".

          Há que lembrar que existem situações semelhantes relatadas por ou sobre outros indivíduos, em outros
lugares e em outras situações, apesar existir, de comum, serem, os afetados pela síndrome, portadores de alto nível de
sensibilidade, estarem “fora de casa”. E são acometidos pela “Síndrome’ frente a obras de Arte de impacto.
          Exemplifico com Fiodor Dostoievski: quando viu o quadro “Cristo morto”, de Hans Holbein, no Museu de
Basiléia teve uma perturbação que foi registrada por sua esposa (Anna Snitkina), em diário, assim:

        "A visão do rosto de Cristo após seu martírio desumano era terrível... Fiodor permaneceu em pé diante do
        quadro com uma expressão oprimida. Olhar o quadro me fazia mal, e fui para outra sala. Voltei 20 minutos
        depois e Fiodor ainda estava lá, na mesma posição diante do quadro. Seu olhar exprimia medo. Levei-o para
        outra sala, ele se acalmou lentamente, mas insistiu ainda em tornar a ver o quadro que tanto o perturbara".




  Hans Holbein, o Jovem: “O Corpo de Cristo morto na tumba (cerca de 1521). Óleo sobre madeira. Kunstmuseum Basel (Basiléia,
                                               Suíça) e Dostoievski (1821/1881)

         Também lembro o poeta Rainer Maria Rilke (1875/1926), que também sentiu tonturas e temporárias
dificuldades respiratórias diante das belezas na sua visita a Florença, em 1898 (e descreveu o que sentiu assim:

        “... pensava submergir na imensa agitação de ondas de uma muito estranha magnitude”

        E lembro ainda o romancista de “Em Busca do Tempo Perdido”, Marcel Proust (1871/1922), no quinto volume
da obra (“A Prisioneira”) conta quando o escritor Bergotte, frente ao quadro de Johannes Vermeer “A Vista de Delft”,
tem tamanha emoção que tem um ataque fulminante e morre ali mesmo, no chão do museu:
3




                   Jan Vermeer: Vista de Delft (cerca de1660). Óleo sobre tela. Museu Mauritshuis, Haia, Holanda

         Pinçando alguns relatos dos mais de cem casos relacionados pela Doutora Graziella:

          “Franz era um senhor alemão que saiu de uma galeria de arte florentina com alucinações visuais e o ‘coração e
a cabeça em chamas’, conforme nos relatou. Voltou em seguida e, frente ao quadro “Baco”, de Caravaggio, apresentou
típicos sintomas pré-infarto, que depois se revelaram apenas psíquicos. Esses acontecimentos levaram Franz a refletir
sobre sua própria homossexualidade reprimida”:

          ”Brigitte, era uma norueguesa que teve taquicardia e cansaço exacerbado por não suportar a "sexualidade
difusa" de Florença. Até mesmo as obras de Fra Angelico, tão ingênuas e puras, ‘exprimem uma violência sexual muito
forte, semelhante à dos artistas modernos’, nos disse. Depois de refletir sobre as razões de sua súbita perturbação,
Brigitte admitiu: ‘Nós dos países nórdicos não estamos preparados para um choque desses”. Somos menos maduros,
mais ingênuos em relação ao mundo dos sentidos, educados sob rígida moral protestante’":




                                    Caravaggio: “Bacchus” (1597). Óleo sobre tela. Galleria degli Uffizi
                                                                   e
Fra Angelico: “Bosco ai Frati Altarpiece” (pormenor) Cerca de 1450. Tempera sobre Madeira. Museo di San Marco, Florença

         ”Marta, jovem de 25 anos, após ver as obras de Fra Angélico, aqui em Florença, fizeram-na permanecer no
hotel durante todo o resto de sua viagem de formatura”.

         “Lucy, uma jovem americana, após sua chegada a Florença, ficou convencida de ser a reencarnação de uma
freira da região da Úmbria morta com a sua idade (20 anos). Ao examiná-la, revelou-se uma história de abandono
paterno, timidez extrema e desconforto psíquico. Os cuidados que lhe foram ministrados limitaram-se a um breve
tratamento que permitisse o retorno ao país de origem, com a esperança de que o problema fosse um alarme que a
levasse a reconsiderar seu próprio sofrimento e a buscar acompanhamento psicológico”.

         Volto ao texto do livro da doutora Graziella e leio:

         “Os episódios de mal-estar que caracterizam a Síndrome de Stendhal não costumam ter consequências mais
graves. Basta um pouco de repouso, proximidade com algo familiar ou prescrição de medicamentos leves.
         O olhar mais atento mostra que esses pacientes compartilham uma vida de aparente equilíbrio que esconde,
entretanto, insatisfações, dificuldades de relacionamento ou personalidade extremamente austera, que acaba sendo
perturbada pela força evocativa da Arte. O espectro de sintomas é bem variado: algumas pessoas sofrem com
alucinações e alteração da percepção; outras manifestam desequilíbrio afetivo ou depressão; angústia e ataques de
pânico podem ocorrer em outras. Em dez anos de observação verificamos que a remissão rápida é frequente, sobretudo
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entre os mais jovens, mas depende do tipo de sintoma: os que apresentaram dissociações psicóticas, mania de
perseguição ou alucinações têm sete vezes mais chance de não se recuperar rapidamente, comparados aos que
tiveram apenas distúrbio afetivo ou sintomas depressivos. Crítico é o momento em que o paciente recebe alta: ele deve
decidir se continua a viagem ou volta para casa. A experiência no Hospital de Santa Maria Novella mostra que aqueles
com distúrbios psicóticos e histórico psiquiátrico tendem a retornar ao país de origem”.

         Segundo a psiquiatra italiana esses momentos, embora difíceis, devem ser encarados como uma oportunidade
de enriquecimento. E ela ensina:

        "Uma viagem a um lugar rico em obras de arte pode ser considerada uma 'viagem da alma', capaz de revelar
uma trama de emoções e sentimentos na qual a identidade do contemplador é colocada à prova. Evidentemente nem
todos conseguem administrar essa descompensação do mesmo modo. Embora cada indivíduo reaja de forma particular,
notamos que algumas obras, como as de Caravaggio e de Michelangelo, com toda sua carga de ambiguidade e
sensualidade, são muito perturbadoras e podem revelar mais facilmente os conflitos profundos do inconsciente.

        Só para constar, dado que Florença está na jogada também, apresento outra (nova?) Síndrome, criada pela
Doutora Graziella: a "Síndrome de Davi". Escreveu a psicóloga:

         “Em certos casos a beleza extrema deflagra sentimentos ambivalentes. Foi o que ocorreu com Isabelle,
professora francesa de educação artística, que visitava Florença com seus alunos, no Museu da “Accademia”, que
hospeda o “Davi” de Michelangelo, foi tomada por um impulso irrefreável de danificar a obra; dando conta do absurdo e
fugiu. Muito desorientada, vagou pela cidade até ser encaminhada ao Pronto-Socorro do Hospital. A professora
apresentou um híbrido entre a “Síndrome de Stendhal” e o que chamamos de “Síndrome de Davi”. Considerado por
séculos como símbolo máximo da harmonia e da beleza masculina, o “Davi” de Michelangelo tornou-se objeto de nosso
estudo como sendo ele um... carrasco, que dá nome a uma patologia. As reações emocionais desse novo distúrbio se
sobrepõem, pelo menos em parte, àquelas da síndrome de Stendhal. O “Davi” encanta por sua beleza formal, mas sua
perfeição estética não provoca tranquilidade em todas as pessoas. Como na síndrome de Stendhal, alguns turistas têm
ataques de pânico e um senso de perda dos próprios limites... [Esta] síndrome tem características próprias... a obra
pode suscitar sentimentos inconscientes e primitivos, que a própria vítima não consegue explicar. Por um lado faz a
pessoa sentir-se grande e forte, e, por outro, ciumenta e invejosa da perfeição da escultura. Em certos indivíduos aflora
um instinto de vandalismo, como forma de reafirmar o próprio eu, colocado em perigo pela opulência estética. Além
disso, há perturbações de natureza sexual. Quase todos consideram Davi o emblema do macho perfeito. Nasce em
alguns o desejo de identificação erótica, e em outros, de fusão, quase de amor carnal. Psiquiatras e psicólogos
concordam que deve existir uma relação estreita e complexa entre o tipo de reação, o modo de vivê-la, a estrutura da
personalidade e as experiências pessoais:




                        Michelangelo: “David” (1501-1504). Mármore. Galleria dell'Accademia, Florença

        E como ponto final dessa matéria, lanço mão da conclusão da tese da doutora

        “As manifestações das crises ligadas a viagens a certas cidades não podem ser consideradas como efeito de
um simples curto-circuito entre o evento externo e o mundo subjetivo.
        As características da crise, da obra de arte ou da atmosfera de um lugar como Florença, interagem com os
elementos que constituem o indivíduo, os quais por sua vez são influenciados pela história deste".

        Meus amigos, Florença é fogo!
        Eu que o diga!!
        É isso que queria contar!!!

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A Síndrome de Florença

  • 1. PROFESSOR DECIO CASSIANI ALTIMARI Coordenador de Extensão e Cultura e Ouvidor da FCMSCSP Coordenador das Disciplinas de Genética dos Cursos de Medicina, Enfermagem e Fonoaudiologia da FCMSCSP Professor de História da Arte e da História da Música A SÍNDROME DE FLORENÇA ou “SÍNDROME DE STENDHAL” Quando se começa o Capítulo “Renascença”, gestada em Florença, esse umbigo do Mundo da Arte, onde é sabido, com base em bom cálculo feito por gente que conta, que 20% das obras mais importantes da História da humanidade originaram-se nessa cidade, há que contar o que vou contar, por mim, que tive a felicidade de visitá-la tantas vezes, na companhia de Miriam. Assino em baixo, sem pestanejar. Apesar de jamais ter sido acometido pela Síndrome de Florença (ao menos não na intensidade de exemplos que vou citar a seguir) cheguei perto. Então conto: em 1817, Henri-Marie Beyle, nome do escritor mais conhecido pelo pseudônimo Stendhal (autor, dentre outras obras de sucesso, “O Vermelho e o Negro”) foi a Florença; ao visitar a igreja de Santa Croce foi tomado de estranha combinação de sintomas e emoções, com palpitações e tonturas. Um “estranho desassossego” (sic) se apossava dele, já desde as vésperas da ida até lá, antevendo o prazer de fruição artística que sabia esperá-lo; mas quando chegou, extrapolou. O que culminou ao entrar na referida igreja. Descreveu o que sentiu assim (em dois trechos de diário da viagem, que chamou de “Nápoles e Florença: Uma viagem de Milão a Reggio”): Henri-Marie Beyle, ou Stendhal (Grenoble, França, 23 de janeiro de 1783 - Paris, 23 de março de 1842) Florença, 22 de janeiro de 1817: Ao chegar a Florença, meu coração batia com força... em uma curva da estrada, meu olho mergulhou na planície e percebi, de longe, como uma massa escura, Santa Maria Del Fiori e sua famosa cúpula, obra-prima de Brunelleschi. Eu me dizia: ‘É aqui que viveram Dante, Michelangelo, Leonardo da Vinci! Eis esta nobre cidade, a rainha da Idade Média! É nesses muros que começou a civilização”... as lembranças se comprimiam em meu coração, sentia-me sem condição de raciocinar e entregava-me à minha loucura como junto de uma mulher a quem se ama... Eu já me encontrava em uma espécie de êxtase pela idéia de estar em Florença e pela vizinhança dos grandes homens dos quais eu acabava de ver os túmulos [Michelangelo, Alfieri, Machiavel, Galileu]... Absorvido na contemplação da beleza sublime, que via de perto, eu a tocava, por assim dizer. Tinha chegado ao ponto da emoção onde se encontram as sensações celestes proporcionadas pelas belas-artes e os sentimentos passionais. Saindo de Santa Croce, meu coração batia forte, o que em Berlim chama-se "nervos"; a vida esgotara-se em mim, eu andava com medo de cair...” Cerca de 160 anos mais tarde (em 1979) a Doutora Graziella Magherini, chefe do serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria Novella (Florença), observando que muitos turistas que visitavam Florença sofriam ataques temporários de pânico (sic), que duravam desde momentos até diversos dias (analogamente ao que fora relatado por Stendhal), descreveu síndrome e lhe deu o nome do escritor: “Síndrome de Stendhal” (usando, como sinônimo, “Síndrome de Florença”). Apontou os sintomas dessa “doença psicossomática” (sic) assim: aceleração cardíaca, tonturas, confusão mental, alucinações, angústia e desagregação, tudo surgindo quando o visitante (obviamente o que é sensível à beleza e não aquele que vai a Florença apenas para comprar bolsa de couro marchetado no Marcado Novo e comer “bisteca Fiorentina” com vinho chianti barato) é exposto a obras de arte, especialmente as particularmente belas, ao se expor à grande quantidade de obras artísticas em um único local (como é aí em Florença). Tudo decorreria do desmesurado prazer na “fruição estética” de tanta Arte absolutamente arrebatadora e acumulada no reduzido espaço desta magnífica cidade. A Doutora publicou sua tese em livro. A par do conteúdo do livro há que contar, como curiosidade gratuita, que ele serviu de mote para que o cineasta Dario Argento produzisse um filme (“La Síndrome di Stendhal”), meio de “horror” (que não vi, mas quem viu me contou). É interpretado por Asia Argento, Thomas Kretschmann, Marco Leonardi, Luigi Diberti (com música de Enio Morricone). A personagem principal “sente” os “sintomas” quando está frente ao quadro “A queda de Ícaro”, de Bruegel, que estava exposto lá na Gal leria dele UFES:
  • 2. 2 Pieter Bruegel, o Velho: Paisagem com a Queda de Ícaro (1555). Óleo sobre tela. Museu Boymans-van Beuningen, Rotterdam, Holanda, e cartaz promocional do filme em pauta Voltando ao livro da Doutora Graziella, nele se lê: "Nas décadas de 80 e 90 eu era a responsável pelo serviço de saúde mental do Hospital de Santa Maria Novella, em Florença. Junto com meus colegas comecei a perceber a recorrência de casos de emergência de pessoas afetadas por um distúrbio psíquico repentino. Estudando cada um deles, identificamos alguns elementos em comum nessas pessoas, todas portadoras de grande sensibilidade emocional, que tiveram contato com obras de arte (aqui em Florença) e que eram turistas estrangeiros (de modo geral solteiros, adultos, jovens a de meia idade – os italianos, florentinos ou não, nunca apresentaram tais sintomas). O fenômeno nos pareceu digno de aprofundamento, principalmente porque esses indivíduos partiram de casa saudáveis, ou, pelo menos, psicologicamente equilibrados. Pesquisamos o problema durante dez anos. O nome escolhido para o distúrbio foi inspirado no escritor francês Stendhal (1783-1842), que descreveu em seu diário o transtorno emocional vivido a Florença (no momento em que visitara a Igreja de Santa Croce). A vertigem psíquica que ele sofreu foi tal, que o obrigou a sair da basílica para se recuperar. Exatamente como ocorre com nossos pacientes". Há que lembrar que existem situações semelhantes relatadas por ou sobre outros indivíduos, em outros lugares e em outras situações, apesar existir, de comum, serem, os afetados pela síndrome, portadores de alto nível de sensibilidade, estarem “fora de casa”. E são acometidos pela “Síndrome’ frente a obras de Arte de impacto. Exemplifico com Fiodor Dostoievski: quando viu o quadro “Cristo morto”, de Hans Holbein, no Museu de Basiléia teve uma perturbação que foi registrada por sua esposa (Anna Snitkina), em diário, assim: "A visão do rosto de Cristo após seu martírio desumano era terrível... Fiodor permaneceu em pé diante do quadro com uma expressão oprimida. Olhar o quadro me fazia mal, e fui para outra sala. Voltei 20 minutos depois e Fiodor ainda estava lá, na mesma posição diante do quadro. Seu olhar exprimia medo. Levei-o para outra sala, ele se acalmou lentamente, mas insistiu ainda em tornar a ver o quadro que tanto o perturbara". Hans Holbein, o Jovem: “O Corpo de Cristo morto na tumba (cerca de 1521). Óleo sobre madeira. Kunstmuseum Basel (Basiléia, Suíça) e Dostoievski (1821/1881) Também lembro o poeta Rainer Maria Rilke (1875/1926), que também sentiu tonturas e temporárias dificuldades respiratórias diante das belezas na sua visita a Florença, em 1898 (e descreveu o que sentiu assim: “... pensava submergir na imensa agitação de ondas de uma muito estranha magnitude” E lembro ainda o romancista de “Em Busca do Tempo Perdido”, Marcel Proust (1871/1922), no quinto volume da obra (“A Prisioneira”) conta quando o escritor Bergotte, frente ao quadro de Johannes Vermeer “A Vista de Delft”, tem tamanha emoção que tem um ataque fulminante e morre ali mesmo, no chão do museu:
  • 3. 3 Jan Vermeer: Vista de Delft (cerca de1660). Óleo sobre tela. Museu Mauritshuis, Haia, Holanda Pinçando alguns relatos dos mais de cem casos relacionados pela Doutora Graziella: “Franz era um senhor alemão que saiu de uma galeria de arte florentina com alucinações visuais e o ‘coração e a cabeça em chamas’, conforme nos relatou. Voltou em seguida e, frente ao quadro “Baco”, de Caravaggio, apresentou típicos sintomas pré-infarto, que depois se revelaram apenas psíquicos. Esses acontecimentos levaram Franz a refletir sobre sua própria homossexualidade reprimida”: ”Brigitte, era uma norueguesa que teve taquicardia e cansaço exacerbado por não suportar a "sexualidade difusa" de Florença. Até mesmo as obras de Fra Angelico, tão ingênuas e puras, ‘exprimem uma violência sexual muito forte, semelhante à dos artistas modernos’, nos disse. Depois de refletir sobre as razões de sua súbita perturbação, Brigitte admitiu: ‘Nós dos países nórdicos não estamos preparados para um choque desses”. Somos menos maduros, mais ingênuos em relação ao mundo dos sentidos, educados sob rígida moral protestante’": Caravaggio: “Bacchus” (1597). Óleo sobre tela. Galleria degli Uffizi e Fra Angelico: “Bosco ai Frati Altarpiece” (pormenor) Cerca de 1450. Tempera sobre Madeira. Museo di San Marco, Florença ”Marta, jovem de 25 anos, após ver as obras de Fra Angélico, aqui em Florença, fizeram-na permanecer no hotel durante todo o resto de sua viagem de formatura”. “Lucy, uma jovem americana, após sua chegada a Florença, ficou convencida de ser a reencarnação de uma freira da região da Úmbria morta com a sua idade (20 anos). Ao examiná-la, revelou-se uma história de abandono paterno, timidez extrema e desconforto psíquico. Os cuidados que lhe foram ministrados limitaram-se a um breve tratamento que permitisse o retorno ao país de origem, com a esperança de que o problema fosse um alarme que a levasse a reconsiderar seu próprio sofrimento e a buscar acompanhamento psicológico”. Volto ao texto do livro da doutora Graziella e leio: “Os episódios de mal-estar que caracterizam a Síndrome de Stendhal não costumam ter consequências mais graves. Basta um pouco de repouso, proximidade com algo familiar ou prescrição de medicamentos leves. O olhar mais atento mostra que esses pacientes compartilham uma vida de aparente equilíbrio que esconde, entretanto, insatisfações, dificuldades de relacionamento ou personalidade extremamente austera, que acaba sendo perturbada pela força evocativa da Arte. O espectro de sintomas é bem variado: algumas pessoas sofrem com alucinações e alteração da percepção; outras manifestam desequilíbrio afetivo ou depressão; angústia e ataques de pânico podem ocorrer em outras. Em dez anos de observação verificamos que a remissão rápida é frequente, sobretudo
  • 4. 4 entre os mais jovens, mas depende do tipo de sintoma: os que apresentaram dissociações psicóticas, mania de perseguição ou alucinações têm sete vezes mais chance de não se recuperar rapidamente, comparados aos que tiveram apenas distúrbio afetivo ou sintomas depressivos. Crítico é o momento em que o paciente recebe alta: ele deve decidir se continua a viagem ou volta para casa. A experiência no Hospital de Santa Maria Novella mostra que aqueles com distúrbios psicóticos e histórico psiquiátrico tendem a retornar ao país de origem”. Segundo a psiquiatra italiana esses momentos, embora difíceis, devem ser encarados como uma oportunidade de enriquecimento. E ela ensina: "Uma viagem a um lugar rico em obras de arte pode ser considerada uma 'viagem da alma', capaz de revelar uma trama de emoções e sentimentos na qual a identidade do contemplador é colocada à prova. Evidentemente nem todos conseguem administrar essa descompensação do mesmo modo. Embora cada indivíduo reaja de forma particular, notamos que algumas obras, como as de Caravaggio e de Michelangelo, com toda sua carga de ambiguidade e sensualidade, são muito perturbadoras e podem revelar mais facilmente os conflitos profundos do inconsciente. Só para constar, dado que Florença está na jogada também, apresento outra (nova?) Síndrome, criada pela Doutora Graziella: a "Síndrome de Davi". Escreveu a psicóloga: “Em certos casos a beleza extrema deflagra sentimentos ambivalentes. Foi o que ocorreu com Isabelle, professora francesa de educação artística, que visitava Florença com seus alunos, no Museu da “Accademia”, que hospeda o “Davi” de Michelangelo, foi tomada por um impulso irrefreável de danificar a obra; dando conta do absurdo e fugiu. Muito desorientada, vagou pela cidade até ser encaminhada ao Pronto-Socorro do Hospital. A professora apresentou um híbrido entre a “Síndrome de Stendhal” e o que chamamos de “Síndrome de Davi”. Considerado por séculos como símbolo máximo da harmonia e da beleza masculina, o “Davi” de Michelangelo tornou-se objeto de nosso estudo como sendo ele um... carrasco, que dá nome a uma patologia. As reações emocionais desse novo distúrbio se sobrepõem, pelo menos em parte, àquelas da síndrome de Stendhal. O “Davi” encanta por sua beleza formal, mas sua perfeição estética não provoca tranquilidade em todas as pessoas. Como na síndrome de Stendhal, alguns turistas têm ataques de pânico e um senso de perda dos próprios limites... [Esta] síndrome tem características próprias... a obra pode suscitar sentimentos inconscientes e primitivos, que a própria vítima não consegue explicar. Por um lado faz a pessoa sentir-se grande e forte, e, por outro, ciumenta e invejosa da perfeição da escultura. Em certos indivíduos aflora um instinto de vandalismo, como forma de reafirmar o próprio eu, colocado em perigo pela opulência estética. Além disso, há perturbações de natureza sexual. Quase todos consideram Davi o emblema do macho perfeito. Nasce em alguns o desejo de identificação erótica, e em outros, de fusão, quase de amor carnal. Psiquiatras e psicólogos concordam que deve existir uma relação estreita e complexa entre o tipo de reação, o modo de vivê-la, a estrutura da personalidade e as experiências pessoais: Michelangelo: “David” (1501-1504). Mármore. Galleria dell'Accademia, Florença E como ponto final dessa matéria, lanço mão da conclusão da tese da doutora “As manifestações das crises ligadas a viagens a certas cidades não podem ser consideradas como efeito de um simples curto-circuito entre o evento externo e o mundo subjetivo. As características da crise, da obra de arte ou da atmosfera de um lugar como Florença, interagem com os elementos que constituem o indivíduo, os quais por sua vez são influenciados pela história deste". Meus amigos, Florença é fogo! Eu que o diga!! É isso que queria contar!!!