No âmbito da Semana da Leitura 2015 e assinalando o Dia Mundial da Poesia (21 de março) apresentamos este Catálogo Bibliográfico dos Livros de Poesia existentes na Biblioteca da Escola Secundária de Amares. De cada um foi escolhido um poema ilustrativo da obra.
4. SEMANA
DA
LEITURA
2015
LER
PARA
LÁ
DAS
PALAVRAS
Ler
+
POESIA
Todo
o
tempo
é
de
poesia
Desde
a
névoa
da
manhã
à
névoa
do
outo
dia.
Na
verdade,
como
diz
o
poeta
António
Gedeão,
todo
o
tempo
é
de
poesia.
Mas,
em
alguns
tempos,
de
forma
especial.
Em
mais
uma
Semana
da
Leitura
que
sempre
marca
o
quotidiano
da
vida
escolar,
acontece,
neste
ano,
a
coincidência
da
proximidade
do
Dia
Mundial
da
Poesia.
Como
vem
sendo
hábito,
também
este
ano
vamos
assinalar
esta
efeméride
dando
destaque
à
palavra
feita
poesia.
Num
Agrupamento
a
Ler+,
queremos
dar
destaque
às
palavras
dos
poetas,
às
vezes
comprimidas
e
esquecidas
nas
traves
das
estantes.
Porque
acreditamos
que
ler
poesia
pode
tornar
os
dias
mais
claros
e
ajudar
a
criar
os
sonhos
que
comandam
a
vida.
Igualmente
é
esse
o
entendimento
que
temos
no
contexto
do
projeto
EMA
-‐
Escola
Melhor
–
Amares,
apoiado
pela
Fundação
Calouste
Gulbenkian:
também
esta
leitura
gera
mais
e
melhores
oportunidades
de
aprendizagem.
Este
catálogo
pretende
dar
destaque
e
visibilidade
aos
muitos
livros
de
poesia
que
existem
no
nosso
fundo
documental.
Aqui
estão
mais
de
100
livros
de
muitos
autores
portugueses
e
estrangeiros
mas,
sobretudo,
de
poetas
de
língua
portuguesa.
Por
muito
que
se
tenha
tentado,
este
levantamento
não
é
exaustivo
e,
por
certo,
alguns
ficaram
de
fora.
De
cada
livro,
foi
selecionado
um
poema,
ilustrando
a
riqueza
e
diversidade
destas
obras.
Esta
iniciativa
permite
atingir
diversos
objetivos:
não
apenas
a
divulgação
do
fundo
documental
e
proporcionar
a
sua
leitura
nesta
ocasião
festiva,
mas
também
identificar
as
existências,
verificar
lacunas
e
redescobrir
algumas
curiosidades:
as
primeiras
edições
de
várias
obras,
as
obras
autografadas,
as
obras
nunca
lidas
e
as
que
se
desfazem
de
tanto
uso,
as
anotações
e
as
marcas
dos
leitores,
enfim,
tudo
aquilo
que
dá
vida
e
sentido
aos
livros
da
coleção
de
uma
Biblioteca.
Mas
esperamos,
sobretudo,
que
este
catálogo
seja
um
instrumento
útil
para
os
professores,
para
os
alunos,
para
toda
a
comunidade
educativa.
Na
redescoberta
dos
livros
de
poesia,
na
melhoria
dos
hábitos
de
leitura
e,
como
consequência,
acreditamos,
uma
vez
mais,
na
promoção
do
sucesso
educativo.
A
Ler
+
POESIA.
5.
ANTOLOGIAS
6.
7. Alves,
Hélio
Osvaldo
(Seleção
e
tradução)
Também
eu
sou
a
América
Poemas
de
escritores
negros
Norte-‐Americanos
1ª
ed
Guimarães:
Pedra
formosa,
1997
ISBN
972-‐8118-‐16-‐3
Da
Mãe
ao
filho
Olha,
filho,
ouve
o
que
te
digo:
P’ra
mim
a
vida
nunca
foi
escada
de
cristal.
O
que
mais
tive
foram
pregos
levantados,
E
farpas,
E
tábuas
podres,
E
sítios
sem
tapete
no
chão
-‐
Vazios.
Mas
tenho
vindo
Sempre
a
subir,
A
chegar
a
patamares,
A
dobrar
esquinas,
E
às
vezes
vou
pr’ó
escuro
Onde
não
há
luz.
Por
isso,
filho,
não
voltes
atrás.
Não
te
sentes
nos
degraus
Pois
hás-‐de
ver
como
são
duros.
Não
caias
agora
-‐
Porque
eu
cá
vou
indo,
querido,
Cá
vou
subindo,
E
p’ra
mim
a
vida
nunca
foi
escada
de
cristal.
Poema
Langston
Hughes
escolhido
e
traduzido
por
Hélio
Osvaldo
Alves
8. Andresen,
Sophia
de
Mello
Breyner
(Seleção)
Primeiro
livro
de
poesia
-‐
Poemas
em
língua
portuguesa
para
a
infância
e
a
adolescência
11ª
ed
Lisboa:
Caminho,
2008
978-‐972-‐21-‐0597-‐2
O
FUTEBOL
BRASILEIRO
EVOCADO
NA
EUROPA
A
bola
não
é
inimiga
como
o
touro,
numa
corrida;
e
embora
seja
um
utensílio
caseiro
e
que
não
se
usa
sem
risco,
não
é
o
utensílio
impessoal,
sempre
manso,
de
gesto
usual:
é
um
utensílio
semivivo,
de
reação
própria
como
bicho,
e
que,
como
bicho,
é
mister
(mais
que
bicho,
como
mulher)
usar
com
malícia
e
atenção
dando
aos
pés
astúcia
de
mão.
Poema
de
João
Cabral
de
Melo
Neto
escolhido
por
Sophia
de
Mello
Breyner
Andresen
9. Correia,
Manuela,
(organizadora)
Rosa
do
Mundo
-‐
2001
poemas
para
o
futuro
3ª
ed
Lisboa
:
Assírio
&
Alvim,
2001
ISBN
972-‐37-‐0633-‐4
A
ROSA
DO
MUNDO
Quem
sonhou
que
a
beleza
passa
como
um
sonho?
Por
estes
lábios
vermelhos,
com
todo
o
seu
magoado
orgulho,
Tão
magoados
que
nem
o
prodígio
os
pode
alcançar,
Tróia
desvaneceu-‐se
em
alta
chama
fúnebre,
E
morreram
os
filhos
de
Usna.
Nós
passamos
e
passa
o
trabalho
do
mundo:
Entre
humanas
almas,
que
se
agitam
e
quebram
Como
as
pálidas
águas
em
seu
fluxo
invernal,
Sob
as
estrelas
que
passam,
sob
a
espuma
do
céu,
Vive
este
solitário
rosto.
Inclinai-‐vos,
arcanjos,
em
vossa
incerta
morada:
Antes
de
vós,
ou
de
qualquer
palpitante
coração,
Fatigado
e
gentil
alguém
esperava
junto
ao
seu
trono;
Ele
fez
do
mundo
um
caminho
de
erva
Para
os
seus
errantes
pés.
Poema
de
W.
B.
Yeats
traduzido
por
José
Agostinho
Baptista
10. Correia,
Natália
(Organização)
Antologia
da
poesia
do
período
barroco
1ª
ed
Lisboa
:
Moraes,
1982
A
uma
despedida
Agora,
que
o
silêncio
nos
convida,
Disscursemos
um
pouco,
ó
pensamento,
Demos
um
desafogo
ao
sofrimento,
Pois
lhe
demos
a
pena
sem
medida:
Enfim,
chegou
aquela
despedida
Em
que,
perdido
meu
contentamento,
O
mais
que
me
ficou
foi
meu
tormento,
O
menos
que
deixei
foi
toda
a
vida:
Para
que
era
ficar-‐me
na
memória
As
lembranças
de
um
bem
tão
malogrado?
Falta-‐me
o
bem,
faltaram-‐me
as
lembranças.
Se
verei
outra
vez
tão
doce
glória?
Mas
ó
suave
engano,
ó
vão
cuidado!
Inda
eu
cuido
outra
vez
em
esperanças!
Poema
de
António
Barbosa
Bacelar
escolhido
por
Natália
Correia
11. Cruz,
Gastão
(Seleção)
Quinze
poetas
portugueses
do
seculo
XX
1ª
ed
Lisboa;
Assírio
e
Alvim
2004
ISBN972-‐37-‐0984-‐8
Minibiografia
Não
me
quero
com
o
tempo
nem
com
a
moda
Olho
como
um
deus
para
tudo
de
alto
Mas
zás!
do
motor
corpo
o
mau
ressalto
Me
faz
a
todo
o
passo
errar
a
coda.
Porque
envelheço,
adoeço,
esqueço
Quanto
a
vida
é
gesto
e
amor
é
foda;
Diferente
me
concebo
e
só
do
avesso
O
formato
mulher
se
me
acomoda
E
se
nave
vier
do
fundo
espaço
Cedo
raptar-‐me,
assassinar-‐me,
cedo:
Logo
me
leve,
subirei
sem
medo
À
cena
do
mais
árduo
e
do
mais
escasso.
Um
poema
deixo,
ao
retardador:
Meia
palavra
a
bom
entendedor.
Poema
de
Luiza
Neto
Jorge
escolhido
por
Gastão
Cruz
12. Eanes,
António
Ramalho
(Seleção)
Os
poemas
da
minha
vida
1ª
ed
Lisboa,
Público,
2006
ISBN
989-‐619-‐080-‐1
Há
Palavras
que
Nos
Beijam
Há
palavras
que
nos
beijam
Como
se
tivessem
boca.
Palavras
de
amor,
de
esperança,
De
imenso
amor,
de
esperança
louca.
Palavras
nuas
que
beijas
Quando
a
noite
perde
o
rosto;
Palavras
que
se
recusam
Aos
muros
do
teu
desgosto.
De
repente
coloridas
Entre
palavras
sem
cor,
Esperadas
inesperadas
Como
a
poesia
ou
o
amor.
(O
nome
de
quem
se
ama
Letra
a
letra
revelado
No
mármore
distraído
No
papel
abandonado)
Palavras
que
nos
transportam
Aonde
a
noite
é
mais
forte,
Ao
silêncio
dos
amantes
Abraçados
contra
a
morte.
Poema
de
Alexandre
O’Neill
escolhido
por
António
Ramalho
Eanes
13. Fanha,
José;
Letria,
José
Jorge
(Seleção
e
organização)
Cem
poemas
portugueses
no
feminino
1ª
ed
Lisboa:
Terramar,
2005
ISBN
972-‐710-‐390-‐1
Mutilações
Escreve
agora
a
música
que
os
muros
trauteiam
como
eu
dilapidei
o
meu
tesouro.
Desenha
agora
a
árvore
que
rebentou
por
dentro.
Mostra
agora
o
coração
com
uma
flecha
no
centro.
Vivi
de
brilho
e
cuspi
ouro
pela
boca.
Se
ninguém
me
quis
prender
foi
porque
não
dei
caça
não
dei
luta
nem
falei
em
razão
de
força
maior
nem
sequer
do
futuro
que
me
escuta.
Este
livro
custa
a
abrir
e
aquela
porta
a
fechar.
Desata
agora
a
chorar
mesmo
sem
querer
mesmo
sem
sentir.
Chora
por
tudo
o
que
não
está
para
vir.
Poema
de
Regina
Guimarães
escolhido
por
José
Fanha
e
José
Jorge
Letria
14. Fanha,
José;
Letria,
José
Jorge
(Seleção
e
organização)
Cem
poemas
portugueses
sobre
a
infância
1ª
ed
Lisboa:
Terramar,
2004
ISBN
9727103820
Não
se
amam
os
poetas
Não
se
amam
os
poetas
que
descem
do
rio
porque
Porque
o
rio
é
negro
e
fundo
e
uma
voz
canta
na
outra
margem
Voz
sempre
estrangeira
E
no
rio
desce
também
um
lago
de
jardim
Artificial
e
inútil
com
peixes
vermelhos
De
noite
ouvia
os
animais
da
selva
por
entre
gritos.
Animais
que
ressonavam
por
entre
barras
de
ferro
O
sono
de
sua
força
prisioneira
E
passavam
cavalos
da
Guarda
sobre
a
calçada
E
só
mortos
os
seus
passos
o
medo
morria
E
eu
não
ser
amada
no
rio
sem
o
ver
E
ouvia
a
voz
da
outra
margem
E
no
lago
de
peixes
vermelhos
Era
tudo
tão
pouco
e
cercado
E
na
noite
os
animais
vinham
derrotados
e
poderosos
no
seu
sonhar
Chorando
eu
ia
pelo
rio
nele
fundida
Não
tinha
uma
boneca
para
dormir
Escusava
de
abrir
e
fechar
os
olhos
a
boneca
Bastava
só
ser
boneca
para
eu
adormecer
e
dormir
a
minha
idade.
E
as
grades
da
minha
cama
de
ferro
foram
sempre
duras
de
mais
E
boiava
de
noite
pelo
rio
e
descia
na
jangada
do
lago
Poema
de
Matilde
Rosa
Araújo
escolhido
por
José
Fanha
e
José
Jorge
Letria
15. Lapa,
Manuel
Rodrigues
Cantigas
D'Escarnho
e
de
Mal
Dizer
Lisboa,
Edições
João
Sá
da
Costa,
1998
ISBN
9789729230424
Um
infançom
mi
há
convidado
que
seja
seu
jantar
loado
par
mi,
mais
eu
non'o
hei
guisado;
e
direi-‐vos
per
que
mi
avém:
ca
já
des
antan'hei
jurado
que
nunca
diga
de
mal
bem.
Diss'el,
poilo
jantar
foi
dado:
-‐
Load'este
jantar
honrado!
Dix'eu:
-‐
Faria-‐o
de
grado,
mais
jurei
antan'em
Jaen,
na
hoste,
quando
fui
cruzado,
que
nunca
diga
de
mal
bem.
16. mãe,
valter
hugo
e
Reis-‐Sá
,
Jorge
A
alma
não
é
pequena
-‐
100
poemas
portugueses
para
sms
1ª
ed.
Vila
Nova
de
Famalicão
:
Centro
Atlântico,
2003
ISBN
972-‐8426-‐64-‐X
Beleza
Vem
do
amor
a
Beleza,
Como
a
luz
vem
da
chama.
É
lei
da
natureza:
Queres
ser
bela?
–
ama.
Excerto
de
Beleza,
de
Almeida
Garrett
17. Martins,
Albano
(Recolha)
A
mãe
na
poesia
portuguesa
1ª
ed
Lisboa:
Público,
2006
ISBN
986-‐619-‐089-‐5
Infância
e
jogava
o
pião
com
Deus
enquanto
minha
mãe
estendia
roupa
e
o
meu
pai
mendigava
o
pão
e
minha
alegria
nesse
tempo
era
muito
próxima
da
dos
meninos
e
de
Deus
que
ganhava
sempre
e
não
sei
quem
perdi
primeiro:
o
pião
ou
Deus
apenas
sei
que
Deus
continua
a
jogar
com
outros
meninos
e
que
no
Outono
quando
saio
à
praça
nos
sentamos
e
falamos
muito
do
suave
rodopiar
das
folhas
Poema
de
Daniel
Faria
escolhido
por
Albano
Martins
18. Moura,
Vasco
Graça
366
poemas
que
falam
de
amor
1ª
ed.
Lisboa:
Quetzal
Editores,
2003
ISBN
972-‐564-‐583-‐9
Parem
já
os
relógios,
corte-‐se
o
telefone
Parem
já
os
relógios,
corte-‐se
o
telefone,
dê-‐se
um
bom
osso
ao
cão
para
que
ele
não
rosne,
emudeçam
pianos,
com
rufos
abafados
transportem
o
caixão,
venham
os
enlutados.
Descrevam
aviões
em
círculos
no
céu
a
garatuja
de
um
lamento:
Ele
Morreu.
No
alvo
colo
das
pombas
ponham
crepe
de
viúvas,
polícias-‐sinaleiros
tinjam
de
preto
as
luvas.
Era-‐me
Norte
e
Sul,
Leste
e
Oeste,
o
emprego
dos
dias
da
semana,
Domingo
de
sossego,
meio-‐dia,
meia-‐noite,
era-‐me
voz,
canção;
julguei
o
amor
pra
sempre:
mas
não
tinha
razão.
Não
quero
agora
estrelas:
vão
todos
lá
pra
fora;
enevoe-‐se
a
lua
e
vá-‐se
o
sol
agora;
esvaziem-‐se
os
mares
e
varra-‐se
a
floresta.
Nada
mais
vale
a
pena
agora
do
que
resta.
Poema
de
W.
H.
Auden,
escolhido
por
Vasco
Graça
Moura
19. Moura,
Vasco
Graça
Os
poemas
da
minha
vida
2ª
ed
Lisboa,
Público,
2005
ISBN
972-‐8892-‐80-‐2
BALADA
DAS
TRÊS
MULHERES
DO
SABONETE
ARAXÁ
As
três
mulheres
do
sabonete
Araxá
me
invocam,
me
bouleversam,
me
hipnotizam.
Oh,
as
três
mulheres
do
sabonete
Araxá
às
4
horas
da
tarde!
O
meu
reino
pelas
três
mulheres
do
sabonete
Araxá!
Que
outros,
não
eu,
a
pedra
cortem
Para
brutais
vos
adorarem,
Ó
brancaranas
azedas,
Mulatas
cor
da
lua
vem
saindo
cor
de
prata
Oh
celestes
africanas:
Que
eu
vivo,
padeço
e
morro
só
pelas
três
mulheres
do
Sabonete
Araxá!
São
amigas,
são
irmãs,
são
amantes
as
três
mulheres
do
Sabonete
Araxá?
São
prostitutas,
são
declamadoras,
são
acrobatas?
São
as
três
Marias?
Meu
Deus,
serão
as
três
Marias?
A
mais
nua
é
doirada
borboleta.
Se
a
segunda
casasse,
eu
ficava
safado
da
vida,
dava
pra
beber
e
nunca
mais
telefonava.
Mas
se
a
terceira
morresse...
Oh,
então
nunca
mais
a
minha
vida
outrora
teria
sido
um
festim!
Se
me
perguntassem:
Queres
ser
estrela?
queres
ser
rei?
Queres
uma
ilha
no
Pacífico?
Um
bangalô
em
Copacabana?
Eu
responderia:
Não
quero
nada
disso,
tetrarca.
Eu
só
quero
as
três
mulheres
do
sabonete
Araxá:
O
meu
reino
pelas
três
mulheres
do
sabonete
Araxá!
Poema
de
Manuel
Bandeira,
escolhido
por
Vaco
Graça
Moura
20. Nejar,
Carlos
(Seleção)
Antologia
da
poesia
brasileira
contemporânea
1ª
ed
Lisboa,
Imprensa
Nacional
–
Casa
da
Moeda,
1986
O
Fogo
no
Canavial
A
imagem
mais
viva
do
inferno.
Eis
o
fogo
em
todos
seus
vícios:
eis
a
ópera,
o
ódio,
o
energúmeno,
a
voz
rouca
de
fera
em
cio.
E
contagioso,
como
outrora
foi,
e
hoje
não
é
mais,
o
inferno:
ele
se
catapulta,
exporta,
em
brulotes
de
curso
aéreo,
em
petardos
que
se
disparam
sem
pontaria,
intransitivos;
mas
que
queimada
a
palha
dormem,
bêbados,
curtindo
seu
litro.
(O
inferno
foi
fogo
de
vista,
ou
de
palha,
queimou
as
saias:
deixou
nua
a
perna
da
cana,
despiu-‐a,
mas
sem
deflorá-‐la).
Poema
de
João
Cabral
de
Melo
Neto
escolhido
por
Carlos
Nejar
21. Oliveira,
José
Alberto;
Mendonça,
José
Tolentino;
Queirós,
Luís
Miguel
Queirós;
Freitas,
Manuel
de
(Seleção)
Resumo
–
a
poesia
em
2010
Lisboa,
Assírio
e
Alvim,
2010
ISBN
978-‐972-‐37-‐1584-‐2
Acto
de
ler
O
acto
de
ler
reabre
feridas.
Nos
livros
em
que
isso
acontece,
com
frequência,
poderia
ao
menos
haver
um
aviso
na
capa;
assim
como
se
faz
com
as
carteiras
de
tabaco,
embora
se
saiba
que
poucos
deixam
de
fumar
por
isso.
Poema
de
Teresa
Jardim
22. Pedrosa,
Inês
(Organização
e
Prefácio)
Poemas
de
Amor
-‐
Antologia
de
poesia
portuguesa
9ª
ed
Lisboa:
Dom
Quixote,
2007
ISBN
978-‐972-‐20-‐1944-‐9
Quando
o
Amor
Morrer
Dentro
de
Ti
Ao
Manuel
Torre
do
Valle
Quando
o
amor
morrer
dentro
de
ti,
Caminha
para
o
alto
onde
haja
espaço,
E
com
o
silêncio
outrora
pressentido
Molda
em
duas
colunas
os
teus
braços.
Relembra
a
confusão
dos
pensamentos,
E
neles
ateia
o
fogo
adormecido
Que
uma
vez,
sonho
de
amor,
teu
peito
ferido
Espalhou
generoso
aos
quatro
ventos.
Aos
que
passarem
dá-‐lhes
o
abrigo
E
o
nocturno
calor
que
se
debruça
Sobre
as
faces
brilhantes
de
soluços.
E
se
ninguém
vier,
ergue
o
sudário
Que
mil
saudosas
lágrimas
velaram;
Desfralda
na
tua
alma
o
inventário
Do
templo
onde
a
vida
ora
de
bruços
A
Deus
e
aos
sonhos
que
gelaram.
Poema
de
Ruy
Cinatti,
escolhido
por
Inês
Pedrosa
23. Pupo,
Inês
(Organização)
101
poetas
-‐
Iniciação
à
poesia
em
língua
portuguesa
4ª
ed
Lisboa,
Editorial
Caminho,
2007
ISBN
978-‐972-‐21-‐1889-‐7
Ouves,
meu
amor
Ouves,
meu
amor,
a
água
que
brotou
No
côncavo
da
pedra
que
a
tua
mão
marcou?
Ouves,
meu
amor,
o
passo
do
veado
Correndo
no
caminho
que
só
por
nós
pisado?
Entendes,
meu
amor,
a
voz
que
fala
agora
Do
tempo
que
esperou,
da
lenta
e
só
demora?
Já
era
onde
nós
somos
a
nossa
paz
presente.
Só
nós
entrámos
nela
e
a
agora
é
que
se
sente.
Alumiam-‐se
as
noites,
Deméter
aparece,
Tu
sentas-‐te
a
meu
lado
e
o
trigo
reverdece.
Poema
de
Pedro
Tamen
escolhido
por
Inês
Pupo
24. Soares,
Mário
(Seleção)
Os
poemas
da
minha
vida
2ª
ed
Lisboa,
Público,
2005
ISBN
972-‐8892-‐39-‐X
Não
Posso
Adiar
o
coração
Não
posso
adiar
o
amor
Não
posso
adiar
o
amor
para
outro
século
não
posso
ainda
que
o
grito
sufoque
na
garganta
ainda
que
o
ódio
estale
e
crepite
e
arda
sob
montanhas
cinzentas
e
montanhas
cinzentas
Não
posso
adiar
este
abraço
que
é
uma
arma
de
dois
gumes
amor
e
ódio
Não
posso
adiar
ainda
que
a
noite
pese
séculos
sobre
as
costas
e
a
aurora
indecisa
demore
não
posso
adiar
para
outro
século
a
minha
vida
nem
o
meu
amor
nem
o
meu
grito
de
libertação
Não
posso
adiar
o
coração
Poema
de
António
Ramos
Rosa
escolhido
por
Mário
Soares
25. Veiga,
Miguel
(Seleção)
Os
poemas
da
minha
vida
2ª
ed
Lisboa,
Público,
2005
ISBN
972-‐8892-‐41-‐1
GLOSA
DE
GUIDO
CAVALCANTI
“Perchi’
I’
no
spero
di
tornar
giammai”
Porque
não
espero
de
jamais
voltar
à
terra
em
que
nasci;
porque
não
espero,
ainda
que
volte,
de
encontra-‐la
pronta
a
conhecer-‐me
como
agora
sei
que
eu
a
conheço;
porque
não
espero
sofrer
saudades,
ou
perder
a
conta
dos
dias
que
vivi
sem
a
lembrar;
porque
não
espero
nada,
e
morrerei
no
exílio
sempre,
mas
fiel
ao
mundo,
já
que
de
nenhum
outro
morro
exilado;
porque
não
espero,
do
meu
poço
fundo,
olhar
o
céu
e
ver
mais
que
azulado
esse
ar
que
ainda
respiro,
esse
ar
imundo
por
quantos
que
me
ignoram
respirado;
porque
não
espero,
espero
contentado.
Poema
de
Jorge
de
Sena
escolhido
por
Miguel
Veiga
26.
27.
OBRAS
DE
AUTOR
28.
29. Alba,
Sebastião
A
noite
dividida
1ª
ed
Lisboa:
Assírio
e
Alvim,
1996
ISBN
972-‐37-‐0188-‐X
Ninguém
meu
amor
Ninguém
meu
amor
ninguém
como
nós
conhece
o
sol
Podem
utilizá-‐lo
nos
espelhos
apagar
com
ele
os
barcos
de
papel
dos
nossos
lagos
podem
obrigá-‐lo
a
parar
à
entrada
das
casas
mais
baixas
podem
ainda
fazer
com
que
a
noite
gravite
hoje
do
mesmo
lado
Mas
ninguém
meu
amor
ninguém
como
nós
conhece
o
sol
Até
que
o
sol
degole
o
horizonte
em
que
um
a
um
nos
deitam
vendando-‐nos
os
olhos.
30. Alegre,
Manuel
Obra
poética
1ª
ed
Lisboa:
Dom
Quixote,
1999
ISBN
972-‐20-‐1610-‐5
Uma
flor
de
verde
pinho
Eu
podia
chamar-‐te
pátria
minha
dar-‐te
o
mais
lindo
nome
português
podia
dar-‐te
um
nome
de
rainha
que
este
amor
é
de
Pedro
por
Inês.
Mas
não
há
forma
não
há
verso
não
há
leito
para
este
fogo
amor
para
este
rio.
Como
dizer
um
coração
fora
do
peito?
Meu
amor
transbordou.
E
eu
sem
navio.
Gostar
de
ti
é
um
poema
que
não
digo
que
não
há
taça
amor
para
este
vinho
não
há
guitarra
nem
cantar
de
amigo
não
há
flor
não
há
flor
de
verde
pinho.
Não
há
barco
nem
trigo
não
há
trevo
não
há
palavras
para
dizer
esta
canção.
Gostar
de
ti
é
um
poema
que
não
escrevo.
Que
há
um
rio
sem
leito.
E
eu
sem
coração.
31. Alegre,
Manuel
País
de
Abril
–
Uma
antologia
1ª
ed
Lisboa:
Dom
Quixote,
2014
ISBN
978-‐972-‐20-‐5450-‐8
As
mãos
Com
mãos
se
faz
a
paz
se
faz
a
guerra
Com
mãos
tudo
se
faz
e
se
desfaz
Com
mãos
se
faz
o
poema
─
e
são
de
terra.
Com
mãos
se
faz
a
guerra
─
e
são
a
paz.
Com
mãos
se
rasga
o
mar.
Com
mãos
se
lavra.
Não
são
de
pedra
estas
casas
mas
de
mãos.
E
estão
no
fruto
e
na
palavra
as
mãos
que
são
o
canto
e
são
as
armas.
E
cravam-‐se
no
Tempo
como
farpas
as
mãos
que
vês
nas
coisas
transformadas.
Folhas
que
vão
no
vento:
verdes
harpas.
De
mãos
é
cada
flor
cada
cidade.
Ninguém
pode
vencer
estas
espadas:
nas
tuas
mãos
começa
a
liberdade.
32. Aleixo,
António
Este
livro
que
vos
deixo
–
2
volumes
Vol.
I
–
11ªed
Vol.
II
–
7ª
ed.
Lisboa,
Editorial
Notícias,
1994
–
1996
I
Vol.
I
–
ISBN
972-‐46-‐0539-‐6
Vol.
II
–
ISBN
972-‐46-‐0528-‐0
Porque
o
Povo
Diz
Verdades
Porque
o
povo
diz
verdades,
Tremem
de
medo
os
tiranos,
Pressentindo
a
derrocada
Da
grande
prisão
sem
grades
Onde
há
já
milhares
de
anos
A
razão
vive
enjaulada.
Vem
perto
o
fim
do
capricho
Dessa
nobreza
postiça,
Irmã
gémea
da
preguiça,
Mais
asquerosa
que
o
lixo.
Já
o
escravo
se
convence
A
lutar
por
sua
prol
Já
sabe
que
lhe
pertence
No
mundo
um
lugar
ao
sol.
Do
céu
não
se
quer
lembrar,
Já
não
se
deixa
roubar,
Por
medo
ao
tal
satanás,
Já
não
adora
bonecos
Que,
se
os
fazem
em
canecos,
Nem
dão
estrume
capaz.
Mostra-‐lhe
o
saber
moderno
Que
levou
a
vida
inteira
Preso
àquela
ratoeira
Que
há
entre
o
céu
e
o
inferno.
33. Alighieri,
Dante
Tradução
de
Vasco
Graça
Moura
A
divina
comédia
5ª
ed
Venda
Nova
:
Bertrand,
2000
ISBN
972-‐25-‐0963-‐2
Como
as
rãs
quando
em
frente
da
inimiga
bicha
pela
água
todas
vão
fugidas,
até
que
a
cada
uma
a
terra
abriga,
vi
eu
mais
de
mil
almas
destruídas
assim
fugir
em
frente
a
um
que
a
passo
passava
o
‘Stígio
enxuto
e
o
vulto
as
bridas
do
ar
denso
removia
nesse
espaço.
A
esquerda
mão
lhe
precedia
a
face,
e
só
dessa
fadiga
o
julguei
lasso.
Logo
entendi
que
o
céu
o
enviasse
e
ao
mestre
me
voltei;
sinal
me
vem
de
que
ficasse
quedo
e
me
inclinasse.
Ah
como
o
vi
tão
cheio
de
desdém!
Chegou
à
porta
e
com
uma
vareta
a
abriu
e
a
isso
não
se
opôs
ninguém.
“Ó
expulsos
do
céu,
ó
gente
abjecta”,
começou
nesse
horrendo
limiar,
“esta
arrogância
em
vós
de
que
se
infecta?
Porque
à
vontade
heis
de
recalcitrar
à
qual
os
fins
não
podem
ser
truncados,
e
que
a
dor
já
vos
soube
acrescentar?
De
que
vos
serve
resistir
aos
fados?
Bem
o
Cerbero
vosso
vos
recorda,
que
o
mento
e
a
gorja
traz
pelados.”
E
eis
na
estrada
se
voltou
à
borda,
e
a
nós
não
se
moveu,
mas
fez
semblante
de
quem
outro
cuidar
anime
e
morda
que
o
desses
que
ele
tinha
por
diante;
e
nós
fomos,
seguros,
pés
em
terra,
tais
as
santas
palavras
nesse
instante.
34. Andrade,
Eugénio
de
Obras
de
Eugénio
de
Andrade
27
volumes
Porto,
Fundação
Eugénio
de
Andrade
Poema
à
Mãe
No
mais
fundo
de
ti,
eu
sei
que
traí,
mãe
Tudo
porque
já
não
sou
o
retrato
adormecido
no
fundo
dos
teus
olhos.
Tudo
porque
tu
ignoras
que
há
leitos
onde
o
frio
não
se
demora
e
noites
rumorosas
de
águas
matinais.
Por
isso,
às
vezes,
as
palavras
que
te
digo
são
duras,
mãe,
e
o
nosso
amor
é
infeliz.
Tudo
porque
perdi
as
rosas
brancas
que
apertava
junto
ao
coração
no
retrato
da
moldura.
Se
soubesses
como
ainda
amo
as
rosas,
talvez
não
enchesses
as
horas
de
pesadelos.
Mas
tu
esqueceste
muita
coisa;
esqueceste
que
as
minhas
pernas
cresceram,
que
todo
o
meu
corpo
cresceu,
e
até
o
meu
coração
ficou
enorme,
mãe!
Olha
—
queres
ouvir-‐me?
—
às
vezes
ainda
sou
o
menino
que
adormeceu
nos
teus
olhos;
ainda
aperto
contra
o
coração
rosas
tão
brancas
como
as
que
tens
na
moldura;
ainda
oiço
a
tua
voz:
Era
uma
vez
uma
princesa
no
meio
de
um
laranjal...
Mas
—
tu
sabes
—
a
noite
é
enorme,
e
todo
o
meu
corpo
cresceu.
Eu
saí
da
moldura,
dei
às
aves
os
meus
olhos
a
beber,
Não
me
esqueci
de
nada,
mãe.
Guardo
a
tua
voz
dentro
de
mim.
E
deixo-‐te
as
rosas.
Boa
noite.
Eu
vou
com
as
aves.
35. Andrade,
Eugénio
Aquela
Nuvem
e
Outras
Porto,
Porto
Editora,
2014
ISBN:
978-‐972-‐0-‐72682-‐7
Não
quero,
não
Não
quero,
não
quero,
não,
ser
soldado
nem
capitão.
Quero
um
cavalo
só
meu,
seja
baio
ou
alazão,
sentir
o
vento
na
cara,
sentir
a
rédea
na
mão.
Não
quero,
não
quero,
não,
ser
soldado
nem
capitão.
Não
quero
muito
do
mundo:
quero
saber-‐lhe
a
razão,
sentir-‐me
dono
de
mim,
ao
resto
dizer
que
não.
Não
quero,
não
quero,
não,
ser
soldado
nem
capitão.
Existe
um
conjunto
de
14
livros
disponíveis
Existem
outras
edições
de
obras
do
autor,
disponíveis
na
Biblioteca
36. Andresen,
Sophia
de
Mello
Breyner
Geografia
1ª
ed
Lisboa
:
Salamandra,
1990
ISBN
972-‐689—092-‐2
Esta
Gente
Esta
gente
cujo
rosto
Às
vezes
luminoso
E
outras
vezes
tosco
Ora
me
lembra
escravos
Ora
me
lembra
reis
Faz
renascer
meu
gosto
De
luta
e
de
combate
Contra
o
abutre
e
a
cobra
O
porco
e
o
milhafre
Pois
a
gente
que
tem
O
rosto
desenhado
Por
paciência
e
fome
É
a
gente
em
quem
Um
país
ocupado
Escreve
o
seu
nome
E
em
frente
desta
gente
Ignorada
e
pisada
Como
a
pedra
do
chão
E
mais
do
que
a
pedra
Humilhada
e
calcada
Meu
canto
se
renova
E
recomeço
a
busca
De
um
país
liberto
De
uma
vida
limpa
E
de
um
tempo
justo
37. Andresen,
Sophia
de
Mello
Breyner
Obra
poética
–
3
volumes
Vol.
I
-‐
5ª
ed
–
1999
Vol.
II
–
2ª
ed
–
1995
Vol.
III
–
2ª
ed
-‐
1996
Lisboa
:
Caminho,
1998
Vol.
I
-‐
ISBN
972-‐21-‐0532-‐9
Vol.
II
-‐
ISBN
972-‐21-‐0572-‐8
Vol.
III
–
ISBN
972-‐21-‐0278-‐8
Para
atravessar
contigo
o
deserto
do
mundo
Para
atravessar
contigo
o
deserto
do
mundo
Para
enfrentarmos
juntos
o
terror
da
morte
Para
ver
a
verdade
para
perder
o
medo
Ao
lado
dos
teus
passos
caminhei
Por
ti
deixei
meu
reino
meu
segredo
Minha
rápida
noite
meu
silêncio
Minha
pérola
redonda
e
seu
oriente
Meu
espelho
minha
vida
minha
imagem
E
abandonei
os
jardins
do
paraíso
Cá
fora
à
luz
sem
véu
do
dia
duro
Sem
os
espelhos
vi
que
estava
nua
E
ao
descampado
se
chamava
tempo
Por
isso
com
teus
gestos
me
vestiste
E
aprendi
a
viver
em
pleno
vento
38. Belo,
Ruy
Todos
os
Poemas
3ª
ed
Lisboa:
Assírio
&
Alvim,
2009
ISBN:
978-‐972-‐37-‐1417-‐3
E
tudo
era
possível
Na
minha
juventude
antes
de
ter
saído
da
casa
de
meus
pais
disposto
a
viajar
eu
conhecia
já
o
rebentar
do
mar
das
páginas
dos
livros
que
já
tinha
lido
Chegava
o
mês
de
maio
era
tudo
florido
o
rolo
das
manhãs
punha-‐se
a
circular
e
era
só
ouvir
o
sonhador
falar
da
vida
como
se
ela
houvesse
acontecido
E
tudo
se
passava
numa
outra
vida
e
havia
para
as
coisas
sempre
uma
saída
Quando
foi
isso?
Eu
próprio
não
o
sei
dizer
Só
sei
que
tinha
o
poder
duma
criança
entre
as
coisas
e
mim
havia
vizinhança
e
tudo
era
possível
era
só
querer
39. Bocage,
Manuel
Maria
Barbosa
du
Hernâni
Cidade,
Director
de
publicação
Opera
Omnia:
Sonetos
Lisboa,
Bertrand,
1969
Já
Bocage
não
sou!...
À
cova
escura
Já
Bocage
não
sou!...
À
cova
escura
Meu
estro
vai
parar
desfeito
em
vento...
Eu
aos
céus
ultrajei!
O
meu
tormento
Leve
me
torne
sempre
a
terra
dura.
Conheço
agora
já
quão
vã
figura
Em
prosa
e
verso
fez
meu
louco
intento.
Musa!...
Tivera
algum
merecimento,
Se
um
raio
da
razão
seguisse,
pura!
Eu
me
arrependo;
a
língua
quase
fria
Brade
em
alto
pregão
à
mocidade,
Que
atrás
do
som
fantástico
corria:
Outro
Aretino
fui...
A
santidade
Manchei!...
Oh!
Se
me
creste,
gente
ímpia,
Rasga
meus
versos,
crê
na
eternidade!
Obs:
Existe
na
Biblioteca
outra
edição
desta
obra
40. Botto,
António
As
canções
de
António
Botto
18ª
ed
Lisboa:
Presença,
1999
ISBN
972-‐23-‐2544-‐2
Ironia
Se
a
noite
fosse
mais
negra,
-‐-‐Quero
dizer,
mais
sombria!,
Agora
que
me
encontraste
E
que
me
dás
o
teu
braço
Para
falarmos,
de
novo,
No
que
dissemos,
um
dia!...
Se
a
noite
fosse
mais
negra!,
E
se
as
estrelas
brilhassem
Com
menos
intensidade,
Sim,
não
duvides,
eu
diria...,
-‐-‐
Mas
não
me
fites
assim!
Diria
que
és
o
meu
sonho
E
a
minha
realidade.
Mas
esta
luz
que
se
entorna
Intimida
o
meu
sentir
E
fico,
mudo,
a
sofrer...
-‐-‐Também
a
gente
nunca
sabe
Se
a
verdade
no
amor
Se
deve
calar
ou
dizer.
41. Braga,
Jorge
de
Sousa
Balas
de
Pólen
1ª
ed
Vila
Nova
de
Famalicão:
Quasi
Edições,
2001
ISBN
972-‐8632-‐12-‐6
Carta
de
Amor
A
Eugénio
de
Andrade
Um
dia
destes
vou-‐te
matar
Uma
manhã
qualquer
em
que
estejas
(como
de
costume)
a
medir
o
tesão
das
flores
ali
no
Jardim
de
S.
Lázaro
um
tiro
de
pistola
e...
Não
te
vou
dar
tempo
sequer
de
me
fixares
o
rosto
podes
invocar
Safo,
Cavafy
ou
S.
João
da
Cruz
todos
os
poetas
celestiais
que
ninguém
te
virá
acudir
Comprometidos
definitivamente
os
teus
planos
de
eternidade
Adeus
pois
mares
de
Setembro
e
dunas
de
Fão
Um
dia
destes
vou-‐te
matar...
Uma
certeira
bala
de
pólen
mesmo
sobre
o
coração
42. Camões,
Luís
de
Os
Lusíadas
Comentários
de
José
Hermano
Saraiva
Ilustrações
de
Pedro
Proença
Contos
originais
de
diversos
autores
10
volumes
1ª
ed
Lisboa:
Expresso,
2003
ISBN
972-‐9183-‐15-‐5
As
armas
e
os
barões
assinalados
Que
da
Ocidental
praia
Lusitana,
Por
mares
nunca
dantes
navegados
Passaram
ainda
além
da
Taprobana,
Em
perigos
e
guerras
esforçados
Mais
do
que
prometia
a
força
humana
E
entre
gente
remota
edificaram
Novo
Reino,
que
tanto
sublimaram;
E
também
as
memórias
gloriosas
Daqueles
Reis
que
foram
dilatando
A
Fé,
o
Império,
e
as
terras
viciosas
De
África
e
de
Ásia
andaram
devastando,
E
aqueles
que
por
obras
valerosas
Se
vão
da
lei
da
Morte
libertando
Cantando
espalharei
por
toda
a
parte
Se
a
tanto
me
ajudar
o
engenho
e
arte.
Obs:
Existem
na
Biblioteca
diversas
edições
de
“Os
Lusíadas”
43. Camões,
Luís
de
Poesia
lírica
Lisboa,
Ulisseia,
1984
Amor
é
Fogo
que
Arde
sem
se
Ver
Amor
é
fogo
que
arde
sem
se
ver;
É
ferida
que
dói,
e
não
se
sente;
É
um
contentamento
descontente;
É
dor
que
desatina
sem
doer.
É
um
não
querer
mais
que
bem
querer;
É
um
andar
solitário
entre
a
gente;
É
nunca
contentar-‐se
e
contente;
É
um
cuidar
que
ganha
em
se
perder;
É
querer
estar
preso
por
vontade;
É
servir
a
quem
vence,
o
vencedor;
É
ter
com
quem
nos
mata,
lealdade.
Mas
como
causar
pode
seu
favor
Nos
corações
humanos
amizade,
Se
tão
contrário
a
si
é
o
mesmo
Amor?
44. Caminha,
P.
de
Andrade
Poesias
Inéditas
de
P.
de
Andrade
Caminha
Publicadas
pelo
Dr.
J.
Priebsch
Lisboa
Imprensa
Nacional
Casa
da
Moeda,
1989
Reprodução
em
fac-‐símile
do
exemplar
com
data
de
1898
da
Biblioteca
Nacional
Soneto
I
De
Amor
escrevo,
de
Amor
falo
e
canto;
E
se
minha
voz
fosse
igual
ao
que
amo,
Esperara
eu
sentir
na
que
em
vão
chamo
Piedade,
e
na
gente
dor
e
espanto.
Mas
não
há
pena,
ou
língua,
ou
voz,
ou
canto
Que
mostre
o
amor
por
que
eu
tudo
desamo,
Nem
o
vivo
fogo
em
que
me
sempre
inflamo,
Nem
de
meus
olhos
o
contino
pranto.
Assi
me
vou
morrendo,
sem
ser
crida
A
causa
por
que
em
vão
mouro
contente,
Nem
sei
se
isto
que
passo
é
vida
ou
morte.
Mas
inda
da
que
eu
amo
fosse
ouvida
E
crida
minha
voz,
e
da
vã
gente
Nunca
entendida
fosse
minha
sorte!
45. Correia,
Natália
Poesia
Completa
–
Natália
Correia
2ª
ed.
Lisboa:
Dom
Quixote,
2000
ISBN
972-‐20-‐1642-‐3
O
Poema
O
poema
não
é
o
canto
que
do
grilo
para
a
rosa
cresce.
O
poema
é
o
grilo
é
a
rosa
e
é
aquilo
que
cresce.
É
o
pensamento
que
exclui
uma
determinação
na
fonte
donde
ele
flui
e
naquilo
que
descreve.
O
poema
é
o
que
no
homem
para
lá
do
homem
se
atreve.
Os
acontecimentos
são
pedras
e
a
poesia
transcendê-‐las
na
já
longínqua
noção
de
descrevê-‐las.
E
essa
própria
noção
é
só
uma
saudade
que
se
desvanece
na
poesia.
Pura
intenção
de
cantar
o
que
não
conhece.
46. Cruz,
Gastão
Repercussão
1ª
ed
Lisboa,
Assírio
e
Alvim,
2004
ISBN
972-‐37-‐0904-‐X
A
COLHER
Reabro
uma
gaveta
da
infância
e
encontro
a
colher
em
desuso
caída
a
sopa
lentamente
se
escoando
no
prato
fundo:
a
vida
em
certos
dias
tinha
a
forma
daquele
objecto
antigo
tocando-‐me
nos
lábios
com
um
calor
excessivo
47. Elísio,
Filinto
Obras
completas
de
Filinto
Elísio
Edição
de
Fernando
Moreira
Braga
:
APPACDM,
1998
1ª
ed
ISBN
972-‐8424-‐27-‐2
Usos
Deste
Mundo
Nas
praças
uns
perguntam
novidades;
Outros
dão
volta
às
ruas,
ao
namoro;
Este
usuras
cobrar,
esse
as
demandas
Lembrar
corre
ao
Juiz
que
se
diverte.
Ir
de
Jano
aprender
a
ser
bifronte,
De
Mercúrio,
no
trato,
a
ser
bilingue,
Franco
no
prometer,
no
dar
escasso.
C'os
olhos
fitos
no
ávido
interesse
Ser
consigo
leal,
com
todos
falso
É
ser
homem
capaz,
home'
entendido.
Assim,
que
vemos
nós
por
este
esconso
Mundo?
Vemos
logrões,
vemos
logrados;
Ninguém
vês
ir
com
cândido
desejo
Aos
Sénecas,
aos
Sócrates
de
agora
Perguntar
as
lições
tão
necessárias
De
ser
honrado,
ser
com
todos
justo.
Tão
sobejos
se
crêem
de
honra
e
virtude,
Que
cuida
cada
um
poder
de
sobra
Mostrar
na
Ocasião
virtude
a
rodo,
E
chega
a
Ocasião,
falha
a
virtude.
48. Espanca,
Florbela
Poesia
–
2
volumes
1º
v.:
Poesia
1903-‐1917;
2º
v.:
Poesia
1918-‐1930,
4ª
ed
Lisboa
:
Dom
Quixote,
1992
ISBN
972-‐20-‐0533-‐7
Triste
destino
Quando
às
vezes
o
mar
soluça
tristemente
A
praia
abre-‐lhe
os
braços
e
deixa-‐o
a
gemer;
Embala-‐o
com
amor,
de
leve,
docemente,
E
canta-‐lhe
cantigas
p’ra
adormecer!
Quando
o
Outono
leva
a
folha
rendilhada,
O
vestido
real
da
branda
Primavera,
O
rio
abre-‐lhe
os
braços
e
leva
amortalhada
A
pequenina
folha,
essa
ideal
quimera!
O
sol,
agonizante
e
quase
moribundo,
Estende
os
braços
nus,
alegre,
para
o
mundo
Que
o
faz
amortalhar
em
púrpura
de
lenda!
O
sol,
a
folha,
o
mar
tudo
é
feliz!
Mas
eu
Busco
a
mortalha
minha
até
no
alto
céu!
E
nem
a
cruz
p’ra
mim
tem
braços
que
m’estenda!
49. Espanca,
Florbela
Poesia
Completa
-‐
Florbela
Espanca
1ª
ed.
Páginas:
400
Lisboa:
Dom
Quixote,
2000
ISBN:
972-‐20-‐1756-‐X
Ser
Poeta
Ser
poeta
é
ser
mais
alto,
é
ser
maior
Do
que
os
homens!
Morder
como
quem
beija!
É
ser
mendigo
e
dar
como
quem
seja
Rei
do
Reino
de
Aquém
e
de
Além
Dor!
É
ter
de
mil
desejos
o
esplendor
E
não
saber
sequer
que
se
deseja!
É
ter
cá
dentro
um
astro
que
flameja,
É
ter
garras
e
asas
de
condor!
É
ter
fome,
é
ter
sede
de
Infinito!
Por
elmo,
as
manhãs
de
oiro
e
cetim…
É
condensar
o
mundo
num
só
grito!
E
é
amar-‐te,
assim,
perdidamente…
É
seres
alma
e
sangue
e
vida
em
mim
E
dizê-‐lo
cantando
a
toda
a
gente!
50. Ferreira,
José
Gomes
Poeta
Militante
–
Obra
poética
completa
2
volumes
1º
Vol.
3ª
ed,
1977;
2º
vol.
2ª
ed,
1983
Lisboa:
Morais
Editores
Viver
Sempre
também
Cansa
Viver
sempre
também
cansa.
O
sol
é
sempre
o
mesmo
e
o
céu
azul
ora
é
azul,
nitidamente
azul,
ora
é
cinzento,
negro,
quase-‐verde...
Mas
nunca
tem
a
cor
inesperada.
O
mundo
não
se
modifica.
As
árvores
dão
flores,
folhas,
frutos
e
pássaros
como
máquinas
verdes.
As
paisagens
também
não
se
transformam.
Não
cai
neve
vermelha,
não
há
flores
que
voem,
a
lua
não
tem
olhos
e
ninguém
vai
pintar
olhos
à
lua.
Tudo
é
igual,
mecânico
e
exacto.
Ainda
por
cima
os
homens
são
os
homens.
Soluçam,
bebem,
riem
e
digerem
sem
imaginação.
Existe
uma
outra
edição
(Dom
Quixote)
disponível
na
Biblioteca.
51. Gama,
Sebastião
da
Cabo
da
Boa
Esperança
3ª
ed
Lisboa,
Edições
Ática,
1993
ISBN
972-‐617-‐097-‐4
Meu
País
Desgraçado
Meu
país
desgraçado!…
E
no
entanto
há
Sol
a
cada
canto
e
não
há
Mar
tão
lindo
noutro
lado.
Nem
há
Céu
mais
alegre
do
que
o
nosso,
nem
pássaros,
nem
águas…
Meu
país
desgraçado!…
Porque
fatal
engano?
Que
malévolos
crimes
teus
direitos
de
berço
violaram?
Meu
Povo
de
cabeça
pendida,
mãos
caídas,
de
olhos
sem
fé
—
busca,
dentro
de
ti,
fora
de
ti,
aonde
a
causa
da
miséria
se
te
esconde.
E
em
nome
dos
direitos
que
te
deram
a
terra,
o
Sol,
o
Mar,
fere-‐a
sem
dó
com
o
lume
do
teu
antigo
olhar.
Alevanta-‐te,
Povo!
Ah!,
visses
tu,
nos
olhos
das
mulheres,
a
calada
censura
que
te
reclama
filhos
mais
robustos!
Povo
anémico
e
triste,
meu
Pedro
Sem
sem
forças,
sem
haveres!
—
olha
a
censura
muda
das
mulheres!
Vai-‐te
de
novo
ao
Mar!
Reganha
tuas
barcas,
tuas
forças
e
o
direito
de
amar
e
fecundar
as
que
só
por
Amor
te
não
desprezam!
52. Gama,
Sebastião
da
Itinerário
Paralelo
Lisboa,
Edições
Ática,
1986
À
MEMÓRIA
DE
ALBERTO
CAEIRO
Agora
sim,
que
fechei
o
livro
de
Poesia.
O
Sol
deixou
de
ser
uma
metáfora
para
ser
o
Sol.
Os
sentimentos
deixaram
de
ser
apenas
palavras.
Tudo
é
de
verdade,
agora
que
fechei
o
livro
de
Poesia
[e
olhei
de
frente
quanto
existe.
Porque
diabo
me
ensinaram
a
ler?
(Se
não
soubesse
ler
nem
sequer
fechava
o
livro,
insa-‐
[tisfeito
porque
o
não
tinha
aberto.)
Porque
me
não
deixaram
sempre
agreste
e
criança?
As
minhas
leituras
seriam
todas
fora
dos
livros.
Havia
de
olhar
para
tudo
com
uma
alegria
tão
grande,
[com
uma
virgindade
tão
grande,
que
até
Deus
sorriria
contente
de
ter
feito
o
Mundo...
53. Gama,
Sebastião
da
Serra-‐Mãe
7ª
ed
Lisboa,
Edições
Ática,
1996
ISBN
972-‐617-‐002-‐8
Poema
da
minha
esperança
Que
bom
ter
o
relógio
adiantado!...
A
gente
assim,
por
saber
que
tem
sempre
tempo
a
mais,
não
se
rala
nem
se
apressa.
O
meu
sorriso
de
troça,
Amigos!,
quando
vejo
o
meu
relógio
com
três
quartos
de
hora
a
mais!...
Tic-‐tac...
Tic-‐tac...
(Lá
pensa
ele
que
é
já
o
fim
dos
meus
dias.)
Tic-‐tac...
(Como
eu
rio,
cá
p'ra
dentro,
de
esta
coisa
divertida:
ele
a
julgar
que
é
já
o
resto
e
eu
a
saber
que
tenho
sempre
mais
três
quartos
de
hora
de
vida.)
54. Garabatus,
Joannes,
Frey
(Pseudónimo
do
escritor
António
Quadros)
As
quybyrycas
:
poema
étbyco
em
outavas
que
corre
como
sendo
de
Luiz
Vaaz
de
Camões
em
suspeitissima
atribuiçon
/
de
Frey
Joannes
Garabatus
;
pref.
[de]
Jorge
de
Sena
Porto
:
Afrontamento,
1991
ISBN
972-‐36-‐0265-‐2
I
Altos
fados
invoco
e
esconjuro
porque
me
dando
ânimo
me
dêem
para
esta
empresa
rútilo
e
seguro
génio
de
meu
ofício
-‐
o
que
não
vêem
quem
me
quisera
ver
pobre
imaturo.
Invoco
os
fados
não
porque
detêm
maior
poder
que
o
meu
neste
meu
passo
mas
só
porque
é
galante
o
quero
e
o
faço.
55. Garrett,
Almeida
Camões
:
Poema
em
dez
cantos
Porto:
Domingos
Barreira,
[s.d.]
Camões
Canto
Primeiro
Saudade!,
gosto
amargo
de
infelizes,
Delicioso
pungir
de
acerbo
espinho,
Que
me
estás
repassando
o
íntimo
peito
Com
dor
que
os
seios
d'alma
dilacera,
—
Mas
dor
que
tem
prazeres
—
Saudade!
Misterioso
nume,
que
aviventas
Corações
que
estalaram,
e
gotejam
Não
já
sangue
de
vida,
mas
delgado
Soro
de
estanques
lágrimas
—
Saudade!
Mavioso
nome
que
tão
meigo
soas
Nos
lusitanos
lábios,
não
sabido
Das
orgulhosas
bocas
dos
Sicambros
Destas
alheias
terras.
—
Oh
Saudade!
56. Garrett,
Almeida
Folhas
caídas
2ª
ed
Lisboa:
Europa-‐América,
1987
ISBN
972-‐1-‐02783-‐9
Este
Inferno
de
Amar
Este
inferno
de
amar
-‐
como
eu
amo!
-‐
Quem
mo
pôs
aqui
n'alma...
quem
foi?
Esta
chama
que
alenta
e
consome,
Que
é
a
vida
-‐
e
que
a
vida
destrói
-‐
Como
é
que
se
veio
a
atear,
Quando
-‐
ai
quando
se
há-‐de
ela
apagar?
Eu
não
sei,
não
me
lembra:
o
passado,
A
outra
vida
que
dantes
vivi
Era
um
sonho
talvez...
-‐
foi
um
sonho
-‐
Em
que
paz
tão
serena
a
dormi!
Oh!
que
doce
era
aquele
sonhar...
Quem
me
veio,
ai
de
mim!
despertar?
Só
me
lembra
que
um
dia
formoso
Eu
passei...
dava
o
sol
tanta
luz!
E
os
meus
olhos,
que
vagos
giravam,
Em
seus
olhos
ardentes
os
pus.
Que
fez
ela?
eu
que
fiz?
-‐
Não
no
sei;
Mas
nessa
hora
a
viver
comecei...
57. Garrett,
Almeida
Romanceiro
(3
Volumes)
1ª
ed
Lisboa:
Editorial
Estampa,
1983
Bela
Infanta
Estava
a
bela
infanta
No
seu
jardim
assentada,
Com
o
pente
de
oiro
fino
Seus
cabelos
penteava.
Deitou
os
olhos
ao
mar
Viu
vir
uma
nobre
armada;
Capitão
que
nela
vinha,
Muito
bem
que
a
governava.
–
«Diz-‐me,
ó
capitão
Dessa
tua
nobre
armada,
Se
encontraste
meu
marido
Na
terra
que
Deus
pisava?»
–
«Anda
tanto
cavaleiro
Naquela
terra
sagrada...
Diz-‐me
tu,
ó
senhora,
As
senhas
que
ele
levava.»
–
«Levava
cavalo
branco,
Selim
de
prata
doirada;
Na
ponta
da
sua
lança
A
cruz
de
Cristo
levava.»
–
«Pelos
sinais
que
me
deste
Lá
o
vi
numa
estacada
Morreu
morte
de
valente:
Eu
sua
morte
vingava.»
–
«Ai
triste
de
mim
viúva,
Ai
triste
de
mim
coitada!
De
três
filhinhas
que
tenho,
Sem
nenhuma
ser
casada!...»
(…)
58. Gedeão
,
António
Obra
Completa
–
António
Gedeão
2ª
ed.
Lisboa:
Relógio
D'Água,
2007
ISBN:
9789727087907
Tempo
de
Poesia
Todo
o
tempo
é
de
poesia
Desde
a
névoa
da
manhã
à
névoa
do
outo
dia.
Desde
a
quentura
do
ventre
à
frigidez
da
agonia
Todo
o
tempo
é
de
poesia
Entre
bombas
que
deflagram.
Corolas
que
se
desdobram.
Corpos
que
em
sangue
soçobram.
Vidas
qua
amar
se
consagram.
Sob
a
cúpula
sombria
das
mãos
que
pedem
vingança.
Sob
o
arco
da
aliança
da
celeste
alegoria.
Todo
o
tempo
é
de
poesia.
Desde
a
arrumação
ao
caos
à
confusão
da
harmonia.
59. Gedeão,
António
Poesias
Completas
(1956-‐1967)
10ª
ed
Lisboa:
Livraria
Sá
da
Costa
Editora,
1987
Soneto
Não
pode
Amor
por
mais
que
as
falas
mude
exprimir
quanto
pesa
ou
quanto
mede.
Se
acaso
a
comoção
falar
concede
é
tão
mesquinho
o
tom
que
o
desilude.
Busca
no
rosto
a
cor
que
mais
o
ajude,
magoado
parecer
aos
olhos
pede,
pois
quando
a
fala
a
tudo
o
mais
excede
não
pode
ser
Amor
com
tal
virtude.
Também
eu
das
palavras
me
arreceio,
também
sofro
do
mal
sem
saber
onde
busque
a
expressão
maior
do
meu
anseio.
E
acaso
perde,
o
Amor
que
a
fala
esconde,
em
verdade,
em
beleza,
em
doce
enleio?
Olha
bem
os
meus
olhos,
e
responde.
60. Junqueiro,
Guerra
Obras
de
Guerra
junqueiro
–
Poesia
Porto,
Lello
&
Irmãos
Editores
Regresso
ao
Lar
Ai,
há
quantos
anos
que
eu
parti
chorando
deste
meu
saudoso,
carinhoso
lar!...
Foi
há
vinte?...
Há
trinta?...
Nem
eu
sei
já
quando!...
Minha
velha
ama,
que
me
estás
fitando,
canta-‐me
cantigas
para
me
eu
lembrar!...
Dei
a
volta
ao
mundo,
dei
a
volta
à
vida...
Só
achei
enganos,
decepções,
pesar...
Oh,
a
ingénua
alma
tão
desiludida!...
Minha
velha
ama,
com
a
voz
dorida.
canta-‐me
cantigas
de
me
adormentar!...
Trago
de
amargura
o
coração
desfeito...
Vê
que
fundas
mágoas
no
embaciado
olhar!
Nunca
eu
saíra
do
meu
ninho
estreito!...
Minha
velha
ama,
que
me
deste
o
peito,
canta-‐me
cantigas
para
me
embalar!...
Pôs-‐me
Deus
outrora
no
frouxel
do
ninho
pedrarias
de
astros,
gemas
de
luar...
Tudo
me
roubaram,
vê,
pelo
caminho!...
Minha
velha
ama,
sou
um
pobrezinho...
Canta-‐me
cantigas
de
fazer
chorar!...
Como
antigamente,
no
regaço
amado
(Venho
morto,
morto!...),
deixa-‐me
deitar!
Ai
o
teu
menino
como
está
mudado!
Minha
velha
ama,
como
está
mudado!
Canta-‐lhe
cantigas
de
dormir,
sonhar!...
Canta-‐me
cantigas
manso,
muito
manso...
tristes,
muito
tristes,
como
à
noite
o
mar...
Canta-‐me
cantigas
para
ver
se
alcanço
que
a
minha
alma
durma,
tenha
paz,
descanso,
quando
a
morte,
em
breve,
ma
vier
buscar!
61. Lara,
Alda
Poemas
4ª
ed
Porto,
Vertente,
1984
Prelúdio
Pela
estrada
desce
a
noite
Mãe-‐Negra,
desce
com
ela...
Nem
buganvílias
vermelhas,
nem
vestidinhos
de
folhos,
nem
brincadeiras
de
guisos,
nas
suas
mãos
apertadas.
Só
duas
lágrimas
grossas,
em
duas
faces
cansadas.
Mãe-‐Negra
tem
voz
de
vento,
voz
de
silêncio
batendo
nas
folhas
do
cajueiro...
Tem
voz
de
noite,
descendo,
de
mansinho,
pela
estrada...
Que
é
feito
desses
meninos
que
gostava
de
embalar?...
Que
é
feito
desses
meninos
que
ela
ajudou
a
criar?...
Quem
ouve
agora
as
histórias
que
costumava
contar?...
Mãe-‐Negra
não
sabe
nada...
Mas
ai
de
quem
sabe
tudo,
como
eu
sei
tudo
Mãe-‐Negra!...
Os
teus
meninos
cresceram,
e
esqueceram
as
histórias
que
costumavas
contar...
Muitos
partiram
p'ra
longe,
quem
sabe
se
hão-‐de
voltar!...
Só
tu
ficaste
esperando,
mãos
cruzadas
no
regaço,
bem
quieta
bem
calada.
É
a
tua
a
voz
deste
vento,
desta
saudade
descendo,
de
mansinho
pela
estrada.
62. Lawrence,
D.
H.
Os
animais
evangélicos
e
outros
poemas
Lisboa,
Relógio
D’Agua,
1994
ISBN
972-‐708-‐252-‐1
Democracia
Sou
um
democrata
até
ao
ponto
de
amar
o
sol
livre
nos
homens
e
um
aristocrata
até
ao
ponto
de
odiar
as
pessoas
néscias
e
possessivas.
Amo
o
sol
em
qualquer
homem
quando
o
vejo
na
sua
fronte
límpido
e
sem
temor,
mesmo
que
seja
pequeno.
Mas
quando
vejo
aqueles
homens
cinzentos
e
bem
sucedidos
Tão
hediondos
e
semelhantes
a
cadáveres,
totalmente
sem
sol,
como
escravos
gordos
e
bem
sucedidos,
meneando-‐se
mecanicamente,
então
sou
mais
do
que
radical,
quero
servir-‐me
da
guilhotina.
E
quando
vejo
os
homens
que
trabalham
pálidos
e
miseráveis
como
insectos,
apressados
e
vivendo
como
piolhos,
com
pouco
dinheiro
e
sem
nunca
prosperar,
então
desejo,
como
Tibério,
que
a
multidão
tivesse
apenas
uma
cabeça
para
que
eu
a
pudesse
decepar.
Sinto
que
as
pessoas
para
quem
o
sol
não
existe
Não
deviam
viver.
63. Leal,
Gomes
Claridades
do
Sul
Lisboa,
Publicações
Europa-‐América.
1999
ISBN
972-‐1-‐04617-‐5
Carta
ao
Mar
Deixa
escrever-‐te,
verde
mar
antigo,
Largo
Oceano,
velho
deus
limoso,
Coração
sempre
lírico,
choroso,
E
terno
visionário,
meu
amigo!
Das
bandas
do
poente
lamentoso
Quando
o
vermelho
sol
vai
ter
contigo,
-‐
Nada
é
mais
grande,
nobre
e
doloroso,
Do
que
tu,
-‐
vasto
e
húmido
jazigo!
Nada
é
mais
triste,
trágico
e
profundo!
Ninguém
te
vence
ou
te
venceu
no
mundo!...
Mas
também,
quem
te
pode
consolar?!
Tu
és
Força,
Arte,
Amor,
por
excelência!
-‐
E,
contudo,
ouve-‐o
aqui,
em
confidencia;
-‐
A
Música
é
mais
triste
inda
que
o
Mar!
64. Leal,
Gomes
História
de
Jesus
Lisboa,
Assírio
e
Alvim,
1998
ISBN
972-‐37-‐0507-‐9
Trevas
Rasgou
se
o
véu
do
Templo
de
alto
a
baixo,
Cortou
o
vento
o
ar
como
um
açoite.
Rugiram
os
leões,
e
o
eterno
facho
do
dia
se
eclipsou.
—
E
fez-‐se
a
Noite.
Fenderam-‐se
os
rochedos,
com
ruídos.
Um
singular
terror
gelou
os
ossos
dos
legionários
trágicos,
vencidos
da
confusão,
do
espanto,
e
dos
destroços.
O
morto
surge
e
mais
o
seu
sudário,
trazendo
o
assombro
do
final
segredo.
O
povo
da
Judeia
do
santuário
foi-‐se
esconder
na
treva
—
e
teve
medo.
As
violetas
murcharam
sobre
a
haste.
E
uma
voz
singular,
lúgubre,
estranha,
soluçou
pela
trágica
montanha
:
—
«Meu
Pai!
Meu
Pai
!
porque
me
abandonaste?»
65. Macedo,
Hélder
Poesia
1957-‐1977
1ª
ed
Lisboa,
Moraes
editores,
1979
Anunciação
Espada
dúctil
de
fogo
negro
sol
latejando
na
vertical
ave
branca
explodida
no
meu
ventre
é
sem
partilha
o
amor
que
me
anuncias
nem
é
humana
ou
tua
a
sombra
que
cresceu
sobre
o
meu
corpo
e
por
mim
se
alongou
e
me
alongou
num
fundo
mar
sem
esperança
pois
não
há
esperança
no
mistério
revelado
e
o
que
a
carne
concebe
é
já
divino
porque
sem
comando.
66. Mãe,
Valter
Hugo
Contabilidade
–
Poesia
1996-‐2010
1ª
ed
Lisboa,
Editora
Objectiva,
2010
ISBN
978-‐989-‐672-‐059-‐9
brincávamos
a
cair
nos
braços
um
do
outro
brincávamos
a
cair
nos
braços
um
do
outro,
como
faziam
as
actrizes
nos
filmes
com
o
marlon
brando,
e
depois
suspirávamos
e
ríamos
sem
saber
que
habituávamos
o
coração
à
dor.
queríamos
o
amor
um
pelo
outro
sem
hesitações,
como
se
a
desgraça
nos
servisse
bem
e,
a
ver
filmes,
achávamos
que
o
peito
era
todo
em
movimento
e
não
sabíamos
que
a
vida
podia
parar
um
dia.
eu
ainda
te
disse
que
me
doíam
os
braços
e
que,
mesmo
sendo
o
rapaz,
o
cansaço
chegava
e
instalava-‐se
no
meu
poço
de
medo.
tu
rias
e
caías
uma
e
outra
vez
à
espera
de
acreditares
apenas
no
que
fosse
mais
imediato,
quando
os
filmes
acabavam,
quando
percebíamos
que
o
mundo
era
feito
de
distância
e
tanto
tempo
vazio,
tu
ficavas
muito
feminina
e
abandonada
e
eu
sofria
mais
ainda
com
isso.
estavas
tão
diferente
de
mim
como
se
já
tivesses
partido
e
eu
fosse
apenas
um
local
esquecido
sem
significado
maior
no
teu
caminho.
tu
dizias
que
se
morrêssemos
juntos
entraríamos
juntos
no
paraíso
e
querias
culpar-‐me
por
ser
triste
de
outro
modo,
um
modo
mais
perene,
lento,
covarde.
Eu
amava-‐te
e
julgava
bem
que
amar
era
afeiçoar
o
corpo
ao
perigo.
caía
eu
nos
teus
braços,
fazias
um
bigode
no
teu
rosto
como
se
fosses
o
marlon
brando.
eu,
que
te
descobria
como
se
descobrem
fantasias
no
inferno,
não
queria
ser
beijado
pelo
marlon
brando
e
entrava
numa
combustão
modesta
que,
às
batidas
do
meu
coração,
iluminava
o
meu
rosto
como
lâmpada
falhando
a
minha
mãe
dizia-‐me,
valter
tem
cuidado,
não
brinques
assim,
vais
partir
uma
perna,
vais
partir
a
cabeça,
vais
partir
o
coração.
e
estava
certa,
foi
tudo
verdade
67. Mãe,
Valter
Hugo
Folclore
íntimo
1ª
ed
Maia,
Cosmorama
edições
2008
ISBN
978-‐989-‐8029-‐31-‐7-‐9
a
capitalização
do
amor
não
escondemos
que
aprendemos
a
capitalizar
o
amor,
entregando
amplamente
os
nossos
melhores
momentos
às
raparigas
mais
carentes.
o
amor,
sabemos
bem,
é
o
caminho
directo
para
a
inutilidade,
e
nós
procuramos
as
raparigas
que
mais
rapidamente
se
inutilizem
perante
as
coisas
clássicas
da
vida.
não
nos
queremos
atarefar
com
a
vulgaridade,
e
gostaríamos
até
de
impregnar
cada
gesto
com
características
alienígenas,
mas
o
tempo
escapa-‐se
e
o
dinheiro
também
e,
se
só
pensamos
no
amor,
não
temos
como
fazer
de
outro
modo
senão
vendê-‐lo
entusiasticamente,
como
fontes
de
trovões
bonitos
jorrando
nas
praças
mais
movimentadas
das
cidades.
e
as
raparigas
correm
para
nós
urgentes
e
cheias
de
vida,
férteis
de
tudo
quanto
o
amor
se
abate
sobre
elas,
uma
alegria
rica
de
se
ver,
e
nós
a
balançar
os
braços
para
chamar
a
atenção
de
mais
e
mais
e
já
nem
sabemos
como
parar,
como
forças
incontroladas,
à
semelhança
de
mecanismos
ferozes
da
natureza,
e
só
sairemos
daqui
quando
desfalecermos
de
amor
até
pelas
raparigas
mais
feias
68. Meireles,
Cecília
Antologia
Poética
1ª
ed
Lisboa,
Relógio
D’Água,
2002
ISBN
972-‐708-‐703-‐5
Recado
aos
Amigos
Distantes
Meus
companheiros
amados,
não
vos
espero
nem
chamo:
porque
vou
para
outros
lados.
Mas
é
certo
que
vos
amo.
Nem
sempre
os
que
estão
mais
perto
fazem
melhor
companhia.
Mesmo
com
sol
encoberto,
todos
sabem
quando
é
dia.
Pelo
vosso
campo
imenso,
vou
cortando
meus
atalhos.
Por
vosso
amor
é
que
penso
e
me
dou
tantos
trabalhos.
Não
condeneis,
por
enquanto,
minha
rebelde
maneira.
Para
libertar-‐me
tanto,
fico
vossa
prisioneira.
Por
mais
que
longe
pareça,
ides
na
minha
lembrança,
ides
na
minha
cabeça,
valeis
a
minha
Esperança.
69. Mello,
Pedro
Homem
Bodas
Vermelhas
3ª
ed
Porto,
Porto
Editora,
1979
Eternidade
A
minha
eternidade
neste
mundo
Sejam
vinte
anos
só,
depois
da
morte!
O
vento,
eles
passados,
que,
enfim,
corte
A
flor
que
no
jardim
plantei
tão
fundo.
As
minhas
cartas
leia-‐as
quem
quiser!
Torne-‐se
público
o
meu
pensamento!
E
a
terra
a
que
chamei
—
minha
mulher
—
A
outros
dê
seu
lábio
sumarento!
A
outros
abra
as
fontes
do
prazer
E
teça
o
leito
em
pétalas
e
lume!
A
outros
dê
seus
frutos
a
comer
E
em
cada
noite
a
outros
dê
perfume!
O
globo
tem
dois
pólos:
Ontem
e
hoje.
Dizemos
só:
—
Meu
pai!
ou
só:—
Meu
filho!
O
resto
é
baile
que
não
deixa
trilho.
Rosto
sem
carne;
fixidez
que
foge.
Venham
beijar-‐me
a
campa
os
que
me
beijam
Agora,
frágeis,
frívolos
e
humanos!
Os
que
me
virem,
morto,
ainda
me
vejam
Depois
da
morte,
vivo,
ainda
vinte
anos!
Nuvem
subindo,
anis
que
se
evapora...
Assim
um
dia
passe
a
minha
vida!
Mas,
antes,
que
uma
lágrima
sentida
Traga
a
certeza
de
que
alguém
me
chora!
Adro!
Cabanas!
Meu
cantar
do
Norte!
(Negasse
eu
tudo
acreditava
em
Deus!)
Não
peço
mais:
—
Depois
da
minha
morte
Haja
vinte
anos
que
ainda
sejam
meus!
70. Mello,
Pedro
Homem
E
ninguém
me
conhecia
1ª
ed
Lisboa,
Campo
da
comunicação,
2004
ISBN
972-‐8610-‐35-‐1
Divórcio
Cidade
muda,
rente
a
meu
lado,
Como
um
fantasma
sob
a
neblina...
Há
cem
mil
rostos.
Tanto
soldado
E
tanto
abraço
desesperado
Nesta
cidade
tão
masculina!
Cidade
muda
como
um
soldado.
Cidade
cega.
Todos
os
dias,
A
nossa
vida
fica
mais
breve,
As
nossas
mãos
ficam
mais
frias...
Todos
os
dias,
todos
os
dias,
A
morte
paga,
paga
a
quem
deve.
Cidade
cega
todos
os
dias.
Cidade
oblíqua.
Sexo
pesado.
Rio
de
cinza,
lúgubre
e
lento...
Bandeira
negra,
barco
parado,
Nunca
o
teu
nome
foi
baptizado
Nem
o
teu
beijo
foi
casamento!
Cidade
minha,
do
meu
pecado...
Cidade
estranha,
sabes
que
existo?
Os
homens
passam...
Para
onde
vão?
Só
tem
amores
quem
não
for
visto.
Por
isso
canto,
só
porque
insisto
Em
dar
combates
à
tentação.
Oh!
a
volúpia
de
não
ser
visto!