Este documento fornece um resumo sobre parentalidade e esquizofrenia. Discute como a doença pode afetar as relações parentais e o desenvolvimento das crianças, levando a problemas como fronteiras pouco claras, dificuldades sociais e culpa. Também aborda o papel dos doentes, família e enfermeiros no tratamento da esquizofrenia.
1. Licenciatura em Enfermagem
3º Ano – 1º Semestre
Orientado por:
Dra. Celeste Duque
Trabalho elaborado por:
Ana Isabel Bruno, nº 28799
Gina Pereira, nº 28808
Mara Rochato, nº 28815
Sandra Forra da Silva, nº 28821
Vera Andrade, nº 29145
FARO, Out. 2006
2. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
Abreviaturas
Etc. – et cœtera (e o resto)
Pag. – Página
Prof.ª – Professora
Siglas
OMS – Organização Mundial de Saúde
IPSS – Instituições Particulares de Solidariedade Social
AEAPE – Associação de Educação e Apoio na Esquizofrenia
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3.
4. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
“As pessoas não compreendem que isso é uma doença. Dizem:
“não consegues simplesmente disciplinar teu pensamento” Mas
ninguém consegue disciplinar um vírus, um cancro ou uma perna
partida.”
Dean Kernohan, doente com esquizofrenia
“ Eu, sem os medicamentos, nunca passava da cepa torta…
Porque era eu a lutar contra eu!”
Ana Cristina, doente com esquizofrenia
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5.
6. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
Índice
I – Introdução ......................................................................................................
...............4
II – Conhecer a esquizofrenia...............................................................................
................5
1. Aspectos históricos..................................................................................
.....................5
2. Aspectos epidemiológicos ........................................................................
....................7
3. Teorias etiológicas da esquizofrenia .................................................
...........................7
3.1 – Teoria Genética .................................................................................................
...8
3.2 – Teoria Neurobiológica.................................................................................
.........8
3.3 – Teoria Viral.....................................................................................................
......9
3.4 – Teoria associada ao neurodesenvolvimento...................................................
......9
3.5 – Teoria familiar ................................................................................
...................10
3.6 – Teoria psicanalítica......................................................................................
.......10
4. História natural da doença.......................................................................
....................10
5. Sintomatologia e diagnóstico .....................................................................................
.12
6. Tratamento...............................................................................................
....................16
6.1 – Tratamento Farmacológico ..............................................................................
..16
6.1.1. Efeitos secundários dos neurolépticos.........................................................17
.
Neurodislépticos: correspondem a uma rigidez muscular (distonia aguda), principalmente
ao nível dos músculos do pescoço, membros superiores e músculos oculares. O seu
aparecimento encontra-se associado a doses mais elevadas e aos neurolépticos de maior
potência. Estes efeitos secundários são habitualmente reversíveis com utilização de um
outro grupo de medicamentos designado por antiparkinsónicos, como, por exemplo, o
biperideno (Akineton®) ou o tri-hexifenidilo (Artane®)............................ ......................17
.
Parkinsonismo secundário: ...........................................................................
.....................17
Tremor das mãos, .....................................................................................................
..........18
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7. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
Outras alterações do movimento............................................................
............................18
Inexpressividade facial......................................................................................................
..18
Aumento de peso............................................................................................................
.....18
Alterações hormonais........................................................................................................
..18
Galactorreia (produção de leite através das glândulas mamárias).....................................18
Alterações menstruais.......................................................................................
..................18
Disfunção sexual..................................................................................................
...............18
Diminuição da libido.........................................................................................................
..18
Impotência..................................................................................................................
.........18
Anticolinérgicos...................................................................................................
...............18
Obstipação..................................................................................................................
.........18
Visão desfocada.........................................................................................
.........................18
Boca seca......................................................................................................................
.......18
Dificuldade em urinar....................................................................................
.....................18
Sedação ou sonolência......................................................................................
..................18
Sialorreia – Aumento da produção de saliva............................................................
..........18
Acatisia: esta situação manifesta-se pela incapacidade de o doente estar quieto no mesmo
sítio, tendo uma necessidade imperiosa de permanecer em constante movimento. Por
vezes é confundida com ansiedade ou agitação psicomotora. Perante este efeito
secundário deverá ser feita a substituição do neuroléptico prescrito, associando por
exemplo ainda uma benzodiazepina (ansiolítico), havendo contudo alguns casos de difícil
tratamento.......................................................................................................................
......18
Síndrome maligna dos neurolépticos: é uma situação bastante rara, mas de grande
gravidade. Os sintomas instalam-se habitualmente ao fim de dez dias de terapêutica com
neurolépticos e os principais sinais clínicos são: hipertermia, rigidez muscular, alteração
do estado de consciência, taquicardia, hipo ou hipertensão arterial, diaforese ou sialorreia,
tremor e incontinência dos esfíncteres. É uma situação de urgência médica e deve ser
tratada em ambiente hospitalar, de modo a reduzir as eventuais complicações graves dela
decorrentes. .................................................................................................
........................18
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8. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
Discinesia tardia: trata-se de um efeito secundário com aparecimento tardio, geralmente
ao fim de alguns anos de medicação neuroléptica. Surge com maior frequência em
indivíduos do sexo feminino, verificando-se ainda a presença de um factor de uma
sensibilidade individual. Caracteriza-se pelo aparecimento de movimentos involuntários e
repetidos, envolvendo com maior frequência os músculos da boca, face e língua. Este
efeito secundário tem características crónicas e é de difícil tratamento.............................18
6.2 – A electroconvulsivoterapia........................................................................
.........19
6.3 – Psicoterapia................................................................................................
.........20
6.4 – Psicoeducação..............................................................................................
.......21
Melhorar o autoconhecimento face à doença;......................................................
..............21
Melhorar a adesão à terapêutica;...............................................................
.........................21
Diminuir o risco de recaída;...............................................................................................
.21
Detectar e intervir precocemente nas recaídas;..............................................
....................21
Adoptar estratégias concretas durante a crise psicótica....................................................21
.
Aspectos diagnósticos;................................................................................................
........21
Prevalência da doença;...................................................................................................
.....21
Etiologia;.............................................................................................................
................21
Evolução;..........................................................................................................................
...21
Terapêutica;.................................................................................................................
........21
Factores de stress;.......................................................................................
........................21
Recursos comunitários;............................................................................................
...........21
Abuso de substâncias; ..........................................................................................
..............21
Aspectos legais;.................................................................................................................
..21
Sinais de recaída................................................................................................................
..21
6.5 – O internamento.............................................................................
......................22
Dificuldade de diagnóstico diferencial e necessidade de realizar exames complementares
de diagnóstico;...........................................................................................
..........................22
Controlo de efeitos secundários mais graves, como a acatisia ou a síndrome maligna dos
neurolépticos;......................................................................................................
.................22
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9. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
Resistência à terapêutica;..........................................................................................
..........22
Com o objectivo de retirar o doente de um ambiente sociofamiliar conflituoso para um
ambiente terapêutico;...........................................................................................
................22
Necessidade de realização de tratamentos especiais;............................................
.............22
Risco de suicídio ou presença de comportamentos violentos e agressivos;......................22
Perante um surto psicótico em que ocorra recusa da terapêutica ou não exista um apoio
familiar adequado............................................................................................................
.....22
7. Características associadas ao sexo............................................................................
..22
7.1 – As mulheres e a esquizofrenia.....................................................................
.......23
7.1.1. Gravidez e esquizofrenia.................................................................
..............23
7.1.2. Maternidade e esquizofrenia ................................................
........................24
8. Parentalidade e esquizofrenia ...................................................................
..................26
Fronteiras: quando se cresce com pais que invadem todos os aspectos da suas vidas de
maneira imprevisível e por vezes perigosa, não se consegue aprender quando dizer não ou
quando deixar de depender dos outros, etc. ...................................................................
.....27
Problemas de lealdade: algumas vezes, especialmente, quando os pais são paranóicos, a
criança é colocada repetidamente numa situação onde precisa de provar que eles não
fazem parte dos vilões. Este é parte dos problemas de fronteiras – é um problema
complexo, tentar manter a sua sanidade enquanto tentam bloquear uma pessoa insana
sendo uma criança.....................................................................................................
...........27
Aptidões sociais: quando chegam à idade adulta os filhos de pais esquizofrénicos têm
dificuldade em saber a quem e como se abrirem com outras pessoas, ou como confiar nos
próprios instintos e em geral como lidar com pessoas “normais” pois eles foram isolados
do resto do mundo tanto físico como psicológico devido aos pais........................... .........27
.
Actividades de vida: os pais esquizofrénicos, apresentam dificuldades em ensinar os
filhos a realizar as suas actividades de vida, o que vai fazer com que muitas vezes, estes
mesmos filhos não sejam capazes de cuidar de uma casa e de se tornarem independentes
futuramente tão facilmente como os filhos de pais sem doença mental.............................27
Lidar com a raiva, depressão e stress: as crianças de pais esquizofrénicos têm muita
tendência para a depressão sendo que muitos têm terapeutas pessoais, estão envolvidos
em grupos de aconselhamento e suporte, ou tomam medicação para distúrbios de
depressão, ansiedade e comportamento.......................................................................
........27
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10. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
Lidar com a culpa: estas crianças são especialmente susceptíveis a sentir muita culpa
acerca de tudo, sendo que muitos passam por uma fase de se culparem a eles próprios pela
doença dos pais. Quase todos sentem-se angustiados por não fazer o suficiente (ou por
fazer demais) pelo progenitor, outros irmãos, ou pelo resto da família. ............................27
Medo: as crianças revelam medo de ficar doentes como o progenitor, mudando o trajecto
de vida de muitas crianças. Os filhos de pais esquizofrénicos acabam por ter filhos tarde
por medo de transmitir a doença aos filhos; casar-se tarde porque não querem ter filhos ou
porque não querem magoar alguém especial por se tornarem doentes mentais no futuro.
..............................................................................................................................
................27
Problemas em assumirem compromissos: muitos evitam compromissos, ou tornam-se
envolvidos em compromissos abusivos ou demasiado exigentes......................................27
.
Perdão: é normalmente confundido com aceitação. Aceitar a doença mental de um
progenitor é um passo importante para a auto-cura e recuperação.....................................27
9. O papel do doente, da familia e dos enfermeiros na esquizofrenia............................29
Permanecer fiéis ao tratamento;.......................................................................................
...29
Ter cuidado em conservar um ritmo de sono e vigília correcto, com as necessárias horas
de sono;.....................................................................................................
...........................29
Evitar o stress;........................................................................................................
.............29
Ter um quotidiano como o das outras pessoas;......................................................
............29
Evitar o consumo de drogas;...........................................................................................
....29
Ter uma vida organizada;......................................................................
.............................29
Fixar um programa de actividades para cada dia;............................................
..................29
Permanecer em contacto com outras pessoas;.............................................................
.......29
Manter o contacto com o psiquiatra e equipa de saúde mental;........................................29
.
Praticar desporto pelo menos uma vez por semana.........................................................
...29
10. Estruturas de apoio comunitário....................................................................
............32
10.1 – Hospitais de dia e área de dia..........................................................
.................32
10.2 – Residências terapêuticas.........................................................................
..........32
10.3 – Fórum sócio-ocupacional...........................................................
......................32
10.4 – Treino de aptidões sociais.......................................................
.........................33
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11. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
10.5 – Associação de educação e apoio na esquizofrenia .........................................33
.
Intervir, a todos os níveis na defesa dos direitos, legítimos interesses e qualidade de vida
das famílias como prestadores informais decuidados;......................................................33
.
Sensibilizar as instâncias oficiais competentes no sentido do reconhecimento do papel
das famílias como prestadoras informais decuidados;......................................................33
.
Proporcionar informação científica e pedagógica para a promoção da saúde, a luta contra
a doença, a prevenção de recaídas, a reabilitação psicossocial e a inserção social dos
doentes;................................................................................................................................
.33
Promover acções de investigação, informação e formação, com destaque para o combate
ao estigma e exclusão social e a abertura a uma cultura de cidadania, co-responsabilidade
e solidariedade;.....................................................................................................................
33
Colaborar com instâncias oficiais centrais e locais e cooperar com instituições nacionais
e estrangeiras que prossigam fins similares;......................................................................33
.
Promover a publicação de documentação especializada no âmbito da associação...........34
III – Testemunho real...................................................................................................
.......34
IV – Conclusão...................................................................................................................
.35
V – Bibliografia .......................................................................................
..........................37
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12. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
I – INTRODUÇÃO
A esquizofrenia é uma das doenças menos compreendidas. Para que possamos
compreender realmente esta doença devastadora, é da maior importância desfazer os
mitos que a envolvem.
Ao contrário das ideias vulgarizadas, a esquizofrenia não é personalidade dividida, nem
uma personalidade múltipla. A grande maioria das pessoas que sofrem de esquizofrenia
não são violentas nem representam, como se julga, um perigo para os outros. A
esquizofrenia não tem origem em experiências da infância, em pais descuidados ou na
falta de força de vontade e os sintomas não são idênticos em todos os doentes. De forma
muito abreviada, a esquizofrenia é uma doença da fisiologia do cérebro, que prejudica
seriamente a capacidade de pensar de modo ordenado e de estabelecer relações humanas
normais. Alguns doentes com esquizofrenia têm grandes dificuldades em fazer a distinção
entre o real e o imaginário e de um modo geral são indivíduos que se isolam e se tornam
apáticos.
A doença é comum em todo o mundo. Afectando cerca de 1% da população adulta e
atinge as pessoas sem distinções culturais, económicas ou sociais. Na maioria dos doentes
a doença inicia-se entre os 13 e 25 anos de idade, quando o corpo está sobre a influência
de grandes alterações hormonais e físicas. Visto que esta doença manifesta-se em idade
reprodutiva, muitos destes doentes vêm a ser pais, dai o tema do nosso trabalho:
“Parentalidade e Esquizofrenia”. Este tema despertou-nos a curiosidade e quisemos saber
mais sobre o modelo através do qual irão estes pais educar os filhos e em que medida o
ambiente familiar irá influenciar na construção da sua personalidade.
O presente trabalho foi elaborado com o objectivo de aumentar os nossos conhecimentos
sobre o esquizofrénico enquanto pai/mãe. Perceber a evolução histórica da doença, quais
os sinais e sintomas desta; descobrir o impacto que esta doença tem na sociedade e a
forma como influencia o indivíduo portador; conhecer as suas causas predisponentes, os
possíveis diagnósticos e tratamento existentes, a importância das intervenções
psicossociais e familiares na reabilitação do doente, bem como compreender o papel do
enfermeiro nesta situação.
Na realização deste trabalho recorremos a pesquisas bibliográficas que se efectuaram na
biblioteca municipal de Portimão, de Faro, da ESSaF, nas nossas bibliotecas pessoais e
Internet.
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13. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
II – CONHECER A ESQUIZOFRENIA
1. ASPECTOS HISTÓRICOS
As perturbações psicóticas, particularmente a esquizofrenia, encontram-se presentes em
todas as culturas.
As primeiras referências a esta patologia remontam às sociedades egípcias. De acordo
com o “Livro Egípcio dos Corações” dos papiros de Ebers (2000 A.C.), os sintomas
psicóticos eram considerados como provenientes do coração e do útero, associados aos
vasos sanguíneos, materiais fecais e purulentos, venenos e demónios.
Em 1400A.C. a civilização Hindu, nos seus principais textos do hinduísmo, considerava a
saúde como um equilíbrio estável de cinco elementos (Buthas) e três humores (Dosas),
referindo que o seu desequilíbrio levaria à loucura.
Em 1000 A.C. os chineses, no seu livro “O Clássico da Medicina Interna do Imperador
Amarelo”, descreveram os sintomas da insanidade, da demência e das convulsões. Nestes
textos a possessão demoníaca e sobrenatural era frequentemente implicada na origem dos
sintomas psicóticos.
Apesar destas “teorias de influência demoníaca” prevalecerem, em parte, na cultura
grega, as teorias racionalistas começaram a surgir.
Nos séculos V e VI A.C., Platão desenvolveu uma moderna concepção integrativa da
relação entre a mente e o corpo. Platão propôs também a noção de inconsciente e a
existência de processos mentais biológicos, sugerindo que todos os indivíduos teriam
capacidade para o pensamento irracional. Por outro lado, Platão referiu que quando a
alma, que é racional e ligeira na sua orientação, está a dormir e quando a parte que é
selvagem e rude, tendo satisfeitas a sua fome e sede, se solta afasta o sono e procura
consumar as suas práticas. Mais tarde, Freud apoiou-se nas especulações de Platão para
desenvolver as suas teorias do papel dos processos mentais e inconscientes da génese da
doença mental.
Hipócrates, o médico grego considerado como pai da medicina moderna, construiu o seu
saber sobre a tradição grega das explicações racionais e empíricas da natureza e do
comportamento. Rejeitou as ideias de possessão demoníaca na génese das doenças
psicóticas, sugerindo que doenças como a epilepsia, a “confusão” e a loucura teriam uma
origem exclusivamente cerebral.
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14. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
As classificações mais sistematizadas e precisas das perturbações mentais começaram a
surgir durante os séculos I e II A.C.
São Tomás de Aquino (1225-1274) abordou este tema, considerando a doença mental
como um estado em que o homem perdia a razão, ficando fora de si (Amens), delirante,
violento e inacessível a uma relação humana (furiosus). Ficava, desta forma, reduzido a
um estado animal, perdendo a alma espiritual, sede da razão, a qual possibilitava desligar-
se do material e chegar ao conhecimento de Deus.
A primeira descrição da esquizofrenia, enquanto doença do sistema nervoso, surge em
1674 sendo o médico Thomas Willis, responsável pela descrição anatómica do polígono
vascular de Willis na base do cérebro. Este, descreve uma doença observada em
adolescentes e adultos jovens, a qual transformava crianças “inteligentes, animadas e
positivas” em adolescentes “obtusos”. Desde esta data passam-se cerca de 150 anos até
surgirem os primeiros escritos descritivos dos médicos franceses Jean Esquirol e Philippe
Pinel.
Um contributo importante foi dado por Hecker em 1871, descrevendo um quadro clínico
caracterizado por uma deterioração mental e comportamentos regressivos, que surgiram
em indivíduos jovens e que denominou de hebefrenia. Cerca de três anos mais tarde,
Kahlbaum acrescenta uma outra forma clínica designada por catatonia, onde
predominavam as perturbações motoras e do comportamento. Na sexta edição do Tratado
de Psiquiatria (1893) foi acrescentado mais uma nova forma clínica desta “demência
precoce” – a paranóide.
No século XX o psiquiatra suíço Eugen Bleuler (1911) introduziu a designação de
esquizofrenia. A palavra esquizofrenia deriva do grego e etiologicamente corresponde a
schizein, fenda ou cisão, e phrenós, que significa pensamento.
Os limites da esquizofrenia nem sempre foram claros e consensuais. Vários autores
criaram uma ruptura com a concepção dicotómica da psicose clássica kraepeliana
(demência precoce/ psicose maníaco-depressiva). Kasanin, em 1933, descreveu um
quadro clínico em que ocorrem simultaneamente sintomas típicos da esquizofrenia e
sintomas da linha afectiva. Segundo este autor esta seria uma forma atípica de
esquizofrenia a qual acabou por designar como esquizo-afectiva.
Quando falamos de esquizofrenia não podemos ignorar o movimento “anti psiquiatria”
que ficou associado a esta doença. Este movimento consistia no encerramento de grandes
hospitais psiquiátricos que proliferavam naquela época por todo o mundo, os quais eram
considerados por diverso autores “como verdadeiras prisões de indivíduos”. Os principais
aspectos teóricos deste movimento baseavam-se na negação da existência da doença
mental, incluindo a própria esquizofrenia. A esquizofrenia era considerada como um
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15. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
estilo de vida e não como uma doença mental. Deste modo, existia uma dicotomia entre
os doentes mentais, que eram oprimidos por um sistema totalitário, e os opressores, que
tinham como agentes os psiquiatras.
Para este movimento a doença mental não tem uma natureza biológica mas sim social,
política e legal. O doente mental é assim rotulado pela sociedade, só pelo facto de quebrar
as regras por ela imposta. O movimento “anti psiquiatria” acabou por perder significado
no final dos anos 1970, tendo contribuído para este declínio o encerramento dos grandes
hospitais psiquiátricos e o aparecimento de outras correntes de psiquiatria mais voltadas
para uma intervenção comunitária e de reabilitação, privilegiando a reinserção
socioprofissional dos doentes psiquiátricos e a sua permanência junto da comunidade.
2. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS
A esquizofrenia é uma das doenças mentais mais graves e mais importantes. Encontra-se
identificada praticamente em todo o mundo, atingindo todas as classes sociais e raças. Em
estudos epidemiológicos realizados em países industrializados observou-se um maior
número de casos em populações rurais e nas classes sociais mais desenvolvidas.
A prevalência da esquizofrenia estima-se habitualmente entre 0,2% e 1% dos indivíduos
da população geral em todo o mundo, mas os valores observados podem variar de acordo
com os critérios de diagnostico utilizados e as populações estudadas.
Sendo distribuída de forma igual pelos dois sexos, manifesta-se habitualmente na parte
final da adolescência ou no início da vida adulta. O seu aparecimento para os indivíduos
do sexo masculino ocorre entre os 15 e os 25 anos de idade, no caso do sexo feminino a
doença ocorre com maior frequência um pouco mais tarde, entre os 25 e 30 anos de idade.
Contudo, estudos mais fiáveis em patologias de baixa incidência na população como a
esquizofrenia têm encontrado taxas entre 0,15 e 0,42 para a população masculina entre os
15 e os 59 anos e entre 0,12 e 0,49 para as mulheres, baixando para valores da ordem de
0,08 e 0,17 quando se tem em conta todos os grupos etários. (OMS).
3. TEORIAS ETIOLÓGICAS DA ESQUIZOFRENIA
A explicação monofactorial de uma doença tão complexa quanto a esquizofrenia, que se
procurou durante tantos anos, apresenta muitas insuficiências e aspectos redutores. Os
estudos clínicos transversais e a sua observação longitudinal de seguimento realçam a
inevitabilidade, como em quase toda a patologia mental, da importância explicativa
multifactorial. Esta ruptura com a concepção tradicional da etiopatogenia da doença
propõe o conceito de vulnerabilidade biológica, psicológica e social, agindo de forma
diversa e complexa e que, quando sujeitas a factores de stress de origem biológica ou
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16. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
ambiental, desencadeiam a doença. Concorrendo entre si, estes múltiplos factores
etiológicos deverão ser entendidos como complementares, pois a sua importância
individual é muito reduzida. Um número crescente de modelos de investigação tem
contribuído para uma melhor compreensão da etiopatogenia da doença, com óbvias
implicações clínicas, terapêuticas e preventivas.
3.1 – TEORIA GENÉTICA
Para além dos factores psicossociais, existe uma componente genética na origem da
doença. Foram envolvidos no estudo genético da esquizofrenia vários cromossomas, entre
os quais os 5, 6, 8, 10, 13, e 22.
Apesar das investigações, o modo de transmissão da doença ainda é desconhecido, uma
vez que está posta de parte uma transmissão do tipo mendeliano (transmissão do tipo
recessivo ou dominante). Parecem então existir vários genes envolvidos e que, em
conjunto com os factores ambientais, contribuem para o aparecimento da doença.
Apresenta-se assim, um caso de transmissão hereditária complexa e com características
multifactoriais.
Sabe-se que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se
houver um caso desta doença na família. No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia,
a prevalência da doença nos descendentes directos é de 12%. Na situação em que ambos
os pais se encontram atingidos pela doença, esse valor sobe para 40%. No entanto, mesmo
que não haja qualquer familiar afectado, isso não significa que não venha a existir um
elemento da família com esquizofrenia. Sabemos ainda que cerca de 81% dos doentes
com esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e
cerca de 61% não têm sequer um familiar afectado.
Apesar dos factores genéticos desempenharem um papel importante na etiologia da
doença não são por si só decisivos
3.2 – TEORIA NEUROBIOLÓGICA
As teorias neurobiológicas defendem que a esquizofrenia é essencialmente causada por
alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, em especial com a disfunção
dopaminérgica, embora alterações noutros neurotransmissores estejam também
envolvidas. A maioria dos neurolépticos (antipsicóticos) actua precisamente nos
receptores da dopamina no cérebro, reduzindo a produção endógena deste
neurotransmissor. Exactamente por isso, alguns sintomas característicos da esquizofrenia
podem ser desencadeados por fármacos que aumentam a actividade dopaminérgica (ex.:
anfetaminas). Esta teoria é parcialmente comprovada pelo facto de a maioria dos
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17. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
fármacos, utilizados no tratamento da esquizofrenia (neurolépticos), actuarem através do
bloqueio dos receptores.
3.3 – TEORIA VIRAL
A possibilidade do envolvimento de um vírus, neste caso um vírus da gripe, na etiologia
da esquizofrenia foi levantado na sequência de um aumento do número de casos de
esquizofrenia em indivíduos cujas mães estiveram sujeitas à infecção por este vírus.
Segundo esta teoria os indivíduos sujeitos a uma gripe materna teriam um risco
aumentado de virem a sofrer de esquizofrenia. Contudo os estudos realizados não
permitiram confirmar uma relação directa entre a infecção viral e a esquizofrenia.
Os retrovírus também foram envolvidos na origem da esquizofrenia. A sua influência
seria feita através da incorporação do genoma e da alteração da expressão dos genes do
hospedeiro. Há autores que defendem que estes retrovírus, nalguns casos, provocariam
alterações neuroquímicas (esquizofrenia tipo I), enquanto noutros dariam origem a uma
encefalite produzindo uma degeneração neuronal e alterações estruturais (esquizofrenia
tipo II).
3.4 – TEORIA ASSOCIADA AO NEURODESENVOLVIMENTO
A hipótese neurodesenvolvimentista baseia-se na possibilidade de a doença ter origem
numa perturbação do desenvolvimento ou maturação do cérebro no período perinatal.
Após ter ocorrido esta anomalia no neurodesenvovimento cerebral, existiria um período
de latência entre a constituição das lesões cerebrais e o aparecimento da esquizofrenia.
Deste modo as lesões surgiriam precocemente mas a doença só se manifestaria mais
tarde, neste caso no final da adolescência ou no início da vida adulta.
Durante o segundo trimestre da gravidez, ocorrem uma série de eventos importantes no
desenvolvimento cerebral, nomeadamente a migração celular para o neocórtex dos
neurónios jovens. Ocorrendo nesta fase um importante crescimento cerebral.
Esta hipótese assenta na possibilidade de surgir, nesta fase do desenvolvimento, uma
perturbação da migração neuronal resultante de factores genéticos ou ambientais.
Ainda segundo esta teoria, as complicações obstétricas poderiam constituir um factor de
risco no aparecimento da esquizofrenia. Os principais factores de risco envolvidos foram
a prematuridade, o baixo peso à nascença, a utilização de fórceps à nascença e outras
complicações causadoras de hipoxia.
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18. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
3.5 – TEORIA FAMILIAR
As teorias familiares, surgidas na década de 50 do século XX, apesar de terem bastante
interesse histórico, são as que menos fundamento científico têm. Baseando-se umas no
tipo de comunicação entre os vários elementos da família e aparecendo outras mais
ligadas às estruturas familiares.
As primeiras abordagens teóricas sobre o envolvimento da família na origem da
esquizofrenia foram centralizadas na relação mãe/filho, uma vez que este elemento era
considerado o mais importante no processo da socialização da criança. As várias
observações clínicas dessa relação acabaram por revelar a existência de um número
elevado de casos em que as mães dos doentes com esquizofrenia tinham em comum o
facto de serem super protectoras e dominadoras relativamente aos seus filhos. Com esta
atitude, estas mães acabariam por impossibilitar um desenvolvimento adequado do ego da
criança numa perspectiva do desenvolvimento inspirada nas ideias psicanalíticas de
Freud. Foi assim que surgiu o conceito de “mãe esquizofrénica”, sugerido pelo
psicanalista Fromm-Reichmann em 1948.
3.6 – TEORIA PSICANALÍTICA
As teorias psicanalíticas ou de relação precoce têm como base a teoria freudiana da
psicanálise, e remetem para a fase oral do desenvolvimento psicológico. Nesta a ausência
de gratificação verbal ou da relação inicial entre mãe e bebé conduz igualmente a
personalidades “frias” ou desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das
relações. A ausência de relações interpessoais satisfatórias estaria assim na origem da
esquizofrenia.
Apesar de existirem todas estas hipóteses para a explicação da origem da esquizofrenia,
nenhuma delas individualmente consegue dar uma resposta satisfatória às muitas dúvidas
que existem em torno das causas da doença, reforçando assim a ideia de uma provável
etiologia multifactorial.
4. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
A esquizofrenia inicia-se normalmente na fase final da adolescência ou no início da idade
adulta, como foi referido anteriormente. O início pode ser súbito e a doença manifestar-se
rapidamente, evoluindo em escassos dias ou semanas, ou por outro lado, apresentar-se de
forma mais lenta, demorando vários meses ou até anos para que seja possível ser feito o
diagnóstico, passando despercebida aos pais,familiares e amigos.
O aparecimento tardio, embora raro, observa-se num maior número de casos no sexo
feminino. Este facto foi associado com o efeito antidopaminérgico dos estrogénios
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19. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
(hormonas sexuais femininas) que funcionam como um factor protector relativamente ao
aparecimento da doença.
Estima-se que cerca de um terço dos casos apresentam uma forma de início lenta,
enquanto que os restantes dois terços surgem de forma aguda.
No caso da evolução lenta da esquizofrenia, o diagnóstico precoce é bastante difícil, uma
vez que o isolamento, a quebra de rendimentos escolares e as alterações de
comportamento que estes doentes por vezes apresentam, são, na maior parte dos casos,
atribuídos às crises da adolescência, sendo por esse motivo frequentemente
desvalorizados.
A observação de uma sintomatologia psiquiátrica durante a infância e a adolescência de
alguns pacientes esquizofrénicos milita a favor de um início muito precoce da doença,
muitos anos antes da descompensaçãoclínica que aparece habitualmente no adulto jovem.
Spoerry (1964) em estudos verifica que um terço dos indivíduos que se tornam
esquizofrénicos, tem dificuldades antes dos cinco anos de idade, incluindo acidentes
perinatais, atraso da marcha, dificuldades alimentares, perturbações da linguagem e
perturbações do comportamento. Dos seis anos à puberdade, o trabalho escolar é
medíocre, em dois terços dos futuros doentes, com perturbações da linguagem,
perturbações psicomotoras, dificuldades de socialização, atraso do desenvolvimento
afectivo e ideias bizarras. Todas estas perturbações acentuam-se no momento da
puberdade, com dificuldades de inserção, conflitos familiares ou sociais e insucessos na
aprendizagem.
Para além destas alterações do comportamento, o adolescente sente-se muitas vezes
perplexo, desconcentrado, sentindo dificuldade em descrever aquilo que se está a passar.
As vivências somáticas podem assumir características pouco familiares e o próprio corpo
é percebido com alguma confusão. Com alguma frequência o jovem ou adolescente, passa
longos períodos de tempo em frente ao espelho a observar o seu corpo revelando a
presença de alterações do seu esquema corporal que podem surgir associadas à vivência
psicótica. Isto não acontece só ao nível do corpo, mas também na consciência de si
próprio, apresentando neste caso sentimentos de despersonalização. O indivíduo responde
a estas experiências disruptivas através de uma série de mecanismos de defesa que
passam pela negação e isolamento.
Um terço dos futuros doentes são considerados pelos seus professores como
desagradáveis, anti-sociais, tristes, afectivamente inadaptados, emotivos, negativistas,
egocêntricos e não terminam as tarefas iniciadas.
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20. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
McGlashan (1984,1986) refere que no início de um seguimento de 15 anos desta doença,
41% dos pacientes são considerados incapazes de cuidarem de si próprios, 23% são
considerados marginais e 14% apresentam uma forma ligeira da doença. No entanto,
segundo Miller e Cohen (1987), é necessário assinalar que, mesmo ao fim de muitos anos,
as melhoras continuam sempre a ser possíveis.
Apesar de a mortalidade do conjunto dos pacientes psiquiátricos hospitalizados ter caído
significativamente, a mortalidade relativa dos esquizofrénicos manteve-se sem mudanças
e continua a ser cerca de duas vezes mais elevada do que a da população geral.
5. SINTOMATOLOGIA E DIAGNÓSTICO
A esquizofrenia apresenta um conjunto de sintomas bastante diversificado e complexo,
sendo por vezes de difícil compreensibilidade. Estes sintomas envolvem aspectos ligados
ao pensamento, à percepção, ao rendimento cognitivo, à afectividade, a défices
interpessoais e a uma perda de contacto com a realidade.
Ao longo da história, foram feitas várias descrições dos sintomas da doença. Foram
muitos os que deram o seu contributo. Bleuler distinguiu dois tipos de sintomas presentes
nos vários quadros clínicos da doença. Os sintomas primários ou fundamentais
(ambivalência, autismo, perturbações afectivas e perturbações na associação de ideias)
que se observam em qualquer momento da evolução da doença e os sintomas secundários
ou acessórios que só se revelam em certos períodos da esquizofrenia.
Por outro lado, Kurt Schneider (1954) tentou dar um carácter predominante clínico e
objectivo na descrição da sintomatologia dividindo-a em: sintomas de primeira ordem e
sintomas de segunda ordem. Nos sintomas de primeira ordem Kurt frisa percepções
delirantes, pensamentos audíveis, alucinações auditivo-verbais com comentários de vozes,
eco do pensamento, alucinações somáticas, sentimentos e impulsos como provocados ou
influenciados por um agente externo. Nos sintomas de segunda ordem estão incluídas
alterações da percepção, ideias delirantes repentinas ou súbitas, perplexidade, alterações
do humor depressivas ou eufóricas e sentimentos de embotamento emocional.
Uma outra forma clínica de agrupar os sintomas foi proposta por Liddle (1987), dividindo
os sintomas da esquizofrenia em três grupos: I pobreza psicomotora (pobreza do discurso,
embotamento afectivo, diminuição espontânea dos movimentos e diminuição da mímica
facial); II desorganização (alterações da forma do pensamento e inadequação afectiva); III
distorção da realidade (alucinações e delírios).
Actualmente são aceites pela generalidade da comunidade psiquiátrica em todo o mundo
dois sistemas de classificação da esquizofrenia. O primeiro da Organização Mundial de
Saúde e o segundo protagonizado pela Associação Americana de Psiquiatria. A divisão
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21. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
dos sintomas da doença em positivos e negativos, embora controversa e provavelmente
simplista, é utilizada neste caso com um objectivo didáctico.
Os sintomas positivos estão presentes com maior visibilidade na fase aguda da doença. Os
delírios são considerados dentro dos sintomas positivos, estes são ideias individuais do
doente que não são partilhadas por um grande grupo, a temática dos delírios pode ser
diversa, mas normalmente predominam os temas de perseguição ou de ameaça para o
doente. No delírio de roubo e divulgação do pensamento os doentes acham que é possível
alguém adivinhar as suas ideias e pensamentos. O delírio de controlo ocorre quando o
doente acredita que alguém controla os seus movimentos e emoções. É ainda necessário
não confundir comportamentos, avaliando-os apenas segundo o nosso ponto de vista
social pois o que à partida aos nossos olhos pode parecer bizarro, para certas culturas
pode ser algo com muita tradição e significado.
As alterações da percepção são usuais. Pode aqui ser dado como exemplo o facto de uma
visita cumprimentar o doente com dois beijos na face e este acreditar que lhe estavam a
fazer aquilo porque ele estava infectado com um vírus mortal.
As alucinações são também frequentes na esquizofrenia, predominando as alucinações
auditivo-verbais que normalmente são críticas e ameaçadoras para o doente. As
alucinações podem ser de qualquer esfera sensorial (auditivas, visuais, tácteis, olfactivas e
cinestésicas), embora estas últimas sejam mais raras. Um exemplo de uma alucinação
auditivo- verbal poderá ser: “Pega fogo na casa, que aquilo está empestado de diabos lá
dentro, pega fogo antes que eles te ataquem!”.
Em relação ao pensamento, o doente pode fazer associações sobre assuntos sem qualquer
relação, pode ter dificuldades em manter conversas, fazendo pausas (bloqueios do
pensamento). O discurso pode ser completamente ilógico, incompreensível e ser
constituído por uma série de palavras isoladas sem qualquer sentido (salada de palavras).
Por vezes surgem ainda novas palavras inventadas pelo próprio doente, sendo, neste caso,
designadas como neologismos.
Os afectos podem encontrar-se alterados através por exemplo de uma rigidez afectiva, não
ocorrendo uma modulação dos afectos. Noutros casos verifica-se uma discordância
afectiva, quando surge uma inadequação entre o afecto e o discurso podemos dar como
exemplo o facto de o indivíduo se rir enquanto relata uma desgraça que aconteceu na sua
vida. A ambivalência afectiva pode também surgir durante o período psicótico,
coexistindo neste caso uma sobreposição de afectos contraditórios (amo-te, odeio-te).
As alterações de comportamento fazem parte dos sintomas da esquizofrenia e podem
manifestar-se através da agressividade, isolamento ou de bizarrias. No caso da
esquizofrenia hebefrénica, o comportamento pode apresentar-se muito regressivo,
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22. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
perdendo-se inclusivamente regras de comportamentos sociais e de higiene. Os familiares
relatam também, em certos casos, a presença de comportamentos estranhos, encontrando
por vezes o doente a falar sozinho num monólogo absurdo.
O contacto visual com o interlocutor pode ser alterado, o olhar pode ser evitado ou
noutros casos demasiado fixo e vazio.
Existem ainda várias anomalias motoras que estão associadas à esquizofrenia, os doentes
adoptam algumas posturas bizarras (como um braço para cima sem que surja um cansaço
ou desconforto). Noutros casos o doente adopta uma resposta ou atitude contrária à
manifestada pelo interlocutor (negativismo). Outra alteração é designada por ecopraxia e
consiste na imitação repetitiva do interlocutor por parte do doente.
Passando agora aos sintomas negativos, podemos dizer que estes acompanham a evolução
da doença e que reflectem um estado deficitário ao nível da motivação, das emoções, do
discurso, do pensamento e das relações interpessoais.
O isolamento social é um sintoma negativo que se observa com frequência e que se
manifesta geralmente por uma recusa em sair de casa e de se relacionar com os outros.
Existe assim um desinteresse social e um desinvestimento no estabelecimento de relações
íntimas.
No embotamento afectivo os sentimentos tornam-se mais esbatidos e pouco expressivos,
sendo bastante difícil para o doente exprimir sentimentos e emoções.
Na pobreza do discurso, a comunicação é pouco espontânea e fica limitada a algumas
palavras. O conteúdo do pensamento é pobre, restringindo-se a um número reduzido de
temas e assuntos. O diálogo torna-se bastante difícil, podendo o doente passar longos
períodos sem verbalizar uma palavra.
Nalguns casos pode ser difícil distingui se estamos perante os sintomas negativos da
doença ou de uma quadro depressivo.
De um modo geral e resumido podemos dizer que dentro dos sintomas positivos podemos
incluir as ideias delirantes, as alucinações, os pensamentos e discurso desorganizados,
agitação, ansiedade e impulsos. Nos sintomas negativos podemos incluir a falta de
vontade ou de iniciativa, o isolamento social, a apatia, a indiferença emocional e a
pobreza do pensamento.
Depois de conhecidos e abordados os sintomas da esquizofrenia passaremos então ao
processo de diagnóstico.
Ao contrário de outras doenças orgânicas como, por exemplo, numa infecção urinária em
que é possível detectar o agente através de exames laboratoriais e definir logo à partida
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23. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
um tratamento eficaz, na esquizofrenia o diagnóstico é mais complexo e tem que ser feito
numa perspectiva longitudinal. Este só pode ser feito pelas manifestações clínicas da
doença, uma vez que não é possível efectuá-lo através de exames laboratoriais ou
imagiológicos. O diagnóstico da esquizofrenia é complexo e faz-se, muitas vezes,
afastando hipóteses de patologias com sintomas similares, como doenças bipolares,
algumas lesões cerebrais e doenças neurológicas, metabólicas ou infecciosas. O consumo
de drogas, alguns medicamentos e intoxicações por metais pesados também podem ter
efeitos semelhantes aos da esquizofrenia. O primeiro passo para identificar o problema é
analisar a história clínica do paciente. A partir desta, é possível averiguar os antecedentes
familiares e dados do período fetal, analisar casos de consumo abusivo de álcool ou
drogas e conhecer as doenças de que o doente já padeceu e os medicamentos que tomou.
Para obter esta informação é indispensável a colaboração do paciente e dos seus
familiares. O doente poderá também ser submetido a um exame físico e uma avaliação
neuropsicológica, o médico pode ainda recomendar analises ao sangue e exames para
avaliar, por exemplo, o funcionamento renal, fígado e tiróide, no entanto nenhum destes
exames laboratoriais vai servir para afirmar que o doente é mesmo esquizofrénico.
Nalguns casos, antes da doença se manifestar, o paciente já apresenta um comportamento
anormal, expressando pouco as suas emoções, sem grandes aptidões sociais e com
tendência para o isolamento. Por vezes, os primeiros sintomas de alerta são irritabilidade,
medo e dificuldade de raciocínio. Os doentes revelam sentimentos de estranheza e
experiências, ao nível do pensamento, diferentes do habitual. Depois, a doença pode
manifestar-se de forma brusca, em poucos dias ou semanas, ou evoluindo gradualmente.
A última é mais problemática. A depressão, um problema frequente nos esquizofrénicos,
não esta definida como característica da doença, contudo quando existe está associada a
um pior prognóstico.
Por passar despercebida, o doente não recorre logo ao médico, o que atrasa o tratamento.
É ainda de frisar que existem outras situações psiquiátricas cujo diagnóstico diferencial
com a esquizofrenia deverá ser feito.
Existem vários critérios de diagnóstico para a esquizofrenia: a) sintomas característicos
como: ideias delirantes, alucinações, discurso desorganizado, comportamento
desorganizado e outros sintomas negativos. Salienta-se ainda que dois ou mais destes
devem estar presentes por um período de tempo significativo; b) disfunção
social/ocupacional, onde o relacionamento interpessoal ou o auto-cuidado estão
marcadamente abaixo do nível atingido antes do inicio da doença; c) os sinais devem ser
contínuos e persistirem durante um período de pelo menos seis meses entre outros.
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24. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
6. TRATAMENTO
Apesar de não haver cura para a esquizofrenia, o tratamento bem sucedido com
medicações antipsicóticas pode aliviar os sintomas da doença de forma que os indivíduos
possam levar vidas bem próximas do normal e produtivas do ponto de vista pessoal e de
trabalho. O desenvolvimento de várias medicações e intervenções psico-sociais tem
melhorado muito a perspectiva de pacientes com esquizofrenia. No entanto, o tratamento
completo da esquizofrenia requer abordagens farmacológicas, psicológicas e sociais,
dependendo do estágio da doença. A administração da medicação, o apoio psicológico e
familiar, a reabilitação vocacional e a ajuda da comunidade, desempenham juntos, um
papel fundamental para um excelente cuidado às pessoas comesquizofrenia.
6.1 – TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Até ao início da década de 1950, o tratamento farmacológico era bastante limitado e
pouco eficaz. O arsenal terapêutico ficava assim praticamente limitado aos opióides,
barbitúricos, brometos e anti-histamínicos. Estes fármacos, por sua vez, limitavam-se a
controlar a ansiedade e a agitação de alguns dos doentes.
Na década de 50 surgiram os primeiros medicamentos antipsicóticos. Conhecidos como
antipsicóticos típicos. A sua acção farmacológica faz-se sentir através do bloqueio no
cérebro dos locais de actuação do neurotransmissor designado como Dopamina. Sendo
desta forma diminuída a actividade desta substância. Este bloqueio ao nível da via
dopaminérgica mesolímbica provoca uma diminuição dos sintomas positivos da doença
(alucinações, delírios, etc.). Por outro lado, o bloqueio das restantes vias dopaminérgicas
dão origem a alguns dos seus efeitos indesejáveis: agravamento dos sintomas negativos,
aumento da prolactina (galactorrela) e efeitos extrapiramidais.
Estas substâncias revelaram-se particularmente eficazes no controlo dos sintomas
positivos da doença, nomeadamente as alucinações, as ideias delirantes e outras
perturbações do pensamento. A sua actividade sedativa permitiu melhorar
significativamente o comportamento e a agitação destes doentes.
No entanto, apesar da sua eficácia no controlo destes sintomas, este grupo de
medicamentos tinha pouca actividade sobre os sintomas negativos da doença e os seus
efeitos secundários eram, por vezes, bastante incómodos e pouco toleráveis.
Mais recentemente, na década de 90, surgiu uma nova geração de antipsicóticos,
designados por «novos antipsicóticos ou atípicos». Estes novos fármacos têm a
particularidade de serem igualmente eficazes no controlo dos sintomas positivos da
doença, de terem efeito sobre os sintomas negativos, ao contrário dos anteriores, de terem
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25. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
ainda menos efeitos secundários, principalmente ao nível dos efeitos extrapiramidais e de
serem, por isso, melhor tolerados pelos doentes.
O mecanismo de acção de alguns neurolépticos atípicos, através do antagonismo de vários
receptores, nomeadamente, dopaminérgicos, colinérgicos, histaminérgicos, alfa-
adrenérgicos, serotoninérgicos, deixa antever a grande complexidade e interacção dos
vários neurotransmissores e dos seus receptores na fisiopatologia desta doença.
Podemos contudo considerar, em termos gerais, que a maioria dos neurolépticos atípicos
partilha um efeito antagonista a nível dos receptores dopaminérgico e serotoninérgicos.
s
O aparecimento destes novos neurolépticos nos últimos anos tem vindo a levantar novas
esperanças no tratamento desta doença, já que a sua utilização tem permitido uma melhor
possibilidade de intervenção reabilitativa.
Os neurolépticos têm um efeito não só na fase aguda da doença como na fase de
manutenção, prevenindo o aparecimento de novos surtos psicóticos. Ao fim de um ano,
cerca de 60% dos doentes recaem. Este valor desce para cerca de 15%, se estiverem
medicados com neurolépticos
Alguns exemplos de antipsicóticos:
6.1.1. Efeitos secundários dos neurolépticos
Como já referimos, estes fármacos, nomeadamente os conhecidos por antipsicóticos
atípicos, têm uma série de efeitos secundários, sendo os mais frequentes:
Neurodislépticos: correspondem a uma rigidez muscular (distonia aguda), principalmente ao
nível dos músculos do pescoço, membros superiores e músculos oculares. O seu
aparecimento encontra-se associado a doses mais elevadas e aos neurolépticos de maior
potência. Estes efeitos secundários são habitualmente reversíveis com utilização de um outro
grupo de medicamentos designado por antiparkinsónicos, como, por exemplo, o biperideno
(Akineton®) ou o tri-hexifenidilo (Artane®).
Parkinsonismo secundário:
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26. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
Tremor das mãos,
Outras alterações do movimento
Inexpressividade facial
Aumento de peso
Alterações hormonais
Galactorreia (produção de leite através das glândulas mamárias)
Alterações menstruais
Disfunção sexual
Diminuição da libido
Impotência
Anticolinérgicos
Obstipação
Visão desfocada
Boca seca
Dificuldade em urinar
Sedação ou sonolência
Sialorreia – Aumento da produção de saliva
Acatisia: esta situação manifesta-se pela incapacidade de o doente estar quieto
no mesmo sítio, tendo uma necessidade imperiosa de permanecer em constante
movimento. Por vezes é confundida com ansiedade ou agitação psicomotora.
Perante este efeito secundário deverá ser feita a substituição do neuroléptico
prescrito, associando por exemplo ainda uma benzodiazepina (ansiolítico),
havendo contudo alguns casos de difícil tratamento.
Síndrome maligna dos neurolépticos: é uma situação bastante rara, mas de
grande gravidade. Os sintomas instalam-se habitualmente ao fim de dez dias de
terapêutica com neurolépticos e os principais sinais clínicos são: hipertermia,
rigidez muscular, alteração do estado de consciência, taquicardia, hipo ou
hipertensão arterial, diaforese ou sialorreia, tremor e incontinência dos
esfíncteres. É uma situação de urgência médica e deve ser tratada em ambiente
hospitalar, de modo a reduzir as eventuais complicações graves dela
decorrentes.
Discinesia tardia: trata-se de um efeito secundário com aparecimento tardio,
geralmente ao fim de alguns anos de medicação neuroléptica. Surge com maior
frequência em indivíduos do sexo feminino, verificando-se ainda a presença de
um factor de uma sensibilidade individual. Caracteriza-se pelo aparecimento de
movimentos involuntários e repetidos, envolvendo com maior frequência os
músculos da boca, face e língua. Este efeito secundário tem características
crónicas e é de difícil tratamento.
Estes efeitos secundários anteriormente descritos devem ser sempre comunicados ao
médico, para que este possa reduzir a dose ou eventualmente alterar a terapêutica
instituída.
Relativamente ao tempo que o utente deverá fazer a medicação não existe consenso. Cada
caso deverá ser avaliado individualmente pelo médico psiquiatra, devendo este considerar
o risco/benefício para o doente na continuação da terapêutica de manutenção.
Habitualmente após um episódio psicótico com critérios de esquizofrenia, a terapêutica
devera ser mantida por um período mínimo de 1 a 2 anos. Se houver mais episódios
agudos da doença, o período deverá ser alargado. Com frequência, existem doentes que,
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27. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
dado o número elevado de recaídas e a gravidade clínica das mesmas, necessitam de
manter a terapêutica de uma forma continuada.
A adesão a um tratamento prolongado é uma tarefa que infelizmente muitos doentes não
assumem. Umas vezes falha a persuasão médica, que não é suficientemente clara e
insistente, alertando para os riscos de uma interrupção da medicação. Poderão não ter sido
adequadamente informados sobre a necessidade e importância da mesma. Pode também
acontecer que, embora bem informado/a, o/a doente julgue que a medicação não serve
para nada, que “até faz mal”, pois não tem uma noção clara da sua doença, que minimiza
e nega. De notar que entre os sintomas de esquizofrenia conta-se a dificuldade da pessoa
em reconhecer as perturbações mentais como manifestação da doença, vivendo-as como
“verdades” que os outros não entendem, ou aceitando passivamente o seu estado. Outras
vezes são os efeitos adversos da medicação que levam o paciente a interromper o
tratamento. É possível reduzir esses efeitos ao mínimo; cabe ao médico escolher o
medicamento que melhor se ajusta a cada doente, reduzindo, se possível, a dose, ou
combinando medicamentos apropriados. De realçar que uma dose insuficiente é causa de
recaída, que pode ocorrer alguns meses mais tarde.
A possibilidade de evitar recaídas graves depende muito da adesão continuada à
terapêutica medicamentosa. Sem a medicação, a percentagem de recaídas no ano que se
segue a um surto agudo é de 75%. A manutenção de uma medicação apropriada permite
reduzir esse risco para 15%.
6.2 – A ELECTROCONVULSIVOTERAPIA
A electroconvulsivoterapia foi introduzida como técnica de tratamento da esquizofrenia,
em 1938, por Cerletti e Bini. O objectivo desta técnica é induzir, através de um estímulo
eléctrico, uma crise convulsiva no doente.
Ao longo dos anos têm sido várias as vozes que se ergueram, condenando este tipo, de
tratamento, considerando-o desumano e bárbaro. A realidade é que a
electroconvulsivoterapia, não só na data da sua introdução como ainda hoje, se revela
como uma forma de tratamento eficaz na esquizofrenia.
Na aplicação da electroconvulsivoterapia, recorre-se à anestesia geral, ao relaxamento
muscular e a uma monitorização rigorosa dos principais sinais vitais. Sendo que o risco
para o doente é muito baixo, apresentando uma taxa de mortalidade de 1 para 10000.
Os principais efeitos secundários correspondem a náuseas, cefaleias, dores musculares,
alterações cognitivas, principalmente da memória. Contudo estes efeitos secundários
normalmente são moderados e transitórios.
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Apesar de não ser considerado um tratamento de primeira linha para a esquizofrenia, são
várias as situações em que o seu uso se encontra indicado, nomeadamente em situações
refractárias à terapêutica farmacológica, nas formas de esquizofrenia catatónica, em
depressões severas com elevado risco de suicídio ou acompanhadas de sintomas
psicóticos, etc.
Existem ainda situações em que o seu uso se torna indispensável, designadamente quando
a terapêutica farmacológica se encontra contra-indicada ou desaconselhada, como por
exemplo na gravidez.
Habitualmente são programadas 6 a 12 sessões de electroconvulsivoterapia, com uma
frequência de duas a três vezes por semana, podendo estas serem repetidas se houver
justificação clínica.
As principais contra-indicações relativas da aplicação deste tipo de tratamento referem-se
a doenças cardiovasculares, como a presença de um enfarte recente, insuficiência cardíaca
congestiva, alterações da condução cardíaca, aneurismas, etc. A presença de uma lesão
tumoral intracraniana também pode limitar a sua utilização.
Em suma podemos afirmar que o uso da electroconvulsivoterapia no tratamento da
esquizofrenia mantém-se actual, embora como um tratamento de 2ª linha para situações
mais graves ou casos refractários ao tratamento farmacológico. As indicações clínicas
devem ser avaliadas caso a caso, tendo em consideração o risco/benefício deste
tratamento para o doente.
6.3 – PSICOTERAPIA
A psicoterapia é um tratamento psicológico, complementar ao farmacológico e que ajuda
o doente a elaborar e a integrar a sua experiência psicótica.
Após a saída da crise, o doente adquire alguma crítica face à doença, embora, muitas
vezes, tornando-se difícil para ele compreender e explicar o período de alienação e de
delírio em que se viu envolvido. Esta fase é vivida muitas vezes pelo doente com grande
angústia, levando-o a sentir-se só e deprimido.
Foram várias as abordagens psicoterapêuticas utilizadas no tratamento da esquizofrenia.
Na maioria dos casos, os resultados eram pouco animadores ou de eficácia reduzida. As
psicoterapias dinâmicas influenciadas pela psicanálise de Freud acabaram por não revelar
eficácia no tratamento destes doentes.
A psicoterapia cognitivo-comportamental é uma técnica psicoterapêutica que tem sido
utilizada no tratamento da esquizofrenia com algum sucesso no que diz respeito ao
tratamento dos sintomas positivos da doença, designadamente nas ideias delirantes e nas
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29. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
alucinações auditivas. Nesta o doente é ensinado a compreender e alterar o seu modo de
pensar, de forma a reagir de maneira diferente às situações que lhe causam ansiedade.
Com esta abordagem terapêutica procura-se, em conjunto com o doente, encontrar
modelos alternativos na explicação dos sintomas psicóticos da doença. Desta forma,
reduz-se o sofrimento associado à experiência psicótica.
Actualmente as abordagens psicoterapêuticas, como forma de tratamento único na
esquizofrenia, encontram-se desaconselhadas, uma vez que o tratamento farmacológico
deve estar sempre presente.
6.4 – PSICOEDUCAÇÃO
A psicoeducação, no contexto do tratamento da esquizofrenia, é uma técnica que visa
melhorar a compreensão da doença pelos doentes e suas famílias e, desta forma, melhorar
o seu comportamento e atitude face à doença.
Esta técnica deve ser encarada como uma parte do tratamento, devidamente enquadrada
num projecto terapêutico. Dentro deste contexto terapêutico, o indivíduo adquire um
papel activo no tratamento da sua doença. Procura-se assim fornecer informação aos
doentes sobre vários aspectos da própria doença, de uma forma sistematizada, englobando
áreas como os sintomas da doença, as suas possíveis etiologias, o tratamento e o curso da
doença, procurando melhorar a adesão à terapêutica e o próprio insight do doente face à
doença.
Os objectivos gerais dos programas de psicoeducação na esquizofrenia são:
Melhorar o autoconhecimento face à doença;
Melhorar a adesão à terapêutica;
Diminuir o risco de recaída;
Detectar e intervir precocemente nas recaídas;
Adoptar estratégias concretas durante a crise psicótica.
Os programas psicoeducativos podem ser realizados em sessões modulares temáticas
englobando tópicos como:
Aspectos diagnósticos;
Prevalência da doença;
Etiologia;
Evolução;
Terapêutica;
Factores de stress;
Recursos comunitários;
Abuso de substâncias;
Aspectos legais;
Sinais de recaída.
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30. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
A experiência psicótica é sempre um processo individual, que pode ter um impacto
profundo na estrutura familiar e social do doente. A abordagem terapêutica deve ser feita
de uma forma suficientemente flexível, para que o doente e a sua família, tendo em conta
o seu perfil social e cultural, possam integrar as explicações dadas sobre a experiência
psicótica.
6.5 – O INTERNAMENTO
Por vezes, na fase aguda ou de crise da doença, torna-se necessário recorrer ao
internamento. Este pode durar algumas semanas ou por vezes meses. O objectivo
principal é estabilizar o doente para que seja possível o seu regresso à comunidade o mais
rapidamente possível.
Os motivos que normalmente levam ao internamento são:
Dificuldade de diagnóstico diferencial e necessidade de realizar exames complementares de
diagnóstico;
Controlo de efeitos secundários mais graves, como a acatisia ou a síndrome maligna dos
neurolépticos;
Resistência à terapêutica;
Com o objectivo de retirar o doente de um ambiente sociofamiliar conflituoso para um
ambiente terapêutico;
Necessidade de realização de tratamentos especiais;
Risco de suicídio ou presença de comportamentos violentos e agressivos;
Perante um surto psicótico em que ocorra recusa da terapêutica ou não exista um apoio
familiar adequado.
7. CARACTERÍSTICAS ASSOCIADAS AO SEXO
As características associadas ao sexo dizem respeito à adaptação pré-morbida e às
particularidades clínicas e evolutivas da doença.
Entre as perturbações pré-morbidas da adaptação, os rapazes apresentam uma tendência
para os comportamentos anti-sociais e um comportamento de hiper-reactividade mais
acentuados do as jovens. Estas perturbações acompanham frequentemente uma
personalidade esquizóide. Em contrapartida, apesar de apresentarem um maior número de
perturbações de tipo pseudoneurótico, provocadas por timidez e evitamento social, as
jovens conservam durante mais tempo uma melhor adaptação aparente, tanto durante a
infância como durante a adolescência.
Apesar das diferenças comportamentais pré-morbidas se desvanecererm à medida que se
aproxima a idade de eclusão dos primeiros sintomas claramente psicóticos, as mulheres
jovens pré-esquizofrenicas encontram-se melhor adaptadas do que os homens antes da
descompensação clínica da doença. Este fenómeno refere-se ao casamento (40% das
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31. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
mulheres são casadas antes do primeiro internamento contra 30% dos homens), o
desenvolvimento psicossexual (somente 16% das mulheres nunca tiveram relações
sexuais com o individuo do sexo oposto antes do inicio da doença contra 40%), mas
também às relações sociais, de trabalho, etc.
Já no que se refere às particularidades clínicas e evolutivas da doença, diversas
investigações indicam uma tendência para a manifestação de sintomas positivos mais
abundantes e maior prevalência de sintomas timicos na mulher, ao passo que nos homens
os sintomas negativos parecem ser mais frequentes. Se bem que os resultados não sejam
homogéneos e as diferenças sejam, por vezes, de fraca amplitude. Relativamente à
evolução de longo prazo da esquizofrenia os estudos não demonstram consenso.
Aproximadamente metade destes estudos defendem uma evolução menos grave nas
mulheres, com menos recidivas, menos hospitalizações, internamentos de menor duração
e uma melhor adaptação social. Na outra metade, dos estudos, não encontramos estes
resultados, mas a grande heterogeneidade dos protocolos utilizados torna a análise difícil.
Para além das particularidades clínicas acima mencionadas, as mulheres parecem ser mais
sensíveis às medicações anti-psicóticas. As jovens mulheres esquizofrénicas
necessitariam de neurolépticos menos fortes do que os homens, mas, acima dos 40 anos
de idade, elas necessitariam de doses mais elevadas.
7.1 – AS MULHERES E A ESQUIZOFRENIA
7.1.1. Gravidez e esquizofrenia
Muitas esquizofrénicas já são ou virão a ser mães. A sua transição para a maternidade
poderá ser problemática devido à própria doença e às muitas dificuldades psicossociais
associadas à perturbação mental crónica.
A taxa de gravidez em doentes esquizofrénicas tem vindo a aumentar desde a sua
desinstitucionalização, ocorrida há algumas décadas. Apesar de iniciarem a vida sexual
activa tão cedo quanto a população em geral, esta reveste-se de alguns aspectos
particulares. O desejo e prazeres sexuais estão diminuídos (pela esquizofrenia em si ou
pelo tratamento farmacológico), a contracepção é inconsequente, o número de parceiros
sexuais é maior e as relações que estabelecem são menos estáveis, o que justifica altas
taxas de separação e divórcio, viverem muitas vezes sozinhas. São mais frequentes as
gravidezes não desejadas e não planeadas assim como a violência física, a violação e a
prostituição, quer antes quer durante a gravidez. O diagnóstico da gravidez é realizado
tardiamente devido ao facto de a doente não ter a capacidade de associar os sintomas de
uma gravidez e ainda devido às suspeitas de que os profissionais de saúde lhe possam
retirar o filho após o nascimento. As mulheres, com perturbações psicóticas, podem fazer
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32. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
uma interpretação distorcida das mudanças e experiências associadas à gravidez.
Nomeadamente as esquizofrénicas experimentam uma intensificação das ideias delirantes
precipitadas pelos movimentos do feto. Também poderão ter dificuldades em cooperar
com os procedimentos pré-natais. O impacto da gravidez na esquizofrenia depende da
gravidade da doença, de variáveis psicológicas e sociais e das complicações da própria
gestação.
O risco associado à gravidez não planeada e a necessidade de formação no planeamento
familiar é particularmente evidente nestas mulheres. As oito primeiras semanas de
gestação são fundamentais para o desenvolvimento neuronal, estando o cérebro altamente
susceptível aos agentes teratogénicos durante este período da vida embrionária. Uma
gravidez não planeada diminui as oportunidades de preparar e optimizar as condições
para o feto desde o momento da concepção. Este tipo de mulher poderá estar sob o efeito
de diversas modificações, a fumar muito ou a consumir substâncias ilícitas. Devido a más
condições sociais ou pobreza elas poderão não satisfazer as exigências nutricionais
adequadas. É possível que estes factores venham a ter um impacto na adesão da mãe aos
cuidados pré-natais, na sua capacidade de ser mãe e no seu estado mental.
Entre os riscos da gravidez da mãe esquizofrénica, além daqueles vindos das próprias
alterações psíquicas que a gestação favorece, estão os efeitos secundários dos
medicamentos usados para essa doença. Esses psicofármacos anti-psicóticos podem
afectar o feto, principalmente quando usados nos três primeiros meses de gestação.
Quando a mãe usa psicofármacos no final da gravidez o filho pode sofrer complicações
de parto. As mulheres com esquizofrenia têm maior probabilidade de problemas,
incluindo períodos mais curtos de gestação e de baixo peso no recém-nascido.
A gravidez parece ter um impacto imprevisível e muitíssimo variável na saúde mental.
Relativamente a esse impacto, da gravidez na evolução da esquizofrenia, as conclusões
dos diversos estudos realizados são contraditoras, o que reflectirá talvez a variabilidade
do seu impacto e dependerá não apenas do diagnóstico como também de uma gama de
variáveis psicológicas e sociais.
7.1.2. Maternidade e esquizofrenia
As pessoas com doença mental grave têm as mesmas aspirações de maternidade e
enfrentam os mesmos desafios associados do que os outros membros da comunidade. O
casamento e a maternidade são marcos esperados na vida da maioria das mulheres que
assinalam a transição para a idade adulta e são, muitas vezes, acompanhados por ritos e
cerimónias especiais.
Para algumas mulheres com esquizofrenia, a maternidade resulta numa melhoria das
redes sociais, na redução do sentimento de confusão, de identidade e de estigma. Mas
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33. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
para outras a maternidade está associada ao sofrimento, perda e frustração. O estigma
associado à doença mental grave parece ampliar-se quando se trata de pais com estas
doenças.
As crianças com pais portadores de esquizofrenia têm maior risco de desenvolver a
respectiva doença apresentando taxas mais altas de perturbações comportamentais e
emocionais.
O impacto de um progenitor mentalmente doente no funcionamento da família é mediado
por interacções complexas que incluem factores relacionados com a doença (por exemplo:
os sintomas nucleares da doença, efeitos secundários da medicação e necessidade de
hospitalização) e factores psicossociais secundários (por exemplo: a perda de
competências de parentalidade, conflito conjugal, isolamento social, habitação insegura e
pobre, desemprego e pobreza, entre outros). Todos estes factores contribuem para que ao
stress, sentido pelas mulheres com esquizofrenia, se acrescentem mais alguns devido ao
próprio papel de mãe.
Os pais com esquizofrenia encontram-se muitas vezes, num ciclo vicioso – os stressores
do ambiente têm impacto no progenitor e na criança exacerbando os sintomas do primeiro
e os problemas de comportamento do segundo, contribuído para as dificuldades de
interacção entre ambos. Estes stressores adicionais exacerbam os sintomas podendo
conduzir ao internamento hospitalar do progenitor doente, e consequentemente pode
colocar a criança em cuidados alternativos. Isso é capaz de causar stress no casal,
podendo atrasar a recuperação do progenitor doente e criar problemas de vinculação e de
relacionamento nos membros da família. Estas famílias geralmente enfrentam múltiplos
problemas, uma vez que estão expostas a uma vasta gama de stressores aumentando a
probabilidade de disfunção familiar.
É indiscutível a importância do aleitamento materno no estreitamento precoce da relação
mãe/filho, na passagem de anticorpos protectores que aumentam a resistência às infecções
do recém-nascido e também pelo seu valor nutricional. No caso das puérperas portadoras
de esquizofrenia a amamentação está formalmente contra-indicada se o período de
aleitamento coincidir com uma fase de surto. Em doentes compensados, sob medicação e
tendo em consideração que todos os anti psicóticos passam através do leito maternos, a
amamentação deve ser desaconselhada. Caso a mãe insista em amamentar deve ser
informada dos riscos da sua decisão, a qual implica a redução da posologia ao mínimo
eficaz.
Os indivíduos com esquizofrenia têm muitas necessidades relacionadas com a sua doença
principal e incapacidades associadas. As necessidades das mães com esquizofrenia
requerem uma atenção especial uma vez que os conhecimentos sobre a maternidade
escasseiam. As mães com esquizofrenia apresentam problemas relacionados com o
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34. Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
estigma da doença mental: dificuldades em lidar com as tarefas rotineiras da maternidade;
o impacto da gestão da doença mental e o medo de perder o contacto com os filhos.
Estas mães necessitam de informações frequentes sobre o seu papel durante a
maternidade, necessitando igualmente de apoio por parte dos familiares saudáveis. Outro
factor, extremamente importante para que a progenitora esquizofrénica consiga
ultrapassar o impacto da doença na sua vida, é ter um marido compreensivo, transmissor
de confiança e de carinho ajudando a mulher na prestação de cuidados ao filho e nos
serviços domésticos.
O problema surge quando o marido também sofre de esquizofrenia, quer por factores
genéticos quer pelo contacto permanente com a sua mulher. Neste caso os serviços de
saúde e os familiares desempenham um papel importante para ajudar a família a atingir o
equilíbrio.
8. PARENTALIDADE E ESQUIZOFRENIA
As relações do esquizofrénico, com a sua família, têm sido exclusivamente estudadas
numa tentativa de se encontrarem padrões comportamentais e comunicacionais que
possam contribuir para a etiologia e compreensão da doença. A esquizofrenia manifesta-
se de diferentes formas no que respeita aos comportamentos e tarefas que têm de ser
desempenhados pelo pai ou pela mãe. A mãe com esquizofrenia é descrita como fria,
distante, agressiva, hiperprotectora e ansiosa relativamente aos filhos. O pai é descrito
como crítico, hostil e demasiado envolvente. Quando no sistema familiar ambos os
progenitores, ou apenas um deles possui a doença de esquizofrenia ocorre certamente,
alterações marcantes na dinâmica familiar. A existência de pais esquizofrénicos, numa
família, é altamente destabilizadora conduzindo frequentemente a alterações
comportamentais na criança (filho). Neste contexto a assistência terapêutica passa pela
colaboração da família na recuperação do doente, contribuindo decisivamente para a
adesão ao tratamento e para o despiste precoce de eventuais descompensações.
A existência de filhos nascidos num casal em que um ou ambos os progenitores sofrem de
esquizofrenia levanta dois tipos de problemas. Por um lado coloca-se a probabilidade de
os descendentes virem a contrair a doença, por outro, a questão sobre a capacidade dos
pais se encarregarem da educação dos filhos, nascidos nestas circunstâncias. Na maioria
das situações tal é possível, desde que, em caso de descompensação da doença, esteja
assegurada uma alternativa educacional por parte de familiares próximos ou, em
alternativa, seja accionada uma resposta institucional.
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