O documento discute adolescência, gravidez na adolescência e seus desafios. Em três frases:
1) A OMS define adolescência como entre 10-19 anos e juventude entre 15-25 anos.
2) A gravidez na adolescência apresenta riscos médicos e sociais aumentados, como parto prematuro e abandono escolar.
3) Um pré-natal adequado é importante para tratar os riscos clínicos da gravidez na adolescência de forma multidisciplinar.
4. DEFINIÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
define adolescência como o período da vida
situado entre 10 a 19 anos, dividido em dois
subperíodos: de 10 a 14 anos e de 15 a 19
anos, e inclui a definição de juventude na
faixa etária de 15 a 25 anos, o que
compreende uma parte da adolescência.
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5. 35.302.872 pessoas na faixa Média de partos/1000
etária entre 10 e 19 anos, adolescentes:
sendo 21 % da população Brasil: 65/1000
brasileira. EUA: 45/1000
(Censo 2000, MS 2006) África sub- Saara: 229/1000
(Bearinger LH. Lancet 2007)
EUA e GB: 20% dos partos
em pacientes abaixo de 18
anos são reincidentes.
(Milne D. Current Opinion in Obst and Gynaecology,
2008)
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6. MS estima que 1 milhão de meninas ficam
grávidas anualmente antes dos 20 anos
700 mil partos 150-200 mil em rede
acontecem no SUS particulares
Problemas relacionados à gravidez, ao parto
e ao puerpério totalizam 80,3% das
internações das adolescentes
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7. Concentra-se nas regiões de
menor índice Porcentagem de Partos em Adolescentes
socioeconômico e cultural; no Estado de São Paulo entre 2002-2004
ANO %
Em muitas partes do país
2002 19,4
coincide com modificações 2003 17,6
estruturais, com políticas 2004 17
públicas endereçadas a Fonte: IBGE
população mal assistida.
Têm mostrado uma queda.
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8. Número de partos de
adolescente pelo SUS caiu
mais de 22% na segunda
metade da década passada.
Entre 2000 e 2009 queda foi
de 34,6%
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12. A média da idade da Do ponto de vista
menarca tem apresentado psicológico, a adolescência
um declínio de se caracteriza pela aquisição
aproximadamente quatro da identidade adulta, no
meses a cada década, com sentido de:
tendência a estabilização Individualidade;
Separação psicológica da
família;
Desenvolvimento cognitivo;
Planejamento do futuro
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13. Os fatores socioeconômicos e culturais que devem ser
identificados e que irão influir sobre os resultados materno-
fetais são:
O grau de escolaridade,
As condições socioeconômicas,
A presença ou ausência de companheiro,
O apoio ou não dos familiares durante a gravidez e após o
parto,
Os hábitos de vida (fumo, álcool e drogas)
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14. Privacidade,
Sigilo,
Consentimento informado,
Educação sexual, inclusive •PRIVACIDADE
•CONFIABILIDADE
no currículo escolar, PRESERVAR •RESPEITO
Informação e a assistência INDIVIDUAL
em saúde reprodutiva Cairo, 1994
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16. Países Desenvolvidos Causas relacionadas a
Políticas de saúde pública gravidez na adolescência
Impacto social menor Estímulo da mídia
Estilo de vida
Países em Capacidade reprodutiva
Desenvolvimento precoce
Problema social grave Amadurecimento sexual
Estrutura familiar precoce
Abandono escolar Casamento tardio
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17. Proporção de puérperas segundo variáveis psicossociais por faixa etária materna –
Município do Rio de Janeiro, Brasil, 1999-2001
VARIÁVEIS PUÉRPERA PUÉRPERA X² p-valor
(12-16 anos) % (17-19 anos) %
Não desejou a gravidez 69,1 61,4 5,968 0,015
Reação do pai do bebe negativa 18,8 13,3 5,575 0,02
Insatisfação com a gestação 15,6 11,1 4,446 0,038
Tentativa de aborto 13,0 27,2 10,194 0,001
Fumou na gestação 7,8 11,8 3,890 0,058
Usou álcool 6,9 10,3 3,151 0,093
Vítima de agressão 9,5 5,9 4,868 0,037
1 a 6 consultas de PN 52,2 55,0 0,720 0,396
Sentimentos negativos ao bebe 33,6 29,7 1,350 0,244
Abandonou os estudos 21,2 31,0 12,720 0,001
Não pretende trabalhar 39,8 33,0 4,811 0,033
Total da amostra 320 908
Cad. Saúde Pública, v.20, suppl.1, Rio de Janeiro, 2004
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18. Importância social
Mudança de status: menina mulher adulta
Constituir família própria
Sentimento de abandono
Falta de carinho e diálogo com seus próprios pais
Auto-afirmação
Agressão aos pais
Testar fertilidade
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19. Condições financeiras e sociais
Perspectivas de vida (em qualquer classe
social)
70% ficarão desempregadas no futuro
Abandono escolar
25% temporariamente
17,5% de forma definitiva
Sair da casa dos pais e não constituir
família própria
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20. Divergências
Critérios imprecisos utilizados nas diferentes
definições,
Metodologia inadequada usada para interpretar os
fenômenos observados,
Falta de controle de variáveis chamadas
confundidoras,
Amostras de tamanho insuficiente e não controladas,
Generalização de resultados imprecisos e
tendenciosos
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21. RESULTADOS MATERNOS E PERINATAIS PARA DESEMPENHO DE
ADOLESCENTES
Variável Dependente Variáveis Analisadas p r
Desproporção cefalopélvica Idade materna NS
Estatura materna NS
Peso RN <0,005 0,2541
Peso < 2.500 gramas Idade materna NS
Hipertensão arterial <0,005 0,1507
Tabagismo <0,005 0,1259
Estado civil NS
Pequeno para a idade Idade materna NS
gestacional (PIG)
Hipertensão arterial NS
Tabagismo <0,005 0,1149
Estado civil NS
Idade Gestacional < 37 Idade materna NS
semanas
Tabagismo NS
Estado civil NS
Rotura prematura de membranas 0,0257 0,895
Hipertensão arterial NS
Placenta prévia NS
Descolamento prematuro placenta NS
Malformação fetal NS
Chirlei A Ferreira Motta, 1993
23. Gravidez indesejada,
Necessidade de muitas adolescentes de
ocultar sua existência,
INICIO Dificuldade de acesso ao pré-natal,
TARDIO
DO PRÉ - Resistência ao controle do pré-natal,
NATAL
Poucas informações educacionais e
culturais,
Dificuldade em assumir perante a
família e a sociedade sua condição.
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24. É importante reconhecer a Além dos Aspectos
interface médica do Biológicos:
problema e providenciar
Aproveitar a
assistência adequada; oportunidade de diálogo
Sua complexidade
Detectar outros
multifatorial requer
problemas
abordagem interdisciplinar;
Ampla perspectiva Observar necessidades
biopsicossocial. Avaliar expectativas
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25. Estabelecer vínculo da adolescente com o serviço de
atendimento;
Oferecer apoio psicossocial;
Fornecer orientações sobre a gravidez, o parto, os
cuidados com o recém-nascido, a amamentação, a
anticoncepção e outros temas, relacionados ou não à
gravidez, por meio de atividades educativas
desenvolvidas durante a evolução da gestação;
Estimular, sempre que possível, a participação do
parceiro e dos familiares durante as consultas pré-natais
e o parto, respeitando o desejo da paciente.
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26. Baixa condição sócio-econômica,
Ingresso tardio ao pré-natal e menor número de consultas
Diretamente relacionado ao prognóstico materno e perinatal,
Ausência de trabalho com equipe multidisciplinar.
Galletta MA, Zugaib M. Revista da SOGIA-BR 2005; 2:12-14
Scholl TO, Hediger ML, Belsky DH. Journal of Adolescent Health 1994; 15:444-56
Diagnóstico tardio da gravidez
Atraso na procura dos serviços por razões diversas
Irregularidade menstrual típica/atraso menstrual
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27. RISCO CLÍNICO (British Cohort)
Complicações e Características Pré-natais
Proporção (%)
AUMENTO DO RISCO
18-34 anos <18 anos Razão de chances
(n = 336.462) (n=5246) (99% CI)
Inicio tardio PN 10,3 23,35 3,35 (3,05-3,69) INICIO TARDIO DO
Diabetes Gestacional 0,38 0,13 0,19 (0,07-0,50) PRÉ-NATAL
Pré-eclampsia 0,78 1,37 1,30(0,94-1,82)
Anemia 10,08 13,90 1,82(1,63-2,03)
Placenta Prévia 0,26 0,10 0,48(0,15-1,52)
Abortamento 0,45 0,36 0,71(0,36-1,24)
Apresentação pélvica 3,66 2,61 0,52(0,41-0,66)
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28. Resultados Fetais – Centro Latino Americano de Perinatologia
Fatores de Risco Perinatais
Idade Materna das Adolescentes
≤15 16-17 18-19 ≤ 19 20-24
(n=33.498) (n=119.723) (n=191.405) (n=344.626) (n=509.751)
Baixo Peso 12,8 10.3 9.6 10.2 8.1
Muito Baixo Peso 1.7 1.6 1.4 1.5 1.3
Parto Pré-termo 14.6 11.0 10.0 10.8 8.9
Parto abaixo 28 sem 2.8 2.3 2.1 2.2 1.5
SARI 17.0 15.9 14.8 15.4 11.6
Morte fetal * 17.0 15.0 16.0 15.7 16.1
Morte neonatal precoce 15.2 12.0 9.8 11.1 8.6
Baixo Apgar 5’ 1.0 1.0 1.2 1.1 1.1
* Taxa por 1.000 nascimentos
American Journal of Obstetrics and Gynecology, 192, 342-9, 2005
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29. Resultados Maternos – Centro Latino Americano de
Perinatologia
Fatores de Risco Maternos
Idade Materna das Adolescentes
≤15 16-17 18-19 ≤ 19 20-24
(n=33.498) (n=119.723) (n=191.405) (n=344.626) (n=509.751)
Pré-eclampsia 5.9 4.9 4.3 4.7 4.2
Eclampsia 1.1 0.6 0.4 0.5 0.2
Diabetes Gestacional 0.9 1.0 1.2 1.1 2.9
ITU 4.3 4.4 4.3 4.3 4.0
Ruptura Pre Memb 4.9 6.4 7.0 6.6 7.2
Sangramento 3° trim 0.2 0.5 0.6 0.5 0.9
Anemia 8.8 7.2 6.2 6.8 6.2
Parto Cesáreo 15.3 14.0 13.9 14.1 17.6
Parto Vaginal 4.1 3.8 3.3 3.5 2.7
Epsiotomia 75.7 71.0 67.2 69.3 53.7
Hemorragia pós-parto 7.0 5.6 5.0 5.4 4.2
Endometrite puerperal 16.7 9.7 7.2 9.0 4.7
Morte materna* 18.5 4.0 4.0 5.4 4.1
* Taxa por 10.000 mulheres American Journal of Obstetrics and Gynecology, 192, 342-9, 2005
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31. Elementos consideráveis para a adolescente no
momento da parturição são:
Presença de um acompanhante para a gestante, seja o
companheiro, a mãe o qualquer pessoa de sua
confiança que esteja ao seu lado durante toda a
evolução do trabalho de parto e também no momento
do nascimento;
A utilização de procedimentos analgésicos ou
anestésicos no momento oportuno;
A atenção dispensada pela equipe médica e de
enfermagem durante o trabalho de parto
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32. RISCO CLÍNICO (British Cohort)
Complicações no Parto
Proporção (%)
18-34 anos <18 anos Razão de chances
(n = 336.462) (n=5246) (99% CI)
Indução do trabalho 16,88 15,9 0,83 (0,75-0,92)
Parto pélvico 0,78 0,70 0,75 (0,48-1,18)
Parto Vaginal 11,36 10,06 0,46(0,41-0,56)
Cesárea de Emergência 8,65 5,74 0,45(0,68-0,53)
Cesárea eletiva 4,37 1,39 0,47(0,35-0,65)
Hemorragia pós parto 11,24 8,94 0,83(0,72-0,95)
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33. Estímulo a amamentação;
Alojamento conjunto: oportunidade
para aprendizado de cuidados com o
recém-nascido;
Consultas de revisão puerperal:
Esclarecer dúvidas,
Reduzir ansiedades,
Implantar ações de prevenção e
anticoncepção;
Enfatizar a prática da dupla proteção.
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35. Família
Diminuir a distância entre pais e filhos
Escola
“Programa Saúde e Prevenção nas Escolas” – 1993
Orientação sobre sexualidade,
Orientação sobre métodos anticonceptivos,
Melhorar o preparo dos profissionais
Governo
“Pacto Nacional para a Redução da Mortalidade Materna” - 1993
Serviços de Saúde
Atitudes não discriminatórias
Acesso a anticonceptivos desde o pós-parto e pós-aborto imediato.
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36. Campanhas em nível nacional para prevenção de DST/AIDS
direcionadas para segmentos da população jovem;
Estratégias de políticas de saúde reprodutiva para
adolescentes, incluindo contracepção de emergência;
Recomendação estatal para inclusão de educação sexual nas
escolas;
Exposição massiva na mídia das conseqüências negativas da
gravidez não planejada entre pessoas jovens.
Elza Berquó, NEPO/UNICAMP, CEBRAP
Suzana Cavenaghi, ENCE, IBGE
Encontro Anual da Associação Americana de População – PAA, Filadélfia,
EUA, 2005 .
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38. A faixa etária da adolescência apresenta uma situação de risco
especial, principalmente, porque demonstram características
compatíveis com desempenho obstétrico pouco diferente
daquele apresentado por mulheres acima de 20 anos;
Necessidade de maiores estudos para se definir com convicção a
abordagem nessa fase;
Presença de equipe multidisciplinar para o atendimento a esse
grupo;
Evitar a perpetuação de mitos e de preconceitos que afastam a
adolescente do atendimento;
O resultado das ações assistenciais devem ser divulgadas para o
conhecimento da sociedade como um todo, a fim de garantir
espaços para reflexão e de interpretação da dimensão do
problema.
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