A 16a edição da Bienal do Livro do Rio de Janeiro é aberta, completando 30 anos e homenageando a Alemanha. O evento espera receber 600 mil pessoas até 8 de setembro e terá 29 autores estrangeiros, incluindo o moçambicano Mia Couto e o americano Nicholas Sparks.
Um jovem de 19 anos estreia na literatura com o romance policial "Se Arrependimento Matasse", publicado pelo selo Novos Talentos da Literatura Brasileira. Apesar das dificuldades, a escrit
1. Galeria
16a
daBienaldoLivrodoRiodeJaneiroéabertaquinta-feiranoRiocentro
Completando30anos,oeventohomenageiaaAlemanhaeesperareceber600milpessoas.Atéodia
8desetembro,aBienalterá29autoresestrangeiros,entreelesomoçambicanoMiaCouto(Prêmio
Camões),eoamericanoNicholasSparks,autordebest-sellerscomoDiáriodeumaPaixão
CARLOTACAFIERO
DAREDAÇÃO
Uma história para ser lida
duas vezes. Assim é o romance
policial Se Arrependimento
Matasse. “A primeira leitura é
pelo suspense, o crime; a se-
gunda, para perceber as dicas,
entender e compreender o que
motivou o crime e as atitudes
cometidas pelos personagens
duranteahistória”,dizosantis-
ta Alma Cervantes, de 19 anos,
que estreia na literatura com o
título publicado pelo selo No-
vosTalentosdaLiteraturaBra-
sileira,daeditoraNovoSéculo.
Admiradordarainhadocri-
me, a escritora britânica Aga-
tha Christie, e do roteirista e
ilustradorjaponêsdevisualno-
vels – jogos para game focados
no enredo – Ryukishi 07, e fã
declarado da língua portugue-
sa, o jovem autor demonstra
fôlegoparaaescrita,pois,além
de estrear com uma ficção de
quase250páginas,jásededica
a um novo romance de misté-
rio com toques de terror, e a
umasériedecontospoliciais.
Se Arrependimento Matasse
trazosubtítuloDeveriaserum
Encontro Agradável..., dando
o tom da história que se segue:
após anos sem contato, três
jovens amigos – uma garota e
dois rapazes na faixa dos 20 e
poucos anos – se reencontram
parapassaralguns diasem um
hotel retirado da cidade – e de
propriedade dos pais de um
deles. Mas, na primeira noite
nohotel, a reunião se transfor-
ma em pesadelo quando o cor-
po do cozinheiro é encontrado
degolado. Na impossibilidade
de deixarem o local devido a
uma tempestade, hóspedes e
funcionários passam a ser sus-
peitos e são obrigados a convi-
verporlongashoras.
Com foco voltado às ques-
tões que movem a trama –
quemmatouocozinheiroepor
quê? –, o autor não se preocu-
paemlocalizargeograficamen-
tenemtemporalmenteahistó-
ria, que poderia ocorrer em
qualquer cidade, país ou ano
depois da invenção do carro e
antesdadocelular(motivope-
lo qual nenhuma das vítimas
consegue contato com alguém
de fora do hotel após os fios
telefônicosseremcortados).
“Euqueriaumambienteiso-
lado a contatos de fora, e den-
treosquepensei,acheiqueum
hotel seria o melhor para o
desenvolvimento da história”,
explicaoautor.
Cervantes nunca tinha pen-
sado em se tornar escritor, mas
percebeu ter um interesse mais
profundo pela língua portugue-
sa enquanto fazia traduções de
legenda para desenhos. “Come-
ceipordiversãoecompletamen-
te descompromissado. Pensei
em escreveruma história quan-
dodessevontade,mastomeigos-
tocomotempoedecidiqueque-
rialevarasério”,diz.
ESCRITOÀMÃO
Para ele, o atrativo do gênero
policial são o jogo intelectual e
a lógica que envolve a trama.
“Ainda assim, tentei criar uma
história que pode agradar não
só aos amantes deste gênero,
mas a todos que gostam de
uma história bem construída”,
explica Cervantes, para quem
os maiores desafios da escrita
foram não cometer erros de
lógica,mantendotudocoeren-
te e plausível, e apresentar as
dicas de maneira sutil. “Mas,
claro, escrever envolve inúme-
ras questões de escrita e lógica
que não são bem conhecidas
atévocêcomeçaraescrever”.
Para auxiliá-lo nessa primei-
ra empreitada literária, o autor
contoucomaajuda“moral”dos
pais – “eles me apoiaram e me
deram liberdade para realizar
esse trabalho” – e com as dicas
deumamigo,queacompanhou
a criação da história, fazendo
comentários. “Sobre revisão,
aforaarevisãodaeditora,fuieu
quem fez. Como sempre estu-
dei bastante português e ainda
ofaço,souexigentecomigomes-
mo, apesar de ser difícil não
deixarpassarerros”.
Mesmo sendo novato na lite-
ratura, Cervantes já desenvol-
veu um método bem particular
deescrita:criaduranteamadru-
gada, escrevendo tudo à mão, e
só depois de finalizada a histó-
ria é que a digita no computa-
dor – momento este em que se
dedicaaoscortesnecessários.
“Nocomeço, oritmoera len-
to, pois escrevia de vez em
quando.Comotempo,passeia
escrever todos os dias. Sou a
pessoa mais lenta que conheço
para escrever e, além disso,
nãoconsigofazê-lodiretamen-
te no computador, então faço
tudo primeiro no papel. Ao
menos tenho a vantagem de,
nessapassagem,alterar,corri-
gireadaptar.Eproduzoprati-
camenteduranteanoite,prin-
cipalmentedemadrugada”.
Será que ele já se considera
um escritor? “Claro, se não
for escritor, não sei o que sou.
Pretendoseguircomacarrei-
ra, embora sei que seja difí-
cil”,conclui.
A reação da maioria das pessoas
ao ver aquilo seria desviar o
olhar em aversão à cena.
Havia uma pessoa ali deitada:
era Victor, o cozinheiro.
Estava no chão, coberto de
sangue. Em seu pescoço, um
enorme corte de impiedosa
profundidade, claramente a
fonte da deslumbrante tinta que
pintara a imensidão branca da
cozinha com tão intenso
vermelho. Suas roupas, pouco
desarrumadas, porém intactas.
Finalmente, a seu lado
descansava o pincel metálico
utilizado na obra: uma simples
faca de cozinha idêntica às
utilizadas no hotel.
Ficaram sem palavras diante de
tal fatalidade e a reação de cada
um foi imediata. Alice desviou o
olhar instantaneamente e
permaneceu assim por algum
tempo; Rebeca tampou sua boca
com as mãos e seus olhos
encheram-se de lágrimas; Alex
olhava diretamente a cena,
expressando compaixão e raiva
por tal coisa ter acontecido ao
cozinheiro.
EXTRAÍDODOLIVROSEARREPENDIMENTO
MATASSE,DEALMACERVANTES
AhistóriadosRamonesemnovaedição
galeria@atribuna.com.br
Trecho
FOTOSREPRODUÇÃO
Apesar das dificuldades, Alma decidiu que vai se dedicar à literatura
HERBERTPASSOS/DIVULGAÇÃO
Biografia da banda é relançada
em edição atualizada, trazendo
novas entrevistas e adendos
Escritorsantistaestreia
comromancepolicial
Alma Cervantes tem 19 anos e já começa com obra no estilo de Agatha Christie
DAREDAÇÃO
Hey Ho Let’s Go outra vez! A
Madras Editora acaba de reco-
locar a história dos Ramones
de novo na prateleira das livra-
rias. Isso mesmo, uma das
obras mais pedidas pelos leito-
res, Hey Ho Let’s Go – A Histó-
ria dos Ramones (R$ 54, 90),
do jornalista britânico Everett
True, está sendo relançada em
edição atualizada, que termina
comamortedoterceiroRamo-
ne: o guitarrista Johnny, em
2004 – depois do carismático
vocalista Joey, em 2001, e do
genial (e paranoico) baixista
DeeDee,em2002.
Em 480 generosas páginas,
divididas em 36 capítulos e
mais três apêndices, além de
várias fotografias e trechos de
entrevistas dos artistas, roa-
dies e fãs, a biografia da banda
surgida no Queens, em Nova
Iorque, em 1974, e precursora
do punk rock, se mistura à
trajetória do próprio autor em
relação à música e à descober-
tadosRamones.
“Chelmsford, 1976. Surru-
piei o primeiro álbum dos Ra-
mones do esconderijo do meu
irmãoeestououvindonaradio-
la da família. A sonoridade é
estranha, parece a de uma ser-
ra elétrica ligada no máximo.
Minha mãe entra na sala e
profere a sentença imortal:
Masissoé música?’.Se émúsi-
ca? Não só é música como é
mais: é um vazio sonoro que
possibilita ao ouvinte
preenchê-lo do jeito que qui-
ser, por mais bizarro que seja.
Essa é a generosidade dos Ra-
mones. E eu entendi na hora
que qualquer um que é capaz
de criar tamanho desencontro
entre gerações só pode ser
bom,decenteecorreto”,escre-
veTruenaintroduçãodolivro.
Mesmo com tantas biogra-
fias sobre a banda – algumas
escritasporintegrantesdaban-
da– Hey HoLet’s Go temcomo
diferenciala análisedatrajetó-
ria musical da banda (em seus
altosebaixos)feitanãosomen-
te pelo autor, mas de produto-
res,críticosmusicaisedos pró-
priosRamones,alémdashistó-
riasdebastidor.
EverettTrueatuoucomoedi-
tor-assistente das revistas Me-
lody Maker e Vox. No início
dos anos 80, formou um grupo
vocal new wave simplesmente
paracantarmúsicasdosRamo-
nes no palco. Atualmente, ele
vive em Brighton, Inglaterra,
onde edita a revista de música
Plan B. Seu álbum favorito dos
Ramones é It’s Alive, gravado
ao vivo no Rainbow Theatre,
emLondres,em1977.
Terça-feira 27
D-1agosto de2013 www.atribuna.com.br