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BARROCO:
a arte da
indisciplina
O Barroco -----predominou no século XVII –
momento de crise espiritual
na cultura ocidental.
duas mentalidades,
duas formas distintas de ver o mundo:
de um lado de outro
o paganismo e o a forte onda de
sensualismo do religiosidade
Renascimento, lembra
(em declínio)
teocentrismo medieval
• vínculos com a cultura clássica
Século XVI
RENASCIMENTO
o retorno à cultura
clássica grecolatina
a vitória do antropocentrismo
BARROCO
caminhos próprios
necessidades de expressão
daquele momento
Outros nomes do Barroco
• Marinismo: (Itália), Giambattista Marini.
• Gongorismo: (Espanha) Luís de Gôngora y
Argote
Barroco e gongorismo = sinônimos.
• Preciosismo: (França), em razão do requinte
formal dos poemas
• Eufuísmo: (Inglaterra) criado a partir do título
do romance Euphues , or the anatomy
of wit, de John Lyly.
A SOCIEDADE
EUROPEIA
Século XVII
O CLERO A NOBREZA
TERCEIRO
ESTADO
•Artesãos
•Camponeses
•Burguesia
Poder econộmico
Pressão
CONTRADIÇÕES
DO BARROCO
Contrarreforma
Econômico Político Espiritual
Livre Oprimido
Enriquecer
*Influência
do paganismo
renascentista
•Prazeres
materiais
Restauração
da fe
Medieval.
Homem:
Ser contraditório
Características da linguagem
Forma
• Vocabulário selecionado
• Gosto pelas inversões
sintáticas.
• Figuração excessiva; ênfase
em certas figuras da
linguagens:metáfora,
antítese e hipérbole.
• Sugestões sonoras e
cromâticas.
• Gosto por construções
complexas e raras.
Conteúdo
• Conflito espiritual.
• Bemmal.
• Consciencia da
efemeridade do tempo.
• Carpe diem
• Morbidez.
• Gosto por raciocínios
complexos e intrincados.
Um “BARROCO” Brasil
A cada canto um gram conselheiro, A
Que nos quer governar na cabana, e vinha, B
Não sabem governar sua cozinha, B
E podem governar o mundo inteiro .A
Em cada porta um frequentado olheiro, A
Que a vida do vizinho, e da vizinha, B
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,B
Para levar à Praça, e ao Terreiro. A
Muitos mulatos desavergonhados, C
Trazidos pelos pés os homens nobres, D
Postas nas palmas toda a picardia. E
Estupendas usuras nos mercados, C
Todos, os que não furtam, muito pobres, D
Eis aqui a cidade da Bahia.E
Os escritores barrocos brasileiros
que mais se destacaram são:
• na poesia:
Gregório de Matos,
Bento Teixeira,
Botelho de Oliveira
Frei Itaparica;
• na prosa:
Pe. Antônio Vieira,
Sebastião da Rocha Pita
Nuno Marques Pereira.
GREGÓRIO DE MATOSGREGÓRIO DE MATOS
BAHIA (1633)
1° poeta brasileiro
- estudou no Colégio Jesuíta.
- em Coimbra se formou em Direito.
- ficou ali uns anos exercendo a sua
profissão, mas por suas sátiras retornou
obrigado ao Brasil onde foi convidado a trabalhar
com os Jesuítas no cargo de tesoureiro-mor da Companhia de
Jesus.
-Ainda por suas sátiras abandonou os Padres e foi degredado
para Angola.
- Retornou ao Brasil muito doente sob duas condições:
1.- não pisar terras baianas.
2.-não apresentar as suas sátiras.
É conhecido pela sua:
 Poesia lírica
 Poesia religiosa ou sacra
 Poesia satírica-valeu-lhe o apelido de
“Boca de inferno”
 Cultivou----------- cultismo /conceptismo
1. Poesia sacra
2. poesia lírica
3. poesia graciosa inédita até o S:XX
4. poesia satírica.
5. Últimas
POESIA LÍRICA
• A lírica amorosa de Matos celebra a tensão entre:
A imagem a tentação da carne
feminina angelical que atormenta o espírito
- define-se pelo erotismo
- revela uma sensualidade ora
grosseira/ora de rara fineza
- glorifica e admira à mulata (1° poeta)
““Minha rica mulatinha
Desvelo e cuidado meu”
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura:
Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma mulher, que em Anjo se mentia;
De um Sol, que se trajava em criatura
Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me,
Se esta a cousa não é, que encarecer-me
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me:
Olhos meus, disse então por defender-me,
Se a beleza heis de ver para matar-me,
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me.
(In: Antonio Candido e J. A. Castello, op. cit., p.
61).
Observe este soneto:
Sonetos a D. Ângela de Sousa ParedesSonetos a D. Ângela de Sousa Paredes
a mulher figura de
um “anjo”
pureza angelical contida
no próprio nome
uma grandeza
maior, o Sol
um ser superior, dotado de
grandezas absolutas e
inacessíveis
POESIA SACRA
- Gregório diante de Deus pede
perdão por seus erros.
- Sobressai o senso do pecado, mostra
a fragilidade humana e o temor diante da
morte e a condenação eterna.
- A faceta de pecador arrependido emerge na fase final
da sua vida (em sua mocidade fez composições
claramente desafiadoras do poder divino).
A Jesus Cristo Nosso Señor
Pequei, Senhor, mas nâo porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um sóp gemido:
Que a mesma culpa ,que a vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória
Gregório de Mattos
Guerra
A sátira
Age :deformação caricatural daquilo que se pretende atacar
ou desmoralizar.
Contém: -uma intenção reformadora,
- ligada ao sentimento de indignação
- à vontade de moralizar os costumes.
Elemento motivador :
- distingue-se o senso do ridículo, (a percepção
do lado cômico de personagens, situações e idéias.)
• Gregório de Matos pretendia, manifestar explicitamente o
funcionamento dos discursos do poder.
• Utiliza :"malandragem", "plágio", " inveja",
"imoralidade", "adultério", "racismo", “"furto",
"repúdio", "libertinagem" "promiscuidade".
POESIA SATÍRICA
A sátira de Matos tem muito de crônica social.
- foge dos padrões do Barroco
- se volta para a realidade social baiana século XVII.
- pode ser chamada de REALISTA ou BRASILEIRA.
- critica os letrados, os políticos, à corrupção, o relaxamento dos costumes, a
cidade de Bahia.
-língua diversificada (indígena e africana) palavrões, gírias, expressões locais
“Que os brasileiros são Bestas
E estão sempre a trabalhar
Toda a vida, por manter
Maganos de Portugal”
Maganos: engraçados.
A CIDADE DA BAHIA
A Cidade da Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado,
Pobre te vê a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh! se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
que fora de algodão o teu capote!
A BAHIA
Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas.
São, ó Bahia, vésperas choradas
De outros que estão por vir estranhos
 
Sentimo-nos confusos e teimosos
Pois não damos remédios as já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas
Como que estamos delas desejosos
Levou-me o dinheiro, a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:
 
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos
Eis outro exemploEis outro exemplo:
Se Pica-flor me chamais,
Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber,
se no nome que me dais,
meteis a flor, que guardais
no passarinho melhor!
Se me dais este favor,,
Sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fica então Pica-flor.
Ocupou-se de atacar viperinamente o baixo clero baiano, após ter sido
destituído do cargo eclesiástico de Tesoureiro-mor da Sé por recusar-se
a receber “ordens sacras” e a usar batina.
Voltou sua veia satírica contra vários religiosos, padres, frades, freiras,
cujo comportamento sexual foi alvo de vários de seus poemas.
...
E nos Frades há manqueiras? - Freiras.
Em que ocupam os serões? -Sermões.
Não se ocupam em disputas? - Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluís, na verdade,
Que as lidas todas de um Frade
São freiras, sermões, e putas. (recolha)
...
• A poesia gregoriana recorre ao jogo entre o
sagrado e o profano num processo de
“dessacralização” e popularização, o que se
verifica pelo uso que faz, repetidas vezes, da
rima Jesu/cu:
• Passou o surucucu
e como andava no cio,
com um e outro assobio,
pediu a Luisa o cu:
Jesu nome de Jesu,
disse a Mulata assustada,
ENTRE O CONCEITO E A FORMA
CULTISMO ou GONGORISMO:
• linguagem rebuscada, culta,
extravagante.
• Valorização do pormenor
mediante jogos de palavras
• Influência do poeta espanhol
Luis de Gôngora.
• Valorização do “como dizer”
CONCEPTISMO:
marcado pelo
- jogo de idéias, de conceitos,
seguindo um raciocínio
lógico.
- É usual a presença de
elementos da lógica forma
Nada impede que o mesmo texto tenha aspectos cultistas e
conceptistas.
Didaticamente se fala de que:
* o Cultismo é predominante na poesia e
* o Conceptismo é predominante na prosa
Cultismo ou Gongorismo é o abuso no emprego de figuras
de linguagem como as metáforas, antítese, hipérboles,
hipérbatos, anáforas, paronomásias, etc...
"O todo sem a parte não é o todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.
 
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica todo.”
(Gregorio de Matos)
Conceptismo
• utiliza uma retórica aprimorada
(arte de bem falar, ou escrever, com o propósito de
convencer; oratória).
Um dos principais cultores do ConceptismoConceptismo
o espanhol Quevedo,
QuevedismoQuevedismo..
• Valoriza-se "Valoriza-se "o queo que dizerdizer".".
Conceptismo: é marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um
raciocínio lógico
A – O SILOGISMO: Dedução formal tal que, postas duas proposições,
chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente
implicada, chamada conclusão. Assim, temos como exemplo: Todo homem
é mortal (premissa maior); ora, eu sou homem (premissa menor); logo, eu
sou mortal (conclusão).
"Mui grande é o vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.
Essa razão me obriga a confiar
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar."
Premissa maior: O amor infinito de Cristo salva o pecador.
Premissa menor: Eu sou um pecador.
Conclusão: Logo, eu espero salvar-me.
B – O SOFISMA: É o argumento que parte de premissas
verdadeiras e que chega a uma conclusão inadmissível, que não
pode enganar ninguém, mas que se apresenta como resultante
de regras formais do raciocínio, não pode ser refutado. É um
raciocínio falso, elaborado com a função de enganar.
• Ex.:
Muitas nações são capazes de governarem-se por si mesmas;
as nações capazes de governarem-se por si mesma não devem
submeter-se às leis de um governo despótico.
Logo,
nenhuma nação deve submeter-se às leis de um governo
despótico
Para a tropa do trapo vazo a tripa
e mais não digo, porque a Musa topa.
Em apa, epa , ipa, opa, upa
........
Atacóu viperinamente o baixo clero baiano após de ser
destituído do cargo Tesoureiro-Mor da Sé por recusar-se a
receber “ordens sacras ” e usar batina.
Manqueiras? - Freiras
Em que ocupam os serões? - Sermões
Não se ocupam em disputas - Putas
Com palavras disolutas
Me concluís, na verdade,
Que as lidas todas de um Frade
São freiras, sermões, e putas
........
SonetoSoneto
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com sua língua a nobre o vil decepa:
O Velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.
Pe. ANTÔNIO VIEIRA
• Lisboa
• 7 anos chega a Bahia.
• 1623: entra na Companhia de Jesus.
• Quando Portugal se liberta de Espanha, volta para o
seu país e se torna confessor de D. João IV.
• Políticamente tinha em contra de si:
_ a pequena burguesia cristã
o capital judaico e os cristão-novos.
_ os pequenos comerciantes
um monopólio comercial
_os administradores colonos
os índios.
OBRAS
Profecias três obras Esperanças de Portugal
Clavis Prophetarum
História do futuro
Cartas umas 500
Sermões quase 200
- estilo barroco conceptista
Sermão da Sexagésima
Sermão pelo bom sucesso das armas....”
Sermão de Santo Antônio
Sermões e cartas revelam a maestria com que Vieira usava a língua para
cativar sua audiência através de:
- o uso de metáforas e analogias- passagens ilustrativas do Antigo e Novo Testamento-
de uma crítica ao estilo cultista dos padres dominicanos
• CARTAS:
São cerca de 500 cartas,
que versam sobre o
relacionamento entre
Portugal e Holanda, sobre
a inquisição e os cristãos
novos e sobre a situação da colônia.
SERMÕES:
• São quase 200 sermões
o melhor da obra de
Vieira.
• Em estilo barroco
conceptista, totalmente
oposto ao gongorismo, o
pregador português usa
a retórica jesuitica para
trabalhar ideias e
conceitos.
PE ViEiRa
a EStRutuRa cláSSica:
Os sermões de Vieira tinham o “poder”de convencer quemOs sermões de Vieira tinham o “poder”de convencer quem
ouvia tanto pela razão quanto pela emoção.ouvia tanto pela razão quanto pela emoção.
•• Na unidade do assuntoNa unidade do assunto: o tema é estudado em todos os: o tema é estudado em todos os
aspectos.aspectos.
•• Na circularidade do desenvolvimentoNa circularidade do desenvolvimento: através da retomada: através da retomada
constante das premissas iniciais que são repetidas até oconstante das premissas iniciais que são repetidas até o
fim do sermão.fim do sermão.
•• Na divisão em cinco partesNa divisão em cinco partes::
1. Intróito: é exposto de maneira geral para todos que
irão ouvi-lo.
2. Invocação: quem vai pregar o sermão pede ajuda e
inspiração Divina.
3. Tema: sempre começa seus sermões, relembrando
uma passagem da bíblia, que represente o tema
que será pregado.
4. Argumentação: o pregador expõe a tese com
exemplos bíblicos. Utiliza o método parenético que
lança o argumento e pensa em todas as
possibilidades de contestação do ouvinte-leitor.
5. Peroração ou Epílogo: o pregador então faz uma
conclusão de tudo o que havia falado e ressalta os
fatos mais importantes da pregação.
Assim há de ser um sermão:
“-Há-de ter raízes fortes e sólidas, por que há-de ser
fundado no Evangelho;
- há-de ser um tronco, porque há-de ter um só assunto
e tratar uma só matéria;
- Deste tronco hão-de nascer diversos ramos, que são
novos discursos, mas nascidos da mesma matéria e
continuados nela; estes ramos nã hão-de ser secos,
sinão cobertos de folhas, porque os discursos hão-de
ser vestidos e ornados de palavras”
- Sermão da Sexagéssima
Sermão da Sexagésima,
- pregado em 1655 na Capela Real,
- versa sobre a arte de pregar em suas dez partes.
- usa de uma metáfora: pregar é como semear.
- traça paralelos entre a parábola bíblica sobre o
semeador que semeou nas pedras, nos espinhos
(onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde
não frutificou) e na terra (que deu frutos),
- critica o estilo de outros pregadores
contemporâneos seus, considerando que pregavam
mal,
O método utilizado por Vieira nos seus sermões:
1. Definir a matéria
2. Reparti-la.
3. Confirmá-la com a Escritura.
4. Confirmá-la com a razão.
5. Amplificá-la, dando exemplos e respondendo às
objeções, aos “argumentos contrários”
6. Tirar uma conclusão, exortar.
• Assim, ao analisarmos “O Sermão da
Sexagésima, precisamos entender:
A) as intenções discursivas do emissor da
mensagem, no caso, Antônio Vieira, e
A) a situação histórica e social dos receptores, os
demais catequistas.
Sermão da sexagéssima:
“Para um homem se ver a si mesmo, são
necessárias três coisas: olhos, espelho e luz.
Se tem espelho e é cego, não se pode ver por
falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de
noite, não se pode ver por falta de luz. Logo,
há mister luz, há mister espelho e há mister
olhos. Que coisa é a conversão de uma alma,
senão entrar um homem dentro em si e ver-se
a si mesmo?
Para esta vista são necessários olhos, e
necessária luz e é necessário espelho.”
A TÉCNICA ARGUMENTATIVA DE VIEIRA
A esses três fatores, o autor associa ainda três
instrumentos:
a) olhos,
b) espelho,
c) luz.
Vieira passa a distribuir e associar os instrumentos
por competência, segundo sua natureza:
a) O pregador concorre com o espelho, que é a
doutrina;
b) Deus concorre com a luz, que é a graça;
c) o homem concorre com os olhos, que é o
conhecimento
Expostas todas as variáveis de seu discurso, Vieira
verificará então cada um dos itens para saber qual dos
fatores está interferindo no frutificar da palavra de
Deus.
O procedimento de Vieira passa então a ser por exclusão:
a) o primeiro fator a ser testado é a própria palavra de
Deus. Apoiando-se na autoridade da Igreja, Vieira
descarta a possibilidade de que seja a palavra de Deus a
causa da pouca adesão à fé .
b) o segundo fator a ser dissecado por Vieira é o ouvinte,
em quem o autor também não encontra culpa pelo pouco
fruto da palavra de Deus, pois, por mais que sejam
maus, a palavra de Deus neles faz efeito.
c) efetuadas as duas demonstrações acima, Vieira conclui,
por consequência, que a culpa é dos pregadores o
suposto pouco fruto e efeitos que a palavra de Deus
exerce no mundo.
SERMÃO DE
SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES
Pregado em S. Luís do
Maranhão, três dias antes de
se embarcar ocultamente
para o Reino
Tudo começa com o conceito
predicável
• VÓS SOIS O SAL DA TERRA
• diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores
S. Mateus, capítulo V, versículo 13
está no sal (pregadores), ou na terra (ouvintes).
é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina,
u porque dizem uma coisa e fazem outra
u porque se pregam a si e não a Cristo.
rra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina,
imitam os pregadores e não o que eles dizem,
e servem os seus apetites e não os de Cristo.
predicável, Padre António Vieira, introduz o tema do sermão,
-se do tema e preocupa-se apenas com a razão pela qual a terra
partindo do principio de que a culpa é dos ouvintes.
a vez que o sermão é proferido no dia de santo António,
aproveitando assim o exemplo deste.
DESENVOLVIMENTO
"(...) para que procedamos com alguma
clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em
dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as
vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei
os vossos vícios."
EXPOSIÇÃO
E CONFIRMAÇÃO
Capítulos
II, III, IV e V
Capítulo II
Louvores dos
peixes
em geral
Capítulo III
Louvores de
peixes
em particular
Capítulo IV
Repreensão dos
peixes
em geral
Capítulo V
Repreensão de
peixes
em particular
Bons ouvintes / obedientes
-Primeira criação de deus
-- Melhores do que os homens
-- Livres, puros, longe dos homens
-Estas qualidades, são por antítese os
defeitos dos homens.
O capitulo II contempla os louvores aos peixes
de carácter geral,
recorre o exemplo de Jonas para mostrar que os
homens são muito piores que os peixes. Como
suas qualidades temos:
Repreensão dos vícios em particular
Repreensões
em particular
RONCADORES
- embora tão pequenos
roncam muito
(simbolizam a
arrogância e a soberba);
PEGADORES
- sendo pequenos,
pregam-se nos
maiores, não os
largando mais
(simbolizam o
parasitismo);
POLVO
- com aparência de
santo, é o maior traidor
do mar (simboliza a
traição).
VOADORES
- sendo peixes, também
se metem a ser aves
(simbolizam a
presunção (vaidade) e a
ambição);
"É possível que sendo
vós uns peixinhos tão
pequenos, haveis de
ser as roncas do mar?"
"Pegadores se chamam
estes de que agora falo, e
com grande propriedade,
porque sendo pequenos,
não só se chegam a outros
maiores, mas de tal sorte
se lhes pegam aos
costados, que jamais os
desferram."
"Dizei-me, voadores,
não vos fez Deus para
peixes? Pois porque
vos meteis a ser aves?
(...) Contentai-vos com
o mar e com nadar, e
não queirais voar, pois
sois peixes."
"E debaixo desta aparência
tão modesta, ou desta
hipocrisia tão santa (...) o
dito polvo é o maior traidor
do mar."
“ Louvai peixes, a Deus, os grandes e os pequenos…
Louvai a Deus, porque vos criou em tanto número.
Louvai a Deus, que vos distinguiu
em tantas espécies; louvai a Deus, que vos vestiu de
tanta variedade e formosura…”
A repetição da expressão Louvai a Deus acentua a
finalidade do Sermão:
o louvor a Deus que todos devem prestar.

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A ARTE DA CONTRADIÇÃO

  • 2. O Barroco -----predominou no século XVII – momento de crise espiritual na cultura ocidental. duas mentalidades, duas formas distintas de ver o mundo: de um lado de outro o paganismo e o a forte onda de sensualismo do religiosidade Renascimento, lembra (em declínio) teocentrismo medieval
  • 3. • vínculos com a cultura clássica Século XVI RENASCIMENTO o retorno à cultura clássica grecolatina a vitória do antropocentrismo BARROCO caminhos próprios necessidades de expressão daquele momento
  • 4. Outros nomes do Barroco • Marinismo: (Itália), Giambattista Marini. • Gongorismo: (Espanha) Luís de Gôngora y Argote Barroco e gongorismo = sinônimos. • Preciosismo: (França), em razão do requinte formal dos poemas • Eufuísmo: (Inglaterra) criado a partir do título do romance Euphues , or the anatomy of wit, de John Lyly.
  • 5. A SOCIEDADE EUROPEIA Século XVII O CLERO A NOBREZA TERCEIRO ESTADO •Artesãos •Camponeses •Burguesia Poder econộmico Pressão
  • 6. CONTRADIÇÕES DO BARROCO Contrarreforma Econômico Político Espiritual Livre Oprimido Enriquecer *Influência do paganismo renascentista •Prazeres materiais Restauração da fe Medieval. Homem: Ser contraditório
  • 7. Características da linguagem Forma • Vocabulário selecionado • Gosto pelas inversões sintáticas. • Figuração excessiva; ênfase em certas figuras da linguagens:metáfora, antítese e hipérbole. • Sugestões sonoras e cromâticas. • Gosto por construções complexas e raras. Conteúdo • Conflito espiritual. • Bemmal. • Consciencia da efemeridade do tempo. • Carpe diem • Morbidez. • Gosto por raciocínios complexos e intrincados.
  • 8. Um “BARROCO” Brasil A cada canto um gram conselheiro, A Que nos quer governar na cabana, e vinha, B Não sabem governar sua cozinha, B E podem governar o mundo inteiro .A Em cada porta um frequentado olheiro, A Que a vida do vizinho, e da vizinha, B Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,B Para levar à Praça, e ao Terreiro. A Muitos mulatos desavergonhados, C Trazidos pelos pés os homens nobres, D Postas nas palmas toda a picardia. E Estupendas usuras nos mercados, C Todos, os que não furtam, muito pobres, D Eis aqui a cidade da Bahia.E
  • 9. Os escritores barrocos brasileiros que mais se destacaram são: • na poesia: Gregório de Matos, Bento Teixeira, Botelho de Oliveira Frei Itaparica; • na prosa: Pe. Antônio Vieira, Sebastião da Rocha Pita Nuno Marques Pereira.
  • 10. GREGÓRIO DE MATOSGREGÓRIO DE MATOS BAHIA (1633) 1° poeta brasileiro - estudou no Colégio Jesuíta. - em Coimbra se formou em Direito. - ficou ali uns anos exercendo a sua profissão, mas por suas sátiras retornou obrigado ao Brasil onde foi convidado a trabalhar com os Jesuítas no cargo de tesoureiro-mor da Companhia de Jesus. -Ainda por suas sátiras abandonou os Padres e foi degredado para Angola. - Retornou ao Brasil muito doente sob duas condições: 1.- não pisar terras baianas. 2.-não apresentar as suas sátiras.
  • 11. É conhecido pela sua:  Poesia lírica  Poesia religiosa ou sacra  Poesia satírica-valeu-lhe o apelido de “Boca de inferno”  Cultivou----------- cultismo /conceptismo 1. Poesia sacra 2. poesia lírica 3. poesia graciosa inédita até o S:XX 4. poesia satírica. 5. Últimas
  • 12. POESIA LÍRICA • A lírica amorosa de Matos celebra a tensão entre: A imagem a tentação da carne feminina angelical que atormenta o espírito - define-se pelo erotismo - revela uma sensualidade ora grosseira/ora de rara fineza - glorifica e admira à mulata (1° poeta) ““Minha rica mulatinha Desvelo e cuidado meu”
  • 13. Não vira em minha vida a formosura, Ouvia falar nela cada dia, E ouvida me incitava, e me movia A querer ver tão bela arquitetura: Ontem a vi por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma mulher, que em Anjo se mentia; De um Sol, que se trajava em criatura Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me, Se esta a cousa não é, que encarecer-me Sabia o mundo, e tanto exagerar-me: Olhos meus, disse então por defender-me, Se a beleza heis de ver para matar-me, Antes olhos cegueis, do que eu perder-me. (In: Antonio Candido e J. A. Castello, op. cit., p. 61). Observe este soneto: Sonetos a D. Ângela de Sousa ParedesSonetos a D. Ângela de Sousa Paredes
  • 14. a mulher figura de um “anjo” pureza angelical contida no próprio nome uma grandeza maior, o Sol um ser superior, dotado de grandezas absolutas e inacessíveis
  • 15. POESIA SACRA - Gregório diante de Deus pede perdão por seus erros. - Sobressai o senso do pecado, mostra a fragilidade humana e o temor diante da morte e a condenação eterna. - A faceta de pecador arrependido emerge na fase final da sua vida (em sua mocidade fez composições claramente desafiadoras do poder divino).
  • 16. A Jesus Cristo Nosso Señor Pequei, Senhor, mas nâo porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um sóp gemido: Que a mesma culpa ,que a vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado
  • 17. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na Sacra História: Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória Gregório de Mattos Guerra
  • 18. A sátira Age :deformação caricatural daquilo que se pretende atacar ou desmoralizar. Contém: -uma intenção reformadora, - ligada ao sentimento de indignação - à vontade de moralizar os costumes. Elemento motivador : - distingue-se o senso do ridículo, (a percepção do lado cômico de personagens, situações e idéias.) • Gregório de Matos pretendia, manifestar explicitamente o funcionamento dos discursos do poder. • Utiliza :"malandragem", "plágio", " inveja", "imoralidade", "adultério", "racismo", “"furto", "repúdio", "libertinagem" "promiscuidade".
  • 19. POESIA SATÍRICA A sátira de Matos tem muito de crônica social. - foge dos padrões do Barroco - se volta para a realidade social baiana século XVII. - pode ser chamada de REALISTA ou BRASILEIRA. - critica os letrados, os políticos, à corrupção, o relaxamento dos costumes, a cidade de Bahia. -língua diversificada (indígena e africana) palavrões, gírias, expressões locais “Que os brasileiros são Bestas E estão sempre a trabalhar Toda a vida, por manter Maganos de Portugal” Maganos: engraçados.
  • 20. A CIDADE DA BAHIA A Cidade da Bahia! Ó quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado, Pobre te vê a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante, que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando e tem trocado, Tanto negócio e tanto negociante Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote. Oh! se quisera Deus que de repente Um dia amanheceras tão sisuda que fora de algodão o teu capote!
  • 21. A BAHIA Tristes sucessos, casos lastimosos, Desgraças nunca vistas, nem faladas. São, ó Bahia, vésperas choradas De outros que estão por vir estranhos   Sentimo-nos confusos e teimosos Pois não damos remédios as já passadas, Nem prevemos tampouco as esperadas Como que estamos delas desejosos Levou-me o dinheiro, a má fortuna, Ficamos sem tostão, real nem branca, macutas, correão, nevelão, molhos:   Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna, E é que quem o dinheiro nos arranca, Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos
  • 22. Eis outro exemploEis outro exemplo: Se Pica-flor me chamais, Pica-flor aceito ser, mas resta agora saber, se no nome que me dais, meteis a flor, que guardais no passarinho melhor! Se me dais este favor,, Sendo só de mim o Pica, e o mais vosso, claro fica, que fica então Pica-flor.
  • 23. Ocupou-se de atacar viperinamente o baixo clero baiano, após ter sido destituído do cargo eclesiástico de Tesoureiro-mor da Sé por recusar-se a receber “ordens sacras” e a usar batina. Voltou sua veia satírica contra vários religiosos, padres, frades, freiras, cujo comportamento sexual foi alvo de vários de seus poemas. ... E nos Frades há manqueiras? - Freiras. Em que ocupam os serões? -Sermões. Não se ocupam em disputas? - Putas. Com palavras dissolutas Me concluís, na verdade, Que as lidas todas de um Frade São freiras, sermões, e putas. (recolha) ...
  • 24. • A poesia gregoriana recorre ao jogo entre o sagrado e o profano num processo de “dessacralização” e popularização, o que se verifica pelo uso que faz, repetidas vezes, da rima Jesu/cu: • Passou o surucucu e como andava no cio, com um e outro assobio, pediu a Luisa o cu: Jesu nome de Jesu, disse a Mulata assustada,
  • 25. ENTRE O CONCEITO E A FORMA CULTISMO ou GONGORISMO: • linguagem rebuscada, culta, extravagante. • Valorização do pormenor mediante jogos de palavras • Influência do poeta espanhol Luis de Gôngora. • Valorização do “como dizer” CONCEPTISMO: marcado pelo - jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico. - É usual a presença de elementos da lógica forma Nada impede que o mesmo texto tenha aspectos cultistas e conceptistas. Didaticamente se fala de que: * o Cultismo é predominante na poesia e * o Conceptismo é predominante na prosa
  • 26. Cultismo ou Gongorismo é o abuso no emprego de figuras de linguagem como as metáforas, antítese, hipérboles, hipérbatos, anáforas, paronomásias, etc... "O todo sem a parte não é o todo; A parte sem o todo não é parte; Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga que é parte, sendo o todo.   Em todo o Sacramento está Deus todo, E todo assiste inteiro em qualquer parte, E feito em partes todo em toda a parte, Em qualquer parte sempre fica todo.” (Gregorio de Matos)
  • 27. Conceptismo • utiliza uma retórica aprimorada (arte de bem falar, ou escrever, com o propósito de convencer; oratória). Um dos principais cultores do ConceptismoConceptismo o espanhol Quevedo, QuevedismoQuevedismo.. • Valoriza-se "Valoriza-se "o queo que dizerdizer".".
  • 28. Conceptismo: é marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico A – O SILOGISMO: Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente implicada, chamada conclusão. Assim, temos como exemplo: Todo homem é mortal (premissa maior); ora, eu sou homem (premissa menor); logo, eu sou mortal (conclusão). "Mui grande é o vosso amor e o meu delito; Porém pode ter fim todo o pecar, E não o vosso amor, que é infinito. Essa razão me obriga a confiar Que, por mais que pequei, neste conflito Espero em vosso amor de me salvar." Premissa maior: O amor infinito de Cristo salva o pecador. Premissa menor: Eu sou um pecador. Conclusão: Logo, eu espero salvar-me.
  • 29. B – O SOFISMA: É o argumento que parte de premissas verdadeiras e que chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar ninguém, mas que se apresenta como resultante de regras formais do raciocínio, não pode ser refutado. É um raciocínio falso, elaborado com a função de enganar. • Ex.: Muitas nações são capazes de governarem-se por si mesmas; as nações capazes de governarem-se por si mesma não devem submeter-se às leis de um governo despótico. Logo, nenhuma nação deve submeter-se às leis de um governo despótico
  • 30. Para a tropa do trapo vazo a tripa e mais não digo, porque a Musa topa. Em apa, epa , ipa, opa, upa ........ Atacóu viperinamente o baixo clero baiano após de ser destituído do cargo Tesoureiro-Mor da Sé por recusar-se a receber “ordens sacras ” e usar batina. Manqueiras? - Freiras Em que ocupam os serões? - Sermões Não se ocupam em disputas - Putas Com palavras disolutas Me concluís, na verdade, Que as lidas todas de um Frade São freiras, sermões, e putas ........
  • 31. SonetoSoneto Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: Com sua língua a nobre o vil decepa: O Velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa: Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por Tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa: Mais isento se mostra, o que mais chupa.
  • 32. Pe. ANTÔNIO VIEIRA • Lisboa • 7 anos chega a Bahia. • 1623: entra na Companhia de Jesus. • Quando Portugal se liberta de Espanha, volta para o seu país e se torna confessor de D. João IV. • Políticamente tinha em contra de si: _ a pequena burguesia cristã o capital judaico e os cristão-novos. _ os pequenos comerciantes um monopólio comercial _os administradores colonos os índios.
  • 33. OBRAS Profecias três obras Esperanças de Portugal Clavis Prophetarum História do futuro Cartas umas 500 Sermões quase 200 - estilo barroco conceptista Sermão da Sexagésima Sermão pelo bom sucesso das armas....” Sermão de Santo Antônio Sermões e cartas revelam a maestria com que Vieira usava a língua para cativar sua audiência através de: - o uso de metáforas e analogias- passagens ilustrativas do Antigo e Novo Testamento- de uma crítica ao estilo cultista dos padres dominicanos
  • 34. • CARTAS: São cerca de 500 cartas, que versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a inquisição e os cristãos novos e sobre a situação da colônia.
  • 35. SERMÕES: • São quase 200 sermões o melhor da obra de Vieira. • Em estilo barroco conceptista, totalmente oposto ao gongorismo, o pregador português usa a retórica jesuitica para trabalhar ideias e conceitos. PE ViEiRa
  • 36. a EStRutuRa cláSSica: Os sermões de Vieira tinham o “poder”de convencer quemOs sermões de Vieira tinham o “poder”de convencer quem ouvia tanto pela razão quanto pela emoção.ouvia tanto pela razão quanto pela emoção. •• Na unidade do assuntoNa unidade do assunto: o tema é estudado em todos os: o tema é estudado em todos os aspectos.aspectos. •• Na circularidade do desenvolvimentoNa circularidade do desenvolvimento: através da retomada: através da retomada constante das premissas iniciais que são repetidas até oconstante das premissas iniciais que são repetidas até o fim do sermão.fim do sermão. •• Na divisão em cinco partesNa divisão em cinco partes::
  • 37. 1. Intróito: é exposto de maneira geral para todos que irão ouvi-lo. 2. Invocação: quem vai pregar o sermão pede ajuda e inspiração Divina. 3. Tema: sempre começa seus sermões, relembrando uma passagem da bíblia, que represente o tema que será pregado. 4. Argumentação: o pregador expõe a tese com exemplos bíblicos. Utiliza o método parenético que lança o argumento e pensa em todas as possibilidades de contestação do ouvinte-leitor. 5. Peroração ou Epílogo: o pregador então faz uma conclusão de tudo o que havia falado e ressalta os fatos mais importantes da pregação.
  • 38. Assim há de ser um sermão: “-Há-de ter raízes fortes e sólidas, por que há-de ser fundado no Evangelho; - há-de ser um tronco, porque há-de ter um só assunto e tratar uma só matéria; - Deste tronco hão-de nascer diversos ramos, que são novos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos nã hão-de ser secos, sinão cobertos de folhas, porque os discursos hão-de ser vestidos e ornados de palavras” - Sermão da Sexagéssima
  • 39. Sermão da Sexagésima, - pregado em 1655 na Capela Real, - versa sobre a arte de pregar em suas dez partes. - usa de uma metáfora: pregar é como semear. - traça paralelos entre a parábola bíblica sobre o semeador que semeou nas pedras, nos espinhos (onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde não frutificou) e na terra (que deu frutos), - critica o estilo de outros pregadores contemporâneos seus, considerando que pregavam mal,
  • 40. O método utilizado por Vieira nos seus sermões: 1. Definir a matéria 2. Reparti-la. 3. Confirmá-la com a Escritura. 4. Confirmá-la com a razão. 5. Amplificá-la, dando exemplos e respondendo às objeções, aos “argumentos contrários” 6. Tirar uma conclusão, exortar.
  • 41. • Assim, ao analisarmos “O Sermão da Sexagésima, precisamos entender: A) as intenções discursivas do emissor da mensagem, no caso, Antônio Vieira, e A) a situação histórica e social dos receptores, os demais catequistas.
  • 42. Sermão da sexagéssima: “Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é necessário espelho.”
  • 43. A TÉCNICA ARGUMENTATIVA DE VIEIRA A esses três fatores, o autor associa ainda três instrumentos: a) olhos, b) espelho, c) luz. Vieira passa a distribuir e associar os instrumentos por competência, segundo sua natureza: a) O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; b) Deus concorre com a luz, que é a graça; c) o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento
  • 44. Expostas todas as variáveis de seu discurso, Vieira verificará então cada um dos itens para saber qual dos fatores está interferindo no frutificar da palavra de Deus. O procedimento de Vieira passa então a ser por exclusão: a) o primeiro fator a ser testado é a própria palavra de Deus. Apoiando-se na autoridade da Igreja, Vieira descarta a possibilidade de que seja a palavra de Deus a causa da pouca adesão à fé . b) o segundo fator a ser dissecado por Vieira é o ouvinte, em quem o autor também não encontra culpa pelo pouco fruto da palavra de Deus, pois, por mais que sejam maus, a palavra de Deus neles faz efeito. c) efetuadas as duas demonstrações acima, Vieira conclui, por consequência, que a culpa é dos pregadores o suposto pouco fruto e efeitos que a palavra de Deus exerce no mundo.
  • 45. SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES Pregado em S. Luís do Maranhão, três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino
  • 46. Tudo começa com o conceito predicável • VÓS SOIS O SAL DA TERRA • diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores S. Mateus, capítulo V, versículo 13
  • 47. está no sal (pregadores), ou na terra (ouvintes). é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, u porque dizem uma coisa e fazem outra u porque se pregam a si e não a Cristo. rra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina, imitam os pregadores e não o que eles dizem, e servem os seus apetites e não os de Cristo. predicável, Padre António Vieira, introduz o tema do sermão, -se do tema e preocupa-se apenas com a razão pela qual a terra partindo do principio de que a culpa é dos ouvintes. a vez que o sermão é proferido no dia de santo António, aproveitando assim o exemplo deste.
  • 48. DESENVOLVIMENTO "(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios." EXPOSIÇÃO E CONFIRMAÇÃO Capítulos II, III, IV e V Capítulo II Louvores dos peixes em geral Capítulo III Louvores de peixes em particular Capítulo IV Repreensão dos peixes em geral Capítulo V Repreensão de peixes em particular
  • 49. Bons ouvintes / obedientes -Primeira criação de deus -- Melhores do que os homens -- Livres, puros, longe dos homens -Estas qualidades, são por antítese os defeitos dos homens. O capitulo II contempla os louvores aos peixes de carácter geral, recorre o exemplo de Jonas para mostrar que os homens são muito piores que os peixes. Como suas qualidades temos:
  • 50. Repreensão dos vícios em particular Repreensões em particular RONCADORES - embora tão pequenos roncam muito (simbolizam a arrogância e a soberba); PEGADORES - sendo pequenos, pregam-se nos maiores, não os largando mais (simbolizam o parasitismo); POLVO - com aparência de santo, é o maior traidor do mar (simboliza a traição). VOADORES - sendo peixes, também se metem a ser aves (simbolizam a presunção (vaidade) e a ambição); "É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?" "Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados, que jamais os desferram." "Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? (...) Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes." "E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar."
  • 51. “ Louvai peixes, a Deus, os grandes e os pequenos… Louvai a Deus, porque vos criou em tanto número. Louvai a Deus, que vos distinguiu em tantas espécies; louvai a Deus, que vos vestiu de tanta variedade e formosura…” A repetição da expressão Louvai a Deus acentua a finalidade do Sermão: o louvor a Deus que todos devem prestar.

Notes de l'éditeur

  1. necessidades de expressão daquele momento. necessidades de expressão daquele momento. necessidades de expressão daquele momento.
  2. Pressionava à n
  3. Político