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Relatório de
Missão
Grão 2013
ÍNDICE
Mensagem da Diretora 3
O Grão. Passado, Presente e Futuro 5
Missões 2013 7
Benguela, Angola
Contextualização da Missão 8
Atividades Desenvolvidas 9
Balanço Financeiro 17
Testemunhos 18
Fonte Boa, Moçambique
Contextualização da Missão 21
Atividades Desenvolvidas 22
Balanço Financeiro 28
Testemunhos 29
Agradecimentos 33
3
Mensagem da Diretora
Em cada ano, o Grão vai dando pequenos mas firmes passos na sua história, construindo assim o seu legado enquanto projeto de voluntariado internacional de
curta duração. Neste ano de 2012/2013, ao lançar à terra doze novos Grãos, este projeto comemora o seu oitavo ano de existência e o envio de oitenta
Missionários ao longo da sua história.
Para além disto, neste ano, o Grão regressou a Benguela, Angola onde apenas havia estado em 2007 e fortaleceu a sua presença em Fonte Boa, Moçambique.
Estes pequenos passos só são possíveis graças a:
· sentido de serviço de todos aqueles que se comprometem com o Grão e que, através do seu testemunho de Missão e exemplo de vida, são agentes de
(trans)formação social daqueles que se propõem aceitar o desafio da Missão;
· muita dedicação e entrega de todos aqueles que, em cada ano, aceitam o desafio de amor lançado pelo Grão e se propõem fazer formação e partir para
África;
· confiança por parte daqueles que, não fazendo diretamente parte deste projeto, o apoiam nas suas diversas vertentes e ajudam a que os desígnios do Grão
se tornem realidade;
· partilha de ideias, experiências e conhecimentos, de forma a servir cada vez mais e melhor; e acima de tudo
· crescimento e evolução do projeto, tendo em vista a sua projeção no futuro. 3
Um valor que é transversal ao Grão ao longo destes oito anos é o seu sentido de Missão. Este sentido de Missão é a génese da consciência sobre a
responsabilidade e a necessidade de intervir e transformar, na medida do possível, os pequenos mundos tão distantes e tantas vezes esquecidos a que o Grão
procura chegar, em cada ano.
Assim, pelo legado deixado em cada Missão e pelo espírito de cooperação ínsito na sua acção, o Grão continua e continuará a ter uma palavra a dizer enquanto
grupo de voluntariado internacional de curta duração.
Com a forte convicção de que o valor do Grão reside nas pessoas que, todos os anos, põem a sua vontade ao serviço e assumem a responsabilidade de dar tudo
de si, em locais onde a falta de oportunidades, as carências e as dificuldades são a realidade, é um enorme privilégio poder encarar o sentido de Missão do
Grão enquanto sua directora.
Com o ano da fé como pano de fundo, o Grão aceita o desafio lançado pelo Papa Francisco, de sermos “todos enviados pelo mundo para caminhar com os
irmãos”.
Rita Machado
54
O Grão. Passado,
presente e futuro
O Grão nasceu em 2005, no Centro de Reflexão e Encontro Universitário – Inácio
de Loyola (CREU-IL), no Porto, como resultado da forte vontade de criar, no seio da
Província Portuguesa da Companhia de Jesus, um grupo de voluntariado
internacional, em países em vias de desenvolvimento, formado por estudantes
universitários e jovens profissionais. Desde então, este pequeno grupo portuense
tem crescido e tem vindo a realizar Missões em África, durante os meses de Verão
(Agosto e Setembro), atuando em cooperação com organizações não-
governamentais para o desenvolvimento (ONGD) e outras organizações locais,
numa lógica de inserção e inculturação, e focando a sua intervenção no
desenvolvimento comunitário, formação / educação, promoção da integridade
individual e autonomia das populações através da capacitação de pessoas locais.
Para além da presença consistente no terreno durante o período de Missão, que é
o objetivo primordial deste projeto, o Grão promove um plano de formação anual
com o intuito de dotar os seus voluntários das competências necessárias à
concretização, no terreno, da essência deste projeto, nomeadamente, fazendo
trabalho voluntário junto de outras organizações em Portugal, a sua maioria
situadas no Porto. Paralelamente são desenvolvidas diversas atividades e eventos
que promovam a divulgação e garantam a sustentabilidade financeira do Grão ao
longo dos anos, e que se apoiam, essencialmente, na generosidade daqueles que
acreditam neste projeto e, com isso, o fomentam e aperfeiçoam.
6 5
Nestes oito anos de existência, este projeto tem lançado “Grãos” em:
• Guadalupe, São Tomé e Príncipe, em colaboração com as Irmãs Franciscanas Missionárias de
Nossa Senhora - de 2008 a 2012;
• Uíge, Angola, em cooperação com os Leigos para o Desenvolvimento (LD) – em 2007;
• Cubal, Angola, apoiando a Missão das Irmãs Teresianas - de 2010 a 2012;
• Benguela, Angola, em cooperação com os Leigos para o Desenvolvimento e a Casa do Gaiato
de Benguela - em 2007 e 2013; e
• Fonte Boa, Moçambique, em colaboração com a Missão Católica de Fonte Boa e a Fundação
Gonçalo da Silveira (FGS) - em 2006, 2012 e 2013.
A novidade deste ano 2012/2013 foi a partida do Grão para Benguela, onde apenas havia estado
em 2007. Esta Missão teve a particularidade de o Grão colaborar, em simultâneo, com os Leigos
para o Desenvolvimento (através da participação ativa em alguns projetos que os LD têm em curso
nesse local de Missão) e com a Casa do Gaiato de Benguela (que assume um papel primordial na
formação e educação dos jovens rapazes que lá habitam).
Por sua vez, a Missão do Grão em Fonte Boa caracterizou-se pelo fortalecimento do apoio à
Missão Católica de Fonte Boa e pela cada vez mais estreita e profícua colaboração com a
Fundação Gonçalo da Silveira (FGS) e que se pretende que se mantenha para os anos vindouros.
Esta parceria com a Fundação Gonçalo da Silveira e colaboração com os Leigos para o
Desenvolvimento demonstrou que juntos seremos mais fortes e capazes de chegar mais longe.
Consciente de que o desenvolvimento é um caminho longo e exigente, que lhe permitiu chegar
até aqui, o Grão continuará, em cooperação, a dar passos firmes no seu percurso, num espírito de
dignidade, respeito e amor com, para e pelas pessoas que serve. Através da sua ação livre,
cooperante e fiel, o Grão encara o desenvolvimento com uma enorme responsabilidade e
confiança.
6
Missões 2013 7
Benguela
AngolaA Missão de Benguela este ano iniciada, desenvolveu-se em cooperação com
duas organizações – a ONGD Leigos para o Desenvolvimento, em cujos
projetos o Grão colaborou ativamente; e a Casa do Gaiato de Benguela, um
dos muitos lares da Obra da Rua, onde os voluntários do Grão ficaram
instalados e desenvolveram atividades em parceria com os responsáveis da
casa.
Assim, no dia 25 de Julho, partiram para Angola seis missionários do Grão:
MARIA JOÃO AZEREDO 25 anos. Licenciada em Gestão e Marketing do
Turismo. Coordenadora da Missão.
ANA AMADO 21 anos. Estudante de Ciências da Nutrição. Vice-Coordenadora
e Tesoureira.
MARIANA RAMOS 22 anos. Estudante de Engenharia de Serviços e Gestão.
Responsável de Logística.
INÊS PINTO 22 anos. Enfermeira. Responsável de Saúde e Segurança.
MARIA BALDAQUE 22 anos. Estudante de Ciências da Nutrição. Responsável
de Materiais.
CARLOS MARIA AZEREDO 19 anos. Estudante de Engenharia Civil.
Responsável de Oração Comunitária.
A Missão
Situada no litoral de Angola e contando com uma população de cerca de 513
000 habitantes, Benguela é a segunda maior cidade do país e capital da
província com o mesmo nome. Na periferia da cidade, fruto das migrações
ocorridas durante a guerra civil, estende-se uma enorme área ocupada por
musseques ou “bairros de lata”, sendo um dos maiores o Bairro da Graça,
local onde se situa a Casa do Gaiato e onde trabalham os Leigos para o
Desenvolvimento.
A trabalhar em Benguela desde 1996 e no Bairro da Graça desde 2004, a
atuação dos LD assenta sobretudo em áreas como a dinamização e
organização comunitária, educação e formação, empreendedorismo e
empregabilidade, capacitação de agentes locais, promoção do voluntariado e
pastoral. Atualmente está em curso um programa de desenvolvimento
comunitário no Bairro da Graça que inclui os seguintes projetos: Dinamização
do Grupo Comunitário, Espaço Criança, Empowerment das Mulheres, Centro
Juvenil da Graça e Gabinete de Apoio à Inserção na Vida Ativa (GAIVA). A Casa
do Gaiato, inaugurada em 1964 pelo Padre Manuel António – ainda hoje o
“gaiato mais velho”, é a casa de uma família de cerca de 125 rapazes entre os
5 e os 30 anos acolhidos da rua ou de situações familiares muito instáveis. 8
CAMPO DE FÉRIAS DA GRAÇA
Com o objetivo de ocupar as crianças do Bairro da
Graça durante o período das férias escolares de
Agosto, os missionários do Grão juntaram-se aos
Leigos para o Desenvolvimento na estruturação do
II Campo de Férias do Espaço Criança. Com a
duração de uma semana, de 19 a 24 de Agosto, no
total, foram 100 as crianças que beneficiaram
desta iniciativa.
Partindo do princípio de que o desenvolvimento
acontece quando damos não o peixe, mas a cana
para pescar, foi lançado o desafio à Mobilização
Juvenil do Bairro para que fossem os jovens locais
a animar a semana de férias.
Manifestado o interesse dos jovens na iniciativa, a
intervenção do Grão incidiu em duas vertentes –
na formação dos monitores do Campo de Férias e
no acompanhamento dos mesmos e das
atividades ao longo da semana de Campo.
o Formação dos Monitores:
O Curso de Monitores promovido pelo Grão e
pelos LD permitiu capacitar 13 jovens locais para a
animação do Campo de Férias do Bairro. Ao longo
das semanas que o antecederam, foram realizados
quatro momentos de preparação:
• Reunião de Formação de Monitores e Diretores:
onde foram abordados temas como o objetivo
de um campo de férias, o perfil de um monitor e
a importância do trabalho em equipa;
• Reunião de preparação dos meios de
divulgação, angariação de patrocínios e
inscrições;
• Reunião de planeamento das atividades do
Campo: onde foram selecionados os temas
diários e respetivas atividades a desenvolver;
• Reunião de preparação dos materiais
necessários às atividades.
No final da semana de Campo foi ainda promovido
um encontro de monitores onde foram projetadas
as fotografias dos melhores momentos do Campo
e entregues os diplomas de participação aos
monitores – uma cerimónia que além de fomentar
o espírito de grupo, procurou premiar a
mobilização e espírito de partilha dos jovens
voluntários. Quem sabe um dia, sem o
acompanhamento de missionários europeus,
possam por si mesmo, tomar a iniciativa e ser os
motores de desenvolvimento do Bairro onde
cresceram.
o Acompanhamento do Campo:
Durante a semana do Campo, os voluntários do
Grão mantiveram-se presentes junto dos
monitores mas limitando-se ao cumprimento de
funções de apoio e logística. No último dia do
Campo, graças à generosidade dos responsáveis
do Cinema Kalunga de Benguela, as crianças
tiveram a oportunidade de, pela primeira vez,
assistir a um filme. Muitas delas nunca tinham
sequer ido à cidade, a cerca de três kms do Bairro.
Atividades Desenvolvidas
Em cooperação com os Leigos para o Desenvolvimento
9
15
CURSO DE MULTIMÉDIA
Outro dos projetos dos Leigos para o
Desenvolvimento é o Centro Juvenil da Graça, um
centro construído de raiz em pleno Bairro da
Graça e que é sede de vários movimentos juvenis
e palco de iniciativas como debates, ações de
formação ou encontros temáticos. Atualmente
conta com uma Biblioteca, duas salas de
Informática e um Gabinete de Apoio à Inserção na
Vida Ativa.
Quando o Grão conheceu este espaço, apenas se
encontrava em funcionamento uma sala de
Informática com um curso de iniciação a
programas de escrita, cálculo e apresentações, no
entanto, após ter sido feito um donativo de
computadores, era necessário montar uma
segunda sala e, se possível, alargar a oferta
formativa do Centro.
Assim, depois da montagem da nova Sala de
Informática, os voluntários do Grão entregaram-se
ao desenho de uma primeira edição de um Curso
de Multimédia, um curso que permitiu aos jovens
já familiarizados com o computador, alargar os
seus conhecimentos informáticos.
O Curso, com 12 alunos inscritos, teve uma
duração de seis semanas e uma carga horária de
48 horas. As aulas, teórico-práticas, incidiram
sobre seis programas: Photo Editor!, Photoscape,
Microsoft Publisher, Windows Movie Maker,
Muvee Reveal8, Logo Maker e Virtual DJ.
Com o objetivo de dar continuidade ao projeto, os
voluntários do Grão deixaram no Centro Juvenil
um dossier com a estrutura do curso, os
conteúdos lecionados, os sumários e exercícios
das aulas, as provas realizadas e ainda as folhas de
presença e referências aos melhores alunos com o
intuito de, no futuro, virem a ser capacitados para
formadores das próximas edições do curso.
10
17
AVALIAÇÃO DO PROJETO DE ALFABETIZAÇÃO DE
ADULTOS
O projeto de alfabetização de adultos dos LD em Benguela facultou, ao longo
de vários anos, o acesso de adultos à 1ª e 2ª classes e a possibilidade de
prosseguirem os estudos no Ensino Oficial, uma vez que a Escola do Bairro só
dispunha de Ensino de Adultos a partir da 3ª classe.
O "Método de Alfabetização de Dom Bosco" foi utilizado pelos LD para formar
os inicialmente alunos e posteriormente monitores, a quem foi entregue o
lecionar das aulas nas capelas de diferentes movimentos religiosos. O projeto
foi coordenado em conjunto com os monitores, tendo sido dada particular
relevância à sua formação contínua e à sua capacitação como líderes capazes
de assumir o projeto no futuro. O envolvimento solidário destes monitores
em benefício da sua própria comunidade foi a base de sustentação de todo o
projeto.
No entanto, em 2009, o projeto foi finalmente passado na íntegra para as
mãos das entidades locais sem que tivesse havido uma avaliação do seu
impacto na comunidade. Assim, a pedido dos LD e pelas mãos dos
missionários do Grão, foi então realizado um estudo sob a metodologia de
entrevistas aos monitores do curso.
A partir das perguntas inicialmente propostas para esta sistematização –
“Qual foi o percurso escolar (com foco no prosseguimento de estudos) dos
beneficiários após a passagem pelo projeto?” e “Quais as mais valias para os
beneficiários pelo facto de terem participado no projeto?”, podemos concluir
que houve uma grande vontade por parte dos alunos em continuar os
estudos. Porém, o vínculo criado ao Método Dom Bosco, utilizado no projeto,
dificultou a habituação ao ensino público. Contudo, alguns monitores
entrevistados referiram que existe realmente um interesse muito grande em
“ser alguém no futuro” e que há casos de pessoas que passaram pelo projeto
de alfabetização que atualmente são professores do ensino público ou têm
outras profissões melhor remuneradas.
Relativamente às mais-valias, todos os monitores referiram ser um projeto
muito importante para o Bairro da Graça nomeadamente no que diz respeito
à higiene e saneamento, mas, especificamente para os beneficiários, a
aprendizagem, no sentido em que possibilita a capacitação dos alunos nas
tarefas do dia-a-dia e na participação ativa na sociedade, teve especial relevo.
Os dados recolhidos pelo Grão e a avaliação feita junto dos monitores quanto
ao impacto que a alfabetização teve na vida dos seus alunos foram muito
positivos e muito importantes para os LD porque lhes permitiu analisar, de
forma qualitativa e quantitativa, diversos dados como as dificuldades sentidas
pelos alunos, o percurso dos alunos, as vantagens do método de ensino
utilizado, entre outros.
A avaliação deste projeto ainda está numa fase inicial, no entanto, por nunca
antes ter sido feito nenhum levantamento do impacto do mesmo, foi
considerado um enorme contributo para o trabalho desenvolvido pelos LD e
que poderá ser continuado pelo Grão em missões futuras.
11
ACOMPANHAMENTO AO ESTUDO
Durante a semana, na Casa do Gaiato de Benguela, existem três momentos
de estudo acompanhado ao longo da rotina diária dos rapazes. Como em
todas as atividades da casa, são os mais velhos que dão apoio aos mais novos
e, durante os dois meses de Missão, os voluntários do Grão deram também o
seu contributo nestas horas de estudo. Além do acompanhamento nos
trabalhos de casa e explicações pontuais em matérias de dúvida, foi criado
um grupo de estudo de Matemática com alunos de diferentes anos numa
tentativa de colmatar a falta de bases e as dificuldades por muitos sentidas.
Para muitos, este acompanhamento traduziu-se na diferença entre testes
com notas negativas ou positivas e até entre passar ou não de ano.
CURSO DE INGLÊS
O Curso de Inglês, com uma duração de quatro semanas e lecionado pelos
voluntários do Grão na Casa do Gaiato, teve como principal objetivo
dinamizar o período do estudo da tarde dos rapazes do 1º ciclo introduzindo
os primeiros conhecimentos básicos da Língua Inglesa. As aulas diárias, de
cariz prático e muito lúdico, contando com o apoio de filmes, músicas, jogos e
artes plásticas, incidiram sobre temas como as letras e os números, os dias da
semana e os meses do ano, as cores, os animais, as divisões de uma casa,
entre outros, permitindo aos rapazes um primeiro contacto com uma língua
nova num ambiente que fugiu à formalidade da sala de aulas e se revelou um
momento divertido, desafiante e de grande aprendizagem. Para cada tema
introduzido foram realizadas tarefas que iam sendo adicionadas a um
portfólio pessoal de cada rapaz. No último dia de aulas, numa cerimónia de
despedida e entrega de diplomas, foi entregue a cada aluno o conjunto das
atividades realizadas com o objetivo de, no futuro, poder ser consultado.
Em cooperação com a Casa do Gaiato de Benguela
12
FERRAMENTARIA
A Ferramentaria da Casa do Gaiato é o local onde são armazenados todos os
materiais necessários para o funcionamento das oficinas da casa. Estas
oficinas, para além de permitirem ensinar uma profissão aos jovens gaiatos,
são também uma fonte de receita uma vez que ali são produzidos móveis que
depois são vendidos para as mais variadas organizações da região.
Assim, a Ferramentaria, gerida por um funcionário da casa, trata-se de um
espaço constituído por duas salas onde são guardados os equipamentos
comprados e onde todos os trabalhadores se deslocam para os requisitar
quando necessário à construção dos móveis.
Neste local, a intervenção do Grão foi solicitada em duas vertentes: por um
lado, era necessário fazer um inventário de todos os materiais existentes e,
por outro, informatizar as entradas e saídas dos mesmos com o intuito de
melhorar a gestão do espaço. Neste sentido, a par da inventariação dos
artigos, o Grão instalou, pela primeira vez, um computador na Ferramentaria,
ensinou o responsável a trabalhar com o computador e criou uma base de
dados onde se começaram a inserir as operações daquela oficina, iniciando-
se assim o moroso processo de substituição do registo em cadernos pelo
registo informático.
Com o objetivo de colmatar as dificuldades que pudessem surgir aquando do
regresso do Grão, foi deixado um Manual de Gestão da Base de Dados.
H’ORA A DEUS
Todos os dias ao final da tarde, a família da Casa do Gaiato junta-se para rezar
o terço. Com o objetivo de dinamizar este momento de oração, os
missionários do Grão desenvolveram propostas de reflexão, oração e partilha
a que chamaram H’Ora a Deus. Neste tempo, os rapazes, divididos por faixas
etárias, foram aprendendo novas formas de rezar e de se relacionar com Deus
e com os outros. Em cada sessão, era proposto um tema, um cântico novo e
uma dinâmica de oração diferente. Além dos laços de união fortes que foram
sendo criados nos momentos de partilha, foi a nova perspectiva introduzida
sobre a forma de rezar que mais entusiasmou os rapazes e os responsáveis da
Casa do Gaiato. Na última oração partilhada com o Grão, foi emocionante
perceber o quão valorizada foi esta iniciativa. O “hino” do Grão de Trigo,
cantado a plenos pulmões pelos rapazes, ficará para sempre como um grande
”obrigado” no coração do Grão. 13
14
WEBSITE
O mecanismo oficial de divulgação da Casa do Gaiato de Benguela online era
o website da Obra da Rua, um site onde além da Casa de Benguela figuram
todas as Casas do Gaiato espalhadas pelo mundo e onde se pode encontrar
informação sobre a história da organização e do fundador, notícias e
contactos das várias casas, e onde se pode ainda adquirir o Jornal O Gaiato,
uma das mais antigas fontes de receita da Obra da Rua.
Com o intuito de dar maior visibilidade à Casa de Benguela, os missionários
do Grão, em cooperação com os rapazes responsáveis pela Sala de
Informática da Casa do Gaiato de Benguela, deram início àquele que será o
site oficial da casa. A atualização da página e a gestão dos conteúdos está
atualmente entregue aos gaiatos.
FACEBOOK
Além do website, e dada a forte expansão das redes sociais pelo mundo, foi
também criada uma página no Facebook para a Casa do Gaiato de Benguela
com o objetivo de dar a conhecer a instituição a um número cada vez maior
de pessoas. Pretende-se que seja um espaço de partilha de notícias, eventos
e momentos que aproxime os rapazes e os responsáveis da casa aos amigos,
aos antigos gaiatos, aos rapazes de outras casas e aos benfeitores de um
modo mais informal e familiar e com maior frequência. A presença nesta rede
social permite também uma maior proximidade a Portugal, o país onde a
Obra da Rua nasceu e de onde a casa recebe muitos donativos. A gestão dos
conteúdos da página está também a cargo dos gaiatos.
MAKING OF…
25
INFANTÁRIO
O Infantário da Casa do Gaiato, atualmente a cargo das Irmãs Cooperadoras Paroquiais, recebe
crianças tanto da Casa do Gaiato como do Bairro da Graça. Ao todo, são 75 crianças, dos 0 aos 5
anos de idade, as que beneficiam das infraestruturas e serviços prestados pelas Irmãs e Mamãs
responsáveis.
Contudo, as condições precárias em que funciona, sem eletricidade ou água corrente, levaram os
missionários do Grão a agir no sentido de levar cor e alegria aos espaços. Assim, e após um
generoso donativo feito a partir de Portugal que permitiu a compra das tintas e pincéis, puseram
mãos à obra e pintaram as paredes das duas salas de aulas – uma com as letras do alfabeto e
outra com os números de 0 a 10.
Além da visível valorização dos espaços, a pintura das salas permitiu que, desde cedo, as crianças
passem a ter contacto com o os algarismos, as letras e as cores.
FORMAÇÃO DE MONITORES DE INFORMÁTICA
Durante as duas semanas de pausa letiva de Agosto, foi solicitada aos missionários do Grão a
formação de novos monitores de informática para os cursos lecionados na Casa do Gaiato. Estes
cursos, com alunos internos e externos à instituição, além de representarem uma fonte de
receita para a casa, são também uma forma de trabalho para alguns dos rapazes que ministram
os cursos.
Até Agosto passado, eram apenas dois os gaiatos capazes de lecionar o curso de informática.
Com o apoio do Grão foi então possível alargar o número de monitores e, consequentemente, de
turmas. Ao todo, foram nove os rapazes que frequentaram o Curso de Formação de Monitores
de Informática oferecido pelo Grão. Com uma carga de 20 horas ao longo de duas semanas, o
curso incidiu sobre os três módulos de informática que constituem o curso oferecido pela Casa
do Gaiato – Microsoft Word, Power Point e Excel - e ainda sobre metodologias de ensino e
planeamento de aulas. Aquando do regresso do Grão a Portugal, os novos nove monitores de
informática já tinham começado a lecionar as primeiras aulas!
15
CAMPO DE FÉRIAS DA CASA DO GAIATO
O campo de férias na Casa do Gaiato decorreu na segunda semana da pausa letiva de Agosto, entre
26 e 31 de Agosto. Foram cerca de 50 rapazes aqueles que usufruíram das atividades preparadas
pelo Grão em torno do tema “Os Piratas do Gaiato”.
No primeiro dia, os rapazes foram divididos por equipas de cores. A cada cor correspondia um navio
e um capitão do Grão encarregue de motivar o seu navio com gritos de guerra e cânticos de grupo.
Assim, foram entregues as fitas de equipa, cada pirata construiu a sua espada e todos aprenderam o
hino do campo de férias. Nos dias seguintes, as atividades passaram por idas à “praia dos navios”,
uma caça ao tesouro, uma gincana, um jogo de sobrevivência, um torneio de futebol, artes plásticas
e muitas surpresas que rechearam a semana dos rapazes de fortes emoções, espírito de equipa e
muita alegria.
Para além da dedicação dos missionários do Grão, o campo de férias só foi possível graças ao
envolvimento dos responsáveis e de toda a família da Casa do Gaiato. Foi graças ao Padre Manuel
que surgiram muitos dos apoios que permitiram oferecer os lanches e as guloseimas que adoçaram
a semana. E graças aos funcionários da carpintaria, os piratas tiveram direito a uma verdadeira arca
do tesouro escondida debaixo de terra!
Foram dias de grande alvoroço na Casa do Gaiato, com caras pintadas de terríveis corsários, palas
pretas nos olhos, cicatrizes nas caras e muitos sorrisos nos lábios. O espírito de entreajuda, união e
amizade esteve espelhado no filme projetado no final da semana onde toda a família pôde recordar
os melhores momentos, as grandes conquistas, os laços criados e as amizades vividas.
16
17
Balanço Financeiro
Euros Kuanzas
Alimentação e despesas
domésticas
736,64 92.080
Comunicações 104,16 13.020
Transportes 289,48 36.185
Ajuda à Casa do Gaiato 300 37.500
Retiro Final 100 12.500
Renovação de Vistos 91,40 11.425
Extras 136,32 17.040
Total Gasto 1.758 21.9750
O custo total por pessoa foi de € 293.
O orçamento inicial desta Missão foi de € 2.500, no entanto, as despesas
indicadas não incluem o custo da viagem de ida e regresso (€ 859,09 por
pessoa, totalizando € 5.154,54), vistos (€ 890) e vacinas (€ 255).
Um dos grandes desafios de realizar uma Missão em Angola é, sem
dúvida, a gestão dos gastos da mesma, tendo em consideração o
elevado custo de vida neste país.
No entanto, adoptando um estilo de vida simples, o grupo de
missionários Grão em Angola conseguiu reduzir o mais possível as
despesas de Missão com um esquema sistematizado de compra de
bens essenciais, que passou pelo consumo de produtos locais que
são os mais abundantes e baratos.
A seguinte tabela esquematiza os gastos totais da Missão e os valores
são apresentados tanto em euros como na moeda local: kuanza
(AOA). O câmbio utilizado foi de aproximadamente 125 AOA por € 1.
Testemunhos
de Missão 18
“No fundo, não somos da mesma
família nem sequer os melhores
amigos somos, mas vemo-nos 24h
por dia e sabendo o que isso
significa temos tido imenso cuidado
em saber viver em comunidade e
saber que apesar de tudo viemos
todos por Deus, com Deus e para
Deus… por isso tem corrido mesmo
bem lá em casa!”
Carlos Maria Azeredo
“Vou falar desta terra de glórias,
Nossa Angola de muitas memórias”
“Vou mostrar-vos uma nova terra
Agora sem guerra
Angola do meu coração”
(música de Matias Damásio, Angola – País Novo)
Ao longo da nossa vida conseguimos definir
alguns pontos de viragem, acontecimentos que
marcam um Antes e um Depois: o Pack "Grão +
Angola" foi um desses marcos nesta minha vida!
Quase dois meses depois de ter regressado de
Angola ainda não consigo tomar consciência de
tudo o que aconteceu, o que lá ficou de mim, o
que trouxe "p’ra Tuga"... Mas pelo menos três
coisas tenho a certeza que já consegui descobrir
(agora, a Missão é passar essas descobertas para a
prática):
-Descobri que pode passar a haver "um outro
Carlos"!
- Descobri como a nossa atitude muda tudo, como
faz toda a diferença
- (Re)aprendi a viver com outros seres que, tal
como eu, estão à procura de ser cada vez mais
humanos – Ana, Inês, Maria, Maria João e
Mariana: a minha Família destes dois meses!
Agora que estou em Portugal, na rotina do dia-a-
dia, consigo notar que durante os dois meses de
Missão existiu um “Carlos”: um “Carlos” diferente
do antes e pós Missão. Em Missão descobri ou
descobriram-me ou Ele descobriu-me um outro
“Carlos”: o “Carlos” autêntico, o livre de tudo e
todos, o natural, o criado por Deus. Se calhar, foi
mesmo preciso percorrer todos esses quilómetros
até Angola para descobrir aquilo que, no fundo
mais fundo do meu ser, posso ser ou que me é
pedido que seja. Mas também é verdade que foi
necessário regressar a Portugal, à rotina - onde se
vive sob as regras do socialmente correto e
dependente das opiniões dos outros, onde existe
um ser e um parecer muito distantes - para
reparar que durante dois meses fui diferente. Foi
necessário esse choque para perceber que existiu
e pode começar a existir um outro “Carlos” ou
pelo menos um “Carlos” mais próximo daquilo
com que Deus sonhou e criou!
Quando me perguntam sobre a Missão, costumo
dizer que Angola tem dois países distintos: Luanda
e o resto de Angola (como Benguela). Luanda é a
capital que o mundo bem conhece, e Benguela e o
resto é uma Angola parada no tempo desde a
guerra. Um povo são, genuíno, naturalmente bom,
ainda não atacado pelos males do mundo…
Sentimos muita diferença na forma como éramos
vistos em Benguela e em Luanda.
Mas se olharmos com atenção, em Benguela
andávamos de cruz ao peito, com t-shirts brancas
do Grão, de sorriso na cara, à procura de conhecer
e partilhar, à procura de Amar!
São duas realidades muito diferentes e fazem-me
crer cada vez mais que a nossa Atitude nas coisas
– seja em Missão, no trabalho ou faculdade, nas
relações, na vida, com Deus – faz toda a
diferença… uma diferença para nós e para os
outros.
Por último, gostava só de tocar num ponto que
muitas vezes passa ao lado mas que é essencial:
uma Vida Comunitária a Seis. E para isso cito umas
frases dum e-mail que enviei para Portugal
durante a Missão:
“Entre nós, como é óbvio, já tivemos discussões de
comunidade mas acabamos sempre por chegar a
um consenso e quando as coisas não ficam a
100%, há sempre a oração de final do dia que
inspira sempre cada um de nós e à nossa
comunidade.
No fundo, não somos da mesma família nem
sequer os melhores amigos somos, mas vemo-nos
24h por dia e sabendo o que isso significa temos
tido imenso cuidado em saber viver em
comunidade e saber que apesar de tudo viemos
todos por Deus, com Deus e para Deus… por isso
tem corrido mesmo bem lá em casa!”
E assim termino:
“Eu sou Africano não porque nasci em África, mas
porque África nasceu em mim.”
Katualisilé!
(“Estamos Juntos”, em Umbundo, um dialeto
angolano)
19
“A maior Missão não é em África, mas sim durante toda a vida. Porque o mais importante é
amar e servir, seja onde e a quem for.”
Maria Baldaque
“(…) É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos” (O Principezinho) – conheço esta frase desde pequena, contudo,
nunca a tinha sentido tão na pele como senti durante os dois meses de Missão em Benguela. Lá, longe de tudo o que não é essencial, presenciei, todos os dias,
enormes exemplos de humildade, entrega ao próximo, generosidade, alegria, simplicidade…
Refiro-me concretamente ao Padre Manuel, que entregou a sua vida ao serviço e a todos os Gaiatos, querendo sempre mais para os outros do que para si
mesmo; ao Zé Luís e à Teresa, sempre atentos para que nada nos faltasse; ao Padre Quim, que tinha sempre a palavra certa para cada Gaiato; aos Leigos para o
Desenvolvimento, que nos acolheram e acompanharam inexplicavelmente bem; à Josefa e sua família (nossa amiga do Bairro da Graça), que tão bem nos
recebeu na sua casa, oferecendo-nos o que tinha e o que não tinha; às Mamãs que nos diziam um gigante OBRIGADO ou “Salipotchiuá” (Fiquem bem) sempre
que nós lhes dizíamos “Ualalé” (Olá, bom dia); às crianças que viviam no Bairro da Graça, sem roupa e cobertas de pó, que, mal nos viam, vinham aos pulos
com o maior sorriso, só para receber um “Hi five”; à Manuela, que nos caiu do Céu, e que foi a nossa madrinha de Missão, fazendo as vezes dos nossos pais; a
todas as boleias nas pick ups de desconhecidos que tinham a generosidade de nos levar onde precisássemos; aos abraços e beijinhos espontâneos e
inesperados dos Gaiatos mais novos; à alegria e excitação dos miúdos ao saberem que era dia de assistir a filme; à felicidade das crianças do Bairro que foram
pela primeira vez à cidade (que fica a 10 minutos do seu Bairro); à verdade e sinceridade com que os Gaiatos partilhavam as suas orações no H’Ora a Deus; à
genuinidade e simplicidade da Alice e da Domingas; ao espírito de entrega, família e compromisso que se sentia dentro da nossa comunidade de seis; às missas
cantadas, dançadas, VIVIDAS e com a presença bem sentida de que Jesus lá estava. E tanto mais eu podia agradecer…
Se tenho saudades?! Tenho muitas…das pessoas, dos cheiros, das cores do céu e do pôr-do-sol, da música, de dançar Kizomba e Kuduro, de rezar o terço com
os Gaiatos e no fim ensaiarmos as músicas das missas de Domingo, das idas à praia com o Padre Manuel e os 80 Gaiatos na carrinha de caixa aberta, das
futeboladas ao Sábado com o Padre Quim e os miúdos, das nossas partilhas nas orações comunitárias, da alegria e leveza com que se vivia o dia-a-dia… Mas as
saudades maiores são as da minha pessoa em África – da simplicidade, do desprendimento, da proximidade a Jesus, do relativismo face a problemas, da
generosidade, do ser grata pela vida todos os dias, saudades do TEMPO (bem aproveitado!), do simples ESTAR … Contudo, embora este aterrar e desprender
duma realidade em tudo oposta à nossa não esteja a ser fácil, tenho conseguindo encontrar Deus na minha rotina de cá. Basta “esfregar os olhos” (ou ver com
o coração) e também O consigo ver na faculdade, na minha família e amigos. E se assim o fizer, também por cá vou conseguindo transformar (um bocadinho
que seja) o meu mundo e as minhas pessoas. Pois, tal como nos foram dizendo ao longo do ano de formação, a maior Missão não é em África, mas sim
durante toda a vida. Porque o mais importante é amar e servir, seja onde e a quem for.
20
Fonte Boa
MoçambiqueNo dia 23 de Julho, o Grão partiu do Porto com destino a Fonte Boa para dar
continuidade ao apoio prestado à Região Moçambicana da Companhia de
Jesus e às actividades principiadas pelo Grão no ano de 2012 e iniciar novos
projectos estruturados em conjunto com a Fundação Gonçalo da Silveira.
Assim sendo, e após um ano de formação exigente, foram seleccionados,
como representantes do Grão, em Moçambique, seis missionários:
MARIANA BARRIAS 23 anos. Enfermeira. Coordenadora da Missão.
JÚLIO FACHADA 30 anos. Engenheiro Informático. Vice-Coordenador e
Tesoureiro.
DANIEL SILVA 25 anos. Engenheiro Eletrotécnico. Responsável de Logística.
CATARINA ROCHA 23 anos. Estudante de Ciências Farmacêuticas.
Responsável de Saúde e Segurança.
MARIA MAGALHÃES 22 anos. Estudante de Turismo. Responsável de
Materiais.
MAFALDA LENCASTRE 22 anos. Licenciada em Ciências da Comunicação.
Responsável de Oração Comunitária.
A Missão
Situada a 15 kms da Vila Ulongué (capital do distrito da Angónia), Fonte Boa
pertence ao distrito de Tsangano, na província de Tete, no interior norte de
Moçambique.
A Missão Católica de Fonte Boa foi fundada em 1945 pela Companhia de
Jesus e, vivendo em fraternidade, desenvolve diversas atividades ao serviço
da Comunidade.
Inspirada nos valores inacianos da Companhia de Jesus, possibilita o acesso à
educação a muitos jovens desta zona francamente pobre procurando
promover a comunicação, o encontro na justiça, o amor ao próximo e a
celebração da vida. O trabalho desenvolvido no projeto agrícola, na
carpintaria e na fábrica de moagem, para além de constituírem um meio de
subsistência da Missão, dão emprego à população local.
A Missão Católica de Fonte Boa realiza também um imenso trabalho de índole
social, como é o caso do Projecto de Acolhimento de Crianças Órfãs que
procura conferir a estas melhores condições de vida.
O maior e mais recente projecto a cargo da Missão é a construção da Escola
Secundária Inácio de Loyola, na paróquia de Msaladzi, que terá como
finalidade permitir aos alunos o acesso ao ensino de qualidade, fundado nos
valores da Companhia de Jesus, o combate ao analfabetismo e a difusão da
língua portuguesa.
3721
Atividades Desenvolvidas
ESCOLA SECUNDÁRIA DE FONTEBOA
A Escola Secundária é composta por aproximadamente 400 alunos, que
vivem maioritariamente nos internatos. Estas estruturas encontram-se junto
à Missão de Fonte Boa, o que facilitou a acção do Grão, rentabilizando o
tempo gasto em deslocações noutras atividades.
Após um levantamento de necessidades junto dos professores e diretor
desta escola, o Grão percebeu que a sua intervenção, durante 6 semanas,
teria que se estender a diversas áreas: apoio aos alunos no estudo
obrigatório, reorganização da biblioteca e incentivo ao estudo neste espaço
(que foi reestruturado na Missão no Grão do ano anterior), apoio aos
professores no ensino de determinados temas, como por exemplo voleibol e
ginástica acrobática, no âmbito da disciplina de educação física.
Todas as atividades desenvolvidas por este grupo tiveram sempre como foco
o estímulo à língua portuguesa.
39
INTERNATO FEMININO E MASCULINO
Devido à distância entre a Escola Secundária e as comunidades, muitos são os
alunos que vivem nos Internatos Feminino e Masculino.
Neste momento, no primeiro vivem cerca de 144 raparigas e no segundo 140
rapazes.
Com a formação como pano de fundo, nos internatos, a intervenção do Grão
passou essencialmente pela criação de vários cursos, divididos por módulos,
tais como: Curso de Primeiros Socorros (composto também pela criação de
um kit com materiais para suporte básico), Curso de Teatro, Curso de Higiene
e Sexualidade, Curso de Formação Cívica e Moral, mas também apoio nas
aulas de costura, jogos pedagógicos e atividades de tempos livres (ATL).
Aproveitando o facto de dois dos membros desta comunidade serem da área
da saúde, foi realizado ainda um rastreio de saúde à maioria dos alunos que
aqui vive, onde se verificaram diversos problemas de saúde, consequência de
tratamentos mal realizados.
Este rastreio teve como objetivo obter informação quanto à idade e
comunidade de origem de cada aluno, tensão arterial, peso, altura e índice de
massa corporal (IMC).
22
ESCOLA BÁSICA DE MANKHOMA
A Missão Católica de Fonte Boa está a cerca de dois km da Escola Básica de
Mankhoma. Esta escola tem 901 alunos do 1º ao 7º ano e cerca de 21
professores.
As suas infraestruturas são bastante precárias, não tendo electricidade, água
nem material escolar suficiente para apoio ao estudo.
Neste sentido, após a análise e diagnóstico das necessidades sentidas, a
intervenção destes missionários, durante 6 semanas, passou por:
• Apoio ao estudo e explicações às principais disciplinas:
Aproveitando também para ocupar o tempo livre dos alunos, durante os
dois meses de Missão, fizeram um acompanhamento intensivo ao estudo,
através de técnicas facilitadoras da aprendizagem.
• Acompanhamento e observação de aulas de Língua Portuguesa:
A pedido dos professores, esta atividade teve como principal objetivo a
análise das lacunas no ensino da língua portuguesa.
• Actividades lúdico-didácticas para estímulo ao português:
Atendendo à grande dificuldade na compreensão e expressão do
português por parte dos alunos, mesmo sendo a língua oficial deste país, e
apoiando-se sempre no Chichewa (língua desta zona de Moçambique),
procuraram incentivar os alunos através de jogos e brincadeiras, com os
quais ensinaram o alfabeto, as cores, os números, as partes do corpo, as
horas, entre outros. Mas se achavam que iam lá só para ensinar português
estavam muito enganados! Trocaram-lhes as voltas, e os alunos desta
escola acabaram por se revelar grandes professores de Chichewa!
• Organização e criação de uma biblioteca:
Esta escola não dispõe de qualquer espaço para o estudo, pelo que o Grão
decidiu dar início à criação de uma biblioteca. Assim, foram inventariados
todos os livros e materiais escolares da escola e foi efetuado um esquiço
de uma estante a ser colocada no espaço da Biblioteca, que foi entregue à
escola.
• Curso de Agricultura:
Tendo em vista incentivar os alunos e responsáveis da escola a tirar partido
da horta escolar, o Grão realizou um curso, durante uma manhã, com
principal foco na aprendizagem de formas de plantação e de rega de
alfaces.
• Curso de Primeiros Socorros:
Devido ao longo caminho a percorrer entre a escola e o centro de saúde,
foi realizado um curso de primeiros socorros com os responsáveis da
escola, cujo intuito foi dar-lhes a conhecer cuidados básicos de primeiros
socorros, designadamente, limpeza e tratamento de feridas, queimaduras,
picadas, entre outros. No final do curso, deixámos um kit de primeiros
socorros na escola constituído por gaze, betadine, pensos rápidos, soro
fisiológico e outros materiais essenciais na prestação de cuidados de
saúde. E tendo em conta a população da escola e a escassez do kit, foram-
lhes também transmitidas dicas de utilização de materiais do dia-a-dia.
23
SALA DE ESTUDO KUTSOGOLO
Esta Sala de Estudo está integrada na Missão de Fonte Boa. Foi criada pela leiga Elizabeth Santos,
uma portuguesa e única mulher que vive, há já alguns anos, na Missão. Através de donativos
recebidos de Portugal, esta sala é constituída por uma zona de estudo (que aos domingos à tarde
se torna zona de lazer, quando a professora Elizabeth projeta um filme) e uma zona de
computadores, onde são dadas aulas de computação, como eles lhe chamam. Aqui realizam-se
também concursos de desenho, língua portuguesa, entre outros.
Esta sala está aberta a qualquer pessoa que queira estudar, pelo que, durante seis semanas, o
Grão lá esteve, três manhãs por semana, com o objetivo de dar apoio às várias disciplinas
lecionadas na Escola Secundária de Fonte Boa, procurando sempre incentivar a prática da Língua
Portuguesa falada e escrita.
A grande acessibilidade de recursos desta sala, que contrasta grandemente com os recursos
disponíveis nas outras atividades em que o Grão esteve envolvido, permitiu uma vasta troca de
experiências e desenvolvimento de outras atividades lúdicas como o Curso de Guitarra (uma vez
por semana), sábados de expressão plástica, e ainda cooperação no desenvolvimento de um
curso de produções agrícolas, destinado aos trabalhadores das “machambas” (hortas) de Fonte
Boa. A adesão às atividades do Grão superou qualquer expectativa, sendo que a interação com
os alunos acabou por se tornar mais que um apoio no estudo ou desenvolvimento de uma
atividade, mas foi, muitas vezes, um espaço de escuta e atenção.
24
PROJECTO SEMENTES DO AMANHÃ
Em 2004, em parceria com a FGS, a Missão de Fonte Boa criou o projeto Sementes do Amanhã, com o objetivo de acolher órfãos de pais com SIDA, sem os
retirar completamente das suas comunidades. Atualmente existem 6 casas, onde vivem 62 crianças.
Depois de uma avaliação das necessidades no terreno, foi, desde logo, percetível que o papel do Grão passaria essencialmente pelo estímulo à língua
portuguesa. Apesar do português ser a língua oficial de Moçambique e a língua utilizada pelos professores para lecionar nas escolas, é alarmante o facto de
nenhuma destas crianças saber falá-la. A língua utilizada para comunicar nesta zona é o Chichewa. Esse estímulo aconteceu através de jogos, músicas,
explicações, apoio na escola, entre outros, tendo sempre em atenção a repetição e possibilidade de reutilização dos suportes utilizados, para que as mamãs
(senhoras responsáveis por cada uma das casas e pelas crianças que lá residem) pudessem dar continuidade ao trabalho iniciado pelo Grão.
Tendo como pano de fundo este estímulo e as necessidades levantadas, foram também desenvolvidas atividades na machamba (horta) das casas, com o intuito
de rentabilizar ao máximo os recursos de que dispõem, um rastreio de saúde às mamãs e crianças destas casas e um curso de primeiros socorros, tendo sempre
atenção à realidade em que estão inseridos.
Durante sete semanas, duas destas casas (Makodza Kodza e Nkhawo) receberam visitas diárias. Apesar das atividades acima referidas terem sido realizadas em
todas as casas do projeto, estas duas, devido à menor distância da Missão a que se encontravam (o meio de transporte utilizado nestas deslocações foi a
bicicleta), usufruíram não só de um acompanhamento mais próximo e regular, mas foi também possível aos voluntários do Grão pernoitar numa destas casas,
com o intuito de fomentar a inculturação e perceber, de forma mais plena, o seu modo de funcionamento.
Foi ainda utilizada uma parte do orçamento que os missionários angariaram em Portugal para o registo de 13 das crianças destas casas, que, apesar de já em
idade escolar, não “existiam” ainda em Moçambique.
25
ESCOLA SECUNDÁRIA INÁCIO DE LOYOLA
A Escola Secundária Inácio de Loiola (ESIL) é um projeto que está a cargo da
Região Moçambicana da Companhia de Jesus, tendo como responsável o
Padre Vítor Lamosa, da Missão de Fonte Boa.
Este projeto dará origem a uma nova Missão (em Msaladzi), e a pouco e
pouco, tem sido financiado por diversas entidades, com o apoio da FGS.
Por solicitação da FGS, durante estes dois meses em Moçambique, o Grão
ficou encarregue de recolher informações sobre o avanço desta obra. Com
esse objetivo, as visitas à ESIL realizaram-se, pelo menos, uma vez por
semana, mas como em África nada é planeado, tudo é imprevisto, muitas
foram as vezes em que os voluntários acabaram literalmente por “pôr mãos à
obra”. O trabalho do Grão incluiu também a cartografia do espaço e da sua
envolvência.
RURAL WOMEN SOLAR ENGINEERS
Este foi mais um projeto no qual o Grão esteve envolvido , por sugestão da
FGS.
Em 2006, foram enviadas seis mulheres para a Índia, para terem uma
formação sobre a instalação e manutenção de Painéis Solares. Os critérios de
seleção eram claros, (seriam mulheres viúvas com pouca instrução), para que
não saíssem da sua comunidade e utilizassem essa formação em proveito
daquela. Entretanto essas mulheres regressaram às suas comunidades e
muitos meses passaram até receberem os materiais de trabalho e
começarem a construção do armazém onde essas mulheres deveriam pôr em
prática o que tinham aprendido. Devido ao grande intervalo de tempo entre
as formações e a construção do armazém, a FGS acabou por perder o rasto
destas mulheres, pelo que pediu ao Grão não só para lhes darem um
feedback do estado da construção do armazém, mas também para
recolherem o máximo de informação possível sobre quem estava envolvido
neste projeto e sobre as “Rural Women Solar Engineers”.
O Grão não só acedeu aos pedidos da FGS, mas descobriu também que
alguns jovens dessa comunidade, mais instruídos e com mais conhecimentos,
pegaram no material fornecido, tentaram perceber o seu modo de
funcionamento e ajudaram assim as mulheres a relembrarem tudo o que
haviam aprendido há já alguns anos atrás.
47 26
APOIO À COMUNIDADE
Como forma de agradecimento à Missão que tão bem os recebeu, o Grão
decidiu que, no horário semanal, encaixaria sempre um tempo para o apoio à
comunidade que, nas muitas conversas, lhes foi transmitindo algumas das
zonas da Missão “com défice de atenção”.
Debruçaram-se por isso sobre os diversos armazéns da Missão, que já não
sofriam uma intervenção desde o tempo em que os Leigos para o
Desenvolvimento lá viviam, organizando materiais escolares oriundos de
terras lusas, que tinham saído diretamente dos contentores para estes
armazéns.
Entre estes, cumpre destacar o armazém das Casas dos órfãos, que, com a
organização que foi efetuada, tornou-se mais fácil o acesso aos materiais a
serem levados para as casas.
Adicionalmente, o Grão dedicou-se à reabilitação e pintura da capela da casa
da Missão e à reinstalação e arranjo de alguns computadores, com o objetivo
de formar uma sala de computadores para formações em Satemwa, onde
vive outra comunidade de jesuítas.
27
Balanço Financeiro
Euros Meticais
Renovação dos Vistos 325 13.000
Bicicletas (investimento
para anos futuros)
398 15.920
Transportes 225 9.000
Retiro Final 300 12.000
Projetos 70 2.800
Telecomunicações 70 2.800
Alimentação e despesas
caseiras
395 15.800
Total Gasto 1.683 71.320
Adoptando um estilo de vida simples, o Grão não teve gastos muito
elevados em Moçambique. O alojamento numa casa da Companhia de
Jesus em Satemwa, próximo de Fonte Boa, foi oferecido e, por isso, o
gasto dos voluntários no terreno foi mais reduzido.
A seguinte tabela esquematiza os gastos totais da Missão e os valores
são apresentados tanto em euros como na moeda local: Metical (MZN).
O câmbio é de aproximadamente 40 MZN por € 1.
De forma a contribuir para a Missão Católica de Fonte Boa pelo carinho
com que o Grão foi recebido e ajudar, dentro do possível, a Missão nos
gastos do dia-a-dia, os Missionários do Grão deixaram o remanescente
para ajudar as casas de Fonte Boa e de Satemwa.
O custo total por pessoa foi de € 280,50.
O orçamento inicial desta Missão foi de € 2.500, no entanto, as despesas
indicadas não incluem o custo da viagem de ida e regresso (€ 1.118,79
por pessoa, totalizando € 6.712,74), vistos (€ 240) e vacinas (€ 255).
28
Testemunhos
de Missão 29
"Começa por fazer o que é necessário, depois o que é possível e de repente estarás a fazer o
impossível".
Mafalda Lencastre
Não me canso de dizer que nunca nada me deu tanto prazer!
Agora em Portugal, uns meses depois de ter regressado, o que vivi parece já tão distante, mas a marca que deixou, essa fica para sempre!
Cresci, tornei-me mais independente, aprendi a rir realmente com vontade e percebi a importância de um sorriso bem endereçado, mas acima de tudo, ABRI
OS OLHOS.
Abri os olhos e foi amor à primeira vista! E voltei, mas um bom pedaço do meu coração ficou por lá. Impressionante é perceber que ainda assim voltou cheio,
cheio de tudo que recebi daqueles que aparentemente nada podem dar em troca… Mas desenganem-se, são só aparências mesmo!
Na noite de 22 de Julho, véspera da partida para Missão, o Chico mandou-nos uma carta em que citava S. Francisco de Assis, dizendo: "Começa por fazer o que
é necessário, depois o que é possível e de repente estarás a fazer o impossível". Esta frase acabou por me perseguir durante toda a Missão. E ao referir-se ao
impossível, sei que não tencionava propor-nos fazer milagres, mas simplesmente ir mais além. Ir mais além com o Sefassi e o Damiano, que me fizeram
esquecer a barreira linguística (não imaginam o quão bem comunicávamos, só visto!); com as crianças de Makodza Kodza, que me ensinaram a brincar às
casinhas como gente grande; com as mamãs Lanesse e Maria José, incansáveis na educação e valores que todos os dias transmitiam àquelas crianças e me
puseram, ao fim do primeiro dia, de olhos esbugalhados e ouvidos bem abertos, a ouvir as mil e uma histórias que tinham para contar, com uma vontade
enorme de querer saber mais e mais; com o Ernesto que exibia orgulhosamente a sua mochila com as alças rebentadas e onde carregava os livros dos “seus
irmãos”, tendo sempre espaço para mais um; com o Lucas cujas sapatilhas estavam tão apertadas que encolher os dedos dos pés não era suficiente, por isso,
todos os dias, ainda que com a mamã a ralhar para não chegarem tarde à escola, uma das crianças da casa de Nkhawo ficava para trás a ajudá-lo na árdua
tarefa de enfiar os pés nas sapatilhas; com todos aqueles com quem me cruzava nos longos “passeios” de bicicleta e que me levavam, ainda que sem ar por
causa das subidas e com as mãos cheias de bolhas pela força com que agarrava o volante, a querer cumprimentá-los sempre com um mulibwanji [Bom dia]
acompanhado de um grande sorriso; também com aqueles que com farinha e água alimentavam uma família inteira; e em que nada é meu, tudo é nosso!
Percebo agora que caminhar para o impossível depende muito mais do que de mim, e a energia com que me levantava todos os dias de manhã bem cedo para
começar mais um dia, foram aqueles “que nada têm” que ma deram.
Saí de Missão com vontade de saltar do sofá e correr o Mundo, como dizia o Vasco “de abrir bem os olhos para não perder nada”, mas será que toda esta
experiência não se resume simplesmente ao facto de saber olhar para o lado e ver verdadeiramente quem lá está?!
30
“O que mais trago e recordo todos os dias é o tempo; mas não aquele tempo em que olhamos
para o relógio e pensamos que estamos atrasados, porque lá isso não existe, mas sim o tempo
de Amar e ser Amado.”
Maria Magalhães
Até custa um bocadinho descrever a minha chegada… Parece que foi ontem que aterrei naquela terra que me queria tanto. A primeira sensação, quando pousei
os meus dois pezinhos e o meu corpo naquele aeroporto onde nada havia, foi um bafo quente a bater na cara, um cheiro forte e intenso, um misto de
sentimentos alucinantes e uma enorme felicidade chapada na minha cara.
Acima de tudo, recordo quando percorríamos aquelas estradas sem fim que separam as pequenas comunidades Moçambicanas e as pessoas reconheciam a
pick up de caixa aberta dos missionários. Era encantador como, do nada, apareciam dezenas de crianças a correr atrás do carro e a cantar aos berros. E
arrepiava-me sempre assistir àquela correria genuinamente alegre e à invasão que se seguia – só paravam quando subiam para a caixa aberta e seguiam viagem
connosco! Com tanta gente a bordo mal nos conseguíamos mexer mas ninguém se importava minimamente, antes pelo contrário, penso que cada um de nós,
para si e com Deus, agradecia em silêncio a bênção que era usufruir daqueles momentos irrepetíveis – sob o pôr-do-sol africano, ao som dos cânticos e da
felicidade das crianças.
Naquela terra aprendi a dar valor a tudo que me rodeia e o que mais trago e recordo todos os dias é o tempo; mas não aquele tempo em que olhamos para o
relógio e pensamos que estamos atrasados, porque lá isso não existe, mas sim o tempo de Amar e ser Amado, o tempo usado com os outros da melhor
maneira. Pois tive o privilégio de aprender que mesmo quando as barreiras linguísticas existem, quando o que somos e damos é verdadeiro todos falamos a
mesma língua.
Hoje, do outro lado do mundo, guardo muitas saudades de olhar para aquele céu, carregado de estrelas e rever o meu dia, os momentos que vivi, os olhares e
os sorrisos das pessoas com que me cruzei, os gestos experimentados, a felicidade e as lágrimas que por ali deixei.
Por sentir tudo ainda tão próximo, ainda hoje dou comigo em casa a contar as estrelas do céu. Sinto um aperto de saudades muito grande mas sei que do outro
lado do mundo também estão olhar por mim, pela estrelinha que lhes deixei, e então, vejo a quantidade de estrelas que vêm todos os dias ao meu encontro e
guardo-as em cada espacinho do meu coração.
E sim, espero, sem tempo para lá voltar… “O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora.”
31
32
Agradecimentos
Ach Brito
Armazéns do Chá
Auditório Bar
Boulevard Bar
Buondi
Café Progresso
Câmara Municipal do Porto –
Pelouro da Cultura, Lazer e
Desporto
Carnes da Rendeira
Casa dos Arcos
Cedofeita Viva
Cerealis
Cromotema Artes Gráficas
ESN
KPMG
Maia Carne
Maria Rapaz
Niepoort
Oporto Golf Club
Padaria Popular
Padaria Ribeiro
Palacete Pinto Leite
Papelix
Pastelaria Princesa do Norte
Quinta da Salgueira
REN
Sogrape
SONAE
Talhos Bisonte
Talhos Boavista
Talho D’Anta
Talho Nosso
Unicer
Alexandra Guimarães
Bento Amaral
Carmo Themudo
Daniel Rego
Diogo Chang
Fátima Pinto
Isabel Costa Macedo
Júlio Pereira
Manuel Marques Machado
Pedro Castro
Peu Madureira
Acreditar
Amigos de Aldoar
C.A.S.A.
Casa de Saúde de S. João de
Deus, Barcelos
Casa de Saúde de S. José,
Areias de Vilar
Casa do Gaiato de Benguela
Centro Comunitário São Cirilo
FAS
CREU-IL
Fundação Gonçalo da Silveira
Igreja de Cedofeita
Igreja de Cristo Rei
Igreja da Lapa
Igreja de Leça da Palmeira
Igreja de Nevogilde
Igreja de Ramalde
Irmã Rita Cortez – Escravas do
Sagrado Coração de Jesus
Irmãs Hospitaleiras
Lar das Irmãzinhas dos Pobres
Leigos para o Desenvolvimento
Leigos para o
Desenvolvimento de
Benguela
Meninos do Coro
Missão Católica de Fonte Boa
Porta Solidária
Província Portuguesa da
Companhia de Jesus
Rabo de Peixe
Vida Norte
Stella Maris – Igreja dos
Carmelitas Descalços
33
www.facebook.com/graovoluntariado
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Relatório de Missão Grão 2013

  • 2. ÍNDICE Mensagem da Diretora 3 O Grão. Passado, Presente e Futuro 5 Missões 2013 7 Benguela, Angola Contextualização da Missão 8 Atividades Desenvolvidas 9 Balanço Financeiro 17 Testemunhos 18 Fonte Boa, Moçambique Contextualização da Missão 21 Atividades Desenvolvidas 22 Balanço Financeiro 28 Testemunhos 29 Agradecimentos 33 3
  • 3. Mensagem da Diretora Em cada ano, o Grão vai dando pequenos mas firmes passos na sua história, construindo assim o seu legado enquanto projeto de voluntariado internacional de curta duração. Neste ano de 2012/2013, ao lançar à terra doze novos Grãos, este projeto comemora o seu oitavo ano de existência e o envio de oitenta Missionários ao longo da sua história. Para além disto, neste ano, o Grão regressou a Benguela, Angola onde apenas havia estado em 2007 e fortaleceu a sua presença em Fonte Boa, Moçambique. Estes pequenos passos só são possíveis graças a: · sentido de serviço de todos aqueles que se comprometem com o Grão e que, através do seu testemunho de Missão e exemplo de vida, são agentes de (trans)formação social daqueles que se propõem aceitar o desafio da Missão; · muita dedicação e entrega de todos aqueles que, em cada ano, aceitam o desafio de amor lançado pelo Grão e se propõem fazer formação e partir para África; · confiança por parte daqueles que, não fazendo diretamente parte deste projeto, o apoiam nas suas diversas vertentes e ajudam a que os desígnios do Grão se tornem realidade; · partilha de ideias, experiências e conhecimentos, de forma a servir cada vez mais e melhor; e acima de tudo · crescimento e evolução do projeto, tendo em vista a sua projeção no futuro. 3
  • 4. Um valor que é transversal ao Grão ao longo destes oito anos é o seu sentido de Missão. Este sentido de Missão é a génese da consciência sobre a responsabilidade e a necessidade de intervir e transformar, na medida do possível, os pequenos mundos tão distantes e tantas vezes esquecidos a que o Grão procura chegar, em cada ano. Assim, pelo legado deixado em cada Missão e pelo espírito de cooperação ínsito na sua acção, o Grão continua e continuará a ter uma palavra a dizer enquanto grupo de voluntariado internacional de curta duração. Com a forte convicção de que o valor do Grão reside nas pessoas que, todos os anos, põem a sua vontade ao serviço e assumem a responsabilidade de dar tudo de si, em locais onde a falta de oportunidades, as carências e as dificuldades são a realidade, é um enorme privilégio poder encarar o sentido de Missão do Grão enquanto sua directora. Com o ano da fé como pano de fundo, o Grão aceita o desafio lançado pelo Papa Francisco, de sermos “todos enviados pelo mundo para caminhar com os irmãos”. Rita Machado 54
  • 5. O Grão. Passado, presente e futuro O Grão nasceu em 2005, no Centro de Reflexão e Encontro Universitário – Inácio de Loyola (CREU-IL), no Porto, como resultado da forte vontade de criar, no seio da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, um grupo de voluntariado internacional, em países em vias de desenvolvimento, formado por estudantes universitários e jovens profissionais. Desde então, este pequeno grupo portuense tem crescido e tem vindo a realizar Missões em África, durante os meses de Verão (Agosto e Setembro), atuando em cooperação com organizações não- governamentais para o desenvolvimento (ONGD) e outras organizações locais, numa lógica de inserção e inculturação, e focando a sua intervenção no desenvolvimento comunitário, formação / educação, promoção da integridade individual e autonomia das populações através da capacitação de pessoas locais. Para além da presença consistente no terreno durante o período de Missão, que é o objetivo primordial deste projeto, o Grão promove um plano de formação anual com o intuito de dotar os seus voluntários das competências necessárias à concretização, no terreno, da essência deste projeto, nomeadamente, fazendo trabalho voluntário junto de outras organizações em Portugal, a sua maioria situadas no Porto. Paralelamente são desenvolvidas diversas atividades e eventos que promovam a divulgação e garantam a sustentabilidade financeira do Grão ao longo dos anos, e que se apoiam, essencialmente, na generosidade daqueles que acreditam neste projeto e, com isso, o fomentam e aperfeiçoam. 6 5
  • 6. Nestes oito anos de existência, este projeto tem lançado “Grãos” em: • Guadalupe, São Tomé e Príncipe, em colaboração com as Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora - de 2008 a 2012; • Uíge, Angola, em cooperação com os Leigos para o Desenvolvimento (LD) – em 2007; • Cubal, Angola, apoiando a Missão das Irmãs Teresianas - de 2010 a 2012; • Benguela, Angola, em cooperação com os Leigos para o Desenvolvimento e a Casa do Gaiato de Benguela - em 2007 e 2013; e • Fonte Boa, Moçambique, em colaboração com a Missão Católica de Fonte Boa e a Fundação Gonçalo da Silveira (FGS) - em 2006, 2012 e 2013. A novidade deste ano 2012/2013 foi a partida do Grão para Benguela, onde apenas havia estado em 2007. Esta Missão teve a particularidade de o Grão colaborar, em simultâneo, com os Leigos para o Desenvolvimento (através da participação ativa em alguns projetos que os LD têm em curso nesse local de Missão) e com a Casa do Gaiato de Benguela (que assume um papel primordial na formação e educação dos jovens rapazes que lá habitam). Por sua vez, a Missão do Grão em Fonte Boa caracterizou-se pelo fortalecimento do apoio à Missão Católica de Fonte Boa e pela cada vez mais estreita e profícua colaboração com a Fundação Gonçalo da Silveira (FGS) e que se pretende que se mantenha para os anos vindouros. Esta parceria com a Fundação Gonçalo da Silveira e colaboração com os Leigos para o Desenvolvimento demonstrou que juntos seremos mais fortes e capazes de chegar mais longe. Consciente de que o desenvolvimento é um caminho longo e exigente, que lhe permitiu chegar até aqui, o Grão continuará, em cooperação, a dar passos firmes no seu percurso, num espírito de dignidade, respeito e amor com, para e pelas pessoas que serve. Através da sua ação livre, cooperante e fiel, o Grão encara o desenvolvimento com uma enorme responsabilidade e confiança. 6
  • 8. Benguela AngolaA Missão de Benguela este ano iniciada, desenvolveu-se em cooperação com duas organizações – a ONGD Leigos para o Desenvolvimento, em cujos projetos o Grão colaborou ativamente; e a Casa do Gaiato de Benguela, um dos muitos lares da Obra da Rua, onde os voluntários do Grão ficaram instalados e desenvolveram atividades em parceria com os responsáveis da casa. Assim, no dia 25 de Julho, partiram para Angola seis missionários do Grão: MARIA JOÃO AZEREDO 25 anos. Licenciada em Gestão e Marketing do Turismo. Coordenadora da Missão. ANA AMADO 21 anos. Estudante de Ciências da Nutrição. Vice-Coordenadora e Tesoureira. MARIANA RAMOS 22 anos. Estudante de Engenharia de Serviços e Gestão. Responsável de Logística. INÊS PINTO 22 anos. Enfermeira. Responsável de Saúde e Segurança. MARIA BALDAQUE 22 anos. Estudante de Ciências da Nutrição. Responsável de Materiais. CARLOS MARIA AZEREDO 19 anos. Estudante de Engenharia Civil. Responsável de Oração Comunitária. A Missão Situada no litoral de Angola e contando com uma população de cerca de 513 000 habitantes, Benguela é a segunda maior cidade do país e capital da província com o mesmo nome. Na periferia da cidade, fruto das migrações ocorridas durante a guerra civil, estende-se uma enorme área ocupada por musseques ou “bairros de lata”, sendo um dos maiores o Bairro da Graça, local onde se situa a Casa do Gaiato e onde trabalham os Leigos para o Desenvolvimento. A trabalhar em Benguela desde 1996 e no Bairro da Graça desde 2004, a atuação dos LD assenta sobretudo em áreas como a dinamização e organização comunitária, educação e formação, empreendedorismo e empregabilidade, capacitação de agentes locais, promoção do voluntariado e pastoral. Atualmente está em curso um programa de desenvolvimento comunitário no Bairro da Graça que inclui os seguintes projetos: Dinamização do Grupo Comunitário, Espaço Criança, Empowerment das Mulheres, Centro Juvenil da Graça e Gabinete de Apoio à Inserção na Vida Ativa (GAIVA). A Casa do Gaiato, inaugurada em 1964 pelo Padre Manuel António – ainda hoje o “gaiato mais velho”, é a casa de uma família de cerca de 125 rapazes entre os 5 e os 30 anos acolhidos da rua ou de situações familiares muito instáveis. 8
  • 9. CAMPO DE FÉRIAS DA GRAÇA Com o objetivo de ocupar as crianças do Bairro da Graça durante o período das férias escolares de Agosto, os missionários do Grão juntaram-se aos Leigos para o Desenvolvimento na estruturação do II Campo de Férias do Espaço Criança. Com a duração de uma semana, de 19 a 24 de Agosto, no total, foram 100 as crianças que beneficiaram desta iniciativa. Partindo do princípio de que o desenvolvimento acontece quando damos não o peixe, mas a cana para pescar, foi lançado o desafio à Mobilização Juvenil do Bairro para que fossem os jovens locais a animar a semana de férias. Manifestado o interesse dos jovens na iniciativa, a intervenção do Grão incidiu em duas vertentes – na formação dos monitores do Campo de Férias e no acompanhamento dos mesmos e das atividades ao longo da semana de Campo. o Formação dos Monitores: O Curso de Monitores promovido pelo Grão e pelos LD permitiu capacitar 13 jovens locais para a animação do Campo de Férias do Bairro. Ao longo das semanas que o antecederam, foram realizados quatro momentos de preparação: • Reunião de Formação de Monitores e Diretores: onde foram abordados temas como o objetivo de um campo de férias, o perfil de um monitor e a importância do trabalho em equipa; • Reunião de preparação dos meios de divulgação, angariação de patrocínios e inscrições; • Reunião de planeamento das atividades do Campo: onde foram selecionados os temas diários e respetivas atividades a desenvolver; • Reunião de preparação dos materiais necessários às atividades. No final da semana de Campo foi ainda promovido um encontro de monitores onde foram projetadas as fotografias dos melhores momentos do Campo e entregues os diplomas de participação aos monitores – uma cerimónia que além de fomentar o espírito de grupo, procurou premiar a mobilização e espírito de partilha dos jovens voluntários. Quem sabe um dia, sem o acompanhamento de missionários europeus, possam por si mesmo, tomar a iniciativa e ser os motores de desenvolvimento do Bairro onde cresceram. o Acompanhamento do Campo: Durante a semana do Campo, os voluntários do Grão mantiveram-se presentes junto dos monitores mas limitando-se ao cumprimento de funções de apoio e logística. No último dia do Campo, graças à generosidade dos responsáveis do Cinema Kalunga de Benguela, as crianças tiveram a oportunidade de, pela primeira vez, assistir a um filme. Muitas delas nunca tinham sequer ido à cidade, a cerca de três kms do Bairro. Atividades Desenvolvidas Em cooperação com os Leigos para o Desenvolvimento 9
  • 10. 15 CURSO DE MULTIMÉDIA Outro dos projetos dos Leigos para o Desenvolvimento é o Centro Juvenil da Graça, um centro construído de raiz em pleno Bairro da Graça e que é sede de vários movimentos juvenis e palco de iniciativas como debates, ações de formação ou encontros temáticos. Atualmente conta com uma Biblioteca, duas salas de Informática e um Gabinete de Apoio à Inserção na Vida Ativa. Quando o Grão conheceu este espaço, apenas se encontrava em funcionamento uma sala de Informática com um curso de iniciação a programas de escrita, cálculo e apresentações, no entanto, após ter sido feito um donativo de computadores, era necessário montar uma segunda sala e, se possível, alargar a oferta formativa do Centro. Assim, depois da montagem da nova Sala de Informática, os voluntários do Grão entregaram-se ao desenho de uma primeira edição de um Curso de Multimédia, um curso que permitiu aos jovens já familiarizados com o computador, alargar os seus conhecimentos informáticos. O Curso, com 12 alunos inscritos, teve uma duração de seis semanas e uma carga horária de 48 horas. As aulas, teórico-práticas, incidiram sobre seis programas: Photo Editor!, Photoscape, Microsoft Publisher, Windows Movie Maker, Muvee Reveal8, Logo Maker e Virtual DJ. Com o objetivo de dar continuidade ao projeto, os voluntários do Grão deixaram no Centro Juvenil um dossier com a estrutura do curso, os conteúdos lecionados, os sumários e exercícios das aulas, as provas realizadas e ainda as folhas de presença e referências aos melhores alunos com o intuito de, no futuro, virem a ser capacitados para formadores das próximas edições do curso. 10
  • 11. 17 AVALIAÇÃO DO PROJETO DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS O projeto de alfabetização de adultos dos LD em Benguela facultou, ao longo de vários anos, o acesso de adultos à 1ª e 2ª classes e a possibilidade de prosseguirem os estudos no Ensino Oficial, uma vez que a Escola do Bairro só dispunha de Ensino de Adultos a partir da 3ª classe. O "Método de Alfabetização de Dom Bosco" foi utilizado pelos LD para formar os inicialmente alunos e posteriormente monitores, a quem foi entregue o lecionar das aulas nas capelas de diferentes movimentos religiosos. O projeto foi coordenado em conjunto com os monitores, tendo sido dada particular relevância à sua formação contínua e à sua capacitação como líderes capazes de assumir o projeto no futuro. O envolvimento solidário destes monitores em benefício da sua própria comunidade foi a base de sustentação de todo o projeto. No entanto, em 2009, o projeto foi finalmente passado na íntegra para as mãos das entidades locais sem que tivesse havido uma avaliação do seu impacto na comunidade. Assim, a pedido dos LD e pelas mãos dos missionários do Grão, foi então realizado um estudo sob a metodologia de entrevistas aos monitores do curso. A partir das perguntas inicialmente propostas para esta sistematização – “Qual foi o percurso escolar (com foco no prosseguimento de estudos) dos beneficiários após a passagem pelo projeto?” e “Quais as mais valias para os beneficiários pelo facto de terem participado no projeto?”, podemos concluir que houve uma grande vontade por parte dos alunos em continuar os estudos. Porém, o vínculo criado ao Método Dom Bosco, utilizado no projeto, dificultou a habituação ao ensino público. Contudo, alguns monitores entrevistados referiram que existe realmente um interesse muito grande em “ser alguém no futuro” e que há casos de pessoas que passaram pelo projeto de alfabetização que atualmente são professores do ensino público ou têm outras profissões melhor remuneradas. Relativamente às mais-valias, todos os monitores referiram ser um projeto muito importante para o Bairro da Graça nomeadamente no que diz respeito à higiene e saneamento, mas, especificamente para os beneficiários, a aprendizagem, no sentido em que possibilita a capacitação dos alunos nas tarefas do dia-a-dia e na participação ativa na sociedade, teve especial relevo. Os dados recolhidos pelo Grão e a avaliação feita junto dos monitores quanto ao impacto que a alfabetização teve na vida dos seus alunos foram muito positivos e muito importantes para os LD porque lhes permitiu analisar, de forma qualitativa e quantitativa, diversos dados como as dificuldades sentidas pelos alunos, o percurso dos alunos, as vantagens do método de ensino utilizado, entre outros. A avaliação deste projeto ainda está numa fase inicial, no entanto, por nunca antes ter sido feito nenhum levantamento do impacto do mesmo, foi considerado um enorme contributo para o trabalho desenvolvido pelos LD e que poderá ser continuado pelo Grão em missões futuras. 11
  • 12. ACOMPANHAMENTO AO ESTUDO Durante a semana, na Casa do Gaiato de Benguela, existem três momentos de estudo acompanhado ao longo da rotina diária dos rapazes. Como em todas as atividades da casa, são os mais velhos que dão apoio aos mais novos e, durante os dois meses de Missão, os voluntários do Grão deram também o seu contributo nestas horas de estudo. Além do acompanhamento nos trabalhos de casa e explicações pontuais em matérias de dúvida, foi criado um grupo de estudo de Matemática com alunos de diferentes anos numa tentativa de colmatar a falta de bases e as dificuldades por muitos sentidas. Para muitos, este acompanhamento traduziu-se na diferença entre testes com notas negativas ou positivas e até entre passar ou não de ano. CURSO DE INGLÊS O Curso de Inglês, com uma duração de quatro semanas e lecionado pelos voluntários do Grão na Casa do Gaiato, teve como principal objetivo dinamizar o período do estudo da tarde dos rapazes do 1º ciclo introduzindo os primeiros conhecimentos básicos da Língua Inglesa. As aulas diárias, de cariz prático e muito lúdico, contando com o apoio de filmes, músicas, jogos e artes plásticas, incidiram sobre temas como as letras e os números, os dias da semana e os meses do ano, as cores, os animais, as divisões de uma casa, entre outros, permitindo aos rapazes um primeiro contacto com uma língua nova num ambiente que fugiu à formalidade da sala de aulas e se revelou um momento divertido, desafiante e de grande aprendizagem. Para cada tema introduzido foram realizadas tarefas que iam sendo adicionadas a um portfólio pessoal de cada rapaz. No último dia de aulas, numa cerimónia de despedida e entrega de diplomas, foi entregue a cada aluno o conjunto das atividades realizadas com o objetivo de, no futuro, poder ser consultado. Em cooperação com a Casa do Gaiato de Benguela 12
  • 13. FERRAMENTARIA A Ferramentaria da Casa do Gaiato é o local onde são armazenados todos os materiais necessários para o funcionamento das oficinas da casa. Estas oficinas, para além de permitirem ensinar uma profissão aos jovens gaiatos, são também uma fonte de receita uma vez que ali são produzidos móveis que depois são vendidos para as mais variadas organizações da região. Assim, a Ferramentaria, gerida por um funcionário da casa, trata-se de um espaço constituído por duas salas onde são guardados os equipamentos comprados e onde todos os trabalhadores se deslocam para os requisitar quando necessário à construção dos móveis. Neste local, a intervenção do Grão foi solicitada em duas vertentes: por um lado, era necessário fazer um inventário de todos os materiais existentes e, por outro, informatizar as entradas e saídas dos mesmos com o intuito de melhorar a gestão do espaço. Neste sentido, a par da inventariação dos artigos, o Grão instalou, pela primeira vez, um computador na Ferramentaria, ensinou o responsável a trabalhar com o computador e criou uma base de dados onde se começaram a inserir as operações daquela oficina, iniciando- se assim o moroso processo de substituição do registo em cadernos pelo registo informático. Com o objetivo de colmatar as dificuldades que pudessem surgir aquando do regresso do Grão, foi deixado um Manual de Gestão da Base de Dados. H’ORA A DEUS Todos os dias ao final da tarde, a família da Casa do Gaiato junta-se para rezar o terço. Com o objetivo de dinamizar este momento de oração, os missionários do Grão desenvolveram propostas de reflexão, oração e partilha a que chamaram H’Ora a Deus. Neste tempo, os rapazes, divididos por faixas etárias, foram aprendendo novas formas de rezar e de se relacionar com Deus e com os outros. Em cada sessão, era proposto um tema, um cântico novo e uma dinâmica de oração diferente. Além dos laços de união fortes que foram sendo criados nos momentos de partilha, foi a nova perspectiva introduzida sobre a forma de rezar que mais entusiasmou os rapazes e os responsáveis da Casa do Gaiato. Na última oração partilhada com o Grão, foi emocionante perceber o quão valorizada foi esta iniciativa. O “hino” do Grão de Trigo, cantado a plenos pulmões pelos rapazes, ficará para sempre como um grande ”obrigado” no coração do Grão. 13
  • 14. 14 WEBSITE O mecanismo oficial de divulgação da Casa do Gaiato de Benguela online era o website da Obra da Rua, um site onde além da Casa de Benguela figuram todas as Casas do Gaiato espalhadas pelo mundo e onde se pode encontrar informação sobre a história da organização e do fundador, notícias e contactos das várias casas, e onde se pode ainda adquirir o Jornal O Gaiato, uma das mais antigas fontes de receita da Obra da Rua. Com o intuito de dar maior visibilidade à Casa de Benguela, os missionários do Grão, em cooperação com os rapazes responsáveis pela Sala de Informática da Casa do Gaiato de Benguela, deram início àquele que será o site oficial da casa. A atualização da página e a gestão dos conteúdos está atualmente entregue aos gaiatos. FACEBOOK Além do website, e dada a forte expansão das redes sociais pelo mundo, foi também criada uma página no Facebook para a Casa do Gaiato de Benguela com o objetivo de dar a conhecer a instituição a um número cada vez maior de pessoas. Pretende-se que seja um espaço de partilha de notícias, eventos e momentos que aproxime os rapazes e os responsáveis da casa aos amigos, aos antigos gaiatos, aos rapazes de outras casas e aos benfeitores de um modo mais informal e familiar e com maior frequência. A presença nesta rede social permite também uma maior proximidade a Portugal, o país onde a Obra da Rua nasceu e de onde a casa recebe muitos donativos. A gestão dos conteúdos da página está também a cargo dos gaiatos.
  • 16. 25 INFANTÁRIO O Infantário da Casa do Gaiato, atualmente a cargo das Irmãs Cooperadoras Paroquiais, recebe crianças tanto da Casa do Gaiato como do Bairro da Graça. Ao todo, são 75 crianças, dos 0 aos 5 anos de idade, as que beneficiam das infraestruturas e serviços prestados pelas Irmãs e Mamãs responsáveis. Contudo, as condições precárias em que funciona, sem eletricidade ou água corrente, levaram os missionários do Grão a agir no sentido de levar cor e alegria aos espaços. Assim, e após um generoso donativo feito a partir de Portugal que permitiu a compra das tintas e pincéis, puseram mãos à obra e pintaram as paredes das duas salas de aulas – uma com as letras do alfabeto e outra com os números de 0 a 10. Além da visível valorização dos espaços, a pintura das salas permitiu que, desde cedo, as crianças passem a ter contacto com o os algarismos, as letras e as cores. FORMAÇÃO DE MONITORES DE INFORMÁTICA Durante as duas semanas de pausa letiva de Agosto, foi solicitada aos missionários do Grão a formação de novos monitores de informática para os cursos lecionados na Casa do Gaiato. Estes cursos, com alunos internos e externos à instituição, além de representarem uma fonte de receita para a casa, são também uma forma de trabalho para alguns dos rapazes que ministram os cursos. Até Agosto passado, eram apenas dois os gaiatos capazes de lecionar o curso de informática. Com o apoio do Grão foi então possível alargar o número de monitores e, consequentemente, de turmas. Ao todo, foram nove os rapazes que frequentaram o Curso de Formação de Monitores de Informática oferecido pelo Grão. Com uma carga de 20 horas ao longo de duas semanas, o curso incidiu sobre os três módulos de informática que constituem o curso oferecido pela Casa do Gaiato – Microsoft Word, Power Point e Excel - e ainda sobre metodologias de ensino e planeamento de aulas. Aquando do regresso do Grão a Portugal, os novos nove monitores de informática já tinham começado a lecionar as primeiras aulas! 15
  • 17.
  • 18. CAMPO DE FÉRIAS DA CASA DO GAIATO O campo de férias na Casa do Gaiato decorreu na segunda semana da pausa letiva de Agosto, entre 26 e 31 de Agosto. Foram cerca de 50 rapazes aqueles que usufruíram das atividades preparadas pelo Grão em torno do tema “Os Piratas do Gaiato”. No primeiro dia, os rapazes foram divididos por equipas de cores. A cada cor correspondia um navio e um capitão do Grão encarregue de motivar o seu navio com gritos de guerra e cânticos de grupo. Assim, foram entregues as fitas de equipa, cada pirata construiu a sua espada e todos aprenderam o hino do campo de férias. Nos dias seguintes, as atividades passaram por idas à “praia dos navios”, uma caça ao tesouro, uma gincana, um jogo de sobrevivência, um torneio de futebol, artes plásticas e muitas surpresas que rechearam a semana dos rapazes de fortes emoções, espírito de equipa e muita alegria. Para além da dedicação dos missionários do Grão, o campo de férias só foi possível graças ao envolvimento dos responsáveis e de toda a família da Casa do Gaiato. Foi graças ao Padre Manuel que surgiram muitos dos apoios que permitiram oferecer os lanches e as guloseimas que adoçaram a semana. E graças aos funcionários da carpintaria, os piratas tiveram direito a uma verdadeira arca do tesouro escondida debaixo de terra! Foram dias de grande alvoroço na Casa do Gaiato, com caras pintadas de terríveis corsários, palas pretas nos olhos, cicatrizes nas caras e muitos sorrisos nos lábios. O espírito de entreajuda, união e amizade esteve espelhado no filme projetado no final da semana onde toda a família pôde recordar os melhores momentos, as grandes conquistas, os laços criados e as amizades vividas. 16
  • 19. 17 Balanço Financeiro Euros Kuanzas Alimentação e despesas domésticas 736,64 92.080 Comunicações 104,16 13.020 Transportes 289,48 36.185 Ajuda à Casa do Gaiato 300 37.500 Retiro Final 100 12.500 Renovação de Vistos 91,40 11.425 Extras 136,32 17.040 Total Gasto 1.758 21.9750 O custo total por pessoa foi de € 293. O orçamento inicial desta Missão foi de € 2.500, no entanto, as despesas indicadas não incluem o custo da viagem de ida e regresso (€ 859,09 por pessoa, totalizando € 5.154,54), vistos (€ 890) e vacinas (€ 255). Um dos grandes desafios de realizar uma Missão em Angola é, sem dúvida, a gestão dos gastos da mesma, tendo em consideração o elevado custo de vida neste país. No entanto, adoptando um estilo de vida simples, o grupo de missionários Grão em Angola conseguiu reduzir o mais possível as despesas de Missão com um esquema sistematizado de compra de bens essenciais, que passou pelo consumo de produtos locais que são os mais abundantes e baratos. A seguinte tabela esquematiza os gastos totais da Missão e os valores são apresentados tanto em euros como na moeda local: kuanza (AOA). O câmbio utilizado foi de aproximadamente 125 AOA por € 1.
  • 21. “No fundo, não somos da mesma família nem sequer os melhores amigos somos, mas vemo-nos 24h por dia e sabendo o que isso significa temos tido imenso cuidado em saber viver em comunidade e saber que apesar de tudo viemos todos por Deus, com Deus e para Deus… por isso tem corrido mesmo bem lá em casa!” Carlos Maria Azeredo “Vou falar desta terra de glórias, Nossa Angola de muitas memórias” “Vou mostrar-vos uma nova terra Agora sem guerra Angola do meu coração” (música de Matias Damásio, Angola – País Novo) Ao longo da nossa vida conseguimos definir alguns pontos de viragem, acontecimentos que marcam um Antes e um Depois: o Pack "Grão + Angola" foi um desses marcos nesta minha vida! Quase dois meses depois de ter regressado de Angola ainda não consigo tomar consciência de tudo o que aconteceu, o que lá ficou de mim, o que trouxe "p’ra Tuga"... Mas pelo menos três coisas tenho a certeza que já consegui descobrir (agora, a Missão é passar essas descobertas para a prática): -Descobri que pode passar a haver "um outro Carlos"! - Descobri como a nossa atitude muda tudo, como faz toda a diferença - (Re)aprendi a viver com outros seres que, tal como eu, estão à procura de ser cada vez mais humanos – Ana, Inês, Maria, Maria João e Mariana: a minha Família destes dois meses! Agora que estou em Portugal, na rotina do dia-a- dia, consigo notar que durante os dois meses de Missão existiu um “Carlos”: um “Carlos” diferente do antes e pós Missão. Em Missão descobri ou descobriram-me ou Ele descobriu-me um outro “Carlos”: o “Carlos” autêntico, o livre de tudo e todos, o natural, o criado por Deus. Se calhar, foi mesmo preciso percorrer todos esses quilómetros até Angola para descobrir aquilo que, no fundo mais fundo do meu ser, posso ser ou que me é pedido que seja. Mas também é verdade que foi necessário regressar a Portugal, à rotina - onde se vive sob as regras do socialmente correto e dependente das opiniões dos outros, onde existe um ser e um parecer muito distantes - para reparar que durante dois meses fui diferente. Foi necessário esse choque para perceber que existiu e pode começar a existir um outro “Carlos” ou pelo menos um “Carlos” mais próximo daquilo com que Deus sonhou e criou! Quando me perguntam sobre a Missão, costumo dizer que Angola tem dois países distintos: Luanda e o resto de Angola (como Benguela). Luanda é a capital que o mundo bem conhece, e Benguela e o resto é uma Angola parada no tempo desde a guerra. Um povo são, genuíno, naturalmente bom, ainda não atacado pelos males do mundo… Sentimos muita diferença na forma como éramos vistos em Benguela e em Luanda. Mas se olharmos com atenção, em Benguela andávamos de cruz ao peito, com t-shirts brancas do Grão, de sorriso na cara, à procura de conhecer e partilhar, à procura de Amar! São duas realidades muito diferentes e fazem-me crer cada vez mais que a nossa Atitude nas coisas – seja em Missão, no trabalho ou faculdade, nas relações, na vida, com Deus – faz toda a diferença… uma diferença para nós e para os outros. Por último, gostava só de tocar num ponto que muitas vezes passa ao lado mas que é essencial: uma Vida Comunitária a Seis. E para isso cito umas frases dum e-mail que enviei para Portugal durante a Missão: “Entre nós, como é óbvio, já tivemos discussões de comunidade mas acabamos sempre por chegar a um consenso e quando as coisas não ficam a 100%, há sempre a oração de final do dia que inspira sempre cada um de nós e à nossa comunidade. No fundo, não somos da mesma família nem sequer os melhores amigos somos, mas vemo-nos 24h por dia e sabendo o que isso significa temos tido imenso cuidado em saber viver em comunidade e saber que apesar de tudo viemos todos por Deus, com Deus e para Deus… por isso tem corrido mesmo bem lá em casa!” E assim termino: “Eu sou Africano não porque nasci em África, mas porque África nasceu em mim.” Katualisilé! (“Estamos Juntos”, em Umbundo, um dialeto angolano) 19
  • 22. “A maior Missão não é em África, mas sim durante toda a vida. Porque o mais importante é amar e servir, seja onde e a quem for.” Maria Baldaque “(…) É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos” (O Principezinho) – conheço esta frase desde pequena, contudo, nunca a tinha sentido tão na pele como senti durante os dois meses de Missão em Benguela. Lá, longe de tudo o que não é essencial, presenciei, todos os dias, enormes exemplos de humildade, entrega ao próximo, generosidade, alegria, simplicidade… Refiro-me concretamente ao Padre Manuel, que entregou a sua vida ao serviço e a todos os Gaiatos, querendo sempre mais para os outros do que para si mesmo; ao Zé Luís e à Teresa, sempre atentos para que nada nos faltasse; ao Padre Quim, que tinha sempre a palavra certa para cada Gaiato; aos Leigos para o Desenvolvimento, que nos acolheram e acompanharam inexplicavelmente bem; à Josefa e sua família (nossa amiga do Bairro da Graça), que tão bem nos recebeu na sua casa, oferecendo-nos o que tinha e o que não tinha; às Mamãs que nos diziam um gigante OBRIGADO ou “Salipotchiuá” (Fiquem bem) sempre que nós lhes dizíamos “Ualalé” (Olá, bom dia); às crianças que viviam no Bairro da Graça, sem roupa e cobertas de pó, que, mal nos viam, vinham aos pulos com o maior sorriso, só para receber um “Hi five”; à Manuela, que nos caiu do Céu, e que foi a nossa madrinha de Missão, fazendo as vezes dos nossos pais; a todas as boleias nas pick ups de desconhecidos que tinham a generosidade de nos levar onde precisássemos; aos abraços e beijinhos espontâneos e inesperados dos Gaiatos mais novos; à alegria e excitação dos miúdos ao saberem que era dia de assistir a filme; à felicidade das crianças do Bairro que foram pela primeira vez à cidade (que fica a 10 minutos do seu Bairro); à verdade e sinceridade com que os Gaiatos partilhavam as suas orações no H’Ora a Deus; à genuinidade e simplicidade da Alice e da Domingas; ao espírito de entrega, família e compromisso que se sentia dentro da nossa comunidade de seis; às missas cantadas, dançadas, VIVIDAS e com a presença bem sentida de que Jesus lá estava. E tanto mais eu podia agradecer… Se tenho saudades?! Tenho muitas…das pessoas, dos cheiros, das cores do céu e do pôr-do-sol, da música, de dançar Kizomba e Kuduro, de rezar o terço com os Gaiatos e no fim ensaiarmos as músicas das missas de Domingo, das idas à praia com o Padre Manuel e os 80 Gaiatos na carrinha de caixa aberta, das futeboladas ao Sábado com o Padre Quim e os miúdos, das nossas partilhas nas orações comunitárias, da alegria e leveza com que se vivia o dia-a-dia… Mas as saudades maiores são as da minha pessoa em África – da simplicidade, do desprendimento, da proximidade a Jesus, do relativismo face a problemas, da generosidade, do ser grata pela vida todos os dias, saudades do TEMPO (bem aproveitado!), do simples ESTAR … Contudo, embora este aterrar e desprender duma realidade em tudo oposta à nossa não esteja a ser fácil, tenho conseguindo encontrar Deus na minha rotina de cá. Basta “esfregar os olhos” (ou ver com o coração) e também O consigo ver na faculdade, na minha família e amigos. E se assim o fizer, também por cá vou conseguindo transformar (um bocadinho que seja) o meu mundo e as minhas pessoas. Pois, tal como nos foram dizendo ao longo do ano de formação, a maior Missão não é em África, mas sim durante toda a vida. Porque o mais importante é amar e servir, seja onde e a quem for. 20
  • 23.
  • 24. Fonte Boa MoçambiqueNo dia 23 de Julho, o Grão partiu do Porto com destino a Fonte Boa para dar continuidade ao apoio prestado à Região Moçambicana da Companhia de Jesus e às actividades principiadas pelo Grão no ano de 2012 e iniciar novos projectos estruturados em conjunto com a Fundação Gonçalo da Silveira. Assim sendo, e após um ano de formação exigente, foram seleccionados, como representantes do Grão, em Moçambique, seis missionários: MARIANA BARRIAS 23 anos. Enfermeira. Coordenadora da Missão. JÚLIO FACHADA 30 anos. Engenheiro Informático. Vice-Coordenador e Tesoureiro. DANIEL SILVA 25 anos. Engenheiro Eletrotécnico. Responsável de Logística. CATARINA ROCHA 23 anos. Estudante de Ciências Farmacêuticas. Responsável de Saúde e Segurança. MARIA MAGALHÃES 22 anos. Estudante de Turismo. Responsável de Materiais. MAFALDA LENCASTRE 22 anos. Licenciada em Ciências da Comunicação. Responsável de Oração Comunitária. A Missão Situada a 15 kms da Vila Ulongué (capital do distrito da Angónia), Fonte Boa pertence ao distrito de Tsangano, na província de Tete, no interior norte de Moçambique. A Missão Católica de Fonte Boa foi fundada em 1945 pela Companhia de Jesus e, vivendo em fraternidade, desenvolve diversas atividades ao serviço da Comunidade. Inspirada nos valores inacianos da Companhia de Jesus, possibilita o acesso à educação a muitos jovens desta zona francamente pobre procurando promover a comunicação, o encontro na justiça, o amor ao próximo e a celebração da vida. O trabalho desenvolvido no projeto agrícola, na carpintaria e na fábrica de moagem, para além de constituírem um meio de subsistência da Missão, dão emprego à população local. A Missão Católica de Fonte Boa realiza também um imenso trabalho de índole social, como é o caso do Projecto de Acolhimento de Crianças Órfãs que procura conferir a estas melhores condições de vida. O maior e mais recente projecto a cargo da Missão é a construção da Escola Secundária Inácio de Loyola, na paróquia de Msaladzi, que terá como finalidade permitir aos alunos o acesso ao ensino de qualidade, fundado nos valores da Companhia de Jesus, o combate ao analfabetismo e a difusão da língua portuguesa. 3721
  • 25. Atividades Desenvolvidas ESCOLA SECUNDÁRIA DE FONTEBOA A Escola Secundária é composta por aproximadamente 400 alunos, que vivem maioritariamente nos internatos. Estas estruturas encontram-se junto à Missão de Fonte Boa, o que facilitou a acção do Grão, rentabilizando o tempo gasto em deslocações noutras atividades. Após um levantamento de necessidades junto dos professores e diretor desta escola, o Grão percebeu que a sua intervenção, durante 6 semanas, teria que se estender a diversas áreas: apoio aos alunos no estudo obrigatório, reorganização da biblioteca e incentivo ao estudo neste espaço (que foi reestruturado na Missão no Grão do ano anterior), apoio aos professores no ensino de determinados temas, como por exemplo voleibol e ginástica acrobática, no âmbito da disciplina de educação física. Todas as atividades desenvolvidas por este grupo tiveram sempre como foco o estímulo à língua portuguesa. 39 INTERNATO FEMININO E MASCULINO Devido à distância entre a Escola Secundária e as comunidades, muitos são os alunos que vivem nos Internatos Feminino e Masculino. Neste momento, no primeiro vivem cerca de 144 raparigas e no segundo 140 rapazes. Com a formação como pano de fundo, nos internatos, a intervenção do Grão passou essencialmente pela criação de vários cursos, divididos por módulos, tais como: Curso de Primeiros Socorros (composto também pela criação de um kit com materiais para suporte básico), Curso de Teatro, Curso de Higiene e Sexualidade, Curso de Formação Cívica e Moral, mas também apoio nas aulas de costura, jogos pedagógicos e atividades de tempos livres (ATL). Aproveitando o facto de dois dos membros desta comunidade serem da área da saúde, foi realizado ainda um rastreio de saúde à maioria dos alunos que aqui vive, onde se verificaram diversos problemas de saúde, consequência de tratamentos mal realizados. Este rastreio teve como objetivo obter informação quanto à idade e comunidade de origem de cada aluno, tensão arterial, peso, altura e índice de massa corporal (IMC). 22
  • 26. ESCOLA BÁSICA DE MANKHOMA A Missão Católica de Fonte Boa está a cerca de dois km da Escola Básica de Mankhoma. Esta escola tem 901 alunos do 1º ao 7º ano e cerca de 21 professores. As suas infraestruturas são bastante precárias, não tendo electricidade, água nem material escolar suficiente para apoio ao estudo. Neste sentido, após a análise e diagnóstico das necessidades sentidas, a intervenção destes missionários, durante 6 semanas, passou por: • Apoio ao estudo e explicações às principais disciplinas: Aproveitando também para ocupar o tempo livre dos alunos, durante os dois meses de Missão, fizeram um acompanhamento intensivo ao estudo, através de técnicas facilitadoras da aprendizagem. • Acompanhamento e observação de aulas de Língua Portuguesa: A pedido dos professores, esta atividade teve como principal objetivo a análise das lacunas no ensino da língua portuguesa. • Actividades lúdico-didácticas para estímulo ao português: Atendendo à grande dificuldade na compreensão e expressão do português por parte dos alunos, mesmo sendo a língua oficial deste país, e apoiando-se sempre no Chichewa (língua desta zona de Moçambique), procuraram incentivar os alunos através de jogos e brincadeiras, com os quais ensinaram o alfabeto, as cores, os números, as partes do corpo, as horas, entre outros. Mas se achavam que iam lá só para ensinar português estavam muito enganados! Trocaram-lhes as voltas, e os alunos desta escola acabaram por se revelar grandes professores de Chichewa! • Organização e criação de uma biblioteca: Esta escola não dispõe de qualquer espaço para o estudo, pelo que o Grão decidiu dar início à criação de uma biblioteca. Assim, foram inventariados todos os livros e materiais escolares da escola e foi efetuado um esquiço de uma estante a ser colocada no espaço da Biblioteca, que foi entregue à escola. • Curso de Agricultura: Tendo em vista incentivar os alunos e responsáveis da escola a tirar partido da horta escolar, o Grão realizou um curso, durante uma manhã, com principal foco na aprendizagem de formas de plantação e de rega de alfaces. • Curso de Primeiros Socorros: Devido ao longo caminho a percorrer entre a escola e o centro de saúde, foi realizado um curso de primeiros socorros com os responsáveis da escola, cujo intuito foi dar-lhes a conhecer cuidados básicos de primeiros socorros, designadamente, limpeza e tratamento de feridas, queimaduras, picadas, entre outros. No final do curso, deixámos um kit de primeiros socorros na escola constituído por gaze, betadine, pensos rápidos, soro fisiológico e outros materiais essenciais na prestação de cuidados de saúde. E tendo em conta a população da escola e a escassez do kit, foram- lhes também transmitidas dicas de utilização de materiais do dia-a-dia. 23
  • 27. SALA DE ESTUDO KUTSOGOLO Esta Sala de Estudo está integrada na Missão de Fonte Boa. Foi criada pela leiga Elizabeth Santos, uma portuguesa e única mulher que vive, há já alguns anos, na Missão. Através de donativos recebidos de Portugal, esta sala é constituída por uma zona de estudo (que aos domingos à tarde se torna zona de lazer, quando a professora Elizabeth projeta um filme) e uma zona de computadores, onde são dadas aulas de computação, como eles lhe chamam. Aqui realizam-se também concursos de desenho, língua portuguesa, entre outros. Esta sala está aberta a qualquer pessoa que queira estudar, pelo que, durante seis semanas, o Grão lá esteve, três manhãs por semana, com o objetivo de dar apoio às várias disciplinas lecionadas na Escola Secundária de Fonte Boa, procurando sempre incentivar a prática da Língua Portuguesa falada e escrita. A grande acessibilidade de recursos desta sala, que contrasta grandemente com os recursos disponíveis nas outras atividades em que o Grão esteve envolvido, permitiu uma vasta troca de experiências e desenvolvimento de outras atividades lúdicas como o Curso de Guitarra (uma vez por semana), sábados de expressão plástica, e ainda cooperação no desenvolvimento de um curso de produções agrícolas, destinado aos trabalhadores das “machambas” (hortas) de Fonte Boa. A adesão às atividades do Grão superou qualquer expectativa, sendo que a interação com os alunos acabou por se tornar mais que um apoio no estudo ou desenvolvimento de uma atividade, mas foi, muitas vezes, um espaço de escuta e atenção. 24
  • 28.
  • 29. PROJECTO SEMENTES DO AMANHÃ Em 2004, em parceria com a FGS, a Missão de Fonte Boa criou o projeto Sementes do Amanhã, com o objetivo de acolher órfãos de pais com SIDA, sem os retirar completamente das suas comunidades. Atualmente existem 6 casas, onde vivem 62 crianças. Depois de uma avaliação das necessidades no terreno, foi, desde logo, percetível que o papel do Grão passaria essencialmente pelo estímulo à língua portuguesa. Apesar do português ser a língua oficial de Moçambique e a língua utilizada pelos professores para lecionar nas escolas, é alarmante o facto de nenhuma destas crianças saber falá-la. A língua utilizada para comunicar nesta zona é o Chichewa. Esse estímulo aconteceu através de jogos, músicas, explicações, apoio na escola, entre outros, tendo sempre em atenção a repetição e possibilidade de reutilização dos suportes utilizados, para que as mamãs (senhoras responsáveis por cada uma das casas e pelas crianças que lá residem) pudessem dar continuidade ao trabalho iniciado pelo Grão. Tendo como pano de fundo este estímulo e as necessidades levantadas, foram também desenvolvidas atividades na machamba (horta) das casas, com o intuito de rentabilizar ao máximo os recursos de que dispõem, um rastreio de saúde às mamãs e crianças destas casas e um curso de primeiros socorros, tendo sempre atenção à realidade em que estão inseridos. Durante sete semanas, duas destas casas (Makodza Kodza e Nkhawo) receberam visitas diárias. Apesar das atividades acima referidas terem sido realizadas em todas as casas do projeto, estas duas, devido à menor distância da Missão a que se encontravam (o meio de transporte utilizado nestas deslocações foi a bicicleta), usufruíram não só de um acompanhamento mais próximo e regular, mas foi também possível aos voluntários do Grão pernoitar numa destas casas, com o intuito de fomentar a inculturação e perceber, de forma mais plena, o seu modo de funcionamento. Foi ainda utilizada uma parte do orçamento que os missionários angariaram em Portugal para o registo de 13 das crianças destas casas, que, apesar de já em idade escolar, não “existiam” ainda em Moçambique. 25
  • 30. ESCOLA SECUNDÁRIA INÁCIO DE LOYOLA A Escola Secundária Inácio de Loiola (ESIL) é um projeto que está a cargo da Região Moçambicana da Companhia de Jesus, tendo como responsável o Padre Vítor Lamosa, da Missão de Fonte Boa. Este projeto dará origem a uma nova Missão (em Msaladzi), e a pouco e pouco, tem sido financiado por diversas entidades, com o apoio da FGS. Por solicitação da FGS, durante estes dois meses em Moçambique, o Grão ficou encarregue de recolher informações sobre o avanço desta obra. Com esse objetivo, as visitas à ESIL realizaram-se, pelo menos, uma vez por semana, mas como em África nada é planeado, tudo é imprevisto, muitas foram as vezes em que os voluntários acabaram literalmente por “pôr mãos à obra”. O trabalho do Grão incluiu também a cartografia do espaço e da sua envolvência. RURAL WOMEN SOLAR ENGINEERS Este foi mais um projeto no qual o Grão esteve envolvido , por sugestão da FGS. Em 2006, foram enviadas seis mulheres para a Índia, para terem uma formação sobre a instalação e manutenção de Painéis Solares. Os critérios de seleção eram claros, (seriam mulheres viúvas com pouca instrução), para que não saíssem da sua comunidade e utilizassem essa formação em proveito daquela. Entretanto essas mulheres regressaram às suas comunidades e muitos meses passaram até receberem os materiais de trabalho e começarem a construção do armazém onde essas mulheres deveriam pôr em prática o que tinham aprendido. Devido ao grande intervalo de tempo entre as formações e a construção do armazém, a FGS acabou por perder o rasto destas mulheres, pelo que pediu ao Grão não só para lhes darem um feedback do estado da construção do armazém, mas também para recolherem o máximo de informação possível sobre quem estava envolvido neste projeto e sobre as “Rural Women Solar Engineers”. O Grão não só acedeu aos pedidos da FGS, mas descobriu também que alguns jovens dessa comunidade, mais instruídos e com mais conhecimentos, pegaram no material fornecido, tentaram perceber o seu modo de funcionamento e ajudaram assim as mulheres a relembrarem tudo o que haviam aprendido há já alguns anos atrás. 47 26
  • 31. APOIO À COMUNIDADE Como forma de agradecimento à Missão que tão bem os recebeu, o Grão decidiu que, no horário semanal, encaixaria sempre um tempo para o apoio à comunidade que, nas muitas conversas, lhes foi transmitindo algumas das zonas da Missão “com défice de atenção”. Debruçaram-se por isso sobre os diversos armazéns da Missão, que já não sofriam uma intervenção desde o tempo em que os Leigos para o Desenvolvimento lá viviam, organizando materiais escolares oriundos de terras lusas, que tinham saído diretamente dos contentores para estes armazéns. Entre estes, cumpre destacar o armazém das Casas dos órfãos, que, com a organização que foi efetuada, tornou-se mais fácil o acesso aos materiais a serem levados para as casas. Adicionalmente, o Grão dedicou-se à reabilitação e pintura da capela da casa da Missão e à reinstalação e arranjo de alguns computadores, com o objetivo de formar uma sala de computadores para formações em Satemwa, onde vive outra comunidade de jesuítas. 27
  • 32. Balanço Financeiro Euros Meticais Renovação dos Vistos 325 13.000 Bicicletas (investimento para anos futuros) 398 15.920 Transportes 225 9.000 Retiro Final 300 12.000 Projetos 70 2.800 Telecomunicações 70 2.800 Alimentação e despesas caseiras 395 15.800 Total Gasto 1.683 71.320 Adoptando um estilo de vida simples, o Grão não teve gastos muito elevados em Moçambique. O alojamento numa casa da Companhia de Jesus em Satemwa, próximo de Fonte Boa, foi oferecido e, por isso, o gasto dos voluntários no terreno foi mais reduzido. A seguinte tabela esquematiza os gastos totais da Missão e os valores são apresentados tanto em euros como na moeda local: Metical (MZN). O câmbio é de aproximadamente 40 MZN por € 1. De forma a contribuir para a Missão Católica de Fonte Boa pelo carinho com que o Grão foi recebido e ajudar, dentro do possível, a Missão nos gastos do dia-a-dia, os Missionários do Grão deixaram o remanescente para ajudar as casas de Fonte Boa e de Satemwa. O custo total por pessoa foi de € 280,50. O orçamento inicial desta Missão foi de € 2.500, no entanto, as despesas indicadas não incluem o custo da viagem de ida e regresso (€ 1.118,79 por pessoa, totalizando € 6.712,74), vistos (€ 240) e vacinas (€ 255). 28
  • 34. "Começa por fazer o que é necessário, depois o que é possível e de repente estarás a fazer o impossível". Mafalda Lencastre Não me canso de dizer que nunca nada me deu tanto prazer! Agora em Portugal, uns meses depois de ter regressado, o que vivi parece já tão distante, mas a marca que deixou, essa fica para sempre! Cresci, tornei-me mais independente, aprendi a rir realmente com vontade e percebi a importância de um sorriso bem endereçado, mas acima de tudo, ABRI OS OLHOS. Abri os olhos e foi amor à primeira vista! E voltei, mas um bom pedaço do meu coração ficou por lá. Impressionante é perceber que ainda assim voltou cheio, cheio de tudo que recebi daqueles que aparentemente nada podem dar em troca… Mas desenganem-se, são só aparências mesmo! Na noite de 22 de Julho, véspera da partida para Missão, o Chico mandou-nos uma carta em que citava S. Francisco de Assis, dizendo: "Começa por fazer o que é necessário, depois o que é possível e de repente estarás a fazer o impossível". Esta frase acabou por me perseguir durante toda a Missão. E ao referir-se ao impossível, sei que não tencionava propor-nos fazer milagres, mas simplesmente ir mais além. Ir mais além com o Sefassi e o Damiano, que me fizeram esquecer a barreira linguística (não imaginam o quão bem comunicávamos, só visto!); com as crianças de Makodza Kodza, que me ensinaram a brincar às casinhas como gente grande; com as mamãs Lanesse e Maria José, incansáveis na educação e valores que todos os dias transmitiam àquelas crianças e me puseram, ao fim do primeiro dia, de olhos esbugalhados e ouvidos bem abertos, a ouvir as mil e uma histórias que tinham para contar, com uma vontade enorme de querer saber mais e mais; com o Ernesto que exibia orgulhosamente a sua mochila com as alças rebentadas e onde carregava os livros dos “seus irmãos”, tendo sempre espaço para mais um; com o Lucas cujas sapatilhas estavam tão apertadas que encolher os dedos dos pés não era suficiente, por isso, todos os dias, ainda que com a mamã a ralhar para não chegarem tarde à escola, uma das crianças da casa de Nkhawo ficava para trás a ajudá-lo na árdua tarefa de enfiar os pés nas sapatilhas; com todos aqueles com quem me cruzava nos longos “passeios” de bicicleta e que me levavam, ainda que sem ar por causa das subidas e com as mãos cheias de bolhas pela força com que agarrava o volante, a querer cumprimentá-los sempre com um mulibwanji [Bom dia] acompanhado de um grande sorriso; também com aqueles que com farinha e água alimentavam uma família inteira; e em que nada é meu, tudo é nosso! Percebo agora que caminhar para o impossível depende muito mais do que de mim, e a energia com que me levantava todos os dias de manhã bem cedo para começar mais um dia, foram aqueles “que nada têm” que ma deram. Saí de Missão com vontade de saltar do sofá e correr o Mundo, como dizia o Vasco “de abrir bem os olhos para não perder nada”, mas será que toda esta experiência não se resume simplesmente ao facto de saber olhar para o lado e ver verdadeiramente quem lá está?! 30
  • 35. “O que mais trago e recordo todos os dias é o tempo; mas não aquele tempo em que olhamos para o relógio e pensamos que estamos atrasados, porque lá isso não existe, mas sim o tempo de Amar e ser Amado.” Maria Magalhães Até custa um bocadinho descrever a minha chegada… Parece que foi ontem que aterrei naquela terra que me queria tanto. A primeira sensação, quando pousei os meus dois pezinhos e o meu corpo naquele aeroporto onde nada havia, foi um bafo quente a bater na cara, um cheiro forte e intenso, um misto de sentimentos alucinantes e uma enorme felicidade chapada na minha cara. Acima de tudo, recordo quando percorríamos aquelas estradas sem fim que separam as pequenas comunidades Moçambicanas e as pessoas reconheciam a pick up de caixa aberta dos missionários. Era encantador como, do nada, apareciam dezenas de crianças a correr atrás do carro e a cantar aos berros. E arrepiava-me sempre assistir àquela correria genuinamente alegre e à invasão que se seguia – só paravam quando subiam para a caixa aberta e seguiam viagem connosco! Com tanta gente a bordo mal nos conseguíamos mexer mas ninguém se importava minimamente, antes pelo contrário, penso que cada um de nós, para si e com Deus, agradecia em silêncio a bênção que era usufruir daqueles momentos irrepetíveis – sob o pôr-do-sol africano, ao som dos cânticos e da felicidade das crianças. Naquela terra aprendi a dar valor a tudo que me rodeia e o que mais trago e recordo todos os dias é o tempo; mas não aquele tempo em que olhamos para o relógio e pensamos que estamos atrasados, porque lá isso não existe, mas sim o tempo de Amar e ser Amado, o tempo usado com os outros da melhor maneira. Pois tive o privilégio de aprender que mesmo quando as barreiras linguísticas existem, quando o que somos e damos é verdadeiro todos falamos a mesma língua. Hoje, do outro lado do mundo, guardo muitas saudades de olhar para aquele céu, carregado de estrelas e rever o meu dia, os momentos que vivi, os olhares e os sorrisos das pessoas com que me cruzei, os gestos experimentados, a felicidade e as lágrimas que por ali deixei. Por sentir tudo ainda tão próximo, ainda hoje dou comigo em casa a contar as estrelas do céu. Sinto um aperto de saudades muito grande mas sei que do outro lado do mundo também estão olhar por mim, pela estrelinha que lhes deixei, e então, vejo a quantidade de estrelas que vêm todos os dias ao meu encontro e guardo-as em cada espacinho do meu coração. E sim, espero, sem tempo para lá voltar… “O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora.” 31
  • 36. 32
  • 37. Agradecimentos Ach Brito Armazéns do Chá Auditório Bar Boulevard Bar Buondi Café Progresso Câmara Municipal do Porto – Pelouro da Cultura, Lazer e Desporto Carnes da Rendeira Casa dos Arcos Cedofeita Viva Cerealis Cromotema Artes Gráficas ESN KPMG Maia Carne Maria Rapaz Niepoort Oporto Golf Club Padaria Popular Padaria Ribeiro Palacete Pinto Leite Papelix Pastelaria Princesa do Norte Quinta da Salgueira REN Sogrape SONAE Talhos Bisonte Talhos Boavista Talho D’Anta Talho Nosso Unicer Alexandra Guimarães Bento Amaral Carmo Themudo Daniel Rego Diogo Chang Fátima Pinto Isabel Costa Macedo Júlio Pereira Manuel Marques Machado Pedro Castro Peu Madureira Acreditar Amigos de Aldoar C.A.S.A. Casa de Saúde de S. João de Deus, Barcelos Casa de Saúde de S. José, Areias de Vilar Casa do Gaiato de Benguela Centro Comunitário São Cirilo FAS CREU-IL Fundação Gonçalo da Silveira Igreja de Cedofeita Igreja de Cristo Rei Igreja da Lapa Igreja de Leça da Palmeira Igreja de Nevogilde Igreja de Ramalde Irmã Rita Cortez – Escravas do Sagrado Coração de Jesus Irmãs Hospitaleiras Lar das Irmãzinhas dos Pobres Leigos para o Desenvolvimento Leigos para o Desenvolvimento de Benguela Meninos do Coro Missão Católica de Fonte Boa Porta Solidária Província Portuguesa da Companhia de Jesus Rabo de Peixe Vida Norte Stella Maris – Igreja dos Carmelitas Descalços 33