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Principais desafios
da indústria
em Portugal - 2013
Uma abordagem coerente
para a dinamização do setor
Processos concertados
desencadeiam ação
Enquadramento 4
Sumário executivo 8
Produtividade e custo dos fatores
Variáveis chave para a indústria
10
A inovação na indústria portuguesa
(Saber) valorizar o conhecimento existente!
18
O tamanho importa?
Sim! Mas para quê?
26
O papel do Estado
É imperativo rever o seu papel
32
O valor social da indústria
Pilar fundamental do modelo económico-social
38
Localização e internacionalização
Uma questão de geografia ou de geopolítica?
42
Conteúdos
4 PwC
A PwC acredita que a indústria portuguesa pode e deve ser
um motor de desenvolvimento preponderante da economia
para os próximos anos.
A crise, que atualmente vivemos, está usualmente
identificada como uma crise financeira e imobiliária.
Contudo, não podemos esquecer o seu profundo impacto
no setor industrial, derivado do forte aumento dos impostos
e da consequente redução do rendimento disponível, que
provocou uma forte diminuição da procura interna, a qual
tem, até agora, conseguido ser parcialmente compensada por
um aumento significativo das exportações.
De facto, o setor industrial tem vindo a perder relevância,
sendo importante que se consiga a sua revitalização, de
forma a se conseguir recuperar a competitividade da nossa
economia. Apesar de tudo este setor ainda representa
uma fatia muito importante do PIB em Portugal (24%),
empregando 24% dos trabalhadores ativos.
Enquadramento
Hermínio Afonso
Sócio responsável pelo setor de Industrial
Manufacturing e líder deste projeto
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 5
Valor acrescentado bruto por ramo de atividade
Milhões de Euros
Contribuição dos sub-setores industriais
77 281
6%
29%
28%
25%
25% 23% 24% 24%
72%
73% 74% 74% 74%
68%
66%
1995 2000 2007 2008 2009 2010 2011P
111 549
4%
146 209
2%
149 311
2%
148 703
2%
151 414
2%
149 268
2%
Agricultura, silvicultura e pesca
Setor industrial
Serviços
Fonte: INE - Março 2013
1995 2000 2007 2008 2009 2010 2011P
Indústrias extrativa e transformadora
Energia, água e saneamento
Construção
100%
65%
10%
24%
58%
16%
26%
61%
15%
24%
62%
29%
9%
58%
13%
29%
57%
13%
30%
56%
15%
29%
P - Dados preliminares
Contribuição dos sub-setores industriais
1995 2000 2007 2008 2009 2010
66%
4%
30%
59%
4%
37%
60%
37%
3%
59%
3%
38%
59%
3%
38%
59%
4%
37%
Postos de trabalho por ramo de atividade
4 957
16%
30%
30%
26% 25% 24% 24%
61%
62% 63% 64%
56%
54%
1995 2000 2007 2008 2009 2010
5 577
14%
5 705
13%
5 719
13%
5 573
13%
5 475
12%
Agricultura, silvicultura e pesca
Setor industrial
Serviços
Fonte: INE - Dezembro 2012
Indústrias extrativa e transformadora
Energia, água e saneamento
Construção
100%
6 PwC
A PwC elaborou o presente documento tendo como base
reflexões, ideias e propostas geradas a partir de um grupo
de trabalho no qual participaram vários representantes de
empresas, de diferentes dimensões, do setor industrial em
Portugal.
Gostaríamos de referir e voltar a agradecer o desafio lançado
à PwC, por parte do Prof. Ricardo Bayão Horta e Eng. Mira
Amaral, que nos alertaram da premência da execução deste
projeto em Portugal e mantiveram o seu total empenhamento
e disponibilidade em todas as suas fases. Uma equipa de
especialistas da PwC analisou, estruturou e sintetizou as ideias
debatidas, convertendo-as nos assuntos-chave do presente e do
futuro da indústria em Portugal.
Um setor industrial dinâmico, moderno e inovador é parte
essencial de um crescimento equilibrado e insubstituível na
competitividade da economia portuguesa.
De entre as ideias debatidas por este
grupo de trabalho, selecionaram-se os
seguintes temas, que consideramos serem
os de maior impacto e atualidade no
setor:
1.	 produtividade e custo dos fatores;
2.	 inovação na indústria portuguesa;
3.	 “o tamanho importa?”;
4.	 o papel do Estado;
5.	 o valor social da indústria;
6.	 localização e internacionalização.
Enquadramento
A intenção da PwC com este projeto é contribuir e estimular o
debate atual sobre os assuntos que mais preocupam a indústria
em Portugal, de forma a enfrentar os desafios dos próximos
anos.
Consideramos de extrema relevância poder contribuir para
o relançamento da indústria em Portugal como uma das
estratégias fundamentais de saída da crise.
Esta saída deve centrar-se em potenciar novas formas de
crescimento, como por exemplo, a internacionalização, a
inovação ou a economia do conhecimento.
Gostaríamos, uma vez mais, de agradecer os valiosos
contributos de todos os participantes e o entusiamo
manifestados durante as sessões de debate efetuadas em
Lisboa e no Porto.
 
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 7
Participantes externos à PwC
•	 Dr. Álvaro Alvarez,
Administrador da Siderurgia Nacional
•	 Eng. Álvaro Bastos,
COO da Cimertex
•	 Amândio Santos,
CEO da Derovo
•	 Prof. António Cunha,
da Universidade do Minho
•	 Dr. António Manuel Gonçalves,
CEO da Têxtil Manuel Gonçalves
•	 Dr. António Marques,
CFO do Grupo Sapec
•	 Dr. António Pires de Lima,
CEO da Unicer
•	 Dr. António Rios Amorim,
CEO da Corticeira Amorim
•	 Dr. Avelino Mota Gaspar Francisco,
Presidente da Lusiaves
•	 Eng. Belmiro de Azevedo,
Chairman do Grupo Sonae
•	 Dr. Carlos Tavares,
Presidente Conselho Diretivo da CMVM
•	 Eng. Ilídio de Ayala Serôdio,
Presidente do Grupo PCG Profabril e Vice-Presidente
da Proforum
•	 Eng. João Nuno Macedo Silva,
Presidente do Grupo RAR
•	 Eng. João Paulo Oliveira,
CEO da Bosch Termotecnologia
•	 Prof. Dr. João Pereira Bento,
CEO da Efacec
•	 Dr. João Pedro Azevedo,
CEO da Soja de Portugal
•	 Dr. João Serrenho,
CEO da CIN
•	 Dr. Jorge Martins,
Administrador da Martifer
•	 Dr. José Honório,
CEO da Semapa
•	 Eng. José Manuel Fernandes,
Presidente do Grupo Frezite
•	 Eng. José Ramalho Fontes,
Diretor-Geral da AESE
•	 Eng. José Ramos,
Presidente da Salvador Caetano
•	 Dr. Luís Palha da Silva,
Vice-presidente executivo da Galp
•	 Dra. Manuela Gameiro,
Diretora do Departamento de Assuntos Económicos da CIP
•	 Eng. Paulo Oliveira Queiroz,
CEO da Nanium
•	 Dr. Pedro Capucho,
Diretor Coordenador do Departamento de Assuntos
Económicos da CIP
•	 Prof. Pinto de Sá,
Professor Associado do IST
•	 Prof. Ricardo Bayão Horta,
Presidente da Cires
•	 Dr. Rui Amorim Sousa,
CEO da Cerealis
Moderadores dos debates
•	 Hermínio Afonso,
Sócio responsável pelo setor de Industrial Manufacturing
e líder deste projeto
•	 Eng. Mira Amaral,
CEO do Banco BIC Portugal e vice-presidente do conselho
geral da CIP
Responsáveis da PwC pela preparação do documento
•	 António Brochado Correia,
Deputy Senior Partner
•	 Jaime Carvalho Esteves,
Sócio responsável pelo setor de Governo e setor público e
líder do departamento fiscal
•	 Jorge Costa,
Sócio responsável pelo setor dos produtos industriais e de
consumo e serviços e líder do departamento de Assurance
•	 Luís Boquinhas,
Sócio líder de consultoria de gestão
•	 Pedro Deus,
Sócio de consultoria de gestão, líder da área de inovação
Especialistas da PwC
•	 Ana Cláudia Coelho,
Senior Manager de consultoria de gestão, da área de
Sustainable Business Solutions
•	 José Ricardo Pessoa,
Manager de consultoria de gestão, da área de Governance,
Risk & Compliance
•	 Ricardo Sousa Valles,
Senior Manager de Deals, da área de Estratégia
•	 Rui Rodrigues Matos,
Manager de consultoria de gestão, da área de Finance
& Operations
•	 Vera Oliveira Santos,
Manager de consultoria de gestão, da área de Inovação
8 PwC
Sumário executivo
Muito já se tem escrito em Portugal acerca da necessidade
de voltar a dinamizar o setor industrial em Portugal.
Esta publicação mantém e reforça essa opinião e não
ambiciona ser disruptiva nessa matéria. Procura sim
sistematizar ideias, que possam desencadear ações, por
parte das empresas e por parte das Entidades Publicas.
Precisamos reduzir e alterar a concentração da atividade
económica no setor terciário, verificada ao longo dos
últimos anos em Portugal, e a consequente redução da
atividade dos setores produtivos de bens transacionáveis,
que tem vindo a fragilizar a ambicionada competitividade
nacional.
Mas, quais as principais características das empresas
industriais portuguesas? As empresas industriais
em Portugal são, fundamentalmente, de dimensão
reduzida (PMEs), mas são também as empresas que
mais se reinventam e procuram inovar a cada dia, a cada
período económico e em cada ciclo político. São a base
empresarial da nossa economia e que, apesar da atual
conjuntura, se mantêm muitas vezes como os melhores
exemplos.
É óbvio que continuamos a ter em Portugal muito bons
exemplos de grandes empresas industriais, de dimensão
internacional, de qualidade reconhecida e cuja atividade
cria um valor acrescentado quantificável ao nosso país,
quer seja através da criação de empregos ou através do seu
contributo para as exportações. No entanto, também os
gestores destas grandes empresas têm os mesmos desafios
estratégicos e operacionais das “maioritárias” PMEs.
Quando comparamos Portugal com outros países europeus,
verificamos que a nossa competitividade é inferior. Conclui-
-se que o custo do trabalho não é neste momento um
fator relevante, mas a flexibilidade laboral pode ainda ser
melhorada.
As dificuldades operacionais relacionadas com os custos da
atividade, alicerçadas aos processos internos ou externos, são
inúmeras e, apesar da evolução tecnológica que já fizemos
e os investimentos em inovação, ainda nos mantemos na
mesma posição periférica Europeia e estamos ainda longe de
potenciar a nossa costa ou ter alternativas logísticas, exemplo
das melhores práticas internacionais. As infra-estruturas
ferroviárias são ainda incipientes, comparadas com outros
países Europeus, assumindo-se o transporte rodoviário, com
todas as suas vantagens e inconvenientes, como o grande
responsável pela movimentação de bens de e para Portugal.
As empresas industriais devem continuar a investir na
modernização dos seus processos produtivos, em inovação,
no alargamento dos seus mercados principais (através do
aumento das exportações) e nas competências que necessitam
para executar esses projetos.
Os bons exemplos de clusters industriais devem ser
identificados, caracterizados e partilhados com outros
potenciais subsegmentos industriais que desejem crescer,
diversificar o seu negócio e criar sustentabilidade e massa
crítica, para que consigam ser concorrenciais no mercado
global. O acesso ao financiamento a custos razoáveis é neste
momento um handicap importante para que o relançamento
do investimento se concretize, pelo que a melhoria do rating
da República Portuguesa é fundamental, mas é também
necessário que as empresas efetuem um esforço adicional
na melhoria do seus Capitais Próprios de forma a reduzir a
elevada alavancagem existente.
Em Portugal o custo do trabalho
não é neste momento um fator
relevante, mas a flexiblidade
laboral pode ainda ser melhorada.
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 9
É também imperativo rever o papel do Estado, na criação das
condições e soluções necessárias à dinamização da economia e,
especificamente, do setor industrial, não só tornando os custos
operacionais, energéticos e outros, equivalentes aos de países
concorrentes, como também reduzindo os custos de contexto
ainda existentes, em particular no licenciamento industrial.
A diplomacia económica pode assumir um papel relevante,
principalmente na atração de investimento estrangeiro e na
eliminação de algumas barreiras ainda existentes à entrada de
produtos Portugueses noutros mercados.
A indústria está a reassumir uma posição cada vez mais
relevante na agenda política, enquanto pilar fundamental de
sustentabilidade do modelo económico-social para Portugal.
Para se atingirem níveis
elevados de produtividade
é necessário investir em
modernização, não apenas
tecnológica, mas também
operacional e dos métodos
de trabalho.
As conclusões a que chegamos são de que muito já se tem
vindo a fazer em Portugal, que os fatores chave para estimular
o investimento estão identificados e que os esforços têm
obrigatoriamente de ser concertados, tanto entre as empresas,
como entre as empresas e o Estado, através de uma abordagem
coerente e de longo prazo. A ligação aos estabelecimentos de
ensino, não só às Universidades, pode ser um fator relevante
no sentido de se conseguir melhorar os sistemas e processos a
custos controlados.
10 PwC
Produtividade
e custo dos fatores
Variáveis chave
para a indústria
Quando falamos em produtividade e custo dos fatores,
falamos em competitividade, que é um conceito sistémico
porque depende do comportamento de diversas variáveis e
não pode ser explicado por nenhuma delas de forma isolada.
Os temas abordados neste capítulo são fulcrais não só para a
o relançamento da indústria como setor de relevância para
o país mas também para a sobrevivência da indústria atual.
No que respeita à criação de novas indústrias, consideramos
que, para que esta iniciativa tenha sucesso, é necessário
encará-la não como um regresso ao passado, mas pensá-la
na ótica do posicionamento do país nas cadeias de valor
internacionais mais atrativas às nossas competências, com
uma aposta em produtos transacionáveis de elevado valor
acrescentado e recorrendo a tecnologia de ponta para
posicionar a indústria portuguesa no “estado da arte” da
indústria internacional.
Ser mais produtivo é um desígnio nacional
Para se atingirem níveis elevados de produtividade é
necessário investir em modernização, não apenas no
que diz respeito à evolução tecnológica (que é muito
importante e necessária), mas também no que diz respeito
à componente operacional e aos métodos de trabalho, como
por exemplo, adotar métodos do tipo “Lean” ou “Kaizen”.
Existem casos de empresas portuguesas que adotaram estes
métodos e rapidamente verificaram ganhos significativos de
produtividade.
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 11
As empresas industriais não podem almejar padrões elevados
de produtividade se não estiverem atualizadas face às
tendências internacionais e às melhores práticas do seu setor.
Este investimento em modernização, para além dos benefícios
diretos de curto prazo, gera também benefícios de médio-longo
prazo, nomeadamente, uma maior qualificação dos recursos
humanos, que por sua vez gera maior valor acrescentado na
hora de trabalho.
Em Portugal temos um problema de reduzido valor
acrescentado bruto por capital empregue ou por trabalhador,
devido, em grande parte, a métodos de trabalho pouco
estruturados e não tanto ao número de horas trabalhadas
por semana.
50
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
60
70
80
90
100
110
120
130
140
HolandaAlemanhaEspanhaRepública ChecaPortugal
EU (27 países)
Índice de produtividade por hora trabalhada
Fonte: Eurostat
12 PwC
Produtividade e custo dos fatores
O custo dos fatores é um tema que carece
de uma análise cuidada
O custo dos fatores é uma questão muito relevante para a
indústria portuguesa e, devido à heterogeneidade dos fatores,
estes devem ser analisados de forma desagregada.
A componente de custos laborais não é considerada prioritária
Para ser possível fazer uma análise bem enquadrada dos
custos laborais, tem de ser mencionado à partida que esta
análise parte do pressuposto que se compara Portugal com
países semelhantes ao nível das leis do trabalho e da aspiração
coletiva para as condições de vida e conforto da população, ou
seja, a título de exemplo, quando se refere que Portugal tem
uma mão-de-obra barata, a comparação é feita com a média
europeia e não com países asiáticos, como é o caso da China.
Para a generalidade das empresas industriais portuguesas, a
componente de custos laborais não é considerada prioritária.
A mão-de-obra em Portugal é de baixo custo relativamente à
média da UE, o que por vezes tem até um efeito negativo para a
produtividade, uma vez que, sendo o retorno do investimento
em tecnologia mais prolongado do que num cenário de
custo de mão-de-obra elevado, existe um incentivo menor ao
investimento. Um país com mão-de-obra barata é geralmente
um país de baixa produtividade.
Não é no custo da mão-de-obra que podem ser encontradas
as soluções para o problema da produtividade na indústria
portuguesa. Contudo, é necessária uma legislação laboral
mais adaptada às necessidades de algumas empresas,
nomeadamente as empresas que trabalham por turnos.
Existe uma correlação forte entre a produtividade dos
trabalhadores e as condições que as organizações lhes
proporcionam e temos vários exemplos de empresas que
provam que quando bem formados e enquadrados, os
trabalhadores da indústria portuguesa conseguem ombrear
com os melhores do mundo.
Outra forma de incrementar o grau de modernização das
empresas industriais portuguesas e reduzir os custos dessa
modernização é aproximar as universidades e os centros de
investigação das empresas industriais, de forma a facilitar
e acelerar a transferência de tecnologia e a aplicação do
conhecimento.
Outro fator inibidor da melhoria da produtividade é a
denominada economia paralela ou informal, uma vez que
ainda subsistem muitas empresas que a usam como fator de
competitividade, deteriorando a capacidade concorrencial
de empresas mais organizadas, produtivas e cumpridoras das
regras estabelecidas. Para além das empresas que operam
na economia paralela, existem ainda distorções à normal
concorrência na economia formal, devido à existência de
empresas que incumprem de forma sistemática as regras de
operação e que não são punidas atempadamente.
 
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 13
Alemanha
6,00
8,43
Portugal
5,99
4,97
Alemanha
25,98
11,42
Portugal
18,61
10,09
Os custos com a energia ocupam um lugar cimeiro nas
preocupações das empresas industriais
Os custos com energia representam um peso enorme
e crescente para a generalidade das empresas, tanto
pelo impacto direto dos custos nas receitas, como pelo
enfraquecimento da competitividade face a concorrentes
globais, com acesso a energia mais barata. Este problema
pode significar, num futuro próximo, a inviabilidade de
algumas das empresas que exercem atualmente a sua
atividade em áreas onde o custo da energia é muito relevante.
Para além dos custos da energia serem elevados devido à
carga fiscal e à necessidade de recuperar os défices tarifários,
as notícias para o futuro são ainda menos animadoras para
a indústria portuguesa, uma vez que com a liberalização
do mercado da eletricidade e do gás, o défice tarifário será
imputado a todos os consumidores. Assim, não será possível
discriminar entre particulares e empresas, o que acarreta
um aumento da já pesada fatura energética das empresas
industriais portuguesas e, logo, uma maior degradação
da nossa competitividade. Acresce a este problema o
desincentivo ao investimento em cogeração.
É possível verificar que Portugal não tem os custos de energia
mais elevados da UE. Contudo, o grande problema é que,
para a indústria portuguesa, os custos de energia são muito
elevados e superiores aos custos de concorrentes diretos,
como as empresas industriais espanholas.
Combustíveis
Valores em Euros por litro
Nota: Os preços apresentados não incluem IVA
República Checa
Espanha
Média EU
Alemanha
Dinamarca
Portugal
1,709
1,499
1,667
1,653
1,482
1,479
1,555
1,464
1,479
1,392
1,435
1,424
Gasolina sem chumbo 95
Gasolina Diesel
Gás natural
Cêntimos de Euro por kWh
Espanha
Dinamarca
República Checa
5,45
4,19
11,14
3,77
5,33
3,68
Eletricidade
Fonte: Europe’s Energy Portal - http://www.energy.eu/
Nota: Os preços apresentados não incluem os impostos dedutíveis (por exemplo: IVA)
Dinamarca
Espanha
República Checa
14,87
9,99
19,49
9,93
30,22
9,77
Doméstico Indústrial
Cêntimos de Euros por kWh
14 PwC
Acresce a este facto a preocupação resultante das
movimentações internacionais relativamente a este tema. O
caso do shale gas nos EUA pode significar uma reviravolta no
panorama competitivo internacional. Se os EUA, que também
estão a passar por um processo de relançamento da sua
indústria, conseguirem ter energia muito mais barata do que
a Europa, poderá ser possível existir uma deslocalização de
empresas industriais para o seu território. Daqui pode resultar
uma alteração da atual posição competitiva dos diferentes
players internacionais.
A logística é estrutural. O transporte é maioritariamente
rodoviário
Atualmente, os custos com a logística são também uma
preocupação das empresas exportadoras portuguesas. O
problema da logística é estrutural e começou a sentir-se com as
alterações verificadas recentemente no panorama económico
português. Até ao início do período de ajustamento, Portugal
era um país mais importador do que exportador e a tipologia
das infraestruturas logísticas está adaptada a essa realidade
passada. Com o início do período de ajustamento, a realidade
do país alterou-se e Portugal começou a exportar mais do
que importa, o que se revelou benéfico para a balança de
transações correntes, mas trouxe problemas de adequação das
infraestruturas de suporte.
Em Portugal, a opção logística mais dinamizada é a do
transporte rodoviário, uma vez que é o tipo mais adequado
para as importações provenientes dos países europeus,
mas que coloca Portugal na periferia quando pensamos em
exportar, representando, por vezes, uma fatura pesada para
as empresas exportadoras. Quando Portugal importava mais
do que exportava, pagava um custo marginal dos fretes de
exportação, uma vez que aproveitava o regresso dos camiões
que transportavam as mercadorias para Portugal. No cenário
atual, Portugal exporta mais do que importa, pelo que, o custo
do frete de transporte subiu significativamente.
Tendo como objetivo uma posição estratégica central para
exportar para os principais mercados mundiais, os meios mais
adequados são o marítimo e o ferroviário. Atualmente, o meio
ferroviário não está capacitado para constituir um elemento
dinamizador e facilitador das exportações portuguesas
pelo seu nível de desadequação, nomeadamente a nível das
linhas férreas. Por outro lado, as infraestruturas de suporte
à exportação por via marítima padecem de problemas
relacionados com os seus processos e com a sua organização,
que geram ineficiências onerosas para as empresas industriais
que pretendam usar estes meios.
Por exemplo, as empresas industriais que pretendam exportar
por via marítima, a partir de Portugal, têm de incorrer em
custos de desalfandegagem que passam por ter camiões
imobilizados nas suas fábricas à espera que os funcionários
da alfândega procedam à desalfandegagem. Por outro
lado, têm que incorrer em custos relativos à mobilização de
contentores, tanto nas suas instalações (para transporte dos
produtos a exportar) como nos camiões (para percorrerem os
portos portugueses e levarem os contentores vazios para as
instalações industriais). Para além destes exemplos, existem
ainda os custos inerentes à utilização dos portos, que são mais
elevados do que na generalidade dos portos da UE.
Produtividade e custo dos fatores
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 15
Os atuais processos de licenciamento são inibidores
Outro custo que não deve ser descurado é o custo relativo ao
licenciamento industrial em Portugal e a toda a burocracia
em que as empresas se veem envolvidas para iniciar e manter
a sua atividade. Estes processos em Portugal são um inibidor
do investimento e representam custos elevados para as
empresas, tanto ao nível dos custos diretos dos processos,
como também do tempo perdido e consequente perda
de receitas pela inatividade nesse período. Estes fatores,
assim como o problema do atraso na chegada ao mercado
devido à morosidade dos processos, é mais um entrave à
competitividade da indústria portuguesa.
A morosidade dos processos
de licenciamento e as
duplicações, são um entrave
à competitividade da
indústria portuguesa.
16 PwC
Por exemplo, quando comparamos os atuais processos legais
de avaliação de impacto ambiental com os processos de
obtenção de licença ambiental, ambos apresentam muitas
similaridades. No entanto, estes procedimentos têm de ser
feitos em separado, através de diferentes interlocutores e com
prazos distintos, o que gera obvias duplicações e ineficiências.
Novas dinâmicas de financiamento para implementar
os projetos
Os custos financeiros são mais um dos problemas atuais
das empresas industriais portuguesas. A generalidade das
empresas portuguesas apostou numa estrutura de capital
muito alavancada, aproveitando décadas de crédito barato.
Muitas das empresas que recorreram a este mecanismo de
financiamento das operações não têm agora facilidade em
substituir o financiamento bancário por outras formas de
financiamento das operações.
No cenário atual, as empresas portuguesas são penalizadas
pelo risco da República Portuguesa e, por isso, pagam um
prémio de risco superior ao que pagaram nos últimos anos.
Para além de este facto pesar na demonstração dos resultados,
é mais uma agravante da nossa competitividade, pois as nossas
empresas competem com empresas de países com menor risco
e, consequentemente, com acesso a financiamento menos
oneroso.
Taxas de juro para novas operações em Portugal
Nota: Taxas de juro médias para novas operações: empréstimos a empresas não-financeiras
2003
6,18%
3,89%
3,53%
3,74%
4,34%
5,24%
5,94%
3,34% 3,77%
5,34%
5,44%
5,69% 5,75%
6,24%
7,05%
7,54%
5,71%
5,43%
6,90%
7,08%
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Até 1M€ Mais de 1M€
Fonte: Banco de Portugal
Produtividade e custo dos fatores
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 17
Outro dos problemas que as empresas industriais enfrentam,
principalmente as PMEs, e que é necessário resolver, é a
dificuldade em obter garantias bancárias e seguros de crédito.
Para que seja possível concretizar novos projetos industriais
(novos investimentos ou modernização de estruturas já
existentes) é necessário ter capital próprio, uma vez que o
acesso à divida é hoje bastante limitado, sobretudo em projetos
com maior risco. É assim fundamental, para que os projetos
avancem, obter capital através dos acionistas ou parceiros,
nacionais ou estrangeiros.
Por outro lado, não sendo uma substituição dos mecanismos
de dotação de capital, é necessária disponibilidade de crédito
a conceder às empresas. Existem empresas que não estão
a conseguir financiar-se, nomeadamente PMEs, com níveis
de risco que não são atrativos para a banca. É, nesta área,
importante o apoio do Governo na criação de mecanismos
para mitigar este problema, através da criação de um banco
Principais conclusões
1.	 A indústria portuguesa tem de ser mais competitiva. Para
tal, é necessário investimento em tecnologia, organização
operacional e métodos de trabalho.
2.	 Muitas empresas industriais ainda necessitam de aumentar
significativamente a sua competitividade, nomeadamente
através do upgrade dos seus fatores internos, como por
exemplo os métodos de trabalho.
3.	 O custo da mão-de-obra é um dos fatores menos relevantes
para a indústria portuguesa, embora a legislação laboral
deva ser adaptada às necessidades deste setor.
4.	 Os custos com a energia representam a principal
preocupação ao nível dos custos, para a generalidade das
empresas industriais em Portugal. Ao cenário atual somam-
-se as más notícias para o futuro, que podem, não só pôr em
causa o relançamento da indústria como setor de relevância
no país, como também a viabilidade de muitas empresas
atuais.
5.	 A questão logística é também uma preocupação porque os
custos são elevados e, principalmente, porque as condições
logísticas do país não estão adaptadas às reais necessidades
das empresas exportadoras.
6.	 O Governo pode ter aqui um papel fundamental,
reorganizando e dinamizando as infraestruturas de suporte
à exportação.
7.	 O licenciamento e demais processos exigidos são também
fatores identificados como inibidores do desenvolvimento
industrial.
8.	 Também aqui, o Governo pode ter um papel decisivo na
resolução deste problema, posicionando-se como entidade
facilitadora e redefinindo os processos de modo a servirem
a atividade industrial e as suas necessidades.
9.	 Para tornar possíveis os projetos industriais é necessário
capital, tanto pela via da dotação de capital, como pela via
do acesso ao financiamento. Na generalidade, os projetos
industriais em Portugal precisam de um reforço de capital
próprio, que pode ser realizado através da entrada de novos
investidores (incluindo “private equity”), mas também
através de políticas mais prudentes de autofinanciamento.
10.	É necessária estabilidade para se avançar com o
relançamento da indústria em Portugal. São necessários
pactos de regime para as matérias de fundo, com especial
relevância para a estabilidade fiscal, e é necessário traçar-
-se, como no passado, um caminho para a indústria e uma
estratégia para a economia portuguesa como um todo.
de fomento, da atribuição dessa função à Caixa Geral de
Depósitos ou por via da criação de programas de incentivos
coordenados com os bancos privados.
Todos os problemas anteriormente mencionados são
graves para a sobrevivência e desenvolvimento da indústria
portuguesa. Contudo, existe um problema que não é menos
grave – a incerteza.
Com base na incerteza não é possível fazer planos credíveis
para o futuro e isso traduz-se no receio de investir em Portugal
e no desvio do investimento para outros destinos mais estáveis.
Seria uma grande ajuda para o desenvolvimento da indústria
em Portugal se existisse estabilidade e um pacto de regime
sobre as matérias de fundo, nomeadamente a fiscalidade,
para que, independentemente das alterações ou dos ciclos
governativos, as linhas-mestras se mantivessem estáveis e os
investidores, empresários e trabalhadores, soubessem com o
que podiam contar.
18 PwC
A inovação na indústria
portuguesa
(Saber) valorizar o
conhecimento existente!
Portugal encontra-se bem posicionado no que diz
respeito ao investimento das empresas em Investigação e
Desenvolvimento (I&D), contudo os resultados, ou seja, a
criação de valor pelo desenvolvimento de novos produtos/
serviços (Inovação), têm ficado aquém das expectativas,
tendo em conta o investimento realizado.
Urge portanto, identificar onde atuar no processo de
inovação empresarial e como a indústria portuguesa
pode e deve valorizar o seu ativo mais importante: o
conhecimento!
Apesar de bem posicionados
em I&D, os investimentos ainda
não valorizam o conhecimento
adquirido.
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 19
16ºPortugal já atingiu
algumas metas europeias,
posicionando-se no 16º lugar
do ranking do “Innovation
Union Scoreboard 2011”.
20 PwC
Innovation Union Scoreboard 2011
País
Índice
sintético
de
Inovação
(UE35)
Índice
sintético
de
Inovação
(UE27)
Financiamento
e Apoio
Investimento
das Empresas
Linkages e Empreendedorismo Inovadores
Despesas
em I&D
Público
(% do
PIB)
Capital de
Risco (%
do PIB)
Despesas
em I&D das
empresas (%
do PIB)
PME a
inovar
in-house
(% das
PME)
PME
inovadoras
em
colaboração
com outras
(% das PME)
Publicações
publico-
privadas (por
milhão de
habitantes)
PME que
introduziram
inovações de
produtos ou
processos
(% das PME)
PME que
introduziram
inovações de
marketing ou
organizacionais
(% das PME)
Portugal 20º 16º 14º 12º 20º 10º 13º 25º 3º 8º
Espanha 22º 18º 15º 13º 19º 23º 29º 22º 23º 23º
Grécia 24º 20º 27º 23º 32º 13º 12º 23º 13º 3º
Fonte: Comissão Europeia, Innovation Union Scoreboard (IUS) 2011
Nota: O IUS é o instrumento desenvolvido pela Comissão Europeia que, seguindo a Estratégia de Lisboa, tem o intuito de avaliar e comparar a performance dos
Estados Membros na área da inovação. O IUS inclui indicadores de inovação e análises de tendêcia para os Estados Membros da UE27 assim como, Croácia, Islândia,
Noruega, Sérvia, Suíça, Turquia e República Jugoslava da Macedónia. Os países como EUA, Japão, Brasil, China, India e Russia aparecem mencionados no relatório
mas servem apenas de referência por serem os principais concorrentes
A inovação na indústria portuguesa
Nos últimos anos, graças ao esforço dos sucessivos Governos,
a economia portuguesa tem vindo a aplicar mais recursos
financeiros e humanos em Investigação, Desenvolvimento
e Inovação. Este esforço resultou na melhoria de alguns
“rankings” e de indicadores relativos à despesa, à qualificação
em ciência e tecnologia e à publicação científica.
Efetivamente, Portugal já atingiu algumas destas metas
europeias, posicionando-se no 14º lugar do ranking do
“Innovation Union Scoreboard 2011” referente às despesas de
I&D Público (% do PIB) e no 20º lugar no que diz respeito ao
investimento em I&D pelas próprias empresas (comparação
com os 27 países da União Europeia).
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 21
Inovação e I&D, uma relação não direta
Existe ainda alguma divergência entre os conceitos em análise,
nomeadamente Investigação, Desenvolvimento e Inovação
(IDI). Por definição, todas empresas que fazem I&D são
inovadoras, ou pelo menos procuram sê-lo, mas esta relação
pode não ser aplicada de forma inversa, isto é, as empresas
inovadoras podem não realizar qualquer I&D.
O inquérito Community Innovation Survey 2008-2010 refere
que das 56,4% das empresas portuguesas do setor industrial
que declaram ser inovadoras, apenas 23% se envolveu de facto
em atividades de I&D intramuros.
Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, Inquérito
Comunitário à Inovação - CIS 2010
Atividades de inovação por setor de atividade
Empresas com atividade de inovação
100
80
56,4
67,0
60
40
20
0
Apesar de alguma divergência
de conceitos e definições, todas
empresas que fazem I&D são
inovadoras, ou pelo menos
procuram sê-lo. 60,8
Serviços
Total Nacional
Indústria
Percentagem (%)
22 PwC
A inovação na indústria portuguesa
Falha na transformação do potencial de inovação
em resultados relevantes
A atividade de investigação pressupõe todo o trabalho criativo
desenvolvido de forma sistemática para gerar conhecimento.
No entanto, se o conhecimento criado não for transferido para
a economia, não existe desenvolvimento económico, ou seja,
não é criado qualquer valor.
Neste sentido, o grande desafio de Portugal já não se prende
com o investimento em I&D, mas sim com todo o processo
de obtenção e valorização de resultados que possam gerar
riqueza no país. A necessidade atual passa assim por medir
os resultados de inovação pelas receitas geradas pelas
novas patentes, ao invés do número de patentes registadas.
Indicadores de IDI
7,00
5,25
3,50
1,75
0,00
Condições Recursos Processos Resultados
Portugal
Grécia
Itália
Espanha
Fonte: COTEC - Barómetro Inovação - Innovation Digest 2012 (http://www.barometro.cotecportugal.pt/)
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 23
Lamentavelmente, a este nível, Portugal apresenta um
desempenho claramente abaixo do que seria de esperar.
Os indicadores do “Barómetro de Inovação” da COTEC
revelam que, em 2012 Portugal desceu de posição no que
respeita ao estado de inovação, regressando à posição
assumida em 2010. Enquadrado na categoria “cigarra”,
Portugal apresentou falta de capacidade de concretização
e transformação do potencial de inovação em resultados
concretos e com impacto económico-social. Apesar de
deter as “condições”, a dimensão “resultados” não mostrou
acompanhar estes esforços, destacando-se pela negativa.
O grande desafio para a economia portuguesa reside, assim,
na melhoria do processo de transferência de conhecimento,
académico ou empresarial, para o tecido económico, de
preferência, de base empresarial, para que num contexto
de mudança exista criação de valor pela introdução no
mercado de produtos e serviços novos ou substancialmente
melhorados.
Contudo, para gerir o conhecimento de forma adequada é
necessário garantir:
•	 a captação de talento, a qualificação de capital humano e
os processos de aprendizagem (aprender fazendo, usando
e interagindo) como via fundamental para a inovação
incremental;
•	 um diálogo profícuo entre as escolas e meio académico e as
empresas de modo a valorizar e combinar, em conjunto, o
conhecimento criado por estes agentes económicos;
•	 a implementação de processos estruturados nas empresas
que permitam identificar e concretizar oportunidades de
criação e, principalmente, de valorização de conhecimento,
que se possam materializar em vantagens competitivas por
via da inovação.
24 PwC
A inovação na indústria portuguesa
Estabelecer sinergias entre as instituições de
ensino e as empresas para criar mais e melhores
vantagens competitivas
A captação do talento e a qualificação do capital humano,
através de uma coordenação e relação eficaz entre as escolas
e universidades e o setor industrial, em termos de políticas
de ensino e formação, tem efetivamente vindo a assumir
um papel importante no aumento da competitividade das
empresas.
Contudo, atrair os melhores passa também por uma
necessária mudança da mentalidade dos empresários no que
diz respeito ao seu envolvimento nas várias fases do ensino
secundário, profissional ou superior.
Considera-se que o envolvimento do setor industrial
junto do ensino secundário é essencial, seja por via da
participação na definição dos programas escolares ou
contribuindo para o desenvolvimento e disseminação
de case studies para apoio curricular em determinadas
disciplinas. Desta forma, a indústria promove, não só
uma perspetiva prática sobre os principais temas do setor,
fornecendo algum conhecimento mais adequado aos seus
futuros trabalhadores, como também intervém na promoção
da sua imagem e atratividade junto de um público cujo
processo formativo está cada vez mais orientado para o
setor terciário.
Efetivamente, se a indústria captar talento já munido de algum
conhecimento prático e reforçar esse conhecimento com
as ferramentas e metodologias de produção mais recentes,
como o lean production, poderá ter acesso a um quadro de
trabalhadores mais autónomos, motivados e criativos, logo
desde a sua integração. A inovação incremental, que muitas
vezes é a mais lucrativa, deve começar no shop floor, afirmam
alguns empresários portugueses.
Por outro lado, poucas empresas olham com atenção para o seu
acervo tecnológico e conseguem fazer uma análise da rutura
tecnológica que se prevê para um futuro próximo. O reforço da
ligação entre o tecido empresarial e o meio académico assume-
-se, a este respeito, de absoluta relevância uma vez que
o conhecimento gerado na academia pode ser essencial
para a criação de uma vantagem competitiva no mercado
ou para ultrapassar uma barreira técnica num processo de
I&D intramuros. Já as universidades, enquanto centros de
investigação mais fundamental, por oposição à investigação
aplicada que se pode encontrar em algumas empresas,
carecem, frequentemente, de meios técnicos em ambiente
industrial e sponsors para aplicação e validação das suas teses
de investigação.
Infelizmente, esta ligação tem sofrido de alguma inércia
histórica que urge corrigir. Entre as soluções apontadas pela
própria indústria, está a nomeação de mediadores exclusivos,
responsáveis por estabelecer pontes de entendimento
e cooperação entre as empresas e o meio académico,
promovendo ainda o empreendedorismo universitário.
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 25
Principais conclusões
1.	 É claramente reconhecido que a inovação é uma condição fundamental para
promover a competitividade das empresas, independentemente da sua dimensão,
de ser privada ou pública ou de atuar na indústria ou nos serviços.
2.	 A indústria em particular, pela sua necessidade de constante atualização de
know-how, acompanhamento de tendências e desenvolvimento tecnológico, tem
de saber potenciar o conhecimento que existe “dentro de casa” e essencialmente
fora das suas instalações.
3.	 Portugal encontra-se bem posicionado no que diz respeito ao investimento das
empresas em Investigação e Desenvolvimento (I&D). Contudo, a criação de
valor (resultados) pelo desenvolvimento de novos produtos/serviços, tem ficado
aquém das expectativas, tendo em conta o investimento realizado.
4.	 Urge portanto identificar onde se deve atuar no processo de inovação empresarial
e como a indústria portuguesa pode e deve valorizar o seu ativo mais importante:
o conhecimento!
5.	 É necessário um maior envolvimento dos empresários nos vários estágios do
ensino (secundário, profissional ou superior), contribuindo com uma perspetiva
mais prática sobre os principais temas do setor e captando o interesse dos alunos
para uma carreira de sucesso no setor industrial.
A inovação dos modelos de negócio já não é
opcional, é absolutamente necessária!
Outro dos grandes desafios atuais reside na perenidade
do modelo de negócio da própria indústria: A indústria
tradicional irá desaparecer ou terá de adaptar o seu modelo
de negócio aos novos desafios económicos globais? Já existem
alguns exemplos na indústria portuguesa de alterações
profundas nos modelos de negócio – veja-se o caso da indústria
têxtil e da indústria do calçado – que permitiram a algumas
destas empresas competir no mercado global, com um
posicionamento completamente diferente do tradicional, mais
associado a estratégias de diferenciação e inovação de produto
e de processo. Não se trata só de fazer “novas coisas”, mas
também de “fazer as mesmas coisas de forma diferente”.
Não obstante, a maioria das empresas portuguesas, em
particular as PMEs, têm ainda um longo caminho a percorrer
e necessitam de incorporar no seu “modus operandi” temas
essenciais para a promoção da sua competitividade por
via da inovação, nomeadamente os processos de gestão do
conhecimento, a vigilância tecnológica, a inovação aberta,
a geração de ideias, o desenvolvimento de novos produtos e
processos, o marketing e a propriedade intelectual.
Para sobreviver, o tecido industrial português deverá apostar
na inovação como elemento estratégico de base, procurando
antecipar tendências e potenciando o conhecimento e
tecnologia ao seu alcance, dentro e fora das suas instalações
fabris. Agora que a opção por baixos salários já não é uma
vantagem imbatível no quadro competitivo internacional
(conforme já referido no capítulo “Produtividade e custo
dos fatores”) o caminho da indústria portuguesa passa
por aproveitar, de forma mais eficiente, um dos recursos
endógenos que Portugal ainda consegue produzir com alguma
abundância: o potencial científico e técnico gerado no meio
académico e no tecido empresarial.
26 PwC
O tamanho importa?
Sim! Mas para quê?
A emergência das empresas portuguesas é um fator
determinante da recuperação económica nacional.
A questão da sua dimensão (supra) regional surge no
horizonte como matéria de reflexão relativamente à
capacidade das empresas para alavancarem as exportações
e promoverem a sua internacionalização.
Tamanho importa? Sim! Mas para quê?
Trabalhar em rede gera
oportunidades para a criação
de valor acrescentado.
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 27
As grandes tendências apontam para a
intensificação da “networked economy”
A globalização, suportada pelo avanço da sociedade de
informação, tecnologia e comunicações, potenciou o
repensar das estratégias dos grandes conglomerados e das
grandes empresas presentes em vários pontos do globo e com
requisitos e exigências locais distintas, ambos causados pelas
especificidades dos mercados onde atuam e pela diversidade
de produtos (e serviços) que comercializam. A necessidade
de otimização da cadeia de valor e agilização da cadeia
de abastecimento (antes estandardizada), acomodando
exigências locais, teve como resultado a externalização de
atividades, abrindo a porta à entrada de pequenas e médias
empresas numa cadeia de valor outrora blindada.
A oportunidade e capacidade de que hoje as empresas dispõem
para trabalhar em rede, integrando sistemas e pessoas com
informação real time, anywhere e anyhow/multiplataforma,
veio criar organizações virtuais em que cada player tem a sua
contribuição e valor acrescentado para a entrega do produto
final e onde a dimensão se torna adequada à função do valor
acrescentado que cada um aporta.
Ou seja, o mundo global voltou a abrir a porta às PMEs.
28 PwC
As PMEs têm um papel a desempenhar no
desenvolvimento económico e industrial
A agilidade a que as PMEs se permitem, constitui um
elemento fulcral na dinâmica de negócios que atualmente é
imposta pelo mercado às empresas. As PMEs vêm surgindo
cada vez mais como componentes-chave nas interligações
da cadeia de produção, incorporando valor adicional na sua
intervenção.
Se por um lado, a batalha da investigação, desenvolvimento e
inovação na área industrial é travada no campo das grandes
empresas, que dispõem de estruturas organizativas capazes
de acomodar recursos qualificados e estruturas de capital
e acesso a financiamento para levar a cabo com sucesso os
projetos em que decidem investir, verifica-se que os níveis
de empreendedorismo (e em muitos casos de inovação)
apresentam-se muito mais elevados nas PMEs.
De facto, encontra-se demonstrado que a capacidade de
manter um espírito empreendedor no decurso dos ciclos de
crescimento, desenvolvimento e maturidade dos negócios
não é frequente e as organizações acabam muitas vezes
por recorrer à aquisição e incorporação de PMEs em
novas unidades de negócio, com o objetivo de continuar
a semear a inovação nas suas estruturas. A agilidade, o
empreendedorismo e a inovação determinam os níveis de
valor acrescentado e rentabilidade das PMEs.
 
Em Portugal, e na Europa, o número de pequenas e médias
empresas (PMEs) no mercado supera os 98% das empresas
em atividade, com mais de 10 trabalhadores.
No entanto, quando nos referimos à relação entre emprego
e valor acrescentado bruto (VAB), verifica-se que as PMEs
nacionais apresentam menor peso relativo no VAB do que a
Áustria ou a Espanha.
Dimensão das empresas por número de empregados
34,8%
20,3%
30,5%
24%
48,9%
42,9%
48,1%
5,8%
24,0%
31,1%
39,1%
República
Checa
Espanha Áustria UE (27 países)
48,7%
Portugal
33,4%
1,9%
16,1%
2,4%
13,8%
6,3%
29,1%
18,7%
> 250 50-249 20-49 10-19
Fonte: Eurostat
100%
O tamanho importa?
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 29
Índice de produtividade (VAB) por empregado nas empresas de manufatura
10-19
44
38
15
17
55
46
70
56
96
79
48
28
23
33
20-49 >25050-249
Portugal
Espanha
Áustria
República Checa
Fonte: Eurostat
Acresce ainda que o distanciamento (ou gap) de VAB das
PMEs nacionais face às grandes empresas é muito superior em
Portugal do que no restante da Europa.
Quando comparado com a República Checa, Portugal
apresenta melhores índices de produtividade. A diferença para
a República Checa é ainda maior nas grandes empresas (>250
empregados).
Problema de número de horas de trabalho ou posicionamento
e produtividade?
30 PwC
Na ausência de diferenciação, escala é chave
De acordo com dados recentes da OCDE, os trabalhadores
em Portugal trabalharam cerca de mais 20h/ano em média,
do que os trabalhadores em Espanha, ou seja pouco mais
de 0,1%. No entanto, quando comparamos a produtividade
nacional por hora trabalhada com o resto da Europa,
encontramo-nos consistentemente entre os países com
menor índice, em alinhamento, por baixo, com o verificado
na República Checa e sensivelmente a metade do verificado
na Alemanha e a 2/3 do verificado em Espanha.(ver gráfico
“Índice de produtividade por hora trabalhada” no capítulo 1)
Não parece ser, então, o número de horas de trabalho, a
causa da falta de competitividade das empresas portuguesas
mas sim um problema de posicionamento, falta de
diferenciação e reduzido valor acrescentado!
Na falta de diferenciação e valor acrescentado relevante, a
competitividade faz-se pelo custo, pelas economias de escala
e, concomitantemente, adquirindo dimensão relevante
para operar no mercado internacional (provavelmente
de commodities). Isto é um problema para as PMEs onde,
sem diferenciação, a escala se torna uma variável crítica e
internacionalizar passa a requerer escala.
É interessante notar que as empresas que proporcionalmente
mais exportam são aquelas que se situam no escalão de 100 a
500 colaboradores, exportando perto de 50% do seu volume
de negócios, e onde mais de 25% das empresas exportam
mais de 75% do volume de negócios, com especial ênfase nas
indústrias do papel e celulose, componentes automóveis e
química (incluindo plásticos e têxteis sintéticos).
Se o problema é posicionamento,
falta de diferenciação e
reduzido valor acrescentado, a
competitividade faz-se pelo custo
e pela escala.
O tamanho importa?
Percentagem média de exportações e EBITDA das empresas
indústriais, por dimensão:
Fonte: SABI; CAEs industriais; 21100 empresas; contas 2010/2011, valores médios
Margem
EBITDA
100%
50%
0% 10 a 19 50 a 99 >500 0%
5%
10%
15%
100 a 249 249 a 499
3%3%
4%
7% 7%
35%
15%
45%
58%
50%
% Exportações
Margem EBITDA
Numa amostra de 21 mil empresas industriais, constata-se que
a margem de EBITDA relativamente ao volume de negócios
das empresas com mais de 500 colaboradores é mais do
dobro da margem verificada nas empresas com menos de 50
trabalhadores.
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 31
Principais conclusões
1.	 Existem 3 temas com que a indústria atualmente se debate:
a) a fragilidade da sua estrutura de capitais e o acesso ao financiamento;
b) a reduzida dimensão média; e
c) a baixa qualificação dos seus recursos humanos e gestão de talento.
Todos eles refletem e resultam do fator posicionamento, pelo que, ou se
reposicionam ou ganham escala;
2.	 O tamanho das empresas influencia o seu “progresso” – capacidade de inovação
e desenvolvimento (I&D) e empreendedorismo;
3.	 O acesso a financiamento e expansão para mercados internacionais é mais
favorável a empresas de maior dimensão;
4.	 As grandes empresas registam melhores indicadores de produtividade e
rentabilidade;
5.	 Os maiores índices de exportação verificam-se nas empresas com 100 a 500
colaboradores;
6.	 As PMEs apresentam fragilidades na estrutura de capitais, reduzida dimensão
e baixa qualificação de recursos humanos;
7.	 O desenvolvimento de clusters, num ambiente de equilíbrio entre grandes e
pequenas empresas, com escala, agilidade, inovação e empreendorismo, será
chave na conquista de um processo de relançamento da indústria como setor de
relevância no país, à escala internacional, e coloca as empresas portuguesas num
patamar de competitividade elevado, nos mercados externos-alvo da sua atuação.
A construção de clusters e a sua dinamização por empresas
“ponta de lança” com dimensão e reconhecimento relevantes
poderão constituir as alavancas necessárias para a inversão da
tendência histórica negativa da balança comercial nacional.
A conjugação de competências e especialização permitirá
dirigir a atividade para as componentes de maior valor
acrescentado, dando às PMEs a possibilidade de suprir
os nichos de especialidade e de produzir pequenas séries
que, muitas vezes, não são compatíveis com a estratégia,
planificação da produção e custos de setup/mudança de
ferramentas das grandes empresas industriais.
A dinamização de clusters é o caminho para a
internacionalização sustentável da economia
As grandes empresas industriais são as maiores exportadoras
nacionais. Por exemplo, a Autoeuropa representa
sensivelmente 6% das exportações nacionais de mercadorias,
incorporando componentes de várias empresas nacionais,
muitas delas PMEs, sem, no entanto, deixar de lhes colocar as
mesmas exigências que impõe aos seus restantes fornecedores
certificados. Em rigor, as PMEs que têm relações comerciais
com a Autoeuropa são elas também (indiretamente)
exportadoras. Por que razão muitas delas não exportam
também para os restantes fabricantes automóveis na Europa?
Por produtividade, localização? Eventualmente. Mas também
porque não dispõem da dimensão para lá chegarem sozinhas.
32 PwC
O papel do Estado
É imperativo rever
o seu papel
A concentração da atividade económica no setor terciário
verificada em Portugal desde a entrada na União Europeia e
a consequente redução da atividade dos setores produtivos
de bens transacionáveis, fragilizaram a competitividade
nacional. Adicionalmente, com a adesão à moeda única,
Portugal deixou de dispor do tradicional mecanismo de
desvalorização cambial para melhorar a sua competitividade.
A crise financeira, em que o país está mergulhado, veio expor
ainda mais as fragilidades da nossa economia, bem como
a necessidade urgente de revitalização do tecido industrial
português enquanto catalisador das exportações, da
internacionalização da economia e da geração de emprego.
32 PwC
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 33
É, portanto, imperativo rever o papel reservado ao Estado
na criação das condições necessárias à dinamização da
indústria portuguesa.
Portugal ocupa a 30ª posição (em 185 economias) no
ranking da facilidade para fazer negócios do relatório
“Doing business 2013” do Banco Mundial. Contudo, no
indicador referente ao pagamento de impostos, Portugal cai
para a 77ª posição, não pela carga tributária, mas sobretudo
pelo tempo despendido pelas empresas no cumprimento das
suas obrigações fiscais, no qual Portugal é 23º na UE a 27 e
17º na zona euro.
É, portanto, imperativo rever o
papel reservado ao Estado na
criação das condições necessárias
à dinamização da indústria
portuguesa.
34 PwC
Tempo consumido para pagar impostos
Na UE 27 (horas/ano) Na zona Euro (horas/ano)
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
59
80
93
122 130
139
156
170
202
207
260
269 277
413
85
110
127 132
147
167
175
207 216
264
275
286
454
0
Luxem
burgo
Espanha
H
olanda
Rom
énia
Irlanda
Áustria
Dinam
arca
Eslovénia
Estónia
Lituania
França
Letónia
Filândia
G
récia
M
alta
Itália
Polónia
Reino
U
nido
Alem
anha
C
hipre
Portugal
Rep.C
heca
Suécia
Eslováquia
Bélgica
H
ungria
Bulgária
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
59
80
93
139
156
170
202
207
260
269
85
127 132
147
167
207
275
0
Luxem
burgo
Alem
anha
M
alta
Irlanda
Eslováquia
C
hipre
Estónia
Eslovénia
Belgica
Filândia
Itália
Espanha
H
olanda
Portugal
Áustria
França
G
réciaNão obstante terem sido implementadas em Portugal, com
sucesso, reformas com vista à simplificação dos processos
de constituição e registos societários, no que diz respeito ao
licenciamento industrial, os agentes do sector continuam
a salientar as duplicações, o peso e a morosidade dos
processos burocráticos como uma das principais barreiras ao
desenvolvimento da indústria portuguesa.
Na verdade, em Portugal continua a haver uma fraca
coordenação entre as diferentes entidades públicas com que as
empresas têm de se relacionar, o que leva a uma multiplicação
dos chamados custos de contexto, consumindo recursos que
deveriam ser canalizados para atividades geradoras de valor,
comprometendo desta forma a competitividade das empresas e
a atracão de investimento para a economia nacional.
O papel do Estado
As duplicações, o peso e a
morosidade dos processos
burocráticos, continuam a
ser as principais barreiras ao
desenvolvimento da indústria
portuguesa.
Fonte: “Doing business 2013” do Banco Mundial
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 35
Taxa média de impostos sobre lucros
Na UE 27 (percentagem) Na zona Euro (percentagem)
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
21,0
23,0
27,7
34,7
36,6
40,1
41,6
43,7 44,2
46,8
49,2
53,0
57,7
67,3
26,4
28,7
35,5
38,7
40,6
42,6
43,8 44,5
47,9
50,3
53,1
65,7
68,3
0,0%
Luxem
burgo
Portugal
Reino
U
nido
Eslováquia
C
hipre
Lituania
Letónia
Rep.C
heca
Irlanda
Polónia
Espanha
H
ungria
Dinam
arca
Rom
énia
H
olanda
Suécia
França
Bulgária
G
récia
Filândia
Áustria
Estónia
Eslovénia
Alem
anha
M
alta
Bélgica
Itália
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
21,0
23,0
34,7
41,6
46,8
57,7
67,3
26,4
38,7
40,6
42,6
44,5
47,9
53,1
65,7
68,3
0,0%
Luxem
burgo
Áustria
Filândia
C
hipre
Bélgica
M
alta
Irlanda
França
Portugal
Eslovénia
Estónia
G
récia
Espanha
Itália
Alem
anha
H
olanda
Eslováquia
40,1
Adicionalmente, estas entidades públicas encontram-se
essencialmente centradas em atividades de verificação de
conformidade com legislação e regulamentos, prestando um
apoio reduzido às empresas na definição da melhor abordagem
para o cumprimento das regras e a maximização de valor. No
caso particular da aplicação de legislação da União Europeia
este aspeto assume ainda maior relevância.
É, portanto, necessário recuperar as funções das Direções
Gerais enquanto entidades públicas facilitadoras da atividade
das empresas que atuam em setores fundamentais para
a economia, como é o caso da indústria e cujos quadros
sejam preenchidos por profissionais com carreira no setor e
conhecimento dos problemas que o mesmo atravessa.
Também a relação das empresas com as autoridades ficais
carece de melhoria. Os dados acima apresentados, sobre o
tempo consumido pelas empresas em Portugal na sua relação
com as entidades fiscais, são reveladores das limitações ao
investimento e à realização de negócios. A solução poderá
passar pela criação da figura do gestor do contribuinte, à
semelhança do que já é feito pela AICEP com a alocação
de um “gestor de conta” para as empresas portuguesas
que querem investir no estrangeiro. Muito provavelmente,
idêntico procedimento deverá ser adotado ao nível da
regulamentação conexa com a indústria.
Para que a revitalização da indústria portuguesa seja efetiva,
é necessário que, para além da redução das barreiras
existentes, sejam criados, pelo Estado, estímulos ao
investimento das empresas. A indústria há muito reclama
uma descriminação fiscal positiva, algo que não é permitido
à luz da legislação europeia. Sendo indiscutíveis a bondade
e a oportunidade desta medida, a solução poderá passar
por uma negociação junto da UE no sentido da adoção de
um regime de exceção que permita a aplicação de taxas
efetivas de IRC mais baixas às empresas produtoras de bens
transacionáveis. Nesse contexto a revitalização do DLRR
(dedução de lucros retidos e reinvestidos) poderá ter um
impacto muito significativo.
Fonte: “Doing business 2013” do Banco Mundial
36 PwC
A aplicação de benefícios fiscais à exportação é outra
reivindicação da indústria portuguesa. Esta medida pode ser
consubstanciada na redução ou eliminação de tributações
autónomas em sede de IRC, mesmo que em regime temporário,
para as empresas industriais portuguesas com presença
(exportação ou investimento) relevante no estrangeiro.
Simultaneamente, a revisão do mecanismo de crédito de
imposto para reduzir a dupla tributação internacional carece
de revisão, no sentido de não penalizar o investimento
no exterior, o mesmo ocorrendo com a dedutibilidade
das menos-valias em partes de capital ou a tributação dos
estabelecimentos estáveis no exterior.
Adicionalmente, é imperativo assegurar estabilidade no
sistema fiscal português para que seja gerada confiança nos
investidores. A turbulência criada pela crise financeira que o
país atravessa, tem originado inúmeras alterações no quadro
fiscal no sentido da arrecadação de receitas por parte do
Estado, cuja eficácia os números mais recentes comprovam ser
duvidosa, ao contrário dos efeitos negativos no investimento e
no desenvolvimento da economia portuguesa.
Outro aspeto fundamental da intervenção do Estado no
desenvolvimento da indústria Portuguesa, passa pela
diplomacia económica, nomeadamente junto de mercados de
exportação. O setor reclama uma maior e melhor atuação do
Estado nesta vertente através da AICEP (que já colabora em
muitos dos projetos industriais) ou de uma intervenção mais
direta por parte do Governo.
O papel do Estado
A aplicação de benefícios
fiscais à exportação e a revisão
do mecanismo de crédito de
imposto para reduzir a dupla
tributação internacional são
outras reivindicações da indústria
portuguesa.
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 37
Importa salientar que, no que respeita à abordagem a
mercados estrangeiros, seja com o objetivo de exportação
ou enquanto mercados alvo de investimento, é fundamental
que as empresas portuguesas trabalhem em rede no sentido
de potenciarem sinergias. A associação de empresas neste
tipo de abordagens não é prática comum em Portugal, mas
é sem dúvida potenciadora de maior geração de valor, tanto
por via da partilha de riscos como pela criação de escala. Essa
associação deverá fazer-se através de parcerias com vista a
ganhar dimensão, mas também pela associação a grandes
empresas, de outras de menor dimensão que, pelas suas
características, permitam uma maior integração da cadeia
de valor.
Por fim, fala-se muito na necessidade de revisão da legislação
laboral com vista a torná-la mais flexível. Parece contudo,
que o problema não está tanto na legislação laboral, mas na
produtividade das pessoas, na formação das mesmas e nos
estímulos que lhes são dados. O Estado tem também aqui um
papel crucial, uma vez que pode e deve rever o modelo de
ensino técnico e superior, no sentido de criar os incentivos
necessários a que estes se adaptem às necessidades das
empresas do setor industrial da nossa economia.
Principais conclusões
A revitalização da indústria é fundamental para a recuperação da
competitividade da economia portuguesa, devendo o papel do Estado
passar por criar as condições adequadas para que isso aconteça, as quais
podem ser resumidas em quatro aspetos fundamentais.
1.	 Aperfeiçoamento da coordenação entre as diferentes entidades
públicas, eliminação das barreiras burocráticas e adoção de uma
postura mais colaborativa com as empresas.
2.	 Estabilização do sistema fiscal, enquanto elemento gerador de
confiança nos investidores, incorporando fatores de discriminação
positiva para as empresas produtoras de bens transacionáveis;
3.	 Melhoria da intervenção do Estado junto dos mercados de exportação
da indústria portuguesa, quer através da atuação da AICEP, quer
através da diplomacia económica exercida pelo Governo, quer ainda
pela promoção de um associativismo vocacionada para operar em
rede.
4.	 Revisão do modelo de ensino técnico e superior, no sentido de garantir
que este supra as necessidades da indústria.
É fundamental que as empresas
portuguesas trabalhem em rede no
sentido de potenciarem sinergias.
38 PwC
O valor social
da indústria
Pilar fundamental do
modelo económico-social
A indústria está a reassumir uma posição relevante
na agenda política enquanto pilar fundamental de
sustentabilidade do modelo económico-social, assistindo-
se ao desenvolvimento de programas de apoio ao setor
industrial destinados a reforçar a competitividade do setor.
Neste contexto, a indústria tem um potencial significativo de
contribuir para o crescimento sustentável e para a criação
de emprego, alinhado com os interesses dos trabalhadores
e cidadãos afetados pelo negócio e salvaguardando o
ambiente.
O sucesso desta estratégia depende da capacidade de se
ultrapassarem os vários desafios que se colocam, entre
os quais se encontram a melhoria da imagem do setor, a
qualificação da gestão e dos recursos humanos e a ligação
entre o ensino e a indústria.
38 PwC
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 39
Principais eixos do valor social
da indústria portuguesa:
•	 24% do PIB (2011);
•	 24% da população empregada (2010);
•	 833.000 empregos nas indústrias
extrativa e transformadora (2011);
•	 320 milhões de euros por ano para
melhorar o meio ambiente (2009);
•	 apoio à comunidade local
– responsabilidade social.
Uma melhor reputação permite posicionar
a indústria numa dimensão de confiança
e transparência
De uma forma genérica, a perceção social da indústria não tem
sido positiva, afetando, por vezes, a reputação das empresas
pertencentes a este setor. Por um lado, esta perceção deve-se
à imagem das condições de segurança e trabalho e ao impacto
ambiental associado. Por outro, há uma tendência para se
considerar a indústria como um elemento do passado, em vez
de um ingrediente-chave para o desenvolvimento futuro.
40 PwC
Assiste-se ainda a um aumento dos requisitos ao nível da
qualificação da mão-de-obra, sendo necessárias competências
específicas.
Neste contexto, a perceção social da indústria tem contribuído
para a maior dificuldade na atração do talento, tendência
que só poderá ser contrariada mediante maior informação
e aproximação entre a indústria e os vários agentes: centros
de ensino aos vários níveis, desde o secundário até ao
universitário, Governo e comunidade em geral. Em alguns
setores e empresas começam a ser desenvolvidos esforços de
comunicação, muitas vezes associados às questões ambientais
e sociais. Iniciativas como a colaboração no desenvolvimento
de programas curriculares, a integração de casos práticos da
indústria, a promoção das visitas e a participação nas feiras
de emprego, bem como a apresentação às universidades, são
atividades importantes para alterar esta perceção.
Para além do aumento da capacidade de atração por parte
da indústria, é ainda essencial que o sistema de ensino se
adapte às suas necessidades, assegurando a disponibilidade
de recursos humanos devidamente qualificados e em número
adequado. Neste domínio são apontadas como áreas de
melhoria o desenvolvimento de novos e mais adequados cursos
técnico-profissionais e formação intermédia.
O facto de a indústria não ter uma boa reputação prejudica
o seu desenvolvimento em muitos aspetos. Se a indústria
tivesse uma melhor perceção por parte dos jovens, seria
mais fácil atrair talento. Por exemplo, são poucas as
empresas industriais que integram os rankings de melhores
empresas para trabalhar realizados em Portugal. Por outro
lado, o foco empreendedor dirigir-se-ia também ao meio
industrial, contribuindo para a inovação. Com uma boa
reputação genérica seria ainda possível facilitar o acesso
ao financiamento e a cooperação com o sistema de ensino e
tecnológico.
Neste contexto, a existência de um posicionamento
forte e o desenvolvimento de iniciativas de promoção
podem contribuir para a melhoria da reputação, para
a competitividade e para o desempenho sustentável da
indústria portuguesa, por via do fortalecimento da confiança
e da associação a princípios de ética, transparência e
responsabilidade corporativa do setor.
As empresas, de forma individual ou associadas, têm também
um papel importante na valorização da sua atividade e na
melhoria da sua imagem, por via do envolvimento com os
vários stakeholders relevantes e da comunicação e divulgação
das boas práticas, da partilha de testemunhos e do maior
envolvimento com os centros de ensino da sua área de
influência.
A qualificação de recursos humanos e o seu papel
na empregabilidade do setor
De uma forma geral, Portugal, tal como a Europa, têm até
há poucos anos vindo a assistir a uma desindustrialização,
traduzida na redução do peso da indústria, na produção e
na criação de emprego (exceção feita à Alemanha e a outros
países com a mesma abordagem à evolução da cadeia de
criação de valor como a Holanda, Áustria, República Checa
ou Polónia, onde o peso do setor industrial se tem vindo,
estrategicamente, a manter).
O valor social da indústria
Variação anual do total de trabalhadores da indústria
4,00
2,00
0,00
-2,00
-4,00
-6,00
-8,00
EU27 Alemanha Portugal
Fonte: Eurostat
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 41
Finalmente, quando o tema é recursos humanos com
menores qualificações, as suas capacidades de trabalho
são reconhecidas e essenciais, sendo, por isso, importante
a criação de mecanismos para o desenvolvimento das
qualificações e competências necessárias para o desempenho
das várias funções no processo de relançamento da indústria
como setor de relevância em Portugal. A criação de processos
de reconhecimento específicos para determinadas funções,
pode ser uma solução e um contributo importante nesta
matéria.
Como pode a economia do conhecimento
e desenvolvimento sustentável influenciar
o relançamento do setor industrial?
A política industrial sustentável da União Europeia,
integrada na estratégia de crescimento Europa 2020, foca-se
explicitamente nas oportunidades do crescimento sustentável
e na criação de emprego, em paralelo com a transição
para uma economia de eficiência de recursos transversal à
indústria como um todo.
Principais conclusões
1.	 A indústria portuguesa não tem ainda boa reputação,
em termos ambientais e de condições de trabalho,
de inovação e de remunerações. Tal prejudica a
capacidade de atração e retenção do talento, o acesso
ao financiamento, a capacidade de inovação e a
participação em iniciativas políticas.
2.	 A indústria tem um papel importante na melhoria desta
perceção, por via do maior envolvimento e comunicação
com os principais agentes: empresas, associações,
centros de ensino e inovação e administrações públicas.
3.	 O papel do Governo é decisivo para potenciar a
marca Portugal perante os investidores, organismos
internacionais e entre os próprios cidadãos e
comunidade.
Neste contexto, o relançamento do setor industrial em
Portugal deve alinhar-se com esta estratégia, apostando na
competitividade internacional, nomeadamente através de uma
aceleração da transição para uma economia do conhecimento,
tecnológica e verde.
O combate às alterações climáticas e o aumento da eficiência
de recursos permitem obter reduções de custos e do impacte
ambiental, através de uma melhoria do consumo de energia
e de recursos. Esta conclusão é sobretudo relevante para as
indústrias consumidoras intensivas de energia. É necessário
promover o investimento em processos produtivos assentes em
eficiência carbónica, permitindo às empresas aumentar a sua
competitividade e diminuir a sua dependência dos preços de
energia.
A economia verde deve também ser analisada na perspetiva do
que poderão ser as vantagens da utilização de recursos locais,
ao nível do desenvolvimento local, da redução de custos de
logística, da fixação de população, etc.
Adicionalmente a estes benefícios, o aproveitamento de
oportunidades de negócio por via da oferta de produtos
orientados para menores consumos de energia ou recursos
naturais, com maior eficiência, pode contribuir também
para a recuperação da crise e fortalecimento da notoriedade
internacional das empresas.
4.	 É essencial que o sistema de ensino se adapte às
necessidades da indústria, assegurando a disponibilidade
de recursos humanos devidamente qualificados e em
número adequado.
5.	 O relançamento do setor industrial em Portugal deve
alinhar-se com a estratégia Europa 2020, apostando na
competitividade internacional, nomeadamente através
de uma aceleração da transição para uma economia do
conhecimento, tecnológica e verde.
42 PwC
Localização e
internacionalização
Uma questão de geografia
ou de geopolítica?
A estratégia de reversão da balança comercial nacional
impõe o forte crescimento das exportações de bens
transacionáveis (e do Turismo, que se encontra ausente da
presente análise). Embora a União Europeia, e em particular
Espanha, se tenha constituído como o parceiro comercial
tradicional da indústria portuguesa, as relações comerciais
com Angola, Brasil, Moçambique, Marrocos, EUA e China
têm vindo a intensificar-se. Neste quadro de alteração
do peso relativo das relações comerciais surge a questão
da localização e dos acordos comerciais e políticos entre
Estados. Uma questão de geografia ou de geopolítica?
42 PwC
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 43
Internacionalização é vetor de sucesso das empresas
nacionais a par da dimensão, produtividade e
capacidade de inovação
O esforço de internacionalização da indústria portuguesa,
primeiro como reação à retração da economia nacional e
depois como componente estratégico de desenvolvimento,
num misto sequencial de estratégias defensiva e de ataque,
tem-se apresentado crucial para a sobrevivência e sucesso das
empresas nacionais.
O esforço de internacionalização
tem-se apresentado crucial para
a sobrevivência e sucesso das
empresas nacionais.
44 PwC
Percentagem média de exportações por localização
(empresas industriais, por dimensão)
> 500250 a 499100 a 24950 a 9910 a 49
29%
23% 21% 19%
25%
71% 77%
79% 81% 75%
União Europeia
Não União Europeia
Fonte: SABI; CAEs industriais; 21100 empresas; contas 2010/2011,
valores médios
De facto, quando analisada uma base de 21100 empresas
industriais, identifica-se que mais de 40% efetuaram algum
tipo de exportação em 2011, sendo que no grupo de empresas
com mais de 50 colaboradores esta proporção sobe para mais
de 75%.
Como referido, a internacionalização é acompanhada
por dimensão, produtividade e capacidade de inovação.
Dimensão, para lidar com as especificidades exigidas pelos
vários mercados e pelos próprios desafios que os custos de
contexto continuam a colocar às empresas que se pretendem
exportadoras e internacionalizadas. Produtividade e
capacidade de inovação, para conquistarem competitividade.
Curioso é, no entanto, notar que são as empresas de menor
dimensão (até 50 colaboradores) que mais têm contribuído
para uma maior diversificação dos nossos mercados de
exportação, com consequente redução da dependência da
União Europeia. De facto, são muitas as empresas de menor
dimensão que têm procurado nichos onde se apresentem
competitivas, em mercados como Marrocos, Angola,
Moçambique ou Brasil, alavancando, no caso destes últimos,
a ligação cultural e facilidade linguística que nos aproxima.
A indústria nacional debate-se ainda com vários desafios,
desde o acesso ao crédito, a informação sobre o mercado
e parceiros comerciais e até mesmo ao nível da adaptação
das suas operações às diferentes exigências dos diferentes
mercados (para além da capacidade de lidar com os
procedimentos logísticos, linguísticos e culturais desses
mesmos mercados). Estes desafios necessitam ser
ultrapassados, o que, no caso das empresas de menor
dimensão, poderá requerer a sua associação em clusters e a
empresas de maior dimensão, a par de um maior apoio do
Estado na eliminação dos constrangimentos administrativos e
no apoio à obtenção de informação de mercado de qualidade,
nomeadamente através da transformação da rede de
embaixadas, consulados e delegações da AICEP em centros de
negócios e de business intelligence.
Localização e internacionalização
Principais desafios da indústria em Portugal 2013 45
A centralidade atlântica só existe com integração
logística continental europeia
Portugal não beneficia da centralidade europeia continental
da Alemanha ou França que movimentam mais de 300 mil
milhões de euros em operação logística, os quais fazem o spill
over para as economias belga, holandesa e, inclusivamente,
checa, nuns casos para acesso marítimo e no último para
acesso a mão-de-obra a custos competitivos, só aproveitável
como resultado de uma eficiente rede de transportes
ferroviários entre estes países.
De facto, processos de internacionalização ou captação
de investimento direto estrangeiro têm na generalidade
objetivos de expansão da base de mercado, acesso a recursos
naturais endógenos (na generalidade fósseis), acesso a fatores
produtivos a menor custo (mão de obra ou energia barata) ou
acesso a know-how especializado de difícil importação.
Neste quadro, apenas resta a Portugal a criação de fatores de
competitividade com base na eficiência (e consequente menor
custo) e capacitação de know-how especializado, alavancado
nas relações políticas, culturais e económicas no contexto
geopolítico de atuação e integração Europa-CPLP, de onde
se vêm destacando, embora por diferentes razões, o Brasil,
Angola e Moçambique.
A ligação Europa-África-Brasil, no quadro de desenvolvimento
da CPLP enquanto união económica e não apenas linguística
e cultural e da qual Portugal pode ser um ator relevante, tem
sido o caminho percorrido por várias empresas (maiores e
menores) no seu processo de internacionalização.
No entanto, este desígnio de centralidade atlântica (almejada
política ou economicamente) não é passível de ser atingido
sem uma forte integração continental europeia. A construção
de uma plataforma giratória logística de bens industriais
de forte dinâmica comercial entre estas regiões requer a
eliminação de custos de contexto e barreiras administrativas
e aduaneiras, a par de um modelo fiscal competitivo que
potencie a promoção de Portugal como porta de entrada e
saída de bens industriais transacionáveis. A integração da rede
de transportes, não só física, mas também lógica, dos seus
modelos operativo, de funcionamento e de relacionamento
laboral e sindical torna-se igualmente determinante neste
processo.
A centralidade atlântica de Portugal depende, assim, para
além da opção pela revitalização do setor industrial na
economia nacional e geração de fatores de competitividade
e diferenciação que nos permitam posicionar na economia
global, da criação de uma rede integrada e eficiente de
transportes marítimos, operações portuárias e ligações
ferroviárias que nos aproximem rapidamente e a custos
competitivos, da Europa, de África e do Brasil… e também
da Ásia.
Principais conclusões
1.	 A internacionalização encontra-se na agenda estratégica das empresas
industriais nacionais;
2.	 As PMEs têm contribuído para a diversificação dos mercados de
destino das exportações;
3.	 A dimensão e competitividade continuarão a ser fatores chave para o
desenvolvimento da indústria portuguesa;
4.	 A eliminação de barreiras administrativas e aduaneiras ao comércio
internacional, a par da redução de custos de contexto dos processos
de internacionalização, é crucial para a criação de uma plataforma
internacional de comércio em Portugal;
5.	 A centralidade atlântica apenas será conseguida através de uma
eficiente integração de logística portuária e ferroviária, num quadro
de relacionamento geopolítico entre Portugal e Europa/África/Brasil.
46 PwC
Principais contactos
	
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Sócio responsável pelo setor de Industrial Manufacturing
e líder deste projeto
+351 225 433 000
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José Pereira Alves
Territory Senior Partner
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jose.alves@pt.pwc.com
António Correia
Deputy Senior Partner
+351 225 433 127
antonio.correia@pt.pwc.com
Para informações acerca da metodologia de Research,
por favor contacte:
João Rui Baptista
Research & Analysis Manager
+351 213 599 344
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Principais desafios da indústria em Portugal - 2013

  • 1. www.pwc.pt Principais desafios da indústria em Portugal - 2013 Uma abordagem coerente para a dinamização do setor Processos concertados desencadeiam ação
  • 2.
  • 3. Enquadramento 4 Sumário executivo 8 Produtividade e custo dos fatores Variáveis chave para a indústria 10 A inovação na indústria portuguesa (Saber) valorizar o conhecimento existente! 18 O tamanho importa? Sim! Mas para quê? 26 O papel do Estado É imperativo rever o seu papel 32 O valor social da indústria Pilar fundamental do modelo económico-social 38 Localização e internacionalização Uma questão de geografia ou de geopolítica? 42 Conteúdos
  • 4. 4 PwC A PwC acredita que a indústria portuguesa pode e deve ser um motor de desenvolvimento preponderante da economia para os próximos anos. A crise, que atualmente vivemos, está usualmente identificada como uma crise financeira e imobiliária. Contudo, não podemos esquecer o seu profundo impacto no setor industrial, derivado do forte aumento dos impostos e da consequente redução do rendimento disponível, que provocou uma forte diminuição da procura interna, a qual tem, até agora, conseguido ser parcialmente compensada por um aumento significativo das exportações. De facto, o setor industrial tem vindo a perder relevância, sendo importante que se consiga a sua revitalização, de forma a se conseguir recuperar a competitividade da nossa economia. Apesar de tudo este setor ainda representa uma fatia muito importante do PIB em Portugal (24%), empregando 24% dos trabalhadores ativos. Enquadramento Hermínio Afonso Sócio responsável pelo setor de Industrial Manufacturing e líder deste projeto
  • 5. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 5 Valor acrescentado bruto por ramo de atividade Milhões de Euros Contribuição dos sub-setores industriais 77 281 6% 29% 28% 25% 25% 23% 24% 24% 72% 73% 74% 74% 74% 68% 66% 1995 2000 2007 2008 2009 2010 2011P 111 549 4% 146 209 2% 149 311 2% 148 703 2% 151 414 2% 149 268 2% Agricultura, silvicultura e pesca Setor industrial Serviços Fonte: INE - Março 2013 1995 2000 2007 2008 2009 2010 2011P Indústrias extrativa e transformadora Energia, água e saneamento Construção 100% 65% 10% 24% 58% 16% 26% 61% 15% 24% 62% 29% 9% 58% 13% 29% 57% 13% 30% 56% 15% 29% P - Dados preliminares Contribuição dos sub-setores industriais 1995 2000 2007 2008 2009 2010 66% 4% 30% 59% 4% 37% 60% 37% 3% 59% 3% 38% 59% 3% 38% 59% 4% 37% Postos de trabalho por ramo de atividade 4 957 16% 30% 30% 26% 25% 24% 24% 61% 62% 63% 64% 56% 54% 1995 2000 2007 2008 2009 2010 5 577 14% 5 705 13% 5 719 13% 5 573 13% 5 475 12% Agricultura, silvicultura e pesca Setor industrial Serviços Fonte: INE - Dezembro 2012 Indústrias extrativa e transformadora Energia, água e saneamento Construção 100%
  • 6. 6 PwC A PwC elaborou o presente documento tendo como base reflexões, ideias e propostas geradas a partir de um grupo de trabalho no qual participaram vários representantes de empresas, de diferentes dimensões, do setor industrial em Portugal. Gostaríamos de referir e voltar a agradecer o desafio lançado à PwC, por parte do Prof. Ricardo Bayão Horta e Eng. Mira Amaral, que nos alertaram da premência da execução deste projeto em Portugal e mantiveram o seu total empenhamento e disponibilidade em todas as suas fases. Uma equipa de especialistas da PwC analisou, estruturou e sintetizou as ideias debatidas, convertendo-as nos assuntos-chave do presente e do futuro da indústria em Portugal. Um setor industrial dinâmico, moderno e inovador é parte essencial de um crescimento equilibrado e insubstituível na competitividade da economia portuguesa. De entre as ideias debatidas por este grupo de trabalho, selecionaram-se os seguintes temas, que consideramos serem os de maior impacto e atualidade no setor: 1. produtividade e custo dos fatores; 2. inovação na indústria portuguesa; 3. “o tamanho importa?”; 4. o papel do Estado; 5. o valor social da indústria; 6. localização e internacionalização. Enquadramento A intenção da PwC com este projeto é contribuir e estimular o debate atual sobre os assuntos que mais preocupam a indústria em Portugal, de forma a enfrentar os desafios dos próximos anos. Consideramos de extrema relevância poder contribuir para o relançamento da indústria em Portugal como uma das estratégias fundamentais de saída da crise. Esta saída deve centrar-se em potenciar novas formas de crescimento, como por exemplo, a internacionalização, a inovação ou a economia do conhecimento. Gostaríamos, uma vez mais, de agradecer os valiosos contributos de todos os participantes e o entusiamo manifestados durante as sessões de debate efetuadas em Lisboa e no Porto.  
  • 7. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 7 Participantes externos à PwC • Dr. Álvaro Alvarez, Administrador da Siderurgia Nacional • Eng. Álvaro Bastos, COO da Cimertex • Amândio Santos, CEO da Derovo • Prof. António Cunha, da Universidade do Minho • Dr. António Manuel Gonçalves, CEO da Têxtil Manuel Gonçalves • Dr. António Marques, CFO do Grupo Sapec • Dr. António Pires de Lima, CEO da Unicer • Dr. António Rios Amorim, CEO da Corticeira Amorim • Dr. Avelino Mota Gaspar Francisco, Presidente da Lusiaves • Eng. Belmiro de Azevedo, Chairman do Grupo Sonae • Dr. Carlos Tavares, Presidente Conselho Diretivo da CMVM • Eng. Ilídio de Ayala Serôdio, Presidente do Grupo PCG Profabril e Vice-Presidente da Proforum • Eng. João Nuno Macedo Silva, Presidente do Grupo RAR • Eng. João Paulo Oliveira, CEO da Bosch Termotecnologia • Prof. Dr. João Pereira Bento, CEO da Efacec • Dr. João Pedro Azevedo, CEO da Soja de Portugal • Dr. João Serrenho, CEO da CIN • Dr. Jorge Martins, Administrador da Martifer • Dr. José Honório, CEO da Semapa • Eng. José Manuel Fernandes, Presidente do Grupo Frezite • Eng. José Ramalho Fontes, Diretor-Geral da AESE • Eng. José Ramos, Presidente da Salvador Caetano • Dr. Luís Palha da Silva, Vice-presidente executivo da Galp • Dra. Manuela Gameiro, Diretora do Departamento de Assuntos Económicos da CIP • Eng. Paulo Oliveira Queiroz, CEO da Nanium • Dr. Pedro Capucho, Diretor Coordenador do Departamento de Assuntos Económicos da CIP • Prof. Pinto de Sá, Professor Associado do IST • Prof. Ricardo Bayão Horta, Presidente da Cires • Dr. Rui Amorim Sousa, CEO da Cerealis Moderadores dos debates • Hermínio Afonso, Sócio responsável pelo setor de Industrial Manufacturing e líder deste projeto • Eng. Mira Amaral, CEO do Banco BIC Portugal e vice-presidente do conselho geral da CIP Responsáveis da PwC pela preparação do documento • António Brochado Correia, Deputy Senior Partner • Jaime Carvalho Esteves, Sócio responsável pelo setor de Governo e setor público e líder do departamento fiscal • Jorge Costa, Sócio responsável pelo setor dos produtos industriais e de consumo e serviços e líder do departamento de Assurance • Luís Boquinhas, Sócio líder de consultoria de gestão • Pedro Deus, Sócio de consultoria de gestão, líder da área de inovação Especialistas da PwC • Ana Cláudia Coelho, Senior Manager de consultoria de gestão, da área de Sustainable Business Solutions • José Ricardo Pessoa, Manager de consultoria de gestão, da área de Governance, Risk & Compliance • Ricardo Sousa Valles, Senior Manager de Deals, da área de Estratégia • Rui Rodrigues Matos, Manager de consultoria de gestão, da área de Finance & Operations • Vera Oliveira Santos, Manager de consultoria de gestão, da área de Inovação
  • 8. 8 PwC Sumário executivo Muito já se tem escrito em Portugal acerca da necessidade de voltar a dinamizar o setor industrial em Portugal. Esta publicação mantém e reforça essa opinião e não ambiciona ser disruptiva nessa matéria. Procura sim sistematizar ideias, que possam desencadear ações, por parte das empresas e por parte das Entidades Publicas. Precisamos reduzir e alterar a concentração da atividade económica no setor terciário, verificada ao longo dos últimos anos em Portugal, e a consequente redução da atividade dos setores produtivos de bens transacionáveis, que tem vindo a fragilizar a ambicionada competitividade nacional. Mas, quais as principais características das empresas industriais portuguesas? As empresas industriais em Portugal são, fundamentalmente, de dimensão reduzida (PMEs), mas são também as empresas que mais se reinventam e procuram inovar a cada dia, a cada período económico e em cada ciclo político. São a base empresarial da nossa economia e que, apesar da atual conjuntura, se mantêm muitas vezes como os melhores exemplos. É óbvio que continuamos a ter em Portugal muito bons exemplos de grandes empresas industriais, de dimensão internacional, de qualidade reconhecida e cuja atividade cria um valor acrescentado quantificável ao nosso país, quer seja através da criação de empregos ou através do seu contributo para as exportações. No entanto, também os gestores destas grandes empresas têm os mesmos desafios estratégicos e operacionais das “maioritárias” PMEs. Quando comparamos Portugal com outros países europeus, verificamos que a nossa competitividade é inferior. Conclui- -se que o custo do trabalho não é neste momento um fator relevante, mas a flexibilidade laboral pode ainda ser melhorada. As dificuldades operacionais relacionadas com os custos da atividade, alicerçadas aos processos internos ou externos, são inúmeras e, apesar da evolução tecnológica que já fizemos e os investimentos em inovação, ainda nos mantemos na mesma posição periférica Europeia e estamos ainda longe de potenciar a nossa costa ou ter alternativas logísticas, exemplo das melhores práticas internacionais. As infra-estruturas ferroviárias são ainda incipientes, comparadas com outros países Europeus, assumindo-se o transporte rodoviário, com todas as suas vantagens e inconvenientes, como o grande responsável pela movimentação de bens de e para Portugal. As empresas industriais devem continuar a investir na modernização dos seus processos produtivos, em inovação, no alargamento dos seus mercados principais (através do aumento das exportações) e nas competências que necessitam para executar esses projetos. Os bons exemplos de clusters industriais devem ser identificados, caracterizados e partilhados com outros potenciais subsegmentos industriais que desejem crescer, diversificar o seu negócio e criar sustentabilidade e massa crítica, para que consigam ser concorrenciais no mercado global. O acesso ao financiamento a custos razoáveis é neste momento um handicap importante para que o relançamento do investimento se concretize, pelo que a melhoria do rating da República Portuguesa é fundamental, mas é também necessário que as empresas efetuem um esforço adicional na melhoria do seus Capitais Próprios de forma a reduzir a elevada alavancagem existente. Em Portugal o custo do trabalho não é neste momento um fator relevante, mas a flexiblidade laboral pode ainda ser melhorada.
  • 9. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 9 É também imperativo rever o papel do Estado, na criação das condições e soluções necessárias à dinamização da economia e, especificamente, do setor industrial, não só tornando os custos operacionais, energéticos e outros, equivalentes aos de países concorrentes, como também reduzindo os custos de contexto ainda existentes, em particular no licenciamento industrial. A diplomacia económica pode assumir um papel relevante, principalmente na atração de investimento estrangeiro e na eliminação de algumas barreiras ainda existentes à entrada de produtos Portugueses noutros mercados. A indústria está a reassumir uma posição cada vez mais relevante na agenda política, enquanto pilar fundamental de sustentabilidade do modelo económico-social para Portugal. Para se atingirem níveis elevados de produtividade é necessário investir em modernização, não apenas tecnológica, mas também operacional e dos métodos de trabalho. As conclusões a que chegamos são de que muito já se tem vindo a fazer em Portugal, que os fatores chave para estimular o investimento estão identificados e que os esforços têm obrigatoriamente de ser concertados, tanto entre as empresas, como entre as empresas e o Estado, através de uma abordagem coerente e de longo prazo. A ligação aos estabelecimentos de ensino, não só às Universidades, pode ser um fator relevante no sentido de se conseguir melhorar os sistemas e processos a custos controlados.
  • 10. 10 PwC Produtividade e custo dos fatores Variáveis chave para a indústria Quando falamos em produtividade e custo dos fatores, falamos em competitividade, que é um conceito sistémico porque depende do comportamento de diversas variáveis e não pode ser explicado por nenhuma delas de forma isolada. Os temas abordados neste capítulo são fulcrais não só para a o relançamento da indústria como setor de relevância para o país mas também para a sobrevivência da indústria atual. No que respeita à criação de novas indústrias, consideramos que, para que esta iniciativa tenha sucesso, é necessário encará-la não como um regresso ao passado, mas pensá-la na ótica do posicionamento do país nas cadeias de valor internacionais mais atrativas às nossas competências, com uma aposta em produtos transacionáveis de elevado valor acrescentado e recorrendo a tecnologia de ponta para posicionar a indústria portuguesa no “estado da arte” da indústria internacional. Ser mais produtivo é um desígnio nacional Para se atingirem níveis elevados de produtividade é necessário investir em modernização, não apenas no que diz respeito à evolução tecnológica (que é muito importante e necessária), mas também no que diz respeito à componente operacional e aos métodos de trabalho, como por exemplo, adotar métodos do tipo “Lean” ou “Kaizen”. Existem casos de empresas portuguesas que adotaram estes métodos e rapidamente verificaram ganhos significativos de produtividade.
  • 11. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 11 As empresas industriais não podem almejar padrões elevados de produtividade se não estiverem atualizadas face às tendências internacionais e às melhores práticas do seu setor. Este investimento em modernização, para além dos benefícios diretos de curto prazo, gera também benefícios de médio-longo prazo, nomeadamente, uma maior qualificação dos recursos humanos, que por sua vez gera maior valor acrescentado na hora de trabalho. Em Portugal temos um problema de reduzido valor acrescentado bruto por capital empregue ou por trabalhador, devido, em grande parte, a métodos de trabalho pouco estruturados e não tanto ao número de horas trabalhadas por semana. 50 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 60 70 80 90 100 110 120 130 140 HolandaAlemanhaEspanhaRepública ChecaPortugal EU (27 países) Índice de produtividade por hora trabalhada Fonte: Eurostat
  • 12. 12 PwC Produtividade e custo dos fatores O custo dos fatores é um tema que carece de uma análise cuidada O custo dos fatores é uma questão muito relevante para a indústria portuguesa e, devido à heterogeneidade dos fatores, estes devem ser analisados de forma desagregada. A componente de custos laborais não é considerada prioritária Para ser possível fazer uma análise bem enquadrada dos custos laborais, tem de ser mencionado à partida que esta análise parte do pressuposto que se compara Portugal com países semelhantes ao nível das leis do trabalho e da aspiração coletiva para as condições de vida e conforto da população, ou seja, a título de exemplo, quando se refere que Portugal tem uma mão-de-obra barata, a comparação é feita com a média europeia e não com países asiáticos, como é o caso da China. Para a generalidade das empresas industriais portuguesas, a componente de custos laborais não é considerada prioritária. A mão-de-obra em Portugal é de baixo custo relativamente à média da UE, o que por vezes tem até um efeito negativo para a produtividade, uma vez que, sendo o retorno do investimento em tecnologia mais prolongado do que num cenário de custo de mão-de-obra elevado, existe um incentivo menor ao investimento. Um país com mão-de-obra barata é geralmente um país de baixa produtividade. Não é no custo da mão-de-obra que podem ser encontradas as soluções para o problema da produtividade na indústria portuguesa. Contudo, é necessária uma legislação laboral mais adaptada às necessidades de algumas empresas, nomeadamente as empresas que trabalham por turnos. Existe uma correlação forte entre a produtividade dos trabalhadores e as condições que as organizações lhes proporcionam e temos vários exemplos de empresas que provam que quando bem formados e enquadrados, os trabalhadores da indústria portuguesa conseguem ombrear com os melhores do mundo. Outra forma de incrementar o grau de modernização das empresas industriais portuguesas e reduzir os custos dessa modernização é aproximar as universidades e os centros de investigação das empresas industriais, de forma a facilitar e acelerar a transferência de tecnologia e a aplicação do conhecimento. Outro fator inibidor da melhoria da produtividade é a denominada economia paralela ou informal, uma vez que ainda subsistem muitas empresas que a usam como fator de competitividade, deteriorando a capacidade concorrencial de empresas mais organizadas, produtivas e cumpridoras das regras estabelecidas. Para além das empresas que operam na economia paralela, existem ainda distorções à normal concorrência na economia formal, devido à existência de empresas que incumprem de forma sistemática as regras de operação e que não são punidas atempadamente.  
  • 13. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 13 Alemanha 6,00 8,43 Portugal 5,99 4,97 Alemanha 25,98 11,42 Portugal 18,61 10,09 Os custos com a energia ocupam um lugar cimeiro nas preocupações das empresas industriais Os custos com energia representam um peso enorme e crescente para a generalidade das empresas, tanto pelo impacto direto dos custos nas receitas, como pelo enfraquecimento da competitividade face a concorrentes globais, com acesso a energia mais barata. Este problema pode significar, num futuro próximo, a inviabilidade de algumas das empresas que exercem atualmente a sua atividade em áreas onde o custo da energia é muito relevante. Para além dos custos da energia serem elevados devido à carga fiscal e à necessidade de recuperar os défices tarifários, as notícias para o futuro são ainda menos animadoras para a indústria portuguesa, uma vez que com a liberalização do mercado da eletricidade e do gás, o défice tarifário será imputado a todos os consumidores. Assim, não será possível discriminar entre particulares e empresas, o que acarreta um aumento da já pesada fatura energética das empresas industriais portuguesas e, logo, uma maior degradação da nossa competitividade. Acresce a este problema o desincentivo ao investimento em cogeração. É possível verificar que Portugal não tem os custos de energia mais elevados da UE. Contudo, o grande problema é que, para a indústria portuguesa, os custos de energia são muito elevados e superiores aos custos de concorrentes diretos, como as empresas industriais espanholas. Combustíveis Valores em Euros por litro Nota: Os preços apresentados não incluem IVA República Checa Espanha Média EU Alemanha Dinamarca Portugal 1,709 1,499 1,667 1,653 1,482 1,479 1,555 1,464 1,479 1,392 1,435 1,424 Gasolina sem chumbo 95 Gasolina Diesel Gás natural Cêntimos de Euro por kWh Espanha Dinamarca República Checa 5,45 4,19 11,14 3,77 5,33 3,68 Eletricidade Fonte: Europe’s Energy Portal - http://www.energy.eu/ Nota: Os preços apresentados não incluem os impostos dedutíveis (por exemplo: IVA) Dinamarca Espanha República Checa 14,87 9,99 19,49 9,93 30,22 9,77 Doméstico Indústrial Cêntimos de Euros por kWh
  • 14. 14 PwC Acresce a este facto a preocupação resultante das movimentações internacionais relativamente a este tema. O caso do shale gas nos EUA pode significar uma reviravolta no panorama competitivo internacional. Se os EUA, que também estão a passar por um processo de relançamento da sua indústria, conseguirem ter energia muito mais barata do que a Europa, poderá ser possível existir uma deslocalização de empresas industriais para o seu território. Daqui pode resultar uma alteração da atual posição competitiva dos diferentes players internacionais. A logística é estrutural. O transporte é maioritariamente rodoviário Atualmente, os custos com a logística são também uma preocupação das empresas exportadoras portuguesas. O problema da logística é estrutural e começou a sentir-se com as alterações verificadas recentemente no panorama económico português. Até ao início do período de ajustamento, Portugal era um país mais importador do que exportador e a tipologia das infraestruturas logísticas está adaptada a essa realidade passada. Com o início do período de ajustamento, a realidade do país alterou-se e Portugal começou a exportar mais do que importa, o que se revelou benéfico para a balança de transações correntes, mas trouxe problemas de adequação das infraestruturas de suporte. Em Portugal, a opção logística mais dinamizada é a do transporte rodoviário, uma vez que é o tipo mais adequado para as importações provenientes dos países europeus, mas que coloca Portugal na periferia quando pensamos em exportar, representando, por vezes, uma fatura pesada para as empresas exportadoras. Quando Portugal importava mais do que exportava, pagava um custo marginal dos fretes de exportação, uma vez que aproveitava o regresso dos camiões que transportavam as mercadorias para Portugal. No cenário atual, Portugal exporta mais do que importa, pelo que, o custo do frete de transporte subiu significativamente. Tendo como objetivo uma posição estratégica central para exportar para os principais mercados mundiais, os meios mais adequados são o marítimo e o ferroviário. Atualmente, o meio ferroviário não está capacitado para constituir um elemento dinamizador e facilitador das exportações portuguesas pelo seu nível de desadequação, nomeadamente a nível das linhas férreas. Por outro lado, as infraestruturas de suporte à exportação por via marítima padecem de problemas relacionados com os seus processos e com a sua organização, que geram ineficiências onerosas para as empresas industriais que pretendam usar estes meios. Por exemplo, as empresas industriais que pretendam exportar por via marítima, a partir de Portugal, têm de incorrer em custos de desalfandegagem que passam por ter camiões imobilizados nas suas fábricas à espera que os funcionários da alfândega procedam à desalfandegagem. Por outro lado, têm que incorrer em custos relativos à mobilização de contentores, tanto nas suas instalações (para transporte dos produtos a exportar) como nos camiões (para percorrerem os portos portugueses e levarem os contentores vazios para as instalações industriais). Para além destes exemplos, existem ainda os custos inerentes à utilização dos portos, que são mais elevados do que na generalidade dos portos da UE. Produtividade e custo dos fatores
  • 15. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 15 Os atuais processos de licenciamento são inibidores Outro custo que não deve ser descurado é o custo relativo ao licenciamento industrial em Portugal e a toda a burocracia em que as empresas se veem envolvidas para iniciar e manter a sua atividade. Estes processos em Portugal são um inibidor do investimento e representam custos elevados para as empresas, tanto ao nível dos custos diretos dos processos, como também do tempo perdido e consequente perda de receitas pela inatividade nesse período. Estes fatores, assim como o problema do atraso na chegada ao mercado devido à morosidade dos processos, é mais um entrave à competitividade da indústria portuguesa. A morosidade dos processos de licenciamento e as duplicações, são um entrave à competitividade da indústria portuguesa.
  • 16. 16 PwC Por exemplo, quando comparamos os atuais processos legais de avaliação de impacto ambiental com os processos de obtenção de licença ambiental, ambos apresentam muitas similaridades. No entanto, estes procedimentos têm de ser feitos em separado, através de diferentes interlocutores e com prazos distintos, o que gera obvias duplicações e ineficiências. Novas dinâmicas de financiamento para implementar os projetos Os custos financeiros são mais um dos problemas atuais das empresas industriais portuguesas. A generalidade das empresas portuguesas apostou numa estrutura de capital muito alavancada, aproveitando décadas de crédito barato. Muitas das empresas que recorreram a este mecanismo de financiamento das operações não têm agora facilidade em substituir o financiamento bancário por outras formas de financiamento das operações. No cenário atual, as empresas portuguesas são penalizadas pelo risco da República Portuguesa e, por isso, pagam um prémio de risco superior ao que pagaram nos últimos anos. Para além de este facto pesar na demonstração dos resultados, é mais uma agravante da nossa competitividade, pois as nossas empresas competem com empresas de países com menor risco e, consequentemente, com acesso a financiamento menos oneroso. Taxas de juro para novas operações em Portugal Nota: Taxas de juro médias para novas operações: empréstimos a empresas não-financeiras 2003 6,18% 3,89% 3,53% 3,74% 4,34% 5,24% 5,94% 3,34% 3,77% 5,34% 5,44% 5,69% 5,75% 6,24% 7,05% 7,54% 5,71% 5,43% 6,90% 7,08% 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Até 1M€ Mais de 1M€ Fonte: Banco de Portugal Produtividade e custo dos fatores
  • 17. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 17 Outro dos problemas que as empresas industriais enfrentam, principalmente as PMEs, e que é necessário resolver, é a dificuldade em obter garantias bancárias e seguros de crédito. Para que seja possível concretizar novos projetos industriais (novos investimentos ou modernização de estruturas já existentes) é necessário ter capital próprio, uma vez que o acesso à divida é hoje bastante limitado, sobretudo em projetos com maior risco. É assim fundamental, para que os projetos avancem, obter capital através dos acionistas ou parceiros, nacionais ou estrangeiros. Por outro lado, não sendo uma substituição dos mecanismos de dotação de capital, é necessária disponibilidade de crédito a conceder às empresas. Existem empresas que não estão a conseguir financiar-se, nomeadamente PMEs, com níveis de risco que não são atrativos para a banca. É, nesta área, importante o apoio do Governo na criação de mecanismos para mitigar este problema, através da criação de um banco Principais conclusões 1. A indústria portuguesa tem de ser mais competitiva. Para tal, é necessário investimento em tecnologia, organização operacional e métodos de trabalho. 2. Muitas empresas industriais ainda necessitam de aumentar significativamente a sua competitividade, nomeadamente através do upgrade dos seus fatores internos, como por exemplo os métodos de trabalho. 3. O custo da mão-de-obra é um dos fatores menos relevantes para a indústria portuguesa, embora a legislação laboral deva ser adaptada às necessidades deste setor. 4. Os custos com a energia representam a principal preocupação ao nível dos custos, para a generalidade das empresas industriais em Portugal. Ao cenário atual somam- -se as más notícias para o futuro, que podem, não só pôr em causa o relançamento da indústria como setor de relevância no país, como também a viabilidade de muitas empresas atuais. 5. A questão logística é também uma preocupação porque os custos são elevados e, principalmente, porque as condições logísticas do país não estão adaptadas às reais necessidades das empresas exportadoras. 6. O Governo pode ter aqui um papel fundamental, reorganizando e dinamizando as infraestruturas de suporte à exportação. 7. O licenciamento e demais processos exigidos são também fatores identificados como inibidores do desenvolvimento industrial. 8. Também aqui, o Governo pode ter um papel decisivo na resolução deste problema, posicionando-se como entidade facilitadora e redefinindo os processos de modo a servirem a atividade industrial e as suas necessidades. 9. Para tornar possíveis os projetos industriais é necessário capital, tanto pela via da dotação de capital, como pela via do acesso ao financiamento. Na generalidade, os projetos industriais em Portugal precisam de um reforço de capital próprio, que pode ser realizado através da entrada de novos investidores (incluindo “private equity”), mas também através de políticas mais prudentes de autofinanciamento. 10. É necessária estabilidade para se avançar com o relançamento da indústria em Portugal. São necessários pactos de regime para as matérias de fundo, com especial relevância para a estabilidade fiscal, e é necessário traçar- -se, como no passado, um caminho para a indústria e uma estratégia para a economia portuguesa como um todo. de fomento, da atribuição dessa função à Caixa Geral de Depósitos ou por via da criação de programas de incentivos coordenados com os bancos privados. Todos os problemas anteriormente mencionados são graves para a sobrevivência e desenvolvimento da indústria portuguesa. Contudo, existe um problema que não é menos grave – a incerteza. Com base na incerteza não é possível fazer planos credíveis para o futuro e isso traduz-se no receio de investir em Portugal e no desvio do investimento para outros destinos mais estáveis. Seria uma grande ajuda para o desenvolvimento da indústria em Portugal se existisse estabilidade e um pacto de regime sobre as matérias de fundo, nomeadamente a fiscalidade, para que, independentemente das alterações ou dos ciclos governativos, as linhas-mestras se mantivessem estáveis e os investidores, empresários e trabalhadores, soubessem com o que podiam contar.
  • 18. 18 PwC A inovação na indústria portuguesa (Saber) valorizar o conhecimento existente! Portugal encontra-se bem posicionado no que diz respeito ao investimento das empresas em Investigação e Desenvolvimento (I&D), contudo os resultados, ou seja, a criação de valor pelo desenvolvimento de novos produtos/ serviços (Inovação), têm ficado aquém das expectativas, tendo em conta o investimento realizado. Urge portanto, identificar onde atuar no processo de inovação empresarial e como a indústria portuguesa pode e deve valorizar o seu ativo mais importante: o conhecimento! Apesar de bem posicionados em I&D, os investimentos ainda não valorizam o conhecimento adquirido.
  • 19. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 19 16ºPortugal já atingiu algumas metas europeias, posicionando-se no 16º lugar do ranking do “Innovation Union Scoreboard 2011”.
  • 20. 20 PwC Innovation Union Scoreboard 2011 País Índice sintético de Inovação (UE35) Índice sintético de Inovação (UE27) Financiamento e Apoio Investimento das Empresas Linkages e Empreendedorismo Inovadores Despesas em I&D Público (% do PIB) Capital de Risco (% do PIB) Despesas em I&D das empresas (% do PIB) PME a inovar in-house (% das PME) PME inovadoras em colaboração com outras (% das PME) Publicações publico- privadas (por milhão de habitantes) PME que introduziram inovações de produtos ou processos (% das PME) PME que introduziram inovações de marketing ou organizacionais (% das PME) Portugal 20º 16º 14º 12º 20º 10º 13º 25º 3º 8º Espanha 22º 18º 15º 13º 19º 23º 29º 22º 23º 23º Grécia 24º 20º 27º 23º 32º 13º 12º 23º 13º 3º Fonte: Comissão Europeia, Innovation Union Scoreboard (IUS) 2011 Nota: O IUS é o instrumento desenvolvido pela Comissão Europeia que, seguindo a Estratégia de Lisboa, tem o intuito de avaliar e comparar a performance dos Estados Membros na área da inovação. O IUS inclui indicadores de inovação e análises de tendêcia para os Estados Membros da UE27 assim como, Croácia, Islândia, Noruega, Sérvia, Suíça, Turquia e República Jugoslava da Macedónia. Os países como EUA, Japão, Brasil, China, India e Russia aparecem mencionados no relatório mas servem apenas de referência por serem os principais concorrentes A inovação na indústria portuguesa Nos últimos anos, graças ao esforço dos sucessivos Governos, a economia portuguesa tem vindo a aplicar mais recursos financeiros e humanos em Investigação, Desenvolvimento e Inovação. Este esforço resultou na melhoria de alguns “rankings” e de indicadores relativos à despesa, à qualificação em ciência e tecnologia e à publicação científica. Efetivamente, Portugal já atingiu algumas destas metas europeias, posicionando-se no 14º lugar do ranking do “Innovation Union Scoreboard 2011” referente às despesas de I&D Público (% do PIB) e no 20º lugar no que diz respeito ao investimento em I&D pelas próprias empresas (comparação com os 27 países da União Europeia).
  • 21. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 21 Inovação e I&D, uma relação não direta Existe ainda alguma divergência entre os conceitos em análise, nomeadamente Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDI). Por definição, todas empresas que fazem I&D são inovadoras, ou pelo menos procuram sê-lo, mas esta relação pode não ser aplicada de forma inversa, isto é, as empresas inovadoras podem não realizar qualquer I&D. O inquérito Community Innovation Survey 2008-2010 refere que das 56,4% das empresas portuguesas do setor industrial que declaram ser inovadoras, apenas 23% se envolveu de facto em atividades de I&D intramuros. Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, Inquérito Comunitário à Inovação - CIS 2010 Atividades de inovação por setor de atividade Empresas com atividade de inovação 100 80 56,4 67,0 60 40 20 0 Apesar de alguma divergência de conceitos e definições, todas empresas que fazem I&D são inovadoras, ou pelo menos procuram sê-lo. 60,8 Serviços Total Nacional Indústria Percentagem (%)
  • 22. 22 PwC A inovação na indústria portuguesa Falha na transformação do potencial de inovação em resultados relevantes A atividade de investigação pressupõe todo o trabalho criativo desenvolvido de forma sistemática para gerar conhecimento. No entanto, se o conhecimento criado não for transferido para a economia, não existe desenvolvimento económico, ou seja, não é criado qualquer valor. Neste sentido, o grande desafio de Portugal já não se prende com o investimento em I&D, mas sim com todo o processo de obtenção e valorização de resultados que possam gerar riqueza no país. A necessidade atual passa assim por medir os resultados de inovação pelas receitas geradas pelas novas patentes, ao invés do número de patentes registadas. Indicadores de IDI 7,00 5,25 3,50 1,75 0,00 Condições Recursos Processos Resultados Portugal Grécia Itália Espanha Fonte: COTEC - Barómetro Inovação - Innovation Digest 2012 (http://www.barometro.cotecportugal.pt/)
  • 23. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 23 Lamentavelmente, a este nível, Portugal apresenta um desempenho claramente abaixo do que seria de esperar. Os indicadores do “Barómetro de Inovação” da COTEC revelam que, em 2012 Portugal desceu de posição no que respeita ao estado de inovação, regressando à posição assumida em 2010. Enquadrado na categoria “cigarra”, Portugal apresentou falta de capacidade de concretização e transformação do potencial de inovação em resultados concretos e com impacto económico-social. Apesar de deter as “condições”, a dimensão “resultados” não mostrou acompanhar estes esforços, destacando-se pela negativa. O grande desafio para a economia portuguesa reside, assim, na melhoria do processo de transferência de conhecimento, académico ou empresarial, para o tecido económico, de preferência, de base empresarial, para que num contexto de mudança exista criação de valor pela introdução no mercado de produtos e serviços novos ou substancialmente melhorados. Contudo, para gerir o conhecimento de forma adequada é necessário garantir: • a captação de talento, a qualificação de capital humano e os processos de aprendizagem (aprender fazendo, usando e interagindo) como via fundamental para a inovação incremental; • um diálogo profícuo entre as escolas e meio académico e as empresas de modo a valorizar e combinar, em conjunto, o conhecimento criado por estes agentes económicos; • a implementação de processos estruturados nas empresas que permitam identificar e concretizar oportunidades de criação e, principalmente, de valorização de conhecimento, que se possam materializar em vantagens competitivas por via da inovação.
  • 24. 24 PwC A inovação na indústria portuguesa Estabelecer sinergias entre as instituições de ensino e as empresas para criar mais e melhores vantagens competitivas A captação do talento e a qualificação do capital humano, através de uma coordenação e relação eficaz entre as escolas e universidades e o setor industrial, em termos de políticas de ensino e formação, tem efetivamente vindo a assumir um papel importante no aumento da competitividade das empresas. Contudo, atrair os melhores passa também por uma necessária mudança da mentalidade dos empresários no que diz respeito ao seu envolvimento nas várias fases do ensino secundário, profissional ou superior. Considera-se que o envolvimento do setor industrial junto do ensino secundário é essencial, seja por via da participação na definição dos programas escolares ou contribuindo para o desenvolvimento e disseminação de case studies para apoio curricular em determinadas disciplinas. Desta forma, a indústria promove, não só uma perspetiva prática sobre os principais temas do setor, fornecendo algum conhecimento mais adequado aos seus futuros trabalhadores, como também intervém na promoção da sua imagem e atratividade junto de um público cujo processo formativo está cada vez mais orientado para o setor terciário. Efetivamente, se a indústria captar talento já munido de algum conhecimento prático e reforçar esse conhecimento com as ferramentas e metodologias de produção mais recentes, como o lean production, poderá ter acesso a um quadro de trabalhadores mais autónomos, motivados e criativos, logo desde a sua integração. A inovação incremental, que muitas vezes é a mais lucrativa, deve começar no shop floor, afirmam alguns empresários portugueses. Por outro lado, poucas empresas olham com atenção para o seu acervo tecnológico e conseguem fazer uma análise da rutura tecnológica que se prevê para um futuro próximo. O reforço da ligação entre o tecido empresarial e o meio académico assume- -se, a este respeito, de absoluta relevância uma vez que o conhecimento gerado na academia pode ser essencial para a criação de uma vantagem competitiva no mercado ou para ultrapassar uma barreira técnica num processo de I&D intramuros. Já as universidades, enquanto centros de investigação mais fundamental, por oposição à investigação aplicada que se pode encontrar em algumas empresas, carecem, frequentemente, de meios técnicos em ambiente industrial e sponsors para aplicação e validação das suas teses de investigação. Infelizmente, esta ligação tem sofrido de alguma inércia histórica que urge corrigir. Entre as soluções apontadas pela própria indústria, está a nomeação de mediadores exclusivos, responsáveis por estabelecer pontes de entendimento e cooperação entre as empresas e o meio académico, promovendo ainda o empreendedorismo universitário.
  • 25. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 25 Principais conclusões 1. É claramente reconhecido que a inovação é uma condição fundamental para promover a competitividade das empresas, independentemente da sua dimensão, de ser privada ou pública ou de atuar na indústria ou nos serviços. 2. A indústria em particular, pela sua necessidade de constante atualização de know-how, acompanhamento de tendências e desenvolvimento tecnológico, tem de saber potenciar o conhecimento que existe “dentro de casa” e essencialmente fora das suas instalações. 3. Portugal encontra-se bem posicionado no que diz respeito ao investimento das empresas em Investigação e Desenvolvimento (I&D). Contudo, a criação de valor (resultados) pelo desenvolvimento de novos produtos/serviços, tem ficado aquém das expectativas, tendo em conta o investimento realizado. 4. Urge portanto identificar onde se deve atuar no processo de inovação empresarial e como a indústria portuguesa pode e deve valorizar o seu ativo mais importante: o conhecimento! 5. É necessário um maior envolvimento dos empresários nos vários estágios do ensino (secundário, profissional ou superior), contribuindo com uma perspetiva mais prática sobre os principais temas do setor e captando o interesse dos alunos para uma carreira de sucesso no setor industrial. A inovação dos modelos de negócio já não é opcional, é absolutamente necessária! Outro dos grandes desafios atuais reside na perenidade do modelo de negócio da própria indústria: A indústria tradicional irá desaparecer ou terá de adaptar o seu modelo de negócio aos novos desafios económicos globais? Já existem alguns exemplos na indústria portuguesa de alterações profundas nos modelos de negócio – veja-se o caso da indústria têxtil e da indústria do calçado – que permitiram a algumas destas empresas competir no mercado global, com um posicionamento completamente diferente do tradicional, mais associado a estratégias de diferenciação e inovação de produto e de processo. Não se trata só de fazer “novas coisas”, mas também de “fazer as mesmas coisas de forma diferente”. Não obstante, a maioria das empresas portuguesas, em particular as PMEs, têm ainda um longo caminho a percorrer e necessitam de incorporar no seu “modus operandi” temas essenciais para a promoção da sua competitividade por via da inovação, nomeadamente os processos de gestão do conhecimento, a vigilância tecnológica, a inovação aberta, a geração de ideias, o desenvolvimento de novos produtos e processos, o marketing e a propriedade intelectual. Para sobreviver, o tecido industrial português deverá apostar na inovação como elemento estratégico de base, procurando antecipar tendências e potenciando o conhecimento e tecnologia ao seu alcance, dentro e fora das suas instalações fabris. Agora que a opção por baixos salários já não é uma vantagem imbatível no quadro competitivo internacional (conforme já referido no capítulo “Produtividade e custo dos fatores”) o caminho da indústria portuguesa passa por aproveitar, de forma mais eficiente, um dos recursos endógenos que Portugal ainda consegue produzir com alguma abundância: o potencial científico e técnico gerado no meio académico e no tecido empresarial.
  • 26. 26 PwC O tamanho importa? Sim! Mas para quê? A emergência das empresas portuguesas é um fator determinante da recuperação económica nacional. A questão da sua dimensão (supra) regional surge no horizonte como matéria de reflexão relativamente à capacidade das empresas para alavancarem as exportações e promoverem a sua internacionalização. Tamanho importa? Sim! Mas para quê? Trabalhar em rede gera oportunidades para a criação de valor acrescentado.
  • 27. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 27 As grandes tendências apontam para a intensificação da “networked economy” A globalização, suportada pelo avanço da sociedade de informação, tecnologia e comunicações, potenciou o repensar das estratégias dos grandes conglomerados e das grandes empresas presentes em vários pontos do globo e com requisitos e exigências locais distintas, ambos causados pelas especificidades dos mercados onde atuam e pela diversidade de produtos (e serviços) que comercializam. A necessidade de otimização da cadeia de valor e agilização da cadeia de abastecimento (antes estandardizada), acomodando exigências locais, teve como resultado a externalização de atividades, abrindo a porta à entrada de pequenas e médias empresas numa cadeia de valor outrora blindada. A oportunidade e capacidade de que hoje as empresas dispõem para trabalhar em rede, integrando sistemas e pessoas com informação real time, anywhere e anyhow/multiplataforma, veio criar organizações virtuais em que cada player tem a sua contribuição e valor acrescentado para a entrega do produto final e onde a dimensão se torna adequada à função do valor acrescentado que cada um aporta. Ou seja, o mundo global voltou a abrir a porta às PMEs.
  • 28. 28 PwC As PMEs têm um papel a desempenhar no desenvolvimento económico e industrial A agilidade a que as PMEs se permitem, constitui um elemento fulcral na dinâmica de negócios que atualmente é imposta pelo mercado às empresas. As PMEs vêm surgindo cada vez mais como componentes-chave nas interligações da cadeia de produção, incorporando valor adicional na sua intervenção. Se por um lado, a batalha da investigação, desenvolvimento e inovação na área industrial é travada no campo das grandes empresas, que dispõem de estruturas organizativas capazes de acomodar recursos qualificados e estruturas de capital e acesso a financiamento para levar a cabo com sucesso os projetos em que decidem investir, verifica-se que os níveis de empreendedorismo (e em muitos casos de inovação) apresentam-se muito mais elevados nas PMEs. De facto, encontra-se demonstrado que a capacidade de manter um espírito empreendedor no decurso dos ciclos de crescimento, desenvolvimento e maturidade dos negócios não é frequente e as organizações acabam muitas vezes por recorrer à aquisição e incorporação de PMEs em novas unidades de negócio, com o objetivo de continuar a semear a inovação nas suas estruturas. A agilidade, o empreendedorismo e a inovação determinam os níveis de valor acrescentado e rentabilidade das PMEs.   Em Portugal, e na Europa, o número de pequenas e médias empresas (PMEs) no mercado supera os 98% das empresas em atividade, com mais de 10 trabalhadores. No entanto, quando nos referimos à relação entre emprego e valor acrescentado bruto (VAB), verifica-se que as PMEs nacionais apresentam menor peso relativo no VAB do que a Áustria ou a Espanha. Dimensão das empresas por número de empregados 34,8% 20,3% 30,5% 24% 48,9% 42,9% 48,1% 5,8% 24,0% 31,1% 39,1% República Checa Espanha Áustria UE (27 países) 48,7% Portugal 33,4% 1,9% 16,1% 2,4% 13,8% 6,3% 29,1% 18,7% > 250 50-249 20-49 10-19 Fonte: Eurostat 100% O tamanho importa?
  • 29. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 29 Índice de produtividade (VAB) por empregado nas empresas de manufatura 10-19 44 38 15 17 55 46 70 56 96 79 48 28 23 33 20-49 >25050-249 Portugal Espanha Áustria República Checa Fonte: Eurostat Acresce ainda que o distanciamento (ou gap) de VAB das PMEs nacionais face às grandes empresas é muito superior em Portugal do que no restante da Europa. Quando comparado com a República Checa, Portugal apresenta melhores índices de produtividade. A diferença para a República Checa é ainda maior nas grandes empresas (>250 empregados). Problema de número de horas de trabalho ou posicionamento e produtividade?
  • 30. 30 PwC Na ausência de diferenciação, escala é chave De acordo com dados recentes da OCDE, os trabalhadores em Portugal trabalharam cerca de mais 20h/ano em média, do que os trabalhadores em Espanha, ou seja pouco mais de 0,1%. No entanto, quando comparamos a produtividade nacional por hora trabalhada com o resto da Europa, encontramo-nos consistentemente entre os países com menor índice, em alinhamento, por baixo, com o verificado na República Checa e sensivelmente a metade do verificado na Alemanha e a 2/3 do verificado em Espanha.(ver gráfico “Índice de produtividade por hora trabalhada” no capítulo 1) Não parece ser, então, o número de horas de trabalho, a causa da falta de competitividade das empresas portuguesas mas sim um problema de posicionamento, falta de diferenciação e reduzido valor acrescentado! Na falta de diferenciação e valor acrescentado relevante, a competitividade faz-se pelo custo, pelas economias de escala e, concomitantemente, adquirindo dimensão relevante para operar no mercado internacional (provavelmente de commodities). Isto é um problema para as PMEs onde, sem diferenciação, a escala se torna uma variável crítica e internacionalizar passa a requerer escala. É interessante notar que as empresas que proporcionalmente mais exportam são aquelas que se situam no escalão de 100 a 500 colaboradores, exportando perto de 50% do seu volume de negócios, e onde mais de 25% das empresas exportam mais de 75% do volume de negócios, com especial ênfase nas indústrias do papel e celulose, componentes automóveis e química (incluindo plásticos e têxteis sintéticos). Se o problema é posicionamento, falta de diferenciação e reduzido valor acrescentado, a competitividade faz-se pelo custo e pela escala. O tamanho importa? Percentagem média de exportações e EBITDA das empresas indústriais, por dimensão: Fonte: SABI; CAEs industriais; 21100 empresas; contas 2010/2011, valores médios Margem EBITDA 100% 50% 0% 10 a 19 50 a 99 >500 0% 5% 10% 15% 100 a 249 249 a 499 3%3% 4% 7% 7% 35% 15% 45% 58% 50% % Exportações Margem EBITDA Numa amostra de 21 mil empresas industriais, constata-se que a margem de EBITDA relativamente ao volume de negócios das empresas com mais de 500 colaboradores é mais do dobro da margem verificada nas empresas com menos de 50 trabalhadores.
  • 31. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 31 Principais conclusões 1. Existem 3 temas com que a indústria atualmente se debate: a) a fragilidade da sua estrutura de capitais e o acesso ao financiamento; b) a reduzida dimensão média; e c) a baixa qualificação dos seus recursos humanos e gestão de talento. Todos eles refletem e resultam do fator posicionamento, pelo que, ou se reposicionam ou ganham escala; 2. O tamanho das empresas influencia o seu “progresso” – capacidade de inovação e desenvolvimento (I&D) e empreendedorismo; 3. O acesso a financiamento e expansão para mercados internacionais é mais favorável a empresas de maior dimensão; 4. As grandes empresas registam melhores indicadores de produtividade e rentabilidade; 5. Os maiores índices de exportação verificam-se nas empresas com 100 a 500 colaboradores; 6. As PMEs apresentam fragilidades na estrutura de capitais, reduzida dimensão e baixa qualificação de recursos humanos; 7. O desenvolvimento de clusters, num ambiente de equilíbrio entre grandes e pequenas empresas, com escala, agilidade, inovação e empreendorismo, será chave na conquista de um processo de relançamento da indústria como setor de relevância no país, à escala internacional, e coloca as empresas portuguesas num patamar de competitividade elevado, nos mercados externos-alvo da sua atuação. A construção de clusters e a sua dinamização por empresas “ponta de lança” com dimensão e reconhecimento relevantes poderão constituir as alavancas necessárias para a inversão da tendência histórica negativa da balança comercial nacional. A conjugação de competências e especialização permitirá dirigir a atividade para as componentes de maior valor acrescentado, dando às PMEs a possibilidade de suprir os nichos de especialidade e de produzir pequenas séries que, muitas vezes, não são compatíveis com a estratégia, planificação da produção e custos de setup/mudança de ferramentas das grandes empresas industriais. A dinamização de clusters é o caminho para a internacionalização sustentável da economia As grandes empresas industriais são as maiores exportadoras nacionais. Por exemplo, a Autoeuropa representa sensivelmente 6% das exportações nacionais de mercadorias, incorporando componentes de várias empresas nacionais, muitas delas PMEs, sem, no entanto, deixar de lhes colocar as mesmas exigências que impõe aos seus restantes fornecedores certificados. Em rigor, as PMEs que têm relações comerciais com a Autoeuropa são elas também (indiretamente) exportadoras. Por que razão muitas delas não exportam também para os restantes fabricantes automóveis na Europa? Por produtividade, localização? Eventualmente. Mas também porque não dispõem da dimensão para lá chegarem sozinhas.
  • 32. 32 PwC O papel do Estado É imperativo rever o seu papel A concentração da atividade económica no setor terciário verificada em Portugal desde a entrada na União Europeia e a consequente redução da atividade dos setores produtivos de bens transacionáveis, fragilizaram a competitividade nacional. Adicionalmente, com a adesão à moeda única, Portugal deixou de dispor do tradicional mecanismo de desvalorização cambial para melhorar a sua competitividade. A crise financeira, em que o país está mergulhado, veio expor ainda mais as fragilidades da nossa economia, bem como a necessidade urgente de revitalização do tecido industrial português enquanto catalisador das exportações, da internacionalização da economia e da geração de emprego. 32 PwC
  • 33. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 33 É, portanto, imperativo rever o papel reservado ao Estado na criação das condições necessárias à dinamização da indústria portuguesa. Portugal ocupa a 30ª posição (em 185 economias) no ranking da facilidade para fazer negócios do relatório “Doing business 2013” do Banco Mundial. Contudo, no indicador referente ao pagamento de impostos, Portugal cai para a 77ª posição, não pela carga tributária, mas sobretudo pelo tempo despendido pelas empresas no cumprimento das suas obrigações fiscais, no qual Portugal é 23º na UE a 27 e 17º na zona euro. É, portanto, imperativo rever o papel reservado ao Estado na criação das condições necessárias à dinamização da indústria portuguesa.
  • 34. 34 PwC Tempo consumido para pagar impostos Na UE 27 (horas/ano) Na zona Euro (horas/ano) 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 59 80 93 122 130 139 156 170 202 207 260 269 277 413 85 110 127 132 147 167 175 207 216 264 275 286 454 0 Luxem burgo Espanha H olanda Rom énia Irlanda Áustria Dinam arca Eslovénia Estónia Lituania França Letónia Filândia G récia M alta Itália Polónia Reino U nido Alem anha C hipre Portugal Rep.C heca Suécia Eslováquia Bélgica H ungria Bulgária 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 59 80 93 139 156 170 202 207 260 269 85 127 132 147 167 207 275 0 Luxem burgo Alem anha M alta Irlanda Eslováquia C hipre Estónia Eslovénia Belgica Filândia Itália Espanha H olanda Portugal Áustria França G réciaNão obstante terem sido implementadas em Portugal, com sucesso, reformas com vista à simplificação dos processos de constituição e registos societários, no que diz respeito ao licenciamento industrial, os agentes do sector continuam a salientar as duplicações, o peso e a morosidade dos processos burocráticos como uma das principais barreiras ao desenvolvimento da indústria portuguesa. Na verdade, em Portugal continua a haver uma fraca coordenação entre as diferentes entidades públicas com que as empresas têm de se relacionar, o que leva a uma multiplicação dos chamados custos de contexto, consumindo recursos que deveriam ser canalizados para atividades geradoras de valor, comprometendo desta forma a competitividade das empresas e a atracão de investimento para a economia nacional. O papel do Estado As duplicações, o peso e a morosidade dos processos burocráticos, continuam a ser as principais barreiras ao desenvolvimento da indústria portuguesa. Fonte: “Doing business 2013” do Banco Mundial
  • 35. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 35 Taxa média de impostos sobre lucros Na UE 27 (percentagem) Na zona Euro (percentagem) 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 21,0 23,0 27,7 34,7 36,6 40,1 41,6 43,7 44,2 46,8 49,2 53,0 57,7 67,3 26,4 28,7 35,5 38,7 40,6 42,6 43,8 44,5 47,9 50,3 53,1 65,7 68,3 0,0% Luxem burgo Portugal Reino U nido Eslováquia C hipre Lituania Letónia Rep.C heca Irlanda Polónia Espanha H ungria Dinam arca Rom énia H olanda Suécia França Bulgária G récia Filândia Áustria Estónia Eslovénia Alem anha M alta Bélgica Itália 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 21,0 23,0 34,7 41,6 46,8 57,7 67,3 26,4 38,7 40,6 42,6 44,5 47,9 53,1 65,7 68,3 0,0% Luxem burgo Áustria Filândia C hipre Bélgica M alta Irlanda França Portugal Eslovénia Estónia G récia Espanha Itália Alem anha H olanda Eslováquia 40,1 Adicionalmente, estas entidades públicas encontram-se essencialmente centradas em atividades de verificação de conformidade com legislação e regulamentos, prestando um apoio reduzido às empresas na definição da melhor abordagem para o cumprimento das regras e a maximização de valor. No caso particular da aplicação de legislação da União Europeia este aspeto assume ainda maior relevância. É, portanto, necessário recuperar as funções das Direções Gerais enquanto entidades públicas facilitadoras da atividade das empresas que atuam em setores fundamentais para a economia, como é o caso da indústria e cujos quadros sejam preenchidos por profissionais com carreira no setor e conhecimento dos problemas que o mesmo atravessa. Também a relação das empresas com as autoridades ficais carece de melhoria. Os dados acima apresentados, sobre o tempo consumido pelas empresas em Portugal na sua relação com as entidades fiscais, são reveladores das limitações ao investimento e à realização de negócios. A solução poderá passar pela criação da figura do gestor do contribuinte, à semelhança do que já é feito pela AICEP com a alocação de um “gestor de conta” para as empresas portuguesas que querem investir no estrangeiro. Muito provavelmente, idêntico procedimento deverá ser adotado ao nível da regulamentação conexa com a indústria. Para que a revitalização da indústria portuguesa seja efetiva, é necessário que, para além da redução das barreiras existentes, sejam criados, pelo Estado, estímulos ao investimento das empresas. A indústria há muito reclama uma descriminação fiscal positiva, algo que não é permitido à luz da legislação europeia. Sendo indiscutíveis a bondade e a oportunidade desta medida, a solução poderá passar por uma negociação junto da UE no sentido da adoção de um regime de exceção que permita a aplicação de taxas efetivas de IRC mais baixas às empresas produtoras de bens transacionáveis. Nesse contexto a revitalização do DLRR (dedução de lucros retidos e reinvestidos) poderá ter um impacto muito significativo. Fonte: “Doing business 2013” do Banco Mundial
  • 36. 36 PwC A aplicação de benefícios fiscais à exportação é outra reivindicação da indústria portuguesa. Esta medida pode ser consubstanciada na redução ou eliminação de tributações autónomas em sede de IRC, mesmo que em regime temporário, para as empresas industriais portuguesas com presença (exportação ou investimento) relevante no estrangeiro. Simultaneamente, a revisão do mecanismo de crédito de imposto para reduzir a dupla tributação internacional carece de revisão, no sentido de não penalizar o investimento no exterior, o mesmo ocorrendo com a dedutibilidade das menos-valias em partes de capital ou a tributação dos estabelecimentos estáveis no exterior. Adicionalmente, é imperativo assegurar estabilidade no sistema fiscal português para que seja gerada confiança nos investidores. A turbulência criada pela crise financeira que o país atravessa, tem originado inúmeras alterações no quadro fiscal no sentido da arrecadação de receitas por parte do Estado, cuja eficácia os números mais recentes comprovam ser duvidosa, ao contrário dos efeitos negativos no investimento e no desenvolvimento da economia portuguesa. Outro aspeto fundamental da intervenção do Estado no desenvolvimento da indústria Portuguesa, passa pela diplomacia económica, nomeadamente junto de mercados de exportação. O setor reclama uma maior e melhor atuação do Estado nesta vertente através da AICEP (que já colabora em muitos dos projetos industriais) ou de uma intervenção mais direta por parte do Governo. O papel do Estado A aplicação de benefícios fiscais à exportação e a revisão do mecanismo de crédito de imposto para reduzir a dupla tributação internacional são outras reivindicações da indústria portuguesa.
  • 37. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 37 Importa salientar que, no que respeita à abordagem a mercados estrangeiros, seja com o objetivo de exportação ou enquanto mercados alvo de investimento, é fundamental que as empresas portuguesas trabalhem em rede no sentido de potenciarem sinergias. A associação de empresas neste tipo de abordagens não é prática comum em Portugal, mas é sem dúvida potenciadora de maior geração de valor, tanto por via da partilha de riscos como pela criação de escala. Essa associação deverá fazer-se através de parcerias com vista a ganhar dimensão, mas também pela associação a grandes empresas, de outras de menor dimensão que, pelas suas características, permitam uma maior integração da cadeia de valor. Por fim, fala-se muito na necessidade de revisão da legislação laboral com vista a torná-la mais flexível. Parece contudo, que o problema não está tanto na legislação laboral, mas na produtividade das pessoas, na formação das mesmas e nos estímulos que lhes são dados. O Estado tem também aqui um papel crucial, uma vez que pode e deve rever o modelo de ensino técnico e superior, no sentido de criar os incentivos necessários a que estes se adaptem às necessidades das empresas do setor industrial da nossa economia. Principais conclusões A revitalização da indústria é fundamental para a recuperação da competitividade da economia portuguesa, devendo o papel do Estado passar por criar as condições adequadas para que isso aconteça, as quais podem ser resumidas em quatro aspetos fundamentais. 1. Aperfeiçoamento da coordenação entre as diferentes entidades públicas, eliminação das barreiras burocráticas e adoção de uma postura mais colaborativa com as empresas. 2. Estabilização do sistema fiscal, enquanto elemento gerador de confiança nos investidores, incorporando fatores de discriminação positiva para as empresas produtoras de bens transacionáveis; 3. Melhoria da intervenção do Estado junto dos mercados de exportação da indústria portuguesa, quer através da atuação da AICEP, quer através da diplomacia económica exercida pelo Governo, quer ainda pela promoção de um associativismo vocacionada para operar em rede. 4. Revisão do modelo de ensino técnico e superior, no sentido de garantir que este supra as necessidades da indústria. É fundamental que as empresas portuguesas trabalhem em rede no sentido de potenciarem sinergias.
  • 38. 38 PwC O valor social da indústria Pilar fundamental do modelo económico-social A indústria está a reassumir uma posição relevante na agenda política enquanto pilar fundamental de sustentabilidade do modelo económico-social, assistindo- se ao desenvolvimento de programas de apoio ao setor industrial destinados a reforçar a competitividade do setor. Neste contexto, a indústria tem um potencial significativo de contribuir para o crescimento sustentável e para a criação de emprego, alinhado com os interesses dos trabalhadores e cidadãos afetados pelo negócio e salvaguardando o ambiente. O sucesso desta estratégia depende da capacidade de se ultrapassarem os vários desafios que se colocam, entre os quais se encontram a melhoria da imagem do setor, a qualificação da gestão e dos recursos humanos e a ligação entre o ensino e a indústria. 38 PwC
  • 39. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 39 Principais eixos do valor social da indústria portuguesa: • 24% do PIB (2011); • 24% da população empregada (2010); • 833.000 empregos nas indústrias extrativa e transformadora (2011); • 320 milhões de euros por ano para melhorar o meio ambiente (2009); • apoio à comunidade local – responsabilidade social. Uma melhor reputação permite posicionar a indústria numa dimensão de confiança e transparência De uma forma genérica, a perceção social da indústria não tem sido positiva, afetando, por vezes, a reputação das empresas pertencentes a este setor. Por um lado, esta perceção deve-se à imagem das condições de segurança e trabalho e ao impacto ambiental associado. Por outro, há uma tendência para se considerar a indústria como um elemento do passado, em vez de um ingrediente-chave para o desenvolvimento futuro.
  • 40. 40 PwC Assiste-se ainda a um aumento dos requisitos ao nível da qualificação da mão-de-obra, sendo necessárias competências específicas. Neste contexto, a perceção social da indústria tem contribuído para a maior dificuldade na atração do talento, tendência que só poderá ser contrariada mediante maior informação e aproximação entre a indústria e os vários agentes: centros de ensino aos vários níveis, desde o secundário até ao universitário, Governo e comunidade em geral. Em alguns setores e empresas começam a ser desenvolvidos esforços de comunicação, muitas vezes associados às questões ambientais e sociais. Iniciativas como a colaboração no desenvolvimento de programas curriculares, a integração de casos práticos da indústria, a promoção das visitas e a participação nas feiras de emprego, bem como a apresentação às universidades, são atividades importantes para alterar esta perceção. Para além do aumento da capacidade de atração por parte da indústria, é ainda essencial que o sistema de ensino se adapte às suas necessidades, assegurando a disponibilidade de recursos humanos devidamente qualificados e em número adequado. Neste domínio são apontadas como áreas de melhoria o desenvolvimento de novos e mais adequados cursos técnico-profissionais e formação intermédia. O facto de a indústria não ter uma boa reputação prejudica o seu desenvolvimento em muitos aspetos. Se a indústria tivesse uma melhor perceção por parte dos jovens, seria mais fácil atrair talento. Por exemplo, são poucas as empresas industriais que integram os rankings de melhores empresas para trabalhar realizados em Portugal. Por outro lado, o foco empreendedor dirigir-se-ia também ao meio industrial, contribuindo para a inovação. Com uma boa reputação genérica seria ainda possível facilitar o acesso ao financiamento e a cooperação com o sistema de ensino e tecnológico. Neste contexto, a existência de um posicionamento forte e o desenvolvimento de iniciativas de promoção podem contribuir para a melhoria da reputação, para a competitividade e para o desempenho sustentável da indústria portuguesa, por via do fortalecimento da confiança e da associação a princípios de ética, transparência e responsabilidade corporativa do setor. As empresas, de forma individual ou associadas, têm também um papel importante na valorização da sua atividade e na melhoria da sua imagem, por via do envolvimento com os vários stakeholders relevantes e da comunicação e divulgação das boas práticas, da partilha de testemunhos e do maior envolvimento com os centros de ensino da sua área de influência. A qualificação de recursos humanos e o seu papel na empregabilidade do setor De uma forma geral, Portugal, tal como a Europa, têm até há poucos anos vindo a assistir a uma desindustrialização, traduzida na redução do peso da indústria, na produção e na criação de emprego (exceção feita à Alemanha e a outros países com a mesma abordagem à evolução da cadeia de criação de valor como a Holanda, Áustria, República Checa ou Polónia, onde o peso do setor industrial se tem vindo, estrategicamente, a manter). O valor social da indústria Variação anual do total de trabalhadores da indústria 4,00 2,00 0,00 -2,00 -4,00 -6,00 -8,00 EU27 Alemanha Portugal Fonte: Eurostat 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
  • 41. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 41 Finalmente, quando o tema é recursos humanos com menores qualificações, as suas capacidades de trabalho são reconhecidas e essenciais, sendo, por isso, importante a criação de mecanismos para o desenvolvimento das qualificações e competências necessárias para o desempenho das várias funções no processo de relançamento da indústria como setor de relevância em Portugal. A criação de processos de reconhecimento específicos para determinadas funções, pode ser uma solução e um contributo importante nesta matéria. Como pode a economia do conhecimento e desenvolvimento sustentável influenciar o relançamento do setor industrial? A política industrial sustentável da União Europeia, integrada na estratégia de crescimento Europa 2020, foca-se explicitamente nas oportunidades do crescimento sustentável e na criação de emprego, em paralelo com a transição para uma economia de eficiência de recursos transversal à indústria como um todo. Principais conclusões 1. A indústria portuguesa não tem ainda boa reputação, em termos ambientais e de condições de trabalho, de inovação e de remunerações. Tal prejudica a capacidade de atração e retenção do talento, o acesso ao financiamento, a capacidade de inovação e a participação em iniciativas políticas. 2. A indústria tem um papel importante na melhoria desta perceção, por via do maior envolvimento e comunicação com os principais agentes: empresas, associações, centros de ensino e inovação e administrações públicas. 3. O papel do Governo é decisivo para potenciar a marca Portugal perante os investidores, organismos internacionais e entre os próprios cidadãos e comunidade. Neste contexto, o relançamento do setor industrial em Portugal deve alinhar-se com esta estratégia, apostando na competitividade internacional, nomeadamente através de uma aceleração da transição para uma economia do conhecimento, tecnológica e verde. O combate às alterações climáticas e o aumento da eficiência de recursos permitem obter reduções de custos e do impacte ambiental, através de uma melhoria do consumo de energia e de recursos. Esta conclusão é sobretudo relevante para as indústrias consumidoras intensivas de energia. É necessário promover o investimento em processos produtivos assentes em eficiência carbónica, permitindo às empresas aumentar a sua competitividade e diminuir a sua dependência dos preços de energia. A economia verde deve também ser analisada na perspetiva do que poderão ser as vantagens da utilização de recursos locais, ao nível do desenvolvimento local, da redução de custos de logística, da fixação de população, etc. Adicionalmente a estes benefícios, o aproveitamento de oportunidades de negócio por via da oferta de produtos orientados para menores consumos de energia ou recursos naturais, com maior eficiência, pode contribuir também para a recuperação da crise e fortalecimento da notoriedade internacional das empresas. 4. É essencial que o sistema de ensino se adapte às necessidades da indústria, assegurando a disponibilidade de recursos humanos devidamente qualificados e em número adequado. 5. O relançamento do setor industrial em Portugal deve alinhar-se com a estratégia Europa 2020, apostando na competitividade internacional, nomeadamente através de uma aceleração da transição para uma economia do conhecimento, tecnológica e verde.
  • 42. 42 PwC Localização e internacionalização Uma questão de geografia ou de geopolítica? A estratégia de reversão da balança comercial nacional impõe o forte crescimento das exportações de bens transacionáveis (e do Turismo, que se encontra ausente da presente análise). Embora a União Europeia, e em particular Espanha, se tenha constituído como o parceiro comercial tradicional da indústria portuguesa, as relações comerciais com Angola, Brasil, Moçambique, Marrocos, EUA e China têm vindo a intensificar-se. Neste quadro de alteração do peso relativo das relações comerciais surge a questão da localização e dos acordos comerciais e políticos entre Estados. Uma questão de geografia ou de geopolítica? 42 PwC
  • 43. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 43 Internacionalização é vetor de sucesso das empresas nacionais a par da dimensão, produtividade e capacidade de inovação O esforço de internacionalização da indústria portuguesa, primeiro como reação à retração da economia nacional e depois como componente estratégico de desenvolvimento, num misto sequencial de estratégias defensiva e de ataque, tem-se apresentado crucial para a sobrevivência e sucesso das empresas nacionais. O esforço de internacionalização tem-se apresentado crucial para a sobrevivência e sucesso das empresas nacionais.
  • 44. 44 PwC Percentagem média de exportações por localização (empresas industriais, por dimensão) > 500250 a 499100 a 24950 a 9910 a 49 29% 23% 21% 19% 25% 71% 77% 79% 81% 75% União Europeia Não União Europeia Fonte: SABI; CAEs industriais; 21100 empresas; contas 2010/2011, valores médios De facto, quando analisada uma base de 21100 empresas industriais, identifica-se que mais de 40% efetuaram algum tipo de exportação em 2011, sendo que no grupo de empresas com mais de 50 colaboradores esta proporção sobe para mais de 75%. Como referido, a internacionalização é acompanhada por dimensão, produtividade e capacidade de inovação. Dimensão, para lidar com as especificidades exigidas pelos vários mercados e pelos próprios desafios que os custos de contexto continuam a colocar às empresas que se pretendem exportadoras e internacionalizadas. Produtividade e capacidade de inovação, para conquistarem competitividade. Curioso é, no entanto, notar que são as empresas de menor dimensão (até 50 colaboradores) que mais têm contribuído para uma maior diversificação dos nossos mercados de exportação, com consequente redução da dependência da União Europeia. De facto, são muitas as empresas de menor dimensão que têm procurado nichos onde se apresentem competitivas, em mercados como Marrocos, Angola, Moçambique ou Brasil, alavancando, no caso destes últimos, a ligação cultural e facilidade linguística que nos aproxima. A indústria nacional debate-se ainda com vários desafios, desde o acesso ao crédito, a informação sobre o mercado e parceiros comerciais e até mesmo ao nível da adaptação das suas operações às diferentes exigências dos diferentes mercados (para além da capacidade de lidar com os procedimentos logísticos, linguísticos e culturais desses mesmos mercados). Estes desafios necessitam ser ultrapassados, o que, no caso das empresas de menor dimensão, poderá requerer a sua associação em clusters e a empresas de maior dimensão, a par de um maior apoio do Estado na eliminação dos constrangimentos administrativos e no apoio à obtenção de informação de mercado de qualidade, nomeadamente através da transformação da rede de embaixadas, consulados e delegações da AICEP em centros de negócios e de business intelligence. Localização e internacionalização
  • 45. Principais desafios da indústria em Portugal 2013 45 A centralidade atlântica só existe com integração logística continental europeia Portugal não beneficia da centralidade europeia continental da Alemanha ou França que movimentam mais de 300 mil milhões de euros em operação logística, os quais fazem o spill over para as economias belga, holandesa e, inclusivamente, checa, nuns casos para acesso marítimo e no último para acesso a mão-de-obra a custos competitivos, só aproveitável como resultado de uma eficiente rede de transportes ferroviários entre estes países. De facto, processos de internacionalização ou captação de investimento direto estrangeiro têm na generalidade objetivos de expansão da base de mercado, acesso a recursos naturais endógenos (na generalidade fósseis), acesso a fatores produtivos a menor custo (mão de obra ou energia barata) ou acesso a know-how especializado de difícil importação. Neste quadro, apenas resta a Portugal a criação de fatores de competitividade com base na eficiência (e consequente menor custo) e capacitação de know-how especializado, alavancado nas relações políticas, culturais e económicas no contexto geopolítico de atuação e integração Europa-CPLP, de onde se vêm destacando, embora por diferentes razões, o Brasil, Angola e Moçambique. A ligação Europa-África-Brasil, no quadro de desenvolvimento da CPLP enquanto união económica e não apenas linguística e cultural e da qual Portugal pode ser um ator relevante, tem sido o caminho percorrido por várias empresas (maiores e menores) no seu processo de internacionalização. No entanto, este desígnio de centralidade atlântica (almejada política ou economicamente) não é passível de ser atingido sem uma forte integração continental europeia. A construção de uma plataforma giratória logística de bens industriais de forte dinâmica comercial entre estas regiões requer a eliminação de custos de contexto e barreiras administrativas e aduaneiras, a par de um modelo fiscal competitivo que potencie a promoção de Portugal como porta de entrada e saída de bens industriais transacionáveis. A integração da rede de transportes, não só física, mas também lógica, dos seus modelos operativo, de funcionamento e de relacionamento laboral e sindical torna-se igualmente determinante neste processo. A centralidade atlântica de Portugal depende, assim, para além da opção pela revitalização do setor industrial na economia nacional e geração de fatores de competitividade e diferenciação que nos permitam posicionar na economia global, da criação de uma rede integrada e eficiente de transportes marítimos, operações portuárias e ligações ferroviárias que nos aproximem rapidamente e a custos competitivos, da Europa, de África e do Brasil… e também da Ásia. Principais conclusões 1. A internacionalização encontra-se na agenda estratégica das empresas industriais nacionais; 2. As PMEs têm contribuído para a diversificação dos mercados de destino das exportações; 3. A dimensão e competitividade continuarão a ser fatores chave para o desenvolvimento da indústria portuguesa; 4. A eliminação de barreiras administrativas e aduaneiras ao comércio internacional, a par da redução de custos de contexto dos processos de internacionalização, é crucial para a criação de uma plataforma internacional de comércio em Portugal; 5. A centralidade atlântica apenas será conseguida através de uma eficiente integração de logística portuária e ferroviária, num quadro de relacionamento geopolítico entre Portugal e Europa/África/Brasil.
  • 47. Principais contactos Para informações adicionais sobre os conteúdos da presente publicação, por favor contacte: Hermínio Afonso Sócio responsável pelo setor de Industrial Manufacturing e líder deste projeto +351 225 433 000 herminio.afonso@pt.pwc.com José Pereira Alves Territory Senior Partner +351 213 599 405 jose.alves@pt.pwc.com António Correia Deputy Senior Partner +351 225 433 127 antonio.correia@pt.pwc.com Para informações acerca da metodologia de Research, por favor contacte: João Rui Baptista Research & Analysis Manager +351 213 599 344 joao.rui.baptista@pt.pwc.com
  • 48. Esta comunicação é de natureza geral e meramente informativa, não se destinando a qualquer entidade ou situação particular, e não substitui aconselhamento profissional adequado ao caso concreto. A PwC não se responsabilizará por qualquer dano ou prejuízo emergente de decisão tomada com base na informação aqui descrita. © PwC 2013. Todos os direitos reservados. PwC refere-se à PwC Portugal, constituída por várias entidades legais, ou à rede PwC. Cada firma membro é uma entidade legal autónoma e independente. Para mais informações consulte www.pwc.com/structure. www.pwc.pt Este documento foi impresso em papel composto de 100% fibras recicladas post-consumo e homologado com diferentes certificados ambientais.