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GESTÃO & TECNOLOGIAS 
O espaço obeya e o quadro kamishibai 
Nomes complicados designam métodos simples para a gestão diária 
das operações lean 
Gerir o dia-a-dia de uma empresa não é tarefa fácil, principalmente em 
ambientes dinâmicos e que têm de responder a frequentes alterações do 
mercado. Quando a informação está dispersa e se torna decisiva a rápida 
tomada de decisões, dispor de um local para avaliar a situação e decidir o 
que fazer pode marcar a diferença entre o sucesso e o fracasso. Esse 
local responde pelo nome de obeya e é nele que se acompanha os desafios 
do dia-a-dia nas empresas. 
Garantir a manutenção de padrões nos locais de trabalho é fomentar a 
melhoria contínua do desempenho, é criar hábitos de excelência em todos 
os colaboradores e promover a partilha de conhecimento por todos. Isto 
consegue-se com a ajuda preciosa dos quadros kamishibai, uma das peças 
encontradas nos espaços obeya. 
cadeias) para rápidas e frequentes reuniões onde as pessoas-chave 
do genba se encontram para acompanhamento dos planos, resolu-ção 
de problemas (ex. de qualidade ou de manutenção), alterações 
de planos e outros assuntos. 
A figura que se segue apresenta um layout de um espaço obeya. 
Texto: Eoão Paulo Pinto [CLT Services 2014] 
O ESPAÇO OBEYA 
Obeya é mais um termo de origem 
Japonesa. Este em particular signi-fica 
“o grande espaço” (tradução do 
inglês: “big room” ou “war room”). 
Obeya é um espaço visual, é uma 
sala (ou quarto, ie room) no genba 
onde as pessoas se reúnem para 
acompanhar o desenrolar das ope-rações, 
resolvem problemas e moni-torizam 
o desempenho. 
A ideia por detrás do espaço obeya é 
simples: dedicar tempo e espaço para 
a coordenação e a resolução de pro-blemas 
para que as barreiras nas 
organizações sejam minimizadas. 
Não conte encontrar neste espaço 
sumptuosos sofás onde as pessoas se 
sentam e falam sem limites de tempo, 
este é antes de mais um ponto de 
encontro (por norma sem mesas e Figura 1 – Configuração típica de um espaço obeya 
TECNOMETAL - 214 - setembro/10 outubro 2014
GESTÃO & TECNOLOGIAS 
Como se pode ver pela figura anterior, neste espaço estão os prin-cipais 
elementos para a tomada de decisão, para a rápida tomada 
de conhecimento do ponto em que as operações e os projetos no 
genba se encontram. Outro importante argumento a favor destes 
espaços é a possibilidade de retenção do conhecimento e das expe-riências, 
quer seja pela criação de novos padrões ou pela atualiza-ção 
dos existentes. 
A existência dos espaços obeya ajudam a resolver muitos dos pro-blemas 
encontrados nas áreas operacionais (e note-se que este con-ceito 
não tem apenas aplicação nos setores produtivos, podendo 
ser aplicado nas áreas de serviços ou em estaleiros). Problemas 
esses dos quais se destacam: 
Não incorporação da “voz do cliente”, ie VOC; 
Falta de adesão das pessoas aos padrões (por desconheci-mento, 
por não serem aplicados ou havendo desleixo nas che-fias 
na sua adoção); 
Visão fragmentada do “todo” (ou total ausência dessa visão); 
Falta de sincronização entre os principais agentes no genba 
(ex. produção, qualidade, engenharia e manutenção); 
Os planos tendem a não refletir a realidade do genba e as 
necessidades do cliente; 
Os problemas tendem a ser tardiamente identificados; 
As mudanças na constituição das equipas originam perda de 
conhecimento e de experiências. 
Para responder a estes problemas, a abordagem seguida num 
espaço obeya é composta por cinco passos: 
1. Visualizar as operações para identificar os problemas/oportuni-dades; 
a. A “visualização” é o elemento-chave do obeya pois neste 
espaço as paredes estão “cobertas” com representações 
visuais (ex. planos, esquemas, quadros yamazuki, quadro 
kamishibai, diagramas e métricas) que permitem à equipa rapi-damente 
tomar conhecimento do que se passa; 
b. A reunião no espaço obeya poderá acontecer diariamente de 
modo que cada equipa possa sincronizar as suas atividades e 
lidar com os problemas antes que estes comprometam os obje-tivos 
da empresa; 
c. As reuniões diárias deverão ter duração inferior a 15 minutos 
(flash meeting) e nelas cada participante atualiza os seus pro-gramas 
e indicadores, define os objetivos para o dia e partilha 
os problemas enfrentados; 
d. Além de reuniões diárias, o obeya poderá ser ocupado sempre 
que algum problema ou desvio o justifique; 
e. A Toyota usa o espaço obeya para conceber produtos e gerir 
projetos. As reuniões são lideradas pelo chefe de Engenharia e 
os restantes elementos da 
equipa são representantes de 
diferentes setores-chave (ex. 
investigação, desenvolvimento, 
engenharia, qualidade, marke-ting, 
entre outros). O chefe de 
Engenharia fornece uma defini-ção 
clara do projeto, garante 
que os programas são seguidos 
e as datas de entrega são res-peitadas 
sem comprometer a 
qualidade e/ou segurança e faz, 
ainda, a coordenação da reso-lução 
de problemas à medida 
que surgem. 
2. Reagir de imediato – sempre que 
algum problema ou desvio signifi-cativo 
ocorrer a “corda é puxada” 
e o processo é interrompido para 
evitar que o problema se propa-gue 
a outras áreas; 
3. Resolver os problemas um-a-um – 
após as reuniões flash os proble-mas 
identificados são priorizados e 
inscritos no quadro de resolução 
de problemas. O leitor mais atento 
já terá percebido que o espaço 
obeya e este quadro de resolução 
de problemas, em particular, 
baseia-se no ciclo PDCA; 
4. Melhorar os padrões de trabalho – 
os membros das equipas traba-lham 
em conjunto para a resolu-ção 
de problemas. Resultado 
disso, novos padrões de trabalho 
poderão ser desenvolvidos ou 
ocorrer a atualização dos atuais; 
5. Registar as boas práticas – o 
registo de boas práticas garante 
que o conhecimento e a experiên-cia 
gerada não se perde e é a 
todos acessível. 
O obeya é um espaço de comunica-ção 
e de partilha, o local onde o 
líder se encontra com os restantes 
membros da equipa para acompa-nhamento 
de projetos e de opera-ções. 
É um local propício para o 
desenvolvimento da atividade cere-bral 
e para a manifestação de lide-rança 
por parte dos senseis. 
TECNOMETAL - 214 - setembro/outubro 2014 11
GESTÃO & TECNOLOGIAS 
Figura 2 – Exemplo de um quadro yamazuki. Este serve para fazer o nivelamento da carga de trabalho por operador 
Existem dois tipos de espaços obeya: 
Obeya para projetos (ex. 
desenvolvimento de um novo 
produto ou serviço) – após a 
conclusão do projeto de desen-volvimento 
o espaço é desman-telado; 
Obeya operacional (sendo os 
mais comuns em empresas 
industriais) – destinados a 
acompanhar as operações, 
focalizados na resolução de 
problemas, na eliminação dos 
obstáculos aos fluxos, etc.; 
O papel do líder: 
Define os targets iniciais; 
Mantém a disciplina; 
Gere as questões prioritárias; 
Garante que as ações são as 
necessárias para alcançar os 
targets definidos; 
Avalia a carga de trabalho de cada membro da sua equipa e 
faz o balanceamento da mesma, se necessário; 
Garante a participação de todos e desenvolve as competências 
e o conhecimento da equipa. 
O papel de cada membro da equipa: 
Fornece feedback sobre a execução das tarefas/ações; 
Apresenta soluções para resolver problemas ou ultrapassar as 
dificuldades; 
Apoia na definição das atividades/ações para alcançar os tar-gets; 
Colabora na resolução de problemas e na identificação de 
contramedidas; 
Colabora com os restantes membros para promover a coesão 
da equipa. 
O espaço obeya é o confessionário das operações ou dos projetos, 
é o local onde se diz a verdade sobre o que se passa no genba e se 
sincroniza com as alterações de mercado. É um espaço que pro-move 
a comunicação (pois é visual e não tem paredes, muitos nem 
mesas têm) e a partilha. É um ponto de conexão entre a execução e 
o planeamento (hoshin) e de integração com os quadros de acom-panhamento 
e/ou informação (andon) existentes no genba. 
TECNOMETAL - 214 - setembro/12 outubro 2014
GESTÃO & TECNOLOGIAS 
QUADRO KAMISHIBAI 
De acordo com o site www.wikipedia.org o termo Japonês “kamis-hibai” 
significa literalmente “imagem-história”, ou seja, uma forma 
de contar histórias desenvolvida no século XII no Japão e usada 
pelos monges para transmitir lições de elevado conteúdo moral às 
populações mais iletradas. As “histórias” eram contadas através de 
imagens impressas em cartões. 
Como parte do sistema de produção da Toyota, os quadros kamis-hibai 
são usados como controlos visuais na realização de auditorias 
(visitas ou verificações) aos processos de fabrico. Estas auditorias 
são preconizadas pelos gestores ou chefes de equipa. 
Dentro das ferramentas visuais (ex. os quadros andon, as visitas ao 
genba, ou genba walks, ou ainda os processos de comunicação nas 
mudanças de turno) que suportam um local de trabalho orientado à 
cultura lean thinking, o sistema kamishibai é dos menos populares. 
O sistema é simples (bem mais que o nome) mas do ponto de vista 
da disciplina não é um sistema para iniciados no lean. O sistema 
kamishibai é particularmente aconselhado para os gestores que 
querem por em prática o genchi genbutsu (ie, “vai e vê por ti o que 
realmente se está a passar no genba”) mas não estão seguros 
quanto à organização do seu dia de trabalho ou mesmo sobre o 
que fazer quando estiverem lá no genba (a verdade é que muitos 
não põem lá os pés e outros uma vez lá não sabem o que fazer e 
rápido regressam ao conforto do seu gabinete). 
O sistema kamishibai formaliza, prioriza e programa as visitas (checks 
ou auditorias) ao shop floor. É um sistema simples de implementar, é 
visual e flexível e garante que as verificações são realizadas. 
A utilidade de um sistema kamishibai 
O grande propósito do kamishibai não é apanhar as pessoas no 
genba a fazer as coisas incorretas. Antes de avançar para este sistema 
a empresa precisa garantir que a 
cultura do “porquê” já substitui a do 
“quem errou?”. Para o gestor, a 
grande utilidade do kamishibai é 
treinar os seus olhos para identificar 
os problemas (ie, os desvios do 
padrão), identificar oportunidades e 
ensinar os outros a resolver os pro-blemas 
ou a aproveitar as oportuni-dades. 
Por outras palavras, a fiel e 
sincera realização das auditorias é 
tão importante como o resultado 
das mesmas. Como referido antes, o 
propósito não é encontrar falhas, 
embora os problemas devam ser tor-nados 
visíveis, mas sim criar o 
hábito diário de verificação. 
Como é que o kamishibai é 
usado? 
Os chefes de equipa e seus superio-res 
hierárquicos têm a responsabili-dade 
de verificar (validar) o trabalho 
dos demais colaboradores. O traba-lho 
em si bem como o processo de 
verificação deve ser baseado em 
padrões (standard work). 
As áreas de verificação devem ir além 
dos aspetos produtivos considerando 
também temas como a segurança, a 
higiene, a organização dos postos de 
trabalho, a qualidade e a manuten-ção 
(ex. rotinas da TPM). 
Figura 3 – Exemplo de um sistema kamishibai (cartões e quadro) 
TECNOMETAL - 214 - setembro/outubro 2014 13
GESTÃO & TECNOLOGIAS 
Figura 4 – Exemplo de um cartão kamishibai (frente e verso) 
O líder de equipa escolhe aleatoria-mente 
um cartão do quadro kamishi-bai, 
ver figura 3 e 4. A aleatoriedade 
é uma caraterística importante a 
manter pois evita a previsibilidade 
das verificações/auditorias por parte 
dos colaboradores no genba. Se as 
auditorias seguissem um padrão 
previsível era de prever um processo 
de antecipação por parte dos cola-boradores 
(tal como acontece com 
as auditorias externas da qualidade 
ISO9000 que por serem antecipa-damente 
marcadas estão todos trei-nados 
para responder às perguntas 
do auditor e desse modo todas as 
empresas conseguem a manutenção 
do seu “Certificado de Qualidade”). 
A pessoa que escolher o cartão lê neste as correspondentes tare-fas 
(diárias, semanais ou mensais) e vai ao posto de trabalho veri-ficar 
se as mesmas foram realizadas. Após a verificação o cartão 
é devolvido ao quadro e rodado para que visualmente se perceba 
que aquele “check” foi feito. As anomalias detetadas são anota-das 
num quadro de problemas/oportunidades para serem acom-panhadas. 
Tanto nos cartões como no acompanhamento das ano-malias 
detetadas pode usar-se um sistema de cores de forma a 
simplificar a comunicação e a redução de erros. 
O quadro kamishibai bem como o quadro de anomalias faz parte 
dos elementos encontrados num espaço obeya. 
É também possível encontrar sistemas kamishibai não aleatórios. 
Neste caso a sua abrangência territorial vai além da linha ou da 
célula de trabalho podendo envolver unidades operacionais com-pletas 
ou departamentos. Os timings dos cartões e das auditorias 
são programados e o respetivo programa faz parte do trabalho 
padrão das chefias (ou seja é uma das suas atribuições). Deste 
modo é possível saber qual a parte do tempo diário que as che-fias 
passam no shop floor. 
Com esta modalidade a aleatoriedade desaparece e o quadro 
kamishibai passa a definir as rotinas de auditoria/inspeção 
às áreas de trabalho. A sequência de recolha dos cartões passa 
a ser definida e sempre que são recolhidos são rodados para 
que visualmente se saiba que aquela “rotina” impressa no cartão 
já foi realizada. Deste modo em cada quadro a gestão poderá 
acompanhar a “onda” de execução das rotinas, ver exemplo na 
figura 5. 
No modo sequencial não existe caixa para depositar os cartões. 
Estes permanecem no quadro e a sua posição (frente ou verso, 
verde ou vermelho) denuncia a realização, ou não, da rotina que 
neles está inscrita. 
Figura 5 – plicação do quadro kamishibai em modo 
sequencial e a formação da “onda” resultante da reali-zação 
das rotinas 
TECNOMETAL - 214 - setembro/14 outubro 2014
GESTÃO & TECNOLOGIAS 
A implementação e manutenção de práticas como os 5S, a manu-tenção 
dos padrões de trabalho (incluindo as regras de higiene e 
segurança no trabalho) ou ainda as rotinas de manutenção autó-noma 
podem ser facilitadas recorrendo a este sistema sequencial. A 
sua implementação é simples e económica. 
CONCLUSÃO 
Dois métodos simples com nomes complicados mas que podem ser 
facilmente implementados e mantidos se houver disciplina e rigor. 
Embora soe melhor em inglês, obeya é um quarto com vista para o 
lean (“a room with a view to lean”).O espaço obeya pode ser usado 
para a gestão de projetos ou o acompanhamento diária das opera-ções 
industriais ou de serviços. 
O quadro e os cartões kamishibai também podem ser aplicados de 
dois modos: aleatoriamente ou sequencialmente. Em ambas as 
situações o que se pretende é garantir a manutenção dos padrões 
de trabalho e asseguram que cada um sabe o que fazer e quando 
fazer. 
A cultura lean thinking cria-se através de ferramentas simples apli-cadas 
por pessoas normais que deste modo conseguem resultados 
extraordinários. 
REFERÊNCIAS 
IMAI M, 2012. Gemba Kaizen: A Com-monsense 
Approach to a Continuous 
Improvement Strategy (II Edição). 
McGraw-Hill Professional. 
LIKER J, 2004. The Toyota Way: 14 Mana-gement 
Principles from the World's 
Greatest Manufacturer. McGraw-Hill. 
MAURER R, 2012. The Spirit of Kaizen: 
Creating Lasting Excellence One Small 
Step at a Time. McGraw-Hill. 
MILLER J et al, 2013. Creating a Kaizen 
Culture: Align the Organization, 
Achieve Breakthrough Results, and Sus-tain 
the Gains. McGraw-Hill Professio-nal. 
PINTO, JPO, 2013. Think lean, be agile 
(textos de apoio à XVI Edição da PG 
Lean Management). CLT Services. 
TECNOMETAL - 214 - setembro/outubro 2014 15

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Artigo Obeya e Kamishibai

  • 1. GESTÃO & TECNOLOGIAS O espaço obeya e o quadro kamishibai Nomes complicados designam métodos simples para a gestão diária das operações lean Gerir o dia-a-dia de uma empresa não é tarefa fácil, principalmente em ambientes dinâmicos e que têm de responder a frequentes alterações do mercado. Quando a informação está dispersa e se torna decisiva a rápida tomada de decisões, dispor de um local para avaliar a situação e decidir o que fazer pode marcar a diferença entre o sucesso e o fracasso. Esse local responde pelo nome de obeya e é nele que se acompanha os desafios do dia-a-dia nas empresas. Garantir a manutenção de padrões nos locais de trabalho é fomentar a melhoria contínua do desempenho, é criar hábitos de excelência em todos os colaboradores e promover a partilha de conhecimento por todos. Isto consegue-se com a ajuda preciosa dos quadros kamishibai, uma das peças encontradas nos espaços obeya. cadeias) para rápidas e frequentes reuniões onde as pessoas-chave do genba se encontram para acompanhamento dos planos, resolu-ção de problemas (ex. de qualidade ou de manutenção), alterações de planos e outros assuntos. A figura que se segue apresenta um layout de um espaço obeya. Texto: Eoão Paulo Pinto [CLT Services 2014] O ESPAÇO OBEYA Obeya é mais um termo de origem Japonesa. Este em particular signi-fica “o grande espaço” (tradução do inglês: “big room” ou “war room”). Obeya é um espaço visual, é uma sala (ou quarto, ie room) no genba onde as pessoas se reúnem para acompanhar o desenrolar das ope-rações, resolvem problemas e moni-torizam o desempenho. A ideia por detrás do espaço obeya é simples: dedicar tempo e espaço para a coordenação e a resolução de pro-blemas para que as barreiras nas organizações sejam minimizadas. Não conte encontrar neste espaço sumptuosos sofás onde as pessoas se sentam e falam sem limites de tempo, este é antes de mais um ponto de encontro (por norma sem mesas e Figura 1 – Configuração típica de um espaço obeya TECNOMETAL - 214 - setembro/10 outubro 2014
  • 2. GESTÃO & TECNOLOGIAS Como se pode ver pela figura anterior, neste espaço estão os prin-cipais elementos para a tomada de decisão, para a rápida tomada de conhecimento do ponto em que as operações e os projetos no genba se encontram. Outro importante argumento a favor destes espaços é a possibilidade de retenção do conhecimento e das expe-riências, quer seja pela criação de novos padrões ou pela atualiza-ção dos existentes. A existência dos espaços obeya ajudam a resolver muitos dos pro-blemas encontrados nas áreas operacionais (e note-se que este con-ceito não tem apenas aplicação nos setores produtivos, podendo ser aplicado nas áreas de serviços ou em estaleiros). Problemas esses dos quais se destacam: Não incorporação da “voz do cliente”, ie VOC; Falta de adesão das pessoas aos padrões (por desconheci-mento, por não serem aplicados ou havendo desleixo nas che-fias na sua adoção); Visão fragmentada do “todo” (ou total ausência dessa visão); Falta de sincronização entre os principais agentes no genba (ex. produção, qualidade, engenharia e manutenção); Os planos tendem a não refletir a realidade do genba e as necessidades do cliente; Os problemas tendem a ser tardiamente identificados; As mudanças na constituição das equipas originam perda de conhecimento e de experiências. Para responder a estes problemas, a abordagem seguida num espaço obeya é composta por cinco passos: 1. Visualizar as operações para identificar os problemas/oportuni-dades; a. A “visualização” é o elemento-chave do obeya pois neste espaço as paredes estão “cobertas” com representações visuais (ex. planos, esquemas, quadros yamazuki, quadro kamishibai, diagramas e métricas) que permitem à equipa rapi-damente tomar conhecimento do que se passa; b. A reunião no espaço obeya poderá acontecer diariamente de modo que cada equipa possa sincronizar as suas atividades e lidar com os problemas antes que estes comprometam os obje-tivos da empresa; c. As reuniões diárias deverão ter duração inferior a 15 minutos (flash meeting) e nelas cada participante atualiza os seus pro-gramas e indicadores, define os objetivos para o dia e partilha os problemas enfrentados; d. Além de reuniões diárias, o obeya poderá ser ocupado sempre que algum problema ou desvio o justifique; e. A Toyota usa o espaço obeya para conceber produtos e gerir projetos. As reuniões são lideradas pelo chefe de Engenharia e os restantes elementos da equipa são representantes de diferentes setores-chave (ex. investigação, desenvolvimento, engenharia, qualidade, marke-ting, entre outros). O chefe de Engenharia fornece uma defini-ção clara do projeto, garante que os programas são seguidos e as datas de entrega são res-peitadas sem comprometer a qualidade e/ou segurança e faz, ainda, a coordenação da reso-lução de problemas à medida que surgem. 2. Reagir de imediato – sempre que algum problema ou desvio signifi-cativo ocorrer a “corda é puxada” e o processo é interrompido para evitar que o problema se propa-gue a outras áreas; 3. Resolver os problemas um-a-um – após as reuniões flash os proble-mas identificados são priorizados e inscritos no quadro de resolução de problemas. O leitor mais atento já terá percebido que o espaço obeya e este quadro de resolução de problemas, em particular, baseia-se no ciclo PDCA; 4. Melhorar os padrões de trabalho – os membros das equipas traba-lham em conjunto para a resolu-ção de problemas. Resultado disso, novos padrões de trabalho poderão ser desenvolvidos ou ocorrer a atualização dos atuais; 5. Registar as boas práticas – o registo de boas práticas garante que o conhecimento e a experiên-cia gerada não se perde e é a todos acessível. O obeya é um espaço de comunica-ção e de partilha, o local onde o líder se encontra com os restantes membros da equipa para acompa-nhamento de projetos e de opera-ções. É um local propício para o desenvolvimento da atividade cere-bral e para a manifestação de lide-rança por parte dos senseis. TECNOMETAL - 214 - setembro/outubro 2014 11
  • 3. GESTÃO & TECNOLOGIAS Figura 2 – Exemplo de um quadro yamazuki. Este serve para fazer o nivelamento da carga de trabalho por operador Existem dois tipos de espaços obeya: Obeya para projetos (ex. desenvolvimento de um novo produto ou serviço) – após a conclusão do projeto de desen-volvimento o espaço é desman-telado; Obeya operacional (sendo os mais comuns em empresas industriais) – destinados a acompanhar as operações, focalizados na resolução de problemas, na eliminação dos obstáculos aos fluxos, etc.; O papel do líder: Define os targets iniciais; Mantém a disciplina; Gere as questões prioritárias; Garante que as ações são as necessárias para alcançar os targets definidos; Avalia a carga de trabalho de cada membro da sua equipa e faz o balanceamento da mesma, se necessário; Garante a participação de todos e desenvolve as competências e o conhecimento da equipa. O papel de cada membro da equipa: Fornece feedback sobre a execução das tarefas/ações; Apresenta soluções para resolver problemas ou ultrapassar as dificuldades; Apoia na definição das atividades/ações para alcançar os tar-gets; Colabora na resolução de problemas e na identificação de contramedidas; Colabora com os restantes membros para promover a coesão da equipa. O espaço obeya é o confessionário das operações ou dos projetos, é o local onde se diz a verdade sobre o que se passa no genba e se sincroniza com as alterações de mercado. É um espaço que pro-move a comunicação (pois é visual e não tem paredes, muitos nem mesas têm) e a partilha. É um ponto de conexão entre a execução e o planeamento (hoshin) e de integração com os quadros de acom-panhamento e/ou informação (andon) existentes no genba. TECNOMETAL - 214 - setembro/12 outubro 2014
  • 4. GESTÃO & TECNOLOGIAS QUADRO KAMISHIBAI De acordo com o site www.wikipedia.org o termo Japonês “kamis-hibai” significa literalmente “imagem-história”, ou seja, uma forma de contar histórias desenvolvida no século XII no Japão e usada pelos monges para transmitir lições de elevado conteúdo moral às populações mais iletradas. As “histórias” eram contadas através de imagens impressas em cartões. Como parte do sistema de produção da Toyota, os quadros kamis-hibai são usados como controlos visuais na realização de auditorias (visitas ou verificações) aos processos de fabrico. Estas auditorias são preconizadas pelos gestores ou chefes de equipa. Dentro das ferramentas visuais (ex. os quadros andon, as visitas ao genba, ou genba walks, ou ainda os processos de comunicação nas mudanças de turno) que suportam um local de trabalho orientado à cultura lean thinking, o sistema kamishibai é dos menos populares. O sistema é simples (bem mais que o nome) mas do ponto de vista da disciplina não é um sistema para iniciados no lean. O sistema kamishibai é particularmente aconselhado para os gestores que querem por em prática o genchi genbutsu (ie, “vai e vê por ti o que realmente se está a passar no genba”) mas não estão seguros quanto à organização do seu dia de trabalho ou mesmo sobre o que fazer quando estiverem lá no genba (a verdade é que muitos não põem lá os pés e outros uma vez lá não sabem o que fazer e rápido regressam ao conforto do seu gabinete). O sistema kamishibai formaliza, prioriza e programa as visitas (checks ou auditorias) ao shop floor. É um sistema simples de implementar, é visual e flexível e garante que as verificações são realizadas. A utilidade de um sistema kamishibai O grande propósito do kamishibai não é apanhar as pessoas no genba a fazer as coisas incorretas. Antes de avançar para este sistema a empresa precisa garantir que a cultura do “porquê” já substitui a do “quem errou?”. Para o gestor, a grande utilidade do kamishibai é treinar os seus olhos para identificar os problemas (ie, os desvios do padrão), identificar oportunidades e ensinar os outros a resolver os pro-blemas ou a aproveitar as oportuni-dades. Por outras palavras, a fiel e sincera realização das auditorias é tão importante como o resultado das mesmas. Como referido antes, o propósito não é encontrar falhas, embora os problemas devam ser tor-nados visíveis, mas sim criar o hábito diário de verificação. Como é que o kamishibai é usado? Os chefes de equipa e seus superio-res hierárquicos têm a responsabili-dade de verificar (validar) o trabalho dos demais colaboradores. O traba-lho em si bem como o processo de verificação deve ser baseado em padrões (standard work). As áreas de verificação devem ir além dos aspetos produtivos considerando também temas como a segurança, a higiene, a organização dos postos de trabalho, a qualidade e a manuten-ção (ex. rotinas da TPM). Figura 3 – Exemplo de um sistema kamishibai (cartões e quadro) TECNOMETAL - 214 - setembro/outubro 2014 13
  • 5. GESTÃO & TECNOLOGIAS Figura 4 – Exemplo de um cartão kamishibai (frente e verso) O líder de equipa escolhe aleatoria-mente um cartão do quadro kamishi-bai, ver figura 3 e 4. A aleatoriedade é uma caraterística importante a manter pois evita a previsibilidade das verificações/auditorias por parte dos colaboradores no genba. Se as auditorias seguissem um padrão previsível era de prever um processo de antecipação por parte dos cola-boradores (tal como acontece com as auditorias externas da qualidade ISO9000 que por serem antecipa-damente marcadas estão todos trei-nados para responder às perguntas do auditor e desse modo todas as empresas conseguem a manutenção do seu “Certificado de Qualidade”). A pessoa que escolher o cartão lê neste as correspondentes tare-fas (diárias, semanais ou mensais) e vai ao posto de trabalho veri-ficar se as mesmas foram realizadas. Após a verificação o cartão é devolvido ao quadro e rodado para que visualmente se perceba que aquele “check” foi feito. As anomalias detetadas são anota-das num quadro de problemas/oportunidades para serem acom-panhadas. Tanto nos cartões como no acompanhamento das ano-malias detetadas pode usar-se um sistema de cores de forma a simplificar a comunicação e a redução de erros. O quadro kamishibai bem como o quadro de anomalias faz parte dos elementos encontrados num espaço obeya. É também possível encontrar sistemas kamishibai não aleatórios. Neste caso a sua abrangência territorial vai além da linha ou da célula de trabalho podendo envolver unidades operacionais com-pletas ou departamentos. Os timings dos cartões e das auditorias são programados e o respetivo programa faz parte do trabalho padrão das chefias (ou seja é uma das suas atribuições). Deste modo é possível saber qual a parte do tempo diário que as che-fias passam no shop floor. Com esta modalidade a aleatoriedade desaparece e o quadro kamishibai passa a definir as rotinas de auditoria/inspeção às áreas de trabalho. A sequência de recolha dos cartões passa a ser definida e sempre que são recolhidos são rodados para que visualmente se saiba que aquela “rotina” impressa no cartão já foi realizada. Deste modo em cada quadro a gestão poderá acompanhar a “onda” de execução das rotinas, ver exemplo na figura 5. No modo sequencial não existe caixa para depositar os cartões. Estes permanecem no quadro e a sua posição (frente ou verso, verde ou vermelho) denuncia a realização, ou não, da rotina que neles está inscrita. Figura 5 – plicação do quadro kamishibai em modo sequencial e a formação da “onda” resultante da reali-zação das rotinas TECNOMETAL - 214 - setembro/14 outubro 2014
  • 6. GESTÃO & TECNOLOGIAS A implementação e manutenção de práticas como os 5S, a manu-tenção dos padrões de trabalho (incluindo as regras de higiene e segurança no trabalho) ou ainda as rotinas de manutenção autó-noma podem ser facilitadas recorrendo a este sistema sequencial. A sua implementação é simples e económica. CONCLUSÃO Dois métodos simples com nomes complicados mas que podem ser facilmente implementados e mantidos se houver disciplina e rigor. Embora soe melhor em inglês, obeya é um quarto com vista para o lean (“a room with a view to lean”).O espaço obeya pode ser usado para a gestão de projetos ou o acompanhamento diária das opera-ções industriais ou de serviços. O quadro e os cartões kamishibai também podem ser aplicados de dois modos: aleatoriamente ou sequencialmente. Em ambas as situações o que se pretende é garantir a manutenção dos padrões de trabalho e asseguram que cada um sabe o que fazer e quando fazer. A cultura lean thinking cria-se através de ferramentas simples apli-cadas por pessoas normais que deste modo conseguem resultados extraordinários. REFERÊNCIAS IMAI M, 2012. Gemba Kaizen: A Com-monsense Approach to a Continuous Improvement Strategy (II Edição). McGraw-Hill Professional. LIKER J, 2004. The Toyota Way: 14 Mana-gement Principles from the World's Greatest Manufacturer. McGraw-Hill. MAURER R, 2012. The Spirit of Kaizen: Creating Lasting Excellence One Small Step at a Time. McGraw-Hill. MILLER J et al, 2013. Creating a Kaizen Culture: Align the Organization, Achieve Breakthrough Results, and Sus-tain the Gains. McGraw-Hill Professio-nal. PINTO, JPO, 2013. Think lean, be agile (textos de apoio à XVI Edição da PG Lean Management). CLT Services. TECNOMETAL - 214 - setembro/outubro 2014 15