O documento discute a depressão pós-parto masculina (DPPM), afetando cerca de 10% dos pais no primeiro ano após o nascimento do filho. A DPPM tem sintomas como tristeza, sensação de exclusão e competição com o filho. Homens têm mais dificuldade em reconhecer e buscar ajuda para a depressão. O tratamento envolve terapia e medicamentos.
2. Quase toda mulher que engravidou ou pensa nisso já buscou se informar sobre a temida depressão pós-parto, mal que acomete cerca de 15 em cada 100 mães. O que talvez poucas pessoas saibam é que os pais — especialmente os de primeira viagem — também podem ficar deprimidos após o nascimento do filho. Os próprios médicos admitem que a mulher recebe as maiores atenções, enquanto seu companheiro costuma ficar relegado a segundo plano.
3. Kennya Martins de M. S. Cunha DEPRESSÃO PÓS-PARTO MASCULINA - DPPP A depressão pós-parto masculina é pouco conhecida até entre os profissionais da área, mas isso não significa que seja rara. Do início da primeira gestação da mulher até o bebê completar um ano, um a cada dez homens tem a doença.O dado é de uma revisão de 43 estudos, com 28 mil participantes, que acaba de ser publicada no "Jama", periódico da Associação Médica Americana. Outros estudos apontam que, entre as mulheres, a taxa de depressão é de 15% a 20%. Nas mães, a depressão pós parto se caracteriza por choro, fadiga, humor deprimido, cansaço, ansiedade e lapsos curtos de memória. Nos pais, os sintomas são tristeza, sensação de exclusão, competição com o filho, impaciência com a mulher,relação extra-conjugal, passar mais tempo fora de casa e tentar afastar a mãe do recém-nascido. Existe correlação entre a depressão materna e a paterna: se a mãe está com depressão pós-parto, o risco do homem ficar deprimido aumenta. E vice-versa.
4. Kennya Martins de M. S. Cunha "A depressão paterna é tão importante quanto a materna, porque os riscos de o filho vir a apresentar problemas comportamentais aumentam", alerta Joel Rennó Júnior, psiquiatra e coordenador do Pró-Mulher da Universidade de São Paulo. "Hoje sabemos que essas crianças podem ter transtornos de humor e prejuízos cognitivos devido à baixa interação com o pai deprimido quando eram bebês", relata. Segundo Paul , da Universidade de Oxford, na Inglaterra, autor do primeiríssimo estudo que relaciona depressão paterna a prejuízos no desenvolvimento infantil, os meninos são os mais afetados. "Por causa da relação que acabam criando com os pais, os garotos ficam mais expostos aos efeitos dessa depressão’’
5. Kennya Martins de M. S. Cunha Ninguém afirma ao certo o que desencadearia o distúrbio nos homens. É claro que muitas vezes o bebê traz mudanças radicais à vida do casal e uma má adaptação a esse novo contexto favoreceria a doença. "Mas há muitos gatilhos para a depressão", faz questão de explicar Adrienne, pesquisadora do centro de informação e acompanhamento à paternidade do Reino Unido, preocupada em evitar deduções simplistas. "Um deles é a mulher sofrer de depressão pós-parto (DPP)", exemplifica. "E é terrível, porque há evidências de que, aí, os bebês passam a buscar no pai uma espécie de compensação."
6. Kennya Martins de M. S. Cunha Essa sobrecarga afetiva funcionaria como um estopim, assim como problemas para lidar com o trabalho. "As chefias não costumam compreender quando o homem quer se dedicar ao filho recém- chegado e isso gera ansiedade", nota Adrienne. Para Elo Lacerda, psicanalista e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é mais difícil diagnosticar a depressão paterna do que a materna. "Até porque os homens resistem a procurar ajuda", observa. "Geralmente eles só se dão conta do problema tempos depois e, por isso, arcam com o ônus de sair desse poço escuro sozinhos."
12. Dificuldade para lidar com sentimentosambivalentes, como o de querer proteger e cuidar do bebê e da mulher e, ao mesmo tempo, desejar ocupar o espaço que sempre teve na vida dela
13. PEÇA AJUDA Kennya Martins de M. S. Cunha O pai que se sente deprimido não deve ter receio de procurar um profissional capaz de compreender a gravidade do caso. Em São Paulo, o Núcleo Interdisciplinar do Bebê da PUC orienta e acompanha o casal às voltas com a depressão. Além disso, o obstetra que atende a mulher pode ajudar bastante ao encaminhar o parceiro dela a um colega psiquiatra. O tratamento costuma combinar sessões de psicoterapia e antidepressivos. No entanto, como sempre, mais vale prevenir do que remediar: é importante identificar o futuro papai que, por estresse ou qualquer outro motivo, parece mais propenso à depressão, conversar sobre isso e, quem sabe, até pedir ajuda.
15. ELE NO DIVÃDepois do nascimento das filhas, pai entrou em estado depressivo e recorreu à psicanálise . A cada semana, nas sessões de psicanálise, o engenheiro Fabrício Forefti, 36, resgata e trabalha diferentes dramas emocionais que viveu após o nascimento das duas filhas -Gabriela, 9, e Eduarda, 2-, e o levaram a um estado depressivo.A primeira experiência ocorreu há quase uma década. Aos 27 anos, ele se casou e foi pai no espaço de um ano. "Não estava preparado para a paternidade. A gravidez da minha mulher, Carol [após dois meses de namoro], foi uma surpresa muito grande para nós dois." Foreftidiz que a primeira atitude dele foi pensar no sustento da família. "Dava uma insegurança muito grande de não ter condições financeiras para segurar a onda. Sentia-me ansioso, tenso, amargurado e acho que não conseguia dar a atenção e o carinho que minha filha e minha mulher precisavam."Sete anos depois, Forefti viveu um novo drama paternal. A gravidez havia sido planejada, mas, aos quatro meses de gestação ele soube que o bebê tinha problemas congênitos no coração, nos rins e na cabeça. "Foi um nervosismo e uma preocupação o resto da gravidez". Após o nascimento de Eduarda, a tensão continuou. A menina ficou 30 dias internada na UTI e se submeteu a duas cirurgias cardíacas. "Minha agenda era a da minha filha recém-nascida. Vivia em razão das consultas e exames médicos semanais. Meu trabalho, meus amigos ficaram para segundo plano", afirmou. "Quando o sentimento se torna visceral, o estômago fica mordido", diz, repetindo a frase que a terapeuta lhe disse.Forefti lembra que voltou a viver um processo depressivo ainda mais intenso. "Esperava de mim muito mais do que podia dar. Era uma angústia e um nervosismo constante, mas não conseguia expor essa fragilidade à minha mulher, à minha família. Minhas atitudes soavam mesquinhas, egoístas."Com a terapia -chamada tratamento psicanalítico pais-bebê-, que já dura um ano e meio, ele vem conseguindo se abrir mais com a mulher (que também freqüenta as sessões de psicanálise) e estreitar os vínculos com as filhas."O papel de pai fragiliza o homem da mesma forma que o papel de mãe fragiliza a mulher. É um desafio a cada dia. Por isso, é muito importante verbalizar o que sente, abrir a carcaça." (CC)