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                       HISTORICA




         OVAS EXIGE
       PR
                  M
  S
NOVA
Título
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir
Novas provas exigem Revisionismo Sebastianista

Autor
Rainer Daehnhardt

Director Editorial
Eduardo Amarante

Coordenação Editorial
Dulce Leal Abalada

Revisão
Isabel Nunes

Grafismo, Paginação e Arte final
Divalmeida Atelier Gráfico
www.divalmeida.com/atelier

Ilustrações
Museu Luso-Alemão

Técnica da capa
Divalmeida Atelier Gráfico

Impressão e Acabamento
Espaço Gráfico, Lda.
www.espacografico.pt

Distribuição
CESODILIVROS
Grupo Coimbra Editora, SA
comercial@coimbraeditora.pt

1ª edição – Agosto 2011

ISBN 978-989-8447-17-3
Depósito Legal n.º 331979/11

© Rainer Daehnhardt e Apeiron Edições

Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial,
por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico
sem a prévia autorização do editor.

Projecto Apeiron, Lda.
www.projectoapeiron.blogspot.com
apeiron.edicoes@gmail.com
Portimão – Algarve
apeiron
  edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer Quibir




                MUSEU LUSO-ALEMÃO

    Dom Sebastião é uma figura histórica única, para todo o
Mundo-Outrora-Português, que ainda se mantém ligado atra-
vés da língua e cultura de Camões.
    Desde o Brasil até Macau, surge um entusiasmo crescente
pelo aparecimento do elmo usado por este monarca luso, na
Batalha denominada “DOS TRÊS REIS”, por, supostamente,
três Reis nela terem perdido a vida. Dois foram Reis Mouros e
um Português.
    Nunca se chegou a saber ao certo se D. Sebastião caiu em
combate, ou apenas desapareceu. Facto é, que se trata do único
monarca do Mundo Português perdido numa batalha.
    Isto teceu lendas e mitos a seu respeito, que o elevaram ao
pedestal da adoração, como se de um Santo se tratasse.
    Há 250 milhões de pessoas no mundo que falam português.
Necessitam de ser informadas sobre os espantosos resultados
que os exames feitos ao seu elmo nos revelaram.
    Hoje, temos provas que nos esclarecem perguntas, nunca
antes colocadas. Também se levantam novas questões, que
futuras gerações terão de investigar.
    Perante os novos conhecimentos, obtidos através do estudo
das feridas presentes no elmo de D. Sebastião, considero este
livro uma chave de ouro, que permite o acesso a dados até há
pouco desconhecidos, sendo um dever cívico compartilhá-los
com todos os que com a sua lusa origem se identificam.

                                                   Rainer Daehnhardt




                                                       Apeiron Edições   |   5
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer Quibir




   Dedico esta obra a um homem ímpar,
Rainero Ribeiro Daehnhardt.
   O seu sorriso, a sua boa-disposição e
disponibilidade para ajudar, conferiram-
-lhe um lugar especial nos corações de
todos aqueles que tiveram o privilégio de o
conhecer.
   Em relação ao regresso do Elmo de
D. Sebastião, exclamou: “Estou tão feliz
por todos nós!”
   Cumprida a sua razão de existência,
subiu a outra dimensão, onde será nosso
digno Embaixador!
                           Rainer Daehnhardt




                                             Apeiron Edições   |   7
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer Quibir



                           ÍNDICE


                      ÍNDICE

Prefácio de Christiano Arnhold Simões                                    13


- PRIMEIRA PARTE -
ENTRE A HISTÓRIA E O MITO DE DOM SEBASTIÃO

Capítulo I
D. Nuno Álvares Pereira e a demanda da verdade
sobre Dom Sebastião                                                      19

Capítulo II
O Elmo de Dom Sebastião: resgatar a nossa
identidade. Eis um grande exemplo a favor de
Portugal. Há esperança!                                                  25

Capítulo III
“Estes Gajos Patriotas…”                                                 27

Capítulo IV
Tunes e Alcácer-Quibir                                                   29

Capítulo V
Resgatados em troca de armas!                                            33

Capítulo VI
Sabiam que Dom Sebastião foi “Igual-entre-Iguais”?                       37

Capítulo VII
Uma Investigação alemã sobre o falso (?)
Dom Sebastião                                                            40

Capítulo VIII
Novo Mistério relacionado com Dom Sebastião                              54




                                                       Apeiron Edições   |   9
Rainer Daehnhardt




Capítulo IX
O Começo da Primavera Sebastianista                57

Capítulo X
Uma noite na cisterna de Mazagão                   60

Capítulo XI
Mazagão, o berço do Sebastianismo                  63

Capítulo XII
O Sebastianismo, a lenda messiânica portuguesa     69

Capítulo XIII
O Sebastianismo e o V Império                      76

Capítulo XIV
Alma Lusa                                          79

Capítulo XV
As Cartas Régias de Dom Sebastião                  82



- SEGUNDA PARTE -
AS ARMAS E AS ARMADURAS D'EL-REI DOM
SEBASTIÃO

Capítulo I
Os Retratos de D. Sebastião                        91

Capítulo II
A Fénix e o Pavão Proibido                         95

Capítulo III
A Pistola de Roda do Museu Militar encontrada em
Alcácer-Quibir                                     98




10   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer Quibir




Capítulo IV
Explicação da diferença entre um “Elmo” e uma
“Burgonheta”                                                          105

Capítulo V
O que aconteceu às Armaduras dos nossos Reis?                         107

Capítulo VI
Armaduras Milanesas                                                   115

Capítulo VII
As Armaduras de Duplo Nó                                              127

Capítulo VIII
Dois Donos da mesma “Garnitura”                                       137

Capítulo IX
As armaduras de, ou atribuíveis, a Dom Sebastião                      147

Bibliografia do Capítulo                                              157



- TERCEIRA PARTE -
PROVAS PARA O REVISIONISMO SEBASTIANISTA

Capítulo I
Sinais dos Tempos                                                     161

Capítulo II
À beira de um Renascimento (algo me faz tremer
por dentro… e ainda não acalmou!)                                     164

Capítulo III
A Verdade acima de tudo!                                              166




                                                    Apeiron Edições   |   11
Rainer Daehnhardt




Capítulo IV
Pequenos Pormenores                               168

Capítulo V
Quantas vezes enterraram Dom Sebastião?           170

Capítulo VI
Dom Sebastião e a Espada de
Dom Afonso Henriques                              172

Capítulo VII
A “Questão Alemã” em Alcácer-Quibir               176

Capítulo VIII
Dom Sebastião e as Valquírias                     180

Capítulo IX
A Questão Sefardita em Alcácer-Quibir             183

Capítulo X
A primeira fotografia tirada ao Elmo (depois de   187
limpo) após o seu retorno a Portugal

Capítulo XI
Primeiros Apontamentos do Exame ao Elmo           189

Capítulo XII
Exame aos Ângulos de Ataque ao Elmo               232




12   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir




                       PREFÁCIO
                         _____
    Alguns dos meus pensamentos acerca do Sebastianismo e
porque ele é importante.
    Temos frequentemente falado acerca do lado direito e es-
querdo do cérebro, e eu gostaria de explorar em poucas linhas
este assunto e como, na minha opinião, ele tem muito a ver
com o Sebastianismo.
    Diversas culturas diferentes, incluindo a cultura ocidental,
criaram o que é chamado a tríade supernatural. A razão pela
qual é chamada de supernatural é porque está para além do
simples alcance da lógica e das palavras; a melhor forma de
descrever esta tríade é por meio do simbolismo (melhor do que
a linguagem normal, por despertar emoções).
    A tríade supernatural é constituída por 3 partes: a primeira

                                                           n-
te que positivo e negativo, neste caso, não denota que uma
seja melhor que a outra, pois elas provêm de partes iguais da
fonte original.
   A parte positiva é a força que denota a vontade (habitual-
mente chamada de espírito) e a segunda parte é a intuição pa-
ra compreender a vontade (habitualmente chamada de alma).
Outra forma de interpretação é nomear a parte positiva de sa-
bedoria e a negativa de conhecimento. Qual a diferença entre

                                                            r-
recto (devido à experiência e aprendizagem). Os antigos, que
não haviam perdido as suas raízes espirituais, afirmavam que
a única forma de chegar à fonte original seria a união entre a
sabedoria e o conhecimento: somente desta forma poderia al-
        compreender a vontade de D       e conectar-se com a
não dualidade.
    Os chineses chamaram à tríade supernatural de Tao/
Yin/Yang, os Hindus de Brahma/Vishnu/Shiva, os herméticos
de Deus/Nous/Logos, os hebreus Kether/Chokmah/Bi-nah. A
lista é infindável. Culturas diferentes sempre chegaram à
mesma conclusão.

                                                       Apeiron Edições   |   13
Rainer Daehnhardt



   Até este momento falámos da fonte original, do espírito e da
alma, mencionando que da união da sabedoria (espírito) com a
interpretação da força da sabedoria (conhecimento/alma), po-

de D       Por outras palavras, existe uma quarta chave que
compreende a união das polaridades e é capaz de ir à fonte
                                                            i-
    ,
sacrificado (sacrificado deve ser entendido como transmutação
e não como o normal sacrifício). É interessante notar que na
maioria das culturas existem, de facto, quatro chaves capazes

dual (a presença pura do divino); a segunda, a polaridade posi-
tiva (vontade, espírito, pai); a terceira, a polaridade negativa
(compreensão da vontade, alma, mãe); e, por fim, a quarta,
que surge quando ambas as polaridades se encontram (o fi-
lho). Quando o filho é capaz de se transmutar e ir directamen-
te à fonte, o sacrifício entende-se aqui como uma transmuta-

pode tomar conhecimento da vontade de Deus) para um ser
                     -se e, por se conhecer, toma conhecimento
da vontade de Deus, bem como do seu lugar no universo e da
sua missão).
    Por que é que isto é importante para o Sebastianismo?
    Há dois D. Sebastiões: o homem e o mito. O D. Sebastião
homem foi um romântico (pensou demasiado com a polaridade
positiva, ou o lado direito do cérebro, num mundo negativo) e
ignorou a lógica e os avisos da experiência (a polaridade nega-
tiva, ou o lado esquerdo do cérebro). O D. Sebastião símbolo
TENTOU e, mesmo ao falhar, mostrou aos outros o caminho
da vontade. Resumidamente, na busca da própria alma portu-
guesa encontra-se que há a tríada supernatural: Espírito San-
to/Pai/Mãe e o filho. No caso Português, o filho que se trans-
mutou e virou um símbolo (ou arquétipo) foi D. Sebastião. O
facto de D. Sebastião vir quando Portugal mais necessitar dele,
numa manhã de neblina, significa realmente o acordar dos
Portugueses e o reencontrar da sua alma Portuguesa, que se
encontra dormente em cada Português, não nítida por causa
do nevoento (não claridade da mente), esperando que a provi-
dência dissipe o nevoeiro e a desperte.

14   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir



    A Alma Portuguesa foi frequentemente inclinada para a po-
laridade positiva (lado direito do cérebro, vontade sem cons-
trangimentos ou lógica), o que fez os Portugueses expansivos e
energéticos. Com a Alma Portuguesa, a expansão portuguesa
foi sem limites, sem planeamento, feita no impulso da coragem
e da vontade. Esta expansão sem lógica de ser, criou descon-
forto aos outros estados europeus. Com a pressão Papal e Eu-
ropeia, Portugal foi obrigado a reprimir a polaridade positiva e
ligar-se à polaridade negativa (parte esquerda do cérebro), o
que tornou Portugal num estado reprimente e limitador, algo
totalmente contra a sua natureza! Portugal tornou-se numa
nação com uma alma vazia por esta não fazer a vontade do seu
espírito, limitando-se somente a relembrar o seu passado glo-
rioso. D. Sebastião tentou reverter esta situação ainda no iní-
cio (tivesse tido ele sucesso, o mundo seria um local muito di-
ferente do de hoje), mas ele compensou excessivamente para a
direita, caindo nas armadilhas dirigidas a ele de forma a não
ter sucesso (e havia muitos que não queriam que ele tivesse
sucesso). Mas ao tentar, ele tornou-se o símbolo da transmu-
tação Portuguesa. Se alguém aprender com o sacrifício de D.
Sebastião (o homem) e compreender D. Sebastião (o símbolo),
que não compensou excessivamente para a polaridade positiva
(como D. Sebastião o homem fez), encontra o D. Sebastião
simbólico no meio, entre a alma e o espírito de Portugal (mãe e
pai). Este D. Sebastião, simbólico e arquétipo, é a chave da
transmutação que levará Portugal ao V Império ou Império do
Espírito Santo (o filho levará à fonte original).
    O VOSSO TRABALHO É MUITO MAIS IMPORTANTE DO
QUE PARECE À PRIMEIRA VISTA.

                                     Christiano Arnhold Simões




                                                       Apeiron Edições   |   15
PRIMEIRA PARTE
              ENTRE A HISTÓRIA
         E O MITO DE DOM SEBASTIÃO




    Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes fundas no
passado e na alma portuguesa. Nosso trabalho é pois mais fácil;
não temos de criar um mito, senão que renová-lo. Comecemos por
nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar.
Feito isso, cada um de nós independente-mente e a sós consigo, o
sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou es-
crevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros,
como nós, o respirem. Então se dará na alma da Nação, o fenó-
meno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Cria-
ção do Mundo Novo, o Quinto Império.
    Terá regressado El-Rei D. Sebastião.

                         Fernando Pessoa
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir




                     CAPÍTULO I
                       ______
          D. NUNO ÁLVARES PEREIRA E A
    DEMANDA DA VERDADE SOBRE DOM SEBASTIÃO

   O ano de 2010 terminou com algo inesperado, mas intima-
mente desejado: A REDESCOBERTA E AQUISIÇÃO DO ELMO
DE BATALHA DE D. SEBASTIÃO! O ano de 2011 começou com
O REGRESSO DO ELMO, motivo de alegria e reflexão.
   Não há outro monarca luso que tão vasto leque de opiniões
suscite. Para uns é mental ou fisicamente defeituoso, a ponto
de acharem preferível que tivesse morrido à nascença. Para
outros, é um Anjo Salvador, que regressará algum dia.
   Penso ter chegado a altura do povo separar o trigo do joio e
colocar os pontos nos
certeza, quem foi D. Sebastião e por que razão fez o que fez.
   Os últimos tempos ofereceram diversos sinais que, de certa
forma, nos chamam a rever tudo o que se disse, escreveu ou
alegou, acerca desta figura mítica e lendária, atacada e amada,
que tão profundamente se encontra ancorada na alma do
Mundo Português.
   Tudo começou quando, contra a vontade de muitos, um
Papa Alemão canonizou um Marechal General, herói nacional,
que não morreu de martírio. Trata-se do NOSSO CONDESTÁ-
VEL, D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431). Em Portugal, desde
o século XV que é tratado como nosso SANTO CONDESTÁVEL.
Sob o ponto de vista da Igreja, nem monge foi. A sua recente
canonização foi de tal modo contestada a nível internacional,
que chegou mesmo a ser negado o mais humilde reconheci-
mento pelo órgão do estado a quem isso competia. Quem sis-
tematicamente procura denegrir os Chefes da Igreja Católica,
reencontrou logo no passado da juventude do Papa (o cum-
primento do serviço militar e a ascendência de D. Nuno Álva-
res Pereira, pelo lado materno, ligado à Casa Real Germânica,
na Lombardia), a
porém, não deixou nada obscuro. Não apenas canonizou o He-

                                                      Apeiron Edições   |   19
Rainer Daehnhardt



rói Nacional Luso, como até deu, por pergaminho, a BENÇÃO
PAPAL A TODOS OS INFANTES DE PORTUGAL, algo que não
acontecera desde que D. Afonso V assumiu a cruzada contra o
Islão.
    Esta bênção papal esteve exposta na sala elíptica (a sala de
honra) da Escola Prática de Infantaria, no Palácio de Mafra.
Foi belo verificar que, na homenagem que a EPI prestou ao
Santo Condestável (seu patrono), tanto as entidades museoló-
gicas como as eclesiásticas trabalharam em conjunto com as
militares, para prestar a homenagem devida. Na sala de honra
estavam em grande destaque, não apenas as relíquias do San-
to, manuscritos por ele assinados, que a Torre do Tombo tinha
cedido, belos quadros de D. Nuno do Museu Nacional de Arte
Antiga, como a grande estátua do Condestável a pé, segurando

Estátua idêntica encontra-se na Sala de Aljubarrota do Museu
Militar de Lisboa e as suas representações repetem-se em
grande parte da iconografia que existe do Santo Condestável,
desde o século XVI.
    Pode e deve-se perguntar: o que isso tem a ver com D. Se-
bastião? Inaugurou-se recentemente, num Museu de Zurique,
uma exposição sobre marfins do Ceilão, onde figura um qua-
dro representando D. Sebastião aos oito anos de idade. Este
esteve erradamente classificado, num palácio austríaco, sendo
por isso desconhecido, desde o século XVI. Ao fim e ao cabo
trata-se de um Neto Rei do Imperador Carlos V, do Sacro Im-
pério Romano de Nação Germânica.
    Os Soberanos costumam ser representados com os seus a-
tributos régios, isto é, a coroa, o ceptro e a espada da justiça.
Por vezes, apenas são representados com um simples bastão
de comando.
    O nosso monarca deixou-se representar em armadura (uma
de Augsburgo, entretanto desaparecida), segurando na mão o

Como é possível que um monarca se deixe representar com
uma arma de comando de infantaria, quando a arma nobre da
altura era a da cavalaria? Como é que o nosso monarca esco-
lheu o símbolo de um Herói Nacional falecido há muito, que
liderou o povo, o peão, no combate contra a cavalaria caste-
lhana e francesa, tornando-se Herói e Santo Salvador da Pá-

20   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir



tria? Terá sido por influência patriótica do seu professor, Da-
mião de Góis?
    Como se pode permitir que se represente um jovem Rei, em
1562, com uma arma de 1385? Isto seria o equivalente a colo-
car uma arma das invasões napoleónicas nas mãos de um co-
mandante supremo actual! Algo descabido, que dá que pensar!
    Sabemos que D. Sebastião mandou abrir os túmulos dos
seus antepassados e daí retirou as suas espadas para estas
lhe servirem de talismã na sua campanha africana. Até levou o
elmo de Carlos V com que tomou Tunes.
    Será que D. Sebastião também mandou abrir o túmulo do
Santo Condestável, no Convento do Carmo, em Lisboa e lhe
tenha pedido de empréstimo o seu Martelo de Armas? Grande
parte do que diz respeito a D. Sebastião ainda hoje se encontra
envolvido em secretismo.
    O aparecimento do quadro de D. Sebastião com o Martelo
de Armas do Santo Condestável e do Elmo de Batalha, são
como badaladas de um sino da História, que nos acordam pa-
ra o cumprimento de um dever: DESCOBRIR A VERDADE
ACERCA DE D. SEBASTIÃO!
    Para isso, devemos reunir tudo, mas mesmo tudo, que nos
possa oferecer luz.
    A grande maioria das obras dos nossos cronistas e histori-
adores peca por ter                                    cupavam
com a verdade, mas apenas com a apresentação da vertente
mais conveniente para os seus interesses. Isto anula parte da
fidelidade dos seus relatos. Devemos estudar documentos ori-
ginais, que nunca foram estudados ou interpretados. Existem,
mas precisam ser encontrados.
    No século XVI enforcaram-se os padres franciscanos que
ousavam levantar dúvidas acerca da morte de D. Sebastião em
Alcácer-Quibir. Os dominicanos trabalharam com o Santo Ofí-
cio e este com o poder entronizado. Não havia vontade de se
saber algo mais concreto sobre D. Sebastião. As diferentes
obras publicadas acerca de relatos da batalha careciam sem-
pre da concordância do Santo Ofício, o que anulava qualquer
divulgação de conhecimentos não condizentes com a versão
oficial.
    Os primeiros a lançar pesquisa sistemática acerca do que
acontecera foram os alemães. Era do neto do seu Imperador

                                                      Apeiron Edições   |   21
Rainer Daehnhardt



que se tratava. Até enviaram pesquisadores a Veneza, porque
existia uma grande convicção de que                         e-
            o que apareceu em Veneza logo após a morte de Fi-
lipe II de Espanha tenha sido o verdadeiro.
    Aos Filipes não convinha que D. Sebastião voltasse!
    Aos fanáticos dentro da Igreja também não!
    Aos proponentes da Casa Ducal de Bragança como nova
Dinastia Lusa também não!
    Então, quem é que queria saber a verdade? Apenas alguns
estudiosos estrangeiros?
    NÃO! O povo sempre quis saber a verdade e duvidou das
explicações oficiais.
    O POVO SEMPRE SENTIU ESTAR MAIS PERTO DA VER-
DADE, EMBORA NÃO O SOUBESSE EXPLICAR OU EXPRIMIR!
    Apenas em Portugal existe um majestoso mosteiro (o dos
Jerónimos, em Lisboa, à antiga beira do Tejo), onde se apregoa
algo incompreensível aos cérebros lógicos e racionais. Mos-
tram-
de D. Sebastião, com a inscrição (traduzi                SE É
VERA A FAMA, AQUI JAZ SEBASTIÃO, VIDA NAS PLAGAS DE
ÁFRICA CEIFADA. NÃO DUVIDEIS QUE ELE É VIVO, NÃO! A

Gama, que nunca nele entrou e o terceiro é o de Luís de Ca-
mões, que, na realidade, acabou por ser enterrado em vala
comum! Os três túmulos albergam alguns dos mais significati-
vos capítulos escritos pela alma lusa, algo que apenas quem
ama Portugal compreende. Tudo o que temos acerca de D. Se-
bastião é uma longa lista de perguntas por responder:
       Terá de facto trocado de cavalo e armadura com o seu
       escudeiro em plena batalha?;
       Foi o seu escudeiro que morreu em vez dele?;
       Os nobres lusos, prisioneiros dos marroquinos, que fo-
       ram reconhecer o seu corpo fizeram-no devido ao elmo,
       pois tinha a cara desfeita. Quando o incluíram na nego-
       ciação do seu resgate e o trouxeram de volta a Portugal,
       sabendo que era a personagem errada, fizeram-no a fim
       de evitar o levantamento de dúvidas, para que se dei-
       xasse de procurar o Rei?;




22   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir



Terá D. Sebastião de facto regressado ao Algarve e, caí-
do em si de vergonha, pela desgraça causada à nação,
ter-se-á escondido numa cabana de um pescador?;
Terá D. Sebastião tido o tal encontro na fronteira de Es-
panha com o seu tio, Filipe II, combinando os dois o re-
gresso de D.
estivessem restabelecidas e a ocasião fosse propícia? O
que é um facto é que o comportamento de Filipe I de
Portugal, para com o Mundo Português e a lusa gente,
foi significativamente diferente daquele depois aplicado
pelos seus sucessores, que consideravam Portugal um
feudo ou colónia;

como verdadeiro, precisamente após a morte de Filipe I,
dá que pensar;
E as tenças pagas pela Casa de Bragança aos herdeiros
de D. António Prior do Crato, nomeando-os embaixado-
res de Portugal (intervieram no Tratado de Utrecht), sem
autorização para pisarem terras lusas? O mesmo acon-
teceu a uma família do norte de África, supostamente
descendente de D. Sebastião;
O próprio filho de D. António Prior do Crato foi a Veneza
e reconheceu D. Sebastião como seu Rei!;
Qual a razão do forte desentendimento entre D. Sebas-
tião e seu tio, o Cardeal D. Henrique (Inquisidor Mor),
ao ponto do Rei lhe proibir entrar no Palácio e de impe-
dir que funcionários seus aceitassem cartas do Cardeal
a si dirigidas?;
Como se entende a alegria manifestada todos os anos
na data da batalha de Alcácer-Quibir pelos sefarditas de
Tânger, que festejam a morte do nosso Rei, quando fo-
ram os Cristãos-Novos de Lisboa que pagaram metade
dos custos da campanha?;

D. João III, incluindo a do Infante D. João, pai de D. Se-
bastião, que faleceu poucos dias antes do nascimento
do filho?;
Como se explica a estranha libertação de Damião de
Góis dos calabouços do Santo Ofício e o seu assassinato


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           numa albergaria quando ia a caminho para falar com
           D. Sebastião?;
           Como se explica a partida para Marrocos, em pleno Ve-
           rão, fortemente desaconselhada ao jovem monarca por
           todos os conselheiros militares?;
           Por que razão quase nunca se menciona que D. Sebas-
           tião já se tinha deslocado ao norte de África anterior-
           mente e aí entrado em combate?;
           Por que não se menciona quem ordenou a aniquilação
           da Ordem de Cristo como ordem religiosa militar, trans-
           formando-a em mera ordem monástica?;
           Por que não se menciona que D. Sebastião pediu ao Pa-
           pa a restauração da Ordem de Cristo como ordem reli-
           giosa militar, e que foi por este impossibilitado?

   Tudo isto e muito mais merece ser estudado.
   Se o elmo pudesse falar, o Portugal dos nossos netos não
sucumbiria a estatísticas incolores, mas mostraria a sua pre-
sença de velas enfunadas, bem-vindas por todo globo!




                                      - Fig. 1 -
A mais antiga gravura que se conhece da BATALHA DE ALCÁCER-QUIBIR. Publicada
num panfleto alemão, de 1578. Gravada em bloco de madeira (xilogravura) por Hans
Rogel e impresso por Philipp Ulhart, na cidade imperial de Augsburgo, revela as pri-
meiras notícias da batalha. Menciona a morte de 4.000 espanhóis, 800 italianos e
2.300 alemães, que combateram ao lado dos portugueses.


24   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir




                     CAPÍTULO II
                       ______
    O ELMO DE DOM SEBASTIÃO: RESGATAR A NOSSA
  IDENTIDADE. EIS UM GRANDE EXEMPLO A FAVOR DE
             PORTUGAL. HÁ ESPERANÇA!

    É dia 24/11/2010 e são 11 horas. Começa um leilão de
obras de arte em Londres. Entre elas encontra-se um elmo de
D. Sebastião. A grave crise mundial fez muitos venderem ob-
jectos herdados que nem sabiam bem o que eram. Os leiloeiros
estão tão atarefados, que nem tempo têm de estudar devida-
mente o que lhes passa pelas mãos. Assim surgiu, no mercado
internacional, este elmo rapinado pelos duques espanhóis em
Lisboa, em 1582. Espero que passe despercebido! Em tempos
já consegui adquirir e trazer de volta a Portugal uma boa parte
de uma das armaduras de D. Sebastião. Tinha sido classifica-
da como sendo do Duque Emanuel Filiberto de Sabóia (filho da
Infanta D. Beatriz de Portugal), o que aliás está correcto. Não
tinham, porém, visto o quadro no Museu das Janelas Verdes
que mostra D. Sebastião utilizando esta armadura que lhe foi
oferecida pelo Duque de Sabóia, seu primo, que, com mais 26
anos de idade, já não cabia nela e ofereceu-a a D. Sebastião.
Mantive-me calado! Não disse a ninguém que o elmo de D. Se-
bastião iria a leilão em Londres. Também dizer para quê? As

recuperar! Apenas acabaria por alertar os museus estrangeiros
e os leiloeiros. Estes sabem muito bem que uma peça de ar-
madura atribuível a um Duque importante vale, pelo menos,
10 vezes mais do que a mesma sem essa atribuição. Quando a
peça é indiscutivelmente atribuída a um monarca, o valor é 20
vezes superior. Mas quando se trata de D. Sebastião, a peça
tem simplesmente de regressar a Portugal. Haja manhã de ne-
voeiro ou não. Estando o Desejado nele ou não! Se alguém
descobrir, vai ser uma desgraça financeira para mim. Encon-
tro-me praticamente sem vintém. Mas, o elmo tem de voltar! A
minha conta bancária está vazia. De pouco me ajudaria vender

                                                      Apeiron Edições   |   25
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o meu carro. Tem 25 anos e ainda me presta bons serviços. De
qualquer maneira, o elmo vai custar o equivalente a muitos
carros. Não sei o que fazer. Com lógica não chego lá. Tenho de
me deixar guiar pelo subconsciente, e este diz-

fui a Londres, uma vez que a minha presença neste leilão faria
algumas pessoas pensarem e eventualmente acordarem. Pedi
para a leiloeira me telefonar. Em Londres já estão a vender as
primeiras peças no leilão. Tenho o catálogo sobre os joelhos,
sentado ao lado do telefone. Da nossa televisão só oiço os ber-
ros de mais uma greve geral, totalmente inútil, onde políticos e
sindicalistas fazem o seu circo perante as câmaras dos media,
vermes do sistema. Se houvesse entre eles alguém que real-
mente estivesse empenhado no bem de Portugal, essa pessoa
estaria a esta hora em Londres a fim de trazer o elmo de D.
Sebastião de volta. É preciso defender a identidade lusa e esta
mantém-se quando se ama Portugal e a sua história, e não
com malabarismos vocais e movimentos de massas arrancadas
do trabalho. Se eu tiver sorte, nem o                         a-
ris, nem a Armeria Real de Turim, nem o museu de Filadélfia
visto todos eles possuírem alguns elementos desta armadura,
desejando certamente completá-la , se darão conta de que
este elmo lhes faz muita falta. Ainda assim é necessário ultra-
passar os comerciantes, sempre à procura de lucro fácil. Aí,

uma moeda de 1 cêntimo), o suficiente para muitos não o que-
rerem. Este buraquinho não altera em nada a importância his-
tórica da peça, mas apenas o seu momentâneo valor comerci-
al, enquanto não se tiverem dado conta de que se trata de um
elmo de um duque, oferecido a um rei. AO NOSSO REI! Tenho
os nervos à flor da pele. O telefone vai tocar dentro de instan-
tes. O que é que vou ter que dar em troca para poder pagar
esta factura choruda? Não sei! Depois se verá. O ELMO TEM
DE VOLTAR! Não vai haver férias nem presentes de Natal, e
mesmo estes cortes não vão ser suficientes. Mas O ELMO TEM
DE VOLTAR! O telefone toca. O elmo vai à praça! Dou uma

     O ELMO DE D. SEBASTIÃO VAI VOLTAR A PORTUGAL.




26   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir




                    CAPÍTULO III
                      ______
                        GAJOS

                                     AGORA ATÉ
VÃO ACORDAR O FANTASMA DE DOM SEBASTIÃO! SÓ NOS

    Foi esta a resposta de um membro da Assembleia da Repú-
blica à notícia da vinda para Portugal do Elmo de batalha de
D. Sebastião.

                               compreender. Quem apenas se
serve do lado esquerdo do cérebro o que se move nas limita-
ções do raciocínio lógico, materialista, racional , deixou mur-
char o lado direito a ponto de não ter mais acesso às emoções
do coração e à porta do subconsciente. São pobres vassalos
dos diabos sem horizontes nem esperanças.
   Agora, carimbarem-
abala nada. Bem pelo contrário, apenas classifica quem assim
nos classificou. Tentando seguir o caminho lógico racional que
lhes resta, chego à conclusão de que consideram SER PATRI-
OTA e SER LOUCO uma espécie de doença infecciosa, que
                                                              -
-
   Responderei com a pergunta:
       E D. Afonso Henriques? Não era também um PATRIOTA
       LOUCO, que não apenas conquistou Portugal aos mou-
       ros, mas até se levantou contra a mãe e quebrou sua
       vassalagem ao Reino de Leão para criar uma Pátria para
       os Portugueses?;
       E Afonso de Albuquerque? Não era um PATRIOTA LOU-
       CO, quando, com um pequeno punhado de homens de-
       cididos, arrancou parte da Ásia ao Mundo Muçulmano?

   Tantos exemplos de PATRIOTAS LOUCOS poderia dar, que
apenas os incluo num grito de VIVA aos PATRIOTAS LOUCOS!

                                                      Apeiron Edições   |   27
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Afinal foram, e sempre serão, eles, que escrevem a história dos
povos e não os vermes apologistas do lamber das botas a qual-
quer agência de ratings.




                                        - Fig. 2 -
Os Reinos de Fez e Marrocos. Mapa gravado, a cobre, por Johannes Mercator (1562-
-1595). Mostra os Algarves Aquém e Além-Mar, desde o Cabo de S. Vicente até ao
Cabo do Bojador. Indica as praças portuguesas de Ceuta, Tânger, Arzila, Azamor e
Mazagão (esta, frente à Ilha do Porto Santo). | Museu Luso-Alemão




28   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir




                     CAPÍTULO IV
                        ______
                 TUNES E ALCÁCER-QUIBIR

    Não se deve ver a batalha de Alcácer-Quibir como um acto
isolado de um jovem Monarca órfão, fanatizado por uma edu-
cação jesuíta e um mundo de sonhos de glórias ancestrais.
    Qualquer momento da história deve ser visto no enqua-
dramento do seu tempo. Para isso, devemos aproximar-nos
dos momentos mais significativos que o antecederam. Só as-
sim é que nos é dado acesso a partes do pensamento, que jus-
tificaram no jovem Monarca luso as tomadas de decisão, que
acabaram por levar a nação ao descalabro.
    Diversos pesquisadores da história de Portugal fazem refe-
rência à entrega a D. Sebastião do elmo usado por Carlos V,
durante a sua tomada de Tunes (1535). Foi seu tio, Filipe II de
Espanha, quem ordenou a entrega deste talismã, sabendo que
D. Sebastião sempre mostrou um respeito especial pelo Impe-
rador Carlos V, seu avô.
    Devemos, por isso mesmo, debruçar-nos um pouco sobre a
actuação de Carlos V em solo africano, para reencontrar as
razões de D. Sebastião.
        Carlos V interveio em África para recolocar um soberano
        muçulmano no trono;
        D. Sebastião interveio em África para recolocar um ou-
        tro soberano muçulmano, ao qual tinha sido tirado o
        trono;
        Carlos V formou uma aliança, juntando ajuda militar
        portuguesa, alemã e italiana às suas tropas espanholas,
        tiradas de Espanha e dos Países Baixos, que lhe esta-
        vam submetidos;
        D. Sebastião formou uma aliança, juntando ajuda mili-
        tar espanhola, alemã e italiana às suas tropas lusas, ti-
        radas de Portugal e das Praças Lusas do Norte de África;
        Carlos V pediu ajuda militar à França, mas esta não só
        não a concedeu, como forneceu armas e munições ao

                                                       Apeiron Edições   |   29
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          Heyreddin (Barbarossa), que tinha tomado Tunes ao
          Muley Hasan e que, de novo, as utilizou contra as forças
          do Imperador do Sacro Império. A França até foi mais
          longe e mandou um embaixador permanente (Jean de la
          Forêt), ao Grande Turco, em Constantinopla;
          D. Sebastião pediu ajuda à França e concordou até em
          casar com uma Valois, mas não recebeu nem a noiva
          nem o exército. Bem pelo contrário, descobriu que a
          França havia enviado um embaixador ao Rei de Marro-
          cos, para o aconselhar na sua Guerra contra os Portu-
          gueses;
          Heyreddin tomou Tunes em 16 de Agosto de 1534, ou
          seja, em pleno Verão;
          Carlos V começou a sua Tomada de Tunes em Junho de
          1535, desenrolando-se a sua campanha Africana em
          pleno Verão;
          D. Sebastião saiu de Lagos a 27 de Junho de 1578, le-
          vando a efeito a sua campanha africana em pleno Verão,
          com o desfecho trágico que se conhece, a 4 de Agosto;
          Carlos V foi aconselhado a não escolher esta altura do
          ano para o seu ataque aos mouros e turcos;
          D. Sebastião recebeu precisamente os mesmos conse-
          lhos;
          Carlos V foi aconselhado a não tomar pessoalmente par-
          te nesta arriscada empresa africana. Porém, decidiu
          participar;
          D. Sebastião foi mais longe: ou se fazia a campanha
          com ele a liderar, ou não se fazia de todo!

   Pelo acima exposto, já se pode verificar o grande grau de
semelhança entre a campanha africana do avô e a do neto.
   Se a escolha do Verão para a campanha foi sempre tida
como sinal de insensatez do jovem Monarca luso, chegando-se
ao ponto de o
dos seus militares muito mais experimentados, deveríamos
usar o mesmo critério em relação a Carlos V.
   Por que razão ninguém se atreve a tal? Por uma razão mui-
to simples: Carlos V saiu vitorioso da sua contenda e D. Se-
bastião desapareceu na dele.


30   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir



  Há, porém, pormenores pouco conhecidos nestas campa-
nhas, que dão que pensar.
   1º.   Carlos V libertou 20.000 escravos cristãos, em posse
         do Heyreddin, que este sequestrou nas costas cristãs
         do Mediterrâneo;
   2º.   Carlos V tinha na sua armada 74 galés, cujos rema-
         dores eram cristãos protestantes calvinistas e zwin-
         gliistas, aprisionados nos Países Baixos. Não consta
         que tenham sido libertados;
   3º.   Carlos V conseguiu juntar forças substancialmente
         maiores das que D. Sebastião juntou. Os números
         apresentados divergem entre os 25 mil e os 50 mil
         homens;
   4º.   Porém, não foi apenas o número de forças à disposi-
         ção de Carlos V que foi substancialmente maior: a
         qualidade também foi bem superior;
   5º.   30 % da armada de Carlos V era composta por auxí-
         lio português. Neste, destacou-se o maior galeão de
         guerra então existente no mundo ocidental. Chama-
         va-se GALEÃO SÃO JOÃO BAPTISTA, mais conheci-
                                          -                   r-
         taleza flutuante, com 366 peças de artilharia de
         bronze, da melhor qualidade e de maior alcance;
   6º.   Quem comandou esta maravilha da técnica lusa, foi
         o Infante D. Luís, filho de D. Manuel I e pai de
         D. António I (o Prior do Crato);
   7º.   Tunes situa-se numa lagoa interior, protegida do
         mar por uma terra estreita, e defendida por uma for-
         taleza impressionante, La Goleta. Esta vigiava a en-
         trada de um canal de ligação da Lagoa de Tunes ao
         Mediterrâneo;
   8º.   La Goleta, muito bem apetrechada de artilharia oto-
         mana (e também francesa, o que depois da tomada
         se veio a verificar), fechou o canal com uma corrente
         de ferro de elos gigantes o que, para a época, signifi-
         cava a impossibilidade da entrada de qualquer em-
         barcação inimiga no canal;
   9º.   D. Luís, com o seu experimentado comandante, An-
         tónio de Saldanha, e os artilheiros alemães de Lisboa,
         aceitou o desafio. Bombardeou não apenas as duas

                                                       Apeiron Edições   |   31
Rainer Daehnhardt



                fortalezas de La Goleta, ao ponto de desabarem, co-
                mo danificou a corrente com tiros certeiros, a ponto
                de o grande esporão do galeão acabar por a cortar ao
                primeiro embate;
     10º.                     -                  que entrou na Lagoa
                de Tunes. Com ele, veio parte da armada de Carlos V
                e a vitória. O saque e a matança de 30 mil muçul-
                manos que se seguiu, não honram ninguém;
     11º.       D. Sebastião sabia de tudo isto. Deve ter lamentado
                                      -
                embarcação comparável em poder de fogo. A Ordem
                de Cristo que os mandara construir, tinha sido con-
                denada ao desaparecimento da vida militar, comer-
                cial, cientista e missionária, acabando em mera or-
                dem monástica. Talvez tenha sido precisamente a
                                        -FOG
                emprego, que tiveram peso na decisão papal;
     12º.       O que D. Sebastião talvez não soubesse foi quem fi-
                nanciou a campanha africana do seu avô. Uma frota
                de ouro tinha acabado de chegar do Mundo Novo,
                                                             para re-
                aver o seu soberano, preso por forças castelhanas.
                Encheram uma sala com objectos de ouro, mas a
                sede do ouro foi insaciável e o soberano foi mesmo
                morto;
     13º.       D. Sebastião não optou por tais recursos. Lançou
                pesados impostos no Reino e aceitou a ajuda finan-
                ceira dos Cristãos Novos. Interveio a seu favor, pe-
                dindo ao Papa que não fossem perseguidos pelo San-
                to Ofício, durante um prazo de dez anos.

   Concluindo, devem-se ter em conta também estes dados li-
gados à campanha africana do seu avô, Carlos V, para se po-
der começar a compreender D. Sebastião!




32   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir




                     CAPÍTULO V
                       ______
           RESGATADOS EM TROCA DE ARMAS!

   Os luteranos que combateram ao lado de D. Sebastião não
foram os únicos cristãos deixados nas masmorras africanas
por intolerância inter-cristã.
   D. Sebastião aceitou a ajuda dos luteranos, que por ele e
por Portugal deram as suas vidas. Os que foram presos não
foram resgatados.
   Já não era D. Sebastião que reinava; era o seu tio, Cardeal-
-Rei, D. Henrique, o Inquisidor-Mor.
   A protecção aos luteranos terminou com o desaparecimento
de D. Sebastião.
   Os sobreviventes portugueses, espanhóis e italianos foram
resgatados por uma ordem religiosa papal, instaurada preci-

    Como o Concílio de Trento proibiu qualquer contacto entre
                                                              e-
cidos como tais, por se negarem a aceitar o Papa como inter-
mediário entre Deus e os homens), nada se fez para trazer de
volta à Europa os combatentes nórdicos ou suas famílias.
    Os que sobreviveram, mas ficaram feridos, nada valiam no
mercado dos escravos.
    Assim, nem sequer mereciam ser alimentados! Por esta ra-
zão, foram passados a fio pelos sabres mouriscos.
    Os que se apresentavam capazes de servir foram leiloados
como escravos.
    As mulheres foram vendidas como escravas.
    As crianças femininas foram para os bordéis.
    As crianças masculinas foram vendidas ao sultão, para ser-
virem como janízaros, uma força de elite militar recrutada en-
tre crianças cristãs, raptadas ou compradas, que eram educa-
das em fanatismo religioso anticristão.
    Os janízaros foram a primeira força militar a criar atirado-
res especiais. Primeiro de arco, depois de espingarda. Eram

                                                       Apeiron Edições   |   33
Rainer Daehnhardt



tão dextros no seu manejo que, a certa altura, um sultão ficou
com medo deste seu exército. Convidou todos os comandantes
para um grande jantar de homenagem, durante o qual foram
assassinados. Na mesma altura, mandou cercar as forças janí-
zaras nos seus aquartelamentos e incendiar os mesmos, sem
os deixar sair.
   Destes destinos não se fala, como se de tabus se tratasse.
Porém, foram realidades e bem tristes.
   Não foi apenas em Alcácer-                                í-
ram em mãos muçulmanas. Décadas mais tarde, já no século
XVII, galeões holandeses de retorno da Ásia foram capturados
por uma esquadra de muçulmanos norte-africanos.
   Os holandeses eram calvinistas e, de novo, a ordem religio-
sa incumbida de tratar das negociações de resgate de cristãos
                           -se a fazê-lo.

                                                 - Fig. 3 -
                           Cálice português do 3º quartel do século XVI. Tam-
                           bém o clero luso acompanhou D. Sebastião para
                           África. Poucos voltaram. | Museu Luso-Alemão




                        As notícias dos horrores que os ale-
                    mães     e, entre eles, também bastantes
                    holandeses passaram, após a batalha de
                    Alcácer-Quibir, ainda estavam bem paten-
                    tes nas praças dos Países Baixos.
                        Resolveram, então, negociar o resgate
                    de centenas de holandeses em masmorras
                    norte-africanas, em troca de espingardas.
                        Os muçulmanos usavam até então es-
                    pingardas de mecha. Os holandeses já
utilizavam armas de pederneira, concretamente, de chenapan.
Entregaram milhares destas armas aos norte-africanos, que as
usaram durante séculos, aprendendo a restaurar todas as pe-
ças dos mecanismos e a copiá-los na íntegra.
    Na foto junta abaixo vê-se, na parte de cima, um mecanis-
mo de ignição chenapan solto, proveniente de uma espingarda
holandesa do século XVII; em baixo um pormenor de uma es-


34   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir



pingarda norte-africana do
século XIX com mecanismo
quase idêntico.
    O caso dos alemães não
resgatados depois de Alcá-
cer-Quibir e o dos holande-
ses trocados por espingar-
das tiveram peso nas futu-
ras decisões da separação
dos poderes dos Estados em                      - Fig. 4 -
relação à Igreja.             Em cima: fecho chenapan holandês. Em
    Os Papas tiveram exérci- baixo: espingarda norte-africana com cópia
                              de fecho holandês. | Museu Luso-Alemão
tos e marinha de guerra até
meados do século XIX, mas,
quando se tratava de resgatar cristãos não submetidos a Ro-
ma, passaram os próprios governos a tratar destes assuntos,
não recorrendo mais à ordem religiosa papal para este efeito
criada.
    A primeira organização independente a tratar de trocas de
prisioneiros surge durante a Guerra da Crimeia. É a Cruz
Vermelha, que trouxe imenso Bem para a humanidade.
    Se alguém perguntar o que é que a Guerra da Crimeia tem
a ver com a batalha de Alcácer-Quibir, responderei: à primeira
vista nada! À segunda vista imenso, porque a história é como
uma perfeita teia de aranha: está tudo interligado!




                                      - Fig. 5 -
A esquadra do avô de D. Sebastião, Carlos V, na travessia do Mediterrâneo, para a sua
Campanha Africana, em pleno Verão de 1535. Um terço da esquadra era composta
p                                                  BOTA-                           rti-
lharia foram decisivas na Tomada de Tunes. | Museu Luso-Alemão


                                                                     Apeiron Edições   |   35
Rainer Daehnhardt




                                    - Fig. 6 -
O desembarque e o levantamento das tendas na costa africana. | Museu-Luso-Alemão




                                      - Fig. 7 -
O Imperador Carlos V recebendo os primeiros prisioneiros mouros e as cabeças dece-
padas de turcos, contra os quais se encontrava em guerra, e que estavam a auxiliar os
mouros de Tunes. | Museu-Luso-Alemão




36   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir




                    CAPÍTULO VI
                       ______
               SABIAM QUE DOM SEBASTIÃO
                         -ENTRE-

  Foi difícil para D. Sebastião ter nascido órfão de pai.
  Sua mãe teve de o deixar em Portugal e voltar para Espa-
nha, por razões de Estado. Assim, cresceu D. Sebastião sem
                           pais que o pudessem amar e prote-
                           ger das intrigas políticas, nacionais
                           e internacionais.
                               O Menino-Monarca cresceu, po-
                           rém, com o conhecimento de que
                           tinha mãe e que esta se preocupava
                           com ele. A troca de correspondência
                           entre os dois manteve vivo o cordão
                           umbilical.

                                               - Fig. 8 -
                           A mãe de D. Sebastião. Gravura a aço intitulada
                                              Princesse de Portugal + 157
                           (Obviamente, trata-se de um erro na indicação da
                           data da sua morte, que ocorreu em 1573).
                           | Museu Luso-Alemão




    Estando o Desejado em Sagres, recebeu a notícia do faleci-
mento da sua mãe, Princesa Joana de Portugal, da Casa de
Habsburgo, de boa memória. Nesse momento é que D. Sebas-
tião se sentiu totalmente só. Fechou-se, durante três dias de
nojo, no Mosteirinho do Cabo de São Vicente (local onde pla-
neava criar a nova sede da Ordem de Cristo). O seu avô,
D. João III, decidiu, em 1555, que o lugar de Grão Mestre de
cada uma das três Ordens Religiosas Militares Portuguesas
(Cristo, Aviz e Santiago), futuramente, apenas devia ser preen-
chido pelo monarca de Portugal. Assim, D. Sebastião foi Grão-
-Mestre da Ordem de Cristo.

                                                          Apeiron Edições   |   37
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   Porém, o que resolveu fazer durante os três dias de retiro?
   ARMOU-SE A SI PRÓPRIO CAVALEIRO DA ORDEM DE
CRISTO. Assim sendo, estaria IGUAL ENTRE IGUAIS, com to-
dos os outros cavaleiros e como eles estaria pronto a dar a vida
pela Pátria e pela Fé.
   Um gesto pouco conhecido e sem igual!




                                                   - Fig. 9 -
                                        A mãe de D. Sebastião. Gravura a
                                                       Jeanne

                                                          -se chamar a atenção
                                        de que foi Princesa de Portugal (não
                                        Rainha), mas Regente de Espanha. É
                                        interessante saber-se, que foi grande
                                        defensora dos franciscanos em Portu-
                                        gal e que, em Espanha, se correspon-
                                        deu com Ignácio de Loyola e com o
                                        Papa, acabando por ser a única mu-
                                        lher jesuíta do seu século.
                                        | Museu Luso-Alemão




              - Fig. 10 -
A escultura, em bronze, no túmulo da
mãe de D. Sebastião. Gravura água-
-                 Tombeau de la Prin-
cesse Juanna (convent des descalzas
Reales à Madrid).
| Museu Luso-Alemão




38   |   Apeiron Edições
Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir




                Fig. 10
 A escultura, em bronze, no túmulo da
 mãe de D. Sebastião. Gravura água-
                   Tombeau de la Prin-
 cesse Juanna (convent des descalzas
 Reales à Madrid).
 Museu Luso-Alemão




                                       - Fig. 11 -
Frontispício de uma carta régia, em pergaminho iluminado, passada em nome de Carlos
V e assinada pela mãe de D. Sebastião, na qualidade de Regente do Reino de Espanha,
na ausência do pai, Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano da Nação Germâni-
ca, Carlos I, Rei de Espanha. A carta é datada de 1555, um ano após o nascimento de
D. Sebastião. Pouco depois, a Princesa Joana entrou no Convento das Descalças, do
qual não mais saiu. É interessante verificar que a temática escolhida para a iluminura é
a de uma noviça a vestir o hábito. | Museu Luso-Alemão




                                                                     Apeiron Edições   |   39
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                           CAPÍTULO VII
                              ______
                       UMA INVESTIGAÇÃO ALEMÃ
                    SOBRE O FALSO (?) DOM SEBASTIÃO

    Quando, devido ao desaparecimento de uma personagem
líder, um país inteiro entra em choque, cresce, de forma inex-
plicável, um estado emocional saudosista. Os ingleses tiveram
o seu Rei Ricardo Coração de Leão; os alemães o Imperador
Barba-Roxa e os portugueses D. Sebastião. À sua volta cria-
ram-se mitos e lendas, cantados por todas as aldeias e burgos
dos seus reinos, facilmente ganhando atentas audiências. A
vontade de aceitar estas personagens (desde que voltassem)
era tanta, que bastava apenas surgir alguém que se apresen-
tasse como tal, para rapidamente obter uma corte de seguido-
res.
    Assim, no caso de D. Sebastião, que com 24 anos de idade
desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir (1578), surgiram,
por quatro vezes, pessoas aclama                         ESE-
                lmente voltara de África.




                                    - Fig. 12 -
Pormenor dos embutidos de latão numa besta dos ginetes de D. Sebastião. Obra por-
tuguesa, cerca de 1570. | Museu da Coudelaria Real, ex-colecção Rainer Daehnhardt




40   |   Apeiron Edições

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  • 1. DOCUMENTA HISTORICA OVAS EXIGE PR M S NOVA
  • 2. Título Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir Novas provas exigem Revisionismo Sebastianista Autor Rainer Daehnhardt Director Editorial Eduardo Amarante Coordenação Editorial Dulce Leal Abalada Revisão Isabel Nunes Grafismo, Paginação e Arte final Divalmeida Atelier Gráfico www.divalmeida.com/atelier Ilustrações Museu Luso-Alemão Técnica da capa Divalmeida Atelier Gráfico Impressão e Acabamento Espaço Gráfico, Lda. www.espacografico.pt Distribuição CESODILIVROS Grupo Coimbra Editora, SA comercial@coimbraeditora.pt 1ª edição – Agosto 2011 ISBN 978-989-8447-17-3 Depósito Legal n.º 331979/11 © Rainer Daehnhardt e Apeiron Edições Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor. Projecto Apeiron, Lda. www.projectoapeiron.blogspot.com apeiron.edicoes@gmail.com Portimão – Algarve
  • 4.
  • 5. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer Quibir MUSEU LUSO-ALEMÃO Dom Sebastião é uma figura histórica única, para todo o Mundo-Outrora-Português, que ainda se mantém ligado atra- vés da língua e cultura de Camões. Desde o Brasil até Macau, surge um entusiasmo crescente pelo aparecimento do elmo usado por este monarca luso, na Batalha denominada “DOS TRÊS REIS”, por, supostamente, três Reis nela terem perdido a vida. Dois foram Reis Mouros e um Português. Nunca se chegou a saber ao certo se D. Sebastião caiu em combate, ou apenas desapareceu. Facto é, que se trata do único monarca do Mundo Português perdido numa batalha. Isto teceu lendas e mitos a seu respeito, que o elevaram ao pedestal da adoração, como se de um Santo se tratasse. Há 250 milhões de pessoas no mundo que falam português. Necessitam de ser informadas sobre os espantosos resultados que os exames feitos ao seu elmo nos revelaram. Hoje, temos provas que nos esclarecem perguntas, nunca antes colocadas. Também se levantam novas questões, que futuras gerações terão de investigar. Perante os novos conhecimentos, obtidos através do estudo das feridas presentes no elmo de D. Sebastião, considero este livro uma chave de ouro, que permite o acesso a dados até há pouco desconhecidos, sendo um dever cívico compartilhá-los com todos os que com a sua lusa origem se identificam. Rainer Daehnhardt Apeiron Edições | 5
  • 6.
  • 7. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer Quibir Dedico esta obra a um homem ímpar, Rainero Ribeiro Daehnhardt. O seu sorriso, a sua boa-disposição e disponibilidade para ajudar, conferiram- -lhe um lugar especial nos corações de todos aqueles que tiveram o privilégio de o conhecer. Em relação ao regresso do Elmo de D. Sebastião, exclamou: “Estou tão feliz por todos nós!” Cumprida a sua razão de existência, subiu a outra dimensão, onde será nosso digno Embaixador! Rainer Daehnhardt Apeiron Edições | 7
  • 8.
  • 9. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer Quibir ÍNDICE ÍNDICE Prefácio de Christiano Arnhold Simões 13 - PRIMEIRA PARTE - ENTRE A HISTÓRIA E O MITO DE DOM SEBASTIÃO Capítulo I D. Nuno Álvares Pereira e a demanda da verdade sobre Dom Sebastião 19 Capítulo II O Elmo de Dom Sebastião: resgatar a nossa identidade. Eis um grande exemplo a favor de Portugal. Há esperança! 25 Capítulo III “Estes Gajos Patriotas…” 27 Capítulo IV Tunes e Alcácer-Quibir 29 Capítulo V Resgatados em troca de armas! 33 Capítulo VI Sabiam que Dom Sebastião foi “Igual-entre-Iguais”? 37 Capítulo VII Uma Investigação alemã sobre o falso (?) Dom Sebastião 40 Capítulo VIII Novo Mistério relacionado com Dom Sebastião 54 Apeiron Edições | 9
  • 10. Rainer Daehnhardt Capítulo IX O Começo da Primavera Sebastianista 57 Capítulo X Uma noite na cisterna de Mazagão 60 Capítulo XI Mazagão, o berço do Sebastianismo 63 Capítulo XII O Sebastianismo, a lenda messiânica portuguesa 69 Capítulo XIII O Sebastianismo e o V Império 76 Capítulo XIV Alma Lusa 79 Capítulo XV As Cartas Régias de Dom Sebastião 82 - SEGUNDA PARTE - AS ARMAS E AS ARMADURAS D'EL-REI DOM SEBASTIÃO Capítulo I Os Retratos de D. Sebastião 91 Capítulo II A Fénix e o Pavão Proibido 95 Capítulo III A Pistola de Roda do Museu Militar encontrada em Alcácer-Quibir 98 10 | Apeiron Edições
  • 11. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer Quibir Capítulo IV Explicação da diferença entre um “Elmo” e uma “Burgonheta” 105 Capítulo V O que aconteceu às Armaduras dos nossos Reis? 107 Capítulo VI Armaduras Milanesas 115 Capítulo VII As Armaduras de Duplo Nó 127 Capítulo VIII Dois Donos da mesma “Garnitura” 137 Capítulo IX As armaduras de, ou atribuíveis, a Dom Sebastião 147 Bibliografia do Capítulo 157 - TERCEIRA PARTE - PROVAS PARA O REVISIONISMO SEBASTIANISTA Capítulo I Sinais dos Tempos 161 Capítulo II À beira de um Renascimento (algo me faz tremer por dentro… e ainda não acalmou!) 164 Capítulo III A Verdade acima de tudo! 166 Apeiron Edições | 11
  • 12. Rainer Daehnhardt Capítulo IV Pequenos Pormenores 168 Capítulo V Quantas vezes enterraram Dom Sebastião? 170 Capítulo VI Dom Sebastião e a Espada de Dom Afonso Henriques 172 Capítulo VII A “Questão Alemã” em Alcácer-Quibir 176 Capítulo VIII Dom Sebastião e as Valquírias 180 Capítulo IX A Questão Sefardita em Alcácer-Quibir 183 Capítulo X A primeira fotografia tirada ao Elmo (depois de 187 limpo) após o seu retorno a Portugal Capítulo XI Primeiros Apontamentos do Exame ao Elmo 189 Capítulo XII Exame aos Ângulos de Ataque ao Elmo 232 12 | Apeiron Edições
  • 13. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir PREFÁCIO _____ Alguns dos meus pensamentos acerca do Sebastianismo e porque ele é importante. Temos frequentemente falado acerca do lado direito e es- querdo do cérebro, e eu gostaria de explorar em poucas linhas este assunto e como, na minha opinião, ele tem muito a ver com o Sebastianismo. Diversas culturas diferentes, incluindo a cultura ocidental, criaram o que é chamado a tríade supernatural. A razão pela qual é chamada de supernatural é porque está para além do simples alcance da lógica e das palavras; a melhor forma de descrever esta tríade é por meio do simbolismo (melhor do que a linguagem normal, por despertar emoções). A tríade supernatural é constituída por 3 partes: a primeira n- te que positivo e negativo, neste caso, não denota que uma seja melhor que a outra, pois elas provêm de partes iguais da fonte original. A parte positiva é a força que denota a vontade (habitual- mente chamada de espírito) e a segunda parte é a intuição pa- ra compreender a vontade (habitualmente chamada de alma). Outra forma de interpretação é nomear a parte positiva de sa- bedoria e a negativa de conhecimento. Qual a diferença entre r- recto (devido à experiência e aprendizagem). Os antigos, que não haviam perdido as suas raízes espirituais, afirmavam que a única forma de chegar à fonte original seria a união entre a sabedoria e o conhecimento: somente desta forma poderia al- compreender a vontade de D e conectar-se com a não dualidade. Os chineses chamaram à tríade supernatural de Tao/ Yin/Yang, os Hindus de Brahma/Vishnu/Shiva, os herméticos de Deus/Nous/Logos, os hebreus Kether/Chokmah/Bi-nah. A lista é infindável. Culturas diferentes sempre chegaram à mesma conclusão. Apeiron Edições | 13
  • 14. Rainer Daehnhardt Até este momento falámos da fonte original, do espírito e da alma, mencionando que da união da sabedoria (espírito) com a interpretação da força da sabedoria (conhecimento/alma), po- de D Por outras palavras, existe uma quarta chave que compreende a união das polaridades e é capaz de ir à fonte i- , sacrificado (sacrificado deve ser entendido como transmutação e não como o normal sacrifício). É interessante notar que na maioria das culturas existem, de facto, quatro chaves capazes dual (a presença pura do divino); a segunda, a polaridade posi- tiva (vontade, espírito, pai); a terceira, a polaridade negativa (compreensão da vontade, alma, mãe); e, por fim, a quarta, que surge quando ambas as polaridades se encontram (o fi- lho). Quando o filho é capaz de se transmutar e ir directamen- te à fonte, o sacrifício entende-se aqui como uma transmuta- pode tomar conhecimento da vontade de Deus) para um ser -se e, por se conhecer, toma conhecimento da vontade de Deus, bem como do seu lugar no universo e da sua missão). Por que é que isto é importante para o Sebastianismo? Há dois D. Sebastiões: o homem e o mito. O D. Sebastião homem foi um romântico (pensou demasiado com a polaridade positiva, ou o lado direito do cérebro, num mundo negativo) e ignorou a lógica e os avisos da experiência (a polaridade nega- tiva, ou o lado esquerdo do cérebro). O D. Sebastião símbolo TENTOU e, mesmo ao falhar, mostrou aos outros o caminho da vontade. Resumidamente, na busca da própria alma portu- guesa encontra-se que há a tríada supernatural: Espírito San- to/Pai/Mãe e o filho. No caso Português, o filho que se trans- mutou e virou um símbolo (ou arquétipo) foi D. Sebastião. O facto de D. Sebastião vir quando Portugal mais necessitar dele, numa manhã de neblina, significa realmente o acordar dos Portugueses e o reencontrar da sua alma Portuguesa, que se encontra dormente em cada Português, não nítida por causa do nevoento (não claridade da mente), esperando que a provi- dência dissipe o nevoeiro e a desperte. 14 | Apeiron Edições
  • 15. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir A Alma Portuguesa foi frequentemente inclinada para a po- laridade positiva (lado direito do cérebro, vontade sem cons- trangimentos ou lógica), o que fez os Portugueses expansivos e energéticos. Com a Alma Portuguesa, a expansão portuguesa foi sem limites, sem planeamento, feita no impulso da coragem e da vontade. Esta expansão sem lógica de ser, criou descon- forto aos outros estados europeus. Com a pressão Papal e Eu- ropeia, Portugal foi obrigado a reprimir a polaridade positiva e ligar-se à polaridade negativa (parte esquerda do cérebro), o que tornou Portugal num estado reprimente e limitador, algo totalmente contra a sua natureza! Portugal tornou-se numa nação com uma alma vazia por esta não fazer a vontade do seu espírito, limitando-se somente a relembrar o seu passado glo- rioso. D. Sebastião tentou reverter esta situação ainda no iní- cio (tivesse tido ele sucesso, o mundo seria um local muito di- ferente do de hoje), mas ele compensou excessivamente para a direita, caindo nas armadilhas dirigidas a ele de forma a não ter sucesso (e havia muitos que não queriam que ele tivesse sucesso). Mas ao tentar, ele tornou-se o símbolo da transmu- tação Portuguesa. Se alguém aprender com o sacrifício de D. Sebastião (o homem) e compreender D. Sebastião (o símbolo), que não compensou excessivamente para a polaridade positiva (como D. Sebastião o homem fez), encontra o D. Sebastião simbólico no meio, entre a alma e o espírito de Portugal (mãe e pai). Este D. Sebastião, simbólico e arquétipo, é a chave da transmutação que levará Portugal ao V Império ou Império do Espírito Santo (o filho levará à fonte original). O VOSSO TRABALHO É MUITO MAIS IMPORTANTE DO QUE PARECE À PRIMEIRA VISTA. Christiano Arnhold Simões Apeiron Edições | 15
  • 16.
  • 17. PRIMEIRA PARTE ENTRE A HISTÓRIA E O MITO DE DOM SEBASTIÃO Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes fundas no passado e na alma portuguesa. Nosso trabalho é pois mais fácil; não temos de criar um mito, senão que renová-lo. Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar. Feito isso, cada um de nós independente-mente e a sós consigo, o sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou es- crevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós, o respirem. Então se dará na alma da Nação, o fenó- meno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Cria- ção do Mundo Novo, o Quinto Império. Terá regressado El-Rei D. Sebastião. Fernando Pessoa
  • 18.
  • 19. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir CAPÍTULO I ______ D. NUNO ÁLVARES PEREIRA E A DEMANDA DA VERDADE SOBRE DOM SEBASTIÃO O ano de 2010 terminou com algo inesperado, mas intima- mente desejado: A REDESCOBERTA E AQUISIÇÃO DO ELMO DE BATALHA DE D. SEBASTIÃO! O ano de 2011 começou com O REGRESSO DO ELMO, motivo de alegria e reflexão. Não há outro monarca luso que tão vasto leque de opiniões suscite. Para uns é mental ou fisicamente defeituoso, a ponto de acharem preferível que tivesse morrido à nascença. Para outros, é um Anjo Salvador, que regressará algum dia. Penso ter chegado a altura do povo separar o trigo do joio e colocar os pontos nos certeza, quem foi D. Sebastião e por que razão fez o que fez. Os últimos tempos ofereceram diversos sinais que, de certa forma, nos chamam a rever tudo o que se disse, escreveu ou alegou, acerca desta figura mítica e lendária, atacada e amada, que tão profundamente se encontra ancorada na alma do Mundo Português. Tudo começou quando, contra a vontade de muitos, um Papa Alemão canonizou um Marechal General, herói nacional, que não morreu de martírio. Trata-se do NOSSO CONDESTÁ- VEL, D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431). Em Portugal, desde o século XV que é tratado como nosso SANTO CONDESTÁVEL. Sob o ponto de vista da Igreja, nem monge foi. A sua recente canonização foi de tal modo contestada a nível internacional, que chegou mesmo a ser negado o mais humilde reconheci- mento pelo órgão do estado a quem isso competia. Quem sis- tematicamente procura denegrir os Chefes da Igreja Católica, reencontrou logo no passado da juventude do Papa (o cum- primento do serviço militar e a ascendência de D. Nuno Álva- res Pereira, pelo lado materno, ligado à Casa Real Germânica, na Lombardia), a porém, não deixou nada obscuro. Não apenas canonizou o He- Apeiron Edições | 19
  • 20. Rainer Daehnhardt rói Nacional Luso, como até deu, por pergaminho, a BENÇÃO PAPAL A TODOS OS INFANTES DE PORTUGAL, algo que não acontecera desde que D. Afonso V assumiu a cruzada contra o Islão. Esta bênção papal esteve exposta na sala elíptica (a sala de honra) da Escola Prática de Infantaria, no Palácio de Mafra. Foi belo verificar que, na homenagem que a EPI prestou ao Santo Condestável (seu patrono), tanto as entidades museoló- gicas como as eclesiásticas trabalharam em conjunto com as militares, para prestar a homenagem devida. Na sala de honra estavam em grande destaque, não apenas as relíquias do San- to, manuscritos por ele assinados, que a Torre do Tombo tinha cedido, belos quadros de D. Nuno do Museu Nacional de Arte Antiga, como a grande estátua do Condestável a pé, segurando Estátua idêntica encontra-se na Sala de Aljubarrota do Museu Militar de Lisboa e as suas representações repetem-se em grande parte da iconografia que existe do Santo Condestável, desde o século XVI. Pode e deve-se perguntar: o que isso tem a ver com D. Se- bastião? Inaugurou-se recentemente, num Museu de Zurique, uma exposição sobre marfins do Ceilão, onde figura um qua- dro representando D. Sebastião aos oito anos de idade. Este esteve erradamente classificado, num palácio austríaco, sendo por isso desconhecido, desde o século XVI. Ao fim e ao cabo trata-se de um Neto Rei do Imperador Carlos V, do Sacro Im- pério Romano de Nação Germânica. Os Soberanos costumam ser representados com os seus a- tributos régios, isto é, a coroa, o ceptro e a espada da justiça. Por vezes, apenas são representados com um simples bastão de comando. O nosso monarca deixou-se representar em armadura (uma de Augsburgo, entretanto desaparecida), segurando na mão o Como é possível que um monarca se deixe representar com uma arma de comando de infantaria, quando a arma nobre da altura era a da cavalaria? Como é que o nosso monarca esco- lheu o símbolo de um Herói Nacional falecido há muito, que liderou o povo, o peão, no combate contra a cavalaria caste- lhana e francesa, tornando-se Herói e Santo Salvador da Pá- 20 | Apeiron Edições
  • 21. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir tria? Terá sido por influência patriótica do seu professor, Da- mião de Góis? Como se pode permitir que se represente um jovem Rei, em 1562, com uma arma de 1385? Isto seria o equivalente a colo- car uma arma das invasões napoleónicas nas mãos de um co- mandante supremo actual! Algo descabido, que dá que pensar! Sabemos que D. Sebastião mandou abrir os túmulos dos seus antepassados e daí retirou as suas espadas para estas lhe servirem de talismã na sua campanha africana. Até levou o elmo de Carlos V com que tomou Tunes. Será que D. Sebastião também mandou abrir o túmulo do Santo Condestável, no Convento do Carmo, em Lisboa e lhe tenha pedido de empréstimo o seu Martelo de Armas? Grande parte do que diz respeito a D. Sebastião ainda hoje se encontra envolvido em secretismo. O aparecimento do quadro de D. Sebastião com o Martelo de Armas do Santo Condestável e do Elmo de Batalha, são como badaladas de um sino da História, que nos acordam pa- ra o cumprimento de um dever: DESCOBRIR A VERDADE ACERCA DE D. SEBASTIÃO! Para isso, devemos reunir tudo, mas mesmo tudo, que nos possa oferecer luz. A grande maioria das obras dos nossos cronistas e histori- adores peca por ter cupavam com a verdade, mas apenas com a apresentação da vertente mais conveniente para os seus interesses. Isto anula parte da fidelidade dos seus relatos. Devemos estudar documentos ori- ginais, que nunca foram estudados ou interpretados. Existem, mas precisam ser encontrados. No século XVI enforcaram-se os padres franciscanos que ousavam levantar dúvidas acerca da morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir. Os dominicanos trabalharam com o Santo Ofí- cio e este com o poder entronizado. Não havia vontade de se saber algo mais concreto sobre D. Sebastião. As diferentes obras publicadas acerca de relatos da batalha careciam sem- pre da concordância do Santo Ofício, o que anulava qualquer divulgação de conhecimentos não condizentes com a versão oficial. Os primeiros a lançar pesquisa sistemática acerca do que acontecera foram os alemães. Era do neto do seu Imperador Apeiron Edições | 21
  • 22. Rainer Daehnhardt que se tratava. Até enviaram pesquisadores a Veneza, porque existia uma grande convicção de que e- o que apareceu em Veneza logo após a morte de Fi- lipe II de Espanha tenha sido o verdadeiro. Aos Filipes não convinha que D. Sebastião voltasse! Aos fanáticos dentro da Igreja também não! Aos proponentes da Casa Ducal de Bragança como nova Dinastia Lusa também não! Então, quem é que queria saber a verdade? Apenas alguns estudiosos estrangeiros? NÃO! O povo sempre quis saber a verdade e duvidou das explicações oficiais. O POVO SEMPRE SENTIU ESTAR MAIS PERTO DA VER- DADE, EMBORA NÃO O SOUBESSE EXPLICAR OU EXPRIMIR! Apenas em Portugal existe um majestoso mosteiro (o dos Jerónimos, em Lisboa, à antiga beira do Tejo), onde se apregoa algo incompreensível aos cérebros lógicos e racionais. Mos- tram- de D. Sebastião, com a inscrição (traduzi SE É VERA A FAMA, AQUI JAZ SEBASTIÃO, VIDA NAS PLAGAS DE ÁFRICA CEIFADA. NÃO DUVIDEIS QUE ELE É VIVO, NÃO! A Gama, que nunca nele entrou e o terceiro é o de Luís de Ca- mões, que, na realidade, acabou por ser enterrado em vala comum! Os três túmulos albergam alguns dos mais significati- vos capítulos escritos pela alma lusa, algo que apenas quem ama Portugal compreende. Tudo o que temos acerca de D. Se- bastião é uma longa lista de perguntas por responder: Terá de facto trocado de cavalo e armadura com o seu escudeiro em plena batalha?; Foi o seu escudeiro que morreu em vez dele?; Os nobres lusos, prisioneiros dos marroquinos, que fo- ram reconhecer o seu corpo fizeram-no devido ao elmo, pois tinha a cara desfeita. Quando o incluíram na nego- ciação do seu resgate e o trouxeram de volta a Portugal, sabendo que era a personagem errada, fizeram-no a fim de evitar o levantamento de dúvidas, para que se dei- xasse de procurar o Rei?; 22 | Apeiron Edições
  • 23. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir Terá D. Sebastião de facto regressado ao Algarve e, caí- do em si de vergonha, pela desgraça causada à nação, ter-se-á escondido numa cabana de um pescador?; Terá D. Sebastião tido o tal encontro na fronteira de Es- panha com o seu tio, Filipe II, combinando os dois o re- gresso de D. estivessem restabelecidas e a ocasião fosse propícia? O que é um facto é que o comportamento de Filipe I de Portugal, para com o Mundo Português e a lusa gente, foi significativamente diferente daquele depois aplicado pelos seus sucessores, que consideravam Portugal um feudo ou colónia; como verdadeiro, precisamente após a morte de Filipe I, dá que pensar; E as tenças pagas pela Casa de Bragança aos herdeiros de D. António Prior do Crato, nomeando-os embaixado- res de Portugal (intervieram no Tratado de Utrecht), sem autorização para pisarem terras lusas? O mesmo acon- teceu a uma família do norte de África, supostamente descendente de D. Sebastião; O próprio filho de D. António Prior do Crato foi a Veneza e reconheceu D. Sebastião como seu Rei!; Qual a razão do forte desentendimento entre D. Sebas- tião e seu tio, o Cardeal D. Henrique (Inquisidor Mor), ao ponto do Rei lhe proibir entrar no Palácio e de impe- dir que funcionários seus aceitassem cartas do Cardeal a si dirigidas?; Como se entende a alegria manifestada todos os anos na data da batalha de Alcácer-Quibir pelos sefarditas de Tânger, que festejam a morte do nosso Rei, quando fo- ram os Cristãos-Novos de Lisboa que pagaram metade dos custos da campanha?; D. João III, incluindo a do Infante D. João, pai de D. Se- bastião, que faleceu poucos dias antes do nascimento do filho?; Como se explica a estranha libertação de Damião de Góis dos calabouços do Santo Ofício e o seu assassinato Apeiron Edições | 23
  • 24. Rainer Daehnhardt numa albergaria quando ia a caminho para falar com D. Sebastião?; Como se explica a partida para Marrocos, em pleno Ve- rão, fortemente desaconselhada ao jovem monarca por todos os conselheiros militares?; Por que razão quase nunca se menciona que D. Sebas- tião já se tinha deslocado ao norte de África anterior- mente e aí entrado em combate?; Por que não se menciona quem ordenou a aniquilação da Ordem de Cristo como ordem religiosa militar, trans- formando-a em mera ordem monástica?; Por que não se menciona que D. Sebastião pediu ao Pa- pa a restauração da Ordem de Cristo como ordem reli- giosa militar, e que foi por este impossibilitado? Tudo isto e muito mais merece ser estudado. Se o elmo pudesse falar, o Portugal dos nossos netos não sucumbiria a estatísticas incolores, mas mostraria a sua pre- sença de velas enfunadas, bem-vindas por todo globo! - Fig. 1 - A mais antiga gravura que se conhece da BATALHA DE ALCÁCER-QUIBIR. Publicada num panfleto alemão, de 1578. Gravada em bloco de madeira (xilogravura) por Hans Rogel e impresso por Philipp Ulhart, na cidade imperial de Augsburgo, revela as pri- meiras notícias da batalha. Menciona a morte de 4.000 espanhóis, 800 italianos e 2.300 alemães, que combateram ao lado dos portugueses. 24 | Apeiron Edições
  • 25. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir CAPÍTULO II ______ O ELMO DE DOM SEBASTIÃO: RESGATAR A NOSSA IDENTIDADE. EIS UM GRANDE EXEMPLO A FAVOR DE PORTUGAL. HÁ ESPERANÇA! É dia 24/11/2010 e são 11 horas. Começa um leilão de obras de arte em Londres. Entre elas encontra-se um elmo de D. Sebastião. A grave crise mundial fez muitos venderem ob- jectos herdados que nem sabiam bem o que eram. Os leiloeiros estão tão atarefados, que nem tempo têm de estudar devida- mente o que lhes passa pelas mãos. Assim surgiu, no mercado internacional, este elmo rapinado pelos duques espanhóis em Lisboa, em 1582. Espero que passe despercebido! Em tempos já consegui adquirir e trazer de volta a Portugal uma boa parte de uma das armaduras de D. Sebastião. Tinha sido classifica- da como sendo do Duque Emanuel Filiberto de Sabóia (filho da Infanta D. Beatriz de Portugal), o que aliás está correcto. Não tinham, porém, visto o quadro no Museu das Janelas Verdes que mostra D. Sebastião utilizando esta armadura que lhe foi oferecida pelo Duque de Sabóia, seu primo, que, com mais 26 anos de idade, já não cabia nela e ofereceu-a a D. Sebastião. Mantive-me calado! Não disse a ninguém que o elmo de D. Se- bastião iria a leilão em Londres. Também dizer para quê? As recuperar! Apenas acabaria por alertar os museus estrangeiros e os leiloeiros. Estes sabem muito bem que uma peça de ar- madura atribuível a um Duque importante vale, pelo menos, 10 vezes mais do que a mesma sem essa atribuição. Quando a peça é indiscutivelmente atribuída a um monarca, o valor é 20 vezes superior. Mas quando se trata de D. Sebastião, a peça tem simplesmente de regressar a Portugal. Haja manhã de ne- voeiro ou não. Estando o Desejado nele ou não! Se alguém descobrir, vai ser uma desgraça financeira para mim. Encon- tro-me praticamente sem vintém. Mas, o elmo tem de voltar! A minha conta bancária está vazia. De pouco me ajudaria vender Apeiron Edições | 25
  • 26. Rainer Daehnhardt o meu carro. Tem 25 anos e ainda me presta bons serviços. De qualquer maneira, o elmo vai custar o equivalente a muitos carros. Não sei o que fazer. Com lógica não chego lá. Tenho de me deixar guiar pelo subconsciente, e este diz- fui a Londres, uma vez que a minha presença neste leilão faria algumas pessoas pensarem e eventualmente acordarem. Pedi para a leiloeira me telefonar. Em Londres já estão a vender as primeiras peças no leilão. Tenho o catálogo sobre os joelhos, sentado ao lado do telefone. Da nossa televisão só oiço os ber- ros de mais uma greve geral, totalmente inútil, onde políticos e sindicalistas fazem o seu circo perante as câmaras dos media, vermes do sistema. Se houvesse entre eles alguém que real- mente estivesse empenhado no bem de Portugal, essa pessoa estaria a esta hora em Londres a fim de trazer o elmo de D. Sebastião de volta. É preciso defender a identidade lusa e esta mantém-se quando se ama Portugal e a sua história, e não com malabarismos vocais e movimentos de massas arrancadas do trabalho. Se eu tiver sorte, nem o a- ris, nem a Armeria Real de Turim, nem o museu de Filadélfia visto todos eles possuírem alguns elementos desta armadura, desejando certamente completá-la , se darão conta de que este elmo lhes faz muita falta. Ainda assim é necessário ultra- passar os comerciantes, sempre à procura de lucro fácil. Aí, uma moeda de 1 cêntimo), o suficiente para muitos não o que- rerem. Este buraquinho não altera em nada a importância his- tórica da peça, mas apenas o seu momentâneo valor comerci- al, enquanto não se tiverem dado conta de que se trata de um elmo de um duque, oferecido a um rei. AO NOSSO REI! Tenho os nervos à flor da pele. O telefone vai tocar dentro de instan- tes. O que é que vou ter que dar em troca para poder pagar esta factura choruda? Não sei! Depois se verá. O ELMO TEM DE VOLTAR! Não vai haver férias nem presentes de Natal, e mesmo estes cortes não vão ser suficientes. Mas O ELMO TEM DE VOLTAR! O telefone toca. O elmo vai à praça! Dou uma O ELMO DE D. SEBASTIÃO VAI VOLTAR A PORTUGAL. 26 | Apeiron Edições
  • 27. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir CAPÍTULO III ______ GAJOS AGORA ATÉ VÃO ACORDAR O FANTASMA DE DOM SEBASTIÃO! SÓ NOS Foi esta a resposta de um membro da Assembleia da Repú- blica à notícia da vinda para Portugal do Elmo de batalha de D. Sebastião. compreender. Quem apenas se serve do lado esquerdo do cérebro o que se move nas limita- ções do raciocínio lógico, materialista, racional , deixou mur- char o lado direito a ponto de não ter mais acesso às emoções do coração e à porta do subconsciente. São pobres vassalos dos diabos sem horizontes nem esperanças. Agora, carimbarem- abala nada. Bem pelo contrário, apenas classifica quem assim nos classificou. Tentando seguir o caminho lógico racional que lhes resta, chego à conclusão de que consideram SER PATRI- OTA e SER LOUCO uma espécie de doença infecciosa, que - - Responderei com a pergunta: E D. Afonso Henriques? Não era também um PATRIOTA LOUCO, que não apenas conquistou Portugal aos mou- ros, mas até se levantou contra a mãe e quebrou sua vassalagem ao Reino de Leão para criar uma Pátria para os Portugueses?; E Afonso de Albuquerque? Não era um PATRIOTA LOU- CO, quando, com um pequeno punhado de homens de- cididos, arrancou parte da Ásia ao Mundo Muçulmano? Tantos exemplos de PATRIOTAS LOUCOS poderia dar, que apenas os incluo num grito de VIVA aos PATRIOTAS LOUCOS! Apeiron Edições | 27
  • 28. Rainer Daehnhardt Afinal foram, e sempre serão, eles, que escrevem a história dos povos e não os vermes apologistas do lamber das botas a qual- quer agência de ratings. - Fig. 2 - Os Reinos de Fez e Marrocos. Mapa gravado, a cobre, por Johannes Mercator (1562- -1595). Mostra os Algarves Aquém e Além-Mar, desde o Cabo de S. Vicente até ao Cabo do Bojador. Indica as praças portuguesas de Ceuta, Tânger, Arzila, Azamor e Mazagão (esta, frente à Ilha do Porto Santo). | Museu Luso-Alemão 28 | Apeiron Edições
  • 29. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir CAPÍTULO IV ______ TUNES E ALCÁCER-QUIBIR Não se deve ver a batalha de Alcácer-Quibir como um acto isolado de um jovem Monarca órfão, fanatizado por uma edu- cação jesuíta e um mundo de sonhos de glórias ancestrais. Qualquer momento da história deve ser visto no enqua- dramento do seu tempo. Para isso, devemos aproximar-nos dos momentos mais significativos que o antecederam. Só as- sim é que nos é dado acesso a partes do pensamento, que jus- tificaram no jovem Monarca luso as tomadas de decisão, que acabaram por levar a nação ao descalabro. Diversos pesquisadores da história de Portugal fazem refe- rência à entrega a D. Sebastião do elmo usado por Carlos V, durante a sua tomada de Tunes (1535). Foi seu tio, Filipe II de Espanha, quem ordenou a entrega deste talismã, sabendo que D. Sebastião sempre mostrou um respeito especial pelo Impe- rador Carlos V, seu avô. Devemos, por isso mesmo, debruçar-nos um pouco sobre a actuação de Carlos V em solo africano, para reencontrar as razões de D. Sebastião. Carlos V interveio em África para recolocar um soberano muçulmano no trono; D. Sebastião interveio em África para recolocar um ou- tro soberano muçulmano, ao qual tinha sido tirado o trono; Carlos V formou uma aliança, juntando ajuda militar portuguesa, alemã e italiana às suas tropas espanholas, tiradas de Espanha e dos Países Baixos, que lhe esta- vam submetidos; D. Sebastião formou uma aliança, juntando ajuda mili- tar espanhola, alemã e italiana às suas tropas lusas, ti- radas de Portugal e das Praças Lusas do Norte de África; Carlos V pediu ajuda militar à França, mas esta não só não a concedeu, como forneceu armas e munições ao Apeiron Edições | 29
  • 30. Rainer Daehnhardt Heyreddin (Barbarossa), que tinha tomado Tunes ao Muley Hasan e que, de novo, as utilizou contra as forças do Imperador do Sacro Império. A França até foi mais longe e mandou um embaixador permanente (Jean de la Forêt), ao Grande Turco, em Constantinopla; D. Sebastião pediu ajuda à França e concordou até em casar com uma Valois, mas não recebeu nem a noiva nem o exército. Bem pelo contrário, descobriu que a França havia enviado um embaixador ao Rei de Marro- cos, para o aconselhar na sua Guerra contra os Portu- gueses; Heyreddin tomou Tunes em 16 de Agosto de 1534, ou seja, em pleno Verão; Carlos V começou a sua Tomada de Tunes em Junho de 1535, desenrolando-se a sua campanha Africana em pleno Verão; D. Sebastião saiu de Lagos a 27 de Junho de 1578, le- vando a efeito a sua campanha africana em pleno Verão, com o desfecho trágico que se conhece, a 4 de Agosto; Carlos V foi aconselhado a não escolher esta altura do ano para o seu ataque aos mouros e turcos; D. Sebastião recebeu precisamente os mesmos conse- lhos; Carlos V foi aconselhado a não tomar pessoalmente par- te nesta arriscada empresa africana. Porém, decidiu participar; D. Sebastião foi mais longe: ou se fazia a campanha com ele a liderar, ou não se fazia de todo! Pelo acima exposto, já se pode verificar o grande grau de semelhança entre a campanha africana do avô e a do neto. Se a escolha do Verão para a campanha foi sempre tida como sinal de insensatez do jovem Monarca luso, chegando-se ao ponto de o dos seus militares muito mais experimentados, deveríamos usar o mesmo critério em relação a Carlos V. Por que razão ninguém se atreve a tal? Por uma razão mui- to simples: Carlos V saiu vitorioso da sua contenda e D. Se- bastião desapareceu na dele. 30 | Apeiron Edições
  • 31. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir Há, porém, pormenores pouco conhecidos nestas campa- nhas, que dão que pensar. 1º. Carlos V libertou 20.000 escravos cristãos, em posse do Heyreddin, que este sequestrou nas costas cristãs do Mediterrâneo; 2º. Carlos V tinha na sua armada 74 galés, cujos rema- dores eram cristãos protestantes calvinistas e zwin- gliistas, aprisionados nos Países Baixos. Não consta que tenham sido libertados; 3º. Carlos V conseguiu juntar forças substancialmente maiores das que D. Sebastião juntou. Os números apresentados divergem entre os 25 mil e os 50 mil homens; 4º. Porém, não foi apenas o número de forças à disposi- ção de Carlos V que foi substancialmente maior: a qualidade também foi bem superior; 5º. 30 % da armada de Carlos V era composta por auxí- lio português. Neste, destacou-se o maior galeão de guerra então existente no mundo ocidental. Chama- va-se GALEÃO SÃO JOÃO BAPTISTA, mais conheci- - r- taleza flutuante, com 366 peças de artilharia de bronze, da melhor qualidade e de maior alcance; 6º. Quem comandou esta maravilha da técnica lusa, foi o Infante D. Luís, filho de D. Manuel I e pai de D. António I (o Prior do Crato); 7º. Tunes situa-se numa lagoa interior, protegida do mar por uma terra estreita, e defendida por uma for- taleza impressionante, La Goleta. Esta vigiava a en- trada de um canal de ligação da Lagoa de Tunes ao Mediterrâneo; 8º. La Goleta, muito bem apetrechada de artilharia oto- mana (e também francesa, o que depois da tomada se veio a verificar), fechou o canal com uma corrente de ferro de elos gigantes o que, para a época, signifi- cava a impossibilidade da entrada de qualquer em- barcação inimiga no canal; 9º. D. Luís, com o seu experimentado comandante, An- tónio de Saldanha, e os artilheiros alemães de Lisboa, aceitou o desafio. Bombardeou não apenas as duas Apeiron Edições | 31
  • 32. Rainer Daehnhardt fortalezas de La Goleta, ao ponto de desabarem, co- mo danificou a corrente com tiros certeiros, a ponto de o grande esporão do galeão acabar por a cortar ao primeiro embate; 10º. - que entrou na Lagoa de Tunes. Com ele, veio parte da armada de Carlos V e a vitória. O saque e a matança de 30 mil muçul- manos que se seguiu, não honram ninguém; 11º. D. Sebastião sabia de tudo isto. Deve ter lamentado - embarcação comparável em poder de fogo. A Ordem de Cristo que os mandara construir, tinha sido con- denada ao desaparecimento da vida militar, comer- cial, cientista e missionária, acabando em mera or- dem monástica. Talvez tenha sido precisamente a -FOG emprego, que tiveram peso na decisão papal; 12º. O que D. Sebastião talvez não soubesse foi quem fi- nanciou a campanha africana do seu avô. Uma frota de ouro tinha acabado de chegar do Mundo Novo, para re- aver o seu soberano, preso por forças castelhanas. Encheram uma sala com objectos de ouro, mas a sede do ouro foi insaciável e o soberano foi mesmo morto; 13º. D. Sebastião não optou por tais recursos. Lançou pesados impostos no Reino e aceitou a ajuda finan- ceira dos Cristãos Novos. Interveio a seu favor, pe- dindo ao Papa que não fossem perseguidos pelo San- to Ofício, durante um prazo de dez anos. Concluindo, devem-se ter em conta também estes dados li- gados à campanha africana do seu avô, Carlos V, para se po- der começar a compreender D. Sebastião! 32 | Apeiron Edições
  • 33. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir CAPÍTULO V ______ RESGATADOS EM TROCA DE ARMAS! Os luteranos que combateram ao lado de D. Sebastião não foram os únicos cristãos deixados nas masmorras africanas por intolerância inter-cristã. D. Sebastião aceitou a ajuda dos luteranos, que por ele e por Portugal deram as suas vidas. Os que foram presos não foram resgatados. Já não era D. Sebastião que reinava; era o seu tio, Cardeal- -Rei, D. Henrique, o Inquisidor-Mor. A protecção aos luteranos terminou com o desaparecimento de D. Sebastião. Os sobreviventes portugueses, espanhóis e italianos foram resgatados por uma ordem religiosa papal, instaurada preci- Como o Concílio de Trento proibiu qualquer contacto entre e- cidos como tais, por se negarem a aceitar o Papa como inter- mediário entre Deus e os homens), nada se fez para trazer de volta à Europa os combatentes nórdicos ou suas famílias. Os que sobreviveram, mas ficaram feridos, nada valiam no mercado dos escravos. Assim, nem sequer mereciam ser alimentados! Por esta ra- zão, foram passados a fio pelos sabres mouriscos. Os que se apresentavam capazes de servir foram leiloados como escravos. As mulheres foram vendidas como escravas. As crianças femininas foram para os bordéis. As crianças masculinas foram vendidas ao sultão, para ser- virem como janízaros, uma força de elite militar recrutada en- tre crianças cristãs, raptadas ou compradas, que eram educa- das em fanatismo religioso anticristão. Os janízaros foram a primeira força militar a criar atirado- res especiais. Primeiro de arco, depois de espingarda. Eram Apeiron Edições | 33
  • 34. Rainer Daehnhardt tão dextros no seu manejo que, a certa altura, um sultão ficou com medo deste seu exército. Convidou todos os comandantes para um grande jantar de homenagem, durante o qual foram assassinados. Na mesma altura, mandou cercar as forças janí- zaras nos seus aquartelamentos e incendiar os mesmos, sem os deixar sair. Destes destinos não se fala, como se de tabus se tratasse. Porém, foram realidades e bem tristes. Não foi apenas em Alcácer- í- ram em mãos muçulmanas. Décadas mais tarde, já no século XVII, galeões holandeses de retorno da Ásia foram capturados por uma esquadra de muçulmanos norte-africanos. Os holandeses eram calvinistas e, de novo, a ordem religio- sa incumbida de tratar das negociações de resgate de cristãos -se a fazê-lo. - Fig. 3 - Cálice português do 3º quartel do século XVI. Tam- bém o clero luso acompanhou D. Sebastião para África. Poucos voltaram. | Museu Luso-Alemão As notícias dos horrores que os ale- mães e, entre eles, também bastantes holandeses passaram, após a batalha de Alcácer-Quibir, ainda estavam bem paten- tes nas praças dos Países Baixos. Resolveram, então, negociar o resgate de centenas de holandeses em masmorras norte-africanas, em troca de espingardas. Os muçulmanos usavam até então es- pingardas de mecha. Os holandeses já utilizavam armas de pederneira, concretamente, de chenapan. Entregaram milhares destas armas aos norte-africanos, que as usaram durante séculos, aprendendo a restaurar todas as pe- ças dos mecanismos e a copiá-los na íntegra. Na foto junta abaixo vê-se, na parte de cima, um mecanis- mo de ignição chenapan solto, proveniente de uma espingarda holandesa do século XVII; em baixo um pormenor de uma es- 34 | Apeiron Edições
  • 35. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir pingarda norte-africana do século XIX com mecanismo quase idêntico. O caso dos alemães não resgatados depois de Alcá- cer-Quibir e o dos holande- ses trocados por espingar- das tiveram peso nas futu- ras decisões da separação dos poderes dos Estados em - Fig. 4 - relação à Igreja. Em cima: fecho chenapan holandês. Em Os Papas tiveram exérci- baixo: espingarda norte-africana com cópia de fecho holandês. | Museu Luso-Alemão tos e marinha de guerra até meados do século XIX, mas, quando se tratava de resgatar cristãos não submetidos a Ro- ma, passaram os próprios governos a tratar destes assuntos, não recorrendo mais à ordem religiosa papal para este efeito criada. A primeira organização independente a tratar de trocas de prisioneiros surge durante a Guerra da Crimeia. É a Cruz Vermelha, que trouxe imenso Bem para a humanidade. Se alguém perguntar o que é que a Guerra da Crimeia tem a ver com a batalha de Alcácer-Quibir, responderei: à primeira vista nada! À segunda vista imenso, porque a história é como uma perfeita teia de aranha: está tudo interligado! - Fig. 5 - A esquadra do avô de D. Sebastião, Carlos V, na travessia do Mediterrâneo, para a sua Campanha Africana, em pleno Verão de 1535. Um terço da esquadra era composta p BOTA- rti- lharia foram decisivas na Tomada de Tunes. | Museu Luso-Alemão Apeiron Edições | 35
  • 36. Rainer Daehnhardt - Fig. 6 - O desembarque e o levantamento das tendas na costa africana. | Museu-Luso-Alemão - Fig. 7 - O Imperador Carlos V recebendo os primeiros prisioneiros mouros e as cabeças dece- padas de turcos, contra os quais se encontrava em guerra, e que estavam a auxiliar os mouros de Tunes. | Museu-Luso-Alemão 36 | Apeiron Edições
  • 37. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir CAPÍTULO VI ______ SABIAM QUE DOM SEBASTIÃO -ENTRE- Foi difícil para D. Sebastião ter nascido órfão de pai. Sua mãe teve de o deixar em Portugal e voltar para Espa- nha, por razões de Estado. Assim, cresceu D. Sebastião sem pais que o pudessem amar e prote- ger das intrigas políticas, nacionais e internacionais. O Menino-Monarca cresceu, po- rém, com o conhecimento de que tinha mãe e que esta se preocupava com ele. A troca de correspondência entre os dois manteve vivo o cordão umbilical. - Fig. 8 - A mãe de D. Sebastião. Gravura a aço intitulada Princesse de Portugal + 157 (Obviamente, trata-se de um erro na indicação da data da sua morte, que ocorreu em 1573). | Museu Luso-Alemão Estando o Desejado em Sagres, recebeu a notícia do faleci- mento da sua mãe, Princesa Joana de Portugal, da Casa de Habsburgo, de boa memória. Nesse momento é que D. Sebas- tião se sentiu totalmente só. Fechou-se, durante três dias de nojo, no Mosteirinho do Cabo de São Vicente (local onde pla- neava criar a nova sede da Ordem de Cristo). O seu avô, D. João III, decidiu, em 1555, que o lugar de Grão Mestre de cada uma das três Ordens Religiosas Militares Portuguesas (Cristo, Aviz e Santiago), futuramente, apenas devia ser preen- chido pelo monarca de Portugal. Assim, D. Sebastião foi Grão- -Mestre da Ordem de Cristo. Apeiron Edições | 37
  • 38. Rainer Daehnhardt Porém, o que resolveu fazer durante os três dias de retiro? ARMOU-SE A SI PRÓPRIO CAVALEIRO DA ORDEM DE CRISTO. Assim sendo, estaria IGUAL ENTRE IGUAIS, com to- dos os outros cavaleiros e como eles estaria pronto a dar a vida pela Pátria e pela Fé. Um gesto pouco conhecido e sem igual! - Fig. 9 - A mãe de D. Sebastião. Gravura a Jeanne -se chamar a atenção de que foi Princesa de Portugal (não Rainha), mas Regente de Espanha. É interessante saber-se, que foi grande defensora dos franciscanos em Portu- gal e que, em Espanha, se correspon- deu com Ignácio de Loyola e com o Papa, acabando por ser a única mu- lher jesuíta do seu século. | Museu Luso-Alemão - Fig. 10 - A escultura, em bronze, no túmulo da mãe de D. Sebastião. Gravura água- - Tombeau de la Prin- cesse Juanna (convent des descalzas Reales à Madrid). | Museu Luso-Alemão 38 | Apeiron Edições
  • 39. Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir Fig. 10 A escultura, em bronze, no túmulo da mãe de D. Sebastião. Gravura água- Tombeau de la Prin- cesse Juanna (convent des descalzas Reales à Madrid). Museu Luso-Alemão - Fig. 11 - Frontispício de uma carta régia, em pergaminho iluminado, passada em nome de Carlos V e assinada pela mãe de D. Sebastião, na qualidade de Regente do Reino de Espanha, na ausência do pai, Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano da Nação Germâni- ca, Carlos I, Rei de Espanha. A carta é datada de 1555, um ano após o nascimento de D. Sebastião. Pouco depois, a Princesa Joana entrou no Convento das Descalças, do qual não mais saiu. É interessante verificar que a temática escolhida para a iluminura é a de uma noviça a vestir o hábito. | Museu Luso-Alemão Apeiron Edições | 39
  • 40. Rainer Daehnhardt CAPÍTULO VII ______ UMA INVESTIGAÇÃO ALEMÃ SOBRE O FALSO (?) DOM SEBASTIÃO Quando, devido ao desaparecimento de uma personagem líder, um país inteiro entra em choque, cresce, de forma inex- plicável, um estado emocional saudosista. Os ingleses tiveram o seu Rei Ricardo Coração de Leão; os alemães o Imperador Barba-Roxa e os portugueses D. Sebastião. À sua volta cria- ram-se mitos e lendas, cantados por todas as aldeias e burgos dos seus reinos, facilmente ganhando atentas audiências. A vontade de aceitar estas personagens (desde que voltassem) era tanta, que bastava apenas surgir alguém que se apresen- tasse como tal, para rapidamente obter uma corte de seguido- res. Assim, no caso de D. Sebastião, que com 24 anos de idade desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir (1578), surgiram, por quatro vezes, pessoas aclama ESE- lmente voltara de África. - Fig. 12 - Pormenor dos embutidos de latão numa besta dos ginetes de D. Sebastião. Obra por- tuguesa, cerca de 1570. | Museu da Coudelaria Real, ex-colecção Rainer Daehnhardt 40 | Apeiron Edições