4. A LINGUAGEM SIMBÓLICA DAS ILUSTRAÇÕES DE
O ENIGMA DE FERNÃO DE MAGALHÃES
As cores reflectem o ambiente antigo
com tons sépia e ocres, algumas cores mais
vivas na vestimenta da personagem prin-
cipal e na rosa-dos-ventos. O fundo é um
mapa de navegação daquela época já
bastante envelhecido especificamente da
zona da Patagónia/Terra do Fogo/Estreito
de Magalhães. A paisagem a verde que
aparece representa todas as Ilhas do
Oceano Pacífico que Magalhães descobriu
e onde acabou por perder a vida. Re-
presentam as Ilhas: Guam, Mactan, Saluan,
Masavá, Zebú...
A imagem da ilha junto à espada sim-
boliza a luta mortífera e injusta que Fer-
não de Magalhães travou nesse local.
A Esfera Mundi aparece dentro do
globo que Fernão de Magalhães tem na
mão, com toda a sua carga simbólica.
Aparece também na contracapa em marca
de água.
A espada nesta pintura tem um signi-
ficado que justifica o seu destaque: é uma espada do tempo de Fernão de
Magalhães. É provável que tenha sido este tipo de espada com que o
navegador português lutou em terras distantes do Pacífico contra os
indígenas e onde às suas mãos encontrou a morte. Para além deste
elemento que dá o mote à pintura, encontramos um outro não menos
Gabriela Marques da Costa (a pintora)
Outros elementos suplementares de
interpretação (Dulce Leal Abalada)
O Enigma Fernão de Magalhães
7Apeiron Edições |
Pintura de Gabriela Marques da Costa
Capa e Contracapa
5. importante que é a imagem do mapa de fundo que nos dá a rota seguida
pelo navegador para realizar a circum-navegação do globo. Razão por
que encontramos na gravura de Fernão de Magalhães uma mão apoiada
sobre o planeta Terra e a outra a segurar, em gesto de medição, um
compasso que significa os cálculos que terão sido feitos para rumar em
direcção ao seu objectivo. E isto porque Fernão de Magalhães sabia que
não podia entrar em águas que eram da Coroa portuguesa. A Rosa-dos-
-Ventos é outro dos instrumentos de orientação fundamentais para o
cumprimento da missão, e o seu uso pelo navegador não podia faltar,
pois para além de orientar, a sua forma desenhada em estrela tinha como
objectivo principal facilitar a visualização dos quatro pontos cardeais com
o balanço da embarcação. Num outro enquadramento do fundo da ima-
gem da capa encontramos embarcações indígenas que dão pelo nome de
balangai e que eram utilizadas por estes povos na pesca.
Por sua vez, na contracapa encontramos outros elementos importantes
como a esfera armilar, que preenche grande parte do fundo, simbolizando
o poder que Portugal detinha então nos mares, rivalizando só com o vi-
zinho espanhol. Igualmente se vê uma ilha em ambas as imagens como
que nos induzindo para a sua importância. Terá sido nela que Fernão
Magalhães foi morto e abandonado à sua sorte pelos seus companheiros
de viagem? O fundo é rico em vários pormenores dignos de registo, des-
de a presença de várias caravelas, contrastando com os balangais, até ao
mapa do trajecto da viagem efectuada pelo navegador português.
Eduardo Amarante
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6. ÍNDICE
Fernão de Magalhães
Primus circumdedisti me – Foste o primeiro que me circundou
Caetano Alberto
O Navegador Português
Latino Coelho
Herói ou Traidor?
Rainer Daehnhardt
1. Dar mundos ao mundo
2. Não se paga a traidores
3. Imolado no altar da História
4. O genial ardil político de D. Manuel I
5. O segredo nunca antes revelado do Tratado de Tordesilhas
6. A saída honrosa
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O Enigma Fernão de Magalhães
7.
8. AGRADECIMENTOS
O Projecto Apeiron/Apeiron edições agradece ao Museu Luso-Alemão (que
ainda não se encontra aberto ao público), e de modo particular ao seu
director, o pesquisador luso-alemão Rainer Daehnhardt, a disponibilidade
em apoiar-nos na produção desta obra com informações e acesso aos ori-
ginais de mapas antigos da sua colecção que tanto têm contribuído para o
conhecimento da História de Portugal.
O Museu Luso-Alemão é o resultado da vontade multissecular de ge-
rações de uma família de diplomatas radicada em Portugal, que se esforçou
por reunir um acervo cultural sobre a História de dois povos: o português e
o alemão. Consciente da necessidade de um esforço comum para dar con-
tinuidade à existência da Humanidade, em liberdade e harmonia com a
natureza, recebeu a ajuda de centenas de militares e de civis para levantar
um dólmen em homenagem às origens da lusitanidade. Este, situa-se no
parque do museu, no meio dos bosques dos carvalhos sagrados de Belas,
onde, assim reza a história, Viriato enterrou a sua espada invicta.
Entre as muitas temáticas distintas existentes no Museu, destaca-se o seu
arquivo, de grande envergadura, com cartografia dos descobrimentos, que
ainda não foi devidamente estudado.
O Enigma Fernão de Magalhães
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9. A Igreja diz que a Terra é achatada,
mas sei que ela é redonda, porque vi a sombra dela na Lua,
e acredito mais numa sombra do que na Igreja.
Fernão de Magalhães
12. O Enigma Fernão de Magalhães
Apeiron edições | 15
Foi esta a divisa que Carlos V, o imperador, escreveu na esfera que en-
cimou o brasão de Sebastian del Cano, o afortunado piloto castelhano, que do
mar do sul trouxe a S. Lucar de Barrameda, a nau Victoria, com a notícia da
descoberta das ilhas Marianas, tendo dado a volta ao mundo.
Afortunado chamámos a Sebastian del Cano, e que maior fortuna que
colher os loiros que deviam cingir a fronte de outro, a quem a sua má estrela
lhe anoitou a existência depois de o ter guiado à vitória!
E que outro podia ser que um português a devassar os mares, a circundar
o globo?!
Que de empresas arrojadas; que de feitos d’armas; que de acções gene-
rosas; que de progressos das ciências se poderão apontar na história, que não
encontreis à sua frente o primeiro entre os primeiros: o português.
Ah! Que até chego a duvidar se estou acordado ou sonhando, quando
ouço para aí tanto pessimismo a amesquinhar o nosso valor, a duvidar, a
descrer de nós próprios!
Não há talvez outro exemplo de uma nacionalidade assim! Tão grande;
tão prestimosa; tão brilhante, que o seu nome está escrito no mundo inteiro,
pelos mares, nas ilhas, nos continentes, nos mais recônditos sertões e até nos
Astros – como adiante veremos – e que tão pouco julgue de si. Tendo-se por
fraca quando tanto é o seu valor. Julgando-se pobre quando é tão rica, que
tem dado prodigamente a outros e tanto ainda lhe resta para si; que tendo
uma história tão gloriosa como outra não há, pense que não é dela que há-de
viver, como se fosse uma Roma caída, que já não tem a girar-lhe nas veias o
mesmo sangue com que escreveu essa história!
Mas então o que valem os feitos dos nossos soldados, que ainda nos
princípios deste século se batiam e levavam de vencida as legiões do primeiro
capitão, que avassalava o mundo com a sua espada e que veio encontrar,
13. Rainer Daehnhardt, Latino Coelho e Caetano Alberto
16 | Apeiron Edições
neste recanto da península, os primeiros revezes da guerra que o levaram por
fim a Santa Helena: o grande Bonaparte!
Mas que valem, em nossos dias essas vitórias alcançadas em África, que
despertam a admiração do mundo; que significa ainda o triunfo que neste
momento as armas portuguesas estão a alcançar na Oceania?; o que vale o
ressurgir das nossas artes, que vão honrar o nome português nos certames
onde concorrem os artistas de todo o mundo, como agora, em Berlim; que
glória nos vem de um dramaturgo português Pinero (Pinheiro), em Ingla-
terra, alcançar os maiores triunfos nos teatros de Londres, e das suas peças
percorrerem toda a América; para quê orgulharmo-nos dos Lusíadas que é
um poema eterno porque canta as glórias de um povo de guerreiros e de
navegadores; para que serve a expansão deste país pequeno, cujos seus filhos
afirmam a vitalidade da pátria pelas cinco partes do mundo, em colónias tão
importantes como as da América, da África, da Oceania e da Ásia; que im-
portância têm os nossos homens científicos que se distinguem nos con-
gressos onde se reúnem as sumidades da ciência; o que quer dizer essa luta
da indústria portuguesa a medir-se com as indústrias de outros países mais
adiantados, suprindo as necessidades de um povo civilizado a que a má
administração das suas finanças acarretou uma crise económica; o que
importa o renascimento de um país que em meio século tem realizado todos
os progressos que o aproximam das nações mais cultas?
Serão próprios de uma raça degenerada, de um país perdido, de uma
civilização extinta, todas estas manifestações de vida, afirmações de força, de
luta pela existência, sob um sol criador, numa terra ubérrima, que se de-
sentranha em frutos, que encerra tesouros, em suas minas, fertilizada por
abundantes rios, que tem tudo que há em outros países e mais o que eles não
têm, que é rica, enfim, de todos os bens que a natureza possui e que Deus
parece ter reunido aqui como no paraíso terreal!
E para que foi que este povo, achando-se apertado no solo que as suas
espadas conquistaram, se aventurou aos mares a alçar a sua bandeira em
terras até então desconhecidas, levantando impérios na Índia e na América,
avassalando novos mundos onde a família portuguesa pode viver como na
pátria porque são pátria também de portugueses.
Mas basta. Não enumeremos mais o que deveria estar na lembrança de
todos os filhos de Portugal, o que nunca deveriam esquecer, porque é es-
quecerem-se da sua nacionalidade, do que prova a sua existência e auto-
14. O Enigma Fernão de Magalhães
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nomia, do que dá razão da sua vida através de todas as vicissitudes por que
tem passado.
Pois quê! Se Portugal não fosse um elo importante da cadeia que liga a
grande família da humanidade, teria resistido aos embates da sorte que
tantas vezes o têm experimentado?
Se ele não tivesse concorrido tão bastamente para a civilização que o
mundo desfruta, como teria atravessado por entre os séculos e lutado contra
as ambições de estranhos que tentaram apagar dos mapas as linhas que de-
marcam as suas fronteiras!
A Polónia sucumbe sob o grande colosso porque a sua nacionalidade não
coopera na transformação por que o mundo passa ao sair da Idade Média. O
mesmo acontece à Hungria. Veneza caiu quando as novas descobertas em-
panam o brilho da sua navegação e do seu comércio.
Portugal existe e vive porque o ciclo da civilização de que ele lançou os
primeiros segmentos ainda não se fechou.