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34 RBCE - 116
Daniel Melo é gerente de Negócios Estruturados da Construtora Andrade Gutierrez S.A.
Engenharia brasileira na África
Daniel Melo
África
EXPORTAÇÃO DE
SERVIÇOS DE ENGENHARIA
A exportação de serviços é, de
uma forma geral, uma atividade
pouco conhecida no Brasil.
Como ela se desenvolve, quais
benefícios traz para a economia,
como gera empregos e renda,
são questões conhecidas
apenas por poucos, mais
especificamente por aqueles
que trabalham diretamente
neste setor.
No Brasil, tudo que se pensa ou
se faz em termos de exportação
nasce da ideia de algo que se
produz, embala e envia para
o exterior e pelo qual o país
recebe divisas como pagamento.
O arcabouço legal, todos os
procedimentos e formulários
foram criados com base nesta
concepção limitada.
A exportação de serviços é
muito mais complexa do que
isso porque implica que o
produto a ser exportado deve ser
fabricado no país do importador,
já que não podemos produzir
e embarcar pontes, rodovias,
usinas hidrelétricas, aeroportos
ou instalações industriais.
Esta diferença leva a diversos
procedimentos distintos da
exportação de bens e materiais,
estes bem mais simples.
Primeiramente devemos
entender que o exportador de
serviços é, na verdade, um
estruturador de negócios, que
se lança no mercado externo
a seu próprio risco, identifica
oportunidades e as estrutura até
transformá-las em um negócio.
A viabilização desses negócios
depende de preços competitivos
de financiamentos de longo
35RBCE - 116
prazo a custos brandos de
nível internacional, condições
geralmente obtidas quando
se tem o apoio dos governos
dos países exportadores e de
soluções criativas idealizadas
muitas vezes sob medida.
Quase todos os países
industrializados têm seus
sistemas governamentais
de financiamento e seguro,
denominados de Agências de
Crédito à Exportação.
O desenvolvimento da
oportunidade até sua
transformação em um contrato
exige grande investimento do
exportador, que necessita
se estabelecer no país e ter
conhecimento principalmente:
zz da idiossincrasia e história do
país importador;
zz da sua cultura e hábitos;
zz do seu arcabouço legal;
zz de suas práticas de negócio;
zz do potencial de outras
oportunidades que possam
garantir a continuidade de
operação da empresa naquele
mercado, e;
zz de vários outros aspectos
exigidos para a concepção de
um negócio.
Isso, obviamente, representa
um investimento substancial
do exportador, onde as
chances de insucessos não
são nada desprezíveis. Esta é
a razão principal pela qual esta
atividade, no mundo inteiro, é
desenvolvida por empresas,
em geral, de porte grande o
suficiente para suportar as
exigências de investimento
e os riscos inerentes a
estes mercados.
No entanto, essa é uma atividade
que traz enormes benefícios para
ao país exportador, razão pela
qual os governos, atentos a esta
realidade, apoiam fortemente e
de várias formas suas empresas
exportadoras de serviços.
Uma vez transformada a
oportunidade em contrato, o
exportador de serviço, no seu
papel de estruturador de
negócios, abre oportunidade
para uma série de empresas,
normalmente seus tradicionais
parceiros de exportação, uma vez
que o exportador precisa comprar
de terceiros os componentes,
serviços, equipamentos e
materiais necessários à
execução do novo contrato.
Assim, no Brasil, os exportadores
de serviços de engenharia,
cerca de cinco a seis empresas
reconhecidas como mais
atuantes neste mercado, têm
criado oportunidades para
cerca de três mil empresas
parceiras, a maioria pequenas
e médias empresa, que não
teriam oportunidade de sozinhas
acessarem o mercado externo.
Essa atividade promove a
criação aproximada de 192
empregos, entre diretos,
indiretos e induzidos, por cada
milhão de dólares exportados,
uma relação substancialmente
mais elevada que a exportação
de bens. Essa relação mais
elevada é natural, uma vez que na
produção de bens, os processos
de produção podem e devem
fazer maior uso de automação,
robótica e outros processos que
reduzem a necessidade da mão
de obra na fabricação, ao passo
que a execução de uma obra
de engenharia, normalmente
tailor made, requer muito
mais mão de obra.
Além disso, a exportação de
serviços de engenharia cria um
importante canal para exportação
de bens, uma vez que os clientes
importadores buscam cada vez
mais soluções completas, ou
seja, o cliente quer uma usina
hidroelétrica e não somente a
compra das turbinas; quer um
aqueduto e não a compra de
tubos. O exportador de serviços
é o elemento que tem a expertise
de estruturar este negócio de
forma global.
É através dos contratos de
serviços que se viabiliza a
exportação dos equipamentos de
produção, tais como: caminhões,
tratores, carregadoras, centrais
de concreto e outros similares.
Sem esse mecanismo, é
pouco provável que haja
possibilidade de exportação
desses equipamentos, que de
outra forma teriam, inclusive, a
resistência natural dos dealers
locais que vendem estes
mesmos equipamentos no país.
Outro aspecto muito importante
esta relacionado a como os
exportadores de serviço criam
também canais informais de
comunicação entre os governos,
facilitando enormemente a
solução de vários problemas
entre eles.
36 RBCE - 116
INFRAESTRUTURA
NA ÁFRICA
Conforme mencionado
anteriormente, desenvolver
projetos de infraestrutura
no exterior implica em um
grande desafio, considerável
investimento e muito trabalho
de campo. Tratando-se da
África, contamos com sua
vasta história de instabilidade
política, guerras, falta de marco
jurídico adequado, incertezas
sobre o rumo das economias
e, principalmente, escassez de
recursos financeiros para fazer
frente aos pagamentos das suas
obrigações.
Focando principalmente na África
Subsaariana, constatamos que
60% dos 52 países considerados
como subsaarianos estão
incluídos dentro do plano
implementado pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI),
especialmente desenhado
para países pobres altamente
endividados (HIPC Program).1
Através deste programa o FMI
reestrutura dívidas, controla
o endividamento dos países,
limita valores e condições de
novos empréstimos, desenvolve
programas de transparência,
fiscaliza e ordena o fluxo de
receitas e despesas de cada
país e realiza visitas periódicas
aos governos, a fim de controlar
o andamento da economia.
Embora constitua uma grande
ajuda para momentos de
grave dificuldade em países
com a economia sumamente
comprometida, esta mesma
ajuda limita consideravelmente
o desenvolvimento dos
mesmos, já que muitas vezes
o FMI se rege por parâmetros
macroeconômicos que
restringem e não permitem que
as economias regionais e dos
próprios países se desenvolvam
no ritmo necessário para o
atendimento das necessidades
da população.
O continente africano representa
20% da superfície terrestre do
planeta e conta com 30% das
reservas mundiais dos principais
minérios, sendo: 40% de ouro,
60% de cobalto e 90% de platino.
Os países da África Subsaariana
produzem, aproximadamente,
600 milhões de barris de petróleo
por dia (bpd), o que corresponde
a 8% da produção mundial.
Existem importantes descobertas
de bacias de petróleo no Leste
africano (Ruanda, Uganda,
Quênia) e de gás (Tanzânia e
Moçambique), neste último caso
com volume capaz de atender a
demanda mundial pelo prazo de
dois anos.
Todos estes países vêm
estabelecendo parcerias com a
China para desenvolver grandes
projetos de infraestrutura,
utilizando um modelo baseado
na economia do “escambo”,
tornando os próprios chineses
os principais compradores (off-
takers) e exploradores (através
de concessões) dos recursos
do continente, mitigando, dessa
forma em muito o risco de
crédito dos países tomadores
do financiamento, permitindo a
concessão de financiamentos
teoricamente baratos e de
1
Heavily Indebted Poor Countries (HIPC). IMF Program.
Os países da África
Subsaariana produzem,
aproximadamente, 600
milhões de barris de
petróleo por dia (bpd),
que corresponde a 8%
da produção mundial
37RBCE - 116
montantes significativamente
elevados para a construção
de diversos projetos de
infraestrutura. Este modelo
emprega principalmente mão
de obra chinesa, e restringe a
integração com a comunidade
local. De acordo com estimativas
recentes, a China destinou mais
de US$ 90 bilhões no período
2000-2011 ao financiamento de
1.700 projetos em 50 países.
A escassez de recursos por
parte dos bancos europeus (os
mais atuantes historicamente
no continente), devido à
recente crise, fez os países
desse continente perderem
grande espaço. Já os Estados
Unidos, visualizando o grande
crescimento na participação da
China no continente africano,
e a fim de recuperar seu
protagonismo, anunciou, em
julho de 2013, logo após a visita
do presidente Obama à África
do Sul, Senegal e Tanzânia, um
programa de investimento em
energia nos países da África
Subsaariana na ordem de
US$ 7 bilhões, com financiamento
do US Eximbank (US$ 5 bilhões),
Overseas Private Investment
Corporation – Opic (US$ 1,5
bilhão) e da U.S. Agency for
International Development
– Usaid (US$ 500 milhões
aproximadamente).
Infraestrutura
Brasileira
na África
Perante o panorama
anteriormente descrito,
as empresas brasileiras
especializadas em obras
de infraestrutura têm se
estabelecido e desenvolvido no
continente com grande esforço e
extrema competência. As obras
de infraestrutura já construídas
na África pelas construtoras
brasileiras, além de reconhecidas
pela sua excelente qualidade,
são o produto de árduas
negociações, com altas doses
de criatividade empregadas
para estruturá-las como um
negócio viável e, principalmente,
financiável.
Na área de financiamento, o
setor conta desde o final dos
anos 1990 com o apoio do
BNDES e, desde 1997, do
Governo Brasileiro, que através
do mecanismo do seguro de
crédito à exportação presta
garantia ao funding do Banco. A
atuação competente do BNDES
e do governo brasileiro abriu
diversas oportunidades, antes
muito restritas pelas limitações
orçamentárias do antigo PROEX.
A fusão, em 2003, entre o
Comitê de Financiamento
e o Comitê de Concessões
de Garantias, resultando na
criação do Cofig, reduziu
bastante o tempo de análise das
solicitações dos exportadores e,
ao mesmo tempo, permitiu uma
melhoria nos procedimentos de
análise dos pleitos.
A criação do Siscoserv2
permitirá
a geração de dados estatísticos
que facilitarão o estabelecimento
de políticas mais adequadas
para o setor, já que até hoje não
existem estatísticas precisas
sobre a atividade.
Atualmente o governo brasileiro
vem “saneando” velhas dívidas,
tendo estabelecido um plano de
perdão na ordem de US$ 900
milhões para 12 países.
As duas maiores dívidas,
correspondentes ao Congo-
Brazzaville, com US$ 352
milhões e Tanzânia, com US$
237 milhões, já usufruíram
deste beneficio. Esta constitui
uma clara mensagem de
reposicionamento do Brasil
para iniciar novas negociações
com os países africanos,
obviamente com características
diferentes daquelas concedidas
no passado, e com mitigadores
de risco suficientemente fortes
que permitam que não seja
preciso recorrer, futuramente, ao
mesmo mecanismo de perdão.
Adicionalmente, o governo
brasileiro, através do Cofig,
criou o Grupo de Trabalho
África (GTEX África) que estuda
atualmente o estabelecimento
de limites de crédito por países,
para facilitar a concessão
de garantias de crédito à
exportação e viabilizar novos
financiamentos do BNDES para
o continente. Inclusive, o BNDES
anunciou a criação de uma
nova diretoria específica para
tratar dos assuntos da África e
a abertura de uma sucursal em
Johanesburgo, na África do Sul.
Cabe destacar, dentro desta
atuação “multilateral” do governo
brasileiro, o importante papel
desempenhado pelo Itamaraty,
2
Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços.
38 RBCE - 116
já que o Brasil conta atualmente
com 38 embaixadas no
continente africano (19 foram
abertas nos últimos dez anos),
todas ativas e prestando serviços
importantíssimos no estreitamento
de relações comerciais e culturais
entre os países.
Claramente trata-se de reforçar
o posicionamento em um
mercado de elevado potencial
de crescimento e onde o
Brasil tem interesses
geopolíticos e relações
históricas. Obviamente, esta
abordagem do governo deve vir
acompanhada da contrapartida
das principais empresas privadas
brasileiras, que devem avaliar,
apostar e investir de acordo
com sua intenção de marcar
uma presença duradoura, e não
somente oportunista e de curto
prazo, no continente de maior
perspectiva de crescimento para
os próximos dez anos.
Como idealizar um
projeto de
Infraestrutura
na África?
Após o exposto, o importante
então é saber se é possível, e
como as empresas brasileiras
podem desenvolver projetos de
infraestrutura na África.
Pensar um projeto para a África
somente focando na necessidade
do país, na qualidade do
empreendimento e/ou na
solução de engenharia implicará
em enormes dificuldades e
até na impossibilidade de ser
levado a cabo, dependendo do
caso. A principal abordagem
para idealizar uma obra de
infraestrutura é partir do modelo
de negócio que será utilizado
para levar à consecução da
oportunidade. Isto implica em
ter claramente definidas as
seguintes questões:
zz Quem será o “dono do projeto”
e /ou importador;
zz Quem será o “devedor” e/ou
garantidor pelo repagamento
da obra;
zz Quais tipos de garantias
poderão ser consideradas para
a assunção do risco de crédito.
	 No que refere-se às garantias,
temos as seguintes opções:
	 Soberana total: o Estado
responde pelo endividamento
com o orçamento público.
Usualmente esta garantia se
resulta insuficiente em países
da África, com ratings de
crédito baixo e inaceitáveis
pelo mercado financeiro.
Adicionalmente, este foi
o mecanismo utilizado no
passado e que, como foi
mencionado, não funcionou
em pelo menos 12 países,
cujas dívidas foram ou serão
perdoadas pelo governo
brasileiro;
	Soberana parcial ou
condicionada: o Estado
garante uma parte do projeto;
garante por um período
determinado ou a garantia
é condicionada e só pode
ser acionada na ocorrência
de eventos específicos,
previamente definidos. Esta
garantia, no caso em questão,
O importante então é
saber se é possível,
e como as empresas
brasileiras podem
desenvolver projetos de
infraestrutura na África
39RBCE - 116
será considerada como
complementar, atendendo
sempre ao conceito de serem
insuficientes as garantias
soberanas, uma vez que a
maioria dos países da África
são considerados de alto risco;
	
	 Privada: uma empresa
(sponsor) assume o
risco de crédito;
	
	 Do Projeto: um veículo (SPE
– Sociedade de Propósito
Específico ou UTE – União
Transitória de Empresas)
garante com seus ativos e com
o fluxo do projeto
(Project Finance);
	
	Híbrido: a combinação das
opções mencionadas e/
ou outras especificamente
criadas que viabilizem o
empreendimento a satisfação
dos financiadores.
zz No que tange ao repagamento
do projeto/investimento,
as opções são:
	
	 Orçamento público: o Estado
repaga o empreendimento
baseado no seu próprio
orçamento, sem identificação
de uma receita específica.
Esta fonte possui uma grande
restrição como resultado da
fiscalização permanente do FMI
em países dentro do programa
Heavily Indebted Poor Country
(HIPC), além da própria
restrição dos orçamentos de
países com alta participação de
“doações” de terceiros países;
	 Receita específica: o Estado
aloca uma receita específica
para o pagamento do
endividamento, seja vinculada
ao projeto (arrecadação) ou
não (arrecadação de outro
projeto similar ou distinto,
imposto específico criado para
financiar o projeto, royalties,
cânones, repasses, etc). Neste
caso o estado assume o risco
de crédito e, caso a receita
não seja suficiente, deverá
completar com fundos
do seu orçamento.
	
	 Mais uma vez, para países que
possuem acordo com o FMI,
alocar royalties e impostos
para repagamento de dívidas,
sem que estas receitas sejam
antes internadas em moeda
local e contabilizadas no
sistema de Contabilidade
Central, apresenta-se como
uma alternativa impossível de
explorar, já que fere o principio
de transparência orçamentária
imposta pelo FMI e pelas
práticas usuais de mercado.
	
	 Existe uma alternativa que
será abordada mais adiante,
de alocação de receitas de
entidades autônomas ou
empresas paraestatais, que
se resulta factível e que tem
viabilizado grande parte
dos empreendimentos, já
que o FMI considera que
projetos autossustentáveis
não requerem autorização
especial do órgão;
	 Balanço de uma empresa
privada (sponsors): uma
empresa privada assume o
repagamento com sua própria
receita;
	 Receita do projeto: o fluxo
de receitas do próprio projeto
repaga o investimento
(Project Finance);
	
	Híbrido: a combinação das
opções mencionadas.
zz Há ainda a questão do meio
ambiente: qualquer projeto
a ser executado atualmente
em qualquer parte do mundo,
e especialmente na África,
deverá ser ambientalmente
correto e deverá ser analisado
sob os parâmetros do Banco
Mundial / Princípios do
Equador. Qualquer financiador,
seja público ou privado, deve
demonstrar que o projeto é
ambientalmente sustentável.
Esta condição é “deal-breaker”
e, caso o projeto apresente
controvérsias e impactos
impossíveis de serem
mitigados e/ou compensados,
deverá ser desconsiderado.
Sendo definidas as questões
acima apresentadas, ter-se-á,
então uma noção do rumo
que deverá ser tomado para
transformar a oportunidade em
um negócio, contando com a
estrutura adequada que permitirá
obter a atratividade do acionista,
de possíveis parceiros e dos
financiadores.
Como viabilizar
oportunidades
na África
Projetos de cunho social
São mais que necessários
no continente e são os mais
procurados pelos governos
dos países. Estes projetos são
geralmente suportados com
40 RBCE - 116
receitas dos governos centrais
e, para isso, conta-se sempre
com o importante apoio das
multilaterais, muito atuantes na
região. Neste caso, o próprio
governo toma os recursos para a
consecução das obras, através
de entidades como o Banco
Mundial, o Banco Africano de
Desenvolvimento, o Banco
Europeu de Investimento,
a Agência Francesa de
Desenvolvimento, etc.
Geralmente estes projetos são
submetidos a processos de
licitação desde a concepção
até a sua execução, sempre
atendendo ao princípio
de transparência. Outra
possibilidade para desenvolver
estes projetos pode ser através
do apoio parcial das multilaterais,
através de empréstimos na
modalidade “A/B loan” ou
através de garantias parciais
que viabilizem a participação da
banca privada, beneficiando-
se do “guarda-chuva” destas
entidades.
Projetos “soberanos”
sem apoio de multilaterais
Estes projetos contam
com a garantia soberana
exclusivamente, pois seu
repagamento provém dos
recursos do Tesouro do país,
que são contabilizados e
posteriormente alocados
anualmente em forma
específica dentro dos rubros
orçamentários. Como foi
mencionado anteriormente, a
grande dificuldade para estes
países é a restrição na utilização
desses recursos, (em virtude
da supervisão do FMI), e até na
própria geração dos mesmos,
ainda mais considerando
os grandes déficits fiscais e
a elevada participação nos
orçamentos das doações de
terceiros países que os ajudam
a “fechar as contas”. Por outro
lado, muitos dos países da
África Subsaariana possuem
um futuro promissor, haja vista
a existência de estimativas
mostrando que a exploração
dos seus recursos naturais
melhorará significativamente
seus orçamentos ao longo dos
próximos anos.
Para viabilizar-se uma
oportunidade de negócio,
deve-se trabalhar em várias
frentes:
zz Junto ao FMI, apresentando
a razoabilidade e a
importância do projeto,
negociando a possibilidade
do governo tomar um
endividamento (negociação
de valor) e, no caso que
não tenha as condições de
concessionalidade3
exigidas
pelo FMI, a possibilidade
de tomar empréstimos
com condições brandas
(geralmente de bancos
de desenvolvimento ou
suportados por garantias de
Export Credit Agency – ECAs)
ou com condições comerciais
(bancos comerciais).
3
Empréstimos Concessionais são financiamentos concedidos com condições mais favoráveis que as
condições dos financiamentos de mercado. No caso específico do FMI, exige-se que os empréstimos
tomados pelos países HIPC possuam um desconto (Grant Element), que surge da comparação do Valor
Presente Líquido (VPL) do financiamento concedido com o VPL do empréstimo, utilizando a taxa CIRR
para o desconto do fluxo. Geralmente, o Grant Element (desconto) aplicado é de 35%, o que significa
que, a Valor Presente, o financiamento concedido equivale a devolver só 65% do valor emprestado.
Muitos dos países da
África Subsaariana
possuem um futuro
promissor, onde estima-
se que a exploração
dos seus recursos
naturais melhorará
significativamente seus
orçamentos ao longo
dos próximos anos
41RBCE - 116
Para o FMI, projetos que não se
“auto-sustentam” com a geração
da sua própria receita não
deveriam ser implementados,
razão pela qual a negociação, é
muito importante e nada simples.
Para isso, deve-se contar
sempre com o apoio do cliente,
que será o interlocutor perante
o organismo.
zz Junto ao governo local,
analisando necessidade/
possibilidade/razoabilidade
do projeto, com o objetivo
de demonstrar a existência
de receita futura que será
gerada pelo governo (não pelo
projeto) e sua correspondente
alocação para o repagamento.
Como foi mencionado
anteriormente, aceitar o
repagamento puro e simples do
governo implica em assumir o
risco soberano direto de um
país com classificação de risco
muito elevada.
Como resolver esta
questão? O primeiro ponto
é escolher projetos que
sejam compatíveis com a
capacidade do país e que
sejam estruturadores, isto é,
gerem crescimento, riqueza e
empreguem mão de obra local.
Definida a oportunidade, um
recurso disponível para melhorar
o rating desta transação é tentar
desenvolver uma estrutura
mitigadora estabelecendo uma
conta colateral e uma conta
arrecadadora ou “collection”,
administrada por uma sociedade
“trustee” ou fideicomisso
independente, responsável pelo
gerenciamento dos recursos
e dos saldos alocados nas
mencionadas contas.
Este tipo de estrutura não
constitui uma “garantia total
de repagamento”, mas permite
contar com um importante
mitigador para monitorar o
seu fluxo e prever problemas
futuros. Através da conta
arrecadadora, pode-se monitorar
o fluxo de repagamento. Através
da conta colateral é possível
evitar atrasos nos pagamentos,
por meio da utilização do saldo
existente no dia do vencimento
da prestação. É claro que, no
caso de utilização deste saldo
da conta colateral, deverá
estabelecer-se que a parte
utilizada seja imediatamente
reposta. Dependendo do risco
de crédito do país e da qualidade
do projeto, poderá ser avaliada
a necessidade e/ou viabilidade
de estabelecer a conta colateral
em moeda forte fora do país
devedor (escrow account),
procedimento que pode melhorar
substancialmente o rating do
crédito em virtude de contar
com recursos em moeda forte à
disposição imediata numa praça
do exterior.
Projetos junto a
entidades estatais
autônomas, paraestatais
e empresas estatais
Geralmente são entidades que
possuem uma certa autonomia,
pois geram sua própria receita.
No caso dos países com acordo
junto ao FMI, estes projetos
não precisam da anuência do
órgão para serem desenvolvidos,
desde que seja demonstrado
que são “autossuficientes”, isto
é, cuja receita futura conseguirá
repagar o investimento. É
o caso de entidades de
administração de aeroportos,
portos, energia elétrica,
concessionárias estatais, etc.
Neste caso, os projetos podem
ser divididos em: a) projetos
com geração de receitas fora do
país (aeroportos e portos) que
possuem alguma vantagem ao
momento de serem financiados,
pois a geração é em moeda
forte; b) projetos com geração
em moeda local (energia elétrica,
rodovias, etc). Obviamente,
cada caso deve ser analisado
pontualmente, pois certos países
possuem limitações do FMI até
para administrar e dispor das
receitas geradas em moeda forte
no exterior, que devem, mesmo
assim, ser ingressadas no país,
transformadas em moeda local e
devidamente contabilizadas no
orçamento público.
Particularmente, não vejo
uma grande ameaça nos
projetos com geração de
moeda local, desde que exista
uma amarração contratual
adequada para compensar as
possíveis desvalorizações e
taxas de inflação. Claro que a
possibilidade de mercados de
câmbio paralelos com restrições
ou proibições para efetuar
remessas ao exterior inviabiliza
qualquer oportunidade, mas
uma estrutura de “collection” e
“collateral”, como foi comentada
anteriormente, ajuda a mitigar
bastante, mais ainda com a
intervenção de um “trustee”
independente, pois manter estas
contas dentro do país em moeda
local, ao câmbio equivalente
necessário para repagar os
42 RBCE - 116
financiamentos externos, pode
ajudar na viabilização.
Projetos privados
Existem importantes
possibilidades de projetos
privados de energia em países
que acabaram de sair de
conflitos bélicos e que ainda
constituem um risco político
elevado, mas que contam
com o apoio da comunidade
internacional. Há oportunidades
na infraestrutura para
fornecimento de energia ou gás
para empresas privadas com
concessões de exploração de
minérios ou outros recursos
naturais nestes países. É
fundamental, em alguns casos,
a negociação de um seguro para
mitigação de risco político, seja
da Miga (seguradora do Banco
Mundial), seja do mercado
privado. Uma estrutura com as
contas collateral e collection
em moeda local, dependendo
do caso, também pode ajudar a
viabilizar o empreendimento e
reduzir a quantidade de garantias
que sejam requeridas aos
desenvolvedores (sponsors).
Concessões e PPPs
Nestes casos, o maior risco será
assumido pelo investidor que
deverá analisar minuciosamente
o marco jurídico e regulatório,
já que deverá permanecer
operando o projeto por um
período considerável. A
alocação adequada dos riscos
no período de construção e
a correta análise do fluxo de
repagamento durante a etapa
de operação serão os assuntos-
chave para decidir entrar no
negócio. Algumas vezes, este
modelo pode viabilizar um
projeto de infraestrutura atraente
com um fluxo de pagamentos
não muito elevado. Assim,
a empresa construtora pode
decidir por assumir o papel
de investidor e construtor, o
que pode ter um resultado
interessante, pois poderia criar
uma empresa pequena que
concentrasse estes fluxos.
Como exemplo, uma pequena
empresa de operação radicada
na África com receitas destes
fluxos poderia alavancar
concessões ou parcerias
público-privadas (PPPs) ao
longo de todo o continente,
diversificando o risco e criando
uma operação regional.
O FUTURO: DESAFIOS E
OPORTUNIDADES PARA
EMPRESAS BRASILEIRAS
NA ÁFRICA
Sem dúvida que a China e,
recentemente, a Índia e a Rússia
serão os grandes concorrentes
na África para as empresas
brasileiras. Projetos de valores
elevados em troca de contratos
de compra (off-take agreements)
a preços favoráveis e/ou de
concessões de exploração de
gás, carvão, petróleo e minérios
continuarão representando
a maior contrapartida para
alavancar financiamento para as
grandes obras de infraestrutura.
Fazer negócios na África, em
minha opinião, implica em
conhecer melhor os mercados,
os players, a idiossincrasia
dos países e suas culturas e,
para isso, a presença física é
fundamental. Conviver com a
Sem dúvida que a China
e, recentemente, a Índia
e a Rússia serão os
grandes concorrentes
na África para as
empresas brasileiras
43RBCE - 116
população local e incorporá-
la como mão de obra
participativa (estratégia que as
empresas chinesas não adotam)
é um grande diferencial
de competitividade que
deve ser explorado e
devidamente difundido.
Parcerias com players locais
em forma de consórcio ou,
melhor ainda, como joint-
venture, constituem uma outra
estratégia bem diferenciada que
poderá viabilizar oportunidades
mantendo um relacionamento de
longo prazo.
Além das fontes tradicionais
mencionadas anteriormente com
Bancos de Desenvolvimento,
Multilaterais, etc, há duas
fontes muito pouco exploradas
no continente africano que,
em outras partes do mundo,
funcionam como viabilizadores
de obras de infraestrutura
há décadas. Por um lado,
o mercado de bônus
soberanos e, por outro,
os fundos de pensão.
zz Os bônus soberanos e sub-
soberanos (como no caso de
Lagos na Nigéria) começaram
a se constituir numa importante
fonte de recursos. Como
consequência da exitosa
emissão feita pela Zâmbia em
setembro de 2012, onde foi
capaz de levantar recursos
no mercado internacional
no montante de US$ 750
milhões, com uma demanda
de 24 vezes o valor da
emissão, a dez anos de prazo
e um incrível rendimento de
5,35% ao ano, vários países
encontram-se atualmente
em processo de emissão. O
Quênia planeja dobrar sua
emissão de Eurobonos, que
vence em setembro de 2013,
emitindo EUR 1 bilhão; Ruanda
anunciou que emitirá em 2013
um Eurobono de EUR 400
milhões e até a própria Zâmbia
planeja emitir mais US$ 500
milhões em 2013 para financiar
a construção de vivendas.
Países como Gana e Tanzânia
estão estudando junto a bancos
de investimento próximas
emissões de bônus soberanos.
Entretanto, este recurso ainda
vem sendo utilizado mais
para reestruturação de dívida
do que como instrumento
de financiamento para
infraestrutura. Em países HIPC,
com acordo junto ao FMI, emitir
bônus não é tarefa fácil, pois
para fazê-lo deve-se muitas
vezes contar com a anuência
do organismo. Não obstante,
visto a grande demanda
apresentada no mercado, não
se descarta que seja utilizado
em um futuro próximo como
fonte de financiamento para
projetos de infraestrutura.
Por exemplo, a cidade de Lagos
(classificada como risco sub-
soberano) emitiu em 2012 o
valor de US$ 508 milhões em
bônus a sete anos de prazo,
ao custo de 14,5% ao ano,
dentro de um plano de emissões
de US$ 1 bilhão, destinado a
financiar obras de infraestrutura,
subscritos tanto por investidores
internacionais quanto por fundos
de pensão locais (em 2008 foram
emitidos US$ 315 milhões a
cinco anos de prazo e em
2010 US$ 362 milhões a
sete anos de prazo).
zz Os fundos de pensão
constituem a principal fonte
de financiamento no mundo.
Nos Estados Unidos possuem
mais de US$ 10 trilhões em
ativos. O valor em ativos
dos fundos de pensão da
África do Sul, por exemplo,
cresceram 13% em 2012,
e em economias menores
como Uganda, atingiram um
crescimento de 29%. Um
relatório de Reinassance
Capital revelou que o valor
de ativos administrados
pelo fundos de pensão na
Nigéria alcançaram US$ 16,6
bilhões em 2012, contra US$
1,6 bilhão em 2006. Gana,
Botsuana e Tanzânia também
têm experimentado altos
crescimentos nos seus fundos
de pensão. Mas quais são
os dois maiores desafios que
estes fundos experimentam
na atualidade para investir em
ativos na África?
O primeiro é contar com um
marco regulatório adequado,
e permitir que esses fundos
possam ser investidos em obras
de infraestrutura com o devido
cuidado, garantindo não só a
rentabilidade, mas também a
segurança de repagamento.
O Fundo de Pensão de
Serviço Público4
da Tanzânia
experimentou em 2012
grandes prejuízos por financiar
o setor público e privado
de forma ineficiente.
4
Public Service Pension Fund (PSPF).
44 RBCE - 116
O segundo é a falta de opções
para investir. Grande parte dos
recursos destes fundos tem
sido destinada a investimentos
no real state market, bônus
soberanos e/ou investida na
compra de ações e participações
em empresas privadas.
O grande desafio para
as empresas brasileiras
é identificar projetos de
dimensão adequada, com
estruturas plausíveis e bem
definidas, que permitam atrair o
mercado financeiro e o mercado
de fundos, para em um futuro
próximo começar a incursionar
no mercado de Project Bond
internacional de projetos na
África, instrumento muito utilizado
pelos fundos de pensão na
América Latina, Estados Unidos e
Europa. Atualmente, a procura
dos investidores institucionais
por “papel” é enorme, e só
resta estruturar projetos de
forma adequada para que o
binômio risco-retorno seja aceito
e visto como uma excelente
alternativa de investimento
em mercados emergentes.
Desta maneira, poderia ser
introduzida na equação de
destino de investimentos dos
fundos de pensão, além dos já
mencionados, os projetos de
investimento em infraestrutura na
África.
Em se falando de oportunidades,
de acordo com o Infraestructure
Consortium for Africa, a África
Subsaariana requer US$ 93
bilhões de investimento em
infraestrutura por ano até
2015. Últimas estimativas
colocam os gastos anuais em
US$ 45,3 bilhões, menos da
metade do que é necessário.
Adicionalmente, o comércio entre
a África e Índia, por exemplo,
cresceu de US$ 4,6 bilhões em
2000 para US$ 60 bilhões em
2011-12. No mesmo período, o
comércio entre o Brasil e África
avançou de US$ 5 bilhões para
US$ 26,5 bilhões, demonstrando-
se, desta forma, o potencial de
crescimento que o nosso país
ainda tem.
Sobre potenciais oportunidades,
pontualmente podemos apontar,
em West Africa, países como a
Nigéria (que produz o equivalente
a 5% da energia produzida no
Brasil com uma quantidade
similar de habitantes), Gana
(um país que, com 15 anos de
estabilidade política e constante
crescimento experimentado
desde a década de 1980, não
teve um ano de crescimento
negativo do seu PIB até então)
e a Costa de Marfim, um país
com um enorme potencial (com
um crescimento estimado do PIB
para 2013 na ordem de 8%) que
acaba de sair de um processo
bélico que o consumiu por vários
anos e pretende recuperar grande
parte do seu posicionamento
como hub de West Africa. O
African Development Bank (AfDB)
anunciou que em 2014 retornará
a ter sua sede em Abidjan, de
onde mudou para Tunísia em
função da instabilidade política.
Há países denominados “de
renda média” que não possuem
acordo com o FMI como
Namíbia, Gabão e Botsuana
(este último obteve, em 2012,
melhor qualificação no Índice
de Liberdade Econômica que
Noruega, Coreia do Sul, Bélgica
De acordo com
o Infraestructure
Consortium for Africa,
a África subsaariana
requer US$ 93 bilhões
de investimento em
infraestrutura por
ano até 2015
45RBCE - 116
e Espanha), com um obstáculo
a menos a ser vencido, e que
podem ser estudados.
Em East Africa, Quênia lidera
a região, com um processo
de eleições onde se temia a
geração de novos conflitos, mas
que, felizmente, tem mostrado
sinais positivos de mudanças,
que apontam à modernização
da economia. Projeções locais
estimam que o país planeja
investir US$ 50 bilhões nos
próximos 20 anos, para atingir
um crescimento de 14% ao ano
de demanda em energia elétrica.
A segunda maior economia da
região está na Tanzânia, que
acaba de descobrir na fronteira
com Moçambique grandes
reservas de gás, além de se
perfilar como o maior produtor
de níquel e urânio do mundo.
Este é o país da região que
mais recursos recebeu da
China no período 2001 a 2011,
contabilizando US$ 4,6 bilhões
(US$ 1,24 bilhão especificamente
para desenvolver projetos
vinculados à exploração de gás),
seguido de perto por Uganda,
com US$ 4,5 bilhões. Já o
Quênia recebeu US$ 1,6 bilhão
da China contra US$ 5,5 bilhões
dos americanos no mesmo
período, o que demonstra a
grande influência dos EUA
nesse país.
Em Southern Africa encontra-
se o “centro de inteligência” do
continente: a África do Sul, um
país que tem a infraestrutura
necessária, o melhor hub
aeroportuário do continente
e que conta com a presença
dos principais players do
mercado africano (bancos,
fornecedores, projetistas, etc.),
além de constituir um sócio
estratégico para o Brasil, dentro
do continente, no marco do
acordo dos BRICS. Dentro da
região encontra-se também
Moçambique, como uma grande
promessa, onde empresas
brasileiras já estão investindo
e desenvolvendo grandes
oportunidades, e o Zimbáue,
que chegou a ser próspero na
época em que era denominado
Rodésia, e do qual se espera
uma reforma política importante
que lhe permita voltar a ter seu
protagonismo no continente.
Também pertence à região
Zâmbia, rico em minérios
como o cobre, que decidiu em
2012, na contramão do que
se esperava, revisar contratos
de concessão para aumentar
a participação estatal nas
principais concessões de
minérios, já outorgadas anos
atrás. Neste sentido, fica
evidente como o fator político
tem um papel fundamental.
Eleições, reeleições, processos
pacíficos, respeito aos direitos
humanos, em um continente tão
difícil, são os maiores desafios e
obstáculos a serem superados.
Para analisar qualquer
oportunidade de negócio na
África, é conveniente que a
empresa investidora conte
sempre com um importante
suporte de especialistas
políticos na região. Conhecer
o passado, o presente e os
antecedentes dos países
africanos é chave no momento
de decidir investir e iniciar
negociações comerciais.
Por último, para as empresas
brasileiras resta saber qual
será o tamanho da aposta,
que deverá ser a longo prazo e
implicará aprendizado, trabalho
conjunto e análise adequada
de oportunidades que permitam
ser identificadas e estruturadas
como negócios viáveis e não
simplesmente como obras de
infraestrutura. A estratégia,
como foi mencionado, deve ser
bem diferenciada da chinesa,
russa, indiana e até dos EUA: há
que se pensar em parcerias,
investimentos e relações
de negócio a longo prazo e
captura de sinergias. ■
African Business Magazine
African Banker Magazine
The African Report Magazine
New African Magazine
Le Magazine de l’Afrique
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  • 1.
  • 2. 34 RBCE - 116 Daniel Melo é gerente de Negócios Estruturados da Construtora Andrade Gutierrez S.A. Engenharia brasileira na África Daniel Melo África EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENGENHARIA A exportação de serviços é, de uma forma geral, uma atividade pouco conhecida no Brasil. Como ela se desenvolve, quais benefícios traz para a economia, como gera empregos e renda, são questões conhecidas apenas por poucos, mais especificamente por aqueles que trabalham diretamente neste setor. No Brasil, tudo que se pensa ou se faz em termos de exportação nasce da ideia de algo que se produz, embala e envia para o exterior e pelo qual o país recebe divisas como pagamento. O arcabouço legal, todos os procedimentos e formulários foram criados com base nesta concepção limitada. A exportação de serviços é muito mais complexa do que isso porque implica que o produto a ser exportado deve ser fabricado no país do importador, já que não podemos produzir e embarcar pontes, rodovias, usinas hidrelétricas, aeroportos ou instalações industriais. Esta diferença leva a diversos procedimentos distintos da exportação de bens e materiais, estes bem mais simples. Primeiramente devemos entender que o exportador de serviços é, na verdade, um estruturador de negócios, que se lança no mercado externo a seu próprio risco, identifica oportunidades e as estrutura até transformá-las em um negócio. A viabilização desses negócios depende de preços competitivos de financiamentos de longo
  • 3. 35RBCE - 116 prazo a custos brandos de nível internacional, condições geralmente obtidas quando se tem o apoio dos governos dos países exportadores e de soluções criativas idealizadas muitas vezes sob medida. Quase todos os países industrializados têm seus sistemas governamentais de financiamento e seguro, denominados de Agências de Crédito à Exportação. O desenvolvimento da oportunidade até sua transformação em um contrato exige grande investimento do exportador, que necessita se estabelecer no país e ter conhecimento principalmente: zz da idiossincrasia e história do país importador; zz da sua cultura e hábitos; zz do seu arcabouço legal; zz de suas práticas de negócio; zz do potencial de outras oportunidades que possam garantir a continuidade de operação da empresa naquele mercado, e; zz de vários outros aspectos exigidos para a concepção de um negócio. Isso, obviamente, representa um investimento substancial do exportador, onde as chances de insucessos não são nada desprezíveis. Esta é a razão principal pela qual esta atividade, no mundo inteiro, é desenvolvida por empresas, em geral, de porte grande o suficiente para suportar as exigências de investimento e os riscos inerentes a estes mercados. No entanto, essa é uma atividade que traz enormes benefícios para ao país exportador, razão pela qual os governos, atentos a esta realidade, apoiam fortemente e de várias formas suas empresas exportadoras de serviços. Uma vez transformada a oportunidade em contrato, o exportador de serviço, no seu papel de estruturador de negócios, abre oportunidade para uma série de empresas, normalmente seus tradicionais parceiros de exportação, uma vez que o exportador precisa comprar de terceiros os componentes, serviços, equipamentos e materiais necessários à execução do novo contrato. Assim, no Brasil, os exportadores de serviços de engenharia, cerca de cinco a seis empresas reconhecidas como mais atuantes neste mercado, têm criado oportunidades para cerca de três mil empresas parceiras, a maioria pequenas e médias empresa, que não teriam oportunidade de sozinhas acessarem o mercado externo. Essa atividade promove a criação aproximada de 192 empregos, entre diretos, indiretos e induzidos, por cada milhão de dólares exportados, uma relação substancialmente mais elevada que a exportação de bens. Essa relação mais elevada é natural, uma vez que na produção de bens, os processos de produção podem e devem fazer maior uso de automação, robótica e outros processos que reduzem a necessidade da mão de obra na fabricação, ao passo que a execução de uma obra de engenharia, normalmente tailor made, requer muito mais mão de obra. Além disso, a exportação de serviços de engenharia cria um importante canal para exportação de bens, uma vez que os clientes importadores buscam cada vez mais soluções completas, ou seja, o cliente quer uma usina hidroelétrica e não somente a compra das turbinas; quer um aqueduto e não a compra de tubos. O exportador de serviços é o elemento que tem a expertise de estruturar este negócio de forma global. É através dos contratos de serviços que se viabiliza a exportação dos equipamentos de produção, tais como: caminhões, tratores, carregadoras, centrais de concreto e outros similares. Sem esse mecanismo, é pouco provável que haja possibilidade de exportação desses equipamentos, que de outra forma teriam, inclusive, a resistência natural dos dealers locais que vendem estes mesmos equipamentos no país. Outro aspecto muito importante esta relacionado a como os exportadores de serviço criam também canais informais de comunicação entre os governos, facilitando enormemente a solução de vários problemas entre eles.
  • 4. 36 RBCE - 116 INFRAESTRUTURA NA ÁFRICA Conforme mencionado anteriormente, desenvolver projetos de infraestrutura no exterior implica em um grande desafio, considerável investimento e muito trabalho de campo. Tratando-se da África, contamos com sua vasta história de instabilidade política, guerras, falta de marco jurídico adequado, incertezas sobre o rumo das economias e, principalmente, escassez de recursos financeiros para fazer frente aos pagamentos das suas obrigações. Focando principalmente na África Subsaariana, constatamos que 60% dos 52 países considerados como subsaarianos estão incluídos dentro do plano implementado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), especialmente desenhado para países pobres altamente endividados (HIPC Program).1 Através deste programa o FMI reestrutura dívidas, controla o endividamento dos países, limita valores e condições de novos empréstimos, desenvolve programas de transparência, fiscaliza e ordena o fluxo de receitas e despesas de cada país e realiza visitas periódicas aos governos, a fim de controlar o andamento da economia. Embora constitua uma grande ajuda para momentos de grave dificuldade em países com a economia sumamente comprometida, esta mesma ajuda limita consideravelmente o desenvolvimento dos mesmos, já que muitas vezes o FMI se rege por parâmetros macroeconômicos que restringem e não permitem que as economias regionais e dos próprios países se desenvolvam no ritmo necessário para o atendimento das necessidades da população. O continente africano representa 20% da superfície terrestre do planeta e conta com 30% das reservas mundiais dos principais minérios, sendo: 40% de ouro, 60% de cobalto e 90% de platino. Os países da África Subsaariana produzem, aproximadamente, 600 milhões de barris de petróleo por dia (bpd), o que corresponde a 8% da produção mundial. Existem importantes descobertas de bacias de petróleo no Leste africano (Ruanda, Uganda, Quênia) e de gás (Tanzânia e Moçambique), neste último caso com volume capaz de atender a demanda mundial pelo prazo de dois anos. Todos estes países vêm estabelecendo parcerias com a China para desenvolver grandes projetos de infraestrutura, utilizando um modelo baseado na economia do “escambo”, tornando os próprios chineses os principais compradores (off- takers) e exploradores (através de concessões) dos recursos do continente, mitigando, dessa forma em muito o risco de crédito dos países tomadores do financiamento, permitindo a concessão de financiamentos teoricamente baratos e de 1 Heavily Indebted Poor Countries (HIPC). IMF Program. Os países da África Subsaariana produzem, aproximadamente, 600 milhões de barris de petróleo por dia (bpd), que corresponde a 8% da produção mundial
  • 5. 37RBCE - 116 montantes significativamente elevados para a construção de diversos projetos de infraestrutura. Este modelo emprega principalmente mão de obra chinesa, e restringe a integração com a comunidade local. De acordo com estimativas recentes, a China destinou mais de US$ 90 bilhões no período 2000-2011 ao financiamento de 1.700 projetos em 50 países. A escassez de recursos por parte dos bancos europeus (os mais atuantes historicamente no continente), devido à recente crise, fez os países desse continente perderem grande espaço. Já os Estados Unidos, visualizando o grande crescimento na participação da China no continente africano, e a fim de recuperar seu protagonismo, anunciou, em julho de 2013, logo após a visita do presidente Obama à África do Sul, Senegal e Tanzânia, um programa de investimento em energia nos países da África Subsaariana na ordem de US$ 7 bilhões, com financiamento do US Eximbank (US$ 5 bilhões), Overseas Private Investment Corporation – Opic (US$ 1,5 bilhão) e da U.S. Agency for International Development – Usaid (US$ 500 milhões aproximadamente). Infraestrutura Brasileira na África Perante o panorama anteriormente descrito, as empresas brasileiras especializadas em obras de infraestrutura têm se estabelecido e desenvolvido no continente com grande esforço e extrema competência. As obras de infraestrutura já construídas na África pelas construtoras brasileiras, além de reconhecidas pela sua excelente qualidade, são o produto de árduas negociações, com altas doses de criatividade empregadas para estruturá-las como um negócio viável e, principalmente, financiável. Na área de financiamento, o setor conta desde o final dos anos 1990 com o apoio do BNDES e, desde 1997, do Governo Brasileiro, que através do mecanismo do seguro de crédito à exportação presta garantia ao funding do Banco. A atuação competente do BNDES e do governo brasileiro abriu diversas oportunidades, antes muito restritas pelas limitações orçamentárias do antigo PROEX. A fusão, em 2003, entre o Comitê de Financiamento e o Comitê de Concessões de Garantias, resultando na criação do Cofig, reduziu bastante o tempo de análise das solicitações dos exportadores e, ao mesmo tempo, permitiu uma melhoria nos procedimentos de análise dos pleitos. A criação do Siscoserv2 permitirá a geração de dados estatísticos que facilitarão o estabelecimento de políticas mais adequadas para o setor, já que até hoje não existem estatísticas precisas sobre a atividade. Atualmente o governo brasileiro vem “saneando” velhas dívidas, tendo estabelecido um plano de perdão na ordem de US$ 900 milhões para 12 países. As duas maiores dívidas, correspondentes ao Congo- Brazzaville, com US$ 352 milhões e Tanzânia, com US$ 237 milhões, já usufruíram deste beneficio. Esta constitui uma clara mensagem de reposicionamento do Brasil para iniciar novas negociações com os países africanos, obviamente com características diferentes daquelas concedidas no passado, e com mitigadores de risco suficientemente fortes que permitam que não seja preciso recorrer, futuramente, ao mesmo mecanismo de perdão. Adicionalmente, o governo brasileiro, através do Cofig, criou o Grupo de Trabalho África (GTEX África) que estuda atualmente o estabelecimento de limites de crédito por países, para facilitar a concessão de garantias de crédito à exportação e viabilizar novos financiamentos do BNDES para o continente. Inclusive, o BNDES anunciou a criação de uma nova diretoria específica para tratar dos assuntos da África e a abertura de uma sucursal em Johanesburgo, na África do Sul. Cabe destacar, dentro desta atuação “multilateral” do governo brasileiro, o importante papel desempenhado pelo Itamaraty, 2 Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços.
  • 6. 38 RBCE - 116 já que o Brasil conta atualmente com 38 embaixadas no continente africano (19 foram abertas nos últimos dez anos), todas ativas e prestando serviços importantíssimos no estreitamento de relações comerciais e culturais entre os países. Claramente trata-se de reforçar o posicionamento em um mercado de elevado potencial de crescimento e onde o Brasil tem interesses geopolíticos e relações históricas. Obviamente, esta abordagem do governo deve vir acompanhada da contrapartida das principais empresas privadas brasileiras, que devem avaliar, apostar e investir de acordo com sua intenção de marcar uma presença duradoura, e não somente oportunista e de curto prazo, no continente de maior perspectiva de crescimento para os próximos dez anos. Como idealizar um projeto de Infraestrutura na África? Após o exposto, o importante então é saber se é possível, e como as empresas brasileiras podem desenvolver projetos de infraestrutura na África. Pensar um projeto para a África somente focando na necessidade do país, na qualidade do empreendimento e/ou na solução de engenharia implicará em enormes dificuldades e até na impossibilidade de ser levado a cabo, dependendo do caso. A principal abordagem para idealizar uma obra de infraestrutura é partir do modelo de negócio que será utilizado para levar à consecução da oportunidade. Isto implica em ter claramente definidas as seguintes questões: zz Quem será o “dono do projeto” e /ou importador; zz Quem será o “devedor” e/ou garantidor pelo repagamento da obra; zz Quais tipos de garantias poderão ser consideradas para a assunção do risco de crédito. No que refere-se às garantias, temos as seguintes opções: Soberana total: o Estado responde pelo endividamento com o orçamento público. Usualmente esta garantia se resulta insuficiente em países da África, com ratings de crédito baixo e inaceitáveis pelo mercado financeiro. Adicionalmente, este foi o mecanismo utilizado no passado e que, como foi mencionado, não funcionou em pelo menos 12 países, cujas dívidas foram ou serão perdoadas pelo governo brasileiro; Soberana parcial ou condicionada: o Estado garante uma parte do projeto; garante por um período determinado ou a garantia é condicionada e só pode ser acionada na ocorrência de eventos específicos, previamente definidos. Esta garantia, no caso em questão, O importante então é saber se é possível, e como as empresas brasileiras podem desenvolver projetos de infraestrutura na África
  • 7. 39RBCE - 116 será considerada como complementar, atendendo sempre ao conceito de serem insuficientes as garantias soberanas, uma vez que a maioria dos países da África são considerados de alto risco; Privada: uma empresa (sponsor) assume o risco de crédito; Do Projeto: um veículo (SPE – Sociedade de Propósito Específico ou UTE – União Transitória de Empresas) garante com seus ativos e com o fluxo do projeto (Project Finance); Híbrido: a combinação das opções mencionadas e/ ou outras especificamente criadas que viabilizem o empreendimento a satisfação dos financiadores. zz No que tange ao repagamento do projeto/investimento, as opções são: Orçamento público: o Estado repaga o empreendimento baseado no seu próprio orçamento, sem identificação de uma receita específica. Esta fonte possui uma grande restrição como resultado da fiscalização permanente do FMI em países dentro do programa Heavily Indebted Poor Country (HIPC), além da própria restrição dos orçamentos de países com alta participação de “doações” de terceiros países; Receita específica: o Estado aloca uma receita específica para o pagamento do endividamento, seja vinculada ao projeto (arrecadação) ou não (arrecadação de outro projeto similar ou distinto, imposto específico criado para financiar o projeto, royalties, cânones, repasses, etc). Neste caso o estado assume o risco de crédito e, caso a receita não seja suficiente, deverá completar com fundos do seu orçamento. Mais uma vez, para países que possuem acordo com o FMI, alocar royalties e impostos para repagamento de dívidas, sem que estas receitas sejam antes internadas em moeda local e contabilizadas no sistema de Contabilidade Central, apresenta-se como uma alternativa impossível de explorar, já que fere o principio de transparência orçamentária imposta pelo FMI e pelas práticas usuais de mercado. Existe uma alternativa que será abordada mais adiante, de alocação de receitas de entidades autônomas ou empresas paraestatais, que se resulta factível e que tem viabilizado grande parte dos empreendimentos, já que o FMI considera que projetos autossustentáveis não requerem autorização especial do órgão; Balanço de uma empresa privada (sponsors): uma empresa privada assume o repagamento com sua própria receita; Receita do projeto: o fluxo de receitas do próprio projeto repaga o investimento (Project Finance); Híbrido: a combinação das opções mencionadas. zz Há ainda a questão do meio ambiente: qualquer projeto a ser executado atualmente em qualquer parte do mundo, e especialmente na África, deverá ser ambientalmente correto e deverá ser analisado sob os parâmetros do Banco Mundial / Princípios do Equador. Qualquer financiador, seja público ou privado, deve demonstrar que o projeto é ambientalmente sustentável. Esta condição é “deal-breaker” e, caso o projeto apresente controvérsias e impactos impossíveis de serem mitigados e/ou compensados, deverá ser desconsiderado. Sendo definidas as questões acima apresentadas, ter-se-á, então uma noção do rumo que deverá ser tomado para transformar a oportunidade em um negócio, contando com a estrutura adequada que permitirá obter a atratividade do acionista, de possíveis parceiros e dos financiadores. Como viabilizar oportunidades na África Projetos de cunho social São mais que necessários no continente e são os mais procurados pelos governos dos países. Estes projetos são geralmente suportados com
  • 8. 40 RBCE - 116 receitas dos governos centrais e, para isso, conta-se sempre com o importante apoio das multilaterais, muito atuantes na região. Neste caso, o próprio governo toma os recursos para a consecução das obras, através de entidades como o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Europeu de Investimento, a Agência Francesa de Desenvolvimento, etc. Geralmente estes projetos são submetidos a processos de licitação desde a concepção até a sua execução, sempre atendendo ao princípio de transparência. Outra possibilidade para desenvolver estes projetos pode ser através do apoio parcial das multilaterais, através de empréstimos na modalidade “A/B loan” ou através de garantias parciais que viabilizem a participação da banca privada, beneficiando- se do “guarda-chuva” destas entidades. Projetos “soberanos” sem apoio de multilaterais Estes projetos contam com a garantia soberana exclusivamente, pois seu repagamento provém dos recursos do Tesouro do país, que são contabilizados e posteriormente alocados anualmente em forma específica dentro dos rubros orçamentários. Como foi mencionado anteriormente, a grande dificuldade para estes países é a restrição na utilização desses recursos, (em virtude da supervisão do FMI), e até na própria geração dos mesmos, ainda mais considerando os grandes déficits fiscais e a elevada participação nos orçamentos das doações de terceiros países que os ajudam a “fechar as contas”. Por outro lado, muitos dos países da África Subsaariana possuem um futuro promissor, haja vista a existência de estimativas mostrando que a exploração dos seus recursos naturais melhorará significativamente seus orçamentos ao longo dos próximos anos. Para viabilizar-se uma oportunidade de negócio, deve-se trabalhar em várias frentes: zz Junto ao FMI, apresentando a razoabilidade e a importância do projeto, negociando a possibilidade do governo tomar um endividamento (negociação de valor) e, no caso que não tenha as condições de concessionalidade3 exigidas pelo FMI, a possibilidade de tomar empréstimos com condições brandas (geralmente de bancos de desenvolvimento ou suportados por garantias de Export Credit Agency – ECAs) ou com condições comerciais (bancos comerciais). 3 Empréstimos Concessionais são financiamentos concedidos com condições mais favoráveis que as condições dos financiamentos de mercado. No caso específico do FMI, exige-se que os empréstimos tomados pelos países HIPC possuam um desconto (Grant Element), que surge da comparação do Valor Presente Líquido (VPL) do financiamento concedido com o VPL do empréstimo, utilizando a taxa CIRR para o desconto do fluxo. Geralmente, o Grant Element (desconto) aplicado é de 35%, o que significa que, a Valor Presente, o financiamento concedido equivale a devolver só 65% do valor emprestado. Muitos dos países da África Subsaariana possuem um futuro promissor, onde estima- se que a exploração dos seus recursos naturais melhorará significativamente seus orçamentos ao longo dos próximos anos
  • 9. 41RBCE - 116 Para o FMI, projetos que não se “auto-sustentam” com a geração da sua própria receita não deveriam ser implementados, razão pela qual a negociação, é muito importante e nada simples. Para isso, deve-se contar sempre com o apoio do cliente, que será o interlocutor perante o organismo. zz Junto ao governo local, analisando necessidade/ possibilidade/razoabilidade do projeto, com o objetivo de demonstrar a existência de receita futura que será gerada pelo governo (não pelo projeto) e sua correspondente alocação para o repagamento. Como foi mencionado anteriormente, aceitar o repagamento puro e simples do governo implica em assumir o risco soberano direto de um país com classificação de risco muito elevada. Como resolver esta questão? O primeiro ponto é escolher projetos que sejam compatíveis com a capacidade do país e que sejam estruturadores, isto é, gerem crescimento, riqueza e empreguem mão de obra local. Definida a oportunidade, um recurso disponível para melhorar o rating desta transação é tentar desenvolver uma estrutura mitigadora estabelecendo uma conta colateral e uma conta arrecadadora ou “collection”, administrada por uma sociedade “trustee” ou fideicomisso independente, responsável pelo gerenciamento dos recursos e dos saldos alocados nas mencionadas contas. Este tipo de estrutura não constitui uma “garantia total de repagamento”, mas permite contar com um importante mitigador para monitorar o seu fluxo e prever problemas futuros. Através da conta arrecadadora, pode-se monitorar o fluxo de repagamento. Através da conta colateral é possível evitar atrasos nos pagamentos, por meio da utilização do saldo existente no dia do vencimento da prestação. É claro que, no caso de utilização deste saldo da conta colateral, deverá estabelecer-se que a parte utilizada seja imediatamente reposta. Dependendo do risco de crédito do país e da qualidade do projeto, poderá ser avaliada a necessidade e/ou viabilidade de estabelecer a conta colateral em moeda forte fora do país devedor (escrow account), procedimento que pode melhorar substancialmente o rating do crédito em virtude de contar com recursos em moeda forte à disposição imediata numa praça do exterior. Projetos junto a entidades estatais autônomas, paraestatais e empresas estatais Geralmente são entidades que possuem uma certa autonomia, pois geram sua própria receita. No caso dos países com acordo junto ao FMI, estes projetos não precisam da anuência do órgão para serem desenvolvidos, desde que seja demonstrado que são “autossuficientes”, isto é, cuja receita futura conseguirá repagar o investimento. É o caso de entidades de administração de aeroportos, portos, energia elétrica, concessionárias estatais, etc. Neste caso, os projetos podem ser divididos em: a) projetos com geração de receitas fora do país (aeroportos e portos) que possuem alguma vantagem ao momento de serem financiados, pois a geração é em moeda forte; b) projetos com geração em moeda local (energia elétrica, rodovias, etc). Obviamente, cada caso deve ser analisado pontualmente, pois certos países possuem limitações do FMI até para administrar e dispor das receitas geradas em moeda forte no exterior, que devem, mesmo assim, ser ingressadas no país, transformadas em moeda local e devidamente contabilizadas no orçamento público. Particularmente, não vejo uma grande ameaça nos projetos com geração de moeda local, desde que exista uma amarração contratual adequada para compensar as possíveis desvalorizações e taxas de inflação. Claro que a possibilidade de mercados de câmbio paralelos com restrições ou proibições para efetuar remessas ao exterior inviabiliza qualquer oportunidade, mas uma estrutura de “collection” e “collateral”, como foi comentada anteriormente, ajuda a mitigar bastante, mais ainda com a intervenção de um “trustee” independente, pois manter estas contas dentro do país em moeda local, ao câmbio equivalente necessário para repagar os
  • 10. 42 RBCE - 116 financiamentos externos, pode ajudar na viabilização. Projetos privados Existem importantes possibilidades de projetos privados de energia em países que acabaram de sair de conflitos bélicos e que ainda constituem um risco político elevado, mas que contam com o apoio da comunidade internacional. Há oportunidades na infraestrutura para fornecimento de energia ou gás para empresas privadas com concessões de exploração de minérios ou outros recursos naturais nestes países. É fundamental, em alguns casos, a negociação de um seguro para mitigação de risco político, seja da Miga (seguradora do Banco Mundial), seja do mercado privado. Uma estrutura com as contas collateral e collection em moeda local, dependendo do caso, também pode ajudar a viabilizar o empreendimento e reduzir a quantidade de garantias que sejam requeridas aos desenvolvedores (sponsors). Concessões e PPPs Nestes casos, o maior risco será assumido pelo investidor que deverá analisar minuciosamente o marco jurídico e regulatório, já que deverá permanecer operando o projeto por um período considerável. A alocação adequada dos riscos no período de construção e a correta análise do fluxo de repagamento durante a etapa de operação serão os assuntos- chave para decidir entrar no negócio. Algumas vezes, este modelo pode viabilizar um projeto de infraestrutura atraente com um fluxo de pagamentos não muito elevado. Assim, a empresa construtora pode decidir por assumir o papel de investidor e construtor, o que pode ter um resultado interessante, pois poderia criar uma empresa pequena que concentrasse estes fluxos. Como exemplo, uma pequena empresa de operação radicada na África com receitas destes fluxos poderia alavancar concessões ou parcerias público-privadas (PPPs) ao longo de todo o continente, diversificando o risco e criando uma operação regional. O FUTURO: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA EMPRESAS BRASILEIRAS NA ÁFRICA Sem dúvida que a China e, recentemente, a Índia e a Rússia serão os grandes concorrentes na África para as empresas brasileiras. Projetos de valores elevados em troca de contratos de compra (off-take agreements) a preços favoráveis e/ou de concessões de exploração de gás, carvão, petróleo e minérios continuarão representando a maior contrapartida para alavancar financiamento para as grandes obras de infraestrutura. Fazer negócios na África, em minha opinião, implica em conhecer melhor os mercados, os players, a idiossincrasia dos países e suas culturas e, para isso, a presença física é fundamental. Conviver com a Sem dúvida que a China e, recentemente, a Índia e a Rússia serão os grandes concorrentes na África para as empresas brasileiras
  • 11. 43RBCE - 116 população local e incorporá- la como mão de obra participativa (estratégia que as empresas chinesas não adotam) é um grande diferencial de competitividade que deve ser explorado e devidamente difundido. Parcerias com players locais em forma de consórcio ou, melhor ainda, como joint- venture, constituem uma outra estratégia bem diferenciada que poderá viabilizar oportunidades mantendo um relacionamento de longo prazo. Além das fontes tradicionais mencionadas anteriormente com Bancos de Desenvolvimento, Multilaterais, etc, há duas fontes muito pouco exploradas no continente africano que, em outras partes do mundo, funcionam como viabilizadores de obras de infraestrutura há décadas. Por um lado, o mercado de bônus soberanos e, por outro, os fundos de pensão. zz Os bônus soberanos e sub- soberanos (como no caso de Lagos na Nigéria) começaram a se constituir numa importante fonte de recursos. Como consequência da exitosa emissão feita pela Zâmbia em setembro de 2012, onde foi capaz de levantar recursos no mercado internacional no montante de US$ 750 milhões, com uma demanda de 24 vezes o valor da emissão, a dez anos de prazo e um incrível rendimento de 5,35% ao ano, vários países encontram-se atualmente em processo de emissão. O Quênia planeja dobrar sua emissão de Eurobonos, que vence em setembro de 2013, emitindo EUR 1 bilhão; Ruanda anunciou que emitirá em 2013 um Eurobono de EUR 400 milhões e até a própria Zâmbia planeja emitir mais US$ 500 milhões em 2013 para financiar a construção de vivendas. Países como Gana e Tanzânia estão estudando junto a bancos de investimento próximas emissões de bônus soberanos. Entretanto, este recurso ainda vem sendo utilizado mais para reestruturação de dívida do que como instrumento de financiamento para infraestrutura. Em países HIPC, com acordo junto ao FMI, emitir bônus não é tarefa fácil, pois para fazê-lo deve-se muitas vezes contar com a anuência do organismo. Não obstante, visto a grande demanda apresentada no mercado, não se descarta que seja utilizado em um futuro próximo como fonte de financiamento para projetos de infraestrutura. Por exemplo, a cidade de Lagos (classificada como risco sub- soberano) emitiu em 2012 o valor de US$ 508 milhões em bônus a sete anos de prazo, ao custo de 14,5% ao ano, dentro de um plano de emissões de US$ 1 bilhão, destinado a financiar obras de infraestrutura, subscritos tanto por investidores internacionais quanto por fundos de pensão locais (em 2008 foram emitidos US$ 315 milhões a cinco anos de prazo e em 2010 US$ 362 milhões a sete anos de prazo). zz Os fundos de pensão constituem a principal fonte de financiamento no mundo. Nos Estados Unidos possuem mais de US$ 10 trilhões em ativos. O valor em ativos dos fundos de pensão da África do Sul, por exemplo, cresceram 13% em 2012, e em economias menores como Uganda, atingiram um crescimento de 29%. Um relatório de Reinassance Capital revelou que o valor de ativos administrados pelo fundos de pensão na Nigéria alcançaram US$ 16,6 bilhões em 2012, contra US$ 1,6 bilhão em 2006. Gana, Botsuana e Tanzânia também têm experimentado altos crescimentos nos seus fundos de pensão. Mas quais são os dois maiores desafios que estes fundos experimentam na atualidade para investir em ativos na África? O primeiro é contar com um marco regulatório adequado, e permitir que esses fundos possam ser investidos em obras de infraestrutura com o devido cuidado, garantindo não só a rentabilidade, mas também a segurança de repagamento. O Fundo de Pensão de Serviço Público4 da Tanzânia experimentou em 2012 grandes prejuízos por financiar o setor público e privado de forma ineficiente. 4 Public Service Pension Fund (PSPF).
  • 12. 44 RBCE - 116 O segundo é a falta de opções para investir. Grande parte dos recursos destes fundos tem sido destinada a investimentos no real state market, bônus soberanos e/ou investida na compra de ações e participações em empresas privadas. O grande desafio para as empresas brasileiras é identificar projetos de dimensão adequada, com estruturas plausíveis e bem definidas, que permitam atrair o mercado financeiro e o mercado de fundos, para em um futuro próximo começar a incursionar no mercado de Project Bond internacional de projetos na África, instrumento muito utilizado pelos fundos de pensão na América Latina, Estados Unidos e Europa. Atualmente, a procura dos investidores institucionais por “papel” é enorme, e só resta estruturar projetos de forma adequada para que o binômio risco-retorno seja aceito e visto como uma excelente alternativa de investimento em mercados emergentes. Desta maneira, poderia ser introduzida na equação de destino de investimentos dos fundos de pensão, além dos já mencionados, os projetos de investimento em infraestrutura na África. Em se falando de oportunidades, de acordo com o Infraestructure Consortium for Africa, a África Subsaariana requer US$ 93 bilhões de investimento em infraestrutura por ano até 2015. Últimas estimativas colocam os gastos anuais em US$ 45,3 bilhões, menos da metade do que é necessário. Adicionalmente, o comércio entre a África e Índia, por exemplo, cresceu de US$ 4,6 bilhões em 2000 para US$ 60 bilhões em 2011-12. No mesmo período, o comércio entre o Brasil e África avançou de US$ 5 bilhões para US$ 26,5 bilhões, demonstrando- se, desta forma, o potencial de crescimento que o nosso país ainda tem. Sobre potenciais oportunidades, pontualmente podemos apontar, em West Africa, países como a Nigéria (que produz o equivalente a 5% da energia produzida no Brasil com uma quantidade similar de habitantes), Gana (um país que, com 15 anos de estabilidade política e constante crescimento experimentado desde a década de 1980, não teve um ano de crescimento negativo do seu PIB até então) e a Costa de Marfim, um país com um enorme potencial (com um crescimento estimado do PIB para 2013 na ordem de 8%) que acaba de sair de um processo bélico que o consumiu por vários anos e pretende recuperar grande parte do seu posicionamento como hub de West Africa. O African Development Bank (AfDB) anunciou que em 2014 retornará a ter sua sede em Abidjan, de onde mudou para Tunísia em função da instabilidade política. Há países denominados “de renda média” que não possuem acordo com o FMI como Namíbia, Gabão e Botsuana (este último obteve, em 2012, melhor qualificação no Índice de Liberdade Econômica que Noruega, Coreia do Sul, Bélgica De acordo com o Infraestructure Consortium for Africa, a África subsaariana requer US$ 93 bilhões de investimento em infraestrutura por ano até 2015
  • 13. 45RBCE - 116 e Espanha), com um obstáculo a menos a ser vencido, e que podem ser estudados. Em East Africa, Quênia lidera a região, com um processo de eleições onde se temia a geração de novos conflitos, mas que, felizmente, tem mostrado sinais positivos de mudanças, que apontam à modernização da economia. Projeções locais estimam que o país planeja investir US$ 50 bilhões nos próximos 20 anos, para atingir um crescimento de 14% ao ano de demanda em energia elétrica. A segunda maior economia da região está na Tanzânia, que acaba de descobrir na fronteira com Moçambique grandes reservas de gás, além de se perfilar como o maior produtor de níquel e urânio do mundo. Este é o país da região que mais recursos recebeu da China no período 2001 a 2011, contabilizando US$ 4,6 bilhões (US$ 1,24 bilhão especificamente para desenvolver projetos vinculados à exploração de gás), seguido de perto por Uganda, com US$ 4,5 bilhões. Já o Quênia recebeu US$ 1,6 bilhão da China contra US$ 5,5 bilhões dos americanos no mesmo período, o que demonstra a grande influência dos EUA nesse país. Em Southern Africa encontra- se o “centro de inteligência” do continente: a África do Sul, um país que tem a infraestrutura necessária, o melhor hub aeroportuário do continente e que conta com a presença dos principais players do mercado africano (bancos, fornecedores, projetistas, etc.), além de constituir um sócio estratégico para o Brasil, dentro do continente, no marco do acordo dos BRICS. Dentro da região encontra-se também Moçambique, como uma grande promessa, onde empresas brasileiras já estão investindo e desenvolvendo grandes oportunidades, e o Zimbáue, que chegou a ser próspero na época em que era denominado Rodésia, e do qual se espera uma reforma política importante que lhe permita voltar a ter seu protagonismo no continente. Também pertence à região Zâmbia, rico em minérios como o cobre, que decidiu em 2012, na contramão do que se esperava, revisar contratos de concessão para aumentar a participação estatal nas principais concessões de minérios, já outorgadas anos atrás. Neste sentido, fica evidente como o fator político tem um papel fundamental. Eleições, reeleições, processos pacíficos, respeito aos direitos humanos, em um continente tão difícil, são os maiores desafios e obstáculos a serem superados. Para analisar qualquer oportunidade de negócio na África, é conveniente que a empresa investidora conte sempre com um importante suporte de especialistas políticos na região. Conhecer o passado, o presente e os antecedentes dos países africanos é chave no momento de decidir investir e iniciar negociações comerciais. Por último, para as empresas brasileiras resta saber qual será o tamanho da aposta, que deverá ser a longo prazo e implicará aprendizado, trabalho conjunto e análise adequada de oportunidades que permitam ser identificadas e estruturadas como negócios viáveis e não simplesmente como obras de infraestrutura. A estratégia, como foi mencionado, deve ser bem diferenciada da chinesa, russa, indiana e até dos EUA: há que se pensar em parcerias, investimentos e relações de negócio a longo prazo e captura de sinergias. ■ African Business Magazine African Banker Magazine The African Report Magazine New African Magazine Le Magazine de l’Afrique Bibliografia