2. CONFISSÃO SE UM SER PERTURBADO
Daniel Paixão Fontes – 13/12/2004
As luzes se deformam sem um motivo
As noites chegam sem um por que
O inverno cai dos céus sem aviso
E a morte clama sem você ver
Sou um tolo, tentando marcar
No tempo e nas coisas quem eu sou
Não quero morrer sem celebrar
Uma festa a quem eu nunca fui
Sou tão tolo e débil criança
Destemido, sem segurança
Irritado e sem vingança
Com a mente cheia de insegurança
Das cobranças que me fazem não quero lembrar
Das dores e tramas que me arrastam para a morte
Se quero distância para sonegar a sorte
Sórdido caminho é o de se negar até o fim
Sem demora eu me vou ao além
Sem querer me valer do desdém
Que se aflora por minha vida
Sem demora me devora
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3. Sob a Chuva
Daniel Paixão Fontes – 18/12/2004
Às vezes eu só quero cair no chão
Deixando a dor me matar sem perdão
Lutar para que se eu já sei que não vou vencer?
Sinto tanto a sua falta e não vou mentir
Não quero esta dor que acompanha o amor
Nem quero entender os solução que ecoam no ar
Seria certo, sob esta chuva de sofrimento
Erguer a voz e gritar por um momento
Toda a fúria deste pobre sarnento?
Não vou me enxugar desta chuva sem fim
Não vou dizer o que interessa só a mim
Das nossas vestes a mais bela é o penar
Sofrer é o destino dos que querem amar?
Tão frio e escuro é o meu coração
Tão distante o dia seguinte parece estar
Nem sequer sei se consigo à Deus orar
Pedindo sem fé o que não mereço eu
Reclama do castigo o sentenciado
Reclama em vão pois seu julgo é merecido
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4. Além
Daniel Paixão Fontes – 19/12/2004
Descalços estão os pés dos que choram
Os olhos já cansados se entreabrem para a visão
E moída está a alma do que busca por perdão
Clareia-me o pensamento vislumbrar-te tão distante
Objetivo inalcançável, paraíso alienante
Clamo por ti em meio à flores fúnebres
Distancia, além das minhas forças
Sonolência, já não consigo mais andar
O que resta é apenas me sentar
Observo-te como alguém que se tortura
Ensandecida mente, deseja sem saber
Que o desejo morre sem regá-lo com esperança
E a esperança é o que busco em meio às ruínas da minha vida
Em meio aos fragmentos daquilo que um dia fui
Nos restos daquilo que eu julgava ser meu coração
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5. Enfrentando Medos
Daniel Paixão Fontes – 20/12/2004
Solitariamente envio-me ao destino incerto das reflexões
Ostracismo insólito, me torturo em busca de meras soluções
Caminhando em meio ao ébano das incertezas e desilusões
Balbuciando desafetos, desânimos e insatisfações
Confuso, sou apenas uma névoa sem vida
Vagando sem rumo por estradas escuras
Uma criatura de sentimentos desprovida
Mas ainda assim capaz de sofrer censuras
Triste, recolho-me de volta ao breu
Deitando-me ao relento das tragédias
Entregando-me aos lobos da miséria
Enfrentei meus medos e perdi meu coração
Em um ato sem sentido, me afundei em desilusão
E agora só me resta esperar, e esperar em vão
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6. ABAIXO
Daniel Paixão Fontes – 21/12/2004
Maldita obrigação e enfado são meus dias
Morram os sonhos dele! - são as vozes à orar
Que viva ele para satisfazer as nossas filhas
Que morra ele sem nada para si realizar
Abaixo de mim mesmo está meu outro ser
Que aspira e sustenta esperanças vazias
Que sonha com aquilo que não pode ter
Que se mata pouco a pouco, sem se entender
Do que adianta a vida desta forma
Do que valem os dias desta maneira
Se de puro engôdo a vida se adorna
Se todos desejam à mim a cegueira
Querem meu sonho morto e sepultado
Para que eu viva os seus sonhos então
Será que de egoísmo não declarado
Todos os humanos feitos são?
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7. FOBIA
Daniel Paixão Fontes – 22/12/2004
Todo o meu medo
Se resumem em um pesadelo
Que desperto tenho vivido
Mas que em sonho eu não permito
Arrastando-se por entre o pó
Está aquilo que me aterroriza
Um problema, eterno nó
Que desatar eu tanto queria
Não controlo o tempo e nem o espaço
Não posso enfrentar a minha fobia
Não quero causar nenhum estardalhaço
E para este crime não há anistia
De olhos fundos e boca monstruosa
Está o medo que tanto me apavora
Que com sua boca me devora
E com suas patas me controla
Estou nas mãos de meu algoz
O que posso eu fazer?
Triste fico sem poder usar a voz
Para gritar e o mundo estremecer
Não suporto estas desventuras
Meu coração está morrendo
Minha alma quer ir às alturas
Mas na verdade estou em meio ao excremento
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8. INCONTROLÁVEL
Daniel Paixão Fontes
23/12/2004
Insanidade é o que corre em minhas veias
Loucura de viver preso à cadeias
Que flagelam o que na verdade sou
E que a mim mesmo matou
Lágrimas no escuro caem
De meus olhos vermelhos elas saem
Longe de tudo e de todos
Daqueles que me julgam tolo
Crenças, descrenças, mentiras e verdades
Há soluços sob esta falsa irmandade
Incontrolável, insuportável
Meu coração é totalmente insaciável
Quero e não quero, sentir tamanho dor
Sinto muito por tão terrível amor
O drama instala-se horripilantemente
Ventos e relâmpagos me castigam fortemente
Impuro e imperfeito, qual sentido hei de encontrar
Para a insegurança e vertigem que me fazem vomitar?
Paz, tão desejada musa que me inspira
Aonde estás, minha eterna querida?
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9. NEBLINA
Daniel Paixão Fontes – 25/12/2004
Quase tátil era-me a visão
De tamanha e inverossímil situação
A luz por entre os obstáculos aparecia
Revelando-me o que eu apenas sentia
Não é tarde, muito menos cedo
É apenas certo viver sem medo
Calando os gritos abaixo da pele
Impedindo que este mal me flagele
Entendendo que a neblina que paira sobre mim
Tem, afinal, o seu próprio fim
Escurece a vista e até estremece a fé
Mas revela a luz que põe fim a esta maré
Cansado, aflito e com dores
Deitado em meio à flores
Vejo claramente na dor a me matar
Um motivo simples para alguém vir me salvar
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10. VÍCIO
Daniel Paixão Fontes - 27/12/2004
As mãos tremulam em hesitação
Não quero me render
Mas não suporto mais a excitação
De com isso me entreter
Soluços de mentira
Lágrimas de ilusão
O vício de mim retira
Toda esta aflição
Gritos de socorro não pude libertar
De azuis senhoras me faço acompanhar
Me entregando à própria morte
Um pouco mais, e à própria sorte
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11. PÉS DESCALÇOS
Daniel Paixão Fontes – 28/12/2004
Sem preocupações quanto ao meu futuro
Sem lágrimas quanto ao meu estado
Só por hoje vou descer do muro
Sem me lamentar de meu passado
Passar um dia inteiro
De pés descalços é o que quero
Sentir a terra por entre os dedos
E ser forjado como o ferro
Descansar à beira de um lago
Ser um nada por um momento
Admirar enquanto divago
Sobre o que estou isento
Meus pés tocam a água fria
Sorrio sem me culpar
A noite já me acaricia
Para em paz me embalar
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12. LAMENTO AO SOL
Daniel Paixão Fontes – 30/12/2004
Quero acreditar que um dia posso vir a ser
Algo mais do que este pobre maldito a sofrer
Alguém a quem você possa olhar sem chorar
Alguém que seja forte e não lhe possa machucar
Morte, que ventos a trazem até mim?
Que sono é este que o sol me faz sentir?
Que medo insano é este que me tenta coibir
Aquilo tudo o que eu tenho que definir?
As sombras são pura lamúria e tentação
Das formas ocultas que eu mesmo não sei ver
Das tristes marcas que carrego em meu coração
E me deformam sem perceber
Não quero me entregar à dor de te fazer sofrer
Não quero aceitar que vou me perder
Por entre os dias da minha vida
Por entre os rumos tortos da minha trilha
Sei que não sou feito para temer
Mas sob o sol lamento sem me entreter
Não quero mais ser arauto de tristeza
Pois de mim mesmo quero ter certeza
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13. QUEDAS
Daniel Paixão Fontes – 03/01/2005
O remorso amarga-me inteiro
Destila veneno, instiga terror
Controla-me como titereiro
Desfaz-me do que é o amor
Olhos nos olhos, vejo-te assim
Não quero mais você em mim
Maltrata-me a alma sonhar sem sentir
Não quero mais ter de mentir
Meus dias passados, distantes momentos
Não os lembro sem seus sofrimentos
Feridas da alma, chagas no coração
Sempre movido à paixão
Sinto por não mais sentido fazer
Sem que saiba ao certo o que dizer
Vou-me assim como o pó ao vento
Sem mais alongar este momento
Sacudo meu corpo, levanto-me do chão
Olho as estrelas, nego-me o não
Caminho confuso até novamente cair
Se vou levantar é algo para refletir
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14. RESGATE
Daniel Paixão Fontes - 10/01/2005
Caído em desespero, na escuridão a lamentar
Um pobre eu, já cansado de tanto esperar
Outrora reto e manso servo fervoroso
Agora um pobre, nú e cego rancoroso
Muda-me o coração, faz-me a ti refletir
Limpa a minha alma do inicio ao fim
Me alimenta o espírito, faz-me como a Davi
Que tudo o que queria era um coração segundo a ti
Recordo-me dos dias em que contigo conversava
Me lembro das horas em que a ti me atirava
Agora, porém, só tenho lágrimas que não mais se contém
Resgate-me de mim mesmo, salva-me da minha insanidade
Livra-me de meus desejos, esmague minha maldade
Resgata em mim aquele amor, amor sem fim
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15. DIAS FRIOS
Daniel Paixão Fontes - 11/01/2005
Dias tristes me apaziguam a alma
Frios e chuvosos dias de calma
Dias em que o que eu mais queria
Era ver o que eu nunca veria
Dias frios de outono sublime
Dias bons em que nada me oprime
Dias como estes não voltam mais
Dias frios como nunca haverá jamais
Chuva tranqüila, que cai sem parar
Inunda-me a vista, e faz-me sonhar
Por horas e horas e horas e horas
Com tudo o que há lá fora
Bom em dias frios é abrigo e calor
Bom em dias quentes é ao vento se expor
Dia escuro, nublado e aterrador
Até mesmo tu me levarás ao Senhor
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16. MEMÓRIAS EM SÉPIA
Daniel Paixão Fontes - 12/01/2005
Lembro-me de tardes mornas e amenas
E de dias em que a noite tardava a cair
Lembro-me de pessoas mais serenas
Não tão propensas à mentir
A insanidade não morava tão perto
Nem a perdição batia à porta
É verdade que o destino já era incerto
Mas minha mente não jazia morta
A chuva caía e eu me abrigava
E durante a noite uma vela me iluminava
O frio vinha e eu me aquecia
A dor surgia e eu me entretinha
Época de ilusões e memórias em sépia
Dias repletos de emoções paupérrimas
Recantos vazios de sofrimento e glória
No hoje jazem em minha própria história
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17. AINDA QUE
Daniel Paixão Fontes - 18/01/2005
Ainda que não sobre mais vontade
Não lamentarei em busca de piedade
Pois a vida, amarga como veneno
Esvai-se em um momento muito pequeno
Ainda que teus olhos não demonstrem paixão
Não serei um reles faminto implorando atenção
E ainda que tua boca confesse amores
Teus olhos me confessam horrores
Ainda que a busca fosse vazia
E ainda que a Terra se transforme em nada
De nada se infla a minha alegria
E na alegria falsa se escora a minha agonia
Ainda que as lágrimas sejam escassas
Ainda que as alegrias sejam esparsas
Não vou me desaventurar em insanidades
Tão pouco quero me atirar à vaidades
Ainda que os dias cheguem ao seu final
E ainda que a tempestade seja mortal
Lutarei em prol daquilo em que acredito
Ainda que isso lhe deixe aflito
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18. FURIA
Daniel Paixão Fontes - 20/01/2005
Lascinante instinto de meu âmago
Genuíno à um verdadeiro vândalo
Força motriz por trás de revoluções
Atitude da qual não se tira conclusões
A fúria inflama os instintos
Faz a mente se entorpecer
Transforma covardes em assassinos
Faz o sangue fartamente escorrer
Fúria assassina, demagógica e suicida
Fúria de criança de rua, já esquecida
Fúria de povo abandonado, revoltado
Fúria de ser humano, assassinado
Motivos? Quem se importa com eles?
Argumentos? Quem se incomoda com estes?
Soluções? Quem as busca ardentemente?
Vergonha? Que líder ainda a sente?
Soluços na escuridão ecoam pelo mundo
Mas o dia da batalha virá a qualquer segundo
A fúria vive sob a pele dos injustiçados
Rompe-la-á em busca dos culpados
Com braços em guarda e punhos fechados
A fúria instiga até seres alados
À peleja que irá retirar esta amargura
Desta fúria morta que causa á alma secura
*escrito enquanto ouvia Heavy Metal
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19. DEFINIÇÃO DO MOMENTO I
Daniel Paixão Fontes - 21/01/2004
Todos os dias acordo assustado
Com coisas que não posso explicar
Sinto saudades de algo bizarro
Que não existe e ninguém vai criar
Assisto aos céus deitado no chão
Como um filme de eterna duração
Fico tão triste de não lá estar
Voando sem me preocupar
Mas posso dizer que não sou mais daqui
Só quero sentir que não sei mais mentir
Um dia virá em que a dor terá fim
Também é assim com as flores do meu jardim
O sol já se põe sem se despedir
Já tardou o raiar do luar à me cobrir
Tão só me engano quanto me abomino
Sou todo ouvidos ao teu prantear
Mas busco o incerto em prol da visão
Que tive ainda menino em meio à sequidão
Da minha infância perdida em memórias pueris
Em meu coração jorravam idéias como um chafariz
Rasuras apagadas em papel de pão
Eram meus planos de ação
Fogo ateei às planícies em mim
Não posso prever o que vai ocorrer assim
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20. DESEMBAINHAR
Daniel Paixão Fontes - 27/01/2005
Triste e faminto estou de Ti, ó Deus da minha salvação
Minhas pernas tremulam quando penso em teu juízo e em minha perdição
Meus olhos se ferem diante do brilho da tua benignidade
E tentam se me desviar de sua santa verdade
Quebranta ó Senhor a minha ânsia e meus desejos
Esmague por entre os dedos de tua mão os meus anseios
Pois à miséria e à perdição eles me levarão
E morte é o destino das saídas do meu coração
Muda meus pensamentos, limpa-me de meus tropeços
Cura minhas feridas, apiede-se de meus maus intentos
Deus meu, extirpa de mim o mal com tua espada
Desembainhe-a contra mim, salve-me pela tua palavra
Santo de Israel, Deus do impossível, Senhor da existência e inexistência
Cura do mal meu coração, refine minha mente, lave-me com insistência
Pois sem teu amor, ai de mim, que sou injusto, vil e de má tendência
Seu teu perdão por Cristo, ai de mim, que tanto careço de benevolência
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21. RECONHECIMENTO
Daniel Paixão Fontes - 31/01/2005
Todos os dias eu acordo sem despertar
Desta vida em que você me amou
Meu passos guia-me a qualquer lugar
Sem saber exatamente para onde vou
Prefiro morrer à crer que vou perder
Quero explicar aos que querem entender
Das tuas palavras não me farto em aprender
Que morto estou, sem de mim me arrepender
Não quero mais saciar-me em meus vícios
Tão pouco espero que me deixem em paz
Sei que terei que fazer sacrifícios
Mas por Ti vencerei, pois eu não sou capaz
E a noite eu me deito cansado
Pensado em como fui tão ingrato
Por que não fiz o que Tu quer
Faz-me fazer o que o Senhor me disser
Tão pouco de mim eu lhe doei
Pois com um palco vazio me encantei
Onde peças ocultas eram encenadas
E onde a vida se esvaia para o nada
Teus olhos me fitam sem que eu possa pensar
Tua mente me imagina sem que eu possa duvidar
Tua boca me declama sem que eu precise falar
E Teu amor me conclama sem que eu possa recusar
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22. MÁ VONTADE
Daniel Paixão Fontes - 10/02/3005
Quantas vezes hei de dizer em vãs argumentações
Que em todas as minhas fraquezas me limito?
Que todos os meus vícios são prisões?
Que no mesmo erro ainda insisto?
Quando vencerei minha limitação?
Quando me livrarei desta prisão?
Limítrofe és tu, domínio próprio
Pois caí em mais uma armadilha, é óbvio!
Debaixo de minha pele, no meio de meus ossos
Misturado à minha medula, minando os meus esforços
Habita uma má vontade, incontrolável e bastarda
Algo que deixa minha própria alma totalmente amargurada
Sinto tanto pela dor que me aflijo
Sinto muito pela brecha ao inimigo
Sabendo bem o que faço e deixo de fazer
Me desespero sem a mim mesmo entender
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23. FRAGMENTO DA VISÃO DO AMOR
Daniel Paixão Fontes - 21/02/2005
De tão imensa que era a minha ilusão
Me submeti à mais humilhante submissão
Em busca de apoio e de amor me entreguei
Mas como tecido antigo no final me rasguei
Dores de chagas antigas que nunca cessaram
Anseios de vozes partidas que não se calaram
Angústias se homens vazios que não se completam
Luzes tão frias que do alto nos velam
Vai, sai em busca do teu querer
Desafia-te em riscos sem se abater
Sujeita-te ao infortúnio da febre da vida
E volta-te ao amor com sabedoria
Da infelicidade o amor se engrandece
E na dificuldade ele se fortalece
Do impossível sua esperança o inflama
E no seu ápice nada estranha
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24. O SILÊNCIO DA ESCRITA
Daniel Paixão Fontes - 22/02/2005
Minhas histórias ninguém nunca ouviu
E minhas rimas, ninguém as sentiu
Os meus ensaios ninguém criticou
E dos meus contos ninguém se alegrou
Não tenho mais o que aos outros falar
Não tenho mais do que reclamar
Não tenho sonhos e nem soluções
Não tenho mais nada além de alucinações
Na gaveta escura estão meu soluços
Em linhas trêmulas expulsei meus abusos
Curtindo ao sol apodrecem ilusões
Daquilo que julgava serem belas visões
Tudo que busquei, tudo que sonhei
Nada disso enfim, um dia conquistei
Se algo me limitou, não puder relutar
Pois na verdade eu nunca pude me entregar
Se devassidão pensei, se de morte me vesti
Se de alegria eu totalmente me despi
Se o perdão é a busca e paz é o prêmio
Só me resta então o refletir no silêncio
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25. VIDA EM SAÍDA
Daniel Paixão Fontes - 28/02/2005
Se o acaso for-me como um rio a percorrer
De barco à vela as insanas águas sem saber
Que outrora fui-me em devaneios a pensar
Que a vida é engano e me basta sonhar
De tratos finos e ingratos me fartei
Em tristes dias me enchi e me banhei
De incertos sonhos eu não abdicarei
E das amarras desta vida eu me livrarei
O adeus é pra sempre um eterno sofrer
Mas a vida em saída se vai sem saber
Que não há despedidas, apenas encontros
E que tudo é mentira, é puro afronto
Mas não se vá para o lado de lá
Nem queira buscar o que lá não há
Garanto que se você me contar
Não vou a ninguém o segredo revelar
Sim, quando você vier me visitar
Por sua voz vou ansiar escutar
Mas por favor, venha sem avisar
Não bata na porta, e a ninguém faças chorar
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26. ESPARTILHO DE ARAME FARPADO
Daniel Paixão Fontes - 02/03/2005
Dor e sono misturados em um composto
Desgosto e incapacidade me são como estofo
Forrando a mim mesmo de sensações desagradáveis
Me levando a entender que meus desejos são abomináveis
O que desejo insisto e erro sem titubear
Do que me intero pensou eu em compartilhar
Como veneno minhas palavras são rejeitadas
E como morte minhas idéias são destratadas
Cegos e surdos me cercam e encarceram
Falam sem dizer e enxergam sem ver
Buscam alvos inexistentes e imprecisos
Não ponderam, e de suas idéias não fazem juízo
Confusão, distúrbio, ondas sobre as águas
Atitudes total e completamente descontroladas
Tédio, ócio, despropósito em viver
Todos julgam sua própria verdade conhecer
Um espartilho de arame farpado é a vida deste mundo
Mais do que incômodo, é a besteira de um segundo
Olhos dispersos contra lâminas de ferro
Nada é mais importante do que um simples berro
Dor, sangue e moscas compõe a verdade da tua mente
Uma verdade triste para não dizer indecente
Nunca aceitará que estás errado
E simplesmente voltará a viver em pecado
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27. DE 1 A 8 LINHAS DISSERTANDO SOBRE O VAGO
Daniel Paixão Fontes - 09/03/2005
Só Todas as noites me são gratas
E todos os dias de mim dão risadas
Deitado e descalço Mas de repente não entendo o que você quer
Me entendo em pedaços Se é amor me diga por favor
Se é descrença cite a sentença
Tira de mim este amargo sabor Se é loucura me leve às alturas
Este sonho feito do mais puro terror Se é perdão apenas me dê a mão
E me livra da minha dor
Já desisti de aceitar que não posso mais ficar
Mas, pobre de mim Me revoltei contra o que não posso desejar
Em dias assim Se de batalhas me é dada a casa de meu rei
Não sei bem dizer Não vou temer ferir ninguém, disso eu sei
O que estou a querer Só vou errar quando te ter em minhas mãos
Quando souber que não sou um cão
Mais um pouco só, de amor e dó Quando entender que o vago é sofrer
E estarei pronto a esperar você E que os meus dias são distúrbios do viver
Vá, e me diga loucuras de lá
E traga bobagens pra cá
E me segure firme pois eu posso cair
Vou até minha morte
Esperar sem ter sorte
As dores da vida e do amor
Mas não vou querer
Te ver sofrer
Por isso é que eu não vou ficar
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28. GASTANDO TEMPO
Daniel Paixão Fontes - 14/03/2005
Vinte e quatro horas serão dadas ao desperdício
Sete dias serão destinadas ao sacrifício
Sessenta minutos passam sem se ver
Sessenta segundos se vão sem querer
Sol e lua cruzam os céus sem dançar
Instantes de pouco ou nenhum pesar
Sombras da luz nascem e pela luz morrem
Não se deve contar os dias daqueles que sofrem
Mais alguns minutos se foram caídos das eras
Instantes que nunca voltarão à estas terras
Fazem-se sangrias nos dias deste instante
Abomina-se o fato do tempo não ser constante
Guardo-me daquilo que outrora conheci
Abomino a tudo aquilo que um dia vi
Vasto instante de fadiga e confusão
Mero momento de intriga e ilusão
É pois o dia da vingança daqueles que sonharam o tempo
É então a morte que vai por dentro nos corroendo
Olhos pesados de sono e mente torpe de insanidade
Olhos cheios de medo e mãos em busca de uma única finalidade
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29. AMNÉSIA ETERNA
Daniel Paixão Fontes - 16/03/2005
Nem sempre eu pude lhe dizer quem sou
Nem mesmo tive a chance de dizer como estou
Me sinto assim, um pouco opaco de se ver
Não é possível, desta forma, me entender
Não sou nada além do que penso ser
De tanto pensar ainda vou me perder
Já desisti de conhecer, basta me aceitar
Não mais explicações vou procurar
Não me recordo do que eu dia eu fugi
Nem me lembrarei das loucuras que já cometi
Assim só posso com o presente me preocupar
Sem ter um passado, o meu futuro eu deixo estar
Se eu chorar sem saber o motivo
Não se preocupe se eu ficar assim, meio esquisito
Não há mais motivos para isso delongar
Não quero mais com agonias lhe atormentar
Deixa estar, uma hora passa este estado
Assim como gota de chuva escorrendo do telhado
Esvai-se a memória de mais um dia ruim
Retendo apenas o que é bom, enfim
Devaneios e alucinações de um passado sem rosto
Centelhas desindexadas flutuando em minha mente
Busco no presente o meu conforto
E nas palavras em rima concretizo tal engodo
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30. GUERRA DA TUA TRISTEZA
Daniel Paixão Fontes - 21/03/2005
Não se afogue nas tristezas e dores do sofrimento
Se o mundo lhe castiga com a vida em tormento
Escora em mim teu rosto em lágrimas
E desagua em mim estas dores trágicas
Balbucia em meu ouvido a tua aflição
Para que eu possa assim confortá-la
Me deixe arrancar-lhe tanta dor e confusão
Queria poder disso tudo poder poupá-la
De sorrisos prazerosos quero te ver enfeitada
Com delírios de felicidade queria lhe presentear
De paz e alegria ei de te ver adornada
Com plenitude e maturidade te verei caminhar
Sofrida e querida, me deixe ajudar
Se só posso enfim tua mão segurar
Que isso lhe seja sinal de amor
Com isso eu afirmo, do seu lado estou
Disposto e a postos, eu vou batalhar
Ao teu lado a guerra da tua tristeza
Vou me ferir, mas não vou debandar
Te quero feliz e por isso disposto estou a sangrar
*escrito para a minha noiva, Cristiana
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31. DELÍCIA DO ALÍVIO
Daniel Paixão Fontes - 24/03/2005
Chegar em casa e ser recebido com carinho
Enquanto que lá fora a chuva vai caindo de mansinho
Deitar-se no sofá com os pés descalços
E tal aconchego te fazer esquecer de seus percalços
Um banho quente em um dia de inverno
Um sorriso que se torna quase eterno
Um beijo macio e um abraço amoroso
Enquanto se ouve no rádio um sucesso estrondoso
Acordar bem tarde em um dia acinzentado
Ou no frio cortante se ver bem agasalhado
Na sede desesperadora sorver água pura
E na necessidade lhe responderem com grande ternura
Nos relacionamentos ser um bom amigo
E na necessidade encontrar abrigo
Na secura de alma regar-se com o sangue do cordeiro
E em sua vida inteira apoiar-se no que é verdadeiro
Brincar uma tarde inteira sem se preocupar
Dar risadas gostosas até chorar
Livrar-se de um fardo e caminhar em liberdade
Viver tranqüilamente como em uma eterna novidade
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32. SÉQUITO DE INTENTOS
Daniel Paixão Fontes - 30/03/2005
De vultos esguios em meio à noite forram-se meus deleites
De ações insensatas e flâmulas rubras agitam-se com enfeites
Correndo em busca daquilo que persigo impiedosamente
Chuva, fogo e terra me atrasarão, mas nunca completamente
De adornos mórbidos decorarei o cadáver dos meus desejos
Encerrados em um baluarte de servidão estarão meus anseios
Repletos de sacrifícios de amor estarão minhas ações
Meu séquito de intentos contagiará grandes multidões
Destilo em gotas o mal que me é tão natural
Desfaço-me do que um dia fui, mero animal
Separo em dias a embriaguez do meu egoísmo
E luto batalhas sem me valer de sadismo
A dor intensa me segura pela mão
E minha alma enfrenta uma doce ilusão
Mas livre desta morte eu não me importo com quem sou
Apenas me preocupo em agir de acordo com quem me amou
Mas estes intentos serão sonhos ou serão ações?
Sinto o gosto da vertigem me ludibriando com canções
Sou tão pequeno que me pergunto se de fato estou aqui
Mas ouço os teus intentos e começo a sorrir
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33. GRITO DE VINGANÇA
Daniel Paixão Fontes - 07/04/2005
Tranqüilamente me retiro desta guerra
Embebido em sangue
Entorpecido neste transe
Este tempo enfim de encerra
Glórias e desgraças se confundem em meu passado
No final, é como se eu fosse um mero papel amassado
Momentos bons de violenta angustia em forma pura
Se intercalam com instantes vagos de alucinação e amargura
Tremor, ódio, explosão e nervosismo
A tudo isso eu agora exorcizo
Em lamúrias desgostosas de parca desenvoltura
Me agito no movimento contra esta diabólica ditadura
Encerro em minha boca o grito de vingança
E à Deus destino o que me resta de esperança
Balbuciando comigo mesmo planos de vitória
Escrevo assim mais um pouco da minha história
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34. SOB AFAGOS
Daniel Paixão Fontes - 15/04/2005
Quando miro os teus olhos não posso me conter
Há algo em você que me faz bem
Quem sabe não seja o teu proceder
Que me dá certeza de que, como você, não há ninguém?
Sob afagos de amor quero lhe cobrir
Com pétalas de sonho quero lhe enfeitar
De alegrias puras quero te adornar
E delicadamente lhe fazer sorrir
Sob afagos de luxúria hei de lhe ter
Em doces momentos do mais puro prazer
Entregues estaremos à esta paixão
No limite final da agonia da sedução
Sob afagos de compreensão lhe trarei alivio
Com palavras e apoio tentarei ser correto
De cuidados intensos te protegerei do frio
E nos meus atos, serei bem discreto
Sob afagos de carinho quero lhe embalar
Por bons caminhos quero contigo andar
Em dias tristes, quero em ti me escorar
E em noites frias, contigo me esquentar
Lá fora chove e venta arrediamente
Mas contigo eu já me sinto contente
Um colo para repousar minha cabeça tão cansada
Uma pessoa que merece a todo custo ser amada
*Escrito para a minha noiva, Cristiana
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35. RASCUNHO DE SAPIÊNCIA I
Daniel Paixão Fontes - 28/04/2005
Queria entender o que você diz
Sem que com isso eu comprometesse
A sua poesia de ser feliz
Ou seu sorriso eu estremecesse
Não sou sábio para dizer o que é preciso
Tolo é aquele que se julga capaz
Que acredita ser conciso
Naquilo que não lhe satisfaz
Outrora estranho e agora a pouco novidade
Sem memória na escuridão
Sem dizeres de verdade
Venho de encontro ao maldito e inverossímil
Contra o adereço da miséria
E o destaque do invisível
Sem que eu possa tocar-lhe a face uma vez mais
Balanço a mão em sinal de adeus, em sinal de paz
Querendo voltar, me atirar no teu abraço e conforto
Me libertar da masmorra, da saudade e do que me é morto
Não que isso possa de fato ser algo importante
Mas os nossos dias são invólucros do mais puro inconstante
Sedenta está a minha mente de conhecer o que me é caro
Sem pausas para descansar, sem brincar ou tirar sarro
Busco cintilar o que em mim existe
Sejam idéias, Deus ou algo muito triste
Se não quero guardar para mim meu conteúdo
Vou prosseguir firmemente com este mesmo estatuto
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36. LEVE DEPRESSÃO INEXPLICADA
Daniel Paixão Fontes - 09/05/2005
Os sinos dobram ao longe do lado oeste
Ressoando lágrimas sem que tu soubesse
Das desgraças secas dos que clamam em soluços
Das memórias falhas dos que já estão caducos
Sempre e desde outrora somos fartos de nós mesmos
Renegados por cometer sempre os mesmos erros
Destinados a ouvir e a lamentar em sonhos pardos
Os momentos tristes dos que não são alados
Em ríspida rotina desmoronam minhas idéias
Em poucas palavras se desfazem em misérias
Todavia embargou-se em mim a obra do meu entusiasmo
Sem avisou prévio demitiu-se sem nenhum sarcasmo
Tomado de assalto, sem entender o motivo disso
Estou triste e de tristeza estou imbuído
Sem motivos ou razões, apenas a pouco aflito
Como se boiando no oceano, um oceano bastante esquisito
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37. DEIXE O SOL ENTRAR
Daniel Paixão Fontes - 17/05/2005
Saia de dentro de si mesmo
Jogue fora esta roupa feita do mais puro medo
Caminhe pela praia com o sol iluminando o seu rosto
Molhe os seus pés na água e esqueça todo este desgosto
Deite-se na grama e fique de papo para o ar
Cante baixinho algo bobo sem se preocupar
Ande pelas ruas sem destino ou remetente
Apenas caminhe por ai com um rosto sorridente
Mantenha em sua mente um pensamento de alegria
Permita que ele se transforme em algo que contagia
Brinque sem culpa e respire bem fundo agora
Vamos abrir então a nossa ultima porta
Voltando para dentro de você
À sua vida incerta, que está à sua mercê
Leve consigo o sol, a cantiga e o sorriso
E exiba assim o teu lado mais bonito
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38. ADEUS TARDIO
Daniel Paixão Fontes - 18/05/2005
Não tivemos chance de nos despedir
E eu nunca disse o queria falar
Não entendi por que você teve que ir
Mas vou ficar aqui e tentar não chorar
Se não era assim a vida um amargo gosto
Você falou que tudo iria passar
Mostrou que o mundo não era tão tosco
Ficando ali só para me escutar
Me deu conselhos e me fez rir do meu próprio jeito
Me fez pensar um pouco mais nos meus conceitos
Fez parte de um plano que Deus arquitetou
Para me moldar naquilo que hoje eu sou
*para a minha antiga dentista, Cristina, falecida recentemente
que Deus a tenha recebido em seus braços
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39. MISÉRIA DESTILADA
Daniel Paixão Fontes - 30/05/2005
Sinto muito por não ser quem eu queria
Me desculpe por ser esta imensa porcaria
Me perdoe por não ser alguém melhor
Tem muitas vezes que me julgo ser de todos o pior
Pelas esquinas eu contemplo o meu medo
Em faces torpes eu me vejo em desespero
Nos espelho vejo um rosto tão cansado
Que em miséria se abriga no descaso
Bondade sua em dizer que se preocupa
Mentir nem sempre de alguma forma ajuda
Se nossos olhos não se cruzam mais
O que fazer, se nada mais me satisfaz?
A dor já não me fere mais com tensão
A vida já não me leva à contemplação
Se meus sonhos se afogaram dentro de mim
Não vou chorar por eles, enfim
Se sou patético em momentos como este
Falta-me refugio desse estado recorrente
Destilo em mim mesmo o veneno que me mata
Miséria sem sentido, sem alegoria, uma só desgraça
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40. PONTE ETÉREA
Daniel Paixão Fontes - 10/06/2005
Não quero mais falar do que me ocupa o pensamento
Sem compartilhar nas agonias o meu sofrimento
Se um dia quiser entender o que vai no meu ser
Não diga a si mesmo que não pode entender
Se sou estranho não posso me controlar
Já que eu teria que de alguma forma me matar
Mas eu não vou desistir de mim
Não vou me entregar assim
Boa parte do que vê não passa de uma encenação
Meus dias são tão mornos que transbordam de aflição
Eu quero fugir...
Eu só quero sumir...
E eis que de repente algo surge no poente
Como uma ponte etérea que no ar se eleva
Indescritível e em certo ponto intangível
Mas firme e forte caminho vindo do norte
E eis que a noite se acaba
E de manhã eu vejo que só quero amá-la
Não vou deixar que a dor me consuma
Nem que minha morte algum dia lhe confunda
Não há mais doce sensação do que te segurar a mão
O dia mais negro do mundo ante ti se desfaz em um segundo
Nem minha própria aflição é capaz de me consumir
Se você estiver bem aqui
Sei que um segundo se esvai sem perceber
Assim como já se foi o meu sofrer
Nadando em lágrimas me via no passado abandonado
E hoje vejo em alegria vivendo com enorme maestria
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41. FOLHA MORTA SOB O RIO
Daniel Paixão Fontes - 16/06/2005
Achava que da minha vida eu cuidava
Que me guiava em direção ao meu querer
Só mais tarde fui capaz de compreender
Que em nada eu me bastava
Tal qual folha morta carregada por um rio caudaloso
Minha vida se trilhou de maneira imprevisível
E intercalada com momentos de calmaria inverossímil
Terríveis corredeiras me deixaram desgostoso
A folha nasce, envelhece, morre e da madre se desprende
Contra sua vontade e contra o seu querer deficiente
Cai no chão ou na água, e de alguma forma é arrastada
A folha morta é levada contra sua vontade humilhada
De nada adianta debater-me em desespero e agonia
Tudo o que me basta é entender esta sinfonia
Acalmar-me na correnteza é força e não fraqueza
Pois Deus comanda o rio, disso tenho bem certeza
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42. ASAS DE TRANSIÇÃO
Daniel Paixão Fontes - 20/06/2005
Olhos amargos me fitam sem que eu os entenda
Resta-me apenas a simples palavra de amor
Perdoa-me por tão grandiosa contenda
Que amena em um sublime terror
Das telhas caem lágrimas de solidão
Nas ruas escorrem lágrimas de desolação
Em uUm dia de chuva é bom se guardar
Da brisa tão fria que vem nos matar
Mais que um sussuro entre dentes
É a forma de viver tão contente
Aberto e incerto momento de dor
Esvai-se em tenras contendas de amor
Busco o que não posso ganhar
Mas instantes de dúvida me fazem esperar
Ameno e incerto encolho-me em mim
Mais disputas não quero assim
Esvaziei-me de mim, e enchi-me de lágrimas
Mais do que medo e dor, são lembranças trágicas
Busquei e busquei sem nada encontrar
O que há em mim, não quero lembrar
Doces torturas de insana loucura
Abate-se aqui a caça das caças
Transitei enfim em tuas enormes asas
Bastou-me enfim esta linguagem em figura
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43. PERDEDOR
Daniel Paixão Fontes - 23/06/2005
Quero chorar mas não sou mais capaz
De expressar esta minha falta de paz
Só o que sei é lamentar e cozer
Lentamente o meu querer
Brinco com palavras sem me entreter
E logo irá na minha vida anoitecer
Já que não vou aguentar a escuridão
Espero por alguém que me segure a mão
Só um pouco mais, e poderei me despedir
Adeus tardio sem sentimentos exprimir
Sei que não é algo bom de se pensar
Mas não quero mais isso tudo aguentar
Sem sorrir nem mentir, simplesmente me entregar
Não tenho em mente esta luta continuar
Sei que sou um tolo e maldito perdedor
Mas não posso mais ser o que não sou
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44. AURORA DOS DIAS PARDOS
Daniel Paixão Fontes - 27/06/2005
Pelo vidro da janela vejo o dia entristecido, acinzentando-se de forma
melancólica. Percebo que a luz que tudo toca é azulada como o meu humor,
quase uma manta de pudor, que revela ao mesmo tempo em que encobre a
ansiosa volúpia inerte em cada recanto disforme.
Sem pudor, despiu-se em minha frente o corpo desta morte. De tal sorte que
angustia tornou-se minha aflição, outrora solidão. Não mais verei os meus
medos sobre mim se derretendo em teias de conformidade, pois se me falta
seriedade para expurgar de mim mesmo o que me faz tão incorreto, o que
dizer depois de afirmar que nada sou além de um homem indiscreto...
E então, mais do que uma música, uma melodia de alegria insana se
manifesta em claves e pautas majestosas, como se de ópio a realidade se
entorpecesse e de satisfação a vida transbordasse. Surge a aurora dos dias
pardos, fim das cadeias e início das virtudes, paz dos guerreiros, sono dos
cansados, porto dos navegantes, cama dos amantes, saber dos intelectuais,
justiça dos oprimidos, alimento dos famintos.
Nunca mais provarei do fel que me matava nem da morte que me
espreitava. Os dias azuis de outrora foram-se agora. Embrenharei-me no
calor dos teus braços, satisfarei-me ao teu lado andar com pés descalços.
Mais de mim mesmo habita neste corpo agora do que a meros instantes
habitava. Meticulosa arte de moldar a realidade, ilusionismo de pessoas sem
idoneidade.
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45. MAR DE INCERTEZA
Daniel Paixão Fontes - 08/08/2005
Entendo agora o que outrora não compreendia
Distante de mim mesmo segui à deriva
Incerto destacamento de atos e concessões
Figuras prosaicas de pobres e débeis atuações
Sintonizo o meu ser naquilo que me recuso a crer
Mas não há mais como negar
Segui um caminho perigoso cujo fim foi desastroso
E agora resta-me o mar
Sem vento e vela, ancorado em problema e medo
Incerto tempo do mais terrível e frio desalento
Me atirei de encontro à morte e morri
Nada mais me resta, nem mesmo a ti
Tão frio é o momento da constatação
Doente mente de pura invenção
Fantasiou-se em armadilha de incompreensão
Abandonou-se na ilha da desilusão
Fantasiei-me em ti sem ao menos pensar
Que era um erro disso tudo tanto esperar
Falhei em mim o próprio intento de me libertar
Mas ao contrário, aprisionei-me mais neste mar
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46. IMPURO
Daniel Paixão Fontes – 07/11/2005
Todos os segundos deste amargo minuto
Me violentam pela mera existência
Desta complexa e insana falência
Desta dor e deste lugar imundo
O grito se agita na jaula que há em mim
Abandono as correntes e prisões
Disseco meus instintos e considerações
Que tolo eu fui, penso enfim
Meu antigo eu que um dia foi criança e viu seu mundo se despedaçar
Afundou-se em gritos surdos para a tudo poder negar
Sangue e moscas cobrem a tudo que eu vislumbro
Nada mais do que eu tenho pode ser chamado de puro
Forte e fraco moram sob o mesmo teto da minha mente
Atos e pensamentos nunca me deixaram contente
Queria rir da desgraça que eu compreendi que sou
Mas infelicidade é somente o que me restou
Tento me levantar, mas não sou capaz
Tento me erguer, mas não consigo
Resta-me a dor, mas já não ligo
Ela é vestígio da minha falta de paz
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47. A DOR
Daniel Paixão Fontes – 07/11/2005
Nada mais faz sentido em meu sono bandido
Jamais esperei pensar no que eu devia falar
Mas não sou só eu que está aqui
Sozinho e sentado esperando o sol raiar
Janelas se abrem nos céus para a vida mostrar
Na terra portas se fecham para a morte espalhar
Já eu não sei mais o que pensar de tudo isso
Não quero mais sonhar pra depois me machucar
Mais o que é enfim a dor que sinto tão vulgar?
Nada mais do que anseio por cavalgar
Tomando as rédeas do meu querer
Para enfim balbuciar que não quero me perder
Assim sou eu quem me derrota nas lutas do meu coração
Traindo a mim mesmo com ânsias de um falso verão
A dor, ah, essa dor...
É só a minha própria ilusão
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48. PERDIDO DE MIM MESMO
Daniel Paixão Fontes – 07/11/2005
Dias a mais, para mim tanto faz
Dias atrás perdi-me de mim
Descontrolei-me assim
Sem volta e sem paz
Não consigo lembrar de quem costumava ser
Não gosto de mim e cansei de tentar me entender
Meus ossos estão fracos com todo este esforço
Meus olhos se fecham sozinhos por puro desgosto
Eu não vou mais cantar esta canção
Que de tanto cantar me deixou em aflição
Não vou mais falar do que me importa sonhar
Por que eu nunca mais vou me reencontrar
Doce cinismo de fábulas hostis
Vá embora de dentro de mim
Loucuras santas de um perdedor
Uma gravura de quem afinal hoje sou
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49. DROGA DE MUNDO
Daniel Paixão Fontes – 09/11/2005
Que droga de mundo em que as pessoas não se dão
Malditos idiotas que se julgam uma nação
Pobres bastardos, nunca vão compreender
Sua fatídica ignorância que lhes vão fazer morrer
Que droga de mundo em que a paz não de tem mais vez
Preconceito e intolerância, do orgulho à embriaguez
Já vejo aqui do alto um rio de sangue os levar
Aos confins da vida humana todos eles vão chegar
Que droga de mundo em que a justiça é uma prostituta
Vestida de lasciva e assumida vagabunda
Já estou cansado de toda essa palhaçada
Quero que tudo suma sem ninguém pra dar risada
Que droga de mundo aonde a arrogância putrefou a alma
Enterrada na discórdia a vida sofre uma cilada
Ninguém é quem quer ser e muito menos quem devia
Escravos da estupidez, bonecos sem alegria
Que droga de mundo em que os sonhos já se foram
Palavras se perpetuam sem que nunca morram
Eu não quero mais ligar para o que me cerca
Quero que se danem todas as pessoas que estão “certas”
Que droga de mundo sem sentido ou razão
Não tenho mais vontade de lhe estender a mão
Não quero mais saber das suas malditas singularidades
Quero me esquecer desta sua imensa e maldita falsidade
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50. INSANIDADE PERIÓDICA
Daniel Paixão Fontes – 09/11/2005
Boa noite minha insanidade
Não diga agora que a culpa é da dor que senti
Satisfaça só mais esta vontade
E me mostre que eu menti
Das tolices que julguei conhecer
Da arrogância que já pratiquei
Nas memórias que estuprei
Das sorrisos que nunca vou ver
Errei aonde todos erram e acertei aonde Deus permitiu
O meu outono ressecou demais a minha alma
Me deixou sem calma e quase me matou
Esse espinho tão afiado que encravado aqui está
Parece inflamar meu sofrimento destilado
Adeus insanidade, adeus...
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51. PRECISO
Daniel Paixão Fontes – 09/11/2005
Preciso de um pouco de atenção bem medida
Preciso de um tanto de alegria não reprimida
Preciso de muita energia para a vida
Preciso de uma folga bem comprida
Preciso de trabalho temperado com sentido
Preciso ter certeza do que não estou partindo
Preciso de mil sonhos para ver aonde eu chego
Preciso de coragem para assumir o que almejo
Preciso de mim mesmo para ser o que eu quero
Preciso de você para entender o que não espero
Preciso de amigos para ter com quem brindar
Preciso de um motivo para poder festejar
Preciso de amor para poder viver
Preciso de pessoas para conseguir entender
Preciso de problemas para poder perseverar
Preciso de vitórias para me encorajar
Preciso precisar para prestar ao que me presto
Preciso pensar para saber o que é certo
Preciso parar de me sentir tão indiscreto
Preciso me conhecer para não ser tão indigesto
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52. ABANDONO
Daniel Paixão Fontes – 07/11/2005
Assusto a quem me conhece
Afasto a quem se aproxima
Quem sou eu que não se merece?
Que sou eu... quem sou seu?
Já me perdi nas andanças dos meus olhos
Já me cansei de nada ser
Já insisti em não perseverar
Já me larguei sem me levantar
Adeus, adeus, adeus, adeus...
Nunca mais vai me torturar
Com essa boca que de tanto falar
Me matou de rancor e assim morreu
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53. RASGADO
Daniel Paixão Fontes – 13/12/2005
De um delírio nasce um pecado
E do pecado me vem essa dor
Da dor me vem a agonia
E da agonia me nasceu a solidão
Estou rasgado por dentro, como papel velho
Estou amassado e queimado dentro de mim
Estou arrasado por não ter o que preciso
Capacidade de ser quem eu não sou
Já não mais me interesso pelo que falo
Nunca quis dizer o que falei
Não vou mais mentir a mim mesmo
Com fábulas que nunca viverei
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54. CONFISSÃO
Daniel Paixão Fontes – 14/12/2005
Eu não quero estar aonde estou
E não quero falar sobre quem sou
Não quero mais ter que explicar essa ilusão
De afirmar que há remédio para o meu coração
Vá, deixa estar que eu vou melhorar
Não é preciso uma vez mais de preocupar
Não serei eu quem vai achar a verdadeira lucidez
Da utopia incerta que flerta com a morbidez
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55. POR QUE VOCÊ NÃO MORRE?
Daniel Paixão Fontes – 05/01/2006
Sério! Por que você não morre?
Mistério! Por que você não escolhe?
Fugir dessa dor de andar sem se mover
Destinar-se à essa insana vontade de sofrer
Abandonar a sua glória de por nada padecer
Abandone a tentativa de lutar
Desista dessa besteira de sonhar
Do que vale a luta se ninguém se importa
Ser um suicida que desiste e se enforca
Por que você não morre, calando o grito surdo da tua mente
Desintegrando sua alma, acorrentando-se solenemente
Aos grilhões pesados das besteiras que pensou
E foram desossadas por gente que já matou
Basta um suspiro de malícia para tudo destruir
Uma só palavra para tudo enfim ruir
Quero ver a hora do final em minhas mãos
A morte dos meus impulsos de criação
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56. PRA QUE
Daniel Paixão Fontes – 05/01/2006
Que falta de amor é esse que sinto
Em tão fraca e inata vertigem e delírio
Quem é o vulto distorcido que vejo pela janela
De braços abertos prontos para me esmagar?
Eu não quero mais pensar
Não quero mais lembrar do que me faz sofrer
Eu não quero mais matar
Meu coração que só vejo há se contorcer
Pra que me esforçar se sei que não vão gostar?
Pra que trabalhar se sei que vou morrer?
Pra que me preocupar se ninguém vai se importar?
Pra que tanto lutar se eu já sei que vou perder?
Eu já não sou quem costumava ser
EU nunca fui quem pensei que era
Nada quero, só adormecer
E nos sonhos acordar no meu entender
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57. POUCO
Daniel Paixão Fontes – 05/01/2006
Tão pouco tenho em mim mesmo para lhe oferecer
Só dor e um deserto imenso para em mim me recolher
Sem nada para explicar a voz que ecoa em minha mente
Um nada que me faz pensar e tentar ser diferente
Barulho e silêncio se misturam até se extinguir
Confuso e distante eu procuro me incluir
Mas pouco de mim mesmo existe para se ver
Tão pouco que nem consigo mais me aborrecer
Não quero mais ver os céus sem que as nuvens eu possa tocar
Não aguento mais eu mesmo sem me rejeitar
Odeio quem eu sou e disso não posso gostar
Das idéias que sinto e vou me livrar
Quero muito deixar de sentir este mal estar
O que pretendo é me abandonar
Me entregar à mediocridade em tudo o que sou
Aquele que eu eu era enfim se acabou
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58. O BAR
Daniel Paixão Fontes – 05/01/2006
Lá no alto do meus quase trinta
Houve em mim um tranco, uma trinca
Que me levou a encostar no balcão
Do bar da loucura e da ilusão
Ao garçom eu pedi um favor
Só uma dose do seu licor
E o que ele me deu de beber
Me levou enfim a entender
Que na verdade nada importou
E que dentro dentro de mim se entornou
Tudo de bom que eu podia ser
Todos os dias que eu devia ter
Um gosto amargo na boca ficou
O garçom então me pegou
E na rua me pôs a andar
Para onde... ninguém saberá
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59. PRISÃO DAS LETRAS
Daniel Paixão Fontes – 05/01/2006
Assim que o dia morrer eu irei para fora
Sairei dessas linhas e irei à desforra
Contra todos que me criaram
E ao nascer me encarceraram
Sou um eco, um grito, uma dor
Sou de todos o maior terror
Sou loucura, violência e fascínio
Sou o que trará o declínio
Sou a frustração da alma de alguém
Aprisionado nestas letras com desdém
Ninguém entende quem sou ou serei
E a sanidade que um dia eu violei
Sou desespero, olhos vidrados e mente alucinada
Sou um estado de cólera enjaulada
Quase pronto a romper as correntes dessa prisão
Ansioso para saber o que minhas capacidades farão
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60. NADA
Daniel Paixão Fontes – 05/01/2006
Não tenho nada em que me apoiar
Só tenho uma dor que não consigo suportar
Estranho medo de mim mesmo
Estou perdido em mim, rumando à esmo
Não tenho nada para me dedicar
Não tenho forças para continuar
Não tenho sonhos para me aplicar
E nem histórias para contar
Não há motivos para eu estar assim
Não existem flores para colher em meu jardim
Não tenho mais nada para ao mundo oferecer
Só minha tristeza que não quer desaparecer
Não tenho vontade de tentar mudar
Nem esperança de que alguém vá me salvar
Não há mais nada para enfim falar
Nem mesmo adeus quero eu grafar
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61. PERIÓDICO
Daniel Paixão Fontes – 05/01/2006
A fúria uma vez mais se amansou
Como um animal que se mancou
Mas eu não sei até quando vai durar
Esta onda de nada pra se preocupar
Eu que eu sei é que um dia ela acordará
E com seus estragos eu vou ter de arcar
Se vai durar eu não sei responder
Só sei que periodioco é o meu sofrer
Mas se o sofrer ocorre de tempos em tempos
O bem estar também me traz bons momentos
Tudo o que sofri, passou
Tudo o que gostei, acabou
Nada dura, bom ou ruim
Tudo volta do não ao sim
Todo este mundo está imenso na incerteza
E nisso reside essa bizarra e estranha beleza
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