5. 5
PREFÁCIO
onsistência intelectual e pureza invulgar são
atributos essenciais que brotam dessa contribuição
seminal do Ary sobre educação. A citação talmúdica que ele
próprio escolheu para encerrar o seu curriculum vitae – “A coisa
principal na vida não é o conhecimento, mas o uso que se faz
dele” – e a mensagem extraordinária da sua palestra, agora
transformada em livro, são provas dos seus valores e crenças.
Ao lê-lo somos naturalmente conduzidos a perceber
sua maestria em transmitir uma renovada compreensão da
tríade “Tecnologia, Conhecimento e Educação”. Seu refinado
conhecimento é transformado em instigantes questões que
nos proporcionam valiosas reflexões.
Utilizando metáforas a partir da mitologia grega e
baseado nas teses do historiador inglês David Landes, Ary
revela muita sabedoria na compreensão dos fenômenos
tecnológicos e sociais da sociedade moderna. Muito além da
C
6. 6
força transformadora das inovações tecnológicas, ele nos
alerta para a dimensão cultural do progresso. E seus reais
obstáculos. E também nos apresenta uma visão natural da
necessária sustentabilidade do desenvolvimento tecnológico.
Eu recomendo esta leitura para todos que acreditam que
o nosso destino transcende a uma corrida rumo à acumulação
de riqueza. Até porque me alinho entre os que crêem que
o verdadeiro empreendedor é um ser visceralmente generoso
e inovador.
Também concordo com ele de que precisamos unir
nossas competências empreendedoras, intelectuais e nossa
capacidade de gerar inovações em torno de um projeto de
desenvolvimento nacional.
Parafraseando Ary, nosso compromisso essencial deve
ser o de retirar Prometeu da liberdade condicional na qual
se encontra no Brasil.
Rodrigo Costa da Rocha Loures
Presidente da Federação das Indústrias do Paraná - FIEP
Vice-Presidente da Confederação Nacional da Indústria - CNI
7. 7
APRESENTAÇÃO
rofessor Guilherme Ary Plonski esteve em
Curitiba, a nosso convite, para proferir a palestra
magna sobre “Tecnologia, Conhecimento e Educação”, no
Seminário Internacional de Educação Profissional, que
aconteceu paralelo à programação da etapa estadual da
Olimpíada do Conhecimento, promovida pela Federação
das Indústrias do Paraná (FIEP), mediante o Serviço Nacional
de Aprendiagem Industrial (SENAI-PR), em novembro de 2005.
Esse evento reuniu especialistas da área de educação
e profissionais de recursos humanos do Brasil, Chile,
Paraguai e França e tinha o objetivo de promover um novo
posicionamento da educação profissional.
Durante sua palestra o Professor Plonski afirmou que
ainda há um conceito errôneo de que a inovação depende
apenas de máquinas. Segundo ele, inovação é um processo
que passa necessariamente pela educação profissional e
“neste aspecto o SENAI tem sido um exemplo, porque alia o
P
8. 8
desenvolvimento tecnológico ao desenvolvimento do
potencial humano”.
Considerado o maior evento de Educação Profissional
da América Latina, a Olimpíada do Conhecimento reúne
alunos dos cursos profissionalizantes do SENAI, visando à
escolha do melhor em cada uma as ocupações em que são
realizadas as provas. Nessa Olimpíada os alunos são avaliados
segundo critérios de conhecimento técnico e tecnológico, de
qualidades pessoais e de habilidades, requisitos essenciais para
a inserção e permanência do jovem no mercado de trabalho.
Todos os que assistiram à palestra foram brindados
com uma abordagem profunda, competente e criativa. Muito
adequada para contribuir para a nossa compreensão sobre
a complexidade e os caminhos da educação contemporânea.
Por isso, para nós do SENAI foi um privilégio contar com
uma reflexão tão apropriada para a ocasião.
Assim, decidimos editar a fala do Professor Plonski na
forma dessa singela publicação. Com esta iniciativa o SENAI
do Paraná espera compartilhar e perpetuar a preciosidade
daquele pronunciamento, além de promover a difusão dos
ensinamentos deste grande pensador e orador brasileiro.
Carlos Sérgio Asinelli
Diretor Regional do SENAI-PR
9. 9
“...Que grandes esperanças me dá esta sementeira! Que grande
exemplo me dá este semeador! Dá-me grandes esperanças a
sementeiraporque,aindaqueseperderamosprimeirostrabalhos,
lograr-se-ão os últimos. Dá-me grande exemplo o semeador,
porque, depois de perder a primeira, a segunda e a terceira parte
dotrigo,aproveitouaquartaeúltima,ecolheudelamuitofruto...”
AntonioVieira
Ary Plonski, Medalha do Conhecimento em 2006, é
um desses mestres de sabedoria que se destacam nas ações
de inovação tecnológica do País.
Sábio mestre que ensina sem elitizar públicos nas
nossas universidades e nos fóruns internacionais. A voz que
se faz ouvida nas reuniões da Organização das Nações Unidas
e nos encontros daqueles que querem fazer tecnologia para
o futuro. É a inteligência que brilhou no Instituto Tecnológico
de Pesquisa do Estado de São Paulo e que brilha na
Universidade de São Paulo e no Israel Institute of Technology
(Technion). A do homem persistente que sabe colher frutos
na adversidade. E do amigo sempre presente.
José Rincon Ferreira
Secretaria de Articulação Tecnológica - MDIC/STI
11. 11
TECNOLOGIA, CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
gradeço duplamente ao Sistema FIEP o honroso
convite. Em primeiro lugar por me trazer
novamente ao Paraná. Tenho por este Estado marcante
admiração profissional, pela sua capacidade de inovar e gerir.
E tenho com o Paraná, também, indelével ligação pessoal.
Pois meu saudoso pai foi um dos pioneiros de Icaraíma,
iniciando, há exatos 50 anos, uma plantação de café na então
fronteira agrícola – a “terra roxa” – do Norte do Estado.
Agradeço também pela oportunidade de participar dessa
maravilhosa iniciativa que é a Olimpíada do Conhecimento.
Por ela, o Senai compartilha com a comunidade a excelência
de sua engenharia pedagógica, qualificadora de futuros e
futuras profissionais da indústria brasileira, em particular a
localizada no Paraná.
A competição centrada na resolução de situações-
problemas exercita a atitude de pesquisa tecnológica e a
A
12. 12
capacidade inventiva de seus alunos e alunas. E gera um
saudável e construtivo clima de excitação coletiva, que
testemunhei na etapa estadual da Olimpíada em São Paulo,
concomitante ao Salão de Inovação Tecnológica – Brasiltec 2005.
Pela gentileza do Dr. Rodrigo Loures, simpatia do Prof.
Asinelli e amizade da Dra. Gina – três ícones do meu reduzido
panteão de personalidades que fazem a diferença no esforço
nacional pela inovação tecnológica – recebi a honrosa missão
de proferir a palestra de abertura deste Seminário Internacional
de Educação Profissional.
Li, com atenção, o apetitoso cardápio intelectual do
Seminário e resolvi tratar a missão a mim atribuída da forma
que os bons restaurantes tratam a entrada. Ela se destina
não a matar a fome, mas a aguçar o apetite para os excelentes
pratos que virão em seguida.
Ao preparar a entrada, procurei ‘sacar’ os gostos dos
clientes. A organização do Seminário definiu um público-
alvo bastante amplo – empresários, profissionais de RH,
professores e técnicos envolvidos em educação – que,
certamente, tem experiências e preferências bem diversas.
É meu desafio assegurar que mais clientes deste Seminário
se sintam confortáveis com a entrada e queiram degustar os
pratos principais e a sobremesa. Assim, optei por abordar a
13. 13
estimulante, mas complexa, tríade que me foi confiada –
tecnologia, conhecimento e educação – segundo uma
abordagem generalista e não especialista.
Uma das tendências da moderna cozinha é destacar os
sabores dos ingredientes básicos, ao invés de forçar os
condimentos. Assim, optei por dispensar a pirotecnia multimídia,
que sabemos fazer bem no IPT. Utilizarei a tradicional tecnologia
de comunicação praticada nos processos educacionais pelos
antigos gregos, instituidores das Olimpíadas que, acrescidas
do qualificativo ‘do Conhecimento’, inspiram e motivam
este Seminário.
Como sabemos, as Olimpíadas, ou Jogos Olímpicos,
receberam esse nome devido à sua realização em Olímpia,
antigo centro religioso, célebre por seu santuário de Zeus
Olímpico. Zeus, na mitologia grega, era a divindade suprema
do Olimpo, maciço montanhoso no qual os antigos gregos
localizavam a morada dos deuses. Ele fazia reinar sobre o
mundo três valores básicos da sociedade humana – a ordem,
a sabedoria e a justiça.
Mas Zeus, como outras divindades gregas, também
tinha fraquezas humanas, em especial a de ser dado a
aventuras amorosas. Entre os frutos de suas numerosas
relações com deusas e mortais estão Atena e Hermes.
14. 14
Integrantes do reduzido número de 12 divindades que, pela
sua importância, habitavam o Olimpo, ambos têm muito a
ver com o Senai e com a Olimpíada do Conhecimento que
ora se realiza.
Atena, também chamada Palas e pelos romanos
associada à Minerva, era a deusa das artes e dos ofícios e,
mais tarde, também da razão e da sabedoria. Aliás, foi por
isso escolhida como símbolo da minha alma mater, a Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo – a Poli.
Hermes, conhecido pelos romanos como Mercúrio,
revelara desde cedo extraordinária inteligência e esperteza.
Era o deus dos jovens e, também, do comércio e da invenção.
Entre os frutos de sua inventividade os antigos mencionavam
instrumentos musicais, como a flauta e a lira, assim como
um equipamento profissional, a balança, que por ele teria
sido criada para proteger compradores e vendedores.
A balança, como aprendemos, é um dos mais difundidos
artefatos do campo da Metrologia. Metrologia que é um dos
fundamentos do campo do conhecimento aplicado a que no
Brasil chamamos da Tecnologia Industrial Básica – a TIB.
E, por isso, integrante natural do processo de educação
profissional tão bem realizado pelo Senai, bem como do
15. 15
escopo de atuação dos institutos tecnológicos públicos
nacionais, como o IPT, que tenho o privilégio de liderar.
É reconfortante saber, nestes tempos bicudos, que
temos patronos bem posicionados no Olimpo – Palas Atena
e Hermes. Todavia, penso que uma entidade da mitologia
grega mais adequada para entendermos a relação
ambivalente da sociedade e, em particular do Governo, com
a tecnologia, o conhecimento e a educação é Prometeu.
Não se trata, evidentemente, de buscar ironias fáceis, do
tipo “reconhecendo o valor da Ciência e Tenologia o Governo
prometeu não contingenciar os recursos orçamentários a elas
destinados; mas criou a ‘reserva para contingência’, com o
mesmo efeito de esterilizar a verba comprometida”.
Peço-lhes, pois, o crédito de sua valiosa atenção,
acompanhando a exploração do antigo mito de Prometeu,
conhecido como amigo e benfeitor da humanidade, e a sua
utilização na História recente da civilização.
Comecemos observando que Prometeu não era um
deus do panteão olímpico, mas um mero semideus – mais
precisamente, um dos Titãs, divindades primitivas que
antecederam as olímpicas. Prometeu e seu irmão Epimeteu
receberam a tarefa de criar a humanidade e de prover os
16. 16
seres humanos e os animais com os atributos necessários
para a sua sobrevivência.
Epimeteu passou a cumprir essa tarefa, atribuindo aos
animais os dons da coragem, força e agilidade, assim como
penugem, pelagem e outras coberturas protetoras. Quando
chegou a hora de criar um ser que fosse superior a todas as
outras criaturas, Epimeteu (cujo nome significa ‘reflexão
posterior’) se deu conta que tinha sido imprudente com os
recursos de que dispunha e que nada mais tinha a atribuir.
Foi, então, forçado a pedir ajuda a seu irmão.
Prometeu (que quer dizer pensamento prévio, ou seja,
planejamento) assumiu a tarefa da criação. Para tornar os seres
humanos superiores aos animais, ele os modelou em forma
mais nobre (hoje diríamos que agregou valor pelo design) e
os permitiu andar eretos. Em seguida subiu aos céus e acendeu
uma tocha com o fogo do sol. A dádiva do fogo, que Prometeu
outorgou à humanidade, tinha valor maior do que qualquer
um dos dons que os animais haviam recebido.
Vocês certamente fizeram as associações pertinentes.
O fogo, símbolo por excelência de ‘agente de transformação’,
representa a educação como processo. A sua característica
de acender outros fogos sem diminuir o seu poder original –
pelo contrário, realimentando-se deles – denota o
17. 17
conhecimento, ativo intangível cujo valor econômico é, hoje,
igual ou superior ao dos bens tangíveis.
O fogo também sublinha de maneira notável a questão
ética na produção e utilização da tecnologia. Ela pode ser
usada para o bem-estar coletivo, por exemplo, provendo
calefação no inverno às pessoas necessitadas. Mas pode,
igualmente, ser utilizada como tecnologia industrial para o
genocídio, como fizeram os engenheiros e técnicos das
empresas que projetaram e construíram os eficientes
crematórios da Alemanha nazista.
A surpreendente continuação do mito de Prometeu
faz uma ligação explícita com o tema desta Olimpíada. Pois
lidar hoje com a produção e utilização de conhecimento
tecnológico em suas várias formas traz riscos, como sentiu
o nosso personagem.
Em decorrência de suas ações, Prometeu incorreu
na ira do arquideus, o já mencionado Zeus Olímpico. Não
apenas havia Prometeu furtado o fogo que deu aos humanos,
como também lhes ensinou várias artes úteis. (Qualquer
semelhança com questões de propriedade intelectual não é
mera coincidência),
Outra tensão surgiu na relação, quando Prometeu
previu a ruína de Zeus, mas se recusou a lhe contar o segredo
18. 18
de como ela ocorreria. E, para cúmulo, Prometeu ‘enrolou’
Zeus na oferenda que lhe propôs para apaziguar sua ira.
A coisa ocorreu assim: numa pilha, Prometeu colocou
as partes comestíveis de um grande boi e as escondeu,
cobrindo-as com as entranhas do animal. Numa outra pilha,
colocou os ossos, que cobriu com gordura. Solicitado a
escolher uma das opções, Zeus pegou a que estava coberta
com gordura, tendo ficado muito irado ao descobrir que ela
cobria uma pilha de ossos. Posteriormente, com base nesse
precedente, apenas gordura e ossos passaram a ser sacrificados
aos deuses, permanecendo a carne boa reservada aos
mortais. (Qualquer semelhança com a questão dos impostos,
taxas e tributos em nosso País é mera coincidência).
Pelas suas numerosas transgressões, Zeus o puniu
severamente. Prometeu foi atado a uma rocha no Cáucaso
e ficou exposto aos ataques de uma águia, que lhe devorava
continuamente o fígado. (Qualquer associação ao corte
sistemático dos investimentos em C&T no Brasil nas últimas
décadas é de responsabilidade de quem a fez).
A pena deveria durar 30 mil anos. Contudo, depois de
30 anos de sofrimento, Prometeu foi libertado por Hércules,
filho de Zeus, que matou a águia. O mito conclui com o
19. 19
convite para Prometeu retornar ao Olimpo, mas com o ônus
de carregar consigo a rocha à qual estivera atado.
Como introdutor do fogo e inventor do sacrifício, Prometeu
passou a ser considerado o patrono da civilização humana.
Dentre tantos mitos antigos, esse foi um dos que mais
se difundiu, graças à peça Prometeu Acorrentado de Ésquilo,
poeta fundador da tragédia grega.
Cerca de 24 séculos depois desse autor clássico, um
até então pouco conhecido professor de história da Harvard
University chamado David Landes escreve um livro sobre os
tempos modernos, a que sugestivamente denomina Prometeu
Desacorrentado. Seu ilustrativo subtítulo é Transformação
tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa
ocidental, desde 1750 até a nossa época.
Trata-se de obra soberba, que teve dezenas de
reimpressões em poucos anos, marco raro em obras do seu
porte e gênero.
Ela é concluída em 1968, ano em que a capital cultural
da Europa (Paris) ardia, pelas mãos de jovens europeus
ideologicamente motivados, liderados por Danny, o vermelho,
hoje deputado do Parlamento Europeu. A propósito, Paris
volta a arder, desta vez pelas mãos de jovens desempregados
e, principalmente, desesperançados.
20. 20
O ponto de partida de Landes é a Revolução Industrial
do século XVIII, que deu à competição internacional pela
riqueza um novo foco – a riqueza por intermédio da
industrialização – e a transformou numa corrida, que nunca
cessou e está cada vez mais acelerada. Houve um líder, a
Inglaterra, e os demais foram seguidores, cumprindo percursos
que, embora desiguais, transformaram com rapidez e
profundidade semelhantes a vida dos seres humanos, a
organização das sociedades e o relacionamento entre os povos.
A partir daí, e até hoje, a mudança gera mudança, e os
avanços em uma área exigem avanços em áreas correlatas,
numa sucessão auto-sustentada de inovações, sem paralelo
na História.
Em nenhum lugar essa nova corrida pela riqueza e o
poder foi tão longa e complexa como na Europa. A trajetória
desse continente reúne praticamente todas as variáveis
relevantes para o estudo do tema: países grandes e pequenos,
ricos e pobres, todas as formas de governo, um amplo
mosaico de tradições e organizações culturais, além de
uma grande variedade de experiências políticas. Permite,
igualmente, o contraste fundamental, e tão importante para
nós, entre a mudança autogerada – na Inglaterra – e a
resposta imitativa. Numa mesma nota, veja-se a obra do
21. 21
precocemente falecido Professor Linsu Kim sobre a trajetória
de modernização da Coréia do Sul, denominada Da imitação
à inovação (recentemente disponibilizada em português).
Debruçando-se sobre tudo isso, David Landes estuda
as fontes da geração contínua de progresso técnico e do
desenvolvimento industrial, os estímulos e os obstáculos, as
implicações da precedência e do atraso, o efeito dos valores
e instituições não econômicas, bem como a competição entre
as nações e dentro delas.
“Não há”, conclui o autor, “relações compulsórias e
rígidas entre uma economia industrializada moderna e a
totalidade do ambiente social, complexo e multifacetado, em
que se insere. Há, em vez disso, uma vasta gama de elos
diretos e indiretos (...)”, sendo que “cada sociedade desenvolve
uma combinação própria de elementos adequados a suas
tradições, suas possibilidades e sua situação”.
A referência de Landes ao desacorrentamento de
Prometeu aponta para a dimensão cultural do progresso.
No caso, para a necessidade de superação do terrível pavor
dos antigos, que se mantinha pela religião dominante na
Europa, de que os seres humanos seriam punidos por imitar
os deuses, como ocorreu com o nosso personagem na
montanha do Cáucaso.
22. 22
Em outras palavras, a sociedade européia teve de
desenvolver a capacidade de mudar o paradigma então
vigente, segundo o qual a inovação tecnológica, capaz de
ampliar a capacidade natural dos seres humanos pelo uso
do conhecimento, constituiria uma afronta à ordem divina.
Pois, como era o pensamento comum daquela época, “se
Deus pretendesse que o homem voasse, ter-lhe-ia dado asas”.
Landes continua a explorar o mecanismo do progresso
industrial com outra fascinante obra, intitulada Revolução
no tempo: relógios e a constituição do mundo moderno.
Nela trata do significado do tempo e de suas frações para
sensibilizar a civilização ocidental para a precisão, em termos
cronológicos e tecnológicos.
De fato, o relógio mecânico tornou a atividade
econômica muito mais fácil, permitindo, pela primeira
vez, que as pessoas se encontrassem num horário marcado,
fora do controle das autoridades. Possibilitou, também, que
a produtividade fosse medida com muito mais rigor.
A mais recente obra desse premiado autor avança no
seu tema básico, a compreensão das fontes do desenvolvimento
tecnológico. Desta vez coloca a mudança tecnológica sob as
lentes da diversidade econômica e cultural. Inspirando-se
no título da obra clássica de Adam Smith A riqueza das
23. 23
nações, considerada a gênese da moderna economia, o
professor Landes chama seu livro A riqueza e a pobreza das
nações: por que algumas são tão ricas e outras tão pobres.
O autor esteve no Brasil para o lançamento da tradução, se
bem me recordo fazendo uma palestra na Confederação
Nacional da Indústria (CNI) e, também, uma apresentação
aqui em Curitiba.
Sua história trata, entre outros, das várias maneiras
pelas quais a iniciativa e o avanço econômico foram tolhidos
pelo autoritarismo sob todas as suas facetas perversas –
política, militar, religiosa e intelectual.
Por que, por exemplo, a China, que inventou a imprensa,
a pólvora, os primeiros relógios, a bússola, a porcelana, as
máquinas de fiar e até o alto-forno, não conseguiu produzir
uma revolução científica e industrial como a que se instalou
mais tarde na Europa?
Pode ter havido muitos motivos, mas Landes destaca
que o progresso simplesmente ia contra os interesses da
classe dominante. Manter as coisas inalteradas e estáveis era
muito mais importante do que aumentar a produtividade
dos trabalhadores. Qualquer segmento que começasse a
enriquecer, ou a comerciar com o mundo externo, poderia
formar um grupo de poder concorrente – como aconteceu
24. 24
na Europa, como a ascensão da classe de mercadores, bem
mais tarde.
A análise de Landes é particularmente interessante, ao
analisar as raízes da nação que hoje surpreende e assusta a
indústria ocidental – a européia, a norte-americana e a nacional.
O autor enfatiza várias invenções aparentemente
banais que, tornadas inovações, deram início ao processo
de industrialização muito antes do que a maioria das pessoas
se dá conta. O desenvolvimento da lente óptica, por volta
de 1300, por exemplo, dobrou a vida produtiva de vários
trabalhadores qualificados e abriu caminho para formas de
criação e instrumentação que antes não tinham sido possíveis.
O autor segue o tema até a história mais recente,
incluindo a perda da hegemonia industrial do Reino Unido
na própria Europa. Contrasta a ascensão das colônias da
América do Norte e a relativa estagnação da América do Sul,
examinando a contribuição das crenças básicas e da
organização social vigentes em cada uma.
E como estamos nós hoje no campo da tecnologia,
conhecimento e educação (profissional)? A coincidência da
abertura deste Seminário com o início da III Conferência
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que ocorre neste
25. 25
momento em Brasília, com a presença do Presidente da
República, nos dá o mote adequado.
Cabe observar, de início, que a Conferência é convocada
pela Academia Brasileira de Ciências e pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia. Mas a estrela da Conferência será o
terceiro componente do seu nome, a inovação, que não
integra o nome dos seus idealizadores – ABC e MCT.
A inovação se tornou um dos mantras das sociedades
contemporâneas, crescentemente invocado como instrumento
capaz de, como o fogo de Prometeu, promover a prosperidade
de empresas, regiões e nações. De fato a busca de políticas
eficientes de estímulo à inovação tornara-se, a partir dos anos
1990, um dos eixos estruturantes de atuação da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
que abrange 30 países comprometidos com a democracia
pluralista e a economia de mercado.
O mantra da inovação passou a ser recitado
coletivamente também no Brasil, neste limiar do século XXI,
como evidencia a ocorrência de quatro megaeventos
relevantes dedicados ao tema no curto período de um mês,
realizados pelos agentes clássicos dos sistemas de inovação:
o setor empresarial, as instituições científico-tecnológicas e
o governo.
26. 26
Os quatro eventos, que ocorrem de fins de outubro a
fins de novembro de 2005, são, em ordem cronológica, os
seguintes: a) XI Seminário de Gestão Tecnológica – Altec 2005,
organizado pela comunidade acadêmica, com o subtítulo
“Inovação Tecnológica, Cooperação e Desenvolvimento; b) o
Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria, organizado pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI), sob a liderança
inspiradora do Dr. Loures e o suporte competente da Dra. Gina;
c) a mencionada III Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia
e Inovação; e d) a Plenária do Fórum de Líderes Empresariais,
concluindo o tema central 2004-2005 “Pesquisa, Desenvolvimento
e Inovação Tecnológica nas Empresas Brasileiras”.
O interesse pela inovação tecnológica parece ter
contaminado a equipe econômica, geralmente percebida
como ausente nessa área. O ministro da Fazenda e seu então
assessor especial publicaram num dos mais influentes jornais,
em 4 de janeiro de 2004, artigo com o título sugestivo “Da
política industrial e tecnológica (ou da política tecnológica e
industrial).” Ele mereceu, poucos dias depois, um editorial
desse diário intitulado “A hora da inovação, segundo Palocci”.
Será esta, então, não apenas a hora, mas a hora e a
vez da inovação no Brasil? Será a recitação cada vez mais
intensa desse mantra capaz de provocar a prosperidade
27. 27
que o país julga merecer e que os estudos do Professor
Landes mostram ser possível somente se algumas condições
forem atendidas?
Algumas partes interessadas proclamam a crença da
geração inexorável dessa fortuna se os dispêndios em ciência
e tecnologia forem substancialmente aumentados. Isso está
alinhado à crença de que, se um mantra é pronunciado
corretamente, a divindade à qual ele é dirigido não pode
deixar de responder automaticamente ao pedido de auxílio.
A questão é se o mantra da inovação é recitado
segundo as prescrições corretas pela sociedade. Assim:
• A continuidade das boas iniciativas é assegurada pelo
tempo necessário para a sua maturação, ou prevalece o desejo
quase obsessivo de sempre investir em novas medidas?
• O ritmo de aporte de recursos financeiros, públicos
e privados, é o combinado ou prevalece a oscilação errática?
• O pensamento e a ação dos agentes do sistema de
inovação são guiados pelo resultado estratégico para a
sociedade, estabelecendo políticas concertadas, ou são
movidos por interesses paroquiais, que requererão conserto
posterior? Pois, da mesma forma que no mantra original, a
verdadeira cultura pró-inovação não pode ser forçada, mas
28. 28
depende de uma decisão voluntária dos agentes de promover
as mudanças de atitude imprescindíveis.
• As experiências disponíveis, aqui e alhures, são
estudadas e as lições aprendidas orientam ações competentes
no planejamento e precisas na implementação, ou prevalece
o tratamento voluntarioso do desafio da inovação?
O exame da história recente do Brasil indica haver
uma aderência entre o seguimento das melhores práticas e
os bons resultados do processo de inovação. E, igualmente,
baixa efetividade dos investimentos feitos proclamando o
mantra da inovação, mas sem seguir os ditames pertinentes.
Chego à parte conclusiva desta exposição. Há quatro
desafios que, a meu ver, são básicos para que tecnologia,
conhecimento e educação possam convergir num processo
de inovação sustentada que, como o fogo de Prometeu, seja
o dom que permita à nossa sociedade resolver os seus
problemas econômicos e sociais e prosperar. Em outras
palavras, para que tenhamos uma política de desenvolvimento
pela inovação tecnológica e não apenas uma política para
inovação tecnológica.
O primeiro desafio é cuidar que haja uma adequada
compreensão do fenômeno da inovação pelos diversos atores
sociais envolvidos. Pois um dos pioneiros e, até hoje, dos
29. 29
mais importantes estudiosos da inovação, Chris Freeman,
da University of Sussex (Reino Unido) alertava, já há mais de
duas décadas, que “um dos problemas em gerir a inovação é
a variedade de entendimentos que as pessoas têm desse
termo, freqüentemente confundindo-o com invenção. (...)
Inovação é o processo de tornar oportunidades em novas
idéias e colocar estas em prática de uso extensivo”.
Três equívocos conceituais freqüentes no entendimento
da inovação tecnológica costumam comprometer sua
efetividade: reducionismo (considerar como inovação
apenas a de base tecnológica), encantamento (considerar
como inovação tecnológica apenas a espetacular) e
descaracterização (relaxar o requisito de mudança tecnológica
dessa inovação).
O segundo desafio é tratar a inovação tecnológica
como processo. O foco deixa de recair sobre as façanhas
técnicas e seus efeitos, passando a privilegiar as atitudes, os
comportamentos e as práticas que ensejam à empresa,
organização, região, segmento da sociedade ou nação uma
capacidade dinâmica de mudança, que melhora a condição
de responder criativamente a desafios e de alcançar os seus
objetivos estratégicos.
30. 30
O terceiro e penúltimo desafio é reconhecer todos
os componentes do processo de inovação tecnológica. São
componentes relevantes da inovação tecnológica, sem a
eles se limitar, o empreendedorismo inovador, o marketing
(entendido em seu sentido lato), a pesquisa científica e
tecnológica, a invenção, o desenvolvimento tecnológico, a
engenharia não-rotineira, a tecnologia industrial básica, o
design (por vezes incluído na TIB), o financiamento (incluindo
o capital empreendedor), os mecanismos de estímulo (fiscais,
financeiros e outros), a extensão tecnológica, a informação
tecnológica, a educação profissional (inclusive a educação
profissional continuada), a comunicação social, a gestão
do conhecimento e o gerenciamento de programas e
projetos complexos.
Na prática nacional, alguns componentes são
desconsiderados – como a engenharia, que nem é mencionada
na recente Lei da Inovação – e outros são encorpados. Há
componentes que são tomados pelo todo, como a pesquisa,
e é muito baixo o grau de integração no seu tratamento.
Finalmente, o quarto desafio é dotar o País de suporte
adequado à inovação tecnológica. Para isso é preciso, como
Prometeu, planejar, estabelecendo uma estratégia científico-
tecnológica acordada entre os principais agentes do sistema
31. 31
de inovação. O Brasil chegou perto de iniciar um processo
participativo estruturado e estruturante, capaz de estabelecer
prioridades nacionais ancoradas numa visão prospectiva
fundamentada, que havia sido demandada pelo Conselho
Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) ainda em 1996. O tema
consta da agenda do atual CCT, mas ainda não há sinal
concreto de sua realização.
A construção de um conjunto consistente de objetivos
fundamentados e compartilhados, que responda à questão de
‘qual é o projeto do País e como a inovação tecnológica pode
ajudar a viabilizá-lo’, é essencial para uma autocoordenação efetiva.
No plano tático, é essencial superar o tradicional caráter
espasmódico e fragmentado dos mecanismos. Geralmente
efêmeros, têm sua subsistência afetada mais por mudanças
na direção dos órgãos e entidades que o criaram do que em
decorrência de avaliação isenta. A inexistência, no Brasil, do
eixo estruturante do desenvolvimento tecnológico voltado
para a inovação, primeiro fator apontado, torna esses
mecanismos mais vulneráveis a contingenciamento e outras
restrições por parte das autoridades responsáveis pelo
orçamento e pelo tesouro.
Outro cuidado é apoiar de forma balanceada todos
os componentes do processo de inovação tecnológica,
32. 32
corrigindo distorções renitentes. Nesse sentido, um dos
fatores chave de sucesso na inovação tecnológica sistemática,
que é compreendê-la e tratá-la como jogo de equipe. Cada
um dos agentes – empresas, institutos tecnológicos,
instituições de ensino (profissional e superior), agências de
fomento, entidades de capital empreendedor, organismos
formuladores de políticas públicas (executivo e legislativo),
hábitats de inovação (incubadoras e parques tecnológicos),
associações profissionais e setoriais, entidades de trabalhadores,
organizações não-governamentais, órgãos de imprensa,
agências reguladoras e outros – tem papel a cumprir.
Voltando ao mito que inspirou esta exposição, penso
que a melhor representação no Brasil de hoje é o de Prometeu
em liberdade condicional. Nossa sociedade possui instituições
competentes, como é o caso do Senai na educação profissional.
O empreendedorismo inovador, em especial o movimento
das incubadoras de empresas, é referência mundial. E temos
experiências inspiradoras do alcance de resultados excelentes
pela inovação tecnológica mediante esforço cooperativo
sustentado de longo prazo, tal como a praticamente alcançada
auto-suficiência em petróleo. Isso nos induz a pensar, usando a
metáfora do Professor Landes, que conseguimos desacorrentar
Prometeu, ainda que algo tardiamente.
33. 33
Mas, como vimos, há diversas desafios essenciais
a superar para que a inovação tecnológica dê frutos de extensão
e expressão tais que se incorpore na agenda da sociedade
brasileira, como ocorreu com o tema da qualidade na década
de 1990. Se tivermos êxito, a liberdade condicional será
transformada em permanente e, quiçá, seremos convidados
a entrar no Olimpo, ainda que carregando a rocha à qual
estivemos atados por tantos anos.
Muito obrigado pela atenção!
34.
35. GUILHERME ARY PLONSKI
Vive-se perfeitamente bem entre dois mundos;
de fato, tal situação é uma fonte de enriquecimento.
Anatol Rosenfeld (Alemanha 1912 – São Paulo 1973)
A citação, extraída da magnífica introdução ao livro Entre Dois
Mundos (Editora Perspectiva, 1967), elucida a minha trajetória pessoal,
formativa e profissional.
NascinoNovoMundo,em1948,trêsanosapósofinaldaIIGrande
Guerra. Mas meu berço espiritual estava fincado no Velho Mundo, na rica
cultura judaica da Europa Central, de onde meus pais tiveram que fugir
um pouco antes do genocídio perpetrado pelos nazistas alemães e seus
parceiros.Conheceram-seemSãoPaulo–ambientepropícioàvidaentre
doismundos,pelapopulaçãodiversa,economiaempreendedoraecultura
cosmopolita – cidade em que nasci e cresci.
O processo de minha formação se deu entre dois mundos. O da
educaçãoformaltranscorreunaEscolaBritânicadeSãoPauloenoColégio
RioBranco.Odaeducaçãoinformal,dejovenssendoeducadosporoutros
jovens, ocorreu no Departamento Juvenil da Congregação Israelita
Paulista. O mundo da educação informal me propiciou aprendizados de
valor inestimável, entre eles a efetividade e o prazer de atuar em redes
cooperativas. E me permitiu, ainda adolescente, vivenciar um ano em
MEMORIAL
36. 36
Israel, combinando estudos e trabalho, num programa internacional
organizado pelo Instituto de Formação de Educadores para a Diáspora.
Inspirado no meu irmão, formei-me em engenharia química na
Escola Politécnica (POLI) da Universidade de São Paulo (USP), em 1971.
Aprendi ali o conceito de projeto que, na inspirada descrição de Mitchell
D. Kapor – inovador criativo e sensível, fundador da Lotus Corporation,
pioneira da informática aplicada às organizações – “é quando você está
com um pé em dois mundos, o mundo da tecnologia e o mundo das
pessoas e dos propósitos humanos, e você tenta articular os dois”.
Graduei-me,nomesmoano,emMatemáticapelaUSP. Arealização
paralela dos cursos de engenharia e matemática permitiu-me vivenciar
doismundosdofascinanteuniversodoconhecimentohumanocodificado.
Ambos são fundamentados no rigor intelectual e seus produtos são
passíveisdeaplicaçãonoassimchamadomundoreal,mascadaumdeles
tem um etos próprio.
Declinei da oportunidade de ser contratado pela USP, em tempo
integral, logo após a formatura. Preferi vivenciar o mundo empresarial e,
também,aprofundaraformaçãoacadêmica,antesdeexerceraatividade
docente. Assim, desenvolvi a pós-graduação completa em engenharia
deproduçãonaEscolaPolitécnicadaUSP. Emparalelo,atueinasdécadas
de1970e1980emdestacadasempresasdeengenhariaconsultiva–Montor
S/A Organização e Sistemas, do Grupo Montreal Engenharia (mais tarde
InternacionaldeEngenharia)eCNEC–ConsórcioNacionaldeEngenheiros
ConsultoresS/A,doGrupoCamargoCorrêaeemconsultoriaempresarial,
tornando-me co-fundador da IDEA – Desenvolvimento Empresarial.
A pertinência aos dois mundos inspirou a dissertação de mestrado
(sobre projetos industriais) e a tese de doutorado (sobre automação na
engenharia), questões presentes na agenda estratégica da engenharia
37. 37
consultiva nacional nas épocas respectivas. A devolutiva dos resultados
da tese beneficiou não apenas o setor de engenharia consultiva como
também empresas, em particular as intensivas em empreendimentos de
infra-estrutura, tais como a Companhia do Metropolitano de São Paulo
(Metrô) e a Eletropaulo Eletricidade de São Paulo (hoje AES Eletropaulo).
A vocação para a atividade universitária levou-me a ingressar
como docente no Departamento de Engenharia de Produção da Escola
PolitécnicadaUSP,emqueestavarealizandoapós-graduação.Aconclusão
bem sucedida do mestrado levou, por um lado, à recontratação pela
POLI. Por outro, acarretou uma aproximação com o grupo de pesquisa
em administração de ciência e tecnologia (C&T) do Departamento de
AdministraçãodaFaculdadedeEconomia,AdministraçãoeContabilidade
(FEA) da USP. Esse acercamento havia começado durante o próprio
julgamento da dissertação, cuja banca examinadora era integrada pelo
Professor Doutor Jacques Marcovitch, um dos líderes daquele grupo.
Em decorrência, ingressei em 1980 no corpo docente da FEA,
naáreadeAdministraçãoGeral,queabrigaosdocentesdoreferidogrupo
de pesquisa. Desde então passei a manter vínculos com a
POLI e a FEA, configurando o double appointment, crescentemente
valorizadonoambienteuniversitáriomundial,cônsciodaimportânciada
interdisciplinaridade.
Por dois anos também fui docente da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar), estabelecendo a disciplina de Projeto de
Empreendimentos Industriais no então novo Departamento de
Engenharia de Produção.
A vivência simultânea no mundo empresarial e no mundo
universitário ao longo de uma década abriu-me os olhos e a mente para
o expressivo potencial de sinergia entre eles. A realização desse
38. 38
potencial, a meujuízo,estavabastanteaquémdopossíveledonecessário
para acelerar o desenvolvimento sócio-econômico do País.
O desafio fascinante de compreender e gerir as relações entre
esses dois mundos, valorizando os entes e as pessoas que se relacionam e
beneficiando a sociedade em que se situam e atuam, tornou-se foco de
interesse crescente e, mais adiante, passou a ser ofício.
Odesejodelidarcomessaquestãofoiacentuadoporumconstruto
essencial, aprendido na formação universitária e aplicado durante a
atividade de consultoria. É o de sistema aberto, que enfatiza a interação
entre um sistema e seu ambiente – ou seja, o complexo de relações entre
um mundo e outros mundos do seu entorno relevante.
A busca de absorver rapidamente os melhores conhecimentos
existentes–tantonaliteraturacomoboaspráticas,levouaonaturaldesejo
de realizar um estágio no país que se demonstrava líder nesse campo, os
Estados Unidos. Assim, fui visiting research scholar, em 1990, no Center
for Science and Technology Policy do Rensselaer Polytechnic Institute
(RPI), uma instituição de excelência. A permanência foi viabilizada por
bolsas da Comissão Fulbright e do Projeto de Capacitação USP – Banco
Inter-americano de Desenvolvimento (BID).
Esse período foi muito frutífero, permitindo vivenciar o ambiente
da C&T dos EUA e estabelecer relacionamentos duradouros com a
comunidade internacional no campo da política e da gestão de C&T.
Menciono, em especial, o Professor Doutor Herbert I. Fusfeld, criador do
Centro. Ele mesmo habitava entre dois mundos, tendo sido executivo de
pesquisa e desenvolvimento de grandes empresas e, pelo êxito ali
demonstrado, eleito pelos seus pares para presidir o prestigioso Industrial
Research Institute (IRI).
Ao retornar ao Brasil havia definido uma nova linha de pesquisa e
atuação – a promoção da cooperação entre o mundo empresarial e o
39. 39
mundo universitário. Concluí que o melhor lócus para produzir e aplicar
conhecimentos nesse campo é a universidade. Destarte, passei a integrar
na USP as trajetórias acadêmica e profissional que, nos períodos
anteriores, caminharam separadas, ainda que ligadas.
Oentornoinspiradorescolhidoparaessasíntesedosdoismundos,
em permanente combinação e recombinação, foi o Núcleo de Política e
Gestão Tecnológica da USP (PGT). Formalmente instituído como um
dos núcleos de apoio à pesquisa da Universidade, tem como pilares
originais os dois departamentos aos quais eu estava vinculado e, ainda,
o Departamento de Economia da FEA. Sua estrutura leve não impediu
o PGT de alçar vôos elevados, que lhe propiciaram o reconhecimento
como ‘centro de excelência’ pelas autoridades federais do campo da
C&T e o respeito internacional.
A nova trajetória foi alavancada por três oportunidades ímpares,
surgidas proximamente.
A primeira oportunidade foi a criação da Rede Ibero-americana
de Gestão da Cooperação Empresa – Universidade, da qual me tornei
coordenadorinternacionalapartirde1993,peloProgramaIbero-americano
deCiênciaeTecnologiaparaoDesenvolvimento(conhecidopelasiglaem
espanhol CYTED). Entre os conhecimentos ali produzidos está um estudo
aprofundado, em dois volumes, dos modelos, mecanismos e práticas de
cooperação empresa – universidade em treze países da região.
Esses trabalhos levaram à constatação de que, superada a
dimensão ideológica, o principal avanço necessário era de natureza
gerencial. Ante a inexistência de espaços para desenvolvimento
profissionalcomesseintuito,lidereiacriaçãodeuminéditoProgramade
Capacitação para Gestores da Cooperação Empresa - Universidade /
Institutos de Pesquisa (PROTEU). Realizado em sucessivas edições, em
40. 40
São Paulo e em outras cidades da Ibero-América, ele capacitou cerca de
três centenas de gestores e estimulou a cooperação na região. Foi vital o
apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que já era parceira
do tradicional Programa de Treinamento em Administração da Pesquisa
(PROTAP), desenvolvido na FEA.
Nas já então mais de duas décadas de atividades profissionais
havia participado, na equipe ou como coordenador, de numerosos
projetos de cooperação empresa – universidade, quer naquela como
nesta ponta. A oportunidade de ser o responsável pelo tema numa
instituição de excelência sobreveio em 1994, quando assumi o cargo de
coordenador da Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária
e de Atividades Especiais (CECAE) da USP. Era este um órgão da Reitoria
com a missão de dinamizar a interface entre a universidade e o seu
entornosocialeeconômico,potencializandoacontribuiçãoinstitucional
da USP à sociedade.
A abrangência da Universidade, sistema aberto por natureza,
ensejou-menãosomentecuidardainteraçãocomomundoempresarial,
como também aprender a cooperar com os responsáveis por políticas
públicas e com o então menos organizado mundo das organizações
não-governamentais.
Entender profundamente o significado piagetiano do termo
cooperaçãoecompreendera‘multiversidade’dainstituiçãouniversitária
foram aprendizados marcantes dos mais de sete anos em que servi a USP
nessa posição.
A coordenação da CECAE requereu e sua inserção institucional
facilitou um relacionamento interativo com a multifacetada instituição
universitária, com a liderança da comunidade empresarial, com diversos
âmbitosdaadministraçãopúblicaecomoterceirosetor.Constituiu,assim,
41. 41
um observatório ‘grande angular’ privilegiado e, ao mesmo tempo et
pour cause, um espaço que facilitou a realização de projetos inovadores
de cooperação universidade – empresa, universidade – comunidade e
universidade – escola.
No campo específico da promoção da cooperação com o
meio empresarial cabe mencionar, como ilustração, duas iniciativas
emblemáticas da CECAE. A primeira é a valorização da relação da
Universidade com as pequenas empresas, desiderato institucionalizado e
concretizadoapartirdaconsolidaçãodopioneiroDisqueTecnologiaUSP.
Seu êxito tornou essa iniciativa o embrião de uma rede nacional de
atendimentoàsmicroepequenasempresas,quelevouaorecenteSistema
Brasileiro de Respostas Técnicas. Do lado interno, esse excitante espaço
de interação e construção de conhecimento cativou, além de docentes,
também estudantes, germinando uma dúzia de empresas-juniores.
Outra realização que me trouxe muita satisfação foi a criação do
CentroIncubadordeEmpresasTecnológicas–CIETEC,emconjuntocom
a direção do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN
e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT e a parceria do Serviço de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo – SEBRAE/SP e da
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento
Econômico – SCTDE. Esse empreendimento, cujo Conselho Deliberativo
integrei, desenvolveu-se de forma notável, contando hoje com mais de
cem empresas instaladas e mais de vinte graduadas, com expressivo
retorno econômico e social. Os mundos universitário e empresarial não
apenas se aproximaram um do outro, como estabeleceram novas e
estimulantes interseções.
Essas e outras iniciativas prosperaram durante o período 1994-
2001, em que me foi atribuída a responsabilidade pela CECAE, graças ao
42. 42
estímulo e à confiança depositada pelos magníficos reitores professores
doutores Flávio Fava de Moraes e Jacques Marcovitch.
Um espaço singularmente apropriado para dinamizar a
cooperação entre a universidade e seu entorno é o das fundações de
apoio. Envolvi-me intensamente em três das fundações conveniadas
com a USP.
Na Fundação Carlos Alberto Vanzolini, a mais antiga delas, que
apóia o Departamento de Engenharia de Produção da POLI, fui docente
em cursos de especialização e coordenador de projetos de cooperação.
Sou membro do Conselho Curador (que presidi) e Diretor da Área de
Tecnologias Aplicadas à Educação. Esta responsável pela gestão de
projetos de grande porte, fortemente inovadores, voltados à capacitação
dos professores e professoras da rede pública, dos quais é representativa
a Rede do Saber.
NaFundaçãoInstitutodeAdministração,queapóiaoDepartamento
de Administração da FEA, tenho atuado como coordenador de projetos.
Merece destaque uma frutífera parceria consolidada com o Metrô, por
meio de sua Universidade Corporativa (UNIMETRO), no campo da
capacitação avançada voltada à excelência em gestão.
Na Fundação de Apoio à USP coordenei um número grande de
projetos e fui membro do seu Conselho Curador.
Pude articular os mundos da teoria e da prática pela integração da
visão conceitual sobre política e gestão de instituições de C&T adquirida
no PGT com a experiência prática advinda da atuação na CECAE e nas
fundações de apoio no gerenciamento de múltiplas interfaces com
diferentes agentes econômicos, sociais e governamentais.
Essasíntese,somadaàanteriorvivênciacomoexecutivoeconsultor
no setor privado, foram essenciais para lidar com os expressivos desafios
43. 43
decorrentes de uma nova missão, apaixonante e profissionalmente
engrandecedora. O novo estágio profissional iniciou-se em meados de
2001, com a assunção do cargo de Diretor Superintendente do Instituto
de Pesquisas Tecnológicas, por nomeação do Governador do Estado.
A questão central passou a ser a de renovar estratégica, tática e
operacionalmenteumainstituiçãocentenária,comumafolhaexcepcional
de contribuições ao País, preparando-a para recuperar sua relevância à
competitividade das empresas e às políticas públicas nacionais.
A conquista do Prêmio FINEP 2002 de Inovação Tecnológica das
mãos do Presidente da República, no primeiro ano em que foi concedido
a instituições de pesquisa, marcou o início de um novo estágio de
visibilidade do IPT na sociedade e no Estado. Ao lastro de uma história
seculardeprojetosinovadores,cujosresultadosforamincorporadospelos
setores produtores e pelas políticas públicas, somou-se a simulação de
uma TV digital interativa (em parceria com a Cidade do Conhecimento
da USP). Tradição e inovação, combinados, passaram a apontar para um
Instituto pronto a ingressar rejuvenescido na nova era da comunicação
digital no País.
InstigueioIPTaseposicionaremnovostemas-chavedaeconomia
do conhecimento, tais como tecnologias aplicadas à segurança pública,
nanotecnologias e e-gov, preparando massa crítica para mercados que
serão dominantes no futuro. No contexto do apoio à inovação nas
empresas, reforcei a participação do IPT no CIETEC, que já se tornara a
maior incubadora da América Latina, assim como a sua presença em três
dos cinco parques tecnológicos paulistas.
LeveioInstitutoaparticipardosprincipaisforosvoltadosàcriação
de um ambiente mais propício à inovação tecnológica no País, incluindo
a formulação da Lei de Inovação federal e do projeto de lei homóloga
44. 44
para o Estado de São Paulo. Diversas iniciativas pioneiras tiveram uma
boaacolhidaporpartedelegisladoresedeexecutivospúblicoseprivados,
que se sensibilizaram pela sua relevância e oportunidade. Destaco o
Observatório de Tecnologia e Inovação, o Espaço Tecnologia na
Assembléia Legislativa e o Centro São Paulo Design, este em parceria
com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), SEBRAE/
SP e SCTDE.
Internamente, priorizei a valorização do corpo profissional,
renovando-o pela admissão de dezenas de novos pesquisadores, graças
ao primeiro concurso em uma década, bem como pelo programa Novos
Talentos, oferecido a estudantes. Orientei a Casa a recusar o estilo
autoritário que muitas vezes caracteriza as grandes burocracias, para
colocar em evidência os valores de cada indivíduo na construção
de consensos.
Arenovaçãodagestão,seconfirmouabuscadamelhoriacontínua
que sempre foi a característica marcante do Instituto, contribuiu também
para iniciar uma importante inflexão estratégica na sua trajetória. A
agilização das ações foi conseguida, entre outros, por convênio de
cooperação com a Fundação de Apoio ao IPT – FIPT, instituída em 2003
por iniciativa dos pesquisadores do Instituto que muito apoiei e cujo
primeiro Conselho Curador tive o privilégio de presidir.
Mediante importante renovação gerencial, iniciada em 2004 para
adaptar o Instituto ao seu ambiente de atuação, meus colegas de direção
e eu conseguimos superar a configuração tradicional do IPT em campos
do conhecimento, representados por divisões técnicas, em favor de um
modelo de centros tecnológicos cuja prioridade é o foco nas áreas de
atuação externa. Já adequando o Instituto ao novo marco legal da
inovação no País e no Estado, criamos a Agência IPT de Inovação.
45. 45
Esse conjunto de movimentos combinados de valorização da
tradição e abertura para a inovação permitiu que o compromisso de
gestão com o Governo do Estado tenha sido não apenas integralmente
cumprido como superado no que diz respeito às receitas próprias, que
representam mais da metade do orçamento. Foi atingido resultado
econômico líquido positivo em 2005, ano de formidáveis ajustes na
instituição (apenas uma vez isso havia ocorrido desde que se tornou
empresa, há 30 anos). O equilíbrio das contas foi obtido mantendo – e
quando factível aumentando – a relevância tecnológica do IPT para o
setor produtor e para as políticas públicas.
AcapacidadeímpardoInstitutodebeneficiarasociedadebrasileira,
em especial a que mora em São Paulo, foi reconhecida com a outorga ao
InstitutodoPrêmioMarioCovas2005deInovaçõesnaGestãoPública,na
categoria de Atendimento ao Cidadão.
Conduzirumainstituiçãodessevalorporquasecincoanosfoiuma
experiênciatãoárduacomogratificante.TivenoIPT,doqualmedesliguei
em2006,campofértilparadifundiraidéiadequerenovarsignifica“inovar
de novo” e, assim, paradoxalmente fazer da inovação uma tradição.
Aatuação,por12anos,comogestoreminstituiçõesdeC&Tensejou
umconjuntoinvulgardeconhecimentosevivênciasrelevantesaomundo
acadêmico. E, por opção apaixonada, continuei ensinando, pesquisando
e orientando discípulos na USP durante o período em que as funções
executivas requereram meu afastamento legal. A sinergia entre os dois
mundos me possibilitou obter, ao longo do período de atuação como
executivo, o título de livre-docente na POLI e a condição de professor
titular na FEA.
Participar de diversas entidades do complexo sistema nacional de
inovação.AtuonastrêsassociaçõesquecompõemaAliançaTríplicepela
46. 46
Inovação Tecnológica no Brasil, nas condições de Vice-Presidente da
Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendedorismo
Inovador (ANPROTEC), Diretor da Associação Nacional de Pesquisa,
Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (ANPEI) e
Coordenador do Conselho Consultivo da Associação Brasileira das
Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI).
No âmbito nacional, integro os colegiados seguintes: Conselho
Deliberativo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq); Conselho de Administração do Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos (CGEE); Conselho Deliberativo da Agência Brasileira
de Desenvolvimento Industrial (ABDI); Conselho Deliberativo da
Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM), do qual fui Presidente; e
ConselhodeOrientaçãodocapítulodeSãoPaulodoProjectManagement
Institute (PMI), do qual fui fundador e primeiro Presidente. Participei,
entreoutros,doConselhoDeliberativodaAssociaçãoBrasileiradeNormas
Técnicas (ABNT).
No contexto estadual, integro os seguintes colegiados: Conselho
Estadual de Ciência e Tecnologia; Conselho Superior de Tecnologia e
CompetitividadedaFIESP;ConselhodeEstudosEstratégicoseAvançados
do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), Conselho
Universitário da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e
Conselho Consultivo da Rede Metrológica do Estado de São Paulo. Fui
membro, entre outros, do Conselho Deliberativo do SEBRAE/SP.
No campo das instituições científico-tecnológicas integro os
colegiadosseguintes:JuntadeGovernadoresdoTechnion–IsraelInstitute
ofTechnology;ConselhoTécnico-CientíficodoCentrodePesquisasRenato
Archer (CenPRA); Conselho Deliberativo do Instituto Genius; Conselho
Consultivo da Agência de Inovação da USP, Conselho Deliberativo do
47. 47
Parque de Ciência e Tecnologia da USP; e Conselho de Orientação do
Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento
Sustentável. Fui membro, entre outros, do Conselho Dirigente da
Associação Estratégica dos Institutos de Tecnologia Industrial do
MERCOSUL, da Comissão Permanente de Acompanhamento das
UnidadesdePesquisadoMinistériodaCiênciaeTecnologiaedoConselho
Deliberativo do Instituto de Tecnologia de Software de São Paulo.
No Terceiro Setor integro os conselhos deliberativos da Fundação
Iochpe, da Sociedade Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, da
Congregação Israelita Paulista e da Associação Brasileira para o
Desenvolvimento de Lideranças (ABDL). Participo, também, da Diretoria
da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria, na área de C&T.
Dentre os reconhecimentos recebidos estão: Prêmio Roberto
Simonsen, do Instituto de Engenharia; Medalha Comemorativa do
Centenário da Criação da Escola Politécnica da USP; Diploma de Amigo
da Marinha do Brasil; e Medalha de Defesa Civil do Estado de São Paulo.
Vive-se perfeitamente bem entre dois mundos. Para isso é
necessário relacionar-se com seres humanos compreensivos. No núcleo
familiar sempre encontrei compreensão e cumplicidade nos meus
saudosos pais, Simon e Stella Schmerling Plonski, na minha esposa,
Rochelle Genia Saidel, no meu irmão Jakob Schmerling e nos meus
sobrinhos Rafael Aron e Renata Schmerling. E sou privilegiado por me
relacionarcomnumerosaspessoas,nosdiversosmundos,quesãominhas
parceiras na construção de conhecimento enriquecedor.
Viver entre dois mundos ajuda a compreender a sabedoria da
máxima talmúdica segundo a qual “a coisa principal na vida não é o
conhecimento, mas o uso que dele se faz”.
48. SATURNOS - ASSESSORIA EM COMUNICAÇÃO SOCIAL S/C LTDA.
COORDENAÇÃO
AntôniaSchwinden
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Ivonete Chula dos Santos
Este livro foi composto em Belwe Lt BT e impresso em
papel Linho/Telado Couché 115g/m2
. Capa em papel
Linho/Telado Couché 240g/m2
. Tiragem: 1.500 exemplares.