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INTRODUÇÃO
A sobrevivência de toda a sociedade humana passa necessariamente pela formação das
capacidades, atitudes e competências mais integradoras dos seus filhos, pois só com essas
ferramentas é que se torna possível, todo projecto de construção social.
A identidade de um povo compõe-se de múltiplos elementos. Cada povo tem a sua identidade
que o define e lhe dá um lugar no mundo. Estes tempos de rápidas e vertiginosas mudanças
exigem um constante repensar na identidade e suas implicações. A partir do período colonial
até ao presente, a língua e cultura locais têm sofrido uma notória desvalorização. Isto tem
afectado a identidade das pessoas. A identidade de um povo é multifacial, global e
abrangente. Por exemplo, há identidade individual, de uma família, de um grupo étnico, de
uma nação, de um continente e de uma profissão.
O povo Mbokoyo tem conseguido manter a sua cultura, não obstante os
contactos com outros valores sociológicos e culturais nomeadamente, com a
cultura portuguesa até a altura da independência de Angola, e, mais
recentemente sujeito às influências da globalização cultural.
O desenvolvimento socioeconómico e cultural regional visa fundamentalmente satisfazer as
necessidades básicas das populações, criar condições adequadas para o bem estar colectivo e
capacitar tecnologicamente os grupos humanos através do reforço da sua força interventiva,
criadora e transformadora capaz de engendrar mudanças significativas no espaço físico social.
Então, é premente brindar as gerações mais jovens de um leque de informações históricas
atinentes a sua localidade em que as mesmas se encontram confinadas e, desta maneira,
poderem compreender o papel desempenhado pela sua localidade no desenvolvimento social,
económico da região e do país. Em cada sociedade deve haver uma atenção voltada
particularmente para as novas gerações, em virtude delas serem as legítimas herdeiras de todo
património histórico-cultural construído ao longo dos tempos.
9
Daí que o processo de formação das gerações mais jovens mereça um investimento
substancial e, concomitantemente, um acompanhamento pedagógico e metodológico
responsável, sério e singular para brindá-las de conhecimentos sólidos e eficazes em torno da
realidade sócio-cultural e histórica do meio circundante, sobre o qual recairá a incumbência
de transformá-lo qualitativamente não só para o seu próprio bem, como também dos
vindouros.
Assim, o tema ―AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA
TCHISANDJI. PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DA HISTÓRIA DE
ANGOLA NOS ALUNOS DA 10ª CLASSSE DA ESCOLA DO II CICLO DO ENSINO
SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO” é uma contribuição a cultura deste
povo cabendo aos órgãos de direito e em especial o Ministério da Educação em cooperação
com os sectores afins definirem as melhores políticas e estratégias educativas para o
fortalecimento do processo de formação das gerações vindouras em que a atenção singular
será dirigida à preparação do homem novo.
Procuramos neste trabalho, meter em itálico as palavras estranhas ao português para facilitar a
compreensão do leitor. O ―s‖ entre vogais ou semi-vogais lé-se ―ss‖; exemplo: Oso-
equivalente a Osso, como na palavra ―Osoma”; o ―h‖ é sempre aspirado; exemplo Ohita, O
―ge‖ le-se sempre ―gue‖; exemplo ―omange, Ngeve, Ngende‖.
JUSTIFICAÇÃO DA ESCOLHA DO TEMA
AS REPERCUSSOES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI,
PORQUE? Mais do que buscarmos outras razões é porque o colonialismo foi um dos
fenómenos sociais que na sua essência contribuiu com as suas doutrinas para o desalojamento
do homem angolano pois, ―a colonização é comparada a um ladrão que roubou todas as vestes
deixando o homem angolano desprovido de quase tudo‖ (ANDRÉ LUKAMBA 2001).
Por outro lado, o colonialismo é entendido como um conjunto de atitudes políticas,
económicas, e militares que visam, a aquisição de territórios coloniais através da conquista e
estabelecimento de colonos, contribuirá para destruição da pirâmide vital da cultura angolana,
pois, na colonização dos povos africanos (angolanos), os europeus, no caso, os portugueses,
adoptaram dois critérios na obtenção de lucros. O primeiro consistia em focar ou persuadir os
10
nativos a trabalharem nas propriedades europeias ou no cultivo de produtos como cacau, o
café, o sisal e a jingumba, quase sempre por salários ou preços baixos. Tais produtos eram
vendidos em seguida no mercado internacional a preços exorbitantes para beneficiar os
europeus em detrimento dos nativos. Os colonialistas preparam tudo trazendo para a África
Militares, Mercadores e Missionários (KI-ZERBO Joseph)1
, para que se começassem a
instalarr todos, militar, politica e religiosamente, dando desta forma á ―ocupação efectiva‖
realizada pelas armas completou-se, em toda parte, com o pagamento de impostos, com a
criação e propagação dos movimentos e sobretudo com a conquista da independência.
No programa de História da 10ª classe porque? Porque apesar de os programas serem de
âmbito nacional, elaborados pela instituição pedagógica (no caso INID), trata-se da vontade
de querermos encontrar um ponto de partida com o espírito de objectividade por intermédio
de um campo de acção a onde centrará a nossa proposta e por outro lado, aonde obteremos
uma amostra que garanta a cientificidade da nossa pesquisa e da nossa abordagem temática,
daí o nosso contributo na conquista de mais um passo no âmbito da História local.
É comum observar-se no processo de Ensino aprendizagem da disciplina de História á nível
do nosso país bastantes limitações e insuficiências em relação aos conteúdos pertencentes a
História de Angola. Ora, tais restrições alargam longamente o desconhecimento da realidade
sóciocultural, económica e histórico local por parte das gerações actuais (especialmente as
crianças, adolescentes e jovens). Caminhando deste modo, vai se comprometendo, em grande
dimensão, todo um projecto de construção humana, pelo facto de não haver um conhecimento
preliminar em que se idealiza a renhida luta pelo progresso humano, social, cultural,
económico e histórico.
Assim, com o propósito de se ultrapassar as lacunas e limitações existentes em relação aos
conteúdos de História local no processo de ensino aprendizagem de História, particularmente,
no que respeita a História de Angola no ―Bocoio‖, propõe-se neste trabalho de fim de curso
abordar o tema: ―AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA
TCHISANDJI. PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DA HISTÓRIA DE
ANGOLA NOS ALUNOS DA 10ª CLASSSE DA ESCOLA DO II CICLO DO ENSINO
SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO.”
1
KI-ZERBO, Joseph; História da África Negra vol.II, 3ª ed.Publicações Europa América,2002.
11
A localidade do Bocoio, sofreu os horrores do colonialismo, na vertente antroponímica,
cancioneira, línguística, dança, religiosa e na usurpação das suas terras. Hoje isto passa
despercebido e o receio às novas gerações é que pode abrir um foço. As realizações materiais
e espirituais das grandes comunidades revelam a sua capacidade de criar e transformar o meio
natural em que as mesmas se encontram e constituem o seu património histórico-cultural cujo
domínio e conhecimento para a sua valorização deve-se passar às jovens gerações.
Considera-se um tema extremamente pertinente em virtude de proporcionar as gerações mais
jovens de amplos e profundos conhecimentos sobre a história local do Bocoio, o que constitui
condição ‗sine qua non’ para que cada indivíduo se identifique com o seu meio e se converta
num agente transformador do mesmo, pois, só se defende com determinação e iniciativa
aquilo que se conhece plenamente e, como consequência, se ama e se preserva como um
valor.
PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO
Atendendo ao anteriormente exposto, o problema científico que orientou a investigação é o
seguinte:
«Como abordar histórica, científica e metodologicamente os conteúdos sobre ―AS
REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI” no processo
de ensino aprendizagem de História nos alunos da 10ª Classe da escola do II Ciclo do Ensino
Secundário do Bocoio tendo em vista a formação da consciência histórico – cultural dos
alunos?»
PERGUNTAS DE INVESTIGAÇÃO
Que papel desempenha a Educação sobre ―AS REPERCUSSÕES DO
COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI. PROPOSTA
METODOLOGICA PARA O ENSINO DA HISTÓRIA DE ANGOLA NOS
ALUNOS DA 10ª CLASSE DA ESCOLA DO II CICLO DO ENSINO
SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO‖ património e identidade
cultural na formação da consciência Histórica das novas gerações?
12
Como tem sido abordada ―A HISTÓRIA LOCAL NO PROCESSO DE
FORMAÇÃO DOS ALUNOS DA 10ª CLASSE na disciplina de História de
Angola?
Como introduzir este conteúdo na disciplina de História?
OBJECTO DE INVESTIGAÇÃO
O processo de ensino aprendizagem na disciplina de História na 10ª classe da Escola
DOIICICLO DO ENSINO SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO.
OBJECTIVO GERAL
Determinar os conteúdos de História local do Município do Bocoio
paraoenquadramentoprogramático adequado na disciplina de História da 10ª Classe do II
Ciclo do Ensino Secundário com o propósito de consolidar a formação da consciência
histórica e cultural dos alunos.
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS
- Destacar “AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA
TCHISANDJI. PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DA HISTÓRIA DE
ANGOLA NOS ALUNOS DA 10ª CLASSE DA ESCOLA DO II CICLO DO ENSINO
SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO‖.
- Diagnosticar o estado actual do ensino sobre a História local do Bocoio no processo docente
Educativo de História da 10ª classe do II ciclo do ensino secundário do Bocoio.
- Contribuir com uma estratégia pedagógica e metodológica a ser empregue na abordagem do
tema no processo de Ensino aprendizagem da História da 10ª classe.
CAMPO DE ACÇÃO
Os conteúdos sobre a cultura local do município do Bocoio.
13
HIPÓTESE
A adopção de uma metodologia de ensino com técnicas e procedimentos pedagógicos eficazes
para a abordagem sobre a história local do Bocoio, no processo de Ensino aprendizagem de
História da 10ª Classe do II Ciclo do Ensino Secundário pode contribuir para a consolidação
da formação da consciência histórica e cultural dos alunos, um elemento necessário no
processo da construção social.
VARIÁVEL INDEPENDENTE (V.I): A adopção de uma metodologia de ensino
com técnicas e procedimentos pedagógicos eficazes para a abordagem deste tema.
VARIÁVEL DEPENDENTE (V.D): uma contribuição para a consolidação da
formação da consciência histórica e cultural dos alunos, enquanto elemento necessário no
processo de construção social.
MÉTODOS E PROCEDIMENTOS A EMPREGAR
O tipo de pesquisa que predominou foi a aplicada, pois a apresentação essencial está na
solução de um problema da prática educativa.
Quanto ao objectivo gnoseológico, trata-se de uma investigação descritiva aplicativa porque
observa e descreve o objecto de estudo, fazem-se análises dos factos apresentados e se
estabelecem as relações entre elas para propor soluções.
Métodos empíricos:
- Entrevista aos professores, gestores e alunos, que proporcionou a informação concreta sobre
o problema;
- Consulta bibliográfica, que permitiu consolidar a base teórica do trabalho e o seu carácter
científico;
- Análise documental, que ajudou a realizar uma análise do programa de História.
14
Métodos teóricos:
- Analítico-sintético, que permitiu um estudo minucioso sobre AS REPERCUSSÕES DO
COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI.
- Dedutivo-indutivo, que garantiu a análise de factos gerais sobre AS REPERCUSSÕES DO
COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI.
Entrevista: este método permitiu nos levar um trabalho de investigação no seio de alguns
peritos na matéria no sentido de nos darem mais subsídios em torno do tema.
Inquérito: Também ouvimos alguns alunos e professores de História.
População Alva
É composta por 245 alunos e, professores e coordenador de História do II Ciclo do Ensino
Secundário – da Escola do Bocoio.
A amostra está conformada por 139 alunos da 10ª Classe do II Ciclo do Ensino Secundário da
Escola do Municipio do Bocoio, o que representa 56.7%, bem como 4 professores e incluindo
coordenador de História, o que corresponde a 100%. A selecção foi feita de forma aleatória
em conformidade com as necessidades da investigação.
Amostra
A amostra dos professores, foi seleccionada de forma aleatória de 04, o que significará 100%
e, dos 245 alunos trabalhou-se com 139 (uma turma) perfazendo 56%.
Novidade Cientifica
Consiste do ponto de vista teórico, na estruturação dos conteúdos sobre AS
REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI, para a sua
abordagem no processo de ensino aprendizagem de História.
Do ponto de vista prático, contribuir-se-à com uma metodologia de ensino com técnicas e
procedimentos eficazes a serem adoptados no leccionamento desta temática.
15
PROPOSTA DA ESTRUTURA DO TRABALHO
O trabalho está estruturado em: Dedicatória, Agradecimentos, Resumo, Introdução, dois
capítulos, que formam o seu corpo central, Conclusões, Recomendações, Anexos e
Bibliografia.
CAPÍTULO I – GENERALIDADES “DA HISTÓRIA LOCAL”
Palavras-chaves: Repercusso- (Do latim repercussu) SM repercussão repercissione sf, acto
ou efeito de repercutir2
.
Repercutir- (Do latim repercutere) verbo transitivo repetir, reproduzir um som; verbo
transitivo reflectir se reverberar.
Repercussão-É o efeito microeconómico do imposto pelo qual a pessoa legalmente obrigada
ao seu pagamento, ou consegue transferir para outrem (contribuinte de facto) o sacrifício
patrimonial em que o tributo se traduz. Se o contribuinte de facto se encontra numa fase mais
adiantada do ciclo produtivo, a Repercussão diz se descedente ou progressiva: é o que se
passa, nas relações entre retalhista e consumidores; se se encontra numa fase anterior do ciclo
produtivo a Repercussão diz se ascendente ou regressiva é o que se passa, nas relações entre
comerciantes e industrias produtoras de bens finais ou nas relações entre pessoas e os
fornecedores de factores de mercado, designadamente pela incorporação do imposto no preço
de bens oferecidos (aumentando ou reduzindo o preço). Ela é depende portando da natureza
do imposto e da natureza dos mercados onde se transacionam os bens e serviços procurados e
oferecidos pelo sujeito económico.
A Repercussão é normalmente tida em vista pelo legislador ao estruturar as vareas espécies
fiscais e é ela que está na origem dos diversos projectos tendentes à instituição de um imposto
único (sobre a terra, a renda, a energia, a despesa).
2
Enciclópedia Luso-Brasileira de Cultura, XVl; ―R‖, Editorial Verbo Lisboa, 1963.
16
Colonialismo3
- Conceito aplicado a territórios ocupados e administrados por um governo, em
conseqüência de conquista ou da colonização de seus súditos, e aos que se impõe uma
autoridade estrangeira. Tal relação termina quando o povo subjugado recupera a soberania, ou
se incorpora, em igualdade de condições, à estrutura política da potência colonizadora.
O colonialismo existiu desde a Antigüidade. Entre os impérios do mundo antigo, foi exercido
pelo Egito, pela Babilônia, pela Pérsia e por Roma. Na Europa moderna, o colonialismo teve
início no século XV e pode ser dividido em duas fases. Numa primeira etapa (1415-1800), a
Europa Ocidental, liderada por Espanha e Portugal, expandiu-se pelas Índias Orientais e as
Américas. Portugal, interessado, sobretudo, no comércio de especiarias, estabeleceu feitorias e
fortes em lugar de colônias. Seu monopólio comercial viu-se seriamente ameaçado pelos
ingleses e holandeses, no fim do século XVI.
No que diz respeito ao continente americano, era mais freqüente a criação de colônias do que
de feitorias. O império da Espanha foi o mais extenso do Novo Mundo e compreendia grande
parte do México, da América Central e da América do Sul. Os portugueses se estabeleceram
no Brasil. A maioria das colónias espanholas, portuguesas e francesas nas Américas
conseguiram a independência durante as Guerras Napoleónicas. Os ingleses perderam boa
parte das antigas possessões nos Estados Unidos, mas a Grã-Bretanha continuou sendo uma
importante potência colonialista: além de controlar a Índia, conservava o Canadá, o Cabo da
Boa Esperança e o Ceilão.
A segunda etapa colonial pode ser dividida em dois períodos. No primeiro (1815-1880), o
ímpeto expansionista provinha de interesses europeus já estabelecidos no exterior. Durante a
segunda fase (1880-1914), a colonização estava voltada para a África e diversas regiões da
Ásia e do Pacífico. Por volta de 1914, o colonialismo mundial dominava o planeta. O Império
Britânico era o maior e com maior diversidade geográfica, embora a França, a Bélgica, a
Alemanha, o Japão, os Estados Unidos e Portugal, e fossem também importantes potências
colonialistas. O fim do equilíbrio de poder na Europa e as duas Guerras Mundiais do século
XX marcariam o ocaso do colonialismo moderno.
3
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17
Cultura - do latim cultura, acto de cultivar a terra ou certas plantas; trabalho que se faz na
terra para que produza vegetais; conjunto dos conhecimentos de alguém.
Edward B. Tylor (1871) foi o primeiro a formular um conceito de cultura, em sua obra
Cultura primitiva. Ele propôs: ―Cultura... é aquele todo complexo que inclui o conhecimento,
as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos
pelo homem como membro da sociedade‖ (In Kahn, 1975:29). O conceito de Tylor, que
engloba todas as coisas e acontecimentos relativos ao homem, predominou no campo da
antropologia durante várias décadas.
Para Ralph Linton (1936), a cultura de qualquer sociedade ―consiste na soma total de idéias,
reações emocionais condicionadas a padrões de comportamento habitual que seus membros
adquiriram por meio da instrução ou imitação e de que todos, em maior ou menor grau,
participam‖ (1965:3 16). Este autor atribui dois sentidos ao termo cultura: um, geral,
significando ―a herança social total da humanidade‖; outro, específico, referindo-se a ―uma
determinada variante da herança social‖ (96).
Franz Boas (1938) define cultura como ―a totalidade das reacções e actividades mentais e
físicas que caracterizam o comportamento dos indivíduos que compõem um grupo social...‖
(1964:166).
Mahnowski (1944), em uma teoria científica da cultura, conceitua cultura como ―o todo
global consistente de implementos e bens de consumo, de cartas constitucionais para os vários
agrupamentos sociais, de ideias e ofícios humanos, de crenças e costumes‖ (1962:43).
O mais breve dos conceitos foi formulado por Herkovits (1948), embora este não seja o único:
―a parte da ambiente feita pelo homem‖ (1963:31).
Kroeber e Kluckhohn (1952: 19), em Culture: a critical review of concepts and definitions,
referem-se à cultura como ―uma abstracção do comportamento concreto mas em si própria
não é comportamento‖.
Beals e Hoijer (1953) também são partidários da cultura como abstracção.
Afirmam eles: ―a cultura é uma abstracção do comportamento e não deve ser
18
Confundida com os actos do comportamento ou com os artefactos materiais, tais como
ferramentas, recipientes, obras de arte e demais instrumentos que o homem fabrica e utiliza‖
(1969:265).
Para Felix M. Keesing (1958), a cultura é: Comportamento; ―cultivado, ou seja, a totalidade
da experiência adquirida e acumulada pelo homem e transmitida socialmente, ou, ainda, o
comportamento adquirido por aprendizado social‖ (1961:49).
G. M. Foster (1962) descreve a cultura como ―a forma comum e aprendida da vida,
compartilhada pelos membros de uma sociedade, constante da totalidade dos instrumentos,
técnicas, instituições, atitudes, crenças, motivações e sistemas de valores conhecidos pelo
grupo‖ (1964:21).
O conceito de cultura varía no tempo, no espaço e em sua essênvia. Tylor, Linton, Boas e
Malinowski consideram a cultura como idéias. Para Iróeber e Klucki-) John, Beals e Hoijer,
ela consiste em abstrações do comportamento. Keesing e Foster a definem como
comportamento aprendido. Leslie A. White apresenta outra abordagem: a cultura deve ser
vista não como comportamento, mas em si mesma, ou seja, fora do organismo humano. Ele,
Foster e Outros englobam no conceito de cultura os elementos materiais e não materiais da
cultura. A colocação de Geertz difere das anteriores, na medida em que propõe a cultura como
um ―mecanismo de controlo‖ do comportamento. Essas colocações divergentes, ao longo do
tempo, permitem apreender a cultura como um todo, sob vários enfoques.
Em suma, cultura é o conjunto complexo e articulado de normas, crenças,ritos,
comportamentos, valores que condicionam o horizonte espiritual, bem como as realizações do
grupo, que conferem a cada sociedade o seu aspecto original. Cultura é ainda o conjunto de
elementos como a língua, os costumes, as técnicas e os valores que um determinado grupo
humano usa e a partir dos quais organiza e edifica a sua vida.
A cultura é também, o ambiente artificial que o homem sobrepõe ao natural, é o estilo, a
alma, o domo de um povo. Todo homem vive de uma herança cultural que o condiciona,
assume-a, transforma-a e só assim, ele não vive sem cultura.Por isso não existe povo sem
19
cultura, mesmo uma cultura superior a outra, mas sim diversidade de culturas. (LUKUNDE
Mário e FARIA Ezequiel)4
.
1.1– LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MBOKOYO
Geograficamente o Município do Bocoio situa-se a nordeste da Província de Benguela, a 75
km a leste da cidade ferro portuária do Lobito e a 75 km do Municipio do Balombo, 190 Km
da sede capital da província do Kwanza Sul. Porque a leste, o Bocoio limita-se com o
Município do Balombo e a oeste com o Município do Lobito.
Da parte norte com a Província do Kwanza Sul e a sul com os Municípios de Caimbambo,
Cubal e Ganda. Quanto a superfície é de 5.612 km2 com uma população que se pode calcular
em 156.583 habitantes.
1.1.1 - Divisão Administrativa do Município, fundação de Comunas e seu
significado histórico.
O Município do Bocoio, tem quatro (4) comunas, a sua sede é chamada Tchisandji5
, foi
fundada em 1827 com 1.287 km2 de superfície. Mbokoyo ou Bocoio é o nome dado pelos
viajantes quando estes se deslocavam do interior para o litoral e vice-versa no período de
governação do Sr. Fernando como primeiro chefe administrativo no actual Bocoio-Velho,
onde colhiam o gindungo denominado Mbokoyo e daí a região passou a chamar-se Bocoio
que na sua ordem crescente é o quarto nome desde os primeiros habitantes até aos nossos dias.
Uns a chamam vila sousa Lara, tudo a partir de 1958, a sede Bocoio designou-se em Vila.
Neste ano fez-se o legado de Suosa Carneiro Lara, segundo a construção da companhia de
açucar de Angola e da fábrica de celulose do Alto Catumbela na Ganda.
4
in. cit WALILE Avelino, Trabalho de Licenciatura 2004 P.16
5
Le-se Tchissandji
20
A comuna da Tchila-Tchikala - foi fundada em 1925, à 68 km da sede do Bocoio, e tem
11.314 km2 de superfície. A proveniência etimológica do termo Tchila, está relacionada com
o povoamento desta região que deve-se a caravana migratória do soba kangombe
tchinangatanga, Monte-Belo e Munda, provenientes de Ndula-Tchamako/Ngungu (kwanza
sul) instalaram-se na região de Tchikala depois de atravessar o rio Cubal kwambotchã pela
travessia Imbwanganga e do soba kapingãla kambambi proveniente de Tchandja e de
kaniaki/Balombo constituiram o povo de Tchikala actualmente a comuna da Tchila.
Ali existiu um lugar de concentração de animais como palancas antes e depois do bebedouro e
esta concentração em umbundu era chamado de otchila e a localidade passou a chamar-se de
Tchila. Esta comuna anteriormente pertencia kasonge, depois Kanjala, e actualmente
Município do Bocoio. O Primeiro chefe do posto administrativo da Tchila denominado por
Pires, mais conhecido por kipilipili, por qual fundou a 20 de Maio de 1925 com 1314 km2
de
superfície.
A comuna do Monte-Belo ―Okamunda keposo‖ Ukolovala (Utwe Wombwa) - foi fundada em
1955, e fica a 31 km da Sede do Município do Bocoio, com 1.253 km2 de superfície. A
origem etimológica do termo Monte- Belo, tem a ver com as caravanas migratórias do soba
Mbambi proveniente de Tchandja-Balombo de Kotchatchiti Kokatanga-Olyatchahe Kakomwa
proveniente de Mama outrora Kwanza sul, soba Kahala proveniente também de Tchandja, o
soba Ndumba Tchihukulu, proveniente de Tchiyaka e do soba Tchombela de Mumata
Motchombela/Ganda constituem o povo de Ukolovala actualmente a população da Comuna de
Utwe wombwa um nome cuja origem aparaceu quando um viajante de nome Madureira
Kuluvala proveniente da Catumbela trazia consigo um cão e acabou por morrer neste local e
este homem cortou a cabeça do cão e pendurou-a numa haste a beira de Otchilombo.
Este ganhou muita fama e depois passou a chamar Utwe wombwa outrora Ukolovala; segundo
KAPA Kandjolomba ancião, de feliz memória. O fundador da Comuna chamou-se Katyavala
proveniente de Ikulungu-Avula/Bocoio.
A chegada dos Portugueses, fizeram viveiro de sisal e devido a sua beleza chamaram-na Belo-
Monte e posteriormente Monte-Belo actual Comuna que no Governo Colonial antes de 1964,
pertencia a Balombo.
21
A Comuna do Cubal do Lumbu-Eva - foi fundada em 1963, fica a 30 km da sede do
Município do Bocoio, e tem a superficie de 785Km2. A sua origem etimológica tem relação
com o povoamento desta região, deve-se a caravanas migratórias dos sobas Kangombe II
Tchikuma, Nguli e Ngendjo6
, provenientes de Moñgele outrora Kasonge, instalaram-se nesta
região depois de atravessar o rio Balombo pelo Húmo.
A caravana de Ngandu-ya-Wendo, proveniente de Ehembe/Luanda e o soba Kameti-Etoto e
Ngandu-ya-Isapa7
proveniente de Tchiyaka, confinaram também na região de Eva,
constituindo actual população da Comuna do Cubal do Lumbu. O soba Ngendjo na região,
casou-se com a rapariga Lumbu, família do velho Huholondondo pertencente ao soba
Ngandu-ya-Isapa. Depois de se casar com a rapariga, pediu uma montanha para se fixar.
O velho Huholondondo anuiu ao pedido e atribuiu-lhe uma montanha onde mantivesse por
algum tempo e depois sugeriu que a mesma montanha passasse a chamar-se Lumbu nome de
sua esposa. A designação Lumbu nasceu Elumbu a sub-região Eva, o actual Cubal do Lumbu e
depois de se ter dado esta designação, o soba Ngendjo disse; ―Elumbu lyo kalapo, ove kulipo,
likulimilã onima” que em língua portuguesa siginifica ―enigma de quem está presente,
ausente perde oferta.
As caravanas migratórias do soba Kangombe II, Nguli, Tchikuma e Ngendjo provenientes de
Moñgele-Kasonge, chegaram a actual sub-região Eva/Cubal do Lumbu atravessando o rio
Balombo pela localidade Húmo e contornando pelo Egipto Praia depois passando por Ewe-
lya-Ngongo, localidade de Kanjala antes de atingir Cubal do Lumbu. Estes fixaram-se da
seguinte maneira: O soba Kangombe II na actual montanha Kangombe; O soba Nguli na
actual montanha Nguli. O soba Nguli chamava-se Lweyo.
A comuna do Passe Kavendji Tchapasi - foi fundada em 15 de junho de 1964 e fica a 30 km
da sede municipal do Bocoio e tem a superfície de 973 km2. A origem etimologica do termo
passe, está relacionada com as caravanas migratórias do soba Mbakavaka vindo do sobado
6
Le-se Nguendjo
77
Le-se Issapa
22
Nguli, Comuna do Cubal do Lumbu. Chegaram e fixaram se ―Tchipasi8
‖ nas localidades de
Londengo, Mbuluvulu e Sela.
Esta região era designada por Kavendji e a montanha de Ngumbwa. O soba Kisi vindo do
Bailundo perseguido por Mandume, refugiou-se na montanha de Ngumbwa depois de passar
por Tchandja, Mepo-Kanhala. Tchivanda Monte-Belo, Lomama-Kandjongi, Kaloñge e
Luvale. Nesta Montanha, o soba Kisi fez magia, impedindo as caravanas de passar, ouvindo se
apenas o barulho de cão-da-pedra (ohwita), portanto. Os‖ Ovimbanda‖ não conseguiram
desfaser a magia do soba Kisi e diziam que se fixou num lugar complexo de penetrar e não se
consegue apanhá-lo. O termo ―complexo” em umbundu significa ―Tchipasi” e deste,
designou-se a montanha Passe.
11..11..22-- HHiissttóórriiaa ee ppoovvooaammeennttoo do Municipio do Mbokoyo
―Segundo algumas pesquisas, poderá ter sido por volta do séc. XIV que se iniciou a disputa
mais acérrima dos territórios da província. Pisam por esta altura terras a norte do Lobito
povos conhecidos como Vambokoyo, também denominados vatchisandji ou vanduli. A sua
proveniência relaciona-se com a localidade de Hembe no antigo reino do Ndongo
(comandados pelo lendário Soba Tchivango). A sua presença na região do Mbokoyo assenta
no facto várias divisões internas se provocarem no decurso das movimentações da busca de
estabilidade politica e economica antes da presença colonial. No historial do povo Mbokoyo
salientam-se três destacáveis nomes de soberanos que são referência inestimável a saber: Ilu
Lembe, Imbumba, e Tchiyuku Tchakañhangã Ndamba ya Mbambi.
Kapa Kandjolomba9
, existem três designações para a localidade e respectivo povo:
Vambokoyo, Vatchisandji ou Vanduli. A história diz que enquanto este povo se movimentava
à procura de um lugar para se estabelecerem, os actuais vambokoyo, foram tendo algumas
desavenças entre si e é isto que denominam Nduli10
, o que levou ao sentimento de desdém
entre eles, designado por Valisandja11
. O nome tem relação com algumas especiarias
8
Le-se Tchipassi
9
Kapa Kandjolomba; antigo Regedor Municipal do Bocoio, ―de feliz memória‖.
10
Não ceder
11
Livres, abertos, independentes, ilimitados, extensos e espontâneos.
23
chamadas Mbokoyo. Sempre que se quisesse fazer referência ao local, dizia-se Pana po
Mbokoyo12
.
AA rreeggiiããoo ddoo BBooccooiioo eesstteevvee ffoorrtteemmeennttee aaffeeccttaaddaa ppeellooss pprroocceessssooss mmiiggrraattóórriiooss ee gguueerrrraass
ccoonnssttaanntteess.. NNoo MMuunniicciippiioo nnuumm ppeerrííooddoo rreellaattiivvaammeennttee ccuurrttoo,, ccoonncceennttrroouu--ssee uummaa mmaassssaa
ddeemmooggrrááffiiccaa ccoonnssiiddeerráávveell.. HHoojjee éé ppoossssíívveell vveerr aa ddeennssiiddaaddee ppooppuullaacciioonnaall ee oo ddeesseennvvoollvviimmeennttoo
ddaass ppoovvooaaççõõeess nnaass CCoommuunnaass,, aattiinnggiirreemm íínnddiicceess qquuee mmoossttrraarraamm ddee ffoorrmmaa ccllaarraa oo ccrreesscciimmeennttoo
ppooppuullaacciioonnaall..
QUANTO A DESIGNAÇÃO NDULI 13
- O grupo migratório do soba Kapa Mbumba e
Lulembe proveniente de Ehembe/Luanda, iniciou as suas viagens de exploração e atingiu a
margem do rio faul, actual Catumbela na localidade de Tchiseke14
. Quando chegou nesta
margem os dois entraram em contradições ao atravessar o rio. Foi que o soba Kapa Mbumba
negou e disse o seguinte: ―Eu não atravesso mais nenhum rio maior, aqui páro‖. O termo pára
em Umbundu significa Nduli.
Outros afirmam que a origem etimológica do termo Nduli, está intrissecamente ligada a
população da Comuna sede Bocoio e resultado de caravanas migratórias do soba Kapa
Mbumba, Lulembe e Tchindula, provenientes de Hembe-Ndongo/Luanda fixaram-se na região
Tchisandji actualmente Bocoio depois de atravessar os rios Kwanza, Keve, Umbango,
Lwenge, Kumeka, Cubal do Lumbu e Cubal Tchisandji com início das lutas entre os europeus
e africanos no Ndongo iniciaram a sua viagem de exploração e atingiram a localidade de
Tchiseke na margem do rio Catumbela. Alí o soba Kapa Mbumba negou saltar o rio
Catumbela e disse: aqui páro. Do termo parar que em Umbundu é traduzido por Nduli surgiu
o primeiro nome daquela localidade.
QUANTO A DESIGNAÇÃO TCHISADJI - O grupo étnico denominado Tchihuku, formou
uma caravana migratória proveniente de Ekumba Tchiyaka/Huambo, que chegou a região e
12
Lá no Bocoio.
13
BAPTISTA João IV,Etnólogo e Expositor; Pequena síntse da cultura dos Vatchisandji Vila do Bocoio
2004/2005 pag.
14
Le-se Tchisseke
24
fixou-se na serra de Tchipelele a pedido do soba Kapa Mbumba. O soba Kapa Mbumba não
estava satisfeito com o procedimento do soba Tchihuku. Dai, orientou ao soba Lulembe em
Kavendji para que desalojasse o soba Tchihuku da serra de Tchipelele. Uma vez que existiam
conflitos étnicos entre o soba Kapa Mbumba e o soba Mandwa de EkumbaTchiyaka-Huambo,
que as causas derivavam dos roubos de gado praticado pelos filhos do soba Mandwa que o
soba Tchihuku trouxera da Tchiyaka para a região de Nduli.
A tomada de Tchipelele pelo soba Lulembe levou o desalojamento do soba Tchihuku e assim
os conflitos terminaram. Uma vez desalojado, o soba Tchihuku antes de ir para o Isuku15
-
Kandjala refugiou-se na Ombala do soba Kapa Mbunba que lhe garantiu a segurança e a
liberdade. Queremos salientar aqui que o termo liberdade, em umbundu significa Okulisandja
e, foi deste termo que nasceu a designação Tchisandji e assim todos habitantes daquela região
passaram a ser chamados por Vatchisandji‖ conforme o nome da região. (BATISTA João
IV)16
QUANTO A DESIGNAÇÃO ISENHO - O senhor Fernandes vindo da cidade do Lobito,
fixou-se na localidade que se situa entre o rio Cubal Tchisandji e o seu afluente o rio Susîla17
,
onde foi recebido por Barca chefe dos escravos. Ele, exercia as funções administrativas nesta
localidade em que a sua actividade consistia em atribuir fichas de controlo (senhas) aos
viajantes do interior, Planalto Central para o litoral e estes devolviam as mesmas de regresso.
O termo Senha veio a ser chamado Isenho que passou assim a ser o terceiro nome da região,
isto no tempo do senhor Fernando como primeiro chefe do Posto Administrativo do Bocoio.
QUANTO A DESIGNAÇÃO VILA SOUSA LARA - Os habitantes desta região resolveram
fazer um legado a Sousa Lara, segundo a construção de companhias de açúcar de Angola
publicada num dos números do semanário ―A Palavra‖. O senhor António de Sousa Lara
querendo perpetuar a memória de seu pai, legou a 27 de Julho de 1958 a Vila de Sousa Lara
conselho do Bocoio que actualmente é o Município em referência.
15
Le-se issuku
16
BAPTISTA João IV,op.cit.pag
17
Le-se Sussîla
25
O CLIMA, RELEVO E HIDROGRAFIA - Boocoio tem um clima tropical seco e duas
estações climatéricas que podem ser: quente com precipitações e seco com frio e cacimbo.
Apresenta matas fechadas com árvores tropicais e cadeias montanhosas a partir da famosa
serra do Pundu. Já na sede, destaca-se a chamada serra do Ulombo que é conhecida como um
dos pontos mais altos de Angola, tem 2.143m de altitude e de 1.200m de altura em relação a
vila municipal do Bocoio. Esta é uma montanha de beleza muito maravilhosa e pejada de
nascentes de água e apresenta o clima frio no seu cume. Nos seus pontos altos, possui uma
vegetação deveras exóticas próprias das grandes altitudes.
Dada ausência total de arvoredos, reúne condições excelentes para a prática de modalidades
desportivas em que iam ser pioneiros tal como o alpinismo.
Tinha um acesso praticável para carros de tracção a quatro rodas a partir da fazenda Sibol até
ao ponto onde se encontrava a torre repetidora do VHF. Esta montanha se situa na faixa norte
da sede municipal.
O território conta com vários rios cujo maior é rio Cubal Tchisandji ou Nunse que nasceu a
sul da comuna do Monte Belo exactamente no ―EWE LYATOKA‖ (pedra rachada) e desagua
no oceano atlântico na comuna da Hanha do norte Lobito, depois de banhar a costa, leste e
norte da vila do Bocoio; é curiosa a trajectória deste rio, a título de exemplo quem viaja do
Lobito em direcção a Monte Belo Bocoio, atravessa este rio por três vezes, concretamente na
ponte sobre o bairro Epembe, na zona do kamoko e na localidade de Lomanga, isto é após ter
passado a sede municipal próximo a comuna do Monte Belo.
A primeira fazenda Agropecuária que surgiu no Bocoio é a da Sibol. Fundada na década de
40 pelo senhor Lopes Ferreira e a última é a Santa Luzia na década 60 por João Carvalho. A
primeira produzia Sisal vindo do, (Emungwe/Cubal e a última produzia bata rena com maior
desenvolvimento de tal sorte que cada uma pesava 1,80 kg, o que fez com que houvesse
concorrência das autoridades coloniais na Kangoya.
ORGANIZAÇÃO SOCIAL, ESTRUTURA FAMILIAR E RESIDÊNCIA - A família
poligaica era como na éra dos povos agricultores Bantu, na sociedade Mbokoyo de modo geral
a família é designada por ―epata‖ (plural, apata), sendo as linhagens paterna e materna
26
conhecidas por ―kuso18
e kelanga‖, respectivamente. É uma característica dos Vambokoyo
chamar a tutela dos ―filhos para a responsabilidade da linhagem paterna e nunca na da
materna‖, ou explicam melhor ainda, quando se diz que trás consigo filhos; logo, não se lhes
reserva o direito de os levar quando, por qualquer razão decidir-se ao partir.
Entre os Vambokoyo, são observáveis três tipos de familais: ―A família elementar‖, que
corresponde a mulher, os filhos e o pai, que é o chefe, podendo viver com estes um ou outro
elemento da família de qualquer dos cônjuges: um cunhado ou uma cunhada (irmão mais
novo da mulher ou do marido), que com eles coabitam, a partir dos primeiros dias do
casamento, em virtude de não possuírem ainda filhos. ―A poligámica‖, conhecida por
―oluvale‖, consiste no casamento de um homem com mais de uma mulher habitando na
mesma localidade (imbo), na companhia dos filhos e de alguns parentes das respectivas
mulheres e finalmente, ―A família alargada ou extensa‖ que é conhecida por otchikumba, e
subetende a ―congregação da família numa única aglomeração‖. Entenda-se aqui como famíla
o pai, mulher, os filhos, os sobrinhos, os netos, os cunhados, tios e outros parentes que, por
empatia para com os senhores fundadores da, localidade, para lá tenham afluído para morar.
Este tipo de família representa sobretudo para os Vambokoyo, o poder e a capacidade
económica, pois que, é com base nela que desenvolvem uma vasta actividade que, em
princípio, está baseada numa agricultura extensiva e na criação de grandes manadas de gado
bovino e caprino, conhecidas por ―otchunda” e “oviunda‖ no plural, respectivamente.
Entre os Vambokoyo, uma localidade ou aglomerado (imbo) é composta geralemente pelas
casas residenciais (olondjo plural de ondjo), e inclui os celeiros feitos de pau a pique em
forma de primeiro andar, conhecidos por ―ohila‖, que servem para (esoka19
; asoka/plural)
armazenamento do milho (epungu ou olombolototo), sendo este cereal arrumado espiga a
espiga, umas sobre as outras; este tipo concreto de arrumação e de organização é visivelmente
diferente entre as demais populações umbundu que habitam no planalto central do país, onde
as espigas de milho são debulhadas e conservadas em grão e depositado em sacos de
sarapilheira nos vatchikuma20
mas Vambokoyo21
já é guardada só as espigas na tulha ou
celeiro.
18
Le-se kusso
19
Le-se essoka (singular)
20
Habitantes e naturais de Tchikuma
21
Habitantes e naturais do Bocoio
27
Entretanto é conveniente notar que aqueles celeiros só se diferem destes no tamanho, pois
estes embora sendo pequenos, podem servir também para guardar o milho, feijão e outros
produtos para o consumo.
O espaço físico em questão inclui ainda o curral (otchunda22
ou osambo23
) para o repouso do
gado bovino, que é de um cercado de pau a pique, com uma entrada de paus grossos
agrupados na vertical conhecidos por otchipangu, ao lado do qual pode ser localizada uma
pequena casota (otchinhoñgo) que serve para acolher os vitelos, separados das vacas ao cair
da noite. A entrada é conhecida por ombundi. Podem ser identificados também os currais para
porcos e para cabritos, denominados de otchipanga, assim como a capoeira para as galinhas
(otchilimba) e um grande cerco (ongandjo) à volta do aglomerado, a qual serve como
protecção de eventuais investidas de pessoas ou animais vindas do exetrior.
Inclui finalmente, o ondjango, que é um tipo de construção confeccionada na base dos
mesmos materiais, com aberturas laterais, sendo cobertos de capim, tendo ao centro uma
lareira e estando cercada de grandes troncos que servem de assento. É o lugar apropriado para
descansar, depois de uma árdua jornada de trabalho sob o sol ardente, bem como para a
reposição das respectivas caloriais resultantes de absorção de uma bem servida refeição do
almoço (ongahu), para recepção de visitas e as actividades educacionais (aconselhamento e
educação dos menores e dos adolescentes, sobretudo os do sexo masculino), artísticas e
culturais.
Noutras comunidades como vahanha24
e outras existe Ondjango e Otchoto, todos estes
lugares constituem escolas tradicionais, mas na sociedade Bocoio existe apenas o Ondjango.
A diferença entre os dois lugares (ondjango e otchoto), consiste na sua apresentação
física e período de utilização, sendo o diurno para ondjango e o nocturno para otchoto. É
nesse lugar onde pela manhã, ao nascer do sol, o mais velho da comunidade se posiciona,
fumando cachimbo, recebendo a saudação dos habitantes, as notícias, com prioridade para os
sonhos mágicos ou outros acontecimentos, antes das pessoas partirem para seus afazeres
diários no campo.
Das três possibilidades de residência tradicional visiveis nesta região (virilocal, a vunculocal e
a neolocal), predomina entre os vambokoyo a residencia virilocal, que pressupõe que os
recém- casados tenham que viver na localidade e onde vive o marido, residência essa que, na
22
Otchunda – conjunto de animais
23
Ossambo – lugar onde repousa o gado
24
Naturais e habitantes da Hanha
28
maior parte dos casos, está na localidade do próprio pai do rapaz, que se ve assim na
obrigação de construir a sua prória habitação (ondjo) que, em princípio, e como é regra aqui
entre os Vambokoyo, deverá ser pau a pique, coberta de capim e barrada a toda volta, tal como
mandam as regras da comunidade, tudo isso ocorre antes da celebração do casamento,
contrariamente, é praticamente inconcebível ver um homem casado ir morar junto da terra dos
seus sogros, onde, geralmente, a mulher cresceu, a sua autoridade ver-se-ia condicionada quer
perante a sua esposa, quer perante os familiares dela, não a podendo educar para a vida em
comum, por temer eventuais represálias e outras consequencias que poderiam advir dos
familiares da mulher. Durante cerca de um mês, a recém-casada passa a confeccionar os
alimentos na cozinha da sogra, conhecida por ―etala lya ndatembo”, sendo constantemente
acompanhada pela mãe do rapaz que a instrui sobre os gastos e as técnicas familiares de
cozinha. Terminado o periodo referido, a rapariga volta a casa dos pais onde lhe será
oferecida uma galinha com a qual deverá abrir uma nova cozinha (etala), a sua própria
cozinha, que deverá ser submetida a um tratamento ritual que é efectuado com o sangue dessa
mesma galinha, cuja virtude é lipmar o recinto e livra-lo dos males anteriores.
No entanto, hoje parece predominar o sistema de residência neolocal, quer dizer, aquela
segundo a qual os recém-casados estabelecem-se numa nova residência na localidade em que
vivem os pais do rapaz, abandonando ambos os lugares de residência que os albergaram
enquanto solteiros. Para os Vambokoyo antes de se casar cumpre-se as seguintes etapas:
a) Apresentação depois da condução dos namorados aceitarem-se pelo qual a rapariga diz
ao rapaz para aparecer em casa dos pais da menina para o dia de apresentação se
entregar um garrafão de aguardente aos pais da rapariga (esanga lyolombwa).
b) Auscultação – período de saber dos pais da rapariga se é possível casar-se com o rapaz
e saber se em ambas partes de que tribo cada, onde pertence e se for aceite o rapaz
prepara-se para consentimento.
c) Consentimento – perído de entrega dos bens materiais (dois panos, uma blusa, um
lenço, e uma oponda para mãe da menina, um fato e um chapeu para o pai da rapariga
para além de um garrafão de vinho e actuamente com uma ou duas grades de gasosa e
a entrega do dinheiro que se chama a quinta ― (Ohumba) ”.
Este ohumba é que é o ponto-chave do amor do casamento e se acontecer divórcio, pede-se
este valor o que significa não quer mais da senhora e os outros podem pedir namoro para
29
quem quiser. Durante este processo, em cada etapa existe uma avaliação para ambas partes e,
se se notar um erro por parte da rapariga o rapaz nega casar com a mesma, vice-versa.
1.2 - OS TRAÇOS SÓCIO-CULTURAIS E HISTÓRICOS DAS COMUNIDADES.
1.2.1 - Alimentação e Vestuario
O prato típico da terra é a tradicional “ohita yombulungu” transformação dos grãos de
cereais e conservada no Esparta (Ombondo). Este é acompanhado por leite azedo (Omahini25
)
para além de outros condutos. Já actualmente utilizam fuba limpa (Osule26
). A Canjica
(Asola27
), o milho torrado (Olukango), são algumas formas de comer o milho. O milho fresco
(Epungu) é assado ou então cozido. Para os homens o pirão é servido no Ondjango onde cada
uma das esposas remete as refeições e cada senhor de um Imbo ou Aldeia, juntamente com os
filhos do sexo masculino fazem as suas refeições enquanto as raparigas comem com as mães
na cozinha.
Por tradição os homens não cozinham com o tipo de lenha chamada “elala”, porque segundo
a tradição reproduz artimanhas e caso alguém por engano utilize tal lenha na cozinha ou no
Ondjango, pode causar atritos ou separações nos lares e dificilmente se pode conseguir a
reconciliação. Na tribo Tchisandii, as raparigas trajavam Ombongola, e Otchikwapele às
senhoras casadas, ao passo que a tribo Sele trajava Epunda, e finalmente a tribo onano trajava
Okakonda. Os homens atavam pano à cintura, tronco nú e, calçando “olondindi”, sandalhas
feitas de borracha.
1.2.2 - Ritos de Iniciação/ a Evamba28
ou Ekwendje/ Passagem
As populações praticam naturamente os ritos tradicionais que geralmente os principais
períodos de mudanças entre os diferentes estádios da vida de o efeko e o ekwendje (festa de
puberdade e circuncisão, respectivamente, passado pelo casamento (olohwela)), óbito
(onambi) manifestações essas que a música, o canto e a dança constituem elementos
fundamentais. Para os Vambokoyo. O efeko não é bem praticado como nas comunidades
Vahanha, Vandombe e outras.
25
O h é aspirado.
26
Le-se ossule
27
Le-se assola
28
Circuncisão
30
A educação que é dada nas comunidades onde este rito é praticado, na qual as raparigas
permanecem algum tempo num lugar isolado, ao nível dos Vambokoyo esta educação é dada
ao nível familiar, isto é, mãe e tias da mesma. Só é praticado o ekwendje ou cincuncisão nesta
comunidade.
A circuncisão, que é, mais conhecida por ekwendje, tal como foi anteriormente referenciada, é
seguida pelo rapaz com idade compreendida entre os dezasseis e dezoito anos. Aqui também,
tal como já vimos com a festa ritual das raparigas, os rapazes são surpeendidos algures,
apanhados e encaminhados para os acampamentos ou lugar, que é previamente indicado, onde
se acha posicionado o ―cirurgião‖ com o seu canivete muitas vezes pouco cortante e os seus
respectivos ajudantes, homens musculosos e preparados para apoiar na sua actividade. O
papel desses homens é, de imobilizar os membros do corpo, a fim de evitar os possíveis
movimentos do indíviduo que é submetido à operação de circuncisão, movimentos esses que
possam criar dificuldades à operação que como já vimos, é dirigida pelo ―cirurgião‖.
Após o corte do prepúcio, os rapazes permanecem no acampamento entre quinze e trinta dias,
período durante o qual se submetem a curativos com folhas e outros medicamentos
tradicionais apropriados. Durante esse período permanecem nús, e a semelhança com a
cerimónia do efeko, são paramentados com um tipo de barro branco conhecido por otchikela
que, tal como é comum observar-se noutras circunstancias, serve para atrair as boas graças
dos espíritos que são portadores de bem-estar, contribuindo assim para a rápida e efectiva
recuperação do corte do prepúcio dos rapazes circuncidados, que no acampamento, os jovens
circuncidados são alimentados de carne de vaca que geralmente, é morto durante a
decorrência desse período de reclusão.
Depois de o ―cirurgião‖ ter considerado o conjunto dos onvindanda já curados e
completamente restabelecidos, é previamente escolhido um dia que, geralmente, calha num
fim-de-semana, em que os circuncisos são levados a tomar banho e depois vestidos de panos
novos cruzados e belas ―missangas‖, envergando osala29
à cabeça espécie de chapéu que é
confeccionado à base de ondengo e olosumu e transportam consigo um kamuti, que é, um
pequeno cassete cujos contornos são configurados por passagens rápidos no fogo sendo
enfeitados com cordas.
29
Le-se ossala (singular)
31
Uma vez banhados e vestidos, entoando as canções que aprenderam no acampamento durante
o tempo de reclusão, os ovindanda partem ao cair da tarde para o povoado ao local de festa,
comem, bebem e dançam. O ponto mais alto é quando, de modo empolgante interpretam e
dançam ondjando, um tipo de dança que aprendem durante o período de reclusão no
acampamento durante 90 dias.
Entre elemento de um mesmo grupo de circuncisos designam-se de ekula lyange, isto é,
companheiro de circuncisão. Os não circuncisos não se atrevem a passar por perto ou a cruzar
pelo acampamento em virtude dos maus presságios que a sua presença pode trazer. Correm,
por isso, o risco de serem severamente agredidos, já que sendo ainda portadores de ekwendje
ou esutu ―o prepúcio‖, não estão por isso preparados para casar. Nesta conformidade, este
vêm como única solução dos seus problemas a busca de parceiros para casar fora da sua
comunidade de nascimento, procurando-as no seio de outras sociedades no âmbito de grande
comunidade nacional umbundu, uma vez que, diferentemente dos Vambokoyo, embora a
prática da circuncisão ekwendje, ou a cerimónia de efeko seja seguida por alguns grupos, nas
sociedades umbundu da região central de Angola, não é rigorosamente observada por todos os
grupos que a integram.
Durante o corte do prepúcio (esutu30
), caso morra um dos rapazes decorrente do processo de
corte, não se dá conhecimento da ocorrênia à mãe, mas unicamente ao pai, por virtude de, a
sua qualidade de membro do sexo masculino, ter acesso ao acampamento dos circuncisos
(ovindanda). O falecido é enterrado no mesmo lugar onde sucumbiu. Porém, ainda que morra
por doença, apenas no dia do banho a mãe do jovem falecido tomará conhecimento que algo
de mau poderá ter acontecido com o seu rapaz, ao constatar a sua ausência durante a dança
final (akula) em que intervêm todos os circuncisos. Aperceber-se-á, igualmente, através das
canções que são entoadas e que referem geralmente o nome do jovem, ou dos jovens que
eventualmente, tenha ou tenham falecido.
No dia do banho, que insistentemente anuncia o fim do enclausuramento, os jovens
circuncidados aparecem vestidos de um pano atado na cintura caído sobre os pés (omaleko),
dois panos atravessados no peito (ombindikiso), ostenta na cabeça um chapeu feito de penas
de pavão (osala yo nduva), alguns chocalhos tradicionais que colocam nos tornozelos e que
30
Le-.se essutu
32
ajudam a ritmar e animar a dança num pequeno cassete trabalhado (kamuti), ou melhor
enfeitado. Enquanto curam as feridas os circuncidados são acampados num lugar denominado
de otchikandjo, onde não é permitido o acesso de rapazes não circuncidados. É no otchikandjo
onde aprendem a executar uma dança designada ondjando, que é sempre exibida na cerimónia
de encerramento da festa do ekwendje.
1.2.3 - O Namoro/Alambamento
Tudo começa no antigamente em que, segundo relatos do ancião Auxilio Carvalho actual
Regedor Municipal, os jovens iam em muitas festas, uma delas é de iniciação masculina ou
feminina, às grandes batucadas, aos casamentos e a noite se pretendiam.
Esta é a 1ª etapa ou fase: período exploratório, de conversa, de diálogo. Neste contexto
realça o ancião, havia jovens que tinham duas, três ou mais namoradas (Olombasi)31
,
mensalmente ele chamava uma delas (Okutumisa)32
, para passar a noite em sua casa, sob o
olhar atento dos seus pais e a família questionava quem é esta jovem, a que família pertence?
2ª Etapa ou fase: - período em que os noivos procuram conhecer-se, para ver se são feitos um
para o outro, saber falar e ouvir. Falar entre si, ouvir-se e ouvir os conselhos dos que podem
dar um juízo certo. O tempo do namoro deve preparar a aceitação do outro como é e não
como foi sonhado.
Quando o menino atinge a idade núbil, faz-se a selecção das namoradas, sem elas saberem, de
preferência a próxima da família ou que tenham o mesmo Otchihiko33
que pode facilitar a sua
integração na família e a apurada lhe é dado uma pulseira (Otchinunga ou Etakila) e mais
tarde uma cabaça (Otchipupu), cheia de Ongundi34
, significa eleição e esta leva a cabaça e a
entrega a sua avó ou tia (Wanoliwa)35
, Esta eleição é sinal de festa para a família da moça e ao
mesmo tempo se preparam para dentro de dias receberem os familiares do moço e fazerem
(Okulimolehela/Alambamento ou Okutambela)36
, é a fase do noivado.
31
Olombasi- Namoradas
32
Okutumisa - ritual de preparação, dialogo para casamento, conhecimento mútuo, sem relações sexuais
33
Otchihiko – Identificação sociocultural e familiar
34
Ongundi- cabaça pequena contendo manteiga de gado
35
Wanoliwa – escolhida, a eleita, selecionada
36
Okulimolehela/Alambamento ou Okutambela – apresentar-se, contacto entre duas famílias
33
Doravante, passa-se então para o período que é considerado por «namoro
oficializado., mas entende-se isso como um período em que os noivos deverão
evitar a prática do acto sexual, de modo a impossibilitar quaisquer decepções
ou contrariedades entre as partes, até que o casamento seja consumado e os
noivos passem à nova vida.
Durante o noivado são proibidas e absolutamente desaconselhadas as relações
prematrimoniais. Esta regra deve ser respeitada para o bem dos dois. A mulher deve exigir
respeito e o homem deve respeitar a mulher. O Tchisandji diz e é aceite ―o matrimónio de
prova não resolve nenhum problema futuro, aliás cria dificuldades porque a relação amorosa
pode terminar sem chegar ao casamento‖. Que direito tem o homem de possuir a mulher que
não será sua? E que dignidade tem a mulher que se oferece a um homem que pode abandoná-
la dum momento para o outro? Nestes casos onde está o amor? Sem amor total não é lícita
nenhuma relação matrimonial. ―O verdadeiro amor requer sacrifício e renúncia‖37
.
3ª Etapa ou fase: Feita a okulimolehisa/alambamento ou okutambela, segue-se o passo dos
preparativos para o casamento (Okukwela), chegado o dia, a família do noivo envia um
senhor, de preferência tio do noivo, que leva uma zagaia com uma ou duas flechas, um
menino que leva OmbwetI38
que significa valentia, força para proteger a futura esposa e uma
menina que leva Etamila39
contendo otchisangwa tchombundi e uma galinha; de igual modo
nesta cerimónia são apresentados: óleo de palma, oponda, caixa de fósforo, chapéu e roupas,
que mais adiante vamos pormenorizar. Chegados em casa da família da noiva procede-se a
saudação habitual, os familiares encontrados interrogam aos visitantes sobre
as causas dessa deslocação: A esse resumo descrïtivo de situações designam -
se Ulonga40
.
37
COLOMBO, Dalmazia; ECONOMIA DOMESTICA “A MULHER NO SEU LAR‖ed Paulinas, 2000, pag 37.
38
Ombweti – cassete, pau próprio trazido pelos idosos.
39
Etamila - tigela feita de palha.
40
Ulonga - Após a saudação, serve de rreellaattóórriioo iinnddiissppeennssáávveell nnaa rreellaaççããoo ddiiáárriiaa eennttrree vvaammbbookkooyyoo;; É a resenha de
tudo. Acontecimentos vividos durante a noite, o dia, no espaço de horas… sinal de comunhão, convivência,
sociabilidade e de partilha.
34
1.2.4 - Significado dos artigos que se doam no “okulomba” / Alambamento - Os artigos
abaixo apresentados não têm preços, são simplesmente simbólicos.
Galinha ou ovo – sinal de pureza, virgindade, inocência, razão pela qual nunca se usa o galo.
Óleo de palma ou azeite – serve para Okupyola, ou Okulembula - significa tirar espíritos
maus, (ofela); é o rito de purificação. Significa tambem tirar espíritos maus, através da
utilização de óleo de palma ou imolação de um animal ou ave; «Para o bantu, o sangue é o
veículo primordial da vida. Assim derramá-lo sacrificialmente significa ofertar o que há de
mais valioso, comunicar-se por um veículo participável, aniquilar-se religiosamente para
recuperar em troca uma vitalidade maior, suprir a exigência ou fervor pessoal e comunitário
de se imolar, descarregar a culpabilidade, conseguir um favor, comungar no invisível»41
Símbolo de chamamento, escolha, eleição, glória, ternura, purificação, bênção, protecção,
defesa, poder, tomada de posse, fortaleza, robustez, harmonia, pacto, aliança, consagração,
fidelidade, unidade, reconforto, reconhecimento, felicitações, envio, missão, sencibilidade,
protecção contra maus espíritos e maus olhares) contra a inveja, boa sorte, fertilidade,
fecundidade, unção do corpo, pés, tornozelos, mãos etc. Para lutar contra o mal.
Dois panos – okutchita okuveleka, sinal de respeito pela mãe que nasceu e cuidou da filha
desde tenra idade até à idade adulta.
Oponda “uvya”42
. – Respeito pela mãe que gerou a filha/noiva; após o parto é costume a mãe
parturiente amarrar o pano na barriga, este pano aí é reposto.
Chapéu – responsabilidade, autoridade, sinal de honra.
Garrafão de vinho – Sinal de partilha, banquete, refeição, convívio.
1 Litro de aguardente – se o litro for apresentado fechado é sinal de que a noiva casou-se
virgem e caso contrario o litro é levado aberto.
41
Cfr, ALTUNA, Pe. Raul Ruiz de Ansúa: Cultura Tradicional Bantu; 2ª ed., Paulinas, Luanda, 2006, p. 490.
42
Cinto
35
Caixa de fósforo – Simboliza a conservação do fogo, dignificar (OOnnddaalluu)) –– qquuee ttaammbbéémm éé
ssaauuddaaççããoo uuttiilliizzaaddaa ppaarraa ssee ddiirriiggiirr ààss ppaarrttuurriieenntteess oouu aaoo sseeuu mmaarriiddoo,, oo qquuee ssiiggnniiffiiccaa qquuee ooss ddooiiss
gguuaarrddaarraamm oo ffooggoo;; eemm UUmmbbuummdduu oonnddaalluu éé ffooggoo ee OOlloonnddaalluu éé pplluurraall ddee ffooggoo,, ――mmaallddaaddee‖‖;; uumm
hhoommeemm qquuee tteemm aa eessppoossaa ccoonncceebbiiddaa,, ssee ffaazzeerr rreellaaççõõeess sseexxuuaaiiss ccoomm aa oouuttrraa,, sseegguunnddoo aa ttrraaddiiççããoo
pprroovvooccaa aazzaarr oouu sseejjaa,, pprreessuummee--ssee qquuee aa eessppoossaa vvaaii eennccoonnttrraarr ddiiffiiccuullddaaddeess aaoo ddaarr àà lluuzz,, ccaassoo
nnããoo hhaajjaa iinntteerrvveennççããoo aapprroopprriiaaddaa,, aa ppaarrttuurriieennttee ppooddee aaccaabbaarr ppoorr mmoorrrreerr ee ddiizz--ssee wwaaffaa
ll´´oolloonnddaalluu.. SSeegguunnddoo RRaauull AAllttuunnaa,, ――éé ccrreennççaa ccoommuumm qquuee oo aadduullttéérriioo ccoommeettiiddoo dduurraannttee aa
ggrraavviiddeezz ppoorr aallgguumm ddooss pprrooggeenniittoorreess,, ppooddee ttrraazzeerr ttaarraass ee aattéé aa mmoorrttee ddaa ccrriiaannççaa.. AAss
ddiiffiiccuullddaaddeess nnoo ppaarrttoo ccoossttuummaamm aattrriibbuuiirr--ssee,, qquuaassee sseemmpprree,, aass rreellaaççõõeess sseexxuuaaiiss pprrooiibbiiddaass ((……))
ssee oo ppaarrttoo ssee ccoommpplliiccaa,, ddeevvee aapprreesseennttaarr--ssee oo ppaaii ee ccoonnffeessssaarr ooss aadduullttéérriiooss ccoommeettiiddooss.. TTaammbbéémm
aa mmuullhheerr ddeevvee ccoonnffeessssaarr aass ssuuaass aavveennttuurraass aammoorroossaass.. SSee aass ddiiffiiccuullddaaddeess ccoonnttiinnuuaamm,, cchhaammaamm oo
aaddiivviinnhhoo--ccuurraannddeeiirroo‖‖4433
Esses passos narrados no presente trabalho, vão culminar no casamento que pode ser:
aa)) CCaassaammeennttoo TTrraaddiicciioonnaall oouu uunniiããoo ddee ffaaccttoo nnããoo rreeccoonnhheecciiddoo ppeelloo eessttaaddoo nneemm ppoorr
qquuaallqquueerr iiggrreejjaa..
bb)) CCaassaammeennttoo CCaannóónniiccoo oouu rreelliiggiioossoo// CCaassaammeennttoo ssaaggrraaddoo
cc)) Casamento Civil ou União de facto reconhecido pelo estado ―UUnniiããoo ddee ffaaccttoo
rreeccoonnhheecciiddoo,, ppaassssaa ppeelloo ccóóddiiggoo cciivviill ddoo EEssttaaddoo‖‖..
O matrimónio é um assunto complexo em que os aspectos económicos, sociais e religiosos
estão por vezes intrinsecamente misturados que não se podem separar… para nós, africanos, o
matrimónio é o centro da existência. É o lugar de encontro de todos os membros de uma
comunidade: os defuntos, os vivos e os que ainda vão nascer. Todas dimensões do tempo
convergem para aqui, o drama repete-se na sua totalidade e recomeça dotado de uma nova
vida.
O casamento, desenvolve-se ao longo dum processo dinâmico prolongado e realizado por
símbolos, ritos e pactos que tenta e consegue situá-lo na sacralidade como realização
religiosa, e, no social, jurídico e económico, como instituição legal fundante e responsável. Os
caminhos do casamento são diversos, na África negra, tal como os usos e costumes
43
ALTUNA, Pe. Raul Ruiz de Ansúa,op cit pag. 274-75.
36
matrimoniais ou o valor da virginidade. Mas em todos os grupos aparecem algumas
constantes e uniformes, uma base originante comum… o casamento fundamenta uma aliança
entre grupos, ou seja a mulher e o homem, introduzidos pelo matrimónio no novo grupo,
reforçam a amizade e as alianças entre as famílias, clã, tribos e reinos amigos, ou inauguram-
nas se são estranhos, indiferentes ou hostis. Esta aliança, entre dois grupos, constitui o seu
valor social e político primário e mais profundo… o casamento assegura dois aspectos
impreteríveis: a fencundidade-prolongamento e a aliança-coesão social do grupo. Os cônjuges
são responsáveis para que dois grupos se consolidem, intercomuniquem ou inaugurem
amizade44
».
1.2.5 - O casamento
Celebram o casamento antecedido de uma festa popular para os rapazes de qualquer idade, e
das raparigas dos doze anos, cerimónia essa que é tradicionalmente conhecida por ekwendje e
efeko, isto é, nas comunidadesVahanha, Vandombe e outras, enquanto nas comunidades dos
Vambokoyo apenas subsiste o ekwendje.
Como se observa em outras sociedades, o matrimónio é um longo processo no qual intervêm
inúmeros actores sociais e respectivos grupos. Pode dizer-se que esse processo tem início
quando um qualquer jovem comunica aos seus pais o desejo de se casar. Após isso, os pais
seleccionam os grupos, entre familiares e ukwatchisoko (com os quais tradicionalmente
realizam casamentos) que possuam raparigas solteiras. Depois de estudadas as possibilidades,
e depois de previamente ter sido escolhido o outro grupo, envia um emissário que vai levar a
notícia aos pais da rapariga. Em seguida, acompanhado de uma rapariguita, parte um
indivíduo levando consigo uma zagaia. Postos em casa da noiva, o emissário anuncia: ―ndeya
okupa enhañga lombi”, o que quer dizer (vim em busca de apanha folhas de mandioca),
sugerindo tal expressão que essa tarefa está reservada às donas de casa. Em seguida, a mãe da
noiva prepara uma kimbala, que é banhada de manteiga de okulembula ohondji, devendo a
rapariguita acompanhante passar tamnbém por esse processo.
Ao entardecer, levam consigo a noiva e a zagaia humedecida de volta, acompanhada de uma
outra rapariguita (ombelekela), que tem a função especial de dormir na mesma cama com a
44
Ibidem, p.300- 301
37
noiva, não no meio mas atrás da noiva. Sua presença talves seja mais para efeitos de dissuasão
do que qualquer outro, pensando-se que estando lá dará maior controlo aos futuros nubentes,
e, possivelmente, evitará o contacto sexual. Na altura da partida a mãe recomendar-lhe-á:
kavete kukaipaye pomuenho wipo.‖ Vá, castigue mas não mate, porque aonde há vida e
melhores oportunidades, mais sensibilizados devemos ficar… Por sua vez, o emissário
responde: ame ndikaveta pomwenho ndipo, isto é, vou batê-la mesmo, não para matar, mas
com o intuito de a educar‖. Devidas as diferenças e semelhanças existem hábitos e constumes
praticados pelos Vambokoyo, mas os Vahanha, vanganda, Vandombe não praticam e vice-
versa.
Uma vez postos no lugarejo, tem então início a festa que é organizada pelos pais do noivo.
Uma semana depois, a noiva regressa para a residência dos seus pais, onde deverá pemanecer
durante cinco dias, para depois retornar ao novo lar, desta vez levando já consigo os seus bens
e um grande porco (unemba). A oferta desse animal parece ser feita por determinados
membros de sua família que são desiganados para o efeito. Geralmente, essa oferta é da
comptência dos tios da rapariga, e nestes casos diz-se okalia viahe, o que equivale a dizer. É a
vez da festa dela. Ainda relativamente ao casamento, no dia estebelecido para a apresentação
da rapariga, é designado o tio ou primo do noivo que se desloca em companhia do rapaz para
conjuntamente com os pais da rapariga darem vazão a este acto de grande importancia para os
grupos e famílias intervenientes.
Depois da saudação habitual, as famílias encontradas interrogam aos visitantes sobre as
causas dessa deslocação ―nhe tchakwimbi mondjila?” Na resposta, começa por intervir a
pessoa que é responsável do grupo que chega, que expõe em breves palavras as razões da
vista. Porém, a sua exposição é geralmente antecedida de uma informação geral a situação
social da família ou da comunidade a sua explanação dizendo: vipwilapwila mokusapela,
kavipwilapwila mulonga. A esse resumo descritivo de situações designam ulonga. Traduzindo
as suas palavras percebe-se que este quis dizer que os assuntos não se esgotam em resumos,
porém, ao longo da conversa e do diálogo entre partes. Terminada a explanação do
representante do grupo visitante é a vez do tio da rapariga que, do mesmo modo, faz a sua
explanação. Finda a primeira parte da cerimónia, segue-se então a conversa que incide mais
exactamente nas questões da futura união dos dois jovens.
38
Na presença do jovem o grupo visitante declara a sua afeição e satisfação por conhecer a
rapariga e a vontade de integrá-la na sua família. No entanto, na ocasião em que isso ocorre, a
rapariga não está presente, ela fica de certa forma distanciada do local, aguardando pela
chamada da sua família. Uma vez chamada ao lugar das conversas, a rapariga é interrogada e
chamada a explicar se de facto, já conhece o rapaz e se gosta dele. Cabisbaixa, quiça por
receio ou por vergonha, em geral ela prefere não dizer nada e permanece silenciosa até que a
família conclua que o seu silêncio é um sinal positivo e pressupõe aceitação táctica. Em caso
contrário, ela responderá negativamente e dirá mesmo que não quer nada com esse rapaz.
A partir do momento em que as partes constatam que há acordo, ambas atarefam-se a dar
conselhos para o futuro casal. Explicam como ambos se deverão comportar durante o namoro,
incidindo mais gas suas observações e ensinamento para o respeito a ser observado entre os
futuros nubentes e para a estreita fidelidade no casamento. Em seguida, festejam alegremente
o acto, comendo e bebendo. Doravante, passa-se então para o período que é considerado por
―namoro oficializado‖, mas entende-se isso como um período em que os noivos deverão
evitar a prática do acto sexual, de modo a impossibilitar quaiquer decepções ou contrariedades
entre as partes, até que o casamento seja consumado e os noivos passam à nova vida.
No dia estabelecido para o casamento, a família do noivo (tio ou primo acompanhados de uma
tia ou prima), deslocam-se à casa dos pais da família da noiva, sendo daí encaminhadas para a
casa do tio, irmão da mãe, onde, por norma, tudo decorre. Levam consigo a oferta do
casamento, que geralmente é composto por um chapéu (capacete), um casaco, uma camisa,
uma calça, um par de sapatos, tudo isso para o pai da noiva; um lenço de cabeça, um
quimone, um ou dois panos e um par de sapatos, para mãe da noiva; e ainda, um garrafão de
vinho tinto fechado com capacete (cobertura de cal com a qual antigamente vinham cobertos
os garrafões dos melhores vinhos). O grupo referenciado é recebido com um excelente
banquete que foi propositadamente preparado. Após à refeição, segue-se a narração do dia do
casamento que, de preferência, deverá ocorrer no fim-de-semana seguinte. No dia aprazado,
um grupo da família da noiva comoposta pelo (a) tio (a), primo (a), incluindo uma rapariga
preparada conduz a noiva à casa do noivo, devendo aí chegar mais ou menos ao anoitecer,
facto que é conhecido por wakalya vyulume, traduzido literalmente significa que ―foi comer
os do homem‖.
39
É assim que, no geral, se conhece como se desenrola uma verdadeira festa de casamento, que
decorre ao sabor do batuque (oñgoma), da música (epwita) e de outras danças, que durante
toda a noite faz vibrar toda a comunidade submetida à clareza da lua (osãyi45
) e das estrelas
(olombungululu, singular, olumbungululu); ou de uma grande fogueira, quando osãi está
escondida algures no oceano ou quando as olombungululu não reproduzem a iluminação
suficiente e necessária de modo a permitir a percepção desejada entre os presentes.
Uma semana depois, a noiva já na condição de esposa, volta ao seu lar de infância e
adolescência, a fim de apanhar os seus bens. Cabe à família do rapaz acabado de casar levá-la
de volta a tornar a ir buscá-la num dia aprazado previamente para o seu regresso. Além dos
seus bens, a noiva traz consigo um grande porco (unemba), que lhe foi oferecido pelo seu tio,
aquele a quem coube a honra de conduzir à cerimónia de casamento e de a entregar à família
do rapaz. Esgotados os dias combinados, período que pode durar até uma semana, a família
do rapaz faz deslocar duas pessoas, sendo um tio e ou um primo e uma irmã, com objectivo de
trazer de volta a rapariga recém-casada. O porco é abatido na presença dos familiares mais
chegados.
Casamentos há que são realizados fora da iniciativa dos dois jovens, ocorrendo unicamente
por vontade dos familiáres que, em determinado momento, estabelecem um acordo que
vinculada a vontade dos dois grupos, de estreitar laços duráveis entre si, através do casamento
de seus filhos. Comumente, a iniciativa parte dos pais do rapaz, que demonstram o desejo de
partilhar laços de amizade com uma determinada família ou grupo, localizada aí uma rapariga
que é julgada bem comportada e trabalhadora, duas qualidades fundamentais, e escolhem-na
como candidata para futura nora, isto é, futura noiva do filho destes. Neste caso, depois de ter
ficado tudo acordado entre as duas famílias estas, tudo farão no senitdo de influenciar os
filhos sobre as vantagens dessa união, atraindo-os desse modo para um casamento de
conveniência entre ambos os grupos.
Casos há em que o rapaz depois de atingir uma certa idade, manifesta-se junto dos primos ou
de uma das tias que se sente mais próximo, a sua vontade de querer começar a namorar,
exemplo que pede que lhe arranjem uma namorada. Tanto a tia como os primos são os
membros da estrutura social com os quais este revela os seus segredos ou necessidades.
45
Le-se ossâyi
40
Quanto à descendência temos a dizer que os Vambokoyo designam Uveli ou otchiveli ao
primeiro filho, que toma o nome do pai ou da mãe do marido, de acordo o sexo, etc., isso
denominam de sando yange, isto é, meu ―xará‖. Caso se constate que o nome dos pais já
tenha sido atribuído aos filhos primogénitos, os rebentos que se seguirem receberão nomes
que são resultantes de pesquisas efectuadas junto dos parentes. Normalmente, só a partir do
terceiro filho, ou talves mais conteplam a família da esposa.
Para além do nome que a criança recebe dos pais, muitas vezes ela recebe um ―nome de casa‖,
nome que é dado em fução do dia de semana em que nasceu. Sikunda, para os nascidos na
segunda-feira, Kinda, para os nascidos na quinta-feira, Sapalo e Lumingu, para os que tenham
nascido num dia de sábado ou de domingo, respectivamante e assim sucessivamente.
Em algumas comunidades, tais como a Kimbundu, Cokué46
ou outras, por morte de um
indivíduo casado, é norma verificar-se a entrega da esposa do recém-falecido a um dos seus
irmãos, de preferência o mais novo, procedendo-se assim no sentido de dar continuidade à
educação dos filhos nascidos do casal. Os Vanganda rejeitam esse tipo de procedimento e não
permitem que isso aconteça. Antes pelo contrário, não só não permitem tais hábitos como
estarão prontos a combaté-los energicamente.
Na sociedade Mbokoyo, estadando-se perante um acontecimento trágico como a morte, depois
de ter decorrido um ano de luto e de terem sido cumpridos os rituais que geralmente dão lugar
nessas ocasiões, a nubente sobrevivente estará livre para voltar a contrair um novo casamento.
Entretanto, os lanços entretecidos com a família do falecido ou da falecida continuarão,
sobretudo quando se verifique que o casal deixou filhos. Estes permanecerão com viúvo, ou a
viúva, consoante for o caso, ou então, com um tio ou com os avós, dependendo das
capacidades económicas e sociais das partes e dos acordos que poderão ter lugar nessa
ocasião.
Em muitos casos, por virtude da sucessão kuso, os bens existentes até à altura da morte de um
dos nubentes, são declarados bens dos sobrinhos, filhos da irmã do marido; há circustâncias
em que tais bens ficam mesmo com os filhos do casal. No entanto, todos os procedimentos
estão sempre dependentes da compreensão e entendimento entre as famílias.
46
Le-se Tchókwe – essa grafia Cokué é mais utilizada pelos evangélicos que tem a sua origem na fonetica latina.
41
1.2.6 - A poligamia, o adultério/ukohi e o divórcio
A poligamia (oluvale), é permitida entre os Vambokoyo, a tal ponto que as diferentes
mulheres podem viver no mesmo Imbo, (ajuntamento residencial, povoado, aglomerado). No
entanto, cada uma delas residirá na sua própria casa, com os seus filhos. Muitas vezes, um
segundo casamento não ocorre pelo simples desejo do marido; observa-se que esta prática
poderá ser reforçada através de um pedido da primeira esposa que, uma vez acomodada e já
com os filhos, começa a sentir-se cansada com os trabalhos de casas e com a produção
exterior, na sua lavra, acabando por manifestar o desejo de ser coadjuvada por uma outra
mulher, sem contudo perder a liderança económica e social do seu segmento residencial no
Imbo. Por outra, o homem arranja a segunda porque a primeira não reproduz ou com ela não
há entendimento ou pelo gosto da poligamia. Em geral os homens casados com duas ou mais
mulheres são ateus, pois, as igrejas contemporâneas condenam essa prática de forma drástica,
mesmo sabendo que a poligamia é para os autoctones, símbolo de riqueza e poder.
O adultério, okulweya ou okulweyisa, acontece nesta sociedade quando alguém é descoberto
em flagrante delito, já que, deste modo é considerado delito e é feita a merecida justiça na
ombala (sede, lugar onde reside a estrutura política máxima, ou osoma47
, ou ―soberano‖ ou
―chefe‖, no sistema do poder tradicional entre os Ovimbundu), onde o prevaricador deverá
vir a ser condenado, e nessa condição, ser-lhe-á exigido o pagamento da respectiva multa,
designada por ukohi. Nestas situações o ukohi é diferenciado; no entanto, o prevaricador
poderá ser levado a pagar uma multa de um ou dois bois que como se sabe, são animais
prestigiados pela sociedade e de custos elevadíssimos.
Entretanto, a norma que serve de lei é bem clara e não é permitido o pagamento por mais de
uma vez (isto é, que a causa seja uma mulher que já tenha passado anteriormente por litigio
semelhante), porque, só se considera que há engano uma vez. Contudo, se forem obveradas
outras ocorrências de adultério praticados por mesma mulher, tal revelará uma evidente falta
de seriedade da sua parte. Esse procedimento irresponsável poderá resultar no divórsio
(okunhalã), de que falaremos mais adiante, ou então, esta terá que suportar o peso e a
sociedade, pois a tendência para todos os casos onde intervém o pagamento da multa ukohi,
acaba sempre por ser de conhecimento de todos, segundo a qual, se verificou a continuidade
do adultério. Como se isso não bastasse, em casos de intrigas, os animais pagos como
47
Le-se Ossoma
42
indemnização dos adultérios praticados anteriormente, acabam muitas vezes por ser
reclamados pelo adultério, que alegam como sendo graças a ela (a mulher adúltera) que o
marido é possuidor do gado x, y ou z, acabando por irritar não apenas o seu marido enganado,
como também os demais membros da família deste.
O divórcio, okunhalã, é permitido entre os Vambokoyo e pode ser promovido por qualquer um
dos nubentes, o homem ou a mulher, ou ainda pela família deste, nomeadamente pelos tios
maternos ou pelos pais deste ou desta. A interferência da família surge quando o casamento
atinge uma situação inesperada como por exemplo, quando depois de passados dois ou mais
anos, o casal não tem filhos, e sobretudo quando, nesse mesmo período de tempo os irmãos
casados com outros maridos já tenham tido filhos. Convém notar que nas comunidades
africanas, os filhos da irmã representam uma grande riqueza para os irmãos. Por essa razão,
são sempre os irmãos da mulher casada os que precipitam as coisas de modo a levar a mulher
a pedir o divórcio ao seu marido.
A mulher divorciada, estando livre e independente do marido, volta para casa dos seus irmãos.
Caso pretenda contrair novo matrimónio, o novo pretendente terá de restituir o dote do
primeiro casamento da senhora. Consequentemente, se a restituição do referido dote é
efectuado, a mulher divorciada poderá manter-se com os bens que foram comprados durante o
primeiro casamento. No caso em que a mulher venha a divorciar-se do segundo marido por
esterilidade, o primeiro marido poderá reavê-la se a quiser, pedindo indeminização à família
que o acusou de esterilidade, por cosntituir ofensa grave. Finalmente, pode ocorrer o divórcio
de um casal que já tenha filhos. Neste caso particular, a mulher perde o direiro de custódia
sobre os filhos, excepto quando estes ainda são pequenos.
1.2.7 - Onganga e a função do Tchimbanda
A ―Feitiçaria‖ entre os Vambokoyo, estrutura-se em duas formas: uma defensiva e outra
ofensiva48
. A ―feitiçaria‖ defensiva consiste no descobrimento da origem do mal que, à
partida, afecta o homem, o animal e ou os fenómenos de carácter natural. Para esse tipo de
manifestação está presente o curandeiro, que é mais conhecido por otchimbanda, que através
de sonhos parte em busca do conhecimento e da verdade. Através de tais procedimentos, estes
48
GUEBE António; O que aprendi no Otchoto,2003,pag.98.
43
especialistas são susceptíveis de entender as causas do mal que afectam qualquer doente.
Vísceras de determinados animais, como por exemplo, o de uma galinha ou cabrito, são
utilizadas para a tarefa da busca. Nesta conformidade, o otchimbanda vai-se aproximando da
realidade da vida do solicitador da advinha, recebendo aplausos como sendo,… otchili…
otchili!49
... Após o processo da advinhação, segue-se a medicação com raízes que são
procuradas e encontradas na mata.
A ―feitiçaria‖ ofensiva é a mais delicada e também a mais temida, sendo exercida pelos
―feiticeiros‖ (olonganga) propriamente ditos. A essas práticas recorrem pessoas com intenção
de fazer o mal a outrem. Por isso, através dos olonganga pode se organizar a eliminação física
de qualquer indivíduo, através de distintas práticas, tais como a colocação de venenos ou a
organização de armadilhas (otala) nas passadeiras, portas de casas, travessias de riachos,
encruzilhadas de caminhos, etc., práticas que têm levado a morte à muita gente.
Ainda neste âmbito da feitiçaria encontramos curandeiros de casos especiais, como é o caso
de otala que, apriori, realiza tratamentos sob indicação do advinhador ou do praticante do
mal, deixando ficar bem claro a sintonia existente entre eles. A existência de uma determinada
sobrevivência do outro, assim dizia o ―mais velho‖: uteke vatchita ondjaki hatcho vatchita
ulemeli, isto é, ―confusionista e o apaziguador agem em simultâneo‖. Temidos, os
―feiticeiros‖ passaram a constituir um alvo a abater, pelas administrações coloniais e,
sobretudo, pelas estruturas das igrejas contemporâneas (católica e evangelica).
1.2.8 - Rituais Fúnebres
Óbitos dos bebés - Óbito é um momento de tristeza que acontece quando um membro de
uma família (epata) de um osongo50
e Imbo desaparece eternamente no seio deles por razões
de vária ordem como doenças acidentais, suicídios, etc. Nos ovimbundu em geral e nos
Vambokoyo em particular, este momento é acompanhado de uma cerimónia que se observa
durante uma semana ou mais dependente da economia que o morto possuia antes da sua
morte.
49
Em verdade, em verdade.
50
Le-se ossongo
44
Para os Vambokoyo o óbito divide-se em cinco partes, nomeadamante, o óbito dos bebés, dos
gémeos, albinos, suicídios e de adultos, descritos da seguinte forma. Pactuando com a ideia de
como a morte se realiza, o rito supremo de passagem como resultado de um processo que
arrancou do nascimento, ela torna-se também uma instituição com certa singularidade que
consiste num papel relevante do elemento religioso na sociocultura de cada comunidade.
Mas o mesmo não se dá com a morte de um bebé que não tenha sobrevivido durante o parto
ou falecido semanas depois. Por se tratar de menor importância, não se realizam quaisquer
cerimónias deixando toda a responsabilidade às mulheres que acompanham o processo de
nascimento que por seu turno realizam o funeral no mesmo dia tão logo que elas se
disponibilizam, sem caixão e fora do cemitério comunitário escolhendo geralmente lugares
mais ou menos exóticos entre entrocamentos ou cruzamentos de caminhos. Para os
Vambokoyo óbitos deste género escolhem lugares especiais como atrás de casa de quem já lhe
faleceu bebé.
Óbito dos Gémeos - O tratamento que se dá ao óbito dos gémeos com algumas semanas de
idade é diferente de qualquer bebé. Póis, havendo um sobrevivente, é afastado do local onde
se encontra o defunto. A mãe fica interdita a qualquer manifestação de emoções e para que o
sobrevivente não se aperceba da morte do parceiro, improvisa uma boneca para fazer-lhe
companhia em cobertura do falecido durante algum período. E para os Vambokoyo não
improvisam mantêm silêncio.
Em relação aos óbitos dos albinos - O albino é considerado pela tradição como um problema
identificável nas relações entre as comunidades vivas e as não vivas. Numa família só nasce
albinos por castigo que acontece quando os espíritos ficam descontentes com a conduta social
dela pelo que é penalizado. Para evitar que a família afectada não sofra a exclusão social,
nega-se a vida aos albinos (matá-los) tão logo que em parto sejam identificados. As parteiras
têm o dever moral de sacrificá-los e declara-se em parto sem êxito.
Embrulhados num pano como qualquer bebé morto é mergulhado no rio antes de amanhecer e
ninguém saberá que teve um albino. O importante é o insucesso do parto. O indicador desta
prática é a reduzida presença de albinos no seio rural. Entretanto, quanto mais Cristã se
assume uma comunidade, menos homicídios de albinos recém-nascidos se pratica. Em casos
45
deste tipo, tem que haver muito secreto, se alguém denunciar pode se repetir a dar luz cada
vez que matarem até quando houver um albino de vida.
O Óbito de suicidas - Não há cerimónias admiráveis para suicídas. Mobiliza-se um pequeno
grupo de homens hábeis para o funeral a realizar-se no local do acontecimento. Neste caso,
para o funeral cava-se um buraco debaixo da árvore onde acontece e corta-se o fio usado para
o enforcamento para o corpo cair directamente no buraco e colocam-lhe a terra até formar um
túmulo. Se for dentro de uma casa, o cadáver é dado uma carga de purrada antes de ser
colocado no cachão. Em alguns casos, dependendo da possibilidade, fabrica-se uma caixa a
partir de uma árvore ―ondjakayaka, onenge” muito faceis de talhar a partir do local. O
tratamento que se dá ao suicida tem carácter educativo promovendo o desencorajamento aos
demais membros da comunidade.
Em relação aos óbitos normais de adultos - É de facto muito exigente e mais completo, pois
a morte parece mais observada em todas as comunidades não pelo elevado índice de
mortalidade que na actualidade se regista mas porque nela estão envolvidos determinados
valores éticos e morais, pelo que, é de responsabilidade comunitária. Com a multidão
aglomerada em casa do defunto desde o início do plano, a cerimónia em geral decorre num
período de tempo correspondente a uma semana, em que a casa enlutada matem-se aberta e o
suficiente para exprimir toda dor.
À semelhança dos hábitos e costumes de muitos povos vizinhos, as cerimónias realizam-se
acompanhadas com sacrifícios de animais, comidas e bebidas locais.
Tudo dependente da dimensão do óbito: touro, para os (ricos) criadores de gado, cabra ou
porco e canjica para os agricultores; a banana para as comunidades litorâneas assegura o
potencial logístico. Toda a logística é compartilhada como também os participantes são
obrigados a comer tudo o que for feito.
1.2.9 - Constituição do Poder Tradicional (osoma e seus colaboradores)
O poder tradicional é constituido da seguinte forma:
1º O Soba (Oñgala);
2º Onana (Inakulu) esposa do Soba; (primeira dama);
3º Mweletunda (substituto de Oñgala na sua ausência);
46
4º Kesongo I (O homem da justiça);
5º Kesongo II (chefe das milícias);
6º Ukwahamba (Filho do soba que na ausência de Oñgala junto trabalha
com Mweletunda);
7º Kalei (O homem pelo controlo da elunga. Na ordenação de Oñgala
amarra-lhe o elunga nas costas com um nó no peito. Durante a cerimónia de ordenação
do soba, o Kalei, o ordenado e sua esposa ficam deitados na cama e o Kalei no meio
deles controlando o elunga para ver se cai quando o Kalei tentar fazer uma simulação
à esposa do soba. Se o Soba se mexer durante a tentação de simulação e desamarrar o
nó e o elunga cair na cama, o Kalei apanha e o soba perde o poder de ser ordenado. E
caso não tiver caído o soba ganha o poder e constitui a direcção. Este era o primeiro
método.
Entre os ovimbundu em geral e os Vambokoyo (vatchisandji, valumbu, vasele e vambelekete),
em particular, para ser soba é preciso ser aceite na comunidade, receber a legitimidade
comunitária, constituida pelos vivos e os não vivos, tendo em conta os aspectos influentes
como eloquência coesão, perícia e os que concorrem na substituição do soba após a sua morte,
são levados pelo kalei um por um num quarto e amarra-se-lhes amarrados nas costas o elunga
perdendo o direito da ordenação quem-se sentir queimado. Só o poder é ganho por aquele que
não se sentir queimado durante os minutos determinados.
Existiam três tipos de elunga tais como:
De bronze (lyo ngula);
De prata (lye pembe);
De bruto (litekãva).
O soba possuía instrumentos de poder denominados em umbundu “Elunga”, que é um báculo
tradicional e a Bengala é denominada em umbundu “Epanguty”.
47
• A Ombala é entendida como capital, cujo status de ordenamento habitacional pode significar
uma cidade. Por ter também a função de sede político-administrativa designa-se por Elombe,
pois, nela, estão contidas as instituições dos Poderes soberanos da ordem tradicional.51
• Imbo ou Ovambo no plural e corresponde com aquilo a que se designa desde a chegada
portuguesa, por aldeia (s). O Imbo, que equivale a povoação, aldeia, mas que representa um
aglomerado de indivíduos, é uma comunidade que pode compor-se de uma ou mais famílias
alargadas. É um centro territorial colectivo que representa o modo primogénito estável de uma
comunidade de inserir-se no espaço, é também uma comunidade de bens colectivos que
possibilita a realização das primeiras funções económicas, e tem uma personalidade própria à
semelhança da família, o que se manifesta, em primeira mão, a partir do próprio nome, que
surge em analogia ou ao fundador ou às complexidades naturais que envolvem o lugar.
• Osongo52
ou Olosongo, são as estruturas básicas do contexto de organização tradicional dos
Estados Ovimbundu que se estendem entre as actuais províncias do Bié, Huambo, Benguela e
Kuanza Sul.
• Alunda, espaços que tenham sido vividos e trabalhados no passado, são património cultural e
demitem qualquer tentativa de analogia à parcelas em pousio ou Otchipembe, cujo significado
é, somente, parcelas de reserva para o exercício agrícola. Alunda vão dispor-se dentro do
território que constituem os limites do Estado. Porque na perspectiva africana vitalista, ―não
há lugar para o completamente inerte e não existe o vazio‖. Eis que os ovimbundu não
acreditam no nada absoluto, ou seja, em negar o ser‖. ―Wakula kakalisuluvike lowanga,
Owanga wahe - o adulto não pode temer o feitiço, porque já o tem‖»53
.
Morte e entrramento de um osoma - Quando morre um Osoma, a ocorrência é ocultada à
população que integra a comunidade do chefe acabado por falecer. Por necessidade
conjuntural é apenas informado a comunidade que o seu Osoma está muito adoentado
exceptuando porém os funcionários da Ombala real. Outrora logo após o último suspiro do
51
MANUEL Tuca; A Terra a Tradição e o Poder (uma contribuição ao estudo Etno Histórica da Ganda), ed.
KAT-Formação e consultoria,2oo4,pag 26
52
Lé-se Ossongo (singular)
53
MANUEL Tuca op cit, 2004, Pag 37.
48
Osoma, era o cadáver suspenso no tecto de um quarto apropriado. O seu corpo aí ficava por
cerca de dois meses e meio ou três, seguindo um processo normal de decomposição do corpo
até verificar-se a separaçãototal da cabeça do resto do corpo, passando para um processo de
limação com uma corda no pescoço. No chão, logo debaixo do corpo suspenso, é colocado
um vaso para recolher os vermes que vão caindo do cadáver em putrefação e que irão depois
ser enterrados conjuntamente com o corpo inerte. Mas isso só poderá acontecer após à
separação da cabeça do corpo. Após esse acontecimento (separação da cebeça do corpo) é que
as populações são avisadas acerca da morte do seu chefe, Osoma, dizendo que elunga lyaveta
mohanda, isto é ―o báculo tradicional bateu na pedra‖. O comunicador tem que subir na
árvore antes de informar e depois tem que descer rápido e correr, porque se for apanhado será
vendido pois, o valor da venda deste será gasto no óbito comunicado.
Com o aviso às populações seguem-se as precauções a tomar pelo óbito (onambi). Na casa de
óbito, a família entra em luto cerrado; a viúva, isto é, a esposa principal do Osoma entra em
reclusão do nojo num quarto sendo acompanhada por duas ou três filhas idosas nele
permanecendo durante mais de um mês, comendo e recebendo visitas que vêm consolar e
apresentar as condolências. A partir da data do anúncio da morte do Osoma, começa a
afluência dos cidadãos à Ombala para dar os pésames e trazer diversos presentes entre
animais domésticos que servirão para as vitualhas (bois, porcos, galinhas) e bebidas:
aguardente, otchimbombo, vulgarmente conhecido por bebida esfervecente (bebida feita de
farelo de milho ou massambala) presentes a esses que ajudarão a custear o óbito que têm de
presenciar e participar e que começa após o funeral.
Por essa razão, durante a decorrência do óbito, os chefes de famílias não deixam os seus filhos
passear pela povoação porque senão correm o risco de serem apanhados e vendidos, cujos
bens ajudarão as despesas do óbito. O soba oñgala é enterrado por duas partes em dois
cemitérios dimurantes. O cemitério (ombila) de cabeça (crâneos) dos chefes (olosoma) acha-
se sempre situado no morro próximo a ombala e é designado por akokoto (espelunca) que é
um lugar sujo com pessoas duvidosas.
Do corpo inerte e vermes é designado cemitérios dos supremos (olombila vyoloñgala).
Após o funeral, inicia-se então a cerimónia do óbito que consiste em banquetes, morte de
animais cujas espécies foram atrás arroladas, aguardentes, banquetes e danças.
49
A vacatura deixada pela morte de um chefe dá lugar ao consequente preenchimento do lugar
deixado. Na ordem de sucessão natural, está o seu filho primogénito, mas na falta deste
recorrem-se aos irmãos, netos sobrinhos e primos dos chefes. Os homens nobres dedicavam-
se na plantação de árvores, mulembeiras denominados ussolo, tchipakopako, epilãn e
tchitumbututu nas suas aldeias.
O desenvolvimento das ramificações dessas árvores, apresentava as direcções com
significados tradicionais diferentes:
De reprodução de gado bovino quando as ramificações fossem
circulares deitadas e raízes aéreas;
Não reprodução de gado bovino e de mais anos de vida, quando as
ramificações fossem em direcção vertical;
De mais problemas na sociedade de maneira a ter solução, quando as
ramifições fossem de um lado da árvore em direcção ao Este (E);
De haver menos perigo na sociedade, quando as ramificações fossem
de um lado da árvore em direcção ao Norte (N) e Sul (S);
De haver mais perigo obrigando a retirada do local na sociedade,
quando as ramificações fossem lateralmente de um lado da árvore em direcção ao
Oeste, porque não seria possível solucionar os problemas que haviam de vir.
Por outro lado, estas árvores prestavam de salas de reuniões da aldeia ou sombra.
Os ―capitalistas tradicionais‖ de gado bovino, apresentam-se com uma ou mais missangas,
(ndongo) no pescoço e quem pusesse mais de duas era o maior criador de gado bovino. Esta
missanga, era feita na região de Ngungu (Kwanza-Sul) de crostas de alguns seres vivos
parecidos de caracóis. Eles vestiam se de peles curtidas de animais domésticos e selvagens, de
fibras de cascas de certas árvores nomeadamente de tecelagem de algodão e não só, para
outros homens nobres e sobas.
Vakwatchisoko e sua função - Nessa região a classe social ―Otchisoko‖, em termos de
Soberania política se impunha às léis que defendiam ou condenavam aqueles que cometessem
erros na comunidade. Otchisoko é a relação de parentesco que se estabelece entre indivíduos,
mesmo sem existir consanguinidade ou colateralidade, pois o Otchisoko é um elo de ligação
ou uma relação entremeado entre o sangue e o social, por virtude do pacto que une as pessoas
50
e os grupos, atrvés de ritos apropriados em que ocorre a selagem destes através do sangue
vertido e das juras que ai são trocadas54
. Importa aqui salientar o facto de elementos de um
mesmo Otchisoko, poderem apoderar-se de animais ou artigos de valor, bastando apenas
gritar “Ndatika Otchisoko”, que significa dizer ― cobrei (ou declarei) a minha pertença‖, e o
dono desses animais ou artigos e os seus familiares, assistem impávidos e serenos à
presunção, unicamente em obediência à tradição ou, vivendo plenamente em harmonia com a
identidade atestada pela cultura.
Caso similar podemos encontrar na relação entre primos, na relação colateral, em que existam
filhos de uma irmã e do irmão, isto é entre consanguíneos. Estes últimos não podem nem
devem proferir palavras que revelem o saborear de determinado alimento, como por exemplo,
Okulya Kwapepa (a comida está boa), pois, deste modo, é imediatamente amarrado pelos
filhos da primeira, sendo acusado de ―Wanhamula”, expressão que dá a ideia de ―saborear
alimento‖ ou ―bebida‖. O facto é considerado como uma infracção grave. Só podem ser
libertos mediante o pagamento de uma caução que varia de pequenos objectos ou animais, e
de cuja lista não é de excluir o boi. 55
Por tradição os homens não cozinham com o tipo de
lenha chamada elala, porque segundo a tradição reproduz artimanhas e caso alguém por
engano utilize tal lenha na cozinha ou no Ondjango, pode causar atritos ou separações nos
lares e dificilmente se pode conseguir a reconciliação.
1.2.10 - As Danças e sua Significação no Mbokoyo
Dança56
- movimento corporal rítmico, geralmente acompanhado de música, que seguem um
padrão e funciona como forma de comunicação ou expressão. A dança é a transformação de
funções normais e expressões corriqueiras em movimentos fora do comum com propósitos
extraordinários. A dança pode incluir um vocabulário pré-establecido de movimentos, como
no balé e na dança folclórica européia, ou pode utilizar gestos simbólicos ou mímicos, como
em inúmeras danças asiáticas. Pessoas de diferentes culturas dançam de maneira distinta por
várias razões, e os diversos tipos de dança revelam muito sobre o modo como vivem.
54
GUEBE António, op cit pag.103
55
Ibdem, pag. 109
56
Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © Op. Cit. 1993-2001.
51
A dança pode ser recreativa, ritual ou artística. Pode contar uma história, servir a propósitos
religiosos, políticos, econômicos e sociais; ou pode ser uma experiência agradável, excitante,
de valor meramente estético. Unitária, comunicação, quando o corpo humano é exposto a
servir de elo de ligação através das manobras harmoniosas, fundamentalmente em momentos
de ―rituais, eventos especiais, comunicativos ou eventos críticos‖ (Pereira, 2002: 8-9).
Experimentais, sendo um de folclóre e outro de dança moderna, encarregues de sensibilizar o
público sobre esse género de dança‖57
.
Olundongo - Dizem os relatos que quando os sobas ovimbundu precisavam de gados
recorriam à prática de assalto aos povos criadores do sul, o que era facilitado pelo toque dos
apitos dados pelo soberano aos candavita58
. Segundo a tradição oral esses apitos possuíam um
som mágico que facilitava o roubo pois, quando eram tocados os pastores adormeciam e
facilmente eram aprisionados. O gado era conduzido pelos assaltantes e os pastores eram
libertados assim que percorressem a distância suficiente que garantisse segurança aos
assaltantes.
Enquanto acampavam para descansar, e de modo a afastar quem se tentasse aproximar, batiam
em paus e cantavam para parecer que eram muitos e também para não dormirem. A sessão
repetia-se nas noites seguintes até que chegassem ao seu destino onde, em apoteose, se
exibiam e eventualmente rendiam homenagem a um membro do grupo perecido no
cumprimento do ―dever‘‘. Se alguém do grupo falecesse na ombala, o soba tinha dever de dar
uma cabeça de gado para o óbito. Nessa altura os restantes membros do grupo passam a noite
a tocar e a dançar o Olundongo, tal como acontecia por ocasião dos assaltos.
―Também é norma que quando morre alguém, sobretudo se o defunto foi um homem de
honra, libertador de escravos ou então criador de gado, se coloquem os chifres de um boi
(abatido de propósito) num cesto (ohumba ou etamila) raso e de grande diâmetro, situado no
centro da roda de dança. O som ecoa e dentre os presentes, sai quem se sentir no direito de
poder ir ao centro e segurar os chifres sobre os quais se inclina, levantando-os em gestos
57
Centro de documentação e informação do Ministério da Cultura, Iº simpósio sobre cultura nacional, pág. 63
58
Kajibanga Cristóvão Mário; Coreografia Rural (uma contribuição para o estudo sociocultural de Benguela,
ed.KAT,2009, pag.85
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AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI

  • 1. 8 INTRODUÇÃO A sobrevivência de toda a sociedade humana passa necessariamente pela formação das capacidades, atitudes e competências mais integradoras dos seus filhos, pois só com essas ferramentas é que se torna possível, todo projecto de construção social. A identidade de um povo compõe-se de múltiplos elementos. Cada povo tem a sua identidade que o define e lhe dá um lugar no mundo. Estes tempos de rápidas e vertiginosas mudanças exigem um constante repensar na identidade e suas implicações. A partir do período colonial até ao presente, a língua e cultura locais têm sofrido uma notória desvalorização. Isto tem afectado a identidade das pessoas. A identidade de um povo é multifacial, global e abrangente. Por exemplo, há identidade individual, de uma família, de um grupo étnico, de uma nação, de um continente e de uma profissão. O povo Mbokoyo tem conseguido manter a sua cultura, não obstante os contactos com outros valores sociológicos e culturais nomeadamente, com a cultura portuguesa até a altura da independência de Angola, e, mais recentemente sujeito às influências da globalização cultural. O desenvolvimento socioeconómico e cultural regional visa fundamentalmente satisfazer as necessidades básicas das populações, criar condições adequadas para o bem estar colectivo e capacitar tecnologicamente os grupos humanos através do reforço da sua força interventiva, criadora e transformadora capaz de engendrar mudanças significativas no espaço físico social. Então, é premente brindar as gerações mais jovens de um leque de informações históricas atinentes a sua localidade em que as mesmas se encontram confinadas e, desta maneira, poderem compreender o papel desempenhado pela sua localidade no desenvolvimento social, económico da região e do país. Em cada sociedade deve haver uma atenção voltada particularmente para as novas gerações, em virtude delas serem as legítimas herdeiras de todo património histórico-cultural construído ao longo dos tempos.
  • 2. 9 Daí que o processo de formação das gerações mais jovens mereça um investimento substancial e, concomitantemente, um acompanhamento pedagógico e metodológico responsável, sério e singular para brindá-las de conhecimentos sólidos e eficazes em torno da realidade sócio-cultural e histórica do meio circundante, sobre o qual recairá a incumbência de transformá-lo qualitativamente não só para o seu próprio bem, como também dos vindouros. Assim, o tema ―AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI. PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DA HISTÓRIA DE ANGOLA NOS ALUNOS DA 10ª CLASSSE DA ESCOLA DO II CICLO DO ENSINO SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO” é uma contribuição a cultura deste povo cabendo aos órgãos de direito e em especial o Ministério da Educação em cooperação com os sectores afins definirem as melhores políticas e estratégias educativas para o fortalecimento do processo de formação das gerações vindouras em que a atenção singular será dirigida à preparação do homem novo. Procuramos neste trabalho, meter em itálico as palavras estranhas ao português para facilitar a compreensão do leitor. O ―s‖ entre vogais ou semi-vogais lé-se ―ss‖; exemplo: Oso- equivalente a Osso, como na palavra ―Osoma”; o ―h‖ é sempre aspirado; exemplo Ohita, O ―ge‖ le-se sempre ―gue‖; exemplo ―omange, Ngeve, Ngende‖. JUSTIFICAÇÃO DA ESCOLHA DO TEMA AS REPERCUSSOES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI, PORQUE? Mais do que buscarmos outras razões é porque o colonialismo foi um dos fenómenos sociais que na sua essência contribuiu com as suas doutrinas para o desalojamento do homem angolano pois, ―a colonização é comparada a um ladrão que roubou todas as vestes deixando o homem angolano desprovido de quase tudo‖ (ANDRÉ LUKAMBA 2001). Por outro lado, o colonialismo é entendido como um conjunto de atitudes políticas, económicas, e militares que visam, a aquisição de territórios coloniais através da conquista e estabelecimento de colonos, contribuirá para destruição da pirâmide vital da cultura angolana, pois, na colonização dos povos africanos (angolanos), os europeus, no caso, os portugueses, adoptaram dois critérios na obtenção de lucros. O primeiro consistia em focar ou persuadir os
  • 3. 10 nativos a trabalharem nas propriedades europeias ou no cultivo de produtos como cacau, o café, o sisal e a jingumba, quase sempre por salários ou preços baixos. Tais produtos eram vendidos em seguida no mercado internacional a preços exorbitantes para beneficiar os europeus em detrimento dos nativos. Os colonialistas preparam tudo trazendo para a África Militares, Mercadores e Missionários (KI-ZERBO Joseph)1 , para que se começassem a instalarr todos, militar, politica e religiosamente, dando desta forma á ―ocupação efectiva‖ realizada pelas armas completou-se, em toda parte, com o pagamento de impostos, com a criação e propagação dos movimentos e sobretudo com a conquista da independência. No programa de História da 10ª classe porque? Porque apesar de os programas serem de âmbito nacional, elaborados pela instituição pedagógica (no caso INID), trata-se da vontade de querermos encontrar um ponto de partida com o espírito de objectividade por intermédio de um campo de acção a onde centrará a nossa proposta e por outro lado, aonde obteremos uma amostra que garanta a cientificidade da nossa pesquisa e da nossa abordagem temática, daí o nosso contributo na conquista de mais um passo no âmbito da História local. É comum observar-se no processo de Ensino aprendizagem da disciplina de História á nível do nosso país bastantes limitações e insuficiências em relação aos conteúdos pertencentes a História de Angola. Ora, tais restrições alargam longamente o desconhecimento da realidade sóciocultural, económica e histórico local por parte das gerações actuais (especialmente as crianças, adolescentes e jovens). Caminhando deste modo, vai se comprometendo, em grande dimensão, todo um projecto de construção humana, pelo facto de não haver um conhecimento preliminar em que se idealiza a renhida luta pelo progresso humano, social, cultural, económico e histórico. Assim, com o propósito de se ultrapassar as lacunas e limitações existentes em relação aos conteúdos de História local no processo de ensino aprendizagem de História, particularmente, no que respeita a História de Angola no ―Bocoio‖, propõe-se neste trabalho de fim de curso abordar o tema: ―AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI. PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DA HISTÓRIA DE ANGOLA NOS ALUNOS DA 10ª CLASSSE DA ESCOLA DO II CICLO DO ENSINO SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO.” 1 KI-ZERBO, Joseph; História da África Negra vol.II, 3ª ed.Publicações Europa América,2002.
  • 4. 11 A localidade do Bocoio, sofreu os horrores do colonialismo, na vertente antroponímica, cancioneira, línguística, dança, religiosa e na usurpação das suas terras. Hoje isto passa despercebido e o receio às novas gerações é que pode abrir um foço. As realizações materiais e espirituais das grandes comunidades revelam a sua capacidade de criar e transformar o meio natural em que as mesmas se encontram e constituem o seu património histórico-cultural cujo domínio e conhecimento para a sua valorização deve-se passar às jovens gerações. Considera-se um tema extremamente pertinente em virtude de proporcionar as gerações mais jovens de amplos e profundos conhecimentos sobre a história local do Bocoio, o que constitui condição ‗sine qua non’ para que cada indivíduo se identifique com o seu meio e se converta num agente transformador do mesmo, pois, só se defende com determinação e iniciativa aquilo que se conhece plenamente e, como consequência, se ama e se preserva como um valor. PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO Atendendo ao anteriormente exposto, o problema científico que orientou a investigação é o seguinte: «Como abordar histórica, científica e metodologicamente os conteúdos sobre ―AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI” no processo de ensino aprendizagem de História nos alunos da 10ª Classe da escola do II Ciclo do Ensino Secundário do Bocoio tendo em vista a formação da consciência histórico – cultural dos alunos?» PERGUNTAS DE INVESTIGAÇÃO Que papel desempenha a Educação sobre ―AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI. PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DA HISTÓRIA DE ANGOLA NOS ALUNOS DA 10ª CLASSE DA ESCOLA DO II CICLO DO ENSINO SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO‖ património e identidade cultural na formação da consciência Histórica das novas gerações?
  • 5. 12 Como tem sido abordada ―A HISTÓRIA LOCAL NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS ALUNOS DA 10ª CLASSE na disciplina de História de Angola? Como introduzir este conteúdo na disciplina de História? OBJECTO DE INVESTIGAÇÃO O processo de ensino aprendizagem na disciplina de História na 10ª classe da Escola DOIICICLO DO ENSINO SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO. OBJECTIVO GERAL Determinar os conteúdos de História local do Município do Bocoio paraoenquadramentoprogramático adequado na disciplina de História da 10ª Classe do II Ciclo do Ensino Secundário com o propósito de consolidar a formação da consciência histórica e cultural dos alunos. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS - Destacar “AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI. PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DA HISTÓRIA DE ANGOLA NOS ALUNOS DA 10ª CLASSE DA ESCOLA DO II CICLO DO ENSINO SECUNDÁRIO DE FORMAÇÃO GERAL BOCOIO‖. - Diagnosticar o estado actual do ensino sobre a História local do Bocoio no processo docente Educativo de História da 10ª classe do II ciclo do ensino secundário do Bocoio. - Contribuir com uma estratégia pedagógica e metodológica a ser empregue na abordagem do tema no processo de Ensino aprendizagem da História da 10ª classe. CAMPO DE ACÇÃO Os conteúdos sobre a cultura local do município do Bocoio.
  • 6. 13 HIPÓTESE A adopção de uma metodologia de ensino com técnicas e procedimentos pedagógicos eficazes para a abordagem sobre a história local do Bocoio, no processo de Ensino aprendizagem de História da 10ª Classe do II Ciclo do Ensino Secundário pode contribuir para a consolidação da formação da consciência histórica e cultural dos alunos, um elemento necessário no processo da construção social. VARIÁVEL INDEPENDENTE (V.I): A adopção de uma metodologia de ensino com técnicas e procedimentos pedagógicos eficazes para a abordagem deste tema. VARIÁVEL DEPENDENTE (V.D): uma contribuição para a consolidação da formação da consciência histórica e cultural dos alunos, enquanto elemento necessário no processo de construção social. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS A EMPREGAR O tipo de pesquisa que predominou foi a aplicada, pois a apresentação essencial está na solução de um problema da prática educativa. Quanto ao objectivo gnoseológico, trata-se de uma investigação descritiva aplicativa porque observa e descreve o objecto de estudo, fazem-se análises dos factos apresentados e se estabelecem as relações entre elas para propor soluções. Métodos empíricos: - Entrevista aos professores, gestores e alunos, que proporcionou a informação concreta sobre o problema; - Consulta bibliográfica, que permitiu consolidar a base teórica do trabalho e o seu carácter científico; - Análise documental, que ajudou a realizar uma análise do programa de História.
  • 7. 14 Métodos teóricos: - Analítico-sintético, que permitiu um estudo minucioso sobre AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI. - Dedutivo-indutivo, que garantiu a análise de factos gerais sobre AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI. Entrevista: este método permitiu nos levar um trabalho de investigação no seio de alguns peritos na matéria no sentido de nos darem mais subsídios em torno do tema. Inquérito: Também ouvimos alguns alunos e professores de História. População Alva É composta por 245 alunos e, professores e coordenador de História do II Ciclo do Ensino Secundário – da Escola do Bocoio. A amostra está conformada por 139 alunos da 10ª Classe do II Ciclo do Ensino Secundário da Escola do Municipio do Bocoio, o que representa 56.7%, bem como 4 professores e incluindo coordenador de História, o que corresponde a 100%. A selecção foi feita de forma aleatória em conformidade com as necessidades da investigação. Amostra A amostra dos professores, foi seleccionada de forma aleatória de 04, o que significará 100% e, dos 245 alunos trabalhou-se com 139 (uma turma) perfazendo 56%. Novidade Cientifica Consiste do ponto de vista teórico, na estruturação dos conteúdos sobre AS REPERCUSSÕES DO COLONIALISMO NA CULTURA TCHISANDJI, para a sua abordagem no processo de ensino aprendizagem de História. Do ponto de vista prático, contribuir-se-à com uma metodologia de ensino com técnicas e procedimentos eficazes a serem adoptados no leccionamento desta temática.
  • 8. 15 PROPOSTA DA ESTRUTURA DO TRABALHO O trabalho está estruturado em: Dedicatória, Agradecimentos, Resumo, Introdução, dois capítulos, que formam o seu corpo central, Conclusões, Recomendações, Anexos e Bibliografia. CAPÍTULO I – GENERALIDADES “DA HISTÓRIA LOCAL” Palavras-chaves: Repercusso- (Do latim repercussu) SM repercussão repercissione sf, acto ou efeito de repercutir2 . Repercutir- (Do latim repercutere) verbo transitivo repetir, reproduzir um som; verbo transitivo reflectir se reverberar. Repercussão-É o efeito microeconómico do imposto pelo qual a pessoa legalmente obrigada ao seu pagamento, ou consegue transferir para outrem (contribuinte de facto) o sacrifício patrimonial em que o tributo se traduz. Se o contribuinte de facto se encontra numa fase mais adiantada do ciclo produtivo, a Repercussão diz se descedente ou progressiva: é o que se passa, nas relações entre retalhista e consumidores; se se encontra numa fase anterior do ciclo produtivo a Repercussão diz se ascendente ou regressiva é o que se passa, nas relações entre comerciantes e industrias produtoras de bens finais ou nas relações entre pessoas e os fornecedores de factores de mercado, designadamente pela incorporação do imposto no preço de bens oferecidos (aumentando ou reduzindo o preço). Ela é depende portando da natureza do imposto e da natureza dos mercados onde se transacionam os bens e serviços procurados e oferecidos pelo sujeito económico. A Repercussão é normalmente tida em vista pelo legislador ao estruturar as vareas espécies fiscais e é ela que está na origem dos diversos projectos tendentes à instituição de um imposto único (sobre a terra, a renda, a energia, a despesa). 2 Enciclópedia Luso-Brasileira de Cultura, XVl; ―R‖, Editorial Verbo Lisboa, 1963.
  • 9. 16 Colonialismo3 - Conceito aplicado a territórios ocupados e administrados por um governo, em conseqüência de conquista ou da colonização de seus súditos, e aos que se impõe uma autoridade estrangeira. Tal relação termina quando o povo subjugado recupera a soberania, ou se incorpora, em igualdade de condições, à estrutura política da potência colonizadora. O colonialismo existiu desde a Antigüidade. Entre os impérios do mundo antigo, foi exercido pelo Egito, pela Babilônia, pela Pérsia e por Roma. Na Europa moderna, o colonialismo teve início no século XV e pode ser dividido em duas fases. Numa primeira etapa (1415-1800), a Europa Ocidental, liderada por Espanha e Portugal, expandiu-se pelas Índias Orientais e as Américas. Portugal, interessado, sobretudo, no comércio de especiarias, estabeleceu feitorias e fortes em lugar de colônias. Seu monopólio comercial viu-se seriamente ameaçado pelos ingleses e holandeses, no fim do século XVI. No que diz respeito ao continente americano, era mais freqüente a criação de colônias do que de feitorias. O império da Espanha foi o mais extenso do Novo Mundo e compreendia grande parte do México, da América Central e da América do Sul. Os portugueses se estabeleceram no Brasil. A maioria das colónias espanholas, portuguesas e francesas nas Américas conseguiram a independência durante as Guerras Napoleónicas. Os ingleses perderam boa parte das antigas possessões nos Estados Unidos, mas a Grã-Bretanha continuou sendo uma importante potência colonialista: além de controlar a Índia, conservava o Canadá, o Cabo da Boa Esperança e o Ceilão. A segunda etapa colonial pode ser dividida em dois períodos. No primeiro (1815-1880), o ímpeto expansionista provinha de interesses europeus já estabelecidos no exterior. Durante a segunda fase (1880-1914), a colonização estava voltada para a África e diversas regiões da Ásia e do Pacífico. Por volta de 1914, o colonialismo mundial dominava o planeta. O Império Britânico era o maior e com maior diversidade geográfica, embora a França, a Bélgica, a Alemanha, o Japão, os Estados Unidos e Portugal, e fossem também importantes potências colonialistas. O fim do equilíbrio de poder na Europa e as duas Guerras Mundiais do século XX marcariam o ocaso do colonialismo moderno. 3 Enciclopédia Microsoft® Encarta®. ©; ―C‖, 1993-2001 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.
  • 10. 17 Cultura - do latim cultura, acto de cultivar a terra ou certas plantas; trabalho que se faz na terra para que produza vegetais; conjunto dos conhecimentos de alguém. Edward B. Tylor (1871) foi o primeiro a formular um conceito de cultura, em sua obra Cultura primitiva. Ele propôs: ―Cultura... é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade‖ (In Kahn, 1975:29). O conceito de Tylor, que engloba todas as coisas e acontecimentos relativos ao homem, predominou no campo da antropologia durante várias décadas. Para Ralph Linton (1936), a cultura de qualquer sociedade ―consiste na soma total de idéias, reações emocionais condicionadas a padrões de comportamento habitual que seus membros adquiriram por meio da instrução ou imitação e de que todos, em maior ou menor grau, participam‖ (1965:3 16). Este autor atribui dois sentidos ao termo cultura: um, geral, significando ―a herança social total da humanidade‖; outro, específico, referindo-se a ―uma determinada variante da herança social‖ (96). Franz Boas (1938) define cultura como ―a totalidade das reacções e actividades mentais e físicas que caracterizam o comportamento dos indivíduos que compõem um grupo social...‖ (1964:166). Mahnowski (1944), em uma teoria científica da cultura, conceitua cultura como ―o todo global consistente de implementos e bens de consumo, de cartas constitucionais para os vários agrupamentos sociais, de ideias e ofícios humanos, de crenças e costumes‖ (1962:43). O mais breve dos conceitos foi formulado por Herkovits (1948), embora este não seja o único: ―a parte da ambiente feita pelo homem‖ (1963:31). Kroeber e Kluckhohn (1952: 19), em Culture: a critical review of concepts and definitions, referem-se à cultura como ―uma abstracção do comportamento concreto mas em si própria não é comportamento‖. Beals e Hoijer (1953) também são partidários da cultura como abstracção. Afirmam eles: ―a cultura é uma abstracção do comportamento e não deve ser
  • 11. 18 Confundida com os actos do comportamento ou com os artefactos materiais, tais como ferramentas, recipientes, obras de arte e demais instrumentos que o homem fabrica e utiliza‖ (1969:265). Para Felix M. Keesing (1958), a cultura é: Comportamento; ―cultivado, ou seja, a totalidade da experiência adquirida e acumulada pelo homem e transmitida socialmente, ou, ainda, o comportamento adquirido por aprendizado social‖ (1961:49). G. M. Foster (1962) descreve a cultura como ―a forma comum e aprendida da vida, compartilhada pelos membros de uma sociedade, constante da totalidade dos instrumentos, técnicas, instituições, atitudes, crenças, motivações e sistemas de valores conhecidos pelo grupo‖ (1964:21). O conceito de cultura varía no tempo, no espaço e em sua essênvia. Tylor, Linton, Boas e Malinowski consideram a cultura como idéias. Para Iróeber e Klucki-) John, Beals e Hoijer, ela consiste em abstrações do comportamento. Keesing e Foster a definem como comportamento aprendido. Leslie A. White apresenta outra abordagem: a cultura deve ser vista não como comportamento, mas em si mesma, ou seja, fora do organismo humano. Ele, Foster e Outros englobam no conceito de cultura os elementos materiais e não materiais da cultura. A colocação de Geertz difere das anteriores, na medida em que propõe a cultura como um ―mecanismo de controlo‖ do comportamento. Essas colocações divergentes, ao longo do tempo, permitem apreender a cultura como um todo, sob vários enfoques. Em suma, cultura é o conjunto complexo e articulado de normas, crenças,ritos, comportamentos, valores que condicionam o horizonte espiritual, bem como as realizações do grupo, que conferem a cada sociedade o seu aspecto original. Cultura é ainda o conjunto de elementos como a língua, os costumes, as técnicas e os valores que um determinado grupo humano usa e a partir dos quais organiza e edifica a sua vida. A cultura é também, o ambiente artificial que o homem sobrepõe ao natural, é o estilo, a alma, o domo de um povo. Todo homem vive de uma herança cultural que o condiciona, assume-a, transforma-a e só assim, ele não vive sem cultura.Por isso não existe povo sem
  • 12. 19 cultura, mesmo uma cultura superior a outra, mas sim diversidade de culturas. (LUKUNDE Mário e FARIA Ezequiel)4 . 1.1– LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MBOKOYO Geograficamente o Município do Bocoio situa-se a nordeste da Província de Benguela, a 75 km a leste da cidade ferro portuária do Lobito e a 75 km do Municipio do Balombo, 190 Km da sede capital da província do Kwanza Sul. Porque a leste, o Bocoio limita-se com o Município do Balombo e a oeste com o Município do Lobito. Da parte norte com a Província do Kwanza Sul e a sul com os Municípios de Caimbambo, Cubal e Ganda. Quanto a superfície é de 5.612 km2 com uma população que se pode calcular em 156.583 habitantes. 1.1.1 - Divisão Administrativa do Município, fundação de Comunas e seu significado histórico. O Município do Bocoio, tem quatro (4) comunas, a sua sede é chamada Tchisandji5 , foi fundada em 1827 com 1.287 km2 de superfície. Mbokoyo ou Bocoio é o nome dado pelos viajantes quando estes se deslocavam do interior para o litoral e vice-versa no período de governação do Sr. Fernando como primeiro chefe administrativo no actual Bocoio-Velho, onde colhiam o gindungo denominado Mbokoyo e daí a região passou a chamar-se Bocoio que na sua ordem crescente é o quarto nome desde os primeiros habitantes até aos nossos dias. Uns a chamam vila sousa Lara, tudo a partir de 1958, a sede Bocoio designou-se em Vila. Neste ano fez-se o legado de Suosa Carneiro Lara, segundo a construção da companhia de açucar de Angola e da fábrica de celulose do Alto Catumbela na Ganda. 4 in. cit WALILE Avelino, Trabalho de Licenciatura 2004 P.16 5 Le-se Tchissandji
  • 13. 20 A comuna da Tchila-Tchikala - foi fundada em 1925, à 68 km da sede do Bocoio, e tem 11.314 km2 de superfície. A proveniência etimológica do termo Tchila, está relacionada com o povoamento desta região que deve-se a caravana migratória do soba kangombe tchinangatanga, Monte-Belo e Munda, provenientes de Ndula-Tchamako/Ngungu (kwanza sul) instalaram-se na região de Tchikala depois de atravessar o rio Cubal kwambotchã pela travessia Imbwanganga e do soba kapingãla kambambi proveniente de Tchandja e de kaniaki/Balombo constituiram o povo de Tchikala actualmente a comuna da Tchila. Ali existiu um lugar de concentração de animais como palancas antes e depois do bebedouro e esta concentração em umbundu era chamado de otchila e a localidade passou a chamar-se de Tchila. Esta comuna anteriormente pertencia kasonge, depois Kanjala, e actualmente Município do Bocoio. O Primeiro chefe do posto administrativo da Tchila denominado por Pires, mais conhecido por kipilipili, por qual fundou a 20 de Maio de 1925 com 1314 km2 de superfície. A comuna do Monte-Belo ―Okamunda keposo‖ Ukolovala (Utwe Wombwa) - foi fundada em 1955, e fica a 31 km da Sede do Município do Bocoio, com 1.253 km2 de superfície. A origem etimológica do termo Monte- Belo, tem a ver com as caravanas migratórias do soba Mbambi proveniente de Tchandja-Balombo de Kotchatchiti Kokatanga-Olyatchahe Kakomwa proveniente de Mama outrora Kwanza sul, soba Kahala proveniente também de Tchandja, o soba Ndumba Tchihukulu, proveniente de Tchiyaka e do soba Tchombela de Mumata Motchombela/Ganda constituem o povo de Ukolovala actualmente a população da Comuna de Utwe wombwa um nome cuja origem aparaceu quando um viajante de nome Madureira Kuluvala proveniente da Catumbela trazia consigo um cão e acabou por morrer neste local e este homem cortou a cabeça do cão e pendurou-a numa haste a beira de Otchilombo. Este ganhou muita fama e depois passou a chamar Utwe wombwa outrora Ukolovala; segundo KAPA Kandjolomba ancião, de feliz memória. O fundador da Comuna chamou-se Katyavala proveniente de Ikulungu-Avula/Bocoio. A chegada dos Portugueses, fizeram viveiro de sisal e devido a sua beleza chamaram-na Belo- Monte e posteriormente Monte-Belo actual Comuna que no Governo Colonial antes de 1964, pertencia a Balombo.
  • 14. 21 A Comuna do Cubal do Lumbu-Eva - foi fundada em 1963, fica a 30 km da sede do Município do Bocoio, e tem a superficie de 785Km2. A sua origem etimológica tem relação com o povoamento desta região, deve-se a caravanas migratórias dos sobas Kangombe II Tchikuma, Nguli e Ngendjo6 , provenientes de Moñgele outrora Kasonge, instalaram-se nesta região depois de atravessar o rio Balombo pelo Húmo. A caravana de Ngandu-ya-Wendo, proveniente de Ehembe/Luanda e o soba Kameti-Etoto e Ngandu-ya-Isapa7 proveniente de Tchiyaka, confinaram também na região de Eva, constituindo actual população da Comuna do Cubal do Lumbu. O soba Ngendjo na região, casou-se com a rapariga Lumbu, família do velho Huholondondo pertencente ao soba Ngandu-ya-Isapa. Depois de se casar com a rapariga, pediu uma montanha para se fixar. O velho Huholondondo anuiu ao pedido e atribuiu-lhe uma montanha onde mantivesse por algum tempo e depois sugeriu que a mesma montanha passasse a chamar-se Lumbu nome de sua esposa. A designação Lumbu nasceu Elumbu a sub-região Eva, o actual Cubal do Lumbu e depois de se ter dado esta designação, o soba Ngendjo disse; ―Elumbu lyo kalapo, ove kulipo, likulimilã onima” que em língua portuguesa siginifica ―enigma de quem está presente, ausente perde oferta. As caravanas migratórias do soba Kangombe II, Nguli, Tchikuma e Ngendjo provenientes de Moñgele-Kasonge, chegaram a actual sub-região Eva/Cubal do Lumbu atravessando o rio Balombo pela localidade Húmo e contornando pelo Egipto Praia depois passando por Ewe- lya-Ngongo, localidade de Kanjala antes de atingir Cubal do Lumbu. Estes fixaram-se da seguinte maneira: O soba Kangombe II na actual montanha Kangombe; O soba Nguli na actual montanha Nguli. O soba Nguli chamava-se Lweyo. A comuna do Passe Kavendji Tchapasi - foi fundada em 15 de junho de 1964 e fica a 30 km da sede municipal do Bocoio e tem a superfície de 973 km2. A origem etimologica do termo passe, está relacionada com as caravanas migratórias do soba Mbakavaka vindo do sobado 6 Le-se Nguendjo 77 Le-se Issapa
  • 15. 22 Nguli, Comuna do Cubal do Lumbu. Chegaram e fixaram se ―Tchipasi8 ‖ nas localidades de Londengo, Mbuluvulu e Sela. Esta região era designada por Kavendji e a montanha de Ngumbwa. O soba Kisi vindo do Bailundo perseguido por Mandume, refugiou-se na montanha de Ngumbwa depois de passar por Tchandja, Mepo-Kanhala. Tchivanda Monte-Belo, Lomama-Kandjongi, Kaloñge e Luvale. Nesta Montanha, o soba Kisi fez magia, impedindo as caravanas de passar, ouvindo se apenas o barulho de cão-da-pedra (ohwita), portanto. Os‖ Ovimbanda‖ não conseguiram desfaser a magia do soba Kisi e diziam que se fixou num lugar complexo de penetrar e não se consegue apanhá-lo. O termo ―complexo” em umbundu significa ―Tchipasi” e deste, designou-se a montanha Passe. 11..11..22-- HHiissttóórriiaa ee ppoovvooaammeennttoo do Municipio do Mbokoyo ―Segundo algumas pesquisas, poderá ter sido por volta do séc. XIV que se iniciou a disputa mais acérrima dos territórios da província. Pisam por esta altura terras a norte do Lobito povos conhecidos como Vambokoyo, também denominados vatchisandji ou vanduli. A sua proveniência relaciona-se com a localidade de Hembe no antigo reino do Ndongo (comandados pelo lendário Soba Tchivango). A sua presença na região do Mbokoyo assenta no facto várias divisões internas se provocarem no decurso das movimentações da busca de estabilidade politica e economica antes da presença colonial. No historial do povo Mbokoyo salientam-se três destacáveis nomes de soberanos que são referência inestimável a saber: Ilu Lembe, Imbumba, e Tchiyuku Tchakañhangã Ndamba ya Mbambi. Kapa Kandjolomba9 , existem três designações para a localidade e respectivo povo: Vambokoyo, Vatchisandji ou Vanduli. A história diz que enquanto este povo se movimentava à procura de um lugar para se estabelecerem, os actuais vambokoyo, foram tendo algumas desavenças entre si e é isto que denominam Nduli10 , o que levou ao sentimento de desdém entre eles, designado por Valisandja11 . O nome tem relação com algumas especiarias 8 Le-se Tchipassi 9 Kapa Kandjolomba; antigo Regedor Municipal do Bocoio, ―de feliz memória‖. 10 Não ceder 11 Livres, abertos, independentes, ilimitados, extensos e espontâneos.
  • 16. 23 chamadas Mbokoyo. Sempre que se quisesse fazer referência ao local, dizia-se Pana po Mbokoyo12 . AA rreeggiiããoo ddoo BBooccooiioo eesstteevvee ffoorrtteemmeennttee aaffeeccttaaddaa ppeellooss pprroocceessssooss mmiiggrraattóórriiooss ee gguueerrrraass ccoonnssttaanntteess.. NNoo MMuunniicciippiioo nnuumm ppeerrííooddoo rreellaattiivvaammeennttee ccuurrttoo,, ccoonncceennttrroouu--ssee uummaa mmaassssaa ddeemmooggrrááffiiccaa ccoonnssiiddeerráávveell.. HHoojjee éé ppoossssíívveell vveerr aa ddeennssiiddaaddee ppooppuullaacciioonnaall ee oo ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ddaass ppoovvooaaççõõeess nnaass CCoommuunnaass,, aattiinnggiirreemm íínnddiicceess qquuee mmoossttrraarraamm ddee ffoorrmmaa ccllaarraa oo ccrreesscciimmeennttoo ppooppuullaacciioonnaall.. QUANTO A DESIGNAÇÃO NDULI 13 - O grupo migratório do soba Kapa Mbumba e Lulembe proveniente de Ehembe/Luanda, iniciou as suas viagens de exploração e atingiu a margem do rio faul, actual Catumbela na localidade de Tchiseke14 . Quando chegou nesta margem os dois entraram em contradições ao atravessar o rio. Foi que o soba Kapa Mbumba negou e disse o seguinte: ―Eu não atravesso mais nenhum rio maior, aqui páro‖. O termo pára em Umbundu significa Nduli. Outros afirmam que a origem etimológica do termo Nduli, está intrissecamente ligada a população da Comuna sede Bocoio e resultado de caravanas migratórias do soba Kapa Mbumba, Lulembe e Tchindula, provenientes de Hembe-Ndongo/Luanda fixaram-se na região Tchisandji actualmente Bocoio depois de atravessar os rios Kwanza, Keve, Umbango, Lwenge, Kumeka, Cubal do Lumbu e Cubal Tchisandji com início das lutas entre os europeus e africanos no Ndongo iniciaram a sua viagem de exploração e atingiram a localidade de Tchiseke na margem do rio Catumbela. Alí o soba Kapa Mbumba negou saltar o rio Catumbela e disse: aqui páro. Do termo parar que em Umbundu é traduzido por Nduli surgiu o primeiro nome daquela localidade. QUANTO A DESIGNAÇÃO TCHISADJI - O grupo étnico denominado Tchihuku, formou uma caravana migratória proveniente de Ekumba Tchiyaka/Huambo, que chegou a região e 12 Lá no Bocoio. 13 BAPTISTA João IV,Etnólogo e Expositor; Pequena síntse da cultura dos Vatchisandji Vila do Bocoio 2004/2005 pag. 14 Le-se Tchisseke
  • 17. 24 fixou-se na serra de Tchipelele a pedido do soba Kapa Mbumba. O soba Kapa Mbumba não estava satisfeito com o procedimento do soba Tchihuku. Dai, orientou ao soba Lulembe em Kavendji para que desalojasse o soba Tchihuku da serra de Tchipelele. Uma vez que existiam conflitos étnicos entre o soba Kapa Mbumba e o soba Mandwa de EkumbaTchiyaka-Huambo, que as causas derivavam dos roubos de gado praticado pelos filhos do soba Mandwa que o soba Tchihuku trouxera da Tchiyaka para a região de Nduli. A tomada de Tchipelele pelo soba Lulembe levou o desalojamento do soba Tchihuku e assim os conflitos terminaram. Uma vez desalojado, o soba Tchihuku antes de ir para o Isuku15 - Kandjala refugiou-se na Ombala do soba Kapa Mbunba que lhe garantiu a segurança e a liberdade. Queremos salientar aqui que o termo liberdade, em umbundu significa Okulisandja e, foi deste termo que nasceu a designação Tchisandji e assim todos habitantes daquela região passaram a ser chamados por Vatchisandji‖ conforme o nome da região. (BATISTA João IV)16 QUANTO A DESIGNAÇÃO ISENHO - O senhor Fernandes vindo da cidade do Lobito, fixou-se na localidade que se situa entre o rio Cubal Tchisandji e o seu afluente o rio Susîla17 , onde foi recebido por Barca chefe dos escravos. Ele, exercia as funções administrativas nesta localidade em que a sua actividade consistia em atribuir fichas de controlo (senhas) aos viajantes do interior, Planalto Central para o litoral e estes devolviam as mesmas de regresso. O termo Senha veio a ser chamado Isenho que passou assim a ser o terceiro nome da região, isto no tempo do senhor Fernando como primeiro chefe do Posto Administrativo do Bocoio. QUANTO A DESIGNAÇÃO VILA SOUSA LARA - Os habitantes desta região resolveram fazer um legado a Sousa Lara, segundo a construção de companhias de açúcar de Angola publicada num dos números do semanário ―A Palavra‖. O senhor António de Sousa Lara querendo perpetuar a memória de seu pai, legou a 27 de Julho de 1958 a Vila de Sousa Lara conselho do Bocoio que actualmente é o Município em referência. 15 Le-se issuku 16 BAPTISTA João IV,op.cit.pag 17 Le-se Sussîla
  • 18. 25 O CLIMA, RELEVO E HIDROGRAFIA - Boocoio tem um clima tropical seco e duas estações climatéricas que podem ser: quente com precipitações e seco com frio e cacimbo. Apresenta matas fechadas com árvores tropicais e cadeias montanhosas a partir da famosa serra do Pundu. Já na sede, destaca-se a chamada serra do Ulombo que é conhecida como um dos pontos mais altos de Angola, tem 2.143m de altitude e de 1.200m de altura em relação a vila municipal do Bocoio. Esta é uma montanha de beleza muito maravilhosa e pejada de nascentes de água e apresenta o clima frio no seu cume. Nos seus pontos altos, possui uma vegetação deveras exóticas próprias das grandes altitudes. Dada ausência total de arvoredos, reúne condições excelentes para a prática de modalidades desportivas em que iam ser pioneiros tal como o alpinismo. Tinha um acesso praticável para carros de tracção a quatro rodas a partir da fazenda Sibol até ao ponto onde se encontrava a torre repetidora do VHF. Esta montanha se situa na faixa norte da sede municipal. O território conta com vários rios cujo maior é rio Cubal Tchisandji ou Nunse que nasceu a sul da comuna do Monte Belo exactamente no ―EWE LYATOKA‖ (pedra rachada) e desagua no oceano atlântico na comuna da Hanha do norte Lobito, depois de banhar a costa, leste e norte da vila do Bocoio; é curiosa a trajectória deste rio, a título de exemplo quem viaja do Lobito em direcção a Monte Belo Bocoio, atravessa este rio por três vezes, concretamente na ponte sobre o bairro Epembe, na zona do kamoko e na localidade de Lomanga, isto é após ter passado a sede municipal próximo a comuna do Monte Belo. A primeira fazenda Agropecuária que surgiu no Bocoio é a da Sibol. Fundada na década de 40 pelo senhor Lopes Ferreira e a última é a Santa Luzia na década 60 por João Carvalho. A primeira produzia Sisal vindo do, (Emungwe/Cubal e a última produzia bata rena com maior desenvolvimento de tal sorte que cada uma pesava 1,80 kg, o que fez com que houvesse concorrência das autoridades coloniais na Kangoya. ORGANIZAÇÃO SOCIAL, ESTRUTURA FAMILIAR E RESIDÊNCIA - A família poligaica era como na éra dos povos agricultores Bantu, na sociedade Mbokoyo de modo geral a família é designada por ―epata‖ (plural, apata), sendo as linhagens paterna e materna
  • 19. 26 conhecidas por ―kuso18 e kelanga‖, respectivamente. É uma característica dos Vambokoyo chamar a tutela dos ―filhos para a responsabilidade da linhagem paterna e nunca na da materna‖, ou explicam melhor ainda, quando se diz que trás consigo filhos; logo, não se lhes reserva o direito de os levar quando, por qualquer razão decidir-se ao partir. Entre os Vambokoyo, são observáveis três tipos de familais: ―A família elementar‖, que corresponde a mulher, os filhos e o pai, que é o chefe, podendo viver com estes um ou outro elemento da família de qualquer dos cônjuges: um cunhado ou uma cunhada (irmão mais novo da mulher ou do marido), que com eles coabitam, a partir dos primeiros dias do casamento, em virtude de não possuírem ainda filhos. ―A poligámica‖, conhecida por ―oluvale‖, consiste no casamento de um homem com mais de uma mulher habitando na mesma localidade (imbo), na companhia dos filhos e de alguns parentes das respectivas mulheres e finalmente, ―A família alargada ou extensa‖ que é conhecida por otchikumba, e subetende a ―congregação da família numa única aglomeração‖. Entenda-se aqui como famíla o pai, mulher, os filhos, os sobrinhos, os netos, os cunhados, tios e outros parentes que, por empatia para com os senhores fundadores da, localidade, para lá tenham afluído para morar. Este tipo de família representa sobretudo para os Vambokoyo, o poder e a capacidade económica, pois que, é com base nela que desenvolvem uma vasta actividade que, em princípio, está baseada numa agricultura extensiva e na criação de grandes manadas de gado bovino e caprino, conhecidas por ―otchunda” e “oviunda‖ no plural, respectivamente. Entre os Vambokoyo, uma localidade ou aglomerado (imbo) é composta geralemente pelas casas residenciais (olondjo plural de ondjo), e inclui os celeiros feitos de pau a pique em forma de primeiro andar, conhecidos por ―ohila‖, que servem para (esoka19 ; asoka/plural) armazenamento do milho (epungu ou olombolototo), sendo este cereal arrumado espiga a espiga, umas sobre as outras; este tipo concreto de arrumação e de organização é visivelmente diferente entre as demais populações umbundu que habitam no planalto central do país, onde as espigas de milho são debulhadas e conservadas em grão e depositado em sacos de sarapilheira nos vatchikuma20 mas Vambokoyo21 já é guardada só as espigas na tulha ou celeiro. 18 Le-se kusso 19 Le-se essoka (singular) 20 Habitantes e naturais de Tchikuma 21 Habitantes e naturais do Bocoio
  • 20. 27 Entretanto é conveniente notar que aqueles celeiros só se diferem destes no tamanho, pois estes embora sendo pequenos, podem servir também para guardar o milho, feijão e outros produtos para o consumo. O espaço físico em questão inclui ainda o curral (otchunda22 ou osambo23 ) para o repouso do gado bovino, que é de um cercado de pau a pique, com uma entrada de paus grossos agrupados na vertical conhecidos por otchipangu, ao lado do qual pode ser localizada uma pequena casota (otchinhoñgo) que serve para acolher os vitelos, separados das vacas ao cair da noite. A entrada é conhecida por ombundi. Podem ser identificados também os currais para porcos e para cabritos, denominados de otchipanga, assim como a capoeira para as galinhas (otchilimba) e um grande cerco (ongandjo) à volta do aglomerado, a qual serve como protecção de eventuais investidas de pessoas ou animais vindas do exetrior. Inclui finalmente, o ondjango, que é um tipo de construção confeccionada na base dos mesmos materiais, com aberturas laterais, sendo cobertos de capim, tendo ao centro uma lareira e estando cercada de grandes troncos que servem de assento. É o lugar apropriado para descansar, depois de uma árdua jornada de trabalho sob o sol ardente, bem como para a reposição das respectivas caloriais resultantes de absorção de uma bem servida refeição do almoço (ongahu), para recepção de visitas e as actividades educacionais (aconselhamento e educação dos menores e dos adolescentes, sobretudo os do sexo masculino), artísticas e culturais. Noutras comunidades como vahanha24 e outras existe Ondjango e Otchoto, todos estes lugares constituem escolas tradicionais, mas na sociedade Bocoio existe apenas o Ondjango. A diferença entre os dois lugares (ondjango e otchoto), consiste na sua apresentação física e período de utilização, sendo o diurno para ondjango e o nocturno para otchoto. É nesse lugar onde pela manhã, ao nascer do sol, o mais velho da comunidade se posiciona, fumando cachimbo, recebendo a saudação dos habitantes, as notícias, com prioridade para os sonhos mágicos ou outros acontecimentos, antes das pessoas partirem para seus afazeres diários no campo. Das três possibilidades de residência tradicional visiveis nesta região (virilocal, a vunculocal e a neolocal), predomina entre os vambokoyo a residencia virilocal, que pressupõe que os recém- casados tenham que viver na localidade e onde vive o marido, residência essa que, na 22 Otchunda – conjunto de animais 23 Ossambo – lugar onde repousa o gado 24 Naturais e habitantes da Hanha
  • 21. 28 maior parte dos casos, está na localidade do próprio pai do rapaz, que se ve assim na obrigação de construir a sua prória habitação (ondjo) que, em princípio, e como é regra aqui entre os Vambokoyo, deverá ser pau a pique, coberta de capim e barrada a toda volta, tal como mandam as regras da comunidade, tudo isso ocorre antes da celebração do casamento, contrariamente, é praticamente inconcebível ver um homem casado ir morar junto da terra dos seus sogros, onde, geralmente, a mulher cresceu, a sua autoridade ver-se-ia condicionada quer perante a sua esposa, quer perante os familiares dela, não a podendo educar para a vida em comum, por temer eventuais represálias e outras consequencias que poderiam advir dos familiares da mulher. Durante cerca de um mês, a recém-casada passa a confeccionar os alimentos na cozinha da sogra, conhecida por ―etala lya ndatembo”, sendo constantemente acompanhada pela mãe do rapaz que a instrui sobre os gastos e as técnicas familiares de cozinha. Terminado o periodo referido, a rapariga volta a casa dos pais onde lhe será oferecida uma galinha com a qual deverá abrir uma nova cozinha (etala), a sua própria cozinha, que deverá ser submetida a um tratamento ritual que é efectuado com o sangue dessa mesma galinha, cuja virtude é lipmar o recinto e livra-lo dos males anteriores. No entanto, hoje parece predominar o sistema de residência neolocal, quer dizer, aquela segundo a qual os recém-casados estabelecem-se numa nova residência na localidade em que vivem os pais do rapaz, abandonando ambos os lugares de residência que os albergaram enquanto solteiros. Para os Vambokoyo antes de se casar cumpre-se as seguintes etapas: a) Apresentação depois da condução dos namorados aceitarem-se pelo qual a rapariga diz ao rapaz para aparecer em casa dos pais da menina para o dia de apresentação se entregar um garrafão de aguardente aos pais da rapariga (esanga lyolombwa). b) Auscultação – período de saber dos pais da rapariga se é possível casar-se com o rapaz e saber se em ambas partes de que tribo cada, onde pertence e se for aceite o rapaz prepara-se para consentimento. c) Consentimento – perído de entrega dos bens materiais (dois panos, uma blusa, um lenço, e uma oponda para mãe da menina, um fato e um chapeu para o pai da rapariga para além de um garrafão de vinho e actuamente com uma ou duas grades de gasosa e a entrega do dinheiro que se chama a quinta ― (Ohumba) ”. Este ohumba é que é o ponto-chave do amor do casamento e se acontecer divórcio, pede-se este valor o que significa não quer mais da senhora e os outros podem pedir namoro para
  • 22. 29 quem quiser. Durante este processo, em cada etapa existe uma avaliação para ambas partes e, se se notar um erro por parte da rapariga o rapaz nega casar com a mesma, vice-versa. 1.2 - OS TRAÇOS SÓCIO-CULTURAIS E HISTÓRICOS DAS COMUNIDADES. 1.2.1 - Alimentação e Vestuario O prato típico da terra é a tradicional “ohita yombulungu” transformação dos grãos de cereais e conservada no Esparta (Ombondo). Este é acompanhado por leite azedo (Omahini25 ) para além de outros condutos. Já actualmente utilizam fuba limpa (Osule26 ). A Canjica (Asola27 ), o milho torrado (Olukango), são algumas formas de comer o milho. O milho fresco (Epungu) é assado ou então cozido. Para os homens o pirão é servido no Ondjango onde cada uma das esposas remete as refeições e cada senhor de um Imbo ou Aldeia, juntamente com os filhos do sexo masculino fazem as suas refeições enquanto as raparigas comem com as mães na cozinha. Por tradição os homens não cozinham com o tipo de lenha chamada “elala”, porque segundo a tradição reproduz artimanhas e caso alguém por engano utilize tal lenha na cozinha ou no Ondjango, pode causar atritos ou separações nos lares e dificilmente se pode conseguir a reconciliação. Na tribo Tchisandii, as raparigas trajavam Ombongola, e Otchikwapele às senhoras casadas, ao passo que a tribo Sele trajava Epunda, e finalmente a tribo onano trajava Okakonda. Os homens atavam pano à cintura, tronco nú e, calçando “olondindi”, sandalhas feitas de borracha. 1.2.2 - Ritos de Iniciação/ a Evamba28 ou Ekwendje/ Passagem As populações praticam naturamente os ritos tradicionais que geralmente os principais períodos de mudanças entre os diferentes estádios da vida de o efeko e o ekwendje (festa de puberdade e circuncisão, respectivamente, passado pelo casamento (olohwela)), óbito (onambi) manifestações essas que a música, o canto e a dança constituem elementos fundamentais. Para os Vambokoyo. O efeko não é bem praticado como nas comunidades Vahanha, Vandombe e outras. 25 O h é aspirado. 26 Le-se ossule 27 Le-se assola 28 Circuncisão
  • 23. 30 A educação que é dada nas comunidades onde este rito é praticado, na qual as raparigas permanecem algum tempo num lugar isolado, ao nível dos Vambokoyo esta educação é dada ao nível familiar, isto é, mãe e tias da mesma. Só é praticado o ekwendje ou cincuncisão nesta comunidade. A circuncisão, que é, mais conhecida por ekwendje, tal como foi anteriormente referenciada, é seguida pelo rapaz com idade compreendida entre os dezasseis e dezoito anos. Aqui também, tal como já vimos com a festa ritual das raparigas, os rapazes são surpeendidos algures, apanhados e encaminhados para os acampamentos ou lugar, que é previamente indicado, onde se acha posicionado o ―cirurgião‖ com o seu canivete muitas vezes pouco cortante e os seus respectivos ajudantes, homens musculosos e preparados para apoiar na sua actividade. O papel desses homens é, de imobilizar os membros do corpo, a fim de evitar os possíveis movimentos do indíviduo que é submetido à operação de circuncisão, movimentos esses que possam criar dificuldades à operação que como já vimos, é dirigida pelo ―cirurgião‖. Após o corte do prepúcio, os rapazes permanecem no acampamento entre quinze e trinta dias, período durante o qual se submetem a curativos com folhas e outros medicamentos tradicionais apropriados. Durante esse período permanecem nús, e a semelhança com a cerimónia do efeko, são paramentados com um tipo de barro branco conhecido por otchikela que, tal como é comum observar-se noutras circunstancias, serve para atrair as boas graças dos espíritos que são portadores de bem-estar, contribuindo assim para a rápida e efectiva recuperação do corte do prepúcio dos rapazes circuncidados, que no acampamento, os jovens circuncidados são alimentados de carne de vaca que geralmente, é morto durante a decorrência desse período de reclusão. Depois de o ―cirurgião‖ ter considerado o conjunto dos onvindanda já curados e completamente restabelecidos, é previamente escolhido um dia que, geralmente, calha num fim-de-semana, em que os circuncisos são levados a tomar banho e depois vestidos de panos novos cruzados e belas ―missangas‖, envergando osala29 à cabeça espécie de chapéu que é confeccionado à base de ondengo e olosumu e transportam consigo um kamuti, que é, um pequeno cassete cujos contornos são configurados por passagens rápidos no fogo sendo enfeitados com cordas. 29 Le-se ossala (singular)
  • 24. 31 Uma vez banhados e vestidos, entoando as canções que aprenderam no acampamento durante o tempo de reclusão, os ovindanda partem ao cair da tarde para o povoado ao local de festa, comem, bebem e dançam. O ponto mais alto é quando, de modo empolgante interpretam e dançam ondjando, um tipo de dança que aprendem durante o período de reclusão no acampamento durante 90 dias. Entre elemento de um mesmo grupo de circuncisos designam-se de ekula lyange, isto é, companheiro de circuncisão. Os não circuncisos não se atrevem a passar por perto ou a cruzar pelo acampamento em virtude dos maus presságios que a sua presença pode trazer. Correm, por isso, o risco de serem severamente agredidos, já que sendo ainda portadores de ekwendje ou esutu ―o prepúcio‖, não estão por isso preparados para casar. Nesta conformidade, este vêm como única solução dos seus problemas a busca de parceiros para casar fora da sua comunidade de nascimento, procurando-as no seio de outras sociedades no âmbito de grande comunidade nacional umbundu, uma vez que, diferentemente dos Vambokoyo, embora a prática da circuncisão ekwendje, ou a cerimónia de efeko seja seguida por alguns grupos, nas sociedades umbundu da região central de Angola, não é rigorosamente observada por todos os grupos que a integram. Durante o corte do prepúcio (esutu30 ), caso morra um dos rapazes decorrente do processo de corte, não se dá conhecimento da ocorrênia à mãe, mas unicamente ao pai, por virtude de, a sua qualidade de membro do sexo masculino, ter acesso ao acampamento dos circuncisos (ovindanda). O falecido é enterrado no mesmo lugar onde sucumbiu. Porém, ainda que morra por doença, apenas no dia do banho a mãe do jovem falecido tomará conhecimento que algo de mau poderá ter acontecido com o seu rapaz, ao constatar a sua ausência durante a dança final (akula) em que intervêm todos os circuncisos. Aperceber-se-á, igualmente, através das canções que são entoadas e que referem geralmente o nome do jovem, ou dos jovens que eventualmente, tenha ou tenham falecido. No dia do banho, que insistentemente anuncia o fim do enclausuramento, os jovens circuncidados aparecem vestidos de um pano atado na cintura caído sobre os pés (omaleko), dois panos atravessados no peito (ombindikiso), ostenta na cabeça um chapeu feito de penas de pavão (osala yo nduva), alguns chocalhos tradicionais que colocam nos tornozelos e que 30 Le-.se essutu
  • 25. 32 ajudam a ritmar e animar a dança num pequeno cassete trabalhado (kamuti), ou melhor enfeitado. Enquanto curam as feridas os circuncidados são acampados num lugar denominado de otchikandjo, onde não é permitido o acesso de rapazes não circuncidados. É no otchikandjo onde aprendem a executar uma dança designada ondjando, que é sempre exibida na cerimónia de encerramento da festa do ekwendje. 1.2.3 - O Namoro/Alambamento Tudo começa no antigamente em que, segundo relatos do ancião Auxilio Carvalho actual Regedor Municipal, os jovens iam em muitas festas, uma delas é de iniciação masculina ou feminina, às grandes batucadas, aos casamentos e a noite se pretendiam. Esta é a 1ª etapa ou fase: período exploratório, de conversa, de diálogo. Neste contexto realça o ancião, havia jovens que tinham duas, três ou mais namoradas (Olombasi)31 , mensalmente ele chamava uma delas (Okutumisa)32 , para passar a noite em sua casa, sob o olhar atento dos seus pais e a família questionava quem é esta jovem, a que família pertence? 2ª Etapa ou fase: - período em que os noivos procuram conhecer-se, para ver se são feitos um para o outro, saber falar e ouvir. Falar entre si, ouvir-se e ouvir os conselhos dos que podem dar um juízo certo. O tempo do namoro deve preparar a aceitação do outro como é e não como foi sonhado. Quando o menino atinge a idade núbil, faz-se a selecção das namoradas, sem elas saberem, de preferência a próxima da família ou que tenham o mesmo Otchihiko33 que pode facilitar a sua integração na família e a apurada lhe é dado uma pulseira (Otchinunga ou Etakila) e mais tarde uma cabaça (Otchipupu), cheia de Ongundi34 , significa eleição e esta leva a cabaça e a entrega a sua avó ou tia (Wanoliwa)35 , Esta eleição é sinal de festa para a família da moça e ao mesmo tempo se preparam para dentro de dias receberem os familiares do moço e fazerem (Okulimolehela/Alambamento ou Okutambela)36 , é a fase do noivado. 31 Olombasi- Namoradas 32 Okutumisa - ritual de preparação, dialogo para casamento, conhecimento mútuo, sem relações sexuais 33 Otchihiko – Identificação sociocultural e familiar 34 Ongundi- cabaça pequena contendo manteiga de gado 35 Wanoliwa – escolhida, a eleita, selecionada 36 Okulimolehela/Alambamento ou Okutambela – apresentar-se, contacto entre duas famílias
  • 26. 33 Doravante, passa-se então para o período que é considerado por «namoro oficializado., mas entende-se isso como um período em que os noivos deverão evitar a prática do acto sexual, de modo a impossibilitar quaisquer decepções ou contrariedades entre as partes, até que o casamento seja consumado e os noivos passem à nova vida. Durante o noivado são proibidas e absolutamente desaconselhadas as relações prematrimoniais. Esta regra deve ser respeitada para o bem dos dois. A mulher deve exigir respeito e o homem deve respeitar a mulher. O Tchisandji diz e é aceite ―o matrimónio de prova não resolve nenhum problema futuro, aliás cria dificuldades porque a relação amorosa pode terminar sem chegar ao casamento‖. Que direito tem o homem de possuir a mulher que não será sua? E que dignidade tem a mulher que se oferece a um homem que pode abandoná- la dum momento para o outro? Nestes casos onde está o amor? Sem amor total não é lícita nenhuma relação matrimonial. ―O verdadeiro amor requer sacrifício e renúncia‖37 . 3ª Etapa ou fase: Feita a okulimolehisa/alambamento ou okutambela, segue-se o passo dos preparativos para o casamento (Okukwela), chegado o dia, a família do noivo envia um senhor, de preferência tio do noivo, que leva uma zagaia com uma ou duas flechas, um menino que leva OmbwetI38 que significa valentia, força para proteger a futura esposa e uma menina que leva Etamila39 contendo otchisangwa tchombundi e uma galinha; de igual modo nesta cerimónia são apresentados: óleo de palma, oponda, caixa de fósforo, chapéu e roupas, que mais adiante vamos pormenorizar. Chegados em casa da família da noiva procede-se a saudação habitual, os familiares encontrados interrogam aos visitantes sobre as causas dessa deslocação: A esse resumo descrïtivo de situações designam - se Ulonga40 . 37 COLOMBO, Dalmazia; ECONOMIA DOMESTICA “A MULHER NO SEU LAR‖ed Paulinas, 2000, pag 37. 38 Ombweti – cassete, pau próprio trazido pelos idosos. 39 Etamila - tigela feita de palha. 40 Ulonga - Após a saudação, serve de rreellaattóórriioo iinnddiissppeennssáávveell nnaa rreellaaççããoo ddiiáárriiaa eennttrree vvaammbbookkooyyoo;; É a resenha de tudo. Acontecimentos vividos durante a noite, o dia, no espaço de horas… sinal de comunhão, convivência, sociabilidade e de partilha.
  • 27. 34 1.2.4 - Significado dos artigos que se doam no “okulomba” / Alambamento - Os artigos abaixo apresentados não têm preços, são simplesmente simbólicos. Galinha ou ovo – sinal de pureza, virgindade, inocência, razão pela qual nunca se usa o galo. Óleo de palma ou azeite – serve para Okupyola, ou Okulembula - significa tirar espíritos maus, (ofela); é o rito de purificação. Significa tambem tirar espíritos maus, através da utilização de óleo de palma ou imolação de um animal ou ave; «Para o bantu, o sangue é o veículo primordial da vida. Assim derramá-lo sacrificialmente significa ofertar o que há de mais valioso, comunicar-se por um veículo participável, aniquilar-se religiosamente para recuperar em troca uma vitalidade maior, suprir a exigência ou fervor pessoal e comunitário de se imolar, descarregar a culpabilidade, conseguir um favor, comungar no invisível»41 Símbolo de chamamento, escolha, eleição, glória, ternura, purificação, bênção, protecção, defesa, poder, tomada de posse, fortaleza, robustez, harmonia, pacto, aliança, consagração, fidelidade, unidade, reconforto, reconhecimento, felicitações, envio, missão, sencibilidade, protecção contra maus espíritos e maus olhares) contra a inveja, boa sorte, fertilidade, fecundidade, unção do corpo, pés, tornozelos, mãos etc. Para lutar contra o mal. Dois panos – okutchita okuveleka, sinal de respeito pela mãe que nasceu e cuidou da filha desde tenra idade até à idade adulta. Oponda “uvya”42 . – Respeito pela mãe que gerou a filha/noiva; após o parto é costume a mãe parturiente amarrar o pano na barriga, este pano aí é reposto. Chapéu – responsabilidade, autoridade, sinal de honra. Garrafão de vinho – Sinal de partilha, banquete, refeição, convívio. 1 Litro de aguardente – se o litro for apresentado fechado é sinal de que a noiva casou-se virgem e caso contrario o litro é levado aberto. 41 Cfr, ALTUNA, Pe. Raul Ruiz de Ansúa: Cultura Tradicional Bantu; 2ª ed., Paulinas, Luanda, 2006, p. 490. 42 Cinto
  • 28. 35 Caixa de fósforo – Simboliza a conservação do fogo, dignificar (OOnnddaalluu)) –– qquuee ttaammbbéémm éé ssaauuddaaççããoo uuttiilliizzaaddaa ppaarraa ssee ddiirriiggiirr ààss ppaarrttuurriieenntteess oouu aaoo sseeuu mmaarriiddoo,, oo qquuee ssiiggnniiffiiccaa qquuee ooss ddooiiss gguuaarrddaarraamm oo ffooggoo;; eemm UUmmbbuummdduu oonnddaalluu éé ffooggoo ee OOlloonnddaalluu éé pplluurraall ddee ffooggoo,, ――mmaallddaaddee‖‖;; uumm hhoommeemm qquuee tteemm aa eessppoossaa ccoonncceebbiiddaa,, ssee ffaazzeerr rreellaaççõõeess sseexxuuaaiiss ccoomm aa oouuttrraa,, sseegguunnddoo aa ttrraaddiiççããoo pprroovvooccaa aazzaarr oouu sseejjaa,, pprreessuummee--ssee qquuee aa eessppoossaa vvaaii eennccoonnttrraarr ddiiffiiccuullddaaddeess aaoo ddaarr àà lluuzz,, ccaassoo nnããoo hhaajjaa iinntteerrvveennççããoo aapprroopprriiaaddaa,, aa ppaarrttuurriieennttee ppooddee aaccaabbaarr ppoorr mmoorrrreerr ee ddiizz--ssee wwaaffaa ll´´oolloonnddaalluu.. SSeegguunnddoo RRaauull AAllttuunnaa,, ――éé ccrreennççaa ccoommuumm qquuee oo aadduullttéérriioo ccoommeettiiddoo dduurraannttee aa ggrraavviiddeezz ppoorr aallgguumm ddooss pprrooggeenniittoorreess,, ppooddee ttrraazzeerr ttaarraass ee aattéé aa mmoorrttee ddaa ccrriiaannççaa.. AAss ddiiffiiccuullddaaddeess nnoo ppaarrttoo ccoossttuummaamm aattrriibbuuiirr--ssee,, qquuaassee sseemmpprree,, aass rreellaaççõõeess sseexxuuaaiiss pprrooiibbiiddaass ((……)) ssee oo ppaarrttoo ssee ccoommpplliiccaa,, ddeevvee aapprreesseennttaarr--ssee oo ppaaii ee ccoonnffeessssaarr ooss aadduullttéérriiooss ccoommeettiiddooss.. TTaammbbéémm aa mmuullhheerr ddeevvee ccoonnffeessssaarr aass ssuuaass aavveennttuurraass aammoorroossaass.. SSee aass ddiiffiiccuullddaaddeess ccoonnttiinnuuaamm,, cchhaammaamm oo aaddiivviinnhhoo--ccuurraannddeeiirroo‖‖4433 Esses passos narrados no presente trabalho, vão culminar no casamento que pode ser: aa)) CCaassaammeennttoo TTrraaddiicciioonnaall oouu uunniiããoo ddee ffaaccttoo nnããoo rreeccoonnhheecciiddoo ppeelloo eessttaaddoo nneemm ppoorr qquuaallqquueerr iiggrreejjaa.. bb)) CCaassaammeennttoo CCaannóónniiccoo oouu rreelliiggiioossoo// CCaassaammeennttoo ssaaggrraaddoo cc)) Casamento Civil ou União de facto reconhecido pelo estado ―UUnniiããoo ddee ffaaccttoo rreeccoonnhheecciiddoo,, ppaassssaa ppeelloo ccóóddiiggoo cciivviill ddoo EEssttaaddoo‖‖.. O matrimónio é um assunto complexo em que os aspectos económicos, sociais e religiosos estão por vezes intrinsecamente misturados que não se podem separar… para nós, africanos, o matrimónio é o centro da existência. É o lugar de encontro de todos os membros de uma comunidade: os defuntos, os vivos e os que ainda vão nascer. Todas dimensões do tempo convergem para aqui, o drama repete-se na sua totalidade e recomeça dotado de uma nova vida. O casamento, desenvolve-se ao longo dum processo dinâmico prolongado e realizado por símbolos, ritos e pactos que tenta e consegue situá-lo na sacralidade como realização religiosa, e, no social, jurídico e económico, como instituição legal fundante e responsável. Os caminhos do casamento são diversos, na África negra, tal como os usos e costumes 43 ALTUNA, Pe. Raul Ruiz de Ansúa,op cit pag. 274-75.
  • 29. 36 matrimoniais ou o valor da virginidade. Mas em todos os grupos aparecem algumas constantes e uniformes, uma base originante comum… o casamento fundamenta uma aliança entre grupos, ou seja a mulher e o homem, introduzidos pelo matrimónio no novo grupo, reforçam a amizade e as alianças entre as famílias, clã, tribos e reinos amigos, ou inauguram- nas se são estranhos, indiferentes ou hostis. Esta aliança, entre dois grupos, constitui o seu valor social e político primário e mais profundo… o casamento assegura dois aspectos impreteríveis: a fencundidade-prolongamento e a aliança-coesão social do grupo. Os cônjuges são responsáveis para que dois grupos se consolidem, intercomuniquem ou inaugurem amizade44 ». 1.2.5 - O casamento Celebram o casamento antecedido de uma festa popular para os rapazes de qualquer idade, e das raparigas dos doze anos, cerimónia essa que é tradicionalmente conhecida por ekwendje e efeko, isto é, nas comunidadesVahanha, Vandombe e outras, enquanto nas comunidades dos Vambokoyo apenas subsiste o ekwendje. Como se observa em outras sociedades, o matrimónio é um longo processo no qual intervêm inúmeros actores sociais e respectivos grupos. Pode dizer-se que esse processo tem início quando um qualquer jovem comunica aos seus pais o desejo de se casar. Após isso, os pais seleccionam os grupos, entre familiares e ukwatchisoko (com os quais tradicionalmente realizam casamentos) que possuam raparigas solteiras. Depois de estudadas as possibilidades, e depois de previamente ter sido escolhido o outro grupo, envia um emissário que vai levar a notícia aos pais da rapariga. Em seguida, acompanhado de uma rapariguita, parte um indivíduo levando consigo uma zagaia. Postos em casa da noiva, o emissário anuncia: ―ndeya okupa enhañga lombi”, o que quer dizer (vim em busca de apanha folhas de mandioca), sugerindo tal expressão que essa tarefa está reservada às donas de casa. Em seguida, a mãe da noiva prepara uma kimbala, que é banhada de manteiga de okulembula ohondji, devendo a rapariguita acompanhante passar tamnbém por esse processo. Ao entardecer, levam consigo a noiva e a zagaia humedecida de volta, acompanhada de uma outra rapariguita (ombelekela), que tem a função especial de dormir na mesma cama com a 44 Ibidem, p.300- 301
  • 30. 37 noiva, não no meio mas atrás da noiva. Sua presença talves seja mais para efeitos de dissuasão do que qualquer outro, pensando-se que estando lá dará maior controlo aos futuros nubentes, e, possivelmente, evitará o contacto sexual. Na altura da partida a mãe recomendar-lhe-á: kavete kukaipaye pomuenho wipo.‖ Vá, castigue mas não mate, porque aonde há vida e melhores oportunidades, mais sensibilizados devemos ficar… Por sua vez, o emissário responde: ame ndikaveta pomwenho ndipo, isto é, vou batê-la mesmo, não para matar, mas com o intuito de a educar‖. Devidas as diferenças e semelhanças existem hábitos e constumes praticados pelos Vambokoyo, mas os Vahanha, vanganda, Vandombe não praticam e vice- versa. Uma vez postos no lugarejo, tem então início a festa que é organizada pelos pais do noivo. Uma semana depois, a noiva regressa para a residência dos seus pais, onde deverá pemanecer durante cinco dias, para depois retornar ao novo lar, desta vez levando já consigo os seus bens e um grande porco (unemba). A oferta desse animal parece ser feita por determinados membros de sua família que são desiganados para o efeito. Geralmente, essa oferta é da comptência dos tios da rapariga, e nestes casos diz-se okalia viahe, o que equivale a dizer. É a vez da festa dela. Ainda relativamente ao casamento, no dia estebelecido para a apresentação da rapariga, é designado o tio ou primo do noivo que se desloca em companhia do rapaz para conjuntamente com os pais da rapariga darem vazão a este acto de grande importancia para os grupos e famílias intervenientes. Depois da saudação habitual, as famílias encontradas interrogam aos visitantes sobre as causas dessa deslocação ―nhe tchakwimbi mondjila?” Na resposta, começa por intervir a pessoa que é responsável do grupo que chega, que expõe em breves palavras as razões da vista. Porém, a sua exposição é geralmente antecedida de uma informação geral a situação social da família ou da comunidade a sua explanação dizendo: vipwilapwila mokusapela, kavipwilapwila mulonga. A esse resumo descritivo de situações designam ulonga. Traduzindo as suas palavras percebe-se que este quis dizer que os assuntos não se esgotam em resumos, porém, ao longo da conversa e do diálogo entre partes. Terminada a explanação do representante do grupo visitante é a vez do tio da rapariga que, do mesmo modo, faz a sua explanação. Finda a primeira parte da cerimónia, segue-se então a conversa que incide mais exactamente nas questões da futura união dos dois jovens.
  • 31. 38 Na presença do jovem o grupo visitante declara a sua afeição e satisfação por conhecer a rapariga e a vontade de integrá-la na sua família. No entanto, na ocasião em que isso ocorre, a rapariga não está presente, ela fica de certa forma distanciada do local, aguardando pela chamada da sua família. Uma vez chamada ao lugar das conversas, a rapariga é interrogada e chamada a explicar se de facto, já conhece o rapaz e se gosta dele. Cabisbaixa, quiça por receio ou por vergonha, em geral ela prefere não dizer nada e permanece silenciosa até que a família conclua que o seu silêncio é um sinal positivo e pressupõe aceitação táctica. Em caso contrário, ela responderá negativamente e dirá mesmo que não quer nada com esse rapaz. A partir do momento em que as partes constatam que há acordo, ambas atarefam-se a dar conselhos para o futuro casal. Explicam como ambos se deverão comportar durante o namoro, incidindo mais gas suas observações e ensinamento para o respeito a ser observado entre os futuros nubentes e para a estreita fidelidade no casamento. Em seguida, festejam alegremente o acto, comendo e bebendo. Doravante, passa-se então para o período que é considerado por ―namoro oficializado‖, mas entende-se isso como um período em que os noivos deverão evitar a prática do acto sexual, de modo a impossibilitar quaiquer decepções ou contrariedades entre as partes, até que o casamento seja consumado e os noivos passam à nova vida. No dia estabelecido para o casamento, a família do noivo (tio ou primo acompanhados de uma tia ou prima), deslocam-se à casa dos pais da família da noiva, sendo daí encaminhadas para a casa do tio, irmão da mãe, onde, por norma, tudo decorre. Levam consigo a oferta do casamento, que geralmente é composto por um chapéu (capacete), um casaco, uma camisa, uma calça, um par de sapatos, tudo isso para o pai da noiva; um lenço de cabeça, um quimone, um ou dois panos e um par de sapatos, para mãe da noiva; e ainda, um garrafão de vinho tinto fechado com capacete (cobertura de cal com a qual antigamente vinham cobertos os garrafões dos melhores vinhos). O grupo referenciado é recebido com um excelente banquete que foi propositadamente preparado. Após à refeição, segue-se a narração do dia do casamento que, de preferência, deverá ocorrer no fim-de-semana seguinte. No dia aprazado, um grupo da família da noiva comoposta pelo (a) tio (a), primo (a), incluindo uma rapariga preparada conduz a noiva à casa do noivo, devendo aí chegar mais ou menos ao anoitecer, facto que é conhecido por wakalya vyulume, traduzido literalmente significa que ―foi comer os do homem‖.
  • 32. 39 É assim que, no geral, se conhece como se desenrola uma verdadeira festa de casamento, que decorre ao sabor do batuque (oñgoma), da música (epwita) e de outras danças, que durante toda a noite faz vibrar toda a comunidade submetida à clareza da lua (osãyi45 ) e das estrelas (olombungululu, singular, olumbungululu); ou de uma grande fogueira, quando osãi está escondida algures no oceano ou quando as olombungululu não reproduzem a iluminação suficiente e necessária de modo a permitir a percepção desejada entre os presentes. Uma semana depois, a noiva já na condição de esposa, volta ao seu lar de infância e adolescência, a fim de apanhar os seus bens. Cabe à família do rapaz acabado de casar levá-la de volta a tornar a ir buscá-la num dia aprazado previamente para o seu regresso. Além dos seus bens, a noiva traz consigo um grande porco (unemba), que lhe foi oferecido pelo seu tio, aquele a quem coube a honra de conduzir à cerimónia de casamento e de a entregar à família do rapaz. Esgotados os dias combinados, período que pode durar até uma semana, a família do rapaz faz deslocar duas pessoas, sendo um tio e ou um primo e uma irmã, com objectivo de trazer de volta a rapariga recém-casada. O porco é abatido na presença dos familiares mais chegados. Casamentos há que são realizados fora da iniciativa dos dois jovens, ocorrendo unicamente por vontade dos familiáres que, em determinado momento, estabelecem um acordo que vinculada a vontade dos dois grupos, de estreitar laços duráveis entre si, através do casamento de seus filhos. Comumente, a iniciativa parte dos pais do rapaz, que demonstram o desejo de partilhar laços de amizade com uma determinada família ou grupo, localizada aí uma rapariga que é julgada bem comportada e trabalhadora, duas qualidades fundamentais, e escolhem-na como candidata para futura nora, isto é, futura noiva do filho destes. Neste caso, depois de ter ficado tudo acordado entre as duas famílias estas, tudo farão no senitdo de influenciar os filhos sobre as vantagens dessa união, atraindo-os desse modo para um casamento de conveniência entre ambos os grupos. Casos há em que o rapaz depois de atingir uma certa idade, manifesta-se junto dos primos ou de uma das tias que se sente mais próximo, a sua vontade de querer começar a namorar, exemplo que pede que lhe arranjem uma namorada. Tanto a tia como os primos são os membros da estrutura social com os quais este revela os seus segredos ou necessidades. 45 Le-se ossâyi
  • 33. 40 Quanto à descendência temos a dizer que os Vambokoyo designam Uveli ou otchiveli ao primeiro filho, que toma o nome do pai ou da mãe do marido, de acordo o sexo, etc., isso denominam de sando yange, isto é, meu ―xará‖. Caso se constate que o nome dos pais já tenha sido atribuído aos filhos primogénitos, os rebentos que se seguirem receberão nomes que são resultantes de pesquisas efectuadas junto dos parentes. Normalmente, só a partir do terceiro filho, ou talves mais conteplam a família da esposa. Para além do nome que a criança recebe dos pais, muitas vezes ela recebe um ―nome de casa‖, nome que é dado em fução do dia de semana em que nasceu. Sikunda, para os nascidos na segunda-feira, Kinda, para os nascidos na quinta-feira, Sapalo e Lumingu, para os que tenham nascido num dia de sábado ou de domingo, respectivamante e assim sucessivamente. Em algumas comunidades, tais como a Kimbundu, Cokué46 ou outras, por morte de um indivíduo casado, é norma verificar-se a entrega da esposa do recém-falecido a um dos seus irmãos, de preferência o mais novo, procedendo-se assim no sentido de dar continuidade à educação dos filhos nascidos do casal. Os Vanganda rejeitam esse tipo de procedimento e não permitem que isso aconteça. Antes pelo contrário, não só não permitem tais hábitos como estarão prontos a combaté-los energicamente. Na sociedade Mbokoyo, estadando-se perante um acontecimento trágico como a morte, depois de ter decorrido um ano de luto e de terem sido cumpridos os rituais que geralmente dão lugar nessas ocasiões, a nubente sobrevivente estará livre para voltar a contrair um novo casamento. Entretanto, os lanços entretecidos com a família do falecido ou da falecida continuarão, sobretudo quando se verifique que o casal deixou filhos. Estes permanecerão com viúvo, ou a viúva, consoante for o caso, ou então, com um tio ou com os avós, dependendo das capacidades económicas e sociais das partes e dos acordos que poderão ter lugar nessa ocasião. Em muitos casos, por virtude da sucessão kuso, os bens existentes até à altura da morte de um dos nubentes, são declarados bens dos sobrinhos, filhos da irmã do marido; há circustâncias em que tais bens ficam mesmo com os filhos do casal. No entanto, todos os procedimentos estão sempre dependentes da compreensão e entendimento entre as famílias. 46 Le-se Tchókwe – essa grafia Cokué é mais utilizada pelos evangélicos que tem a sua origem na fonetica latina.
  • 34. 41 1.2.6 - A poligamia, o adultério/ukohi e o divórcio A poligamia (oluvale), é permitida entre os Vambokoyo, a tal ponto que as diferentes mulheres podem viver no mesmo Imbo, (ajuntamento residencial, povoado, aglomerado). No entanto, cada uma delas residirá na sua própria casa, com os seus filhos. Muitas vezes, um segundo casamento não ocorre pelo simples desejo do marido; observa-se que esta prática poderá ser reforçada através de um pedido da primeira esposa que, uma vez acomodada e já com os filhos, começa a sentir-se cansada com os trabalhos de casas e com a produção exterior, na sua lavra, acabando por manifestar o desejo de ser coadjuvada por uma outra mulher, sem contudo perder a liderança económica e social do seu segmento residencial no Imbo. Por outra, o homem arranja a segunda porque a primeira não reproduz ou com ela não há entendimento ou pelo gosto da poligamia. Em geral os homens casados com duas ou mais mulheres são ateus, pois, as igrejas contemporâneas condenam essa prática de forma drástica, mesmo sabendo que a poligamia é para os autoctones, símbolo de riqueza e poder. O adultério, okulweya ou okulweyisa, acontece nesta sociedade quando alguém é descoberto em flagrante delito, já que, deste modo é considerado delito e é feita a merecida justiça na ombala (sede, lugar onde reside a estrutura política máxima, ou osoma47 , ou ―soberano‖ ou ―chefe‖, no sistema do poder tradicional entre os Ovimbundu), onde o prevaricador deverá vir a ser condenado, e nessa condição, ser-lhe-á exigido o pagamento da respectiva multa, designada por ukohi. Nestas situações o ukohi é diferenciado; no entanto, o prevaricador poderá ser levado a pagar uma multa de um ou dois bois que como se sabe, são animais prestigiados pela sociedade e de custos elevadíssimos. Entretanto, a norma que serve de lei é bem clara e não é permitido o pagamento por mais de uma vez (isto é, que a causa seja uma mulher que já tenha passado anteriormente por litigio semelhante), porque, só se considera que há engano uma vez. Contudo, se forem obveradas outras ocorrências de adultério praticados por mesma mulher, tal revelará uma evidente falta de seriedade da sua parte. Esse procedimento irresponsável poderá resultar no divórsio (okunhalã), de que falaremos mais adiante, ou então, esta terá que suportar o peso e a sociedade, pois a tendência para todos os casos onde intervém o pagamento da multa ukohi, acaba sempre por ser de conhecimento de todos, segundo a qual, se verificou a continuidade do adultério. Como se isso não bastasse, em casos de intrigas, os animais pagos como 47 Le-se Ossoma
  • 35. 42 indemnização dos adultérios praticados anteriormente, acabam muitas vezes por ser reclamados pelo adultério, que alegam como sendo graças a ela (a mulher adúltera) que o marido é possuidor do gado x, y ou z, acabando por irritar não apenas o seu marido enganado, como também os demais membros da família deste. O divórcio, okunhalã, é permitido entre os Vambokoyo e pode ser promovido por qualquer um dos nubentes, o homem ou a mulher, ou ainda pela família deste, nomeadamente pelos tios maternos ou pelos pais deste ou desta. A interferência da família surge quando o casamento atinge uma situação inesperada como por exemplo, quando depois de passados dois ou mais anos, o casal não tem filhos, e sobretudo quando, nesse mesmo período de tempo os irmãos casados com outros maridos já tenham tido filhos. Convém notar que nas comunidades africanas, os filhos da irmã representam uma grande riqueza para os irmãos. Por essa razão, são sempre os irmãos da mulher casada os que precipitam as coisas de modo a levar a mulher a pedir o divórcio ao seu marido. A mulher divorciada, estando livre e independente do marido, volta para casa dos seus irmãos. Caso pretenda contrair novo matrimónio, o novo pretendente terá de restituir o dote do primeiro casamento da senhora. Consequentemente, se a restituição do referido dote é efectuado, a mulher divorciada poderá manter-se com os bens que foram comprados durante o primeiro casamento. No caso em que a mulher venha a divorciar-se do segundo marido por esterilidade, o primeiro marido poderá reavê-la se a quiser, pedindo indeminização à família que o acusou de esterilidade, por cosntituir ofensa grave. Finalmente, pode ocorrer o divórcio de um casal que já tenha filhos. Neste caso particular, a mulher perde o direiro de custódia sobre os filhos, excepto quando estes ainda são pequenos. 1.2.7 - Onganga e a função do Tchimbanda A ―Feitiçaria‖ entre os Vambokoyo, estrutura-se em duas formas: uma defensiva e outra ofensiva48 . A ―feitiçaria‖ defensiva consiste no descobrimento da origem do mal que, à partida, afecta o homem, o animal e ou os fenómenos de carácter natural. Para esse tipo de manifestação está presente o curandeiro, que é mais conhecido por otchimbanda, que através de sonhos parte em busca do conhecimento e da verdade. Através de tais procedimentos, estes 48 GUEBE António; O que aprendi no Otchoto,2003,pag.98.
  • 36. 43 especialistas são susceptíveis de entender as causas do mal que afectam qualquer doente. Vísceras de determinados animais, como por exemplo, o de uma galinha ou cabrito, são utilizadas para a tarefa da busca. Nesta conformidade, o otchimbanda vai-se aproximando da realidade da vida do solicitador da advinha, recebendo aplausos como sendo,… otchili… otchili!49 ... Após o processo da advinhação, segue-se a medicação com raízes que são procuradas e encontradas na mata. A ―feitiçaria‖ ofensiva é a mais delicada e também a mais temida, sendo exercida pelos ―feiticeiros‖ (olonganga) propriamente ditos. A essas práticas recorrem pessoas com intenção de fazer o mal a outrem. Por isso, através dos olonganga pode se organizar a eliminação física de qualquer indivíduo, através de distintas práticas, tais como a colocação de venenos ou a organização de armadilhas (otala) nas passadeiras, portas de casas, travessias de riachos, encruzilhadas de caminhos, etc., práticas que têm levado a morte à muita gente. Ainda neste âmbito da feitiçaria encontramos curandeiros de casos especiais, como é o caso de otala que, apriori, realiza tratamentos sob indicação do advinhador ou do praticante do mal, deixando ficar bem claro a sintonia existente entre eles. A existência de uma determinada sobrevivência do outro, assim dizia o ―mais velho‖: uteke vatchita ondjaki hatcho vatchita ulemeli, isto é, ―confusionista e o apaziguador agem em simultâneo‖. Temidos, os ―feiticeiros‖ passaram a constituir um alvo a abater, pelas administrações coloniais e, sobretudo, pelas estruturas das igrejas contemporâneas (católica e evangelica). 1.2.8 - Rituais Fúnebres Óbitos dos bebés - Óbito é um momento de tristeza que acontece quando um membro de uma família (epata) de um osongo50 e Imbo desaparece eternamente no seio deles por razões de vária ordem como doenças acidentais, suicídios, etc. Nos ovimbundu em geral e nos Vambokoyo em particular, este momento é acompanhado de uma cerimónia que se observa durante uma semana ou mais dependente da economia que o morto possuia antes da sua morte. 49 Em verdade, em verdade. 50 Le-se ossongo
  • 37. 44 Para os Vambokoyo o óbito divide-se em cinco partes, nomeadamante, o óbito dos bebés, dos gémeos, albinos, suicídios e de adultos, descritos da seguinte forma. Pactuando com a ideia de como a morte se realiza, o rito supremo de passagem como resultado de um processo que arrancou do nascimento, ela torna-se também uma instituição com certa singularidade que consiste num papel relevante do elemento religioso na sociocultura de cada comunidade. Mas o mesmo não se dá com a morte de um bebé que não tenha sobrevivido durante o parto ou falecido semanas depois. Por se tratar de menor importância, não se realizam quaisquer cerimónias deixando toda a responsabilidade às mulheres que acompanham o processo de nascimento que por seu turno realizam o funeral no mesmo dia tão logo que elas se disponibilizam, sem caixão e fora do cemitério comunitário escolhendo geralmente lugares mais ou menos exóticos entre entrocamentos ou cruzamentos de caminhos. Para os Vambokoyo óbitos deste género escolhem lugares especiais como atrás de casa de quem já lhe faleceu bebé. Óbito dos Gémeos - O tratamento que se dá ao óbito dos gémeos com algumas semanas de idade é diferente de qualquer bebé. Póis, havendo um sobrevivente, é afastado do local onde se encontra o defunto. A mãe fica interdita a qualquer manifestação de emoções e para que o sobrevivente não se aperceba da morte do parceiro, improvisa uma boneca para fazer-lhe companhia em cobertura do falecido durante algum período. E para os Vambokoyo não improvisam mantêm silêncio. Em relação aos óbitos dos albinos - O albino é considerado pela tradição como um problema identificável nas relações entre as comunidades vivas e as não vivas. Numa família só nasce albinos por castigo que acontece quando os espíritos ficam descontentes com a conduta social dela pelo que é penalizado. Para evitar que a família afectada não sofra a exclusão social, nega-se a vida aos albinos (matá-los) tão logo que em parto sejam identificados. As parteiras têm o dever moral de sacrificá-los e declara-se em parto sem êxito. Embrulhados num pano como qualquer bebé morto é mergulhado no rio antes de amanhecer e ninguém saberá que teve um albino. O importante é o insucesso do parto. O indicador desta prática é a reduzida presença de albinos no seio rural. Entretanto, quanto mais Cristã se assume uma comunidade, menos homicídios de albinos recém-nascidos se pratica. Em casos
  • 38. 45 deste tipo, tem que haver muito secreto, se alguém denunciar pode se repetir a dar luz cada vez que matarem até quando houver um albino de vida. O Óbito de suicidas - Não há cerimónias admiráveis para suicídas. Mobiliza-se um pequeno grupo de homens hábeis para o funeral a realizar-se no local do acontecimento. Neste caso, para o funeral cava-se um buraco debaixo da árvore onde acontece e corta-se o fio usado para o enforcamento para o corpo cair directamente no buraco e colocam-lhe a terra até formar um túmulo. Se for dentro de uma casa, o cadáver é dado uma carga de purrada antes de ser colocado no cachão. Em alguns casos, dependendo da possibilidade, fabrica-se uma caixa a partir de uma árvore ―ondjakayaka, onenge” muito faceis de talhar a partir do local. O tratamento que se dá ao suicida tem carácter educativo promovendo o desencorajamento aos demais membros da comunidade. Em relação aos óbitos normais de adultos - É de facto muito exigente e mais completo, pois a morte parece mais observada em todas as comunidades não pelo elevado índice de mortalidade que na actualidade se regista mas porque nela estão envolvidos determinados valores éticos e morais, pelo que, é de responsabilidade comunitária. Com a multidão aglomerada em casa do defunto desde o início do plano, a cerimónia em geral decorre num período de tempo correspondente a uma semana, em que a casa enlutada matem-se aberta e o suficiente para exprimir toda dor. À semelhança dos hábitos e costumes de muitos povos vizinhos, as cerimónias realizam-se acompanhadas com sacrifícios de animais, comidas e bebidas locais. Tudo dependente da dimensão do óbito: touro, para os (ricos) criadores de gado, cabra ou porco e canjica para os agricultores; a banana para as comunidades litorâneas assegura o potencial logístico. Toda a logística é compartilhada como também os participantes são obrigados a comer tudo o que for feito. 1.2.9 - Constituição do Poder Tradicional (osoma e seus colaboradores) O poder tradicional é constituido da seguinte forma: 1º O Soba (Oñgala); 2º Onana (Inakulu) esposa do Soba; (primeira dama); 3º Mweletunda (substituto de Oñgala na sua ausência);
  • 39. 46 4º Kesongo I (O homem da justiça); 5º Kesongo II (chefe das milícias); 6º Ukwahamba (Filho do soba que na ausência de Oñgala junto trabalha com Mweletunda); 7º Kalei (O homem pelo controlo da elunga. Na ordenação de Oñgala amarra-lhe o elunga nas costas com um nó no peito. Durante a cerimónia de ordenação do soba, o Kalei, o ordenado e sua esposa ficam deitados na cama e o Kalei no meio deles controlando o elunga para ver se cai quando o Kalei tentar fazer uma simulação à esposa do soba. Se o Soba se mexer durante a tentação de simulação e desamarrar o nó e o elunga cair na cama, o Kalei apanha e o soba perde o poder de ser ordenado. E caso não tiver caído o soba ganha o poder e constitui a direcção. Este era o primeiro método. Entre os ovimbundu em geral e os Vambokoyo (vatchisandji, valumbu, vasele e vambelekete), em particular, para ser soba é preciso ser aceite na comunidade, receber a legitimidade comunitária, constituida pelos vivos e os não vivos, tendo em conta os aspectos influentes como eloquência coesão, perícia e os que concorrem na substituição do soba após a sua morte, são levados pelo kalei um por um num quarto e amarra-se-lhes amarrados nas costas o elunga perdendo o direito da ordenação quem-se sentir queimado. Só o poder é ganho por aquele que não se sentir queimado durante os minutos determinados. Existiam três tipos de elunga tais como: De bronze (lyo ngula); De prata (lye pembe); De bruto (litekãva). O soba possuía instrumentos de poder denominados em umbundu “Elunga”, que é um báculo tradicional e a Bengala é denominada em umbundu “Epanguty”.
  • 40. 47 • A Ombala é entendida como capital, cujo status de ordenamento habitacional pode significar uma cidade. Por ter também a função de sede político-administrativa designa-se por Elombe, pois, nela, estão contidas as instituições dos Poderes soberanos da ordem tradicional.51 • Imbo ou Ovambo no plural e corresponde com aquilo a que se designa desde a chegada portuguesa, por aldeia (s). O Imbo, que equivale a povoação, aldeia, mas que representa um aglomerado de indivíduos, é uma comunidade que pode compor-se de uma ou mais famílias alargadas. É um centro territorial colectivo que representa o modo primogénito estável de uma comunidade de inserir-se no espaço, é também uma comunidade de bens colectivos que possibilita a realização das primeiras funções económicas, e tem uma personalidade própria à semelhança da família, o que se manifesta, em primeira mão, a partir do próprio nome, que surge em analogia ou ao fundador ou às complexidades naturais que envolvem o lugar. • Osongo52 ou Olosongo, são as estruturas básicas do contexto de organização tradicional dos Estados Ovimbundu que se estendem entre as actuais províncias do Bié, Huambo, Benguela e Kuanza Sul. • Alunda, espaços que tenham sido vividos e trabalhados no passado, são património cultural e demitem qualquer tentativa de analogia à parcelas em pousio ou Otchipembe, cujo significado é, somente, parcelas de reserva para o exercício agrícola. Alunda vão dispor-se dentro do território que constituem os limites do Estado. Porque na perspectiva africana vitalista, ―não há lugar para o completamente inerte e não existe o vazio‖. Eis que os ovimbundu não acreditam no nada absoluto, ou seja, em negar o ser‖. ―Wakula kakalisuluvike lowanga, Owanga wahe - o adulto não pode temer o feitiço, porque já o tem‖»53 . Morte e entrramento de um osoma - Quando morre um Osoma, a ocorrência é ocultada à população que integra a comunidade do chefe acabado por falecer. Por necessidade conjuntural é apenas informado a comunidade que o seu Osoma está muito adoentado exceptuando porém os funcionários da Ombala real. Outrora logo após o último suspiro do 51 MANUEL Tuca; A Terra a Tradição e o Poder (uma contribuição ao estudo Etno Histórica da Ganda), ed. KAT-Formação e consultoria,2oo4,pag 26 52 Lé-se Ossongo (singular) 53 MANUEL Tuca op cit, 2004, Pag 37.
  • 41. 48 Osoma, era o cadáver suspenso no tecto de um quarto apropriado. O seu corpo aí ficava por cerca de dois meses e meio ou três, seguindo um processo normal de decomposição do corpo até verificar-se a separaçãototal da cabeça do resto do corpo, passando para um processo de limação com uma corda no pescoço. No chão, logo debaixo do corpo suspenso, é colocado um vaso para recolher os vermes que vão caindo do cadáver em putrefação e que irão depois ser enterrados conjuntamente com o corpo inerte. Mas isso só poderá acontecer após à separação da cabeça do corpo. Após esse acontecimento (separação da cebeça do corpo) é que as populações são avisadas acerca da morte do seu chefe, Osoma, dizendo que elunga lyaveta mohanda, isto é ―o báculo tradicional bateu na pedra‖. O comunicador tem que subir na árvore antes de informar e depois tem que descer rápido e correr, porque se for apanhado será vendido pois, o valor da venda deste será gasto no óbito comunicado. Com o aviso às populações seguem-se as precauções a tomar pelo óbito (onambi). Na casa de óbito, a família entra em luto cerrado; a viúva, isto é, a esposa principal do Osoma entra em reclusão do nojo num quarto sendo acompanhada por duas ou três filhas idosas nele permanecendo durante mais de um mês, comendo e recebendo visitas que vêm consolar e apresentar as condolências. A partir da data do anúncio da morte do Osoma, começa a afluência dos cidadãos à Ombala para dar os pésames e trazer diversos presentes entre animais domésticos que servirão para as vitualhas (bois, porcos, galinhas) e bebidas: aguardente, otchimbombo, vulgarmente conhecido por bebida esfervecente (bebida feita de farelo de milho ou massambala) presentes a esses que ajudarão a custear o óbito que têm de presenciar e participar e que começa após o funeral. Por essa razão, durante a decorrência do óbito, os chefes de famílias não deixam os seus filhos passear pela povoação porque senão correm o risco de serem apanhados e vendidos, cujos bens ajudarão as despesas do óbito. O soba oñgala é enterrado por duas partes em dois cemitérios dimurantes. O cemitério (ombila) de cabeça (crâneos) dos chefes (olosoma) acha- se sempre situado no morro próximo a ombala e é designado por akokoto (espelunca) que é um lugar sujo com pessoas duvidosas. Do corpo inerte e vermes é designado cemitérios dos supremos (olombila vyoloñgala). Após o funeral, inicia-se então a cerimónia do óbito que consiste em banquetes, morte de animais cujas espécies foram atrás arroladas, aguardentes, banquetes e danças.
  • 42. 49 A vacatura deixada pela morte de um chefe dá lugar ao consequente preenchimento do lugar deixado. Na ordem de sucessão natural, está o seu filho primogénito, mas na falta deste recorrem-se aos irmãos, netos sobrinhos e primos dos chefes. Os homens nobres dedicavam- se na plantação de árvores, mulembeiras denominados ussolo, tchipakopako, epilãn e tchitumbututu nas suas aldeias. O desenvolvimento das ramificações dessas árvores, apresentava as direcções com significados tradicionais diferentes: De reprodução de gado bovino quando as ramificações fossem circulares deitadas e raízes aéreas; Não reprodução de gado bovino e de mais anos de vida, quando as ramificações fossem em direcção vertical; De mais problemas na sociedade de maneira a ter solução, quando as ramifições fossem de um lado da árvore em direcção ao Este (E); De haver menos perigo na sociedade, quando as ramificações fossem de um lado da árvore em direcção ao Norte (N) e Sul (S); De haver mais perigo obrigando a retirada do local na sociedade, quando as ramificações fossem lateralmente de um lado da árvore em direcção ao Oeste, porque não seria possível solucionar os problemas que haviam de vir. Por outro lado, estas árvores prestavam de salas de reuniões da aldeia ou sombra. Os ―capitalistas tradicionais‖ de gado bovino, apresentam-se com uma ou mais missangas, (ndongo) no pescoço e quem pusesse mais de duas era o maior criador de gado bovino. Esta missanga, era feita na região de Ngungu (Kwanza-Sul) de crostas de alguns seres vivos parecidos de caracóis. Eles vestiam se de peles curtidas de animais domésticos e selvagens, de fibras de cascas de certas árvores nomeadamente de tecelagem de algodão e não só, para outros homens nobres e sobas. Vakwatchisoko e sua função - Nessa região a classe social ―Otchisoko‖, em termos de Soberania política se impunha às léis que defendiam ou condenavam aqueles que cometessem erros na comunidade. Otchisoko é a relação de parentesco que se estabelece entre indivíduos, mesmo sem existir consanguinidade ou colateralidade, pois o Otchisoko é um elo de ligação ou uma relação entremeado entre o sangue e o social, por virtude do pacto que une as pessoas
  • 43. 50 e os grupos, atrvés de ritos apropriados em que ocorre a selagem destes através do sangue vertido e das juras que ai são trocadas54 . Importa aqui salientar o facto de elementos de um mesmo Otchisoko, poderem apoderar-se de animais ou artigos de valor, bastando apenas gritar “Ndatika Otchisoko”, que significa dizer ― cobrei (ou declarei) a minha pertença‖, e o dono desses animais ou artigos e os seus familiares, assistem impávidos e serenos à presunção, unicamente em obediência à tradição ou, vivendo plenamente em harmonia com a identidade atestada pela cultura. Caso similar podemos encontrar na relação entre primos, na relação colateral, em que existam filhos de uma irmã e do irmão, isto é entre consanguíneos. Estes últimos não podem nem devem proferir palavras que revelem o saborear de determinado alimento, como por exemplo, Okulya Kwapepa (a comida está boa), pois, deste modo, é imediatamente amarrado pelos filhos da primeira, sendo acusado de ―Wanhamula”, expressão que dá a ideia de ―saborear alimento‖ ou ―bebida‖. O facto é considerado como uma infracção grave. Só podem ser libertos mediante o pagamento de uma caução que varia de pequenos objectos ou animais, e de cuja lista não é de excluir o boi. 55 Por tradição os homens não cozinham com o tipo de lenha chamada elala, porque segundo a tradição reproduz artimanhas e caso alguém por engano utilize tal lenha na cozinha ou no Ondjango, pode causar atritos ou separações nos lares e dificilmente se pode conseguir a reconciliação. 1.2.10 - As Danças e sua Significação no Mbokoyo Dança56 - movimento corporal rítmico, geralmente acompanhado de música, que seguem um padrão e funciona como forma de comunicação ou expressão. A dança é a transformação de funções normais e expressões corriqueiras em movimentos fora do comum com propósitos extraordinários. A dança pode incluir um vocabulário pré-establecido de movimentos, como no balé e na dança folclórica européia, ou pode utilizar gestos simbólicos ou mímicos, como em inúmeras danças asiáticas. Pessoas de diferentes culturas dançam de maneira distinta por várias razões, e os diversos tipos de dança revelam muito sobre o modo como vivem. 54 GUEBE António, op cit pag.103 55 Ibdem, pag. 109 56 Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © Op. Cit. 1993-2001.
  • 44. 51 A dança pode ser recreativa, ritual ou artística. Pode contar uma história, servir a propósitos religiosos, políticos, econômicos e sociais; ou pode ser uma experiência agradável, excitante, de valor meramente estético. Unitária, comunicação, quando o corpo humano é exposto a servir de elo de ligação através das manobras harmoniosas, fundamentalmente em momentos de ―rituais, eventos especiais, comunicativos ou eventos críticos‖ (Pereira, 2002: 8-9). Experimentais, sendo um de folclóre e outro de dança moderna, encarregues de sensibilizar o público sobre esse género de dança‖57 . Olundongo - Dizem os relatos que quando os sobas ovimbundu precisavam de gados recorriam à prática de assalto aos povos criadores do sul, o que era facilitado pelo toque dos apitos dados pelo soberano aos candavita58 . Segundo a tradição oral esses apitos possuíam um som mágico que facilitava o roubo pois, quando eram tocados os pastores adormeciam e facilmente eram aprisionados. O gado era conduzido pelos assaltantes e os pastores eram libertados assim que percorressem a distância suficiente que garantisse segurança aos assaltantes. Enquanto acampavam para descansar, e de modo a afastar quem se tentasse aproximar, batiam em paus e cantavam para parecer que eram muitos e também para não dormirem. A sessão repetia-se nas noites seguintes até que chegassem ao seu destino onde, em apoteose, se exibiam e eventualmente rendiam homenagem a um membro do grupo perecido no cumprimento do ―dever‘‘. Se alguém do grupo falecesse na ombala, o soba tinha dever de dar uma cabeça de gado para o óbito. Nessa altura os restantes membros do grupo passam a noite a tocar e a dançar o Olundongo, tal como acontecia por ocasião dos assaltos. ―Também é norma que quando morre alguém, sobretudo se o defunto foi um homem de honra, libertador de escravos ou então criador de gado, se coloquem os chifres de um boi (abatido de propósito) num cesto (ohumba ou etamila) raso e de grande diâmetro, situado no centro da roda de dança. O som ecoa e dentre os presentes, sai quem se sentir no direito de poder ir ao centro e segurar os chifres sobre os quais se inclina, levantando-os em gestos 57 Centro de documentação e informação do Ministério da Cultura, Iº simpósio sobre cultura nacional, pág. 63 58 Kajibanga Cristóvão Mário; Coreografia Rural (uma contribuição para o estudo sociocultural de Benguela, ed.KAT,2009, pag.85