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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
FINALIDADE DESTA OBRA
Os materiais literários do autor não têm fins
lucrativos, nem lhe gera quaisquer tipo de receita. Os
custos do livro são unicamente para cobrir despesas com
produção, transporte, impostos e revendedores. Sua
satisfação consiste em contribuir para o bem da
educação, uma melhor qualidade de vida para todos os
homens e seres vivos, e para glorificar o único Deus
Todo-Poderoso. Espero que este livro leve as pessoas a
pensarem que ao abrirem a sua residência para hospedar
um animal, eles podem estar hospedando um anjo que irá
lhe proporcionar as mais agradáveis experiências da vida.
CONTATOS:
http://doutoraeteocron.blogspot.com.br/
AUTORIZAÇÃO
O livro pode ser reproduzido e distribuído por
quaisquer meios, usado por qualquer entidade religiosa,
educacional ou cultural sem prévia autorização do autor.
[ 2 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Anjo Teocron / cadela Doutora
AUTOR: Um animal, um homem e um anjo se
uniram para escrever uma história fantástica. Três seres
de classes diferentes contam uma história simples em que
o cão vira-lata ensina ao homem as virtudes espirituais, e
um anjo se revela na figura de um cachorro, ajudando o
homem nos momentos de perigo. O homem está no meio
entre estes dois seres, sendo influenciado durante sua
vida.
[ 3 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
[ 4 ]
M543 Menezes, Valdemir, 1969, Doutora e Teocron
O Anjo de quatro patas / Valdemir Mota de
Menezes, Doutora e Teocron. Cubatão/SP,
Amazon.com Clubedesautores.com.br, 2015
224 p. ; 21 cm
ISBN-13: 978-1518677663
ISBN-10: 1518677665
1. Cinologia 2. Biografia 3. Angelologia I - Titulo
CDD B869.8
CDU 929(100)
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
SUMÁRIO
Introdução
I – CADELA “DOUTORA”
1 – Hospedando o anjo
2 – As lembranças de Regiane
3 – Carinho na barriga
4 – Matando codornas mordendo chinelos
5 – Envenenada
6 – As galinhas do Galera
7 – Leisa, a Galega
8 – Latidos à noite
9 – Gravidez psicológica
10 - Correndo pelas ruas de Santos
11 - Esperando a beira do caminho
12 - Sol e chuva ao lado do dono
13 – Não mexa comigo
14 – A gata Pamella
[ 5 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
15 – Soleira da casa
16 - Toby
17 – Caçada ao lagarto
18 – Minha educação
19 – Edson, morador de rua
20 - Perdida no mato, na estrada de Itariri
21 – Os patos
22 – Zenilda
23 – Ellen
24 – Esther
25 – Dona Lourdes
26 - Presa na carceragem da delegacia.
27 – Detectando cobras no mato
28 – Brincando de pega-pega
29 – Desmaio
30 - Atacada pela Pitbull Dara
31 - A profecia de Paulo
[ 6 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
32 - A doença
33 - A cirurgia
34 - Restabelecida a saúde
35 - O retorno do câncer
36 - Meu último dia
37 - A morte
38 - Sepultamento
39 - Nastácia
II – TEOCRON
Apresentação
1 - O grande encontro
2 - Olhos que te olham
3 - Arte de camuflagem
4 - Não percebem os anjos
5 - Anjos familiares
6 – Felicidade inexplicável
7 - Animais condutores da presença de Deus
[ 7 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
8 - Tomei um raio
9 - O endemoninhado
10 - 700 anjos
11 - O anjo irá adiante de vós
III – TEOLOGIA SOBRE OS ANIMAIS
1 - Preservando as espécies
2 - Fim do homem como o dos animais
3 - Os animais falam com Deus
4 - Os justos tratam seus animais
5 - Vida humana é semelhante a animal
6 - O improvável destino dos animais
7 - Animais adoram a Deus
8 - Os animais confiam em Deus
9 - Animais, um dos orgulhos de Deus
10 - As criaturas da terra tem inteligência
11 – Os quatro animais do céu
12 - Salvação dos animais
[ 8 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
13 - Os animais no novo mundo
14 - O céu é um curral
15 - Jesus e seu animal
16 – A graça alcança homens e animais
17 – A lei de Deus protege os animais
18 - Deus evita a destruição dos animais
19 - Deus não esquece os animais
20 - Deus ama todos os bichos
21 – A vingança divina pelos animais
22 - Os cães comem no banquete do Senhor
IV – OS CÃES DE LÁZARO
Conclusão
[ 9 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
INTRODUÇÃO
Esta é a fantástica história de um anjo de quatro
patas. Continuamente estamos sofrendo na Terra
intervenção de criaturas espirituais, sejam benignas ou
malignas. A Bíblia nos fala que devemos abrir a porta da
nossa casa para recebermos os outros, pois fazendo
assim, eventualmente Deus nos enviará anjos. "Não vos
esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o
sabendo, hospedaram anjos." (Hebreus 13:2). Eu já tive
muitos animais domésticos que ganhei ou adotei,
hospedando-o em casa, assim como milhões de pessoas
o fazem em volta do mundo. Até que percebi que um
destes animais era extraordinariamente especial. A cadela
chamada Doutora. Tive muitos gatos, a qual sempre dava
nomes espalhafatosos como: Josivaldo I e Josivaldo II,
uma forma debochada de tratar as realezas da Terra e
satirizar suas dinastias. Cada morte de um animal deste
causava dor e tristeza, como qualquer pessoa que tem
sentimento sofre ao perder o seu animal de estimação.
Também tive outros três gatos especiais: Getúlio Vargas,
Juscelino Kubischek e Pamella Anderson. Como se vê
estes nomes são de personagens famosos: Dois
presidentes do Brasil e uma atriz norte-americana. Minha
primeira experiência com cães foi em 2005, quando eu já
tinha 36 anos. Imaginem que passei a infância e
adolescência sem a alegria de ter um cãozinho! Mas
quando esta cadela entrou em minha vida eu tive as mais
[ 10 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
gratas experiências terrestres e descobri a fundo o
sentido de muitas palavras como: Amor, gratidão,
fidelidade, amizade e companheirismo. Este livro é um
tributo a Deus por ter me dado na vida bichos, animais de
estimação, e agora UM ANJO DE QUATRO PATAS.
Esta é a história de um cão, um homem e um
anjo. Talvez para você será apenas uma história
fantasiosa sobre um animal de estimação, mas para mim,
foi muito mais do que isto. Enquanto estou escrevendo
estas palavras, o corpo sem vida do meu anjo está no
carro, esperando para o sepultamento digno que farei
amanhã a cem quilômetros daqui. Estou mergulhado em
sentimentos como: agradecimento, gratidão, doces
lembranças e nostalgia. Este livro pode ser classificado
como realismo fantástico, porque parte do livro é
expressão dos meus sentimentos e lembranças e parte do
livro é sensorial, ao longo dos anos eu e a cadela
conversávamos através do pensamento, por telepatia. As
pessoas são livres para acreditarem ou não no que
quiser, inclusive na história que eu vivi com a Doutora.
1 - HOSPEDANDO O ANJO
As coisas maravilhosas da vida geralmente não
tem valor econômico e não lhe custou um real. Ter uma
mãe, uma família, poder respirar, beber um gole de água
[ 11 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
quando está com sede, caminhar pela rua. Estas coisas
são muito importantes, mas infelizmente só damos valor
as coisas que realmente importa quando percebemos que
estamos perdendo-as, ou quando elas não existem mais.
Na vida é preciso ficar atento para não perdermos o
bonde da felicidade, a felicidade vem de diversas formas
e muitas vezes na forma de um animal de quatro patas.
Em 2005 eu morava na Rua Maria Graziela, no bairro do
Casqueiro em Cubatão/SP/Brasil, em minha casa vivia eu,
minha esposa Zenilda, minha enteada Lívia e uma
sobrinha chamada Jessica. Um dia Jessica apareceu
com um cachorrinho de cor parda, uma bolinha de fofa,
era de raça indefinida, que costumamos chamar de vira-
lata. Ela devia ter uns dois meses de vida. Sinceramente
eu não dei muita atenção. Naqueles dias eu estava
vivendo uma turbulência profissional muito grande, um
grande rolo estava passando por cima da minha vida. Eu
era escrivão de polícia civil e uma grande confusão e
briga estava havendo na Delegacia que eu trabalhava,
esta confusão acabou criando atritos com a Delegada de
Polícia de outra Delegacia próxima a minha unidade.
Minha cabeça estava a mil, eu estava no centro de uma
contenda e dois delegados de polícia estavam acusando-
me de falsificar documentos. Eu estava inteiramente
inocente e não tinha feito nada de ilegal, nem criminoso,
nem de má fé, por isso mesmo eu estava transtornado,
furioso e a beira de fazer uma loucura. Não tinha cabeça
para dar atenção a um reles animal, um filhote de vira-
[ 12 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
lata. Investigações, procedimentos administrativos e
processos criminais estavam sendo instaurados e o meu
nome estava no centro destas polêmicas.
Um cachorrinho correndo pra lá e pra cá no
quintal da casa não me atraia em nada. Eu acordava e
dormia só pensando como as coisas se enrolaram de tal
forma que eu fui parar no meio de uma suspeita da qual
eu sabia que não tinha nenhum envolvimento. Este foi um
momento muito turbulento da minha vida, e não posso
falar tudo o que eu sei sobre o que ocorreu naqueles dias,
vários policiais se tornaram inimigos uns dos outros, uns
acusavam os outros de várias falcatruas, suspeitas de
corrupção, trafico de drogas, forjando provas, acusações
anônimas e declaradas, causaram escândalos de tal
forma que a imprensa local da época, como jornais, rádios
e TVs divulgavam que aquela unidade policial estava
sendo alvo de diversas investigações da Corregedoria e
da Delegacia Seccional de Santos. A situação chegou a
tal ponto que os superiores determinaram o afastamento
de todos os policiais daquela unidade devendo todos
serem transferidos para outras cidades, a Delegacia
deveria trocar suas fechaduras para que nenhum
daqueles policiais pudessem entrar na calada da noite e
cometerem sabotagens, ou plantar provas uns contra os
outros. Minha vida estava de cabeça para baixo no meio
daquele tumulto, coisas muito graves mesmo, coisas que
não posso falar por muitas razões, entre elas para não
[ 13 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
ressuscitar antigas rixas já apaziguadas depois de uma
década, ainda que muita coisas ficaram sem respostas
dos diversos crimes que ocorreram envolvendo vários
policiais civis. Estavam envolvidos na confusão delegados
de polícia, investigadores, agentes policiais, escrivães de
polícia, “gansos”, falsas testemunhas civis, comerciantes
inescrupulosos, assassinos, e até vítima de homicídio.
Para que vocês possam ter uma ideia, foram abertos
cerca de dez procedimentos investigatórios na 6ª
Corregedoria Auxiliar de Polícia de Santos. Eu fui ouvido
como testemunha em alguns destes procedimentos, mas
fui indiciado em dois processos criminais, um por
Falsificação de Documento Público e outro por Falsidade
Ideológica, além dos respectivos processos
administrativos que poderiam culminar com a minha
expulsão da policia a bem do serviço público. Neste clima
de incertezas, ódios e inimizades entre policiais eu jamais
teria cabeça para olhar para um cachorro vira-lata.
A sobrinha Jessica que havia ganho aquela
cadelinha perguntou para mim que nome eu sugeria para
dar àquela cachorrinha. Cheio de raiva e expelindo ódio
pelos poros com uma certa Delegada de Polícia que havia
registrado uma ocorrência policial contra mim, lavrando
um BO e encaminhando a Corregedoria, eu falei para
Jessica chame-a de Doutora ....... Jessica sem maldade
no coração, uma adolescente de 15 anos, disse que
gostou da sugestão e deu o nome da cadela justamente o
[ 14 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
nome da tal Delegada de Polícia. Eu estava cheio de ódio,
por mim queria fazer um grande mal aquela Chefe de
Polícia, mas contentava-me em ouvir a Jessica chamando
a cadela pelo nome de uma pessoa que eu tinha como
inimiga.
A pequena cadela que agora respondia pelo
nome de Doutora...... materializava meu ódio. Mas em
alguns anos eu logo descobriria que ela veio para minha
casa com uma missão especial e o ódio materializado iria
se transformar em amor. A Doutora era ora um cão
comum, ora um anjo incomum.
Pessoas insensíveis que nunca tiveram um
relacionamento de comunhão íntima com um animal terá
grande dificuldade para entender a minha história com a
Doutora, pois tem coisas que se conhece e se entende
pelo coração e não pela mente racional.
2 – AS LEMBRANÇAS DE REGIANE
Somente após a morte da Doutora é que eu fui
atrás da origem da Doutora. Minha esposa tinha
conhecimento onde poderia encontrar a pessoa que nos
doou a cadela, e ela passou a intermediar entre eu e
Regiane. Fiquei muito feliz ao saber que a Regiane e seu
esposo Júnior também tiveram uma experiência
[ 15 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
transcendental com a mãe da Doutora, a Chiquita. Há
algumas semelhanças na relação do Junior com a
Chiquita e comigo e a Doutora. Fiquei deveras contente
que a Regiane tinha fotos da infância da Doutora e que
enviou-me para fazer parte do acervo deste livro. Regiane
gravou alguns áudios respondendo minhas indagações
sobre a origem da Doutora e seu passado. A seguir
transcrevo estes áudios, com as palavras literais da
Regiane:
Chiquita (áudio 6 e 7, 9).
Eu não sei dizer ao certo de onde veio a Chiquita,
mãe da Doutora. Não sei se ela foi abandonada, ou se
[ 16 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
simplesmente ela se perdeu. Existem muitos cachorros
que fogem de suas casas, porque se assustam, muitas
vezes pelo barulho de fogos de artifícios e depois não
conseguem voltar para os seus lares; assim, muitos cães
acabam ficando perdidos na rua; não posso dizer que
este foi o caso da Chiquita. Ela apareceu no Pamus lá da
Vila São José, em abril de 2005, ela estava muito
assustada porque tinha uns meninos batendo nela, minha
mãe interviu e passou a dar comida para Chiquita.
Vitor, amigo da infância da Doutora
Um dia, eu e o Júnior fomos lá na casa de minha
mãe, e ela estava colocando comida para Chiquita, nós
brincamos com Chiquita, Junior passou a mão na cabeça
[ 17 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
dela, e depois disso, sempre que Chiquita via a gente, ela
vinha na direção do Júnior, e ela passou a seguir a
camioneta que o Júnior usava para trabalhar na época,
então, toda as vezes que ele passava na Avenida 9 de
Abril, em frente a casa de minha mãe, a Chiquita o via do
Pamus e sai correndo desesperada, atravessava a pista e
saia correndo atrás da camioneta, corria, corria até que
cansava. Um dia Júnior chegou muito chateado e
preocupado, dizendo que qualquer dia ela iria ser
atropelada, porque ela saia correndo na pista, sem noção,
atrás do carro. Como nós já morávamos no Parque São
Luiz, em uma casa com quintal, eu falei para o Júnior
traze-la para casa, pois ela te escolheu e te ama e não
pode ver você passar que corre atrás, trás ela para casa.
No dia seguinte ele foi até a pista e simplesmente
abriu a porta da camioneta e ela entrou. Ela sentou no
banco veio para casa. Quando eu cheguei do trabalho, ela
estava aqui já interagindo com os outros dois cães. O Titi
e o Vitor, Chiquita já estava super adaptada. Uma
cachorra super tranquila, parece que nasceu aqui no
quintal, uma coisa tocante, emocionante O AMOR QUE
ELA TINHA PELO MEU MARIDO. Um dia ela estava na
sala e nós estávamos passando a mão nela e ai eu vi a
barriga dela se mexer. Então eu disse para o Júnior:
“Você viu isso?” e ele respondeu que sim. Ficamos
mexendo na barriga dela e mexeu de novo, então eu
disse: “Meu Deus esta cachorra está grávida!” Continuei
[ 18 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
mexendo na barriga dela e comecei a sentir os filhotes.
Então decidimos esperar o final da gestação e quando foi
no dia 21 de maio de 2005, ela deu a luz a oito filhotinhos.
O pai da Doutora (áudio 8).
O pai destes filhotes eu realmente não sei quem
foi, porque ela já apareceu lá no Pamus da Vila São José,
somente depois que adotamos é que percebemos que ela
estava grávida. Não sei dizer onde ela engravidou,
provavelmente foi na rua, não sei dizer quanto tempo ela
ficou na rua. Provavelmente ela não tinha muito tempo
que estava na rua, porque ela não estava debilitada, pois
quando o cão fica muito tempo na rua ele fica magro, ele
fica com o pelo feio, com sarna, ela ainda estava
gordinha. Assim, não dá para saber quem foi o pai da
ninhada, o importante é que veio oito filhotinhos, um
diferente do outro, eram três meninas: A Doutora, a Mille
e outra que infelizmente eu não lembro mais o nome, e
mais cinco irmãozinhos sapecas.
A Doutora e seus irmãos (áudio 1).
O que eu lembro da Doutora filhote, cara, foi a
melhor época da minha vida. Eu via oito filhotes correndo
no meu quintal. Nunca mais vou esquecer-me disso. A
Doutora era muito briguenta, e era brava (risos). Ela não
gostava muito que os irmãozinhos ficassem pulando nela,
mas os outros gostavam de pular uns nos outros, mas a
Doutora era meio estressada e era brava com eles. Ela foi
[ 19 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
uma das primeiras que eu vi latir (imitando o som de
cãozinho), isso foi muito engraçado. A carinha dela... ATÉ
HOJE QUANDO EU FECHO OS OLHOS, EU VEJO A
CARINHA DELA. Filhotinha serelepe.
Doações dos irmãos (áudio 2).
Em um sábado nós fomos a Praça Princesa
Isabel, eu havia feito um cartaz de cartolina onde eu
coloquei a inscrição: “Doação de filhotes.” Ficamos lá
sentados, com a gaiolinha, ficamos lá na parte da tarde e
conseguimos doar dois filhotes e mais dois gatinhos.
Quando a Chiquita teve os filhotinhos, na mesma época
eu achei dois gatinhos na rua, dois gatinhos pretos, e eu
acabei acolhendo, e neste dia eu consegui um lar para
estes dois gatinhos. Neste dia eu doei ao total três
cãezinhos macho, e em casa ficou a Doutora, a Mille e
mais outro machinho.
[ 20 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Chiquita, mãe da Doutora era apegada
ao Júnior, da mesma forma a Doutora se
apegou a Valdemir. Os cães parecem que
escolhem pessoas para criar uma ligação
espiritual.
Regiane com Chiquita. Não importa a
raça, os cães tem a capacidade de amar sem
restrições, sem objeções, sem ressalvas.
[ 21 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Adoção dos irmãos (áudio 4).
O processo de adoção da Doutora foi uma
aventura, porque em 2005 não havia ongs protetora de
animais aqui em Cubatão e nem conhecíamos pessoas
que trabalhassem com a causa animal. Não havia
ninguém que nos orientasse de forma dinâmica para tratar
de marketing de adoção, então tivemos a ideia de criar
um cartaz com fotos, e estes cartazes nós saímos
distribuindo; coloquei em lojinhas próximo a casa de
minha mãe na Vila São José, pedi para colocar no Pamus
(posto médico de bairro), e sai pedindo nos pet shops
para colar cartazes, bem como em ponto de ônibus. A
internet ainda era algo raro, não havia, facebook, coloquei
anúncio pago no jornal Primeira Mão. Quando eu fui à
Avenida 9 de Abril, no pet shop Mundo Animal, eles nos
cederam uma gaiola grande, bem como o responsável da
loja nos deu a ideia de fazer uma feira de doação dos
filhotinhos.
[ 22 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Doações (áudio 5, 12).
Nós esperamos eles completarem três meses,
esperamos eles largarem o leite, e começarem a comer
ração, foi ai que começamos a tirar as fotos e fazer os
cartazes e distribuir, e aqui no bairro do casqueiro, no pet
shop Pixoxó, na avenida Brasil, o dono nos cedeu
gentilmente a frente da loja e nós levamos alguns filhotes,
ficamos no período da tarde de um sábado, e ali foi doado
uma irmãzinha da Doutora, que foi para a Vila dos
Pescadores, e mais outro irmãozinho dela, foi um dia
muito difícil da minha vida, eu chorei muito, eu entreguei
os cachorrinhos aos prantos. Foi muito difícil mesmo,
foram três meses cuidando, nós dávamos mamadeira,
porque eram muitos filhotes e a Chiquita não dava conta
de amamentar a todos. Meu marido Junior ia ajudando-
me a fazer a fila, separando os que já haviam mamado,
mesmo assim, alguns entravam na fila de novo e
mamavam duas vezes, porque eles eram muito parecidos.
Dos últimos três que ficaram aqui em casa, um
dos filhotes foi doado para uma pessoa de Praia Grande,
ele viu um dos cartazes em um ônibus, pois meu pai era
motorista da Viação e eu havia pedido para ele colocar
um cartaz no coletivo. Este rapaz levou um macho e ficou
somente a Doutora e a Mille.
[ 23 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Quanta glória dentro de uma caixa!!!!!
Única gestação da Chiquita (áudio 3).
Este foi o único parto da Chiquita, nós esperamos
ela ter os filhotes e depois que ela os amamentou, nós
permitimos que ela amamentasse, e eles mamaram nela
o quanto quis, e somente depois de três meses, eles já
estavam todos gordinhos e já ia começar o processo de
adoção, nós começamos a inserir a ração úmida na dieta
dos filhotes. Assim nós achamos melhor castrar a
Chiquita, pois nós tínhamos mais dois cães machos no
quintal e não queríamos correr o risco dela ficar prenha de
novo. Esta foi à única gestação da mãe da Doutora.
[ 24 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
A Jéssica viu o cartaz na Ciça, porque na época
eu colei um cartaz lá com as fotos dos filhotes. Eu lembro-
me da Jéssica me ligar e nós marcamos um encontro, ela
veio aqui em casa e conheceu e se apaixonou pela
Doutora e disse que queria a Doutora. A Jéssica pediu
para eu não doar a Doutora que ela iria dar um jeito para
adotá-la. Demorou um pouco para ela voltar, cerca de um
mês, mas deu tudo certo, e acabamos levando a Doutora
até a casa do Valdemir e Zenilda com quem, na época a
Jéssica morava.
Mille (áudio 11).
A última foi a Mille, ela passou por duas tentativas
de adoção, mas retornou porque não se adaptou com os
seus novos donos. A Mille está viva até hoje, esta uma
senhorinha. Agora no dia 22 de fevereiro de 2015 morreu
a Chiquita, mãe da ninhada, devido a complicações nos
rins. Na mesma época a Mille quase morreu, achei que
iriamos perde-la, mas ela deu uma reviravolta e conseguiu
se recuperar e está aqui conosco. Os outros irmãos da
Doutora, eu perdi o contato, infelizmente não sei o que
aconteceu com eles. Acredito que todos eles tiveram boas
vidas, porque todas as pessoas que cruzaram o nosso
caminho eram pessoas de bem, até que provem o
contrário, eram pessoas muito boas. A Doutora e suas
duas irmãzinhas foram castradas. A Doutora foi castrada
com cinco ou seis meses, nós a levamos para castra-la, e
também as duas irmãs dela foram castradas. Os irmãos
[ 25 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
dela não foram castrados, naquela época também era
caro. Achamos mais importante castrar as fêmeas.
Doação da Doutora (áudio 10).
Pequeno Príncipe (áudio 14).
O único que recebeu nome e foi doado foi o
Pequeno Príncipe, porque na época, a minha sobrinha
que hoje está com 18 anos, era uma criança, e esta
sobrinha costumava vir em minha casa todos os
domingos, ela acordava cedo e vinha cuidar dos filhotes,
esse era o passeio dela de domingo, ela esperava a
semana inteira para vir aqui, essa era a diversão da
minha sobrinha, e este cãozinho pequeno era o xodó
dela, ela costumava andar para cima e para baixo com ele
no colo. Eu achei melhor não dar nome para nenhum
[ 26 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
deles, porque quando damos nome, acabamos se
apegando. Querendo ou não, foi muito difícil doa-los, e
seria muito mais doloroso se eu tivesse dado nome.
Quando você dá nome, meio que faz parte da família, e
assim acabam entrando na família. Procurava chamar
estes cãezinhos de fofinhos, bolinhas, mas nome, nome,
não. Eu deixei para que cada dono escolhesse o nome
que deveriam dar aos seus cãezinhos. Mesmo assim, foi
difícil doa-los, eu chorei muito. Eu acabei ficando muito
agradecida a Deus e ao universo, agradeço porque as
sete pessoas que apareceram no meu caminho foram
pessoas do bem. Eu tenho certeza que assim como a
Mille, e a Doutora, os demais também tiveram bons lares.
A infância da Doutora (áudio 12).
A Doutora e a Mille eram espertas e gostavam de
furar a fila para tomar a mamadeira de leite, muitas vezes
elas tomavam duas rodadas de leite, eram as mais
[ 27 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
gulosas. Todos os oito filhotes eram muitos saudáveis.
Eles corriam muito no quintal, e aprendiam as coisas com
os outros dois cães adultos que viviam no quintal. Era
muito engraçado eles latindo e correndo. Certo dia eu e o
Júnior saímos para passear e a nossa vizinha nos ligou
desesperada dizendo que a Doutora e outros irmãozinhos
estavam batendo em um mais fraquinho. Este era
chamado de Pequeno Príncipe, acho que foi o último a
nascer. Ele era o menorzinho. Os outros batiam nele,
faziam dele saco de pancada. O filho da vizinha colocou
uma escada no muro, pulou para o meu quintal e jogou
água neles para apartar a briga. Foi uma correria na
vizinhança. Depois nós rimos muito, porque eles não
tinham nem idade para isso. Eles não tinham nem dois
meses, foi uma cena muito engraçada, uma pessoa
apartando briga de filhotes.
[ 28 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
ONG (áudio 13).
O melhor da experiência com Chiquita e seus
filhotes é que isso impulsionou-me a abrir uma ONG para
cuidar das tantas “chiquitas” que existem pelas ruas. Essa
aventura levou-me a amizades maravilhosas. Com outras
pessoas reabrimos uma ONG e organizamos feiras para
adoção de animais. Depois acabei afastando-me da ONG
por divergências administrativas, mas nunca mais parei
de lutar pela causa dos animais, Tenho uma página no
facebook e um blog para promover adoção de cães, pago
anúncios para patrocinar adoções, e tenho conseguido
muitos lares para vários bichos. Luto para que histórias
como a da Chiquita tenham um final feliz.
3 - CARINHO NA BARRIGA
Boa parte do livro são memórias da cadela
Doutora, agora a palavra é dela:
Doutora: Como eu, todos os cães e todas as
criaturas de Deus gostam de carinho. Eu amava quando o
meu dono passava a mão em minha testa, ou na minha
pelagem, mas o lugar que mais gosto de sentir sua mão
passar era na barriga. Eu sempre ficava esperando o
melhor momento para se aproximar e chamar sua
[ 29 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
atenção, quando eu via que conseguia fisgá-lo eu me
virava com a barriga para cima e abria os membros
traseiros sugerindo-o que passasse a mão em minha
barriga. Muitas vezes eu acho que ele tinha preguiça de
se abaixar e por isso passava os pés em minha barriga.
Na verdade não importava se ele passava a mão ou o pé,
se calçava chinelo, tênis, ou bota. Tudo que eu queria era
sentir o contato do meu dono, e se não fosse dele, o
carinho humano sempre ia bem.
No mundo há muitas pessoas que são tão
orgulhosas, que se acham tão superiores que nem olham
para nós, ou quando olham nos veem com desprezo.
Estas pessoas não valem a pena nós nos aproximarmos,
elas reagem com nojo e raiva. Mas mesmo assim, nós
[ 30 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
cães, somos pacientes e temos capacidade de analisar os
humanos que com persistência podem ser conquistados.
Com o meu dono foi assim, durante muito tempo ele não
ligava para mim, mas eu vim ao mundo para conquista-lo,
e isso demandaria tempo. Quando finalmente o
conquistei, ele raramente passava por mim sem fazer um
carinho na cabeça ou na barriga. Além dele, eu conquistei
muitas outras pessoas, pessoas que me amaram de
verdade como dona Lourdes, Zenilda, Edson, que morava
comigo e com a Leisa debaixo da marquise da Rua
Rangel Pestana e Seu Zé, vigia da Solimene,. Não
poderia deixar de citar Esther, Ellen, Lívia e Jessica, não
tive tanto contato com elas, mas quando tinha, era com
amor. Eu percebia pelo jeito delas falarem, pela
expressão do rosto. Eu nunca consegui entender todas as
palavras que os humanos falavam, mas algumas eu
entendia, e sempre procurava associar as palavras aos
gestos para não incorrer em erro e fazer algo que os
contrariava. A minha amiga Leisa não entendia tão bem
como eu, mas eu dizia para ela, faça o que eu faço e você
vai se dá bem, de vez em quando ela era teimosa e
levava a pior. Com o passar do tempo a Leisa foi
aprendendo a conviver com os humanos, sabendo
escolher em quem podia se aproximar e quem devia se
afastar. A nossa sobrevivência no mundo depende do
nosso relacionamento com os humanos, porque desde
que a humanidade foi expulsa do paraíso, nossos
ancestrais escolheram se arriscar e viver mais próximo
[ 31 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
dos humanos, prestando pequenos serviços para os
mesmos em troca de abrigo e alimento. Muitos da nossa
espécie sofreram muito e tiveram até morte violenta pelas
mãos maldosas dos humanos, mas assim mesmo esta
escolha valeu a pena, porque a maioria dos humanos nos
acolheu. Nós, os cães, e os gatos, fizemos a opção em
viver com os humanos, dando-lhe carinho e amor, por
isso fomos excluídos da cadeia alimentar dos humanos.
Estas coisas eu sei não porque eu li em algum livro, não,
nós os cães não sabemos ler ou escrever, mas Deus
escreveu em nosso DNA, e o nosso instinto nos diz o que
temos que fazer, geração após geração. Acho que deve
ser interessante o que o meu dono esta escrevendo, eu
confio nele, com certeza ele deve está expressando da
melhor forma possível as coisas que nós conversávamos.
No universo há uma linguagem universal, quem fica
sintonizado na mesma frequência consegue falar com
todo o universo, até com aquelas criaturas que não estão
compreendidas como seres vivos pela Biologia tradicional.
Isso mesmo, quando estamos em sintonia com Deus e a
sua criação, conseguimos falar uns com os outros,
homens, animais, plantas, rios, florestas, ventos, os astros
do cosmo etc.
4 - MATANDO CODORNAS E MORDENDO CHINELOS
[ 32 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Doutora: Eu era ainda uma cachorrinha, e como
todos os bebês e crianças de qualquer espécie, temos
uma necessidade de brincar e se divertir, ao mesmo
tempo em que vamos desenvolvendo os instintos naturais
de nossa espécie, que inclui o desejo de caçar para
sobreviver. Lá em casa, na Rua Maria Graziela, havia um
viveiro com codornas, pequenas aves que costumavam
por ovos quase todos os dias. Quando via aquelas aves,
eu ficava louca de vontade de captura-las, e como
algumas codornas conseguiam sair do viveiro ficando pelo
quintal da casa, esta era a minha oportunidade de
desenvolver meus dons e habilidades caninas de
predadora e caçadora que havia no meu DNA. Quem
criava as codornas era o Valdemir, ele é que sempre tinha
mania de fazendeiro e queria fazer da casa um sítio. Eu
cheguei a casa através da Jessica e da Zenilda, então
tinha mais afinidade com elas naqueles dias. Enquanto
Valdemir saia para trabalhar, eu resolvia correr atrás das
codornas e quando abocanhava uma, as matava. Zenilda
quando via aquilo desesperava-se, porque pensava que o
Valdemir iria ficar muito irritado e iria querer se livrar de
mim. Eu não entendia bem as coisas, afinal era uma
criança, e a Zenilda ajudava a esconder as minhas
peraltices, se livrando das codornas mortas. Valdemir
desconfiava que o número de codornas diminuía, mas
Zenilda os convencia que elas fugiam, até que Valdemir
flagrou-me com uma codorna na boca, brincando e
correndo pelo quintal, eu até corri até ele para mostrar
[ 33 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
como eu estava me saindo bem como caçadora, mas ele
ficou furioso comigo... Em resumo da história das
codornas é que, pouco a pouco as codornas foram
“fugindo” e aquele viveiro de codornas acabou se
tornando minha casinha de cachorro.
Doutora: Minha vida seguia maravilhosamente,
carinho na cabeça e ração na tigela era tudo de bom.
Quando Valdemir chegava do trabalho, a frente de casa
era muito ampla e do portão até o interior da casa, era
uns quinze metros, dava tempo de sobra para eu morder
a bainha da sua calça, pular nas suas pernas, muitas
vezes fazendo tropeça-lo. Mas ele sempre estava com
uma expressão de preocupação e não dava atenção para
mim, e quando dava era tentando deixar-me quieta. Mas
eu não ficava muito tempo parada, reconheço que tinha
[ 34 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
muita energia, corria pra lá e pra cá sem parar. Como as
pessoas entravam no interior da casa descalças, elas
colocavam os chinelos, sandálias e sapatos do lado de
fora, próximo a porta. Ao ver aquilo, eu deliciava-me
mastigando todos os calçados que eu via pela frente,
aquilo era uma delicia para as minhas gengivas, pois os
dentes estavam naquela fase da dentição, além do que,
criança que é criança gosta de por tudo o que vê na boca.
O que eu não contava é que o Valdemir não ficava nem
um pouco feliz quando eu quebrava as tiras dos seus
chinelos. Vez ou outra ele me dava um belo chute e
rosnava com raiva para mim. Eu que não era besta nem
nada, abaixava as orelhas e saia de perto com o rabo
entre as pernas, eu sabia que ele não estava gostando de
mim...
5 – ENVENENADA
Quando Valdemir ia para a área externa da casa,
eu fazia a maior festa, saia correndo disparadamente pela
área da casa com muita alegria, dando volta no Valdemir,
latindo, e fazendo de tudo para chamar sua atenção. Vez
ou outra eu sentia que ele ficava balançado. Eu era o
calor do sol que derretia o gelo do seu coração, mas havia
dias que ele não estava bem e já mostrava uma
expressão que não queria que eu me aproximasse, no
começo eu tinha dificuldade para entender isso, mas com
o passar do tempo fui aprendendo a respeitar seus
[ 35 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
momentos de irritabilidade. Durante os dez anos que
convivemos, Valdemir tinha os momentos que não queria
que eu me aproximasse e com o tempo aprendi a
perceber isso com as mais leves variações do seu tom de
voz, ou dos seus gestos com as mãos, ora chamando-me,
ora repelindo-me. Mas nunca, nunca fiquei magoada com
ele, pois eu vim a este mundo para ajuda-lo e não seriam
seus eventuais ataques de mau-humor que iria me deter.
Contudo, teve uma vez que eu quase tive que abortar
minha missão de amá-lo, não porque eu fiquei desgostosa
com ele, não, não foi isso, é que ele me envenenou...
Valdemir aprendeu comigo que o amor vence o
ódio, e o jogo começou a virar em nossa relação e em sua
vida, quando ele espalhou veneno de rato pela casa, em
cima do telhado, no porão da casa e facilitou que eu
tivesse acesso ao terrível veneno chamado “chumbinho”.
Valdemir colocou alimento como isca para os ratos e em
meio ao alimento havia “chumbinho”, eu desconhecia
completamente o veneno, que não exalou nenhum odor
que pudesse me dar repulsa ao alimento, então comi a
isca. Não demorou muito, eu estava me contorcendo no
chão de dor, e espumava pela boca. Zenilda veio
correndo e ficou gritando desesperada sem saber o que
fazer, Valdemir também apareceu na hora e viu-me
contorcendo de dor, Zenilda já o culpava por ter colocado
o veneno propositalmente em lugares que eu teria
acesso. Valdemir queria se livrar de mim porque não
[ 36 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
gostava de muitas coisas em mim como: matar as
codornas, morder e destruir os chinelos, latir tanto
enquanto ele queria se concentrar e ficar reflexivo em
seus pensamentos e por fim, o meu nome era o nome de
alguém que ele odiava. Matar-me era de certa forma se
vingar do mal que esta pessoa lhe havia feito.
Mas nosso Deus não deixou-me morrer, porque
ainda iriamos viver a mais bela história de amor e
companheirismo de nossas vidas. O anjo Teocron
apareceu para mim e passou sua mão em minha barriga e
eu fiquei curada, sem nenhuma sequela. Nos dez anos
que se seguiriam, nós três iriamos nos encontrar diversas
vezes. Inumeráveis vezes Valdemir se enchia de temor e
reverência quando fixava os seus olhos nos meus e via o
anjo Teocron. O veneno matou muitas ratazanas no
porão, e até muitos pombos e pássaros que comeram o
veneno em cima do telhado. Mas eu fui tocada pelo anjo
Teocron e nenhum mal sofri. Valdemir passou a entender
que eu não era um bicho qualquer, um animalzinho de
estimação. Eu era um anjo, UM ANJO DE QUATRO
PATAS, um “enviado” de Deus. Como eu, ao longo da
história, o nosso Criador enviou milhões de anjos que em
conjunto com cães, gatos, ovelhas, bois, cavalos,
periquitos, papagaios e animais de inúmeras espécies se
aliaram não somente para observar os humanos, mas
para ajuda-los. As Pessoas procuram sinais de
alienígenas e poderes paranormais observando o espaço
[ 37 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
sideral e praticando rituais estranhos, e a maioria não
percebe que anjos celestiais estão bem perto delas,
livrando-as de males, protegendo-as, e confortando-as. O
poder e a força de Deus estão muitas vezes perto de você
na forma tão singela que as pessoas custam acreditar.
Quis Deus que os cães, pela sua natureza
imunda, seus hábitos desprezíveis, fossem designados
pelo Criador para se aproximar dos humanos e dar-lhes
as mais pujantes lições de amor. Meu nome é Doutora,
sim, Doutora na arte de amar...
6 – AS GALINHAS DO GALERA
[ 38 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Doutora: Cheguei a casa do Valdemir em julho
de 2005, bem no meio da confusão que o afastou da
Delegacia de Policia que trabalhava, sendo o mesmo
transferido para Santos, daí que alguns anos depois o
meu dono começou a celebrar meu aniversário no dia 15
de julho como uma data simbólica, já que ninguém sabia
quando eu realmente nasci. Em fevereiro de 2006 meu
dono comprou um pequeno pedaço de terra em Itariri para
cuidar de horta, e plantar árvores frutíferas, procurando
paz para sua alma conturbada. Nas primeiras vezes ele
não me levou, mas não demorou mais do que um mês e
ele passou a levar-me no carro. Valdemir ia ao sítio a
cada quinze dias onde passava o final de semana. Ia no
sábado de manhã e voltava no domingo à noite. O
problema é que eu já havia crescido um pouco mais e
ainda não tinha apreendido a controlar meus instintos de
caça e quando íamos para o terreno do meu dono, ainda
não havia uma casa, então o senhor chamado Galera
emprestava uma casa para o meu dono, acontece que,
quando eu via as galinhas corria atrás delas tentando
pega-las, e o meu dono saia correndo atrás de mim para
impedir que eu desse o prejuízo de matar as galinhas do
Galera, por sorte, aquelas galinhas corriam bastante e
saltavam com voos que as livrava das minhas garras, e
era o tempo suficiente do meu dono dar-me uma bronca e
prender-me na casa, depois íamos de carro até seu
terreno que não era longe do sítio do Galera e ai eu ficava
a vontade, correndo só atrás dos passarinhos. Não raro
[ 39 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
eu pegava alguns. Mas ai meu dono não achava ruim.
Com o tempo aprendi que não devia pegar as galinhas do
Galera. Assim fomos aprendendo a conviver um com o
outro. Eu fui aprendendo a respeitar os limites que ele
impunha para mim, e eu ganhando sua confiança mais e
mais.
7 – LEISA, A GALEGA
Em 2006 a Jéssica que havia me introduzido na
casa do Valdemir, agora tinha encontrado na Praça da
Independência, ali mesmo no bairro, uma cadelinha com
poucos dias de vida, ela estava dentro de uma caixa, e a
[ 40 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Jéssica ficou encantada com aquela cachorrinha de
pelagem branca e parda, e com os olhos claros. Jéssica
chegou em casa dizendo - olha tia Zenilda que
cachorrinha linda, encontrei ali na praça, não é uma fofa?
A princípio Zenilda achou que não dava para ficar com
mais um cão, pois já havia em casa dois. Eu e o Toby. O
Toby é um poodle que não sai de casa, ele até que tem
vontade de sair, mas é muito frágil e por isso, vive dentro
de casa. Meu dono sempre brincava com o Toby
chamando-o de cão de mobília, porque muitas vezes a
Zenilda o colocava em cima de uma estante e ele
permanecia ali por horas, dormindo, pois essa era a sua
especialidade. Leisa foi levado por Jéssica e Zenilda até a
casa da Cacilda, ela era irmã da Zenilda, e foi ela quem
deu o nome da Leisa. Quando Jéssica chegou a casa da
sua tia Caçilda com Leisa nas mãos, Caçilda percebeu
que sua sobrinha estava feliz com aquele cãozinho e por
isso chamou Jéssica e Zenilda para irem até um Petshop
onde Caçilda comprou diversos apetrechos e objetos para
Leisa, como: cama, perfume, shampoo, ração, etc. Leisa
se tornaria minha inseparável amiga.
Vivemos boa parte de nossas vidas, uma perto
da outra, distantes por dois ou três metros. Amei demais a
Leisa, mas sempre foi ciumenta ao extremo. No começo
até eu me aborrecia com a Leisa, só queria ficar
lambendo todo mundo, principalmente a mim. Era uma
[ 41 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
criatura muito carente, queria que déssemos atenção a
ela de qualquer maneira. Fazia uma cara de coitada que
dava pena. Mas era sua arma de atrair a atenção dos
outros. Leisa foi crescendo e aprendendo comigo, aquilo
que podia e não podia fazer. Chinelos não, entrar em
casa não. Avisar quando chegar gente em casa sim, pular
nas pernas do Valdemir e Zenilda não, não, não não...
Não adiantou muito, Leisa sempre afoita e querendo
chamar a atenção, se não fosse logo repreendida, de
imediato pulava nas pernas dos donos e sujava a roupa
com as marcas das suas patas. Quantas vezes Leisa foi
chamada de imbecil e burra... não foi por falta de aviso...
Posso dizer que criei Leisa como uma filha, apesar da
pouca diferença de idade entre nós. Eu logo fui castrada
quando alcancei a idade de seis meses de vida, e na
sequencia Leisa também foi castrada. Nunca tivemos
filhos. Isso não foi problema para Leisa, ela nunca teve
mesmo um instinto materno. Quanto a mim, eu sentia um
desejo de ter filhotes, mais eu conto isto em outro
capítulo. A propósito, o nome Leisa foi dado por Caçilda,
mas não vou contar o porquê deste nome. Quando
Jéssica contou sobre o nome da nova cachorrinha,
Valdemir disse, pois bem a dupla agora está formada, se
uma é a Doutora, a outra é uma escrivã. Frequentemente
Valdemir brincava dizendo: “Olha ai minha Delegacia, se
a Doutora é uma Delegada, a Leisa é uma escrivã, kkkkk.”
Quando fomos morar na casa da dona Lourdes, a mãe do
Valdemir, ela se confundia com os nomes e resolveu nos
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
chamar por apelidos. Eu era a “Baixinha” e a Leisa era
“Galega”. Galego quer dizer “loiro”, gente do reino da
Galícia. Os nordestinos dos sertões costumam chamar
assim os loiros. Como a família do Valdemir é do agreste
nordestino, ele e sua mãe tinham linguagens peculiares
daquela região.
Minha vida sempre foi muito simples, afinal eu sou
uma cadela vira-lata, durmo em qualquer lugar, como em
qualquer lugar. Sou dotada de resistência acima da média
das outras raças de cães. Leuzinha também é uma vira-
lata, mas o porte dela é diferente do meu. Eu sou baixinha
e de pelagem parda, com as pernas curtas e o corpo
roliço. Leisa tem pernas longas, focinho cumprido,
pelagem de duas cores, olhos claros e esbelta.
[ 43 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
8 – LATIDOS À NOITE
Os seres humanos são os mais inteligentes e
mais poderosos seres que Deus colocou na Terra, mas
devem se lembrar de que o Criador os colocou para reinar
sobre nós e não para tiranizar as demais criaturas da
Terra. Assim é que, os homens naturalmente conversam
em suas linguagens uns com os outros, como são mais
sofisticados, falam muitas palavras e muitas línguas e
linguagens. Nós, criaturas inferiores, admiramos muito os
humanos, todos os seres da Terra reconhecem sua
soberania, ainda que no caos do mundo, haja conflito
entre os humanos e os demais animais. Acontece que
mesmo com capacidade mais limitada, nós, os cães,
conversamos entre nós, e durante a noite, com os níveis
de ruído baixo, podemos conversar com os demais cães
que estão mais distantes, muitas vezes a muitos
quilômetros de distância.
[ 44 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Ao longo da vida, muitos vizinhos do meu dono
resmungavam se sentindo incomodado comigo e com a
Leisa porque latíamos à noite, nem todas as noites a
comunicação era frequente, mais tinha noite que nos
divertíamos uns cães com os outros, também discutíamos
uns com os outros, a distância podíamos dizer uns
desaforos para os valentões, kkkkk. Eu não posso negar
que muitas vezes eu dizia: “mordam seus próprios rabos”,
kkkkk. Nós, os cães, temos mais senso de humor do que
vocês possam imaginar.
Quando meu dono mudou para a Avenida das
Américas, eu e a Leisa ficamos próximas de outros cães
que não ouvíamos no antigo endereço, assim, logo que
mudamos começamos a dialogar bastante a noite, porque
de dia, o barulho da cidade e dos carros, diminui a
distancia de captarmos pela audição os demais cães. Isso
gerou mais problemas para nossa convivência. Além do
que, no antigo endereço tínhamos um imenso quintal para
corrermos, e agora, só tínhamos uma área de serviço
apertada, que nem mesmo pegava luz solar. Por causa
da falta de espaço e dos latidos noturnos bem na janela
do vizinho, nosso dono e a Zenilda achou por bem nos
transferir para a casa da sua mãe, na Rua Rangel
Pestana, em Santos. A rua era muito movimentada, Deus
me livre, quanto barulho... A vantagem é que tinha mais
espaço para vivermos, e todo dia dona Lourdes abria o
[ 45 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
portão para corrermos. Eu e a Leisa disparávamos pela
calçada. Cansamos de ver pedestres desavisados que
não moravam na vizinhança e que não nos conhecia
tomarem o maior susto ao ver nós duas correndo em alta
velocidade. Mas nós nunca atravessávamos a rua, porque
o risco de atropelamento era muito grande.
Nesta casa da Rua Rangel Pestana havia um
vizinho médico, que era aquele cara “conhecedor dos
seus direitos”, era muito educado, mas dizia tudo o que
pensava, e não tinha receio de se tornar desagradável.
Ele algumas vezes veio reclamar de nós para dona
Lourdes e para Valdemir, dizendo que nós éramos cães
adultos e que dificilmente iriamos nos acostumar com o
novo endereço, e que iriamos latir sempre durante a noite.
Bem, ele errou, nós diminuímos os latidos à noite, e
depois que ele mudou-se, nunca mais tivemos problemas
por causa dos nossos latidos noturnos.
9 – GRAVIDEZ PSICOLÓGICA
Eu sempre tive problemas psicológicos com
gravidez imaginária. Interessante que a Leisa também era
castrada, mas nunca teve gravidez psicológica. De tempo
em tempo eu me sentia estranha e certos objetos eram
para mim, meus filhotes. Era uma coisa muito louca, pois
eu nunca cruzei com outro cão, porque fui castrada muito
cedo, mesmo assim durante minha vida, várias vezes eu
ficava fixada por alguns objetos e passava a considera-lo
[ 46 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
meu filhote. Isso causava-me sofrimento, porque muitas
vezes eu pegava uma sandália, ou outros objetos que
eram utilizados pelas pessoas e elas acabavam tomando-
as de mim. Meu dono Valdemir cansou de pegar seus
chinelos de mim a qual eu abraçava e dormia com eles
debaixo do meu corpo, quando ele tentava pegar eu
rosnava pedindo que se afastasse, eu nunca tive coragem
de agredi-lo, apenas rosnava. Como ele confiava em mim,
não temia em tomar seus chinelos de volta. Eu ficava
frustrada com estes incidentes, mas Valdemir achava
graça e outras vezes dava-me carinho tentando
compensar o fato dele ter que pegar de volta seus
chinelos, tênis, botas. Muitas vezes eu ganhava bichos de
pelúcia e outros brinquedos para substituir os calçados
alheios.
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
10 – CORRENDO PELAS RUAS DE SANTOS
Quando meu dono me levou para morar em
Santos, na casa da dona Lourdes, eu e Leisa pensamos
que ele havia nos levado ali para fazer uma visita, mas na
verdade, nosso destino estava tomando um novo rumo,
após nos entregar a sua mãe, Valdemir nos apresentou a
nova residência, mas nós não entendemos o que ele
dizia, por isso quando Valdemir entrou no carro, um
Kadett, e nós ficamos do lado de fora da casa com dona
Lourdes o observando, achávamos que era uma
brincadeira, e quando o trânsito da rua diminuiu, eu saí
correndo com a Leisa a toda velocidade, quando
Valdemir olhou pelo retrovisor para trás, nos viu
acompanhando o carro, e o pior, já havia dezenas de
carros vindo atrás de nós, o fluxo de veículo e falta de
acostamento, fez com que Valdemir decidisse aumentar a
velocidade, fazendo com que desistíssemos de segui-lo.
Como o Kadett se perdia no horizonte, e Valdemir seguiu
a toda velocidade em direção ao túnel do centro da
cidade, eu e a Leisa desistimos de correr atrás do carro,
enquanto ainda podíamos retornar à casa de dona
Lourdes. A sorte é que estamos ainda perto da casa,
tínhamos virado a esquina da Avenida Valdemar Leão,
mas vimos dona Lourdes no portão, perdida sem saber o
que fazer. Tivemos que atravessar com cuidado para o
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
outro lado da rua e tivemos que contar com a colaboração
de alguns motoristas que entenderam que estávamos
perdidas querendo atravessar o outro lado da rua. Dona
Lourdes nos chamou e entramos na nossa nova casa, e
Lourdes fechou o portão. Dona Lourdes sempre falava
com a gente como se estivesse falando com pessoas
humanas, e ela disse: “Vocês estão loucas correndo por
ai, seu pai já foi!” Não demorou muito tempo, Valdemir
retornou de carro para saber se eu e a Leisa tínhamos
conseguido voltar para casa, pois devido o fluxo de
veículos ele não teve como parar o carro, por isso seguiu
a avenida e retornou para ver o que tinha acontecido.
Quando o vimos ficamos contentes, mas já sabíamos que
agora iriamos morar com dona Lourdes, e desta vez eles
tomaram a precaução de fechar o portão antes do
Valdemir sair com o carro da frente da casa. Com o
tempo, nós nos acostumamos em morar ali, e quando
Valdemir ia nos visitar, ele se despedia de nós ali mesmo
da calçada, com eu e a Leisa soltas, pois, já tínhamos
consciência que não devíamos segui-lo. Eu ficava muito
contente em vê-lo. Quando escutava o barulho do Kadett,
da camioneta ou da moto dele, eu já corria ao portão e
latia com todas as forças e com toda a alegria do mundo,
era tão emocionante. Todos os que viam minhas
declarações de amor por ele ficavam impressionados,
porque não importava quantas vezes ele aparecia,
mesmo que passasse por lá duas ou três vezes no
mesmo dia, a festa e euforia que eu fazia era de
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
estremecer a vizinhança. Esta é uma das maiores
lembranças que levamos desta vida. Valdemir me dizia
centenas de vezes com o seu olhar que aquilo era a maior
manifestação de amor que alguém podia demonstra por
ele. A alegria de rever um amigo, a maneira como se
demonstra alegria em rever a pessoa, este é um dos
maiores atributos dos cães, e quem sabe uma das coisas
mais bela deste mundo. Eu agradeço a Deus por ter sido
criada para amar, amei muitas pessoas, da família do
Valdemir, aos transeuntes de bom coração que passavam
e faziam um carinho na minha cabeça, isso aconteceu
muito na Rua Rangel Pestana. Mas eu amei demais o
morador de rua, Edson, e o meu dono Valdemir. A história
do Édson eu conto em outro capítulo.
11 – ESPERANDO A BEIRA DO CAMINHO
Não sei bem em que ano foi, se foi em 2007 ou
2008, mas os fatos ocorreram assim: A cada 15 dias meu
dono ia de Cubatão para o sítio em Itariri passar o final de
semana, tinha vezes que ia na sexta a noite e tinha vezes
que ia no sábado de manhã cedo, mas sempre
voltávamos aos domingo a noite. As viagens ao sítio
contavam sempre com o meu dono Valdemir e comigo,
eventualmente a Zenilda ia, outras vezes dona Lourdes
também ia. Mas Esther e Ellen, filhas de Valdemir, eram
figuras constantes nestas viagens ao sítio. Entre 2005 a
[ 50 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
2008 o sítio não tinha energia elétrica, e as noites eram
iluminadas com velas, candeeiros ou lampião de gás,
dentro de casa, porque do lado de fora, somente a lua e
as estrelas clareavam o céu. Meu dono gostava do clima
e das condições rústicas, aquilo fazia lembrar a sua
infância na fazenda do seu avô José Tavares da Mota.
Durante os primeiro anos de viagem ao sítio nós íamos no
GM/Kadett. Em uma destas viagens o carro deu uma
pane elétrica e não funcionou, era domingo a tarde,
faltando duas horas para escurecer.
Naquele fim de semana só havia ido ao sítio eu,
Valdemir e a Esther, não sei porque a Ellen não foi, pois
as duas meninas quase sempre estavam juntas. Meu
dono ao ver que o carro não funcionava procurou ajuda
com outros sitiantes da redondeza, tendo falado com
Zelão e Zelão indicou o Aloisio que morava em Praia
Grande e que naquele instante estaria indo embora do
sítio. Aloísio foi até o Kadett e viu que o mesmo estava
com um problema que só um eletricista de autos poderia
consertar e ofereceu ao meu dono uma carona até a
cidade de Itariri onde o mesmo poderia pegar um ônibus
para voltar a Santos. Meu dono tinha que trabalhar no dia
seguinte e não tinha muito tempo para pensar, então ele
fechou a porta da casinha do sítio e como eu não podia
viajar no ônibus intermunicipal de Itariri até Santos, ele
pegou no meu focinho com as duas mãos, se abaixou, e
disse-me para não sair de perto da casa e do carro e que
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
não tentasse segui-lo, que eu o esperasse que em dois
dias ele voltaria para me pegar. Mas quando ele entrou no
carro, eu ainda tentei segui-lo, mas logo desisti, e voltei
até a casa, fiquei esperando a noite toda na área da casa,
de manhã fui até o carro e fiquei um tempo por lá, depois
voltei para a casa, e assim fiquei indo e voltando o tempo
todo na segunda-feira, e nada do meu dono aparecer, em
algumas folhas de bananeira caída eu encontrava água
para beber, e para comer eu lambia uma substancia
viscosa que havia nas bananeiras mortas no solo do sítio.
Nós, os cães, não temos compromissos e nem
relógios como os humanos, então, somos mais pacientes
quando as condições exigem que apenas fiquemos
aguardando. Passou-se a noite da segunda-feira e
chegou a luz do dia na terça-feira. Na tarde da terça-feira
resolvi deitar-me na estrada, entre a casa e o carro, um
distava do outro cerca de cento e cinquenta metros.
Quando o sol estava perto de se pôr, escutei um barulho
de carro, e fiquei apreensiva esperando ver quem viria. Eu
não reconheci o barulho daquele carro, por isso fiquei
deitada na beira do caminho. De repente veio o meu dono
e a Zenilda gritando meu nome: Doutora, Doutora,
Doutora. Valdemir dizia: “O resgate do soldado Ryan” e
me abraçava. Valdemir veio ao sítio com um eletricista de
autos que em meia hora resolveu o problema do carro.
Em seguida voltei no Kadett com o meu dono e a Zenilda,
e o eletricista voltou no carro dele.
[ 52 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Eu fiquei tão contente de vê-los, e vi que eles
ficaram muito feliz em me ver, estavam mais preocupados
comigo do que com o carro. Isso deixou-me muito feliz,
porque percebi que para Valdemir eu já tinha mais valor
do que bens materiais. Mais tarde Valdemir contou para
mim que no domingo que ele foi embora, quando ele
chegou na rodoviária em Santos e a Zenilda foi pega-lo,
eles até brigaram, porque a Zenilda o repreendeu por
Valdemir ter me abandonado no sítio, e ele retrucou
dizendo que não havia o que fazer, porque precisava
voltar para trabalhar no dia seguinte, e não poderia me
levar dentro do ônibus, porque é proibido transportar
animais. Aquele nosso encontro na beira do caminho foi
muito emocionante, porque ele viu que eu esperava por
ele ansiosa e eu também percebi que a alegria dele não
era em ver o carro, mas se encontrar comigo.
[ 53 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Incontáveis vezes viajei para Itariri no Kadett.
Quantas vezes eu ia no porta-mala do carro!
Se a nossa história virasse um filme, a trilha
sonora deste trecho seria de Roberto Carlos, SENTADO
À BEIRA DO CAMINHO:
Eu não posso mais ficar aqui a esperar
Que um dia de repente você volte para mim
Vejo caminhões e carros apressados a passar por mim
Estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim.
Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo
Meu olhar se perde na poeira desta estrada triste
Onde a tristeza e a saudade de você ainda existe
E esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança
De ao menos ver de perto seu olhar que eu guardo na lembrança
Preciso acabar logo com isso
[ 54 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo
Vem a chuva molha o meu rosto e então eu choro tanto
Minhas lágrimas e os pingos dessa chuva se confundem com meu
pranto
Olho pra mim mesmo, me procuro e não encontro nada
Sou um pobre resto de esperança à beira de uma estrada
Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo se confunde em minha
mente
Minha sombra me acompanha e vê que eu estou morrendo
lentamente
Só você não vê que eu não posso mais ficar aqui sozinho
Esperando a vida inteira por você sentado à beira do caminho
12 - SOL E CHUVA AO LADO DO DONO
Durante a minha vida vivi em quatro cidades,
Cubatão, Santos, Praia Grande e por fim em Itariri. Sem
dúvida era de Itariri que eu mais gostava, primeiro porque
lá eu ficava mais tempo com o meu dono, tinha vezes que
passávamos a semana inteira sozinhos, quando ele ficava
[ 55 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
de férias do seu trabalho, ele ia direto para o sítio, e a
primeira pessoa que estava disposta para ficar com ele
era eu. Outras pessoas também iam regularmente para o
sítio como a Esther e a Ellen, dona Lourdes, Zenilda e o
Valmiral, sem conta com a Leisa, é claro. Mas eu era sua
principal companhia ao longo de uma década, por isso ele
disse-me que faria um livro para registrar nossas
memórias. Eu sei com certeza o quanto ele gostava de
mim, como se eu fosse um membro da família dele. Eu
sentia que eu não era somente um bicho que havia na
casa, como foi no começo, posteriormente eu me tornei
seu animal de estimação. Mas agora, eu era o SEU
ANJO.
Fui sua companheira no sítio por nove anos. Ia a sua frente
para protegê-lo de todo perigo. Se houvesse uma armadilha ou uma
cobra, eu morreria por você amigo!
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Quando Valdemir ia para o sítio, ele nunca ficou
um dia sequer deitado, ou descansando na casa, ele era
viciado pela terra, ele tinha que estar trabalhando com a
enxada, com o facão, com a cavadeira, ou com qualquer
outra ferramenta, plantando, limpando o mato, colhendo,
construindo ou consertando e eu invariavelmente estava
sempre próxima dele. Quando ele entrava na mata ou
trabalhava em alguma parte do sítio, eu escolhia um
ponto em que pudesse ficar observando-o, geralmente a
uns 10 a 20 metros de distância dele e ali ficava deitada,
se estava quente eu ficava com a língua de fora, mas
sempre procurava ficar debaixo de um pé de bananeira no
ponto em que fazia sombra.
Pomba Burquesa.
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Até cobra Valdemir criou.
Coelho do sítio.
[ 58 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Donald e Margarida.
Porquinho da Índia nascido naquele dia.
Quando meu dono parava um pouco para
descansar, eu me levantava e se aproximava dele, e
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
então ele bebia água em uma garrafa pet e se sentava,
era nesta hora que eu me aproximava e começa a se
roçar nele, e era batata, ele passava a mão nos meus
pelos, fazia carinho na minha barriga e muitas e muitas
vezes me colocava no seu colo e ficava falando palavras
carinhosas para mim. Lógico que estando a Leisa junto,
ela morria de ciúmes e inconvenientemente metia as
patas em nós e exigia ser acariciada. Valdemir logo tinha
que desocupar uma das mãos para acariciar a Leisa, caso
contrário ela não nos deixava em paz. Leisa era tão
ciumenta que ficava com raiva de mim se ela percebesse
que eu estava recebendo mais carinho do que ela, então
Valdemir também colocava Leisa no colo para ela não se
sentir desprezada. A amplitude térmica no sítio variava de
8 no inverno rigoroso a 40 graus no ápice do verão, mas
eu nunca deixei meu dono andar pelas montanhas
sozinho, com exceção quando as meninas, Zenilda ou
dona Lourdes estivessem em casa, nestas condições eu e
a Leisa alternávamos em ora esta com Valdemir, ora com
as visitas que estavam na casa. Estar no sítio para
Valdemir, não era ficar na pequena piscina de cimento, ou
descansando na rede ou sofá, sitio para ele era cuidar da
terra e dos outros animais do sítio.
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
O sítio sempre tinha outros animais de criação
como galinhas, patos, coelhos, porquinhos da Índia,
jabutis, peixes, pássaros e meu dono ia em cada cercado
levar comida para estes animais, e eu sempre estava
perto dele. Muitas vezes chovia muito e meu dono não
voltava para casa, continuava trabalhando, e eu ficava
encharcada de tanta água, mas não arredava o pé de
perto dele. Fazia poça d´água em volta de mim, mas eu
não ia embora, mas confesso que era bem
desconfortável. Eu só não aguentava quando caia raio.
Deus me livre! mas o estrondo dos trovões é
extremamente perturbador para nossa espécie, e aí, eu
se mandava correndo para casa, ou corria para perto do
Valdemir, querendo dizer, agora chega! vamos embora!
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
porque qualquer hora um raio deste vai cair em você, e
Valdemir, muito teimoso, muitas vezes ficava trabalhando
no mato em meio a chuvas e raios, mesmo dona Lourdes
e Zenilda reclamando, ele não dava atenção, até que um
raio o atingiu, mas esta história eu conto em outro
capítulo.
13 – NÃO MEXA COMIGO
A força mais poderosa do mundo é o amor, é inútil
tentar impedir de uma mãe defender seu filho, se ela vê-lo
em perigo. Quando uma pessoa ama, ela não ataca a
pessoa amada, mas ela está disposta a morrer pela
pessoa amada. Não mexa nos pintinhos com a mãe por
perto. Eu mesmo já fui atacada por galinhas só porque fui
cheirar seus pintinhos. Eu juro que não tinha outra
intenção.... Mas o meu dono também gostava de mim
como uma galinha cuida dos seus pintinhos. Uma vez, eu
ainda morava na Av. das Américas, quando uns meninos
quando iam para a escola e me via no portão começavam
a latir para me irritar e ficavam mexendo e balançando o
portão, eu revidava com latidos mostrando que não tinha
medo dele. Mas um dia um destes moleques se deu mal,
meu dono estava lavando o carro do lado de fora e estava
abaixado limpando o carro, quando o irritante menino
passou e ficou latindo e balançando o portão para me
irritar, meu dono quando viu aquilo, perdeu a cabeça, e
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
destemperado como sempre veio correndo
sorrateiramente como um felino e quando chegou perto
deu um tapão violento nas costas do menino, que eu
pensei que os pulmões do coitado haviam estourados. O
pivete saiu agachado sem respirar direito, e com as mãos
nas costas, virou para trás com os olhos esbugalhados,
não sei se de medo ou da força do coice que meu dono
deu nas suas costas. Valdemir ainda vociferou coisas
horríveis. Só sei que o menino nunca mais passou por
aquela rua, não sei se abandonou a escola, ou se mudou
seu percurso para ir a escola.
14 – A GATA PAMELA
Pense em uma gata chata, metida, mal encarada,
mal humorada, exibida e outras coisas mais. Meu dono
que me desculpe, porque Valdemir também gostava
demais da Pamela, mas eu não gostava dela e pronto!
Não é que eu tinha ciúmes, mas ela se achava a dona do
pedaço só porque ficava dentro de casa e dormia na
cama com Valdemir. Mas Pamela se lascava quando a
Zenilda ia para o sítio, porque Zenilda que era minha
amigona não tolerava a Pamela, problemas de natureza
do tipo: cachorros não gostam de gatos, gatos não
gostam de ratos, Zenilda não gosta de gatos. Cachorros
e Zenilda se pudéssemos colocávamos os gatos para
correr até chegarem ao polo norte....
[ 63 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Pamella dormindo na cama.
Por causa desta descarada muitas vezes tomei
bronca do Valdemir, era comum Valdemir sentar no sofá
do lado de fora da casa, e a bandida da Pamela se deitar
no encosto do sofá perto da cabeça do meu amor e a mim
só restava ficar deitada nos pés dele. Quando Valdemir
estava perto a bicha ficava toda confiante, andava pelo
chão, passava perto de mim e da Leisa e ainda empinava
o rabo e o passava no nosso nariz. Em volta da área da
casa eu e a Leisa não atacava a Pamela, mas se ela
fosse pra o mato e o Valdemir não estivesse perto... Nós
disparávamos a toda velocidade contra a Pamela, e
rosnávamos com toda agressividade, a bruxa ficava
apavorada e corria como um raio até a árvore mais
próxima. Depois eu e a Leisa ficávamos nos deliciando
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
embaixo, falando para Pamela descer, e a bicha nojenta
ficava em pé no cacho de banana. Kkkkkk. Tinha vezes
que eu e a Leisa até nos deitávamos debaixo da
bananeira só para dar uma canseira na Pamela. É lógico
que estas malvadezas que eu e a Leisa cometíamos era
vez ou outra flagrada pelo Querido que ficava furioso
conosco. Imaginem a cena, a gata correndo naquele sitio
maravilho e nós duas correndo como torpedos,
levantando poeira, fala sério, eu e Leisa nos sentíamos
leoas caçando filhote de veado nas savanas africanas.
Mas a Pamela era folgava quando Valdemir estava perto,
tinha vezes que nosso dono ia trabalhar perto da casa e a
bicha ia conosco acompanhando Valdemir. Lógico que ela
não se deitava conosco, ficava uns 10 metros de distancia
de nós, também vendo Valdemir trabalhar. Ele fazia um
carinho em nós e depois ia até a Fulana e fazia carinho
nela. Lógico que a “Grã-fina” não acompanhava Valdemir
nos dias que chovia pelo sítio, imagina se ela poderia
desfilar com o penteado desmanchado pela chuva... Não
tenho nada contra quem gosta de gatos, mas vou falar
uma verdade, se nós os vira-latas não tivemos um cheiro
forte e fossemos menores, os gatos seriam extintos...
Porque as pessoas prefeririam ter somente cães, em vez
de gatos! Pelo amor de Deus, não estou aqui para falar
de nenhuma espécie criada por Deus, mas os cães são
as criaturas mais fiéis que há neste planeta, quem quer
ser animal de estimação de bêbados, mendigos e
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
bandidos? – Nós, os cães. Os gatos são preguiçosos, só
saem da cama quando estão com fome!
Durante um tempo, havia no sítio dois gatos: o
Getúlio e o Juscelino, eles eram mais legais, nós nunca
os colocamos para correr, isso é uma prova que não
somos tão inimigos dos gatos. Os dois chegavam mesmo
a nos beijar cheirando nossos focinhos. Eles eram tão
tranquilos que não tinham medo de disputar, comigo e
com a Leisa, pedaços de carne arremessado pelo
Valdemir. Os dois gatos não eram castrados e de tempo
em tempo eles sumiam e só apareciam depois de
semanas. Primeiro sumiu o Juscelino que era todo
branco, e um ano depois sumiu o Getúlio que era de cor
cinza. Acredito que eles tenham morrido por serem
atacados por cobras. O sítio fica na cordilheira da Serra
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
do Mar a 382 metros de altitude, em área de floresta
repleta de cobras. Eu e a Leisa sempre tivemos cuidado
com elas, evitando se arriscar e se aproximar demais das
cobras. Mas o Getúlio e o Juscelino eram corajosos
demais, várias vezes vimos os dois brincando com as
cobras, irritando-as e quando elas davam o bote, eles
pulavam de lado, para trás, fazendo acrobacias. Na mata
era difícil outra espécie fazer frente aos gatos.
15 – SOLEIRA DA CASA
Eu amo ficar na soleira da casa. Uma das minhas
funções é ser guarda da família e por isso está na minha
natureza ficar em um ponto estratégico da casa. Quase
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
todos os meus parentes caninos agem assim. Porque
Deus escreveu no nosso DNA estas informações. Eu
cumpro com muito gosto minha missão.
16 - TOBY
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Este é o Toby, ou como meu dono costuma
chamar: “Antônio Tobias”. Toby é um poodle com mais de
uma década de vida. Infelizmente ele é um cão criado
dentro de casa, frágil, não pode correr no mato, subindo e
descendo as montanhas como eu e Leisa fazemos. Toby
não anda na terra, não come a mesma ração que eu e a
Leisa. Ele sempre toma banho em petshop. Eu nunca
tomei banho em petshop. Meu dono Valdemir e dona
Lourdes me davam banho de balde com água fria. Nunca
tive inveja da vida do Toby, cada um deve viver de acordo
com sua natureza e não querendo ter a vida do outro.
17 – CAÇADA AO LAGARTO
Meu querido pai, lembra desta foto sua com o
lagarto? Não é um jacaré, é um lagarto mesmo! Eu e a
Leisa estávamos na área da casa do sítio, enquanto você,
Dona Lourdes e as meninas Esther e Ellen estavam se
preparando para almoçar. Era um dia lindo, céu azul.
Quando repentinamente Leisa com o seu focinho
comprido e de faro aguçado detectou odores de lagarto
no galinheiro. Ela desceu caminhando paralelamente a
cerca do galinheiro até que o cheiro foi ficando mais forte
e então ela visualizou o lagarto se preparando para comer
mais alguns ovos do galinheiro. Leisa deu o alarme
latindo alto e cercando o lagarto, não o deixando fugir. Eu
estava na área da casa e também lati te chamando para
ver o que Leisa tinha encontrado. O latido da Leisa era
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
muito intenso, confesso que fiquei com medo e esperei
você descer. Você já desceu em direção a Leisa com uma
arma de fogo na mão e eu desci atrás, foi quando
tomamos o maior susto com aquele lagarto enorme.
Você disparou contra o ladrão de ovos. Aí quem
correu fui eu e a Leisa, porque nós não suportamos
barulhos de arma de fogo ou fogos de artifícios. Você
chegou à porta da casa com o lagarto na mão, e as
meninas fotografaram o lagarto. O Arnou tratou do lagarto
e dona Lourdes cozinhou o bicho. Até eu comi lagarto e
roí os ossos. Mas não critiquem o meu pai, amigos
ecologistas, ele nunca caçou animais silvestres, não
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
permite e nem gosta quem mata animais selvagens.
Nestes dez anos só matou este lagarto. E posso dizer
com certeza que estes lagartos não estão nem um pouco
em risco de extinção. Nos meses quentes quase todo dia
vemos um passando de lá para cá. Aliás, lá no sítio tem
de tudo. Cobras, muitas cobras, de todo tipo e tamanho,
cervos, cotias, esquilos, raposas, cachorros do mato,
raposas, tatus, aves multicoloridas. Obrigado Deus por
meus olhos contemplarem tanta glória!
18 – MINHA EDUCAÇÃO
Quando deixei de ser menina e me tornei uma
cadela adulta, já havia modelado toda minha conduta, nos
melhores padrões que os humanos esperam de um cão.
Não precisei de adestrador, nem meu dono teve grande
esforço para me fazer compreender as regras de
convivência em uma família de humanos. Cães, gatos e
qualquer outro animal de estimação que não se esforça
para aprender as regras de uma casa, corre o risco de ser
abandonado. Este é um perigo que deve ser considerado
por todos os animais que querem viver no meio dos
humanos.
Lugar de fazer suas necessidades fisiológicas é o
primeiro problema que precisa ser solucionado. Nenhum
humano gosta de caminhar pela casa e de repente sentir
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
os seus pés molhados por xixi, ou pior, pisando no cocô.
Então, se tiver uma caixa de areia, ótimo este é o lugar,
se não tiver, procure um canto longe da casa, se tiver
uma área de terra bem, caso contrário, faça as
necessidades o mais distante da casa.
Outra coisa que os humanos odeiam, são os
animais inoportunos que ao verem o dono comendo
latem, pulam nas pernas das pessoas, fazem um drama,
que deixam as pessoas irritadas, não as deixando comer
sossegadas. Tem cães que precisam ser presos em
cômodos para pararem de incomodar os donos quando
comem. Sem querer falar mal dos gatos... tem um monte
assim... Eu e a Leisa jamais latimos na hora do almoço.
Mas o Toby... é de dar vergonha... Zenilda não deu
educação para aquele poodle, mas já não tem mais jeito,
está muito velho, como diz meu dono: Toby é o Ramsés II
de tão velho...
Outra coisa que se eu pudesse dava aula de
etiqueta para os cães: Pelo amor de Deus vira-latas, se
enxerguem, não fiquem entrando e saindo da casa,
somente entre se forem convidados. Animais ladrões, isso
é o cúmulo! Não podem ver uma carne na mesa ou na pia
da cozinha que pulam, agarram a carne e saem correndo
para comer, achando que as pessoas não desconfiarão
de você. Gato ladrão abre panela de pressão e mixa
cadeado. Cães ladrões abrem geladeira que não deixam
nem as digitais. Misericórdia!!!
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Lamber as pessoas - é verdade que lamber é uma
das maiores expressões de carinho que um cão e um
gato podem dar. Mas façam isso com seus filhotes, ou
uns com os outros. A maioria dos humanos sente
repugnância com esta demonstração de afetividade. Eu
mesmo quando queria que alguém me fizesse carinho,
apenas empurrava sua mão com o focinho. Cansei de ver
a Leisa tomar tapa na cabeça do meu dono Valdemir
porque ele não gosta de lambida. Esta “loira” da Leisa vai
morrer e não vai aprender... Por isso que ela tem a fama
de chata e ainda acha que os outros é que implicam com
ela.
Veja nesta minha foto abaixo. Cães se deitam no
chão e não na cama ou no sofá... Gatos são diferentes,
também alguns cães são criados dentro de casa com
tratamento vip, mas são cães de pequeno porte ou que
não tem contato com a terra, cães urbanos. Nós, cães
mais rústicos e criados em sítios não podemos subir nas
camas e sofás, sujando os móveis e assentos. Mas eu
também tenho meus vícios, aliás, eu e Leisa. No sítio têm
alguns sofás que ficam na área de fora da casa, mas
Valdemir não queria que nós dormíssemos nos sofás.
Então tínhamos um truque: Durante o dia e até certa hora
da noite, nós dormimos em cobertas no chão da área, até
que percebemos que não tem mais barulho na casa e ai,
nós buscávamos dormir mais confortavelmente e cada
uma ia para um sofá deitar. Só que já fomos flagradas
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
dezenas de vezes, porque Valdemir acorda de
madrugada para ir ao banheiro e aproveita para sair e
contemplar o céu e quando percebemos, ele já está em
cima de nós dando uma bronca. Confesso que este é um
vício nosso. Para nos corrigir, o Pai coloca cadeiras
deitadas em cima dos sofás...
19 – EDSON, MORADOR DE RUA
Meu querido dono Valdemir, sou grata a Deus
pelas missões que realizei neste mundo. Tive você como
a pessoa mais importante deste mundo, somente abaixo
de Deus. Não importava-me seus defeitos, seu aspecto
físico, a marca do seu carro, o seu cheiro de suor, suas
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
roupas baratas, e quanto você tinha de dinheiro no bolso.
Para que serve dinheiro mesmo? Mas além de você eu
tinha a missão divina de amar todos os seres humanos
que cruzassem o meu caminho. Um deles foi o Edson,
pena que nem foto dele, você tem... Edson era um
morador de rua, sabe lá Deus o que o levou a cair na
vida, tinha família na grande São Paulo, sua filhas
queriam que ele voltasse para casa, mas ele preferia
morar na rua, alias, depois que conheceu você ele nunca
mais morou na rua, porque você deu abrigo para ele por
mais de dez anos. Edson morava na área da casa da rua
Rangel Pestana. Sua mãe morava no interior da casa, e o
Edson debaixo de uma marquise no interior do imóvel, é
lógico que ele era útil, por ser uma pessoa que de certa
forma guardava a casa, mesmo assim, você mostrou
confiança em Deus e deu um voto de confiança
permitindo que ele morasse ali sem saber o passado
daquele homem. Você e dona Lourdes deu abrigo a um
ser humano, e isso será levado em conta. Quando fui
morar na Rua Rangel Pestana, Edson já morava na área
da frente, mas até minha chegada, duas vezes a casa foi
roubada, e os bandidos puseram em perigo a vida do
Edson que foi rendido. Em um destes roubos a polícia
agiu e o ladrão foi preso. Mas com a minha chegada os
ladrões e viciados nunca mais colocaram os pés dentro
do imóvel, porque eu e Leisa estávamos ali para proteger
Lourdes e Edson. Sei que muita gente fez piada com o
Edson, dizendo que eu era esposa dele, porque Edson
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
dormia com os cães... é assim que muitas pessoas tratam
o sofrimento alheio, com desdém. Coisas de humanos...
Edson era uma pessoa que gostava muito de lê,
todas as manhãs ele comprava um Jornal chamado
“Expresso Popular”, aqui de Santos, e não deixava de
preencher as palavras cruzadas. Apesar da sua condição
social, ele era culto e sempre tinha conversas
interessantes com Valdemir, contudo Edson era uma
pessoa muito doente, tinha bronquite crônica, e muitas
pessoas se perguntavam como alguém que dormia
debaixo de uma marquise, sujeito ao frio da madrugada e
ainda vivia? Ele tinha mais de 50 anos quando eu o
conheci. Edson conseguia algum dinheiro vendendo
picolés com o carrinho da sorveteria do Valdemir, foi
assim que os dois se conheceram no ano 2000. Eu entrei
na história em 2005, e só conheci o Edson mais tarde. O
Edson ainda fazia bico em um bar nas redondezas,
durante a noite, fazendo um trabalho de vigia, enquanto o
bar estava aberto e ajudava o dono do bar em guardas as
mesas e arrumar as coisas e em troca ganhava alguns
trocados e refeições que sobrava, faziam uma marmita
para o Edson. Aliás, para o Edson, para mim e para Leisa,
porque quando sobrava comida no bar, o Edson trazia
para nós duas. Aquele nosso amigo nunca se esquecia de
nós, comíamos do bom e do melhor com ele. Em troca
nós dávamos ao Edson carinho que nenhum ser humano
podia lhe dar. Infelizmente em 2013 ele teve um ataque
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
de bronquite forte e ficou internado na Santa Casa por
algum tempo, onde veio a falecer e nunca mais vimos o
nosso “Lázaro”. Nós, os cães, amamos crianças,
doentes, velhos, desamparados, mendigos. Amamos
qualquer um que tenha tempo para se relacionar conosco
etc. Quando você não tiver mais nenhum amigo, você
enxergará que há uma espécie de milhões de exemplares
te esperando com um sorriso para te abraçar. Eu te amei
muito Edson, nunca te esquecerei...
20 - PERDIDA NO MATO, NA ESTRADA DE ITARIRI
O nosso dono tentou nos colocar para morar no
sítio quando ele se mudou para a casa da Avenida das
Américas e por fim, eu e a Leisa fomos morar na casa de
dona Lourdes. Mas vou contar para vocês porque
fracassou nossa primeira empreitada em morar no sítio.
Valdemir passou a ir todos os finais de semana para o
sítio em Itariri e achou que eu e a Leisa poderíamos morar
lá. Sua intenção era transformar um galinheiro, em nossa
casa, um canil. Acontece que o galinheiro era feito de tela
de nylon ou plástico, um material pouco resistente para
cães. No domingo que ele resolveu nos deixar no sítio,
nos trancou naquele canil improvisado e foi embora.
Assim que Valdemir ligou o carro e partiu, eu e a Leisa
nos desesperamos para ir com nosso dono, e começamos
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
a forçar a tela que facilmente foi rasgada com os nossos
dentes e saímos correndo atrás do carro. Nosso dono não
percebeu, mas eu e a Leisa o seguimos por dois
quilômetros, seguindo o barulho do motor do carro em
meio a floresta onde ficava o refúgio do sítio. Contudo,
após corrermos bastante, comecei a sentir falta de fôlego,
porque eu era pesada e tinha as pernas curtas. Quando
desistimos de correr, nos encontrávamos perdida na
estrada e não sabíamos mais como voltar para a casa do
sítio, já estava escurecendo e resolvemos passar a noite
ali mesmo na estrada. Durante a noite vimos vários sapos
e caracóis, pois sem dúvida estes são os animais de
hábitos noturnos que mais se aproximam de nós, sem
demonstrar medo algum. O dia amanheceu e eu e a Leisa
resolvemos ficar por ali mesmo, quando vinha um carro,
nós entravamos na mata lateral a estrada para não
sermos atropelada, porque a estrada era muito estreita.
Como os dias foram passando, logo nossos instintos
foram despertando para sobreviver; do ponto que
estávamos dava para escutar o barulho do rio e ali
descíamos para beber água. Na natureza encontrávamos
vegetação e fruta que dava para comer, como Itariri é
uma região de plantação de bananas, por todo lado tinha
bananeiras, e sempre alguns cachos amadureciam no
meio do mato e as bananas caiam e eu e a Leisa
comíamos. Dias e noites foram se passando, mas nós
nunca ficávamos distante da estrada, sempre em uma
distância que os nossos ouvidos pudessem detectar o
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
barulho do Kadett, porque nossa audição consegue
detectar exatamente o barulho do motor do carro do
nosso dono. Nosso dono foi embora no domingo à noite e
só voltaria no sábado, mas como não sabemos contar os
dias, o mais confiável era ficar ali todos os dias atentas.
Finalmente o sábado chegou e logo de manhã ouvimos o
barulho do Kadett. Meu Deus, Valdemir está voltando
para nos salvar!!! Corremos a toda velocidade em direção
à estrada, porque estávamos no riacho que passava
abaixo da estrada, e quando alcançamos a estrada, o
carro do Valdemir estava exatamente a poucos metros,
vindo em nossa direção. Latimos eufóricas e Valdemir
freou o carro surpreso por nós estarmos ali, tão distante
da casa. Nós estávamos tão alegres em vê-lo e não
queríamos correr o risco de perdê-lo de novo, então eu
saltei pela janela no colo do Valdemir, e a Leisa saltou
pela janela do lado do passageiro. Ficamos todos
festejando o encontro ali na estrada, era uma gritaria só,
dentro do carro parado na estrada. Depois do comovente
encontro, fomos ao sitio. Quando lá chegamos, Valdemir
percebeu porque estávamos ali, ele viu que a tela do canil
improvisado estava rasgada por nossos dentes e que a
ração estava inteira ali, já embolorada. Então Valdemir
percebeu que havíamos escapado no mesmo dia do canil
e que fomos parar ali naquele ponto da estrada porque foi
até onde conseguimos segui-lo.
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
21 – OS PATOS
O sítio já teve muitos patos, mas esta pata da foto
era um super-mãe, eu gostava de vê-la passeando nos
tanques com os seus filhotes. Deus já fez cada criatura
com seus instintos programados para fazerem o que Deus
determinou no seu DNA. Mas esta pata era muito brava,
ela já me colocou para correr várias vezes, a gente nem
podia ficar olhando para os patinhos dela que ela já vinha
tirar satisfação. Tinha que olhar de longe. Valdemir
chegava a ameaçar pegar um patinho só para vê-la
irritada e avançava na mão dele, beliscava com o bico
que chegava a cortar a pele, mas Valdemir se divertia.
Fico pensando como Deus é maravilhoso, colocando um
instinto materno tão forte nas mães que elas muitas vezes
não tinham medo nem mesmo de criaturas bem maiores
do que elas.
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O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
22 – ZENILDA
Agradeço a Zenilda por ter permitido-me entrar
em sua vida. Não posso esquecer o seu cuidado por mim,
sempre preocupada se eu já havia comido, se havia água
fresca para mim e se eu estava bem abrigado contra o frio
ou contra o calor. Sempre se dirigia a mim com carinho e
ternura, nunca tratou-me como um cachorro qualquer.
Zenilda faz parte de um seleto grupo de pessoas que
tratam os cães com dignidade, que Deus saiba lhe
recompensar. Desde a minha infância até os meus
últimos dias ela deu-me dignidade. Quando eu já não me
alimentava e esperava a morte, fiquei alguns dias aos
seus cuidados. Mas eu sei que Zenilda não gosta de se
lembrar dos meus últimos dias já fraca, ela gosta de
lembrar dos meus dias de pleno vigor, quando eu corria
como uma atleta, mesmo tendo perninhas curtas e um
corpo roliço e pesado. Certa vez Valdemir e Zenilda
estavam fazendo exercício físico, e frequentemente
corriam do bairro do Casqueiro a Ilha Caraguatá, e em um
destes dias, eu corri com eles. Como foi bom! Valdemir
corria mais a frente e uns cinquenta metros atrás vinha
Zenilda, eu estava tão empolgada e feliz que eu corria até
acompanhar Valdemir, depois, olhava para trás e via
Zenilda, então eu voltava para acompanhar Zenilda, então
eu já queria correr ao lado de Valdemir, e eu acelerava
para acompanha-lo. Foi um fim de tarde maravilhoso. São
aquelas coisas gratuitas, de felicidade pura e simples, que
[ 81 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
não se compra com dinheiro ou no cartão de crédito.
Felicidade que não tem valor econômico. Quando a
Zenilda ia para o rancho do sitio, ela gostava de ficar a
beira da piscina deitada, e eu ficava fazendo-lhe
companhia. Procurava uma sombra e ficava vigiando-a,
guardando-a, esperando o momento de dar e receber
carinho. Meu dono sempre foi mais relaxado, mas a
Zenilda não, logo que chegávamos ao sítio, a primeira
coisa que ela providenciava, era água fresca para mim
que sempre vinha ao sítio, ou no porta-mala do Kadett, ou
na carroceria da camioneta.
[ 82 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Foto de 2008, eu sempre estou por perto das
pessoas que amo. Amor é sentir prazer em estar ao lado
de quem ama, mesmo que não tenha nada para fazer.
23 – ELLEN
Dias maravilhosos eu vivi ao lado da Ellen
Valkyria, filha de Valdemir. Elas eram meninas, Esther
tinha seis anos e Ellen tinha cinco anos. Valdemir sempre
brincava chamando eu e Leisa de irmãs de Esther e Ellen,
muitas vezes ele dizia: Doutora, vá chamar suas irmãs!
Ellen fazia aquela cara como dizendo: “Eu não sou
cachorro não!” Mas nós os cães não ficamos magoados
com facilidade. Tudo levamos como brincadeira e farra.
Quando a Ellen e Esther iam para o sítio, elas
costumavam ficar na casa, limpando-a, fazendo a comida,
lendo no quarto, ou brincando na piscina. Era comum, as
meninas sentirem vontade de ver o pai e a Ellen se dirigia
[ 83 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
para mim dizendo: “Doutora, me leva até onde está o
papai?” Parece incrível, mas eu entendia o que ela queria,
ela ameaçava pegar um caminho no sítio, e eu logo
sacava o que ela e Esther queriam, e eu com meu faro
aguçado, sentia as moléculas de cheiro do meu dono e
fazia o trajeto que ele percorreu somente sendo guiada
pelo odor. Muitas vezes Valdemir percebiam que eu e as
meninas estávamos indo atrás dele, então, ele se
escondia para testar se meu olfato era capaz de localiza-
lo; e eu nunca ficava desorientada, sempre levava as
meninas até Valdemir. Tudo era uma brincadeira, uma
felicidade. Mesmo Ellen que não tem afeto com cães,
gostava de mim, porque eu sempre parecia estar sorrindo
e alegre e com a língua de fora. Esta foi a minha marca
no mundo. Obrigada Deus, obrigada pelos dias felizes ao
lado de Ellen. Quantas vezes nós voltámos juntas na
camioneta, pois a camioneta era de cabine simples, e
Valdemir colocava um banco na parte traseira da
carroceria, aonde Ellen, e Esther iam sentadas, e eu e a
Leisa íamos em meios as caixas de frutas, produtos da
horta e raízes que Valdemir transportava para dar para
amigos e parentes.
[ 84 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
“Éramos quatro irmãs.”
Um dia houve um acidente no sítio que me deixou
preocupada. Valdemir estava de férias, e quando isso
acontecia, nossa estadia no sítio chegava a durar uma
semana. Naquela estadia estavam no sítio, Valdemir, as
duas meninas e a dona Lourdes. Além de mim e da Leisa.
Em um final de tarde, a Ellen corria quando distraiu-se e
correu em direção ao arame farpado, sofrendo um grande
corte no pescoço e no queixo. Ela chorava e colocava
sangue para fora. Valdemir ficou muito nervoso, porque já
havia advertido que elas não deviam correr no sítio
porque havia risco de se machucarem. Dona Lourdes
falou que não dava para ficar tratando aquilo em casa, e
Valdemir pegou a camioneta e fomos todos para a cidade
de Itariri, onde Ellen teve que levar pontos no queixo e no
[ 85 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
pescoço. Se o corte fosse no lado oposto do pescoço, o
acidente poderia ser fatal. Mas o anjo de Deus sempre
esteve conosco, e nos momentos decisivos alterava os
fatos. Fazendo uma nova história, não permitindo coisas
piores. Ellen só não gostava quando a Leisa pulava com
as patas dianteiras se apoiando nela. Aliás, ninguém
gostava disso, só a Leisa que nunca aprendeu...
24 – ESTHER
[ 86 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Como Deus foi bondoso comigo, permitindo-me
viver nesta família! Esther sempre foi mais voltada aos
animais. Valdemir sempre pedia para as meninas, quando
iam ao sítio, trocar a água dos animais. No sítio havia um
cercado de jabutis e outro com porquinhos da Índia. Eu
muitas vezes colocava minhas patas dianteiras na mureta
do cercado e ficava olhando através da tela, aquela
manada de porquinhos multicoloridos. Eu os achava
bonitos, e sabia que não podia caça-los. Eu sempre fui
inteligente o suficiente para compreender que não deveria
atacar os animais que Valdemir criava. Mas que gostava
de dar uns sustos na Pamela, isso eu gostava! Esther
nos amava, e muitas vezes brincava conosco. As poucas
vezes que o sobrinho do Valdemir, o Rodrigo, foi ao sítio,
todos nós brincávamos de esconde-esconde, mas eu e a
Leisa não entendíamos a regra da brincadeira e por isso
acabávamos algumas vezes denunciando onde estava as
crianças escondidas. Quando corríamos juntos, vez ou
outra, cruzávamos a frente de um deles e provocávamos
seu tropeço e queda, era tudo muito engraçado, e
ninguém se machucava.
[ 87 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
[ 88 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
25 – DONA LOURDES
Vivi alguns anos na casa de Dona Lourdes, mãe
do Valdemir. Ela era uma senhora maravilhosa. No
começo ela não queria ficar conosco, porque ela nunca
criou cães, e achava que teria muitas dificuldades em
criar eu e a Leisa. Mas quando ela passou a conviver
conosco e ver os nossos serviços de proteção e guarda,
ela já não queria que eu e Leisa saíssemos nem aos fins
de semana para ir ao sítio. Obrigado por tudo “mainha”.
[ 89 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Dona Lourdes procurava nos dá comida como
arroz com carne, ou arroz com frango. Eu e a Leisa
gostávamos muito das comidas que os humanos comiam,
e dona Lourdes não somente percebeu isso, como
passou a cozinhar para nós. Que senhora linda! Valdemir
ensinou-lhe a nos dá banho. No começo dona Lourdes
disse que não conseguiria sozinha, dar banho em cães,
porque não teria força para segura-los. Mas logo ela viu
que eu e a Leisa éramos disciplinadas e quando ela nos
chamava para perto da torneira com balde ou mangueira,
nós se aproximávamos e ficávamos quietas, esperando o
banho de água, e sermos ensaboadas. Depois do banho,
dona Lourdes permitia-nos sair pelo portão e dar uma
corrida pela quadra.
[ 90 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Como um anjo, eu muitas vezes aparecia
espontaneamente no momento que as pessoas tiravam
fotos. Nestas duas fotos com Dona Lourdes, vejam que
nem havia intenção de fotografar-me. Os anjos são assim,
eles estão pertos e vocês nem percebem!!!
Dona Lourdes nunca esqueceu o dia que eu
salvei sua vida. Eu e Teocron. Vários dias por semana a
dona Lourdes vai ao culto adorar a Deus na Assembleia
de Deus do bairro do Jabaquara em Santos. Ela vai as
19hs e volta por volta das 21:30hs ou 22hs. Em uma
destas noites, um viciado em drogas, morador de rua,
ficou na espreita da Dona Lourdes do outro lado da rua,
onde fica a Arena Santos. De dia o lugar é muito
movimentado, sendo quase todo, uma área comercial,
mas a noite, não se vê movimento de pessoas
caminhando pelo local, somente carros. O astuto marginal
ficou na espreita debaixo da marquise do prédio da Arena
Santos, e Dona Lourdes achando que não havia perigo,
falou para sua amiga Selidia, que sempre vinha do culto
junto com ela dizendo que esta não precisava
acompanha-la até a porta. Quando Dona Lourdes chegou
no portão da sua casa, eu vi o marginal atravessando a
rua rapidamente, vindo por trás de um carro que estava
estacionado em frente a casa e quando Dona Lourdes
encostou no portão para abrir o cadeado, eu lati
ferozmente contra o bandido, e Leisa engrossou o rugido
ferroz, batendo com as patas no portão. Como o bandido
[ 91 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
pensou que Dona Lourdes já havia aberto o cadeado ele
recusou e saiu andando apressadamente. Dona Lourdes
quando olho para trás tomou o maior susto, porque o
bandido ficou a poucos centímetros de dominá-la. Fiz a
minha parte e do lado de fora, o anjo Teocron encheu o
coração do bandido de pavor e ele sumiu dali.
O mundo está correndo serio risco com a
disseminação das drogas, as pessoas estão
enlouquecendo e ficando com as mentes escravos do
Diabo. Os tratamentos químicos e terapêuticos não estão
sendo capazes de libertar os homens das drogas. O
usuário de drogas perde o limite e a sanidade mental, e
faz coisas absurdas e não raras, criminosas. A minha
chegada na Vila Matias em Santos, na casa de Dona
Lourdes foi um plano de Deus para protege-la.
Eventualmente drogados pulavam a mureta da casa e
defecavam na área externa da casa, até usavam drogas.
Com a minha chegada na casa, os viciados foram
expulsos dali. Eu e a Leisa fazíamos os maiores
escândalos quando víamos um usuário de drogas. Dona
Lourdes ficava até espantada achando que nós duas
tínhamos preconceito contra mendigos, mas não era
contra os pobres que nós mostrávamos valentia, mas
contra as pessoas possuídas por espíritos imundos.
Muitas vezes nós víamos estas pessoas passarem com
criaturas horripilantes penduradas em seus pescoços, e
estes espíritos imundos passavam provocando-nos, por
[ 92 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
isso eu e a Leisa latíamos ferozmente contra os viciados,
sujos e drogados que passavam pela rua.
O portão da casa da Rua Rangel Pestana tinha
muita história maravilhosa, muitas pessoas boas
passavam por ali e viravam nossos amigos. Havia um
pedreiro que passava de bicicletas quase todos os dias, e
sempre que passava por ali fazia um carinho em mim e na
Leisa. Eu sabia que ele era gente de bem e por isso
fizemos amizade com ele. Assim foi com tantas outras
pessoas. Seu Zé da Solimene, como poderia esquecer
este bom homem. Finais de semana que Dona Lourdes
ira para Praia Grande e nós duas não íamos para o sítio,
era o Seu Zé que cuidava de nós. Ele era vigia da oficina
Solimene e este bom homem se ofereceu para cuidar de
nós, ele nos dava comida, água fresca, e ainda recolhia
nossos excrementos. Ele não cobrava nada por isso.
Dona Lourdes como boa mãe, dava-lhe agrados, como
fazia eventualmente um almoço, ou dos produtos do sítio
que Valdemir trazia, ela dava-lhe parte das bananas,
mandiocas etc. Tinha vezes que Dona Lourdes viajava e
se ausentava por semanas, e o seu Zé cuidava de nós
como um santo homem. A vida é cheia de provações
porque não dá para as pessoas enganar os outros o
tempo todo, elas acabam mostrando o que tem no
coração, os bons na dificuldade dividirão o seu pão, os
maus vão tomar o pão dos outros. Quem é da luz, na
escuridão brilha, quem é das trevas, da luz se refugia.
[ 93 ]
O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir
Seu Zé seja bendito por tudo o que nos fez. Quem dá um
pote de água fresca para um cão, que cuida das criaturas
mais fracas e inferiores serão tratados com misericórdia
por Aquele que tudo vê.
Quando Dona Lourdes estava morando em Praia
Grande, agora no ano de 2015, um dia o Daniel esteve
por lá e conversava com Dona Lourdes na porta da casa,
e na hora do Daniel ir embora, ele abriu a porta do seu
carro. Quando eu vi a porta aberta, eu e a Leisa entramos
no carro. Dona Lourdes e o Daniel tiveram trabalho de
tirar-nos do carro, deitamos nos tapetes, como sempre
fazíamos nos carros do Valdemir. Centenas de vezes
Valdemir viajava conosco e quando estava sozinho no
carro, ele nos deixava ir no tapete do carro, ao seu lado.
Naquele dia, entendemos que Daniel abriu a porta para
nós entrarmos como Valdemir fazia. Tiveram que tirar a
gente a força do carro do Daniel. Depois fiquei sabendo
que Daniel é extremamente zeloso com seu carro,
mantendo-o extremamente limpo e conservado, e que ele
não deve ter gostado nem um pouco de termos espalhado
pelos em seu veiculo.
26 - PRESA NA CARCERAGEM DA DELEGACIA
Teve uma vez que a camioneta quebrou o cambio
e Valdemir veio arrastando o carro de Itariri até Itanhaém,
sendo necessário um guincho levar o veiculo até São
[ 94 ]
O ANJO DE QUATRO PATAS
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O ANJO DE QUATRO PATAS

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  • 2. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir FINALIDADE DESTA OBRA Os materiais literários do autor não têm fins lucrativos, nem lhe gera quaisquer tipo de receita. Os custos do livro são unicamente para cobrir despesas com produção, transporte, impostos e revendedores. Sua satisfação consiste em contribuir para o bem da educação, uma melhor qualidade de vida para todos os homens e seres vivos, e para glorificar o único Deus Todo-Poderoso. Espero que este livro leve as pessoas a pensarem que ao abrirem a sua residência para hospedar um animal, eles podem estar hospedando um anjo que irá lhe proporcionar as mais agradáveis experiências da vida. CONTATOS: http://doutoraeteocron.blogspot.com.br/ AUTORIZAÇÃO O livro pode ser reproduzido e distribuído por quaisquer meios, usado por qualquer entidade religiosa, educacional ou cultural sem prévia autorização do autor. [ 2 ]
  • 3. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Anjo Teocron / cadela Doutora AUTOR: Um animal, um homem e um anjo se uniram para escrever uma história fantástica. Três seres de classes diferentes contam uma história simples em que o cão vira-lata ensina ao homem as virtudes espirituais, e um anjo se revela na figura de um cachorro, ajudando o homem nos momentos de perigo. O homem está no meio entre estes dois seres, sendo influenciado durante sua vida. [ 3 ]
  • 4. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) [ 4 ] M543 Menezes, Valdemir, 1969, Doutora e Teocron O Anjo de quatro patas / Valdemir Mota de Menezes, Doutora e Teocron. Cubatão/SP, Amazon.com Clubedesautores.com.br, 2015 224 p. ; 21 cm ISBN-13: 978-1518677663 ISBN-10: 1518677665 1. Cinologia 2. Biografia 3. Angelologia I - Titulo CDD B869.8 CDU 929(100)
  • 5. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir SUMÁRIO Introdução I – CADELA “DOUTORA” 1 – Hospedando o anjo 2 – As lembranças de Regiane 3 – Carinho na barriga 4 – Matando codornas mordendo chinelos 5 – Envenenada 6 – As galinhas do Galera 7 – Leisa, a Galega 8 – Latidos à noite 9 – Gravidez psicológica 10 - Correndo pelas ruas de Santos 11 - Esperando a beira do caminho 12 - Sol e chuva ao lado do dono 13 – Não mexa comigo 14 – A gata Pamella [ 5 ]
  • 6. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 15 – Soleira da casa 16 - Toby 17 – Caçada ao lagarto 18 – Minha educação 19 – Edson, morador de rua 20 - Perdida no mato, na estrada de Itariri 21 – Os patos 22 – Zenilda 23 – Ellen 24 – Esther 25 – Dona Lourdes 26 - Presa na carceragem da delegacia. 27 – Detectando cobras no mato 28 – Brincando de pega-pega 29 – Desmaio 30 - Atacada pela Pitbull Dara 31 - A profecia de Paulo [ 6 ]
  • 7. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 32 - A doença 33 - A cirurgia 34 - Restabelecida a saúde 35 - O retorno do câncer 36 - Meu último dia 37 - A morte 38 - Sepultamento 39 - Nastácia II – TEOCRON Apresentação 1 - O grande encontro 2 - Olhos que te olham 3 - Arte de camuflagem 4 - Não percebem os anjos 5 - Anjos familiares 6 – Felicidade inexplicável 7 - Animais condutores da presença de Deus [ 7 ]
  • 8. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 8 - Tomei um raio 9 - O endemoninhado 10 - 700 anjos 11 - O anjo irá adiante de vós III – TEOLOGIA SOBRE OS ANIMAIS 1 - Preservando as espécies 2 - Fim do homem como o dos animais 3 - Os animais falam com Deus 4 - Os justos tratam seus animais 5 - Vida humana é semelhante a animal 6 - O improvável destino dos animais 7 - Animais adoram a Deus 8 - Os animais confiam em Deus 9 - Animais, um dos orgulhos de Deus 10 - As criaturas da terra tem inteligência 11 – Os quatro animais do céu 12 - Salvação dos animais [ 8 ]
  • 9. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 13 - Os animais no novo mundo 14 - O céu é um curral 15 - Jesus e seu animal 16 – A graça alcança homens e animais 17 – A lei de Deus protege os animais 18 - Deus evita a destruição dos animais 19 - Deus não esquece os animais 20 - Deus ama todos os bichos 21 – A vingança divina pelos animais 22 - Os cães comem no banquete do Senhor IV – OS CÃES DE LÁZARO Conclusão [ 9 ]
  • 10. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir INTRODUÇÃO Esta é a fantástica história de um anjo de quatro patas. Continuamente estamos sofrendo na Terra intervenção de criaturas espirituais, sejam benignas ou malignas. A Bíblia nos fala que devemos abrir a porta da nossa casa para recebermos os outros, pois fazendo assim, eventualmente Deus nos enviará anjos. "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos." (Hebreus 13:2). Eu já tive muitos animais domésticos que ganhei ou adotei, hospedando-o em casa, assim como milhões de pessoas o fazem em volta do mundo. Até que percebi que um destes animais era extraordinariamente especial. A cadela chamada Doutora. Tive muitos gatos, a qual sempre dava nomes espalhafatosos como: Josivaldo I e Josivaldo II, uma forma debochada de tratar as realezas da Terra e satirizar suas dinastias. Cada morte de um animal deste causava dor e tristeza, como qualquer pessoa que tem sentimento sofre ao perder o seu animal de estimação. Também tive outros três gatos especiais: Getúlio Vargas, Juscelino Kubischek e Pamella Anderson. Como se vê estes nomes são de personagens famosos: Dois presidentes do Brasil e uma atriz norte-americana. Minha primeira experiência com cães foi em 2005, quando eu já tinha 36 anos. Imaginem que passei a infância e adolescência sem a alegria de ter um cãozinho! Mas quando esta cadela entrou em minha vida eu tive as mais [ 10 ]
  • 11. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir gratas experiências terrestres e descobri a fundo o sentido de muitas palavras como: Amor, gratidão, fidelidade, amizade e companheirismo. Este livro é um tributo a Deus por ter me dado na vida bichos, animais de estimação, e agora UM ANJO DE QUATRO PATAS. Esta é a história de um cão, um homem e um anjo. Talvez para você será apenas uma história fantasiosa sobre um animal de estimação, mas para mim, foi muito mais do que isto. Enquanto estou escrevendo estas palavras, o corpo sem vida do meu anjo está no carro, esperando para o sepultamento digno que farei amanhã a cem quilômetros daqui. Estou mergulhado em sentimentos como: agradecimento, gratidão, doces lembranças e nostalgia. Este livro pode ser classificado como realismo fantástico, porque parte do livro é expressão dos meus sentimentos e lembranças e parte do livro é sensorial, ao longo dos anos eu e a cadela conversávamos através do pensamento, por telepatia. As pessoas são livres para acreditarem ou não no que quiser, inclusive na história que eu vivi com a Doutora. 1 - HOSPEDANDO O ANJO As coisas maravilhosas da vida geralmente não tem valor econômico e não lhe custou um real. Ter uma mãe, uma família, poder respirar, beber um gole de água [ 11 ]
  • 12. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir quando está com sede, caminhar pela rua. Estas coisas são muito importantes, mas infelizmente só damos valor as coisas que realmente importa quando percebemos que estamos perdendo-as, ou quando elas não existem mais. Na vida é preciso ficar atento para não perdermos o bonde da felicidade, a felicidade vem de diversas formas e muitas vezes na forma de um animal de quatro patas. Em 2005 eu morava na Rua Maria Graziela, no bairro do Casqueiro em Cubatão/SP/Brasil, em minha casa vivia eu, minha esposa Zenilda, minha enteada Lívia e uma sobrinha chamada Jessica. Um dia Jessica apareceu com um cachorrinho de cor parda, uma bolinha de fofa, era de raça indefinida, que costumamos chamar de vira- lata. Ela devia ter uns dois meses de vida. Sinceramente eu não dei muita atenção. Naqueles dias eu estava vivendo uma turbulência profissional muito grande, um grande rolo estava passando por cima da minha vida. Eu era escrivão de polícia civil e uma grande confusão e briga estava havendo na Delegacia que eu trabalhava, esta confusão acabou criando atritos com a Delegada de Polícia de outra Delegacia próxima a minha unidade. Minha cabeça estava a mil, eu estava no centro de uma contenda e dois delegados de polícia estavam acusando- me de falsificar documentos. Eu estava inteiramente inocente e não tinha feito nada de ilegal, nem criminoso, nem de má fé, por isso mesmo eu estava transtornado, furioso e a beira de fazer uma loucura. Não tinha cabeça para dar atenção a um reles animal, um filhote de vira- [ 12 ]
  • 13. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir lata. Investigações, procedimentos administrativos e processos criminais estavam sendo instaurados e o meu nome estava no centro destas polêmicas. Um cachorrinho correndo pra lá e pra cá no quintal da casa não me atraia em nada. Eu acordava e dormia só pensando como as coisas se enrolaram de tal forma que eu fui parar no meio de uma suspeita da qual eu sabia que não tinha nenhum envolvimento. Este foi um momento muito turbulento da minha vida, e não posso falar tudo o que eu sei sobre o que ocorreu naqueles dias, vários policiais se tornaram inimigos uns dos outros, uns acusavam os outros de várias falcatruas, suspeitas de corrupção, trafico de drogas, forjando provas, acusações anônimas e declaradas, causaram escândalos de tal forma que a imprensa local da época, como jornais, rádios e TVs divulgavam que aquela unidade policial estava sendo alvo de diversas investigações da Corregedoria e da Delegacia Seccional de Santos. A situação chegou a tal ponto que os superiores determinaram o afastamento de todos os policiais daquela unidade devendo todos serem transferidos para outras cidades, a Delegacia deveria trocar suas fechaduras para que nenhum daqueles policiais pudessem entrar na calada da noite e cometerem sabotagens, ou plantar provas uns contra os outros. Minha vida estava de cabeça para baixo no meio daquele tumulto, coisas muito graves mesmo, coisas que não posso falar por muitas razões, entre elas para não [ 13 ]
  • 14. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir ressuscitar antigas rixas já apaziguadas depois de uma década, ainda que muita coisas ficaram sem respostas dos diversos crimes que ocorreram envolvendo vários policiais civis. Estavam envolvidos na confusão delegados de polícia, investigadores, agentes policiais, escrivães de polícia, “gansos”, falsas testemunhas civis, comerciantes inescrupulosos, assassinos, e até vítima de homicídio. Para que vocês possam ter uma ideia, foram abertos cerca de dez procedimentos investigatórios na 6ª Corregedoria Auxiliar de Polícia de Santos. Eu fui ouvido como testemunha em alguns destes procedimentos, mas fui indiciado em dois processos criminais, um por Falsificação de Documento Público e outro por Falsidade Ideológica, além dos respectivos processos administrativos que poderiam culminar com a minha expulsão da policia a bem do serviço público. Neste clima de incertezas, ódios e inimizades entre policiais eu jamais teria cabeça para olhar para um cachorro vira-lata. A sobrinha Jessica que havia ganho aquela cadelinha perguntou para mim que nome eu sugeria para dar àquela cachorrinha. Cheio de raiva e expelindo ódio pelos poros com uma certa Delegada de Polícia que havia registrado uma ocorrência policial contra mim, lavrando um BO e encaminhando a Corregedoria, eu falei para Jessica chame-a de Doutora ....... Jessica sem maldade no coração, uma adolescente de 15 anos, disse que gostou da sugestão e deu o nome da cadela justamente o [ 14 ]
  • 15. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir nome da tal Delegada de Polícia. Eu estava cheio de ódio, por mim queria fazer um grande mal aquela Chefe de Polícia, mas contentava-me em ouvir a Jessica chamando a cadela pelo nome de uma pessoa que eu tinha como inimiga. A pequena cadela que agora respondia pelo nome de Doutora...... materializava meu ódio. Mas em alguns anos eu logo descobriria que ela veio para minha casa com uma missão especial e o ódio materializado iria se transformar em amor. A Doutora era ora um cão comum, ora um anjo incomum. Pessoas insensíveis que nunca tiveram um relacionamento de comunhão íntima com um animal terá grande dificuldade para entender a minha história com a Doutora, pois tem coisas que se conhece e se entende pelo coração e não pela mente racional. 2 – AS LEMBRANÇAS DE REGIANE Somente após a morte da Doutora é que eu fui atrás da origem da Doutora. Minha esposa tinha conhecimento onde poderia encontrar a pessoa que nos doou a cadela, e ela passou a intermediar entre eu e Regiane. Fiquei muito feliz ao saber que a Regiane e seu esposo Júnior também tiveram uma experiência [ 15 ]
  • 16. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir transcendental com a mãe da Doutora, a Chiquita. Há algumas semelhanças na relação do Junior com a Chiquita e comigo e a Doutora. Fiquei deveras contente que a Regiane tinha fotos da infância da Doutora e que enviou-me para fazer parte do acervo deste livro. Regiane gravou alguns áudios respondendo minhas indagações sobre a origem da Doutora e seu passado. A seguir transcrevo estes áudios, com as palavras literais da Regiane: Chiquita (áudio 6 e 7, 9). Eu não sei dizer ao certo de onde veio a Chiquita, mãe da Doutora. Não sei se ela foi abandonada, ou se [ 16 ]
  • 17. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir simplesmente ela se perdeu. Existem muitos cachorros que fogem de suas casas, porque se assustam, muitas vezes pelo barulho de fogos de artifícios e depois não conseguem voltar para os seus lares; assim, muitos cães acabam ficando perdidos na rua; não posso dizer que este foi o caso da Chiquita. Ela apareceu no Pamus lá da Vila São José, em abril de 2005, ela estava muito assustada porque tinha uns meninos batendo nela, minha mãe interviu e passou a dar comida para Chiquita. Vitor, amigo da infância da Doutora Um dia, eu e o Júnior fomos lá na casa de minha mãe, e ela estava colocando comida para Chiquita, nós brincamos com Chiquita, Junior passou a mão na cabeça [ 17 ]
  • 18. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir dela, e depois disso, sempre que Chiquita via a gente, ela vinha na direção do Júnior, e ela passou a seguir a camioneta que o Júnior usava para trabalhar na época, então, toda as vezes que ele passava na Avenida 9 de Abril, em frente a casa de minha mãe, a Chiquita o via do Pamus e sai correndo desesperada, atravessava a pista e saia correndo atrás da camioneta, corria, corria até que cansava. Um dia Júnior chegou muito chateado e preocupado, dizendo que qualquer dia ela iria ser atropelada, porque ela saia correndo na pista, sem noção, atrás do carro. Como nós já morávamos no Parque São Luiz, em uma casa com quintal, eu falei para o Júnior traze-la para casa, pois ela te escolheu e te ama e não pode ver você passar que corre atrás, trás ela para casa. No dia seguinte ele foi até a pista e simplesmente abriu a porta da camioneta e ela entrou. Ela sentou no banco veio para casa. Quando eu cheguei do trabalho, ela estava aqui já interagindo com os outros dois cães. O Titi e o Vitor, Chiquita já estava super adaptada. Uma cachorra super tranquila, parece que nasceu aqui no quintal, uma coisa tocante, emocionante O AMOR QUE ELA TINHA PELO MEU MARIDO. Um dia ela estava na sala e nós estávamos passando a mão nela e ai eu vi a barriga dela se mexer. Então eu disse para o Júnior: “Você viu isso?” e ele respondeu que sim. Ficamos mexendo na barriga dela e mexeu de novo, então eu disse: “Meu Deus esta cachorra está grávida!” Continuei [ 18 ]
  • 19. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir mexendo na barriga dela e comecei a sentir os filhotes. Então decidimos esperar o final da gestação e quando foi no dia 21 de maio de 2005, ela deu a luz a oito filhotinhos. O pai da Doutora (áudio 8). O pai destes filhotes eu realmente não sei quem foi, porque ela já apareceu lá no Pamus da Vila São José, somente depois que adotamos é que percebemos que ela estava grávida. Não sei dizer onde ela engravidou, provavelmente foi na rua, não sei dizer quanto tempo ela ficou na rua. Provavelmente ela não tinha muito tempo que estava na rua, porque ela não estava debilitada, pois quando o cão fica muito tempo na rua ele fica magro, ele fica com o pelo feio, com sarna, ela ainda estava gordinha. Assim, não dá para saber quem foi o pai da ninhada, o importante é que veio oito filhotinhos, um diferente do outro, eram três meninas: A Doutora, a Mille e outra que infelizmente eu não lembro mais o nome, e mais cinco irmãozinhos sapecas. A Doutora e seus irmãos (áudio 1). O que eu lembro da Doutora filhote, cara, foi a melhor época da minha vida. Eu via oito filhotes correndo no meu quintal. Nunca mais vou esquecer-me disso. A Doutora era muito briguenta, e era brava (risos). Ela não gostava muito que os irmãozinhos ficassem pulando nela, mas os outros gostavam de pular uns nos outros, mas a Doutora era meio estressada e era brava com eles. Ela foi [ 19 ]
  • 20. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir uma das primeiras que eu vi latir (imitando o som de cãozinho), isso foi muito engraçado. A carinha dela... ATÉ HOJE QUANDO EU FECHO OS OLHOS, EU VEJO A CARINHA DELA. Filhotinha serelepe. Doações dos irmãos (áudio 2). Em um sábado nós fomos a Praça Princesa Isabel, eu havia feito um cartaz de cartolina onde eu coloquei a inscrição: “Doação de filhotes.” Ficamos lá sentados, com a gaiolinha, ficamos lá na parte da tarde e conseguimos doar dois filhotes e mais dois gatinhos. Quando a Chiquita teve os filhotinhos, na mesma época eu achei dois gatinhos na rua, dois gatinhos pretos, e eu acabei acolhendo, e neste dia eu consegui um lar para estes dois gatinhos. Neste dia eu doei ao total três cãezinhos macho, e em casa ficou a Doutora, a Mille e mais outro machinho. [ 20 ]
  • 21. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Chiquita, mãe da Doutora era apegada ao Júnior, da mesma forma a Doutora se apegou a Valdemir. Os cães parecem que escolhem pessoas para criar uma ligação espiritual. Regiane com Chiquita. Não importa a raça, os cães tem a capacidade de amar sem restrições, sem objeções, sem ressalvas. [ 21 ]
  • 22. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Adoção dos irmãos (áudio 4). O processo de adoção da Doutora foi uma aventura, porque em 2005 não havia ongs protetora de animais aqui em Cubatão e nem conhecíamos pessoas que trabalhassem com a causa animal. Não havia ninguém que nos orientasse de forma dinâmica para tratar de marketing de adoção, então tivemos a ideia de criar um cartaz com fotos, e estes cartazes nós saímos distribuindo; coloquei em lojinhas próximo a casa de minha mãe na Vila São José, pedi para colocar no Pamus (posto médico de bairro), e sai pedindo nos pet shops para colar cartazes, bem como em ponto de ônibus. A internet ainda era algo raro, não havia, facebook, coloquei anúncio pago no jornal Primeira Mão. Quando eu fui à Avenida 9 de Abril, no pet shop Mundo Animal, eles nos cederam uma gaiola grande, bem como o responsável da loja nos deu a ideia de fazer uma feira de doação dos filhotinhos. [ 22 ]
  • 23. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Doações (áudio 5, 12). Nós esperamos eles completarem três meses, esperamos eles largarem o leite, e começarem a comer ração, foi ai que começamos a tirar as fotos e fazer os cartazes e distribuir, e aqui no bairro do casqueiro, no pet shop Pixoxó, na avenida Brasil, o dono nos cedeu gentilmente a frente da loja e nós levamos alguns filhotes, ficamos no período da tarde de um sábado, e ali foi doado uma irmãzinha da Doutora, que foi para a Vila dos Pescadores, e mais outro irmãozinho dela, foi um dia muito difícil da minha vida, eu chorei muito, eu entreguei os cachorrinhos aos prantos. Foi muito difícil mesmo, foram três meses cuidando, nós dávamos mamadeira, porque eram muitos filhotes e a Chiquita não dava conta de amamentar a todos. Meu marido Junior ia ajudando- me a fazer a fila, separando os que já haviam mamado, mesmo assim, alguns entravam na fila de novo e mamavam duas vezes, porque eles eram muito parecidos. Dos últimos três que ficaram aqui em casa, um dos filhotes foi doado para uma pessoa de Praia Grande, ele viu um dos cartazes em um ônibus, pois meu pai era motorista da Viação e eu havia pedido para ele colocar um cartaz no coletivo. Este rapaz levou um macho e ficou somente a Doutora e a Mille. [ 23 ]
  • 24. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Quanta glória dentro de uma caixa!!!!! Única gestação da Chiquita (áudio 3). Este foi o único parto da Chiquita, nós esperamos ela ter os filhotes e depois que ela os amamentou, nós permitimos que ela amamentasse, e eles mamaram nela o quanto quis, e somente depois de três meses, eles já estavam todos gordinhos e já ia começar o processo de adoção, nós começamos a inserir a ração úmida na dieta dos filhotes. Assim nós achamos melhor castrar a Chiquita, pois nós tínhamos mais dois cães machos no quintal e não queríamos correr o risco dela ficar prenha de novo. Esta foi à única gestação da mãe da Doutora. [ 24 ]
  • 25. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir A Jéssica viu o cartaz na Ciça, porque na época eu colei um cartaz lá com as fotos dos filhotes. Eu lembro- me da Jéssica me ligar e nós marcamos um encontro, ela veio aqui em casa e conheceu e se apaixonou pela Doutora e disse que queria a Doutora. A Jéssica pediu para eu não doar a Doutora que ela iria dar um jeito para adotá-la. Demorou um pouco para ela voltar, cerca de um mês, mas deu tudo certo, e acabamos levando a Doutora até a casa do Valdemir e Zenilda com quem, na época a Jéssica morava. Mille (áudio 11). A última foi a Mille, ela passou por duas tentativas de adoção, mas retornou porque não se adaptou com os seus novos donos. A Mille está viva até hoje, esta uma senhorinha. Agora no dia 22 de fevereiro de 2015 morreu a Chiquita, mãe da ninhada, devido a complicações nos rins. Na mesma época a Mille quase morreu, achei que iriamos perde-la, mas ela deu uma reviravolta e conseguiu se recuperar e está aqui conosco. Os outros irmãos da Doutora, eu perdi o contato, infelizmente não sei o que aconteceu com eles. Acredito que todos eles tiveram boas vidas, porque todas as pessoas que cruzaram o nosso caminho eram pessoas de bem, até que provem o contrário, eram pessoas muito boas. A Doutora e suas duas irmãzinhas foram castradas. A Doutora foi castrada com cinco ou seis meses, nós a levamos para castra-la, e também as duas irmãs dela foram castradas. Os irmãos [ 25 ]
  • 26. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir dela não foram castrados, naquela época também era caro. Achamos mais importante castrar as fêmeas. Doação da Doutora (áudio 10). Pequeno Príncipe (áudio 14). O único que recebeu nome e foi doado foi o Pequeno Príncipe, porque na época, a minha sobrinha que hoje está com 18 anos, era uma criança, e esta sobrinha costumava vir em minha casa todos os domingos, ela acordava cedo e vinha cuidar dos filhotes, esse era o passeio dela de domingo, ela esperava a semana inteira para vir aqui, essa era a diversão da minha sobrinha, e este cãozinho pequeno era o xodó dela, ela costumava andar para cima e para baixo com ele no colo. Eu achei melhor não dar nome para nenhum [ 26 ]
  • 27. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir deles, porque quando damos nome, acabamos se apegando. Querendo ou não, foi muito difícil doa-los, e seria muito mais doloroso se eu tivesse dado nome. Quando você dá nome, meio que faz parte da família, e assim acabam entrando na família. Procurava chamar estes cãezinhos de fofinhos, bolinhas, mas nome, nome, não. Eu deixei para que cada dono escolhesse o nome que deveriam dar aos seus cãezinhos. Mesmo assim, foi difícil doa-los, eu chorei muito. Eu acabei ficando muito agradecida a Deus e ao universo, agradeço porque as sete pessoas que apareceram no meu caminho foram pessoas do bem. Eu tenho certeza que assim como a Mille, e a Doutora, os demais também tiveram bons lares. A infância da Doutora (áudio 12). A Doutora e a Mille eram espertas e gostavam de furar a fila para tomar a mamadeira de leite, muitas vezes elas tomavam duas rodadas de leite, eram as mais [ 27 ]
  • 28. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir gulosas. Todos os oito filhotes eram muitos saudáveis. Eles corriam muito no quintal, e aprendiam as coisas com os outros dois cães adultos que viviam no quintal. Era muito engraçado eles latindo e correndo. Certo dia eu e o Júnior saímos para passear e a nossa vizinha nos ligou desesperada dizendo que a Doutora e outros irmãozinhos estavam batendo em um mais fraquinho. Este era chamado de Pequeno Príncipe, acho que foi o último a nascer. Ele era o menorzinho. Os outros batiam nele, faziam dele saco de pancada. O filho da vizinha colocou uma escada no muro, pulou para o meu quintal e jogou água neles para apartar a briga. Foi uma correria na vizinhança. Depois nós rimos muito, porque eles não tinham nem idade para isso. Eles não tinham nem dois meses, foi uma cena muito engraçada, uma pessoa apartando briga de filhotes. [ 28 ]
  • 29. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir ONG (áudio 13). O melhor da experiência com Chiquita e seus filhotes é que isso impulsionou-me a abrir uma ONG para cuidar das tantas “chiquitas” que existem pelas ruas. Essa aventura levou-me a amizades maravilhosas. Com outras pessoas reabrimos uma ONG e organizamos feiras para adoção de animais. Depois acabei afastando-me da ONG por divergências administrativas, mas nunca mais parei de lutar pela causa dos animais, Tenho uma página no facebook e um blog para promover adoção de cães, pago anúncios para patrocinar adoções, e tenho conseguido muitos lares para vários bichos. Luto para que histórias como a da Chiquita tenham um final feliz. 3 - CARINHO NA BARRIGA Boa parte do livro são memórias da cadela Doutora, agora a palavra é dela: Doutora: Como eu, todos os cães e todas as criaturas de Deus gostam de carinho. Eu amava quando o meu dono passava a mão em minha testa, ou na minha pelagem, mas o lugar que mais gosto de sentir sua mão passar era na barriga. Eu sempre ficava esperando o melhor momento para se aproximar e chamar sua [ 29 ]
  • 30. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir atenção, quando eu via que conseguia fisgá-lo eu me virava com a barriga para cima e abria os membros traseiros sugerindo-o que passasse a mão em minha barriga. Muitas vezes eu acho que ele tinha preguiça de se abaixar e por isso passava os pés em minha barriga. Na verdade não importava se ele passava a mão ou o pé, se calçava chinelo, tênis, ou bota. Tudo que eu queria era sentir o contato do meu dono, e se não fosse dele, o carinho humano sempre ia bem. No mundo há muitas pessoas que são tão orgulhosas, que se acham tão superiores que nem olham para nós, ou quando olham nos veem com desprezo. Estas pessoas não valem a pena nós nos aproximarmos, elas reagem com nojo e raiva. Mas mesmo assim, nós [ 30 ]
  • 31. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir cães, somos pacientes e temos capacidade de analisar os humanos que com persistência podem ser conquistados. Com o meu dono foi assim, durante muito tempo ele não ligava para mim, mas eu vim ao mundo para conquista-lo, e isso demandaria tempo. Quando finalmente o conquistei, ele raramente passava por mim sem fazer um carinho na cabeça ou na barriga. Além dele, eu conquistei muitas outras pessoas, pessoas que me amaram de verdade como dona Lourdes, Zenilda, Edson, que morava comigo e com a Leisa debaixo da marquise da Rua Rangel Pestana e Seu Zé, vigia da Solimene,. Não poderia deixar de citar Esther, Ellen, Lívia e Jessica, não tive tanto contato com elas, mas quando tinha, era com amor. Eu percebia pelo jeito delas falarem, pela expressão do rosto. Eu nunca consegui entender todas as palavras que os humanos falavam, mas algumas eu entendia, e sempre procurava associar as palavras aos gestos para não incorrer em erro e fazer algo que os contrariava. A minha amiga Leisa não entendia tão bem como eu, mas eu dizia para ela, faça o que eu faço e você vai se dá bem, de vez em quando ela era teimosa e levava a pior. Com o passar do tempo a Leisa foi aprendendo a conviver com os humanos, sabendo escolher em quem podia se aproximar e quem devia se afastar. A nossa sobrevivência no mundo depende do nosso relacionamento com os humanos, porque desde que a humanidade foi expulsa do paraíso, nossos ancestrais escolheram se arriscar e viver mais próximo [ 31 ]
  • 32. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir dos humanos, prestando pequenos serviços para os mesmos em troca de abrigo e alimento. Muitos da nossa espécie sofreram muito e tiveram até morte violenta pelas mãos maldosas dos humanos, mas assim mesmo esta escolha valeu a pena, porque a maioria dos humanos nos acolheu. Nós, os cães, e os gatos, fizemos a opção em viver com os humanos, dando-lhe carinho e amor, por isso fomos excluídos da cadeia alimentar dos humanos. Estas coisas eu sei não porque eu li em algum livro, não, nós os cães não sabemos ler ou escrever, mas Deus escreveu em nosso DNA, e o nosso instinto nos diz o que temos que fazer, geração após geração. Acho que deve ser interessante o que o meu dono esta escrevendo, eu confio nele, com certeza ele deve está expressando da melhor forma possível as coisas que nós conversávamos. No universo há uma linguagem universal, quem fica sintonizado na mesma frequência consegue falar com todo o universo, até com aquelas criaturas que não estão compreendidas como seres vivos pela Biologia tradicional. Isso mesmo, quando estamos em sintonia com Deus e a sua criação, conseguimos falar uns com os outros, homens, animais, plantas, rios, florestas, ventos, os astros do cosmo etc. 4 - MATANDO CODORNAS E MORDENDO CHINELOS [ 32 ]
  • 33. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Doutora: Eu era ainda uma cachorrinha, e como todos os bebês e crianças de qualquer espécie, temos uma necessidade de brincar e se divertir, ao mesmo tempo em que vamos desenvolvendo os instintos naturais de nossa espécie, que inclui o desejo de caçar para sobreviver. Lá em casa, na Rua Maria Graziela, havia um viveiro com codornas, pequenas aves que costumavam por ovos quase todos os dias. Quando via aquelas aves, eu ficava louca de vontade de captura-las, e como algumas codornas conseguiam sair do viveiro ficando pelo quintal da casa, esta era a minha oportunidade de desenvolver meus dons e habilidades caninas de predadora e caçadora que havia no meu DNA. Quem criava as codornas era o Valdemir, ele é que sempre tinha mania de fazendeiro e queria fazer da casa um sítio. Eu cheguei a casa através da Jessica e da Zenilda, então tinha mais afinidade com elas naqueles dias. Enquanto Valdemir saia para trabalhar, eu resolvia correr atrás das codornas e quando abocanhava uma, as matava. Zenilda quando via aquilo desesperava-se, porque pensava que o Valdemir iria ficar muito irritado e iria querer se livrar de mim. Eu não entendia bem as coisas, afinal era uma criança, e a Zenilda ajudava a esconder as minhas peraltices, se livrando das codornas mortas. Valdemir desconfiava que o número de codornas diminuía, mas Zenilda os convencia que elas fugiam, até que Valdemir flagrou-me com uma codorna na boca, brincando e correndo pelo quintal, eu até corri até ele para mostrar [ 33 ]
  • 34. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir como eu estava me saindo bem como caçadora, mas ele ficou furioso comigo... Em resumo da história das codornas é que, pouco a pouco as codornas foram “fugindo” e aquele viveiro de codornas acabou se tornando minha casinha de cachorro. Doutora: Minha vida seguia maravilhosamente, carinho na cabeça e ração na tigela era tudo de bom. Quando Valdemir chegava do trabalho, a frente de casa era muito ampla e do portão até o interior da casa, era uns quinze metros, dava tempo de sobra para eu morder a bainha da sua calça, pular nas suas pernas, muitas vezes fazendo tropeça-lo. Mas ele sempre estava com uma expressão de preocupação e não dava atenção para mim, e quando dava era tentando deixar-me quieta. Mas eu não ficava muito tempo parada, reconheço que tinha [ 34 ]
  • 35. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir muita energia, corria pra lá e pra cá sem parar. Como as pessoas entravam no interior da casa descalças, elas colocavam os chinelos, sandálias e sapatos do lado de fora, próximo a porta. Ao ver aquilo, eu deliciava-me mastigando todos os calçados que eu via pela frente, aquilo era uma delicia para as minhas gengivas, pois os dentes estavam naquela fase da dentição, além do que, criança que é criança gosta de por tudo o que vê na boca. O que eu não contava é que o Valdemir não ficava nem um pouco feliz quando eu quebrava as tiras dos seus chinelos. Vez ou outra ele me dava um belo chute e rosnava com raiva para mim. Eu que não era besta nem nada, abaixava as orelhas e saia de perto com o rabo entre as pernas, eu sabia que ele não estava gostando de mim... 5 – ENVENENADA Quando Valdemir ia para a área externa da casa, eu fazia a maior festa, saia correndo disparadamente pela área da casa com muita alegria, dando volta no Valdemir, latindo, e fazendo de tudo para chamar sua atenção. Vez ou outra eu sentia que ele ficava balançado. Eu era o calor do sol que derretia o gelo do seu coração, mas havia dias que ele não estava bem e já mostrava uma expressão que não queria que eu me aproximasse, no começo eu tinha dificuldade para entender isso, mas com o passar do tempo fui aprendendo a respeitar seus [ 35 ]
  • 36. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir momentos de irritabilidade. Durante os dez anos que convivemos, Valdemir tinha os momentos que não queria que eu me aproximasse e com o tempo aprendi a perceber isso com as mais leves variações do seu tom de voz, ou dos seus gestos com as mãos, ora chamando-me, ora repelindo-me. Mas nunca, nunca fiquei magoada com ele, pois eu vim a este mundo para ajuda-lo e não seriam seus eventuais ataques de mau-humor que iria me deter. Contudo, teve uma vez que eu quase tive que abortar minha missão de amá-lo, não porque eu fiquei desgostosa com ele, não, não foi isso, é que ele me envenenou... Valdemir aprendeu comigo que o amor vence o ódio, e o jogo começou a virar em nossa relação e em sua vida, quando ele espalhou veneno de rato pela casa, em cima do telhado, no porão da casa e facilitou que eu tivesse acesso ao terrível veneno chamado “chumbinho”. Valdemir colocou alimento como isca para os ratos e em meio ao alimento havia “chumbinho”, eu desconhecia completamente o veneno, que não exalou nenhum odor que pudesse me dar repulsa ao alimento, então comi a isca. Não demorou muito, eu estava me contorcendo no chão de dor, e espumava pela boca. Zenilda veio correndo e ficou gritando desesperada sem saber o que fazer, Valdemir também apareceu na hora e viu-me contorcendo de dor, Zenilda já o culpava por ter colocado o veneno propositalmente em lugares que eu teria acesso. Valdemir queria se livrar de mim porque não [ 36 ]
  • 37. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir gostava de muitas coisas em mim como: matar as codornas, morder e destruir os chinelos, latir tanto enquanto ele queria se concentrar e ficar reflexivo em seus pensamentos e por fim, o meu nome era o nome de alguém que ele odiava. Matar-me era de certa forma se vingar do mal que esta pessoa lhe havia feito. Mas nosso Deus não deixou-me morrer, porque ainda iriamos viver a mais bela história de amor e companheirismo de nossas vidas. O anjo Teocron apareceu para mim e passou sua mão em minha barriga e eu fiquei curada, sem nenhuma sequela. Nos dez anos que se seguiriam, nós três iriamos nos encontrar diversas vezes. Inumeráveis vezes Valdemir se enchia de temor e reverência quando fixava os seus olhos nos meus e via o anjo Teocron. O veneno matou muitas ratazanas no porão, e até muitos pombos e pássaros que comeram o veneno em cima do telhado. Mas eu fui tocada pelo anjo Teocron e nenhum mal sofri. Valdemir passou a entender que eu não era um bicho qualquer, um animalzinho de estimação. Eu era um anjo, UM ANJO DE QUATRO PATAS, um “enviado” de Deus. Como eu, ao longo da história, o nosso Criador enviou milhões de anjos que em conjunto com cães, gatos, ovelhas, bois, cavalos, periquitos, papagaios e animais de inúmeras espécies se aliaram não somente para observar os humanos, mas para ajuda-los. As Pessoas procuram sinais de alienígenas e poderes paranormais observando o espaço [ 37 ]
  • 38. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir sideral e praticando rituais estranhos, e a maioria não percebe que anjos celestiais estão bem perto delas, livrando-as de males, protegendo-as, e confortando-as. O poder e a força de Deus estão muitas vezes perto de você na forma tão singela que as pessoas custam acreditar. Quis Deus que os cães, pela sua natureza imunda, seus hábitos desprezíveis, fossem designados pelo Criador para se aproximar dos humanos e dar-lhes as mais pujantes lições de amor. Meu nome é Doutora, sim, Doutora na arte de amar... 6 – AS GALINHAS DO GALERA [ 38 ]
  • 39. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Doutora: Cheguei a casa do Valdemir em julho de 2005, bem no meio da confusão que o afastou da Delegacia de Policia que trabalhava, sendo o mesmo transferido para Santos, daí que alguns anos depois o meu dono começou a celebrar meu aniversário no dia 15 de julho como uma data simbólica, já que ninguém sabia quando eu realmente nasci. Em fevereiro de 2006 meu dono comprou um pequeno pedaço de terra em Itariri para cuidar de horta, e plantar árvores frutíferas, procurando paz para sua alma conturbada. Nas primeiras vezes ele não me levou, mas não demorou mais do que um mês e ele passou a levar-me no carro. Valdemir ia ao sítio a cada quinze dias onde passava o final de semana. Ia no sábado de manhã e voltava no domingo à noite. O problema é que eu já havia crescido um pouco mais e ainda não tinha apreendido a controlar meus instintos de caça e quando íamos para o terreno do meu dono, ainda não havia uma casa, então o senhor chamado Galera emprestava uma casa para o meu dono, acontece que, quando eu via as galinhas corria atrás delas tentando pega-las, e o meu dono saia correndo atrás de mim para impedir que eu desse o prejuízo de matar as galinhas do Galera, por sorte, aquelas galinhas corriam bastante e saltavam com voos que as livrava das minhas garras, e era o tempo suficiente do meu dono dar-me uma bronca e prender-me na casa, depois íamos de carro até seu terreno que não era longe do sítio do Galera e ai eu ficava a vontade, correndo só atrás dos passarinhos. Não raro [ 39 ]
  • 40. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir eu pegava alguns. Mas ai meu dono não achava ruim. Com o tempo aprendi que não devia pegar as galinhas do Galera. Assim fomos aprendendo a conviver um com o outro. Eu fui aprendendo a respeitar os limites que ele impunha para mim, e eu ganhando sua confiança mais e mais. 7 – LEISA, A GALEGA Em 2006 a Jéssica que havia me introduzido na casa do Valdemir, agora tinha encontrado na Praça da Independência, ali mesmo no bairro, uma cadelinha com poucos dias de vida, ela estava dentro de uma caixa, e a [ 40 ]
  • 41. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Jéssica ficou encantada com aquela cachorrinha de pelagem branca e parda, e com os olhos claros. Jéssica chegou em casa dizendo - olha tia Zenilda que cachorrinha linda, encontrei ali na praça, não é uma fofa? A princípio Zenilda achou que não dava para ficar com mais um cão, pois já havia em casa dois. Eu e o Toby. O Toby é um poodle que não sai de casa, ele até que tem vontade de sair, mas é muito frágil e por isso, vive dentro de casa. Meu dono sempre brincava com o Toby chamando-o de cão de mobília, porque muitas vezes a Zenilda o colocava em cima de uma estante e ele permanecia ali por horas, dormindo, pois essa era a sua especialidade. Leisa foi levado por Jéssica e Zenilda até a casa da Cacilda, ela era irmã da Zenilda, e foi ela quem deu o nome da Leisa. Quando Jéssica chegou a casa da sua tia Caçilda com Leisa nas mãos, Caçilda percebeu que sua sobrinha estava feliz com aquele cãozinho e por isso chamou Jéssica e Zenilda para irem até um Petshop onde Caçilda comprou diversos apetrechos e objetos para Leisa, como: cama, perfume, shampoo, ração, etc. Leisa se tornaria minha inseparável amiga. Vivemos boa parte de nossas vidas, uma perto da outra, distantes por dois ou três metros. Amei demais a Leisa, mas sempre foi ciumenta ao extremo. No começo até eu me aborrecia com a Leisa, só queria ficar lambendo todo mundo, principalmente a mim. Era uma [ 41 ]
  • 42. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir criatura muito carente, queria que déssemos atenção a ela de qualquer maneira. Fazia uma cara de coitada que dava pena. Mas era sua arma de atrair a atenção dos outros. Leisa foi crescendo e aprendendo comigo, aquilo que podia e não podia fazer. Chinelos não, entrar em casa não. Avisar quando chegar gente em casa sim, pular nas pernas do Valdemir e Zenilda não, não, não não... Não adiantou muito, Leisa sempre afoita e querendo chamar a atenção, se não fosse logo repreendida, de imediato pulava nas pernas dos donos e sujava a roupa com as marcas das suas patas. Quantas vezes Leisa foi chamada de imbecil e burra... não foi por falta de aviso... Posso dizer que criei Leisa como uma filha, apesar da pouca diferença de idade entre nós. Eu logo fui castrada quando alcancei a idade de seis meses de vida, e na sequencia Leisa também foi castrada. Nunca tivemos filhos. Isso não foi problema para Leisa, ela nunca teve mesmo um instinto materno. Quanto a mim, eu sentia um desejo de ter filhotes, mais eu conto isto em outro capítulo. A propósito, o nome Leisa foi dado por Caçilda, mas não vou contar o porquê deste nome. Quando Jéssica contou sobre o nome da nova cachorrinha, Valdemir disse, pois bem a dupla agora está formada, se uma é a Doutora, a outra é uma escrivã. Frequentemente Valdemir brincava dizendo: “Olha ai minha Delegacia, se a Doutora é uma Delegada, a Leisa é uma escrivã, kkkkk.” Quando fomos morar na casa da dona Lourdes, a mãe do Valdemir, ela se confundia com os nomes e resolveu nos [ 42 ]
  • 43. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir chamar por apelidos. Eu era a “Baixinha” e a Leisa era “Galega”. Galego quer dizer “loiro”, gente do reino da Galícia. Os nordestinos dos sertões costumam chamar assim os loiros. Como a família do Valdemir é do agreste nordestino, ele e sua mãe tinham linguagens peculiares daquela região. Minha vida sempre foi muito simples, afinal eu sou uma cadela vira-lata, durmo em qualquer lugar, como em qualquer lugar. Sou dotada de resistência acima da média das outras raças de cães. Leuzinha também é uma vira- lata, mas o porte dela é diferente do meu. Eu sou baixinha e de pelagem parda, com as pernas curtas e o corpo roliço. Leisa tem pernas longas, focinho cumprido, pelagem de duas cores, olhos claros e esbelta. [ 43 ]
  • 44. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 8 – LATIDOS À NOITE Os seres humanos são os mais inteligentes e mais poderosos seres que Deus colocou na Terra, mas devem se lembrar de que o Criador os colocou para reinar sobre nós e não para tiranizar as demais criaturas da Terra. Assim é que, os homens naturalmente conversam em suas linguagens uns com os outros, como são mais sofisticados, falam muitas palavras e muitas línguas e linguagens. Nós, criaturas inferiores, admiramos muito os humanos, todos os seres da Terra reconhecem sua soberania, ainda que no caos do mundo, haja conflito entre os humanos e os demais animais. Acontece que mesmo com capacidade mais limitada, nós, os cães, conversamos entre nós, e durante a noite, com os níveis de ruído baixo, podemos conversar com os demais cães que estão mais distantes, muitas vezes a muitos quilômetros de distância. [ 44 ]
  • 45. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Ao longo da vida, muitos vizinhos do meu dono resmungavam se sentindo incomodado comigo e com a Leisa porque latíamos à noite, nem todas as noites a comunicação era frequente, mais tinha noite que nos divertíamos uns cães com os outros, também discutíamos uns com os outros, a distância podíamos dizer uns desaforos para os valentões, kkkkk. Eu não posso negar que muitas vezes eu dizia: “mordam seus próprios rabos”, kkkkk. Nós, os cães, temos mais senso de humor do que vocês possam imaginar. Quando meu dono mudou para a Avenida das Américas, eu e a Leisa ficamos próximas de outros cães que não ouvíamos no antigo endereço, assim, logo que mudamos começamos a dialogar bastante a noite, porque de dia, o barulho da cidade e dos carros, diminui a distancia de captarmos pela audição os demais cães. Isso gerou mais problemas para nossa convivência. Além do que, no antigo endereço tínhamos um imenso quintal para corrermos, e agora, só tínhamos uma área de serviço apertada, que nem mesmo pegava luz solar. Por causa da falta de espaço e dos latidos noturnos bem na janela do vizinho, nosso dono e a Zenilda achou por bem nos transferir para a casa da sua mãe, na Rua Rangel Pestana, em Santos. A rua era muito movimentada, Deus me livre, quanto barulho... A vantagem é que tinha mais espaço para vivermos, e todo dia dona Lourdes abria o [ 45 ]
  • 46. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir portão para corrermos. Eu e a Leisa disparávamos pela calçada. Cansamos de ver pedestres desavisados que não moravam na vizinhança e que não nos conhecia tomarem o maior susto ao ver nós duas correndo em alta velocidade. Mas nós nunca atravessávamos a rua, porque o risco de atropelamento era muito grande. Nesta casa da Rua Rangel Pestana havia um vizinho médico, que era aquele cara “conhecedor dos seus direitos”, era muito educado, mas dizia tudo o que pensava, e não tinha receio de se tornar desagradável. Ele algumas vezes veio reclamar de nós para dona Lourdes e para Valdemir, dizendo que nós éramos cães adultos e que dificilmente iriamos nos acostumar com o novo endereço, e que iriamos latir sempre durante a noite. Bem, ele errou, nós diminuímos os latidos à noite, e depois que ele mudou-se, nunca mais tivemos problemas por causa dos nossos latidos noturnos. 9 – GRAVIDEZ PSICOLÓGICA Eu sempre tive problemas psicológicos com gravidez imaginária. Interessante que a Leisa também era castrada, mas nunca teve gravidez psicológica. De tempo em tempo eu me sentia estranha e certos objetos eram para mim, meus filhotes. Era uma coisa muito louca, pois eu nunca cruzei com outro cão, porque fui castrada muito cedo, mesmo assim durante minha vida, várias vezes eu ficava fixada por alguns objetos e passava a considera-lo [ 46 ]
  • 47. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir meu filhote. Isso causava-me sofrimento, porque muitas vezes eu pegava uma sandália, ou outros objetos que eram utilizados pelas pessoas e elas acabavam tomando- as de mim. Meu dono Valdemir cansou de pegar seus chinelos de mim a qual eu abraçava e dormia com eles debaixo do meu corpo, quando ele tentava pegar eu rosnava pedindo que se afastasse, eu nunca tive coragem de agredi-lo, apenas rosnava. Como ele confiava em mim, não temia em tomar seus chinelos de volta. Eu ficava frustrada com estes incidentes, mas Valdemir achava graça e outras vezes dava-me carinho tentando compensar o fato dele ter que pegar de volta seus chinelos, tênis, botas. Muitas vezes eu ganhava bichos de pelúcia e outros brinquedos para substituir os calçados alheios. [ 47 ]
  • 48. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 10 – CORRENDO PELAS RUAS DE SANTOS Quando meu dono me levou para morar em Santos, na casa da dona Lourdes, eu e Leisa pensamos que ele havia nos levado ali para fazer uma visita, mas na verdade, nosso destino estava tomando um novo rumo, após nos entregar a sua mãe, Valdemir nos apresentou a nova residência, mas nós não entendemos o que ele dizia, por isso quando Valdemir entrou no carro, um Kadett, e nós ficamos do lado de fora da casa com dona Lourdes o observando, achávamos que era uma brincadeira, e quando o trânsito da rua diminuiu, eu saí correndo com a Leisa a toda velocidade, quando Valdemir olhou pelo retrovisor para trás, nos viu acompanhando o carro, e o pior, já havia dezenas de carros vindo atrás de nós, o fluxo de veículo e falta de acostamento, fez com que Valdemir decidisse aumentar a velocidade, fazendo com que desistíssemos de segui-lo. Como o Kadett se perdia no horizonte, e Valdemir seguiu a toda velocidade em direção ao túnel do centro da cidade, eu e a Leisa desistimos de correr atrás do carro, enquanto ainda podíamos retornar à casa de dona Lourdes. A sorte é que estamos ainda perto da casa, tínhamos virado a esquina da Avenida Valdemar Leão, mas vimos dona Lourdes no portão, perdida sem saber o que fazer. Tivemos que atravessar com cuidado para o [ 48 ]
  • 49. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir outro lado da rua e tivemos que contar com a colaboração de alguns motoristas que entenderam que estávamos perdidas querendo atravessar o outro lado da rua. Dona Lourdes nos chamou e entramos na nossa nova casa, e Lourdes fechou o portão. Dona Lourdes sempre falava com a gente como se estivesse falando com pessoas humanas, e ela disse: “Vocês estão loucas correndo por ai, seu pai já foi!” Não demorou muito tempo, Valdemir retornou de carro para saber se eu e a Leisa tínhamos conseguido voltar para casa, pois devido o fluxo de veículos ele não teve como parar o carro, por isso seguiu a avenida e retornou para ver o que tinha acontecido. Quando o vimos ficamos contentes, mas já sabíamos que agora iriamos morar com dona Lourdes, e desta vez eles tomaram a precaução de fechar o portão antes do Valdemir sair com o carro da frente da casa. Com o tempo, nós nos acostumamos em morar ali, e quando Valdemir ia nos visitar, ele se despedia de nós ali mesmo da calçada, com eu e a Leisa soltas, pois, já tínhamos consciência que não devíamos segui-lo. Eu ficava muito contente em vê-lo. Quando escutava o barulho do Kadett, da camioneta ou da moto dele, eu já corria ao portão e latia com todas as forças e com toda a alegria do mundo, era tão emocionante. Todos os que viam minhas declarações de amor por ele ficavam impressionados, porque não importava quantas vezes ele aparecia, mesmo que passasse por lá duas ou três vezes no mesmo dia, a festa e euforia que eu fazia era de [ 49 ]
  • 50. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir estremecer a vizinhança. Esta é uma das maiores lembranças que levamos desta vida. Valdemir me dizia centenas de vezes com o seu olhar que aquilo era a maior manifestação de amor que alguém podia demonstra por ele. A alegria de rever um amigo, a maneira como se demonstra alegria em rever a pessoa, este é um dos maiores atributos dos cães, e quem sabe uma das coisas mais bela deste mundo. Eu agradeço a Deus por ter sido criada para amar, amei muitas pessoas, da família do Valdemir, aos transeuntes de bom coração que passavam e faziam um carinho na minha cabeça, isso aconteceu muito na Rua Rangel Pestana. Mas eu amei demais o morador de rua, Edson, e o meu dono Valdemir. A história do Édson eu conto em outro capítulo. 11 – ESPERANDO A BEIRA DO CAMINHO Não sei bem em que ano foi, se foi em 2007 ou 2008, mas os fatos ocorreram assim: A cada 15 dias meu dono ia de Cubatão para o sítio em Itariri passar o final de semana, tinha vezes que ia na sexta a noite e tinha vezes que ia no sábado de manhã cedo, mas sempre voltávamos aos domingo a noite. As viagens ao sítio contavam sempre com o meu dono Valdemir e comigo, eventualmente a Zenilda ia, outras vezes dona Lourdes também ia. Mas Esther e Ellen, filhas de Valdemir, eram figuras constantes nestas viagens ao sítio. Entre 2005 a [ 50 ]
  • 51. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 2008 o sítio não tinha energia elétrica, e as noites eram iluminadas com velas, candeeiros ou lampião de gás, dentro de casa, porque do lado de fora, somente a lua e as estrelas clareavam o céu. Meu dono gostava do clima e das condições rústicas, aquilo fazia lembrar a sua infância na fazenda do seu avô José Tavares da Mota. Durante os primeiro anos de viagem ao sítio nós íamos no GM/Kadett. Em uma destas viagens o carro deu uma pane elétrica e não funcionou, era domingo a tarde, faltando duas horas para escurecer. Naquele fim de semana só havia ido ao sítio eu, Valdemir e a Esther, não sei porque a Ellen não foi, pois as duas meninas quase sempre estavam juntas. Meu dono ao ver que o carro não funcionava procurou ajuda com outros sitiantes da redondeza, tendo falado com Zelão e Zelão indicou o Aloisio que morava em Praia Grande e que naquele instante estaria indo embora do sítio. Aloísio foi até o Kadett e viu que o mesmo estava com um problema que só um eletricista de autos poderia consertar e ofereceu ao meu dono uma carona até a cidade de Itariri onde o mesmo poderia pegar um ônibus para voltar a Santos. Meu dono tinha que trabalhar no dia seguinte e não tinha muito tempo para pensar, então ele fechou a porta da casinha do sítio e como eu não podia viajar no ônibus intermunicipal de Itariri até Santos, ele pegou no meu focinho com as duas mãos, se abaixou, e disse-me para não sair de perto da casa e do carro e que [ 51 ]
  • 52. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir não tentasse segui-lo, que eu o esperasse que em dois dias ele voltaria para me pegar. Mas quando ele entrou no carro, eu ainda tentei segui-lo, mas logo desisti, e voltei até a casa, fiquei esperando a noite toda na área da casa, de manhã fui até o carro e fiquei um tempo por lá, depois voltei para a casa, e assim fiquei indo e voltando o tempo todo na segunda-feira, e nada do meu dono aparecer, em algumas folhas de bananeira caída eu encontrava água para beber, e para comer eu lambia uma substancia viscosa que havia nas bananeiras mortas no solo do sítio. Nós, os cães, não temos compromissos e nem relógios como os humanos, então, somos mais pacientes quando as condições exigem que apenas fiquemos aguardando. Passou-se a noite da segunda-feira e chegou a luz do dia na terça-feira. Na tarde da terça-feira resolvi deitar-me na estrada, entre a casa e o carro, um distava do outro cerca de cento e cinquenta metros. Quando o sol estava perto de se pôr, escutei um barulho de carro, e fiquei apreensiva esperando ver quem viria. Eu não reconheci o barulho daquele carro, por isso fiquei deitada na beira do caminho. De repente veio o meu dono e a Zenilda gritando meu nome: Doutora, Doutora, Doutora. Valdemir dizia: “O resgate do soldado Ryan” e me abraçava. Valdemir veio ao sítio com um eletricista de autos que em meia hora resolveu o problema do carro. Em seguida voltei no Kadett com o meu dono e a Zenilda, e o eletricista voltou no carro dele. [ 52 ]
  • 53. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Eu fiquei tão contente de vê-los, e vi que eles ficaram muito feliz em me ver, estavam mais preocupados comigo do que com o carro. Isso deixou-me muito feliz, porque percebi que para Valdemir eu já tinha mais valor do que bens materiais. Mais tarde Valdemir contou para mim que no domingo que ele foi embora, quando ele chegou na rodoviária em Santos e a Zenilda foi pega-lo, eles até brigaram, porque a Zenilda o repreendeu por Valdemir ter me abandonado no sítio, e ele retrucou dizendo que não havia o que fazer, porque precisava voltar para trabalhar no dia seguinte, e não poderia me levar dentro do ônibus, porque é proibido transportar animais. Aquele nosso encontro na beira do caminho foi muito emocionante, porque ele viu que eu esperava por ele ansiosa e eu também percebi que a alegria dele não era em ver o carro, mas se encontrar comigo. [ 53 ]
  • 54. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Incontáveis vezes viajei para Itariri no Kadett. Quantas vezes eu ia no porta-mala do carro! Se a nossa história virasse um filme, a trilha sonora deste trecho seria de Roberto Carlos, SENTADO À BEIRA DO CAMINHO: Eu não posso mais ficar aqui a esperar Que um dia de repente você volte para mim Vejo caminhões e carros apressados a passar por mim Estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim. Preciso acabar logo com isso Preciso lembrar que eu existo Que eu existo, que eu existo Meu olhar se perde na poeira desta estrada triste Onde a tristeza e a saudade de você ainda existe E esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança De ao menos ver de perto seu olhar que eu guardo na lembrança Preciso acabar logo com isso [ 54 ]
  • 55. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Preciso lembrar que eu existo Que eu existo, que eu existo Vem a chuva molha o meu rosto e então eu choro tanto Minhas lágrimas e os pingos dessa chuva se confundem com meu pranto Olho pra mim mesmo, me procuro e não encontro nada Sou um pobre resto de esperança à beira de uma estrada Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo se confunde em minha mente Minha sombra me acompanha e vê que eu estou morrendo lentamente Só você não vê que eu não posso mais ficar aqui sozinho Esperando a vida inteira por você sentado à beira do caminho 12 - SOL E CHUVA AO LADO DO DONO Durante a minha vida vivi em quatro cidades, Cubatão, Santos, Praia Grande e por fim em Itariri. Sem dúvida era de Itariri que eu mais gostava, primeiro porque lá eu ficava mais tempo com o meu dono, tinha vezes que passávamos a semana inteira sozinhos, quando ele ficava [ 55 ]
  • 56. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir de férias do seu trabalho, ele ia direto para o sítio, e a primeira pessoa que estava disposta para ficar com ele era eu. Outras pessoas também iam regularmente para o sítio como a Esther e a Ellen, dona Lourdes, Zenilda e o Valmiral, sem conta com a Leisa, é claro. Mas eu era sua principal companhia ao longo de uma década, por isso ele disse-me que faria um livro para registrar nossas memórias. Eu sei com certeza o quanto ele gostava de mim, como se eu fosse um membro da família dele. Eu sentia que eu não era somente um bicho que havia na casa, como foi no começo, posteriormente eu me tornei seu animal de estimação. Mas agora, eu era o SEU ANJO. Fui sua companheira no sítio por nove anos. Ia a sua frente para protegê-lo de todo perigo. Se houvesse uma armadilha ou uma cobra, eu morreria por você amigo! [ 56 ]
  • 57. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Quando Valdemir ia para o sítio, ele nunca ficou um dia sequer deitado, ou descansando na casa, ele era viciado pela terra, ele tinha que estar trabalhando com a enxada, com o facão, com a cavadeira, ou com qualquer outra ferramenta, plantando, limpando o mato, colhendo, construindo ou consertando e eu invariavelmente estava sempre próxima dele. Quando ele entrava na mata ou trabalhava em alguma parte do sítio, eu escolhia um ponto em que pudesse ficar observando-o, geralmente a uns 10 a 20 metros de distância dele e ali ficava deitada, se estava quente eu ficava com a língua de fora, mas sempre procurava ficar debaixo de um pé de bananeira no ponto em que fazia sombra. Pomba Burquesa. [ 57 ]
  • 58. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Até cobra Valdemir criou. Coelho do sítio. [ 58 ]
  • 59. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Donald e Margarida. Porquinho da Índia nascido naquele dia. Quando meu dono parava um pouco para descansar, eu me levantava e se aproximava dele, e [ 59 ]
  • 60. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir então ele bebia água em uma garrafa pet e se sentava, era nesta hora que eu me aproximava e começa a se roçar nele, e era batata, ele passava a mão nos meus pelos, fazia carinho na minha barriga e muitas e muitas vezes me colocava no seu colo e ficava falando palavras carinhosas para mim. Lógico que estando a Leisa junto, ela morria de ciúmes e inconvenientemente metia as patas em nós e exigia ser acariciada. Valdemir logo tinha que desocupar uma das mãos para acariciar a Leisa, caso contrário ela não nos deixava em paz. Leisa era tão ciumenta que ficava com raiva de mim se ela percebesse que eu estava recebendo mais carinho do que ela, então Valdemir também colocava Leisa no colo para ela não se sentir desprezada. A amplitude térmica no sítio variava de 8 no inverno rigoroso a 40 graus no ápice do verão, mas eu nunca deixei meu dono andar pelas montanhas sozinho, com exceção quando as meninas, Zenilda ou dona Lourdes estivessem em casa, nestas condições eu e a Leisa alternávamos em ora esta com Valdemir, ora com as visitas que estavam na casa. Estar no sítio para Valdemir, não era ficar na pequena piscina de cimento, ou descansando na rede ou sofá, sitio para ele era cuidar da terra e dos outros animais do sítio. [ 60 ]
  • 61. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir O sítio sempre tinha outros animais de criação como galinhas, patos, coelhos, porquinhos da Índia, jabutis, peixes, pássaros e meu dono ia em cada cercado levar comida para estes animais, e eu sempre estava perto dele. Muitas vezes chovia muito e meu dono não voltava para casa, continuava trabalhando, e eu ficava encharcada de tanta água, mas não arredava o pé de perto dele. Fazia poça d´água em volta de mim, mas eu não ia embora, mas confesso que era bem desconfortável. Eu só não aguentava quando caia raio. Deus me livre! mas o estrondo dos trovões é extremamente perturbador para nossa espécie, e aí, eu se mandava correndo para casa, ou corria para perto do Valdemir, querendo dizer, agora chega! vamos embora! [ 61 ]
  • 62. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir porque qualquer hora um raio deste vai cair em você, e Valdemir, muito teimoso, muitas vezes ficava trabalhando no mato em meio a chuvas e raios, mesmo dona Lourdes e Zenilda reclamando, ele não dava atenção, até que um raio o atingiu, mas esta história eu conto em outro capítulo. 13 – NÃO MEXA COMIGO A força mais poderosa do mundo é o amor, é inútil tentar impedir de uma mãe defender seu filho, se ela vê-lo em perigo. Quando uma pessoa ama, ela não ataca a pessoa amada, mas ela está disposta a morrer pela pessoa amada. Não mexa nos pintinhos com a mãe por perto. Eu mesmo já fui atacada por galinhas só porque fui cheirar seus pintinhos. Eu juro que não tinha outra intenção.... Mas o meu dono também gostava de mim como uma galinha cuida dos seus pintinhos. Uma vez, eu ainda morava na Av. das Américas, quando uns meninos quando iam para a escola e me via no portão começavam a latir para me irritar e ficavam mexendo e balançando o portão, eu revidava com latidos mostrando que não tinha medo dele. Mas um dia um destes moleques se deu mal, meu dono estava lavando o carro do lado de fora e estava abaixado limpando o carro, quando o irritante menino passou e ficou latindo e balançando o portão para me irritar, meu dono quando viu aquilo, perdeu a cabeça, e [ 62 ]
  • 63. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir destemperado como sempre veio correndo sorrateiramente como um felino e quando chegou perto deu um tapão violento nas costas do menino, que eu pensei que os pulmões do coitado haviam estourados. O pivete saiu agachado sem respirar direito, e com as mãos nas costas, virou para trás com os olhos esbugalhados, não sei se de medo ou da força do coice que meu dono deu nas suas costas. Valdemir ainda vociferou coisas horríveis. Só sei que o menino nunca mais passou por aquela rua, não sei se abandonou a escola, ou se mudou seu percurso para ir a escola. 14 – A GATA PAMELA Pense em uma gata chata, metida, mal encarada, mal humorada, exibida e outras coisas mais. Meu dono que me desculpe, porque Valdemir também gostava demais da Pamela, mas eu não gostava dela e pronto! Não é que eu tinha ciúmes, mas ela se achava a dona do pedaço só porque ficava dentro de casa e dormia na cama com Valdemir. Mas Pamela se lascava quando a Zenilda ia para o sítio, porque Zenilda que era minha amigona não tolerava a Pamela, problemas de natureza do tipo: cachorros não gostam de gatos, gatos não gostam de ratos, Zenilda não gosta de gatos. Cachorros e Zenilda se pudéssemos colocávamos os gatos para correr até chegarem ao polo norte.... [ 63 ]
  • 64. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Pamella dormindo na cama. Por causa desta descarada muitas vezes tomei bronca do Valdemir, era comum Valdemir sentar no sofá do lado de fora da casa, e a bandida da Pamela se deitar no encosto do sofá perto da cabeça do meu amor e a mim só restava ficar deitada nos pés dele. Quando Valdemir estava perto a bicha ficava toda confiante, andava pelo chão, passava perto de mim e da Leisa e ainda empinava o rabo e o passava no nosso nariz. Em volta da área da casa eu e a Leisa não atacava a Pamela, mas se ela fosse pra o mato e o Valdemir não estivesse perto... Nós disparávamos a toda velocidade contra a Pamela, e rosnávamos com toda agressividade, a bruxa ficava apavorada e corria como um raio até a árvore mais próxima. Depois eu e a Leisa ficávamos nos deliciando [ 64 ]
  • 65. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir embaixo, falando para Pamela descer, e a bicha nojenta ficava em pé no cacho de banana. Kkkkkk. Tinha vezes que eu e a Leisa até nos deitávamos debaixo da bananeira só para dar uma canseira na Pamela. É lógico que estas malvadezas que eu e a Leisa cometíamos era vez ou outra flagrada pelo Querido que ficava furioso conosco. Imaginem a cena, a gata correndo naquele sitio maravilho e nós duas correndo como torpedos, levantando poeira, fala sério, eu e Leisa nos sentíamos leoas caçando filhote de veado nas savanas africanas. Mas a Pamela era folgava quando Valdemir estava perto, tinha vezes que nosso dono ia trabalhar perto da casa e a bicha ia conosco acompanhando Valdemir. Lógico que ela não se deitava conosco, ficava uns 10 metros de distancia de nós, também vendo Valdemir trabalhar. Ele fazia um carinho em nós e depois ia até a Fulana e fazia carinho nela. Lógico que a “Grã-fina” não acompanhava Valdemir nos dias que chovia pelo sítio, imagina se ela poderia desfilar com o penteado desmanchado pela chuva... Não tenho nada contra quem gosta de gatos, mas vou falar uma verdade, se nós os vira-latas não tivemos um cheiro forte e fossemos menores, os gatos seriam extintos... Porque as pessoas prefeririam ter somente cães, em vez de gatos! Pelo amor de Deus, não estou aqui para falar de nenhuma espécie criada por Deus, mas os cães são as criaturas mais fiéis que há neste planeta, quem quer ser animal de estimação de bêbados, mendigos e [ 65 ]
  • 66. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir bandidos? – Nós, os cães. Os gatos são preguiçosos, só saem da cama quando estão com fome! Durante um tempo, havia no sítio dois gatos: o Getúlio e o Juscelino, eles eram mais legais, nós nunca os colocamos para correr, isso é uma prova que não somos tão inimigos dos gatos. Os dois chegavam mesmo a nos beijar cheirando nossos focinhos. Eles eram tão tranquilos que não tinham medo de disputar, comigo e com a Leisa, pedaços de carne arremessado pelo Valdemir. Os dois gatos não eram castrados e de tempo em tempo eles sumiam e só apareciam depois de semanas. Primeiro sumiu o Juscelino que era todo branco, e um ano depois sumiu o Getúlio que era de cor cinza. Acredito que eles tenham morrido por serem atacados por cobras. O sítio fica na cordilheira da Serra [ 66 ]
  • 67. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir do Mar a 382 metros de altitude, em área de floresta repleta de cobras. Eu e a Leisa sempre tivemos cuidado com elas, evitando se arriscar e se aproximar demais das cobras. Mas o Getúlio e o Juscelino eram corajosos demais, várias vezes vimos os dois brincando com as cobras, irritando-as e quando elas davam o bote, eles pulavam de lado, para trás, fazendo acrobacias. Na mata era difícil outra espécie fazer frente aos gatos. 15 – SOLEIRA DA CASA Eu amo ficar na soleira da casa. Uma das minhas funções é ser guarda da família e por isso está na minha natureza ficar em um ponto estratégico da casa. Quase [ 67 ]
  • 68. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir todos os meus parentes caninos agem assim. Porque Deus escreveu no nosso DNA estas informações. Eu cumpro com muito gosto minha missão. 16 - TOBY [ 68 ]
  • 69. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Este é o Toby, ou como meu dono costuma chamar: “Antônio Tobias”. Toby é um poodle com mais de uma década de vida. Infelizmente ele é um cão criado dentro de casa, frágil, não pode correr no mato, subindo e descendo as montanhas como eu e Leisa fazemos. Toby não anda na terra, não come a mesma ração que eu e a Leisa. Ele sempre toma banho em petshop. Eu nunca tomei banho em petshop. Meu dono Valdemir e dona Lourdes me davam banho de balde com água fria. Nunca tive inveja da vida do Toby, cada um deve viver de acordo com sua natureza e não querendo ter a vida do outro. 17 – CAÇADA AO LAGARTO Meu querido pai, lembra desta foto sua com o lagarto? Não é um jacaré, é um lagarto mesmo! Eu e a Leisa estávamos na área da casa do sítio, enquanto você, Dona Lourdes e as meninas Esther e Ellen estavam se preparando para almoçar. Era um dia lindo, céu azul. Quando repentinamente Leisa com o seu focinho comprido e de faro aguçado detectou odores de lagarto no galinheiro. Ela desceu caminhando paralelamente a cerca do galinheiro até que o cheiro foi ficando mais forte e então ela visualizou o lagarto se preparando para comer mais alguns ovos do galinheiro. Leisa deu o alarme latindo alto e cercando o lagarto, não o deixando fugir. Eu estava na área da casa e também lati te chamando para ver o que Leisa tinha encontrado. O latido da Leisa era [ 69 ]
  • 70. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir muito intenso, confesso que fiquei com medo e esperei você descer. Você já desceu em direção a Leisa com uma arma de fogo na mão e eu desci atrás, foi quando tomamos o maior susto com aquele lagarto enorme. Você disparou contra o ladrão de ovos. Aí quem correu fui eu e a Leisa, porque nós não suportamos barulhos de arma de fogo ou fogos de artifícios. Você chegou à porta da casa com o lagarto na mão, e as meninas fotografaram o lagarto. O Arnou tratou do lagarto e dona Lourdes cozinhou o bicho. Até eu comi lagarto e roí os ossos. Mas não critiquem o meu pai, amigos ecologistas, ele nunca caçou animais silvestres, não [ 70 ]
  • 71. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir permite e nem gosta quem mata animais selvagens. Nestes dez anos só matou este lagarto. E posso dizer com certeza que estes lagartos não estão nem um pouco em risco de extinção. Nos meses quentes quase todo dia vemos um passando de lá para cá. Aliás, lá no sítio tem de tudo. Cobras, muitas cobras, de todo tipo e tamanho, cervos, cotias, esquilos, raposas, cachorros do mato, raposas, tatus, aves multicoloridas. Obrigado Deus por meus olhos contemplarem tanta glória! 18 – MINHA EDUCAÇÃO Quando deixei de ser menina e me tornei uma cadela adulta, já havia modelado toda minha conduta, nos melhores padrões que os humanos esperam de um cão. Não precisei de adestrador, nem meu dono teve grande esforço para me fazer compreender as regras de convivência em uma família de humanos. Cães, gatos e qualquer outro animal de estimação que não se esforça para aprender as regras de uma casa, corre o risco de ser abandonado. Este é um perigo que deve ser considerado por todos os animais que querem viver no meio dos humanos. Lugar de fazer suas necessidades fisiológicas é o primeiro problema que precisa ser solucionado. Nenhum humano gosta de caminhar pela casa e de repente sentir [ 71 ]
  • 72. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir os seus pés molhados por xixi, ou pior, pisando no cocô. Então, se tiver uma caixa de areia, ótimo este é o lugar, se não tiver, procure um canto longe da casa, se tiver uma área de terra bem, caso contrário, faça as necessidades o mais distante da casa. Outra coisa que os humanos odeiam, são os animais inoportunos que ao verem o dono comendo latem, pulam nas pernas das pessoas, fazem um drama, que deixam as pessoas irritadas, não as deixando comer sossegadas. Tem cães que precisam ser presos em cômodos para pararem de incomodar os donos quando comem. Sem querer falar mal dos gatos... tem um monte assim... Eu e a Leisa jamais latimos na hora do almoço. Mas o Toby... é de dar vergonha... Zenilda não deu educação para aquele poodle, mas já não tem mais jeito, está muito velho, como diz meu dono: Toby é o Ramsés II de tão velho... Outra coisa que se eu pudesse dava aula de etiqueta para os cães: Pelo amor de Deus vira-latas, se enxerguem, não fiquem entrando e saindo da casa, somente entre se forem convidados. Animais ladrões, isso é o cúmulo! Não podem ver uma carne na mesa ou na pia da cozinha que pulam, agarram a carne e saem correndo para comer, achando que as pessoas não desconfiarão de você. Gato ladrão abre panela de pressão e mixa cadeado. Cães ladrões abrem geladeira que não deixam nem as digitais. Misericórdia!!! [ 72 ]
  • 73. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Lamber as pessoas - é verdade que lamber é uma das maiores expressões de carinho que um cão e um gato podem dar. Mas façam isso com seus filhotes, ou uns com os outros. A maioria dos humanos sente repugnância com esta demonstração de afetividade. Eu mesmo quando queria que alguém me fizesse carinho, apenas empurrava sua mão com o focinho. Cansei de ver a Leisa tomar tapa na cabeça do meu dono Valdemir porque ele não gosta de lambida. Esta “loira” da Leisa vai morrer e não vai aprender... Por isso que ela tem a fama de chata e ainda acha que os outros é que implicam com ela. Veja nesta minha foto abaixo. Cães se deitam no chão e não na cama ou no sofá... Gatos são diferentes, também alguns cães são criados dentro de casa com tratamento vip, mas são cães de pequeno porte ou que não tem contato com a terra, cães urbanos. Nós, cães mais rústicos e criados em sítios não podemos subir nas camas e sofás, sujando os móveis e assentos. Mas eu também tenho meus vícios, aliás, eu e Leisa. No sítio têm alguns sofás que ficam na área de fora da casa, mas Valdemir não queria que nós dormíssemos nos sofás. Então tínhamos um truque: Durante o dia e até certa hora da noite, nós dormimos em cobertas no chão da área, até que percebemos que não tem mais barulho na casa e ai, nós buscávamos dormir mais confortavelmente e cada uma ia para um sofá deitar. Só que já fomos flagradas [ 73 ]
  • 74. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir dezenas de vezes, porque Valdemir acorda de madrugada para ir ao banheiro e aproveita para sair e contemplar o céu e quando percebemos, ele já está em cima de nós dando uma bronca. Confesso que este é um vício nosso. Para nos corrigir, o Pai coloca cadeiras deitadas em cima dos sofás... 19 – EDSON, MORADOR DE RUA Meu querido dono Valdemir, sou grata a Deus pelas missões que realizei neste mundo. Tive você como a pessoa mais importante deste mundo, somente abaixo de Deus. Não importava-me seus defeitos, seu aspecto físico, a marca do seu carro, o seu cheiro de suor, suas [ 74 ]
  • 75. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir roupas baratas, e quanto você tinha de dinheiro no bolso. Para que serve dinheiro mesmo? Mas além de você eu tinha a missão divina de amar todos os seres humanos que cruzassem o meu caminho. Um deles foi o Edson, pena que nem foto dele, você tem... Edson era um morador de rua, sabe lá Deus o que o levou a cair na vida, tinha família na grande São Paulo, sua filhas queriam que ele voltasse para casa, mas ele preferia morar na rua, alias, depois que conheceu você ele nunca mais morou na rua, porque você deu abrigo para ele por mais de dez anos. Edson morava na área da casa da rua Rangel Pestana. Sua mãe morava no interior da casa, e o Edson debaixo de uma marquise no interior do imóvel, é lógico que ele era útil, por ser uma pessoa que de certa forma guardava a casa, mesmo assim, você mostrou confiança em Deus e deu um voto de confiança permitindo que ele morasse ali sem saber o passado daquele homem. Você e dona Lourdes deu abrigo a um ser humano, e isso será levado em conta. Quando fui morar na Rua Rangel Pestana, Edson já morava na área da frente, mas até minha chegada, duas vezes a casa foi roubada, e os bandidos puseram em perigo a vida do Edson que foi rendido. Em um destes roubos a polícia agiu e o ladrão foi preso. Mas com a minha chegada os ladrões e viciados nunca mais colocaram os pés dentro do imóvel, porque eu e Leisa estávamos ali para proteger Lourdes e Edson. Sei que muita gente fez piada com o Edson, dizendo que eu era esposa dele, porque Edson [ 75 ]
  • 76. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir dormia com os cães... é assim que muitas pessoas tratam o sofrimento alheio, com desdém. Coisas de humanos... Edson era uma pessoa que gostava muito de lê, todas as manhãs ele comprava um Jornal chamado “Expresso Popular”, aqui de Santos, e não deixava de preencher as palavras cruzadas. Apesar da sua condição social, ele era culto e sempre tinha conversas interessantes com Valdemir, contudo Edson era uma pessoa muito doente, tinha bronquite crônica, e muitas pessoas se perguntavam como alguém que dormia debaixo de uma marquise, sujeito ao frio da madrugada e ainda vivia? Ele tinha mais de 50 anos quando eu o conheci. Edson conseguia algum dinheiro vendendo picolés com o carrinho da sorveteria do Valdemir, foi assim que os dois se conheceram no ano 2000. Eu entrei na história em 2005, e só conheci o Edson mais tarde. O Edson ainda fazia bico em um bar nas redondezas, durante a noite, fazendo um trabalho de vigia, enquanto o bar estava aberto e ajudava o dono do bar em guardas as mesas e arrumar as coisas e em troca ganhava alguns trocados e refeições que sobrava, faziam uma marmita para o Edson. Aliás, para o Edson, para mim e para Leisa, porque quando sobrava comida no bar, o Edson trazia para nós duas. Aquele nosso amigo nunca se esquecia de nós, comíamos do bom e do melhor com ele. Em troca nós dávamos ao Edson carinho que nenhum ser humano podia lhe dar. Infelizmente em 2013 ele teve um ataque [ 76 ]
  • 77. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir de bronquite forte e ficou internado na Santa Casa por algum tempo, onde veio a falecer e nunca mais vimos o nosso “Lázaro”. Nós, os cães, amamos crianças, doentes, velhos, desamparados, mendigos. Amamos qualquer um que tenha tempo para se relacionar conosco etc. Quando você não tiver mais nenhum amigo, você enxergará que há uma espécie de milhões de exemplares te esperando com um sorriso para te abraçar. Eu te amei muito Edson, nunca te esquecerei... 20 - PERDIDA NO MATO, NA ESTRADA DE ITARIRI O nosso dono tentou nos colocar para morar no sítio quando ele se mudou para a casa da Avenida das Américas e por fim, eu e a Leisa fomos morar na casa de dona Lourdes. Mas vou contar para vocês porque fracassou nossa primeira empreitada em morar no sítio. Valdemir passou a ir todos os finais de semana para o sítio em Itariri e achou que eu e a Leisa poderíamos morar lá. Sua intenção era transformar um galinheiro, em nossa casa, um canil. Acontece que o galinheiro era feito de tela de nylon ou plástico, um material pouco resistente para cães. No domingo que ele resolveu nos deixar no sítio, nos trancou naquele canil improvisado e foi embora. Assim que Valdemir ligou o carro e partiu, eu e a Leisa nos desesperamos para ir com nosso dono, e começamos [ 77 ]
  • 78. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir a forçar a tela que facilmente foi rasgada com os nossos dentes e saímos correndo atrás do carro. Nosso dono não percebeu, mas eu e a Leisa o seguimos por dois quilômetros, seguindo o barulho do motor do carro em meio a floresta onde ficava o refúgio do sítio. Contudo, após corrermos bastante, comecei a sentir falta de fôlego, porque eu era pesada e tinha as pernas curtas. Quando desistimos de correr, nos encontrávamos perdida na estrada e não sabíamos mais como voltar para a casa do sítio, já estava escurecendo e resolvemos passar a noite ali mesmo na estrada. Durante a noite vimos vários sapos e caracóis, pois sem dúvida estes são os animais de hábitos noturnos que mais se aproximam de nós, sem demonstrar medo algum. O dia amanheceu e eu e a Leisa resolvemos ficar por ali mesmo, quando vinha um carro, nós entravamos na mata lateral a estrada para não sermos atropelada, porque a estrada era muito estreita. Como os dias foram passando, logo nossos instintos foram despertando para sobreviver; do ponto que estávamos dava para escutar o barulho do rio e ali descíamos para beber água. Na natureza encontrávamos vegetação e fruta que dava para comer, como Itariri é uma região de plantação de bananas, por todo lado tinha bananeiras, e sempre alguns cachos amadureciam no meio do mato e as bananas caiam e eu e a Leisa comíamos. Dias e noites foram se passando, mas nós nunca ficávamos distante da estrada, sempre em uma distância que os nossos ouvidos pudessem detectar o [ 78 ]
  • 79. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir barulho do Kadett, porque nossa audição consegue detectar exatamente o barulho do motor do carro do nosso dono. Nosso dono foi embora no domingo à noite e só voltaria no sábado, mas como não sabemos contar os dias, o mais confiável era ficar ali todos os dias atentas. Finalmente o sábado chegou e logo de manhã ouvimos o barulho do Kadett. Meu Deus, Valdemir está voltando para nos salvar!!! Corremos a toda velocidade em direção à estrada, porque estávamos no riacho que passava abaixo da estrada, e quando alcançamos a estrada, o carro do Valdemir estava exatamente a poucos metros, vindo em nossa direção. Latimos eufóricas e Valdemir freou o carro surpreso por nós estarmos ali, tão distante da casa. Nós estávamos tão alegres em vê-lo e não queríamos correr o risco de perdê-lo de novo, então eu saltei pela janela no colo do Valdemir, e a Leisa saltou pela janela do lado do passageiro. Ficamos todos festejando o encontro ali na estrada, era uma gritaria só, dentro do carro parado na estrada. Depois do comovente encontro, fomos ao sitio. Quando lá chegamos, Valdemir percebeu porque estávamos ali, ele viu que a tela do canil improvisado estava rasgada por nossos dentes e que a ração estava inteira ali, já embolorada. Então Valdemir percebeu que havíamos escapado no mesmo dia do canil e que fomos parar ali naquele ponto da estrada porque foi até onde conseguimos segui-lo. [ 79 ]
  • 80. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 21 – OS PATOS O sítio já teve muitos patos, mas esta pata da foto era um super-mãe, eu gostava de vê-la passeando nos tanques com os seus filhotes. Deus já fez cada criatura com seus instintos programados para fazerem o que Deus determinou no seu DNA. Mas esta pata era muito brava, ela já me colocou para correr várias vezes, a gente nem podia ficar olhando para os patinhos dela que ela já vinha tirar satisfação. Tinha que olhar de longe. Valdemir chegava a ameaçar pegar um patinho só para vê-la irritada e avançava na mão dele, beliscava com o bico que chegava a cortar a pele, mas Valdemir se divertia. Fico pensando como Deus é maravilhoso, colocando um instinto materno tão forte nas mães que elas muitas vezes não tinham medo nem mesmo de criaturas bem maiores do que elas. [ 80 ]
  • 81. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 22 – ZENILDA Agradeço a Zenilda por ter permitido-me entrar em sua vida. Não posso esquecer o seu cuidado por mim, sempre preocupada se eu já havia comido, se havia água fresca para mim e se eu estava bem abrigado contra o frio ou contra o calor. Sempre se dirigia a mim com carinho e ternura, nunca tratou-me como um cachorro qualquer. Zenilda faz parte de um seleto grupo de pessoas que tratam os cães com dignidade, que Deus saiba lhe recompensar. Desde a minha infância até os meus últimos dias ela deu-me dignidade. Quando eu já não me alimentava e esperava a morte, fiquei alguns dias aos seus cuidados. Mas eu sei que Zenilda não gosta de se lembrar dos meus últimos dias já fraca, ela gosta de lembrar dos meus dias de pleno vigor, quando eu corria como uma atleta, mesmo tendo perninhas curtas e um corpo roliço e pesado. Certa vez Valdemir e Zenilda estavam fazendo exercício físico, e frequentemente corriam do bairro do Casqueiro a Ilha Caraguatá, e em um destes dias, eu corri com eles. Como foi bom! Valdemir corria mais a frente e uns cinquenta metros atrás vinha Zenilda, eu estava tão empolgada e feliz que eu corria até acompanhar Valdemir, depois, olhava para trás e via Zenilda, então eu voltava para acompanhar Zenilda, então eu já queria correr ao lado de Valdemir, e eu acelerava para acompanha-lo. Foi um fim de tarde maravilhoso. São aquelas coisas gratuitas, de felicidade pura e simples, que [ 81 ]
  • 82. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir não se compra com dinheiro ou no cartão de crédito. Felicidade que não tem valor econômico. Quando a Zenilda ia para o rancho do sitio, ela gostava de ficar a beira da piscina deitada, e eu ficava fazendo-lhe companhia. Procurava uma sombra e ficava vigiando-a, guardando-a, esperando o momento de dar e receber carinho. Meu dono sempre foi mais relaxado, mas a Zenilda não, logo que chegávamos ao sítio, a primeira coisa que ela providenciava, era água fresca para mim que sempre vinha ao sítio, ou no porta-mala do Kadett, ou na carroceria da camioneta. [ 82 ]
  • 83. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Foto de 2008, eu sempre estou por perto das pessoas que amo. Amor é sentir prazer em estar ao lado de quem ama, mesmo que não tenha nada para fazer. 23 – ELLEN Dias maravilhosos eu vivi ao lado da Ellen Valkyria, filha de Valdemir. Elas eram meninas, Esther tinha seis anos e Ellen tinha cinco anos. Valdemir sempre brincava chamando eu e Leisa de irmãs de Esther e Ellen, muitas vezes ele dizia: Doutora, vá chamar suas irmãs! Ellen fazia aquela cara como dizendo: “Eu não sou cachorro não!” Mas nós os cães não ficamos magoados com facilidade. Tudo levamos como brincadeira e farra. Quando a Ellen e Esther iam para o sítio, elas costumavam ficar na casa, limpando-a, fazendo a comida, lendo no quarto, ou brincando na piscina. Era comum, as meninas sentirem vontade de ver o pai e a Ellen se dirigia [ 83 ]
  • 84. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir para mim dizendo: “Doutora, me leva até onde está o papai?” Parece incrível, mas eu entendia o que ela queria, ela ameaçava pegar um caminho no sítio, e eu logo sacava o que ela e Esther queriam, e eu com meu faro aguçado, sentia as moléculas de cheiro do meu dono e fazia o trajeto que ele percorreu somente sendo guiada pelo odor. Muitas vezes Valdemir percebiam que eu e as meninas estávamos indo atrás dele, então, ele se escondia para testar se meu olfato era capaz de localiza- lo; e eu nunca ficava desorientada, sempre levava as meninas até Valdemir. Tudo era uma brincadeira, uma felicidade. Mesmo Ellen que não tem afeto com cães, gostava de mim, porque eu sempre parecia estar sorrindo e alegre e com a língua de fora. Esta foi a minha marca no mundo. Obrigada Deus, obrigada pelos dias felizes ao lado de Ellen. Quantas vezes nós voltámos juntas na camioneta, pois a camioneta era de cabine simples, e Valdemir colocava um banco na parte traseira da carroceria, aonde Ellen, e Esther iam sentadas, e eu e a Leisa íamos em meios as caixas de frutas, produtos da horta e raízes que Valdemir transportava para dar para amigos e parentes. [ 84 ]
  • 85. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir “Éramos quatro irmãs.” Um dia houve um acidente no sítio que me deixou preocupada. Valdemir estava de férias, e quando isso acontecia, nossa estadia no sítio chegava a durar uma semana. Naquela estadia estavam no sítio, Valdemir, as duas meninas e a dona Lourdes. Além de mim e da Leisa. Em um final de tarde, a Ellen corria quando distraiu-se e correu em direção ao arame farpado, sofrendo um grande corte no pescoço e no queixo. Ela chorava e colocava sangue para fora. Valdemir ficou muito nervoso, porque já havia advertido que elas não deviam correr no sítio porque havia risco de se machucarem. Dona Lourdes falou que não dava para ficar tratando aquilo em casa, e Valdemir pegou a camioneta e fomos todos para a cidade de Itariri, onde Ellen teve que levar pontos no queixo e no [ 85 ]
  • 86. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir pescoço. Se o corte fosse no lado oposto do pescoço, o acidente poderia ser fatal. Mas o anjo de Deus sempre esteve conosco, e nos momentos decisivos alterava os fatos. Fazendo uma nova história, não permitindo coisas piores. Ellen só não gostava quando a Leisa pulava com as patas dianteiras se apoiando nela. Aliás, ninguém gostava disso, só a Leisa que nunca aprendeu... 24 – ESTHER [ 86 ]
  • 87. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Como Deus foi bondoso comigo, permitindo-me viver nesta família! Esther sempre foi mais voltada aos animais. Valdemir sempre pedia para as meninas, quando iam ao sítio, trocar a água dos animais. No sítio havia um cercado de jabutis e outro com porquinhos da Índia. Eu muitas vezes colocava minhas patas dianteiras na mureta do cercado e ficava olhando através da tela, aquela manada de porquinhos multicoloridos. Eu os achava bonitos, e sabia que não podia caça-los. Eu sempre fui inteligente o suficiente para compreender que não deveria atacar os animais que Valdemir criava. Mas que gostava de dar uns sustos na Pamela, isso eu gostava! Esther nos amava, e muitas vezes brincava conosco. As poucas vezes que o sobrinho do Valdemir, o Rodrigo, foi ao sítio, todos nós brincávamos de esconde-esconde, mas eu e a Leisa não entendíamos a regra da brincadeira e por isso acabávamos algumas vezes denunciando onde estava as crianças escondidas. Quando corríamos juntos, vez ou outra, cruzávamos a frente de um deles e provocávamos seu tropeço e queda, era tudo muito engraçado, e ninguém se machucava. [ 87 ]
  • 88. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir [ 88 ]
  • 89. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir 25 – DONA LOURDES Vivi alguns anos na casa de Dona Lourdes, mãe do Valdemir. Ela era uma senhora maravilhosa. No começo ela não queria ficar conosco, porque ela nunca criou cães, e achava que teria muitas dificuldades em criar eu e a Leisa. Mas quando ela passou a conviver conosco e ver os nossos serviços de proteção e guarda, ela já não queria que eu e Leisa saíssemos nem aos fins de semana para ir ao sítio. Obrigado por tudo “mainha”. [ 89 ]
  • 90. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Dona Lourdes procurava nos dá comida como arroz com carne, ou arroz com frango. Eu e a Leisa gostávamos muito das comidas que os humanos comiam, e dona Lourdes não somente percebeu isso, como passou a cozinhar para nós. Que senhora linda! Valdemir ensinou-lhe a nos dá banho. No começo dona Lourdes disse que não conseguiria sozinha, dar banho em cães, porque não teria força para segura-los. Mas logo ela viu que eu e a Leisa éramos disciplinadas e quando ela nos chamava para perto da torneira com balde ou mangueira, nós se aproximávamos e ficávamos quietas, esperando o banho de água, e sermos ensaboadas. Depois do banho, dona Lourdes permitia-nos sair pelo portão e dar uma corrida pela quadra. [ 90 ]
  • 91. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Como um anjo, eu muitas vezes aparecia espontaneamente no momento que as pessoas tiravam fotos. Nestas duas fotos com Dona Lourdes, vejam que nem havia intenção de fotografar-me. Os anjos são assim, eles estão pertos e vocês nem percebem!!! Dona Lourdes nunca esqueceu o dia que eu salvei sua vida. Eu e Teocron. Vários dias por semana a dona Lourdes vai ao culto adorar a Deus na Assembleia de Deus do bairro do Jabaquara em Santos. Ela vai as 19hs e volta por volta das 21:30hs ou 22hs. Em uma destas noites, um viciado em drogas, morador de rua, ficou na espreita da Dona Lourdes do outro lado da rua, onde fica a Arena Santos. De dia o lugar é muito movimentado, sendo quase todo, uma área comercial, mas a noite, não se vê movimento de pessoas caminhando pelo local, somente carros. O astuto marginal ficou na espreita debaixo da marquise do prédio da Arena Santos, e Dona Lourdes achando que não havia perigo, falou para sua amiga Selidia, que sempre vinha do culto junto com ela dizendo que esta não precisava acompanha-la até a porta. Quando Dona Lourdes chegou no portão da sua casa, eu vi o marginal atravessando a rua rapidamente, vindo por trás de um carro que estava estacionado em frente a casa e quando Dona Lourdes encostou no portão para abrir o cadeado, eu lati ferozmente contra o bandido, e Leisa engrossou o rugido ferroz, batendo com as patas no portão. Como o bandido [ 91 ]
  • 92. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir pensou que Dona Lourdes já havia aberto o cadeado ele recusou e saiu andando apressadamente. Dona Lourdes quando olho para trás tomou o maior susto, porque o bandido ficou a poucos centímetros de dominá-la. Fiz a minha parte e do lado de fora, o anjo Teocron encheu o coração do bandido de pavor e ele sumiu dali. O mundo está correndo serio risco com a disseminação das drogas, as pessoas estão enlouquecendo e ficando com as mentes escravos do Diabo. Os tratamentos químicos e terapêuticos não estão sendo capazes de libertar os homens das drogas. O usuário de drogas perde o limite e a sanidade mental, e faz coisas absurdas e não raras, criminosas. A minha chegada na Vila Matias em Santos, na casa de Dona Lourdes foi um plano de Deus para protege-la. Eventualmente drogados pulavam a mureta da casa e defecavam na área externa da casa, até usavam drogas. Com a minha chegada na casa, os viciados foram expulsos dali. Eu e a Leisa fazíamos os maiores escândalos quando víamos um usuário de drogas. Dona Lourdes ficava até espantada achando que nós duas tínhamos preconceito contra mendigos, mas não era contra os pobres que nós mostrávamos valentia, mas contra as pessoas possuídas por espíritos imundos. Muitas vezes nós víamos estas pessoas passarem com criaturas horripilantes penduradas em seus pescoços, e estes espíritos imundos passavam provocando-nos, por [ 92 ]
  • 93. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir isso eu e a Leisa latíamos ferozmente contra os viciados, sujos e drogados que passavam pela rua. O portão da casa da Rua Rangel Pestana tinha muita história maravilhosa, muitas pessoas boas passavam por ali e viravam nossos amigos. Havia um pedreiro que passava de bicicletas quase todos os dias, e sempre que passava por ali fazia um carinho em mim e na Leisa. Eu sabia que ele era gente de bem e por isso fizemos amizade com ele. Assim foi com tantas outras pessoas. Seu Zé da Solimene, como poderia esquecer este bom homem. Finais de semana que Dona Lourdes ira para Praia Grande e nós duas não íamos para o sítio, era o Seu Zé que cuidava de nós. Ele era vigia da oficina Solimene e este bom homem se ofereceu para cuidar de nós, ele nos dava comida, água fresca, e ainda recolhia nossos excrementos. Ele não cobrava nada por isso. Dona Lourdes como boa mãe, dava-lhe agrados, como fazia eventualmente um almoço, ou dos produtos do sítio que Valdemir trazia, ela dava-lhe parte das bananas, mandiocas etc. Tinha vezes que Dona Lourdes viajava e se ausentava por semanas, e o seu Zé cuidava de nós como um santo homem. A vida é cheia de provações porque não dá para as pessoas enganar os outros o tempo todo, elas acabam mostrando o que tem no coração, os bons na dificuldade dividirão o seu pão, os maus vão tomar o pão dos outros. Quem é da luz, na escuridão brilha, quem é das trevas, da luz se refugia. [ 93 ]
  • 94. O anjo de quatro patas, por: Escriba Valdemir Seu Zé seja bendito por tudo o que nos fez. Quem dá um pote de água fresca para um cão, que cuida das criaturas mais fracas e inferiores serão tratados com misericórdia por Aquele que tudo vê. Quando Dona Lourdes estava morando em Praia Grande, agora no ano de 2015, um dia o Daniel esteve por lá e conversava com Dona Lourdes na porta da casa, e na hora do Daniel ir embora, ele abriu a porta do seu carro. Quando eu vi a porta aberta, eu e a Leisa entramos no carro. Dona Lourdes e o Daniel tiveram trabalho de tirar-nos do carro, deitamos nos tapetes, como sempre fazíamos nos carros do Valdemir. Centenas de vezes Valdemir viajava conosco e quando estava sozinho no carro, ele nos deixava ir no tapete do carro, ao seu lado. Naquele dia, entendemos que Daniel abriu a porta para nós entrarmos como Valdemir fazia. Tiveram que tirar a gente a força do carro do Daniel. Depois fiquei sabendo que Daniel é extremamente zeloso com seu carro, mantendo-o extremamente limpo e conservado, e que ele não deve ter gostado nem um pouco de termos espalhado pelos em seu veiculo. 26 - PRESA NA CARCERAGEM DA DELEGACIA Teve uma vez que a camioneta quebrou o cambio e Valdemir veio arrastando o carro de Itariri até Itanhaém, sendo necessário um guincho levar o veiculo até São [ 94 ]