Projeto Marrecoville promove sustentabilidade através da interdisciplinaridade
1. Universidade da Região de Joinville
Pós Graduação Lato Sensu em Interdisciplinaridade
Conhecimento Disciplinar, Multidisciplinar, Interdisciplinar e Transdisciplinar
Professor Dr. Daniel José da Silva
Discente Ana Paula Souza
Perspectiva Metodológica de construção do modo de conhecimento
TRANSDISCIPLINAR baseada no Projeto Marrecoville
Ao longo da história da humanidade a concepção de meio ambiente pela
espécie humana predominou como sendo naturalista, e essa compreensão
considerou exclusivamente os aspectos naturais excluindo os aspectos
sociais. Nessa perspectiva, as maneiras como as relações entre espécie
humana e meio ambiente se estabeleceram e têm se estabelecido dão a idéia
de que tem sido no e com o mundo. Apontando então a dicotomia que se tem
instaurado homem-ambiente e homem-homem e assim vivemos como se não
fossemos integrante do ambiente, apenas usuários.
Nesse contexto o Projeto Marrecoville em sua concepção pressupõe aos
envolvidos a percepção e a compreensão da dimensão relacional que compõe
a complexa rede de relações entre os componentes físicos, químicos,
biológicos e humanos que constitui o planeta, através do resgate da condição
humana, na qual o ser humano é e se faz meio ambiente, nas relações que
com esse estabelece.
Para o restabelecimento dessa relação o Projeto Marrecoville assume a
dimensão da sustentabilidade que entendemos como sendo um paradigma a
ser construído e vivenciado, o qual permitirá uma concepção de mundo
integrada. Essa concepção de mundo que, portanto, necessitará refletir nos
modos de vida, produção e consumo surgem de uma relação que supera a
competição para vivenciar a cooperação. A sustentabilidade torna-se então,
um imperativo à medida que permite uma abordagem relacional que nos
possibilita a compreensão do planeta como o resultado de um complexo de
relações. Nas quais, os modelos de organização sociais são considerados,
assim como as suas implicações para o meio ambiente. E portanto, as ações e
gestões do Projeto Marrecoville e de seus parceiros estará pautada em um
processo de constante cooperação e diálogo.
Na elaboração das estratégias do Projeto Marrecoville percebemos a
necessidade de promover a comunidade envolvida com o projeto (agricultores,
produtores, negociadores, etc) a vivência de situações, que lhes permitissem
experenciar um maior pertencimento com o projeto e assim religarem a o seu
ser e estar no mundo com a condição humana. Pois quando navegamos por
mares conhecidos (disciplinarmente) nosso mundo se torna seguro e ao
mesmo tempo imutável pois assim conseguimos nos valer de grandes
2. verdades. Contudo, quando podemos “romper” com a coerência que sempre
pensamos existir passamos a perceber que podemos fazer partes de “outras”
realidades. Para realizar a nossa intervenção junto à comunidade do projeto
optamos por quatro eixos temáticos: o da sensibilização, o da pedagogia, o da
governança e o da política.
Através da sensibilização é possível que se obtenha um conhecimento
sistêmico da dinâmica ecológica, à medida que as estratégias realizadas
(cirandas de conversa, estudo de caso de problemas globais relacionados com
o projeto, vivência da Trilha da Vida em Florianópolis, dramatização, aplicação
da atividade Pontes e Bichos, visita a parques e monumentos históricos para
análise de como as relações tem sido estabelecidas e releitura de obras de
artes), exigem o envolvimento dos participantes e portanto, podem tornar-se
responsáveis por buscar ações para contribuírem e assim, sentirem-se
pertencentes ao projeto. Na dimensão pedagógica escolhemos adotar como
referencial os pressupostos de Paulo Freire e portanto, nossas ações
preconizam a dialogicidade, que é um componente fundamental para aqueles
que optam pelo ensinar para a libertação. E o Projeto Marrecoville possibilitará
através de suas vivências um ensinar para a liberdade, à medida que permitirá
a reflexão sobre como tem se dado a trajetória do Homo sapiens sobre o
planeta. E à medida que ocorrer essa reflexão a possibilidade de compreender
que se pode agir sobre ela torna-se presente, e assim uma perspectiva de
transformar uma trajetória que sempre foi excludente, opressora em uma
trajetória de inclusão e liberdade torna-se possível.
E a governança apresenta-se então como o meio para a efetivação do
processo articulado com a dimensão da sensibilização e da pedagogia, ou seja,
permitir aos participantes que se empoderem no projeto (realizem escolhas,
pratiquem ações) que os fortaleçam enquanto grupo do Projeto Marrecoville.
Através da governança, em todos os momentos do processo as exigências do
mercado e da sociedade poderão ser atendidas, desde que a lógica interna do
projeto seja atendida, não havendo em cada momento da produção qualquer
tipo de resíduo. Contudo, torna-se necessário para atender a demanda da
sociedade, dos mercados e dos governos a implementação de políticas
públicas que venham a viabilizar, não somente o projeto, mas também a real
participação dos envolvidos nele, na sua gestão.
Nesse contexto, o Projeto Marrecoville está inserido em um processo
que tem pólos opostos como a dimensão reprodutora do sistema/da lógica
vigente na sociedade (exploração) e a transformadora do projeto
(sustentabilidade). Portanto, o projeto que objetiva o religare do humano
consigo e com o meio ambiente, permitirá a construção de uma “realidade” que
se complementa em lugar de se excluir. Na qual o aprender com o próprio
fazer torna-se uma possibilidade para compreensão das outras realidades,
constituindo-se assim como a oportunidade mediadora do par de contraditórios.
3. Para a efetivação do Projeto Marrecoville torna-se necessário o diálogo
entre a efetividade, a eficiência e a eficácia. À medida que a efetividade
permite a avaliação do nível de satisfação da comunidade, ou seja, se o projeto
realmente atendeu a quem se propôs. Por sua vez, a eficiência mede o
balanço energético, ou seja, quanto se está gastando de energia (horas de
trabalho, recursos, etc) para realizar determinado processo. E através da
eficácia que ao projeto será possibilitado analisar se a eficiência e a
efetividade do projeto foram alcançadas, ou seja, se a produção do marreco
tem alcançado as metas considerando-se o paradigma da sustentabilidade,
considerando-se o diagnóstico previamente realizado para a execução do
projeto.
Considerando então que o Projeto teve o envolvimento individual e
coletivo para perceber a efetividade do mesmo é necessário que possamos
refletir o seguinte questionamento: está valendo a pena o Projeto Marrecoville?
E para tanto encerramos o projeto sugerindo um sistema de avaliação
permanente no qual possa ser refletido se o Projeto Marrecoville em seu
processo e em sua metodologia (que se dará portanto, através de consultas
virtuais periódicas que produzem resultados visualizáveis através de gráficos e
portanto permitirá a avaliação energética do processo) tem considerado a
economia da experiência, na qual as melhores práticas de sustentabilidade se
tem desenvolvido.