1. O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL DE 0 À 3 ANOS
Brincar é o principal modo de expressão na infância. É uma linguagem que o
ser estabelece consigo mesmo, com o meio e com os outros. Para a criança é
a ferramenta, por excelência, para aprender a viver, revolucionar suas
experiências e criar sua cultura, pois é brincando que a criança se humaniza e
se constitui como sujeito histórico-social. (PROPOSTA) Segundo Aguiar
(2001), a criança adquire a maior parte dos seus repertórios cognitivos,
emocionais e sociais quando brinca. LIVRO GRAZIANE
Sendo assim, Lima (2010), afirma que brincar é direito da infância. Essa é a
primeira razão para que se defenda em todas as instâncias da sociedade, que
a criança tenha tempo, espaço e liberdade para brincar. LIVRO GRAZIANE
No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e
significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças
recriam e repensam os acontecimentos, criando uma nova realidade, um outro
contexto, portanto, um novo mundo repleto de sentimentos e expressividade. A
brincadeira para a criança possui sentido próprio, assim, o ato de brincar deve
ser preenchido pelo prazer e pelo divertimento, de forma espontânea e criativa.
RCNEI 1
Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da
identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se
comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado
papel na brincadeira faz com que elas desenvolvam importantes capacidades,
tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem
também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da
utilização e experimentação de regras e papéis sociais. RCNEI 2
Silvestre 2005 acrescenta:
Não devemos esquecer que um dos mais saudáveis “brinquedos” para uma
criança são outras crianças para que aprendam e pratiquem a socialização.
(MANUAL PARA CUIDADORES)
Através das brincadeiras de faz de conta, os jogos de construção e aqueles
que possuem regras, como os jogos de sociedade (também chamados de
jogos de tabuleiro), jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., que propiciam a
ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica.
RCNEI 2
2. FAZ DE CONTA (O JOGO SIMBÓLICO)
“O jogo do faz de conta é uma maneira de exercitar e testar
o próprio eu, seja atribuindo algumas de suas partes a
outros (brinquedos e colegas), seja imaginando ser um
outro, experimentando assim as diversas possibilidades de
ser.” (Bandioli & Mantovani)
O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem
enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem
frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações
cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de
objetos substitutos. Dessa forma, as crianças transformam os conhecimentos
que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca.
Conhecimentos esses que provêm da imitação de alguém ou de algo
conhecido, de uma experiência vivida na família ou em outros ambientes, do
relato de um colega ou de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no
cinema ou narradas em livros etc.
A fonte de seus conhecimentos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda,
fragmentados. É no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes
vínculos entre as características do papel assumido.
Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imaginativas e criadas por elas
mesmas, as crianças podem acionar seus pensamentos para a resolução de
problemas que lhe são importantes e significativos. Propiciando a brincadeira,
portanto, cria-se um espaço no qual as crianças podem experimentar o mundo
e internalizar uma compreensão particular sobre as pessoas, os sentimentos e
os diversos conhecimentos:
A criança, por volta dos 15 meses, começa a usar objetos de acordo
com seus significados afetivos ou convencionais (uso da escova para
pentear);
Entre 15 e 21 meses a criança realiza ações sobre objetos imaginários
ou dá significado incomum para um objeto conhecido. São as primeiras
formas de jogo simbólico – ações de faz de conta;
Ainda nesta faixa etária o uso não literal dos objetos (faz de conta) vai
se tornando cada vez mais complexo;
Por volta de 2 anos e meio as crianças são capazes de construir
cenários imaginários, onde dramatiza sequências de ações mais longas;
As crianças aprendem através da exploração e da brincadeira, sendo o
papel do brinquedo guiar a ação lúdica;
3. Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é imprescindível
que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas nas
instituições, sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que
ocorrem por meio de uma intervenção direta.
Além de ter um espaço rico de oportunidades lúdicas, é preciso cuidar das
interações que se estabelecem nesse contexto, por isso é um desafio para os
educadores criar espaços lúdicos, pois a qualidade das brincadeiras depende
do material proposto e da sua organização, como:
Disposição lógica do mobiliário lúdico;
Diversificação dos objetos e dos papéis sugeridos pelos materiais
disponíveis;
Presença de material completo para os roteiros sugeridos;
Delimitação do espaço possibilitando intimidade com a área em
relação ao resto do espaço;
Assim Bandioli & Mantovani consideram que:
“Para garantir que as proposta de faz de conta se efetivem
na prática é preciso pensar na organização do espaço
físico e nos materiais que possibilitarão às crianças
inúmeras experiências na composição das brincadeiras.”
Se o brincar é um processo tão significativo para o desenvolvimento infantil, há
de se ter cuidado com a forma em que ele acontece e com o lugar em que
ocupa dentro da rotina diária da escola.
Nesse sentido, buscando evitar que o ato de brincar se transforme em
simplesmente pontuais, o Referencial Curricular da Educação Infantil incluiu as
brincadeiras no patamar de atividades permanentes do currículo, visto que elas
(as brincadeiras) figuram entre aquelas atividades que respondem às
necessidades básicas de cuidados, de aprendizagem e prazer para as
crianças, cujo conteúdo necessita de uma constância. pg 50 livro da Grazi
4. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
A brincadeira não é inata nem espontânea, como muitos
pensam. Crianças aprendem a brincar brincando,
interagindo com seus colegas, com objetos, informadas
pela cultura do meio em que vivem. LIVRO BEM-VINDO,
MUNDO PG32
A importância do brincar para a criança já faz parte da retórica de boa parte
dos profissionais que trabalham com Educação Infantil . É o adulto, na figura do
professor, portanto, que, na instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das
brincadeiras na vida das crianças. Conseqüentemente é ele que organiza sua
base estrutural, por meio da oferta de determinados objetos, fantasias,
brinquedos ou jogos, da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para
brincar.
Por meio das brincadeiras os professores podem observar e constituir uma
visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada
uma em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim
como de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que
dispõem.
A intervenção intencional baseada na observação das brincadeiras das
crianças, oferecendo-lhes material adequado, assim como um espaço
estruturado para brincar permite o enriquecimento das competências
imaginativas, criativas e organizacionais infantis. Cabe ao professor organizar
situações para que as brincadeiras ocorram de maneira diversificada para
propiciar às crianças a possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e
companheiros com quem brincar, e assim elaborarem de forma pessoal e
independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais.
Porém não basta ter um espaço rico em oportunidades lúdicas, é preciso cuidar
das interações que se estabelecem neste contexto.
Para Bandioli & Mantovani, um dos desafios do educador é: Como interagir de
forma lúdica com bebês que parecem sobretudo necessitar de cuidados físicos,
incapazes e inconsistentes na atenção, indecifráveis nas suas manifestações
expressivas?
É necessário que o educador desenvolva algumas competências que podem
ser adquiridas e melhoradas:
Responder aos primeiros sinais infantis (choro, mímicas faciais)
atribuindo significados para estes durante o jogo (diálogo);
Observar as interações e variações de comportamento em
relação aos adultos e aos objetos;
5. Criar situações de prazer e ter habilidades ao dirigir a atenção da
criança sobre elementos do mundo externo, estimulando os
primeiros comportamentos de exploração e manipulação dos
objetos;
Introduzir ritmos e regularidades nas atividades compartilhadas,
permitindo a participação ativa da criança;
Ter constância de novidades nas propostas lúdicas;
Demonstrar atenção por todas as manifestações do
comportamento infantil, dando importância e significado para elas;
Articular as intervenções do adulto para permitir as ações das
crianças: “passivas” alternando posições dos objetos, retirando e
oferecendo obstáculos e “ativas” quando a criança mostra que
quer a atenção e a aprovação do adulto para suas ações.
Observar atentamente o andamento da atividade da criança sem
intervir diretamente, manifestando atenção e interesse por suas
realizações;
Ter atenção na progressão evolutiva da criança com quem brinca,
para saber quando a criança está pronta para propostas inéditas
e mais complexas;
Ser um companheiro para a criança, capaz de adaptar-se aos
papéis e as situações propostas pelas crianças, um aliado capaz
de inventar novos jogos;
Ampliar as possibilidades de brincadeiras através da interação,
com intervenções, entre crianças de diferentes faixas etárias;
Além do trabalho realizado na escola Moyles (2006) afirma que o envolvimento
dos pais, não só em discussões sobre o brincar e seu papel na sala de aula,
mas também na atividade em si, ajudariam a elevar o status do brincar e
forneceria o foco comum para a discussão. [...] isso também protegeria da
síndrome do “só brincar” quando os pais perguntam aos filhos: “O que você fez
na escola hoje?” Um conhecimento do contexto em que a atividade ocorreu, o
valor a ela atribuído e o leque de potenciais experiências de aprendizagem a
serem vivenciadas, só podem ser úteis a todos os envolvidos. (p.98)