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50 | PÚBLICO, SÁB 16 NOV 2013

O campus, a natureza
e o apelo da emigração

Uma dor mal
diagnosticada
JOSÉ SARMENTO MATOS

Debate Crise e alternativas
Elísio Estanque

Tribuna Dor miofascial
Beatriz Craveiro Lopes

ara quem, como eu, nasceu e viveu os
primeiros anos de vida no Alentejo é
provável que a relação com a natureza se
torne para sempre um elemento definidor
do próprio caráter.
Os espaços abertos e horizontes
amplos da estepe alentejana dos anos 50
ressurgem hoje como pano de fundo nas
minhas caminhadas diárias pelo campus
da Universidade Estadual de Campinas.
Essa memória inscreve-se aqui num contexto tropical
em que a chuva do final da tarde contrasta com o
calor seco e tórrido dos montados alentejanos, mas
onde o coaxar das rãs nas ribeiras e pegos da região
de Aljustrel se harmoniza com o pio noturno da
coruja-buraqueira, escondida na árvore encostada ao
meu gabinete no CESIT (Centro de Estudos Sindicais
e de Economia do Trabalho).
Pode parecer um exercício irrelevante e nostálgico,
mas é o impulso da partilha que me estimula.
Porventura o desejo de cumplicidade com quem já
perscrutou o canto estridente das cigarras no meio
do restolho ou o esvoaçar do mocho no lusco-fusco
de um descampado. Esta comunhão com os seres
vivos desprovidos de riso — mas sem os quais a vida
humana perderia toda a graça — fornece, pois, a
atmosfera propícia à imaginação e conduz-nos para
zonas insondáveis onde se interligam diferentes
épocas e lugares. No caso, tais memórias cruzam-se
com a experiência autorreflexiva que vivi ao longo
deste ano aqui no Brasil (embora longe da praia
e de outros estereótipos associados a este país),
mergulhado na “terra vermelha” onde no passado
floresceram as plantações de café.
A caminho da Unicamp às 7h da manhã, quando
o sol já rasga as copas das árvores sobre a pista de
pedestres e bicicletas da “avenida 2”, em Barão
Geraldo, penso em Portugal e naqueles que querem
torná-lo num “jardinzinho à beira-mar plantado,
onde se vêm tomar uns banhos de sol e colher os
impostos”; assusta-me a reiterada incapacidade
de os dirigentes políticos entreabrirem novas
perspetivas de esperança. Acelero o passo por
entre a vegetação luxuriante e os imensos espaços
verdes, junto das “samambaias” e dos “ipês” de
múltiplas cores, carregando nos ombros parte
das ansiedades dos portugueses, confrontados
com a miséria económica, a fuga de cérebros e
a rarefação da ética e responsabilidade política
de quem nos governa. Um país tão pequeno, que
alguns insistem em circunscrever ainda mais à sua
pequenez provinciana, mas um país que tem de ser
entendido na escala do mundo, cuja história ajudou
a escrever. Alguém falou, e bem, que vivemos uma
fase de profunda revolução (semelhante à do período
neolítico), mas a celeridade da mudança não permite
que o nosso entendimento lhe capte adequadamente
o sentido, o que me fez pensar nos recentes protestos
sociais no Brasil e na Europa, fenómeno cuja (in)
compreensão se ajusta precisamente a esse princípio.
Talvez por me encontrar num país tão grande e que
ambiciona a um protagonismo global, visto do Brasil,
Portugal parece uma ilha microscópica cercada por
muros atávicos num enclave de subalternidade de

dor miofascial é uma das causas de
dor mais comuns na população em
geral. É considerada uma dor músculoesquelética com uma elevada incidência,
mas devido à sua complexidade é
frequentemente mal diagnosticada.
Afecta sobretudo mulheres entre os
30 e os 49 anos. De forma simplificada
pode ser descrita como uma dor crónica
muscular, que pode surgir em qualquer
músculo, embora seja mais comum no pescoço,
ombros e região lombar, caracterizada pela presença
de pontos gatilho em qualquer região muscular do
organismo (dor localizada).
A dor ocorre espontaneamente ou pode surgir
quando os pontos gatilho são estimulados com pressão
moderada por mais de 30 segundos. Pesquisas têm
demonstrado que os pontos gatilho estão associados a
outras perturbações dolorosas, incluindo enxaqueca,
cefaleia tensional, disfunções da articulação têmporomandibular, cervicalgias, dores dos ombros,
lombalgias, dores pélvicas ou lesões pós-traumáticas.
Estão frequentemente associados ao stress excessivo
sobre os músculos como, por exemplo, movimentos
repetitivos, postura inadequada, perturbações
alimentares, stress emocional, especialmente em
determinadas profissionais.
O diagnóstico é exclusivamente clínico, não
existindo actualmente exames específicos para a
detecção desses pontos gatilho, sendo necessário um
profissional treinado para identificar esta dor.
A dor miofascial é
percebida pela pessoa como
profunda e intensamente
dolorosa e incapacitante,
por vezes acompanhada
de sintomas como suores,
alterações do ritmo cardíaco,
náuseas e vómitos. A dor
piora com a actividade ou
esforço. O seu não tratamento
afecta gravemente a
qualidade de vida das pessoas
devido a factores psicológicos
(depressão, ansiedade),
sociais (isolamento social) e
económicos (baixas laborais).
O tratamento da dor
miofascial visa eliminar
ou minimizar a dor gerada
pelos pontos gatilho. Pode
contemplar massagens locais,
relaxantes musculares e analgésicos, exercícios de
alongamentos, tonificação muscular, e, por vezes,
em situações mais graves, acupunctura, e infiltrações
com medicamentos nos pontos gatilho. O tratamento
deve ser instituído rapidamente.
Este é um dos temas em discussão no 12.º
Convénio da Astor, que irá decorrer, em Lisboa, no
dia 31 de Janeiro de 2014. Para mais informações
consulte: http://www.cast.pt/astor/

P

À noite
olhei de
passagem
um debate
televisivo
português,
sobre a
saída da
crise, onde
por largos
momentos
todos
falavam em
simultâneo,
a comprovar
que, no
nosso país,
ninguém
sabe ouvir
e toda a
gente sabe
muito (ou
está iludida
nas suas
certezas).
Aí reside
em parte
o nosso
atraso

onde não deseja sair. E, no entanto, milhares de
portugueses vivem sob o signo da mobilidade e do
cosmopolitismo, um requisito fundamental para a
reflexão sobre nós próprios enquanto país. Transpor
fronteiras (territoriais e analíticas) ajuda a romper
com as muralhas que nos cerceiam os movimentos
e o pensamento, permitindo vislumbrar com maior
lucidez e humildade as nossas debilidades, a fim
de poder transcendê-las. Não duvido que o micro
está intimamente conectado com o macro e que,
nesse sentido, a ação local pode ter repercussões
transformadoras sobre as estruturas mais amplas,
já que o inverso é uma verdade ainda mais óbvia.
Um destes dias à noite olhei de passagem um debate
televisivo português, sobre a saída da crise, onde por
largos momentos todos falavam em simultâneo, a
comprovar que, no nosso país, ninguém sabe ouvir
e toda a gente sabe muito (ou está iludida nas suas
certezas). Aí reside em parte o nosso atraso.
De escala em escala, olho para Portugal inserido
na aparente harmonia do globo, mas logo me
detenho em detalhes que suscitam perplexidade.
Com as recentes eleições autárquicas ainda em pano
de fundo, recordo Coimbra e outras autarquias do
país onde movimentos de cidadãos independentes
mostraram o seu potencial, enquanto alguns se
questionam (outros ignoram) sobre os elevados
índices de abstenção nas eleições locais. Poderá isso
desligar-se do crescimento da extrema-direita na
Europa? Creio que não. Sigo no meu passeio diário
pelo campus e recordo as recentes opções colocadas
por Governo e oposição, cujas “alternativas” oscilam
entre o “novo resgate” e um “programa cautelar” —
qual delas a mais nefasta. Posso antever o desfecho
da ação obstinada de Passos Coelho, da atitude
hesitante e ambígua de António José Seguro, e das
putativas negociações entre o Governo e o PS, mas
não vislumbro os destinos do país. Continuo o meu
trajeto junto aos “ipês” de flores brancas e rosa;
mas entretanto sou sobressaltado com a imagem de
Manuel Machado com a sua gravata verde florescente
na Rua Ferreira Borges, em Coimbra, a caminho
da sua (terceira) tomada de posse como presidente
da câmara. Essa figura traz-me à memória (vá-se lá
saber porquê) a minha universidade e o desgaste
continuado dos meus colegas professores, afogados
no mais terrível tarefismo tecnoburocrático e
impedidos de aprofundar o trabalho científico. Para
completar o quadro, vêm aí mais cortes salariais.
Mais austeridade. Eis alguns dos detalhes que dão
sentido à pergunta: porque não emigrar?
Investigador do Centro de Estudos Sociais da
Universidade de Coimbra; professor visitante da
Unicamp — Brasil

A

A dor miofascial
piora com a
actividade ou
esforço. O seu
não tratamento
afecta
gravemente
a qualidade
de vida das
pessoas

Anestesiologista, Associação para o
Desenvolvimento da Terapia da Dor (Astor)

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A caminho da Unicamp às 7h da manhã, quando o sol já rasga as copas das árvores sobre a pista de pedestres e bicicletas da “avenida 2”, em Barão Geraldo, penso em Portugal e naqueles que querem torná-lo num “jardinzinho à beira-mar plantado, onde se vêm tomar uns banhos de sol e colher os impostos”; assusta-me a reiterada incapacidade de os dirigentes políticos entreabrirem novas perspetivas de esperança. Acelero o passo por entre a vegetação luxuriante e os imensos espaços verdes, junto das “samambaias” e dos “ipês” de múltiplas cores, carregando nos ombros parte das ansiedades dos portugueses, confrontados com a miséria económica, a fuga de cérebros e a rarefação da ética e responsabilidade política de quem nos governa. Um país tão pequeno, que alguns insistem em circunscrever ainda mais à sua pequenez provinciana, mas um país que tem de ser entendido na escala do mundo, cuja história ajudou a escrever. Alguém falou, e bem, que vivemos uma fase de profunda revolução (semelhante à do período neolítico), mas a celeridade da mudança não permite que o nosso entendimento lhe capte adequadamente o sentido, o que me fez pensar nos recentes protestos sociais no Brasil e na Europa, fenómeno cuja (in) compreensão se ajusta precisamente a esse princípio. Talvez por me encontrar num país tão grande e que ambiciona a um protagonismo global, visto do Brasil, Portugal parece uma ilha microscópica cercada por muros atávicos num enclave de subalternidade de dor miofascial é uma das causas de dor mais comuns na população em geral. É considerada uma dor músculoesquelética com uma elevada incidência, mas devido à sua complexidade é frequentemente mal diagnosticada. Afecta sobretudo mulheres entre os 30 e os 49 anos. De forma simplificada pode ser descrita como uma dor crónica muscular, que pode surgir em qualquer músculo, embora seja mais comum no pescoço, ombros e região lombar, caracterizada pela presença de pontos gatilho em qualquer região muscular do organismo (dor localizada). A dor ocorre espontaneamente ou pode surgir quando os pontos gatilho são estimulados com pressão moderada por mais de 30 segundos. Pesquisas têm demonstrado que os pontos gatilho estão associados a outras perturbações dolorosas, incluindo enxaqueca, cefaleia tensional, disfunções da articulação têmporomandibular, cervicalgias, dores dos ombros, lombalgias, dores pélvicas ou lesões pós-traumáticas. Estão frequentemente associados ao stress excessivo sobre os músculos como, por exemplo, movimentos repetitivos, postura inadequada, perturbações alimentares, stress emocional, especialmente em determinadas profissionais. O diagnóstico é exclusivamente clínico, não existindo actualmente exames específicos para a detecção desses pontos gatilho, sendo necessário um profissional treinado para identificar esta dor. A dor miofascial é percebida pela pessoa como profunda e intensamente dolorosa e incapacitante, por vezes acompanhada de sintomas como suores, alterações do ritmo cardíaco, náuseas e vómitos. A dor piora com a actividade ou esforço. O seu não tratamento afecta gravemente a qualidade de vida das pessoas devido a factores psicológicos (depressão, ansiedade), sociais (isolamento social) e económicos (baixas laborais). O tratamento da dor miofascial visa eliminar ou minimizar a dor gerada pelos pontos gatilho. Pode contemplar massagens locais, relaxantes musculares e analgésicos, exercícios de alongamentos, tonificação muscular, e, por vezes, em situações mais graves, acupunctura, e infiltrações com medicamentos nos pontos gatilho. O tratamento deve ser instituído rapidamente. Este é um dos temas em discussão no 12.º Convénio da Astor, que irá decorrer, em Lisboa, no dia 31 de Janeiro de 2014. Para mais informações consulte: http://www.cast.pt/astor/ P À noite olhei de passagem um debate televisivo português, sobre a saída da crise, onde por largos momentos todos falavam em simultâneo, a comprovar que, no nosso país, ninguém sabe ouvir e toda a gente sabe muito (ou está iludida nas suas certezas). Aí reside em parte o nosso atraso onde não deseja sair. E, no entanto, milhares de portugueses vivem sob o signo da mobilidade e do cosmopolitismo, um requisito fundamental para a reflexão sobre nós próprios enquanto país. Transpor fronteiras (territoriais e analíticas) ajuda a romper com as muralhas que nos cerceiam os movimentos e o pensamento, permitindo vislumbrar com maior lucidez e humildade as nossas debilidades, a fim de poder transcendê-las. Não duvido que o micro está intimamente conectado com o macro e que, nesse sentido, a ação local pode ter repercussões transformadoras sobre as estruturas mais amplas, já que o inverso é uma verdade ainda mais óbvia. Um destes dias à noite olhei de passagem um debate televisivo português, sobre a saída da crise, onde por largos momentos todos falavam em simultâneo, a comprovar que, no nosso país, ninguém sabe ouvir e toda a gente sabe muito (ou está iludida nas suas certezas). Aí reside em parte o nosso atraso. De escala em escala, olho para Portugal inserido na aparente harmonia do globo, mas logo me detenho em detalhes que suscitam perplexidade. Com as recentes eleições autárquicas ainda em pano de fundo, recordo Coimbra e outras autarquias do país onde movimentos de cidadãos independentes mostraram o seu potencial, enquanto alguns se questionam (outros ignoram) sobre os elevados índices de abstenção nas eleições locais. Poderá isso desligar-se do crescimento da extrema-direita na Europa? Creio que não. Sigo no meu passeio diário pelo campus e recordo as recentes opções colocadas por Governo e oposição, cujas “alternativas” oscilam entre o “novo resgate” e um “programa cautelar” — qual delas a mais nefasta. Posso antever o desfecho da ação obstinada de Passos Coelho, da atitude hesitante e ambígua de António José Seguro, e das putativas negociações entre o Governo e o PS, mas não vislumbro os destinos do país. Continuo o meu trajeto junto aos “ipês” de flores brancas e rosa; mas entretanto sou sobressaltado com a imagem de Manuel Machado com a sua gravata verde florescente na Rua Ferreira Borges, em Coimbra, a caminho da sua (terceira) tomada de posse como presidente da câmara. Essa figura traz-me à memória (vá-se lá saber porquê) a minha universidade e o desgaste continuado dos meus colegas professores, afogados no mais terrível tarefismo tecnoburocrático e impedidos de aprofundar o trabalho científico. Para completar o quadro, vêm aí mais cortes salariais. Mais austeridade. Eis alguns dos detalhes que dão sentido à pergunta: porque não emigrar? Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; professor visitante da Unicamp — Brasil A A dor miofascial piora com a actividade ou esforço. O seu não tratamento afecta gravemente a qualidade de vida das pessoas Anestesiologista, Associação para o Desenvolvimento da Terapia da Dor (Astor)