SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  2
Télécharger pour lire hors ligne
Jornal PÚBLICO, 6.08.2012
Debate: Código do Trabalho

                      Às portas do trabalho escravo
 Elísio Estanque
 Sociólogo, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

      A nova legislação laboral que acaba de entrar em vigor assenta num conjunto de
premissas bem ilustrativas da mentalidade dominante entre a atual classe dirigente.
Pensando nas grandes linhas orientadoras do mais recente pacote legislativo e na
ideologia em que assentam é possível vislumbrar, sem ironia, uma versão sui generis
da vulgata marxista-leninista, na sua versão mais ortodoxa. As principais medidas
adotadas, tais como a redução dos custos do trabalho, a facilidade de despedimento,
os cortes nas indemnizações, os bancos de horas, o layoff, a redução de feriados e
pontes, a punição dos faltosos, etc., etc., deixam transparecer a sensação de que a
atual maioria levou ao extremo o princípio da luta de classes entre trabalhadores e
capitalistas, só que, vista ao contrário, isto é, sob o prisma do mercantilismo selvagem
do século XXI.
      Com efeito, é possível que o pano de fundo desta nova “cartilha” se tenha
inspirado na velha ideia de Marx segundo a qual é impossível a conciliação de
interesses entre as duas classes antagónicas. Será a resposta da burguesia ao
proletariado revolucionário e aos movimentos republicanos de há cem anos atrás? Será
uma vingança do capital e da direita contra os “privilégios” e “mordomias” alcançadas
pelos trabalhadores no período do PREC?. A matriz produtivista que inspirou o
legislador do novo Código do Trabalho só não advoga o regresso às fábricas
“satânicas” dos tempos da Revolução Industrial (das 16 horas de trabalho diário, sete
dias por semana) porque elas não são mais necessárias, graças à economia digital,
aos call centers, ao teletrabalho e a toda a panóplia de tecnologias que hoje permitem
assegurar formas de servidão mais discretas e mais eficazes.
      Acresce que, como se sabe, os anteriores modelos produtivos como o taylorismo,
o fordismo e o toyotismo foram experiências falhadas. E falharam, acima de tudo,
porque cederam aos desvios “revisionistas” da linha liberal-social, enveredando por
uma tentativa de conciliação de interesses, que só serviu para atrapalhar a cadeia
lucrativa. A empresa não pode mais ser um espaço de negociação ou de convenções
coletivas, fundadas no “compromisso de classes”. Inclusive, instituições internacionais
como a OIT, que ao longo de anos lutou pelo chamado trabalho digno, têm de ser
fortemente denunciadas em nome do trabalho-mercadoria. Nesse sentido, exemplos
como o da Autoeuropa – onde se chegou ao ponto de admitir representantes dos
trabalhadores na administração e aceitar a comparticipação nos lucros – não passam
de meros focos de resistência de um modelo de gestão sem bases científicas e sem
futuro. Como a “responsabilidade social” se tornou um princípio supérfluo (o mesmo
destino a que está votado o próprio Estado social), entendeu, e bem, o atual poder que
a era do diálogo e do consenso está ultrapassada. Que é tempo de reassumir a divisão
natural entre o mando e a obediência.
      Recuperando, em adaptação livre, a teoria de um ex-intelectual orgânico da
classe capitalista – entretanto caído em desgraça, porque foi assaltado por uma série
de dúvidas –, pode dizer-se que a luta é agora entre os “descomplexados competitivos”
e os “preguiçosos coletivistas”. As novas leis do trabalho são, portanto, o resultado de
uma luta persistente dos primeiros contra o conservadorismo coletivista dos segundos
(e contra o vírus sindical, que está moribundo mas não morto), visando a generalização
do trabalho forçado, isto é, criando um amplo exército de famintos, uma nova força de
trabalho disponível para o trabalho gratuito, que começa a emergir dos destroços da
atual classe trabalhadora. Em vez da busca de compromissos que, desde o século XIX,
o capitalismo industrial tentou estabelecer entre capital e trabalho, a linha dura que esta
nova “internacional liberal” fortemente apoiada no capitalismo financeiro fez aprovar (e
que, naturalmente, o governo português foi dos primeiros a subscrever), retoma a velha
ideia do “trabalho mercadoria” como primeira prioridade a caminho do “Sol nascente”
do hiperliberalismo competitivo.
      Em suma, os atuais desempregados de longa duração, os precários
sobrequalificados que se recusem a emigrar, os beneficiários do RSI que se revelem
pouco produtivos no trabalho comunitário, assim como os vagabundos e demais
segmentos “preguiçosos”, serão definitivamente arredados para fora do sistema social,
engrossando esta nova subclasse dos “pau-para-toda-a-obra”, prontos para o rápido
enriquecimento dos seus amos. O princípio é este: de cada um segundo as suas
capacidades, até à exaustão; a cada um segundo a sua subserviência devota ao
capital. Eis o sonho colorido do liberalismo radical: o regresso do trabalho escravo.

Contenu connexe

Tendances

Sociologia aplicada à ADM - introdutório
Sociologia aplicada à ADM - introdutórioSociologia aplicada à ADM - introdutório
Sociologia aplicada à ADM - introdutórioCamila Tribess
 
Mov sociais a nova rebelião da classe media eesne_sup2012
Mov sociais  a nova rebelião da classe media eesne_sup2012Mov sociais  a nova rebelião da classe media eesne_sup2012
Mov sociais a nova rebelião da classe media eesne_sup2012Elisio Estanque
 
Sociologia: origens, contexto histórico, político e social Os mestres fundado...
Sociologia: origens, contexto histórico, político e social Os mestres fundado...Sociologia: origens, contexto histórico, político e social Os mestres fundado...
Sociologia: origens, contexto histórico, político e social Os mestres fundado...Rogerio Silva
 
A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos qu...
A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos qu...A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos qu...
A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos qu...Anderson Silva
 
Público 16 o regresso do povo 3.11.2012
Público 16 o regresso do povo 3.11.2012Público 16 o regresso do povo 3.11.2012
Público 16 o regresso do povo 3.11.2012Elisio Estanque
 
Sonhos de civilização
Sonhos de civilizaçãoSonhos de civilização
Sonhos de civilizaçãoAldenei Barros
 
Redação Karl Marx - Vítor Nery
Redação Karl Marx - Vítor NeryRedação Karl Marx - Vítor Nery
Redação Karl Marx - Vítor NeryVítor Nery
 
Sociologia Os clássicos da sociologia -Prof.Altair Aguilar.
 Sociologia Os clássicos da sociologia -Prof.Altair Aguilar. Sociologia Os clássicos da sociologia -Prof.Altair Aguilar.
Sociologia Os clássicos da sociologia -Prof.Altair Aguilar.Altair Moisés Aguilar
 
Surgimento sociologia i
Surgimento sociologia iSurgimento sociologia i
Surgimento sociologia iLucio Braga
 
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14Elisio Estanque
 
Teoria e Pratica - Karl Marx
Teoria e Pratica - Karl MarxTeoria e Pratica - Karl Marx
Teoria e Pratica - Karl MarxMarcos Nunes
 
Classes e rebeliões sociais no brasil publico 09.06.2014
Classes e rebeliões sociais no brasil publico 09.06.2014Classes e rebeliões sociais no brasil publico 09.06.2014
Classes e rebeliões sociais no brasil publico 09.06.2014Elisio Estanque
 
Marx karl.-contribuição-à-crítica-da-economia-política
Marx karl.-contribuição-à-crítica-da-economia-políticaMarx karl.-contribuição-à-crítica-da-economia-política
Marx karl.-contribuição-à-crítica-da-economia-políticaMayara Dos Santos
 
Karl max e as teorias socialistas
Karl max e as teorias socialistasKarl max e as teorias socialistas
Karl max e as teorias socialistasespacoaberto
 
As idéias socialistas
As idéias socialistasAs idéias socialistas
As idéias socialistasProfessor
 

Tendances (20)

Sociologia aplicada à ADM - introdutório
Sociologia aplicada à ADM - introdutórioSociologia aplicada à ADM - introdutório
Sociologia aplicada à ADM - introdutório
 
Mov sociais a nova rebelião da classe media eesne_sup2012
Mov sociais  a nova rebelião da classe media eesne_sup2012Mov sociais  a nova rebelião da classe media eesne_sup2012
Mov sociais a nova rebelião da classe media eesne_sup2012
 
Presentation7
Presentation7Presentation7
Presentation7
 
Sociologia: origens, contexto histórico, político e social Os mestres fundado...
Sociologia: origens, contexto histórico, político e social Os mestres fundado...Sociologia: origens, contexto histórico, político e social Os mestres fundado...
Sociologia: origens, contexto histórico, político e social Os mestres fundado...
 
A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos qu...
A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos qu...A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos qu...
A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos qu...
 
Público 16 o regresso do povo 3.11.2012
Público 16 o regresso do povo 3.11.2012Público 16 o regresso do povo 3.11.2012
Público 16 o regresso do povo 3.11.2012
 
Aula intr sociologia
Aula intr sociologiaAula intr sociologia
Aula intr sociologia
 
Sonhos de civilização
Sonhos de civilizaçãoSonhos de civilização
Sonhos de civilização
 
Redação Karl Marx - Vítor Nery
Redação Karl Marx - Vítor NeryRedação Karl Marx - Vítor Nery
Redação Karl Marx - Vítor Nery
 
Sociologia Os clássicos da sociologia -Prof.Altair Aguilar.
 Sociologia Os clássicos da sociologia -Prof.Altair Aguilar. Sociologia Os clássicos da sociologia -Prof.Altair Aguilar.
Sociologia Os clássicos da sociologia -Prof.Altair Aguilar.
 
Surgimento sociologia i
Surgimento sociologia iSurgimento sociologia i
Surgimento sociologia i
 
Karl Marx
Karl MarxKarl Marx
Karl Marx
 
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
 
Teoria e Pratica - Karl Marx
Teoria e Pratica - Karl MarxTeoria e Pratica - Karl Marx
Teoria e Pratica - Karl Marx
 
Classes e rebeliões sociais no brasil publico 09.06.2014
Classes e rebeliões sociais no brasil publico 09.06.2014Classes e rebeliões sociais no brasil publico 09.06.2014
Classes e rebeliões sociais no brasil publico 09.06.2014
 
Capítulo 6 - Pensando a Sociedade
Capítulo 6 - Pensando a SociedadeCapítulo 6 - Pensando a Sociedade
Capítulo 6 - Pensando a Sociedade
 
Marx karl.-contribuição-à-crítica-da-economia-política
Marx karl.-contribuição-à-crítica-da-economia-políticaMarx karl.-contribuição-à-crítica-da-economia-política
Marx karl.-contribuição-à-crítica-da-economia-política
 
Karl max e as teorias socialistas
Karl max e as teorias socialistasKarl max e as teorias socialistas
Karl max e as teorias socialistas
 
Aula 9 e 10 karl marx
Aula 9 e 10   karl marxAula 9 e 10   karl marx
Aula 9 e 10 karl marx
 
As idéias socialistas
As idéias socialistasAs idéias socialistas
As idéias socialistas
 

En vedette

Público 1 autarquicas democracia 07.01.2013
Público 1 autarquicas democracia 07.01.2013Público 1 autarquicas democracia 07.01.2013
Público 1 autarquicas democracia 07.01.2013Elisio Estanque
 
Portugues com sotaque publico 2014-11jan_ee
Portugues com sotaque publico 2014-11jan_eePortugues com sotaque publico 2014-11jan_ee
Portugues com sotaque publico 2014-11jan_eeElisio Estanque
 
Elites, lideres e revoluções
Elites, lideres e revoluçõesElites, lideres e revoluções
Elites, lideres e revoluçõesElisio Estanque
 
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014Elisio Estanque
 
Público 11 passos inseguros ee_3.09.2012
Público 11 passos inseguros ee_3.09.2012Público 11 passos inseguros ee_3.09.2012
Público 11 passos inseguros ee_3.09.2012Elisio Estanque
 
As praxes e o poder ee jan2014
As praxes e o poder ee jan2014As praxes e o poder ee jan2014
As praxes e o poder ee jan2014Elisio Estanque
 
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012Elisio Estanque
 
O partidismo ufano de francisco assis set_2014
O partidismo ufano de francisco assis set_2014O partidismo ufano de francisco assis set_2014
O partidismo ufano de francisco assis set_2014Elisio Estanque
 
A ucrania e o maniqueísmo neo sovietico ee-nn
A ucrania e o maniqueísmo neo sovietico ee-nnA ucrania e o maniqueísmo neo sovietico ee-nn
A ucrania e o maniqueísmo neo sovietico ee-nnElisio Estanque
 
Praxe vs comandos_publico_2016.09.20
  Praxe vs comandos_publico_2016.09.20  Praxe vs comandos_publico_2016.09.20
Praxe vs comandos_publico_2016.09.20Elisio Estanque
 
Os 'lambe cus', público_27.10.2016
Os 'lambe cus', público_27.10.2016Os 'lambe cus', público_27.10.2016
Os 'lambe cus', público_27.10.2016Elisio Estanque
 
A praxe e o novo tribalismo 22.out.14
A praxe e o novo tribalismo 22.out.14A praxe e o novo tribalismo 22.out.14
A praxe e o novo tribalismo 22.out.14Elisio Estanque
 
Ee_publico_entrevista-1
  Ee_publico_entrevista-1  Ee_publico_entrevista-1
Ee_publico_entrevista-1Elisio Estanque
 
Público 13 realismo utopico ee_29.09.2012
Público 13 realismo utopico ee_29.09.2012Público 13 realismo utopico ee_29.09.2012
Público 13 realismo utopico ee_29.09.2012Elisio Estanque
 
Público 14 rebeliao e resistência organizada 30.09.2012
Público 14 rebeliao e resistência organizada 30.09.2012Público 14 rebeliao e resistência organizada 30.09.2012
Público 14 rebeliao e resistência organizada 30.09.2012Elisio Estanque
 

En vedette (16)

Público 1 autarquicas democracia 07.01.2013
Público 1 autarquicas democracia 07.01.2013Público 1 autarquicas democracia 07.01.2013
Público 1 autarquicas democracia 07.01.2013
 
Portugues com sotaque publico 2014-11jan_ee
Portugues com sotaque publico 2014-11jan_eePortugues com sotaque publico 2014-11jan_ee
Portugues com sotaque publico 2014-11jan_ee
 
Elites, lideres e revoluções
Elites, lideres e revoluçõesElites, lideres e revoluções
Elites, lideres e revoluções
 
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
 
Público 11 passos inseguros ee_3.09.2012
Público 11 passos inseguros ee_3.09.2012Público 11 passos inseguros ee_3.09.2012
Público 11 passos inseguros ee_3.09.2012
 
As praxes e o poder ee jan2014
As praxes e o poder ee jan2014As praxes e o poder ee jan2014
As praxes e o poder ee jan2014
 
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
 
O partidismo ufano de francisco assis set_2014
O partidismo ufano de francisco assis set_2014O partidismo ufano de francisco assis set_2014
O partidismo ufano de francisco assis set_2014
 
A ucrania e o maniqueísmo neo sovietico ee-nn
A ucrania e o maniqueísmo neo sovietico ee-nnA ucrania e o maniqueísmo neo sovietico ee-nn
A ucrania e o maniqueísmo neo sovietico ee-nn
 
Praxe vs comandos_publico_2016.09.20
  Praxe vs comandos_publico_2016.09.20  Praxe vs comandos_publico_2016.09.20
Praxe vs comandos_publico_2016.09.20
 
Os 'lambe cus', público_27.10.2016
Os 'lambe cus', público_27.10.2016Os 'lambe cus', público_27.10.2016
Os 'lambe cus', público_27.10.2016
 
A praxe e o novo tribalismo 22.out.14
A praxe e o novo tribalismo 22.out.14A praxe e o novo tribalismo 22.out.14
A praxe e o novo tribalismo 22.out.14
 
Ee_publico_entrevista-1
  Ee_publico_entrevista-1  Ee_publico_entrevista-1
Ee_publico_entrevista-1
 
Fugas ee 3.11.2012
Fugas ee 3.11.2012Fugas ee 3.11.2012
Fugas ee 3.11.2012
 
Público 13 realismo utopico ee_29.09.2012
Público 13 realismo utopico ee_29.09.2012Público 13 realismo utopico ee_29.09.2012
Público 13 realismo utopico ee_29.09.2012
 
Público 14 rebeliao e resistência organizada 30.09.2012
Público 14 rebeliao e resistência organizada 30.09.2012Público 14 rebeliao e resistência organizada 30.09.2012
Público 14 rebeliao e resistência organizada 30.09.2012
 

Similaire à Código do Trabalho abre caminho ao trabalho escravo

Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011Elisio Estanque
 
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011Elisio Estanque
 
Passado e futuro do trabalho (I)
Passado e futuro do trabalho (I)Passado e futuro do trabalho (I)
Passado e futuro do trabalho (I)Elisio Estanque
 
Uma critica construtiva ao sindicalismo
Uma critica construtiva ao sindicalismoUma critica construtiva ao sindicalismo
Uma critica construtiva ao sindicalismoElisio Estanque
 
Precarizacao social do_trabalho
Precarizacao social do_trabalhoPrecarizacao social do_trabalho
Precarizacao social do_trabalhoDjalma Caetano
 
Despotismo fabril hist 2008
Despotismo fabril hist 2008Despotismo fabril hist 2008
Despotismo fabril hist 2008Elisio Estanque
 
Trabalho de adm ii terceiro setor
Trabalho de adm ii   terceiro setorTrabalho de adm ii   terceiro setor
Trabalho de adm ii terceiro setorwallom
 
Fae curitiba ee_cultura de empresa
Fae curitiba ee_cultura de empresaFae curitiba ee_cultura de empresa
Fae curitiba ee_cultura de empresaElisio Estanque
 
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e pikettyO combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e pikettyFernando Alcoforado
 
002-Sintese_PPT_Aula-01_Modulo-II.ppt
002-Sintese_PPT_Aula-01_Modulo-II.ppt002-Sintese_PPT_Aula-01_Modulo-II.ppt
002-Sintese_PPT_Aula-01_Modulo-II.pptjvgamer6
 
T11 a questao social sec xxi
T11 a questao social sec xxiT11 a questao social sec xxi
T11 a questao social sec xxiElisio Estanque
 
Fae curitiba ee_cultura de empresa-signed
Fae curitiba ee_cultura de empresa-signedFae curitiba ee_cultura de empresa-signed
Fae curitiba ee_cultura de empresa-signedElisio Estanque
 
Maurice joyeux autogestao gestao operaria gestao directa
Maurice joyeux autogestao gestao operaria gestao directaMaurice joyeux autogestao gestao operaria gestao directa
Maurice joyeux autogestao gestao operaria gestao directamoratonoise
 
Socialismo Em Angola
Socialismo Em AngolaSocialismo Em Angola
Socialismo Em AngolaVanda30
 
Da era-fordista-ao-desemprego-estrutural-
Da era-fordista-ao-desemprego-estrutural-Da era-fordista-ao-desemprego-estrutural-
Da era-fordista-ao-desemprego-estrutural-Edivaldo Costa Jr.
 
Manifesto contra o trabalho e sua aplicação na redução da jornada de trabalho...
Manifesto contra o trabalho e sua aplicação na redução da jornada de trabalho...Manifesto contra o trabalho e sua aplicação na redução da jornada de trabalho...
Manifesto contra o trabalho e sua aplicação na redução da jornada de trabalho...Rogério Augusto Ayres de Araujo
 
Transformação social, democracia e cultura de empresa
Transformação social, democracia e cultura de empresaTransformação social, democracia e cultura de empresa
Transformação social, democracia e cultura de empresaElisio Estanque
 
O Trabalho Na Economia De Mercado
O Trabalho Na Economia De MercadoO Trabalho Na Economia De Mercado
O Trabalho Na Economia De Mercadorosagladysp
 

Similaire à Código do Trabalho abre caminho ao trabalho escravo (20)

Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
 
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
Opiniao 3 trabalho digno ee+mcs_jul2011
 
Passado e futuro do trabalho (I)
Passado e futuro do trabalho (I)Passado e futuro do trabalho (I)
Passado e futuro do trabalho (I)
 
Uma critica construtiva ao sindicalismo
Uma critica construtiva ao sindicalismoUma critica construtiva ao sindicalismo
Uma critica construtiva ao sindicalismo
 
Finisterra ee 2009
Finisterra ee 2009Finisterra ee 2009
Finisterra ee 2009
 
Precarizacao social do_trabalho
Precarizacao social do_trabalhoPrecarizacao social do_trabalho
Precarizacao social do_trabalho
 
Despotismo fabril hist 2008
Despotismo fabril hist 2008Despotismo fabril hist 2008
Despotismo fabril hist 2008
 
Prova avaliativa sociologia final
Prova avaliativa sociologia finalProva avaliativa sociologia final
Prova avaliativa sociologia final
 
Trabalho de adm ii terceiro setor
Trabalho de adm ii   terceiro setorTrabalho de adm ii   terceiro setor
Trabalho de adm ii terceiro setor
 
Fae curitiba ee_cultura de empresa
Fae curitiba ee_cultura de empresaFae curitiba ee_cultura de empresa
Fae curitiba ee_cultura de empresa
 
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e pikettyO combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
 
002-Sintese_PPT_Aula-01_Modulo-II.ppt
002-Sintese_PPT_Aula-01_Modulo-II.ppt002-Sintese_PPT_Aula-01_Modulo-II.ppt
002-Sintese_PPT_Aula-01_Modulo-II.ppt
 
T11 a questao social sec xxi
T11 a questao social sec xxiT11 a questao social sec xxi
T11 a questao social sec xxi
 
Fae curitiba ee_cultura de empresa-signed
Fae curitiba ee_cultura de empresa-signedFae curitiba ee_cultura de empresa-signed
Fae curitiba ee_cultura de empresa-signed
 
Maurice joyeux autogestao gestao operaria gestao directa
Maurice joyeux autogestao gestao operaria gestao directaMaurice joyeux autogestao gestao operaria gestao directa
Maurice joyeux autogestao gestao operaria gestao directa
 
Socialismo Em Angola
Socialismo Em AngolaSocialismo Em Angola
Socialismo Em Angola
 
Da era-fordista-ao-desemprego-estrutural-
Da era-fordista-ao-desemprego-estrutural-Da era-fordista-ao-desemprego-estrutural-
Da era-fordista-ao-desemprego-estrutural-
 
Manifesto contra o trabalho e sua aplicação na redução da jornada de trabalho...
Manifesto contra o trabalho e sua aplicação na redução da jornada de trabalho...Manifesto contra o trabalho e sua aplicação na redução da jornada de trabalho...
Manifesto contra o trabalho e sua aplicação na redução da jornada de trabalho...
 
Transformação social, democracia e cultura de empresa
Transformação social, democracia e cultura de empresaTransformação social, democracia e cultura de empresa
Transformação social, democracia e cultura de empresa
 
O Trabalho Na Economia De Mercado
O Trabalho Na Economia De MercadoO Trabalho Na Economia De Mercado
O Trabalho Na Economia De Mercado
 

Plus de Elisio Estanque

O outro lado da revol (ii) publico20180215
O outro lado da revol (ii) publico20180215O outro lado da revol (ii) publico20180215
O outro lado da revol (ii) publico20180215Elisio Estanque
 
O outro lado da reovol (i) publico 20180214
O outro lado da reovol (i) publico 20180214O outro lado da reovol (i) publico 20180214
O outro lado da reovol (i) publico 20180214Elisio Estanque
 
Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?Elisio Estanque
 
Entre o populismo e o euroceticismo
Entre o populismo e o euroceticismo Entre o populismo e o euroceticismo
Entre o populismo e o euroceticismo Elisio Estanque
 
Ee juventude bloqueada (ii) publico_2017.05
Ee juventude bloqueada (ii) publico_2017.05Ee juventude bloqueada (ii) publico_2017.05
Ee juventude bloqueada (ii) publico_2017.05Elisio Estanque
 
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17Elisio Estanque
 
Passado e futuro do trabalho (II)
Passado e futuro do trabalho (II)Passado e futuro do trabalho (II)
Passado e futuro do trabalho (II)Elisio Estanque
 
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016Elisio Estanque
 
Des globalização do trabalho ee
Des globalização do trabalho eeDes globalização do trabalho ee
Des globalização do trabalho eeElisio Estanque
 
Alentejo ee público_11.03.2016
Alentejo ee público_11.03.2016Alentejo ee público_11.03.2016
Alentejo ee público_11.03.2016Elisio Estanque
 
03_english_rccs annual review_e_estanque_rev2
  03_english_rccs annual review_e_estanque_rev2  03_english_rccs annual review_e_estanque_rev2
03_english_rccs annual review_e_estanque_rev2Elisio Estanque
 
(Des)globalização do trabalho publico 2016.07.14
(Des)globalização do trabalho publico 2016.07.14(Des)globalização do trabalho publico 2016.07.14
(Des)globalização do trabalho publico 2016.07.14Elisio Estanque
 
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016Elisio Estanque
 
Alentejo ee público_11.03.2016
Alentejo ee público_11.03.2016Alentejo ee público_11.03.2016
Alentejo ee público_11.03.2016Elisio Estanque
 
Rebeliao de classe media_precariedade de movimentos sociais
Rebeliao de classe media_precariedade de movimentos sociaisRebeliao de classe media_precariedade de movimentos sociais
Rebeliao de classe media_precariedade de movimentos sociaisElisio Estanque
 
Middle class rebellions_2015
Middle class rebellions_2015Middle class rebellions_2015
Middle class rebellions_2015Elisio Estanque
 
Cromos e cargos_31.12-2015
Cromos e cargos_31.12-2015Cromos e cargos_31.12-2015
Cromos e cargos_31.12-2015Elisio Estanque
 
Portugal, Alentejo - industrailização tardia
Portugal, Alentejo - industrailização tardiaPortugal, Alentejo - industrailização tardia
Portugal, Alentejo - industrailização tardiaElisio Estanque
 

Plus de Elisio Estanque (20)

O outro lado da revol (ii) publico20180215
O outro lado da revol (ii) publico20180215O outro lado da revol (ii) publico20180215
O outro lado da revol (ii) publico20180215
 
O outro lado da reovol (i) publico 20180214
O outro lado da reovol (i) publico 20180214O outro lado da reovol (i) publico 20180214
O outro lado da reovol (i) publico 20180214
 
Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?
 
Entre o populismo e o euroceticismo
Entre o populismo e o euroceticismo Entre o populismo e o euroceticismo
Entre o populismo e o euroceticismo
 
Ee juventude bloqueada (ii) publico_2017.05
Ee juventude bloqueada (ii) publico_2017.05Ee juventude bloqueada (ii) publico_2017.05
Ee juventude bloqueada (ii) publico_2017.05
 
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
 
Passado e futuro do trabalho (II)
Passado e futuro do trabalho (II)Passado e futuro do trabalho (II)
Passado e futuro do trabalho (II)
 
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
 
Des globalização do trabalho ee
Des globalização do trabalho eeDes globalização do trabalho ee
Des globalização do trabalho ee
 
Alentejo ee público_11.03.2016
Alentejo ee público_11.03.2016Alentejo ee público_11.03.2016
Alentejo ee público_11.03.2016
 
03_english_rccs annual review_e_estanque_rev2
  03_english_rccs annual review_e_estanque_rev2  03_english_rccs annual review_e_estanque_rev2
03_english_rccs annual review_e_estanque_rev2
 
(Des)globalização do trabalho publico 2016.07.14
(Des)globalização do trabalho publico 2016.07.14(Des)globalização do trabalho publico 2016.07.14
(Des)globalização do trabalho publico 2016.07.14
 
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
Queima das fitas alcoolizada publico 14.05.2016
 
Alentejo ee público_11.03.2016
Alentejo ee público_11.03.2016Alentejo ee público_11.03.2016
Alentejo ee público_11.03.2016
 
Rebeliao de classe media_precariedade de movimentos sociais
Rebeliao de classe media_precariedade de movimentos sociaisRebeliao de classe media_precariedade de movimentos sociais
Rebeliao de classe media_precariedade de movimentos sociais
 
Middle class rebellions_2015
Middle class rebellions_2015Middle class rebellions_2015
Middle class rebellions_2015
 
GLU column
GLU column  GLU column
GLU column
 
Cromos e cargos_31.12-2015
Cromos e cargos_31.12-2015Cromos e cargos_31.12-2015
Cromos e cargos_31.12-2015
 
Portugal, Alentejo - industrailização tardia
Portugal, Alentejo - industrailização tardiaPortugal, Alentejo - industrailização tardia
Portugal, Alentejo - industrailização tardia
 
Voos de borboleta
Voos de borboletaVoos de borboleta
Voos de borboleta
 

Código do Trabalho abre caminho ao trabalho escravo

  • 1. Jornal PÚBLICO, 6.08.2012 Debate: Código do Trabalho Às portas do trabalho escravo Elísio Estanque Sociólogo, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra A nova legislação laboral que acaba de entrar em vigor assenta num conjunto de premissas bem ilustrativas da mentalidade dominante entre a atual classe dirigente. Pensando nas grandes linhas orientadoras do mais recente pacote legislativo e na ideologia em que assentam é possível vislumbrar, sem ironia, uma versão sui generis da vulgata marxista-leninista, na sua versão mais ortodoxa. As principais medidas adotadas, tais como a redução dos custos do trabalho, a facilidade de despedimento, os cortes nas indemnizações, os bancos de horas, o layoff, a redução de feriados e pontes, a punição dos faltosos, etc., etc., deixam transparecer a sensação de que a atual maioria levou ao extremo o princípio da luta de classes entre trabalhadores e capitalistas, só que, vista ao contrário, isto é, sob o prisma do mercantilismo selvagem do século XXI. Com efeito, é possível que o pano de fundo desta nova “cartilha” se tenha inspirado na velha ideia de Marx segundo a qual é impossível a conciliação de interesses entre as duas classes antagónicas. Será a resposta da burguesia ao proletariado revolucionário e aos movimentos republicanos de há cem anos atrás? Será uma vingança do capital e da direita contra os “privilégios” e “mordomias” alcançadas pelos trabalhadores no período do PREC?. A matriz produtivista que inspirou o legislador do novo Código do Trabalho só não advoga o regresso às fábricas “satânicas” dos tempos da Revolução Industrial (das 16 horas de trabalho diário, sete dias por semana) porque elas não são mais necessárias, graças à economia digital, aos call centers, ao teletrabalho e a toda a panóplia de tecnologias que hoje permitem assegurar formas de servidão mais discretas e mais eficazes. Acresce que, como se sabe, os anteriores modelos produtivos como o taylorismo, o fordismo e o toyotismo foram experiências falhadas. E falharam, acima de tudo, porque cederam aos desvios “revisionistas” da linha liberal-social, enveredando por
  • 2. uma tentativa de conciliação de interesses, que só serviu para atrapalhar a cadeia lucrativa. A empresa não pode mais ser um espaço de negociação ou de convenções coletivas, fundadas no “compromisso de classes”. Inclusive, instituições internacionais como a OIT, que ao longo de anos lutou pelo chamado trabalho digno, têm de ser fortemente denunciadas em nome do trabalho-mercadoria. Nesse sentido, exemplos como o da Autoeuropa – onde se chegou ao ponto de admitir representantes dos trabalhadores na administração e aceitar a comparticipação nos lucros – não passam de meros focos de resistência de um modelo de gestão sem bases científicas e sem futuro. Como a “responsabilidade social” se tornou um princípio supérfluo (o mesmo destino a que está votado o próprio Estado social), entendeu, e bem, o atual poder que a era do diálogo e do consenso está ultrapassada. Que é tempo de reassumir a divisão natural entre o mando e a obediência. Recuperando, em adaptação livre, a teoria de um ex-intelectual orgânico da classe capitalista – entretanto caído em desgraça, porque foi assaltado por uma série de dúvidas –, pode dizer-se que a luta é agora entre os “descomplexados competitivos” e os “preguiçosos coletivistas”. As novas leis do trabalho são, portanto, o resultado de uma luta persistente dos primeiros contra o conservadorismo coletivista dos segundos (e contra o vírus sindical, que está moribundo mas não morto), visando a generalização do trabalho forçado, isto é, criando um amplo exército de famintos, uma nova força de trabalho disponível para o trabalho gratuito, que começa a emergir dos destroços da atual classe trabalhadora. Em vez da busca de compromissos que, desde o século XIX, o capitalismo industrial tentou estabelecer entre capital e trabalho, a linha dura que esta nova “internacional liberal” fortemente apoiada no capitalismo financeiro fez aprovar (e que, naturalmente, o governo português foi dos primeiros a subscrever), retoma a velha ideia do “trabalho mercadoria” como primeira prioridade a caminho do “Sol nascente” do hiperliberalismo competitivo. Em suma, os atuais desempregados de longa duração, os precários sobrequalificados que se recusem a emigrar, os beneficiários do RSI que se revelem pouco produtivos no trabalho comunitário, assim como os vagabundos e demais segmentos “preguiçosos”, serão definitivamente arredados para fora do sistema social, engrossando esta nova subclasse dos “pau-para-toda-a-obra”, prontos para o rápido enriquecimento dos seus amos. O princípio é este: de cada um segundo as suas capacidades, até à exaustão; a cada um segundo a sua subserviência devota ao capital. Eis o sonho colorido do liberalismo radical: o regresso do trabalho escravo.