SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  3
Télécharger pour lire hors ligne
São Paulo, 11 de outubro de 2011.



Análise da Nota da Organização Mundial do Comércio sobre a Relação entre Taxa de Câmbio
           1
e Comércio

Em resposta à iniciativa brasileira, no último dia 27 de setembro, a Organização Mundial de Comércio (OMC)
publicou nota sobre a relação entre câmbio e comércio. O documento constitui basicamente uma “atualizada
revisão bibliográfica” sobre o tema e não contém diretrizes futuras de como (e se) a instituição tratará dos
efeitos no câmbio no comércio. No entanto, a nota é inédita e importante ao reconhecer, com ressalvas, que as
variações e o valor das moedas podem influenciar os fluxos comercias.

Análise do Documento da OMC

• Instabilidade Cambial: a análise de um grande número de estudos concluiu que as incertezas relativas ao
valor da taxa de câmbio desestabilizam o comércio ao afetarem o lucro e reduzir a receitas das empresas,
principalmente produtoras de bens não commodities.

• Ponto relevante diz respeito à duração das oscilações. Caso elas ocorram em prazo curto de tempo, as
empresas tendem a ser menos reativas, porém, se estes movimentos permanecerem, a redução das
operações no mercado internacional é, em geral, a escolha das empresas.

• Nível da taxa de câmbio: a literatura que discute o nível da taxa de câmbio e sua relação com o crescimento
econômico é menos conclusiva, mas também reconhece que desalinhamentos cambiais geram alteração na
alocação de recursos.

                        2
• Algumas análises sugerem que a desvalorização pode impulsionar as exportações no curto prazo, mas gerar
                                                3
efeitos negativos no longo prazo. Outros estudos argumentam que pequena subvalorização pode beneficiar a
expansão do PIB enquanto outros afirmam, de forma parecida, que a supervalorização da moeda cria
dificuldades para o crescimento econômico na medida em que desestimula investimentos voltados à produção
industrial.

• As Empresas e as Cadeias de Produção Global: a atividade exportadora gera custos fixos relevantes para
as empresas. Desta forma, a OMC cita estudos que sustentam que apenas as empresas mais preparadas se
envolvem na atividade. Neste contexto, depreciações cambiais podem incentivar novos entrantes menos
eficientes.

• No entanto, parte mais importante deste item é a constatação de que os principais atores do comércio
internacional atuam com uma lógica de cadeias produtivas espalhadas ao redor do globo, sendo que a maior
parte dos produtos deve ser considerada made in the world. A OMC defende (embora não aprofunde o

1
    The Relationship between exchange Rate and International Trade: A Review of Economic Literature (WT/WGTDF/W/57).
2
    Estudos de Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e de autores como Robert Staiger e Alan Sykes.
3
  Estudos inclusive de autores brasileiros, como Paulo Gala (FGV) e André Nassif (UFPR) e outros Internacionais como de Williamsom, do Peterson
Institute for International Economy.



                                                                                                                                             1
argumento) que a relação entre comércio e câmbio pode mudar “substancialmente” neste caso.

• Volatilidade da taxa de câmbio e o comércio: a OMC notou que, em geral, a literatura sobre volatilidade do
câmbio gera impactos negativos no comércio e na decisão das empresas em exportar. No entanto, os efeitos
ocorrem de maneira distinta entre as diferentes empresas e de acordo com os países em que operam. O grau
de aversão ao risco das empresas e o acesso ao mercado de hedge são fatores que reduzem a
imprevisibilidade e, embora gerem custo, podem mitigar os efeitos da volatilidade das moedas.

• Coordenação Macroeconômica, Integração e Câmbio: nesta seção, a organização pautou-se por estudos
que analisam comparativamente processos de integração regional e o comércio. O ponto central da revisão da
OMC neste item diz respeito à coordenação macroeconômica entre os países do bloco, que geram mais
estabilidade às taxas de câmbio e estimulam o comércio já favorecido por tarifas.

Conclusões e Análise da FIESP

• Análise confere legitimidade à iniciativa brasileira: ao analisar as bibliografias existentes sobre a
volatilidade e nível de câmbio, a OMC apontou que em quase 50% dos estudos as oscilações cambiais,
principalmente no curto prazo, tem efeito negativo para o comércio.

• Embora não exista um posicionamento da entidade em relação a diretrizes futuras e se a mesma lidará com o
tema, a revisão bibliográfica feita pela OMC confere legitimidade proposta brasileira de que desalinhamentos
cambiais afetam o comércio.

• Cadeias de produção global e câmbio: parece frágil a alegação da OMC de que a organização da produção
industrial global em cadeias ao redor do mundo pode mudar substancialmente a discussão sobre câmbio.

• Justamente pelos avanços tecnológicos e das redes de transporte, essa organização pode aprofundar as
especializações internacionais e muitos países podem participar da cadeia global com baixo valor agregado e
pouca geração de emprego. Os grandes grupos tem capacidade de mudar investimentos (principalmente
aqueles voltados à exportação) de maneira célere e o nível de taxa de câmbio pode ser diferencial importante
para determinar a alocação dos investimentos em certos setores.

• A OMC já se pronunciou, falta o FMI: embora a nota da OMC tenha sido tímida, ela é de grande relevância,
pois é a primeira vez que a organização se pronuncia sobre o tema.

• As políticas cambiais dos países devem ser objeto de entendimento entre o FMI e a OMC, conforme preveem
o conjunto de normas das instituições. Este é o momento do FMI se pronunciar, pois segundo o artigo IV de
seu acordo, a instituição deve manter “firme supervisão” em relação às taxas de câmbio e evitar que os países
ganhem “vantagens artificiais” sobre outros membros.

• Assim como a OMC é responsável pela vigilância da política comercial dos países e produz regularmente
documento sobre cada país denominado Trade Policy Review, o FMI deve também divulgar periodicamente
este tipo de análise sobre as políticas cambiais.

• Taxa de câmbio é também assunto da OMC: conforme mencionado no último item, o lócus legítimo para
tratar da relação entre câmbio e comércio é o multilateral por meio da interação entre OMC e FMI.

• O artigo XV do GATT define que se as disputas entre países signatários envolverem temas como reservas
internacionais, política cambial ou balanço de pagamentos, o FMI deve ser “plenamente” consultado e suas
determinações aceitas. Portanto, é dever da OMC julgar o tema cambial, mas o FMI deve se posicionar
inicialmente.




                                                                                                                2
EQUIPE TÉCNICA
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP
Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior – DEREX
Diretor Titular: Roberto Giannetti da Fonseca                                Gerente: Frederico Arana Meira
Área de Análise Econômica do Comércio Exterior
Coordenador: Fabrízio Sardelli Panzini
Equipe: Paula Bolonha, Wellington Freire, Paulo Vitor Lira, Laura Gonçalves.
Endereço: Av. Paulista, 1313, 4º andar – São Paulo/SP – 01311-923            Telefones: (11) 3549-4234 Fax: (11) 3549-4730


                                                                                                                             3

Contenu connexe

Similaire à Análise da Nota da Organização Mundial do Comércio sobre a relação entre Taxa de Câmbio e Comércio

Harmonização contabil exercicios resolvidos
Harmonização contabil exercicios resolvidosHarmonização contabil exercicios resolvidos
Harmonização contabil exercicios resolvidosbelyalmeida
 
Apostila contab internacional
Apostila contab internacionalApostila contab internacional
Apostila contab internacionalprofessoradriano
 
A importância da contabilidade nacional
A importância da contabilidade nacionalA importância da contabilidade nacional
A importância da contabilidade nacionalUniversidade Pedagogica
 
Mercado cambial brasileiro
Mercado cambial brasileiroMercado cambial brasileiro
Mercado cambial brasileiroMalGomSam
 
Contabilidade internacional, normalização e harmonização contabilística
Contabilidade internacional, normalização e harmonização contabilísticaContabilidade internacional, normalização e harmonização contabilística
Contabilidade internacional, normalização e harmonização contabilísticaUniversidade Pedagogica
 
Economia internacional, cambio e ied final
Economia internacional, cambio e ied   finalEconomia internacional, cambio e ied   final
Economia internacional, cambio e ied finalWillian Fellipe
 
A importância das normas internacionais para as MPEs
A importância das normas internacionais para as MPEsA importância das normas internacionais para as MPEs
A importância das normas internacionais para as MPEsGuilherme Witte Cruz Machado
 
Aulas comercio internacional
Aulas comercio internacionalAulas comercio internacional
Aulas comercio internacionalBelenice Vieira
 
Como derrubar barreiras internacionais de comercio
Como derrubar barreiras internacionais de comercioComo derrubar barreiras internacionais de comercio
Como derrubar barreiras internacionais de comercioSaulo Pio Lemos Nogueira
 
A convergência contábil internacional
A convergência contábil internacionalA convergência contábil internacional
A convergência contábil internacionalDiego Carvalho
 
Contabilidade internacional
Contabilidade internacionalContabilidade internacional
Contabilidade internacionalDiego Carvalho
 
Ciclos de Comércio Exterior: um estudo comparativo entre Brasil e Espírito Santo
Ciclos de Comércio Exterior: um estudo comparativo entre Brasil e Espírito SantoCiclos de Comércio Exterior: um estudo comparativo entre Brasil e Espírito Santo
Ciclos de Comércio Exterior: um estudo comparativo entre Brasil e Espírito SantoMatheus Albergaria
 
A busca pela harmonização das normas internacionais de contabilidade e a conv...
A busca pela harmonização das normas internacionais de contabilidade e a conv...A busca pela harmonização das normas internacionais de contabilidade e a conv...
A busca pela harmonização das normas internacionais de contabilidade e a conv...Roberto Elias Nassif
 

Similaire à Análise da Nota da Organização Mundial do Comércio sobre a relação entre Taxa de Câmbio e Comércio (20)

Harmonização contabil exercicios resolvidos
Harmonização contabil exercicios resolvidosHarmonização contabil exercicios resolvidos
Harmonização contabil exercicios resolvidos
 
Gatt e omc
Gatt e omcGatt e omc
Gatt e omc
 
Gatt e omc
Gatt e omcGatt e omc
Gatt e omc
 
A economia global
A economia globalA economia global
A economia global
 
Apostila contab internacional
Apostila contab internacionalApostila contab internacional
Apostila contab internacional
 
Apostila Contab Intl.pdf
Apostila Contab Intl.pdfApostila Contab Intl.pdf
Apostila Contab Intl.pdf
 
A importância da contabilidade nacional
A importância da contabilidade nacionalA importância da contabilidade nacional
A importância da contabilidade nacional
 
Mercado cambial brasileiro
Mercado cambial brasileiroMercado cambial brasileiro
Mercado cambial brasileiro
 
Contabilidade internacional, normalização e harmonização contabilística
Contabilidade internacional, normalização e harmonização contabilísticaContabilidade internacional, normalização e harmonização contabilística
Contabilidade internacional, normalização e harmonização contabilística
 
Economia internacional, cambio e ied final
Economia internacional, cambio e ied   finalEconomia internacional, cambio e ied   final
Economia internacional, cambio e ied final
 
A importância das normas internacionais para as MPEs
A importância das normas internacionais para as MPEsA importância das normas internacionais para as MPEs
A importância das normas internacionais para as MPEs
 
Aulas comercio internacional
Aulas comercio internacionalAulas comercio internacional
Aulas comercio internacional
 
Economia Mundial
Economia MundialEconomia Mundial
Economia Mundial
 
Efeitos de alteracao em taxa de cambio
Efeitos de alteracao em taxa de cambioEfeitos de alteracao em taxa de cambio
Efeitos de alteracao em taxa de cambio
 
Eco9
Eco9Eco9
Eco9
 
Como derrubar barreiras internacionais de comercio
Como derrubar barreiras internacionais de comercioComo derrubar barreiras internacionais de comercio
Como derrubar barreiras internacionais de comercio
 
A convergência contábil internacional
A convergência contábil internacionalA convergência contábil internacional
A convergência contábil internacional
 
Contabilidade internacional
Contabilidade internacionalContabilidade internacional
Contabilidade internacional
 
Ciclos de Comércio Exterior: um estudo comparativo entre Brasil e Espírito Santo
Ciclos de Comércio Exterior: um estudo comparativo entre Brasil e Espírito SantoCiclos de Comércio Exterior: um estudo comparativo entre Brasil e Espírito Santo
Ciclos de Comércio Exterior: um estudo comparativo entre Brasil e Espírito Santo
 
A busca pela harmonização das normas internacionais de contabilidade e a conv...
A busca pela harmonização das normas internacionais de contabilidade e a conv...A busca pela harmonização das normas internacionais de contabilidade e a conv...
A busca pela harmonização das normas internacionais de contabilidade e a conv...
 

Plus de Fiesp Federação das Indústrias do Estado de SP

Plus de Fiesp Federação das Indústrias do Estado de SP (20)

Informativo DEREX - novembro/2016
Informativo DEREX - novembro/2016Informativo DEREX - novembro/2016
Informativo DEREX - novembro/2016
 
Informativo derex - outubro/2016
Informativo derex - outubro/2016Informativo derex - outubro/2016
Informativo derex - outubro/2016
 
Informativo do Derex – Setembro de 2016
Informativo do Derex – Setembro de 2016Informativo do Derex – Setembro de 2016
Informativo do Derex – Setembro de 2016
 
Apresentação emprego agosto 2016
Apresentação emprego agosto 2016 Apresentação emprego agosto 2016
Apresentação emprego agosto 2016
 
Naira Sato
Naira SatoNaira Sato
Naira Sato
 
Marcela Scavone
Marcela ScavoneMarcela Scavone
Marcela Scavone
 
Ladislau Martin
Ladislau MartinLadislau Martin
Ladislau Martin
 
Agustin Vargas
Agustin Vargas Agustin Vargas
Agustin Vargas
 
Apresentação Emprego - Julho 2016
Apresentação Emprego - Julho 2016Apresentação Emprego - Julho 2016
Apresentação Emprego - Julho 2016
 
Informativo derex - julho/2016
Informativo derex - julho/2016Informativo derex - julho/2016
Informativo derex - julho/2016
 
Apresentação conjuntura junho/2016
Apresentação conjuntura junho/2016Apresentação conjuntura junho/2016
Apresentação conjuntura junho/2016
 
Pesquisa Sensor - Julho/2016
Pesquisa Sensor - Julho/2016Pesquisa Sensor - Julho/2016
Pesquisa Sensor - Julho/2016
 
Apresentação Emprego - Junho 2016
Apresentação Emprego - Junho 2016Apresentação Emprego - Junho 2016
Apresentação Emprego - Junho 2016
 
Informativo do derex - Junho de 2016
Informativo do derex - Junho de 2016Informativo do derex - Junho de 2016
Informativo do derex - Junho de 2016
 
Sensor - junho/2016
Sensor -  junho/2016Sensor -  junho/2016
Sensor - junho/2016
 
Apresentação conjuntura - Maio/2016
Apresentação conjuntura - Maio/2016Apresentação conjuntura - Maio/2016
Apresentação conjuntura - Maio/2016
 
Informativo derex - Maio/2016
Informativo derex - Maio/2016Informativo derex - Maio/2016
Informativo derex - Maio/2016
 
Apresentação Emprego/Maio 2016
Apresentação Emprego/Maio 2016Apresentação Emprego/Maio 2016
Apresentação Emprego/Maio 2016
 
Apresentação conjuntura abril/2016
Apresentação conjuntura abril/2016Apresentação conjuntura abril/2016
Apresentação conjuntura abril/2016
 
Sensor - maio/2016
Sensor - maio/2016Sensor - maio/2016
Sensor - maio/2016
 

Análise da Nota da Organização Mundial do Comércio sobre a relação entre Taxa de Câmbio e Comércio

  • 1. São Paulo, 11 de outubro de 2011. Análise da Nota da Organização Mundial do Comércio sobre a Relação entre Taxa de Câmbio 1 e Comércio Em resposta à iniciativa brasileira, no último dia 27 de setembro, a Organização Mundial de Comércio (OMC) publicou nota sobre a relação entre câmbio e comércio. O documento constitui basicamente uma “atualizada revisão bibliográfica” sobre o tema e não contém diretrizes futuras de como (e se) a instituição tratará dos efeitos no câmbio no comércio. No entanto, a nota é inédita e importante ao reconhecer, com ressalvas, que as variações e o valor das moedas podem influenciar os fluxos comercias. Análise do Documento da OMC • Instabilidade Cambial: a análise de um grande número de estudos concluiu que as incertezas relativas ao valor da taxa de câmbio desestabilizam o comércio ao afetarem o lucro e reduzir a receitas das empresas, principalmente produtoras de bens não commodities. • Ponto relevante diz respeito à duração das oscilações. Caso elas ocorram em prazo curto de tempo, as empresas tendem a ser menos reativas, porém, se estes movimentos permanecerem, a redução das operações no mercado internacional é, em geral, a escolha das empresas. • Nível da taxa de câmbio: a literatura que discute o nível da taxa de câmbio e sua relação com o crescimento econômico é menos conclusiva, mas também reconhece que desalinhamentos cambiais geram alteração na alocação de recursos. 2 • Algumas análises sugerem que a desvalorização pode impulsionar as exportações no curto prazo, mas gerar 3 efeitos negativos no longo prazo. Outros estudos argumentam que pequena subvalorização pode beneficiar a expansão do PIB enquanto outros afirmam, de forma parecida, que a supervalorização da moeda cria dificuldades para o crescimento econômico na medida em que desestimula investimentos voltados à produção industrial. • As Empresas e as Cadeias de Produção Global: a atividade exportadora gera custos fixos relevantes para as empresas. Desta forma, a OMC cita estudos que sustentam que apenas as empresas mais preparadas se envolvem na atividade. Neste contexto, depreciações cambiais podem incentivar novos entrantes menos eficientes. • No entanto, parte mais importante deste item é a constatação de que os principais atores do comércio internacional atuam com uma lógica de cadeias produtivas espalhadas ao redor do globo, sendo que a maior parte dos produtos deve ser considerada made in the world. A OMC defende (embora não aprofunde o 1 The Relationship between exchange Rate and International Trade: A Review of Economic Literature (WT/WGTDF/W/57). 2 Estudos de Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e de autores como Robert Staiger e Alan Sykes. 3 Estudos inclusive de autores brasileiros, como Paulo Gala (FGV) e André Nassif (UFPR) e outros Internacionais como de Williamsom, do Peterson Institute for International Economy. 1
  • 2. argumento) que a relação entre comércio e câmbio pode mudar “substancialmente” neste caso. • Volatilidade da taxa de câmbio e o comércio: a OMC notou que, em geral, a literatura sobre volatilidade do câmbio gera impactos negativos no comércio e na decisão das empresas em exportar. No entanto, os efeitos ocorrem de maneira distinta entre as diferentes empresas e de acordo com os países em que operam. O grau de aversão ao risco das empresas e o acesso ao mercado de hedge são fatores que reduzem a imprevisibilidade e, embora gerem custo, podem mitigar os efeitos da volatilidade das moedas. • Coordenação Macroeconômica, Integração e Câmbio: nesta seção, a organização pautou-se por estudos que analisam comparativamente processos de integração regional e o comércio. O ponto central da revisão da OMC neste item diz respeito à coordenação macroeconômica entre os países do bloco, que geram mais estabilidade às taxas de câmbio e estimulam o comércio já favorecido por tarifas. Conclusões e Análise da FIESP • Análise confere legitimidade à iniciativa brasileira: ao analisar as bibliografias existentes sobre a volatilidade e nível de câmbio, a OMC apontou que em quase 50% dos estudos as oscilações cambiais, principalmente no curto prazo, tem efeito negativo para o comércio. • Embora não exista um posicionamento da entidade em relação a diretrizes futuras e se a mesma lidará com o tema, a revisão bibliográfica feita pela OMC confere legitimidade proposta brasileira de que desalinhamentos cambiais afetam o comércio. • Cadeias de produção global e câmbio: parece frágil a alegação da OMC de que a organização da produção industrial global em cadeias ao redor do mundo pode mudar substancialmente a discussão sobre câmbio. • Justamente pelos avanços tecnológicos e das redes de transporte, essa organização pode aprofundar as especializações internacionais e muitos países podem participar da cadeia global com baixo valor agregado e pouca geração de emprego. Os grandes grupos tem capacidade de mudar investimentos (principalmente aqueles voltados à exportação) de maneira célere e o nível de taxa de câmbio pode ser diferencial importante para determinar a alocação dos investimentos em certos setores. • A OMC já se pronunciou, falta o FMI: embora a nota da OMC tenha sido tímida, ela é de grande relevância, pois é a primeira vez que a organização se pronuncia sobre o tema. • As políticas cambiais dos países devem ser objeto de entendimento entre o FMI e a OMC, conforme preveem o conjunto de normas das instituições. Este é o momento do FMI se pronunciar, pois segundo o artigo IV de seu acordo, a instituição deve manter “firme supervisão” em relação às taxas de câmbio e evitar que os países ganhem “vantagens artificiais” sobre outros membros. • Assim como a OMC é responsável pela vigilância da política comercial dos países e produz regularmente documento sobre cada país denominado Trade Policy Review, o FMI deve também divulgar periodicamente este tipo de análise sobre as políticas cambiais. • Taxa de câmbio é também assunto da OMC: conforme mencionado no último item, o lócus legítimo para tratar da relação entre câmbio e comércio é o multilateral por meio da interação entre OMC e FMI. • O artigo XV do GATT define que se as disputas entre países signatários envolverem temas como reservas internacionais, política cambial ou balanço de pagamentos, o FMI deve ser “plenamente” consultado e suas determinações aceitas. Portanto, é dever da OMC julgar o tema cambial, mas o FMI deve se posicionar inicialmente. 2
  • 3. EQUIPE TÉCNICA Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior – DEREX Diretor Titular: Roberto Giannetti da Fonseca Gerente: Frederico Arana Meira Área de Análise Econômica do Comércio Exterior Coordenador: Fabrízio Sardelli Panzini Equipe: Paula Bolonha, Wellington Freire, Paulo Vitor Lira, Laura Gonçalves. Endereço: Av. Paulista, 1313, 4º andar – São Paulo/SP – 01311-923 Telefones: (11) 3549-4234 Fax: (11) 3549-4730 3