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MÓDULO VII – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ALUNOS
SURDOS
Professora: Melânia Melo Casarin
Carga horária: 25 horas



      Introdução


      Para pensar na educação hoje          é necessário perceber as        mudanças    de
comportamento que as tecnologias imprimiram na vida humana. Rompemos com espaços e
tempos secularmente instituídos e passamos a conviver com novos paradigmas cunhados
pela virtualização e globalização. É inquestionável que essas condições proporcionaram
novas formas dos homens agirem entre si, e consequentemente nas formas de educar,
exigindo uma reorganização do espaço escolar. Alguns elementos são fundamentais para
essa conquista, podemos citar o uso de recursos didático-pedagógicos compatíveis com os
recursos tecnológicos que dispomos hoje, um projeto pedagógico reflexivo sobre a ação
pedagógica, o papel do professor e sua qualificação, o papel do aluno, e o uso das de novas
Tecnologias na Educação da Informação e da Comunicação na Educação – TIC’s.
      Ao entender que essa disciplina Atendimento Educacional Especializado para
alunos, do Curso de Formação de Professores para o Atendimento Educacional
Especializado, busca discutir o acesso aos conteúdos curriculares pelos surdos sugerimos
na Unidade A, o estudo sobre os Aspectos Relevantes Acerca dos Surdos e a Acessibilidade
e na Unidade B, a Aprendizagem da Língua Portuguesa.




      Palavras-chave
      Educação, tecnologia, surdos




                                                                                         1
UNIDADE A:         ASPECTOS       RELEVANTES         ACERCA       DOS     SURDOS       E   A
ACESSIBILIDADE.


      A-1 Surdos, cognitivamente inferiores? Ou uma questão de acessibilidade?

      A história da educação dos surdos passou por diferentes momentos históricos, desde
a primeira escola para surdos, criação e aprendizagem de gestos (sinais metódicos), a
imposição da oralidade até a construção de um novo olhar pautado em aspectos
antropológicos onde prima-se pela cultura surda.
Em decorrência do crivo da oralidade e da medicalização da surdez a marginalização vivida
pelas comunidades surdas ocorreu em todas as instâncias possíveis, desde a representação
acerca dos surdos até as estratégias pedagógicas no ambiente escolar.

                       o que fracassou na educação dos surdos foram as representações ouvintistas
                       acerca do que é o sujeito surdo, quais são seus direitos lingüísticos e de
                       cidadania, quais são as teorias de aprendizagem que refletem as condições
                       cognitivas dos surdos, quais as epistemologias do professor ouvinte na sua
                       aproximação como os alunos surdos, quais são os mecanismos de participação
                       das comunidades surdas no processo educativo. (SKLIAR 1998, p. 21).


      Somente no século XX na década de 1960, o olhar sobre os surdos começou a se
deslocar da normativa da medicina para estudos etnográficos. No Brasil a Língua de Sinais é
denominada Língua Brasileira de Sinais (LBS), também denominada LIBRAS, “é uma língua
de modalidade gestual-visual, reconhecida como língua natural dos surdos e constitui o
“símbolo da surdez” (BRITO, 1993, p. 28). Hoje consideramos que a Língua de Sinais é o
único meio efetivo de comunicação entre os surdos, possibilitando-lhes se desenvolver
lingüístico-cognitivamente. Segundo SKLIAR (in SOUZA 1997, p. 271), “a língua de sinais é
uma língua plena, natural, não um código artificial de comunicação e como tal deve ser
pensada; é um direito dos surdos não uma concessão”.
       Essa nova percepção frente às comunidades surdas, no último século, reconhece o
status linguístico da língua de sinais e compreende que os surdos têm uma cultura surda.
Entendo cultura aqui não como algo único, estável, mas plural, representação de diferença.
      Considerações como essa têm mudado as representações acerca da surdez,
ocasionando na educação dos surdos significativas mudanças, exigindo que os professores


                                                                                               2
desses alunos ressignifiquem seus métodos de trabalho onde os recursos didáticos estejam
coerentes com o avanço tecnológico, e que a experiência visual constitua-se como uma
marca cultural e pedagógica em todo o processo de escolarização das pessoas surdas.

        A.2- Marca de uma cultura: a Língua de Sinais
      Somente no Séc XX, voltou-se a dar credibilidade à língua de sinais, quando Stokoe1
em 1960, publica um artigo onde descreve três parâmetros para a produção dos sinais:
tabulação, designação, configuração da signação.
         No Brasil a Língua de Sinais é denominada Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, e foi
reconhecida como meio legal de comunicação e expressão, fato que a tornou componente
curricular nas escolas. As línguas de sinais distinguem-se das línguas orais por serem da
modalidade gestual-visual. Hoje consideramos que a Língua de Sinais é o melhor meio
efetivo de comunicação entre os surdos, possibilitando-lhes desenvolver lingüístico-
cognitivamente.
         Segundo Skliar in Souza (1997:271), a LS é uma língua plena, natural, não um código
artificial de comunicação e como tal deve ser pensada; é um direito dos surdos não uma
concessão.
         Essa nova racionalidade frente às comunidades surdas, no último século
compreende que os surdos têm uma cultura, entendida aqui não como algo único, estável,
mas plural, de representação de diferença.
         Pode-se perceber a cultura surda como Perlin (2004:76) sugere:

                              Conhece-se e compreende-se a cultura surda como uma questão de diferença, um
                              espaço que exige posições que dão uma visão do entre lugar, da diference, da
                              alteridade, da identidade. Percebe-se que o sujeito surdo está descentrado de uma
                              cultura e possui uma outra cultura.


        Ainda em Perlim (1998:56) lê-se:

                              A cultura surda como diferença se constitui como uma atividade criadora, símbolos
                              de práticas jamais aproximados na cultura ouvinte. Ela é disciplinada por uma
                              forma de ação e atuação visual e não auditiva.


        Nessa perspectiva entender a educação dos surdos requer pensar para além das
questões clínicas, audiológicas e de reabilitação, mas construir um conhecimento sobre os
surdos que aponte para as questões da diferença, da cultura e da identidade surda. O que
significa refletir sobre diferentes questões como: a surdez constitui uma diferença que deve
ser reconhecida, é uma identidade múltipla que se gesta e se constrói nas vivências
cotidianas das comunidades surdas e principalmente a surdez constitui uma experiência
efetivamente visual.



1
   AUTOR- William Stokoe- lingüista americano que publicou o artigo “Sign Language Structure: Na Outline of the Visual
Communication System of the American Deaf”, demostrando que a ASL é uma língua com todas as características das
línguas orais.


                                                                                                                    3
Na década de 80, um grupo de surdos, passa a participar da FENEIDA2, alterando o
nome e o estatuto dessa instituição para FENEIS3. Klein (2005:22), caracteriza o papel
dessas entidades:

                            Nesses espaços eles procuram se encontrar para compartilhar da língua e de
                            experiências as mais variadas. Suas atividades, na grande maioria, voltam-se ao
                            lazer e ao esporte, havendo em algumas associações, mobilizações mais políticas
                            , como a oficialização da Língua de Sinais e a garantia da presença de intérpretes
                            em situações diversas.



      Fatores como esses estão reconfigurando as formas de representar os surdos e a
surdez, apontando os surdos numa perspectiva mais ampla de educação chamada de
Estudos Culturais, onde os estudos surdos estão sendo contemplados.
      Skliar in Souza (1997:274) define estudos surdos como:

                            um campo de investigação e de proposições educacionais que, através de um
                            conjunto de concepções lingüísticas, multiculturais e antropológicas, definem uma
                            particular aproximação ao conhecimento de mundo dos surdos. Nesta definição
                            ficam excluídas todas as referências ao universo da audiologia e das deficiências
                            auditivas, pois elas não cumprem nenhum papel na construção das experiências
                            educacionais, nem comunitárias, nem culturais dos surdos .

       Nessa perspectiva, o sujeito surdo apresenta uma diferença sócio-lingüística, ou seja,
ele interage com o mundo a partir de uma experiência visual. Todas as suas construções
mentais se dão pelo canal espaço-visual mediados pelo seu instrumento natural de
comunicação: a língua de sinais e a língua escrita.
       Além de viabilizar todos os processos cognitivos, lingüísticos, éticos, artísticos,
intelectuais do surdo, a língua de sinais constitui, conforme este modelo, um elemento
identificatório entre estes sujeitos. Ao compartilharem uma língua comum, os surdos passam
a se reconhecer como membros de uma comunidade singular.
       De acordo com Wrigley (1996, p. 3): “o mundo visual percebe e produz a significação
através de canais visuais de uma lingüística espacial. Não é um mundo necessariamente
melhor ou pior, apenas distinto e diferente.” Seguindo esta linha teórica, convém destacar
que os surdos manifestam sua diferença lingüística e cultural na formação de comunidades
surdas.
       Entretanto, convém ressaltar que as comunidades de surdos não são consideradas
apenas espaços de lazer, entretenimento, práticas de esportes... A comunidade surda é,
sobretudo, um espaço de articulação política na busca pelo reconhecimento da surdez como
diferença. E exatamente nesse sentido, os surdos, podem ser vistos como criando uma
diferença política.
        Considerações como essa têm mudado as representações acerca da surdez e dos
surdos, ocasionando, na educação dessas pessoas, significativas mudanças, que exigem

2
 GLOSSÁRIO- FENEIDA - Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente Auditivo.
3
 GLOSSÁRIO- FENEIS- Federação Nacional de Educação e Inclusão dos Surdos, para conhecer a FENEIS acesse o site:
www.feneis.com.br.
CONTEUDO RELACIONADO – Para ler sobre eventos da comunidade surda, acesse: http://www.surdosol.com.br/




                                                                                                             4
novas meios de interação lingüística com os alunos surdos, isto é, hoje se prevê a educação
dos surdos materializada pela proposta de Educação Bilíngüe.




       A.3- A Experiência visual, Educação Bilíngüe, e Currículo na Sala de aula de
surdos.
       A diferença na percepção de mundo para as comunidades surdas perpassa as
também uma interface relativa a experiência visual. Sabemos que o contato com o mundo a
interação com o meio para os surdos se constrói a partir do canal viso-manual, e não através
da oralização. Esse fato está diretamente ligado a construção cultural, e a visão que temos
de nós enquanto sujeitos culturais, quais nossas impressões sobre o mundo, o que somos,
para onde vamos? É nesse sentido que se torna tão importante falarmos da comunidade
surda, pois é nesse contexto, que os valores culturais das pessoas surdas, são criadas,
nutridas e efetivamente vivenciadas.
       Para Strobel (2008, p. 39):

                             os sujeitos surdos, com sua ausência de audição e do som, percebem o mundo
                             através de seus olhos, tudo o que ocorre ao redor deles: desde os latidos de um
                             cachorro – que é demonstrado por meio dos movimentos de sua boca e da
                             expressão corpóreo-facial-bruta – até de uma bomba estourando, que é obvia aos
                             olhos de um sujeito surdo pelas alterações ocorridas no ambiente, como os objetos
                             que caem abruptamente e a fumaça que surge.


       Essa diferença de percepção do mundo para os surdos, consolida-se todos os dias
em seu cotidiano, não só através do olhar, da visão, da pessoa surda, mas da forma como
se comunicam, suas expressões, corporais, faciais, etc. Enfim todos os meios que usam para
se comunicar, e acima de tudo por meio da língua de sinais.
       Essas considerações são fundamentais quando nos reportamos ao espaço escolar,
Como pensar a sala de aula para alunos surdos? Os recursos pedagógicos e didáticos que
devem ser valorizados e trazidos para esse contexto? Para contemplar esses aspectos é
importante que o professor e toda a comunidade escolar tenha conhecimento da educação
bilíngue.
       Já postulada em legislação que a educação bilíngüe é um direito daqueles que
utilizam uma língua diferente da língua oficial do país, de serem educados na sua língua. Em
relação aos estudantes surdos, a legislação brasileira define que a instrução e o ensino da
língua de sinais dos alunos surdos, e da língua portuguesa devem estar presentes no
contexto escolar.
       O bilingüismo4 pressupõe a língua de sinais para o ensino de todas as disciplinas.
Essa língua têm, segundo os preceitos da educação bilíngüe, o status de primeira língua

4
 ASSUNTO- Para ler mais sobre bilingüísmo leia o capítulo 2 da obra: GOLDFELD, Marcia. A Criança Surda: linguagem e
cognição numa perspectiva sociointeracionista. 2.ed. São Paulo: Plexus, 2002. FERNANDEZ. Eulalia. QUADROS, Ronice
Muller de. (orgs) Surdez e Bilingüismo. Porto Alegre. Mediação. 2005.
eou www.fe.unicamp.br/dis/ges/ , http://www.ges.ced.ufsc.br/




                                                                                                                 5
dos surdos, a qual deve ser adquirida num contexto comunicacional natural, isto é sem
imposição, no meio de outros surdos maiores, dominantes desta língua e agentes de
construção lingüística, cognitiva e de identidade. Outras interfaces fazem parte das propostas
de uma educação bilíngüe, isto é, outros sujeitos na escola terão papel importante na difusão
da língua de sinais e dos valores de uma educação bilíngüe, como é caso dos funcionários,
administradores e principalmente da família dos surdos. Como pode ser visto, essa proposta
não está centrada no professor e nos alunos surdos, mas em toda a estrutura escolar. A
família é parte fundamental, pois, torna-se necessária a aprendizagem da língua de sinais,
pelos irmãos, pais e demais familiares, para que também em casa a Libras possa ser
utilizada por todos.. Goldefeld (1997:40) enfatiza:

                        é sabido que mais de 90% dos surdos tem família ouvinte. Para que a criança
                        tenha sucesso na aquisição da língua de sinais, é necessário que a família também
                        aprenda esta língua para que assim a criança possa utilizá-la para se comunicar
                        em casa.

        Botelho (2002:112) colabora: a língua de sinais também existe como disciplina
curricular nos vários níveis escolares. Os surdos aprendem também sobre as línguas de
sinais de outros países, sobre a organização de surdos, sobre a Cultura Surda e outros
temas de importância.
        Nesse contexto a língua portuguesa escrita deverá ser ensinada como língua oficial,
requerendo necessariamente o uso de metodologias específicas para a aprendizagem de
segunda língua.. Entendemos que a educação bilíngüe é a forma mais legítima de
demonstrar as condições sócio-antropológicas, lingüísticas, culturais das comunidades
surdas.
        Partindo desse olhar, a escola deverá pensar em modelos pedagógicos que venham
ao encontro dessa realidade, contemplando, segundo Skliar (1990:53), condições de acesso
à língua de sinais e a segunda língua, à identidade pessoal e social, à informação
significativa, ao mundo do trabalho e a cultura surda. Sabemos que a segunda língua no
caso dos surdos é a língua portuguesa, a qual exige para seu aprendizado, condições de
ensino de língua estrangeira. Falaremos sobre esse tema na próxima unidade.
        Para estudarmos sobre o currículo seria oportuno definirmos o que entendemos sobre
currículo, porém essa não é uma tarefa fácil. Currículo assim como outros termos tem tido
seu significado modificado ao longo dos tempos, percebido e abordado em diferentes
perspectivas no campo educacional. Duas grandes tendências marcaram a questão do
currículo.
        A primeira versão é defendida por aqueles que chamamos de conteudistas, isto é,
aqueles que entendem que o objetivo maior da escola é a transmissão de conteúdos. Na
segunda versão encontramos autores que defendem a importância das experiências vividas
pelos alunos no contexto escolar. Nesse sentido e sob essa ótica imprimimos um significado
fundamental para o currículo.
        Entendemos, portanto que estamos diante de duas situações: “o que ensinar e “como
ensinar”, mas entendemos também que uma não exclui a outra, pelo contrário, se constroem
e se complementam.




                                                                                                       6
Seria importante, porém não cabe nesse momento um resgate histórico sobre o
conceito de currículo5 e como a escola foi influenciada pelas concepções brasileiras de
currículo. O que nos interessa precisamente são as concepções sobre currículo na
educação dos surdos6. . Nesse documento podemos perceber os fundamentos filosóficos e
sóciopolíticos da educação até os marcos teóricos e suporte técnicos que se efetivam no
universo da escola relacionando a teoria e a prática. O projeto político pedagógico da escola
deve refletir o caráter político, cultural. os interesses, as aspirações, as dúvidas e as
expectativas da comunidade escolar. Sendo assim o currículo é o espaço disponível e
possível de refletir a cultura escolar.
       Outros documentos 7que referendam a Política Nacional fundamentam e orientam as
ações voltadas para os alunos surdos, numa abordagem de educação bilíngüe. Entre esses
documentos encontra-se a Sala de Recursos Multifuncionais que define, entre outras
questões, o papel do professor da sala de recursos para atendimento às necessidades
educacionais especiais dos alunos com surdez ou deficiência auditiva, com as seguintes
funções, conforme MEC et al (2006: 25):
            Complementar os estudos referentes aos conhecimentos construídos nas
              classes comuns do ensino regular;
            Ofertar suportes pedagógicos aos alunos, facilitando-lhes o acesso a todos os
              conteúdos curriculares;
            Aprofundar os estudos relativos à língua portuguesa principalmente na
              modalidade escrita
            Outros documentos referendam a política nacional, fundamentando e
              orientando as ações voltadas para os alunos surdos, numa abordagem de
              educação bilíngüe conforme o decreto nº 5626/2005 Arts. 15 e 16 que dispõe:

        Art.15. Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de Libras e
        o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem ser
        ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e instrumental, como:

                I-       atividades ou complementação curricular específica na educação infantil
                         e anos iniciais de ensino fundamental; e



5
  ASSUNTO- Para ler mais sobre currículo leia: Moreira, Antonio Flavio Barbosa. Currículo: questões atuais. Campinas,
São Paulo. Papirus, 1997.

6
  Atrevo-me nesse trabalho a apontar algumas questões centrais que poderão colaborar para uma educação de qualidade
para os surdos brasileiros:
        O currículo para surdos deve contemplar discussões acerca da cultura, língua, linguagem;
        História das línguas de sinais;
        Estudar o conceito de multiculturalismo, interculturalidade, diferença, diversidade;
        Problematizar o conceito de deficiência;
        Contemplar estudos acerca da história dos surdos, e não só dos surdos brancos, europeus;

7
  ASSUNTO- Estou fazendo referência ao texto do MEC/SEESP, que discute sobre Saberes e práticas da inclusão:
dificuldades de comunicação e sinalização. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. 2004. No texto há
temas sobre a operacionalização da educação bilíngüe, sugestões das funções do professor surdo e do professor ouvinte,
considerações sobre a língua de sinais -LIBRAS, língua portuguesa escrita e sugestões de atividades em relação ao último
tema.


                                                                                                                      7
II-     áreas de conhecimento, como disciplinas curriculares, nos anos finais do
                         ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior.

       Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, na educação básica, deve ser
ofertada aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, preferencialmente em turno distinto
ao da escolarização, por meio de ações integradas entre as áreas de saúde e da educação,
resguardando o direito de opção da família ou do próprio aluno por essa modalidade.

        Recomendamos, para essa atuação, atividades contempladas em projetos
pedagógicos que percebem o aluno como um sujeito integral, enfocando todas as áreas do
conhecimento        humano       como:       lingüístico,     social,    emocional,     motor,
imaginário...Desnecessário elucidar que para uma atuação de qualidade com alunos surdos
é inquestionável o conhecimento acerca da língua de sinais por parte do professor da sala de
recursos, assim como planos de ação pautadas numa pedagogia que parta de experiências
visuais, valorativa do canal viso-manual da língua dos surdos. Porém sabe-se que apenas
fazer uso da língua de sinais, não assegura um trabalho pedagógico de qualidade.
        Nesse texto apresentaremos sugestões de projetos pedagógicos que poderão ser
utilizados na sala de recursos tanto na educação infantil como no ensino fundamental. Um
dos projetos volta-se para a aprendizagem a partir do lúdico, e o que outro faz considerações
acerca da literatura. A escolha por esses projetos justifica-se por entender que os mesmos
otimizam a experiência visual na sala de aula de surdos. Sugerimos nesse trabalho
atividades que valorizem o lúdico na sala de aula e a literatura na sala de aula.
       Sobre o brinquedo sabemos que na Antigüidade8 as crianças participavam das
mesmas brincadeiras9 dos adultos. Toda a comunidade participava das festas e
brincadeiras, com a finalidade de estreitar os laços afetivos.
     Hoje, dentro de uma visão sócio-histórica, a criança está constantemente modificando-
se por estar imersa na sociedade, interagindo com os adultos. Esse desenvolvimento ocorre
através da interação e das experiências sociais.
    A criança, quando ingressa na educação infantil, começa a interagir10 com os
ambientes, que nem sempre são condizentes com aquele que ela faz parte. Está inserida
num ambiente diferente, com ritmos diferentes, com objetos, ações e relações ainda

8
 GLOSSÁRIO - Antiguidade -Compreende os momentos que vão desde a utilização da escrita até a Queda do Império
Romano do Ocidente, em 476.
       9
         Essas brincadeiras, jogos e divertimentos eram vistos sob dois aspectos. Uma parte da sociedade aceitava este
tipo de atitude, percebendo-as como meio de crescimento social, os outros recriminavam, pois associavam aos prazeres
carnais, ao vício e ao azar.Com o passar dos tempos houve uma preocupação com a moral, a saúde e o bem comum e
passou-se a elaborar propostas baseadas no jogo especializado, de acordo com a idade e o desenvolvimento da criança.
Posteriormente deixou-se de ver a brincadeira apenas como um ato lúdico. Ela passou a ser valorizada no espaço
educativo.A partir das décadas de 60 e 70 do século XX, a psicologia do desenvolvimento e a psicanálise contribuíram para
que se entendesse a infância como o período principal do desenvolvimento humano, enfatizando o papel da brincadeira na
educação infantil. O brincar não poder ser concebido nem como direito nem como dever. As brincadeiras da criança são
uma estrutura ligada às características da espécie humana.
10
   CONTEUDO RELACIONADO- Partindo da visão-sociointeracionista o homem é um ser geneticamente social. Desta
forma, o crescimento intelectual ocorre a partir da apropriação de conhecimentos culturais, conseqüentemente, dos
processos de ensino e aprendizagem. Não basta estar em grupo para que ocorra a aprendizagem, o ensino ou o
desenvolvimento. É necessário que ocorra interação entre os membros do grupo.




                                                                                                                       8
desconhecidos. Esta diversidade e heterogeneidade são elementos primordiais para o
enriquecimento do desenvolvimento das crianças.
     Através da brincadeira, a criança pode experimentar novas situações, na perspectiva de
uma educação criadora, voluntária e consciente. O brinquedo proporciona mudanças no que
se refere às necessidades e à consciência da criança. A criança, com o brinquedo, pode
colocar hipóteses, desafios, além de construir relações, com regras e limites impostos pelos
adultos.
     No processo da educação infantil, o papel do professor é primordial, pois é aquele que
cria espaços, oferece os materiais e participa das brincadeiras11, e faz mediação da a
construção do conhecimento. O professor fazendo parte da brincadeira terá oportunidade de
apresentar valores e a cultura da sociedade. O professor estará possibilitando a
aprendizagem da maneira mais criativa e social possível.
      O brinquedo, visto como objeto, suporte da brincadeira, permite à criança criar, imaginar
e representar a realidade e as experiências por ela adquiridas. Desta forma, o brinquedo é
visto como a representação das experiências, da realidade que a criança faz parte.
      Além disso, o brinquedo também pode ser visto como fruto da imaginação. É através
dele que a criança pode representar o mundo imaginário que ela criou. Essa questão
imaginária pode variar de acordo com a idade. Aos 3 anos a imaginação é carregada de
animismo12, dos 5 aos 6 anos a criança inclui nesse processo imaginativo elementos da
realidade e na fase adulta passa a utilizar elementos culturais. Independente de cultura, raça,
credo ou classe social, toda a criança brinca. Todos os seus atos estão ligados à brincadeira,
ela interage, através do brinquedo, desde cedo, com a cultura em que está inserida.
     Com a intenção de aproximar o aluno da escola e mantê-lo motivado neste ambiente,
deve-se utilizar recursos que diversifiquem a prática pedagógica, buscando tornar o espaço
da sala de aula aconchegante, divertido, descontraído, propiciando o aprender dentro de
uma visão lúdica.
      O ato de brincar, independente do espaço em que ocorra, deve ser valorizado por se
constituir num instrumento de aquisição de novos conhecimentos e de aprendizado das
regras e normas adultas vigentes na sociedade, contribuindo com a formação de um cidadão
crítico e atuante.
      Segundo Cunha (2004:12):
                               as situações de jogo trazem um desafio maior, que é a competição, mas precisam
                               ser conduzidas compreensivamente para que não ressaltem diferenças individuais.
                               Os jogos cooperativos e os jogos em grupo têm vantagem de estimular a
                               cooperação entre os participantes. .




11
   SAIBA MAIS- História do brinquedo. acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Brinquedo. Para saber mais sobre brinquedo e a
educação, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301997000200011. Para saber mais
sobre tipos de brinquedos: Brinquedo tradicional e popular, acesse:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301997000200011
12
  GLOSSÁRIO – Tendência a considerar todos os seres da natureza como dotados de vida e capazes de agir conforme
sua finalidade.


                                                                                                                        9
Quanto menor for à criança, mais a brincadeira será a atividade central e essencial, e
as atividades dirigidas aparecerão progressivamente, sempre relacionadas com as atividades
de jogo. Podemos apontar alguns tipos de jogos: Jogos de comunicação, Jogos motores,
Jogos simbólicos, Jogos folclóricos, jogos virtuais etc...
      Ao professor cabe saber utilizar os jogos e brincadeira em aula, numa perspectiva
educacional, para que as crianças possam se apropriar do mundo. Elementos como:
observação, formas de intervenção, atividades dirigidas são algumas posturas necessárias
para que efetivamente uma educação de qualidade. Não se pode esquecer do papel do
professor como aquele que promove as estratégias sociais, lingüísticas e cognitivas, num
contexto educativo, fornecendo subsídios para a construção dos conhecimentos que serão
adquiridos, servindo-se do brincar.

        Outra sugestão de atividade que promove a otimização da experiência visual na sala
de aula de surdos é a literatura.13
        A literatura infantil 14é atribuída uma função social que a torna imprescindível e que
decretou seu aparecimento, sendo este, de caráter preparatório e missão formadora com a
intenção de incutir na criança certos valores de natureza social e estética, como também,
propiciar a adoção de hábitos de consumo ao estimular a aquisição de livros com freqüência
ou hábitos de comportamentos socialmente preferidos, sejam eles de adoção de boas
maneiras ou estímulo a atitudes de questionamento das bases de organização da sociedade.
        O que garante a necessidade e a importância da literatura infantil no seio da vida
social é seu caráter educativo e complementar à atividade pedagógica exercida no lar e na
escola, pois, a origem primária dos textos escritos para crianças está relacionados com os
ensinamentos pedagógicos e não exclusivamente literários.
        A literatura infantil tornou-se um instrumento através do qual se apresenta às crianças,
valores da geração adulta, pois, embora sendo consumida por crianças, a reflexão sobre o
produto oferecido a elas provém do adulto, que a analisa de acordo com seus interesses. .
        Ainda hoje se discute quando foi o marco inicial da literatura infantil propriamente dita,
ou seja, quando se começou a escrever com intenção de fornecer literatura apropriada para
crianças, levando-se em consideração os aspectos da sua evolução mental e emocional.
        Antes mesmo de serem escritas, as histórias de ficção e os contos existiam e
passavam de geração a geração, pela tradição oral, através de jograis, de contadores de
histórias ou simplesmente pela necessidade de comunicação entre as pessoas. Os serões
tornaram-se um hábito diário, pois não existiam outros meios de recreação. Durante o

13
    O surgimento da literatura infantil decorreu da ascensão da família burguesa, no século XIX, do novo status concedido à
infância na sociedade e no âmbito doméstico e da reorganização da escola. Para a classe média, a educação é um meio de
ascensão social, e a literatura, um instrumento de difusão de seus valores, tais como a importância da alfabetização, da
leitura e do conhecimento, no comportamento moral aceitável e no esforço pessoal.

14
   SAIBA MAIS- Para ler sobre literatura: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:
Scipione, 1989. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 10ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
KAERCHER, Gládis. “E por falar em literatura”. In: Literatura infantil: pra que te Quero. (Org.) Carmem M. A. CRAIDY e
Gládis KAERCHER. Porto Alegre: UFRGS/Governo do RS. 1998.
LADEIRA, Idalma. Fantoche e Cia. São Paulo: Scipione, 1998.
ROSEMBERG, Fúlvia. Literatura infantil e ideologia. São Paulo: Global, 1984.
SZPIGEL, Marisa. “Arte em classes de pré-escola”. In: Arte na sala de aula. (Coord.) Zélia CAVALCANTI. POA: Artes
Médicas, 1995.




                                                                                                                        10
século XVII, foram escritas histórias que vieram a ser consideradas como literatura
apropriada à infância: o conto de fadas.
       As origens dos contos de fadas são as mais diversas, mas o que se tornou ponto
concreto é que a fonte oriental e céltica é a mais antiga da literatura popular maravilhosa, e
está integrada no folclore de todas as nações do mundo ocidental.
       O que não foi possível determinar, após muitos estudos e pesquisas, é quais foram as
fontes ou textos-matrizes que originaram a literatura maravilhosa, de produção anônima e
coletiva , sendo que, um fundo comum entre todas elas foi detectado no momento em que se
percebeu a coincidência de episódios, motivos etc., em contos pertencentes a regiões
geograficamente tão distantes entre si e com culturas, línguas ou costumes absolutamente
diferentes.
       Vindos da tradição oral, os contos e lendas da Idade Média15 foram adaptados pela
primeira vez pelo francês Charles Perrault16, no século XVII, conforme Ligia Cademartori
(1987), apontado como o iniciador da literatura infantil. Esta coleta de contos e lendas
populares com suas adaptações constitui os chamados contos de fadas e, sendo fiéis à sua
origem, as histórias mantêm a estrutura tradicional dos contos folclóricos.
       Na Segunda metade do século XVIII, a literatura deixa de ser um jogo verbal, para se
caracterizar pela busca do conhecimento. A palavra de ordem do Iluminismo17 era instruir. A
preocupação didática transformava o livro da criança num verdadeiro manual de Ciências,
criando, assim, uma nova literatura.
       Nesta época distinguisse dois tipos de crianças, com acesso a literatura bem
diferente: a criança da nobreza, orientada por preceptores, lia geralmente os grandes
clássicos e a criança das classes desprivilegiadas liam ou ouviam as histórias de cavalaria,
de aventuras. As lendas e os contos folclóricos formavam uma literatura de cordel
endereçadas às classes populares.
       No século XIX, outra coleta de contos populares é realizada, na Alemanha, pelos
Irmãos Grimm18, alargando a antologia dos contos de fadas.
       Como não poderia deixar de ser, no Brasil, a literatura tem início com obras
pedagógicas e, sobretudo adaptadas de produções portuguesas..
       A segunda metade do século XIX caracterizou-se pela literatura infantil propriamente
dita, sem preocupação didática, mas conseguindo agradar simplesmente pela arte de
despertar o interesse e prender a atenção da infância. Os contos de ficção, o folclore do
15
   GLOSSÁRIO- Idade Média- Abrange um longo período da história que vai desde a queda do Império Romano do
Ocidente, em 476, até a tomada de Constantinopla, em 1453.

16
   AUTOR- Charles Perrault- Para conhecer a história de Charles Perrault, acesse:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Perrault
17
   GLOSSÁRIO-IIuminismo - Para ler sobre esse tema acesse: Iluminismo
http://www.saberhistoria.hpg.ig.com.br/nova_pagina_31.htm
http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/iluminismo/
http://www.suapesquisa.com/historia/iluminismo/

18
   SAIBA MAIS - Para ler sobre os Irmãos Grimm acesse: http://www.graudez.com.br/litinf/autores/grimm/grimm.htm eou
http://members.tripod.com/volobuef/page_maerchen_grimm_obras.htm
CONTEUDO RELACIONADO- Para conhecer outro grande escritor da literatura clássica infanto-juvenil -
Hans_Christian_Andersen, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Christian_Andersen




                                                                                                                   11
passado, invadiram o mundo infantil, em forma de traduções, adaptações, imitações,
compilações, vindo sempre, de encontro ao gosto da criança e interessando-a
profundamente.
        Os contos de fadas são as formas literárias mais valorizadas. Suas origens têm raízes,
como a história nos mostra, em tempos primitivos, onde o desconhecido exercia sobre a
humanidade um desafio constante. A Literatura é uma das expressões mais significativas
desse desejo permanente de saber e de domínio sobre a vida, que caracteriza o homem de
todas as épocas.
            Existem elementos essenciais para estruturar o conto de uma história, ou seja, a
introdução, o enredo, o clímax e o desfecho.
        A introdução é a parte inicial e preparatória, tem por objetivo localizar o trecho da
história no tempo e no espaço, apresentar os principais personagens e caracterizá-los. Deve
ser curta e dar as informações necessárias para facilitar a compreensão.
        O enredo é formado pela sucessão dos episódios, os conflitos que surgem e a ação
dos personagens.
        É importante destacar no enredo o que é essencial e o que são detalhes. O essencial
deve ser contado na íntegra e os detalhes podem fluir por conta da criatividade do narrador
no momento.
        O clímax deve ser o ponto culminante da história. Surge como uma resultante de
todos os acontecimentos que formam o enredo. Em uma história bem elaborada apresenta
vários pontos emocionantes. Ex.: O gato de Botas, onde várias passagens se destacam pela
emoção que despertam o ponto culminante, porém, só se apresenta quando o gato entra em
luta com o gigante que era feiticeiro e se transformam num camundongo. Cabe ao professor
dar maior suspense a fim de aguçar a curiosidade dos ouvintes.
        Após serem apresentadas as passagens emocionantes onde atingiram o ponto
culminante da história, esta será encaminhada para o desfecho, ou seja, o final da história.
         O professor antes de trabalhar com histórias deve levar em consideração alguns
aspectos como:
        - Faixa etária que a criança se encontra;
        - Nível de desenvolvimento cognitivo;
        - O assunto deve se adequar ao interesse da criança;
        - Material a ser utilizado;
        - Preparação do ambiente.
        - Conhecimento da língua de sinais;

       O professor deve usar uma linguagem correta, simples e clara. Deve falar olhando
para a criança, como também enriquecer a exposição com expressões faciais. A história
deve ser contada em língua de sinais por um surdo adulto ou pelo professor bilíngüe . Deve
fazer uso de preferência de recursos visuais como gravuras e / ou dramatizações.
Ressaltamos que histórias infantis em língua de sinais já podem ser encontradas no Brasil.
Consideramos importante o professor, no trabalho com surdos, utilize também a literatura
surda19.
19
   SAIBA MAIS – Literatura e Literatura Surda - Para ler sobre esse tema acesse:
http://143.106.58.55/revista/viewarticle.php?id=114- eou leia o artigo de: SILVEIRA, Hessel Rosa. Contando história sobre
surdos (as) e surdez. in COSTA , Marisa Vorraber & VEIGA -NETO Alfredo. (org). Estudos Culturais em Educação: mídia,
arquitetura, brinquedo, biologia, literatura, cinema...2 ed. Porto Alegre, Editora da UGRGS. 2004. CADEMARTORI, Ligia. O
que é literatura infantil ? São Paulo, Brasiliense, 1991. GIRARDELLO. Gilka. Introdução. In GIRARDELLO. Gilka. (org).


                                                                                                                       12
Para contar histórias, diferentes materiais podem ser utilizados:.
        - Reproduzir com material de sucata situações vividas pela criança, inventar histórias
com material de sucata, histórias participadas, montar quadros de seqüência lógica, contar
histórias por fichas, com ou sem escrita, livros, história em quadrinhos, CD-ROM de
Literatura.
        O professor pode utilizar alguns recursos como: slides, retroprojetor, dramatização,
onde o professor ou os alunos interpreta uma personagem, uso de máscaras, uso de
marionetes ou fantoches, desenhos da história pelos alunos, etc...
        A história é uma técnica que pode ser utilizada pelo professor para introduzir ou
explorar um conteúdo, como culminância de uma unidade de trabalho. Porém nunca esqueça
que não podemos suprimir o aspecto prazeroso e agradável de ler, ou seja, usar história
infantil apenas como um método, com o único objetivo de ensinar algum conteúdo.
        Todo o trabalho que envolva aquisição de conhecimentos históricos, geográficos e
mesmo de ciências naturais, se forem coloridos por uma história provavelmente sejam mais
bem compreendidos e assimilados.
        Exemplo: A professora poderá utilizar a técnica do conto de histórias, para introduzir
noções como: dentro, fora, em cima, embaixo, na frente, entre outros. A utilização desta
técnica proporcionará às crianças visualizarem uma situação concreta, e depois vivenciarem
a mesma através da dramatização. Isto lhes proporcionará uma melhor compreensão destes
conteúdos.




Baús e chaves da narração de histórias. Florianópolis: SESC/SC, 2004. KRAERCHER, Gládis. Por falar em literatura.
Porto Alegre. 1998.
LEBEDEFF, Tatiana B. Práticas de letramento na pré escola de surdos: reflexões sobre a importância de contar histórias.
In: THOMA, Adriana da S, LOPES, Maura C. (orgs). A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no
campo     da        educação.  Santa    Cruz    do    Sul:    EDUNISC,      2004.    p.   128-142.        e   acesse:
143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=276&article=110&mode=pdf –
143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=274&article=112&mode=pdf -
CONTEUDO RELACIONADO- Podemos citar como exemplo de texto literário em língua de sinais;
 Tibi e Joca: uma história, dois mundos, de BISOL. Claudia. Mercado Aberto, Porto Alegre. 2001.
 A Cinderela Surda, e A Rapunzel Surda. Ambos de HESSEL, Silveira. Carolina. KARNOPP. Lodenir B. ROSA, Fabiano.
Esses livros que têm um diferencial na sua forma de produção, visto que são escritos por meio do sistema SIGNWRITING.
Patinho Surdo de KARNOPP Lodenir B. ROSA, Fabiano. Canoas. Ed. ULBRA. 2005.
 Adão e Eva de KARNOPP Lodenir B. ROSA, Fabiano. Canoas. Ed. ULBRA. 2005.
O Som do Silêncio, de CORTES, Claudia. Lovise, São Paulo. 2004.
O Ministério da Educação, em 2002, publicou a Coleção Arara Azul, um material digital distribuído em Cd-ROMS, em que
são contadas, em língua de sinais, histórias como As Aventuras de Pinóquio, Alice no País das Maravilhas, Iracema, O
Alienista, entre outras. Para conhecer esse material acesse o site acesse www. mec.gov.br , clássicos da literatura em
LIBRAS.
Na UFSM desenvolve-se o Projeto Mão Livre, o qual têm pesquisado sobre a produção de livros bilíngües. O livro A Lenda
da Erva Mate, foi publicado em dezembro de 2006.
CONTEUDO RELACIONADO: sites de algumas editoras que promovem a publicação de livros em LIBRAS.
http://www.editora-arara-azul.com.br/
http://www.editoradaulbra.com.br
SAIBA MAIS- SIGNWRITING- SIGNWRITING – para saber mais sobre este assunto, consulte o site www.signwriting.org ou
leia o artigo Sistema SIGNWRITING: por uma escrita funcional para o surdo, de Mariane Rosa Stumpf (in: THOMA, A. S.;
LOPES, M. C. (Orgs.). A Invenção da Surdez: cultura, alteridade, identidades e diferença no campo da educação. Santa
Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.




                                                                                                                    13
Os verbos presentes na história deverão ser explorados em diferentes situações, para
que a criança perceba que pode utilizar uma mesma ação em diferentes ocasiões.
      Para explorar os verbos a professora deverá utilizar outros recursos como: gravuras
da representação de um mesmo verbo, enfocando várias situações em que ele pode ser
empregado. Exemplos: Os meninos jogam bola, Paulo jogou o caderno no chão, Márcia
jogou na loteria, O menino joga peteca.

        Para trabalhar um conteúdo de ciência, por exemplo, “germinação”, o professor deverá
utilizar como recurso uma história elaborando quadros de seqüência lógica do processo de
germinação e crescimento do feijão. E, como culminância do trabalho, poderá apresentar a
história “João e o pé de feijão”.
        Sabemos que as etapas do desenvolvimento cognitivo teoricamente são ordenadas,
mas o ritmo de desenvolvimento de cada indivíduo, assim como suas capacidades
intelectuais, “dependem intrinsecamente de sua herança genética e das condições
ambientais em que vive”. O professor antes de trabalhar com esse recurso, deve ter
conhecimento das etapas20 do desenvolvimento cognitivo e lingüístico dos alunos.
        Para crianças pequenas as histórias devem ter enredo simples, vivo e atraente,
contendo situações que se aproximem o mais possível da vida da criança, de sua vivência
afetiva e doméstica, de seu meio social, de brinquedos e animais que a rodeiam. Assim, ela
poderá integrar-se com os personagens, consegue “viver” os enredos e sentir-se no “lugar”
em que os episódios narrados ocorrem. As histórias devem, nesta fase, conter ritmo e
repetição.
        Numa fase posterior as crianças solicitam várias vezes a mesma história é a fase do
“conte de novo”, “conta outra vez”. Por que a mesma história? Da primeira vez tudo é
novidade, nas seguintes, já sabendo o que vai acontecer, a criança pode se identificar mais
ainda, apreciando os detalhes. Isto às vezes acontece até com adultos após ter lido um livro
ou assistido a um filme. Quem nunca sentiu vontade de ler ou rever novamente um livro ou
um filme ?.
        Essa fase se estende até aproximadamente os sete anos. No primeiro período, a
criança prefere histórias com um mínimo de texto, enredo reduzido, expressões repetidas; no
segundo período, a criança começa a apreciar histórias de animais domésticos, circo,
enredos que evolvam alimentos, flores, nuvens, festas, etc.
        Na idade escolar, as crianças já sabem que os contos acontecem no mundo do faz-
de-conta e começam a manifestar senso crítico e se expressar com certa lógica.
        Encerramos essa unidade que promoveu discussões sobre os surdos, sua língua, sua
cultura. Sugerimos que o professor oportunize a vivência de projetos pedagógicos na sala de
aula. Entendemos que os projetos são uma ótima oportunidade para propiciar ações
significativas tanto para os professores quanto para os alunos, viabilizando a aprendizagem
de qualidade que todos nós almejamos. Embora tenhamos nessa unidade apontado o lúdico
20
   Saiba mais: Faixa Etária e Interesses:
Até 3 anos: histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza, histórias de crianças
3 a 6 anos: histórias de fadas, histórias de crianças, animais e encantamento.
7 anos: aventuras no ambiente próximo: família, comunidade, contos de fadas
8 anos: histórias vinculadas à realidade, histórias de fadas com enredo mais elaborado,histórias humorísticas, aventuras,
narrativas de viagens, explorações, invenções
Adolescência: fábulas, mitos e lendas




                                                                                                                      14
e a literatura, sabemos que há um universo de temas que podem ser contemplados por meio
de projetos. Esses temas estão inseridos em todas as disciplinas do currículo e estão
relacionadas a outras áreas e aos temas transversais.


         A.5- Educação de surdos e novos recursos tecnológicos: a tecnologia
         assistiva.

         A evolução tecnológica dentre tantos aspectos proporcionou tornar a vida mais fácil.
Cotidianamente usamos de ferramentas que facilitam nossas atividades como o uso de
talheres, computadores, controle remoto, relógio, telefones celulares, enfim, uma gama de
recursos que já fazem parte da nossa rotina e facilitam nosso desempenho em determinadas
ações.
         Nas últimas décadas do século XX, a discussão acerca da acessibilidade passou a
fazer parte das temáticas relacionadas às pessoas com deficiência, fazendo parte do rol de
reivindicações feitas pelas pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. Na década de
80 as discussões eram relativas às barreiras arquitetônicas, e o preconceito. Na década de
90, as atenções voltou-se para as barreiras de comunicação e transporte, incluindo aí outro
universo de sujeitos, que vão para além daqueles que apresentam limitações motoras. Essas
discussões e estudos passam então a construir uma nova racionalidade que ultrapassa a
preocupação com a eliminação de obstáculos voltando-se agora à garantia de acesso,
instituindo dessa forma e consequentemente um novo campo do saber, a Tecnologia
Asssitiva.
         O termo Tecnologia Assistiva é utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e
serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas
com deficiência e conseqüentemente promover vida independente e inclusão.
         Para Raiça (2008, p. 10), A educação inclusiva, dentro do novo paradigma
tecnológico, requer profissionais reflexivos (...) atualizados acerca dos mecanismos culturais
e tecnológicos que se encontram em constante renovação.
         A inclusão tem sido discutida amplamente nas últimas décadas, porém estamos
efetivamente promovendo a inclusão? Nessa unidade procuro problematizar aspectos
relativos à inclusão de alunos surdos, mais especificamente quanto à acessibilidade dessas
pessoas ao conhecimento.




                                                                                            15
Atualmente abordagens de novas pesquisas e novos campos do saber oportunizam o
desenvolvimento de artefatos tanto em formato impresso como digital de materiais com
vistas à promoção do letramento das pessoas surdas, porém sabemos que essas iniciativas
ainda são incipientes. Esses artefatos tecnológicos tem tornado a vida dos surdos mais fácil,
ampliando suas formas de comunicação como o mundo. No que se refere às pessoas surdas
poderíamos citar auxílios que incluem vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos
para surdez, telefones com teclado – teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, e
softwares disponibilizados em língua de sinais.   O acesso a artefatos digitais em língua de
sinais além de oportunizar a leitura na língua que os surdos têm aquisição de forma natural,
oportunizará a leitura de mundo de forma cidadã e autônoma. Estas condições se constituem
como premissas básicas para construirmos efetivas práticas de inclusão social.

   Vamos citar a partir de agora o estudo feito sobre esse tema por Lebedeff (2009, p 44:
51), para o Curso de Especialização em Educação Especial.

   1- Telefones para surdos,
      O telefone para surdos é conhecido como TDD – Telecommunicacion Device for the
Deaf (Dispositivo de telecomunicação para surdos) ou TTS – Terminal Telefônico para
Surdos ou telefone de texto.

SAIBA       MAIS:      Leia     em       WWW.koller.com.br,       www.surdo.com.br        ou
http//azhearing.com/portugues/tdd.htm



    2- Aparelhos de telefonia móvel e SMS
     Segundo a autora, uma das grandes conquistas tecnológicas para os surdos na última
década foi o telefone celular como o serviço de Short Message Service, traduzindo: os
torpedos de celulares. (...) Uma novidade no Brasil é a possibilidade de envio de torpedos em
Língua Brasileira de Sinais (Libras). O Centro de Tecnologia de Software – CTS desenvolveu
o TORPEDO RYBENÁ. Que é um serviço que permite receber e enviar mensagens de texto
em LIBRAS. Por esse aplicativo, os surdos podem se comunicar em LIBRAS através da
animação de imagens no celular, os ouvintes podem enviar textos em português aos surdos,
que receberão a mensagem em LIBRAS. Além desse dispositivo, o CTS disponibiliza o
software Player Rybená, um tradutor que é capaz de converter qualquer página da internet
ou texto escrito em português para Libras.

SAIBA MAIS: Para saber mais sobre o Torpedo Rybená acesse: http: //WWW.rybena.org.br




                                                                                          16
3- Vídeophones
        O Videophone é conectado a um aparelho de televisão ou a um computador equipado
com webcam. A utilização pode ser ponto aponto. Ou seja, de aparelho para aparelho ou
utilizar o serviço de uma intérprete, que é disponibilizada pela empresa telefônica que
concede o serviço.
SAIBA MAIS: Para ler mais acesse http://WWW.sorensonvrs.com


    4- C-PRINT
       Essa tecnologia é similar a que podemos ver nos telejornais de canais abertos de
televisão, denominada Close Caption, ou seja, a legenda e, tempo real, mas esta legenda é
para sala de aula. No sistema C- PRINT, dois computadores estão interconectados por um
cabo. A intérprete, que foi treinada em estratégias de condensação de texto e digitação,
senta próximo ao aluno e digita o discurso do professor e as interações que ocorrem na sala
de aula. O texto digitado é simultaneamente visto pelo aluno no outro computador
SAIBA MAIS: Acesse: http://WWW.ntid.rit.edu/cprint/índex.php.


   5- Ferramentas de comunicação na internet
       São várias as ferramentas de comunicação que podem ser utilizadas na Internet,
podemos citar o e-mail, os blogs pessoais, o MSN, chats, Orkut, twitter, my space entre
tantos outros.

    6- Vídeos
    Atualmente , as TIC’S permitem a captura de vídeos e sal publicação pelas mais diversas
vias. Muitos telefones celulares já possuem câmeras filmadoras acopladas, webcams de
computadores podem capturar imagens, filmadoras portáteis estão cada vez mais
acessíveis, enfim, a produção textual em língua de Sinais pode ser, finalmente,
adequadamente armazenada e compartilhada. As narrativas não mais se perdem, mas se
produzem, transformam-se, e utilizam recursos mais sofisticados para edição e publicação.
Há, agora, como nunca antes, a possibilidade de produção de literatura em sinais. Vale a
pena assistir ao vídeo sobre caubóis “The Fasted hands in the West”, ou, “As mãos mais
rápidas do Oeste”, disponível no youtube no endereço: HTTP://www. Youtube.
Com/watch?=kvN8U2ZBauo.
    Lebedeff (2009, p. 49), sugere ainda que se conheça a história do Chapeuzinho
Vermelho, produzida pela Organização Não Governamental (ONG), “Vez da Voz”, disponível
para                       download                      no                       endereço
http://WWW.vezdavoz.com.br/videsos/vídeos/chapeuzinhovermelho_surda.wmv.
    Essa ONG, produz ainda um telejornal semanal em Libras, o Telelibras, que está
disponível para download no endereço http://WWW.vezdavoz.com.br/telelibras. Veja outras
propostas de literatura na Editora Arara Azul (http://WWW.editora-arara-azul.com.br) e na
LSB Videos (http://WWW.lbsvideos.com.br).


   7- Softwares educativos
   Muitos ao os softwares educativos que podem ser utilizados com aluno surdos, muitos
deles são os mesmos utilizados com alunos ouvintes. Por exemplo, a Unicamp desenvolveu


                                                                                        17
um software de produção de histórias em quadrinhos denominado HagáQuê, (livre e
disponível para download em: httpp://pan.nied.unicamp.br/~hague) que não possui
destinatário prévio.
Outros Softwares estão sendo desenvolvidos para promover a escrita e autoria em
signwriting, a escrita em sinais.
Você pode pesquisar diferentes objetos de aprendizagem para utilizar com seus alunos. Um
bom lugar para iniciar sua pesquisa é no repositório Internacional de Objetos educacionais
disponibilizados pelo MEC (       http: //WWW.objetos educionais2.mec.gov.br).


SAIBA MAIS: – Para saber mais sobre SIGNWRITING, consulte o site www.signwriting.org
ou leia o artigo Sistema SIGNWRITING: por uma escrita funcional para o surdo, de Mariane
Rosa Stumpf. (in: THOMA, A. S.; LOPES, M. C. (Orgs.).
E     sobre    o     teclado   em          signwriting   e softwares de    autoria    em
http://www.cintedufrgs.br/ciclo10//artigos/6iCreice.pdf.



    8- Artefatos da vida Doméstica
    Muitos artefatos foram e estão sendo desenvolvidos para facilitar a vida dos surdos e
garantir a acessibilidade . Podemos citar como exemplos, a babá eletrônica com vibra call
(quando o bebê chora o receptor que fica com os pais vibra), ou conectada ao sistema de
iluminação (quando o bebê chora as luzes piscam); o relógio de pulso com sistema de
despertar vibra call; a campainha conectada no sistema de iluminação da casa (as luzes
piscam quando a campainha é tocada); alarmes de incêndio visuais (luzes circulares, como
as de ambulância são acionadas ao se detectar fumaça); dicionários on line em Libras (
http://www.acessobrasil.org.br/libras) entre muitos outros.




                                                                                       18
UNIDADE B- A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA.

        Essa unidade versa sobre aprendizagem da língua portuguesa pelos surdos.
Entendemos que essa aprendizagem é fator fundamental para proporcionar o letramento. O
domínio da leitura e da escrita não se trata de uma tarefa fácil. A língua portuguesa deve ser
ensinada num ambiente formal, exigindo tanto do professor quando do aluno estratégias
específicas para esse aprendizado.
        Portanto abordaremos questões sobre as abordagens de ensino da língua portuguesa,
num contexto de segunda língua, o papel da linguagem humana, concepções de
aprendizagem e metodologias de trabalho. A unidade encerra com definição de conceitos e
estratégias necessárias para esse processo de ensino aprendizagem apontando aspectos
relativos avaliação da produção textual.

        Palavras-chaves
        surdos, língua portuguesa, aprendizagem

        B1- O Letramento na educação dos surdos


       Reconhece-se a importância que a aprendizagem da leitura e escrita têm para a
criança, não somente no transcurso de sua vida escolar, mas também em sua vida futura,
como adulto dentro de uma sociedade na qual a linguagem escrita ocupa um lugar
importante.
       A leitura e a escrita estão diretamente relacionadas com o mundo circundante.
Entendemos que não é importante, apenas, o que se aprende num contexto de leitura e
escrita, mas como usamos esses conhecimentos em nossas práticas sociais, em nosso
contexto, em nossas vidas. Considerando que o que nos rodeia é um mundo todo escrito, e
não lê-lo é também não conhecê-lo, não revelá-lo, suscita refletirmos sobre um novo
conceito, o letramento.
       Para Soarez ( apud Botelho 1998:63):

                              Letramento ultrapassa, pois, habilidades de codificação e decodificação de signos
                              escritos e pressupõe uso da leitura e da escrita, comportamentos centrais no
                              mundo atual. É dependente de condições, entre elas, escolarização real e efetiva e
                              disponibilidade de material de leitura.

       Percebe-se que a relação direta do letramento21 com a construção do sujeito está
diretamente ligada a uma natureza política, entendendo que o uso da leitura e da escrita
possa gerar uma transformação social e individual no sujeito, consciente de sua realidade.


21
   ASSUNTO - Letramento – Conheça mais sobre o assunto lendo a obra: Letramento: um tema em três gêneros, Soares,
Magda. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. Letramento na educação de surdos: escrever o que está escrito nas ruas, de
Giordani, Liliane Ferrari., e Práticas de letramento na pré-escola de surdos: reflexões sobre a importância de contar
histórias, Lebedeff, Bolívar,Tatiana in: THOMA, A. S.; LOPES, M. C. (Orgs.). A Invenção da Surdez: Cultura, Alteridade,
Identidades e Diferença no Campo da Educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004). Letramento e Alfabetização.
Tfouni, Verdiani, Leda. 7ª edição. Editora Cortez 2005. e KARNOPP, Lodenir. B. Língua de Sinais e Língua Portuguesa: em
busca de um diálogo. In LODI et al. Letramento e Minorias, Porto Alegre, Mediação, 2002. p. 56-61.




                                                                                                                    19
Nesse sentido justifica-se refletir sobre o letramento na educação dos surdos.
Sabemos que é de conhecimento comum, e quase impossível que alguém se oponha a idéia
de que todo o cidadão têm direito de participar da vida política, social e econômica da nação,
e sabemos o quanto ao longo da história dos tempos a instituição escola têm ao menos
teoricamente servido para a formação de cidadania das pessoas.
       Fato é que a realidade nos mostra que esta situação não ocorre assim tão
naturalmente. Tanto o fracasso, como o sucesso têm sido vivido, promovendo situações de
inclusão e de exclusão social.
       Freire (1998:48) comenta:

             se o fracasso existe, ele tem que ser enfrentado a partir de uma proposta nova calcada
             nas reais necessidades do aprendiz surdo, para quem a primeira língua é a Língua de
             Sinais e para quem a Língua Portuguesa é uma segunda língua com uma função
             social determinada.

        Sabemos que as dificuldades encontradas vão desde a educação infantil até as
últimas séries do ensino médio, em vários temas do currículo, porém centrarei minha análise
na aprendizagem da língua portuguesa, entendendo que essa se consolida numa
necessidade e um grande desafio para o professor atualmente. Como ensinar uma língua
que não é a língua materna ? Quais as estratégias, metodologias, abordagens usadas para o
ensino de segunda língua ? Quais os requisitos necessários para debruçar-se nesse ensino e
nessa aprendizagem ? Que habilidades o professor deve ter, e quais os requisitos para
alunos surdos compreenderem e virem a dominar a língua portuguesa, na modalidade
escrita, considerando que a aprendizagem de uma segunda língua não se dá de forma
“natural”, ou seja requer uma espaço formal de educação, com professores habilitados para
essa função, conscientes de sua ação, no mínino conhecedores da Libras, e de preferência
acompanhados de educadores surdos, dominantes da Libras, além disso há uma gama de
aspectos que envolvem um processo de ensino e aprendizagem de qualidade para esse fim.
       Nesse sentido apontamos questões que se tornam relevantes quanto as bases
teóricas: Qual o nosso entendimento sobre os processo de aprendizagem? E uma segunda
questão refere-se a nossa visão de linguagem.
       Svartholm (1998:39), colabora afirmando que: o conhecimento sobre como realmente
funciona o desenvolvimento lingüístico e o conhecimento das condições para o sucesso na
tarefa de adquirir linguagem devem ser os pontos de partida para qualquer pessoa
responsável pela educação de surdos.




      B2- Considerações sobre a linguagem humana.

       Ao estudarmos sobre a linguagem, estamos também tratando da sociedade, pois a
linguagem e a sociedade estão intrinsecamente ligadas entre si.
       Segundo Karnopp (2005: 31):



                                                                                                20
A lingüística é o estudo científico das línguas naturais e humanas e as pesquisas
             realizadas nesta área incluem tanto as línguas orais quanto as línguas de sinais.(...)
             essa é a área que se preocupa com natureza da linguagem e de comunicação
             humana, procurando desvendar a complexidade das línguas e as diferentes formas
             de comunicação. A lingüística busca resposta para problemas relacionados à
             linguagem, tais como: Qual a natureza da linguagem humana ? Como a comunicação
             se constitui ? Quais os princípios que determinam a habilidade dos seres humanos em
             produzir e compreender uma língua?

       Alterações significativas, inegáveis e incitantes aconteceram sobre a forma de
perceber a linguagem humana, esses estudos nas últimas décadas repercutiram sobre a
produção científica acerca das línguas orais, com também fizeram impulsionar o interesse
pelas línguas de sinais.
       Segundo Tellles (1998:03)

                        Os argumentos utilizados por Chomsky, quando do lançamento da Teoria da
                        Gramática Transformacional (1957), objetivaram comprovar que a capacidade
                        humana ultrapassa os limites da aprendizagem comportamental. A criança ganhou
                        um espaço primordial nesta escola. Os estudiosos deixaram de preocupar-se com
                        o comportamento verbal infantil em sua essência analítica, para centrar seus
                        esforços junto à gramática presente; a partir da aptidão há uma gramática comum
                        a todos (Gramática Universal), a criança apropria-se das regras gramaticais
                        próprias à língua a qual está exposta no inicio da sua vida.



       Karnopp (2005:31), elucidando o trabalho dos lingüistas comenta: descobrir as leis de
uma língua, assim como as leis que dizem respeito a todas as línguas, representando as
propriedades das línguas, constitui o que se chama de uma Gramática Universal (GU).
       Quanto ao aspecto da gramática universal, Quadros (1995), pesquisando sobre o
desenvolvimento lingüístico cognitivo dos surdos mostra que crianças surdas filhas de pais
surdos sinalizadores de LIBRAS, apresentam uma analogia com os dados analisados na
ASL. Para a autora, os autores dessa teoria reconhecem a linguagem como um sistema
altamente interativo, e passível de modificações, sofrendo influências de diversos aspectos
como: sociais, biológicos, e lingüísticos. Kambi (apud TELLES 1998:04) colabora com a
seguinte colocação “as estruturas de linguagem são vistas como um produto derivado das
funções sócio-interacionistas da linguagem”.
       O ser humano é considerado superior a outras espécies por fazer uso de um sistema
de comunicação mais elaborado, que é passado de geração a geração, independente de sua
cultura. Sanches ( apud QUADROS 1990, p.17) considera que:

                        a comunicação humana é essencialmente diferente e superior a toda outra forma
                        de comunicação conhecida
                        Todos os seres humanos nascem com os mecanismos de linguagem específicos
                        da espécie, e todos os desenvolvem normalmente, independente de qualquer fator
                        racial social e cultural.

       Todavia essas trocas comunicacionais irão constituir-se numa dificuldade quando a
criança nasce em um ambiente diferente de sua língua materna. Quadros (1997) alerta para




                                                                                                    21
a dificuldade que as crianças surdas, filhos de pais ouvintes possuem na aquisição de de
sinais. Segundo ela:

                              As crianças surdas filhas de pais surdos têm acesso a LIBRAS porque as crianças
                              usam a mesma língua de seus pais. Além disso não é somente usada com as
                              crianças porque os pais usam para se comunicar entre eles e com seus
                              amigos.(...) Sem engano com as crianças surdas filhas de pais ouvintes a situação
                              é completamente diferente. (QUADROS, 1997, p. 80).

       No Brasil estudos sobre desenvolvimento lingüístico dos surdos22 tem sido feito
conforme Quadros (1997), Karnopp (1994, 1999), os quais apontam fases por onde os
surdos passam durante sua aquisição na língua de sinais. Tecendo alguns comentários
sobre resultados de pesquisas já evidenciados quanto ao processo de aquisição de língua de
sinais e apontando algumas constatações quanto às estratégias pertinentes as comunidades
surdas Rodrigues (apud QUADROS 1997: 80) destaca:

        a)          se a língua de sinais é organizada no cérebro da mesma forma que as
                    línguas orais (conforme vem sendo demonstrado através de pesquisas),
                    então as línguas de sinais são línguas naturais;
        b)          se as línguas de sinais são naturais, então seu aprendizado tem um período
                    crítico ( período ideal para aquisição da linguagem, após esse período a
                    aquisição é deficiente e, dependendo do caso, impossível (Leennerberg,
                    1967);
        c)          se as línguas de sinais têm período crítico, então as crianças surdas estão
                    iniciando tarde seu aprendizado;
        d)          se a natureza compensa parcialmente a falta de audição, argumentando a
                    capacidade visual dos surdos (conforme pesquisas realizadas, há uma
                    competição entre os estímulos acústicos e visuais), então está sendo
                    ignorada a maior habilidade dos surdos quando é imposta uma língua oral,
                    em vez da língua de sinais.

       Hoje, conhecemos vários trabalhos na área pedagógica com alunos surdos que
contemplam essas questões. Há no Brasil instituições em que podemos encontrar,
instrutores de língua de sinais 23 trabalhando com professores ouvintes dominantes da
LIBRAS, alterações significativas no currículo escolar estão sendo promovidas,
contemplando aspectos relativos a história dos surdos, no mundo e no Brasil, como também
22
   ASSUNTO – Desenvolvimento lingüístico dos surdos - Leia as obras: Quadros, Ronice Muller de. Educação de surdos.
Aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. Quadros, Ronice Muller de. Phrase Struture of Brazilian
Sign Language. Tese de Douturado. Porto Alegre: PUCRS, 1999. e Quadros, Ronice Muller de. As Categorias vazias
pronominais: uma análise alternativa com base na língua se sinais brasileira e reflexos no processo de aquisição.
Dissertação de Mestrado. Porto Alegre. PUCRS, 1995. KARNOPP. Lodenir. B. Aquisição do parâmetro configuração de
mão na Língua Brasileira de Sinais. (LIBRAS): estudo sobre quatro crianças surdas, filhas de pais surdos. Porto Alegre,
PUC: Dissertação de Mestrado, 1994. KARNOPP. Lodenir. B. Aquisição fonológica da Língua de Sinais: estudo
longitudinal de uma criança surda. Porto Alegre, PUC: Dissertação de Doutorado, 1999 e Quadros, Ronice Muller de &
KARNOPP. Lodenir. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre. Art Méd. 2004.

23
   ASSUNTO – Para ler sobre Instrutores de Língua de Sinais acesse: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2004-
2006/2005/Decreto/D5626.htm
http://www.unimep.br/phpg/posgraduacao/stricto/ed/documents/LaraFerreiradosSantos.pdf


                                                                                                                     22
conteúdos adequados as características dos surdos enfatizando o caráter visual de
apropriação do conhecimento, cursos à família para aprendizagem da LIBRAS.
       Entretanto muitas são as regiões do Brasil em que ainda encontram-se incipientes24
quanto a vários aspectos determinantes para a educação dos alunos surdos, principalmente
no processo de conhecimento da         LIBRAS, enquanto língua natural das comunidades
surdas, desconhecendo quase que totalmente sua capacidade de fornecer aos surdos a
apropriação do conhecimento, construção de mundo, de desenvolvimento lingüístico-
cognitivo e base para aprendizagem do português como segunda língua.




B.3- Como entendemos a aprendizagem que caminhos traçar ?

      Muitas são as indagações acerca da caminhada vivida pelos alunos surdos, na
aprendizagem da língua portuguesa. Segundo Assis-Peterson (1998:31):

                                ... as diferentes configurações que as teorias de aquisição de segunda língua
                                tomam, de uma certa maneira, refletem esses dois paradigmas. De um lado, há a
                                corrente que procura estudar o código lingüístico ou a natureza formal da
                                linguagem, seja para revelar os processos cognitivos da aquisição ou os universais
                                lingüísticos. De outro lado, há a corrente que procura explorar a natureza social da
                                linguagem, isto é, o conhecimento aliado a funções sociais.

       No livro, Ensino da Língua Portuguesa para Surdos, Salles et al (2004), aponta
algumas vertentes de abordagens utilizadas no ensino de segunda língua, entre elas:
Abordagens Estruturalista, Abordagem Funcionalista e a outra vertente chamada Abordagem
interacionista.
       Abordaremos nesse trabalho a aprendizagem num contexto sócio-interacionista, onde
enfatizaremos a importância do conhecimento prévio do aluno, e as condições de interação
para aprender.
       Freire (1998:48), tratando sobre esse tema aponta:

                                Assim sendo a visão sócio-interacional de aprendizagem, se opõe à visão
                                behaviorista que entende a aprendizagem de uma segunda língua como um
                                processo de aquisição de novos hábitos lingüísticos através de uma rotina de
                                estímulos do professor – resposta do aluno e reforçoavaliação do professor.
                                Nesse caso o foco de atenção está sempre colocado nos procedimentos de ensino
                                e no papel do professor. O aluno é visto como uma tábula rasa que deve ser
                                moldada a partir de determinadas práticas metodológicas. Por outro lado, a visão
                                sócio-interacional25 de aprendizagem também se opõe à visão cognitivista
                                que desloca o foco de atenção do ensino e do professor e o joga sobre o
                                aluno e suas estratégias individuais na construção da aprendizagem de
                                uma segunda língua. Nessa perspectiva o papel do professor passa a ser
                                então a de um simples facilitador do processo de aprendizagem.


24
     GLOSSÁRIO – No sentido de iniciantes
25
     GLOSSÁRIO- Visão sócio-interacional- Tratada na unidade A.




                                                                                                                 23
Entendendo o conhecimento construído a partir da interação entre os interlocutores,
por isso é importante entender quem são os interlocutores, na visão sócio-interacional de
aprendizagem, propõe-se a atenção tanto para o papel do professor quanto dos alunos.

       Vygostsky26 ( apud Freire 1998:48), acrescenta:

                          ...o conhecimento é entendido como sendo construído através da interação por
                          aprendizes e pares mais competentes (o professor ou outros aprendizes), no
                          esforço conjunto de resolução de tarefas, explorando nível real em que o aluno
                          está e o seu nível em potencial para aprender.

         Nessa perspectiva a aprendizagem somente se efetivará quando as atividades
partirem de conhecimentos já consolidados pelos alunos, isto é, conhecimentos adquiridos
em outras experiências, sejam elas acadêmicas ou de atividades informais, vividas fora da
escola ou na escola. O que se pretender deixar claro aqui é que devemos proporcionar
ações em sala de aula, que tenham um significado, sejam interessantes, oportunizando
curiosidade, motivação envolvimento. Nesse sentido vale lembrar a importância de usar
materiais didáticos ricos e interessantes em letramento visual, e a participação efetiva do
instrutor/professor de surdos usuário da LIBRAS.
         Kleiman (1989:46) também colabora: Para ela, a compreensão melhora quando o
leitor estabelece objetivos para a leitura. Em parte, o tipo de texto (pode ser a notícia do
periódico, a receita de um pastel, um carta) determina o objetivo da leitura. O leitor deve
querer buscar, na inter-relação com o autor as respostas a um problema, ou seja, ajudas
para elaborar seu ato de ler. Para a autora: “cabe notar que é necessária que a leitura não é
propriamente uma leitura, quando lemos por que outra pessoa nos manda ler... estamos
fazendo atividades mecânicas que pouco têm que ver com o significado ou sentido.”
         Essa leitura não é aprendizagem, pois é facilmente esquecida por tanto, a leitura a
escrita deve partir do interesse do aluno. É importante ressaltar que a compreensão de
qualquer processo de aprendizagem parte da constatação de que o aluno sempre relaciona
ou quer aprender a partir do que já sabe. Em outras palavras, na construção do
conhecimento, o aluno projeta os conhecimentos que já possui no conhecimento novo, no
esforço de alcançar aprendizagem, características como essas que se relacionam com
saltos qualitativos que, segundo Vygotsky, são a base para a construção do conhecimento
         No caso específico da aprendizagem de uma segunda língua, o aprendiz contribui de
maneira decisiva na tarefa de aprender partindo do conhecimento que possui em sua
primeira língua, e de seu conhecimento prévio do mundo como também dos tipos de textos
com os quais está familiarizado.
         As crianças em fase de alfabetização, inicialmente, lêem de forma lenta e têm
dificuldades, muitas vezes, em integrar os elementos em frases e relacioná-las entre si na
construção de um trecho todo, coerente e com sentido. Nesta fase a criança apenas
decodifica o texto, porém não lê.
         Já nas fases posteriores e de acordo com as riquezas do input27 recebido na fase
inicial, o ato de ler, significa a verdadeira leitura, aquela que implica na participação ativa do

26
 SAIBA MAIS –Para ler sobre Lev Semionovitch Vygotsky, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vygotsky
27
  GLOSSÁRIO- O termo Input, usado nesse trabalho a obra de Quadros, Ronice Muller de. Educação de surdos.
Aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.


                                                                                                      24
leitor em busca de significados, formulando hipóteses, re-avaliando-as, identificando
intenções e argumentos, ou seja, realizando um completo trabalho de construção do texto,
no qual cada ato tem sua particularidade, sem ser totalmente desvinculado, porque se assim
fosse, não seria um texto: – Com as crianças surdas se pressupõe que elas criem hipóteses
com relação à língua de sinais para poder construir a aprendizagem da língua portuguesa:
primeiro elabora frases com a estrutura da língua de sinais, posteriormente, na estrutura da
língua portuguesa.
       O input aqui é percebido como as ofertas, os insumos que o aluno recebe do ambiente
pedagógico. Podemos dizer que o professor de surdos tem um maior grau de
responsabilidade em tornar a língua, os inputs lingüísticos, disponíveis e compreensíveis
para as crianças. Nessa perspectiva, se elege um fator determinante para o sucesso do
trabalho de ensino da língua portuguesa para os surdos: a presença do instrutor surdo28,
ou em caso de não haver pessoas surdas disponíveis para trabalhar conjuntamente com o
professor ouvinte, é fundamental que o professor no mínimo conheça a Libras
       Além disso o professor precisa saber avaliar e refletir sobre as hipóteses, estratégias,
erros e acertos é fundamental para que novas ações sejam planejadas durante o ensino e a
aprendizagem.
       A condição de sucesso ou fracasso no português, está relacionada a qualidade de
oferta e exposição à língua de sinais, condição esta determinada pelo contato direto e natural
vivido pelas crianças surdas com surdos. Cabe ressaltar que é de suma importância que a
aprendizagem da segunda língua ocorra no contexto educacional. Fora da escola seria
impossível obter sucesso. Por isso é preciso realizar uma análise detalhada da situação de
aprendizagem de uma segunda língua por surdos
       Sendo usuário da língua de sinais, o surdo poderá desenvolver competências na
leitura e na escrita em uma segunda língua. Telles confirma (1998:03), dominar uma
determinada língua significar poder usufruir socialmente das suas vantagens.
       Estudos têm enfatizado a aquisição da Libras desde cedo, preferencialmente na
educação infantil29, e a partir dessa aquisição a aprendizagem da segunda língua. Porém
há outras considerações pertinentes que devem ser levadas em consideração, como o nível
de prontidão dos alunos, estruturas cognitivas, relativas ao nível de maturidade, que se
tornariam decisivas para o enfrentamento de certas dificuldades que são inerentes a esse


CONTEUDO RElACIONADO - Entendemos aqui que todos os meios que promovam o acesso ao conhecimento pelos
surdos constituem-se em inputs favoráveis para aprendizagem, letramento e cidadania. Para ler sobre acessibilidade
acesse: http://www.anatel.gov.br/universalizacao/direito_acessibilidade_comunic_surdos.pdf


28
   SAIBA MAIS – Para saber sobre Instrutores de Surdos acesse: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2004-
2006/2005/Decreto/D5626.htm
http://www.unimep.br/phpg/posgraduacao/stricto/ed/documents/LaraFerreiradosSantos.pdf

29
   Karnopp (2005:48) Ao discutir sobre a aquisição da língua de sinais, aponta algumas atividades do processo
educacional nesse nível de ensino: atividades de rotina em sinais, brincadeira e jogos em sinais, realização de experiências
em sinais, hora do conto em sinais, passeios conduzidos por adultos surdos, atividades diversas com as comunidades
surdas locais. Alguns objetivos específicos do processo educacional com sugestões de um plano de atividades e conteúdos:
Oportunizar a vivência das culturas surdas através do domínio da língua de sinais brasileira; Garantir o desenvolvimento da
estrutura gramatical da língua de sinais brasileira; e Propiciar o acesso às diferentes funções e usos da língua de sinais
brasileira: informal, formal, poético, narrativas...




                                                                                                                         25
aprendizado. Essa é uma observação que não se refere apenas a crianças surdas, mas sim
a todas as crianças, sejam ouvintes ou surdas.
       Somos conhecedores de uma série de indevidas racionalidades que surgiram nos
últimos séculos quanto à capacidade lingüística-cognitiva das comunidades surdas, onde
essas pessoas eram vistas como “atrasadas”, pobres lingüisticamente. Afirmações como
essas relacionavam a surdez à déficits de linguagem. Porém sabemos que essas
representações surgiram a partir de uma errônea comparação entre ouvintes e surdos
durante o processo de aprendizagem da língua portuguesa.
       Estudos feitos sobre a aprendizagem de uma segunda língua por acadêmicos ouvintes
mostraram com clareza que há um universo de erros vividos por ouvintes e por surdos que
manifestam características inerentes à espécie humana no processo de aprendizagem de
uma segunda língua. Evidências como essas reforçam o fato de que as analogias feitas entre
surdos e ouvintes são um equívoco, os quais os profissionais praticam e muitas vezes
reforçam em suas práticas pedagógicas, motivados muitas vezes pelo desconhecimento ou
levados pelo imaginário de que os surdos são lingüisticamente incapazes.
              Para Svartholm (1998:40):

                       ...afirmações como essas sobre a aquisição deficiente da linguagem em crianças
                       surdas perdem totalmente a sua força quando deixamos de comparar essas
                       crianças com crianças ouvintes que estão lendo e escrevendo em sua língua
                       materna. Se, em vez disso analisarmos aprendizes ouvintes de segunda língua, e
                       seu desenvolvimento lingüístico na segunda língua, a situação será totalmente
                       diferentes. Tal comparação irá mostrar claramente que vários daqueles erros
                       gramaticais, que foram descritos como peculiares aos surdos, estão bem longe de
                       serem peculiares. Ouvinte ou surdo o aprendiz de segunda língua utiliza as
                       informações disponíveis sobre a nova língua, faz generalizações e outras
                       simplificações com base nessas informações e elabora internamente hipóteses
                       mentais sobre a língua.



       Os acertos e desacertos que o aluno surdo irá efetuar durante o processo de
aprendizagem da língua portuguesa, provavelmente será uma fuga dos padrões lingüísticos
dessa língua, mas na verdade é nada mais nada menos que o resultado de um “caminho”
vivido pelo aprendiz dentro de um recurso ativo e criativo de aquisição de língua. Assis-
Petersson (1998:30), enfatiza que “os erros indicam que aprendizes constroem
representações internas da língua que estão aprendendo”. Em função disso o professor deve
em vez de tratar esses supostos déficits dos alunos surdos como incapacidades,
manifestações de aquisição de linguagem comum a toda a espécie humana.
       Diante dessa análise podemos justificar o grande número de alunos surdos que
permanecem a margem sem um ensino de qualidade e tão poucos surdos saem da escolas
com no mínimo um desempenho regular de proficiência escrita no portuguesa, a despeito de
todos os esforços educacionais discutidos e implementados. Sabemos que ainda são
poucos os relatórios de pesquisas que demonstram sucesso no processo de aprendizagem
da língua portuguesa pelos surdos.
       Uma premissa básica para apontar razões que se referem a esse tipo de
aprendizagem é entender que ao longo dos anos partimos de concepções oralistas sobre a
aquisição da linguagem sem fazermos os devidos apontamentos teóricos acerca da
aquisição da linguagem por pessoas surdas e entendermos que a surdez necessita de um



                                                                                                   26
projeto educacional pautado na experiência visual e isso por si só imprime um re-
cofiguração nas propostas educacionais..
       Svaltholm (1998:42) colabora: aprender a ler é, sem dúvida, uma tarefa difícil para
qualquer criança que aprende a ler em uma língua diferente da sua, mas para os surdos
essa tarefa parece ser ainda mais difícil, já que aprender a ler significa aprender a língua.
       O ambiente da sala de aula, constitui um recurso potencial para o acesso ao
letramento desde cedo. Num contexto letrado de educação independente de se oportunizar a
aprendizagem do português, precisamos levar em conta que os alunos surdos estão
permanentemente em contato com a escrita. Esse é um aspecto que deve ser considerado
pelo professor em sala de aula. O ambiente lúdico rico em informações sem perder de vista
que brincar é fundamental poderá ser um agente de letramento e contato desde tenra idade
com a língua portuguesa, através da literatura, revistas e dos jornais. Cabe ao professor
proporcionar a compreensão dos textos em LIBRAS.
       Svartholm (1998:42), enfatiza a necessidade da exposição dos surdos à língua
portuguesa:

            A leitura de livros e revistas deve ser feita com crianças em fase pré-escolar, porque
            diverte, estimula e satisfaz a curiosidade da criança, e não por causa de objetivos
            educacionais. Através da leitura, a criança será bem preparada para o ensino posterior de
            uma segunda língua: uma postura em relação à língua escrita como algo divertido e
            interessante deve ser a melhor base para novos aprendizados.


       A escrita da pessoa surda reflete, em certa medida, as vivências que teve com a
segunda língua. Para tanto a escrita deve ter uma função em sua vida, e nesse caso os
artefatos culturais conhecidos e manuseados pelo aluno em sala de aula, irão decisivamente
influenciar no gosto, na motivação e na curiosidade, aspectos determinantes para a
aprendizagem em que estão sendo iniciados.
       Nesse caso como entender a escrita como algo interessante? E como construir essa
representação para os alunos ? Sugiro alguns aspectos para que a escrita seja interessante
na escola. Em primeiro lugar, aponta o “input” como algo relacionado com a experiência
coletiva, professores e alunos construindo junto um conhecimento (um texto), a partir de uma
experiência concreta. Essa vivencia, possibilitará que os alunos manifestem seus diferentes
pontos de vista, creio que sem essa experiência esse aprendizado seria prejudicado.
       Quando me refiro a experiências coletivas, sugiro a leitura do Método de Cartazes de
Experiências30. Acredito que esse método contribua muito para a aprendizagem da língua
portuguesa para o alunos surdos. Sanches (1996:07) afirma: “ todo caso, devemos estar
conscientes de que la aquisición de la lengua escrita deve darse en el seno de la práctica
social de la lectura y la escritura, en un contexto comunitario.”
       Para Bittencurt (1983:12) “... um método de alfabetização baseado nas próprias
experiências dos alunos é uma das melhores, senão o melhor recurso, para seu
desenvolvimento.”


30
  ASSUNTO- Leia sobre o Método de Cartazes de Experiências em: BITTENCURT, Mirian F. Alfabetização uma aventura
para a criança. 2ª Ed. Florianópolis: Edeme, 1983.




                                                                                                            27
Esse método, parte do pressuposto que as vivências concretas serão extremamente
significativas para os alunos, quando o aluno vê na sala de aula experiências que retratam
seu cotidiano, sua vida, levanta hipóteses, faz relações, conhece as experiências já vividas
pelos colegas em relação a temática tratada.
        O método de cartazes de experiências possibilita que a professora juntamente com a
turma combine uma ação coletiva, como uma salada de frutas feita por todos, um passeio.
        No término dessa atividade voltam para a sala de aula. Juntamente com a professora
constroem um texto onde todos colaboram. Para Salles (2004:45), é importante ter em mente
que a leitura para os surdos deve ser conduzida dos textos mais simples aos mais
complexos, simplificando-se, apenas no início, para evitar o reducionismo.
        A cada experiência vivida contemplando diversas áreas do conhecimento, possibilita
outra atividade que de alguma forma estabelece uma relação. O texto irá demonstrar isso
porque nesse novo texto deverá ter vocabulário já trabalhado no primeiro. Muitas atividades
serão vividas e os textos irão aumentando com o tempo, como o nível de exigência nas
atividades e proficiência na língua que está sendo estudada.
        No final de um bimestre por exemplo teremos um conjunto de textos elaborados pelos
alunos, e um acervo que poderá com certeza ser usado a qualquer momento na sala de aula
como material de pesquisa. Na perspectiva de discutir sobre os caminhos que devem ser
trilhados pelo professor e os alunos surdos no processo de aprendizagem da língua
portuguesa nos embasaremos em alguns estudiosos da área da lingüística que têm
enfrentado esse desafio e proposto algumas estratégias. FREIRE (1998), MOITA LOPES
(1998), SALLES et al (2004), KARNOPP (2005), QUADROS (1997).




          B 4. A Leitura31 do português pelos alunos surdos

       Na perspectiva de discutir sobre a leitura do português pelos surdos, Salles (2004:
09), afirma: Atualmente, é consensual que a leitura é um processo de interpretação que um
sujeito faz do seu universo sócio-histórico-cultural. A leitura é, portanto, entendida de
maneira mais ampla, em que certamente o sistema lingüístico cumpre um papel fundamental,
tendo em vista que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta é
importante para a continuidade da leitura daquele.” Freire ( apud SALLES 004:19).
       Parafraseando a autora podemos dizer que as comunidades surdas constituem-se
como cidadãos-leitores tanto quanto os ouvintes, muito embora os procedimentos
metodológicos sejam diferentes quando tratarmos da aquisição de L132 e de L2.33.

31
   SAIBA MAIS - Para Garcez apud Salles (2004:20), existem algumas condições para a realização da leitura: decodificação
de signos; seleção e hierarquização de idéias; associação com informações anteriores; elaboração de hipóteses; construção
de inferências; construção de pressupostos; controle de velocidade; focalização da atenção; avaliação do processo
realizado; reorientação dos próprios procedimentos mentais


32
     GLOSSÁRIO- L1 - Esse termo refere-se a língua de sinais, considerada a língua materna dos surdos.

33
  GLOSSÁRIO- L2- A L2 para os surdos é língua portuguesa na modalidade escrita, isto é a segunda língua. ASSUNTO -
Segunda língua – Para conhecer mais sobre o assunto leia: Aquisição de segunda língua por surdos, de Ana Antonia de


                                                                                                                      28
B 4.1 Procedimentos sugeridos para a leitura

        A leitura deve ser uma das principais preocupações no ensino de português como
segunda língua para surdos, considerando que esta etapa é vista como uma etapa
fundamental para aprendizagem da escrita.
        Segundo Garcez (apud SALLES 2004:21), reconhecer e entender na organização
sintática, o léxico, identificar o gênero e o tipo de texto, bem como perceber os implícitos, as
ironias, as relações estabelecidas intra, inter e extratexto, é o que “torna a leitura produtiva”.
No caso do surdo, alguns dos procedimentos são imprescindíveis, e o professor deve
sempre estar atento para conduzir o seu aprendiz a cumprir etapas, que envolvam aspectos
macroestruturais e microestruturais como pode ser visto abaixo:

        Aspectos Macroestruturais

        analisar e compreender todas as pistas que acompanhem o texto escrito: figuras,
         pinturas,enfim, todas as ilustrações;
        identificar, sempre que possível, nome do autor, lugares, referências temporais, e espaciais
         internas no texto;
        situar o texto sempre que possível, temporal e espacialmente;
        observar, relacionando com o texto, título e subtítulo;
        explorar a capa de um livro, inclusive as personagens, antes mesmo da leitura;
        elaborar sempre que possível, uma sinopse antes da leitura do texto;
        reconhecer elementos paratextuais importantes, tais como: parágrafos, negritos, sublinhados,
         travessões, legendas, maiúsculas e minúsculas, bem como outros que concorram para o
         entendimento do que está sendo lido;
        estabelecer correlações com outras leituras, outros conhecimentos que venham auxiliar na
         compreensão;
        construir paráfrases em LIBRAS ou em português (caso já tenha um certo domínio);
        identificar a tipologia textual;

        ativar e utilizar conhecimento prévios;

        tomar notas de acordo com os objetos;


    Aspectos microestruturais
        reconhecer e sublinhar palavras chaves


Assis-Peterson. Aquisição de segunda língua por surdos. Kristina Svartholn. e Aquisição do Português como Segunda
Língua: uma proposta de currículo. Alice Freire. Revista Espaço-Informativo do INES. Nº 9 (janeiro-junho). Rio de Janeiro.
INES, 1998. Lodenir B. Karnopp & Madalena Klein. A Língua na Educação dos Surdos. Secretaria de Educação.
Departamento Pedagógico. Divisão de Educação Especial. Vol 2. Porto Alegre 2005. Ensino de Segunda Língua para
Surdos. Caminhos para a Prática Pedagógica. Heloisa Mara Moreira Lima Salles. Programa Nacional de Apoio à Educação
dos Surdos. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. vol 1 e vol 2. Brasília 2004. PEREIRA, Maria
Cristina. Papel da língua dna aquisição da escrita por estudantes surdos. In: LODI et al. et al. Letramento e Minorias, Porto
Alegre, Mediação, 2002.p. 47-55. ALMEIDA. Elisabeth Oliveira Crepaldi de. Leitura e Surdez. Um estudo com adultos não
oralizados. Rio de Janeiro. REVINTER. eou acesse; http://www.ines.org.br/ines_livros/22/22_PRINCIPAL.HTM




                                                                                                                         29
MODULO_07_SURDEZ
MODULO_07_SURDEZ
MODULO_07_SURDEZ
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MODULO_07_SURDEZ
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  • 1. MÓDULO VII – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ALUNOS SURDOS Professora: Melânia Melo Casarin Carga horária: 25 horas Introdução Para pensar na educação hoje é necessário perceber as mudanças de comportamento que as tecnologias imprimiram na vida humana. Rompemos com espaços e tempos secularmente instituídos e passamos a conviver com novos paradigmas cunhados pela virtualização e globalização. É inquestionável que essas condições proporcionaram novas formas dos homens agirem entre si, e consequentemente nas formas de educar, exigindo uma reorganização do espaço escolar. Alguns elementos são fundamentais para essa conquista, podemos citar o uso de recursos didático-pedagógicos compatíveis com os recursos tecnológicos que dispomos hoje, um projeto pedagógico reflexivo sobre a ação pedagógica, o papel do professor e sua qualificação, o papel do aluno, e o uso das de novas Tecnologias na Educação da Informação e da Comunicação na Educação – TIC’s. Ao entender que essa disciplina Atendimento Educacional Especializado para alunos, do Curso de Formação de Professores para o Atendimento Educacional Especializado, busca discutir o acesso aos conteúdos curriculares pelos surdos sugerimos na Unidade A, o estudo sobre os Aspectos Relevantes Acerca dos Surdos e a Acessibilidade e na Unidade B, a Aprendizagem da Língua Portuguesa. Palavras-chave Educação, tecnologia, surdos 1
  • 2. UNIDADE A: ASPECTOS RELEVANTES ACERCA DOS SURDOS E A ACESSIBILIDADE. A-1 Surdos, cognitivamente inferiores? Ou uma questão de acessibilidade? A história da educação dos surdos passou por diferentes momentos históricos, desde a primeira escola para surdos, criação e aprendizagem de gestos (sinais metódicos), a imposição da oralidade até a construção de um novo olhar pautado em aspectos antropológicos onde prima-se pela cultura surda. Em decorrência do crivo da oralidade e da medicalização da surdez a marginalização vivida pelas comunidades surdas ocorreu em todas as instâncias possíveis, desde a representação acerca dos surdos até as estratégias pedagógicas no ambiente escolar. o que fracassou na educação dos surdos foram as representações ouvintistas acerca do que é o sujeito surdo, quais são seus direitos lingüísticos e de cidadania, quais são as teorias de aprendizagem que refletem as condições cognitivas dos surdos, quais as epistemologias do professor ouvinte na sua aproximação como os alunos surdos, quais são os mecanismos de participação das comunidades surdas no processo educativo. (SKLIAR 1998, p. 21). Somente no século XX na década de 1960, o olhar sobre os surdos começou a se deslocar da normativa da medicina para estudos etnográficos. No Brasil a Língua de Sinais é denominada Língua Brasileira de Sinais (LBS), também denominada LIBRAS, “é uma língua de modalidade gestual-visual, reconhecida como língua natural dos surdos e constitui o “símbolo da surdez” (BRITO, 1993, p. 28). Hoje consideramos que a Língua de Sinais é o único meio efetivo de comunicação entre os surdos, possibilitando-lhes se desenvolver lingüístico-cognitivamente. Segundo SKLIAR (in SOUZA 1997, p. 271), “a língua de sinais é uma língua plena, natural, não um código artificial de comunicação e como tal deve ser pensada; é um direito dos surdos não uma concessão”. Essa nova percepção frente às comunidades surdas, no último século, reconhece o status linguístico da língua de sinais e compreende que os surdos têm uma cultura surda. Entendo cultura aqui não como algo único, estável, mas plural, representação de diferença. Considerações como essa têm mudado as representações acerca da surdez, ocasionando na educação dos surdos significativas mudanças, exigindo que os professores 2
  • 3. desses alunos ressignifiquem seus métodos de trabalho onde os recursos didáticos estejam coerentes com o avanço tecnológico, e que a experiência visual constitua-se como uma marca cultural e pedagógica em todo o processo de escolarização das pessoas surdas. A.2- Marca de uma cultura: a Língua de Sinais Somente no Séc XX, voltou-se a dar credibilidade à língua de sinais, quando Stokoe1 em 1960, publica um artigo onde descreve três parâmetros para a produção dos sinais: tabulação, designação, configuração da signação. No Brasil a Língua de Sinais é denominada Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, e foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão, fato que a tornou componente curricular nas escolas. As línguas de sinais distinguem-se das línguas orais por serem da modalidade gestual-visual. Hoje consideramos que a Língua de Sinais é o melhor meio efetivo de comunicação entre os surdos, possibilitando-lhes desenvolver lingüístico- cognitivamente. Segundo Skliar in Souza (1997:271), a LS é uma língua plena, natural, não um código artificial de comunicação e como tal deve ser pensada; é um direito dos surdos não uma concessão. Essa nova racionalidade frente às comunidades surdas, no último século compreende que os surdos têm uma cultura, entendida aqui não como algo único, estável, mas plural, de representação de diferença. Pode-se perceber a cultura surda como Perlin (2004:76) sugere: Conhece-se e compreende-se a cultura surda como uma questão de diferença, um espaço que exige posições que dão uma visão do entre lugar, da diference, da alteridade, da identidade. Percebe-se que o sujeito surdo está descentrado de uma cultura e possui uma outra cultura. Ainda em Perlim (1998:56) lê-se: A cultura surda como diferença se constitui como uma atividade criadora, símbolos de práticas jamais aproximados na cultura ouvinte. Ela é disciplinada por uma forma de ação e atuação visual e não auditiva. Nessa perspectiva entender a educação dos surdos requer pensar para além das questões clínicas, audiológicas e de reabilitação, mas construir um conhecimento sobre os surdos que aponte para as questões da diferença, da cultura e da identidade surda. O que significa refletir sobre diferentes questões como: a surdez constitui uma diferença que deve ser reconhecida, é uma identidade múltipla que se gesta e se constrói nas vivências cotidianas das comunidades surdas e principalmente a surdez constitui uma experiência efetivamente visual. 1 AUTOR- William Stokoe- lingüista americano que publicou o artigo “Sign Language Structure: Na Outline of the Visual Communication System of the American Deaf”, demostrando que a ASL é uma língua com todas as características das línguas orais. 3
  • 4. Na década de 80, um grupo de surdos, passa a participar da FENEIDA2, alterando o nome e o estatuto dessa instituição para FENEIS3. Klein (2005:22), caracteriza o papel dessas entidades: Nesses espaços eles procuram se encontrar para compartilhar da língua e de experiências as mais variadas. Suas atividades, na grande maioria, voltam-se ao lazer e ao esporte, havendo em algumas associações, mobilizações mais políticas , como a oficialização da Língua de Sinais e a garantia da presença de intérpretes em situações diversas. Fatores como esses estão reconfigurando as formas de representar os surdos e a surdez, apontando os surdos numa perspectiva mais ampla de educação chamada de Estudos Culturais, onde os estudos surdos estão sendo contemplados. Skliar in Souza (1997:274) define estudos surdos como: um campo de investigação e de proposições educacionais que, através de um conjunto de concepções lingüísticas, multiculturais e antropológicas, definem uma particular aproximação ao conhecimento de mundo dos surdos. Nesta definição ficam excluídas todas as referências ao universo da audiologia e das deficiências auditivas, pois elas não cumprem nenhum papel na construção das experiências educacionais, nem comunitárias, nem culturais dos surdos . Nessa perspectiva, o sujeito surdo apresenta uma diferença sócio-lingüística, ou seja, ele interage com o mundo a partir de uma experiência visual. Todas as suas construções mentais se dão pelo canal espaço-visual mediados pelo seu instrumento natural de comunicação: a língua de sinais e a língua escrita. Além de viabilizar todos os processos cognitivos, lingüísticos, éticos, artísticos, intelectuais do surdo, a língua de sinais constitui, conforme este modelo, um elemento identificatório entre estes sujeitos. Ao compartilharem uma língua comum, os surdos passam a se reconhecer como membros de uma comunidade singular. De acordo com Wrigley (1996, p. 3): “o mundo visual percebe e produz a significação através de canais visuais de uma lingüística espacial. Não é um mundo necessariamente melhor ou pior, apenas distinto e diferente.” Seguindo esta linha teórica, convém destacar que os surdos manifestam sua diferença lingüística e cultural na formação de comunidades surdas. Entretanto, convém ressaltar que as comunidades de surdos não são consideradas apenas espaços de lazer, entretenimento, práticas de esportes... A comunidade surda é, sobretudo, um espaço de articulação política na busca pelo reconhecimento da surdez como diferença. E exatamente nesse sentido, os surdos, podem ser vistos como criando uma diferença política. Considerações como essa têm mudado as representações acerca da surdez e dos surdos, ocasionando, na educação dessas pessoas, significativas mudanças, que exigem 2 GLOSSÁRIO- FENEIDA - Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente Auditivo. 3 GLOSSÁRIO- FENEIS- Federação Nacional de Educação e Inclusão dos Surdos, para conhecer a FENEIS acesse o site: www.feneis.com.br. CONTEUDO RELACIONADO – Para ler sobre eventos da comunidade surda, acesse: http://www.surdosol.com.br/ 4
  • 5. novas meios de interação lingüística com os alunos surdos, isto é, hoje se prevê a educação dos surdos materializada pela proposta de Educação Bilíngüe. A.3- A Experiência visual, Educação Bilíngüe, e Currículo na Sala de aula de surdos. A diferença na percepção de mundo para as comunidades surdas perpassa as também uma interface relativa a experiência visual. Sabemos que o contato com o mundo a interação com o meio para os surdos se constrói a partir do canal viso-manual, e não através da oralização. Esse fato está diretamente ligado a construção cultural, e a visão que temos de nós enquanto sujeitos culturais, quais nossas impressões sobre o mundo, o que somos, para onde vamos? É nesse sentido que se torna tão importante falarmos da comunidade surda, pois é nesse contexto, que os valores culturais das pessoas surdas, são criadas, nutridas e efetivamente vivenciadas. Para Strobel (2008, p. 39): os sujeitos surdos, com sua ausência de audição e do som, percebem o mundo através de seus olhos, tudo o que ocorre ao redor deles: desde os latidos de um cachorro – que é demonstrado por meio dos movimentos de sua boca e da expressão corpóreo-facial-bruta – até de uma bomba estourando, que é obvia aos olhos de um sujeito surdo pelas alterações ocorridas no ambiente, como os objetos que caem abruptamente e a fumaça que surge. Essa diferença de percepção do mundo para os surdos, consolida-se todos os dias em seu cotidiano, não só através do olhar, da visão, da pessoa surda, mas da forma como se comunicam, suas expressões, corporais, faciais, etc. Enfim todos os meios que usam para se comunicar, e acima de tudo por meio da língua de sinais. Essas considerações são fundamentais quando nos reportamos ao espaço escolar, Como pensar a sala de aula para alunos surdos? Os recursos pedagógicos e didáticos que devem ser valorizados e trazidos para esse contexto? Para contemplar esses aspectos é importante que o professor e toda a comunidade escolar tenha conhecimento da educação bilíngue. Já postulada em legislação que a educação bilíngüe é um direito daqueles que utilizam uma língua diferente da língua oficial do país, de serem educados na sua língua. Em relação aos estudantes surdos, a legislação brasileira define que a instrução e o ensino da língua de sinais dos alunos surdos, e da língua portuguesa devem estar presentes no contexto escolar. O bilingüismo4 pressupõe a língua de sinais para o ensino de todas as disciplinas. Essa língua têm, segundo os preceitos da educação bilíngüe, o status de primeira língua 4 ASSUNTO- Para ler mais sobre bilingüísmo leia o capítulo 2 da obra: GOLDFELD, Marcia. A Criança Surda: linguagem e cognição numa perspectiva sociointeracionista. 2.ed. São Paulo: Plexus, 2002. FERNANDEZ. Eulalia. QUADROS, Ronice Muller de. (orgs) Surdez e Bilingüismo. Porto Alegre. Mediação. 2005. eou www.fe.unicamp.br/dis/ges/ , http://www.ges.ced.ufsc.br/ 5
  • 6. dos surdos, a qual deve ser adquirida num contexto comunicacional natural, isto é sem imposição, no meio de outros surdos maiores, dominantes desta língua e agentes de construção lingüística, cognitiva e de identidade. Outras interfaces fazem parte das propostas de uma educação bilíngüe, isto é, outros sujeitos na escola terão papel importante na difusão da língua de sinais e dos valores de uma educação bilíngüe, como é caso dos funcionários, administradores e principalmente da família dos surdos. Como pode ser visto, essa proposta não está centrada no professor e nos alunos surdos, mas em toda a estrutura escolar. A família é parte fundamental, pois, torna-se necessária a aprendizagem da língua de sinais, pelos irmãos, pais e demais familiares, para que também em casa a Libras possa ser utilizada por todos.. Goldefeld (1997:40) enfatiza: é sabido que mais de 90% dos surdos tem família ouvinte. Para que a criança tenha sucesso na aquisição da língua de sinais, é necessário que a família também aprenda esta língua para que assim a criança possa utilizá-la para se comunicar em casa. Botelho (2002:112) colabora: a língua de sinais também existe como disciplina curricular nos vários níveis escolares. Os surdos aprendem também sobre as línguas de sinais de outros países, sobre a organização de surdos, sobre a Cultura Surda e outros temas de importância. Nesse contexto a língua portuguesa escrita deverá ser ensinada como língua oficial, requerendo necessariamente o uso de metodologias específicas para a aprendizagem de segunda língua.. Entendemos que a educação bilíngüe é a forma mais legítima de demonstrar as condições sócio-antropológicas, lingüísticas, culturais das comunidades surdas. Partindo desse olhar, a escola deverá pensar em modelos pedagógicos que venham ao encontro dessa realidade, contemplando, segundo Skliar (1990:53), condições de acesso à língua de sinais e a segunda língua, à identidade pessoal e social, à informação significativa, ao mundo do trabalho e a cultura surda. Sabemos que a segunda língua no caso dos surdos é a língua portuguesa, a qual exige para seu aprendizado, condições de ensino de língua estrangeira. Falaremos sobre esse tema na próxima unidade. Para estudarmos sobre o currículo seria oportuno definirmos o que entendemos sobre currículo, porém essa não é uma tarefa fácil. Currículo assim como outros termos tem tido seu significado modificado ao longo dos tempos, percebido e abordado em diferentes perspectivas no campo educacional. Duas grandes tendências marcaram a questão do currículo. A primeira versão é defendida por aqueles que chamamos de conteudistas, isto é, aqueles que entendem que o objetivo maior da escola é a transmissão de conteúdos. Na segunda versão encontramos autores que defendem a importância das experiências vividas pelos alunos no contexto escolar. Nesse sentido e sob essa ótica imprimimos um significado fundamental para o currículo. Entendemos, portanto que estamos diante de duas situações: “o que ensinar e “como ensinar”, mas entendemos também que uma não exclui a outra, pelo contrário, se constroem e se complementam. 6
  • 7. Seria importante, porém não cabe nesse momento um resgate histórico sobre o conceito de currículo5 e como a escola foi influenciada pelas concepções brasileiras de currículo. O que nos interessa precisamente são as concepções sobre currículo na educação dos surdos6. . Nesse documento podemos perceber os fundamentos filosóficos e sóciopolíticos da educação até os marcos teóricos e suporte técnicos que se efetivam no universo da escola relacionando a teoria e a prática. O projeto político pedagógico da escola deve refletir o caráter político, cultural. os interesses, as aspirações, as dúvidas e as expectativas da comunidade escolar. Sendo assim o currículo é o espaço disponível e possível de refletir a cultura escolar. Outros documentos 7que referendam a Política Nacional fundamentam e orientam as ações voltadas para os alunos surdos, numa abordagem de educação bilíngüe. Entre esses documentos encontra-se a Sala de Recursos Multifuncionais que define, entre outras questões, o papel do professor da sala de recursos para atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos com surdez ou deficiência auditiva, com as seguintes funções, conforme MEC et al (2006: 25):  Complementar os estudos referentes aos conhecimentos construídos nas classes comuns do ensino regular;  Ofertar suportes pedagógicos aos alunos, facilitando-lhes o acesso a todos os conteúdos curriculares;  Aprofundar os estudos relativos à língua portuguesa principalmente na modalidade escrita  Outros documentos referendam a política nacional, fundamentando e orientando as ações voltadas para os alunos surdos, numa abordagem de educação bilíngüe conforme o decreto nº 5626/2005 Arts. 15 e 16 que dispõe: Art.15. Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de Libras e o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e instrumental, como: I- atividades ou complementação curricular específica na educação infantil e anos iniciais de ensino fundamental; e 5 ASSUNTO- Para ler mais sobre currículo leia: Moreira, Antonio Flavio Barbosa. Currículo: questões atuais. Campinas, São Paulo. Papirus, 1997. 6 Atrevo-me nesse trabalho a apontar algumas questões centrais que poderão colaborar para uma educação de qualidade para os surdos brasileiros:  O currículo para surdos deve contemplar discussões acerca da cultura, língua, linguagem;  História das línguas de sinais;  Estudar o conceito de multiculturalismo, interculturalidade, diferença, diversidade;  Problematizar o conceito de deficiência;  Contemplar estudos acerca da história dos surdos, e não só dos surdos brancos, europeus; 7 ASSUNTO- Estou fazendo referência ao texto do MEC/SEESP, que discute sobre Saberes e práticas da inclusão: dificuldades de comunicação e sinalização. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. 2004. No texto há temas sobre a operacionalização da educação bilíngüe, sugestões das funções do professor surdo e do professor ouvinte, considerações sobre a língua de sinais -LIBRAS, língua portuguesa escrita e sugestões de atividades em relação ao último tema. 7
  • 8. II- áreas de conhecimento, como disciplinas curriculares, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior. Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, na educação básica, deve ser ofertada aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, preferencialmente em turno distinto ao da escolarização, por meio de ações integradas entre as áreas de saúde e da educação, resguardando o direito de opção da família ou do próprio aluno por essa modalidade. Recomendamos, para essa atuação, atividades contempladas em projetos pedagógicos que percebem o aluno como um sujeito integral, enfocando todas as áreas do conhecimento humano como: lingüístico, social, emocional, motor, imaginário...Desnecessário elucidar que para uma atuação de qualidade com alunos surdos é inquestionável o conhecimento acerca da língua de sinais por parte do professor da sala de recursos, assim como planos de ação pautadas numa pedagogia que parta de experiências visuais, valorativa do canal viso-manual da língua dos surdos. Porém sabe-se que apenas fazer uso da língua de sinais, não assegura um trabalho pedagógico de qualidade. Nesse texto apresentaremos sugestões de projetos pedagógicos que poderão ser utilizados na sala de recursos tanto na educação infantil como no ensino fundamental. Um dos projetos volta-se para a aprendizagem a partir do lúdico, e o que outro faz considerações acerca da literatura. A escolha por esses projetos justifica-se por entender que os mesmos otimizam a experiência visual na sala de aula de surdos. Sugerimos nesse trabalho atividades que valorizem o lúdico na sala de aula e a literatura na sala de aula. Sobre o brinquedo sabemos que na Antigüidade8 as crianças participavam das mesmas brincadeiras9 dos adultos. Toda a comunidade participava das festas e brincadeiras, com a finalidade de estreitar os laços afetivos. Hoje, dentro de uma visão sócio-histórica, a criança está constantemente modificando- se por estar imersa na sociedade, interagindo com os adultos. Esse desenvolvimento ocorre através da interação e das experiências sociais. A criança, quando ingressa na educação infantil, começa a interagir10 com os ambientes, que nem sempre são condizentes com aquele que ela faz parte. Está inserida num ambiente diferente, com ritmos diferentes, com objetos, ações e relações ainda 8 GLOSSÁRIO - Antiguidade -Compreende os momentos que vão desde a utilização da escrita até a Queda do Império Romano do Ocidente, em 476. 9 Essas brincadeiras, jogos e divertimentos eram vistos sob dois aspectos. Uma parte da sociedade aceitava este tipo de atitude, percebendo-as como meio de crescimento social, os outros recriminavam, pois associavam aos prazeres carnais, ao vício e ao azar.Com o passar dos tempos houve uma preocupação com a moral, a saúde e o bem comum e passou-se a elaborar propostas baseadas no jogo especializado, de acordo com a idade e o desenvolvimento da criança. Posteriormente deixou-se de ver a brincadeira apenas como um ato lúdico. Ela passou a ser valorizada no espaço educativo.A partir das décadas de 60 e 70 do século XX, a psicologia do desenvolvimento e a psicanálise contribuíram para que se entendesse a infância como o período principal do desenvolvimento humano, enfatizando o papel da brincadeira na educação infantil. O brincar não poder ser concebido nem como direito nem como dever. As brincadeiras da criança são uma estrutura ligada às características da espécie humana. 10 CONTEUDO RELACIONADO- Partindo da visão-sociointeracionista o homem é um ser geneticamente social. Desta forma, o crescimento intelectual ocorre a partir da apropriação de conhecimentos culturais, conseqüentemente, dos processos de ensino e aprendizagem. Não basta estar em grupo para que ocorra a aprendizagem, o ensino ou o desenvolvimento. É necessário que ocorra interação entre os membros do grupo. 8
  • 9. desconhecidos. Esta diversidade e heterogeneidade são elementos primordiais para o enriquecimento do desenvolvimento das crianças. Através da brincadeira, a criança pode experimentar novas situações, na perspectiva de uma educação criadora, voluntária e consciente. O brinquedo proporciona mudanças no que se refere às necessidades e à consciência da criança. A criança, com o brinquedo, pode colocar hipóteses, desafios, além de construir relações, com regras e limites impostos pelos adultos. No processo da educação infantil, o papel do professor é primordial, pois é aquele que cria espaços, oferece os materiais e participa das brincadeiras11, e faz mediação da a construção do conhecimento. O professor fazendo parte da brincadeira terá oportunidade de apresentar valores e a cultura da sociedade. O professor estará possibilitando a aprendizagem da maneira mais criativa e social possível. O brinquedo, visto como objeto, suporte da brincadeira, permite à criança criar, imaginar e representar a realidade e as experiências por ela adquiridas. Desta forma, o brinquedo é visto como a representação das experiências, da realidade que a criança faz parte. Além disso, o brinquedo também pode ser visto como fruto da imaginação. É através dele que a criança pode representar o mundo imaginário que ela criou. Essa questão imaginária pode variar de acordo com a idade. Aos 3 anos a imaginação é carregada de animismo12, dos 5 aos 6 anos a criança inclui nesse processo imaginativo elementos da realidade e na fase adulta passa a utilizar elementos culturais. Independente de cultura, raça, credo ou classe social, toda a criança brinca. Todos os seus atos estão ligados à brincadeira, ela interage, através do brinquedo, desde cedo, com a cultura em que está inserida. Com a intenção de aproximar o aluno da escola e mantê-lo motivado neste ambiente, deve-se utilizar recursos que diversifiquem a prática pedagógica, buscando tornar o espaço da sala de aula aconchegante, divertido, descontraído, propiciando o aprender dentro de uma visão lúdica. O ato de brincar, independente do espaço em que ocorra, deve ser valorizado por se constituir num instrumento de aquisição de novos conhecimentos e de aprendizado das regras e normas adultas vigentes na sociedade, contribuindo com a formação de um cidadão crítico e atuante. Segundo Cunha (2004:12): as situações de jogo trazem um desafio maior, que é a competição, mas precisam ser conduzidas compreensivamente para que não ressaltem diferenças individuais. Os jogos cooperativos e os jogos em grupo têm vantagem de estimular a cooperação entre os participantes. . 11 SAIBA MAIS- História do brinquedo. acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Brinquedo. Para saber mais sobre brinquedo e a educação, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301997000200011. Para saber mais sobre tipos de brinquedos: Brinquedo tradicional e popular, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301997000200011 12 GLOSSÁRIO – Tendência a considerar todos os seres da natureza como dotados de vida e capazes de agir conforme sua finalidade. 9
  • 10. Quanto menor for à criança, mais a brincadeira será a atividade central e essencial, e as atividades dirigidas aparecerão progressivamente, sempre relacionadas com as atividades de jogo. Podemos apontar alguns tipos de jogos: Jogos de comunicação, Jogos motores, Jogos simbólicos, Jogos folclóricos, jogos virtuais etc... Ao professor cabe saber utilizar os jogos e brincadeira em aula, numa perspectiva educacional, para que as crianças possam se apropriar do mundo. Elementos como: observação, formas de intervenção, atividades dirigidas são algumas posturas necessárias para que efetivamente uma educação de qualidade. Não se pode esquecer do papel do professor como aquele que promove as estratégias sociais, lingüísticas e cognitivas, num contexto educativo, fornecendo subsídios para a construção dos conhecimentos que serão adquiridos, servindo-se do brincar. Outra sugestão de atividade que promove a otimização da experiência visual na sala de aula de surdos é a literatura.13 A literatura infantil 14é atribuída uma função social que a torna imprescindível e que decretou seu aparecimento, sendo este, de caráter preparatório e missão formadora com a intenção de incutir na criança certos valores de natureza social e estética, como também, propiciar a adoção de hábitos de consumo ao estimular a aquisição de livros com freqüência ou hábitos de comportamentos socialmente preferidos, sejam eles de adoção de boas maneiras ou estímulo a atitudes de questionamento das bases de organização da sociedade. O que garante a necessidade e a importância da literatura infantil no seio da vida social é seu caráter educativo e complementar à atividade pedagógica exercida no lar e na escola, pois, a origem primária dos textos escritos para crianças está relacionados com os ensinamentos pedagógicos e não exclusivamente literários. A literatura infantil tornou-se um instrumento através do qual se apresenta às crianças, valores da geração adulta, pois, embora sendo consumida por crianças, a reflexão sobre o produto oferecido a elas provém do adulto, que a analisa de acordo com seus interesses. . Ainda hoje se discute quando foi o marco inicial da literatura infantil propriamente dita, ou seja, quando se começou a escrever com intenção de fornecer literatura apropriada para crianças, levando-se em consideração os aspectos da sua evolução mental e emocional. Antes mesmo de serem escritas, as histórias de ficção e os contos existiam e passavam de geração a geração, pela tradição oral, através de jograis, de contadores de histórias ou simplesmente pela necessidade de comunicação entre as pessoas. Os serões tornaram-se um hábito diário, pois não existiam outros meios de recreação. Durante o 13 O surgimento da literatura infantil decorreu da ascensão da família burguesa, no século XIX, do novo status concedido à infância na sociedade e no âmbito doméstico e da reorganização da escola. Para a classe média, a educação é um meio de ascensão social, e a literatura, um instrumento de difusão de seus valores, tais como a importância da alfabetização, da leitura e do conhecimento, no comportamento moral aceitável e no esforço pessoal. 14 SAIBA MAIS- Para ler sobre literatura: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1989. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 10ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. KAERCHER, Gládis. “E por falar em literatura”. In: Literatura infantil: pra que te Quero. (Org.) Carmem M. A. CRAIDY e Gládis KAERCHER. Porto Alegre: UFRGS/Governo do RS. 1998. LADEIRA, Idalma. Fantoche e Cia. São Paulo: Scipione, 1998. ROSEMBERG, Fúlvia. Literatura infantil e ideologia. São Paulo: Global, 1984. SZPIGEL, Marisa. “Arte em classes de pré-escola”. In: Arte na sala de aula. (Coord.) Zélia CAVALCANTI. POA: Artes Médicas, 1995. 10
  • 11. século XVII, foram escritas histórias que vieram a ser consideradas como literatura apropriada à infância: o conto de fadas. As origens dos contos de fadas são as mais diversas, mas o que se tornou ponto concreto é que a fonte oriental e céltica é a mais antiga da literatura popular maravilhosa, e está integrada no folclore de todas as nações do mundo ocidental. O que não foi possível determinar, após muitos estudos e pesquisas, é quais foram as fontes ou textos-matrizes que originaram a literatura maravilhosa, de produção anônima e coletiva , sendo que, um fundo comum entre todas elas foi detectado no momento em que se percebeu a coincidência de episódios, motivos etc., em contos pertencentes a regiões geograficamente tão distantes entre si e com culturas, línguas ou costumes absolutamente diferentes. Vindos da tradição oral, os contos e lendas da Idade Média15 foram adaptados pela primeira vez pelo francês Charles Perrault16, no século XVII, conforme Ligia Cademartori (1987), apontado como o iniciador da literatura infantil. Esta coleta de contos e lendas populares com suas adaptações constitui os chamados contos de fadas e, sendo fiéis à sua origem, as histórias mantêm a estrutura tradicional dos contos folclóricos. Na Segunda metade do século XVIII, a literatura deixa de ser um jogo verbal, para se caracterizar pela busca do conhecimento. A palavra de ordem do Iluminismo17 era instruir. A preocupação didática transformava o livro da criança num verdadeiro manual de Ciências, criando, assim, uma nova literatura. Nesta época distinguisse dois tipos de crianças, com acesso a literatura bem diferente: a criança da nobreza, orientada por preceptores, lia geralmente os grandes clássicos e a criança das classes desprivilegiadas liam ou ouviam as histórias de cavalaria, de aventuras. As lendas e os contos folclóricos formavam uma literatura de cordel endereçadas às classes populares. No século XIX, outra coleta de contos populares é realizada, na Alemanha, pelos Irmãos Grimm18, alargando a antologia dos contos de fadas. Como não poderia deixar de ser, no Brasil, a literatura tem início com obras pedagógicas e, sobretudo adaptadas de produções portuguesas.. A segunda metade do século XIX caracterizou-se pela literatura infantil propriamente dita, sem preocupação didática, mas conseguindo agradar simplesmente pela arte de despertar o interesse e prender a atenção da infância. Os contos de ficção, o folclore do 15 GLOSSÁRIO- Idade Média- Abrange um longo período da história que vai desde a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, até a tomada de Constantinopla, em 1453. 16 AUTOR- Charles Perrault- Para conhecer a história de Charles Perrault, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Perrault 17 GLOSSÁRIO-IIuminismo - Para ler sobre esse tema acesse: Iluminismo http://www.saberhistoria.hpg.ig.com.br/nova_pagina_31.htm http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/iluminismo/ http://www.suapesquisa.com/historia/iluminismo/ 18 SAIBA MAIS - Para ler sobre os Irmãos Grimm acesse: http://www.graudez.com.br/litinf/autores/grimm/grimm.htm eou http://members.tripod.com/volobuef/page_maerchen_grimm_obras.htm CONTEUDO RELACIONADO- Para conhecer outro grande escritor da literatura clássica infanto-juvenil - Hans_Christian_Andersen, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Christian_Andersen 11
  • 12. passado, invadiram o mundo infantil, em forma de traduções, adaptações, imitações, compilações, vindo sempre, de encontro ao gosto da criança e interessando-a profundamente. Os contos de fadas são as formas literárias mais valorizadas. Suas origens têm raízes, como a história nos mostra, em tempos primitivos, onde o desconhecido exercia sobre a humanidade um desafio constante. A Literatura é uma das expressões mais significativas desse desejo permanente de saber e de domínio sobre a vida, que caracteriza o homem de todas as épocas. Existem elementos essenciais para estruturar o conto de uma história, ou seja, a introdução, o enredo, o clímax e o desfecho. A introdução é a parte inicial e preparatória, tem por objetivo localizar o trecho da história no tempo e no espaço, apresentar os principais personagens e caracterizá-los. Deve ser curta e dar as informações necessárias para facilitar a compreensão. O enredo é formado pela sucessão dos episódios, os conflitos que surgem e a ação dos personagens. É importante destacar no enredo o que é essencial e o que são detalhes. O essencial deve ser contado na íntegra e os detalhes podem fluir por conta da criatividade do narrador no momento. O clímax deve ser o ponto culminante da história. Surge como uma resultante de todos os acontecimentos que formam o enredo. Em uma história bem elaborada apresenta vários pontos emocionantes. Ex.: O gato de Botas, onde várias passagens se destacam pela emoção que despertam o ponto culminante, porém, só se apresenta quando o gato entra em luta com o gigante que era feiticeiro e se transformam num camundongo. Cabe ao professor dar maior suspense a fim de aguçar a curiosidade dos ouvintes. Após serem apresentadas as passagens emocionantes onde atingiram o ponto culminante da história, esta será encaminhada para o desfecho, ou seja, o final da história. O professor antes de trabalhar com histórias deve levar em consideração alguns aspectos como: - Faixa etária que a criança se encontra; - Nível de desenvolvimento cognitivo; - O assunto deve se adequar ao interesse da criança; - Material a ser utilizado; - Preparação do ambiente. - Conhecimento da língua de sinais; O professor deve usar uma linguagem correta, simples e clara. Deve falar olhando para a criança, como também enriquecer a exposição com expressões faciais. A história deve ser contada em língua de sinais por um surdo adulto ou pelo professor bilíngüe . Deve fazer uso de preferência de recursos visuais como gravuras e / ou dramatizações. Ressaltamos que histórias infantis em língua de sinais já podem ser encontradas no Brasil. Consideramos importante o professor, no trabalho com surdos, utilize também a literatura surda19. 19 SAIBA MAIS – Literatura e Literatura Surda - Para ler sobre esse tema acesse: http://143.106.58.55/revista/viewarticle.php?id=114- eou leia o artigo de: SILVEIRA, Hessel Rosa. Contando história sobre surdos (as) e surdez. in COSTA , Marisa Vorraber & VEIGA -NETO Alfredo. (org). Estudos Culturais em Educação: mídia, arquitetura, brinquedo, biologia, literatura, cinema...2 ed. Porto Alegre, Editora da UGRGS. 2004. CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura infantil ? São Paulo, Brasiliense, 1991. GIRARDELLO. Gilka. Introdução. In GIRARDELLO. Gilka. (org). 12
  • 13. Para contar histórias, diferentes materiais podem ser utilizados:. - Reproduzir com material de sucata situações vividas pela criança, inventar histórias com material de sucata, histórias participadas, montar quadros de seqüência lógica, contar histórias por fichas, com ou sem escrita, livros, história em quadrinhos, CD-ROM de Literatura. O professor pode utilizar alguns recursos como: slides, retroprojetor, dramatização, onde o professor ou os alunos interpreta uma personagem, uso de máscaras, uso de marionetes ou fantoches, desenhos da história pelos alunos, etc... A história é uma técnica que pode ser utilizada pelo professor para introduzir ou explorar um conteúdo, como culminância de uma unidade de trabalho. Porém nunca esqueça que não podemos suprimir o aspecto prazeroso e agradável de ler, ou seja, usar história infantil apenas como um método, com o único objetivo de ensinar algum conteúdo. Todo o trabalho que envolva aquisição de conhecimentos históricos, geográficos e mesmo de ciências naturais, se forem coloridos por uma história provavelmente sejam mais bem compreendidos e assimilados. Exemplo: A professora poderá utilizar a técnica do conto de histórias, para introduzir noções como: dentro, fora, em cima, embaixo, na frente, entre outros. A utilização desta técnica proporcionará às crianças visualizarem uma situação concreta, e depois vivenciarem a mesma através da dramatização. Isto lhes proporcionará uma melhor compreensão destes conteúdos. Baús e chaves da narração de histórias. Florianópolis: SESC/SC, 2004. KRAERCHER, Gládis. Por falar em literatura. Porto Alegre. 1998. LEBEDEFF, Tatiana B. Práticas de letramento na pré escola de surdos: reflexões sobre a importância de contar histórias. In: THOMA, Adriana da S, LOPES, Maura C. (orgs). A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. p. 128-142. e acesse: 143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=276&article=110&mode=pdf – 143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=274&article=112&mode=pdf - CONTEUDO RELACIONADO- Podemos citar como exemplo de texto literário em língua de sinais; Tibi e Joca: uma história, dois mundos, de BISOL. Claudia. Mercado Aberto, Porto Alegre. 2001. A Cinderela Surda, e A Rapunzel Surda. Ambos de HESSEL, Silveira. Carolina. KARNOPP. Lodenir B. ROSA, Fabiano. Esses livros que têm um diferencial na sua forma de produção, visto que são escritos por meio do sistema SIGNWRITING. Patinho Surdo de KARNOPP Lodenir B. ROSA, Fabiano. Canoas. Ed. ULBRA. 2005. Adão e Eva de KARNOPP Lodenir B. ROSA, Fabiano. Canoas. Ed. ULBRA. 2005. O Som do Silêncio, de CORTES, Claudia. Lovise, São Paulo. 2004. O Ministério da Educação, em 2002, publicou a Coleção Arara Azul, um material digital distribuído em Cd-ROMS, em que são contadas, em língua de sinais, histórias como As Aventuras de Pinóquio, Alice no País das Maravilhas, Iracema, O Alienista, entre outras. Para conhecer esse material acesse o site acesse www. mec.gov.br , clássicos da literatura em LIBRAS. Na UFSM desenvolve-se o Projeto Mão Livre, o qual têm pesquisado sobre a produção de livros bilíngües. O livro A Lenda da Erva Mate, foi publicado em dezembro de 2006. CONTEUDO RELACIONADO: sites de algumas editoras que promovem a publicação de livros em LIBRAS. http://www.editora-arara-azul.com.br/ http://www.editoradaulbra.com.br SAIBA MAIS- SIGNWRITING- SIGNWRITING – para saber mais sobre este assunto, consulte o site www.signwriting.org ou leia o artigo Sistema SIGNWRITING: por uma escrita funcional para o surdo, de Mariane Rosa Stumpf (in: THOMA, A. S.; LOPES, M. C. (Orgs.). A Invenção da Surdez: cultura, alteridade, identidades e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. 13
  • 14. Os verbos presentes na história deverão ser explorados em diferentes situações, para que a criança perceba que pode utilizar uma mesma ação em diferentes ocasiões. Para explorar os verbos a professora deverá utilizar outros recursos como: gravuras da representação de um mesmo verbo, enfocando várias situações em que ele pode ser empregado. Exemplos: Os meninos jogam bola, Paulo jogou o caderno no chão, Márcia jogou na loteria, O menino joga peteca. Para trabalhar um conteúdo de ciência, por exemplo, “germinação”, o professor deverá utilizar como recurso uma história elaborando quadros de seqüência lógica do processo de germinação e crescimento do feijão. E, como culminância do trabalho, poderá apresentar a história “João e o pé de feijão”. Sabemos que as etapas do desenvolvimento cognitivo teoricamente são ordenadas, mas o ritmo de desenvolvimento de cada indivíduo, assim como suas capacidades intelectuais, “dependem intrinsecamente de sua herança genética e das condições ambientais em que vive”. O professor antes de trabalhar com esse recurso, deve ter conhecimento das etapas20 do desenvolvimento cognitivo e lingüístico dos alunos. Para crianças pequenas as histórias devem ter enredo simples, vivo e atraente, contendo situações que se aproximem o mais possível da vida da criança, de sua vivência afetiva e doméstica, de seu meio social, de brinquedos e animais que a rodeiam. Assim, ela poderá integrar-se com os personagens, consegue “viver” os enredos e sentir-se no “lugar” em que os episódios narrados ocorrem. As histórias devem, nesta fase, conter ritmo e repetição. Numa fase posterior as crianças solicitam várias vezes a mesma história é a fase do “conte de novo”, “conta outra vez”. Por que a mesma história? Da primeira vez tudo é novidade, nas seguintes, já sabendo o que vai acontecer, a criança pode se identificar mais ainda, apreciando os detalhes. Isto às vezes acontece até com adultos após ter lido um livro ou assistido a um filme. Quem nunca sentiu vontade de ler ou rever novamente um livro ou um filme ?. Essa fase se estende até aproximadamente os sete anos. No primeiro período, a criança prefere histórias com um mínimo de texto, enredo reduzido, expressões repetidas; no segundo período, a criança começa a apreciar histórias de animais domésticos, circo, enredos que evolvam alimentos, flores, nuvens, festas, etc. Na idade escolar, as crianças já sabem que os contos acontecem no mundo do faz- de-conta e começam a manifestar senso crítico e se expressar com certa lógica. Encerramos essa unidade que promoveu discussões sobre os surdos, sua língua, sua cultura. Sugerimos que o professor oportunize a vivência de projetos pedagógicos na sala de aula. Entendemos que os projetos são uma ótima oportunidade para propiciar ações significativas tanto para os professores quanto para os alunos, viabilizando a aprendizagem de qualidade que todos nós almejamos. Embora tenhamos nessa unidade apontado o lúdico 20 Saiba mais: Faixa Etária e Interesses: Até 3 anos: histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza, histórias de crianças 3 a 6 anos: histórias de fadas, histórias de crianças, animais e encantamento. 7 anos: aventuras no ambiente próximo: família, comunidade, contos de fadas 8 anos: histórias vinculadas à realidade, histórias de fadas com enredo mais elaborado,histórias humorísticas, aventuras, narrativas de viagens, explorações, invenções Adolescência: fábulas, mitos e lendas 14
  • 15. e a literatura, sabemos que há um universo de temas que podem ser contemplados por meio de projetos. Esses temas estão inseridos em todas as disciplinas do currículo e estão relacionadas a outras áreas e aos temas transversais. A.5- Educação de surdos e novos recursos tecnológicos: a tecnologia assistiva. A evolução tecnológica dentre tantos aspectos proporcionou tornar a vida mais fácil. Cotidianamente usamos de ferramentas que facilitam nossas atividades como o uso de talheres, computadores, controle remoto, relógio, telefones celulares, enfim, uma gama de recursos que já fazem parte da nossa rotina e facilitam nosso desempenho em determinadas ações. Nas últimas décadas do século XX, a discussão acerca da acessibilidade passou a fazer parte das temáticas relacionadas às pessoas com deficiência, fazendo parte do rol de reivindicações feitas pelas pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. Na década de 80 as discussões eram relativas às barreiras arquitetônicas, e o preconceito. Na década de 90, as atenções voltou-se para as barreiras de comunicação e transporte, incluindo aí outro universo de sujeitos, que vão para além daqueles que apresentam limitações motoras. Essas discussões e estudos passam então a construir uma nova racionalidade que ultrapassa a preocupação com a eliminação de obstáculos voltando-se agora à garantia de acesso, instituindo dessa forma e consequentemente um novo campo do saber, a Tecnologia Asssitiva. O termo Tecnologia Assistiva é utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e conseqüentemente promover vida independente e inclusão. Para Raiça (2008, p. 10), A educação inclusiva, dentro do novo paradigma tecnológico, requer profissionais reflexivos (...) atualizados acerca dos mecanismos culturais e tecnológicos que se encontram em constante renovação. A inclusão tem sido discutida amplamente nas últimas décadas, porém estamos efetivamente promovendo a inclusão? Nessa unidade procuro problematizar aspectos relativos à inclusão de alunos surdos, mais especificamente quanto à acessibilidade dessas pessoas ao conhecimento. 15
  • 16. Atualmente abordagens de novas pesquisas e novos campos do saber oportunizam o desenvolvimento de artefatos tanto em formato impresso como digital de materiais com vistas à promoção do letramento das pessoas surdas, porém sabemos que essas iniciativas ainda são incipientes. Esses artefatos tecnológicos tem tornado a vida dos surdos mais fácil, ampliando suas formas de comunicação como o mundo. No que se refere às pessoas surdas poderíamos citar auxílios que incluem vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado – teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, e softwares disponibilizados em língua de sinais. O acesso a artefatos digitais em língua de sinais além de oportunizar a leitura na língua que os surdos têm aquisição de forma natural, oportunizará a leitura de mundo de forma cidadã e autônoma. Estas condições se constituem como premissas básicas para construirmos efetivas práticas de inclusão social. Vamos citar a partir de agora o estudo feito sobre esse tema por Lebedeff (2009, p 44: 51), para o Curso de Especialização em Educação Especial. 1- Telefones para surdos, O telefone para surdos é conhecido como TDD – Telecommunicacion Device for the Deaf (Dispositivo de telecomunicação para surdos) ou TTS – Terminal Telefônico para Surdos ou telefone de texto. SAIBA MAIS: Leia em WWW.koller.com.br, www.surdo.com.br ou http//azhearing.com/portugues/tdd.htm 2- Aparelhos de telefonia móvel e SMS Segundo a autora, uma das grandes conquistas tecnológicas para os surdos na última década foi o telefone celular como o serviço de Short Message Service, traduzindo: os torpedos de celulares. (...) Uma novidade no Brasil é a possibilidade de envio de torpedos em Língua Brasileira de Sinais (Libras). O Centro de Tecnologia de Software – CTS desenvolveu o TORPEDO RYBENÁ. Que é um serviço que permite receber e enviar mensagens de texto em LIBRAS. Por esse aplicativo, os surdos podem se comunicar em LIBRAS através da animação de imagens no celular, os ouvintes podem enviar textos em português aos surdos, que receberão a mensagem em LIBRAS. Além desse dispositivo, o CTS disponibiliza o software Player Rybená, um tradutor que é capaz de converter qualquer página da internet ou texto escrito em português para Libras. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre o Torpedo Rybená acesse: http: //WWW.rybena.org.br 16
  • 17. 3- Vídeophones O Videophone é conectado a um aparelho de televisão ou a um computador equipado com webcam. A utilização pode ser ponto aponto. Ou seja, de aparelho para aparelho ou utilizar o serviço de uma intérprete, que é disponibilizada pela empresa telefônica que concede o serviço. SAIBA MAIS: Para ler mais acesse http://WWW.sorensonvrs.com 4- C-PRINT Essa tecnologia é similar a que podemos ver nos telejornais de canais abertos de televisão, denominada Close Caption, ou seja, a legenda e, tempo real, mas esta legenda é para sala de aula. No sistema C- PRINT, dois computadores estão interconectados por um cabo. A intérprete, que foi treinada em estratégias de condensação de texto e digitação, senta próximo ao aluno e digita o discurso do professor e as interações que ocorrem na sala de aula. O texto digitado é simultaneamente visto pelo aluno no outro computador SAIBA MAIS: Acesse: http://WWW.ntid.rit.edu/cprint/índex.php. 5- Ferramentas de comunicação na internet São várias as ferramentas de comunicação que podem ser utilizadas na Internet, podemos citar o e-mail, os blogs pessoais, o MSN, chats, Orkut, twitter, my space entre tantos outros. 6- Vídeos Atualmente , as TIC’S permitem a captura de vídeos e sal publicação pelas mais diversas vias. Muitos telefones celulares já possuem câmeras filmadoras acopladas, webcams de computadores podem capturar imagens, filmadoras portáteis estão cada vez mais acessíveis, enfim, a produção textual em língua de Sinais pode ser, finalmente, adequadamente armazenada e compartilhada. As narrativas não mais se perdem, mas se produzem, transformam-se, e utilizam recursos mais sofisticados para edição e publicação. Há, agora, como nunca antes, a possibilidade de produção de literatura em sinais. Vale a pena assistir ao vídeo sobre caubóis “The Fasted hands in the West”, ou, “As mãos mais rápidas do Oeste”, disponível no youtube no endereço: HTTP://www. Youtube. Com/watch?=kvN8U2ZBauo. Lebedeff (2009, p. 49), sugere ainda que se conheça a história do Chapeuzinho Vermelho, produzida pela Organização Não Governamental (ONG), “Vez da Voz”, disponível para download no endereço http://WWW.vezdavoz.com.br/videsos/vídeos/chapeuzinhovermelho_surda.wmv. Essa ONG, produz ainda um telejornal semanal em Libras, o Telelibras, que está disponível para download no endereço http://WWW.vezdavoz.com.br/telelibras. Veja outras propostas de literatura na Editora Arara Azul (http://WWW.editora-arara-azul.com.br) e na LSB Videos (http://WWW.lbsvideos.com.br). 7- Softwares educativos Muitos ao os softwares educativos que podem ser utilizados com aluno surdos, muitos deles são os mesmos utilizados com alunos ouvintes. Por exemplo, a Unicamp desenvolveu 17
  • 18. um software de produção de histórias em quadrinhos denominado HagáQuê, (livre e disponível para download em: httpp://pan.nied.unicamp.br/~hague) que não possui destinatário prévio. Outros Softwares estão sendo desenvolvidos para promover a escrita e autoria em signwriting, a escrita em sinais. Você pode pesquisar diferentes objetos de aprendizagem para utilizar com seus alunos. Um bom lugar para iniciar sua pesquisa é no repositório Internacional de Objetos educacionais disponibilizados pelo MEC ( http: //WWW.objetos educionais2.mec.gov.br). SAIBA MAIS: – Para saber mais sobre SIGNWRITING, consulte o site www.signwriting.org ou leia o artigo Sistema SIGNWRITING: por uma escrita funcional para o surdo, de Mariane Rosa Stumpf. (in: THOMA, A. S.; LOPES, M. C. (Orgs.). E sobre o teclado em signwriting e softwares de autoria em http://www.cintedufrgs.br/ciclo10//artigos/6iCreice.pdf. 8- Artefatos da vida Doméstica Muitos artefatos foram e estão sendo desenvolvidos para facilitar a vida dos surdos e garantir a acessibilidade . Podemos citar como exemplos, a babá eletrônica com vibra call (quando o bebê chora o receptor que fica com os pais vibra), ou conectada ao sistema de iluminação (quando o bebê chora as luzes piscam); o relógio de pulso com sistema de despertar vibra call; a campainha conectada no sistema de iluminação da casa (as luzes piscam quando a campainha é tocada); alarmes de incêndio visuais (luzes circulares, como as de ambulância são acionadas ao se detectar fumaça); dicionários on line em Libras ( http://www.acessobrasil.org.br/libras) entre muitos outros. 18
  • 19. UNIDADE B- A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA. Essa unidade versa sobre aprendizagem da língua portuguesa pelos surdos. Entendemos que essa aprendizagem é fator fundamental para proporcionar o letramento. O domínio da leitura e da escrita não se trata de uma tarefa fácil. A língua portuguesa deve ser ensinada num ambiente formal, exigindo tanto do professor quando do aluno estratégias específicas para esse aprendizado. Portanto abordaremos questões sobre as abordagens de ensino da língua portuguesa, num contexto de segunda língua, o papel da linguagem humana, concepções de aprendizagem e metodologias de trabalho. A unidade encerra com definição de conceitos e estratégias necessárias para esse processo de ensino aprendizagem apontando aspectos relativos avaliação da produção textual. Palavras-chaves surdos, língua portuguesa, aprendizagem B1- O Letramento na educação dos surdos Reconhece-se a importância que a aprendizagem da leitura e escrita têm para a criança, não somente no transcurso de sua vida escolar, mas também em sua vida futura, como adulto dentro de uma sociedade na qual a linguagem escrita ocupa um lugar importante. A leitura e a escrita estão diretamente relacionadas com o mundo circundante. Entendemos que não é importante, apenas, o que se aprende num contexto de leitura e escrita, mas como usamos esses conhecimentos em nossas práticas sociais, em nosso contexto, em nossas vidas. Considerando que o que nos rodeia é um mundo todo escrito, e não lê-lo é também não conhecê-lo, não revelá-lo, suscita refletirmos sobre um novo conceito, o letramento. Para Soarez ( apud Botelho 1998:63): Letramento ultrapassa, pois, habilidades de codificação e decodificação de signos escritos e pressupõe uso da leitura e da escrita, comportamentos centrais no mundo atual. É dependente de condições, entre elas, escolarização real e efetiva e disponibilidade de material de leitura. Percebe-se que a relação direta do letramento21 com a construção do sujeito está diretamente ligada a uma natureza política, entendendo que o uso da leitura e da escrita possa gerar uma transformação social e individual no sujeito, consciente de sua realidade. 21 ASSUNTO - Letramento – Conheça mais sobre o assunto lendo a obra: Letramento: um tema em três gêneros, Soares, Magda. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. Letramento na educação de surdos: escrever o que está escrito nas ruas, de Giordani, Liliane Ferrari., e Práticas de letramento na pré-escola de surdos: reflexões sobre a importância de contar histórias, Lebedeff, Bolívar,Tatiana in: THOMA, A. S.; LOPES, M. C. (Orgs.). A Invenção da Surdez: Cultura, Alteridade, Identidades e Diferença no Campo da Educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004). Letramento e Alfabetização. Tfouni, Verdiani, Leda. 7ª edição. Editora Cortez 2005. e KARNOPP, Lodenir. B. Língua de Sinais e Língua Portuguesa: em busca de um diálogo. In LODI et al. Letramento e Minorias, Porto Alegre, Mediação, 2002. p. 56-61. 19
  • 20. Nesse sentido justifica-se refletir sobre o letramento na educação dos surdos. Sabemos que é de conhecimento comum, e quase impossível que alguém se oponha a idéia de que todo o cidadão têm direito de participar da vida política, social e econômica da nação, e sabemos o quanto ao longo da história dos tempos a instituição escola têm ao menos teoricamente servido para a formação de cidadania das pessoas. Fato é que a realidade nos mostra que esta situação não ocorre assim tão naturalmente. Tanto o fracasso, como o sucesso têm sido vivido, promovendo situações de inclusão e de exclusão social. Freire (1998:48) comenta: se o fracasso existe, ele tem que ser enfrentado a partir de uma proposta nova calcada nas reais necessidades do aprendiz surdo, para quem a primeira língua é a Língua de Sinais e para quem a Língua Portuguesa é uma segunda língua com uma função social determinada. Sabemos que as dificuldades encontradas vão desde a educação infantil até as últimas séries do ensino médio, em vários temas do currículo, porém centrarei minha análise na aprendizagem da língua portuguesa, entendendo que essa se consolida numa necessidade e um grande desafio para o professor atualmente. Como ensinar uma língua que não é a língua materna ? Quais as estratégias, metodologias, abordagens usadas para o ensino de segunda língua ? Quais os requisitos necessários para debruçar-se nesse ensino e nessa aprendizagem ? Que habilidades o professor deve ter, e quais os requisitos para alunos surdos compreenderem e virem a dominar a língua portuguesa, na modalidade escrita, considerando que a aprendizagem de uma segunda língua não se dá de forma “natural”, ou seja requer uma espaço formal de educação, com professores habilitados para essa função, conscientes de sua ação, no mínino conhecedores da Libras, e de preferência acompanhados de educadores surdos, dominantes da Libras, além disso há uma gama de aspectos que envolvem um processo de ensino e aprendizagem de qualidade para esse fim. Nesse sentido apontamos questões que se tornam relevantes quanto as bases teóricas: Qual o nosso entendimento sobre os processo de aprendizagem? E uma segunda questão refere-se a nossa visão de linguagem. Svartholm (1998:39), colabora afirmando que: o conhecimento sobre como realmente funciona o desenvolvimento lingüístico e o conhecimento das condições para o sucesso na tarefa de adquirir linguagem devem ser os pontos de partida para qualquer pessoa responsável pela educação de surdos. B2- Considerações sobre a linguagem humana. Ao estudarmos sobre a linguagem, estamos também tratando da sociedade, pois a linguagem e a sociedade estão intrinsecamente ligadas entre si. Segundo Karnopp (2005: 31): 20
  • 21. A lingüística é o estudo científico das línguas naturais e humanas e as pesquisas realizadas nesta área incluem tanto as línguas orais quanto as línguas de sinais.(...) essa é a área que se preocupa com natureza da linguagem e de comunicação humana, procurando desvendar a complexidade das línguas e as diferentes formas de comunicação. A lingüística busca resposta para problemas relacionados à linguagem, tais como: Qual a natureza da linguagem humana ? Como a comunicação se constitui ? Quais os princípios que determinam a habilidade dos seres humanos em produzir e compreender uma língua? Alterações significativas, inegáveis e incitantes aconteceram sobre a forma de perceber a linguagem humana, esses estudos nas últimas décadas repercutiram sobre a produção científica acerca das línguas orais, com também fizeram impulsionar o interesse pelas línguas de sinais. Segundo Tellles (1998:03) Os argumentos utilizados por Chomsky, quando do lançamento da Teoria da Gramática Transformacional (1957), objetivaram comprovar que a capacidade humana ultrapassa os limites da aprendizagem comportamental. A criança ganhou um espaço primordial nesta escola. Os estudiosos deixaram de preocupar-se com o comportamento verbal infantil em sua essência analítica, para centrar seus esforços junto à gramática presente; a partir da aptidão há uma gramática comum a todos (Gramática Universal), a criança apropria-se das regras gramaticais próprias à língua a qual está exposta no inicio da sua vida. Karnopp (2005:31), elucidando o trabalho dos lingüistas comenta: descobrir as leis de uma língua, assim como as leis que dizem respeito a todas as línguas, representando as propriedades das línguas, constitui o que se chama de uma Gramática Universal (GU). Quanto ao aspecto da gramática universal, Quadros (1995), pesquisando sobre o desenvolvimento lingüístico cognitivo dos surdos mostra que crianças surdas filhas de pais surdos sinalizadores de LIBRAS, apresentam uma analogia com os dados analisados na ASL. Para a autora, os autores dessa teoria reconhecem a linguagem como um sistema altamente interativo, e passível de modificações, sofrendo influências de diversos aspectos como: sociais, biológicos, e lingüísticos. Kambi (apud TELLES 1998:04) colabora com a seguinte colocação “as estruturas de linguagem são vistas como um produto derivado das funções sócio-interacionistas da linguagem”. O ser humano é considerado superior a outras espécies por fazer uso de um sistema de comunicação mais elaborado, que é passado de geração a geração, independente de sua cultura. Sanches ( apud QUADROS 1990, p.17) considera que: a comunicação humana é essencialmente diferente e superior a toda outra forma de comunicação conhecida Todos os seres humanos nascem com os mecanismos de linguagem específicos da espécie, e todos os desenvolvem normalmente, independente de qualquer fator racial social e cultural. Todavia essas trocas comunicacionais irão constituir-se numa dificuldade quando a criança nasce em um ambiente diferente de sua língua materna. Quadros (1997) alerta para 21
  • 22. a dificuldade que as crianças surdas, filhos de pais ouvintes possuem na aquisição de de sinais. Segundo ela: As crianças surdas filhas de pais surdos têm acesso a LIBRAS porque as crianças usam a mesma língua de seus pais. Além disso não é somente usada com as crianças porque os pais usam para se comunicar entre eles e com seus amigos.(...) Sem engano com as crianças surdas filhas de pais ouvintes a situação é completamente diferente. (QUADROS, 1997, p. 80). No Brasil estudos sobre desenvolvimento lingüístico dos surdos22 tem sido feito conforme Quadros (1997), Karnopp (1994, 1999), os quais apontam fases por onde os surdos passam durante sua aquisição na língua de sinais. Tecendo alguns comentários sobre resultados de pesquisas já evidenciados quanto ao processo de aquisição de língua de sinais e apontando algumas constatações quanto às estratégias pertinentes as comunidades surdas Rodrigues (apud QUADROS 1997: 80) destaca: a) se a língua de sinais é organizada no cérebro da mesma forma que as línguas orais (conforme vem sendo demonstrado através de pesquisas), então as línguas de sinais são línguas naturais; b) se as línguas de sinais são naturais, então seu aprendizado tem um período crítico ( período ideal para aquisição da linguagem, após esse período a aquisição é deficiente e, dependendo do caso, impossível (Leennerberg, 1967); c) se as línguas de sinais têm período crítico, então as crianças surdas estão iniciando tarde seu aprendizado; d) se a natureza compensa parcialmente a falta de audição, argumentando a capacidade visual dos surdos (conforme pesquisas realizadas, há uma competição entre os estímulos acústicos e visuais), então está sendo ignorada a maior habilidade dos surdos quando é imposta uma língua oral, em vez da língua de sinais. Hoje, conhecemos vários trabalhos na área pedagógica com alunos surdos que contemplam essas questões. Há no Brasil instituições em que podemos encontrar, instrutores de língua de sinais 23 trabalhando com professores ouvintes dominantes da LIBRAS, alterações significativas no currículo escolar estão sendo promovidas, contemplando aspectos relativos a história dos surdos, no mundo e no Brasil, como também 22 ASSUNTO – Desenvolvimento lingüístico dos surdos - Leia as obras: Quadros, Ronice Muller de. Educação de surdos. Aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. Quadros, Ronice Muller de. Phrase Struture of Brazilian Sign Language. Tese de Douturado. Porto Alegre: PUCRS, 1999. e Quadros, Ronice Muller de. As Categorias vazias pronominais: uma análise alternativa com base na língua se sinais brasileira e reflexos no processo de aquisição. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre. PUCRS, 1995. KARNOPP. Lodenir. B. Aquisição do parâmetro configuração de mão na Língua Brasileira de Sinais. (LIBRAS): estudo sobre quatro crianças surdas, filhas de pais surdos. Porto Alegre, PUC: Dissertação de Mestrado, 1994. KARNOPP. Lodenir. B. Aquisição fonológica da Língua de Sinais: estudo longitudinal de uma criança surda. Porto Alegre, PUC: Dissertação de Doutorado, 1999 e Quadros, Ronice Muller de & KARNOPP. Lodenir. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre. Art Méd. 2004. 23 ASSUNTO – Para ler sobre Instrutores de Língua de Sinais acesse: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2004- 2006/2005/Decreto/D5626.htm http://www.unimep.br/phpg/posgraduacao/stricto/ed/documents/LaraFerreiradosSantos.pdf 22
  • 23. conteúdos adequados as características dos surdos enfatizando o caráter visual de apropriação do conhecimento, cursos à família para aprendizagem da LIBRAS. Entretanto muitas são as regiões do Brasil em que ainda encontram-se incipientes24 quanto a vários aspectos determinantes para a educação dos alunos surdos, principalmente no processo de conhecimento da LIBRAS, enquanto língua natural das comunidades surdas, desconhecendo quase que totalmente sua capacidade de fornecer aos surdos a apropriação do conhecimento, construção de mundo, de desenvolvimento lingüístico- cognitivo e base para aprendizagem do português como segunda língua. B.3- Como entendemos a aprendizagem que caminhos traçar ? Muitas são as indagações acerca da caminhada vivida pelos alunos surdos, na aprendizagem da língua portuguesa. Segundo Assis-Peterson (1998:31): ... as diferentes configurações que as teorias de aquisição de segunda língua tomam, de uma certa maneira, refletem esses dois paradigmas. De um lado, há a corrente que procura estudar o código lingüístico ou a natureza formal da linguagem, seja para revelar os processos cognitivos da aquisição ou os universais lingüísticos. De outro lado, há a corrente que procura explorar a natureza social da linguagem, isto é, o conhecimento aliado a funções sociais. No livro, Ensino da Língua Portuguesa para Surdos, Salles et al (2004), aponta algumas vertentes de abordagens utilizadas no ensino de segunda língua, entre elas: Abordagens Estruturalista, Abordagem Funcionalista e a outra vertente chamada Abordagem interacionista. Abordaremos nesse trabalho a aprendizagem num contexto sócio-interacionista, onde enfatizaremos a importância do conhecimento prévio do aluno, e as condições de interação para aprender. Freire (1998:48), tratando sobre esse tema aponta: Assim sendo a visão sócio-interacional de aprendizagem, se opõe à visão behaviorista que entende a aprendizagem de uma segunda língua como um processo de aquisição de novos hábitos lingüísticos através de uma rotina de estímulos do professor – resposta do aluno e reforçoavaliação do professor. Nesse caso o foco de atenção está sempre colocado nos procedimentos de ensino e no papel do professor. O aluno é visto como uma tábula rasa que deve ser moldada a partir de determinadas práticas metodológicas. Por outro lado, a visão sócio-interacional25 de aprendizagem também se opõe à visão cognitivista que desloca o foco de atenção do ensino e do professor e o joga sobre o aluno e suas estratégias individuais na construção da aprendizagem de uma segunda língua. Nessa perspectiva o papel do professor passa a ser então a de um simples facilitador do processo de aprendizagem. 24 GLOSSÁRIO – No sentido de iniciantes 25 GLOSSÁRIO- Visão sócio-interacional- Tratada na unidade A. 23
  • 24. Entendendo o conhecimento construído a partir da interação entre os interlocutores, por isso é importante entender quem são os interlocutores, na visão sócio-interacional de aprendizagem, propõe-se a atenção tanto para o papel do professor quanto dos alunos. Vygostsky26 ( apud Freire 1998:48), acrescenta: ...o conhecimento é entendido como sendo construído através da interação por aprendizes e pares mais competentes (o professor ou outros aprendizes), no esforço conjunto de resolução de tarefas, explorando nível real em que o aluno está e o seu nível em potencial para aprender. Nessa perspectiva a aprendizagem somente se efetivará quando as atividades partirem de conhecimentos já consolidados pelos alunos, isto é, conhecimentos adquiridos em outras experiências, sejam elas acadêmicas ou de atividades informais, vividas fora da escola ou na escola. O que se pretender deixar claro aqui é que devemos proporcionar ações em sala de aula, que tenham um significado, sejam interessantes, oportunizando curiosidade, motivação envolvimento. Nesse sentido vale lembrar a importância de usar materiais didáticos ricos e interessantes em letramento visual, e a participação efetiva do instrutor/professor de surdos usuário da LIBRAS. Kleiman (1989:46) também colabora: Para ela, a compreensão melhora quando o leitor estabelece objetivos para a leitura. Em parte, o tipo de texto (pode ser a notícia do periódico, a receita de um pastel, um carta) determina o objetivo da leitura. O leitor deve querer buscar, na inter-relação com o autor as respostas a um problema, ou seja, ajudas para elaborar seu ato de ler. Para a autora: “cabe notar que é necessária que a leitura não é propriamente uma leitura, quando lemos por que outra pessoa nos manda ler... estamos fazendo atividades mecânicas que pouco têm que ver com o significado ou sentido.” Essa leitura não é aprendizagem, pois é facilmente esquecida por tanto, a leitura a escrita deve partir do interesse do aluno. É importante ressaltar que a compreensão de qualquer processo de aprendizagem parte da constatação de que o aluno sempre relaciona ou quer aprender a partir do que já sabe. Em outras palavras, na construção do conhecimento, o aluno projeta os conhecimentos que já possui no conhecimento novo, no esforço de alcançar aprendizagem, características como essas que se relacionam com saltos qualitativos que, segundo Vygotsky, são a base para a construção do conhecimento No caso específico da aprendizagem de uma segunda língua, o aprendiz contribui de maneira decisiva na tarefa de aprender partindo do conhecimento que possui em sua primeira língua, e de seu conhecimento prévio do mundo como também dos tipos de textos com os quais está familiarizado. As crianças em fase de alfabetização, inicialmente, lêem de forma lenta e têm dificuldades, muitas vezes, em integrar os elementos em frases e relacioná-las entre si na construção de um trecho todo, coerente e com sentido. Nesta fase a criança apenas decodifica o texto, porém não lê. Já nas fases posteriores e de acordo com as riquezas do input27 recebido na fase inicial, o ato de ler, significa a verdadeira leitura, aquela que implica na participação ativa do 26 SAIBA MAIS –Para ler sobre Lev Semionovitch Vygotsky, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vygotsky 27 GLOSSÁRIO- O termo Input, usado nesse trabalho a obra de Quadros, Ronice Muller de. Educação de surdos. Aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 24
  • 25. leitor em busca de significados, formulando hipóteses, re-avaliando-as, identificando intenções e argumentos, ou seja, realizando um completo trabalho de construção do texto, no qual cada ato tem sua particularidade, sem ser totalmente desvinculado, porque se assim fosse, não seria um texto: – Com as crianças surdas se pressupõe que elas criem hipóteses com relação à língua de sinais para poder construir a aprendizagem da língua portuguesa: primeiro elabora frases com a estrutura da língua de sinais, posteriormente, na estrutura da língua portuguesa. O input aqui é percebido como as ofertas, os insumos que o aluno recebe do ambiente pedagógico. Podemos dizer que o professor de surdos tem um maior grau de responsabilidade em tornar a língua, os inputs lingüísticos, disponíveis e compreensíveis para as crianças. Nessa perspectiva, se elege um fator determinante para o sucesso do trabalho de ensino da língua portuguesa para os surdos: a presença do instrutor surdo28, ou em caso de não haver pessoas surdas disponíveis para trabalhar conjuntamente com o professor ouvinte, é fundamental que o professor no mínimo conheça a Libras Além disso o professor precisa saber avaliar e refletir sobre as hipóteses, estratégias, erros e acertos é fundamental para que novas ações sejam planejadas durante o ensino e a aprendizagem. A condição de sucesso ou fracasso no português, está relacionada a qualidade de oferta e exposição à língua de sinais, condição esta determinada pelo contato direto e natural vivido pelas crianças surdas com surdos. Cabe ressaltar que é de suma importância que a aprendizagem da segunda língua ocorra no contexto educacional. Fora da escola seria impossível obter sucesso. Por isso é preciso realizar uma análise detalhada da situação de aprendizagem de uma segunda língua por surdos Sendo usuário da língua de sinais, o surdo poderá desenvolver competências na leitura e na escrita em uma segunda língua. Telles confirma (1998:03), dominar uma determinada língua significar poder usufruir socialmente das suas vantagens. Estudos têm enfatizado a aquisição da Libras desde cedo, preferencialmente na educação infantil29, e a partir dessa aquisição a aprendizagem da segunda língua. Porém há outras considerações pertinentes que devem ser levadas em consideração, como o nível de prontidão dos alunos, estruturas cognitivas, relativas ao nível de maturidade, que se tornariam decisivas para o enfrentamento de certas dificuldades que são inerentes a esse CONTEUDO RElACIONADO - Entendemos aqui que todos os meios que promovam o acesso ao conhecimento pelos surdos constituem-se em inputs favoráveis para aprendizagem, letramento e cidadania. Para ler sobre acessibilidade acesse: http://www.anatel.gov.br/universalizacao/direito_acessibilidade_comunic_surdos.pdf 28 SAIBA MAIS – Para saber sobre Instrutores de Surdos acesse: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2004- 2006/2005/Decreto/D5626.htm http://www.unimep.br/phpg/posgraduacao/stricto/ed/documents/LaraFerreiradosSantos.pdf 29 Karnopp (2005:48) Ao discutir sobre a aquisição da língua de sinais, aponta algumas atividades do processo educacional nesse nível de ensino: atividades de rotina em sinais, brincadeira e jogos em sinais, realização de experiências em sinais, hora do conto em sinais, passeios conduzidos por adultos surdos, atividades diversas com as comunidades surdas locais. Alguns objetivos específicos do processo educacional com sugestões de um plano de atividades e conteúdos: Oportunizar a vivência das culturas surdas através do domínio da língua de sinais brasileira; Garantir o desenvolvimento da estrutura gramatical da língua de sinais brasileira; e Propiciar o acesso às diferentes funções e usos da língua de sinais brasileira: informal, formal, poético, narrativas... 25
  • 26. aprendizado. Essa é uma observação que não se refere apenas a crianças surdas, mas sim a todas as crianças, sejam ouvintes ou surdas. Somos conhecedores de uma série de indevidas racionalidades que surgiram nos últimos séculos quanto à capacidade lingüística-cognitiva das comunidades surdas, onde essas pessoas eram vistas como “atrasadas”, pobres lingüisticamente. Afirmações como essas relacionavam a surdez à déficits de linguagem. Porém sabemos que essas representações surgiram a partir de uma errônea comparação entre ouvintes e surdos durante o processo de aprendizagem da língua portuguesa. Estudos feitos sobre a aprendizagem de uma segunda língua por acadêmicos ouvintes mostraram com clareza que há um universo de erros vividos por ouvintes e por surdos que manifestam características inerentes à espécie humana no processo de aprendizagem de uma segunda língua. Evidências como essas reforçam o fato de que as analogias feitas entre surdos e ouvintes são um equívoco, os quais os profissionais praticam e muitas vezes reforçam em suas práticas pedagógicas, motivados muitas vezes pelo desconhecimento ou levados pelo imaginário de que os surdos são lingüisticamente incapazes. Para Svartholm (1998:40): ...afirmações como essas sobre a aquisição deficiente da linguagem em crianças surdas perdem totalmente a sua força quando deixamos de comparar essas crianças com crianças ouvintes que estão lendo e escrevendo em sua língua materna. Se, em vez disso analisarmos aprendizes ouvintes de segunda língua, e seu desenvolvimento lingüístico na segunda língua, a situação será totalmente diferentes. Tal comparação irá mostrar claramente que vários daqueles erros gramaticais, que foram descritos como peculiares aos surdos, estão bem longe de serem peculiares. Ouvinte ou surdo o aprendiz de segunda língua utiliza as informações disponíveis sobre a nova língua, faz generalizações e outras simplificações com base nessas informações e elabora internamente hipóteses mentais sobre a língua. Os acertos e desacertos que o aluno surdo irá efetuar durante o processo de aprendizagem da língua portuguesa, provavelmente será uma fuga dos padrões lingüísticos dessa língua, mas na verdade é nada mais nada menos que o resultado de um “caminho” vivido pelo aprendiz dentro de um recurso ativo e criativo de aquisição de língua. Assis- Petersson (1998:30), enfatiza que “os erros indicam que aprendizes constroem representações internas da língua que estão aprendendo”. Em função disso o professor deve em vez de tratar esses supostos déficits dos alunos surdos como incapacidades, manifestações de aquisição de linguagem comum a toda a espécie humana. Diante dessa análise podemos justificar o grande número de alunos surdos que permanecem a margem sem um ensino de qualidade e tão poucos surdos saem da escolas com no mínimo um desempenho regular de proficiência escrita no portuguesa, a despeito de todos os esforços educacionais discutidos e implementados. Sabemos que ainda são poucos os relatórios de pesquisas que demonstram sucesso no processo de aprendizagem da língua portuguesa pelos surdos. Uma premissa básica para apontar razões que se referem a esse tipo de aprendizagem é entender que ao longo dos anos partimos de concepções oralistas sobre a aquisição da linguagem sem fazermos os devidos apontamentos teóricos acerca da aquisição da linguagem por pessoas surdas e entendermos que a surdez necessita de um 26
  • 27. projeto educacional pautado na experiência visual e isso por si só imprime um re- cofiguração nas propostas educacionais.. Svaltholm (1998:42) colabora: aprender a ler é, sem dúvida, uma tarefa difícil para qualquer criança que aprende a ler em uma língua diferente da sua, mas para os surdos essa tarefa parece ser ainda mais difícil, já que aprender a ler significa aprender a língua. O ambiente da sala de aula, constitui um recurso potencial para o acesso ao letramento desde cedo. Num contexto letrado de educação independente de se oportunizar a aprendizagem do português, precisamos levar em conta que os alunos surdos estão permanentemente em contato com a escrita. Esse é um aspecto que deve ser considerado pelo professor em sala de aula. O ambiente lúdico rico em informações sem perder de vista que brincar é fundamental poderá ser um agente de letramento e contato desde tenra idade com a língua portuguesa, através da literatura, revistas e dos jornais. Cabe ao professor proporcionar a compreensão dos textos em LIBRAS. Svartholm (1998:42), enfatiza a necessidade da exposição dos surdos à língua portuguesa: A leitura de livros e revistas deve ser feita com crianças em fase pré-escolar, porque diverte, estimula e satisfaz a curiosidade da criança, e não por causa de objetivos educacionais. Através da leitura, a criança será bem preparada para o ensino posterior de uma segunda língua: uma postura em relação à língua escrita como algo divertido e interessante deve ser a melhor base para novos aprendizados. A escrita da pessoa surda reflete, em certa medida, as vivências que teve com a segunda língua. Para tanto a escrita deve ter uma função em sua vida, e nesse caso os artefatos culturais conhecidos e manuseados pelo aluno em sala de aula, irão decisivamente influenciar no gosto, na motivação e na curiosidade, aspectos determinantes para a aprendizagem em que estão sendo iniciados. Nesse caso como entender a escrita como algo interessante? E como construir essa representação para os alunos ? Sugiro alguns aspectos para que a escrita seja interessante na escola. Em primeiro lugar, aponta o “input” como algo relacionado com a experiência coletiva, professores e alunos construindo junto um conhecimento (um texto), a partir de uma experiência concreta. Essa vivencia, possibilitará que os alunos manifestem seus diferentes pontos de vista, creio que sem essa experiência esse aprendizado seria prejudicado. Quando me refiro a experiências coletivas, sugiro a leitura do Método de Cartazes de Experiências30. Acredito que esse método contribua muito para a aprendizagem da língua portuguesa para o alunos surdos. Sanches (1996:07) afirma: “ todo caso, devemos estar conscientes de que la aquisición de la lengua escrita deve darse en el seno de la práctica social de la lectura y la escritura, en un contexto comunitario.” Para Bittencurt (1983:12) “... um método de alfabetização baseado nas próprias experiências dos alunos é uma das melhores, senão o melhor recurso, para seu desenvolvimento.” 30 ASSUNTO- Leia sobre o Método de Cartazes de Experiências em: BITTENCURT, Mirian F. Alfabetização uma aventura para a criança. 2ª Ed. Florianópolis: Edeme, 1983. 27
  • 28. Esse método, parte do pressuposto que as vivências concretas serão extremamente significativas para os alunos, quando o aluno vê na sala de aula experiências que retratam seu cotidiano, sua vida, levanta hipóteses, faz relações, conhece as experiências já vividas pelos colegas em relação a temática tratada. O método de cartazes de experiências possibilita que a professora juntamente com a turma combine uma ação coletiva, como uma salada de frutas feita por todos, um passeio. No término dessa atividade voltam para a sala de aula. Juntamente com a professora constroem um texto onde todos colaboram. Para Salles (2004:45), é importante ter em mente que a leitura para os surdos deve ser conduzida dos textos mais simples aos mais complexos, simplificando-se, apenas no início, para evitar o reducionismo. A cada experiência vivida contemplando diversas áreas do conhecimento, possibilita outra atividade que de alguma forma estabelece uma relação. O texto irá demonstrar isso porque nesse novo texto deverá ter vocabulário já trabalhado no primeiro. Muitas atividades serão vividas e os textos irão aumentando com o tempo, como o nível de exigência nas atividades e proficiência na língua que está sendo estudada. No final de um bimestre por exemplo teremos um conjunto de textos elaborados pelos alunos, e um acervo que poderá com certeza ser usado a qualquer momento na sala de aula como material de pesquisa. Na perspectiva de discutir sobre os caminhos que devem ser trilhados pelo professor e os alunos surdos no processo de aprendizagem da língua portuguesa nos embasaremos em alguns estudiosos da área da lingüística que têm enfrentado esse desafio e proposto algumas estratégias. FREIRE (1998), MOITA LOPES (1998), SALLES et al (2004), KARNOPP (2005), QUADROS (1997). B 4. A Leitura31 do português pelos alunos surdos Na perspectiva de discutir sobre a leitura do português pelos surdos, Salles (2004: 09), afirma: Atualmente, é consensual que a leitura é um processo de interpretação que um sujeito faz do seu universo sócio-histórico-cultural. A leitura é, portanto, entendida de maneira mais ampla, em que certamente o sistema lingüístico cumpre um papel fundamental, tendo em vista que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta é importante para a continuidade da leitura daquele.” Freire ( apud SALLES 004:19). Parafraseando a autora podemos dizer que as comunidades surdas constituem-se como cidadãos-leitores tanto quanto os ouvintes, muito embora os procedimentos metodológicos sejam diferentes quando tratarmos da aquisição de L132 e de L2.33. 31 SAIBA MAIS - Para Garcez apud Salles (2004:20), existem algumas condições para a realização da leitura: decodificação de signos; seleção e hierarquização de idéias; associação com informações anteriores; elaboração de hipóteses; construção de inferências; construção de pressupostos; controle de velocidade; focalização da atenção; avaliação do processo realizado; reorientação dos próprios procedimentos mentais 32 GLOSSÁRIO- L1 - Esse termo refere-se a língua de sinais, considerada a língua materna dos surdos. 33 GLOSSÁRIO- L2- A L2 para os surdos é língua portuguesa na modalidade escrita, isto é a segunda língua. ASSUNTO - Segunda língua – Para conhecer mais sobre o assunto leia: Aquisição de segunda língua por surdos, de Ana Antonia de 28
  • 29. B 4.1 Procedimentos sugeridos para a leitura A leitura deve ser uma das principais preocupações no ensino de português como segunda língua para surdos, considerando que esta etapa é vista como uma etapa fundamental para aprendizagem da escrita. Segundo Garcez (apud SALLES 2004:21), reconhecer e entender na organização sintática, o léxico, identificar o gênero e o tipo de texto, bem como perceber os implícitos, as ironias, as relações estabelecidas intra, inter e extratexto, é o que “torna a leitura produtiva”. No caso do surdo, alguns dos procedimentos são imprescindíveis, e o professor deve sempre estar atento para conduzir o seu aprendiz a cumprir etapas, que envolvam aspectos macroestruturais e microestruturais como pode ser visto abaixo: Aspectos Macroestruturais  analisar e compreender todas as pistas que acompanhem o texto escrito: figuras, pinturas,enfim, todas as ilustrações;  identificar, sempre que possível, nome do autor, lugares, referências temporais, e espaciais internas no texto;  situar o texto sempre que possível, temporal e espacialmente;  observar, relacionando com o texto, título e subtítulo;  explorar a capa de um livro, inclusive as personagens, antes mesmo da leitura;  elaborar sempre que possível, uma sinopse antes da leitura do texto;  reconhecer elementos paratextuais importantes, tais como: parágrafos, negritos, sublinhados, travessões, legendas, maiúsculas e minúsculas, bem como outros que concorram para o entendimento do que está sendo lido;  estabelecer correlações com outras leituras, outros conhecimentos que venham auxiliar na compreensão;  construir paráfrases em LIBRAS ou em português (caso já tenha um certo domínio);  identificar a tipologia textual;  ativar e utilizar conhecimento prévios;  tomar notas de acordo com os objetos; Aspectos microestruturais  reconhecer e sublinhar palavras chaves Assis-Peterson. Aquisição de segunda língua por surdos. Kristina Svartholn. e Aquisição do Português como Segunda Língua: uma proposta de currículo. Alice Freire. Revista Espaço-Informativo do INES. Nº 9 (janeiro-junho). Rio de Janeiro. INES, 1998. Lodenir B. Karnopp & Madalena Klein. A Língua na Educação dos Surdos. Secretaria de Educação. Departamento Pedagógico. Divisão de Educação Especial. Vol 2. Porto Alegre 2005. Ensino de Segunda Língua para Surdos. Caminhos para a Prática Pedagógica. Heloisa Mara Moreira Lima Salles. Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. vol 1 e vol 2. Brasília 2004. PEREIRA, Maria Cristina. Papel da língua dna aquisição da escrita por estudantes surdos. In: LODI et al. et al. Letramento e Minorias, Porto Alegre, Mediação, 2002.p. 47-55. ALMEIDA. Elisabeth Oliveira Crepaldi de. Leitura e Surdez. Um estudo com adultos não oralizados. Rio de Janeiro. REVINTER. eou acesse; http://www.ines.org.br/ines_livros/22/22_PRINCIPAL.HTM 29