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TRAGO-LHE O MEU ADEUS SEM PROMETER VOLTAR BREVE
Apreciando, em 1932, o “Parnaso de Além-Túmulo”, que os poetas
desencarnados mandaram ao mundo por intermédio de você, chamei a atenção dos
estudiosos para a incógnita que o seu caso apresentava. Os estudiosos, certamente,
não apareceram. Deixando, porém, o meu corpo minado por uma hipertrofia
renitente, lembrei-me do acontecimento. Julgara eu que os bardos “do outro
mundo”, com a sua originalidade estilar, se comprometiam pela eternidade da
produção, no falso pressuposto de que se pudessem identificar por outra forma.
Encontrando ensejo para me fazer ouvir, através de suas mãos, escrevi essas
crônicas póstumas que o Sr. Frederico Figner transcreveu nas colunas do “Correio
da Manhã”. Não imaginei que o humilde escritor desencarnado estivesse ainda na
lembrança de quantos o viram desaparecer. E as minhas palavras provocaram
celeuma. Discutiu-se e ainda se discute.
Você foi apresentado como hábil fazedor de pastiches e os noticiaristas vieram
averiguar o que havia de verdadeiro em torno do seu nome.
Colheram informes. Conheceram a honestidade da sua vida simples e as
dificuldades dos seus dias de pobre. E, por último, quiseram ver como você
escrevia a mensagem dos mortos, com uma Remington acionada por dedos
invisíveis.
Tive pena quando soube que iam conduzi-lo a um “test” e recordei-me do
primeiro exame a que me sujeitei aí com o coração batendo forte.
Fiz questão de enviar-lhe algumas palavras como o homem que fala de longe
à sua pátria distante, através das ondas de Hertz, sem saber se os seus conceitos
serão reconhecidos pelos patrícios, levando em conta as deficiências do aparelho
receptor e os desequilíbrios atmosféricos. Todavia, bem ou mal, consegui falar
alguma coisa. Eu devia essa reparação à doutrina que você sinceramente professa.
Esperariam, talvez, que eu falasse sobre os fabulosos canais de Marte, sobre
a natureza de Vênus, descrevendo, como os viajantes de Júlio Verne, a orografia
da Lua. Julgo, porém, que por enquanto me é mais fácil uma discussão sobre o
diamagnetismo de Faraday.
Admiraram-se quando enxergaram a sua mão vertiginosa correndo sobre as
linhas do papel.
A curiosidade jornalística é agora levantada em torno da sua pessoa. É
possível que outros acorram para lhe fazer suas visitas. Mas ouça bem. Não me
espere como a pitonisa de Endor aguardando a sombra de Samuel para fazer
predições a Saul sobre as suas atividades guerreiras. Não sei movimentar as
trípodes espíritas e se procurei falar naquela noite é que o seu nome estava em
jogo. Colaborei, assim, na sua defesa. Mas, agora que os curiosos o procuram, na
sua ociosidade, busque, no desinteresse, a melhor arma para desarmar os outros.
Eu voltarei provavelmente quando o deixarem em paz na sua amargurosa vida.
Não desejo escrever maravilhando a ninguém e tenho necessidade de fugir a
tudo o que tenho obrigação de esquecer.
Fique-se, pois, com a sua cruz, que é bem pesada por amor Daquele que
acende o lume das estrelas e o lume da esperança nos corações. A mediunidade
posta ao serviço do bem é quase a estrada do Gólgota; mas a fé transforma em
flores as pedras do caminho. Li aí, certa vez, num conto delicado, que uma mulher
em meio de sofrimentos acerbos, apelara para Deus, a fim de que se modificasse a
volumosa cruz da sua existência. Como filha de Cipião, vira nos filhos as jóias
preciosas da sua vaidade e do seu amor, mas como Níobe vira-os arrebatados no
torvelinho da morte, impelidos pela fúria dos deuses. Tudo lhe falhara nas fantasias
do amor, do lar e da ventura.
- Senhor – exclama ela – por que me destes uma cruz tão pesada? Arrancai
dos meus ombros fracos este insuportável madeiro!
Mas, nas asas brandas do sono, a sua alma de mulher viúva e órfã foi
conduzida a um palácio resplandecente. Um Anjo do Senhor recebeu-a no pórtico,
com a sua bênção. Uma sala luminosa e imensa lhe foi designada. Toda ela se
enchia de cruzes. Cruzes de todos os feitios.
- Aqui – disse-lhe uma voz suave – guardam-se todas as cruzes que as almas
encarnadas carregam na face triste do mundo. Cada um desses madeiros traz o
nome do seu possuidor. Atendendo, porém à tua súplica, ordena Deus que escolhas
aqui uma cruz menos pesada do que a tua.
A mulher escolheu conscienciosamente aquela cujo peso competia com as
suas possibilidades, escolhendo-a entre todas.
Mas apresentando ao Mensageiro Divino a sua preferência, verificou que, na
cruz escolhida, se encontrava esculpido o seu próprio nome, reconhecendo a sua
impertinência e rebeldia.
- Vai! – disse-lhe o Anjo – com a tua cruz e não descreias. Deus, na sua
misericordiosa justiça, não poderia macerar os teus ombros com um peso superior
às tuas forças.
Não se desanime, portanto, na faina que se encontra, carregando esse fardo
penoso que todos os incompreendidos já carregaram. E agora que os bisbilhoteiros
o procuram, trago-lhe o meu adeus, sem prometer voltar breve.
Que o Senhor derrame sobre você a sua bênção que conforta todos os
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Humberto de Campos
Recebida em Pedro Leopoldo a 28 de abril de 1935

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Adeus sem promessa de breve retorno

  • 1. 7 TRAGO-LHE O MEU ADEUS SEM PROMETER VOLTAR BREVE Apreciando, em 1932, o “Parnaso de Além-Túmulo”, que os poetas desencarnados mandaram ao mundo por intermédio de você, chamei a atenção dos estudiosos para a incógnita que o seu caso apresentava. Os estudiosos, certamente, não apareceram. Deixando, porém, o meu corpo minado por uma hipertrofia renitente, lembrei-me do acontecimento. Julgara eu que os bardos “do outro mundo”, com a sua originalidade estilar, se comprometiam pela eternidade da produção, no falso pressuposto de que se pudessem identificar por outra forma. Encontrando ensejo para me fazer ouvir, através de suas mãos, escrevi essas crônicas póstumas que o Sr. Frederico Figner transcreveu nas colunas do “Correio da Manhã”. Não imaginei que o humilde escritor desencarnado estivesse ainda na lembrança de quantos o viram desaparecer. E as minhas palavras provocaram celeuma. Discutiu-se e ainda se discute. Você foi apresentado como hábil fazedor de pastiches e os noticiaristas vieram averiguar o que havia de verdadeiro em torno do seu nome. Colheram informes. Conheceram a honestidade da sua vida simples e as dificuldades dos seus dias de pobre. E, por último, quiseram ver como você escrevia a mensagem dos mortos, com uma Remington acionada por dedos invisíveis. Tive pena quando soube que iam conduzi-lo a um “test” e recordei-me do primeiro exame a que me sujeitei aí com o coração batendo forte. Fiz questão de enviar-lhe algumas palavras como o homem que fala de longe à sua pátria distante, através das ondas de Hertz, sem saber se os seus conceitos serão reconhecidos pelos patrícios, levando em conta as deficiências do aparelho receptor e os desequilíbrios atmosféricos. Todavia, bem ou mal, consegui falar alguma coisa. Eu devia essa reparação à doutrina que você sinceramente professa. Esperariam, talvez, que eu falasse sobre os fabulosos canais de Marte, sobre a natureza de Vênus, descrevendo, como os viajantes de Júlio Verne, a orografia da Lua. Julgo, porém, que por enquanto me é mais fácil uma discussão sobre o diamagnetismo de Faraday. Admiraram-se quando enxergaram a sua mão vertiginosa correndo sobre as linhas do papel. A curiosidade jornalística é agora levantada em torno da sua pessoa. É possível que outros acorram para lhe fazer suas visitas. Mas ouça bem. Não me espere como a pitonisa de Endor aguardando a sombra de Samuel para fazer predições a Saul sobre as suas atividades guerreiras. Não sei movimentar as trípodes espíritas e se procurei falar naquela noite é que o seu nome estava em jogo. Colaborei, assim, na sua defesa. Mas, agora que os curiosos o procuram, na sua ociosidade, busque, no desinteresse, a melhor arma para desarmar os outros. Eu voltarei provavelmente quando o deixarem em paz na sua amargurosa vida.
  • 2. Não desejo escrever maravilhando a ninguém e tenho necessidade de fugir a tudo o que tenho obrigação de esquecer. Fique-se, pois, com a sua cruz, que é bem pesada por amor Daquele que acende o lume das estrelas e o lume da esperança nos corações. A mediunidade posta ao serviço do bem é quase a estrada do Gólgota; mas a fé transforma em flores as pedras do caminho. Li aí, certa vez, num conto delicado, que uma mulher em meio de sofrimentos acerbos, apelara para Deus, a fim de que se modificasse a volumosa cruz da sua existência. Como filha de Cipião, vira nos filhos as jóias preciosas da sua vaidade e do seu amor, mas como Níobe vira-os arrebatados no torvelinho da morte, impelidos pela fúria dos deuses. Tudo lhe falhara nas fantasias do amor, do lar e da ventura. - Senhor – exclama ela – por que me destes uma cruz tão pesada? Arrancai dos meus ombros fracos este insuportável madeiro! Mas, nas asas brandas do sono, a sua alma de mulher viúva e órfã foi conduzida a um palácio resplandecente. Um Anjo do Senhor recebeu-a no pórtico, com a sua bênção. Uma sala luminosa e imensa lhe foi designada. Toda ela se enchia de cruzes. Cruzes de todos os feitios. - Aqui – disse-lhe uma voz suave – guardam-se todas as cruzes que as almas encarnadas carregam na face triste do mundo. Cada um desses madeiros traz o nome do seu possuidor. Atendendo, porém à tua súplica, ordena Deus que escolhas aqui uma cruz menos pesada do que a tua. A mulher escolheu conscienciosamente aquela cujo peso competia com as suas possibilidades, escolhendo-a entre todas. Mas apresentando ao Mensageiro Divino a sua preferência, verificou que, na cruz escolhida, se encontrava esculpido o seu próprio nome, reconhecendo a sua impertinência e rebeldia. - Vai! – disse-lhe o Anjo – com a tua cruz e não descreias. Deus, na sua misericordiosa justiça, não poderia macerar os teus ombros com um peso superior às tuas forças. Não se desanime, portanto, na faina que se encontra, carregando esse fardo penoso que todos os incompreendidos já carregaram. E agora que os bisbilhoteiros o procuram, trago-lhe o meu adeus, sem prometer voltar breve. Que o Senhor derrame sobre você a sua bênção que conforta todos os infortunados e todos os tristes. Humberto de Campos Recebida em Pedro Leopoldo a 28 de abril de 1935